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O legado dos anos noventa 1. Estado de Direito Democrático Da Independência, em 1975, a 1990, vigorou em Cabo Verde um regime de partido- Estado, monolítico, centralizador e totalitário porque estatizante e dominador de toda a sociedade, em que, designadamente, (i) o pluralismo não era admitido; (ii) os cidadãos não podiam exercer, livre e efectivamente, direitos e liberdades fundamentais como as de expressão, de imprensa, de associação, de reunião, de manifestação e de greve; (iii) a Constituição não tinha garantias; e, (iv) algumas vezes, o Poder usou de violência contra os que ousavam dele discordar. Ou seja, pode dizer-se, com acerto, que até 1990 Cabo Verde era um Estado de não direito e não democrático. Hoje é consensual que, a partir de 1991, mas sobretudo desde 1992, com a aprovação da actual Constituição, a mais importante de todas as reformas políticas feitas nos anos noventa, em Cabo Verde vivemos num Estado de direito. No nosso país o exercício do poderes públicos não é arbitrário: ele deve conformar-se com a Constituição; essa conformidade é controlada por tribunais independentes, que podem e devem, também, rejeitar a aplicação de normas inconstitucionais normas inconstitucionais; a administração sujeita-se à lei, só podendo agir nos casos e termos por ela permitidos; o Estado é responsável pelos danos causados aos cidadãos por actos ou omissões dos seus órgãos e agentes; e as medidas de polícia estão limitadas pelos princípios da proporcionalidade, da proibição do excesso e da tipicidade. A Constituição contém um extenso catálogo de direitos e liberdades fundamentais atribuídos a todos os indivíduos face aos poderes públicos e um regime especial para sua garantia; é assegurado o direito de acesso aos tribunais para tutela desses direitos; a sua restrição é reserva de lei, só podendo ser estabelecida pelo legislador, com respeito pelos limites constitucionais. Estamos, pois, à luz da lei fundamental do país, perante um Estado constitucional de direito. Um Estado constitucional de direito que é também democrático: por um lado, a legitimidade do domínio político e do exercício do poder radicam na soberania popular, devendo organizar-se e fazer-se em termos democráticos, nomeadamente (i) garantindo o voto universal, igual, directo e secreto e (ii) a participação democrática na vida nacional através de instituições do poder local, de associações públicas e de organizações da sociedade civil, dotadas de autonomia efectiva; e, por outro lado, o poder está organizado segundo o princípio da separação e interdependência de poderes. Num outro plano, a mudança dos Símbolos Nacionais ( Bandeira, Hino e Armas) foi uma reforma importante, pois desde o golpe de Estado de 14 de Novembro de 1980 e o fracasso da Unidade Guiné-Cabo Verde, o nosso país encontrava-se numa situação incómoda de ter um Hino Nacional igual ao da Guiné, o que gerava confusão nos cabo- verdianos e na comunidade internacional, por um lado. Por outro, a Bandeira de Cabo Verde era praticamente idêntica à do Paicv. Com essas mudanças, o Estado foi separado simbolicamente do Paicv e da Guiné-Bisssau, resolvendo-se, assim, este grave contencioso de identificação do nosso país, que o Paicv criou e não foi capaz de resolver.

O legado dos Anos 90

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Page 1: O legado dos Anos 90

O legado dos anos noventa

1. Estado de Direito Democrático

Da Independência, em 1975, a 1990, vigorou em Cabo Verde um regime de partido-

Estado, monolítico, centralizador e totalitário porque estatizante e dominador de toda a

sociedade, em que, designadamente, (i) o pluralismo não era admitido; (ii) os cidadãos

não podiam exercer, livre e efectivamente, direitos e liberdades fundamentais como as

de expressão, de imprensa, de associação, de reunião, de manifestação e de greve; (iii) a

Constituição não tinha garantias; e, (iv) algumas vezes, o Poder usou de violência contra

os que ousavam dele discordar. Ou seja, pode dizer-se, com acerto, que até 1990 Cabo

Verde era um Estado de não direito e não democrático.

Hoje é consensual que, a partir de 1991, mas sobretudo desde 1992, com a aprovação da

actual Constituição, a mais importante de todas as reformas políticas feitas nos anos

noventa, em Cabo Verde vivemos num Estado de direito. No nosso país o exercício do

poderes públicos não é arbitrário: ele deve conformar-se com a Constituição; essa

conformidade é controlada por tribunais independentes, que podem e devem, também,

rejeitar a aplicação de normas inconstitucionais normas inconstitucionais; a

administração sujeita-se à lei, só podendo agir nos casos e termos por ela permitidos; o

Estado é responsável pelos danos causados aos cidadãos por actos ou omissões dos seus

órgãos e agentes; e as medidas de polícia estão limitadas pelos princípios da

proporcionalidade, da proibição do excesso e da tipicidade.

A Constituição contém um extenso catálogo de direitos e liberdades fundamentais

atribuídos a todos os indivíduos face aos poderes públicos e um regime especial para

sua garantia; é assegurado o direito de acesso aos tribunais para tutela desses direitos; a

sua restrição é reserva de lei, só podendo ser estabelecida pelo legislador, com respeito

pelos limites constitucionais. Estamos, pois, à luz da lei fundamental do país, perante

um Estado constitucional de direito.

Um Estado constitucional de direito que é também democrático: por um lado, a

legitimidade do domínio político e do exercício do poder radicam na soberania popular,

devendo organizar-se e fazer-se em termos democráticos, nomeadamente (i) garantindo

o voto universal, igual, directo e secreto e (ii) a participação democrática na vida

nacional através de instituições do poder local, de associações públicas e de

organizações da sociedade civil, dotadas de autonomia efectiva; e, por outro lado, o

poder está organizado segundo o princípio da separação e interdependência de poderes.

Num outro plano, a mudança dos Símbolos Nacionais ( Bandeira, Hino e Armas) foi

uma reforma importante, pois desde o golpe de Estado de 14 de Novembro de 1980 e o

fracasso da Unidade Guiné-Cabo Verde, o nosso país encontrava-se numa situação

incómoda de ter um Hino Nacional igual ao da Guiné, o que gerava confusão nos cabo-

verdianos e na comunidade internacional, por um lado. Por outro, a Bandeira de Cabo

Verde era praticamente idêntica à do Paicv. Com essas mudanças, o Estado foi separado

simbolicamente do Paicv e da Guiné-Bisssau, resolvendo-se, assim, este grave

contencioso de identificação do nosso país, que o Paicv criou e não foi capaz de

resolver.

Page 2: O legado dos Anos 90

O Estado de Direito Democrático é um legado indelével dos anos noventa e da

governação do MpD.

2. Revolução nas telecomunicações

Até aos inícios da década de 90, quem tentasse telefonar de S.Vicente para a Praia ou

em sentido inverso tinha que aguardar horas e, por vezes, dias, para o conseguir. Por

exemplo, em Santiago, era extremamente difícil conectar com Santa Catarina. O mesmo

acontecia em todas as ilhas. Este simples facto, ilustra bem a realidade das

telecomunicações em Cabo Verde no início da década de noventa. Sem contar com as

enormes listas de espera para instalação de telefones e ausência completa de tecnologias

avançadas já disponíveis no mercado internacional.

A pedra de toque da reforma das telecomunicações na década de noventa foi a

separação entre as actividades postais e de telecomunicações que, até então, estavam

concentradas numa mesma empresa pública denominada CTT, Correios e

Telecomunicações. A separação ocorreu em 1995(?) e dela resultaram duas empresas , a

Cabo Verde Telecom cujo capital foi aberto ao capital privado nacional e estrangeiro,

este na qualidade de parceiro estratégico, e os Correios de Cabo Verde, empresa estatal.

A reorganização do sector, e os grandes investimentos em tecnologia realizados no

âmbito da parceria com a Portugal Telecom, parceira estratégica, resultaram num

progresso extremamente rápido das telecomunicações em Cabo Verde.

O telefone móvel, símbolo da nova era das telecomunicações em Cabo Verde, adoptou

o sistema mais avançado da época, o GSM, e rapidamente cobriu todas as ilhas a partir

de 1998, data da sua introdução em Cabo Verde. Uma das «condições invisíveis» da

inserção dinâmica de Cavo Verde na economia global, o telemóvel permitiu que os

cabo-verdianos se ligassem mais facilmente entre si e que a nossa diáspora se

aproximasse ainda mais dos familiares, nas ilhas. Foi uma das condições para o

desenvolvimento do turismo e do investimento externo, num mundo em que a perda de

contacto com os outros não é mais aceitável. Alguns – sempre os mesmos – fizeram da

decisão de investir nesta modernidade motivo de oposição.

O introdução do cabo de fibra óptica permitiu, igualmente, lançar novos serviços que

rapidamente se generalizaram, nomeadamente a internet.

Os elevados investimentos em infra-estruturas, equipamento, novos sistemas e em

recursos humanos recuperaram o atraso em que o país se encontrava, neste domínio, e

alancaram as condições para que Cabo Verde não tenha, hoje, nenhum limite à absorção

das mais modernas inovações nas telecomunicações

Os resultados falam por si, e se hoje as telecomunicações são o que são, foi graças às

reformas dos anos noventa e à abertura ao capital externo.

Page 3: O legado dos Anos 90

DADOS ECONÓMICO-FINANCEIROS (106 ECV)

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Volume de Negócios 1860 2020 2456 2918 3538 4529 5213 5625 5799 5616 5934 6978 7458

EBITDA 919 1221 1552 2010 2667 3061 3287 3402 3493 3492 4422 4674

Resultados Antes de Impostos 474 587 639 915 1 316 1 696 2 005 2 135 1.954 2270 2819 3386

Resultado Líquido 221 286 377 396 552 827 1063 1286 1385 1317 1504 1861 2312

Valor Acrescentado Bruto 1244 1303 1603 2067 2621 3401 3898 4168 4443 4471 4548

Autofinanciamento % 173 54 65 105 95 116 156 153 388 362 393 338 479

Investimento 364 1281 1490 1131 1620 1572 1430 1743 767 787 766 992 757

Activo Líquido 3460 4937 6380 7487 8532 9161 9529 8994 9325 9117 9031 11075

Capital Próprio 1252 1359 1622 2687 3051 3602 4168 4763 5311 5666 6205 6935 7833

Capital Social 1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000 1 000 1000 1000 1000

Passivo 2101 3315 3693 4436 4930 4993 4766 3682 3659 2912 3580 3241

INDICADORES (%)

Margem Bruta 75,0 74,2 72,9 79,7 82,5 84,7 85,5 87,7 91,2 92,1 92.8

Margem EBITDA 45 50 53 57 59 59 58 58,7 62,2 58,9 63,4 62,7

Rentabilidade das Vendas 11.9 14,2 15,4 13,6 15,6 18,3 20,4 22,9 23,9 23,5 25,3 26,7 31,0

Rentabilidade dos Capitais Próprios 17.6 21,1 23,3 14,7 18,1 23,0 25,5 27 26,1 23,2 24,2 26,8 31,5

Autonomia Financeira 39 33 42 40,7 42,2 45,5 50 59,1 60,8 68,1 78,2

Estrutura do Endividamento

34,0 43,7 37,6 38,5 42,1 41,8 51,5 57,7 66,9 74,2 60,4

SERVIÇO DE TELECOMUNICAÇÕES ( Parque )

Telefónico Fixo 21513 25232 33241 39985 46865 55892 64132 70187 71716 73433 71412 71578 71764

Telefónico Móvel GSM 0 0 0 1020 8068 19729 31507 42949 53342 65780 81721 108858 147900

Circuitos Alugados 0 0 54 80 108 125 159 202 267 365 400 565 677

Internet (Dialup) 0 0 474 1139 1654 2456 2974 3935 5011 5371 5581 5661 3475

Internet (ADSL) 0 0 0 0 0 0 0 0 0 283 937 1814 3833

SERVIÇO FIXO DE TELEFONE

Postos Telefónicos Principais /100 habitantes 5,9 6.8 8.8 10,5 10,9 12,9 14,2 15,1 15,6 15,7 15,0 14,8 14,5

Postos Públicos (Cabines + P.P. Rurais) 307 425 407 411 394 448 448 458 431 432 343 332

Lista de Espera 11161 9644 10802 7431 5814 4391 2914 1651 789 675 315 409 340

Demora Média de Instalação (meses) 38,7 27,0 14,1 10,4 7,9 4,9 3,4 2,2 1,3 1,3 0,5 0,6 0,6

Tráfego Internacional (% Crescimento) 5,8 28,5 18,2 21,2 15,3 41,5 22,7 5,8 10,6 7,7 15,7

DIMENSÃO DA REDE BÁSICA

Fonte : Relatórios CVteelcom

3. Reforma do sistema financeiro

No início dos anos noventa do século passado a Sistema Financeiro cabo-verdiano era

um sistema bastante simples, com produtos, práticas e métodos de gestão relativamente

rudimentares, se tomarmos como referência os países desenvolvidos. Vigorava o regime

de mono banco com o Banco de Cabo Verde a acumular as funções de banco central,

banca comercial e banco de desenvolvimento. Existia a Caixa Económica e Postal de

Cabo Verde que fazia algumas operações bancárias, mas bastante limitadas tanto no

âmbito como na dimensão das mesmas. Também funcionava o Instituto de Seguros e

Previdência Social (ISPS) que acumulava em exclusividade a actividade seguradora e

de previdência social.

No âmbito de um vasto programa de reformas e modernização da economia nacional

iniciado pelo governo do MpD no período já mencionado, o sector financeiro foi eleito

como um dos eixos estratégicos da mesma, tendo sido desde logo implementado um

conjunto de medidas com vista à sua reforma e modernização.

Deu-se início ao programa de modernização em 1991, com a reforma do sector do

sector dos seguros e da previdencial social através da separação da actividade

seguradora da previdência social e da abertura do sector segurador à iniciativa privada.

Nessa ocasião foram criados o Instituo Nacional de Previdência Social e a seguradora

Garantia, que posteriormente foi privatizada.

No sector bancário, as reformas centraram-se na construção de um sistema bancário a

dois níveis, na abertura da actividade ao sector privado, na liberalização das operações

elegendo o mercado como meio privilegiado de alocação de recursos e fixação de

preços, e na diversificação dos serviços e produtos.

Page 4: O legado dos Anos 90

Foi criado o BCA, e a CECV foi transformada em banco universal, ambos objecto de

operações posteriores de privatização, com participação de capital privado nacional e

estrangeiro.

As operações cambiais com o estrangeiro foram liberalizadas, o regime de taxas de juro

igualmente liberalizado. Novos bancos instalaram-se em Cabo Verde, e o número de

agências bancárias aumentou enormemente, dando cobertura a todo o país. O acordo

cambial com a União Europeia foi um marco importante da governação do MpD, cujos

efeitos são hoje visíveis na estabilidade cambial, na eliminação dos riscos cambiais nas

relações comerciais com a União europeia.

A introdução das máquinas ATM, terminais de pagamento automático, cartão 24,

cartões de crédito e outras inovações tecnológicas reflectiu-se na qualidade da prestação

de serviços aos utentes, a léguas de distância do marasmo dos anos oitenta.

Pela primeira vez foram introduzidos instrumentos formais de dívida pública, os títulos

do tesouro e as obrigações do tesouro, que vieram substituir práticas de endividamento

do estado baseadas em meros “protocolos” de valor jurídico duvidoso.

Como resultado deste processo de modernização e reformas terminou-se a década de

noventa com um sistema financeiro muito mais moderno caracterizado por:

Um sistema bancário a dois níveis com um banco central (BCV) e quatro bancos

universais ((BCA, CECV, TOTTA e INTERATLÂNTICO)

Nos seguros e previdência social com três instituições INPS, GARANTIA,

IMPAR

No mercado de capitais com o mercado da dívida publica consolidado e com a

Bolsa de Valores de Cabo Verde a dar os primeiros passo.

Sistema de pagamentos nacionais e internacionais modernos e fiáveis, e

diversificação dos produtos e serviços financeiros.

A reforma do sistema financeiro dos anos noventa, rompeu radicalmente com o modelo

do Paigc/Paicv implantado após a Independência. Todos os desenvolvimentos

posteriores têm como pano de fundo e suporte o figurino do sistema financeiro que o

MpD legou ao país.

4. Liberalização da economia

Durante todo o período que decorreu da Independência, em 1975, a 1990, a economia

foi dominada pelo Estado. O 1º Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) 1982-1985

traduzia bem os princípios consagrados na Constituição de 80. Dispunha que “(…) a

nossa economia exige uma planificação rigorosa, orientada segundo o princípio do

centralismo democrático. (…) o Estado terá que desempenhar um papel determinante

em todos os domínios (…) o sector produtivo estatal ocupará uma posição dominante na

economia (…) para assegurar o desenvolvimento económico na via dos objectivos

Page 5: O legado dos Anos 90

programáticos do Partido”. Para isso, “(…) basta que o Estado controle os sectores

básicos e as variáveis económicas estratégicas.”

Praticamente todas as esferas de actividade económica foram dominadas pelo Estado:

da agricultura, ao comércio de importação e a grosso, nalguns casos o comércio a

retalho, passando pela indústria ligeira, a energia, a pesca, os transportes e

comunicações, o sistema financeiro, a prestação de serviços diversos, a imprensa, a

construção, hotelaria, etc. No sector financeiro, o Estado tinha o exclusivo de toda a

actividade.

A importação de mercadorias estava sujeita ao regime de contingentação (plafond )

atribuído a cada um dos importadores e cada operação de importação tinha que ser

previamente autorizada. As transferências para o exterior eram autorizadas caso a caso,

igualmente, através do único banco existente na altura, o Banco de Cabo Verde.

Vários sectores da economia estavam vedados à iniciativa privada. A importação de

produtos de primeira necessidade era monopólio estatal. A criação de empresas carecia

de autorização caso a caso. Os particulares não podiam ter contas em divisas nem no

estrangeiro e só podiam transportar 20 contos em divisas quando viajassem para o

exterior.

O Governo do MpD alterou completamente este panorama através de um programa

faseado de liberalização da economia que seguiu em paralelo com a reestruturação do

sector empresarial do Estado e as privatizações.

Progressivamente foram eliminadas as restrições à liberdade do comércio externo, com

a supressão do sistema de contingentação e plafonds de importação, eliminação do

exclusivo do Estado na importação de bens essenciais. Concomitantemente, o regime

cambial e os pagamentos ao exterior foram liberalizados. As taxas de juro deixaram de

ser fixadas administrativamente, o mesmo acontecendo à generalidade dos preços, que

passaram a reflectir as condições do mercado. A constituição de empresas foi

enormemente facilitada, eliminando-se muitos entraves burocráticos. O ambiente de

negócios tornou-se consideravelmente mais propício à actividade empresarial. A

aprovação do novo Código das Empresas Comerciais veio consagrar soluções

facilitadoras da actividade empresarial.

Como consequência, a concorrência intensificou-se no mercado, o nível geral de preços

baixou significativamente, o abastecimento do mercado em bens e serviços melhorou de

forma substancial, a actividade empresarial intensificou-se enormemente. Estes

desenvolvimentos, associados à privatização das empresas públicas e à entrada em força

do investimento externo no país, deslocaram o epicentro do crescimento económico

para a esfera privada e provocaram um crescimento económico notável e, mais

importante, com características de sustentabilidade.

5. Reforma do sector empresarial do Estado

Enquadramento das privatizações a nível de Cabo Verde

Page 6: O legado dos Anos 90

Cabo Verde conheceu, no pós – independência, um regime económico de planificação

centralizada, tendo a Constituição então aprovada consagrado a direcção estatal da

economia (artigo 12º). (Lei)

Só em 1991, com a realização de eleições livres, o governo do MpD daí resultante,

inscreveu no seu programa (suplemento ao Boletim Oficial de Cabo Verde, número 31,

de 8 de Agosto de 1991):

- O Governo defende um sistema de democracia económica, em que coexistam e actuem

em condições de concorrência e igualdade, agentes económico públicos, associativos e

privados, devendo a actividade económica pública resumir – se ao mínimo social e

estrategicamente indispensável.

- Ao Estado deve caber, fundamentalmente, um papel de regulador e facilitador da

actividade económica, quer através do aproveitamento dos mecanismos de mercado,

quer pelo planeamento.

- Nenhum sector deve estar vedado à iniciativa privada.

Estes princípios introdutórios são retomados na Parte II – Desenvolvimento económico,

princípios, alíneas d) e e) e Condicionantes da situação económica do País nos pontos 2,

3, 5 e 7, sendo de realçar, para o caso, o ponto 5 onde se identifica como condicionante

económica do país “ o peso relativamente elevado do sector público no conjunto da

economia, com predomínio, neste sector, de uma cultura de gestão que tem valorizado

os critérios políticos mais do que os económicos” .

Uma moderna Constituição, promovida e aprovada pelo MpD, (introduzir a Lei),

publicada no Boletim Oficial de 25 de Setembro de 1992, viria a consagrar o Estado

como garante das condições para a realização da democracia económica (artigo 88), o

incentivo ao investimento externo (artigo 89), a coexistência de sectores da economia

(artigo 90) e a delimitação do sector público (artigo 91).

Na sequência do programa do I Governo da II República, foi apresentado na Assembleia

Nacional na sessão de 4 de Junho de 1992 o projecto de lei que define o quadro geral da

privatização de empresas e participações públicas (introduzir a Lei).

Na acta da sessão, verificamos a seguinte intervenção do Governo do MpD através do

Ministro das Finanças e Planeamento, responsável na orgânica do governo pelas

privatizações:

“Motivado por razões de ordem ideológica – é a própria Constituição ainda em vigor

que expressamente consagra a direcção estatal da economia (artigo 12º) e pelas

limitações do sector privado – o Estado Cabo-verdiano criou um sector empresarial

público a todos os títulos excessivo, abarcando praticamente todos os sectores da

economia sem preocupações de coerência de grupo. Assim, o Estado está presente em

actividades que vão desde o agenciamento até ao transporte aéreo, passando pela

avicultura, agricultura, combustíveis, materiais de construção civil, pescas, indústria

alimentar, metalomecânica, cervejaria, hotelaria, transportes marítimos, tintas,

medicamentos, reparação naval, reparação mecânica, electricidade, telecomunicações,

comércio, portos, etc”.

De seguida passa a justificar as privatizações:

Page 7: O legado dos Anos 90

i) “Trata – se de desenvolver um modelo de sociedade em que a iniciativa

privada se constitua motor da economia em perfeita complementaridade com

o sector público, dedicado essencialmente à gestão dos grandes equilíbrios

macro – económicos, à infra-estruturação do país, às políticas sociais, à

educação e formação e à saúde. Um sector público que só intervém

directamente na economia quando a actividade for considerada estratégica e

não possa ser desenvolvida, com vantagens, pelo sector privado”.

ii) “O sector empresarial do Estado, em especial as empresas públicas, começou

a apresentar sintomas de debilidade que se agudizaram a partir de 1986. Se

até esse ano, várias empresas públicas apresentavam resultados negativos, o

sector no seu conjunto tinha resultados positivos, apesar da rentabilidade dos

capitais empregues ter sido sempre pouco expressiva. A partir desse ano a

situação agravou – se passando o sector a apresentar resultados globais

fortemente negativos. Os números a seguir indicados dão uma ideia dos

problemas do sector:

o Em 1986, globalmente o sector das empresas públicas apresentou um

resultado negativo de 266 mil contos

o Em 87, 106 mil contos de prejuízos

o Em 88, 403 mil contos de prejuízos

o Em 89, 420 mil contos de prejuízos

o Em 1990, 610 mil contos de prejuízos também, e a estimativa para o ano

de 91 é de cerca de 430 mil contos, ou seja, um prejuízo acumulado de

cerca de 2 milhões e 200 mil contos para o conjunto das empresas

públicas”.

iii) “Várias das empresas públicas encontram – se neste momento em situação

de falência técnica e só se mantêm em actividade graças a subsídios

indirectos concedidos pelo Estado e ao facto de não pagarem as dívidas

contraídas junto do Banco de Cabo Verde. É de justiça afirmar que existem

algumas empresas públicas como os CTT, a EMPA, a ENACOL e a ASA

que se mantêm excedentárias e contribuem positivamente para o Orçamento

do Estado” .

iv) “A actual situação do sector das empresas é insustentável e se não for

radicalmente alterada, duas possibilidades se podem pôr: ou o Estado

absorve os prejuízos dessas empresas através do Orçamento Geral do Estado,

agravando drasticamente o deficit e sendo obrigado a aumentar os impostos

para cobrir esse deficit, ou, então, deixa essas empresas ir à falência com

todo as implicações que isso significa em termos de perda definitiva de

postos de trabalho”.

v) “Nenhuma dessas situações é socialmente aceitável. O Orçamento Geral do

Estado já se encontra suficientemente sobrecarregado e os contribuintes não

estarão certamente disponíveis para pagarem impostos adicionais destinados

a cobrir os prejuízos das empresas públicas. Por outro lado, não é possível

encarar o encerramento de todas as empresas públicas em situação de

falência técnica neste momento. A solução passa inequivocamente pelo

início da reestruturação do sector empresarial do Estado, com todos os

sacrifícios que esse ajustamento possa induzir em curto prazo” .

Resultados até 2000

Page 8: O legado dos Anos 90

Continuemos com as palavras do Ministro das Finanças e Planeamento do Governo do

MpD na já citada apresentação na Assembleia Nacional:

“A privatização não pode ser encarada de forma isolada. Integra – se num conjunto mais

amplo de políticas e medidas viradas para a criação de um ambiente mais propício ao

desenvolvimento da iniciativa privada, nomeadamente a progressiva liberalização do

comércio externo, a adopção de incentivos fiscais, a reforma do sistema financeiro e

reformas institucionais com o objectivo de desmantelar barreiras à criação e actividades

das empresas privadas. Estamos a falar de reformas estruturais de grande alcance

indispensáveis ao relançamento da economia de Cabo Verde. É neste contexto que o

debate sobre privatizações se deve situar”

Cumprimento dos objectivos propostos

Os objectivos foram fixados no artigo 2º da Lei – Quadro das Privatizações de Cabo

Verde:

a) O aumento da eficiência, produtividade e competitividade da economia e das

empresas;

b) A redução do peso do Estado na economia e o desenvolvimento do sector

privado;

c) O fomento empresarial e o reforço da capacidade empresarial nacional;

d) A participação dos cidadãos nacionais, designadamente dos trabalhadores, dos

emigrantes e de pequenos accionistas na titularidade do capital das empresas.

Impacto directo das empresas privatizadas na economia do país Quando se tem em conta uma amostra representativa das empresas privatizadas (ver

quadro), obtém – se a seguinte evolução dos indicadores com reflexos directos na

economia:

Mil contos 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001

Proveitos

7803 4328 6784 7744 8596 12697 11549 13296 16055 17953

VAB

2048

2240

3156

3622

4001

4730

5553

6359

7495

7836

RAI

148

247

127

847

885

905

1359

1407

1821

1606

Despesas

Pessoal

763

863

1224

1255

1358

1538

1724

2038

2407

2604

Empregados

1631

1480

1866

1626

1714

1842

1864

2294

2469

2392

Produtividade

(contos CV)

1256

1514

1691

2228

2335

2568

2979

2772

3036

3276

A relação entre estes valores e os indicadores macro - económicos no período 1992 /

2001, leva – nos aos seguintes resultados de impacto das empresas privatizadas na

economia:

Page 9: O legado dos Anos 90

1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001

Proveitos/PNB

(%)

31

15

20

20

21

27

22

22

25

27

1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001

RAI/PNB

(%)

0,59

0,86

0,38

2,27

2,16

1,95

2,59

2,37

2,87

2,39

A avaliação destes resultados mostra que a contribuição das empresas privatizadas na

eficiência da economia foi positiva, em termos de i) proveitos, pois a expansão das suas

actividades revelou-se como um elemento importante do crescimento do produto

nacional bruto e de ii) resultados antes de impostos, pois demonstra eficiência na

transformação interna do produto que vai buscar à economia, ao mesmo tempo que

contribui para o Orçamento do Estado através dos impostos.

199

2

199

3

1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001

VAB/VABnaciona

l

(%)

8,97

8,21

10,1

2

10,2

7

10,6

0

10,9

8

11,5

4

11,5

9

12,8

4

12,6

4

A contribuição das empresas privatizadas na criação da riqueza nacional foi crescente

pois, ter partido dos 8,9% em 1992 e estar, em 2001, nos 12,6%, significa que reforçou

a sua indução no que se verificou ser o crescimento do valor acrescentado nacional.

Comparticipação das empresas privatizadas no volume de emprego

nacional

Os adversários das privatizações costumam argumentar contra elas, acenando com o

perigo do desemprego.

Privatizações liga – se, normalmente, a desemprego, pelo menos, perante certos agentes

sociais, nomeadamente, os sindicatos. Vejamos o que se passou em Cabo Verde:

1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001

Trabalhadores/Força

de trabalho nacional

(%)

1,71

1,49

1,82

1,52

1,54

1,63

1,53

1,75

1,79

1,69

Pelo quadro, a contribuição das empresas privatizadas no emprego manteve – se estável.

Redução do peso do Estado na economia e o desenvolvimento do sector

privado Os indicadores são quantificados de acordo com a percentagem que o Estado vai

detendo na estrutura accionista das empresas à medida que avança o processo das

privatizações.

Indicadores da contribuição do SEE na economia

1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Proveitos/PN

B

0,53 0,48 0,50 0,48 0,46 0,47 0,39 0,36 0,25

VAB/PIB 0,22 0,19 0,18 0,17 0,18 0,16 0,16 0,13 0,10

RAI/PNB 0,004

6

0,001

4

0,005

8

0,018

5

0,015

8

0,011

5

0,030

7

0,002

2

-

0,003

8

Page 10: O legado dos Anos 90

Por estes resultados se conclui que o peso do Sector Empresarial do Estado na economia

(Proveitos/PNB) foi reduzido de 53% em 1992 para 25% em 2000.

Na criação da riqueza (VAB/PIB), a participação foi, em 1992, de 22% e, em 2000, 10

%.

Essa evolução demonstra, inequivocamente, que o grande esforço, nestas áreas, foi

sendo passado para a iniciativa privada.

Contribuição do SEE no emprego nacional

1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 200

1

Trabalhadores/FT

*

0,05

4

0,04

8

0,04

9

0,04

6

0,04

3

0,04

3

0,04

2

0,03

7

0,02

8

*FT = Força de Trabalho Nacional, isto é, o número de empregados a nível nacional

Também se verifica, nitidamente, um abaixamento da contribuição do SEE no emprego

nacional (5,4 % em 1992 e 2,8% em 2000), lugar que coube, cada vez mais, ao sector

privado.

Participação do SEE no Crédito Interno

1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001

CEP/CIT* 0,107 0,166 0,029 0,030 0,019 0,013 0,015 0,015 0,004

CEP/CE** 0,155 0,255 0,068 0,056 0,037 0,025 0,027 0,027 0,008

* CEP = Crédito às Empresas Públicas CIT = Crédito Interno Total **CE = Crédito à

Economia

Conclui-se que a participação das empresas públicas no crédito interno total e no crédito

à economia foi-se reduzindo, em benefício do sector público administrativo e do sector

privado. E como se vê pelos gráficos do crescimento do PIB, na década de 80 e na

década de 90, a redução do peso do Estado na economia foi acompanhada de um forte

crescimento da economia nacional.

Variação anual do PIB real,

1985-2000

8,6%

2,9%

4,3%

5,7%

0,7%

1,4%

3,0%

7,3% 7,5%

8,4%

11,9%

7,3%7,6%

6,7%6,9%6,0%

0,0%

2,0%

4,0%

6,0%

8,0%

10,0%

12,0%

14,0%

1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Participação dos trabalhadores

Page 11: O legado dos Anos 90

Na aquisição de activos

Os trabalhadores adquiriram, entre outros os seguintes activos: i) Coopechaves e Prolact

resultantes da ex – FAP ii) Recoref e Funcave provenientes da ONAVE, iii)

Simplicidade a partir de activos da Morabeza, iv) Cooperativa Agrícola, Carmac e

Propec resultantes da empresa agrícola Justino Lopes, v) Agências de Viagens

resultantes da segmentação da ANV, vi) Sociave da anterior ENAVI e vii) Postos de

vendas da EMPROFAC, empresa de comercialização de medicamentos.

Na participação no capital das empresas privatizadas

Foram sempre reservadas percentagens de capital a serem vendidas, com desconto, aos

trabalhadores e emigrantes.

O resultado foi o aparecimento de mais de 2000 accionistas trabalhadores e de vários

accionistas emigrantes.

No financiamento aos trabalhadores

A vontade política proporcionou aos trabalhadores várias formas de financiamento das

suas aquisições, nomeadamente i) financiamentos bancários com ou sem bonificação de

juros (Sociave, postos de venda da Emprofac) ii) descontos mensais durante um certo

prazo, nos salários dos trabalhadores, a serem depositados numa conta do Tesouro

(Cabo Verde Telecom ) iii) financiamento directo pelo Estado em que os trabalhadores,

após um período de carência, pagam em prestações e prazos negociados ao Estado

(Prolact e Coopechaves ) iv) por encontro de contas e troca de indemnizações por

activos de empresas em venda directa aos trabalhadores (Recoref e Funcave) e ainda v)

a gestão da empresa em causa paga o montante total devido pelos trabalhadores pela

compra de suas acções ao Estado e depois estes reembolsam, sem juros, à empresa

através de desconto nos seus salários.

CONCLUSÕES

Todos os resultados anteriores provam uma grande diminuição do peso do Estado na

economia cabo-verdiana e, por contrapartida, um desenvolvimento do sector privado.

Com efeito, tornou – se evidente que i) a expansão do produto bruto nacional foi, cada

vez mais, obra das actividades do sector privado, já que, enquanto a participação do

sector público baixava, o PNB aumentava ii) a criação da riqueza nacional foi,

progressivamente, da responsabilidade dos privados já que o rácio VAB / PIB das

empresas com participação pública reduziu – se iii) a eficiência da economia, vista

como a capacidade das empresas transformarem o produto que vão nela buscar,

acrescentando - lhe valor, também começa pelos privados e iv) o emprego nacional

tinha já uma grande participação do sector privado, embora o peso da Administração

Pública tenha mantido o Estado ainda como o grande empregador de Cabo Verde.

O Estado deixou de carregar às costas empresas com elevados prejuízos e reorientou os

investimentos públicos para sectores como a educação, a saúde, o desporto, a cultura e

as infra-estruturas básicas.

Por outro lado, as privatizações foram um importante instrumento programático no

novo paradigma de desenvolvimento económico – social de Cabo Verde:

Page 12: O legado dos Anos 90

- Foram uma oportunidade para a integração da economia de Cabo Verde numa rede de

suporte do exercício de uma função circulação, em termos de capital, Know How e

tecnologia.

O Estado continuou com um papel fundamental na promoção dessa concepção

estratégica:

Através da manutenção de uma percentagem na estrutura accionista ou posse de

uma golden share que garantisse privilégios em termos de direito de voto e de

decisão na vida de empresas privatizadas que, no enquadramento anterior, foram

julgadas cruciais. Estes privilégios deviam ter i) um âmbito reduzido ao mínimo

necessário para a defesa dos interesses estratégicos nacionais e ii) um horizonte

temporal previsível de existência, evitando o intervencionismo do Estado.

Como elemento regulador, estabelecendo agências de regulação fortes que

controlem factores de custo, qualidade do produto e programas contratualizados

e a promoção de novas instituições como a bolsa de valores.

Como responsável pelo equilíbrio social, vistas as vulnerabilidades e os

impactos das privatizações tendentes a agrava– las.

Empresas Privatizadas entre 1993 e 1999 e a Amostra de Estudo

Sector

Empresa

Controlo

Accionista

(2000 )

Ano da

Privatizaçã

o

Receita da

Privati

zação

(contos)

Amostra

Agricultura e

Pescas

JUST. LOPES

PESCAVE

INTERBASE

Público

DP 1995

L 1993

Agro- indústria FAP

ENAVI

L 1993

DP 1995

Sim

Sim

Água

Electricidade

ELECTRA P 1999 Sim

Banca

BCA

CECV

PROMOTOR

A

P 1999

P 1999

P 1999

Sim

Sim

Sim

Comércio de

Veículos

Automóveis

SONACOR L 1997

Construção MACSOBIL

P 1995

Distribuição

alimentar

EMPA Público

Distribuição de

combustíveis

ENACOL P 1997 Sim

Edição, informação

e artes gráficas

RTC

INFORPRESS

IMPRENSA

NACIONAL

Público

Público

Público

Page 13: O legado dos Anos 90

Hotelaria e

restauração

HOTELMAR

BELORIZON

TE

P 1996

P 1996

Sim

Sim

Metalomecânica

e metalurgia de

base

METALCAV

E

ONAVE

CABMAR

Público

P 1995

P 1996

Minerais metálicos

e não metálicos

Produtos

farmacêuticos

EMPROFAC Público

Seguros GARANTIA P 1999 Sim

Serviços

ASA

CTT

ENAPOR

Público

Público

Público

Telecomunicações CVT P 1995 Sim

Transportes e

distribuição

ARCA

VERDE

CGTM

TRANSCOR

TACV

Público

Público

L 1998

Turismo e agência

de viagens

CABETUR

ANV

P Sim

Vestuário MORABEZA P

TOTAL 34 12

Representatividade da Amostra de Empresas Privatizadas 90,2%

L = Liquidação P = Privatização DP = Desmembramento e Privatização

6. O grande investimento na Educação nos Governos do MpD

Com o advento da democracia, a Educação viria a conhecer um grande salto confirmado

pelos dados, fruto da prioridade e empenho que os governos do MpD lhe atribuíram.

Com efeito, na década de noventa, não só o ensino básico (EB) e secundário (ES) sofreu

uma profunda reforma e expansão, mas também, outros níveis de ensino como o pré –

escolar, a educação de adultos e o superior conheceram uma grande dinâmica.

Acompanhado de medidas positivas em direcção aos professores, aos gestores escolares,

aos coordenadores pedagógicos, os resultados, expressos nos indicadores educativos,

mostram:

■ A quase escolarização total (taxa líquida de 96%) nos seis anos de escolaridade e a

elevação, em dez anos, da taxa de escolarização no ensino secundário de 20% para 54%.

■ A dotação dos docentes, dos gestores, dos coordenadores pedagógicos, pela primeira

vez, do pré – primário ao superior, de estatutos apropriados que trouxeram melhor

qualidade de vida e, portanto, maior estabilidade e motivação aos mesmos, ficando na

história que foi com o MpD que os professores eventuais passaram a ter salários nas

férias.

■ O avanço na qualificação dos professores (no EB, 67% em 2000 contra 21% em 1990

e no ES, 62% em 2000 contra 50% em 1990), com a criação do Instituto Pedagógico em

Page 14: O legado dos Anos 90

1993/94 e a criação do ISE, tudo acompanhado por novos cursos e extensão da

cobertura territorial destas escolas (Assomada e S Vicente).

■ A atribuição de importantes recursos à Educação (24,5% do Orçamento do Estado em

2000, contra 13% em 1990), com reflexos nos objectivos estratégicos, como

A democratização da oferta e as condições de trabalho e de estudo (aumento

substancial do número de salas de aula e a redução das salas cedidas/alugadas de

24% em 1990 para 10% em 2000 no EB e com a passagem de 8

estabelecimentos de ensino secundário em 1990 para 29 em 2000),

A eficácia do sistema (no EB, taxas de aprovação de 89% em 2000 contra 79%

em 1990),

A preparação dos jovens para a vida activa, com um programa de construção de

escolas técnicas e de residências escolares

E no acesso e no sucesso escolar, com o reforço dos apoios sociais escolares via

ICASE e das bolsas de estudo, no ensino secundário e universitário (FAEF).

A reforma do ensino básico trouxe, em 1994, ao lado de novos planos de estudo, de

novos programas, de novos manuais e de guias dos professores, uma nova configuração

escolar (os Pólos Educativos) e o ensino obrigatório de 6 anos, com um forte impacto

constatado pelo Banco Mundial (BM) no quadro a seguir e espelhado nos gráficos que

se apresentam.

Evolução da Taxa Líquida de Escolarização no

Ensino Básico

57 60

73

8995 96 95

0

20

40

60

80

100

120

1975 1980 1985 1990 1995 2000 2004

Percen

tag

em

Evolução do Número de Docentes no EB e

respectiva qualificação

7301236 1350

15991957 2186

3059 3214 3169 3198

13,1 6,6 3,9 9,1 13,9 20,5 61,3 67,2 72,7 780

1000

2000

3000

4000

1970 1974 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2003 2004

Número de Docentes no Ensino Básico

Percentagem de Docentes com Formação Adequada

A taxa de professores qualificados no EB passou de 20,5% em 1990 para 67,2% em

2000.

Indicador de Matrículas 1992/1993 1998/1999

Ensino Básico EBI 73.525 92.523

Do qual raparigas (%) 49,2 48,8

Secundário 12.511 35.584

Taxa Líquida de Matrícula EBI 94,0 98,5

Sexo Masculino 90,0 100,0

Sexo Feminino 87,0 97,0

Taxa de Repetição EBI (%) 19,5 9,7

Taxas de Desistência EBI (%) 26,5 2,4

Alunos que Passaram do EBI ao

Secundário (%)

52,0 83,8

Número de Professores

Page 15: O legado dos Anos 90

Ensino Básico EBI 2.476 3.228

Secundário 337 947

Proporção Alunos /Professores

Ensino Básico EBI 29,5 28,7

Secundário 37,0 39,3

Número de Salas de Aula

Ensino Básico EBI 1.278 1.720

Das quais alugadas 286 117

Fonte: Banco Mundial

A reforma do ensino secundário começou com a chegada dos primeiros alunos do

ensino básico reformado em 1996, contemplando uma nova configuração do sistema,

novos planos de estudo, novos programas, novos manuais e novos espaços pedagógicos

(bibliotecas, laboratórios e pavilhões desportivos).

Nesse período, o plano de estudos das escolas do ensino técnico foi modificado e os

professores das escolas técnicas receberam formação para melhorar as suas

competências e aumentar o conteúdo técnico dos seus cursos. Foram construídas e

projectadas várias escolas técnicas com o objectivo de colocar a formação técnica em

30% no ano 2002.

Um avanço enorme na construção e cobertura de liceus aconteceu na década de

noventa:

Ilhas como o Fogo, Brava, Maio, S Nicolau, Boavista ou Concelhos como S Domingos,

Tarrafal, S Miguel, Santa Cruz, Porto Novo, Paúl, S Jorge, Picos, que em 1990 não

tinham ensino liceal, passaram a te - lo com o governo do MpD na década de 90.

O resultado foi o grande desenvolvimento nas taxas líquidas de escolarização e no

número de alunos que passaram a frequentar os liceus, numa contribuição para uma

maior justiça social e na diminuição das desigualdades entre as ilhas, entre a cidade e o

campo e entre género.

Evolução da Taxa Líquida de Escolarização no

Ensino Secundário

2,8 5,3

20,3

33,2

53,9 55,3

0

10

20

30

40

50

60

1980 1985 1990 1995 2000 2004

Percen

tag

em

Evolução do Número de Alunos

49009

6468657044 58064

69823

8706992523 90640

83539

2113 2434 3246 5440 970119575

3719744748

51957

0

20000

40000

60000

80000

100000

1974 1975 1980 1985 1990 1995 1998 2000 2004

Ensino Básico(seis anos) Ensino Secundário(7º a 12º ano)

O número de alunos passou, no EB, de 69.823 em 1990 para 90.640 em 2000 e, no ES,

de 9.701 para 44.748. Muitos desses jovens são hoje cidadãos realizados em termos de

qualidade de vida e de valor reconhecido no desenvolvimento do País!

Dando continuidade às preocupações, mais centradas na qualidade do ensino,

importantes medidas de políticas foram aprovadas pelo governo do MpD, ainda em

1998 (Resolução nº8/98 de 16 de Março) no que se designou de “Reforma da

Reforma”.

Page 16: O legado dos Anos 90

Com efeito, os termos de referência políticos definiram um novo papel para as línguas,

as ciências, a inovação, a cultura e a educação cívica, bem como a natureza do ensino

secundário e o nível académico mínimo de 8 ou 9 anos de escolaridade obrigatória,

com os seguintes resultados esperados.

Coerentemente, um novo projecto foi identificado, negociado e acordado com o Banco

Mundial denominado de PROMEF (Projecto de Consolidação e de Modernização do

Ensino e da Formação, crédito IDA de 6 Milhões USD).

O Ensino Superior: o profundo desenvolvimento na década de 90

O grande objectivo estratégico na década de noventa foi o crescimento da oferta a nível

nacional! Mas, um crescimento com qualidade assente em três pilares: a democratização

do acesso, dando mais hipóteses para a sua frequência, a auto – sustentação financeira

com base num perfil de prestação de serviços à sociedade e não de subsídio -

dependência e ancoragem, em termos de planos de curso, no desenvolvimento

estratégico do País.

Essa estratégia de desenvolvimento do Ensino Superior levou a um rico percurso:

1992: Criação da Comissão Instaladora do Ensino Superior

1993: Estudos realizados por Marçal Grilo, Montalvão e Silva e Carmelo Rosa propõem

um vasto leque de opções estruturantes, entre elas, a criação do Instituto Universitário

de Cabo Verde (IUCV)

1994: Bacharelato em Ciências Agro – Florestais no INIDA

1995: Criação do ISE (ex - Curso de Formação de Professores do Ensino Secundário)

1996: Criação do ISECMAR (ex - Centro de Formação Náutica)

1997: Criação da Direcção – Geral do Ensino Superior e Ciência

1998: Criação do ISCEE ( ex- Cursos de Contabilidade e Gestão,1991)

1998: Alteração da LBSE (estruturação do Capítulo sobre Ensino Superior), aprovação

do Estatuto do Pessoal Docente do Ensino Superior

1997|99: O ensino superior à distância foi promovido através de acordos com o Instituto

de Formação Bancária e com a Universidade Aberta, todos de Portugal.

1998: Doutor J M Varela lança “Uma visão da Universidade de Cabo Verde”.

1998: Participação em Paris, UNESCO, da I Conferência Mundial sobre o Ensino

Superior

1999: Realização do Forum Internacional sobre o Ensino Superior em Cabo Verde, sob

o lema “Subsídios para uma Visão Estratégica do Ensino Superior em Cabo Verde”.

Page 17: O legado dos Anos 90

1999: O investimento externo chegou ao ensino superior em Cabo Verde com o acordo

de estabelecimento e o lançamento da primeira pedra para a construção da Universidade

Jean Piaget de Cabo Verde

2000: Criação da Universidade Pública de Cabo Verde e respectiva Comissão

Instaladora (resoluções)

Outras medidas de política no ensino superior:

■ Realização das Jornadas de Ciência e Tecnologia, com forte presença nacional e

internacional no quadro de uma abordagem sistémica Ensino Superior/Ciência &

Tecnologia/ Investigação & Desenvolvimento.

Atribuição de Bolsas de Estudo

0

200

400

600

800

1000

1988 1989 1990 1992 1995 1996 1997 1998 1999 200 2001 2002 2003

Total de Bolsas Atribuídas

Bolsas Financiadas pelo Governo de Cabo Verde

■ Adopção de um robusto programa de bolsas de estudo que incluía, inclusivamente, o

pagamentos pelo Estado, de subsídios de instalação e de renovação das bolsas e da

passagem de deslocação para o país de estudos aos novos bolseiros.

■ A adopção de normas visando o reembolso das bolsas – empréstimo no ensino

superior que iriam alimentar o Fundo de Apoio ao Ensino e à Formação (DL 57/93 de

13 de Setembro de 1992, DL4/95 de 19 de Fevereiro de 1996 e DL 6/97, DL 7/97 de 3

de Fevereiro de 1997), no quadro da solidariedade inter-geracional no acesso a esse

nível de ensino, bem como a previsão de uma linha de crédito para o fundo inicial

(DL8/97 de 3 de Fevereiro de 1997).

■ Aprovação do Estatuto do Pessoal Docente do Ensino Superior (Decreto Legislativo

nº 1/99) e do Estatuto do Pessoal Investigador (DL2/99), todos de 15 de Fevereiro de

1999.

O resultado foi a oportunidade para todos na formação superior, com mais justiça social

no acesso a esse nível de ensino e com mais quadros preparados para os diversos

sectores de actividade no desenvolvimento do País.

O ensino privado

A somar ao forte investimento no ensino público, foi estimulado o ensino privado,

regulamentado através do DL 17/96 de 3 de Junho de 1996, que se expandiu na década

de noventa, constituindo uma importante oferta alternativa, nomeadamente, para os que

já tinham abandonado a escola ou já trabalhavam.

A perspectiva fundamental, a mais profunda, do Paigg/Paicv quanto à função da

educação pode ser resumida nos trechos seguintes, que se reportam ao período inicial da

Independência : Eis o que dizia o Paigc/Paicv :

Page 18: O legado dos Anos 90

Esta concepção da educação foi aprovada pelo III Congresso do Paigc realizado em

Bissau, entre 15 e 20 de Novembro de 1977.

Em 1980 é aprovado o Regulamento do Curso de Formação de Professores, incluindo o

currículo do curso (portaria 75/80 de 13 de Agosto, BO nº 34). A formação político-

social representava 10% do tempo semanal de ensino. Os princípios e tudo o resto do

Paigc eram matéria obrigatória. Na programa da disciplina de Psicopedagogia, e no

concernente à Teoria da Educação eis o que o Paigc tinha a dizer :

O Programa de Formação Política e Social, que ocupava 10% do tempo dos alunos,

tinha os seguintes objectivos:

Page 19: O legado dos Anos 90

Os trechos acima falam por si.

7. Liberdade de associação, de manifestação e de expressão

Hoje em dia ninguém questiona o direito das pessoas se manifestarem livremente, ou de

criarem associações de todo o tipo, nem o direito das pessoas criarem ou pertencerem

livre e abertamente a partidos políticos. Ninguém questiona o direito de cada um

expressar os seus pontos de vista sobre qualquer aspecto da governação ou da realidade

social, por escrito ou de viva voz. A iniciativa privada está presente na rádio, televisão,

imprensa escrita, sem restrições.

Mas até ao ano 1990 a realidade era diferente. O Estado tinha o exclusivo da

propriedade dos meios de informação e comunicação ( artigo 11º da Constituição de

1980), não tolerava qualquer manifestação de oposição, nem qualquer expressão pública

de discordância. O Paigc , e depois o Paicv, era o único partido autorizado em Cabo

Verde, consagrado como força dirigente da sociedade e do Estado ( LOPE, Constituição

de 1980, artº 4º). Só esse partido podia concorrer a eleições. A oposição, tal como a

conhecemos hoje, não era permitida.

Para se ter uma ideia de qual era a perspectiva do Paicv em relação à comunicação

social e à função do jornalista, nada melhor do que fazer falar os documentos oficiais do

regime de então. Seguem-se alguns trechos do documento intitulado “ O trabalho

Page 20: O legado dos Anos 90

ideológico do Partido”, aprovado pelo 2º Congresso do Paicv a 27 de Junho de 1983. Os

textos falam por si.

Pouco depois de aceder à governação do país em 1991, e ainda antes da aprovação da

Constituição de 1992, o Governo do MpD instaurou a liberdade plena de associação,

reunião e manifestação, o mesmo acontecendo com a liberdade de expressão. A

comunicação social deixou de ser monopólio do Estado, tendo o sector sido

inteiramente aberto à iniciativa privada ( Dec-lei 172/91 de 30 de Novembro) e revisto o

estatuto dos jornalistas ( Dec-lei 171/91 da mesma data).

A Constituição de 1992 veio consagrar de forma explícita e extensiva a liberdade de

expressão e informação (artº 45º), a liberdade de imprensa (artº 46º) a liberdade de

associação ( artº 51º) e liberdade de reunião e manifestação ( artº 52º). A Constituição

de 1992 consagrou igualmente a “liberdade de deslocação e emigração” reconhecendo a

todo o cidadão o direito de sair e entrar livremente no território nacional.

Page 21: O legado dos Anos 90

Esta liberdade, que hoje tomamos como direito adquirido, não o era nos primeiros 15

anos de Independência. Para se sair do território nacional era necessário obter uma

“autorização de saída” concedida pela “Segurança”, a polícia política de então. O

Decreto –lei nº 32/76 de 05 de Abril estatuía expressamente o seguinte, no seu artigo

28º -1 :

Os anos noventa puseram termo a este completo absurdo.

A liberdade de associação, de criação de partidos, de eleições pluripartidárias e

competitivas, a liberdade de expressão e manifestação foram consagrados pela

governação da MpD e até hoje é o figurino que prevalece.

8. Liberdade sindical e direito à greve

Na linha do que acontecia nos regimes que serviram de modelo ao regime de partido

único em Cabo Verde, também aqui não havia liberdade sindical nem direito à greve

durante os 15 anos de duração desse regime. Na prática, qualquer tentativa de protesto,

por mais tímida que fosse, era imediatamente considerado como perigo para a segurança

nacional e tratado como tal pela Segurança ( polícia política).

Esta realidade era a expressão directa da concepção do Paigc/ Paicv, sobre o papel dos

sindicados. Os sindicatos eram entendidos como corrreias de transmissão do

Paigc/Paicv junto dos trabalhadores e tinham o mesmo estatuto da JAAC ( Juventude

Africano Amilcar Cabral) e da OMCV ( Organização das Mulheres de Cabo Verde),

como organizações sociais do Paicv. Apenas a UNTC-CS, organização social do Paicv,

era admitida como central sindical, na base do princípio da unicidade sindical tão cara a

todos os regimes comunistas de então.

Deixemos falar os documentos do próprio Paicv, nomeadamente o seu Programa e o

documento “O trabalho ideológico do Partido”, ambos aprovados no 2º Congresso em

Junho de 1983.

Sob a epígrafe “ O Sistema político”, o Programa do Paicv antes mencionado

considerava As rubricas “O Partido”, “O Estado” e “As organizações sociais”. Estas

últimas eram, assim, parte integrante do sistema político do Paicv. No documento sobre

o trabalho ideológico, afirma-se o seguinte numa das passagens enquadradas na epígrafe

“O Partido dirige o trabalho ideológico”: “ As organizações de massas e sociais, em

especial os sindicatos e a OMCV, são elementos de ligação entre o Partido e as massas.

Page 22: O legado dos Anos 90

Com a sua influência, podem chegar a milhares de trabalhadores, desenvolvendo a

consciência revolucionária do povo”. Mais à frente, sob a epígrafe “Educar os

educadores”, diz-se o seguinte : “O Partido deve fazer passar pelas suas escolas- em

particular pela Escola Central – não só os seus militantes, mas também os quadros da

JAAC-CV, da UNTC-CS, da OMCV e de outras organizações sociais e, ainda, abri-la

aos professores dos diversos níveis, aos restantes quadros e intelectuais que contactam

directa ou indirectamente com largos sectores populares.Trata-se, em resumo, de

“educar os educadores”. E para rematar, a lei consagrou expressamente a unicidade

sindical, ou seja, a UNTC-CS passou a ser oficialmente reconhecida como central

sindical única e unitária do país, conforme se pode ver no trecho seguinte (Dec –lei

50/80 de 12 de Julho), do BO nº 28.

Toda esta concepção dos sindicatos como meras correias de transmissão, e o principio

da unicidade sindical, foram postos em causa imediatamente após a vitória eleitoral do

MpD em 1991. O Dec-lei nº 170/91 de 27 de Novembro instituiu a liberdade de

associação sindical e acabou com a unicidade sindical. Os trabalhadores são livres de

criarem os sindidcatos que bem entenderem, e filiar-se naas centrais sindicais que lhes

aprouver. O quadro normativo estabelecido, moderno e democrático, respeitava e

incentivava o pluralismo e as liberdades sindicais.

A constituição de 1992 veio dar dignidade constitucional à liberdade de criação de

sindicatos ( artº 61º), direito do trabalhador escolher livremente o sindicato em que se

quer inscrever( artº 62º) e o direito à greve artº 64º).

O figurino actual do movimento sindical reflecte directamente a reforma feita nos dois

primeiros anos do governo do MpD, na década de noventa, e contrasta com toda a

prática do Paicv antes dessa data, e com a filosofia subjacente a essa prática.

9. Instituição do poder local

10. Protecção social do regime não contributivo

Rompendo com a prática anterior do s Governos do Paigc/ Paicv, o Governo de MpD

introduziu em finais de 1992 o primeiro regime formal de protecção social do regime

não contributivo. O Dec-lei nº 122/92 de 16 de Novembro criou a pensão FAIMO que

Page 23: O legado dos Anos 90

atribuia aos ex-trabalhadores das FAIMO (Frentes de Alta Intensidade de Mão de Obra)

a) uma pensão social por velhice aos indivíduos idosos de mais de 60 anos qur tivessem

trabalhado pelo menos 10 anos nas FAIMO e dels tivessem sido afastados em razão da

idade, desde que não exercessem qualquer actividade remunerada e se não encontrassem

abrangidos por quaquer sistema de protecção social; b) uma pensão social por invalidez

aos indivíduos definitivamente inválidos para qualquer profissão em virtude de acidente

de trabalho ou doenças contraída nos trabalhos das FAIMO, com idênticas restricções

quanto a exercício de actividade remunerada ou outros regimes de protecção social. Este

regime não pressupunha nenhuma contribuição anterior do trabalhador ou da entidde

patronal (o Estado).

Tratava-se de repor justiça para com trabalhadores de obras do Estado que na velhice ou

em caso de doença ficassem desamparados. O valor da pensão era equivalente a 3.000

escudos/mês à data da sua criação.

Em 1995, pelo Dec-lei nº 2/95 de 23 de Janeiro, foi instituida a Pensão Social, no

âmbito do Protecção Social Mínima, que formalizava a prática de concessão de um

subsídio a pessoas consideradas vulneráveis, isto é, dos indivíduos ou famílias em

situações de carência económica e social comprovadas ou vítimas de disfunção social

ou marginalização. O valor inicial da pensão era equivalente a mil escudos mensais.

Estas duas pensões sociais, cujos benficiários não fizeram qualquer contribuição

anterior, resultam de preocupações puramente humanitárias e de responsabilidade social

por parte do Estado. Foi a primeira vez que um tal regime foi instaurado no país, como

responsabilidade do Estado com tradução orçamental. Em finais de 2000, o número de

beneficiários dos dois tipos de pensão era de 12.300, a um custo global de 281 milhões

de escudos.

11. Atracção do investimento externo

12. Arranque do turismo

13. Redução da pobreza

Um dos principais traços distintivos dos anos 90, e da governação do MpD, foi a

acentuada redução da pobreza e a melhoria do bem-estar social das populações.

Page 24: O legado dos Anos 90

Fonte : Cape Verde, poverty diagnostic, November 2004. World Bank

O percentual de pobres na população cabo-verdiana diminuiu de 48,9% em finais dos

anos 80 para 36,7% em finais dos anos noventa, uma redução de 25%. No mesmo

período, a percentagem de muito pobres diminuiu dramaticamente, -37%. Outros

indicadores de pobreza apontam no mesmo sentido. A profundidade da pobreza, que

mede a distância que separa os pobres da linha de pobreza, diminuiu igualmente de

37%. E a gravidade da pobreza, que mede as desigualdades entre os pobres diminuiu

ainda mais acentuadamente, -44%.

Um dos indicadores utilizados para aferir das melhorias das condições de vida é o peso

das despesas com alimentação alimentação no consumo das populações. Quanto maior

for esta proporção, tendencialmente mais baixo é o nível de vida, e inversamente,

quanto mais baixo o seu valor, mais elevado é o nível de vida. O indicador baixou de

50% para 35%, uma redução de quase um terço, indiciando uma forte progressão do

nível de vida em Cabo Verde durante os anos 90.

O nível médio de consumo por habitante aumentou 40% na década de 90. E apesar de se

ter registado um ligeiro agravamento do nível da desigualdade, +5%, o nível de bem-

estar social (medido como o produto da média do consumo per capita por 1- coeficiente

de Gini), aumentou de um terço.

Estes desenvolvimentos positivos nos níveis de pobreza e de bem-estar social são

confirmados pela evolução muito favorável do indicador de desenvolvimento humano

(IDH) publicado pelo PNUD. Recorde-se que o IDH é um indicador compósito,

construído com base em três outros indicadores : o nível do PIB/habitante, a esperança

de vida, a alfabetização de adultos e a taxa bruta de escolaridade. O PIB/ habitante

reflecte o crescimento da riqueza. A esperança de vida reflecte a evolução das condições

sanitárias e de acesso a bens básicos. A escolaridade traduz o nível de instrução e

educação das populações. A evolução na década de noventa foi a seguinte, de acordo

com dados do PNUD.

Fonte: UNDP –HDI trends components 2009

Page 25: O legado dos Anos 90

O IDH melhorou 14 pontos na década de noventa, contra apenas 5%no período

posterior de 2000 a 2009.

A boa progressão dos indicadores de pobreza, bem-estar social e de desenvolvimento

humano, é o resultado das políticas económicas e sociais dos Governos do MpD nos

anos noventa. A tabela seguinte mostra a evolução dos indicadores utilizados para

construir o IDH.

Variação em % dos indicadores que compõem o IDH

(1990- 2000 e 2000-2007)

5%

3%

23%

9%

29%

-5%-5%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

Esperança de vida (anos) Alfabetização de adultos (%) Taxa bruta combinada de escolaridade ( %)

1990/2000 2000/2007

A esperança de vida progrediu 5% na década de 90 e 3% entre 2000 e 2007, evolução

diferenciada que reflecte o impacto das políticas sociais do Governo MpD nos anos 90.

A alfabetização de adultos foi uma das prioridades da educação nos anos 90, e os

resultados são evidentes, quando comparados com o período posterior a 2000. O mesmo

se pode dizer da taxa de escolarização. Na década de noventa a taxa bruta de

escolaridade ( todos os níveis de ensino) aumentou 29% e regrediu 5% entre 2000 e

Page 26: O legado dos Anos 90

2007. O PIB per capita, medido em função do Purchasing Power em Usd, também

progrediu mais rapidamente na década de 90 do que no período posterior a 2000.

Em suma, a década de noventa foi um período da história de Cabo Verde independente

em que se registou uma acentuada redução da pobreza, melhoria substancial do bem-

estar das populações e grande progresso do desenvolvimento humano, devido às

políticas económicas e sociais dos Governos do MpD, que conduziram ao crescimento

acelerado da economia e dos rendimentos das famílias.

14. Integração das comunidades emigradas

As comunidades emigradas foram sempre consideradas pelos governos do Paigc/Paicv

da década de oitenta, como cidadãos de segunda, fontes de divisas, mas sem

correspondentes direitos políticos.

Aos emigrantes foi proibido ter dupla nacionalidade. Logo em 1976, foi aprovada a Lei

da Nacionalidade, Dec-lei 71/76 de 24 de Julho, que expressamente consagrava a perda

de nacionalidade cabo-verdiana a quem adquirisse outra nacionalidade, como se pode

ver no trecho seguinte retirado do BO nº 30.

Num país de emigrantes, exigir destes que renunciem à nacionalidade do país de

acolhimento como condição para terem nacionalidade cabo-verdiana, revela total

insensibilidade para as condições de vida das comunidades emigradas.

Além disso, a participação das comunidades emigradas na vida política nacional era

fortemente condicionada. Em primeiro lugar os cabo-verdianos residentes no exterior

não podiam ser eleitos. A Lei nº 2 /80 de 9 de Setembro, artigo 5º c), considerava

inelegíveis “ Os que não residam em território nacional há pelo menos seis meses…”.

Ou seja, os que tivessem emigrado há mais de seis meses, não podiam ser eleitos. A

nova lei eleitoral de 1984 reafirma o mesmo princípio ( artº 5º). E para serem eleitores,

ou seja para poderem votar, era preciso que tivessem emigrado menos de cinco anos

antes do início do recenseamento, ou que tivessem cônjuge ou filho menos de 18 anos

em Cabo Verde. Veja-se o trecho seguinte retirado do BO 36 ( idêntico trecho consta

da lei eleitoral de 1984).

Page 27: O legado dos Anos 90

Em suma, a participação dos emigrantes nas eleições legislativas era dificultada ao

máximo. E nem sequer era considerada a possibilidade de participação na eleição do

Presidente da República, que era eleito pela Assembleia Nacional e não directamente

pelo povo.

E havia, ainda, uma dificuldade adicional, a não existência de círculos eleitorais no

exterior. A lei eleitoral de 1980 dizia o seguinte em relação aos círculos eleitorais “

Fora do território nacional não haverá círculos eleitorais e os eleitores exercerão o seu

direito de voto em relação às listas apresentadas pelo circulo eleitoral da área da sua

última residência”.

Qualquer semelhança com um processo eleitoral é mera coincidência.

Tanto mais que apenas um partido, o Paigc, e depois o Paicv, podia apresentar

candidaturas, como explicitamente referia a lei eleitoral de 1980 e reafirmava a lei

eleitoral de 1984 ( artº 18%). E, é claro, a penas o Paigc, depois o Paicv, podia fazer

campanha eleitoral. Eis o que dizia o artigo 67º da lei eleitoral de 1980 “ A promoção e

realização de campanha eleitoral caberá sempre ao Paigc, nos termos a definir pelos

seus órgãos competentes. Esta formula é retomada pela lei eleitoral de 1984 no seu

artigo 36º, apenas substituindo a palavra Paigc, por Paicv.

Page 28: O legado dos Anos 90

Nestas condições a participação dos emigrantes nos processos eleitorais não teve

qualquer expressão e nem era explicitado nos resultados finais. Aliás, os resultados das

chamadas eleições em que apenas um partido apresentava candidatos e fazia campanha,

eram os esperados, muito em linha com os resultados das “eleições” na ex-União

soviética e outros países de regime idêntico. Em 1980 (edital nº 16/80, suplemento ao

BO nº 50 de 16 d Dezembro) os resultados deram a “vitória ao ainda Paigc, com

92,48% de votos favoráveis. Em 1984 a percentagem de votos favoráveis subiu para

94,49% !

A visão integradora das comunidades emigradas como parte de pleno direito da Nação,

só teve tradução política efectiva com o advento da democracia em 1991. A

plurinacionalidade é expressamente reconhecida pela nova Constituição ( artigo 5º) e

pela lei eleitoral, o que permite aos emigrantes que tenham outras nacionalidade, para

além da cabo-verdiana, de participar nas eleições, podendo eleger e ser eleitos. Os

emigrantes passam a participar na eleição do Presidente da República. Foram criados

três círculos eleitorais no estrangeiro que, conjuntamente, elegem seis deputados à

Assembleia Nacional , o equivalente a cerca de 10% do total de deputados. Assim se

cortou definitivamente com a visão do emigrante como “estrangeirado”.

O Governo do MpD adoptou desde 1991 um conjunto de medidas visando reduzir os

encargos, nomeadamente aduaneiros, a que os emigrantes estavam sujeitos no seu

regresso definitivo ao país, e alargou os benefícios financeiros e fiscais associados às

poupanças dos emigrantes.

15. Rega gota a gota, desenvolvimento da horticultura ( agricultura)

16. Melhoria das condições de vida das populações

As políticas económicas e sociais dos Governos do MpD traduziram-se na prática por

melhorias sensíveis do nível médio de vida das populações e do acesso a bens essenciais

à qualidade de vida. O crescimento dos rendimentos das famílias, condição básica sem a

qual não se pode falar em melhoria das condições de vida, resulta evidente dos números

do PIB/ habitante que, em termos reais, cresceu em média 4,3% durante os anos 90,

induzindo um aumento global de 52% do nível médio de vida.

27,9 27,6 27,829,1

30,431,9

33,335,0

37,0

40,4

42,5

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

35,0

40,0

45,0

000 E

cv

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

INE : série PIB, projecções demográficas

Page 29: O legado dos Anos 90

A redução de um quarto no indicador de pobreza, de 37% no indicador de pobreza

extrema, a diminuição de cerca de 30% da taxa de desemprego( de 24% em 1990 para

17% em 2000), e a progressão de 3 anos na Esperança de vida, apontam igualmente

para uma progressiva melhoria das condições de vida das populações.

O número de agregados familiares com acesso a água canalizada mais do que duplicou,

passando de 10.971 em 1990 para 23.259 em finais da década, ainda que a proporção

global de agregados com água canalizada tenha permanecido relativamente baixa.

(25%).

Fontes : Censos 1990 e 2000

No que concerne à utilização de gás na cozinha, o número de agregados familiares que

passou a utilizar essa fonte de energia mais do que duplicou ( +119%). Dois terços dos

agregados familiares passaram a utilizar o gás como combustível, reduzindo

significativamente o número e proporção das famílias que utilizavam lenha para

cozinhar os alimentos.

Fontes : Censos 1990 e 2000

O acesso a casa de banho com retrete é um indicador importante do nível de saneamento

básico. Durante a década de 90, o número de famílias nessas condições passou de cerca

de 15 mil para 36 mil, mais duas vezes e meia.

Page 30: O legado dos Anos 90

Fontes : Censos 1990 e 2000

E os agregados com acesso a energia eléctrica quase triplicou, de 17 mil em 1990 para

47 mil em 2000, elevando a proporção de agregados com energia eléctrica e 50%,

contra 25% no início da década. Este resultado deve-se, em boa medida, ao programa de

electrificação rural que alargou em grande escala a oferta de energia eléctrica nas zonas

rurais.

Fontes : Censos 1990 e 2000

O acesso a telecomunicações é essencial à qualidade de vida das populações. Na década

de 90, as telecomunicações sofreram uma autêntica revolução, cujos resultados se

prolongam até aos dias de hoje.

Em finais da década a rede de telecomunicações já tinha atingido todas as localidades

rurais do país com mais de 200 habitantes., a comutação estava digitalizada a 100% e a

rede móvel GSM cobria a todo o território nacional.

Dois anos depois da introdução do telefone móvel, o número de utilizadores jáa tingia

20 mil

Evolução do numero de utilizadores da rede móvel

Page 31: O legado dos Anos 90

1.020

8.068

19.729

0

2.000

4.000

6.000

8.000

10.000

12.000

14.000

16.000

18.000

20.000

1998 1999 2000

Fontes: Relatórios CVTelecom

A progressão da rede fixa foi igualmente assinalável. Entre 1995 e 2000, o número de

utilizadores passou de 21 mil para 56 mil, o que se traduziu no aumento do nível de

penetração do telefone de 5,9 por 100 habitante para 12,9 por cem, no intervalo de

apenas 5 anos.

5,9

6,9

8,8

10,510,9

12,9

14,2

15,115,6 15,7

15 14,814,5

0

2

4

6

8

10

12

14

16

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Postos Telefónicos Principais /100 habitantes

Fontes: Relatórios CVTelecom

17. Reforma da saúde

18. Acordo cambial

Page 32: O legado dos Anos 90

19. Crescimento económico sustentado

Um dos elementos identificadores dos anos 90 foi a aceleração do crescimento

económico e o caracter sustentado desse crescimento. Após um período de recessão em

que o crescimento foi virtualmente negativo ( 0.6% em 1990), a economia retomou

lentamente nos dois primeiros anos da década de 90 para depois acelerar em 1993. Os

gráficos que se seguem mostram a diferença entre os perfis de crescimento dos anos

noventa , dos anos oitenta e dos anos 2000.

O primeiro gráfico mostra o perfil de crescimento da economia nos anos oitenta. A

volatilidade da taxa de crescimento reflecte o impacto de alguns projectos de grande

dimensão relativamente à dimensão da economia, como Cabnave, Interbase, e outros. O

crescimento tende a abrandar a partir de 1986, com especial incidência em 1990, em que

é praticamente nulo. O crescimento médio anual foi de 5.2%.

Taxa de crescimento anual do PIB real nos anos 1980 a 1990

Fontes : INE série contas nacionais 1980-2007: FMI : estimativas 2008/2010

O perfil de crescimento é completamente diferente nos anos noventa, conforme se pode

ver no gráfico seguinte.

Taxa de crescimento anual do PIB real nos anos 1990 a 2000

Page 33: O legado dos Anos 90

Fontes : INE série contas nacionais 1980-2007: FMI : estimativas 2008/2010

O crescimento médio anual 1990 a 2000 foi de 6.8%. Entre 1992 e 2000 foi de 8%, com

variações anuais relativamente estáveis num intervalo entre 6.7% e 8.4%, com excepção

do ano 1999, excepcional a todos os títulos.

No decénio 2000-2010 o perfil é de desaceleração, com excepção dos anos 2006 a 2008

Taxa de crescimento anual do PIB real nos anos 1990 a 2000

Fontes : INE série contas nacionais 1980-2007: FMI : estimativas 2008/2010

Page 34: O legado dos Anos 90

A taxa média de crescimento anual foi de 5.8%. O ano 2006 foi igualmente excepcional,

reflectindo em parte o impacto da presença da NATO em Cabo Verde para a realização

de exercícios militares.

Globalmente, nos anos noventa a dimensão da economia quase duplicou ( + 93%), mais

40% do que na década de oitenta ( 67%) e mais 22% do que na década de 2000 (76%)..

A análise da média de crescimento anual por períodos de cinco anos, revela que o

período 19995 a 2000 foi o de maior crescimento económico desde 1980.

Taxa média de crescimento real da economia

(períodos de cinco anos)

Fontes : INE série contas nacionais 1980-2007: FMI : estimativas 2008/2010

O crescimento real da economia repercutiu-se no crescimento dos rendimentos reais das

famílias. O indicador PIB/hab revela um padrão semelhante de crescimento mais

acelerado nos anos noventa, ainda que menos acentuado, devido ao facto de se ter

registado um crescimento mais acelerado da população nos anos noventa.

Taxa média de crescimento do PIB real 1980 a 2010

(períodos de cinco anos)

Page 35: O legado dos Anos 90

5,1%

2,4%2,7%

5,9%

3,4%

4,5%

0,0%

1,0%

2,0%

3,0%

4,0%

5,0%

6,0%

1980-1985 1985-1990 1990-1995 1995-2000 2000-2005 2005-2010

. Fontes : INE série contas nacionais 1980-2007: FMI : estimativas 2008/2010

20. Construção e Infraestruturas: de 1990 a 2000 - Do esgotamento ao

florescimento

Em 1990 o modelo económico que se tinha implementado no país a seguir à

independência estava esgotado e falido. No sector da construção, obras publicas e infra-

estruturas tinha-se optado a partir de 1975 por aniquilar a iniciativa privada no sector,

construindo em alternativa um modelo assente em exclusivo no sector publico em que o

Estado através das direcções regionais do Ministério das Obras Publicas espalhadas

pelas ilhas, complementadas pelas empresas publicas EMEC, MAC e Cooperativa de

Construção Civil executavam todas as obras do Estado por administração directa. Este

modelo publico exclusivo para o sector ressalta do estatuído nos estatutos da EMEC -

empresa responsável pela execução de todas as obras publicas e particulares a realizar

no país.

Estes diversos braços do Estado, concebidos para garantir uma eficiente cobertura social

através das FAIMO (Frentes de Alta Intensidade de Mão de Obra), realizando

infraestruturas publicas, evoluíram no sentido de estruturas administrativas de absorção

e redistribuição de verbas do orçamento do estado passando elas próprias a consumir, na

administração, parte significativa das verbas destinadas a Alta Intensidade de Mão de

Obra (mais de 35%). Era o tempo em que as estradas eram realizadas, no sistema de

“lata de terra na cabeça” o que conduzia a sérias deficiências técnicas e de qualidade nas

obras construídas, para além da muito reduzida produtividade e elevado custo sob a

capa de uma cobertura social perversa, com longos períodos de atrasos de pagamento

dos salários. Praticamente não existiam empresas privadas e todas as empresas públicas

passavam por sérias dificuldades sendo suportadas por transferências do Orçamento de

Estado. No caso da EMEC a situação de falência técnica era tão clara e grave que foi o

próprio governo do Paicv a tomar a decisão de declarar a falência e encerrar a empresa

Page 36: O legado dos Anos 90

em 1990, embora o processo só tenha sido concluído nos primeiros anos da década de

90.

Em 1991 altera-se o paradigma e o modelo e decide-se retirar o Estado da administração

directa, deixando a execução das obras com o sector privado e algumas publicas com as

Câmaras Municipais através de protocolos assinados com os Municípios entretanto

criados, com objectivos, qualidade e metas claramente definidos. Extinguiram-se as

direcções regionais de obras públicas transferindo o seu património, equipamentos e

recursos humanos designadamente, para as Câmaras Municipais. Estimulou-se a criação

e o desenvolvimento de empresas nacionais privadas que pudessem assegurar de forma

autónoma e com base em critérios de racionalidade económica e de concorrência, a

realização das obras públicas.

Quanto a outras intervenções políticas no sector, designadamente nas infra-estruturas, é

com a assinatura em 1992 do PIT (Programa de Infra-estruturas e Transportes),

programa de USD 100 Milhões com o Banco Mundial, que se inverte definitivamente a

forma como se passa a encarar o investimento público em infra-estruturas. Pela primeira

vez o país conta com um programa integrado de investimento em infra-estruturas e de

tão importante montante . Para além de um vasto programa de obras no país envolvendo

estradas, portos e aeroportos. Estabelece-se a obrigatoriedade de realizar análises

económicas de custo-beneficio antes da realização de qualquer obra, o que permite fixar

prioridades e opções.

Entretanto aprova-se em 1994 o novo regime jurídico de empreitadas, até esta data

ainda em vigor, que enquadra legalmente o sector e permite um ambiente estável em

que as empresas privadas se possam desenvolver. Introduzem-se ajustamentos à lei que

regula o exercício de actividade no sector das obras públicas e particulares. A regra para

a contratação passa a ser a de concurso público num quadro de transparência e

concorrência optando o Estado pela proposta mais vantajosa. Da inexistência de

empresas privadas no sector em 1990 passa-se para um número significativo em 2000

de mais de 70 empresas.

Realizam-se pela primeira vez no país obras em regime de concepção, financiamento e

construção, de que são exemplo os portos da Boavista e do Maio executados de acordo

com esse modelo. Em 1999 vai-se mais longe e a partir do convite às empresas cabo-

verdianas mais capacitadas para que se associem em consórcio a empresas portuguesas,

realizam-se outras obras nesse modelo, de que são exemplo obras que só têm o seu

inicio em 2001: Liceu e ISE do Palmarejo e Escola Técnica de SV e Marginal da Praia,

Infra-estruturação do Lazareto e Estrada Espargos/S.Maria.

O sector da CCOP passa a ter um peso importante no PIB (cerca de 10%) e cada vez

maior na criação de empregos (25, 40% da população activa), já não os da FAIMO, mas

em melhores condições de qualificação, remuneração atempada, obrigatoriedade de

cobertura pela segurança social e seguro de acidente de trabalho.

No ano 2000, o MPD para além de deixar o mercado da construção reformado e

liberalizado, deixou concluídas, de entre outras, as seguintes obras:

Portos da Boavista, Maio; Vale dos Cavaleiros, Furna, Porto Grande

em SV (incluindo placa de movimentação de contentores e terminal

de passageiros) Essas obras

estão aí para

serem vistas e

confirmadas

Estradas Espargos-Santa Maria (asfaltada); Mindelo-São Pedro

(asfaltada); R.Grande-Boca Ambas Ribeiras; Chão Bom-Ribeira

Prata; Ribeira Brava-Juncalinho

Saneamento 2ª fase do Plano Sanitário do Mindelo, Rede Água e

Esgotos das vilas de Sal Rei, Espargos e Santa Maria

Page 37: O legado dos Anos 90

Aeroporto do Sal - Obras de Upgrading (pista, concourse hall e

equipamentos)

Liceus/Escolas Técnicas – Porto Novo, Assomada, Ribeira Grande-

SA, Praia

Parque Industriais – Zona Industrial do Lazareto e Parque

Industrial de Achada Grande Trás.

Hospitais: Ribeira Grande-SA, R.Brava-SN,

Deixou, igualmente, em curso/com projecto e financiamento prontos:

Estradas de S. Domingos-Assomada, Porto Novo-Janela, Marginal da Praia-Acesso ao

Novo Aeroporto da Praia. e de S.Pedro

Liceus- Escola Técnica da Praia, Cuculi, Calabaceira,

Vários Centros de Saúde - Mosteiros, Maio, 5 na Praia etc

O actual Governo levou um mandato para concluir o novo aeroporto da Praia e quase

dois mandatos para concluir o pequeno aeroporto de S. Pedro. As obras feitas de raiz

pelo Paicv custam muito mais caras, em média 4 vezes superior ao preço do mercado

competitivo (se as obras fossem concursadas).

A filosofia da IFH foi completamente desvirtuada por este Governo. Se na década de 90

a IFH promovia e recorria às empresas privadas nacionais para construir habitações

destinadas às diferentes classes sociais do país, hoje, decorridos 10 anos de Governação

do Paicv, este instituto não apresenta nenhum resultado concreto, estando praticamente

inoperacional. O papel que lhe era reservado deu lugar aos programas “Operação

Esperança”, “Casa para Todos”, PLP-habitação, passando o IFH a ocupar o papel

reservado às empresas privadas, ainda que não o exerça com eficiência e eficácia.