O Itinerario Mistico de Sao Joao Da Cruz

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O ITINERRIO MSTICO DE S. JOO DA CRUZ

1949.\vEDITORA VOZES LIMITADA, PETRPOLIS, ' R. J. RIO DE JANEIRO' SO PAULO -,;

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PREFCIO. To desalentadoras as condies deste mundo apodrecido, que gua morna do chamado "catolicismo burgus" se mostra de todo ineficaz. S "um sobrenatura-jljsmo total poderia derrotar esse naturalismo avassalador; s um espiritualismo sem reticncias conteria a animalidade desenfreada; s a presena de Deus lograria povoar a amarga solido da alma contempornea. dios internacionais nacionalismos e imperialismos frenticos, desejos de vingana ou de desforra dios nacionais lutas de classe, srdidos egosmos, rancores, lessentimentos, invejas 1 que fora seria bastante para deter a rubra torrente, seno o Amor a viver no corao' dos Santos? Infinitamente mais do que de. polticos e economistas, carece o mundo dos valores da santidade. Surgisse d novo Francjsco de Assis e logo amansaria o lobo de Gubbio.K Obscuramente sentem essa necessidade, essa primazia do amor desinteressado, quantos falam, hoje como-nunca, em solidariedade humana, altrusmo, filantropia, cooperao. Enganam-se, porm, e tal engano reveste consequncias fatais ao imaginar que o amor do pr-grimo, autntico e durador, .brota e alastra em coraes *dnde foi desterrado o amor de Deus. Idntico ao primeiro o segundo mandamento. Constituiu imperecvel mrito de Henri Bergson o ter percebido, embora judeu, que acima de tudo mais, necessitava o mundo de ouvir a mensagem do misticismo* riipto. No que o grande pensador menoscabasse os -recursos humanos; bem longe disso, indicou at vrios .deles, mas o seu gnio adivinhava que no passavam-;estes de paliativos. Gomo aviventariam o mundo derribado? S mesmo Uma reviravolta completa sobre o pla-ao espiritual, uma inverso de valores, urna transforma-

1 M P R I M A T U R POR COMISSO ESPECIAL DO EXMO. E REVMO. SR. DOM MANUEL PEDRO DA CUNHA CINTRA, BISPO DE PETRPOLIS. FREI LAURO OSTERMANN, >0. F. M, ' PETRPOEIS, ' 7-31949.

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o do homem, lograria trazer paz e felicidade s multides alucinadas. E no deixa de causar inquietao o verificarmos que os dirigentes do mundo cogitam apenas de medidas econmicas e polticas, quando a virtude que as tornaria eficazes s poderia vir de mais alto. O exemplo de Gandhi, entretanto, lhes deveria abrir os olhos. Com sua tnica branca e seu bordo, suas preces e seus jejuns, obteve o velhote inerme o que no conseguiriam reunies sem conta do Conselho de Segurana e de no sei quantas comisses e sub-comisses: que centenas de-milhes de homens que se odiavam e entre-matavam, consentissem. em conviver pacificamente. A uma gerao que s cr no ouro e no ao, Gandhi demonstrou o poder do esprito, O desenvolvimento material, o crescer da economia sem um lastro espiritual, s resultariam em gerar novas cobias, novas perturbaes sociais, novas tiranias, novas guerras. "A mecnica pede a mstica- doutrina Bergson, ela no prestar servios proporcionados a seu: poderio, seno quando humanidade, que ela vergou ainda mais para a terra, conseguir, por ela, erguer-se e fitar o cu". So os santos que nos ensinam eficazmente a alar os : olhos para o alto, so eles que nos impelem a amar a Deus e, atravs de Deus, amar todos os homens; so. eles que nos persuadem, de maneira concreta, que. somente o amor divino sacia as nsias do corao humano; so eles que nos poderiam converter de terrenos em celestiais. . Enquanto no nos surge um grande heri de santidade, apeguemo-nos aos msticos do passado. Mas por. que Joo da Cruz? Ele nunca foi e no ser jamais um santo popular. As obras que nos legou versam "assuntos rduos e recnditos", como advertia Pio XI ao proclam-lo' Doutor da Igreja; os. poucos passos que de sua existncia conhecemos, exalam-no a um nvel de to sobre-humana grandeza, que quase desesperamos de acompanhar-lhe a trajetria sequer pelo pensamento. Sabe, pois, a paradoxo o pretender divulgar-lhe a vida a doutrina. Que inflame a carmelita, sepultada na penumbra do claustro, que entretenha os lazeres do filsofo o do telogo, curiosos de experincias raras, v l; mas, por favor, no se tente apresent-lo ao comum dos fiis, ainda mais em terras onde a vida crist no ultrapassou os primeiros vagidos. Atesta o presente livrinho que no partilhamos desse derrotismo. Desalenta a perfeio do Santo? Mas quem Joo da Cruz em comparao do Pai que est no cu? Este, entretanto, o modelo que Jesus prope nossa imitao: "Sede perfeitos como vosso Pai celestial perfeito". Longe de desanimar Agostinho ainda atas-cado no vcio, o exemplo dos santos ncentivou-o a romper os derradeiros laos que o prendiam. Jamais nos assemelharemos a Joo da Cruz bem sabemos a triste Verdade mas, ao contempl-lo to sublime, louvaremos o Senhor, "admirvel em seus santos"., e nos sentiremos qui impelidos a fazer algo por Deus. Talvez at comecemos a am-lo deveras, ainda que tarde. Por que Joo da Cruz? Porque, se desejamos entrar em contacto com o misticismo catlico, justo procurar quem a mesma Igreja nos apresenta como Doutor mstico. Ao percorrer-lhe as obras, descortinamos espe-. tculo estranho e resplendente. Em vez dos seres mesquinhos que somos ns aferrados terra, fascinados por mil ninharias, vaidosos, egostas, sensuais, rancorosos eis que surgem almas soberanamente livres, imrcescivelmente' puras e cujos pensamentos todos, cujos mnimos atos so

movidos pelo amor. Maravilhoso e encantado universo! O filsofo Charles Renouvier. escreveu curioso volume intitulado: Ucrnia: ensaio histrico apcrifo sobre o desenvolvimento da civilizao qual poderia ter sido e no foi, em que se divertiu com - delinear uma srie imaginria de acontecimentos que teriam seguido certas decises possveis, verossmeis at, porm historicamente no verificadas - de um Marco Aurlio ou de um Francisco I. Do mesmo modo sonhamos: houvesse o apelo lanado.h quatro sculos por Joo d Cruz na spera' Castela, ecoado atravs do mundo, em vez de permanecer confinado no ermo dos carmelos; tivessem^ no ouvido grande nmero de homens, qual seria a fisionomia do mundo, nosso contemporneo? Sem dvida progressos materiais bem parcos; em compensao o vcio e a violncia no campeariam, o mundo no assistiria, indiferente, ao massacre de milhes de homens e escravizao de centenas de milhes; no haveria a explorao do fraco pelo forte, e os inauditos esforos dispendidos na conquista da matria teriam sido envidados para dominar o esprito. Imprevisveis os resultados, mas de certo transcendentais. Na verdade, sonhamos e, de to belo, se nos afigura irreal o mundo so-joanen-se. Entretanto, Joo da Cruz no uma criao da fantasia; aquele fradezinho. votado ao amor existiu realmente, seus escritos. refletem uma experincia no j imaginada seno vivida. Bem mais, o apelo por ele lanr cario, com ser to contrariado pelo fascnio da matria, pelo egosmo imbecil e tmido de quem cr tudo perder . ao entregar-se a Deus, no ressoou inteiramente em vo; a. mstica chama perdurou e se transmitiu de gerao em gerao; almas surgiram, que responderam, vidas, ao chamamento. Teresinha de Lisieux foi a mais clebre de todas, e ao acreditar por ininterrupta srie de favores, a santa mais querida do povo catlico, talvez haja sido oculto conselho da Providncia divulgar entre os fiis a doutrina de Joo da Cruz, at ento vivida quase s dentro dos umbrais do Carmelo. Porque no cabe dvida alguma sobre a identidade profunda entre, os princpios do reformador espanhol e os da santinha normanda. Declarou ela prpria: "Ah! que de luzes descobri nOs escritos de S. Joo da Cruz! Aos 17 e 18 anos no tive outro alimento". Mais tarde, chegada ao cimo . do Monte dp Carrno, iro carecia, de 'guias humanos; todavia, um verso, um pensamento d Mestre, que espontneos lhe ocorrem pena, evidenciam a justeza da palavra de Joo da Cruz: "O esprito do discpulo, oculta-e secretamente, engendrado semelhana do pai espiritual". De fato, o esprito de Joo transfundira-se todo no de Teresinha; assim, uma anlise mais aturada logo encontra nesta, ainda os aspectos que naquele mais apavoram. Muitos, sem dvida, s percebem na' carmelita algo perfumado ou aucarado, enquanto o frade logo se nos antolha qual mestre exigente e at exigentssimo. Suma ingenuidade seria negar. esse aspecto de Joo da Cruz; todavia quem com maior mincia perscruta a "Histoire d'une me" no tarda em descobrir como tambm a santa atingiu os extreriios da renncia' e dd sofrimento. Teresinha como Joo-rpersuadiu-se . que "s ' conta o amor", e quis amar com toda a seriedade que comporta um profundo amor. As aparncias contrrias provm de que Teresinha por um ardil gracioso e bem feminino sabe dissimular os mais duros sacrifcios sob ptalas de rosa, enquanto

Joo da Cruz, telogo formado na austera disciplina escolstica, formula com clareza absoluta e frrea lgica por isso mesmo mais impressionantes as tradicionais exigncias da santidade catlica. Afinal, no esqueamos que o santo um autntico heri, o mais autntico heri. "Estou cravado cruz com Cristo", a palavra de Paulo foi, e ser lema obrigatrio de toda perfeio crist; nem h escapar a ela. Onde encontrar um santo verdadeiro que ho haja trilhado com incomovvel coragem o caminho do Calvrio? A doce, a melflua Teresinha, confi-nos: "Ao mani-festar-se-me a perfeio, entendi que, para ser santa, era necessrio muito sofrer, procurar sempre o mais perfeito e esquecer-se a si mesmo. Numerosos so os graus de santidade; cada qual livre de corresponder s atenes de Jesus, de fazer muito ou pouco por Ele, numa palavra, escolher entre os sacrifcios por Ele pedidos. Ento exclamei: Meu Deus, eu escolho tudo!. No quero ser santa pela metade; no receio sofrer por Vs, s uma coisa receio: reservar para mim a prpria vontade; tomai-a, pois escolho tudo quanto quereis!" E' este mesmssimo "tudo" que, em nome de Deus, Joo. da Cruz pede s almas decididas a segui-lo em demanda da santidade, e no ser dos menores ttulos do Doutor mstico o haver plasmado.o corao da mais popular das santas modernas. A difuso dos princpios sanjoanenses atravs da "Histoire d'une me" -preparava o ato solene pelo. qual Pio XI, a 26 de Julho de 1926, decretava as honras de Doutor da Igreja ao primeiro carmelita descalo. Declarava ento o Pontfice: deveriam as obras do Santo ser consideradas qual "cdigo e escola da aima fiel que deseja empreender vida mais perfeita". Poderamosdesejar mais cabal justificativa .para o presente livrinho? Como lhe assacariam a pecha de inoportuno? E' convico nossa, alis, ser, entre s almas, o-desejo de uma vida mstica muito mais frequente do que se imagina. O mesmo furor de gozos materiais tes

Prefcio II 10 Penido, Itinerrio Mstico de S. Joo da Cruz

temunha, por vezes, como um secreto anelo pelas "guas que no mais do sede". Ainda neste sculo to enfastiado das coisas espirituais, to materializado, to relativista, to descrente da verdade e do amor, coraes h, e muitos, que, embora espalhados pelas criaturas, sentem o tormento do Abspluto. Se a essas almas no lhes apontamos os cimos, mas antes lhes apresentamos um cristianismo entorpecido e complacente, iro elas amide soobrar em qualquer "mstica" humana adoradora-do Estado, ou do Progresso, ou do Ouro, ou do Sucesso - outras vezes tentaro atordoarse com os prazeres ou distrair-se com a atividade febril. Enquanto Joo da Cruz, justamente por ser to inexorvel em suas exigncias quo transcendente erh suas aspiraes, revelar concretamente a. essas almas que o nico. Bem, absoluto e saciante o Deus de amor; a nica atividade no enganosa e por isso mesmo a nica que valha realmente a pena amar este Deus amabilssimo. A quem morre de mediocridade, s talvez salvaria um apelo ao herosmo; a quem banha nma atmosfera saturada de dio, s libertaria a revelao do Amor. "O*, dulcssimo amor de Deus mal conhecido!" exclama o Santo. Ele nos manifestar este desconhecido, porque o Doutor do amon Quanto s prevenes contra a mstica, ehcontradias em muitos meios catlicos, originam-se, como veremos, da confuso entre "contemplao infusa" e certos fenmenos extraordinrios como xtases, vises, revelaes, estigmas, levitaes. Fosse isso a mstica, e mui fundados seriam os receios: bate porta a iluso, e as irremediveis devastaes obradas entre ns pelo espiritismo deveriam de fato nos acautelar ainda mais. Mostraremos, porm, haver sido S.. Joo da Cruz inimigo acrrimo do iluminismo; bem mais, seus escritos constituem antdoto e cura radical desse desvio. Discpula fiel, ainda aqui, de um tal mestre, Santa Teresinha escrevia: "A todos os xtases prefiro um. sacrifcio", e durante os nove anos que se santificou rto Carmelo, no experimentou sombra de xtase ou de.viso. Foi no obstante autntica, e grande mstica. .,.;' .-'. Ainda quem no sentisse pendor algum pela mstica, S. Joo da Cruz ensinaria grandes lies. Antes de tudo, amor divino, como ficou' dito." Ningum melhor entoou carmes, ora triunfais, ora suaves, ora apaixonados ao divino Amor; ningum melhor lhe sondou as exigncias e lhe celebrou as galas. Ao homem contemporneo, que tamanhas riquezas amontoou, e multiplicou ao infinito as facilidades de vida, sem lograr, entretanto, encontrar a felicidade sempre mais e mais distante Joo da Cruz desvenda a razo do malogro: "Secou-se-me o esprito, porque olvidou de

se apascentar de Ti"; e tambm prope o remdio: "Toma a Deus por amigo e. sabers amar". Com o esvair-se do amor de Deus, segue o homem desumanizando-se e se torna lobo para o vizinho; pelo fato mesmo, ilha-se no mais intransponvel isolamento. No foi tantas vezes acentuado que em lugar nenhum sente-se a alma to irremediavelmente erma, como por entre o formigar e o borborinho das cidades ciclpicas de onde Cristo foi praticamente banido? S. Paulo censurava aos pagos de seu tempo a incapacidade de amar; no exprobraria ele a mesma impossibilidade aos seres emparedados que povoam nossas metrpoles? Quem lhes dar meios para sair de si? Quem transformar essas almas hermticas, em almas abertas? Quem enternecer esses coraes enrijados? Quem lhes ensinar a no serem estranhos uns aos outros, seno prximos? Frequentando a.vida e a obra de Joo da Cruz, talvez nossosespritos empregados fora' de Deus, ouam afinal um longnquo eco de seu chamado, talvez se derreta o congelado amor, talvez desaparea o vazio apavorante e nos centelhe- uma fasca de sobrenatural caridade, conforme a divina sentena exarada pelo Santo: "onde no h amor, ponha amor e colher amor". E se porventura ignoramos como amar a Deus, peamos a Joo da Cruz recolhimento interior.83 Para erradicar esse vcio, Joo da Cruz multiplica, incansvel, os ensinamentos e conselhos. Ouamo-lo com redobrada ateno. "Ao entardecer, sers julgado sobre o amor..."84 Evocam-me estas palavras aquelas tardes europeias de jfins de Junho, tantas e tantas vezes contempladas. En-quanto, sob os trpicos a noite cai rpida, como se o sol, cansado de calcinar a terra, quisesse logo repousar; naquelas terras os crepsculos arrastam-se intrminos, como se o sol

.132 Penido, Itinerrio Mstico de S. Joo da Cruz vistosas, vitrias religio em nossa retumbantes? sensibilidade. Fof nossa orao consolada? Mas, uma voz pacfica Estamos em estado de gravem sossegar essa agitao a, caminhando, cleres do nimo: "Ao entardecer, para a santidade. Sentimos sers julgado sobre o aridez, secura? Deus amor..." Por obscura, sem nos desamparou, e j o brilho, estril, aos olhos demnio ns tem em sua humanos, tenha sido a tua mo. Ora, na verdade, vida, se muito amastes, "sentir a presena de Deus muito ters feito. O Senhor ho prova mais a realidade no perguntar dessa presena, do que a precisamente o que fizeste, secura e insensibilidade mas com que amor o provam' que Deus esteja fizeste. Ele te examinar menos presente".85 sobre o amor e nada mais. Simplicssima . razo: Que consoladora doutrina! "Tudo quanto pode cair sob Haver coisa mais suave do os sentidos no Deus esque amar a Deus mais 86 sencialmente". Ter a suave e mais fcil tambm? virtude de caridade, no Eis-nos j salvos de "vibrar" interiormente: "O antemo e nossas cabeas amor no consiste em j se aureolam de divino sentir grandes coisas seno resplendor! Mas ento, por em ter grande desnudez, e que Joo da Cruz sentiu padecer pelo Amado".87 Ou necessidade de completar a ainda "a alma quer a Deus sua frase por um preceito: sobre todas as coisas, "Ao entardecer sers quando obstculo algum a julgado sobre o amor; impede de fazer ou aprende pois a amar a Deus padecer por Ele qualquer como' Ele quer ser amado". coisa que seja".8S Perfeita Haver porventura um conformidade da vontade modo de amar a Deus como humana com" a divina, eis Ele no quer ser amado? a caridade perfeita. Sim; e origina-se da Ao contrrio, a alma confuso entre fervor ainda enleada nas teias da sensvel e caridade teologal. sensibilidade devota, da Pendor quase irresistvel religio gozadora-, tem em arrasta-nos a julgar de vista, nas prticas de nossos progressos ou piedade, o fervor sensvel; regressos na vida espiritual, nas obras de pelas ressonncias da

135 Cap. III: A Ascenso 134 Penido, Noturna Itinerrio Mstico de S. Joo da Cruz

caridade procurar satisfao de vaidade ou complacn-f cia no exerccio de aptides naturais. Por exemplo, quan-! do vai comungar porfia a todo transe por um choque I afetivo, muito mais do que pretende adorar, a Deus e louv-lo, entregar-se a Ele que se dignou visitla. Des-I de que nada sente, cr que no fez boa comunho, "o ! que maneira muito baixa de julgar a Deus".89 Prove-\ lhe o Senhor as foras privando-a de consolo na ora-I o e de deleite nas obras virtuosas e logo desanima;, i. mandelhe penas exteriores, logo esmorece. Quanta vez i ouvimos confidncias como estas: outrora derretia-me em / devoo quando orava; hoje quedo-me frio, indiferente, ;' no mais sinto atrativo algum; tudo abandonei; ou en-j to: muito labutei em tal obra de beneficncia, mas encontrei : tantas dificuldades, incompreenses, ingratides at; perdi o interesse; rompi os compromissos, afastei-/ me, Desvanecem-se os mais generosos projetos; desmo-! ronam os empreendimentos mais importantes. Outros, eni fim, no chegam ao abandono, porm fria de perse-\ guir a devoo sensvel, tornam-se instveis, hoje aqui, i amanh ali, sempre a mudar de exerccios, de confesso-i res, de igreja; atormentam os diretores espirituais; nun ca acabam de pedir conselhos e regras de vida; lem 'ljvros devotos s dzias; carregamse de medalhas, ter-., os, cruzes, relquias e agnus-Dei; ora tomam uns e ,f. deixam os outros, ora preferem estes e abandonam aqueci' les, maneira de crianas oneradas de brinquedos; co- I mo no se sustentam seno pelo gozo, jamais, fazem l srios esforos para recolher-se no seu interior, pela ab- negao da vontade e a pacincia em suportar as con-I trariedades, mas vagueiam, acompanhando a sensibili-\ dade andeja.90 Com imenso d, Joo da Cruz remira \ esses cristos ante os quais se abria o paraso da vida \ profunda em Deus, e que, no momento de nele entrar, I desfaleceram. "Oh! quem pudera fazer compreender, pra-i ticar e amar, tudo o que encerra esse caminho que nos j. d nosso Salvador, de renunciar a ns mesmos, a fim de i que os espirituais aprendessem a maneira pela qual devem caminhar, bem diversa.do que muitos deles pensam! Entendem alguns que basta um pouco de retiro e de reforma dos costumes; outros se contentam com tal ou qual exerccio das virtudes, perseverana na orao, mortificao continuada, mas no chegam desnudez, pobreza, alheamento e pureza espiritual (que tudo o mesmo) aconselhados pelo. Senhor. Longe disso, andam a cevar e vestir sua natureza de consolaes e sentimentos espirituais, em vez^de despi-la e neg-la

em tudo por Deus. Imaginam que basta mortific-la nas coisas do mundo e no aniquil-la e purific-la em toda pro,priedade espiritual. Donde, em se lhes oferecendo a slida e perfeita virtude que est no aniquilamento de todas as suavidades em que consiste a Cruz puramente espiritual e a desnudez espiritual da pobreza de Cristo, fogem dela como da morte e buscam somente douras e saborosas comunicaes de Deus. Isso no negao de si mesmo, desnudez de esprito, mas sim gula de esprito. Pelo que, espiritualmente, tornam-se inimigos da Cruz de Cristo; pois o verdadeiro esprito antes procura em Deus o amargoso que o saboroso, mais se inclina ao padecer do que ao consolo e mais a carecer de todos os bens por Deus que a possu-los, mais s securas e aflies que s suaves comunicaes, sabendo que isto seguir a Cristo e renunciar a si mesmo, enquanto aquilo porventura buscar^se a si mesmo em Deus o que muito contrrio ao amor. Com efeito, buscar-se a si mesmo em Deus procurar os regalos e consolos divinos; mas buscar a Deus nele mesmo, no apenas que^-rer. faltar disso e daquilo por Deus, seno inclinar-se a escolher, por Cristo, tudo quanto h de amargoso, seja de Deus seja do mundo. Isto, sim, amor de Deus".81 Urge tanto mais purificar a vontade de todo apego ao fervor sensvel, sentimentalidade religiosa, para concentrar-se unicamente no cumprimento. da vontade de Deus, quanto aqueles qu se do a Deus "os novos amigos", como s denomina o Santo, costumam experimentar, de incio, grande suavidade no servio do Senhor. Ele mesmo, em sua mansido, vendo a alma ainda enleada pela sensibilidade, faz com que sinta as ^douras da religio, a fim de afast-la das douras do mundo.92 Conhecida a atmosfera de amor sensvel que reina nos noviciados religiosos. Leite para criancinhas. Mas haver que desmam-las. Se porventura recusassem, se a todo transe se apegassem a esses gostos ou suavidades, teriam sucumbido aos prestgios do, demnio que

Cap. III: A Ascenso 135 Noturna 134 Penido, Itinerrio Mstico de S. Joo da Cruz

137 Cap. Ascenso Noturna 136 Ill: A Penido, Itinerrio Mstico de S. Joo da Cruz

nada deseja seno impedir que a alma suba da vida dos sentidos vida do esprito. 93 A um religioso que lhe confiara seu afervorado desejo de ocupar a vontade somente em Deus, amando-o sobre todas as coisas, e pedira diretivas para pr em prtica to santas aspira es, Joo da Cruz respondeu longamente, e notvel que se tenha contentado de tratar um ponto nico: a necessidade da renncia religio gozadora. Mostra, a princpio, que todo e qualquer gozo sensvel tem um objeto limitado, logo no pode atingir o ilimitado e transcendente; ademais, . o gosto suavidade religiosos so realidades criadas; apegar-se a elas ser afastar-se de Deus. Assim como o intelecto deve penetrar dentro da Noite, alijando as apreenses distintas, assim tambm a vontade deve renunciar a esses gozos parciais, distintos e limitados. Em seguida, esboa o Santo uma diferenciao psicolgica entre amor-afeto e amor-vontade. O afeto, a emoo, fenmeno essencialmente subjetivo; ligado de modo estreito a modificaes fisiolgicas, ele* tem a alma por fim e remate: "vibrar" afetivamente ensimesmar-se. A vontade, ao contrrio, no volta sobre . si para sentir algo, mas projeta-se a encontro do objeto amado. Por conseguinte, amar Deus sentimentalmente ainda absorver-se em si mesmo, gozar de si, 'e no j sair de. si para ir ao encontro de Deus,. Logo, nunca deter-se nas consolaes e deleites que. a alma porventura sinta na orao; mas antes esforo perene para libertar-se mais e mais, transpondo a sensibilidade.94 E como regra prtica: "Para fazer ou deixar de fazer algo, jamais ponha os olhos no agrado ou no desagrado que encontrar no ato, mas to s no motivo que tem de faz-lo por Deus". 95 s palavras conformava Joo da Cruz as aes; assim que em sua Relao de 18.de Novembro de 1572 S. Teresa escreve: "No segundo ano do meu priorado no mosteiro da Encarnao (de vila) no dia da oitava de S. Martinho, esta- : va' eu para comungar, quando o Pe. Joo da Cruz que - j _ me dava a Santa Hstia, dividiu-a em duas partes, e deujl . uma delas a outra irm. Pensei que es.se Padre procedia ffi desta-sorte,, no por faltarem hstias, mas para morti-j . ficar-me, porque eu lhe havia dito que gostava muito * de comungar com hstias grandes". Nada, nada, nada; nem mesmo este inocentssimo gozo. Nos derradeiros captulos que da Subida nos restam, o Doutor mstico, no af de desapegar a vontade de todo bem criado, ainda que espiritual, traa quadros por vezes humorsticos da devoo de certas boas almas, mais preocupadas com as exterioridades, o aspecto sensvel da religio, do que com o mesmo Deus, e que cuidam ser mui piedosas quando na verdade exercitam apenas uma tendncia natural, que se aplica s coisas religiosas, como poderia fartar-se igualmente com objetos profanos.98. Eis aqui, por exemplo, o devoto de esttuas: preocupa-se com a matria de que so feitas, a forma, a dimenso, o valor, a colocao que mais agrada; atavia algumas delas com vestes de boneca; confia mais numa do que noutra; toca as raias da idolatria; se porventura lhe tiram a imagem, perturba-se-lhe toda devoo.97 Mesmo apego infantil em relao a rosrios;

querem-nos de tal dimenso e no de outra, de tal cor determinada, preferem um metal a outro, escolhem tal ou tal ornamento, etc, como se Deus ouvisse mais favoravelmente a orao feita com este rosrio, de' preferncia quele.98 Outros tm a mania das romarias; . nelas procuram alis mais o recreio que a devoo, e, em virtude do-grande concurso de povo, voltam menos recolhidos do . que quando.. se frarm 99 Ainda mais: "Certas pessoas no se fartam de acrescentar imagens sobre imagens em seu oratrio,' compra-zend-se na ordem e harmonia com que dispem tudo, a fim de que fique o mesmo oratrio bem adornado e atraente. Quanto a Deus no pensam em revrenci-l mais; muito ao contrrio, pois o gosto com que se comprazem naquelas figuras pintadas, desvim-nos da realidade viva".100 E que dizer de certas festas de igreja? Entra triunfalmente Jesus em Jerusalm, "receberam-no com tantos cantos e ramos; entretanto o Senhor chorava, vendo que esses coraes, to afastados d'Ele, acreditavam homenage-10 como deviam apenas por lhe -fri butarem-sinais e manifestaes exteriores. Betrj; podia-se dizer que mais faziam festa a 'si prprios que a Deus. O mesmo acontece em nossos dias,.quando h alguma festa solene em qualquer parte: muitos alegram-se nos festejos, folgam em ver e ser vistos ou em comer ou em outras coisas profanas, muito mais do que procuram agradar a Deus". 101 Eis enfim os ritualistas: "Atribuem tanta eficcia minuciosidade no cumprimento de suas devoes que, se um s ponto falta ou sai dos limites determinados, imaginam que elas de nada serviro, e Deus no as h. de ouvir. Mais confiam nesses modos e maneiras do que na essncia viva da prece, no sem grande desacato e agravo do Senhor. Por exemplo: missa com tal nmero de velas, celebrada por tal sacerdote, a tal hora nem antes nem depois e em tal dia certo nem antes nem depois; ou ainda, sejam as oraes devoes tantas e tais e em tal tempo com tais e tais cerimnias, nem antes, nem depois, nem de outra' maneira. E a pessoa que as faz, deve ter tais qualidades ou partes. E opinam que, se faltam algumas dessas es-[ pecificaes, nada se fez". 102 Infantilismo, pardia do culto "em esprito e verdade". 'Aniquilamento do Eu? Ao seguirmos os passos de Joo da Cruz, sentimos penosa impresso de progressivo aniquilamento ntimo. Embotar os sentidos, cegar a razo, apagar a memria, desapropriar a vontade: no chegaremos porventura destruio de toda atividade consciente, ao marasmo, seno ao nirvana? Jean Baruzi descobre, no poema da Noche as diversas fases da aniquilao de um ser; "os supremos instantes da vida consciente em seu suavssimo obscurecer-se".103 E quem escreve, bem se recorda como, ao ler pela primeira vez a Subida, lanou-a de si e teve Joo da Cruz por feroz e desumano. Nem feroz nem desumano: "O corao dos santos lquido", dizia um deles, o Cura d'Ars... Mas vamos ao Joo' da Cruz concreto, em carne e osso, tal como no-lo pintam irrecusveis documentos. Patenteia sua obra

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potica e doutrinal -que a vida mstica, longe de lhe afrouxar as. faculdades superiores, tornava-as capazes de atividade pouco comum e at genial. Professor, prior de vrios conventos, vigrio provincial, definidor geral "perfeito e grande prelado", depem as testemunhas 104 realizou obra duradoura, no s espiritual como tambm material; assim, por exemplo, em Segvia, onde levantou o convento e grande parte da igreja; em Granada, onde construiu o aqueduto, ajudando pessoalmente a fabricaV tijolos e a preparar argamassa105; em Baeza, colaborou com o pintor e escultor Juan de Oria, n decorao da igreja.106 Sabia aconselhar com muito acerto em assuntos temporais: s monjas de Caravaca, por exemplo, que desfizessem manhas com manhas maiores.107 Estes e outros fatos que poderamos aduzir, so sobejas provas de que Joo da Cruz nada tinha de abobado. Tampouco o corao se lhe tinha atrofiado. J deixamos contado como em Duruelo, no incio da vida religiosa, chamou a si a me e o irmo; em Granada, apontava Francisco ajudando os pedreiros: "E' meu irmo, a quem eu mais amo neste mundo" 108; em Segvia, no fim da vida, chamou novamente a Francisco e como este, ao cabo de poucos dias, quisesse regressar a casa, Joo o deteve: "No tenhas tanta pressa que no sabes quando nos havemos de rever" e, de fato, seria o derradeiro encontro dos dois irmos. Diremos como certa noite, aps a ceia, o Santo tomou a Francisco pela mo, levou-o ao jardim conventual e confiou-lhe, a ele s, a pergunta do Crucificado e a resposta que lhe fizera.109 E no sabemos as entranhas de me que tinha para com os seus frades? Reagia, sim; contra o amor animal ou egosta, mais era o mais dedicado dos amigos e o mais compassivo. Em nada se assemelhava ao asceta terrvel, sanguinolento e de olhos secos, que fantasiava Huysmans. E ento haver por acaso contradio entre a vida e a doutrina? To pouco, porque a doutrina bem entendida aparece qual disciplina, exigentssima, sim, porm no inumana ou mutiladora. Melhor diria: no doutrina de aniquilamento; doutrina de libertao pelo desprendimento. A renncia universal tem por fim, no j destruir as atividades do eu, mas antes desprend-las do criado para transferi-las a Deus. Pelo que, a morte mstica no destruio psicolgica, desapropriao moral: despregar-s,-. desprender-se, despir-se, despojar-se de maneira que a criatura lrfge de ser um lao a enlear a alma, se' torne .trampolim que a lance para Deus. A alma, claro , no pode deixar de ouvir, ver, cheirar, gostar, sentir; Joo da Cruz quer apenas que se no embarace com essas atividades; so meios e no fins, logo no h que se prender a eles.110 "Adquirir prontido de ir para Deus em todas as coisas e por todas as vias", eis a finalidade nica da noite ativa 111; ela impede que as criaturas formem um vu opaco entre Deus e a alma; visa torn-las translcidas para que favoream a contemplao, longe de impedi-la. To logo elas levem a Deus, em vez de deter o voo do esprito, Joo da Cruz voltase para elas com olhos amorveis: "Se a alma no se demora no gozo , apenas experimenta na vontade certo deleite nq que v, ouve ou

trata, apressa-se em elevar-se para Deus, tima coisa".Tomemos dois exemplos concretos. Pouco acima deixamos resumida a crtica so-joanense da devoo sen-, svel, da religio gozadra, apegada a prticas e manifestaes exteriores. O leitor superficial poderia descobrir aqui laivos de protestantismo: Joo da Cruz parece 'querer interiorizar por completo a religio, reduzindo-a i a secreto colquio entre Deus e a alma; condenar o culto externo, as novenas, a devoo s imagens, etc. Engano absoluto. Ao contrrio Joo da Cruz emprestava ao culto externo a maior valia; ajudava a limpar as igrejas e adornar os altares,. celebrava as festas com tanta devoo, que a expresso de seu .rosto refletia os diver-: sos tempos do an litrgico.112 113 E-stava muito longe d proscrever o culto das imagens, as procisses, novenas e outros exerccios devotos; bem sabia que somos espritos encarnados e que carecemos do apoio das' coisas visveis, para alar-nos ao invisvel. Exigia apenas que lhes atribussemos o justo valor: so simples meios que devem levar a Deus, longe de embaraar a prece.114 To logo cumpriram seu ofcio' devem ser descartados, doutro modo se. tornam obstculos. Quanto mais presos ao sensvel) menos subimos at Deus. "Conheci uma pessoa que,- :durante mais de dez anos, se serviu de uma cruz toscamente feita com um ramo bento; as duas hastes juntadas por um. alfinete retorcido... conheci outra que rezava com um'tero feito de vrtebras* de peixe; por certo, sua devoo no ra por . isso menos aceita de Deus, pois claro est que essas . duas pessoas' no eram detidas pela feitura e valor dos objetos".115 A arte religiosa jamais pode ser um fim em si. De que serviria numa igreja tal assombro de humano lavor, se no movesse divina caridade? Pouco fervor despertam as Ma-donas de Rafael talvez at muito pensamento profano. E na igreja de S. Pietro in Vincou, as cadeias .de. ferro com que foi acorrentado o Apstolo, mais devoo provocam que o estupendo Moiss de Miguel Anjo. No que Joo da Cruz advogasse a confeco desses tristes mpnstrengos que desfiguram certos templos; bem' longe de querer imagens grosseiras ou pouco artsticas, desejava que fosse vedada a fabricao a quantos nesta arte no fossem peritos116; ele prprio entalhava habilmente crucifixos de madeira117 e chegou at ns' compungente desenho seu de Cristo na Cruz.113 Mas repete indefesso que a finalidade da arte. religiosa no - o mero prazer esttico; visa despertar, pela contemplao do belo, o fogo do divino amor. "Pouco me importa ouvir uma msica religiosa mais harmoniosa que outra, se no me move mais do que aquela prtica do bem".119 Por isso recomenda ao artista jamais olvide que a imagem deve ser despertadora de devoo;

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pede-lhe que "mais se ajuste ao divino que ao profano" 12, e mais retrate os santos "ao vivo e natural"121; de ou-: tro lado admoesta, o fiei que se no deixe engolfar no "esteticsmo" religioso; no se prenda ao gozo artstico'^ mas sirv-se dele para alar-se at a realidade invisvel, representada pela obra darte. "Portanto, tenha o fiel este cuidado: vendo a imagem no queira,embeber o sentido naquela figura, seja corporal ou imaginria,'bem lavrada ou ricamente ataviada; quer lhe inspire devoo sensvel ou espiritual, quer lhe manifeste sinais extraordinrios. No faa caso algum desses acidentes; no se detenha mais nela, mas antes levante logo o esprito para o que representa, colocando o sabor e gozo da vontade em Deus, com orao e devoo interior a Ele, ou ao Santo invocado. Assim, no levar o sentido aquilo que compete realidade viva e espiritual".122 Numa palavra: conservar-se sempre -desimpedido, livre para Deus. E se, porventura lhe tirarem a imagem, ainda a mais devota, no se afligir, "porque busca dentro de si a ima-

Cap. III: A 143 Ascenso Noturna 142 Penido, Itinerrio Mstico de S. Joo da Crnz gem viva que Cristo observava os peixinhos a crucificado, no qual se goza entre-cruzarem-se nas de ser privado de tudo e que guas cristalinas. De tudo lhe falte".Seja ainda a repente, exclama atitude de Joo da Cruz entusiasmado: "venham c, diante dos primores da natureza. Vai ele cerrar os irmos, e vero como estes olhos para no contemplar animaizinhos e criaturas de uma bela paisagem? Bem Deus o esto louvando! E longe disso, vai es-cncarpois eles o fazem sem los. J foi dito quanto amava entender, motivos muito os horizontes luminosos. Acrescentemos mais alguns maiores temos ns de louvtestemunhos: depe Frei lo".126 Este ltimo exemplo Joo de SanfAna como, em prova que Joo da Cruz no Baeza, o Santo se retirava se demorava na s vezes por uma semana a contemplao puramente um pequeno stio a cinco lguas da cidade; levava esttica; no seio da como companheiro o mesnatureza "via" a Deus, como mo Joo de SanfAna e em Deus encontrava toda a cantava hinos e salmos por formosura das coisas. "As entre campos e ribeiros; montanhas so elevadas, chegada a noite, aps possantes, macias, belas, prolongada orao, sentavam-se sobre a relva, graciosas, floridas e olorosas perto da gua borbo essas montanhas, meu rinhante e o Santo discorria Amado, para mim. Os sobre a beleza do firmavales' solitrios so quietos, mento marchetado de amenos, frescos, umbrosos, estrelas e a suave harmonia dos cus em seus cheios de doces guas e, movimentos. Passam-se as pela variedade do arvoredo, horas e o padre SanfAna faz o suave canto dos, pssaros, observar que a noite vai grandemente recreiam e adiantada e no saudvel deleitam o sentido; suaestarem assim ao relento: so horas de. regressar. "De soledade .e silncio causam bom grado, retruca Frei refrigrio e descanso; Joo, pois vejo que V. esses valesj. meu Amado, e Reverncia est com para mim".127 ;123 vontade de dormir!" Sempre o mesmo 124 Em. Lisboa,- encontraramprincpio: em vz ;de no junto ao mar imerso rta procurar a sj mesmo nas contem-, plao da criaturas, procurar e encontrar a Deus nelas. imensidade do Atlntico.126 Sorver uns goles d'gua, Em Granada, levou os haver ato mais corriqueireligiosos a passeio perto do ro?' "Bebei, recomendava o rio, e enquanto eles se Santo, bebei, com o desejo recreavam, o Santo de beber de Deus".128 Pode

Cap. III: A 143 Ascenso Noturna 142 Penido, Itinerrio Mstico de S. Joo da Crnz um rico alegrar-se de suas trilhar to spero caminho, posses? Pode, responde atentando na recompensa, o Joo da Cruz, "quando se cntuplo prometido aos despendem e empregam no mortificados, que como servio de Deus".129 Que um retorno inocncia do pensar das amizades? Paraso. Do-olho j Levam a Deus ou distraem purificado, dimana gozo d'Ele? 130 Devemos varrer da espiritual endereado a memria todas as lembranDeus, em tudo quanto v, as absolutamente? No; seja divino, seja profano. O excetuemos as necessrias mesmo quanto aos demais ao bom cumprimento de sentidos. Assim como no nossas obrigaes e aquelas estado de inocncia, tudo que despertam amor, quanto viam, falavam ou divino.131 Dominar as comiam, aos primeiros pais criaturas em vez de ser por servia para maior sabor na elas dominado e contemplao, por terem a escravizado, eis que visa sensibilidade perfeitamente Joo da Cruz. Conquistar a submissa razo, assim suprema liberdade, uma liaquele cujos sentidos esto berdade tal que, no cimo do purgados e sujeitos, frui Monte, ele transcreveu desde os primeiros palavra de S. Paulo "para o movi-.mentos, o deleite da justo no h lei" (1 Tim 1*9), amorosa, advertncia em porque a lei implica certo Deus.No desenho do Monte constrangimento, hetedo Carmo, Joo da Cruz deronomia; enquanto, nos pois de estatuir duramente: perfeitos, nada disto se "E no Monte, nada", escreve verifica; existe apenas um logo acima: "Desde que movimento interior, abracei o nada, acho que espontneo, direto, imediato nada falta; quando com da alma para Deus. Mas o prprio amor no o quis, preo dessa liberdade de tudo, sem que o buscasse, corao a renncia; meio me foi dado". Tudo. Em e no fim, repetimos, porm Deus, encontra de novo meio indispensvel, aqueles mesmos bens de insubstituvel: "at que o que to asperamente se homem venha a ter o privara. "Meus so os cus e sentido to habituado na minha a terra, e meus so purificao deste gozo os povos; os justos so sensvel, de modo a tirar, meus e meus, os pecadores; logo ao primeiro movimento, os anjos so meus, e a o proveito j mencionado, a Madre de Deus minha; e saber, encaminhar-se todas as coisas so minhas; imediatamente a Deus em o mesmo Deus meu e para todas as. coisas, tem ele mim, porque Cristo meu e necessidade de renunciar a todo para mim!"133 134 seu gozo e- prazer em todas Cntico triunfal da alma elas, a fim de retirar a. alma que antes se despojara de da vida sensvel".-132 Nada, todo deleite, de toda glria nada, nada. e honra do mundo, de todo Alente-se o espiritual a

Cap. III: A 143 Ascenso Noturna 142 Penido, Itinerrio Mstico de S. Joo da Crnz antes escandalizam. Por que consolo, ainda divino, no no gozar de tudo quanto querendo repousar em coisa Deus colocou a nossa alguma, gemendo na disposio? Buscar a Cruz soledade at encontrar o para mais assemelhar-se a Amado.135 Renncia que .no Nosso Senhor, como S. Franmutila, mas leva plecisco de Assis, .na alegria perfeita, entra bem pouco nitude. No, que traz ao nas perspectivas Sim. O ascetismo dos contemporneas". Do msticos apenas o aspecto conjunto das respostas negativo dum processo surge esta concluso: "O sumamente positivo: a que se espera, da.sahtida-. invaso de uma pobre de, hoje em dia, a exaltao do homem",136 Por criatura pelo Amor Divino; "um pouco, esses Amor inexorvel que. tudo transviados, que se cuidam' pede, porque tudo d. cristos, piodiariam o texto sagrado, semelhana do 'Caminho do Amor, Caminho neo-pago Swinburne: da Cruz. "Glria ao Homem nas alturas!" Essa corrupo do A revista Vie Spirituelle cristianismo pelo publicava, em 1946, farto e "naturalismo", no interessante inqurito sobre peculiar Frana. Impera a concepo atual da santiuniversal horror a toda e dade nos meios catlicos qualquer inibio; nada de franceses. Entre as constrangimentos; cada respostas lemos: "No homem deve aceitar-se tal aprovo S. Joo da Cruz qual concretamente, com porque apregoa uma todas as suas tendncias, santidade inumana. Para quaisquer que sejam, e ele, ns nos tornamos sanexpressar-se em consetos apesar da natureza, quncia. Nada de renncias, fazendo tbua rasa de tudo que s geram recalques pequanto, d humano temos. rigosos. Todo freio moral Eu, pelo contrrio,, concebo logo acoimado de "tabu" ou santidade atravs da de "preconceito estpido". natureza, realizando ao Alguns "inimigos da Cruz de mximo os dons recebidos". Cristo" (Filip 3, 18) no Outra resposta: "Os santos recuam diante da tentativa de amanh sero no tanto de deformar a figura penitentes, como reis da adorvel de Jesus. No faz criao";, outra enfim: "A muito, lamos uma apologia tendncia mais acentuada, de Cristo desportista, sobretudo entre os jovens, caminhante infatigvel e uma liberdade total no trepador de montanhas; sentido do desabrochasse louvavam at mesmo a em todos os domnios. A musculatura atltica do luta contra si prprio, a Divino Mestre! Outros apeprocura da mortificao, lam para a Igreja antiga, na encontram poucos adeptos,

Cap. III: A 143 Ascenso Noturna 142 Penido, Itinerrio Mstico de S. Joo da Crnz conclua: "Tudo quanto o qual, pretendem eles, os instinto puro conquista, est espritos se concentravam, perdido para o futuro esn|o j no Cristo padecente, piritual do homem".133 Foi o seno no Cristo "pneumtico desenfrear de certas foras e glorificado" que, vive e da natureza humana, que reina destra do Pai; o culto lanou ao abismo um da Paixo seria mrbido grande povo, o alemo, e o produto das trevas horror a qualquer constranmedievais; alguns catlicos gimento s pode contribuir a chegam ao extremo de tornar sempre mais intolequerer banir das igrejas as rvel o convvio familiar, imagens do Redentor 137 social e internacional. crucificado. Arqueologismo Borboletear, ou deixar-se inoperante, pois a mesma esquartejar por tendncias Igreja antiga nos apresenta antagnicas, como insuperveis exemplos de pretendia Gide, disperder ascetismo; por certo, no a vida; para que seja procuravam a "exaltao do fecunda, haver mister homem" os solitrios que se unific-Ja em torno de um embrenhavam pelo deserto, fim a ser perseguido a todo para viverem na mais rgida transe, o que exige renncia penitncia, ou os estilitas a muitas coisas qui que permaneciam anos a fio boas, belas, teis que alcandorados em colunas! poderamos fazer, mas so Ainda os simples fiis incompossveis com o fim submetiam-se, na antiguiescolhido. Sustine et dade, a jejuns e outras obstine, a mxima estica obras penitenciais cuja condio bsica de todo simples meno hoje existir verdadeiramente apavora e escandaliza. produtivo. Nem isso negar Causa pasmo, por outro a vida, mutilar-se, seno lado, que os catlicos franchegar plenitude de vida, ceses, to duramente porque viver com a maior feridos pelo ltimo conflito, intensidade possvel. O que no se tenham apercebido sacrificamos em extenso, que os horrores da.guerra ganhamos em profundidade. provm em linha reta do Nem depende nossa livre desencadear dos grandeza da quantidade de instintos. Se algo ' prova a coisas que efeituamos, mas experincia social, que de como as realizamos. tudo quanto "natural", Espraiar-se, dispersar-se, muito longe est de ser no viver, seno malbenfico. Ainda que vebaratar a existncia. jamos, nos produtos Se certa dose de culturais superiores, meras ascetismo , pois, "sublimaes" de instintos necessria a todo homem primitivos, resta que desejoso de ser plenamente sublimao supe instinto homem, num cristo, o refreado e, pois, inibio. horror o. ascetismo s Donde um mdico, pode provir dopsiclogo criminalista, esquecimento ou repdio

Cap. III: A 143 Ascenso Noturna 142 Penido, Itinerrio Mstico de S. Joo da Crnz dos ensinamentos formais convenincia perfeita, pois do Evangelho. Escreve S. que essa alma movida Lucas que Jesus "dizia a imediatamente por Deus, todos: se algum quer vir Razo suprema.140 Todavia, aps mim, negue-se a si nao deixa por isso de ser mesmo e tome a sua cruz verdade que o cristianismo todos os dias e siga-me" (Lc no visa apenas 9, 23). No conselho dado desabrochar a uma elite em busca de harmoniosamente as perfeio conselho de tendncias humanas, como que se poderia o resto uma tica filosfica livremente eximir todos, qualquer; pretende transpsem exceo foram las para um nvel sobrechamados a negar-se e a humano. Nem Jesus tomar a cruz co-; prometeu a seus discpulos tidianamente: "E dizia a felicidade puramente todos". E ainda: "Em verdahumana. Aqui est claro, de, em verdade vos digo insofismvel, o que aos seus que, se o gro de trigo que. veio trazer: cai na terra no morrer, fica Bem-aventurados os pobres, Beminfecundo; mas se morrer aventurados os que produz muito fruto. O que choram, Bemama sua vida, perd-la-, e aventurados os que quem aborrece a sua vida sofrem neste mundo, conserv-la- perseguio... para a vida eterna" (Jo 12, No isso o que o comum 24-25). E' verdade certa,i dos homens entende por fepacfica, que a moral crist licidade e nem mesmo um no suprime a moral natural Scrates, um Plato, um Se que profunda iluso seria neca ou um Marco-Aurlio, pretender seguir as algo afirmam de semelhanmximas evanglicas, te. Cristo Senhor Nosso no desprezando os preceitos da veio "exaltar o homem"; tica. No s1 a graa no veio diviniz-lo. E' destri a natureza como 'a muitssimo, mais. Tambm aperfeioa. S.; Lus de muitssimo diferente. Frana foi um grande rei e o Apologtica falha e ineficaz beato Contardo: Ferrini um a que procura mostrar na grande jurista, no apesar Igreja apenas* a guardi da de cristos mas;-ao ordem ou da moral, ou a contrrio, ajudados pelo mais admirvel sociedade cristianismo. E o mesmo de. beneficncia. E' tudo Joor isso, mas est muito longe de ser s isso. O santo, que da Cruz ensina que uma das o cristo perfeito, no se finalidades das "Noites" apresenta a ns apenas reduzir os afetos ao domnio como "um grande homem", da razo; longe de destruir, mas como Um homem elas restabelecem a ordem transfigurado. Convimos natural perturbada139; afirma que, por haver plenamente ainda que as obras da alma atingido seu fim, o santo perfeita so marcadas pelo aparece como tipo,perfeito cunho da razo e da

Cap. III: A 143 Ascenso Noturna 142 Penido, Itinerrio Mstico de S. Joo da Crnz de humanidade; mas esse havia que lembrasse fim no "natural" e essa conforto, higiene, cincia, humanidade regenerada, riqueza, eficincia. Todos os elevada, divinizada. dolos do homem conEquivocaria quem falasse temporneo estavam por aqui de "humanismo", terra; de p ficou apenas a melhor dizer: "transpura "f no sobrenatural. humanismo". As "Noites" Msera e desonesta ativas e passivas oper ram a apologtica, a que ruptura dos limites que apresentaria o cristianismo cerceiam o cOmum dos como doutrina de felicidade homens; fazem como que "natural", pois que no h "explodir" o egosmo, a mesautntica vida crist sem quinharia; excedem as perene mortificao, sem a categorias humanas do cruz Chantada bem no conhecer e do amar. Os trs centro ";* uma no j pelo se intrnseco pessoa cuja imensa valor, mas simplesmente superioridade moral porque so modos de reconhece(-o "xtase" pensar e sentir daqueles revestir a forma de que nos so caros? absoluto dom de si, Se tl a fora mobilizao completa das assimiladora do amor energias em prol do humano, que impele a se amig'^ tendncia a se identificar com o ser amado, identificar mais e mais com e, se tanto mais estreita a ele, confqr.r, mando ideias, identificao quanto mais gostos, quereres, aos do profundo o amor, podemos amigo, partilhatt^ do-lhe antever que o amor. mstico agruras e alegrias. levar ao auge essa Relembremos os grandes tendncia, por ser o afeto mo|> vimentos religiosos: mais total e veemente que em torno do profeta, do conceber se possa, tendo reformado}" do fundador, por-objeto a suma surgem as figuras dos amabilidade: Deus uno e discpulos que anseiam por trino. Encontramos, pois, plasmar a prpria um primeiro princpio personalidade sem.* prximo de explicao da lhana daquele que amam. unio transformante: o Por amor do Mestre, adoamor ssimilante do mstico tam-lhe as concepes, os por Deus. Inflamada por to afetos, as normas de conardente chama, a alma s duta, vesturio at. deseja sair de si para em Procuram reproduzir-lhe a Deus Se perder, fazendo-Ih vida, em tudo se entrega de suas atividades comportando como se todas. A essa luz, comportaria ele. Que vem a percebemos melhor o ser converso religiosa sentido positivo de tudo qu seno transformao moral, no itinerrio mstico operada sob o influxo de encontramos de uma personalidade emiaparentemente negativo: o nente de antanho du de porfiado esforo asctico da hoje? Dois grandes filsofos purificao ativa,, a contemporneos, Max renncia no s a pecado, Schelr e Henri Bergson, filho do egosmo, como a

Cap. I V: Penido, 189 O Amor Itinerrio Transformante 130 Mstico de S. Joo da Cruz todo o criado, ainda aos nada gozando a no ser d bens mais legitimamente Deus, nem .mesmo possudos. Isso cogitando em querer o que certamente "sair de si" para Deus no quer. O to de perder-se no Amado, tudo caridade perde, aos poucos, lhe reservando, ao- ponto de esse carter isolado, recusar um pensamento espaado, que reveste no sequer, que no seja para comum dos fiis; torna-se Deus, ao ponto de afugentar um imenso incndio uma lembrana, que se no devorador que invade a refira a Deus, ao ponto de pessoa inteira, e banha, negar uma parcela sequer embebe, tinge-lhe todas as de amor ao que no atividades. Encontra-se a seja.Deus. Como poderia alma na verdade, sinceramente chamar a transformada em amor e, Deus "Amado", quem no pelo amor, vive em Deus. estivesse todo inteiro n'EIe Estar, porm, transperdido, no tendo corao formada em Deus? para si mesmo, nem para Podemos, sem dvida, coisa alguma fora d'Ele?160 afianar qu no mais a si Amar a Deus de verdade, pertence: propriedade de consiste em no se Deus; podemos acrescentar contentar de algo que que assim como vivemos no no seja Deus; por isso o objeto amado, assim esta mstico, embevecido de alma (que no s tem amor amor, alheia-se a tudo por Deus, mas amor de quanto terreno, e portanto Deus) vive em Deus muito sai de si. mais que no pr-1 prio Sair de si ainda corpo161 162 submeter-se a longo ; evidencia-se enfim que trab#lho de simplificao essa vida em Deus revestir interior, visando desligar as crescente intensidade, energias psir quicas de seus porquanto em cada novof objetos habituais, para ato se prolongam os atos mobiliz-las em prol do amor. O que mais anteriores, a fim de torn-lo necessitamos para mais profundo e forte: o progredir, ensina o Santo, misticismo, longe de'ser calar-nos junto de Deus algft, estagnado, perene quanto aos apetites e s movimento do amor a mais palavras, porque a lngua que Deus melhor entende amor.' Todavia,, este amor, o silncio do arar.' Todo embora faa viver a. alma esse esforo pertinaz, em Deus, no transmudar herico, perseguia uma s em divinos os atos finalidade: sair de si para humanos. Haver,.. sem consumar o dom magnfico, conformando e configurando dvida alguma, assimilao, todas as energias da alma imitao; no haver|i a ao Amado, nada querendo falar propriamente, fora de Deus, nada de"transformao". Para tal sejando a no ser Deus, de

Cap. I V: Penido, 189 O Amor Itinerrio Transformante 131 Mstico de S. Joo da Cruz boa porque amamos mas, no bas-; ta que a alma viva viceversa, amamos a coisa em Deus, ainda, porque boa; ao perceber sobretudo nef cessrio que que me entusiasmara por Deus viva na alma. A fim, uma quimera, extingue-se pois, de manter 1 a fora e incontinente meu amor. Em Deus, ao invs, o amor , vigor ao termo empregado por essncia, ativo; infunde por S. Joo da Cruz, urge a a bondade nos seres por ele interveno sobre o amor amados; as criaturas, no assimiIativo| da alma por so queridas de Deus por Deus de um novo serem boas, mas so boas por lhes querer Deus bem; princpio de expM ; amando-as que as torna cao:.o amor amveis. Bem longe que. transformante de Deus pela Deus haja criado o universo alma. Se | ] mstico a fim de encontrar objetos procura Deus com amor, para seu amor, como se devesse, num primeiro tempo, Deus o procura com dar o ser s criaturas, para amor infinitamente maior. A em seguida . am-las, o quem lhe deu tudo, Deus prprio ato de amor divino tudo d; tudo,, isto..,. que cria o objeto deste EJe.mesmo. (Novo motivo de amor. Em vez de procurar empregar metforas algo nas criaturas, Deus nupciais: indicam a tudo lhes comunica. Eis por reciprocidade da entrega). que o Areopagita pde Como conceber esse adiantar que Deus conhece "amor transformante?" Si o "xtase" de amor; acontecer, quando a expresso arriscada e inteligncia humana tenta ambgua, pois est'xtase perscrutar o ser ou o agir de transporta o amante no Deus, que muito mais pode amado j para lhe participar determinar negativamente o os bens, j para comunicarque no , do qu lhe os seus; o primeiro positivamente entender o xtase, foroso afast-lo que . O mesmo acontecer, de Deus, mas o segundo lhe de prever, no qu diz convm por excelncia. A respeito ao "amor teologia, ao afirmar que transformante".. Deus criou o mundo "para Grande verdade si", no entende dizer ;que metafsico-teolgica o fim do ato criador seria sobrepaira a matria, toda: interesseiro, egosta. De a no passividade do amor certo, quando o homem 163 em Deus. Nas criaturas, o produz, fabrica qualquer amor inclu sempre qualquer objeto, esta ao elemento de passividade, j corresponde a uma que pressupe um, bem a necessidade pelo menos, aliciar a vontade, nela subjetiva; traz-lhe qualquer provocando um movimento vantagem. Deus, pelo de complacncia, um contrrio, ao plasmar o tendncia a esse objeto universo no procurava um preexistente. A. coisa no

Cap. I V: Penido, 189 O Amor Itinerrio Transformante 132 Mstico de S. Joo da Cruz bem que.lhe iz\~ tasse; em tica. Muito caractersticas nada podem as criaturas So as estrofes 21 a 23 do aumentar-lhe a bemr. "Cntico". Nas duas aventurana perfeita; primeiras narra a esposa portanto, se Deus criou, como, pelas prprias quando era livre de no virtudes, conquistara o criar, no foi com o intuito Esposo; mas, temendo de adquirir proveito algum, atribuir a Deus menos do foi pura liberalidade. que lhe pertence, ela Amando-se>a -si prprio, corrige-se na terceira tornou-se benfazejo ao estrofe e afirma que, se a querer que o bem infinito, sua f e seu amof puderam amado com infinito amor, se cativar o Amado, por Ele irradiasse, generoso. Criar mesmo ter contemplado "para si" significa chamar os com amor a esposa, seres existncia, tornando-a por isso graciosa difundindo um raio da divina e agradvel; o que nela bondade e destinando a mereceu amor foi, portanto, criatura suprema ventura a graa e valor qe d'Ele que Deus. No s seria recebera. Por outras indigna irreverncia como palavras:, a alma amada arrematada absurdidade, por Deus no.j em virtude imaginar o nosso Deus de sua prvia amabilidade, semelhana de um Moloque, mas,. ao invs, torna-se sequioso de sacrifcios amvel porque Deus a monstruosos. As criaturas amou. Precisando ainda no aspiram um bem mais seu* pensamento, o estranho ainda menos Doutor mstico acrescenta: oposto ao Bem Supremo: Deus, como no ama ser todo bem um reflexo algum fora de si mesmo, desse sumo Bem. Criar-nos assim nada ama Deus para sua glria criardiversamente de. si, porque nos para nossa felicidade. tudo ama para si e o amor; Esse desejo do infinito que tem razo de fim. Da amar nos agita, indicaria a alma, significa para Deus, porventura outra coisa a no coloc-la -de certo modo ser a atrao que sobre dentro de si, igualando-a a nossa vontade exerce o si? e quer-la com o divino Bem? Porque Deus mesmo amor que Ele ama a aios atrairia, no fora a fim si.164 ; de nos unir a si, e porque Segue-se que a alma nos uniria a si seno para no se transforma em Deus; nos comunicar sua bondade, Deus que a transforma. por que enfim haveria de Tambm, ao dizer que sua no-la comunicar a no ser vida era s Cristo no porque nos ama? Assim, pretendia S. Paulo que ele amar as criaturas significa, vivia em Cristo, mas para Deus; querer-Jhes afirmava, sim, que Cristo 'fem supremo que o nele vivia, in-( sinuando mesmo Deus. destarte o carter S. Joo da Cruz. aplicou eminentemente ativo do essa doutrina unio msamor divino.

Cap. I V: Penido, 189 O Amor Itinerrio Transformante 133 Mstico de S. Joo da Cruz Essas consideraes discpulo amado, S. Joo da permitem-nos dar exao Cruz as ilustra por graciosa maior a nosso conceito de comparao: , se "a ave de unio mstica. Tal qual o voo baixo logra apresar a descrevamos at agora, guia real de voo altssimo, parecia resultar da porque, esta desce e quer conjuno de dois ser cativada,165 No h, pois, movimentos, um como acreditvamos, dois ascendente, que o amor movimentos convergentes assirriilante do homem de amor, h um s procura de Deus, outro movimento que parte do descendente, que o amor Amor infinito, transformante de Deus incompreensvel,' da procura do homem. Bondade suprema, por / Entretanto, ao penetrar mais suas miserveis criaturas, alm no problema, verifichamando-as a partilhar su camos, que aquele vida. Encontramos aqui a movimento j , em raiz daquela "passividade", verdade, fruto deste: o acentuada com tant; vigor homem no ascende seno pelo Doutor mstico. porque Deus o chama e Passi-.vidade no ser atrai: o "xtase." da alma suprfluo repetir que causado pela investida do nada tem a ver com a amor divino que a faz sair inrcia apregoada por de si. Essa inclinao, essa montanistas. e quie-tistas. atrao, esse "peso do S. Joo da Cruz insiste sobre amor", que o mstico a cooperao d alma que experimenta e que, age vitalmente sob o influxo invencvel, o arrasta at da graa e dos sete Dons. Deus, procede de uma "A alma, ensina ele, no iniciativa divina; mostra-se 0 pode exercer as. virtudes, primeiro, o Senhor, e lhe sai nem adquiri-las sozinha sem a encontro. "A caridade de a ajuda de Deus, mas Deus consiste nisso: em no tampouco Deus as produz termostyto ns os que sozinho na alma sem ela. amamos a Deus, mas em Embora seja verdade que que Ele foi o primeiro que toda graa excelente e todo nos" amou a ns" (1 Jo 4, dom perfeito vem do alto, 10). Essas, palavras do descendo do Pai das lu-

198 Penio, Itinerrio Mstico de S. Joo da Cruz :zes, no dizer de S. Tiago, sem embargo, nada disso pode-se realizar sem a capacidade e ajuda da alma. Eis por que a esposa, falando ao Esposo nos Cantares, disse: "Arrasta-me aps ti, correremos ambos..." para expressar que, se o impulso para o bem deve vir de D.eus ("arrasta-me"), em compensao o ato de correr no privativo nem do Esposo nem da esposa, mas diz: "correremos ambos", porquanto constitui obra conjunta de Deus e da,alma.160 E a parte da alma consiste em no pr obstculo ao divina,. em consentir invaso do amor de Deus.167 Donde o termo "passividade" indica justamente que esse impulso, essa atrao, esse "peso de amor" que a alma experimenta^ no so frutos de sua iniciativa,^obra do livre arbtrio, mas so "infusos", surgem independentemente da vontade; esta, porm, deve livremente querer ser arrastada, consentir obra do Esprito Santo que a abrasa. Narra a Escritura, que to estreito afeto vinculava Jonatas a David, que lhesconglutinou as almas. Se a amizade humana consegue alcanar tal intensidade, qual ser, pois, a estreiteza da unio entre Deus e a alma, ainda mais que, tendo Deus.a iniciativa, poder a onipotncia de seu abissal amor absorver a alma com eficcia e fora maiores que uma torrente de fogo lograria eva-. porar uma gota de orvalho.168 Como descrever a transformao que na alma s opera, ao faz-la Deus re-. clinar sobre seu peito, cheio de paz, de ternura, de silncio? Balbuciando narra Joo da Cruz algo de suas arcanas e inefveis experincias, e, com grande esforo lobrigamos, env to sublimes trevas, algumas verdades. Sendo o amor de Deus. pela criatura essencialmente' generoso, querer bem a Uma alma ao ponto de despos-la, s pode significar comunicar-lhe estreitamente a vda divina. Por sua vez, tal comunicao se deve entender co-mo unio operativa (e no entitativa), em virtude da qual todos os atos das potncias humanas estejam sujeitos ao influxo divino, de sorte que transcendem o modo humano de agir.109 So propriamente os dons do Esprito Santo :que exalam s. virtudes "teologais. a um modo de operar divino. -Com efeito, estas virtudes, embora sobrenaturais, atuam no simples fiel de maneira- humana; a f, por exemplo,, servese de conceitos, imagens, ra-199 Cap. I V: O Amor Transformante docnios; enquanto no mstico, a mesma f, "ilustrada" pela Sabedoria, muda-se em cincia experimental de amor.170 E' doutrina de S. Toms m, explicitamente perfilhada por S. Joo da Cruz.172 O objeto da f permanece o mesmo pra o mstico como pra o cristo comum, no conhece aquele novos mistrios revelados, inacessveis a este; no difere arealidade atingida, mas antes a maneira de atingi-la; este apreende-a por conceitos e discursos, abstratamente; aquele vive-a imediatamente, por experincia afetiva. O dom de Sabedoria projeta.ou, por melhor dizer, faz refluir sobre >o piano intelectual a experincia, do abrao amoroso de Deus que a alma sente np mais .ntimo de sua substncia; apreende, pois, o intelecto experimentalmente como presentes o ser divino,-- seus atributos e mistrios, embora no s claras, porque dispensa raciocnios, imagens ou conceitos. Ilustrada pelo Esprito Santo, a mente excede a maneira humana de conhecer, e neste sentido torna-se divina. A vontade, por sua vez* vive do prprio amor pelo qual Deus ama a si mesmo, pois ela ama pelo Esprito Santo, como o Padre e o Filho por Ele se amam. Amor desinteressado, sem

outro motivo-que a pura amabilidade divinax, ao ponto que os amigos do Senhor folgariam se, por impossvel, Ele lhes ignorasse os servios.173 A memria, enfim, que outrora s guardava lembranas terrenas, agora recorda apenas os anos eternos cantados pelo Salmista. Em uma palavra, toda a vida interior se encontra sobreelevada e absorvida, pela ao. do divino amor que a atrai a si, de sorte que "no pode a alma produzir atos por si mesma, que o Esprito Santo, os produz todos, razo pela qual todos seus atos so divinos".174 Cumpre observar cuidadosamente que tal. ao 'divina ho deve ser entendida como um caso particular da mOo geral de Deus, suprema causa eficiente; aqui estamos, na ordem mui diversa do amor: a moo divina se revela sob forma de impulsos afetivos; assim dizemos que o objeto amado princpio dos atos do.amante.175 Entendido na ordem de eficincia o texto supracitado e.S] Joo da. Cruz nos levaria concluir que a graa mstica aniquila's operaes da; alma; transposto para. a ordem do amor, ao contrarie, deixa bem claro que a alma no cessa de agir, nem Deus se substitui a ela;

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porm o princpio desses atos todos o impulso da divina caridade. Na ordem de amor e no na ordem entitativa ou na de eficincia verdade que "o entendimento da alma entendimento de Deus, sua vontade vontade de Deus, sua memria memria de Deus, suas delcias, delcias de Deus".' Mui diversas as modalidades, da sublime experincia: ora contacto com o ser insondvel de Deus, ora. vive este ou aquele dos divinos atributos, ora participa da vida da Trindade santa. Mas, nico o meio ou veculo da vivncia: o amor. Por isso, escreve o Santo que "a alma est transformada em chama de'amor, na qual se lhe comunicam o Padre, o Filho, e o Esprito Santo".176 G amor bem o meio formal da contemplao mstica; pelo amor que a alma contempla e se diviniza; no amor que atinge imediatamente a Deus. Neste amor, que indissoluvelmente de Deus que o d e d alma que vive,' oferecem-se as Pessoas divinas como objeto imediato de experincia. Que vai ento nesta alma afortunada? No vai nada a no ser Amor. Tudo ignora de; si mesma e ' do mundo, e se Deus lhe descobre seus. segredos ou lhe faz penetrar mais adentro nas insondveis riquezas dos mistrios de Cristo, so ainda luzes que dimanam do amor e levam ao, Amor.178 Tudo olvida para s se recordar do Amado.179 Nada quer a no ser Amor.180 A mesma sensibilidade, dorar vante rendida ao esprito, na primitiva inocncia, refora; o Amor.181 Passados os trabalhos e sofrimentos da agra Subida, tudo delpite e refrigrio; cumpremse enfim os imensos desejos, a alma escuta a suspirada Voz ressoar-lhe no ntimo, qual primeiro cantar de pssaro aps os prolongados frios de inverno.182 Todas as energias renovam-se na. perene primavera. Paz definitiva; to tranquila repousa a alma que nada pode molest-la; perfeita soledade longe de todo o criado: a ss possui o seu Deus, a ss o entende, a ss dele goza.A Consumao do Amor. . . ' . - .177

Ainda .que no seja possvel atingir,'nesta, terrena vida, estado mais exalado que a "unio transformante", pois apenas tnue sendal separa a alma da viso beatfica183 184 , todavia no se verifica qualquer detena ou es-tase na vida espiritual, que 0 amor, jamais est ocioso, seno movimenta-se sempre qual flama que corre daqui, dali186; torna-se cada vez mais candente, lana fascas e chamaradas.186; A esta alma que no apenas ama, mas amor: .. ni ya tengo ptro oficio que ya solo en amar s mi ejercicio, o Doutor mstico no delineia itinerrio algum. Desaparecida a estreita e ngreme vereda, espraia-se aos olhos, infinito horizonte; nem h mais regras a traar ou

conselhos a propor: "J por aqui no h caminho, porque para o justo no h lei". Princpio extrnseco de! ao, a lei formula os ditames da vontade divina aos quais nos havemos de conformar, mas, doravante, Deus se apoderou a tal ponto da vontade humana que no mais existe distino de quereres, nem o mstico sente constrangimento algum em ser possudo d Deus, antes goza d liberdade divina. Todaviaj se Joo da Cruz no mais ensina, tenta.ele mostrar que itinerrio, mstico s estende indefinidamente at encontrar seu termo na viso beatfica. A descrever "os jogos e festas de alegria que celebra o Esprito Santo na alma"1S7, consagrou o nosso Autor seu derradeiro escrito, comentrio de uma cano' em cinco estrofes, cujo primeiro verso d p nome ao opsculo '. "Llamq de amor viva" a um tempo a mais preciosa e a mais. hermtica de suas obras. Preciosa, porque sintetiza, em luminosos escoros, a doutrina toda; hermtica, porque, descreve to alevantados sentimentos que, embora admiremos o lirismo; ignoramos o sentido exato a atribuir aos conceitos imagens que Joo da Cruz derrama, qual incandescente lava, em pgina aps pgina. Maneja vocbulos humanos - alis que outros poderamos entender? e estes desfalecem sob' o peso dos segredos divinos. Ele prprio, desde a primeira linha, confessa quanto lhe repugna tratar de coisas to interiores e espirituais, que comumente fogem a toda expresso e,.por vrias vezes ho decurso da obra, volta a lamentar a impossibilidade d fazer entender o que lhe i naima.rPz;.tranquilidade, repouso, solido, silncio, alegria, deleite, jbilo,'amor; sobretudq;amOr pobres e irremediavelmente inadequados, esses termos retornam e se amontoam, sempre os mesmos, sob a pena do Doutor mstico. Uma coisa, em todo caso, lobrigamos: imenso incndio lavrava no corao do Santo, e, de quando em quando, as visitas do divino Esprito, vinham feri-lo ainda mais de amor, como que a atiar a fornalha e faz-la lanar ora uma chuva de esfuziantes centelhas, ora altas e ardentes labaredas. Para transmitir ao leitor uma longnqua ideia da "Llama", transladaremos aqui alguns passos em que descreve a experincia mstica dos atributos divinos, a maior comunicao a juzo seu, que se possa receber em vida.188 Sendo uno e trino o Deus que se d alma e a transforma em si, de esperar que ela experimente, cm a vida trinitria, o abismo da divina unidade. Explica Joo da Cruz o primeiro verso da terceira sextilha: h! lmparas d fuegol e comenta: "Duas so as propriedades das lmpadas: luzir aquecer. Para entender, que lmpadas sejam essas de que fala alma e como luzem e ardem dando-lhe calor, convm saber que Deus enfeixa em seu ser nico e simples, todas as virtudes e grandezas de seus atributos, porque conjuntamente todo-poderoso e sbio, bom e misericordioso, justo, forte, amoroso, etc., com outros infinitos atributos e virtudes que ignoramos. Sendo Ele tudo isso, na simplicidade de seu ser, unindo-se alma, f-la conhecer distintamente, quando a Ele

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apraz, todas essas virtudes e grandezas... e sendo cada um desses atributos o mesmo Deus, e Deus sendo infinita lz e infinito fogo divino, segue-se que, em cada um desses inmeros atributos ele d luz e calor como Deus, de sorte que cada atributo lmpada a luzir na alma e.a dar-lhe calor de Amor. E, pois, a alma recebe, num s ato dessa unio, o conhecimento dos atributos, Deus, para ela, como muitssimas lmpadas reunidas que, cada qual em particular, aclaram-na de infinita sabedoria e incendem-na de amor... Donde num nico ato de conhecimento de cada lmpada,. ama por meio dela e de todas as.demais.,. assjm, o> rjsplndor .que.lhe comunica a lmpada d'onipotncia divina'" d-lhe luz e amor' de Deus como onipotente.. ., o resplendor que lhe vem de.' Deus como'sabedoria, causa luz e calor de Deus como sbio. . . e assim, nem mais nem menos Deus -lhe lmpada de justia e de fortaleza, de misericrdia e de todos os demais atributos.. . e a luz que conjuntamente d todos recebe Comunicalhe calor e amor, com que ama a Deus por ser Ele todas estas coisas..."188 Nem se imagine que contemplao abstrata, viso longnqua dos divinos atributos a despertar tumulto afetivo; assim, meditando sobre esses atributos; podemos nos sentir inflamados pelas consideraes que tece nosso entendimento. No. Aqui o amor no abrolha do conhecimento, o conhecimento que redunda do amor; a vontade experimenta esse dom concreto da pessoa divina pessoa humana, na mais estreita intimidade, num contacto vivo e, imediato; e a. inteligncia toma conscincia desta experincia; percebe imediatamente a Deus como presente atravs do amor. "Sendo onipotente, Ele te faz bem e ama-te com onipotncia, e sendo sbio sentes que te faz bem e ama com sabedoria, e sendo infinitamente bom, sentes que te ama com bondade, sendo santo sentes que te ama e faz merc com santidade, e sendo justo sentes que te ama e faz merc com justia; sendo misericordioso; piedoso e clemente, sentes-lhe a misericrdia, piedade e clemncia; e sendo forte, subido e delicado, sentes que te ama forte, subida e delicadamente; e como seja casto e puro, sentes que com pureza e castidade te ama; e como seja verdadeiro, .sentes que te ama deveras; liberal, conheces que te ama e faz merc com liberalidade sem nenhum interesse prprio, somente para fazer-te bem; e como seja sobrenaturalmente humilde e com suma humildade e estima te ama igualando-se a si prprio,' por esses conhecimentos e caminhos descobrindo-se alegremente a ti, com semblante cheio de graas, dizendo-te nessa unio sua, no sem grande jbilo teu: sou teu e para ti, e gosto de ser tal como sou, para ser teu e dar-me a ti. Quem dir, pois, o que sentes, alma ditosa, sabendo-te assim amada e com tal estima engrandecida?" 190 Como desejaria esta alma realizar o sonho de todos os que amam desinteressadamente: amarj.como amada, retribuir amor igual ao que. rcb''r'1B1 -J duant o "despohsro espiritual''J havia-igualdade de amor nesse

sentido que a alma correspondia perfeitamente s mercs que Deus lhe fazia; todavia s podia oferecer um amor humano, embora herico, em. troca do infinio amor que a investia. Mas agora, elevada categoria de "esposa", eis que ela vai poder realizar o sonho estupendo: as mesmas perfeies divinas que lhe entregou Deus, pode livremente delas dispor e d-las por sua vez, a Quem lhas deu. "Sendo por meio dessa substancial transformao, sombra, de Deus, ela fz em Deus e por Deus o que Ele nela faz por si mesmo e como Ele faz, pois a vontade de ambos uma s, logo uma s a operao de Deus e da alma. Assim, como Deus a ela se entrega com livre e graciosa vontade, ela, de.seu lado, tanto mais livre" e generosa quanto mais unida a Deus, est dando a Deus o mesmo Deus em'; Deus, o que ddiva absoluta e verdadeira a Deus. V que Deus verdadeiramente seu e que o possui por he- ' rana, que proprietria de direito, como filha adotiva de Deus pela graa que lhe fez Deus de entregar-se a l a. Como .propriedade, sua ela o pode dar e livremente comunicar a quem quiser, e assim d-lo a seu Amado.; que o mesmo Deus que a ela se deu; donde tudo paga.V quanto a Deus deve, dando-lhe livremente quanto d'Ele'1 recebe".192 Emhora ultrapassem o humano, entender, esse4 dar e recambiar, essas trocas e mtuos dons, compreendi demos mui bem que meta mais sublime no poderia.' y i Doutor mstico propor, alma por.ele guiada na sendll do Monte da perfeio: amar Deus tanto quanto d'l^ amada! Compreendemos igualmente por que os santos** havendo experimentado a imensidade do_ amor cm qual Deus Os ama, ardem em desejo de amar sempre maisj|' para igualar este amor de que se sentem amados. Cornai prendemos, enfim, compungidos, a Objurgao em qtiL Joo da Cruz prorrompe, ao terminar, a .descrio d&f itinerrio mstico; objurgao, j nossa conhecida, e quel se nos afigurara qui extremada, mas agora refulge ' nossos olhos, desenganados: "O' almas criadas para esj tas grandezas e para elas chamadas, que fazeis e er# que vos ocupais? Bixezas so vossas pretenses e iam srias vossa orjulncia!'O' miservel cegueira.dos olhjp da alma! ^Sois^cegos para tamanha luz" moucos' parv Francisco de Assis explanou . ao manso Frei Leo, que Piedosos devaneios? Incio de Loiola implorava ^Exagero '-de uma para si e para os seus, que religiosidade mrbida? Joo da Cruz anelava Lembremos que Jesus,^a fim quando, ao caminhar de Jaen de proclamar a. nova lei, a Bujalancey interrogou seu subiu ao Monte que deveria companheiro, Frei Martinhoser o segundo Sinai, e da Assuno: "Suponhamos ensinou solenemente a^ que homens inimigos nos todos s povos e a todas, as viessem agredir a pauladas, pocas, as oito bemcomo o suportaria Vossa aventuranasC Qual a' Caridade?" "Favorecendo ltima, coroa das demais? Deus, eu o levaria "Bem-aventurados sereis pacientemente", contestou o quando vos; repelirem e outro; e Joo da Cruz, com carregarem de injrias .' e indignado fervor: "E' asrejeitarem vosso nome como

Cap. 213 V: O Amor Padecente 212 Penido, Itinerrio Mstico de S. Joo da Cruz sim tibiamente que de novo encer'* rado numa respondeis? Pois no sentis igual, para ocupar-me desejo grandssimo de somente de Nosso Se nhor padecer o martrio por Nosso Jesus Cristo, e por Ele sofrer!" Senhor Jesus Cristo?" 20 Soa Os que esto sempre a dizer que, pois Deus no lhe contrastar a "sombria pie-::; concedia o martrio de dade medieval e moderna" sangue, desejava o de com a "triunfal alegria" da., trabalhos, e que aos mrtires piedade crist "primitiva", no invejava tanto o prmio olvidam que esta alegria jor-s alcanado quanto o haver rava do sofrimento; assim o padecido por Cristo.21 Relatava nosso mais antigo qui uma experincia documen^* to hagiogrfico, pessoal ao escrever: "Est o "Martrio de Policarpo", uma alma inflamada em pinta o san*{ to ancio grandes desejos de ser mrtir, levado ao suplcio e acontecer que Deus lhe "transbordante de coragem," responda, dizendo: "Tu sers e alegria", o semblante mrtir", en-ichendo-a "resplandecente de graa"; interiormente de grande pos-5 to sobre a fogueira, consolo e confiana na exultou e prorrompeu em promessa. Contudo, no ao dej graas: "Eu te morrer mrtir. A promessa, abenoo, Senhor, por me entretanto, ser verdadeira... teres julgado! digno deste dia pois cumpriu-se quanto ao e desta hora, digno de principal e essencial: o que alistar-me entr23 A a alma formalmente desejava, teus mrtires, de beber com a saber, d amor e a eles o clice de. Cristo.& Por recompensa do martrio, Deus esta graa e por todas as lhos d. Pois ela desejava no coisas eu te louvo, abi, oo j aquela determinada morte, e glorifico, pelo eterno e mas servir a Deus e am-lo como os mrtires.; Sem esse sumo sacerdote do cetf" amor, de nada vale o gnero Jesus Cristo teu Filho muito de morte; ora, o amor, o ato e amado. Por Ele seja gl-' ria a o prmio de mrtir, Deus lhos ti, com Ele e o Esprito Santo, concede por outros meios, agora e nos sculos mui acabadamente. De maneira que, (embora no vindouros".24 Religio da morra mrtir, queda.-se muito alegria, sim, mas da alegria satisfeita, por, ise lhe ter dado que tristeza transmutada o que desejava".22 J no (Jo 16, 20); transmutada pelo crcere de; "Toledo, Joo da amor. O Amor, e s ele, Cruz, saboreara a bemavertturana d&i ".martrio, converte o Calvrio em Tabor. pelo que considerava como os Por isso, Joo da Cruz, mais venturosos de sua vida sentindo que se os meses que vivera encaminhava para o termo perseguido, e suspirava: da terrena vida, derramou, "Minha cara prisozinha, m Segvia, aos ps de morada de glria, j aprouvera a Deus fosse eu, nesta hora, Cristo padecente, um novo

Cap. 213 V: O Amor Padecente 212 Penido, Itinerrio Mstico de S. Joo da Cruz cooperar com Deus na pedido da mais alta salvao das almas". Nesta beatitde: "Sofrer e ser obra resplandece a atividade desprezado por Vs". prpria de Deus e grande glria imit-lo. Eis por que O Apostolado dos Cristo Senhor Nosso Contemplativos. denomina-a "obras de seu Pai", de que cuida seu Pai. Prece do amor generoso, Dizia ainda o Santo ser prece do amor compadecido, verdade evidente que a a orao de Segvia era compaixo pelo prximo tambm prece do amor cresce na medida em que a zeloso. N pretender alma mais estreitamente se monopolizar o amado, antes une a Deus pelo amor. Mais desejar sab-lo por muitos ela ama, mais deseja que querido, prprio do puro e esse mesmo Deus seja de desinteressado amor. Grande todos amado e honrado; mais erro serja, pois, imaginar que cresce tal desejo, mais os autnticos contemplativos trabalha para esse fim, tanto s cuidam de si; muito ao na' orao quanto nos contrrio, a chama qe lhes demais exerccios que pode devora o corao faminta empreender. To afervorada de conquistas apostlicas. e flamejante a caridade desQuereriam trazer a huta alma assim possuda de manidade inteira aos ps do Deus, que se no pode lidivino Amigo; sentem o peso mitar procura do proveito dos pecados do mundo, prprio nem dele se conanseiam por expi-los todos. tentar; afigura-se-lhe pouca No apesar de serem coisa subir sozinha as cus; contemplativos, por serem donde, com solicitude e afeto contemplativos, que Teresa a celestes e com diligncias arttiga e a modernssima esquisitas, forceja por levar Teresinha, ardiam em sede consigo muitos outros. Efeito das almas; nem sem motivo do grande amor que dedica a que Pio XI constituiu a Deus; fruto da orao e carmelita de Lisieux padroeira contemplao perfeitas.Certo das Misses. Quanto.a.Joo da dia, em Granada, durante .o Cruz, interpretando as recreio, Joo da Cruz dcupoupalavras de Cristo: "Nose em ajuntar pedrinhas para sabeis que,me devo ocupar formar um montculo; depois, das coisas de meu Pai?" (Lc 2, dividiu-o em diversos outros, 49), dizia que essas coisas do menores, e tomando um dos Pai nada mais significavam seixos ps-se a consider-lo, que a Redeno do mundo e o perdido em reflexes. Ao bem das almas, pra o que cabo de algum tempo, empregou Nosso Senhor os verificando que os religiosos meios preestabelecidos pelo observavam-ro, disse-lhes: Padre eterno. Acrescentava "Esses pequenos montes que S. Dionsio o Areopagita,, figuram as diversas partes do confirmando essa verdade, mundo e vejo que em exarou a maravilhosa, sentennenhuma delas nosso a: "De todas as coisas verdadeiro Deus e-jSerihor divinas, a mais divina

Cap. 213 V: O Amor Padecente 212 Penido, Itinerrio Mstico de S. Joo da Cruz conhecido, salvo nesta aqui, modernas" de apostolado, to pequena, e . ainda desta, este no surte o efeito Sua Majestade disse: poucos esperado, no ser talvez por so os escolhidos. .."25 apoiar-se mais sobre meios 26 Entendemos agora por que, humanos que sobre a se bem amasse tanto estar participao Cruz de recolhido e retirado, Joo da Cristo? Cruz no perdia ocasio de Conformar-se com Cristo servir o prximo, sobretudo padecente; com Ele imolar-se como confessor e diretor de na ara da Cruz, a fim de almas. Com muito gosto cooperar em sua obra acudia a tratar do salvfica; acabar "o que falta paixo de Cristo", eis mais aproveitamento e perfeio, uma fonte donde jorrava ,a no apenas das almas prece de Segvia. E foi religiosas, seno tambm; de atendida risca. grandes e pequenos, ricos e pobres, doutos e ignorantes, O "Trapo Velho". sem accepo de pessoas. Mais temvel que a Incansvel, assistia horas a fio d'Toledo, nova procela se no confessionrio, para abateu sobre Joo da Cruz. grande proveito das almas; Doravante, no mais sero, frades mitigados os algozes, nem se contam as que fez seno os mesmos mudar de vida ou trouxe a reformados, alguns filhos do 27 grande perfeio. Po- ', rm Santo, que abandonaro o. Joo da- Cruz sabia que muito modelo e pai espiritual; se mais do qu qualquer obra de levantaro at contra ele e o cobriro de oprbrios. zelo, o sofrer com Cristo Nicolau Dria, genovs, ganha almas " para Cristo. ' antigo banqueiro de Filipe II, Maria tornou-se Me espiritual fora eleito, em 1585, superior dos homens, compadecendo dos carmelitas reformados. aos ps da Cruz onde Jesus Desptico e fantico, padecia. O amor redentor s entendia reger a Ordem com pode ser amor crucificado e j virga frrea; ainda as regras citamos o texto soberbo no de S. Teresa no se lhe afiguravam bastante severas. qual o Doutor mstico recorda Certa feita, ouvindo 1er no que\ foi no momento preciso refeitrio um livro asctico em que Cristo se encontrou que recomendava prudncia ani- 1 quilado e como e discrio nas penitncias, resolvido em nada sem prescreveu, indignado, que vida, sem; honra, sem amparo se lanasse o Volume ao de seu Pai que Ele realizou fogo, e como lhe ponderassem que a obra a obra imensa: reconciliar o continha muito conselho gnero, humano com Deus.28 proveitoso, exclamou: "Que Se, embora todas as "tcnicas poder ter de bom, com um

Cap. 213 V: O Amor Padecente 212 Penido, Itinerrio Mstico de S. Joo da Cruz captulo igual? Tirem-no deste de confiana da Fundadora, convento, e no mais seja lido foi alijado da Ordem.33 Ana aqui! Penitncia, meus de Jesus, da qual Joo da padres, penitncia! Perdem-se Cruz afirmava que "em dons as almas com essa prudente sobrenaturais igualava Madre discrio!" 29 Quo diverso o Teresa e a ultrapassava Doutor mstico, ele que nos naturais" 34, Ana de Jesus conhecia o perigo da algofilia e condenava os ascticos viu-se despojada de carfrenticos apegados " gos e direitos, privada de penitncia animal, ' a que se comunho salvo pela Pscoa. inclinam pelo desejo e gosto A priora de Lisboa, Maria de que nela encontram, o que S. Jos, uma das filhas prprio de mais queridas de S. Teresa, animais".Lamentoso, deplora que a nomeara primeira um velhocronista o autocratis-mo desumano do superiora de Sevilha, viu-se ex-banqueiro: "Em 30 condenada a nove meses se tratando de genoveses e de priso, a porta trancada a venezianos, que governam cadeado. Joo da Cruz toursos, tigres e lees, v l que mara a, defesa. de Gracin e usem varas de ferro e sobretudo das carmelitas, levantem brao sobre os filhas suas diletssimas. Bem pescoos ensanguentados,, sabia o que lhe custaria: para redftzi-los. razo e "Serei atirado a um canto impedi-los de perturbar' a qual trapo velho", repblica; mas na religio, e predissera.35 mormente, na religio De fato, em Junho de 1591, o reformada, onde todos so captulo de Madrid priovelhas simples, obedientes e vava-o de seus cargos; dceis!" 31 Entendeu o furioso pensaram em degred-lo que devia reformar as para o constituies teresianas, arroMxico, mas contentaram-se xar o jugo at torn-lo de, exil-lo, penitenciado, intolervel.32 Numa palavra, para o ermo de Penuela, na queria substituir o amor pela Sierra Morena.36 Um enerfora. A Santa no mais gmeno comeou at a estava sobre a terra para instruir-lhe o processo, no defender sua obra; todavia intento houve protestos e d expuls-lo da Ordem. Frei .resistncias de parte de seus Diogo Evangelista,' filho discpulos espiritual do Santo e que lhe fiis. Dria mostrou-se sucedera no'cargo de deimplacvel na represso. Subfinidor geral, apenas metido a processo inquo, o P. empossado, aproveitou iog Jernimo Gracin, homem do pri-

Cap. 213 V: O Amor Padecente 212 Penido, Itinerrio Mstico de S. Joo da Cruz por quase um quartel de meiro recreio pra dirigir a sculo os vinha instruindo no Joo da Cruz palavras pecaminho da santidade, pela sadas que este recebeu com palavra inspirada e sobretudo candura de novio. Mais tarpelos mais hericos de, comissionado para colher exemplos! Detestar quem irradiava Amor! Suspeitar informes contra Gracin, deJoo da Cruz de seduzir cide com a conivncia pelo monjas!... Mas ele pedira a menos tcita de Nicolau desonra para imitar seu Dria envolver Joo da Cruz amado Cristo, que morreu no processo. Corre os desonrado. Por isso, nesse transe, sofria com paz, conventos de frades e freiras serenidade, mansido e da' Andalusia, fazendo persumo amor. Nunca exalou a guntas ora insidiosas, ora' mnima queixa contra Frei escandalosas, sobre a Diogo.39 Escreveu apenas a conduta Ana de S. Alberto, priora de Caravaca: "Minha filha, j do Santo. Fulminando ter sabido os'muitos censuras ou valendo-se de trabalhos que padecemos. embusDeus o permite-para a glria tes, tenta extorquir das de seus escolhidos. No carmelitas acusaes silncio e no esperana infamantes.87 estar nossa fortaleza. Encomende-me a Deus; que Visitava o carmelo de Ele a torne santa".Joo da Sanlcar de Alpechn, quando Cruz, entretanto, praticava soucom suma perfeio o que be da morte de Joo da Cruz e outrora ensinara s declarou s freiras escarmelitas de Beas: "Persuade-te que ho vieste tupefatas:' "Se no tivesse ao convento seno pra ser morrido, haveriam de tirartrabalhado e exercitado por lhe o hbito e expuls-lo da todos. Por conseguinte, a fim religio".38 . ... d livrar-te das imperfeies Nada fere nossa e perturbaes que podem sensibilidade crist como d provir, seja da condio, seja espetculo . por demais do trato dos rejigiosos^e frequente das perseguies para tirar proveito de movidas aos santos por quem qualquer acontecimento, mais os deveria entender e convm pensar que todos os venerar. Que inimigos da f que esto no convento so dessem combate a Joo da domo de fato o so oficiais Cruz, normal; que religiosos encarregados de trabalhar-te, relaxados lhe fossem inuns pelas palavras, outros fensos, compreensvel pelas obras, outros pelos ainda; mas que frades pensamentos adversos. Em observantes e at todas as ocasies, hs de ser observantssimos como Dria como a esttua que se presta se encarniassem contra o ora a quem a lavra, ora a primeiro descalo, aquele que quem a pinta,'ora a quem a

Cap. 213 V: O Amor Padecente 212 Penido, Itinerrio Mstico de S. Joo da Cruz doura".40 esculpira na alma.44 Sim, 41 Aos filhos e filhas espirituais divina mxima que alivia escrevia animando-os a se toda mgoa, torna leve todo mostrarem superiores s trabalho; fecunda todo provaes em. vez de se esforo! Enfim, a um frade, deixarem acabrunhar por entristecido por quererem elas, que padec-las com expulsar da Ordem o' pai gosto, sinal e prova do espiritual: "Filho, no se verdadeiro amor. Assim a Ana amargure porque no me de Jesus: "... por no haverem podem tirar o hbito seno sucedido as coisas como por^ser eu incorrigvel ou almejava, deve antes desobediente e eu' estou mui consolar-se e dar muitas preparado para emendar-me graas a Deus, pois havendo em tudo que tiver errado, e Sua Majestade assim obedecer em qualquer ordenado, o que a todos penitncia que me derem. . ." 46 mai.s convm"; depois" de . Perdeu-se o resto da .algumas frases consolatrias, missiva; apenas este remata: "Exercite-se nas fragmento nos foi como virtudes' de mortificao e providencialmnte pacincia, desejando tornarconservado para espelhar a se, pelo sofrimento, algo seconduta do perfeito religioso, melhante a esse grande Deus, em circunstncias humilhado e crucificado, pois objetivamente deesta vida, se no serve para salentadoras. No caso de imit-lo, de nada vale".42 A Joo da Cruz, com efeito, no outra religiosa: "... quanto ao estava em questo apenas que me diz respeito, no se grave injustia pessoal; era a aflija porque tudo isso no me mesma.obra de Teresa que causa aflio alguma. O que estava ameaada, o mesmo, muito me penaliza ver esprito do Carmo que se inculpar quem culpa no tem. esvaa. Sobravam-lhe Essas- coisas no so obra motivos' pra deixar a Ordem humana; Deus que sabe o e realizar o sonho da que nos convm, 'que as juventude: a Cartuxa. ordena por nosso amor. No Entretanto, no s no pense outra coisa seno que abandonou a famlia religiosa tudo ordena Deus. E onde no como, inocent