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O LIVRO DAS - artelibras.com.br · por causa da escrita ou da fala. O hindi e o urdu, que são línguas. faladas na Índia, são, praticamente, a mesma língua. Mas o hindi se escreve

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O HOMEM E ACOMUNICAÇÃO

O LIVRO DASLÍNGUAS

RUTH ROCHAOTÁVIO ROTH

Criação e projeto gráficoOTÁVIO ROTH

Ilustrações

RAQUEL COELHO

1992 – Prêmio Jabuti – Melhor Obra emColeção,

Melhor Produção Editorial1993 – Prêmio Monteiro Lobato para

Literatura Infantil,Academia Brasileira de Letras

Você já pensou como é importantesaber falar?

Falando, a gente pode explicar oque quer, o que pensa, o que sente.

Muitos, muitos anos atrás, o bichoque foi o antepassado do homem nãofalava. Ele se comunicava, como osoutros bichos, por gestos, por berros,

por grunhidos.Não se sabe bem quando, onde ou

como esse bicho começou a semodificar.

E pouco a pouco foi se tornando umanimal diferente.

Uma das coisas mais importantesque aconteceram com ele foi aprender afalar.

O que será que as pessoas falaramprimeiro?

Será que foram palavras de queixaou dor, como “Ai” e “Ui”?

Ou será que foram exclamações demedo, para chamar a atenção dos outros,num momento de perigo, como“Socorro!”?

Será que as pessoas começaram aimitar o som das coisas, como algunsíndios americanos que até hoje chamamo coração de “tum-tum”?

Ou ainda, será que as pessoascomeçaram a falar imitando os bichos,como as crianças pequenas, que chamamos cachorros de “au-au” e ospassarinhos de “piu-piu”?

Nós nunca vamos saber disso comcerteza, mas podemos afirmar que essainvenção foi um grande sucesso...

Os grupos de homens viviamisolados uns dos outros.

Cada um inventou uma línguadiferente, que só aquele grupocompreendia.

Mas os homens, naquele tempo,mudavam muito de lugar, à procura decomida ou fugindo do frio.

E levavam sua língua para outrosgrupos e aprendiam novas palavras comeles. As pessoas que estudam como aslínguas se formaram e se espalharamdizem que na Terra já existiram mais dedez mil línguas. Ainda hoje existem maisde três mil.

Algumas dessas línguas são faladaspor poucas pessoas, como entre astribos da Amazônia, por exemplo.

Outras são faladas por muitaspessoas.

As línguas mais faladas no mundosão o chinês, o inglês, o hindi, o russo, oespanhol, o japonês, o alemão, o

indonésio, o português e o francês.Cada uma dessas línguas é falada

por mais de cinquenta milhões depessoas.

Mas, se tirarmos dessa lista ochinês, o japonês e o indonésio, todas asoutras começaram juntas, eram umalíngua só.

Essa língua, que foi batizada deindoeuropeu, surgiu no centro da Europahá 25 mil anos!

A gente sabe disso porque nessaslínguas há muitas palavras e muitos sonsparecidos.

Veja a palavra “mãe”.Em inglês se diz mother, em

alemão, mutter, em latim, mater, em

espanhol, madre, em português, mãe, emrusso, mat, em hindi, matar.

O povo que falava essa língua foi seespalhando pela Europa.

E assim sua língua chegou à Itália, àGrécia, à Inglaterra, à França. Chegou àRússia e daí ao Irã, ao Afeganistão, àÍndia.

Em cada lugar a língua se modificou

durante muito tempo e acabou virandouma outra língua, um outro idioma.

E cada língua dessas se espalhoutambém, até mesmo por causa dasguerras.

Os romanos, por exemplo,conquistaram muitos lugares eespalharam o latim. O latim misturou-seàs línguas faladas naqueles lugares eacabou se transformando no francês, noitaliano, no espanhol, no português, nocatalão, no galego, no romeno.

Os homens começaram a se espalharpelo mundo em busca de comida.

Então, começaram a fazer guerras,para tirar o que os outros povos tinham,continuando a se espalhar.

Algumas pessoas saíam de suasterras por curiosidade, para conhecer omundo.

Outras viajavam para longe paraensinar sua religião.

E assim todas essas pessoasensinavam e aprendiam novas palavras,que levavam de volta para seu lugar deorigem.

Hoje existem palavras japonesas deorigem portuguesa, palavras espanholasde origem chinesa, palavras inglesas deorigem indiana.

Existem palavras latinas e gregasem muitos idiomas.

Por isso, mesmo que a gente nãoconheça uma língua, sempre consegueentender uma ou outra palavra dela.

Pesquisadores de todo o mundoestudam as línguas que ninguém maisfala, mas que deixaram documentos oumonumentos escritos. No entanto, nuncavamos saber qual o som que tinhamessas línguas.

Por isso, estão tentando gravar afala dos grupos que estão acabando,

como a das tribos de índios da Américado Sul e do Norte.

Em outras partes do mundo estãofazendo a mesma coisa.

Os russos conseguiram gravar a voze a língua do último sobrevivente datribo dos tártaros negros da Sibéria.

Mas, enquanto algumas línguasmorrem, outras podem renascer.

O hebraico, por exemplo, deixou deser falado por muitos séculos. Mas foimodernizado e hoje é a língua oficial deIsrael.

Por outro lado, muitas invenções

novas, como o automóvel, o telefone, ocomputador, tiveram de ganhar nomes àmedida que surgiam.

Existem algumas palavras que sãousadas no mundo todo, como táxi, hotel,uísque, menu, ópera, TV. Todo mundoentende, até os chineses.

O chinês, para os chineses, é umalíngua muito comum, é claro!

Mas para nós é interessante o fatode que todas as palavras chinesastenham apenas uma sílaba.

Ora, o número de sílabas simplesque a voz humana é capaz de produzir épequeno. Então, em chinês, uma única

palavra quer dizer uma porção decoisas. O que diferencia uma palavra daoutra é a entonação com que se fala.

A palavra Ma, por exemplo.Quando dita numa tonalidade alta,significa mãe; quando dita numatonalidade baixa, quer dizer cavalo.

O chinês é a língua mais falada nomundo todo e uma das mais difíceis deaprender.

A escrita chinesa é ideográfica,quer dizer, para cada palavra existe umsinal. Por isso, para ler um jornal oulivro em chinês é preciso conhecer pelomenos cinco mil “letras”!

A gente pode pensar que os povosde vida mais simples, como osesquimós, têm necessidade de menospalavras para se explicar do que povoscom vida mais complicada.

Mas isso é um engano. Os própriosesquimós possuem um vocabulário demais de vinte mil palavras!

Só para designar o leão-marinho,que para eles é muito importante, elestêm uma porção de palavras diferentes:uma para leão-marinho macho, outrapara leão-marinho fêmea, para leão-marinho grande, pequeno, de dentesgrandes, jovem, adulto, velho, e até paraleão-marinho sozinho ou acompanhado.

Vinte mil palavras é muito, secompararmos, por exemplo, com ovocabulário do latim vulgar, que erafalado pelo povo do Império Romano noauge de sua civilização e que tinha cercade quatro mil palavras!

Não seria ótimo se existisse umalíngua na qual todo mundo pudesse seentender?

Pois mais de dez línguas já foraminventadas com esse objetivo. Oesperanto é a mais conhecida de todas.

Quando você encontrar uma pessoa

usando um broche com uma estrelaverde, já sabe que ela sabe falaresperanto.

Essa língua é muito simples elógica, para que todos a aprendamfacilmente; baseia-se nas línguasneolatinas (francês, português, espanhole outras) e anglossaxônicas (inglês,alemão e outras).

Para quem conhece essas línguas,realmente é fácil aprender o esperanto.Mas não é todo mundo que conhece,então é uma língua difícil para a maiorparte das pessoas.

De todos os livros publicados nomundo, metade está escrita em inglês.Setenta por cento dos telegramas ecartas que circulam no mundo tambémestão em inglês. E mais da metade dostelefones instalados no mundo estão empaíses de língua inglesa.

Portanto, o inglês está mais próximo

de ser uma língua que todos entendem doque o esperanto.

De fato, é a língua mais ensinada nomundo. Tem um vocabulário riquíssimo,com palavras das mais variadas origens.

Outras línguas também se usam paraunir os povos. O francês, por exemplo, éa língua da diplomacia.

A Organização das Nações Unidasadotou seis línguas para os seustrabalhos: o inglês, o francês, oespanhol, o russo, o chinês e o árabe.

Embora pareça incrível, há línguasque desunem as pessoas.

Países onde se falam duas ou maislínguas podem ter problemas por causadisso.

Há ainda as línguas que se dividempor causa da escrita ou da fala.

O hindi e o urdu, que são línguas

faladas na Índia, são, praticamente, amesma língua. Mas o hindi se escrevecom “letras” sânscritas, enquanto o urduse escreve com “letras” árabes. Issoquer dizer que os paquistaneses e osindianos podem conversar entre si, masnão entendem a escrita uns dos outros.

O contrário também acontece.Chineses e japoneses entendem a escritauns dos outros, mas não se entendemquando falam.

O homem de hoje não é mais aqueleque vivia em cavernas, comia carne cruae balbuciava as primeiras palavras.

Construiu uma civilização poderosa,desenvolveu conhecimentos, criou novosmodos de vida.

Sua ciência permitiu que elecruzasse os mares, erguesse enormes

edifícios e até buscasse outros planetascom seus foguetes.

Mas tudo o que o homem fez sópôde ser feito porque ele dominou apalavra.

E até hoje a palavra e as línguaspermitem ao homem as duas coisas maisimportantes que ele pode fazer: escreversuas leis, para que possa viver demaneira civilizada, e declarar seu amor,para que ele possa viver feliz...

Ruth Rocha nasceu em 1931 na cidade de SãoPaulo. É uma das mais conhecidas escritorasbrasileiras de livros infantis e juvenis. Ganhouos mais importantes prêmios brasileirosdestinados à literatura infantil: FNLIJ, PrêmioJabuti, APCA e ABL, entre outros. Atualmenteé membro do Conselho Curador da FundaçãoPadre Anchieta. Casada com Eduardo Rocha,tem uma filha, Mariana, e dois netos, Miguel ePedro.

Otávio Roth (1952-1993). Paulistareconhecido mundialmente por sua obra empapel artesanal e eventos de arte participativa.Formou-se em Londres pelo Hornsey Collegeof Art. Morou e trabalhou em Israel, Noruega eEstados Unidos. Também recebeu váriosprêmios de literatura infantojuvenil comoilustrador e escritor. Suas ilustrações da Cartade Direitos Humanos estão em exposiçãopermanente nas sedes da ONU em Genebra,Viena e Nova York. No Brasil foi pioneiro nadivulgação do papel artesanal por meio decursos, oficinas, publicações e exposições. Seutrabalho de reciclagem de papel e de elementosda natureza contribuiu para a construção daconsciência ambiental.

Edição revisada conforme o AcordoOrtográfico da Língua Portuguesa Ilustrações: Raquel CoelhoTexto © Ruth Rocha Serviços Editoriais S/CLtda.Representado por AMS AgenciamentoArtístico, Cultural e Literário Ltda.Criação e projeto gráfico: Otávio RothConversão em epub: {kolekto} Direitos de publicação:© 1992 Cia. Melhoramentos de São Paulo© 2002, 2008 Editora Melhoramentos Ltda. 1.ª edição digital, junho de 2014ISBN: 978-85-06-07534-0 (digital)ISBN: 978-85-06-05589-2 (impresso) Atendimento ao consumidor:Caixa Postal 11541 – CEP 05049-970