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COMITÊ DE IMPRENSA Jornalismo Sigma Mundi 2017 Fevereiro de 2017 O Jornalismo Internacional no cenário de Globalização do Século XXI Ana Luisa Padilha Figueira Mariana Bitencourt Santos 1. Introdução Mas como a comunicação vem afetando ou constituindo a nova ordem mundial? Ao longo dos últimos anos, vimos assistindo a uma enorme revolução relacionada aos impactos e desdobramentos das novas tecnologias de informação e comunicação (...) O processo de valorização da informação tem forte impacto na maneira de a sociedade se organizar e produzir (PEREIRA & HERSHMANN, 2013, p. 32). A partir do final do século XX, os meios de comunicação passam a adotar novas tecnologias que, além de desenvolver a ciência em geral, intensificam e generalizam a importância e o predomínio da mídia na formação da opinião pública (IANNI, 1998). Logo, o jornalismo se modifica. Mas, antes, é interessante entender que o jornalismo é essencial no cotidiano de qualquer sociedade complexa. É através da cobertura jornalística que todo o planeta tem acesso à informação e aos acontecimentos ocorridos em outros cantos do mundo, como guerras, eleições, desastres naturais, entre outros. Porém, a atividade de um jornalista vai muito além desse mero repasse de informação. É a partir dessa profissão que a população tem acesso ao conhecimento, desenvolvendo, assim, o senso crítico e a liberdade de pensamento, indispensáveis na vida do indivíduo. O jornalismo é tão árduo quanto fascinante, e o seu exercício traz, em doses quase equivalentes, objetividade e subjetividade. Se há uma história a ser contada, cabe ao jornalista ouvir versões diferentes, colher depoimentos conflitantes, analisar dados e relatar fatos. Com avanços e recuos, tenta encaixar as peças do quebra-cabeça. Sua missão é a busca do conhecimento (TAVARES, 2011, p. 9).

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COMITÊ DE IMPRENSA

Jornalismo

Sigma Mundi 2017

Fevereiro de 2017

O Jornalismo Internacional

no cenário de Globalização do Século XXI

Ana Luisa Padilha Figueira

Mariana Bitencourt Santos

1. Introdução

Mas como a comunicação vem afetando ou constituindo a nova ordem

mundial? Ao longo dos últimos anos, vimos assistindo a uma enorme

revolução relacionada aos impactos e desdobramentos das novas tecnologias

de informação e comunicação (...) O processo de valorização da informação

tem forte impacto na maneira de a sociedade se organizar e produzir

(PEREIRA & HERSHMANN, 2013, p. 32).

A partir do final do século XX, os meios de comunicação passam a adotar

novas tecnologias que, além de desenvolver a ciência em geral, intensificam e

generalizam a importância e o predomínio da mídia na formação da opinião pública

(IANNI, 1998). Logo, o jornalismo se modifica. Mas, antes, é interessante entender que

o jornalismo é essencial no cotidiano de qualquer sociedade complexa. É através da

cobertura jornalística que todo o planeta tem acesso à informação e aos acontecimentos

ocorridos em outros cantos do mundo, como guerras, eleições, desastres naturais, entre

outros. Porém, a atividade de um jornalista vai muito além desse mero repasse de

informação. É a partir dessa profissão que a população tem acesso ao conhecimento,

desenvolvendo, assim, o senso crítico e a liberdade de pensamento, indispensáveis na

vida do indivíduo.

O jornalismo é tão árduo quanto fascinante, e o seu exercício traz, em doses

quase equivalentes, objetividade e subjetividade. Se há uma história a ser

contada, cabe ao jornalista ouvir versões diferentes, colher depoimentos

conflitantes, analisar dados e relatar fatos. Com avanços e recuos, tenta

encaixar as peças do quebra-cabeça. Sua missão é a busca do conhecimento

(TAVARES, 2011, p. 9).

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Abreu (2003) lembra que, no Brasil, a partir do fim da Ditadura Militar (1964-

1985), a mídia se tornou uma das mais importantes instituições co-participantes da

construção da cidadania. E, portanto, além de entender a importância do trabalho do

jornalista, é necessário também relembrar que o direito à informação é garantido, tanto

no Artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos – “Todo ser humano tem

direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem

interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por

quaisquer meios e independentemente de fronteiras” – quanto no Artigo 5º, Inciso XIV

da Constituição Federal de 1988 – “é assegurado a todos o acesso à informação e

resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional”.

As notícias sobre os fatos sociais, econômicos, políticos, culturais, religiosos,

demográficos, ecológicos e outros são registradas, selecionadas, organizadas,

enfatizadas, minimizadas ou esquecidas, ao mesmo tempo em que são

difundidas pelos quatro cantos do mundo (IANNI, 1998, p. 38).

Com isso, levando em consideração o direito à informação garantido nessas

instâncias civis e a importância da democratização da comunicação, os fatos mundiais

devem sempre ser transmitidos com a melhor qualidade possível. Neste capítulo, que

teve como principal referência para pesquisa o livro Jornalismo Internacional, de João

Batista Natali, de 2004, foram analisadas as formas com as quais a informação,

principalmente a internacional, chega ao acesso da população. Além disso, destacam-se

alguns exemplos nesse estudo, como o evento do 11 de Setembro, a Primavera Árabe e

o Genocídio em Ruanda. O trabalho também abordará a cobertura dos comitês das

Nações Unidas e o papel do jornalista que atua no local, além de um histórico sobre o

tema no mundo e no Brasil.

2. Jornalismo Internacional e seu princípio

O Jornalismo Internacional pode ter como criação o início da Idade Moderna.

Apesar de ser uma data muito distante, foi com o surgimento das primeiras navegações e

do desenvolvimento do sistema capitalista do Mercantilismo, no final do século XV, que

o jornalismo internacional começou a se desenvolver. A partir do início do período de

navegações, iniciou-se também a necessidade do compartilhamento de informações

entre as nações.

Saber sobre os novos territórios descobertos, os preços das mercadorias e as

guerras que aconteciam no período interessava às nações envolvidas e aos consumidores

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do século. Todas essas notícias, que eram transmitidas por cartas, afetavam diretamente

as relações comerciais das grandes potências que estavam sendo desenvolvidas na Idade

Moderna.

Dessa forma, pode-se considerar que, com o formato de coleta e difusão das

notícias vindas das chamadas “terras distantes”, o jornalismo já nasceu internacional. A

informação era comercializada como instrumento de poder e negócios. “O jornalismo

internacional, nos primórdios do jornalismo, era o único tipo de jornalismo conhecido”,

afirma João Batista Natali (2004).

A partir do século XIX, período em que os jornais impressos já estavam mais

consolidados, iniciou a diferenciação entre os periódicos. O consumo era diferenciado

entre os veículos destinados à burguesia, à classe operária e à população do campo,

todos usados como ferramentas essenciais para a economia (NATALI, 2004).

Um dos primeiros acontecimentos de cobertura internacional foi a Guerra Civil

Americana, ocorrida entre 1861 e 1865. Cerca de 150 correspondentes foram para o

local de conflito e isso acabou consolidando a profissão de jornalista internacional. As

redações já estavam estabilizadas e mais experientes, mas o objetivo da cobertura

americana era outro: obter informações ao menor custo possível (NATALI, 2004).

Dessa forma, os jornalistas encontraram a solução de produzir o mesmo conteúdo para

diversos órgãos de imprensa, trabalho feito pelas atuais agências de notícias.

3. Síntese do Jornalismo Internacional no Brasil

No Brasil, durante o período de monarquia, divulgar informações pertinentes

para a comunidade era objetivo secundário dos governantes (NATALI, 2004). O

noticiário exterior era consideravelmente ausente no cotidiano do jornalismo brasileiro

no início do século XIX. Esses fatos podem ser explicados por alguns pontos, como a

atualidade defasada dos acontecimentos. As notícias chegavam ao Brasil de navio, com

cerca de, no mínimo, seis semanas de atraso. Outro fator que prejudicava o acesso à

informação da população residente no Brasil era que, geralmente, as notícias que para

cá vinham estavam escritas em idiomas diferentes do português.

Transportada por navios, a informação chegava, devido à localização geográfica

do Brasil, primeiramente na cidade de Recife, depois no Rio de Janeiro e, por fim, em

São Paulo. A dependência dos navios era muito grande: caso os navios não chegassem,

não haveria notícias (NATALI, 2004). Foi apenas em 1874 que o Brasil parou de

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depender de navegações para ter acesso a informações estrangeiras. Nesta data, ocorreu

a primeira troca de mensagens por telégrafo, cabo que era estendido por todo o Oceano

Atlântico que promovia melhor comunicação entre Brasil e Europa.

Em certo momento da história do Brasil, no final do século XIX, o país entrou

em um processo político de intensa imigração de europeus. Para o jornalismo, a

consequência disso foi a demanda de jornais estrangeiros em território brasileiro.

Portanto, a comunidade europeia passou a importar periódicos, como o Germania, para

os alemães, e o italiano Fanfulla.

Mesmo sendo uma boa fonte de informações dos acontecimentos da Europa,

vale lembrar que esses jornais estrangeiros tinham como público alvo os moradores de

seus países de origem e não os imigrantes que moravam no Brasil. Também continham

uma linguagem totalmente diferente da utilizada pelos atuais correspondentes

internacionais, por exemplo. Esses profissionais devem morar em outro país, mas relatar

fatos interessantes, principalmente, à população do país do veículo para o qual trabalha.

Os jornais estrangeiros que circulavam no Brasil tinham enfoque totalmente

diferente dos veículos nacionais que cobriram a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Jornalistas brasileiros foram enviados para a Europa para acompanhar, principalmente, a

atuação dos soldados do país nos combates de guerra (NATALI, 2004). Nesse caso, o

enfoque foi essencialmente voltado para o Brasil. Por outro lado, voltando à Primeira

Guerra Mundial (1914-1918), os jornais nacionais não enviaram repórteres para

acompanhar o acontecimento, e, assim, os veículos brasileiros se viram totalmente

reféns das vagas informações provenientes das agências de notícias da época.

O rádio, existente desde a metade do século XIX, só passou a ser de fato um

meio de comunicação em 1919, na Holanda, com o seu primeiro boletim informativo.

No Brasil, o primeiro programa de notícias foi ao ar apenas em 1941, quando, pela

Rádio Nacional, foi transmitido o primeiro Repórter Esso. O programa chegou,

inclusive, a transmitir a cobertura da Segunda Guerra Mundial. As informações

utilizadas nos boletins brasileiros eram fornecidas pela agência UPI (United Press

International) e, portanto, acontecimentos ocorridos no exterior foram, de fato,

implantados no cotidiano jornalístico brasileiro. A CBN (Central Brasileira de Notícias)

foi a primeira rádio brasileira a ter programação exclusivamente jornalística.

Em 1950, as transmissões de televisão foram inauguradas no Brasil com a TV

Tupi. Antes da tecnologia de transmissão por satélite, as películas de vídeos eram

transportadas por avião e podiam demorar cerca de um dia até serem transmitidas para a

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população. O aparelho em cores chegou à casa dos brasileiros em 1972. Com isso,

entende-se que o monopólio da informação nunca foi totalmente da mídia impressa, os

veículos de papel sempre precisaram competir e continuaram competindo com mídias

como o rádio, a televisão e, atualmente, com a dinamicidade trazida pela Internet.

Hoje, a produção de conteúdo televisivo internacional ainda é refém das

agências de notícias. As imagens são sempre iguais, tanto para um habitante do Vietnã,

quanto da Austrália ou do Brasil. O resultado disso é que as imagens ficam com

informações muito rasas e insuficientes para agradar ao público. Por exemplo, se não

houver nenhum jornalista brasileiro em um local de guerra, dificilmente os produtores

das agências irão procurar encontrar vítimas brasileiras ou entrevistar autoridades do

Brasil naquele país (NATALI, 2004).

3.1. O cotidiano da editoria Internacional no Brasil

No Brasil, o jornalismo internacional, com correspondentes internacionais e as

editorias de Mundo, ganhou grande repercussão no período da Ditadura Militar (1964-

1985). Como os jornalistas que trabalhavam no país sofriam grande repressão e censura

em pautas sobre a realidade da ditadura brasileira, cabia às editorias internacionais a

função da subversão, como os próprios militares denominavam. Já que, no Brasil, o

trabalho do jornalista era censurado, eram com as informações vindas de fora que o

repórter tinha a oportunidade de exercer sua função sem podas e com profissionalismo.

Devido às novas tecnologias e à facilidade de acesso à informação, o custo de

apuração nas editorias de Mundo dos jornais brasileiros se aproxima de zero (NATALI,

2004). A tecnologia de transmissão da informação encurta a distância entre a sede de um

jornal e a origem de seus acontecimentos. Tendo em vista que a editoria internacional

nem sempre tem correspondentes em outros lugares do mundo, esses núcleos acabam

dependendo das agências de notícias, tema já discutido neste estudo.

Dessa forma, a partir do momento que as editorias recebem uma enxurrada de

informações das agências de notícias, vale analisar que nenhuma outra editoria

descarta/filtra tantos fatos quanto as internacionais (NATALI, 2004). Esse descarte leva

a outra qualidade da editoria: o critério em selecionar e definir quais informações irão ou

não virar notícia no veículo que se fala.

Como explica Natali (2004), o jornalismo não é ciência, mesmo que o fato seja

o mesmo, a notícia não tem o mesmo viés em qualquer lugar do mundo. Então, entende-

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se que quem define o valor-notícia da informação é o leitor, e, nem sempre, o repórter

ou o editor. Não adianta tentar explicar a queda de um avião chinês com a mesma

importância para populações da China e da Argentina, por exemplo.

Mauro Wolf (em Teorias das Comunicações de massa, 2003) define os

valores-notícias como “critérios de noticiabilidade”. Também costumam ser

chamados de “fatores de interesse da notícia”. O valor-notícia é um conjunto

de características que desperta a atenção, provoca o interesse ou confere

relevância a determinados fatos que serão reunidos sob a forma de um

produto específico do jornalismo, a notícia (JORGE, 2008, p.28).

4. A estratégia das agências de notícias

Em 1835, foi criada por Charles Havas a primeira agência de notícias do

mundo, a atual Agence France-Presse (AFP). A história das agências de notícias

também anda junto com a história de todo o jornalismo, especialmente o internacional.

Foi por meio do teletipo, instrumento muito usado pelas agências para transmitir a

informação de um país para o outro, que mais uma redução de custos foi alcançada no

cotidiano das editorias internacionais. Com as mensagens sendo transmitidas por ondas,

os jornais não dependiam mais da espera de navios ou aviões para o recebimento das

notícias. Esse instrumento de transmissão de dados via rádio paralisava a redação. No

Brasil, por exemplo, foi em virtude do barulho emitido pelo sininho do teletipo que os

jornais do país ficaram sabendo do ataque nuclear americano com a bomba atômica na

cidade japonesa de Hiroshima, no ano de 1945.

Voltando à Guerra de Secessão, em 1865, a agência de notícias britânica

Reuters foi a primeira a noticiar, em território europeu, o assassinato do presidente

americano Abraham Lincoln. Ainda no processo de criação, as agências de notícias

deram visibilidade econômica ao que acontecia em vários outros lugares do mundo. Os

veículos locais passaram a consumir mais notícia internacional justamente por elas

serem mais baratas e de fácil acesso: contratar o serviço de uma agência sai mais em

conta do que sustentar um correspondente internacional em um país estrangeiro

(NATALI, 2004).

Entretanto, a contratação de serviços das agências de notícias não é totalmente

benéfica. Principalmente para vender mais e não perder clientes, as empresas

desenvolvem uma postura de mercado que leva ao apartidarismo do noticiário

(NATALI, 2004). As notícias eram repassadas para os jornais sem muito detalhes e

pensamento crítico, omitindo certos acontecimentos para não prejudicar suas imagens.

Esse modelo de trabalho das agências de notícias levaram o jornal britânico The

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Guardian, em 1871, durante a guerra franco-prussiana, a enviar correspondentes tanto

para o lado francês, quanto para o prussiano, para uma cobertura mais justa da guerra

em curso.

As mentalidades e as correntes de opinião pública, bem como as noções e as

interpretações sobre muito do que ocorre no mundo, em âmbito local,

nacional, regional e mundial, tudo isso está cada vez mais decisivamente

influenciado pelas empresas, corporações e conglomerados que atuam no

âmbito da mídia, cultura de massa e indústria cultural (IANNI, 1998, p. 37).

“A despeito das diferenças e distâncias econômicas, políticas e culturais, as

agências internacionais fornecem mais de 70% de tudo o que se ouve, lê ou vê sobre o

mundo no Brasil” (MOREIRA, 1996). Interessante pensar que essa citação, de 1996,

indicava um cenário em que o Brasil enviava poucos correspondentes internacionais

para o exterior, recorrendo quase que totalmente às agências de notícias. Sônia Virgínia

Moreira (1996) explica que, com a crise econômica – brasileira e mundial – da década

de 1980, os meios de comunicação se viram reféns de cortar gastos, diminuir a

contratação de correspondentes internacionais e partir para a dependência das agências.

Isto gerou um olhar euro-americanizado – visto que as principais agências de notícias

são norte americanas e europeias, como a United Press International, Associated Press,

Agence France-Presse e Reuters – dos acontecimentos internacionais, influenciando

diretamente o pensamento social, político e cultural da comunidade que recebe a notícia,

geralmente países em desenvolvimento.

Essa preferência por receber fatos das agências de notícias resulta em mais

páginas dos jornais e mais posts virtuais de notícias internacionais referentes aos

Estados Unidos e a países europeus do que outras nações do resto do mundo, gerando

menos destaque para pautas africanas ou asiáticas, por exemplo. Portanto, cabe à

cobertura nacional diminuir esse distanciamento cultural provocado pelas agências e

aproximar o leitor da realidade do seu país.

Resultado dos períodos sucessivos de crise econômica atravessados pelo

Brasil, a ausência de correspondentes próprios em locais estrategicamente

importantes para o país provoca na maioria das vezes um enfoque superficial

e distante da realidade brasileira, ao lado da manutenção de uma dependência

ainda excessiva do material jornalístico produzido por agências de notícias

estrangeiras (MOREIRA, 1996, p. 4).

Essa problemática respinga até mesmo no fotojornalismo. Indo para o ponto de

vista técnico do fazer jornalístico, até mesmo as fotos vindas de uma agência de notícias

não têm direcionamento específico e são sempre dependentes do olhar sensível do

fotógrafo. Em uma cobertura feita em um país em guerra, um correspondente

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internacional brasileiro, por exemplo, além de acompanhar os acontecimentos ocorridos

na tragédia, iria trabalhar para apurar informações sobre possíveis vítimas brasileiras,

assim como buscar dados na Embaixada do Brasil, atitudes não esperadas por repórteres

de agências de notícias.

5. O trabalho do Correspondente internacional e do Enviado Especial

A palavra correspondente pode ser interpretada como a pessoa que leva a

correspondência e, esta, podemos entender como notícia, fato, informação, etc. Para o

contexto globalizado em que vivemos, é necessário haver trocas de informações entre os

países do mundo. Essa é uma das funções dos correspondentes internacionais e dos

enviados especiais.

O correspondente internacional vive no exterior, enviando matérias

rotineiramente para redação do veículo de seu país de origem. Ele é autopautado, ou

seja, é quem decide a pauta a ser coberta com os assuntos mais relevantes ao seu

público alvo e o foco que irá abordar (ELHAJJI, 2005). É imprescindível que este

profissional mantenha contato constante com as autoridades estrangeiras, assim como

celebridades e até mesmo com a população, para tê-las como fontes de informação. Este

jornalista é encarregado por fazer coberturas sobre o cotidiano, a política, a economia e

a cultura do outro país e de regiões próximas. Por viver algum tempo e ter outras

experiências em um país diferente, o correspondente possui uma visão diferenciada da

população de seu país de origem e, assim, fornece mais informações a esta.

Ser correspondente internacional deveria significar uma vontade muito

grande de viajar pelo mundo a qualquer custo e sempre em busca de boas

pautas com pouquíssimo dinheiro no bolso, muitas idéias ou pautas na cabeça

e muita coragem para enfrentar as dificuldades (ELHAJJI, 2005, p. 63).

Já o enviado especial fica menos tempo fora de seu país. Tempo necessário

apenas para acompanhar um acontecimento específico e depois retornar à redação de

origem (ELHAJJI, 2005). Com tanta diversidade de assuntos, como notícias que

permeiam desde novas descobertas da NASA (National Aeronautics and Space

Administration), a um terremoto no Sudeste Asiático ou a uma disputa de territórios no

Oriente Médio, o repórter deve sempre ter conhecimento variado, saber um pouco de

tudo, dominar conhecimentos gerais e ter boas fontes de contato e consultas de

informações.

É o editor de redação quem escolhe o jornalista mais apto para essa função.

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Para isso, é necessário, que este possua um conhecimento prévio da situação e do local

para melhor apurar e escrever (ELHAJJI, 2005). O editor também orienta o enviado

quanto ao foco que sua cobertura deve ter para melhor atender ao público alvo. O

enviado especial cobre eventos específicos no exterior, como, por exemplo, conflitos,

conferências internacionais, festivais, eventos esportivos, entre outros.

Um outro tipo de enviado especial é o correspondente de guerra. Ele é

encarregado pelo trabalho mais perigoso da área, por ficar próximo à zona de conflito.

Júlio César, aproximadamente em 50 a. c., escreveu sobre guerras, ao relatar, no livro

De Bello Gallico (50 a.C.), sobre a Guerra Gálica, na qual foi vitorioso. Entretanto, seu

relato é considerado mais uma crônica de guerra do que jornalismo propriamente dito.

Geralmente, o jornalista se hospeda ou mora em um país onde há uma melhor

infraestrutura, tanto para sua comodidade quanto para seu trabalho, mas pode cobrir

temas relacionados a um continente inteiro ou a regiões próximas ao país onde está.

Relacionado ao tema, também há os Stringers, que são jornalistas sem vínculos fixos

com veículos de mídia, uma espécie de freelancers internacionais. Eles podem produzir

matérias para várias empresas ao mesmo tempo e vão para locais onde os jornalistas

normalmente não vão, como países em desenvolvimento ou com pouca estrutura. Esses

profissionais têm a função de alimentar os jornais quanto a informações sobre esses

locais “isolados”.

As matérias de agências de notícias são usadas quando um jornal não tem

correspondente em um determinado país. Isso ocorre devido ao fato de que manter um

profissional no exterior pode ter um custo muito elevado, o que diminui a demanda por

novos jornalistas internacionais. Entretanto, há várias oportunidades para quem quer

entrar na área. Os correspondentes mais qualificados têm a oportunidade de trabalhar

nas Nações Unidas, tanto na sede, quanto em outras coberturas da Organização.

Uma outra alternativa aos correspondentes internacionais que os jornais usam

são os colaboradores fixos: pessoas com a mesma nacionalidade do jornal, que moram

em um determinado país e mandam matérias regularmente à redação. O valor pago a

eles é menor do que os jornalistas convencionais, pois não há gasto com moradia,

deslocamento, etc. Quem arca com essas despesas são os próprios colaboradores,

portanto, é uma forma de jornalismo internacional menos onerosa aos veículos.

A internet torna o trabalho dos correspondentes mais fácil. Ela traz mais

dinamicidade e praticidade. Essa tecnologia possibilitou a manutenção do contato rápido

entre repórter e veículo, assim como o envio de áudios, vídeos, fotos e textos quase que

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instantaneamente, o que é primordial para o jornalismo.

ElHajji (2005) afirma ainda que, com o passar do tempo, o jornalismo

internacional passou a ser um trabalho em que a pessoa visa interesses pessoais como

viajar e ter uma vida abastada às custas de terceiros. Isso implica em um problema que

vai de encontro à ética da profissão, visto que a função primordial de qualquer jornalista

é prestar um serviço, além de manter um compromisso social, informando e entretendo

a sociedade em geral.

5.1. O Público Alvo

O público alvo do jornalista internacional são os habitantes de seu país de

origem. O repórter deve escrever a matéria procurando atender às expectativas e

focando nos interesses de seus conterrâneos, obedecendo aos critérios dos valores-

notícia – o que torna o fato relevante para a população, como proximidade, relevância,

se há alguma autoridade no local, entre outros.

Segundo o site da Rede de Jornalistas Internacionais (IJNet), existem algumas

perguntas que o jornalista deve se fazer para garantir que os interesses de seu público

estejam presentes em sua matéria. O repórter deve saber para quem e porque este tema é

interessante; de que forma o público será afetado por este conteúdo; qual a pergunta que

ele está tenta responder na matéria (respondendo-a de acordo com o seu público alvo). É

imprescindível que ele pense nessas questões de modo a tentar garantir os interesses dos

habitantes de seu país.

É válido ressaltar também que o site propõe reflexões pertinentes a respeito

desse tema. Como exemplo disso, ele cita que o jornalista não determina a opinião que o

público deve possuir. O profissional deve apenas ficar atento aos assuntos que

interessam a população, visando cumprir com o que afirma McCombs e Shaw, na Teoria

do Agendamento (1972): os meios de comunicação indicam sobre o tema que as pessoas

devem falar ou achar interessante, mas não qual opinião devem ter sobre o assunto.

Dessa forma, o jornalista escreve sobre o que sabe que é importante e relevante para o

país, mas tem de revelar todos os lados da informação para não a manipular.

Assim, é interessante o jornalista internacional abordar temas que possam

acarretar em alguma consequência para o seu país de origem ou para o mundo; temas

que envolvam países próximos ou temas relacionados com acontecimentos do seu país

de origem.

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Entretanto, com a redução do número de correspondentes internacionais e

enviados especiais, o público-alvo fica submetido às agências de notícias que focam no

mundo como um todo e não em um grupo específico. Assim, a população de

determinado país pode se sentir prejudicada por não possuir todas as informações

necessárias, como, por exemplo, a forma que aquele fato afetará seu país.

“Ninguém pode se equiparar a um jornalista do veículo, que conhece bem o

seu público e a cultura nacional e tem experiência ampla dos fatos do país

onde trabalha. Não há mídia social, agência, TV, stringer que possa fazer isso”

resume Carlos Eduardo Lins da Silva, que foi ombudsman e correspondente da

Folha em Washington (COSTA, 2016).

Além disso, o repórter deve selecionar corretamente as informações de acordo

com o seu público alvo para não gerar um excesso de informações. Segundo a Teoria

Funcionalista da Comunicação, “a exposição a grandes quantidades de informação pode

causar a chamada ‘disfunção narcotizante’” (WOLF, 2008). Esta disfunção pode causar

a alienação das pessoas, pois elas somente irão procurar saber superficialmente sobre o

acontecimento e não irão se atentar aos detalhes, além de não procurar outras fontes de

informação, por haver muitas notícias acerca de um mesmo fato para serem lidas, além

de se perder a esperança em um bom jornalismo.

6. O trabalho do jornalista nas Nações Unidas

Não é todo jornalista internacional que pode fazer coberturas sobre a

Organização das Nações Unidas (ONU). É preciso ser um dos mais qualificados. Para as

coberturas especiais nas Nações Unidas, cabe ao jornalista explicar e descrever os

motivos que levaram ao conflito existente entre os países envolvidos, apresentar qual foi

a solução e de que forma os personagens envolvidos nesse conflito chegaram a ela. É

válido frisar que o jornalista é um importante canal entre a sociedade e seus

representantes, ou seja, ele deve falar o que a sociedade quer saber e transmitir aos

delegados o que precisam dizer à população, de forma a abordar todos os lados do

conflito.

Os jornalistas ficam presentes nos debates acompanhando o decorrer da

discussão. Eles podem, também, se houver necessidade, convocar uma coletiva de

imprensa para que possam fazer perguntas pertinentes ao debate e que interessem a

sociedade.

Não é difícil conseguir informações estando na sede da ONU, uma vez que

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existem vários tipos de fontes lá. As fontes principais que se usam numa cobertura das

Nações Unidas são os discursos dos delegados, os documentos produzidos –

principalmente a resolução – e entrevistas de background. As entrevistas são feitas com

os delegados fora da sala de reunião para não atrapalhar o andamento dos debates.

Ainda existem outras formas de conseguir informação: caso necessário, pode-se

consultar a própria equipe de informações das Nações Unidas e os recursos e bibliotecas

lá existentes (ELHAJJI, 2005).

No site oficial das Nações Unidas, é possível encontrar vários exemplos de

coletivas de imprensa feitas em sua sede. Em uma delas, o Conselho de Segurança das

Nações Unidas (CSNU) debate sobre reformas para a manutenção da paz, no qual foram

abordadas a situação da Líbia e do Estado Islâmico. Além disso, o CSNU, comitê de

decisões de caráter mandatório de adesão dos países, tem o seu programa de trabalho

mensalmente revelado no site da organização por meio das coletivas de imprensa e de

releases. O portal é a plataforma em que o presidente do mês responde a questões e

explica quais são seus planos para o Conselho nesse período.

Em 2015, a ONU ofereceu bolsas para os jornalistas que quisessem cobrir a

Assembleia Geral e trabalhar por tempo integral na imprensa. Isso representa um forte

incentivo a profissionais jovens, de 25 a 35 anos, que desejam desenvolver carreira no

jornalismo internacional em uma instituição máxima como as Nações Unidas.

7. A importância da mídia em conflitos internacionais

Segundo a Teoria Funcionalista, a mídia possui várias funções. Entre elas estão

o controle das tensões e o reforço das normas sociais. Ao não cumprir suas funções, os

meios de comunicação causam disfunções (WOLF, 2008).

[As disfunções] se manifestam no fato de que os fluxos de informação que

circulam livremente podem ameaçar a estrutura fundamental da própria

sociedade. Além disso, no âmbito individual, a difusão de notícias alarmantes

(sobre perigos naturais ou tensões sociais) pode gerar reações de pânico em

vez de vigilância consciente. (WOLF, 2008, p.57)

Um exemplo de disfunção que os meios de comunicação apresentaram pode ser

observado em 1994, em Ruanda. No livro de Allan Thompson (2007), The Media and

the Rwanda Genocide, é possível encontrar uma análise do genocídio ocorrido no país e

a sua relação com a mídia da época. No local, ocorria uma disputa de território entre

dois grupos étnicos distintos: tutsis e hutus. Na pesquisa, foi considerado que a tragédia

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pode ter se intensificado após o uso do rádio pelo segundo grupo ao incitar discursos de

ódio contra o primeiro.

Um outro exemplo em que a mídia influenciou negativamente foi no atentado

de 11 de setembro, ocorrido em 2001. Após a tragédia, algumas emissoras de televisão

apoiaram o então presidente, George W. Bush. Dessa forma, a população passou a

concordar também com as decisões por ofensivas bélicas do governo. Os meios de

comunicação da época tiveram papel importante para ajudar a Casa Branca a convencer

a população de que eram legítimos os ataques contra o Afeganistão e o Iraque.

Entretanto, a mídia não exerce apenas um papel negativo em conflitos

internacionais. Um importante exemplo disso é a Guerra do Vietnã (1955 - 1975). Nela,

a mídia colaborou para o término do conflito. Nacos (2007) afirma que a televisão, ao

mostrar imagens de mortos e feridos, colocou a opinião pública contra o governo

americano. A cobertura da morte de soldados dos Estados Unidos levou a diversas

manifestações públicas de norte-americanos. Este foi um dos inúmeros motivos que

resultaram na derrota americana em solo vietnamita.

Um último exemplo pode ser a Primavera Árabe. Ela nos mostra como a

Comunicação, no caso as redes sociais, contribuíram para a independência de inúmeros

povos. Um dos conflitos ocorrido em 2011 mostrou uma nova forma de o povo se

expressar e fazer seus desejos e necessidades serem ouvidos. Por meio de redes sociais

como o Facebook, o Twitter e o Youtube, a população árabe marcava encontros que

visavam reivindicar por mais empregos e pelo fim de ditaduras (TAVARES, 2012).

Dessa forma, entende-se que as mídias sociais são algo intrínseco ao jornalismo

atual. Elas contêm muitas das informações usadas pelos repórteres e também

representam uma forma de propagação de informação quase que instantaneamente.

Além disso, elas podem servir para a população reivindicar direitos.

8. Considerações Finais

É fundamental, no mundo globalizado de hoje, que os cidadãos fiquem

antenados o tempo todo e saibam o que está acontecendo ao redor do mundo.

Atualmente, um evento que ocorre em um país distante pode influenciar direta ou

indiretamente a vida dos cidadãos de determinada nação.

As mentalidades e as correntes de opinião pública, bem como as noções e as

interpretações sobre muito do que ocorre no mundo, em âmbito local,

nacional, regional e mundial, tudo isso está cada vez mais decisivamente

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influenciado pelas empresas, corporações e conglomerados que atuam no

âmbito da mídia, cultura de massa e indústria cultural (IANNI, 1998, p.37).

Nas coberturas das Nações Unidas, os jornalistas mostram para a população o

que os delegados decidem acerca de temas mundiais. Os conflitos internacionais, na

ONU, são resolvidos de forma a preservar os Direitos Humanos, além de tentar

controlar as diferenças entre os países, de modo a respeitar o sistema econômico e social

de cada nação. A resolução ou não de um conflito pode influenciar diretamente a vida de

uma pessoa e, portanto, cabe ao jornalista internacional transmitir as decisões e a

posição de seus representantes a todos.

O jornalismo, ainda, tem um poder muito forte para influenciar a sociedade. O

repórter precisa ser cauteloso quando cobrir um acontecimento. Um exemplo disso é o

que ocorreu nos Estados Unidos em 2001. Segundo Natali (2004), lidar com o país “é a

grande pedra no sapato do jornalismo internacional”. Isso pode ser percebido após a

guerra ao terrorismo – proposta por George Bush em que a mídia apoiou diversas

guerras e influenciou a população. Depois desse episódio, os jornais começaram a

assumir uma posição mais crítica em relação à nação americana, buscando mostrar os

vários ângulos do mesmo fato para não exercer novamente esse papel tendencioso que

levou a muitas guerras tidas como legítimas.

As notícias estrangeiras vindas de outros cantos do mundo – tão

imprescindíveis para acordos internacionais, desenvolvimentos de políticas públicas e

para assegurar o próprio direito de informação garantido pela Constituição Brasileira –

dependem de um grande aparato de apuração e de transporte de informações para chegar

ao conhecimento da população local.

Para isso, o papel de instâncias como os correspondentes internacionais e as

agências de notícias são indispensáveis para a construção da informação que se

transforma em notícia. Porém, agências fazem com que o leitor enxergue o mundo pelo

olhar de um estrangeiro (MOREIRA, 1996). A partir dessa análise entende-se que o

papel desempenhado pelas agências de notícia é superficial e quem, de fato, dá a

informação com o ponto de vista adequado – direcionado para um público alvo

específico – é o correspondente internacional nativo do país.

A comunicação é um elemento básico de qualquer sociedade. A mídia torna

essa comunicação possível, ajuda a sociedade a compreender as ideias

políticas e culturais, e contribui para formar a opinião pública e o consenso

democrático. Hoje, a sociedade usa a mídia para exercer uma forma de

autocontrole. Com estas responsabilidades como pano de fundo, os

executivos da mídia devem permanecer conscientes das suas obrigações,

respeitando princípios éticos em suas atividades (BERTELSMAN, 1994,

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apud IANNI, 1998).

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