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O Livro dos Espiritos no Século XIX

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Page 1: O Livro dos Espiritos no Século XIX

O Livro dos EspO Livro dos Espííritos ritos no no

contexto do scontexto do sééculo XIXculo XIX

AlvaroAlvaro ChrispinoChrispino20082008

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ObjetivosObjetivos

• Apresentar aos espíritas o meio científico, tecnológico e cultural em que vivia Allan Kardec.

• Apresentar a qualidade dos interlocutores da ciência, tecnologia e cultura que conviviam com Allan Kardec.

• Apresentar a opinião de pesquisadores contemporâneos sobre a importância da figura e da atuação pessoal de Allan Kardec no sucesso do Espiritismo.

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A visão dos A visão dos EspEspííritos ritos

... pairava na psicosfera cultural da França e do mundo, algo de extraordinário que deveria acontecer para alterar completamente e por definitivo a conduta religiosa que se debatia nos estertores da obstinação medieval, sobrevivente a todos os avançados passos do conhecimento existente. Eram os prenúncios da chegada do Espiritismo, cujos missionários responsáveis pelo ministério já se encontravam reencarnados uns, enquanto os outros preparavam a instalação da Nova Era.

Vianna de CarvalhoEm Homenagem a Kardec

In Reconhecimento a Allan Kardec

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O perO perííodo visto pelos historiadores da odo visto pelos historiadores da CiênciaCiência

Quando enviou a Napoleão Bonaparte uma cópia do seu trabalho “A Mecânica Celeste”, o matemático Laplace foi questionado pelo imperador sobre como organizava uma teoria a respeito do assunto sem citar Deus. Laplacerespondeu: “Não necessito dessa hipótese”. Com tal resposta, ele rompia com outros cientistas que defendiam a ligação do Cosmo com a figura de Deus, tal como Galileu e Newton

Esse rompimento com a história da ciência satisfazia, no século XVIII, os princípios da Revolução Francesa e a ciência que dela derivou, que bania a Deus e a Igreja, bem ao gosto de Bernard de Fontenelle (1657-1757). Sobre ele, escreve Kneller: “o seu papel foi herdado por Voltaire, que rotulou o seu papel foi herdado por Voltaire, que rotulou a religião cristã de ilusão e afirmou que o caminho para a a religião cristã de ilusão e afirmou que o caminho para a verdade era atravverdade era atravéés da Ciência. Assim, com os s da Ciência. Assim, com os Enciclopedistas, o mundo passou a ser visto como uma Enciclopedistas, o mundo passou a ser visto como uma mmááquina funcionando de acordo com leis permanentes quina funcionando de acordo com leis permanentes que não necessitam de intervenque não necessitam de intervençção divinão divina”.

Kneller, George F. A Ciência como atividade humana, 1980.

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Acontecimentos Acontecimentos gerais (I) gerais (I)

• A França, no século XIX, foi marcada pela coroação de Napoleão Bonaparte no início do século e, na sua segunda metade, pelo surgimento de Luis Bonaparte como imperador da França.

• Neste mesmo século enfrentou duas revoluções (1830 e 1848) e viu o surgimento da Terceira República (1875).

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• Nos Estados Unidos da América, surgem a figura de Lincoln e a conhecida guerra civil americana. Na América do sul, a figura de Simon Bolívar – que viveu algum tempo em Paris – alimenta os processo de independência das colônias espanholas.

• No Brasil, temos a figura de Dom Pedro I e vivemos, neste século, a Independência do Brasil, a libertação dos escravos e a Proclamação da República.

Acontecimentos gerais (II) Acontecimentos gerais (II)

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• Em 1857, morre Augusto Comte, figura maior do Positivismo, que defendia que o fato é divino, denotando uma função eminentemente descritiva dos fenômenos, e contrapondo-se à doutrina do idealismo, que buscava uma explicação, uma unificação da experiência mediante a razão.

Ciências sociais e Filosofia (II)Ciências sociais e Filosofia (II)

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... a invenção da fotografia, a fabricação industrial do sabão, a vulcanização da borracha, o cimento armado, a primeira ligação ferroviária francesa, o carburador e o motor a diesel, o primeiro cabo telegráfico submarino, o motor elétrico, o telefone, o microfone e outros aparatos tecnológicos e técnicas que mudaram o rumo da sociedade e do consumo.

Tecnologia (IV)Tecnologia (IV)

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Ciências Naturais (I) Ciências Naturais (I) • Louis Pasteur, em 1847,

completa seus estudos de doutorado na Escola de Física e Química em Paris e, posteriormente, anuncia suas primeiras descobertas sobre assimetria dos cristais, iniciando os estudos sobre a fermentação lácteae o processo que seria conhecido como pasteurização.

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• A história contempla Darwin mas Alfred Russel Wallace, naturalista conhecido, era também defensor da idéia e chegou a publicar essas idéias.

• É também descoberto o pitecantropo, em Java, trazendo ares de confirmação ao elo de ligação proposto na evolução

Ciências Naturais (III) Ciências Naturais (III)

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Ciências Naturais (II) Ciências Naturais (II) • Gustav Kirchoff apresenta suas análises sobre a

constituição química do Sol. • Antoine Becquerel descobre a célula fotovoltaica. • Carnot lança as bases da importante teoria da

termodinâmica. • James C. Maxwell expõe a teoria eletromagnética

da luz e reúne as leis do eletromagnetismo nas conhecidas equações de Maxwell.

• São contemporâneas as pesquisas como as desenvolvidas por Ohm, Plücker, Geissler, Henry, Oensted, Lorentz, Milikan, Ampère, Planck, Joule, Hess, Bunsen, Angstron, Canizzaro, Dalton, Proust Gay-Lussac, Kelvin, Crookes e Flammarion.

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Literatura (I)Literatura (I)• Julio Verne, radicado em

Paris, apresenta ao público, em 1862, a obra Cinco Semanas em um Balão, que se tornou um sucesso na França e, depois, no mundo. Após, vieram, principalmente, Viagem ao centro da Terra, Da Terra a Lua, A volta ao mundo em oitenta dias, Vinte mil léguas submarinas e Paris no Século XX (uma obra de visão prospectiva cujo manuscrito foi descoberto em 1989).

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Literatura (II)Literatura (II)

Victor Hugo

Alexandre Dumas

Leon Tolstoi

Honore de Balzac

Goethe

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Literatura (III)Literatura (III)

Castro Alves

José de Alencar Machado de Assis

Eça de Queiroz

Franz Kafka

Dostoievski

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A ciência e a importância de DeusA ciência e a importância de Deus

“a maioria dos membros da Royal Society [de Londres] eram profundamente religiosos e acreditavam que a ciência, como a teologia, era um modo de provar a existência e a generosidade de Deus. Newton, por exemplo, procurou mostrar que Deus estava "ativo" no mundo. Sustentou que o universo e seus corpos constituintes consistiam principalmente em espaço vazio através dos quais a gravidade e outras forças atuam instantaneamente. Afirmou que, na ausência de um veículo material para transportá-las, os efeitos dessas forças tinham que ser transmitidos por intermédio do próprio Deus. (...)

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“Hoje, a teoria da evolução é aceita pela grande maioria dos cientistas religiosos e a Religião e a Ciência são consideradas,em geral, interpretações complementares e não conflitantes da natureza. A Ciência, nesse ponto de vista, investiga o mundo físico, enquanto que a Religião imprime um significado à vida do homem. Na verdade, quando leio História, observo que o pensamento científico tem sistematicamente muito em comum com a teologia. As maiores teorias da Ciência foram cosmológicas – isto é, interessadas na natureza última do universo como um todo – e alguns dos maiores cientistas em tempos recentes (como testemunharam Faraday, Maxwell, Planck e Einstein) foram homens religiosos, na mais ampla acepção desta palavra.”

Kneller, George F. A Ciência como atividade humana, 1980

A ciência e a importância de Deus (II)A ciência e a importância de Deus (II)

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Ainda sobre Deus...Ainda sobre Deus...• Einstein escreve a Max Born que “a teoria [quântica]

explica muita coisa mas não nos avizinha dos segredos do Velhote. De qualquer forma, estou convencido de que Ele não joga dados”. Mais tarde diria a Niels Bohr: “Deus Deus éé refinado, mas não refinado, mas não éémaliciosomalicioso”.

• Mas a verdadeira síntese entre Ciência e Religião pode ser obtida pela frase de Max Planck que, além de físico notável, era companheiro de Einstein na música de câmara que, ao violino, acompanhava Planck ao piano: “A Ciência empenha-se em aproximar-se de Deus, porque ela busca os absolutos por Ele criados”.

• Começamos agora a vislumbrar que Allan Kardec tinha motivos para marcar o início da seqüência de perguntas de O Livro dos Espíritos com a celebre pergunta: Que éDeus? visto que era possuidor do conhecimento da ciência de seu tempo numa visão ampla, posições essas que o tempo demonstrou serem acertadas.

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O que dizem os pesquisadores de O que dizem os pesquisadores de hojehoje

• A fim de melhor esclarecer esta posição, gostaríamos de evocar a opinião de pesquisadores do campo das ciências sociais que, recentemente, se debruçaram em estudos sobre o Espiritismo e sobre a maneira como a Doutrina Espírita se originou e se multiplica, especialmente no Brasil.

• Dentre os muitos pesquisadores, escolhemos Emerson Giumbelli, Sandra Stoll e Fábio Luiz da Silva, que, ao escreverem sobre os temas que os motivam, apresentam estudos e opiniões sobre Allan Kardec e O Livro dos Espíritos, cujo recorte nos utilizaremos.

• Além destes, recorreremos aos autores Marion Aubreé e François Laplantine, cuja obra sempre referida, se dedica a estudar o surgimento do Espiritismo na França e seu desdobramento no Brasil.

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Eric Eric HobsbawnHobsbawn(Paz e Terra, 1982)(Paz e Terra, 1982)

• O conhecido historiador escreverá que énesse momento “que a Igreja passa a ser vista como ameaça ao progresso e os membros da sociedade procuravam formas de religiosidade que atendessem ao afetivo (negligenciado pela ciência) e ao racional (desprezado pela religião)”

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Eric Eric HobsbawnHobsbawn (Paz e Terra, 1982)(Paz e Terra, 1982)

• Escreve ainda Hobsbawm que “a impressionante popularidade do espiritualismo, que teve sua primeira voga na década de 1850, é talvez provavelmente devida a essa tendência. Suas afinidades políticas e ideológicas se faziam com o progresso, a reforma e a esquerda radical e não menos com a emancipação feminina, (...) tinha a vantagem considerável de colocar a sobrevivência após a morte dentro de um contexto da ciência experimental, talvez mesmo (como a nova arte da fotografia poderia demonstrar) no de uma imagem objetiva”.

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FFáábio Silva bio Silva (EDUEL, 2005)(EDUEL, 2005)

• As chamadas matrizes para o estabelecimento do Espiritualismo Moderno, encontram-se no século anterior, personificadas nas figuras de Emmanuel Swedenborg e Kaspar Lavater.

• O primeiro, professor de teologia na Universidade de Uspsala (Suécia), esteve envolvido em experiências místicas e recebeu mensagens espirituais anunciando uma Nova Revelação.

• O segundo, Kaspar Lavater (*) , foi pastor em Zurique, realizando diversos trabalhos sobre a condição da alma, inclusive sobre a possibilidade de comunicação entre chamados vivos e ditos mortos.

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Sandra Sandra StollStoll (EDUSP, 2003)(EDUSP, 2003)

• O século XIX forneceu a essa sociedade uma forma de religiosidade que preenchia suas expectativas e que ele chamou de “Espiritualismo moderno”, que “pretendia absorver os valores da modernidade, da ciência e da tradição cristã”. Nessa busca, a sociedade de então encontrou dois grandes movimento filosóficos de origens diversas, a Teosofia, de Helena Blavatsky, e o Espiritismo, codificado por Allan Kardec.

•• O êxito que caracteriza o Espiritismo se deve, O êxito que caracteriza o Espiritismo se deve, certamente, certamente, àà origem espiritual das informaorigem espiritual das informaçções mas, ões mas, tambtambéém, ao carm, ao carááter metter metóódico e sistemdico e sistemáático que tico que StollStoll(2003) atribui (2003) atribui àà aaçção particular de Allan Kardecão particular de Allan Kardec.

Helena Blavatsky

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AubreAubreéé e e LaplantineLaplantine (1990) (1990)

• Afirmam os autores “que Allan Kardec se tornara um best-seller da França do Segundo Império. Dizem eles que sua primeira obra, O Livro dos Espíritos, eclipsou todos os outros livros que, à época, tratavam do tema da comunicação entre vivos e mortos".

• Allan Kardec transformou os fenômenos surgidos em Nova York em uma doutrina sistêmica baseada na reencarnação e no progresso social ou, melhor dizendo, no progresso social pela reencarnação.

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Em sEm sííntese...ntese...• Silva (2005) escreve sobre a necessidade de

realização de estudos sobre o Espiritismo e diz que para “Giumbelli, a literatura antropológica, sociológica e historiográfica dedicada ao Espiritismo é insuficiente diante da importância cultural e sociológica do fenômeno” e que, para Sandra Stoll, há “uma lacuna nos estudos sobre religiosidade” em torno do tema Espiritismo (...), completando que “o Espiritismo, portanto, ainda é terreno fértil e quase intocado pelos historiadores”.

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AndrAndréé Luiz Luiz (FEB, 1965)(FEB, 1965)Apesar disso, ainda ouvimos de alguns

espíritas a expressão – que se esvazia frente aos fatos – de que “Kardec estásuperado”! Parece que os pesquisadores atuais não pensam assim...

A esta convocação a novas pesquisas, une-se a voz do espírito André Luiz, nos idos de 1965 quando, na introdução da obra “Estude e Viva”, conclama os espíritas a uma grande tarefa:

“Estamos defrontados no Espiritismo Estamos defrontados no Espiritismo por uma tarefa urgente: por uma tarefa urgente: desentranhar o pensamento vivo de desentranhar o pensamento vivo de Allan Kardec dos princAllan Kardec dos princíípios que lhe pios que lhe constituem a codificaconstituem a codificaçção ão doutrindoutrinááriaria...”

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Reconhecimento a Reconhecimento a Allan KardecAllan Kardec

Só agora podemos entender melhor as palavras de Leon Denis, ao dirigir-se ao Apostolo de Lyon em forma de agradecimento. Façamos nossas suas palavras e digamos, em uníssono:

Kardec, ““nnóós, os beneficis, os beneficiáários rios dada vossa sabedoria, agradecemos, vossa sabedoria, agradecemos, emocionados, e pedimos emocionados, e pedimos humildemente: ore por nhumildemente: ore por nóós,s, vvóós que s que jjáá estais no reino dos cestais no reino dos cééus!us!””

Página psicografada em francês e de trás para frente (especular) pelo médium Divaldo P. Franco em Paris, França, por ocasião da abertura solene do 4º Congresso Espírita Mundial, em 02/10/04.

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Bibliografia citadaBibliografia citada• Aubrée, Marion e Laplantine, François. La table, le Livre et les Esprits.

Éditions Jean-Claude Lattés, 1990.• Chrispino, Alvaro. O Trabalho de Allan Kardec e o impacto de O Livro

dos Espíritos: o que dizem as pesquisas contemporâneas. Presença Espírita, março/abril, 2007, p. 46-49.

• Giumbelli, Emerson. O Cuidado dos mortos: uma história da condenação e legitimação do espiritismo. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1997.

• Hobsbawm, Eric J. A era do capital. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.• Horta, Marcio Rodrigues. O impacto do manuscrito de Wallace de 1858.

http://scientiaestudia.org.br/revista/PDF/01_02_06_Marcio.pdf• Kneller, George F. A Ciência como atividade humana. Rio de Janeiro:

Zahar; São Paulo: EDUSP, 1980.• Lantier, Jacques. O Espiritismo. Lisboa: Edições 70, 1980.• Pugliesse, Adilton e Chrispino, Alvaro (orgs.) Reconhecimento a Allan

Kardec. Salvador: LEAL, 2007.• Silva, Fábio L. da. Espiritismo: história e poder (1938-1949). Londrina:

Eduel, 2005. • Stoll, Sandra J. Espiritismo à Brasileira. São Paulo: EDUSP, 2003.• Xavier, Francisco C. e Vieira, Waldo/ André Luiz. Estude e Viva. Rio de

Janeiro: FEB, 1965, introdução.