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1 1 O INSTITUTO DA DESAPROPRIAÇÃO NA ATUALIDADE ANÁLISE DOUTRINÁRIA E JURISPRUDÊNCIAL. NOGUEIRA . Thiago Fuster NOGUEIRA 1 FERREIRA. FRANCISCO RAFAEL 2 Sumário: Resumo; 1 Introdução; 2 Desapropriação Traço histórico; 2.1.1 Conceito; 2.1.2 Fundamentos ou Pressupostos da Desapropriação; 2.1.3 Competências; 2.1.3.1 Competência Legislativa; 2.1.3.2 Competência Declaratória; 2.1.3.3 Competência Executória; 2.1.4 Espécies de Desapropriação; 2.14.1 Desapropriação Ordinária; 2.1.4.1.1 Desapropriação por Necessidade ou Utilidade Pública; 2.1.4.1.2 Desapropriação por Interesse Social; 2.1.4.2 Desapropriação Extraordinária ou Sancionatória; 2.1.4.2.1 Desapropriação por descumprimento da função social da propriedade; 2.1.4.2.2 Desapropriação para reforma agrária; 2.1.4.2.3 Desapropriação Confisco; 2.1.4.3 Desapropriação Indireta; 2.1.4.4 Desapropriação por Zona; 2.1.5 Objeto da desapropriação; 2.1.6 Bens insuscetíveis de desapropriação; 2.1.7 Retrocessão; 2.1.8 Desvio de finalidade e tredestinação lícita; 2.1.9 Prazo de caducidade; 2.1.10 Imissão provisória na posse; 2.1.11 Indenização justa e prévia, juros compensatórios e juros moratórios; 3Conclusão; 4 Referências. Resumo: O presente estudo tem por objetivo uma breve análise do instituto da desapropriação vigente em nosso ordenamento jurídico, abordando desde sua origem histórica, até assuntos de grande discussão na doutrina, como o caso da natureza jurídica do instituto da retrocessão, pois apesar da jurisprudência já ter se posicionado sobre tal assunto, alguns autores defendem posições divergentes. Para tal foram utilizadas como fonte de consulta, a vasta legislação existente acerca do tema, a posição que nossos principais doutrinadores possuem acerca do tema e também procurou-se mostrar o posicionamento de nossos Tribunais, principalmente de nossas cortes superiores uma vez que indispensável para que se obtenha uma visão mais apurada acerca de tema tão tradicional e ao mesmo tempo contemporâneo em nossas vidas. Palavras-chave: Desapropriação. Indenização. Função Social. Reforma Agrária. 1 INTRODUÇÃO Objetivou-se explorar o tema da desapropriação presente em nosso ordenamento jurídico, tema este instigante e sempre presente em nosso ordenamento jurídico, inclusive no 1 Graduado em Direito pelo Centro Universitário Dr. Edmundo Ulson UNAR. Advogado. [email protected] 2 Especialista em Direito Ambiental e Urbanístico, Especialista em Direito do Estado, Professor do Centro Universitário “Dr. Edmundo Ulson” UNAR. [email protected]

O INSTITUTO DA DESAPROPRIAÇÃO NA ATUALIDADE

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O INSTITUTO DA DESAPROPRIAÇÃO NA ATUALIDADE – ANÁLISE

DOUTRINÁRIA E JURISPRUDÊNCIAL.

NOGUEIRA . Thiago Fuster NOGUEIRA1

FERREIRA. FRANCISCO RAFAEL2

Sumário: Resumo; 1 Introdução; 2 Desapropriação – Traço histórico; 2.1.1

Conceito; 2.1.2 Fundamentos ou Pressupostos da Desapropriação; 2.1.3

Competências; 2.1.3.1 Competência Legislativa; 2.1.3.2 Competência Declaratória;

2.1.3.3 Competência Executória; 2.1.4 Espécies de Desapropriação; 2.14.1

Desapropriação Ordinária; 2.1.4.1.1 Desapropriação por Necessidade ou Utilidade

Pública; 2.1.4.1.2 Desapropriação por Interesse Social; 2.1.4.2 Desapropriação

Extraordinária ou Sancionatória; 2.1.4.2.1 Desapropriação por descumprimento da

função social da propriedade; 2.1.4.2.2 Desapropriação para reforma agrária;

2.1.4.2.3 Desapropriação Confisco; 2.1.4.3 Desapropriação Indireta; 2.1.4.4

Desapropriação por Zona; 2.1.5 Objeto da desapropriação; 2.1.6 Bens insuscetíveis

de desapropriação; 2.1.7 Retrocessão; 2.1.8 Desvio de finalidade e tredestinação

lícita; 2.1.9 Prazo de caducidade; 2.1.10 Imissão provisória na posse; 2.1.11

Indenização justa e prévia, juros compensatórios e juros moratórios; 3Conclusão; 4

Referências.

Resumo:

O presente estudo tem por objetivo uma breve análise do instituto da desapropriação

vigente em nosso ordenamento jurídico, abordando desde sua origem histórica, até assuntos

de grande discussão na doutrina, como o caso da natureza jurídica do instituto da retrocessão,

pois apesar da jurisprudência já ter se posicionado sobre tal assunto, alguns autores defendem

posições divergentes. Para tal foram utilizadas como fonte de consulta, a vasta legislação

existente acerca do tema, a posição que nossos principais doutrinadores possuem acerca do

tema e também procurou-se mostrar o posicionamento de nossos Tribunais, principalmente de

nossas cortes superiores uma vez que indispensável para que se obtenha uma visão mais

apurada acerca de tema tão tradicional e ao mesmo tempo contemporâneo em nossas vidas.

Palavras-chave: Desapropriação. Indenização. Função Social. Reforma Agrária.

1 INTRODUÇÃO

Objetivou-se explorar o tema da desapropriação presente em nosso ordenamento

jurídico, tema este instigante e sempre presente em nosso ordenamento jurídico, inclusive no

1Graduado em Direito pelo Centro Universitário Dr. Edmundo Ulson – UNAR. Advogado.

[email protected] 2 Especialista em Direito Ambiental e Urbanístico, Especialista em Direito do Estado, Professor do Centro

Universitário “Dr. Edmundo Ulson” UNAR. [email protected]

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Brasil, até mesmo antes de nossa Constituição Imperial de 1824. A desapropriação hoje se

reveste de importância soberba, uma vez que é o único meio que o Estado dispõe de

efetivamente fazer com que se cumpra a função social da propriedade, motivo pelo qual o se

faz imprescindível o aprofundamento sobre o presente tema. Tal estudo abrangeu desde a

definição do que vem a ser desapropriação, suas espécies, definição de indenização justa e

prévia, além das hipóteses em que a desapropriação é efetuada para punir seu proprietário, as

chamadas desapropriação sancionatórias.

Visando obter um ponto de vista neutro sobre o assunto foi efetuada uma consulta

prévia sobre a indispensável legislação que engloba o tema, tendo como exemplo o Decreto-

lei nº3.365/41, conhecido como Lei Geral das Desapropriações, a Lei nº 8.629/93, eu regula a

reforma agrária, o importante Estatuto da Cidade, lei nº 10.257/01, dentre outras. Também foi

pesquisado a posição que nossos mais ilustres doutrinadores possuem a respeito do tema,

incluindo nessa lista os chamados doutrinadores mais “tradicionais” como Hely Lopes

Meirelles, Celso Antônio Bandeira de Mello e José dos Santos Carvalho Filho e Maria Sylvia

Zanella Di Pietro, até a posição de um dos mais “atuais” doutrinadores de direito

administrativo que é o Doutor Alexandre Mazza. Também e não menos importante buscou-se

sobre os temas mais relevantes a posição jurisprudencial, incluindo ai as posições de nossas

cortes superiores, dentre elas o Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal.

Por fim cumpre mencionar que o objetivo de tal estudo se verifica na importância do

tema da desapropriação, sendo este instituto uma das maneiras do Estado intervir na

propriedade privada, e o conhecimento sobre tal assunto possui elevada importância uma vez

que todos podemos eventualmente ser alvo de uma desapropriação, por isso a importância do

presente estudo, ainda mais com a possibilidade infelizmente comum do Estado valer-se da

desapropriação indireta, portanto mais um motivo para ressaltar a importância de instituto da

desapropriação e seus reflexos em toda a sociedade.

2 DESAPROPRIAÇÃO – TRAÇO HISTÓRICO

Historicamente, a desapropriação surgiu em nosso ordenamento ainda no tempo do

Império com a publicação do Decreto de 21 de maio de 1821, que já disciplinava o instituto

da desapropriação, porém em 1824, com a instituição da Constituição do Império do Brasil,

em seu artigo 179, item 22 que assim previa “E' garantido o Direito de Propriedade em toda a

sua plenitude. Se o bem publico legalmente verificado exigir o uso, e emprego da Propriedade

do Cidadão, será elle préviamente indemnisado do valor della. A Lei marcará os casos, em

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que terá logar esta unica excepção, e dará as regras para se determinar a indemnisação.” (DA

SILVA, 1998)

O instituto se repetiu em todas as constituições que foram editadas em nosso país, a

saber, na Constituição de 1891, em seu artigo 72, §17 que assim previa “O direito de

propriedade mantem-se em toda a plenitude, salvo a desapropriação por necessidade ou

utilidade pública, mediante indenização prévia”. (DA SILVA, 1998)

Na Constituição de 1934, em seu artigo 113, item 17, assim previa: “É garantido o

direito de propriedade, que não poderá ser exercido contra o interesse social ou coletivo, na

forma que a lei determinar. A desapropriação por necessidade ou utilidade pública far-se-á

nos termos da lei, mediante prévia e justa indenização. Em caso de perigo iminente, como

guerra e comoção intestina, poderão as autoridades competentes usar da propriedade

particular até onde o bem público o exija, ressalvado o direito à indenização ulterior”. Aqui

verificamos uma evolução no instituto da desapropriação, onde se verifica a presença de

atributos que incidem inclusive nos dias atuais, dentre eles, a indenização justa e prévia,

utilidade ou necessidade pública, além do instituto da requisição administrativa, que conforme

verificamos anteriormente se realizava por meio da desapropriação. (DA SILVA, 1998)

Já a carta constitucional de 1937, assim preceituava: “O direito de propriedade, salvo a

desapropriação por necessidade ou utilidade pública, mediante indenização prévia. O seu

conteúdo e os seus limites serão os definidos nas leis que lhes regularem o exercício”. Clara

alusão ao Decreto-lei 3.365/41, que se tornou o diploma legal fundamental das

desapropriações em geral, especialmente aquelas que têm por finalidade a necessidade ou

utilidade pública, devido à sua importância ficou conhecido como “Lei Geral das

Desapropriações”. (DA SILVA, 1998)

As Constituições de 1946 e 1967, ao referirem a desapropriação praticamente

repetiram o mesmo mandamento da constituição de 1934, pois em ambas se verificava os

requisitos da justa e prévia indenização em dinheiro. Ponto controvertido foi o referente à

política de reforma agrária, uma vez que, ao definir que a indenização devia ser em dinheiro,

tal fato emperrou a reforma agrária em nosso país, chegando mesmo a ser quase esquecida.

(DA SILVA, 1998)

Devido a essas conseqüências dramáticas, que através de um Ato Institucional, a

Constituição foi modificada, e a partir desta mudança, foram instituídas as chamadas TDA’s

(Títulos da Dívida Agrária), que possibilitou ao Governo, o pagamento das indenizações

provenientes em interesse social para fins de reforma agrária em TDA’s. (DA SILVA, 1998)

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A desapropriação para reforma agrária foi disciplinada pelo Decreto-lei nº 554, de

25/04/96, depois revogado pela Lei complementar nº 76, de 06/07/93, que hoje

disciplina a matéria, introduzidas pela Lei Complementar nº 88, de 23/12/96. (DI

PIETRO, Maria Sylvia Zanella, p. 158, 2009.)

A respeito do pagamento na desapropriação de interesse social para fins de Reforma

Agrária, vejamos o julgado abaixo que ilustra com precisão o tema, senão vejamos:

DESAPROPRIAÇÃO PARA FINS DE REFORMA AGRÁRIA. PAGAMENTO

EM TDA'S. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 282/STF.

REDUÇÃO DE HONORÁRIOS. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ. VALORES

DA INDENIZAÇÃO. COBERTURA VEGETAL. EXPLORAÇÃO ECONÔMICA.

JUROS COMPENSATÓRIOS. CABIMENTO. MEDIDA PROVISÓRIA 1.577/97.

IMISSÃO NA POSSE ANTERIOR. PERCENTUAL DE 12% AO ANO.

PRECEDENTES. CUMULATIVIDADE COM JUROS MORATÓRIOS.

POSSIBILIDADE. SÚMULAS 12 E 102/STJ. PRECEDENTES. Supremo Tribunal

de Justiça, Processo: REsp 1007774 CE 2007/0271303-0 Relator(a): Ministro

FRANCISCO FALCÃO, Julgamento: 14/10/2008, Órgão Julgador: T1 - PRIMEIRA

TURMA, Publicação: DJe 29/10/2008.

Já nossa atual carta magna, embora preveja expressamente o direito de propriedade

privada em seu art. 5º, XXII, e no art. 170, II, a desapropriação vem prevista em vários

dispositivos, dentre eles: art. 5º, inciso XXIV, art. 22, inciso II, art. 182, §3º e 4º, e inciso III,

e ainda o art. 184. (DA SILVA, 1998)

Neste diapasão verificamos a posição de Carvalho Filho, (2009), que preceitua: em

nosso ordenamento, a propriedade é considerada um direito fundamental prevista no art. 5º,

inciso XXII de nossa Constituição. Mas como todos sabem, não existem direitos

fundamentais absolutos e até mesmo a propriedade deve atender a sua função social, também

prevista no artigo 5º, inciso XXIII. Diante do exposto é lícito ao Estado intervir na

propriedade privada quando esta não estiver cumprindo sua função social, isto porque o

Estado atue em nome de toda a coletividade.

Neste mesmo sentido prevê Diógenes Gasparini (2011) ao afirmar que em nossas

constituições sempre existiram o direito a propriedade inerente ao particular e o direito de

desapropriar inseparável do Estado, todos sempre conviveram juntos e em harmonia em nosso

ordenamento jurídico.

Ainda parafraseando Carvalho Filho (2009) as intervenções do Estado na propriedade

privada subdividem-se em duas categorias básicas, de um lado temos as intervenções

restritivas que como já estudamos restringem o direito de propriedade do particular sobre seu

bem, mas não o fulmina totalmente, apenas impõe certas restrições que este possui o dever de

suportar. Já á intervenção supressiva, é aquela em que o Estado transfere o bem do particular

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para o seu patrimônio, ou o transfere a terceiros, sempre com base na necessidade/utilidade

pública e interesse social.

2.1.1 Conceito

A doutrina se apresenta de maneira uníssona a respeito da conceituação sobre a

desapropriação sendo que neste ponto não existe nenhuma grande divergência que merca ser

explorada. Trata-se de transferência compulsória de propriedade particular para o Poder

Público ou seus delegados, sob o fundamento da necessidade, utilidade pública ou interesse

social, mediante o pagamento de indenização prévia, justa e em dinheiro. Trata-se da regra

geral nas desapropriações, ou seja, indenização prévia, justa e em dinheiro, porém, em

determinadas situações o pagamento será feito em títulos da dívida pública, de emissão

autorizada pelo Senado, resgatáveis em até dez anos, ou em títulos da dívida agrária

resgatáveis no prazo de vinte anos. (MEIRELLES, 2009)

Logo, podemos conceituar desapropriação como:

[...] um procedimento, pelo qual o Poder Público (em sentido amplo, abrangendo

pessoas políticas e Administração Indireta) ou seus delegados (envolvendo

concessionárias, permissionárias e outras pessoas delegadas), iniciando-se por

prévia declaração de utilidade pública, necessidade pública e interesse social,

impõem ao proprietário (não necessariamente, mas geralmente um particular,

podendo ser outro ente público ou sob seu controle) pessoa física ou jurídica, a

perda ou retirada de bem de seu patrimônio, substituindo-o pela justa indenização

que, em regra, será prévia, e em dinheiro, salvo as exceções previstas na

Constituição Federal, bem esse que se incorporará, também em regra, ao

patrimônio do expropriante. (ARAÚJO, Edmir Netto de, p. 1072, 2010.)

Para Da Silva (1998), a desapropriação é uma forma originária de aquisição da

propriedade a disposição do direito público, uma vez que apta a remover legalmente os

entraves em relação à execução dos serviços públicos.

Já para o mestre Bandeira de Mello (2009), trata-se de procedimento através do qual o

Poder Público, fundado em necessidade pública, utilidade pública ou interesse social,

compulsoriamente despoja alguém de certo bem móvel ou imóvel, normalmente adquirindo-o

para si, em caráter originário, ou seja, o bem ingressa o patrimônio público livre e

desimpedido de quaisquer ônus, mediante indenização prévia, justa e pagável em dinheiro,

salvo nos casos de certos imóveis urbanos ou rurais, em que, por se encontrarem em

desacordo com a função social legalmente caracterizada para eles, a indenização far-se-á em

títulos da dívida pública, resgatáveis em parcelas anuais e sucessivas, preservado seu valor

real.

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Alexandre Mazza (2011), autor da nova geração de professores de direito

administrativo nos apresenta conceito aparentemente similar, mas senão vejamos, a

desapropriação trata-se de procedimento administrativo pelo qual o Estado transforma

compulsoriamente bem de terceiro em propriedade pública, com fundamento na necessidade

pública, utilidade pública ou interesse social, pagando indenização prévia, justa e em dinheiro

nos casos das desapropriações ordinárias, e em títulos da dívida pública na desapropriação

urbanística, títulos da dívida agrária, na desapropriação para reforma agrária, e nenhuma

indenização no caso da desapropriação confisco.

Carvalho Filho (2009) também se posiciona neste sentido, definindo a desapropriação

como o procedimento de direito público pelo qual o Poder Público transfere para si, por

razões de utilidade pública ou de interesse social, propriedade de terceiros, normalmente

mediante pagamento de indenização.

Por fim e não menos importante, vejamos a posição de Diógenes Gasparini (2011)

acerca da definição de desapropriação, para o conceituado autor, trata-se de um procedimento

administrativo onde o Estado, adquire de maneira compulsória a propriedade de alguém, para

si ou para outrem mediante utilidade/necessidade pública ou interesse social com indenização

justa prévia e em dinheiro, salvo os casos em que a própria constituição elenca como

sancionatórios ou especiais, nestes casos a indenização será paga em títulos da dívida pública

(CF, art. 182, §4º, III) ou em títulos da dívida agrária (CF, art. 184).

2.1.2 Fundamentos ou Pressuposto da Desapropriação

De acordo com Diógenes Gasparini (2011), três são os fundamentos legais da

desapropriação: o fundamento político, constitucional e legal. O fundamento político segundo

o autor seria basicamente o Princípio da Supremacia do Interesse Público sobre o Privado. O

constitucional pode ser genérico ou específico, sendo como fundamento genérico o previsto

nos artigos 5º, XXII e 170, III ambos da Constituição Federal que ressalta a importância da

função social da propriedade; já o fundamento específico seria o constante nos artigos 5º,

inciso XXIV, 182, §4º, III e 184 e parágrafos todos da Constituição Federal. Por fim, no

fundamento legal que estão previstos em diversos diplomas legais expedidos pela União para

regular a matéria, são eles:

a) Decreto-Lei nº 3.365/41, Lei Geral das Desapropriações; b) Lei nº 4.132/62

desapropriação por interesse social; c) Lei nº 8.629/1993 reforma agrária (Cap. III, Tít. VII,

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da CF); d) Decreto-Lei nº 1.075/70, imissão de posse; e) Lei nº 9.785/99; f) MP n. 2.183-56,

de 24-8-2001.

Alexandre Mazza (2011) possui posição semelhante, à acima exposta, senão vejamos.

Para o autor o fundamento político da desapropriação consiste no poder de suprimir

compulsoriamente a propriedade privada, tal poder é inerente do domínio eminente

(dominium eminens), poder conferido ao Estado sobre todos os bens situados em seu

território, ou seja, uma parcela da soberania do Estado. (grifos do autor)

Continuando, o autor defende que a competência expropriatória encontra sustentáculo

também no Princípio da Supremacia do Interesse Público Sobre o Privado e na necessidade de

todo imóvel se adequar aos ditames de sua função social e ainda que os fundamentos jurídico-

político não se confundem com os três fundamentos normativos da desapropriação

encontrados no artigo 5º, inciso XXIV da Constituição Federal3. (MAZZA, 2011)

Evoluindo em tema deveras importante, verificamos que Maria Sylvia Zanella Di

Pietro (2009) aduz ainda que nossa carta magna traz como pressupostos da desapropriação a

necessidade publica, a utilidade pública e o interesse social (artigos 5º, inciso XXIV e

184). (grifos do autor)

Ademais, continua a autora nos brindando com a definição das três possibilidades de

desapropriação anteriormente elencadas, sendo que existe necessidade pública quando a

Administração se vê diante de um problema impreterível e urgente, que não pode ser

removido nem procrastinado, e cuja solução somente se encontra na desapropriação e

incorporação do bem particular ao domínio do Estado. Já verificamos a hipótese de utilidade

pública quando a aquisição pelo Estado do bem particular é conveniente, vantajosa ao

interesse coletivo, aqui não existe a situação de urgência verificada acima. Por fim verifica-se

o interesse social quando o Estado se vê diante das injustiças sociais, ligadas diretamente às

camadas mais pobres da população, tal espécie de desapropriação visa à melhoria na

qualidade de vida, distribuição de riquezas e atenuação das desigualdades na sociedade.

No mesmo sentido temos a posição de Carvalho Filho (2009) que somente considera

legítima a desapropriação que preencha os requisitos da utilidade pública, necessidade pública

e interesse social.

Define o autor que ocorre a utilidade pública quando a transferência do bem

particular se mostra conveniente à Administração, que assim o faz. Verifica-se a necessidade

3 XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por

interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta

Constituição;

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pública quando ocorre uma situação de emergência, cuja solução somente se satisfaça com a

desapropriação do bem particular; por fim ocorre o interesse social quando se verifica uma

grave violação à função social da propriedade, sua destinação e uso para o bem coletivo,

nesses casos o poder público tem por objetivo eliminar de alguma forma às desigualdades

coletivas. Segundo o autor, o exemplo mais marcante de desapropriação para fins de interesse

social é o da reforma agrária ou de assentamento de colonos. (CARVALHO FILHO, 2009

grifos do autor)

O fundamento legal genérico das espécies de desapropriação acima expostas encontra-

se no artigo 5º, inciso XXIV da Constituição Federal (utilidade/necessidade pública, interesse

social) e em leis e decretos esparsos, como por exemplo, o Decreto Lei 3.365/1941, chamado

de lei geral das desapropriações, que regula as desapropriações por utilidade e necessidade

pública. Temos ainda a lei nº 4.132/62, que regula os casos de desapropriação por interesse

social, isso sem contar as modalidades de desapropriação sancionatórias que se encontram

previstas nos artigos 183,§4º, III (desapropriação urbanística), 184 (desapropriação para fins

de reforma agrária), ambos da Constituição Federal. (CARVALHO FILHO, 2009)

2.1.3 Competências

Antes de adentrarmos nas espécies de desapropriação propriamente ditas e suas

características convém mencionarmos as três espécies de competências existentes e suas

ramificações em nosso direito, sendo que nesse ponto toda a doutrina e jurisprudência

apontam para o mesmo caminho, não havendo divergências.

Segundo Carvalho Filho (2009) no procedimento administrativo que precede a

desapropriação passa pela análise de três espécies de competências, quais sejam, a

competência legislativa, a competência declaratória e a competência executória, sendo que

qualquer violação nas competências acima mencionadas enseja a nulidade do decreto

expropriatório, mas senão vejamos. (grifos do autor)

2.1.3.1 Competência Legislativa

A competência legislativa é exclusiva da União, conforme inteligência do artigo 22,

inciso II da Constituição Federal4, tal competência consiste na produção de normas a respeito

da matéria, logo verificamos que tal matéria é privativa da União, ou seja, somente esta tem o

4 Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:

II - desapropriação;

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poder de criar regras jurídicas novas sobre desapropriação. A Constituição Federal no artigo

22, parágrafo único5 admitiu que lei complementar viesse a autorizar os Estados a legislar

sobre questões específicas das matérias sujeitas à competência privativa da União. Tal

competência é condicionada, isto é, somente se consumará quando for editada lei

complementar autorizadora. (CARVALHO FILHO, 2009)

Competência Privativa da União e Desapropriação Por invasão da competência

privativa da União para legislar sobre desapropriação (CF, art. 22, II), o Tribunal

julgou procedente pedido formulado em ação direta proposta pelo Governador do

Distrito Federal para declarar a inconstitucionalidade do parágrafo único do art. 313

da Lei Orgânica do Distrito Federal, que dispõe que as desapropriações dependerão

de prévia aprovação da Câmara Legislativa daquela unidade da federação. Entendeu-

se que o dispositivo impugnado extrapola o procedimento previsto no Decreto-Lei

3.365/41 e que a decisão político-administrativa de desapropriar um bem titularizado

pelo particular é matéria de alçada do Poder Executivo. Precedentes citados: RE

24139/SP (DJU de 20.5.55); Rp 826/MT (DJU de 14.5.71); ADI 106/RO (DJU de

9.12.2005). ADI 969/DF, rel. Min. Joaquim Barbosa, 27.9.2006. (ADI-969) 6

2.1.3.2 Competência Declaratória

Tal espécie de competência se presta a declarar a utilidade pública ou o interesse

social do bem, com vistas à futura desapropriação. Aduz o autor (CARVALHO FILHO,

2009) que declarar utilidade pública ou interesse social de um bem, significa um primeiro

indício por parte do Estado no sentido de que determinado bem interessa ao Estado, seja para

ingressar em seu patrimônio (utilidade/necessidade pública) ou que tal bem seja destinado a

terceiro (interesse social).

Tal espécie de competência é concorrente da União, dos Estados, do Distrito Federal,

dos Municípios e dos Territórios, e se encontra prevista no art. 2º7 do Decreto-lei nº 3.365/41.

Tal regra engloba todas as pessoas federativas, porque cabe a estas valorar sobre os casos de

utilidade pública e de interesse social que propiciam a desapropriação, porém, como toda

regra, esta comporta exceções, desse modo atribui-se competência para declarar utilidade

pública ao DNIT (Departamento Nacional de Infra Estrutura), cuja natureza é a de

autarquia administrativa, com intuito de ser promovida desapropriação visando à

implantação do Sistema Nacional de Viação8. (CARVALHO FILHO, 2009)

5 Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito

Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional. 6 Informativo STF nº 442, set/2006

7 Art. 2

o Mediante declaração de utilidade pública, todos os bens poderão ser desapropriados pela União, pelos

Estados, Municípios, Distrito Federal e Territórios. 8 Lei nº 10.233/2001 – Art. 82. São atribuições do DNIT, em sua esfera de atuação:

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No mesmo sentido foi a competência atribuída à ANEEL – Agência Nacional de

Energia Elétrica, também uma Autarquia Federal, que possui competência declaratória com

objetivo de serem desapropriadas áreas para a instalação de concessionários e permissionários

de energia elétrica9 (CARVALHO FILHO, 2009)

No tocante ao interesse social, verificamos que se a desapropriação se destinar à

reforma agrária a competência para a declaração expropriatória é exclusiva da União

Federal, conforme inteligência do artigo 184 e parágrafos da CF/8810

. Já a espécie de

desapropriação para atender fins urbanísticos, a competência declaratória para declarar a

desapropriação é exclusiva do Município, conforme previsto expressamente no artigo 182,

parágrafo IV, inciso III da Constituição Federal11

. (CARVALHO FILHO, 2009)

2.1.3.3 Competência Executória

Tal espécie de competência significa a atribuição para promover a desapropriação, dar

andamento, dar cabo, finalizar a desapropriação, ou seja, providenciar todas as medidas e

exercer todas as atividades que venham a conduzir a efetiva transferência da propriedade.

Prevê o artigo 3º do Dec.-lei 3.365/41 que assim preleciona expressamente: “Os

concessionários de serviços públicos e os estabelecimentos de caráter público ou que

exerçam funções delegadas de poder público poderão promover desapropriações mediante

autorização expressa, constante de lei ou contrato”. Verificamos que a intenção do

legislador foi permitir que o maior número de pessoas delegadas pudessem conduzir a

desapropriação visando ao seu término, desde que expressamente autorizadas pelos entes que

promoveram a declaração expropriatória (União, Estados, Municípios). Abrangem desde as

entidades da administração indireta (autarquias, empresas públicas, sociedades de economia

mista e fundação), cuja delegação é de natureza legal, e os concessionários e permissionários

de serviço público.

IX – declarar a utilidade pública de bens e propriedades a serem desapropriados para implantação do Sistema

Federal de Viação; 9 Lei nº 9.074/95 – Art. 10. Cabe à Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL, declarar a utilidade pública,

para fins de desapropriação ou instituição de servidão administrativa, das áreas necessárias à implantação de

instalações de concessionários, permissionários e autorizados de energia elétrica. (Redação dada pela Lei nº

9.648, de 1998) 10

Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que

não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com

cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua

emissão, e cuja utilização será definida em lei. 11

III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo

Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o

valor real da indenização e os juros legais.

Page 11: O INSTITUTO DA DESAPROPRIAÇÃO NA ATUALIDADE

11

11

2.1.4 Espécies de Desapropriação

A doutrina elenca aproximadamente algo em torno de sete modalidades de

desapropriação, sendo que todas possuem características especiais que as diferem umas das

outras, sendo que basicamente podemos elencar as seguintes espécies:

a) Desapropriação ordinária: engloba as desapropriações por necessidade e

utilidade pública e interesse social – fundamento legal: art. 5, inciso XXIV da

CF/88, sendo que o pagamento da indenização é prévio e em dinheiro;

b) Desapropriação extraordinária ou sancionatória: nesta modalidade verificamos

a desapropriação urbanística prevista no artigo 183, §4º, inciso III, da CF/88, a

desapropriação para fins de reforma agrária, prevista no artigo 184 da CF/88,

em ambas as espécies o pagamento da indenização se dá através de títulos da

dívida (pública ou agrária); e por fim temos a desapropriação confisco prevista

no artigo 243 da CF/88, onde não existe pagamento de indenização;

c) Desapropriação indireta: é uma modalidade de desapropriação que não existe

previsão na legislação, ocorre quando o Estado pratica o chamado esbulho

possessório, ou seja, o Estado sem valer-se de decreto expropriatório expedido

pelo chefe do executivo invade área de um particular e inicia determinada

construção sem sua anuência. A indenização neste caso converte-se em perdas

e danos se foi dada utilidade pública ao imóvel;

d) Desapropriação por zona: é uma modalidade especial de desapropriação onde

se desapropria o imóvel necessário à desapropriação e seu entorno que terá

duas finalidades específicas a serem detalhadas no decreto expropriatório, a

primeira é a desapropriação do entorno visando futura ampliação do objeto

expropriado, e a segunda é a desapropriação do entorno visando aproveitar a

valorização que a obra pública trará na vizinhança, seu fundamento legal está

no artigo 4º do Decreto lei 3.365/4112

;

e) Desapropriação de bens públicos: é a possibilidade de entes de nível

hierarquicamente superior desapropriar bens de entes inferiores, ou seja, se dá

sempre na vertical e de cima para baixo, ou seja, União possui legitimidade

para desapropriar Estados e Municípios, Estados desapropriam Municípios, seu

12

Art. 4o

A desapropriação poderá abranger a área contígua necessária ao desenvolvimento da obra a que se

destina, e as zonas que se valorizarem extraordinariamente, em conseqüência da realização do serviço. Em

qualquer caso, a declaração de utilidade pública deverá compreendê-las, mencionando-se quais as indispensáveis

à continuação da obra e as que se destinam à revenda.

Page 12: O INSTITUTO DA DESAPROPRIAÇÃO NA ATUALIDADE

12

12

fundamento legal está previsto expressamente no artigo 2º, §2º do Dec.-lei

3.365/4113

·. (CARVALHO FILHO, 2009, DI PIETRO, 2009, MAZZA, 2011)

Aprofundaremos a seguir nas principais modalidades de desapropriação que merecem

um aprofundamento devido às suas características intrínsecas que as diferem das demais, a

saber.

2.1.4.1 Desapropriação ordinária

São aquelas espécies de desapropriação previstas no artigo 5º, inciso XXIV da

Constituição Federal, que assim prevê: “A lei estabelecerá o procedimento para

desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou interesse social, em tais espécies de

desapropriação o pagamento é sempre mediante justa e prévia indenização em dinheiro,

ressalvados os casos previstos nesta Constituição.” Esta é a regra geral nas desapropriações,

onde a indenização é justa, prévia e em dinheiro conforme acima ressaltado. (CARVALHO

FILHO, 2009)

2.1.4.1.1 Desapropriação por Necessidade ou Utilidade Pública

Possui como norma regulamentadora o Decreto-Lei nº 3.365/41, considerado a Lei

Geral das Desapropriações que dispõe em seu artigo 5º os casos de Desapropriação por

Utilidade Pública. (CARVALHO FILHO, 2009)

Alexandre Mazza (2011) em sua obra faz uma distinção um tanto quanto salutar

acerca das desapropriações por necessidade e utilidade pública. Isto porque no Decreto-Lei nº

3.365/41 em seu artigo 5º, estão previstas somente as hipóteses de desapropriação por

utilidade pública, nada mencionando, tal diploma legal acerca das desapropriações por

necessidade pública. Entretanto, segundo entendimento do autor, as desapropriações por

necessidade pública pressupõem uma situação de emergência e estariam elencadas nas alíneas

a, b e c14

do citado artigo 5º. Já o restante envolveria um juízo de conveniência e oportunidade

por parte da Administração Pública, tais casos se enquadrariam nas hipóteses de

desapropriação por utilidade pública.

13

§ 2o Os bens do domínio dos Estados, Municípios, Distrito Federal e Territórios poderão ser desapropriados

pela União, e os dos Municípios pelos Estados, mas, em qualquer caso, ao ato deverá preceder autorização

legislativa. 14

a) segurança nacional; b) defesa do Estado; c) socorro público em caso de calamidade.

Page 13: O INSTITUTO DA DESAPROPRIAÇÃO NA ATUALIDADE

13

13

2.1.4.1.2 Desapropriação por Interesse Social

Conforme precisamente elucida Hely Lopes Meirelles (2009) na desapropriação por

interesse social, os bens desapropriados não integram o patrimônio público, mas sim são

trespassados a terceiros a fim de satisfazer os anseios da coletividade.

Os casos de desapropriação por interesse social estão previstos no art. 2º da Lei

4.132/62, dentre eles podemos destacar resumidamente o aproveitamento de todo bem

improdutivo ou explorado sem correspondência com as necessidades de habitação, trabalho e

consumo dos centros de população a que deve ou pode suprir por seu destino econômico; a

construção de casas populares; a manutenção de posseiro sem terreno urbano onde, com a

tolerância expressa ou tácita do proprietário, tenham construído sua habitação, formando

núcleos residenciais de mais de dez famílias. (GASPARINI, 2011)

Conforme ressaltado acima, a desapropriação por interesse social visa privilegiar

certas camadas sociais em geral as menos favorecidas economicamente atuando como meio

de eliminação das desigualdades sociais. (GASPARINI, 2011)

2.1.4.2 Desapropriação Extraordinária ou Sancionatória

Tais modalidades de desapropriação constituem uma espécie de sanção ao proprietário

do imóvel objeto do decreto expropriatório, isto porque nos três casos aqui mencionados, seu

pagamento se dá: 1- em títulos da dívida pública, nos casos da desapropriação urbanística de

competência do Município; 2- em títulos da dívida agrária, quando da desapropriação para

fins de reforma agrária, de competência da União; 3- nenhuma indenização a ser paga no caso

da desapropriação confisco, por tratar-se da utilização da terra para o plantio de psicotrópicos.

(DI PIETRO, 2009)

2.1.4.2.1 Desapropriação por descumprimento da função social da propriedade

urbana

Também conhecida como desapropriação para a observância do Plano Diretor do

Município (MEIRELLES, 2009), desapropriação por descumprimento da função social da

propriedade urbana (DI PIETRO, 2009), desapropriação urbanística (CARVALHO FILHO,

2009, MAZZA, 2011), não obstante a diversidade de nomenclatura, todas se referem ao

mesmo instituto que será devidamente explorado a seguir.

Page 14: O INSTITUTO DA DESAPROPRIAÇÃO NA ATUALIDADE

14

14

O fundamento legal da desapropriação urbanística está previsto no artigo 182, §4º,

inciso III, da Constituição Federal, sendo que tal modalidade de desapropriação é de

competência exclusiva do Município(s), uma vez que tem por objeto, imóveis urbanos que

desatendam a sua função social15

. (MAZZA, 2011)

A função social do imóvel está prevista na lei nº 10.257/01, que regulamenta os

artigos. 182 e 183 da Constituição Federal estabelecem as diretrizes gerais da política urbana

e dá outras providências. Preceitua o §2º do artigo 182 da CF/88 que a propriedade cumpre

sua função social quando atende às exigências previstas no Plano Diretor, que tem por

objetivo garantir a coletividade qualidade de vida, justiça social e desenvolvimento das

atividades econômicas. (MAZZA, 2011)

Porém antes do Município efetuar a desapropriação no imóvel que venha a desatender

à sua função social, deve atender ao comando constitucional previsto no artigo 182, §4º,

incisos I e II, somente restando infrutíferas as providências abaixo mencionadas é que

Município deve proceder à desapropriação:

a) Exigência de promoção do adequado aproveitamento: o Poder Público notifica

o proprietário que seu imóvel se encontra em desacordo com o previsto no art.

5º, §1º, I do Estatuto da Cidade16

, sendo tal notificação averbada na matrícula

do imóvel;

b) Ordem de parcelamento e edificação compulsórios: o proprietário notificado

para dar destinação social há seu imóvel deve no prazo de um ano protocolar o

projeto no órgão municipal competente17

e dois anos para iniciar as obras no

imóvel18

;

c) IPTU progressivo no tempo: se o proprietário do imóvel não atender ao

disposto acima, incidirá sobre seu imóvel o IPTU progressivo no tempo, no

qual haverá um aumento na alíquota deste imposto pelo prazo máximo de

cinco anos consecutivos19

, sendo que o valor de tal alíquota deverá dobrar a

15

Lei nº 10.257/01 – Art. 39. A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências

fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor, assegurando o atendimento das necessidades

dos cidadãos quanto à qualidade de vida, à justiça social e ao desenvolvimento das atividades econômicas,

respeitadas as diretrizes previstas no art. 2o desta Lei.

16 § 1

o Considera-se subutilizado o imóvel:

I – cujo aproveitamento seja inferior ao mínimo definido no plano diretor ou em legislação dele decorrente; 17

§ 4o Os prazos a que se refere o caput não poderão ser inferiores a:

I - um ano, a partir da notificação, para que seja protocolado o projeto no órgão municipal competente; 18

II - dois anos, a partir da aprovação do projeto, para iniciar as obras do empreendimento. 19

Art. 7o Em caso de descumprimento das condições e dos prazos previstos na forma do caput do art. 5

o desta

Lei, ou não sendo cumpridas as etapas previstas no § 5o do art. 5

o desta Lei, o Município procederá à aplicação

Page 15: O INSTITUTO DA DESAPROPRIAÇÃO NA ATUALIDADE

15

15

cada ano, respeitado o limite máximo de 15%20

. Exemplo: 1º ano: alíquota de

1%, 2º ano: alíquota de 2%, 3º ano: alíquota de 4%, 4º ano, alíquota de 8% e 5º

ano: alíquota de 15%;

d) Somente depois de observado todo este procedimento é que estará autorizado o

Município a efetuar a desapropriação do imóvel, que deverá ser paga através

de títulos da dívida pública21

, com emissão aprovada pelo Senado, resgatáveis

no prazo máximo de até dez anos. (DI PIETRO, 2009, MAZZA, 2011)

2.1.4.2.2 Desapropriação para reforma agrária

Também conhecida na doutrina como desapropriação por descumprimento de função

social da propriedade rural (DI PIETRO, 2009), tal modalidade de desapropriação é de

competência exclusiva da União, e possui natureza sancionatória, uma vez que somente se

aplica ao imóvel rural que desatender à sua função social. (MAZZA, 2009)

A função social do imóvel rural se encontra prevista expressamente no artigo 186 da

Constituição Federal, e no artigo 2º, §1º, do Estatuto da Terra (lei nº 4.504/64). Pra tal

instituto, uma propriedade somente cumpre com sua função social, quando cumpre

simultaneamente os seguintes requisitos:

a) Favorece o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores que nela labutam,

assim como de suas famílias;

b) Mantém níveis satisfatórios de produtividade;

c) Assegura a conservação dos recursos naturais;

d) Observa as disposições legais que regulam as justas relações de trabalho entre

os que a possuem e a cultivem. (MAZZA, 2011)

do imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana (IPTU) progressivo no tempo, mediante a majoração

da alíquota pelo prazo de cinco anos consecutivos. 20

§ 1o O valor da alíquota a ser aplicado a cada ano será fixado na lei específica a que se refere o caput do art.

5o desta Lei e não excederá a duas vezes o valor referente ao ano anterior, respeitada a alíquota máxima de

quinze por cento. 21

Art. 8o Decorridos cinco anos de cobrança do IPTU progressivo sem que o proprietário tenha cumprido a

obrigação de parcelamento, edificação ou utilização, o Município poderá proceder à desapropriação do imóvel,

com pagamento em títulos da dívida pública.

§ 1o Os títulos da dívida pública terão prévia aprovação pelo Senado Federal e serão resgatados no prazo de até

dez anos, em prestações anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais de

seis por cento ao ano.

Art. 182, §4º, III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente

aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas,

assegurados o valor real da indenização e os juros legais.

Page 16: O INSTITUTO DA DESAPROPRIAÇÃO NA ATUALIDADE

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16

A Constituição Federal, em seu artigo 18522

proíbe expressamente a desapropriação de

propriedades produtivas e da pequena e média propriedade rural, desde que seu proprietário

não possua outra. Verificamos aqui algumas peculiaridades da lei acerca da desapropriação

para fins de reforma agrária:

Uma propriedade pode não estar cumprindo sua função social e não vir a ser

desapropriada, pois a Constituição proíbe a desapropriação de propriedades produtivas.

A pequena e média propriedade rural podem ser desapropriadas, desde que seu

proprietário possua outra, afastando aquela imagem de que somente os grandes latifúndios são

objeto de desapropriação para fins de reforma agrária. DI PIETRO, 2009, MAZZA, 2011)

O pagamento dessa espécie de desapropriação é feito em títulos da dívida agrária,

resgatáveis em até 20 anos23, sendo que o pagamento das benfeitorias úteis e necessárias

deverá ser feito em dinheiro24. (DI PIETRO, 2009)

2.1.4.2.3 Desapropriação confisco

Esta modalidade de “desapropriação” possui previsão legal no artigo 243 da

Constituição Federal, e como tal é denominada de confisco, pois não prevê nenhum tipo de

indenização ao expropriado. Prevê o dispositivo constitucional: “As glebas de qualquer região

do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas serão imediatamente

expropriadas e especificamente destinadas ao assentamento de colonos, para o cultivo de

produtos alimentícios e medicamentosos, sem qualquer indenização ao proprietário e sem

prejuízo de outras sanções previstas em lei.” (CARVALHO FILHO, 2009)

Esclarece Maria Sylvia Zanella Di Pietro (2009), não é qualquer cultura de plantas

psicotrópicas que enseja a esse tipo de desapropriação, mas apenas aquelas que sejam ilícitas,

incluídas no rol elencado pelo Ministério da Saúde. De acordo com o parágrafo único do art.

2º da lei 8.257/91, a autorização para a cultura de plantas psicotrópicas será concedida pelo

órgão competente do Ministério da Saúde, atendendo exclusivamente a finalidades

terapêuticas e científicas.

22

Art. 185. São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária:

I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra;

II - a propriedade produtiva. 23

Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que

não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com

cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua

emissão, e cuja utilização será definida em lei. 24

§ 1º - As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro.

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17

Ainda aduz a autora que no parágrafo único do artigo 243 da CF/88, prevê o confisco

de todo e qualquer bem que possua valor econômico e venha ser apreendido em decorrência

do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o qual deverá ser revertido para instituições

e pessoal especializado no tratamento e recuperação de viciados e no aparelhamento e custeio

de atividades de fiscalização, controle, prevenção e repressão do crime de tráfico dessas

substâncias. (DI PIETRO, 2009)

2.1.4.3 Desapropriação Indireta

Nas sábias palavras do mestre Hely Lopes Meirelles (2009), trata-se esbulho da

propriedade particular e como tal não encontra suporte jurídico ou legal. Trata-se de uma

desapropriação de fato, entretanto uma vez dado destinação publica ao bem “desapropriado”,

somente cabe ao particular buscar uma indenização por perdas e danos, sendo insuscetível de

reintegração.

Aduz ainda Maria Sylvia Zanella Di Pietro (2009) que a desapropriação indireta é

aquela que se realiza sem a observância do procedimento legal, por tal razão costuma ser

equiparado ao esbulho, motivo pelo qual cabem as ações possessórias para evitar a destinação

pública do bem esbulhado. Adverte, entretanto a autora que se o particular nada fizer para

impedir a realização da obra em sua propriedade, e esta venha ter uma destinação pública, não

poderá mais reivindicar o bem esbulhado25

, cabendo-lhe apenas mover a ação pertinente para

o caso em tela, que seria a ação de indenização por desapropriação indireta.

Alexandre Mazza (2011) sustenta a mesma posição em sua obra, afirmando ser a

desapropriação indireta uma espécie de esbulho possessório praticado pelo Estado, que invade

área particular sem contraditório ou indenização. Tal modalidade de desapropriação encontra

proibição expressa na Lei Complementar nº 101/200026

.

Sustenta ainda o ilustre autor que ao proprietário cabe a ação judicial de indenização

por desapropriação indireta, sendo que o prazo prescricional para tal ação é de quinze anos,

mesmo prazo previsto pelo Código Civil de 2002 para a usucapião extraordinária, pois se

ultrapassado tal prazo, o Estado estiver com a posse mansa e pacífica caberá a este propor a

ação de usucapião visando adquirir a propriedade do bem para si. (MAZZA, 2009)

25

Art. 35. Os bens expropriados, uma vez incorporados à Fazenda Pública, não podem ser objeto de

reivindicação, ainda que fundada em nulidade do processo de desapropriação. Qualquer ação, julgada

procedente, resolver-se-á em perdas e danos. 26

Art. 46. É nulo de pleno direito ato de desapropriação de imóvel urbano expedido sem o atendimento do

disposto no § 3o do art. 182 da Constituição, ou prévio depósito judicial do valor da indenização.

Page 18: O INSTITUTO DA DESAPROPRIAÇÃO NA ATUALIDADE

18

18

2.1.4.4 Desapropriação por zona

Possui previsão expressa no artigo 4º do Decreto-lei nº 3.365/4127

e permite a

ampliação da expropriação às áreas que se valorizem extraordinariamente em decorrência da

realização de alguma obra ou serviço público. Tais áreas, segundo o autor, poderão ser

vendidas a terceiros, visando à obtenção de recursos financeiros, satisfazendo assim o

chamado interesse público secundário. Importante mencionar que o decreto expropriatório

deve mencionar quais áreas serão expropriadas e quais serão consideradas excedentes, sob

pena de nulidade do decreto expropriatório. (MEIRELLES, 2009)

No mesmo sentido se manifesta Alexandre Mazza (2011), ao afirmar que a

desapropriação por zona é aquela que recai sobre área maior do que a necessária, visando

absorver futura valorização dos imóveis vizinhos em decorrência da obra realizada.

Maria Sylvia Zanella Di Pietro (2009) apresenta em sua obra as seguintes

características da desapropriação por zona, a saber: abrange área contígua necessária ao

desenvolvimento posterior da obra a que se destine; ou as zonas que se valorizarem

extraordinariamente em conseqüência da realização do serviço.

2.1.5 Objeto da desapropriação

Para Diógenes Gasparini (2011) todo e qualquer objeto que tenha valor econômico

pode ser objeto de expropriação pelo Estado, desde que não proibido por lei, como, por

exemplo, os bens públicos da União, que são inexpropriáveis por força de lei. O ilustre autor

se fundamenta no disposto no artigo 2º do Decreto-Lei 3.365/41 que assim prevê “mediante

declaração de utilidade pública, todos os bens poderão ser desapropriados pela União,

Estados, Municípios e Distrito Federal.

No mesmo sentido temos a opinião de Carvalho Filho (2009) para tal autor pode ser

objeto de desapropriação qualquer bem que possua valoração patrimonial conforme

consignado no art. 2º da Lei Geral de Desapropriações. Defende, assim, que são expropriáveis

bens móveis, bens imóveis, bens corpóreos e bens incorpóreos, como por exemplo, as coes

de determinada empresa.

Já Alexandre Mazza (2011), também com base no art. 2º do Decreto-Lei 3.365/41, vai

além tal autor prevê que a força expropriante do Estado pode recair sobre: a) bens imóveis, b)

27

Art. 4º A desapropriação poderá abranger a área contígua necessária ao desenvolvimento da obra a que se

destina, e as zonas que se valorizarem extraordinariamente, em conseqüência da realização do serviço. Em

qualquer caso, a declaração de utilidade pública deverá compreendê-las, mencionando-se quais as indispensáveis

à continuação da obra e as que se destinam à revenda.

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19

bens móveis, c) semoventes, d) posse, e) usufruto, f) domínio útil, g) subsolo, h) espaço

aéreo, i) águas, j) ações de determinada empresa, k) bens públicos, l) cadáveres.

2.1.6 Bens insuscetíveis de desapropriação

Para Carvalho Filho (2009), as exceções a força expropriante se divide em duas

categorias, as chamadas impossibilidades jurídicas e as impossibilidades materiais.

Concluindo o autor, as impossibilidades jurídicas são aquelas previstas na própria lei

como uma espécie de barreira a força expropriante do Estado, como exemplo podemos citar o

art. 185 da Constituição Federal que prevê que a propriedade produtiva não pode ser objeto de

reforma agrária. Já as impossibilidades materiais decorrem da própria natureza de certos

bens, que se tornam inviáveis de serem desapropriados, como, por exemplo, a moeda

corrente, pois se trata do próprio meio de pagamento da indenização, os direitos

personalíssimos como a honra, a liberdade, a cidadania e as pessoas jurídicas por serem

sujeitos e não objetos de direitos.

Alexandre Mazza (2011) em sua obra prevê que a regra geral é a desapropriação,

somente em casos especialíssimos encontramos alguns bens que não estão sujeitos à força

expropriante do Estado, tornando-se assim insuscetíveis de desapropriação, dentre eles: a)

dinheiro, b) direitos personalíssimos, c) pessoas, d) órgãos humanos, e) desapropriação para

reforma agrária: pequena e média propriedade assim definida em lei, assim como a

propriedade produtiva.

2.1.7 Retrocessão

O instituto da retrocessão seja talvez, na desapropriação um dos objetos de maior

discussão na doutrina acerca da natureza jurídica de tal instituto, a doutrina varia muito sobre

tal tema, sendo que atualmente existem três correntes acerca do tema, sendo uma a mais

amplamente utilizada pela jurisprudência, mas senão vejamos.

Segundo Maria Sylvia Zanella Di Pietro (2009) o instituto da retrocessão nada mais é

do que o direito que tem o expropriado de exigir de volta seu imóvel caso o mesmo não tenha

o destino previsto no decreto expropriatório que o desapropriou.

Em sua obra, Hely Lopes Meirelles (2009) aduz que a retrocessão trata-se de uma

obrigação imposta ao expropriante de oferecer o bem ao expropriado, mediante devolução do

valor da indenização, quando se verificar que não houve a destinação prevista no decreto

expropriatório.

Page 20: O INSTITUTO DA DESAPROPRIAÇÃO NA ATUALIDADE

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20

No mesmo sentido verificamos que se posiciona Alexandre Mazza (2011) ao afirmar

que a retrocessão trata-se de uma reversão do procedimento expropriatório, devolvendo-se o

bem ao antigo dono, pelo preço atual, se não lhe for atribuída uma destinação pública.

Atualmente, praticamente toda a doutrina é uníssona ao afirmar que o Código Civil de

2002 regulou o tema da retrocessão em seu artigo 519, a saber: “Se a coisa expropriada para

fins de necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, não tiver o destino para que

se desapropriou, ou não for utilizada em obras ou serviços públicos, caberá ao expropriado

direito de preferência, pelo preço atual da coisa.” (CARVALHO FILHO 2009, DI PIETRO,

2009, MAZZA, 2009, MEIRELLES, 2009)

Questão interessante, conforme dito anteriormente acima é a respeito da natureza

jurídica da retrocessão se esta possui natureza real ou pessoal. Explica Alexandre Mazza

(2011) que os defensores da corrente que trata a retrocessão ser de natureza real, permitiria ao

antigo proprietário exercer o direito de seqüela sobre o imóvel, ou seja, de persegui-lo onde

quer que se encontre além do fato de tal direito transmitir-se aos herdeiros, sucessores e

cessionários. Porém tal posição é minoritária, continua o autor, sendo que atualmente a

posição majoritária defende possuir a retrocessão direito de natureza pessoal, de o antigo

proprietário adquirir o bem caso este não receba uma destinação pelo poder expropriante.

Hely Lopes Meirelles (2009) afirma a retrocessão ser uma obrigação pessoal de

devolver o bem ao expropriado (direito de preferência) quando não se verificar o destino

previsto no decreto expropriatório, caso o expropriante não observe tal disposição caberá ao

expropriado pleitear perdas e danos28

.

Em posição contraditória encontramos Maria Sylvia Zanella Di Pietro e Celso Antônio

Bandeira de Mello (2009), que defendem a tese da retrocessão possuir natureza real, o que

permitiria o expropriado reivindicar o próprio bem expropriado. Aduz a autora que o Código

Civil não poderia infringir um dispositivo constitucional (art. 5º, XXIV), sendo que, caso o

bem não venha a receber uma destinação pública, desaparece a justificativa para a alienação

forçada. (DI PIETRO, 2009)

Não obstante, vejamos o posicionamento do Superior Tribunal de Justiça acerca de

tema tão relevante:

RECURSO ESPECIAL - RETROCESSÃO - DESVIO DE FINALIDADE

PÚBLICA DE PARTE DO BEM DESAPROPRIADO - CONDENAÇÃO DO

28

Decreto-lei 3.365/41 – Art. 35. Os bens expropriados, uma vez incorporados à Fazenda Pública, não podem

ser objeto de reivindicação, ainda que fundada em nulidade do processo de desapropriação. Qualquer ação,

julgada procedente, resolver-se-á em perdas e danos.

Page 21: O INSTITUTO DA DESAPROPRIAÇÃO NA ATUALIDADE

21

21

MUNICÍPIO RECORRIDO AO PAGAMENTO DE PERDAS E DANOS -

MATÉRIA DE DIREITO - RECURSO ESPECIAL PROVIDO. Cuida-se de ação

ordinária de retrocessão, com pedido alternativo de indenização por perdas e danos,

contra o Município de Maria da Fé-MG, ao fundamento de que parte da área

expropriada não foi aplicada à qualquer finalidade pública. Acerca da polêmica

existente na caracterização da natureza jurídica da retrocessão, há três correntes

principais existentes: a que entende que retrocessão é uma obrigação pessoal de

devolver o bem ao expropriado; a que caracteriza a retrocessão como direito real,

direito à reivindicação do imóvel expropriado; e a que considera existente um direito

de natureza mista (pessoal e real), cabendo ao expropriado a ação de preempção ou

preferência (de natureza real) ou, se preferir, perdas e danos. Na lição de Celso

Antônio Bandeira de Mello, harmônica com a jurisprudência pacífica desta egrégia

Corte, "o pressuposto do instituto da retrocessão (seja concebida como mero direito

de preferência, seja como direito real) só tem lugar quando o bem foi desapropriado

inutilmente". Dessa forma, não cabe a retrocessão se ao bem expropriado foi dada

outra utilidade pública diversa da mencionada no ato expropriatório. In casu, porém,

do exame acurado dos autos ficou demonstrado o desvio de finalidade de parcela do

bem expropriado, que restou em parte abandonado, foi destinado a pastagens e à

plantação de hortas, sem restar caracterizada qualquer destinação pública. Como

bem ressaltou o r. Juízo de primeiro grau, "pelo exame da prova coligada nos

presentes autos, entendo-se esta pelo laudo pericial e depoimentos testemunhais, vê-

se que, de fato a área remanescente do imóvel desapropriado não foi utilizada pelo

Poder Público, ou seja, àquela área não fora dada destinação pública, ainda que

diversa da que ensejou o processo expropriatório". No mesmo diapasão, o d. Parquet

estadual concluiu que se caracteriza, "claramente, o desvio de finalidade na conduta

do Administrador Público que, além de desapropriar área infinitivamente maior do

que a efetivamente utilizada, ainda permitiu que particulares dela usufruíssem,

prejudicando, à evidência, o direito dos autores". Este signatário filia-se à corrente

segundo a qual a retrocessão é um direito real. Na espécie, contudo, determinar a

retrocessão da parte da propriedade não destinada à finalidade pública, nesta via

extraordinária, em que não se sabe seu atual estado, seria por demais temerário.

Dessa forma, o município recorrido deve arcar com perdas e danos, a serem

calculados em liqüidação por arbitramento. A hipótese vertente não trata de matéria

puramente de fato. Em verdade, cuida-se de qualificação jurídica dos fatos, que se

não confunde com matéria de fato. Recurso especial provido em parte, para

determinar a indenização por perdas e danos da área de 44.981 m2, que não foi

aplicada a qualquer finalidade pública. Superior Tribunal de Justiça; Processo:

REsp 570483 MG 2003/0074207-6; Relator(a): Ministro FRANCIULLI

NETTO; Julgamento: 08/03/2004; Órgão Julgador: T2 - SEGUNDA TURMA;

Publicação: DJ 30.06.2004 p. 316; RSTJ vol. 191 p. 215.

2.1.8 Desvio de finalidade e tredestinação lícita

O desvio de finalidade na desapropriação recebe o nome de tredestinação que

conforme explica Carvalho Filho (2009, p. 841), significa “destinação desconforme com o

plano inicialmente previsto.” Ou seja, o Estado atuando de maneira ilícita, transfere a terceiro

o bem desapropriado, permitindo que alguém se beneficie com esta transação, ignorando o

previsto no decreto expropriatório. Ocorre um desvio de finalidade no exercício do ato

administrativo, pois inexiste utilidade/necessidade pública ou o interesse social, e uma

vontade de beneficiar terceiro determinado em detrimento do sacrifício de outrem.

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Bastante elucidativa a posição de Hely Lopes Meirelles (2009, p. 628) sobre a questão

da tresdestinação, pois segundo o autor o desvio de finalidade se consolida na “necessidade

ou utilidade pública do bem para fins administrativos ou no interesse social da propriedade

para ser explorada ou utilizada em prol da comunidade, é o fundamento legitimador da

desapropriação”. Continua ainda o autor defendendo a impossibilidade de haver expropriação

para beneficiar interesse privado de pessoa natural ou entidade particular onde não estejam

presentes os pressupostos da utilidade ou necessidade pública e do interesse social.

Explica ainda que o desvio de finalidade possui expressa previsão legal, que se

encontra no parágrafo único, alínea “e”, do artigo 2º da lei nº 4.717/6529

, onde o desvio de

finalidade é causa expressa de nulidade dos atos lesivos ao patrimônio público que são

combatidos via ação popular. (MEIRELLES, 2009) Aduz inclusive ilustre autor sobre a

possibilidade de ocorrência do chamado desvio de finalidade lícito, mais conhecido como

tredestinação lícita:

O desvio de finalidade ocorre, na desapropriação, quando o bem expropriado para

um fim é empregado noutro sem utilidade pública ou interesse social. Daí o chamar-

se, vulgarmente, a essa mudança de destinação, tredestinação (o correto seria

tresdestinação, no sentido de desvio de destinação), para indicar o mau emprego do

bem expropriado. Mas deve-se entender que a finalidade pública é sempre genérica

e, por isso, o bem desapropriado para um fim público pode ser usado em outro fim

público sem que ocorra o desvio de finalidade. Exemplificando: um terreno

desapropriado para escola pública poderá, legitimamente, ser utilizado para

construção de um pronto-socorro público sem que isto importe desvio de finalidade,

mas não poderá ser alienado a uma organização privada para nele edificar uma

escola ou um hospital particular, porque a estes faltaria finalidade pública

justificadora do ato expropriatório (MEIRELLES, 2009, p. 629)

Aliás, no mesmo sentido já se posicionou o Superior Tribunal de Justiça, uma vez que

conforme brilhantemente explicado acima por Hely Lopes Meirelles, a finalidade pública é

sempre genérica, sendo que esta de maneira alguma é absoluta, devendo moldar-se aos

anseios da coletividade.

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO POR

UTILIDADE PÚBLICA. AÇÃO DE RETROCESSÃO. DESTINAÇÃO DIVERSA

DO IMÓVEL. PRESERVAÇÃO DA FINALIDADE PÚBLICA.

TREDESTINAÇÃO LÍCITA. 1. Não há falar em retrocessão se ao bem expropriado

for dada destinação que atende ao interesse público, ainda que diversa da

inicialmente prevista no decreto expropriatório. 2. A Primeira Turma desta Corte,

no julgamento do REsp 710.065/SP (Rel. Min. José Delgado, DJ de 6.6.2005),

firmou a orientação de que a afetação da área poligonal da extinta "Vila Parisi" e

áreas contíguas (localizadas no Município de Cubatão/SP) — cuja destinação inicial

era a implantação de um parque ecológico —, para a instalação de um pólo

Parágrafo único. Para a conceituação dos casos de nulidade observar-se-ão as seguintes normas: e) o desvio de

finalidade se verifica quando o agente pratica o ato visando a fim diverso daquele previsto, explícita ou

implicitamente, na regra de competência.

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industrial metal-mecânico, um terminal intermodal de cargas rodoviário, um centro

de pesquisas ambientais, um posto de abastecimento de combustíveis, um centro

comercial com 32 módulos de 32 metros cada, um estacionamento, e um

restaurante/lanchonete, atingiu, de qualquer modo, a finalidade pública inerente às

desapropriações. 3. Recurso especial desprovido. RECURSO ESPECIAL Nº

968.414 - SP (2007/0157034-6), RELATORA: MINISTRA DENISE ARRUDA,

RECORRENTE: PEDRO PEREIRA DE SOUSA E CÔNJUGE, ADVOGADO:

JOSÉ EDGARD DA SILVA JUNIOR E OUTRO(S) RECORRIDO: MUNICÍPIO

DE CUBATÃO, ADVOGADO: FÁBIA MARGARIDO ALENCAR DALÉSSIO E

OUTRO(S).

2.1.9 Prazo de caducidade

Quando se trata de desapropriação verificamos a existência de diversos prazos

prescricionais, a saber:

Na desapropriação por interesse social, prevista na lei nº 4.132/62, seu artigo 3º

estabelece que tal modalidade de desapropriação possui prazo de caducidade é de dois anos30;

Já na desapropriação para reforma agrária prevista na lei nº 8.629, em seu artigo 16, o

prazo de caducidade31 é de três anos;

Na desapropriação urbanística, prevista na lei nº 10.257/01 o Município tem o prazo

de cinco anos32 para proceder ao aproveitamento do imóvel, caso não se verifique o

cumprimento de tal prazo, cabe ao expropriado a retrocessão. (DI PIETRO, 2009)

Na desapropriação indireta predomina o entendimento de que o prazo prescricional

para a propositura da ação de indenização por desapropriação indireta se dá em quinze anos,

sendo este o mesmo prazo previsto para a usucapião extraordinária. (MAZZA, 2011)

Nos demais casos, a prescrição se dá em cinco anos, conforme previsto expressamente

no artigo 10º do Decreto-lei nº 3.365/41 (DI PIETRO, 2009)

2.1.10 Imissão provisória na posse

Como normalmente a desapropriação é uma manifestação da Supremacia do Interesse

Coletivo sobre o privado, muitas vezes se faz necessário desde logo penetrar no imóvel,

quando não muito a situação de urgência seja tão premente que o Poder Público não pode

aguardar todo o trâmite da ação expropriatória. Nestes casos a legislação admite a figura da

30

Art. 3º O expropriante tem o prazo de 2 (dois) anos, a partir da decretação da desapropriação por interesse

social, para efetivar a aludida desapropriação e iniciar as providências de aproveitamento do bem expropriado. 31

Art. 16. Efetuada a desapropriação, o órgão expropriante, dentro do prazo de 3 (três) anos, contados da data

de registro do título translativo de domínio, destinará a respectiva área aos beneficiários da reforma agrária,

admitindo-se, para tanto, formas de exploração individual, condominial, cooperativa, associativa ou mista. 32

Art. 8o Decorridos cinco anos de cobrança do IPTU progressivo sem que o proprietário tenha cumprido a

obrigação de parcelamento, edificação ou utilização, o Município poderá proceder à desapropriação do imóvel,

com pagamento em títulos da dívida pública.

§ 4o O Município procederá ao adequado aproveitamento do imóvel no prazo máximo de cinco anos, contado a

partir da sua incorporação ao patrimônio público.

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imissão provisória na posse, situação em que o Poder público é imitido na posse antes mesmo

do término da ação expropriatória. Além dele, encontramos expressa previsão legal na lei

geral das desapropriações, que prevê a possibilidade de imissão provisória na posse em seu

artigo 1533

. (CARVALHO FILHO, 2009)

Inclusive prevê a lei geral de desapropriações que poderá ocorrer à imissão provisória

na posse, independente de citação do réu, encontramos tal previsão no artigo 15, parágrafo

1º34

, sendo que não há que se falar em ilegalidade de tal dispositivo ou não recepção pela

nossa Constituição Federal, uma vez que o próprio STF editou súmula neste sentido, a STF

Súmula nº 652 de 24/09/2003 que assim prevê: “Não contraria a Constituição o art. 15, § 1º,

do Dl. 3.365/41 (Lei da Desapropriação por utilidade pública).” (MEIRELLES, 2009)

2.1.11 Indenização justa e prévia, juros moratórios e juros compensatórios

O pagamento da desapropriação deve se dar através de uma indenização justa prévia e

em dinheiro, esta é a regra nas desapropriações, com exceção dos casos onde o pagamento é

feito com títulos da dívida (publica ou agrária). Assim necessário determinar o conceito de

justa indenização. Segundo Hely Lopes Meirelles (2009), indenização justa é aquela onde o

valor aferido corresponde ao valor real do bem expropriado, abrangendo também os danos

emergentes e lucros cessantes. Prévia porque deve ser paga antes da definitiva perda da

propriedade. (MAZZA, 2011)

Os juros compensatórios, segundo o autor, são devidos desde a efetiva ocupação do

imóvel (imissão na posse), e calculados na base de 12% ao ano. Já os juros moratórios

somente serão devidos se houver atraso no pagamento da condenação, por tal motivo esses

juros são cumuláveis, uma vez que se destinam a indenizações diferentes, sendo que os

compensatórios cobrem lucros cessantes pela ocupação do bem, já os juros moratórios

destinam-se a cobrir a renda do dinheiro não pago no tempo devido. (MEIRELLES, 2009)

Os juros moratórios são devidos na proporção de 6% ao ano, contados a partir de 1º de

janeiro do exercício seguinte àquele em que o pagamento deveria ter sido feito. (MAZZA,

2011)

3 CONCLUSÃO

Pretendeu-se com a presente pesquisa proporcionar uma exposição geral e resumida,

mas ao mesmo tempo objetiva e edificante sobre o instituto da desapropriação e suas

33

Art. 15. Se o expropriante alegar urgência e depositar quantia arbitrada de conformidade com o art. 685 do

Código de Processo Civil, o juiz mandará imiti-lo provisoriamente na posse dos bens; 34

§ 1º A imissão provisória poderá ser feita, independente da citação do réu, mediante o depósito:

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principais características presentes em nosso ordenamento jurídico atual. Visando obter tais

resultados, optou-se por uma descrição dos principais tópicos existentes no instituto, desde

sua definição, passando pelo “nascimento” do instituto em nosso ordenamento jurídico,

passando por sua competência, as espécies de desapropriação, a possibilidade de imissão

provisória na posse, até mesmo o instituto da retrocessão. O resultado obtido com a pesquisa

satisfaz os requisitos mínimos que o tema abarca, devido à tamanha extensão do instituto em

todos seus aspectos, constituindo em uma referência ao leitor que procura uma rápida leitura

sobre o tema da desapropriação, e também constitui de base de estudos para o leitor de prcra

aprofundar suas pesquisas em tema tão fascinante.

4 REFERÊNCIAS

ARAÚJO, Edmir Netto de - Curso de Direito Administrativo / Edmir Netto de Araújo. - 5.

ed. - São Paulo: Saraiva, 2010.

BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio – Curso de Direito Administrativo / Celso

Antônio Bandeira de Mello – 26 ed. – São Paulo: Malheiros, 2009.

CARVALHO FILHO, José Dos Santos - Manual de Direito Administrativo / José dos

Santos Carvalho Filho. - 22. ed. - Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009.

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella - Direito Administrativo / Maria Sylvia Zanella Di Pietro.

- 22. ed. - São Paulo: Atlas, 2009.

DA SILVA, Edson Jacinto – Desapropriação no Direito Positivo Teoria – Legislação

Jurisprudência / Edson Jacinto da Silva – Editora de Direito, 1998.

GASPARINI, Diogenes - Direito Administrativo / Diógenes Gasparini. - 16ª ed. Atualizada

por Fabrício Motta - São Paulo: Saraiva, 2011.

JUSTEN FILHO, Marçal - Curso de Direito Administrativo / Marçal Justen Filho. - 4. ed.

rev. e atual. - São Paulo : Saraiva, 2009.

MAZZA, Alexandre. Manual de Direito Administrativo / Alexandre Mazza. - São Paulo:

Saraiva, 2011.

MEIRELLES, Hely Lopes - Direito Administrativo Brasileiro / Hely Lopes Meirelles. - 35.

ed. - São Paulo: Malheiros, 2009.