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O Leitor do Milênio Fonte: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/leitor_milenio.htm Um amante da leitura Nesses últimos mil anos de história a relação do homem com o livro, com a cultura, radicalmente. Dos tempos dos mosteiros ao futuro que nos aguarda, o conhecimento e sabedoria definitivamente deixaram de pertencer a uma elite religiosa ou acadmica alcance de todos. Peregrinando para ler Quando se proclamou que a Biblioteca abarcava todos os livros, a primeira impressão foi de extravagante felicidade. Todos os homens sentiram-se senhores de um tesouro intato e secreto... o universo estava justificado." !orge "u#s $orges - a Biblioteca de Babel %maginemos um amante da leitura vivendo na &uropa medieval h' mil anos atr's, um ho mil. (uponhamo-lo um secular, um dos raros su)eitos instru#dos que não pertencesse uma das ordens religiosas. *t+ então, a única coisa para ler que estava ao seu alca que nascera era a vulgata da $#blia de (ão !er nimo um manuscrito em latim . /om sorte era poss#vel encontrar uma ou outra vida de um santo ou de uma santa. 0ora di dessem uma cr nica dos feitos do duque ou do conde local. 2ortanto, se quisesse p r 3omero, num 3or'cio ou num 4irg#lio, o nosso amigo teria que sair a implorar, a ir bater nas portas de um convento ou no mosteiro. & isso se estivesse próximo a um do pr+dios da f+ que pertenciam a confederação de /lun5. 6 bem prov'vel que levaria um ele ser atendido pelo prior ou pelo abade e, se os ares lhe fossem favor'veis, ele autori1ação para ve1 que outra poder freq7entar a biblioteca sagrada.

O leitor do milênio

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Nesses últimos mil anos de história a relação do homem com o livro, com a cultura, alterou-se radicalmente. Dos tempos dos mosteiros ao futuro que nos aguarda, o conhecimento e a busca da sabedoria definitivamente deixaram de pertencer a uma elite religiosa ou acadêmica para estar ao alcance de todos.

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O Leitor do Milnio

Fonte: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/leitor_milenio.htm

Um amante da leitura

Nesses ltimos mil anos de histria a relao do homem com o livro, com a cultura, alterou-se radicalmente. Dos tempos dos mosteiros ao futuro que nos aguarda, o conhecimento e a busca da sabedoria definitivamente deixaram de pertencer a uma elite religiosa ou acadmica para estar ao alcance de todos.

Peregrinando para ler

Quando se proclamou que a Biblioteca abarcava todos os livros, a primeira impresso foi de extravagante felicidade. Todos os homens sentiram-se senhores de um tesouro intato e secreto... o universo estava justificado."Jorge Lus Borges - La Biblioteca de BabelImaginemos um amante da leitura vivendo na Europa medieval h mil anos atrs, um homem do ano mil. Suponhamo-lo um secular, um dos raros sujeitos instrudos que no pertencesse ao clero ou a uma das ordens religiosas. At ento, a nica coisa para ler que estava ao seu alcance na parquia em que nascera era a vulgata da Bblia de So Jernimo (um manuscrito em latim). Com um pouco de sorte era possvel encontrar uma ou outra vida de um santo ou de uma santa. Fora disso talvez lhe dessem uma crnica dos feitos do duque ou do conde local. Portanto, se quisesse pr a mo num Homero, num Horcio ou num Virglio, o nosso amigo teria que sair a implorar, a ir como peregrino bater nas portas de um convento ou no mosteiro. E isso se estivesse prximo a um dos mais de mil prdios da f que pertenciam a confederao de Cluny. bem provvel que levaria um bom tempo at ele ser atendido pelo prior ou pelo abade e, se os ares lhe fossem favorveis, ele receberia a autorizao para vez que outra poder freqentar a biblioteca sagrada.

O mosteiro de Cluny, centro cultural do ano mil (Frana)

Lendo nos mosteiros

A arte da caligrafia

Folharia ento aqueles enormes manuscritos caprichosamente desenhados, letra a letra, muitas delas em gtico, por pacienciosos monges ao longo dos sculos. Algumas das obras, visto o seu peso, exigiam que ele as lesse em p, sustentadas que eram por um pequeno plpito. No disporia, entretanto, de muito tempo para isso. A sala de leitura daquelas bibliotecas, durante o outono e o inverno, eram escuras e muito frias, e seus dedos enregelavam em pouco tempo, enquanto os seus olhos, pela falta de uma boa iluminao, no demoravam em arder. Quando as letras, por enorme que fossem desenhadas,

Um monge leitor

comeavam a embaralhar-lhe a vista, ele sabia que era a hora de parar. No haviam ainda inventado os culos e as raras lupas s circulavam entre reis e bispos. Se insistisse em continuar lendo, a miopia aguda ou a cegueira logo obrigariam-no a desistir. Portanto, esse nosso leitor imaginrio, um apaixonado por livros, talvez conseguisse ler ao longo da sua vida uns cinco ou seis volumes integrais dos cobiados clssicos. Livros em casa nem pensar. Eram carssimos. Assim somente o monge tinha acesso cultura e ao saber.Na poca de GuttembergViajando no tempo para uns quinhentos anos atrs, em seguida ao invento de Guttemberg, ali pelos 1500, o nosso freqentador de bibliotecas estaria numa situao bem melhor. As letras agora, impressas em livros de papel leve, eram mais fceis de se ler. As primeiras livrarias haviam sido abertas na Holanda, na Alemanha, na Lombardia e na Toscana italiana. Algumas prefeituras deram para formar o seu minsculo acervo e no era mais preciso rogar aos abades,

Um leitor

pois as universidades tambm tinham cpias dos clssicos. Felizmente os novos impressos no eram feitos somente em latim, permitindo-lhe ler nos principais idiomas europeus, pois aumentaram as obras e as tradues publicadas em alemo, em ingls, em francs, em espanhol, em catalo e em italiano. Liberto da dependncia da biblioteca monacal, ele podia sair com um livro para ler ao ar livre, num banco de uma praa ou mesmo ao p da sua lareira em casa.

Um Raro Biblifilo

P.Pomponazzi (1462 - 1525)

Graas aos culos (dizem que difundidos por monge Roger Bacon), sua expectativa de horas de leituras ampliou-se, mas mesmo assim possuir livros continuava sendo apangio de alguns felizardos. Pietro Pompponazzi, um professor de filosofia de Pdua, um renomado biblifilo, quando faleceu em 1525, legou ao herdeiro o que muitos consideraram na poca a maior biblioteca privada de toda a Itlia: no tinha mais de cem volumes. Com toda a revoluo que a imprensa causou, os maiores acervos continuaram ainda durante muito tempo confinados aos mosteiros, s cortes e s universidades. O sacerdote, o rei e o acadmico, coligados ou no, detinham o monoplio do conhecimento.O Leitor do Terceiro MilnioImaginemos agora o leitor do futuro, desse terceiro milnio que agora adentramos. Com um par de cliques no seu computador acessado Internet, todas as bibliotecas do mundo se lhe estaro abertas. Em bem pouco tempo os incontveis arquivos histricos e cientficos existentes faro o mesmo. So milhes de exemplares, de volumes, de brochuras, de revistas especializadas, bilhes de pginas! Se quiser, ter um E-book, carregando uma infinidade de ttulos e todos os clssicos que desejar.

Abertas a todos

A irritao da leitura eletrnica ser facilmente superada por lentes especiais, adequadas a poder estender-se as horas de leituras sem leses vista. Cada indivduo, enfim, graas a Bill Gates, esse Guttemberg do nosso tempo, poder ter a cultura universal (livros, esculturas, pinturas, desenhos, etc.) a sua inteira disposio, dispensando qualquer intermedirio. Nenhuma autoridade, seja sacra ou profana, poder impedi-lo disso. O sonho de uma humanidade ilustrada, materialmente impossibilitado de constituir-se no passado, se ver ento realizado, fazendo com que a ignorncia no seja uma intransponvel fatalidade, mas apenas uma opo.