O Limbo Previdenciário No Auxílio-doença

  • Upload
    cahmis

  • View
    224

  • Download
    0

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Autores: Luiz Felipe de Alencar Melo Miradouro e Renato Squarzoni Dale

Citation preview

  • BIBLIOTECA DA

    Fonte:

    O limbo previdencirio no auxlio-doena

    Luiz Felipe de Alencar Melo Miradouro e Renato Squarzoni Dale

    Apesar das constantes inovaes na legislao previdenciria, mudanas promovidas pelo Governo Federal ignoraram a problemtica do auxlio-doena.

    No incio do ano de 2015 acompanhamos diversos pacotes de medidas provisrias e

    leis editadas pela Presidente da Repblica e pelo Congresso Nacional, contendo

    novas regras a serem aplicadas para o acesso a benefcios previdencirios como,

    por exemplo, o abono salarial, o seguro desemprego, a penso por morte e a

    aposentadoria.

    No obstante a novel legislao tenha dado ateno a questes financeiras da

    prpria autarquia previdenciria, consistentes na diminuio de gastos com o

    pagamento de benefcios, novamente o Governo Federal e os legisladores ignoraram

    um dos principais problemas enfrentados pelas empresas em todo o pas, qual seja,

    o limbo previdencirio.

    O limbo previdencirio o perodo em que o empregador /empregado e o INSS

    discordam da aptido/capacidade do empregado ao trabalho. A discordncia pode

    surgir entre a avaliao mdica realizada pelo empregador, ou mesmo pelo mdico

    particular do empregado, em que seja reconhecida a inaptido ao trabalho, em

    contrapartida percia do INSS que concede alta ao empregado, por consider-lo

    apto ao retorno de suas atividades.

    Para exemplificar, citamos a situao em que um empregado afastado por ser

    considerado incapaz para o exerccio de suas atividades por mais de 15 (quinze)

    dias consecutivos, sendo encaminhado percia mdica do INSS para avaliao de

    sua incapacidade, e concesso do auxlio-doena. Nessa situao, a empresa ser

    responsvel pelo pagamento do salrio do empregado pelos primeiros 15 dias e o

    INSS pelo perodo que se seguir.

    Ainda na situao acima citada, enquanto o empregado estiver em gozo do auxlio-

    doena no h limbo previdencirio, eis que a autarquia previdenciria tem o dever

    de pagar o benefcio (auxlio-doena) at o trmino da incapacidade laborativa.

  • BIBLIOTECA DA

    Contudo, no final do perodo de concesso do auxlio-doena, o

    empregado/segurado poder requerer a prorrogao do auxlio-doena e, caso seja

    indeferida tal prorrogao, poder recorrer administrativamente dessa deciso de

    indeferimento.

    Ocorre que, durante a pendncia na anlise do recurso interposto contra a deciso

    que indeferiu a prorrogao do auxlio-doena, o empregado dever retornar ao

    trabalho por ter sido considerado, pela autarquia previdenciria, apto ao exerccio

    de suas funes. Ato contnuo, ao se apresentar para o trabalho, aps a respectiva

    alta previdenciria, o empregado passa por novo exame mdico realizado por seu

    empregador, no qual poder ser constatada a manuteno de sua incapacidade para

    o trabalho.

    Apesar de o decreto 3.048/99 prever que, se concedido novo benefcio decorrente

    da mesma doena dentro de sessenta dias contados da cessao do benefcio

    anterior, o empregador no est obrigado a pagar novamente os 15 primeiros dias

    de afastamento, por se tratar de hiptese em que o referido benefcio ser

    prorrogado pelo INSS com o desconto dos dias trabalhados, a jurisprudncia

    trabalhista possui entendimento de que o empregado, frise-se, novamente afastado

    e reencaminhado ao INSS, no poder ficar sem sua remunerao.

    Por esse motivo, a jurisprudncia trabalhista tem colocado a cargo da

    empresa/empregador o pagamento da remunerao do empregado, at que a

    reavaliao pericial feita pela autarquia seja apresentada, com uma deciso sobre

    a manuteno da inaptido/incapacidade laboral do empregado e com o

    reestabelecimento do seu benefcio, ou a alta definitiva do empregado.

    Ocorre que, at a realizao da nova avaliao pericial pelo INSS, o empregador

    continua efetuando o pagamento da remunerao do empregado, sem existir regra

    que permita a compensao dos valores pagos pelo empregador no caso de a

    autarquia previdenciria reconhecer a incapacidade para o trabalho, pois, neste

    caso, seria dever da autarquia ter efetivado tais pagamentos por meio de auxlio-

    doena.

    Desse modo, da mesma forma que ocorre com o salrio-maternidade, em que a

    legislao determina o pagamento pelo empregador com sua compensao quando

    do recolhimento das contribuies previdencirias, a mesma legislao tambm

    poderia prever a possibilidade de o empregador compensar a remunerao paga ao

    empregado afastado por motivo de sade quando o dever de pag-la era do INSS,

    pois, devido incapacidade laboral, o empregado deveria estar em gozo de auxlio-

    doena.

  • BIBLIOTECA DA

    Como no existe tal previso autorizando a compensao do valor pago ao

    empregado, o empregador se v obrigado a acionar o Poder Judicirio, em ao que

    pode ser proposta contra a autarquia ou, at mesmo, contra o empregado

    (conforme o caso), para restituir os salrios pagos durante o perodo do limbo

    previdencirio, na tentativa de ser ressarcido do custo extra que foi obrigado a

    suportar.

    Portanto, apesar das constantes inovaes apresentadas at o momento na

    legislao previdenciria, as alteraes promovidas pelo Governo Federal

    novamente ignoraram a problemtica do limbo previdencirio, demonstrando que

    as medidas tomadas foram realizadas na exclusiva tentativa de reduzir despesas da

    autarquia na concesso de benefcios, sem, no entanto, resolver problemas que

    afetam a relao entre empregador, empregado e autarquia, o que certamente

    reduziria o nmero de litgios no mbito judicial.

    __________

    *Luiz Felipe de Alencar Melo Miradouro advogado da rea Previdenciria do

    Demarest Advogados.

    *Renato Squarzoni Dale advogado da rea Trabalhista do Demarest Advogados.