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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO
JOSÉ FERREIRA NOBRE NETO
O IMPACTO URBANO DE EDIFÍCIOS COMPLEXOS: O CASO DOS HOSPITAIS
DE GRANDE PORTE NO MUNICÍPIO DE SALVADOR-BA
Anteprojeto de dissertação apresentado como
requisito para qualificação no Programa de Pós-
graduação em Arquitetura e Urbanismo sob a
orientação do Prof. Dr. Antônio Pedro Alves de
Carvalho.
Área de concentração: Linguagem, informação e
representação do espaço.
SALVADOR
2016
3
1.0 TEMA E OBJETO DE ESTUDO
1.1 TEMA
O impacto urbano de edifícios complexos: o caso dos hospitais de grande porte
no Município de Salvador-BA.
1.2 OBJETO DE ESTUDO
O objeto da pesquisa é o impacto urbano provocado pela inserção dos hospitais
de grande porte nas metrópoles contemporâneas com ênfase nas questões
morfológicas, técnicas e tecnológicas.
A definição de impacto nos meios natural e construído está relacionada com o grau
de intervenção e a complexidade do seu equipamento, em específico os hospitais de
grande porte, inseridos na paisagem urbana das metrópoles brasileiras.
Diante do objeto de estudo apresentado, serão analisados os aspectos da inserção
das unidades de saúde na malha urbana de Salvador, tendo em vista as análises
geradas em programas avançados de modelagem digital.
2 JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS
2.1 JUSTIFICATIVA
O adensamento contínuo das cidades cria a demanda por equipamentos
complexos de larga escala, como trens, metrôs, equipamentos multiuso, conjuntos
habitacionais, bibliotecas e centros de saúde.
Com o intuito de solucionar as questões referentes aos grandes contingentes
populacionais é impulsionada a criação de equipamentos complexos para a resolução
de questões como a mobilidade urbana, a alimentação, o lazer, a cultura e a saúde.
Porém, antes de introduzir o conceito de equipamentos complexos e o contexto dos
hospitais neste panorama é importante apresentar dados sobre o processo de
urbanização global.
De acordo com Gaete (2015), “Em 2030, cerca de 9% da população mundial
viverá em megacidades, isto é, áreas urbanas com 10 milhões de habitantes ou mais,
SUMÁRIO
1 TEMA E OBJETO DE ESTUDO............................................................ 3
1.1 TEMA..................................................................................................... 3
1.2 OBJETO DE ESTUDO........................................................................... 3
2 JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS........................................................... 3
2.1 JUSTIFICATIVA..................................................................................... 3
2.2 OBJETIVOS........................................................................................... 5
2.2.1 Principal................................................................................................. 5
2.2.2 Secundários........................................................................................... 6
3 REFERENCIAL TEÓRICO E METODOLOGIA.................................... 6
3.1 REFERENCIAL TEÓRICO.................................................................... 6
3.1.1 A arquitetura e o seu impacto urbano................................................ 6
3.1.2 Conceito de projetos de edificações complexas............................. 10
3.1.3 Metodologias e técnicas de análises de projetos complexos...... 12
3.1.4 Os hospitais e o seu contexto............................................................ 15
3.2 ASPECTOS METODOLÓGICOS.......................................................... 16
3.2.1 Tipo e local de estudo......................................................................... 16
3.2.2 Procedimentos..................................................................................... 16
3.2.3 Amostragem das edificações............................................................. 17
3.2.4 Coleta e análise dos dados................................................................. 17
4 CRONOGRAMA.................................................................................... 18
REFERÊNCIAS...................................................................................... 18
4
segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU).” (GAETE, 2015, p. 01).
Isto implica, na predominância de 60% do contingente populacional total do planeta
habitando as cidades, além disso, haverá possivelmente a consolidação de 41
megacidades, sendo 29 delas asiáticas (Figura 01).
FIGURA 01 – Distribuição da população global das cidades em 2030.
FONTE: Archdaily, 2015.
O cenário de adensamento populacional em curto prazo de tempo favorece a
“crise urbana” das cidades contemporâneas. Para Maricato (2015) este processo
ocorre desde o período da industrialização aos tempos atuais, marcado
essencialmente nos países emergentes, a exemplo do Brasil. O impacto urbano
causado por este processo é visível no elevado custo dos alimentos, na intolerância
dos gêneros, nas dificuldades de locomoção e acessibilidade, na produção excessiva
de resíduos, no espraiamento e na exclusão urbana, entre outros fenômenos sociais.
5
Os projetos de equipamentos grandes e complexos visam atender e solucionar
as problemáticas das cidades atuais. Sobretudo nas metrópoles, há a necessidade da
criação de hospitais de acordo com o contingente populacional de cada região e o seu
perfil epidemiológico. Estes são classificados, portanto, em hospitais regionais, de
referência e especializados (GOÉS, 2004). A pesquisa apontada pelas Cidades
Sustentáveis (2016) informa a necessidade da criação de mais 3.500 novos leitos
hospitalares, levando em consideração a existência de 8.174 leitos e uma população
de 2.902.927 habitantes, em 2014.
Neste sentido, os hospitais, por natureza, são equipamentos essencialmente
de escala urbana com o propósito de criar condições de assistência à saúde da
população. De acordo com a RDC N. 50/ 2002, estas unidades de saúde são
programadas para prestar atendimentos, apoio a diagnóstico e terapia, apoios técnico-
logístico-administrativo, ensino e pesquisa. Estas unidades de saúde assumem
grandes dimensões em decorrência da quantidade de usuários (profissionais de
saúde e técnicos, fornecedores, pacientes, acompanhantes, visitantes etc), cujo
número de pessoas pode atingir o porte de pequenas cidades. A sua infraestrutura
envolvida também é outro aspecto relevante, como o parque de equipamentos
médico-hospitalares, o consumo de insumos (energia, água, gases medicinais,
medicamentos etc) e a produção resíduos (comum, reciclável, infectante, químico,
perfurocortante e anatômico).
Tendo em vista, portanto, que a maior parcela da população mundial habitará
as grandes metrópoles nos próximos anos, faz-se necessário o estudo dos
equipamentos arquitetônicos que compõem as cidades para a melhoria da qualidade
dos espaços urbanos, e, por conseguinte, da melhoria de vida dos seus cidadãos. Os
hospitais, neste contexto, enquadram-se nesta vertente de análises.
2.2 OBJETIVOS
2.2.1 Principal
- Identificar os principais impactos urbanos produzidos por hospitais de grande
porte em Salvador;
6
2.1.2 Secundários
- Classificar e analisar as interferências morfológicas na cidade de Salvador a
partir da localização geográfica e da implantação no entorno imediato dos hospitais
de grande porte;
- Avaliar e testar ferramentas avançadas de análise de impacto urbano de
edificações de hospitais de grande porte por meio dos programas de modelagem
digital – BIM, GIS e CIM;
- Apontar diretrizes projetuais para a concepção de estratégias de edifícios
complexos.
3 REFERENCIAL TEÓRICO E METODOLOGIA
3.1 REFERENCIAL TEÓRICO
3.1.1 A arquitetura e o seu impacto urbano
As sociedades atuais vivem cada vez mais em espaços complexos, onde as
culturas dos cidadãos revelam as verdadeiras peculiaridades e diferenças dos seus
indivíduos (CAMPOS, 2004). Os efeitos desta realidade são comumente percebidos
no surgimento de prédios multifuncionais, ou seja, de usos diversos.
Os prédios de múltiplos usos podem ser classificados como abertos ou
fechados para as cidades, permitindo, de certa maneira, impactos positivo ou negativo
(FERREIRA, 2014). Quando estas edificações são abertas geram o que se chama de
“permeabilidade urbana”, produzindo melhoria da qualidade de vida, maior
diversidade entre as suas zonas e melhor convívio entre os seus usuários, a exemplo
dos conjuntos habitacionais de uso misto que se integram com a cidade, praias de
banhistas e centros religiosos ecumênicos. O contrário desta situação são as
edificações fechadas, que promovem os espaços de segregação nas cidades, como
os condomínios horizontais e verticais privados e centros comerciais de grande porte.
De acordo com Ghione (2013), a característica mais marcante das nossas
cidades é a contradição, ora gerando espaços segregados, ora propiciando espaços
mais plurais. É possível refletir, portanto, que os elementos arquitetônicos das cidades
7
têm o potencial de interferência direta em sua espacialidade e, além disso, que a
participação dos seus usuários pode inibir ou elevar a violência urbana. Este conceito
de espaços defensáveis é desenvolvido por Newman (1996), onde relata a
necessidade dos seus residentes zelarem pelos espaços públicos das cidades.
A arquitetura é um dos elementos que compõe as formas das cidades e o
estudo das paisagens urbanas pode contribuir para a criação de espaços de maior
qualidade para os seus habitantes. Estes campos podem ser avaliados de acordo com
análises de diversas ciências – geografia, história, urbanismo, sociologia. Serão
apresentados aqui três pontos de vista de urbanistas contemporâneos, com
interpretações complementares. O primeiro aspecto está relacionado com a
compreensão do fato urbano, através da visão e a imagem do ambiente por Kevin
Lynch. O segundo aspecto se refere a visita ao local de estudo, desenvolvida por
Phillippe Panerai. E o terceiro aspecto deve-se a compreensão dos elementos da
forma urbana, por José Lama.
A evolução da análise urbana teve contribuições de diversos campos de
saberes, inclusive ligados a arte. Foi através do cinema e da fotografia, desenvolvidos
no século XX, onde se iniciou o estudo da imagem do movimento. A partir desta
compreensão que a disciplina paisagem urbana foi legitimada pelas ciências
humanas. Panerai (2014) faz um apanhando sobre os precursores da análise urbana
e aponta a obra de Kevin Lynch como “[...] a melhor ferramenta para uma análise
global, a melhor porque a mais simples.” (PANERAI, 2014, p. 30).
Segundo Lynch (1960), em seu apanhado sobre a Imagem da cidade,
preocupa-se exclusivamente com a morfologia urbana para a compreensão do
espaço, ou seja, concentra-se nos elementos da forma. Em sua análise destaca cinco
tipos de classificações essenciais, que são as vias, os limites, os bairros, os
cruzamentos e os elementos marcantes. Para Lynch a cidade é um organismo vivo e
as formas se adaptam às necessidades das pessoas:
Uma cidade é uma organização mutável com fins variados, um conjunto com
muitas funções criado por muitos, de um modo relativamente rápido. Uma
especialização total, uma engrenagem perfeita são improváveis e
indesejáveis. A forma tem, de certa forma, que ser não comprometedora,
moldável aos propósitos e às percepções dos cidadãos. (LYNCH, 1960, p.
103)
8
Para Panerai (2014), as análises visual, sequencial e da escala urbana são as
ferramentas de maior potencial para o estudo das cidades. Ele explica que o método
de visitar o local de pesquisa é eficaz, embora é preciso uma capacidade de
interpretação coerente do pesquisador. Para o autor, a intuição é algo importante para
a apreensão da cidade, bem como a pesquisa bibliográfica, o desenho feito no local
(croqui) e as identificações em mapa. Este relata, portanto, que:
Retomar a prática da pesquisa in situ, identificar os elementos da paisagem
e organizá-los em sequências, associando à observação direta o croqui, a
fotografia, o vídeo, o esquema e a análise cartográfica, tudo isso constitui
uma maneira de apreender a cidade. Não se trata apenas de uma valorização
do visível, mas de uma leitura feita de diferentes pontos de vista e na qual
intervém o movimento do observador. (PANERAI, 2014, p. 42 e 43)
Para Lamas (2014), a morfologia urbana contribui para a qualidade dos
ambientes construídos. Ele explica que este conceito está atrelado diretamente ao
resultado final das disciplinas urbanismo e arquitetura, sendo que “A morfologia
(urbana) é o estudo da forma do meio urbano nas suas partes físicas exteriores, ou
elementos morfológicos, e na sua produção e transformação no tempo.” (LAMAS,
2014, p. 38). A sua contribuição para das cidades está na definição dos aspectos
quantitativos, de organização funcional, qualitativos e figurativos.
Neste sentido, tendo em vista alguns métodos de análise urbana para a
compreensão do espaço da cidade, pode-se inferir que certas categorias de
equipamentos arquitetônicos produzem maiores interferências na malha urbana que
outros, justamente por sua complexidade. Prédios como estádios, shopping centers,
aeroportos, estações de transbordo e hospitais – Figura 02 – são exemplos de
edificações com o potencial de gerarem impactos urbanos significativos, como
ambientais (sonoro, visual, sombreamento, ventilação, contaminação, resíduos
ocupação e permeabilidade), de tráfego (locomoção, acessibilidade e transportes) e
de elevado custo para a execução das obras.
9
FIGURA 02 – Edificações complexas em Salvador.
EQUIPAMENTO 01 - Arena Fonte Nova
Edificação de múltiplo uso - Estádio de futebol e espaço para eventos
Dique do Tororó – Ano 2013 – Capacidade 50.000 pessoas
EQUIPAMENTO 02 - Salvador Shopping
Edificação de múltiplo uso – Shopping Center, centros empresariais e torres habitacionais
Iguatemi - Ano 2007 - 293.000 M2
EQUIPAMENTO 03 - Aeroporto Internacional de Salvador
Edificação de múltiplo uso – Aeroporto, Shopping Center e estação de transbordo (ônibus, taxi e carros)
São Cristóvão – Ano 1925 – 13.000.000 passageiros/ ano
10
EQUIPAMENTO 04 - Estação Mussurunga
Estação de Transbordo de ônibus
Avenida Luís Viana Filho (Av. Paralela) – Ano 2001 – 30.000 passageiros/ dia
EQUIPAMENTO 05 - Hospital de reabilitação Rede das Pioneiras Sociais Sarah Kubstchek
Hospital Federal para a reabilitação do aparelho locomotor
Avenida Tancredo Neves – Ano 1994 – 20.000 M2
FONTE: Imagens do Google.
3.1.2 Conceito de projetos de edificações complexas
Na arquitetura, existem categorizações de edificações de acordo com os seus
graus de complexidade. Edifícios complexos, por natureza, são aqueles que
necessitam de grandes números de variáveis (SALGADO et al., 2012) para serem
solucionados, a exemplo de aeroportos, estações integradas de transportes (metrô –
VLT – ônibus), shoppings centers, plantas industriais e hospitais.
Para Salgado (2012), a implantação dos equipamentos complexos no tecido
urbano promove impactos diversos nos modos de vida dos cidadãos, como na forma
11
de se deslocarem no espaço das cidades e a forma como o público interagem com a
edificação. A rigor, são três características que as definem como prédios de alta
complexidade:
1 Tipos de usuários – o equipamento possui caráter multifuncional;
2 Concepção – diz respeito a sofisticação das atividades desempenhadas
pelos envolvidos na idealização do empreendimento. Nesta fase a gestão de projetos
é essencial, são utilizadas novas ferramentas de trabalho que priorizam o conforto
ambiental das edificações, a modelagem de informações e a reabilitação dos edifícios;
3 Qualidade do projeto – refere-se ao processo, a qualidade espacial, a
acústica das edificações, a avaliação de projetos e a segurança.
Carvalho (2014) apresenta uma compreensão similar para com o
enquadramento das edificações de grande porte: “São chamadas edificações
complexas aquelas que, pelo porte ou quantidade de variáveis envolvidas em suas
funções, extrapolam a capacidade de atuação de um só profissional ou de uma só
especialidade.” (CARVALHO, 2014, p. 20). Estas são denominadas desta maneira
devido aos fatores e variáveis que devem ser considerados nos seus projetos, como
fluxos diversos, quantidade de ambientes, procedimentos e usuários (profissionais e
pacientes). Por consequência, faz-se necessário a transdiciplinariedade desde a sua
fase de concepção: “Elas exigem a atuação de várias disciplinas especializadas,
impondo a necessidade de um sistema de organização das atividades gerais de
planejamento." (CARVALHO, 2014, p. 31).
De acordo com Bektas (2013), a sigla LCBPs (Large Complex Building Projects)
está comumente relacionada a edificações complexas. Estas possuem as
características de elevado nível de resolução em seu programa, orçamento e na
colaboração técnica com os profissionais envolvidos. Traduzindo o termo para o
português, temos o significado de projetos de edificações grandes e complexas. Os
estádios, os centros de múltiplo uso, hotéis, transportes urbanos e hospitais são
exemplos destas tipologias. Segundo Bektas (2013) a execução de cada um destes
equipamentos envolve uma equipe de diferentes projetistas e metodologias de
trabalho. A autora conclui que para o desenvolvimento destes projetos é necessário
12
possuir a dimensão holística de todo o processo, o qual envolve a relação entre as
pessoas, a utilização dos artefatos de informação, das ferramentas tecnológicas e das
ações sociais.
Segundo estudos sobre a genealogia do pensamento dos projetistas na
concepção dos seus produtos, Bryan Lawson (2005) questiona sobre a complexidade
dos diversos campos de conhecimento como o urbanismo, a arquitetura e o desenho
industrial. Ele acredita que cada segmento possui sua escala de dificuldade a partir
dos seus problemas e que o fator principal se relaciona com o nível de detalhe do
trabalho.
O autor comenta, em seguida, que uma boa solução para o enfrentamento de
temas complexos refere-se ao tratamento sistêmico do problema:
Os vários campos de projeto também são muitas vezes pensados para serem
diferentes em termos da dificuldade inerente dos problemas que eles
apresentam. É fácil assumir que o tamanho representa complexidade. Este
argumento sugere que a arquitetura deve ser mais complexa do que o
desenho industrial, desde os edifícios, pois são maiores do que os produtos
em escala menor. Certamente é possível ver os campos de desenho
tridimensional em uma árvore, com o urbanismo nas raízes e o tronco
começando a ramificar-se através de um desenho urbano, arquitetura e
desenho de interiores para os ramos de desenho industrial. Mas como isso
realmente significa que o planejamento da cidade é mais difícil do que
desenho de produto? tradução nossa (LAWSON, 2005, p. 54)
Percebe-se, portanto, que o enfrentamento do tema da complexidade urbana é
debatido por diversos autores. Ambos tentam compreender as mudanças ocorridas
nas sociedades atuais e os consequentes impactos nos espaços urbanos. As
classificações dos equipamentos complexos podem variar de parâmetros e
nomenclaturas, embora o questionamento maior seja quais são as melhores
estratégias para a resolução dos seus níveis de dificuldade.
3.1.3 Metodologias e técnicas de análises de projetos complexos
Existem algumas metodologias e técnicas para a análise de edifícios
complexos e a sua inserção no planejamento urbano. Serão apresentadas quatro
13
metodologias de análises, sendo as duas primeiras relacionadas a análise ambiental
urbana de acordo com os programas GIS (Geographic Information System) e CIM
(City Information Modeling). As duas últimas metodologias se relacionam com a
produção das edificações arquitetônicas, através do exame das questões funcionais
dos ambientes e do uso do Sistema BIM (Building Information Modeling) para o
gerenciamento dos projetos e dos edifícios de grande porte.
Recentemente, o moderno processo de urbanização das cidades provocou o
adensamento das pessoas nos espaços públicos (J. Ma et al., 2012). Na China,
pesquisadores avaliam que a circulação de pessoas em zonas densamente povoadas,
a exemplo de uma estação de metrô em momento de evento popular, possui grande
impacto urbano em função do contínuo fluxo gerado no trânsito.
A plataforma GIS é uma ferramenta importante para a análise de simulação de
tráfego de pedestres. Esta pode ser utilizada para a situação de evacuação com
conforto seus usuários em edifícios complexos, em casos de risco de desastre.
Enquadram-se nesta categoria equipamentos como metrôs e o trem urbano, pois
possuem estações de transbordo com diversos acessos de entrada e saída de
pessoas. Importante salientar que a disposição da arquitetura interna destes prédios,
ou seja, o meio ambiente construído, influi diretamente nos fluxos dos seus usuários.
O método utilizado para a análise desta situação avalia as colisões dos pedestres por
simulação computacional e funciona como uma ferramenta de projeto para o auxílio
na tomada de decisões sobre a disposição espacial dos seus elementos – pilares,
paredes etc (J. Ma et al., 2012).
O segundo método, de acordo com Xung Xu et al. (2013), é a análise urbana
através do sistema CIM (City Information Modeling). Esta metodologia é considerada
como o novo paradigma para o estudo das construções urbanas e do planejamento
das cidades. Em um estudo sobre a implantação de um campus de educação na China
foram adicionadas informações sobre as novas construções, transportes,
equipamentos, instalações e bacia hidrográfica a base de dados do mapa do local.
Em seguida, foi construído um modelo digital e afixados os seus parâmetros
principais. A partir desta modelagem é possível gerenciar os espaços públicos, as
áreas verdes, os usos e qualquer outro tipo de informação a respeito das cidades
tendo em vista o auxílio da geração de novas estratégias de projetos de escala urbana.
14
A terceira metodologia para a análise de edificações de grande porte é a
programação arquitetônica. No ato da criação destes equipamentos são necessárias
técnicas avançadas fundamentais para a avaliação das suas funções, do conforto
ambiental, dos materiais e o custo do empreendimento. Entre elas estão as “[...]
pesquisas preliminares e técnicas diversas, como entrevistas, questionários, reuniões,
visitas, pré-dimensionamentos e o estabelecimento de uma coordenação modular.”
(CARVALHO, 2014, p. 35). O autor também argumenta sobre a importância da
coordenação de projetos, no caso de Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EAS),
tendo em vista da necessidade do seu adequado planejamento para atender as
questões funcionais. Esta preocupação deve ser dirigida a todas as fases do seu ciclo
de vida, desde as suas técnicas de projetação, a sua implantação e a sua operação.
A quarta metodologia de especial interesse para o desenvolvimento de
edificações complexas é a adequação do seu planejamento utilizando o sistema BIM
(Building Information Modeling). De acordo com Davies e Harty (2012), este sistema
gera os desenhos dos projetos das edificações e auxilia no gerenciamento do seu
ciclo de vida. Os autores apresentam um estudo de caso para dois hospitais de grande
escala no Reino Unido com a utilização das tecnologias de representação BIM para
acompanhar obras de novas áreas, reforma e ampliação destas unidades de saúde.
As razões para a utilização desta tecnologia estão relacionas a duas causas: a
primeira refere-se ao conceito geral dos problemas de projeto e a segunda as
características do projeto do hospital. Estas obras são caracterizadas por possuírem
espaços extremamente complexos, com programas completamente diferenciados em
aproximadamente 6.500 ambientes e com os seus próprios fluxos de trabalho e
equipamentos.
Como conclusão, Davies e Harty (2012) afirmam que ocorre uma mudança no
novo modo de projetar das edificações com o uso do Sistema BIM. Esta transformação
não diz respeito apenas ao incremento de novas tecnologias, mas também se refere
a criação de novos processos de trabalho para a melhoria do seu gerenciamento, uma
vez que a prática do projeto é automatizada e ocorre a redução dos números de visitas
desnecessárias a obra.
15
3.1.4 Os hospitais e o seu contexto
Os hospitais, em regra geral, possuem proporções físicas avantajadas, como o
número da sua população, os usos diversos e a multifuncionalidade do equipamento
(GÓES, 2004, p. 29). Além disso, são grandes consumidores de insumos e produtores
de resíduos.
A sua dimensão de escala urbana ocupa, neste sentido, grandes superfícies
nas cidades, gerando impactos significativos ao contexto urbano. Sendo assim, como
infere Carvalho (2014), a implantação destes equipamentos no contexto urbano
requer certos cuidados com relação a escolha do terreno na cidade. Alguns aspectos
devem ser levados em consideração durante a tomada de decisões da escolha do
lugar, como: as áreas para futuras ampliações, o estudo do declive da topografia,
questões de localização com relação à vizinhança, vias de acesso, questões
ambientais, estacionamentos, sinalização.
Outro critério importante para o correto planejamento das unidades de saúde
leva em consideração as suas escalas correspondentes: macro (estado, cidade e
região metropolitana), meso (bairro e quarteirão) e micro (ruas locais e adjacentes).
Os prédios hospitalares estão em contínua transformação física. Diante deste
motivo, Carvalho (2014) esclarece que eles devem ser planejados com o pensamento
a longo prazo, de acordo com técnicas de programação (análises de acessos, fluxos,
condicionantes ambientais, setorização e tantos outros diagramas), estudos de
impactos urbanos e a consulta de legislação sanitária e normativas específicas.
As contínuas modificações em que os hospitais vêm sofrendo em decorrência
das novas realidades complexas, dinâmicas e interdependentes do mundo,
convergem para a proposta do “Hospital sistêmico”. Comando (2014) avalia que as
unidades de saúde contemporâneas devem cumprir o propósito de espaços de cura,
num modelo focado na humanização da atenção, em contraposição ao conceito
defasado de “máquina de curar”. Ou seja, a diretriz principal deve ser a melhoria
contínua dos pacientes, o conforto e a satisfação e não exclusivamente no incremento
de novas tecnologias.
Comando (2014) infere que o conceito das novas unidades de saúde são os
“Hospitais verdes e saudáveis”. Estes são resultantes de estratégias de desenho e
16
gestão baseadas num plano diretor, com viés político, médico e financeiro –
orçamento do empreendimento. Entre as principais diretrizes estão: o plano diretor, o
hospital seguro contra os riscos de acidentes, a flexibilidade espacial, a utilização dos
novos programas, a inovação tecnológica, o incremento de Tecnologias da
Informação e Comunicação (TIC), a humanização dos espaços internos e externos, a
identidade cultural, os jardins terapêuticos, a acessibilidade física, o respeito ao meio
ambiente, a sustentabilidade, o trabalho interdisciplinar e as estratégias de operação
de recurso físico.
Outro conceito não menos importante é o de “edifícios inteligentes”. Ele remete
essencialmente as questões de engenharia e administração do empreendimento,
onde as questões de produtividade dos ambientes, a relação de custo benefício
(sistema, estrutura, gerenciamento e manutenção) e ao projeto integrado devem ser
levadas em consideração na concepção do trabalho (MARIN, 2002). A automação
predial é um aspecto destes novos prédios inteligentes que exploram a alta tecnologia
aplicada as edificações.
3.2 ASPECTOS METODOLÓGICOS
3.2.1 Tipo e local de estudo
O método de pesquisa adotado é o experimental, no qual serão realizados
eventos planejados (visitas ao terreno) para a realização de observações e conduzir
a conclusão do trabalho. Serão realizadas pesquisas bibliográficas para o
levantamento da abordagem teórica (estado da arte) e pesquisas em campo para a
realização da comparação das unidades de saúde selecionadas como amostras.
A metodologia também pode ser classificada como estudo de caso, onde
pretende avançar o conhecimento sobre os hospitais de grande porte em Salvador,
Bahia.
3.2.2 Procedimentos
Os procedimentos metodológicos serão realizados tendo em vista três
momentos distintos, entre eles estão a fundamentação teórica, a análise e a avaliação
e a síntese e a apresentação dos resultados. Neste sentido, para a condução da
pesquisa serão planejadas as seguintes atividades:
17
A Consultas as bibliotecas e outras fontes virtuais;
B Visitas as unidades de saúdes selecionadas;
C Análise dos dados;
D Conclusão e considerações finais.
3.2.3 Amostragem das edificações
A amostragem das edificações a serem estudadas leva em consideração o
potencial impacto urbano dos hospitais selecionados no que se trata dos requisitos
ambientais das cidades.
Destes equipamentos complexos serão avaliados os parâmetros: localização
em entorno imediato, morfologia espacial, perfil dos usuários (público alvo e
profissionais), questões ambientais (conforto acústico, térmico), locomoção
(acessibilidade, fluxos), consumo de insumos (energia, água, gases medicinais) e
geração de resíduos. Também serão avaliados parâmetros construtivos, como
especificações de materiais, técnicas/ sistemas construtivos, instalações especiais.
Os hospitais selecionados para a análise possuem grande número de leitos e
seus serviços são de fundamental importância para a Cidade de Salvador. Também
requerem a incorporação de parque tecnológico a sua arquitetura, quer seja de
instalações prediais a equipamentos médico-hospitalares. Entre eles estão o Hospital
São Rafael, o Hospital Irmã Dulce, o Hospital Ana Nery, o Hospital do Subúrbio, o
Hospital Roberto Santos, o Hospital Sarah Kubitscheck e o Hospital Santa Isabel.
3.2.4 Coleta e análise dos dados
Os dados de potenciais impactos (morfologia, visuais, sombreamento, fluxos
de veículos e outros aspectos) dos hospitais de grande porte selecionados serão
coletados a partir de visitas programadas no local e registrados a partir de entrevistas
dirigidas aos usuários (profissionais de saúde e pacientes) e observações.
Estes serão confrontados e comparados a partir dos modelos digitais das
unidades de saúde e o seu entorno imediato, através de ferramentas de simulação
que exploram o planejamento urbano, como o BIM, o GIS e o CIM. Em seguida, serão
18
analisados e, por fim, apresentadas as considerações finais sobre o estudo
mencionado.
4 CRONOGRAMA
O cronograma apresentado na tabela abaixo está relacionado com as
atividades do curso e o desenvolvimento da pesquisa. Este explicita a organização do
trabalho entre os anos letivos de 2016 a 2017.
TABELA 03 – Cronograma geral
ITEM ATIVIDADES ANO 1 ANO 2
2016.1 2016.2 2017.1 2017.2
1 Cumprimento dos créditos
2 Coleta de dados
3 Revisão da Bibliografia
4 Análises
6 Organização dos dados obtidos
7 Redação da dissertação
8 Apresentação pública da dissertação
FONTE: O autor.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC 50/2002. Normas para
projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde. 2. ed., Brasília, 2004.
BEKTAS, Esra. Knowledge Sharing Strategies for Large Complex Building
Projects. Architecture and Built Environment, Elservier, 2013. Disponível em: <
http://abe.tudelft.nl/article/view/bektas>. Acesso em: 07 fev. 2016.
19
CAMPOS, Ricardo Bruna Cunha. Sociedades Complexas: Indivíduo, cultura e o
individualismo. CAOS – Revista eletrônica de ciências sociais, N. 7, 07.2004.
Disponível em: <http://www.cchla.ufpb.br/caos/ricardocampos.pdf>. Acessado em:
14 nov. 2015.
CARVALHO, Antônio Pedro Alves de. Introdução à arquitetura hospitalar. –
Salvador, BA: UFBA, FA, GEA-hosp, 2014.
CIDADES SUSTENTÁVEIS. Disponível em: <
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