60

O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Ensaio elaborado no campus universitário Darcy Ribeiro, UnB/DF; Brasil; com o intuito de descobrir o real lugar do pedestre nessa universidade.

Citation preview

Page 1: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário
Page 2: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

2

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DE BRASÍLIA

DEPARTAMENTO DE TEORIA E HISTÓRIA

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DARCY RIBEIRO – ASA NORTE – BRASÍLIA/DF

+55 61 3107.7439 [email protected] WWW.FAU.UNB.BR

Estudo de caso: UnB

O Lugar do Pedestre no

Espaço Universitário

Juliana Lopes Vasconcelos

AUTORA

Prof.ª Me. Carolina Pescatori Candido da Silva ORIENTADORA

Prof. Dr. Benny Schvarsberg AVALIADOR

Prof. Dr. Frederico Flósculo Pinheiro Barreto

AVALIADOR

Page 3: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

3

“Caminhar é o início, o ponto de partida. O homem foi criado para caminhar e todos os

eventos da vida – grandes e pequenos – ocorrem quando caminhamos entre outras pessoas.

A vida em toda a sua diversidade se desdobra diante de nós quando estamos a pé.”

Jan Gehl

Page 4: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

4

Apresentação

Atualmente, a mobilidade urbana nas cidades é um conceito fundamental dentro da sociedade. Segundo o dicionário, Michaellis, a

mobilidade é o deslocamento de indivíduos, grupos ou elementos culturais no espaço social. A importância desta questão incentivou a

criação da Lei Federal nº 12.587/2012, que trata da Política Nacional de Mobilidade Urbana. Nela constituem fundamentos e diretrizes para

incentivar o uso de meios não-motorizados de transporte. Dessa forma, é fundamental que as soluções para os espaços urbanos,

destinados à circulação de pedestres, contemplem as necessidades das pessoas, em especial as com dificuldade de locomoção, para que

possa ser garantida a acessibilidade universal. Pode-se dizer que pensar em mobilidade de pedestre é pensar em acessibilidade. (AGUIAR,

2011). O pedestre, então, é a temática central desse estudo, em que se depara com o questionamento de como ele percorre o espaço do

campus. Esse espaço está estruturado para o uso do pedestre? Qual é o lugar do pedestre no campus? Portanto, esse estudo se manifesta

para investigar e descobrir essas indagações dentro do cenário do Campus Universitário Darcy Ribeiro, na Universidade de Brasília.

Page 5: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

5

Conteúdo

Apresentação ................................................................................................................... 4

Introdução ........................................................................................................................ 7

Objetivos .......................................................................................................................... 8

Justificativa ...................................................................................................................... 9

Campus _ Por quê? ................................................................................................................................ 9

Pedestre_ Por quê? ................................................................................................................................ 9

Fundamentação Teórica ............................................................................................... 12

2.1 Breve histórico ............................................................................................................................. 12

2.1.1 O modelo de campus universitário ............................................................................... 12

2.1.2 O surgimento do campus universitário no Brasil .................................................... 14

2.2 Brasília, cidade planejada. ..................................................................................................... 16

2.2.1 O projeto de Brasília ........................................................................................................... 16

2.2.2 A cidade universitária de Brasília ................................................................................... 17

2.3 A criação da Universidade de Brasília .............................................................................. 19

2.3.1 Plano Pedagógico ................................................................................................................ 19

2.3.2 O projeto urbanístico e arquitetônico ......................................................................... 20

2.4 A evolução do espaço físico do Campus ........................................................................ 22

2.4.1Período de 1960-1970 ......................................................................................................... 22

Page 6: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

6

2.4.2Período de 1970-1980 ......................................................................................................... 22

2.4.3Período de 1980-1990 ......................................................................................................... 24

2.4.4Período de 1990-2000 ......................................................................................................... 25

2.4.4 Período de 2000 até hoje .................................................................................................. 25

2.5 O espaço do pedestre dentro do Campus ..................................................................... 26

Diretrizes para análise do espaço do pedestre ........................................................... 28

3.1 Aspecto da Acessibilidade ..................................................................................................... 31

3.2 Aspectos da Segurança e Proteção ................................................................................... 33

3.3 Aspecto do Conforto Ambiental ....................................................................................... 34

3.4 Aspecto da Atratividade ......................................................................................................... 36

3.5 Síntese das diretrizes a serem analisadas ...................................................................... 38

Estudo de Casos: Campus Darcy Ribeiro - UnB .......................................................... 40

4.1 Percurso Longitudinal .............................................................................................................. 41

4.1.1 Estação “A” ................................................................................................................................... 42

4.1.2 Estação “B” ................................................................................................................................... 44

4.1.3 Estação C ....................................................................................................................................... 45

4.1.4 Estação D ...................................................................................................................................... 48

4.1.5 Estação “E” .................................................................................................................................... 49

4.1.6 Estação “F” .................................................................................................................................... 50

4.1.7 Estação “G” ................................................................................................................................... 51

4.1.8 Estação “H” ................................................................................................................................... 53

4.2 Quadro Resumo .......................................................................................................................... 54

Considerações Finais ..................................................................................................... 56

Referências Bibliográficas ............................................................................................ 58

Page 7: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

7

Introdução

A intenção deste trabalho está em descobrir o verdadeiro espaço do pedestre dentro do campus universitário. A configuração dos

edifícios no campus universitário e os caminhos traçados a partir disso são características fundamentais para o entendimento da circulação

do pedestre na universidade. Para isso, inicia-se o estudo fazendo um panorama da evolução dos campi universitários até chegar à

organização obtida nos dias de hoje. E depois parte-se para o entendimento das dimensões e conceitos que valorizam a prática da

mobilidade sustentável na sociedade até chegar ao estudo de caso. Procura-se entender quais são as diretrizes para valorizar e estimular os

percursos e caminhos e, consequentemente, o pedestre.

Além disso, a análise da (1) qualidade dos percursos e da (2) acessibilidade são conceitos-chave que servem para compreender se o

usuário utiliza ou não esse espaço dedicado a ele e em que condições esses percursos se apresentam para o pedestre. Para ilustrar essa

compreensão do espaço, utilizar-se-á o campus universitário Darcy Ribeiro para a aplicação da metodologia elaborada. Sendo assim, o

estudo de caso na Universidade de Brasília serve para colocar em prática os aspectos estudados, para que se obtenha um diagnóstico do

cenário das calçadas, percursos e demais espaços dedicados a esses pedestres.

Palavras-chave: Mobilidade; Pedestre; Campus universitário;

Page 8: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

8

Objetivos

O objetivo principal é identificar as condições de mobilidade do pedestre no Campus da Universidade de Brasília para verificar se os

resultados apresentados atendem às necessidades dos usuários.

Para alcançar o objetivo principal, é necessário:

1. Compreender a configuração do espaço físico do campus;

2. Adotar um método para avaliar os espaços destinados ao pedestre;

3. Mapear os percursos utilizados pelo pedestre;

4. Diagnosticar as condições das calçadas;

5. Diagnosticar o conforto do pedestre ao utilizar essas calçadas.

Page 9: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

9

Justificativa

Campus _ Por quê?

O campus é o lugar de manifestações culturais e acadêmicas dentro da perspectiva de uma cidade. É uma importante área de

estudo, pois abrange uma quantidade de pessoas significativa que fazem o uso desse espaço, diariamente. Além disso, o campus

universitário é o espaço e ambiente que o estudante vai utilizar por uma média de 5 a 6 anos. Sendo assim, as condições físicas do espaço

universitário são fundamentais para o desenvolvimento apropriado das atividades acadêmicas pelo estudante. Para essa análise, o campus

Darcy Ribeiro é um importante objeto de estudo, pois representa uma instituição de forte nome e estrutura no país. A Universidade de

Brasília além de ser uma entidade de ensino, também prioriza a pesquisa e extensão, o que a leva ao papel de formadora de opinião e,

consequentemente, um agente importante na solução de problemas dentro da sociedade. No Brasil, o Código Brasileiro de Trânsito, por lei,

prioriza o pedestre dentro do sistema, porém, na prática, sabe-se que a prioridade é dada ao transporte individual. Dessa forma, se a

universidade não privilegia os pedestres no seu espaço, de certa forma ela vai mostrar à sociedade que essa condição é aceitável, o que se

sabe não ser verdade. Além disso, ela representa uma área de intenso valor simbólico e arquitetônico para os usuários que de alguma

forma utilizaram ou ainda utilizam esse espaço. Portanto, nada mais coerente do que adotar esse espaço como um estudo de caso para

diagnosticar a mobilidade do pedestre dentro de um importante campus universitário.

Pedestre_ Por quê?

Baseado no PPGT, Programa de Pós-Graduação em Transportes - Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da UnB, sabe-se

que atualmente 70% dos usuários do campus, estudantes e trabalhadores, percorrem o espaço do campus diariamente caminhando a pé,

(TACO, DAFICO e SEABRA, 2011). Com isso, estimando que a quantidade de estudantes, funcionários e professores compõe uma população

total de 30.000 pessoas, aproximadamente 21.000 pessoas transitam pelo campus diariamente e, consequentemente, percorrem o espaço

destinado ao pedestre. Com isso, o pedestre é uma peça fundamental no aspecto de sociabilidade e interação no espaço do campus. Ele vai

ser o objeto de maior importância no cenário da universidade. Pelo menos deveria ser. A integração do espaço físico, a acessibilidade e a

qualidade dos espaços são fundamentais para a mobilidade efetiva do pedestre no campus. O direito de ir e vir, além de ser um direito

constitucional do cidadão, é a forma mais simples e democrática de locomoção no espaço e não depende de nenhum meio para que isso

aconteça. No âmbito atual da mobilidade sustentável, o estímulo da valorização do pedestre, a partir de pesquisas que enfoquem isso, é

primordial para começar a mudança de hábitos e paradigmas urbanos.

Page 10: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

10

Análise do espaço do pedestre

Para analisar o objeto em pauta, estudam-se métodos e

procedimentos de análise da qualidade do espaço para a

circulação dos pedestres, para a aplicação prática dentro de um

estudo de caso.

Para isso, a estruturação do trabalho irá se dividir em cinco

partes. A metodologia vai estar voltada para a observação

estruturada do espaço físico, com a coleta de dados a partir da

criação de mapas, de onde se fará a análise espacial do meio

estudado, e a partir da documentação fotográfica do objeto de

estudos, o campus universitário Darcy Ribeiro.

Essa análise espacial seria, basicamente, atentar para as

condições físicas do ambiente em relação aos aspectos que levam

ao conforto e uso adequado da pessoa que percorrer esse

caminho. Para isso, é necessário o estabelecimento de diretrizes

de avaliação do espaço, a partir do uso de fontes de apoio como

(GEHL, 2013) e (ECHAVARRI, DAUDÉN e SCHETTINO, 2013). Esses

autores discorrem sobre o conceito do espaço ideal dentro da

dimensão humana, e com isso compõe uma ferramenta que

possibilite estabelecer os critérios de avaliação do espaço do

pedestre dentro do campus.

Para ilustrar o desenvolvimento do estudo, foi realizado um

diagrama da estrutura de trabalho para o melhor entendimento do

conteúdo (ver página seguinte). Na primeira coluna, localizam-se as

etapas de desenvolvimento do projeto, na segunda coluna os

capítulos referentes a cada etapa e, na última coluna, os assuntos

abordados em cada capítulo.

O primeiro capítulo introduz a temática proposta, o espaço

do pedestre dentro do campus, assim como as justificativas e os

objetivos para o estudo. Já no segundo capítulo, procura-se

contextualizar o problema da mobilidade do pedestre na literatura

disponível. Posteriormente, tem-se o levantamento de material

teórico para a fundamentação do tema e de conceitos e diretrizes que

permeiam a questão discutida. Esse argumento vai se desenvolver ao

longo do terceiro capítulo, enquanto o quarto capítulo retrata a

aplicação da metodologia citada e os aspectos encontrados. Já o

último capítulo, apresenta as conclusões e as opiniões discutidas a

respeito dos resultados gerados.

Page 11: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

11

Figura 1- Diagrama da Estrutura de Trabalho

Page 12: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

12

Fundamentação Teórica

2.1 Breve histórico

2.1.1 O modelo de campus universitário

A ideia da formação de um campus universitário surgiu no

Brasil no século XX, a partir do modelo criado nas universidades

americanas, no séc. XIX, para estruturar e organizar o espaço

acadêmico dessas universidades. Porém, antes de entender o

modelo americano, é preciso perceber que algumas

características desse modelo foram importadas dos já

consolidados “colleges” britânicos, principalmente Oxford e

Cambridge, para a configuração do espaço universitário.

As construções universitárias inglesas começaram a se

formar a partir do processo de urbanização das cidades

europeias. Sendo estas localizadas dentro do espaço urbano das

cidades, configuraram uma nova e diferente tipologia de edifícios

que, com seu conjunto de edificações, vai acabar delimitando

uma área destinada unicamente para o espaço universitário em

cada cidade.

O território da escola definia-se por seus edifícios, e não por um

sítio, isto é, uma área delimitada, fechada e apartada da cidade.

As escolas se integravam à malha urbana e constituíam

elementos do seu crescimento. O conjunto de escolas e a

cidade não eram divididos por limites físicos que as separassem;

o limite da escola, como dissemos, era próprio o edifício e, ao

redor, a cidade fluía e crescia livremente. (PINTO e BUFFA, 2009,

p. 34).

As edificações da universidade representadas em roxo e o restante da cidade em

vermelho

Figura 2- Plano da Cidade e da Universidade de Oxford, 1890. Feito por George Bacon

Fonte: www.antiquemapsandprints.com

Page 13: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

13

Sendo assim, essas universidades, que (PINTO e BUFFA,

2009) designam como sendo escolas, serão livres de limites ou

barreiras, ou seja, o espaço da universidade vai ser configurado

pela formação e disposição dos edifícios resultando em uma

relação aberta com os espaços públicos e a estrutura da cidade,

aspecto que pode ser observado a partir da Figura 2. Essa

característica fundamental, dos edifícios serem abertos aos

espaços públicos, vai ser levada para o modelo americano e, mais

tarde, para os modelos brasileiros também, com suas devidas

adaptações.

A partir desse panorama das universidades inglesas, as

universidades americanas vão transformar esse modelo vigente

atribuindo a esse espaço da universidade um valor de

comunidade independente. Essa comunidade seria como uma

pequena cidade que teria sua autonomia por meio de regras e

costumes, além de possuir equipamentos comunitários, serviços

gerais e atividades voltados para esses usuários como uma real

cidade deve ter. Esse modelo foi assim chamado de “cidade

universitária”, onde esse complexo acadêmico deveria ser

implantado em um campo distante das cidades e exclusivamente

para abrigar as atividades acadêmicas. Na época, acreditava-se

que a implantação da universidade distante do meio urbano e

perto do campo favoreceria a promoção do ensino, pesquisa e

extensão sem a influência da sociedade urbana.

Nos EUA, os câmpus tornaram-se verdadeiras cidades especiais,

cercadas, com o decorrer do tempo, pela malha urbana das

cidades próximas e existentes, mas continuando fechadas, com

seu território definido e limitado e com o privilégio de

estabelecer, dentro de certos limites, suas normas, regras e

padrões. O campus tornava-se o território de privilegiados:

local destinado à formação de dirigentes, à pesquisa e à

produção científica sem a interferência nefasta das cidades.

(PINTO e BUFFA, 2009, p. 41).

As diferenças entre o modelo europeu e o modelo

americano estão na sua localização e nos seus limites territoriais.

Enquanto as universidades europeias estão ajustadas dentro das

cidades e não constituem uma delimitação física entre o campus

e a cidade para dividir esses dois espaços, o campus americano já

tem a sua posição afastada dos grandes centros urbanos, com

certas barreiras físicas e com o caráter de serem autossuficientes

e isoladas.

Porém, a grande característica que se destaca para os dois

modelos está na configuração do espaço interno do campus

universitário. A implantação das edificações vai estar configurada

de forma livre em que a edificação, independentemente de seu

uso, vai estar disponível para a livre passagem dos usuários no

espaço universitário. O direito de ir e vir do estudante pelo

campus é assegurado em ambos os modelos e é característica

fundamental para manter o critério de unidade e interação entre

todas as partes do campus.

Page 14: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

14

2.1.2 O surgimento do campus universitário no Brasil

No período que precede a existência de campus

universitário no Brasil, as faculdades brasileiras apresentavam

uma estrutura acadêmica de ensino fraca e espaços físicos

isolados, sem que houvesse uma proximidade ou interação entre

faculdades da mesma cidade. (PINTO e BUFFA, 2009). É assim

que, visando à concentração de um polo único acadêmico, se

propõe uma mudança estratégica para aproximar essas

instituições. O objetivo era unir as faculdades existentes para

organizá-las em um espaço único voltado para a concentração

do ensino acadêmico, ideia essa resgatada do modelo americano

já citado.

Sendo assim, a Universidade do Rio de Janeiro surge em

1920, como o primeiro campus universitário brasileiro em que a

tentativa de criação e implementação vai dar certo. Mais tarde,

viriam as universidades de Minas Gerais (1927) e São Paulo

(1934). Segundo (PINTO e BUFFA, 2009, p. 46).

O ensino superior brasileiro foi tradicionalmente marcado pelo

crescimento do número de escolas isoladas. Entretanto, nos dez

anos que antecederam o golpe militar de 1964, a organização

universitária tornou-se predominante. Assim, em 1945, havia 5

universidades no Brasil e, em 1964, já eram 37.

O desejo inicial, na formação desses primeiros campi

universitários brasileiros, era que configurassem verdadeiras

cidades universitárias, apesar da intenção, nunca existiu uma real

cidade universitária no Brasil porque nenhuma foi

completamente autossuficiente em relação à cidade em que

estava inserida. (Pinto e Buffa, 2009). Ao contrário do

pensamento das universidades federais que compunham um

cenário de configuração de espaços abertos e públicos agindo

como parte integrante das cidades, as universidades privadas,

PUC’s; Pontifícia Universidade Católica; configuravam-se em

campi fechados e delimitados em que existia uma divisão entre a

cidade e a universidade.

É importante neste instante ressaltar a diferença entre a

cidade universitária e o campus universitário. É comum, muitas

vezes, serem utilizados esses dois nomes para exprimir o mesmo

significado, entretanto eles representam ideias semelhantes e

não idênticas. O campus universitário é um conjunto de

edificações que agrupa unidades de ensino e residências,

podendo existir serviços e atividades ligadas à área acadêmica.

Sendo assim, está compreendido nesse espaço, além das

instituições de ensino, um suporte ao estudo e pesquisa aos

estudantes e professores, tais como residências, biblioteca,

centros de convivência, refeitórios, papelaria, bancos e outros

serviços ligados à necessidade diária do campus. Já a cidade

universitária, compreende o campus, mas numa relação de

autossuficiência em relação a cidade que está ao seu redor, ou

seja, a cidade universitária seria capaz de gerir e produzir tudo

para seu campus sem que houvesse a necessidade de subsídios

da cidade próxima. (PINTO e BUFFA, 2009).

A partir de 1968, essas recém-criadas universidades

passaram por reformas universitárias para alcançar a qualidade

das instituições universitárias americanas. Apresentaram algumas

mudanças no sentido organizacional do sistema de ensino, para a

modernização das instituições. Além do modelo americano, nessa

Page 15: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

15

Figura 3 - Maquete do ITA

em 1950

Fonte:

http://democraciapolitica.

blogspot.com.br

Figura 4 - Vista aérea do

complexo do ITA

Fonte:

http://www.aereo.jor.br/

época o país também se atentava para as estruturas de ensino

que estavam funcionando bem e que já tinham um caráter

inovador e de qualidade. Um exemplo que foi estudado e

observado na época foi o Instituto Tecnológico da Aeronáutica –

ITA, criado em 1947. Segundo Meneghel, (apud OLIVEIRA,

DOURADO e MENDONÇA, 2006, p. 147), o ITA:

Foi concebido como uma estrutura curricular totalmente

inovadora: tinha departamentos, e não as tradicionais

cátedras; os alunos somavam créditos sendo alguns a sua

escolha, e não apenas cursavam a disciplinas obrigatórias;

havia oportunidade de desenvolver projetos de pesquisa;

propiciava ao estudante um período de formação básica, para

posterior formação profissional, dentre outros. Embora o ITA

fosse uma escola, não uma Universidade (ou seja, essa

ocupava apenas uma área do conhecimento- a Engenharia),

foi um marco fundamental para a assimilação, no Brasil, da

estrutura tecnocrática da educação superior- de

produtividade, eficácia e eficiência – característica de escolas

norte-americanas.

Além do ITA, as universidades que vão ser criadas ou

reformuladas, a partir dessa época, serão planejadas de forma a

atingir os princípios de uma universidade moderna. Para que isso

seja possível, serão propostas reformas acadêmicas que vão

promover a relação entre as faculdades e estimular uma maior

interação entre elas e, para isso acontecer de forma apropriada,

consequentemente a formulação do espaço já vai ser configurada

de modo diferente. Esses espaços começam espontaneamente a

se configurar de forma em que exista uma ligação e interação

entre eles. O estudante provavelmente ao longo dos primeiros

anos acadêmicos vai visitar diversos núcleos de faculdade, dentro

do campus, e consequentemente vai utilizar várias partes físicas

desse espaço universitário.

Dentro desse contexto, é importante perceber que a

criação da Universidade de Brasília, em 1961, vai constituir um

modelo de referência para as demais universidades que passarão

por reformas modernizadoras. Além da criação inteiramente nova

de uma universidade de ensino, a universidade passa a ser um

projeto de representação do ideal da qualidade do espaço físico

e acadêmico que se buscava no Brasil. A partir desse panorama

geral, entra-se, então, no campus universitário a ser estudado: a

Universidade de Brasília.

Page 16: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

16

2.2 Brasília, cidade planejada.

2.2.1 O projeto de Brasília

Para entender como foi configurado o campus

universitário de Brasília, é necessário primeiramente compreender

a história da construção e a proposta urbanística para Brasília. A

ideia de se criar a nova capital do Brasil, no centro do país, existe

desde o século XIX, quando em 24 de fevereiro de 1891 foi

promulgada a primeira Constituição da República que estabelecia

no Planalto central do Brasil, uma área de 14 mil quilômetros

quadrados para a construção da futura capital do país. (Arquivo

Público/GDF). Porém, essa ideia permaneceu dormente durante

mais de meio século, até a retomada do plano pelo Presidente da

República, Juscelino Kubitschek, em 1956. Para o Presidente

Juscelino, a mudança da capital para o centro do país, além de

representar o desenvolvimento do interior do território, iria

também caracterizar a situação política e econômica que o país

estava enfrentando na época. Sendo assim, Brasília vai

representar mais do que uma a implantação de uma nova capital

no país,

Ela é a realização da conquista do centro subdesenvolvido do

país; ela é o ícone maior do projeto desenvolvimentista do

Brasil nos anos 50 e uma expressão física daquela nova era

política. Brasília nasceu do sonho de se conquistarem as terras

do interior, de escapar da corrupção do Rio de Janeiro e de

formular uma nova visão de país, tudo incorporado pelo então

presidente Juscelino Kubitschek. Para ele: a nova capital deveria

refletir este novo Brasil: moderno, integrado à economia

mundial e avançado tecnologicamente. (PESCATORI e BOWNS,

2008, p. 299 e 300).

Dentro desse ideal de concepção da capital para o país, o

Presidente da República vai organizar um concurso público para

eleger o projeto urbano para a criação de Brasília. Dentre os

critérios para avaliação dos projetos, o concurso exigia que os

arquitetos apresentassem propostas que fossem diferentes das

cidades brasileiras da época e que apresentasse um caráter

moderno e atual. Foram então apresentadas 26 propostas, dentre

elas estava a de Lúcio Costa, que foi o projeto vencedor. Lucio

Costa apresenta então o Relatório do Plano Piloto de Brasília

(1956), um documento com alguns croquis onde ele demonstrava

a suas intenções ao longo de 23 pontos, que seriam as diretrizes

de projeto.

Antes de descrever o projeto de Lucio Costa, é importante

entender o contexto histórico que se configurava o mundo e o

Brasil, consequentemente. Nessa época, o país se deparava com

os reflexos da 2ª Revolução Industrial, em que se observava a

intensa modernização, e o automóvel era a forma de transporte a

ser incentivada nas cidades. O planejamento de uma nova cidade,

nesse período, irá se configurar a partir dessa popularização dos

carros com a sistematização de outra dinâmica urbana. Questões

como mobilidade urbana sustentável e a valorização do uso de

meios não motorizados ainda eram questões que não

correspondiam ao ideário urbano presente. A intenção era

promover o consumo e uso dos automóveis como reação ao

estilo moderno a ser adotado.

Page 17: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

17

Figura 6 - Arquiteto e

urbanista Lucio Costa e o

Presidente Juscelino

Kubitschek

Fonte:

cartasdebrasilia.blogspot.co

m.br (site)

Tendo isso dito, a proposta de Lúcio Costa vem a afirmar

o paradigma da época, com soluções em que o transporte viário

era o mais valorizado e a noção das distâncias foi dimensionada a

partir do uso do carro e ônibus, pelo transporte coletivo. Com

isso, o traçado inicial de Brasília foi obtido a partir de dois eixos

que se cruzavam, onde um seria o eixo monumental e ou outro o

residencial.

2.2.2 A cidade universitária de Brasília

No eixo monumental, dentre várias outras edificações

representativas, estaria localizada a esplanada dos Ministérios

que formaria uma composição para se chegar ao clímax da

perspectiva: a praça dos três poderes. O Ministério da Educação,

localizado ao longo do eixo monumental, caracterizava em uma

importante estratégia de projeto para a cidade universitária, pois

o ministério e cidade universitária seriam projetados de forma

que fosse um ao lado da outro, para que houvesse ligação direta

entre o poder e a instituição.

Ao longo dessa esplanada – o Mall dos ingleses -, extenso

gramado destinado a pedestres, as paradas e a desfiles, foram

dispostos os ministérios e autarquias (...), sendo o último o da

Educação, a fim de ficar vizinho do setor cultural, tratado à

maneira de parque para melhor ambientação dos museus, da

biblioteca, do planetário, das academias dos institutos, etc.,

setor este também contíguo à ampla área destinada à Cidade

Universitária (...). (COSTA, 1956).

A ideia de localização da cidade universitária em relação à

cidade foi proposta por Lucio Costa de forma diferente na época.

Primeiramente ele se localizava no atual Setor de Embaixadas

Norte, que seria ao lado dos Ministérios e a Asa Norte, portanto,

na área central urbana.

Prevendo um campus integrado à cidade e aberto para

toda a comunidade, não contava, entretanto, com a oposição de

algumas autoridades. A oposição surgiu em função da

proximidade da área do campus com os locais da administração

política do país – o Congresso e a própria Esplanada. Entendiam

Figura 5 - Croquis do Plano Piloto de

Brasília, realizado por Lucio Costa.

Fonte: concursosdeprojeto.org

Page 18: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

18

que essa proximidade poderia ser uma ameaça, sobretudo num

momento em que os movimentos estudantis passavam por um

período de intensa atividade. (PINTO e BUFFA, 2009).

Ainda assim, apesar de não estar localizada na ideia inicial

do plano piloto de Lucio Costa, a universidade tem sua proposta

de implantação no Plano Piloto de Brasília, porém com certo

distanciamento em relação aos ministérios, em que uma área

destinada às embaixadas separava o setor de cultura e o setor de

educação. Com essa mudança projetual, é possível perceber que

a relação do campus universitário com a cidade já vai se

configurar de forma diferente, onde a universidade vai estar em

um terreno mais isolado e consequentemente a sua interação

com a cidade vai se transformar também.

Uma importante modificação da proposta inicial de

Lúcio Costa foi a introdução do Setor de Embaixadas Norte

entre a Esplanada dos Ministérios e a Cidade Universitária, onde

seria implantada a Universidade de Brasília. Esse Setor de

Embaixadas Norte criou um enorme bolsão subaproveitado, de

urbanização precária, que intriga o analista do desenho urbano

acabado. Outros bolsões de uso criticável também ao norte da

Esplanada dos Ministérios vieram a ser criados, na proposta do

Setor de Mansões situado ao longo da via L4 e a fração do

Setor de Clubes Norte, que acabou por abrigar as estatais

Telebrasília e IBAMA, confrontantes com o citado Setor de

Embaixadas Norte. A crítica a esses usos é inevitável, dado que

a solução final de modo algum contribuiu para formar o

complexo (…“tratado à maneira de parque”…) de Educação e

Cultura concebido por Lúcio Costa e que certamente teria sido

decisivo para evitar o desolamento existente na imensa área

adjunta à Esplanada dos Ministérios. (FLÓSCULO, FARIA, et al.,

1998, p. 12).

Essa modificação a partir da inserção do Setor de

Embaixadas Norte contribuiu para desintegrar o campus,

isolando-o assim da cidade, trazendo como consequência a

dificuldade de locomoção do pedestre e a falta de urbanidade

do espaço.

Figura 7 - Projeto do Plano Piloto por Lucio Costa e a atual posição da UnB

Fonte: concursosdeprojeto.org (site)

Page 19: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

19

2.3 A criação da Universidade de Brasília

2.3.1 Plano Pedagógico

Em 1960, no mesmo ano da inauguração de Brasília, foi

criada a comissão para elaborar, começar e estruturar a

Universidade de Brasília. Foram convidados os professores Darcy

Ribeiro e Anísio Teixeira, dentre outros intelectuais participantes

dessa comissão, para a elaboração do Plano Orientador da

Universidade. Para o antropólogo, Darcy Ribeiro, era fundamental

uma reforma universitária no sistema de ensino superior

brasileiro, para que houvesse a renovação e o avanço das

universidades.

Sendo assim, a Universidade de Brasília surgia como uma

perfeita oportunidade para a implantação de um sistema de

ensino que se distanciasse do modelo tradicional, para ser

estruturada desde o início da sua concepção em um modelo

moderno dentro do panorama da capital do país. Segundo Darcy

Ribeiro, este modelo, que na época já funcionava

adequadamente nas universidades europeias, se caracterizava

basicamente pela criação de Institutos para ministrar cursos

introdutórios nos dois primeiros anos de universidade, a fim de

dar preparo intelectual e científico básico para depois seguir para

os cursos profissionais nas Faculdades. Além disso, os Institutos

Centrais deveriam ministrar cursos de bacharelados, cursos de

formação científica e programas de estudos para pós-graduados.

No Instituto, os alunos realizarão cursos introdutórios de dois a

três anos, o primeiro dedicado a estudos gerais que completem

a formação básica, dando-lhes nível universitário; o segundo e o

terceiro já com tendência à especialização. Após esses dois a

três anos, o estudante poderá permanecer no Instituto, se for

aceito como aluno para a formação especializada em um dos

departamentos, com o objetivo de fazer-se antropólogo,

psicólogo, sociólogo, analista-econômico, demógrafo,

historiador, etc. A maioria dirigir-se-á, naturalmente, para as

Faculdades citadas, onde receberá formação profissional através

de dois a três anos mais de estudos. (RIBEIRO, 2012, p. 23).

Com isso, Darcy Ribeiro elimina por completo a

composição do ensino superior por cátedras, onde cada

faculdade delimita o seu conhecimento por âmbitos rígidos e

bem delimitados, e insere em seu lugar a composição por

departamentos. A partir do diagrama que Darcy Ribeiro elabora,

é possível compreender a disposição desses departamentos que

ele distribui de forma racional como se fosse um fluxograma da

organização espacial de cada ensino dentro da universidade.

(Figura 8).

Esse moderno padrão de organização, segundo Darcy,

proporciona aos estudantes um ambiente ideal para a

transmissão de experiências, não apenas por meio de atividades

curriculares, mas também no convívio e na interação pessoal

dentro dos Institutos Centrais.

O desenvolvimento de uma nova proposta pedagógica define

quase que naturalmente novos programas arquitetônicos e

outra hierarquia para a implantação de edifícios e urbanização

diferenciada do território. (PINTO E BUFFA, 2009. p. 122).

Page 20: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

20

Figura 8- Fluxograma de distribuição do campus

Fonte: (RIBEIRO, 2012)

Além do caráter social do campus, o resultado dessa

organização será base para a concepção e desenho do campus

universitário da Universidade de Brasília, porque com uma nova

circulação consequentemente se tem uma nova conformação do

espaço arquitetônico.

2.3.2 O projeto urbanístico e arquitetônico

O plano pedagógico e o projeto urbanístico foram

realizados ao mesmo tempo, para que a Universidade de Brasília

começasse a ser construída de modo mais rápido possível. Após

dois anos da inauguração de Brasília e do início do estudo do

plano orientador da UnB, Lucio Costa elabora um projeto

urbanístico para o campus da universidade de Brasília. (Figura 9).

Neste projeto, o campus estaria de frente para a via L4,

sob a qual seria a porta de entrada da universidade com a

configuração da Praça Maior no centro. Nessa praça estariam os

principais edifícios representativos que levariam aos Institutos

Centrais (ICs), na parte central do campus e, mais tarde, se

configurariam as faculdades, localizadas em áreas intermediárias.

A implantação dos edifícios seria feita de forma dispersa com

grandes espaços abertos, como se fossem parcelados em

quadras internas. (FLÓSCULO, FARIA, et al., 1998).

Figura 9 - Croqui de Lucio Costa para o campus

Fonte: (FLÓSCULO, FARIA, et al., 1998, p. 11)

Page 21: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

21

Figura 10 - Croqui de Niemeyer com o ICC no campus

Fonte: (FLÓSCULO, FARIA, et al., 1998, p. 13)

É importante perceber que para a elaboração desse projeto,

o urbanista Lucio Costa tem como referência para a configuração

dos espaços, o modelo das universidades americanas e também

às características do movimento urbanístico moderno. A

configuração de grandes áreas verdes e espaços abertos para a

divisão desses edifícios são elementos fundamentais desses dois

pensamentos. Logo após essa proposta de Lucio Costa, é criado

o CEPLAN – Centro de Planejamento da Universidade de Brasília,

para dar continuidade ao projeto e ao planejamento do campus

sob a coordenação de Oscar Niemeyer. A partir de então, o

projeto de Costa vai sofrer algumas alterações em relação aos

Institutos Centrais, onde Niemeyer vai unir esses institutos em

apenas uma única edificação: o Instituto Central de Ciências (ICC)

em detrimento do caráter da Praça Maior, que seria a de ser uma

porta de entrada marcante para o campus, para ter como

referência principal o ICC na parte central do campus.

O projeto físico e a localização dos edifícios, tal como proposto

e executado à época, criaram um núcleo de ocupação em meio

à grande gleba concedida para a sua fundação. Essa decisão

veio a mostrar-se valiosa para o ulterior planejamento da

expansão da Universidade nos seus setores ao sul e ao norte do

núcleo central dominado pelo Minhocão - ICC. O padrão de

distribuição dos demais edifícios assemelhava-se à proposta de

Lúcio Costa: isolados, num mosaico para o setor urbano em que

o sistema viário seria o principal delimitador dos espaços, na

escala geral da nova cidade universitária. (FLÓSCULO, FARIA, et

al., 1998, p. 13).

Consequentemente, Niemeyer atribui ao Instituto Central

um caráter simbólico e de forte identidade do campus da UnB.

Sua edificação vai estar disposta no terreno de forma centralizada

e emoldurando a Praça Maior, que vai ser executada

posteriormente.

O principal e mais icônico prédio da UnB, que abriga a maioria

dos institutos, faculdades, salas de aula, laboratórios e

anfiteatros, teve seu início em 1963. De acordo com o professor

aposentado da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, José

Carlos Coutinho, a espinha dorsal da Universidade, de quase

700 metros de cumprimento, dividido em duas alas, com três

andares cada, foi inaugurado em 1971, após oito anos de obras.

A partir de estruturas pré-moldadas, foi ocupado em partes, na

medida em que as seções ficavam prontas. “Sem dúvida, uma

concepção admiravelmente inovadora: praticamente toda a

Universidade é alojada ao longo de uma rua.” (UNB AGÊNCIA,

2012)

.

Page 22: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

22

Figura 12 - Ocupação do campus nas décadas de 60-70

Fonte: (ABREU, 2013, p. 34)

2.4 A evolução do espaço físico do Campus

2.4.1 Período de 1960-1970

O ICC e os pavilhões de serviços gerais foram construídos

de imediato para abrigar as principais atividades da UnB. Os

primeiros prédios que são construídos são realizados com

rapidez de forma a começar a utilizar o espaço físico do campus,

para que não fosse preciso mais o uso do Ministério da Educação

para ministrar as aulas da universidade. Sendo assim, com uma

inovação e praticidade, os pavilhões são concebidos na parte

noroeste em relação ao ICC, também na área central do campus.

Dentre eles, estava o Instituto Central de Artes (SG1), o

Departamento de Música (SG2) e o prédio do CEPLAN (SG10).

Os pavilhões de Serviços Gerais compõem um dos mais

significativos e emblemáticos conjuntos arquitetônicos da UnB.

Expressivos não apenas do ponto de vista funcional, mas

também do sistema construtivo, a intenção de Niemeyer foi

constituir um espaço multifuncional, flexível e econômico.

Seguindo essa concepção, as unidades de apenas um

pavimento, a partir de estruturas pré-moldadas de concreto

armado, assumiam versatilidade ao possibilitarem diversos

arranjos internos. Como regra geral, os prédios dispõem de um

jardim em cada extremidade e pelo menos mais um na porção

central. (UNB AGÊNCIA, 2012).

O campus universitário de Brasília funcionava como um

lugar onde se expunham as ideias e se colocavam em prática

experimentos educacionais, arquitetônicos e tecnológicos; agindo

como um verdadeiro canteiro de obras, passava por um

momento onde todas as propostas eram levadas em

consideração para alcançar o objetivo de uma universidade

moderna. Entretanto, o golpe militar de 1964 acabou por

desacelerar esse desejo da formação do campus e caracterizou

um período de paralisação das obras e estudo na universidade.

2.4.2 Período de 1970-1980

Após um período de grandes tensões entre os estudantes

e o governo militar, no final da década de 60, tem-se o

reaparecimento de algumas propostas e, aos poucos, vai se

retomando o discurso da organização universitária e do

estabelecimento de diretrizes para a continuação dos projetos.

Sendo assim, a partir de 1969, são elaboradas propostas de

implantação de edifícios na Praça Maior (Reitoria, Biblioteca, Aula

Magna e área de convivência) e no Centro Olímpico, que atendia

Page 23: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

23

Figura 13 - Ocupação do campus nas décadas de 70-80

Fonte: (ABREU, 2013, p. 38)

às aspirações iniciais dos arquitetos Costa e Niemeyer anos antes.

Apesar de estarem em projeto, a Aula Magna e a área de

convivência não foram construídas nessa época.

Nesse momento também aparecem o Hospital

Universitário – HUB, que está localizado na parte mais alta e

mais próxima à cidade em relação ao campus por estar situado

entre as vias da L2 e L3 norte, o conjunto de habitações da

Colina, mais a leste em relação ao ICC e o Centro Olímpico

perto do Lago Paranoá. Construções que na época se

caracterizaram por serem as primeiras a estarem afastadas

desse núcleo principal, consequentemente, aumentando as

distâncias relativas do espaço do campus.

A ocupação com longos afastamentos dos edifícios acabou por

revelar um espaço com aspecto despovoado e de difícil

circulação. As áreas de vivência não eram utilizadas e o aspecto

de desolamento prevalecia. A alternativa foi redirecionar o

plano de ocupação no sentido de adensar as massas dos

edifícios. (PINTO e BUFFA, 2009, p.127).

No início da década de 70, os projetos continuam a ser

elaborados e o espaço do campus vai se configurando a partir de

decisões tomadas pelo CEPLAN. Determina-se, então, a locação

do restaurante universitário acima do ICC e não na praça maior,

configurando assim um novo eixo importante para o campus,

que mais tarde será chamado de eixo de vivências, enquanto o

do ICC será chamado de eixo de ensino e pesquisa. Além dos

edifícios principais, tem-se a construção da Faculdade de

Tecnologia, da Faculdade de Ciências da Saúde e da Faculdade

de Estudos Sociais Aplicados sempre próximos ao ICC,

intensificando assim, ainda mais, o caráter de centralização do

Instituto Central de Ciências, em relação ao campus.

Além disso, a partir da figura 14, é possível observar a

configuração das edificações existentes até então e se destacam

também nesse momento o espaço dedicado aos

estacionamentos nessa porção central do campus. Esses eixos

que são áreas de importantes centralidades para os estudantes e

trabalhadores do campus, também são áreas de intensa

concentração de estacionamentos em detrimento de um espaço

para o pedestre.

Page 24: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

24

2.4.3 Período de 1980-1990

Na década de 80, segundo FLOSCULO et. al, (1998), o

campus passa por um período sem grandes investimentos

significativos e sem um planejamento efetivo, desde as grandes

obras realizadas em 1974. Somente em 1986, é então criada a

Prefeitura do Campus, com os objetivos de planejar e promover a

manutenção do campus sob a coordenação do prof. Arq. Erico

Weidle. Nesse período desenvolvem-se estudos como a “Ideia de

Desenvolvimento Físico Espacial do Campus da UnB” e o

“Planejamento da Extremidade Sul do Campus”, para a definição

de um plano viário e ocupação da parte sul do campus.

A Prefeitura passa a ser o órgão responsável por obras, pela

manutenção e pela coordenação de projetos no Campus,

realizando o conjunto de edifícios de múltiplo uso, o

Laboratório de Física Experimental (que, ao lado do módulo

inicial do Centro de Vivência inaugurado em 94, amplia a

ocupação da “rua do restaurante”) e a expansão de edifícios

residenciais na Colina (que, ao lado da sede da Prefeitura,

amplia a ocupação das áreas do Campus ao longo da via L3).

Outros empreendimentos também marcam os primeiros anos

de trabalho da Prefeitura, como as construções de edifícios de

habitação multifamiliar nas superquadras de propriedade da

Fundação Universidade de Brasília – FUB (SQN 109, SQN 309 e

SQN 310). (FLÓSCULO, FARIA, et al., 1998, p. 17).

Figura 15 - Localização

das novas edificações

na área central do

campus e a composição

dos eixos.

Fonte: FLOSCULO et. al.

1998 p.17

Figura 14 - Localização das

edificações na área central do

campus e a composição dos

eixos.

Fonte: FLOSCULO et. al. 1998

p.16

Page 25: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

25

Figura 16 - Ocupação do campus nas décadas de 90 a 2000

Fonte: (ABREU, 2013, p. 44) Figura 17 - Ocupação do campus no presente

Fonte: (ABREU, 2013, p. 56)

2.4.4 Período de 1990-2000

Na década de 90, a universidade procurou

institucionalizar o planejamento, criando medidas e instrumentos

para isso. Foram criadas comissões para estudo e coordenamento

do campus e, em 1995, inicia-se a elaboração do Plano Diretor

Físico do campus. Nesse mesmo ano, recebe a denominação de

“Campus Universitário Darcy Ribeiro”, em uma homenagem ao

seu primeiro reitor e idealizador da Universidade de Brasília.

Além disso, nessa época a universidade começa a

considerar diversas parcerias com organizações públicas e

privadas dentro do campus, com a construção da AUTOTRAC

(empresa privada de monitoramento de transporte de cargas por

satélite, 1994), da FINATEC (Fundação privada de fomento à

pesquisa, 1997) e do CEFTRHU (Centro de Formação de Recursos

Humanos em Transportes Urbanos, organização pública, 1998),

sendo essas edificações localizadas na parte sul do terreno.

2.4.4 Período de 2000 até hoje

Já no início dos anos 2000, tem-se uma grande expansão

da parte sul do campus em relação à parte central do campus.

Edifícios como o CESPE – Centro de Seleção e Promoção de

eventos, CME – Centro de Manutenção de Equipamentos

Específicos e algumas empresas privadas foram localizadas nessa

parte sul, sem que houvesse um planejamento de integração com

o espaço físico do campus, e que acabaram se tornando isoladas.

Uma década mais tarde, também foram implantados os

MASCs – Módulos de Apoio e Serviços Comunitários, que seriam

unidades pequenas de serviços para evitar a concentração de

barracas e quiosques que ocupam uma área irregular nas áreas

do campus.

Page 26: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

26

Além disso, foram criadas novas edificações perto dos pavilhões

e da Colina para abrigar as faculdades de Computação, Direito,

Contabilidade e outros cursos. Estratégia realizada para atribuir

mais espaço físico para o crescente número de estudantes dentro

da universidade, em que o Instituto Central não consegue mais

proporcionar o espaço para todas as atividades acadêmicas.

É preciso ressaltar que existe um alto nível de

complexidade para a elaboração de um campus universitário, e

com isso a configuração do espaço muitas vezes gera um

resultado inesperado ao usuário e ao desenho urbano da

universidade. O desenvolvimento do campus Darcy Ribeiro partiu

da ideia principal de que as instituições mais importantes ficariam

no centro do espaço físico, para depois ir sistematizando os

edifícios auxiliares ao redor dessa área. É possível notar que as

disposições dos edifícios ocorrem de forma radial em relação à

Praça Maior em que estão as principais edificações, o Instituto

Central de Ciências, o Restaurante Universitário, a Biblioteca e a

Reitoria.

Logo, podemos prever que as relações dos edifícios com

os espaços abertos e os percursos configurados no campus vão

ter uma relação direta com esses edifícios e principalmente com

o ICC, que é a principal composição do campus. Porém, a leitura

da Praça como um todo ainda é dificultada pelo fato das grandes

áreas abertas e da articulação entre esses edifícios. Cabe avaliar

agora como será a solução da universidade na articulação e

integração do espaço a partir de percursos que os interliguem.

2.5 O espaço do pedestre dentro do Campus

O pedestre é muito importante para qualquer espaço

urbano, pois a forma como ele se relaciona com esse espaço já é

um indicador da qualidade desse ambiente, isto é, se ele é

intensamente utilizado, significa que existe algo ali que agrada o

usuário de alguma forma. Cabe então entender quais são as

características desse espaço, que faz dele um local agradável para

as pessoas que passam por ali. Segundo Gehl (2013), o potencial

de uma cidade, para ser considerada uma cidade viva, é quando

as pessoas se sentem convidadas a caminhar, pedalar ou

permanecer nos espaços dela. Além disso, o autor salienta que o

fato de percorrer o espaço e nele permanecer “é muito mais uma

questão de se trabalhar cuidadosamente com a dimensão

humana”. (Gehl, 2013, p.17).

Trazendo o conceito que o autor se refere de uma “cidade

viva” para o nosso objeto de estudo seria como observar em uma

microescala o que proporciona o campus em ser “vivo”. Em que

“vivo” seria no sentido de que pessoas compartilham o espaço

público, circulam pelo campus e tem uma vivência com o espaço

a elas destinado. Sendo assim, para perceber se existe a vivência

do espaço ou não, seria interessante observar atentamente o

comportamento da dimensão humana.

Esse termo que Gehl utiliza como “dimensão humana”

seria justamente para o aspecto da grandeza do ser humano, em

que se coloca em evidência o pedestre como principal elemento

de um espaço, pois ele representa a menor e mais frágil parte de

todo o sistema de uma cidade, como se fosse o átomo da cidade

em que o organismo seria a cidade. O caráter sociológico,

Page 27: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

27

também implícito, expressa que, apesar de utilizarmos diversos

meios de transporte, todos os seres humanos nunca deixam de

ser primordialmente um pedestre dentro de uma cidade, sendo

ela grande ou pequena. Com isso, atentando-se a “dimensão

humana”, é possível entender uma série de aspectos que vão

atribuir qualidade a esses espaços, o que vai ser determinante

para a escolha do pedestre na forma como ele vai usar ou não

aquele espaço.

A boa qualidade ao nível dos olhos deve ser considerada como

direito humano básico sempre que as pessoas estejam nas

cidades. Na escala menor, a paisagem urbana dos 5km/h, é que

as pessoas se encontram de perto com a cidade. Aqui o

pedestre tem tempo para fruir a qualidade ou sofrer com sua

falta. (GEHL, 2013, p. 118).

Percebe-se que o pedestre tem um papel muito

importante no que diz respeito ao uso dos espaços públicos.

Apesar de a sua importância ter sido aparentemente reduzida

pelo intenso consumo do automóvel, em que grande parte das

cidades e, consequentemente do campus, priorizaram a máquina,

a valorização do pedestre ainda é essencial para qualquer espaço

e deve ser tratado como um direito a ser preservado. (GEHL,

2013).

A partir do estabelecimento do pedestre como elemento

fundamental de um espaço público, é necessário entender o seu

papel dentro do campus. A construção e a disposição, ao longo

dos anos, das edificações dentro da universidade, resultaram em

uma configuração espacial que é caracterizada pelos grandes

espaços abertos entre uma edificação e outra. A partir dessas

características urbanísticas é que o pedestre vai desenvolver o

seu ato de caminhar pelas áreas do campus. Sendo assim,

teoricamente, não existem barreiras que impeçam o pedestre em

caminhar no campus, mas cabe agora entender se os percursos

elaborados para ele no espaço universitário condizem com as

suas necessidades na prática e se são realmente livre de barreiras

físicas. Para isso, foram traçadas diretrizes para analisar a

qualidade desses espaços e se esses espaços atingem seus

objetivos propostos.

Page 28: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

28

Diretrizes para análise do espaço do pedestre

A partir do cenário traçado para contextualizar o leitor

dentro do espaço físico do campus, é necessário agora

estabelecer as diretrizes que caracterizam a qualidade de um

espaço público ou de um percurso que seja agradável e

confortável para o pedestre. A discussão sobre a importância da

qualidade dos espaços públicos já vem sendo tratada há muitos

anos por arquitetos e estudiosos e é crescente o debate desse

tema que, atualmente, compõe uma característica fundamental

para atribuir um valor positivo a uma cidade.

Jane Jacobs, em seu livro Morte e Vida de Grandes

Cidades (1961), vai abordar essa temática de forma intensa para

criticar a forma de projetação dos urbanistas em relação ao

planejamento da cidade. Segundo a jornalista, o planejamento

realizado, a partir de conceitos do movimento moderno, vai

Page 29: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

29

caracterizar a morte dessas grandes cidades por não valorizar o

que acontece na “altura dos olhos”, ou seja, em um projeto que

inicialmente se pensa na macroescala e no desenho urbano da

cidade, para depois ser pensado no usuário dessa cidade e os

bairros que configuram a microescala. Essa crítica se refere aos

urbanistas que, em meados do século XX, utilizaram o

modernismo como premissa para conceber as cidades

planejadas. Apesar de o urbanismo moderno apresentar pontos

negativos como todas as premissas urbanísticas a serem

implantadas, Jacobs não leva em consideração o contexto

histórico e os paradigmas da época, que resultaram nessa forma

de projetação. Gehl, em Cidade para Pessoas (2013), vai ser outro

importante autor a discriminar e criticar esse modelo como sendo

sem qualidade urbanística, não buscando compreendê-lo.

No presente estudo, não se pretende entrar no mérito de

avaliação dos diferentes tipos de concepção urbanística para as

cidades. Entretanto, cabe dizer que Brasília é resultado de uma

concepção urbanística moderna, idealizada por uma época em

que esse modelo apresentava uma solução projetual para a

capital do país. Sendo assim, apresenta uma configuração

espacial com baixas densidades demográficas e espaços públicos

com grandes áreas verdes de intenso valor simbólico, que a

caracterizam como sendo uma cidade dispersa ou cidade parque,

denominada por Jacobs. Essa configuração vai influenciar

diretamente no traçado urbano da cidade e, consequentemente,

no campus universitário que se insere nessa cidade.

Portanto, serão apreendido dos autores, Jacobs e Gehl,

aspectos que influenciam no conforto e na qualidade urbana da

microescala, em que vão discorrer sobre a importância das

calçadas e da dimensão humana dentro de uma cidade,

reforçando indicadores que são fundamentais para atingir tal

conforto e qualidade. Mais tarde, Echavarri, Daudén, Schettino;

(Architecture & Pedestrians, 2013); vão se concentrar dentro

desse mesmo discurso, sempre se atentando para o papel da

cidade como uma ferramenta para estimular e valorizar o

pedestre dentro do seu meio, ou seja, para que o usuário da

cidade possa percorrer e interagir com seu espaço. Sendo assim,

a partir da leitura desses autores e das suas respectivas análises

dos espaços públicos é que são elaboradas as diretrizes deste

capítulo. Para a análise do espaço do pedestre, devem ser

levados em consideração vários critérios que vão influenciar na

configuração do espaço e na sua utilização pelo pedestre.

Echavarri, Daudén, Schettino (2013), para organizar esses

critérios, fazem uma divisão em 4 principais dimensões para

análise que são definidas pela (1) Acessibilidade, (2) Segurança

e Proteção, (3) Conforto Ambiental e (4) Atratividade. Com a

composição desses quatro grandes grupos, os autores vão

relacionar os elementos, dentro de cada dimensão, com as

principais necessidades do pedestre em relação ao percurso em

que ele está inserido. A partir da Figura 18, nota-se de imediato

que são vários os elementos que interferem na dinâmica e na

interação do pedestre em um espaço público, isto é, a frequência

e a maneira como é utilizado o espaço depende de um conjunto

de fatores físicos, ambientais, sociais e estético.

Page 30: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

30

Figura 18 - A influência dos elementos projetuais arquitetônicos no caminhar.

Fonte: Autoria própria realizada através da tradução da tabela elaborada por (ECHAVARRI, DAUDÉN e SCHETTINO, 2013, p. 16 e 17)

Page 31: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

31

3.1 Aspecto da acessibilidade

Utilizando como parâmetro a divisão realizada por

(ECHAVARRI, DAUDÉN e SCHETTINO, 2013) é possível

compreender os fatores que influenciam e caracterizam cada

dimensão. A primeira a ser tratada é sobre a dimensão da

acessibilidade. Pela sua definição, o dicionário Michaellis

descreve que acessibilidade seria a facilidade de acesso, de

obtenção e a facilidade no trato. Para garantir a facilidade no

âmbito do pedestre, essa dimensão se concentra principalmente

nas condições da pavimentação que o indivíduo vai percorrer ao

longo do seu caminho, atentando-se sempre se esse caminho

favorece a acessibilidade para todos que o utilizam, incluindo

pessoas com mobilidade reduzida, para que possa ser garantido

um desenho de calçadas que seja universal por meio do uso de

rampas e de percursos mais suaves quando necessário.

As características físicas da pavimentação é o primeiro

aspecto que surge, a ser abordado quase que naturalmente, para

evidenciar a qualidade desse espaço. A falta de uma

pavimentação adequada e bem instalada ou a falta de um espaço

delimitado de calçadas para o pedestre já configura uma grande

deficiência do percurso para o pedestre, pois reduz e dificulta a

sua mobilidade no espaço.

É claro que a pavimentação tem um papel importante no

conforto do pedestre. No futuro, a qualidade da pavimentação

e das superfícies será essencial, para um mundo com mais

idosos e pedestres com mobilidade reduzida, mais tráfego de

cadeirantes e mais pessoas querendo levar crianças para a

cidade. É necessário ter superfícies niveladas e não

escorregadias. Paralelepípedos tradicionais e cacos de pedra

ardósia têm muita personalidade, mas raramente atende às

exigências modernas. (GEHL, 2013, p. 132-133).

O tipo de piso, como salienta Gehl, é fundamental para

favorecer a caminhada confortável do pedestre; além disso, a

preocupação com os nivelamentos das calçadas é a característica

primordial para garantir a total acessibilidade do sistema. Dentro

do aspecto do nivelamento de calçadas, também deve ser

avaliada a existência de rampas em lugares em que o acesso se

dá por meio de escadas ou degraus. O acesso para aqueles que

possuem mobilidade reduzida ou por portadores de

necessidades especiais deve ser garantido através de rampas, que

respeitem as normas de acessibilidade, para que todos possam

circular em todos os espaços.

O estado de conservação da pavimentação é outra característica

importante para garantir a utilização devida do pedestre. Sem

uma boa manutenção das calçadas, o pedestre fica suscetível a

perigos que podem resultar em acidentes e até quedas. Além

disso, o espaço destinado apenas ao pedestre é determinante

para o caminhar livre de barreiras e obstáculos, sem que haja a

dificuldade de locomoção. Porém, muitas vezes não é o que

acontece. (GEHL, 2013, p. 123), em seu livro, pontua que “... sinais

de tráfego, postes de iluminação, parquímetros, todos os tipos de

aparelhos de controle são colocados na calçada. Bicicletas,

anúncios, placas.” Isso é resultado de um paradigma em que é

evidente a prioridade dada ao carro e seus equipamentos viários,

em detrimento da circulação do pedestre nas calçadas.

Page 32: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

32

Calçadas com nove ou dez metros de largura são capazes de

comportar praticamente qualquer recreação informal – além

de árvores para dar sombra e espaço suficiente para a

circulação de pedestres e para vida pública e o ócio dos

adultos. Há poucas calçadas com largura tão farta.

Invariavelmente, a largura delas é sacrificada em favor da

largura da rua para os veículos; em parte, porque as calçadas

são tradicionalmente consideradas um espaço destinado ao

trânsito de pedestres e ao acesso a prédios. No entanto,

continuam a ser desconsideradas e desprezadas na condição

de únicos elementos vitais e imprescindíveis na segurança da

vida pública e da criação de crianças nas cidades. (JACOBS,

2011, p. 95).

Com a invasão dos carros, os pedestres foram empurrados.

Primeiramente contra as fachadas dos prédios e, depois,

apertados em calçadas cada vez menores. Calçadas lotadas

são inaceitáveis e é um problema no mundo todo. (GEHL,

2013, p. 122).

A partir das afirmações dos autores, conclui-se que é

necessário observar, então, se esses equipamentos urbanos

constituem uma barreira dentro do espaço que é destinado ao

pedestre e se essa calçada compõe uma dimensão confortável

para todos os pedestres que a utilizam simultaneamente, ou não.

Além de promover o passeio de pedestres, essa calçada pode ser

dimensionada de forma mais generosa para proporcionar ao

usuário a permanência no local, a partir da disposição de cadeiras

ou de um ponto de parada que permita ao pedestre conversar

sentado, admirar as pessoas ou somente descansar da

caminhada.

Outro aspecto que é importante ser analisado, também,

está na existência de uma continuidade do percurso do usuário, a

partir do ponto de encontro entre o sistema viário e o das

calçadas. Dependendo da forma em que isso é implantado, pode

haver uma barreira ou diferença do tratamento do piso nesses

pontos de encontro, que pode resultar em uma dificuldade para

o pedestre, na travessia dessa rua ou avenida. Ainda se atentando

para a conexão da pavimentação, a mudança do tipo de piso

entre diferentes calçadas também pode ser evidenciada como

outro impedimento para o pedestre. Portanto, esses possíveis

desencontros entre o sistema viário e as calçadas, ou entre duas

calçadas diversas, que são realizados de forma indevida, vão ser

denominados como “pontos de desconexão”.

Com isso, elaboram-se de maneira geral os aspectos a

serem analisados no que diz respeito à acessibilidade. (1) Tipo

de piso, (2) nivelamento de piso, (3) conservação do piso, (3)

dimensão da calçada, (4) existência de barreiras e (5)

existência de “pontos de desconexão” serão critérios para que

sejam avaliados os aspectos físicos das calçadas, para a plena

acessibilidade. Esta dimensão compõe a primeira análise do

espaço do pedestre, em que a partir do diagnóstico in loco das

calçadas já é possível estabelecer percepções e resultados

tangíveis em relação às condições do espaço analisado.

Page 33: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

33

3.2 Aspectos da segurança e proteção

Ao se tratar do aspecto da segurança, pretende-se

observar se o pedestre vai ter ou não a sensação de segurança ao

usar o seu espaço. Sendo assim, por ser uma questão pessoal e

subjetiva, onde um usuário pode se sentir inseguro ou não no

mesmo espaço, atribuem-se algumas características que são

consideradas indicadores que podem levar à sensação de

insegurança do pedestre. O primeiro indicador seria a questão da

movimentação das ruas e das calçadas em que o usuário vai

promover sua caminhada. Segundo Jane Jacobs, uma rua

movimentada consegue garantir a segurança de um lugar

enquanto uma rua deserta, não; e ainda acrescenta que:

...devem existir olhos para rua, os olhos daqueles que podemos

chamar de proprietários naturais das rua. Os edifícios de uma

rua preparada para receber estranhos e garantir a segurança

tanto deles quanto dos moradores devem estar voltados para a

rua. Eles não podem estar com os fundos ou um lado morto

para a rua e deixa-la cega. (JACOBS, 2011, p.35 e 36)

Fazendo um paralelo entre o discurso de Jacobs para as

cidades e trazendo para o campus universitário, seria possível

transferir a ideia de que as edificações acadêmicas e institucionais

devem ser “fachadas vivas” e devem interagir com o espaço

urbano de forma que proporcionem a sensação de segurança ao

pedestre. A arquitetura que deve ser evitada e que traz

insegurança é aquela arquitetura que Jacobs cita como “cegas”.

Essas fachadas “cegas” seriam edificações em que sua arquitetura

não permite uma interação do edifício com o espaço e que

geralmente se caracteriza por fachadas sem janelas e portas ou

com poucas janelas ou nenhuma porta que, consequentemente,

são definidas como fachadas sem função social, para promover a

agradabilidade e a segurança para o espaço público. O percurso

escolhido pelo pedestre geralmente é o mais agradável e seguro

e não necessariamente o mais curto.

Outro indicador que pode trazer a insegurança para o

pedestre está no tratamento de passarelas e passagens

subterrâneas ao longo do percurso do pedestre. Essas formas de

caminhos constituem uma solução para se evitar o conflito do

automóvel com o pedestre. Com isso, o carro, para ter seu acesso

desimpedido, vai ocasionar a construção desses tipos de recursos

para evitar que o pedestre atravesse pelo sistema viário. Segundo

Gehl (2013), essa construção, além de colocar o pedestre de

frente com novos obstáculos, como escadas, ela parte de uma

solução em que não prioriza o pedestre e apenas mantém a

cultura do carro em primeiro plano e do pedestre em segundo.

Além disso, o problema das passagens subterrâneas, segundo

Gehl (2013), é que

Passagens subterrâneas para pedestres tinham ainda

desvantagens de serem escuras e úmidas, e se as pessoas, em

geral, ficam inseguras se não podem ver muito à frente. Em

suma, as passagens subterrâneas e passarelas para pedestres,

em geral caras, conflitavam com a premissa básica de uma boa

paisagem para pedestres. (GEHL, 2013, p. 122)

Através da provável dificuldade gerada pelas passagens

subterrâneas, esse aspecto já entra em outra questão a ser

abordada: a iluminação. O espaço deve ser projetado para que o

seu uso seja feito em qualquer momento do dia e, com isso em

mente, dependendo da forma como se resolve a iluminação do

Page 34: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

34

espaço e da frequência do seu uso, ele pode acabar perdendo

seu potencial de utilização em determinadas partes do dia,

principalmente à noite, em que não existe a iluminação solar.

A iluminação é crucial à noite. Uma boa iluminação sobre as

pessoas e rostos e uma iluminação razoável em cantos e recuos

é necessária nas principais vias de pedestre, para reforçar a

sensação de segurança, a real e a percebida; é preciso ainda

haver iluminação nos pisos, superfícies e degraus, para que o

pedestre possa se movimentar com segurança. (GEHL, 2013, p.

133)

Poder enxergar com clareza o percurso e não ter

eventuais surpresas nele já propicia ao pedestre uma noção de

segurança, e sendo assim, ele se sente mais confortável a andar

por esse espaço com mais frequência e naturalidade. Além disso,

a boa iluminação noturna de edificações, e a forma como ela está

projetada, contribuem para estimular ainda mais o bem-estar e

confiança do usuário para percorrer o espaço interno das

edificações e, portanto, em seu entorno.

Coloca-se como um aspecto incorporado à segurança, o

tópico da proteção. Além de todos os indicadores estarem

relacionados com a sensação de proteção do usuário, nesse caso,

ela vai estar relacionada ao cuidado e cautela com o pedestre

dentro do sistema viário do campus universitário. Para isso, é

preciso analisar se durante o percurso do pedestre, em que se

tem o encontro entre pedestre e ciclistas ou pedestres e

automóveis, existe uma situação de perigo, que caracterize

determinado ponto em uma área que coloque o pedestre em

risco. A possibilidade de acidentes ou de impedimento à

mobilidade fluida do pedestre é denominada como um “ponto

de conflito viário” e constitui um parâmetro para a avaliação da

proteção do pedestre em relação ao seu meio.

Elaboram-se, então, as diretrizes para a segurança e

proteção do pedestre dentro do seu espaço. Resumidamente,

têm-se a análise: (1) passagens subterrâneas e passarelas, se

existirem; (2) tratamento das fachadas, (3) iluminação das

calçadas e (4) dos “pontos de conflito viário”. Todos esses

aspectos são ferramentas para a análise da sensação de

segurança do pedestre em relação ao meio externo, que vai

compor um cenário de bem-estar, ou não, ao usuário.

3.3 Aspecto Ambiental

O aspecto climático é fundamental para incentivar, ou

não, a caminhada do pedestre em uma determinada área do

espaço, isto é, a condição climática em que as calçadas estão

inseridas, pode definir se o pedestre vai optar por caminhar ali,

ou não. Segundo (GEHL, 2013),

Poucos tópicos tem maior importância para o conforto e bem-

estar no espaço urbano do que o clima no local onde se está

sentado, caminhando ou andando de bicicleta. O trabalho com

clima e proteção climática concentra-se em três níveis:

macroclima, clima local e microclima. O macroclima é o clima

regional geral. O clima local é o clima das cidades e do

ambiente construído, moderado pela topografia, paisagem e

construções. O microclima é o clima numa zona atmosférica

local. Pode ser tão pequeno como uma única rua, em

reentrâncias e recuos, ou em torno de um banco no espaço

público. (GEHL, 2013, p. 168).

Page 35: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

35

Figura 19 - Elementos do clima a serem controlados. (ROMERO, 2000, p. 51)

Através da divisão definida por Gehl, ao analisar o espaço

do pedestre, atenta-se principalmente para o clima local e o

microclima específico. É possível considerar o campus

universitário como sendo o clima local do objeto em estudo e os

trechos de passagem do pedestre, dependendo da sua

localização no percurso dentro do espaço universitário, como o

microclima. Para avaliar esse clima, encontram-se quesitos em

que é possível estabelecer se determinada área é confortável, ou

não, climaticamente. Os autores (ECHAVARRI, DAUDÉN e

SCHETTINO, 2013) dividem em quatro os quesitos,

resumidamente: sombreamento, vento, radiação solar e

intempéries. Gehl relembra que, para esses fatores de clima e

conforto, devem ser levadas em consideração as estações do ano

e a localização geográfica. O sol é um grande atrativo e é

valorizado nas regiões temperadas, enquanto que a sombra é

uma qualidade muito importante para regiões em que o clima é

quente e seco.

Sendo assim, para países em que o clima é quente e com

altas temperaturas durante todo o ano, a necessidade de um

caminho, para o pedestre, que seja sombreado é fundamental

para que traga conforto para seus usuários. Além disso, ventos

relativamente rápidos podem compor um cenário de

Page 36: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

36

agradabilidade e bem-estar. A radiação solar acaba por compor

um fator a ser evitado para a promoção da caminhada do

pedestre nessas regiões.

A radiação solar refletida pelas superfícies num espaço

densamente ocupado pode ser minorada pelo uso de materiais

e cores pouco refletidos, de vegetação que absorve a radiação

solar e a utiliza na evaporação que se processa nas folhas, sem

elevar a temperatura de suas superfícies e aumentando a

umidade do meio. (ROMERO, 2000, p. 50).

Para regiões quentes, em que o espaço não é

densamente ocupado, a solução para a intensa radiação está

relacionada, principalmente, ao fator da arborização do espaço,

isto é, o sombreamento de percursos para o pedestre a partir da

arborização do espaço público. Além de estimular a caminhada

confortável do percurso, a arborização pode ser uma ferramenta

de acessibilidade, para identificação dos percursos em locais com

grandes áreas públicas e, se realizada de forma intencional, para

delimitar áreas em um espaço urbano disperso.

A partir da tabela realizada por Romero (2000), que

resume os elementos do clima a serem controlados a partir de

cada situação climática, é possível compreender o que deve ser

levado em consideração para se atinja um conforto térmico para

cada tipo de região.

Além da busca pelo conforto térmico, o conforto sonoro

é outro fator que influencia no bem-estar de um usuário.

Dependendo da intensidade de uma atividade ou do tipo de

atividade desenvolvida em um determinado espaço, isso vai ser

importante para a pessoa escolher caminhar por aquele espaço

ou não. Também, deve-se atentar para áreas em que o intenso

tráfego urbano caracteriza um desconforto ao pedestre. Segundo

Gehl,

O passeio nas ruas de tráfego intenso é uma experiência

totalmente diferente. O ruído de carros, motocicletas e,

principalmente, ônibus e caminhões rocheteia entre as

fachadas, criando um nível de ruído contínuo praticamente

impossibilita a conversa. (...) Não só a comunicação efetiva

entre as pessoas perde o sentido, como também o nível de

estresse. (GEHL, 2013, p. 153).

A partir desses indicadores, é possível elaborar as diretrizes para

análise ambiental que são definidas pela (1) radiação solar, (2)

sombreamento, (3) vento, (4) chuvas e (5) ruído. O clima é um

fator importante para estimular as atividades e o uso do espaço

público. De acordo com Gehl, sem uma boa condição climática

para se realizar uma caminhada, é possível que as atividades ao

ar livre sejam reduzidas ou até tornem-se impossíveis.

3.4 Aspecto da Atratividade

O último aspecto a ser discutido é o aspecto da

atratividade. A sensação de atratividade por um lugar, apesar de

ser um aspecto subjetivo e ter um caráter psicológico individual,

pode ser atribuída à qualidade de um determinado espaço

traçado a partir de alguns critérios, que podem estimular ou até

mesmo intensificar o uso de calçadas e do espaço público do

pedestre. Segundo Gehl (2013), esses critérios vão desde a

qualidade visual do espaço projetado, e do mobiliário urbano, às

atividades que um determinado local oferece; dependendo da

sua configuração esses elementos são determinantes para que o

Page 37: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

37

pedestre se sinta confortável a percorrer um determinado

espaço.

A qualidade visual de um determinado espaço é o

primeiro aspecto que traz atratividade a um local. A configuração

de um espaço público ordenado e bem projetado em conjunto

com as edificações arquitetônicas, que evidenciam o belo, é

fundamental para atraírem pessoas a caminhar ou permanecer

por ali. Jacobs (2001) salienta que “é preciso haver pontos que

simplesmente atraiam o olhar”; o que vem através de recortes

visuais das ruas, ou do tratamento de fachadas, com a utilização

de uma cor, já podem proporcionar um interesse e realce do

espaço por meio dessa sugestão.

Nada fala mais alto sobre a “vida entre edifícios” como um

atrativo do que as perspectivas dos arquitetos. Não importa se

a dimensão humana, nos projetos, é tratada com cuidado ou

completamente negligenciada; os desenhos estão cheios de

pessoas alegres e animadas. As pessoas ali retratadas

emprestam aos projetos uma aura de felicidade e atratividade,

enviando um sinal de que ali são encontradas boa qualidades

humanas em abundância, seja esse o caso ou não. É evidente

que as pessoas constituem a maior satisfação das pessoas- pelo

menos nos desenhos! (GEHL, 2013, p. 25).

Porém, devido aos inúmeros critérios que definem uma

arquitetura como bela ou não, observar-se-á a qualidade daquela

que se preocupa com a interação da edificação e a conexão com

o espaço público. Outros critérios, relativos à qualidade visual,

como cor, escala, proporção, por exemplo, serão reconhecidos no

estudo como elementos fundamentais para a atratividade de um

local, porém não serão avaliados, para que não se desvie da

principal temática do estudo. Todavia, pode-se dizer que a partir

de um espaço físico que se preocupe com a qualidade visual, os

pedestres sentem o bem-estar para utilizar aquele espaço e,

consequentemente, passam a utilizá-lo ainda mais, fazendo com

que seja um espaço de uso frequente e que renda uma atração

ainda maior para o local. Como dito por Gehl, as pessoas são

fundamentais para que outras pessoas sejam atraídas para

aquele espaço.

Para isso, retoma-se a ideia das “fachadas vivas” definidas,

previamente, como elemento de segurança para o espaço

público e, agora, também como elemento de atratividade a um

local. A forma como são implantadas, as edificações são

fundamentais para estabelecer uma conexão entre o espaço

público e o privado, garantindo assim uma permeabilidade do

espaço. Com isso, procura-se analisar se os acessos e aberturas a

ela são bem definidos e bem localizados para que possa

promover a interação do edifício com seu meio.

A existência de um mobiliário urbano de qualidade vai ser

fundamental para definir pontos de encontro entre pedestres que

utilizam esse espaço diariamente. A partir de um fluxo bem

estabelecido e uma estrutura física, mesmo que mínima, que

possibilitem a permanência no espaço, vai ser revelado, quase

que espontaneamente, um ponto de encontro dentro do

percurso de pedestre, sendo assim considerado um aspecto

positivo e qualitativo do espaço desse pedestre.

Outro aspecto a ser notado está em relação às distâncias

percebidas e às reais que o pedestre apreende ao caminhar por

Page 38: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

38

certo percurso, e se este o conduz ao destino que se pretende

alcançar.

A distância que a maior parte dos pedestres considera

aceitável é a de quinhentos metros, mas essa não é uma

verdade absoluta, já que o aceitável sempre é uma combinação

de distância e qualidade do percurso. Se o conforto for baixo, a

caminhada será mais curta, ao passo que se o percurso for

interessante, rico em experiências e confortável, os pedestres

esquecem a distância e fruem das experiências que ocorrem.

(GEHL, 2013, p. 127).

A partir de Gehl, é possível perceber que a noção de

distância de um caminho percorrido vai ser relativa, e vai entrar

em correspondência com todos os indicadores que atribuem

qualidade e atratividade de um determinado local e a demais

aspectos já citados, principalmente ao ambiental. Para resumir e

adotar como quesitos de análise da atratividade de um espaço

vão ser considerados os tópicos da (1) permeabilidade do

edifício, (2) qualidade do mobiliário urbano, (3) “pontos de

encontro” (4) distâncias relativas percebidas.

3.5 Síntese das diretrizes a serem analisadas

A definição de diretrizes para a obtenção de um modelo

metodológico, para aplicação em um estudo de casos, é

fundamental para se alcançar resultados tangíveis e para

entender o comportamento de determinado espaço.

A partir disso, pode-se elaborar uma tabela-resumo que

irá compor os aspectos abordados e os respectivos indicadores a

serem analisados. Porém, antes da sua aplicação, é importante

ressaltar que um indicador pode estar colocado de forma

abreviada para descomplicar a leitura da análise, mas que pode

representar alguns critérios que estão implícitos a ele. Para

exemplificar isso, pode-se usar o indicador do mobiliário urbano

como um quesito que depende de vários outros intrínsecos a ele.

Ao avaliar um mobiliário urbano, estamos levando em

consideração sua estética, ergonomia, funcionalidade e relação

com o espaço em que está inserido. Sendo assim, ao atribuir um

valor positivo ou negativo a certo mobiliário, em determinado

lugar do percurso do pedestre, estão sendo levados em

consideração todos esses outros aspectos também.

Tendo isso dito, é possível traçar um panorama da

aplicação da metodologia elaborada através do seguinte

proposição (Figura 20).

Com isso, tem-se o conteúdo para que seja possível

realizar o estudo de campo, no Campus Universitário Darcy

Ribeiro na Universidade de Brasília, em que, a partir de

documentação fotográfica, será razoável analisar a qualidade do

espaço a partir das diretrizes estabelecidas.

Page 39: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

39

Figura 20 - Síntese dos aspectos a serem analisados

Page 40: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

40

Figura 21- Mapa de localização dos edifícios do campus

Estudo de Casos:

Campus Darcy Ribeiro - UnB

Após a elaboração das diretrizes para análise do

percurso do pedestre, parte-se agora para a aplicação do

modelo sugerido para diagnosticar a situação do pedestre em

seu espaço. Portanto, utiliza-se o campus universitário Darcy

Ribeiro para exemplificar e aplicar o método descrito a partir da

definição de um percurso importante dentro desse espaço

universitário. A partir da configuração atual do campus (Figura

21), será traçado um percurso longitudinal que escolhido pela

sua importância dentro do campus ao longo de sua história.

BAES - Bloco de Salas de Aula Eudoro de Sousa

BCE - Biblioteca Central

BSAS - Bloco de Salas de Aula Sul

CC – Centro Comunitário

CDT - Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico

CESPE - Centro de Seleção e de Promoção de Eventos

CET - Centro de Excelência em Turismo

CIC/EST – Departamento de Ciências da Computação e

Estatística

CO - Centro Olímpico

FD - Faculdade de Direito

FE - Faculdade de Educação

FEF - Faculdade de Educação Física

FM - Faculdade de Medicina

FS - Faculdade de Saúde

FT - Faculdade de Tecnologia

FUB - Fundação Universidade de Brasília

HUB - Hospital Universitário

IB - Instituto de Biologia

ICS –Instituto de Ciências Sociais

ICC - Instituto Central de Ciências

IQ - Instituto de Química

MASC - Módulos de Apoio e Serviços Comunitários

MDR – Memorial Darcy Ribeiro

NMT – Núcleo de Medicina Tropical

PAT - Pavilhão Anísio Teixeira

PJC - Pavilhão João Calmon

PRC - Prefeitura do Campus

REI -Reitoria

RU - Restaurante Universitário

SG 9,11,12 – Laboratórios da Engenharia

SG 2,4 e 8 – Departamento de Música e Auditório

SG10- Centro de Planejamento Oscar Niemeyer

Page 41: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

41

Figura 22 - Mapa esquemático do percurso longitudinal

4.1 Percurso Longitudinal

Tem-se como ponto de partida, a observação do eixo

longitudinal da universidade, que se inicia no lado sul e vai até

o lado oposto, lado norte do campus, (Figura 22). Traçando-se o

eixo que permeia o percurso realizado, procura-se percorrer

esse espaço para perceber aonde esse percurso nos conduz e

como se configura, a partir dos critérios estabelecidos, a

qualidade desse caminho ao longo desse espaço que foi

d

e

l

i

m

i

t

a

d

o

.

P

a

r

a

m

e

l

hor compreensão do percurso, utilizam-se pontos de parada,

denominadas estações e nomeadas de A a H, para que seja

possível entender a progressão e o desenvolvimento do

pedestre na sua trajetória ao longo do caminhar. Esses pontos-

chave são escolhidos estrategicamente para que se possa

avaliar com mais cuidado e minuncia elementos, que se

evidenciam ali, que interferem no espaço do pedestre.

Tendo isso dito, inicia-se a partir do

Instituto de Biologia, para depois chegar ao

Instituto Central de Ciências, que é o principal

edifício articulador do campus, para então

seguir para os Pavilhões e as novas

edificações implantadas nos anos 2000,

localizadas na parte leste do campus.

Page 42: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

42

Figura 23 - Vista Geral da Estação "A"

4.1.1 Estação “A”

O início desse percurso é o extremo sul do campus

universitário, e a primeira estação está localizada ao lado da via

L4 Norte, no estacionamento que dá acesso à parte posterior

do Instituto de Biologia e à lateral do Instituto de Química. Esse

estacionamento possui apenas esse acesso, e por se localizar na

parte posterior do IB, preserva a fachada frontal do edifício para

os pedestres, valorizando a escala humana e reforçando a

relação do Instituto com o ICC. Aqui é possível observar a

preocupação com o tratamento do piso na entrada do IB pelo

nivelamento e conservação do piso para o pedestre. Esse

percurso nos leva até o outro lado da edificação de forma

planejada e livre de barreiras. A acessibilidade às edificações é

garantida por meio de uma pavimentação que direciona o

pedestre ao interior dos dois pavilhões dentro do Instituto de

Biologia.

Apesar de ter o acesso bem resolvido a partir da entrada

da edificação, a existência da grade ao redor do Instituto de

Biologia, delimita o espaço físico do complexo de edifícios,

dificultando o acesso ao Instituto de Química e impedindo a

circulação transversal. Sendo assim, o pedestre que deseja

passar de um instituto ao outro tem que usar o estacionamento

como espaço de locomoção, pois não existem calçadas que

conectem completamente o pedestre de uma entrada a outra,

ocasionando assim em um conflito viário entre pedestre e

automóvel. Isso de reflete na questão da segurança e proteção

do pedestre, e a um ponto de desconexão entre as calçadas.

Instituto de Biologia

O Instituto de Biologia foi projetado no ano de 2004,

pela coordenação do arquiteto e professor Frederico Flósculo, e

inaugurado em 2009. Nessa época, procurava-se a expansão do

campus da UnB a partir da construção de novas áreas devido à

necessidade de salas e laboratórios maiores para que fossem

proporcionadas melhores condições de trabalho.

Foi levado em consideração, para a implantação do

projeto, a relação com as edificações existentes e,

principalmente, o Instituto Central de Ciências (ICC). Portanto, o

complexo de edifícios é concebido de maneira longitudinal, em

forma de um “H”, para ter sua entrada principal voltada para a

Page 43: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

43

Figura 25 –Mobiliário

urbano do Instituto de

Biologia

Figura 26 – Marcação do

acesso transversal do IB

Figura 24 – Detalhe da configuração dos percursos das estações A. B e C

Figura 27 – Espaço de

permanência do IB

ala sul do ICC. No outro acesso, na parte posterior da

edificação, o acesso se encontra voltado para o estacionamento

do complexo. Sendo assim, a entrada principal do IB prioriza o

acesso exclusivo aos pedestres e ciclistas.

Na parte intermediária, que divide o complexo em dois

blocos principais, existe uma marcação do acesso transversal a

partir de uma cobertura metálica que permite o acesso às

laterais do edifício. Com isso, o caminho do pedestre por meio

das edificações do IB é agradável no ponto de vista do aspecto

ambiental e da atratividade. O percurso entre os edifícios

fornecem um sombreamento ao pedestre, com uma circulação

de ar adequada e um paisagismo diferenciado o que

proporciona ao pedestre uma caminhada tranquila. Além disso,

o espaço fornece mobiliário urbano para o pedestre

permanecer nesse espaço, estimulando o percurso a ser um

ponto de encontro e permanência.

A permeabilidade da edificação e o tratamento das

fachadas são outros pontos que acrescentam à atratividade do

local, pois o pedestre caminha por esse espaço sem precisar se

importar com a real distância entre um ponto e outro da

edificação.

Page 44: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

44

4.1.2 Estação “B”

A estação B está na entrada principal do Instituto de

Biologia. Após ter percorrido todo o complexo do IB

longitudinalmente, depara-se com a região central do campus

Darcy Ribeiro. Nesse momento, o pedestre consegue alcançar

uma grande amplitude visual e percebe diversas edificações ao

logo do seu horizonte, entre eles o ICC.

Porém ao chegar nesse ponto de conexão com os outros

edifícios do campus, o caminho do pedestre se ramifica em

vários percursos de pequenas dimensões, para então ser

direcionado para cada edificação a que se pretende chegar.

Com isso, o eixo do pedestre sofre uma abrupta quebra de

continuidade e, consequentemente,em uma desconexão de seu

percurso. Assim, depara-se com o momento de escolha de um

trajeto, sem que necessariamente faça o uso de uma calçada,

dependendo de onde ele quer chegar.

Um dos pontos de desconexão está entre o IB e a nova

edificação implantada recentemente, o Blocos de Salas de Aula

Sul, BSAS. O edifício que está ao lado esquerdo da entrada do

IB não possui uma calçada que dê acesso direto ao Instituto de

Biologia,dificultando assim a circulação de pedestres entre essas

edificações. Tem-se também uma obstrução visual, por meio de

um estacionamento improvisado na frente o edifício do BSAS,

que separa essas duas edificações e o transforma um ponto de

conflito viário.

Outro ponto de conflito viário que se nota é na travessia

do pedestre para chegar ao Instituto Central. Para isso o usuário

é forçado a interromper a sua ação natural de prosseguir em

linha reta para acessar o edifício do outro lado da rua. Ao invés

disso, o pedestre deve percorrer uma calçada implantada

diagonalmente ao seu destino para poder passar na faixa de

pedestre em relativa segurança.

Dentre os aspectos desfavoráveis estão a má

conservação dessa pavimentação, e a dimensão insuficiente

para acolher a quantidade de pessoas que passam por ali no dia

a dia das atividades acadêmicas.

Figura 28- Vista Geral da Estação "B"

Page 45: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

45

Além disso, um outro critério a ser levado em

consideração, é o aspecto ambiental. A cobertura da entrada do

Instituto de Biologia e da configuração da edificação promove o

sombreamento em partes do percurso do pedestre, o que

rende conforto para o caminhante. Já nesse ponto, depara-se

com um espaço a ser percorrido, em qualquer direção do

campus, com intensa radiação solar e altas temperaturas. A

necessidade de um sombreamento por meio de uma

arborização ou de uma cobertura melhoraria as condições de

caminhada nesse espaço.

4.1.3 Estação C

Ao atravessar a faixa de pedestres e se aproximar do

Instituto Central de Ciências, a questão do sombreamento e da

radiação solar já se inverte, e com isso existe um maior conforto

do usuário em relação aos aspectos ambientais. Porém, um

outro conflito que se observa é o conflito viário entre bicicleta e

pedestre. Antes da entrada do ICC existe uma ciclovia que

interrompe abruptamente esse percurso, sem qualquer

sinalização ou medida para evitar o choque entre o pedestre e

ciclista. A situação ainda se agrava no momento em que o

pedestre começa a usar a própria ciclovia para caminhar e

alcançar a entrada do ICC. Isso acontece pelo motivo da calçada

não existir mais, apenas a ciclovia e com isso o pedestre se vê

obrigado a utilizar esse sistema viário.

Esse conflito entre ciclovia e percurso do pedestre existe

em alguns pontos da área central do campus, onde há

Figura 29- Calçada que dá

acesso à faixa de

pedestres

Figura 30- Estacionamento

implantado na frente da BSAS

Figura 31- Cobertura da entrada

do Instituto de Biologia

Page 46: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

46

Figura 34- Mobiliário urbano

Figura 33- Conflito viário

descontinuidade entre calçadas, ou onde não existem calçadas

para o pedestre caminhar. Devido à falta de calçada para o

caminhante, o usuário opta pela ciclovia para percorrer os

espaços.

Nessa mesma estação, existem alguns pontos de

desconexão e de conflito viário deste tipo Mesmo assim, apesar

desses problemas, esse mesmo ponto constitui um lugar de

encontro no espaço universitário. A ampla área sombreada por

árvores e algumas “barracas” de alimentação ao redor do

edifício contribuem para dinamizar e atrair pessoas para esse

espaço. Além disso, existe a possibilidade de permanecer no

espaço a partir de um mobiliário urbano improvisado, mas que

propicia o bem estar do usuário nessa região. Percebe-se que

mesmo não existindo uma estrutura de qualidade arquitetônica

e conforto, esse espaço se configura como um ponto de

encontro do campus Darcy Ribeiro. O verde na fachada do ICC,

a própria configuração do edifício e do espaço público lateral

contribui para conferir agradabilidade ao local.

Figura 32 - Vista Geral da Estação "C"

Page 47: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

47

Instituto Central de Ciências

O Instituto Central de Ciências, como já dito

anteriormente – ver capítulo 2, é o principal edifício que

caracteriza e identifica o campus na cidade de Brasília. O início

da sua construção, em 1963; realizado pelo arquiteto Oscar

Niemeyer; foi importante para a composição do espaço físico

da universidade e da consequente definição dos principais

percursos do pedestre por meio e ao redor do ICC.

Trata-se de um volume baixo, linear e curvo, com 696m de

extensão, composto de dois blocos paralelos, afastados um do

outro por uma faixa ajardinada de 15m. O bloco voltado para

oeste apresenta 25 m de largura e foi pensado para abrigar,

ao longo de seus dois pavimentos e subsolo, os anfiteatros e

as salas de professores. Já o bloco leste, com 30m de largura,

apresenta parte de sua área com pé direito duplo, e foi

pensado para abrigar, em dois pavimentos, os diferentes

laboratórios da instituição e as salas de aula (com dimensões

variáveis). (Schlee et al. 2014, pg 50- 52)

Pela sua relativa dimensão, a edificação do Instituto

Central acaba, então, por compor um verdadeiro espaço para o

caminhar do pedestre ao longo desses quase 700m de

extensão, em que, mais tarde, o prédio vai ser dividido em Ala

Sul e Ala Norte para facilitar a orientação do usuário no espaço.

Fica evidente que, a partir de um programa de necessidades

variado, o edifício vai se estabelecer como uma centralidade

chave e, consequentemente, como um ponto de encontro para

os usuários desse campus.

Iniciando-se pela Ala Sul do ICC, o trajeto do pedestre

pelo edifício é feito através de pórticos estruturais que

proporcionam o sombreamento, a proteção a radiação solar e

às chuvas. Além disso, o jardim central e os jardins de inverno,

que se concentram ao lado do percurso do pedestre,

contribuem para o bem-estar do pedestre e para a atratividade

do local.

Figura 35- Vista Geral do Instituto Central de Ciências

Page 48: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

48

Como outros aspectos relativo à atratividade do local,

pode-se citar a qualidade do mobiliário urbano e as distâncias

percebidas para o caminhante. Ao longo do percurso, existem

vários momentos em que o pedestre pode parar e permanecer,

tanto nos bancos que se repetem frequentemente durante o

percurso e nos jardins centrais. Além disso, é possível caminhar

por esse espaço sem perceber a distância percorrida devido à

quantidade de atividades que o edifício oferece e de pessoas

que utilizam o ICC. O caminhar pode ser lento ou rápido

dependendo da intenção do pedestre.

4.1.4 Estação D

Durante o percurso do ICC, existem dois pontos

estratégicos intermediários que conectam e que fazem o acesso

à esse grande prédio longitudinal, o “Udefinho” e o “Ceubinho”,

que foram assim nomeados pelos estudantes. A estação “D”,

ponto relativo ao espaço do “Udefinho”, é o principal acesso à

Ala Sul da edificação e à passagem lateral para edifícios

localizados na parte leste do campus, como a Reitoria e

Biblioteca. Essa marcação do acesso, por meio de amplas

aberturas transversais do edifício nesse ponto, permite que o

pedestre opte por continuar caminhando pelo ICC ou

simplesmente possa acessar outras áreas a que se pretende

alcançar.

Esse espaço configura um verdadeiro nó entre o eixo

transversal e longitudinal do campus. A quantidade de pessoas

que fazem o uso desse espaço é fundamental para render a ele

um grande potencial de atratividade e de permanência. Estas

características acabaram por atrair uma concentração de

atividades comerciais informais nesse espaço, que se

estabelecem nesse nó para proporcionar ao estudante ou ao

trabalhador uma opção de alimentação e de serviços ligados à

atividade estudantil, como copiadoras, papelaria, alimentação

entre outros. Com essa variedade de atividades, o usuário fica

convidado a permanecer ali e a utilizar esses serviços. Porém, ao

mesmo tempo que isso amplia a atratividade do espaço,

Figura 36- Vista Geral da Estação “D”

Page 49: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

49

Figura 37- Vista do percurso do pedestre na Ala Sul

compromete sua acessibilidade plena e limpa, pois estes

estabelecimentos configuram barreiras físicas e visuais que

dificultam o caminhar do pedestre dentro desse espaço.

4.1.5 Estação “E”

O mesmo acontece caminhando mais a frente, com o

“Ceubinho”, que é o ponto de conexão e acesso ao espaço da

Ala Norte no Instituto Central. A permeabilidade da edificação

permite atravessar transversalmente a edificação de um lado a

outro, assim como no “Udefinho”. Entretanto, existem também

pontos de barreiras e equipamentos localizados no percurso

desse pedestre.

É evidente que esses serviços são importantes e

fundamentais para o usuário que permanece no edifício durante

as suas atividades acadêmicas, porém em termos de

acessibilidade, compõem um aspecto não desejável ao espaço.

Além disso, a maneira improvisada como são instalados esses

equipamentos, acaba por denegrir a imagem visual dessa

edificação que é tão importante ao campus universitário.

Figura 38- Vista Geral da Estação “E”

Page 50: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

50

Ainda percorrendo o ICC, pode-se dizer de forma geral, que o

edifício proporciona segurança e proteção ao usuário, pois se

configura como uma via essencialmente destinada para os

pedestres. Sendo assim, a dimensão humana, que foi ponto de

grande atenção e importância dado pelo autor Gehl (2013), se

apresenta dentro do campus na forma de uma única e grande

edificação, onde que o pedestre é o personagem mais

importante para o seu espaço.

4.1.6 Estação “F”

Ao fim de todo o percurso do ICC, chega-se ao lado

oposto da edificação, onde o pedestre novamente se encontra

em um espaço público amplo e aberto, com várias

possibilidades de percurso. Essa variedade de percursos, porém,

não se reflete por meio de calçadas bem definidas que

conduzam naturalmente o pedestre para o outro lado, isto é, os

percursos sofrem rompimentos em suas conexões e o piso não

é uniforme e nivelado. A falta de sinalização informando onde

estão localizadas as edificações dessa região também é outro

aspecto que causa a desorientação do pedestre.

A partir desta saída do ICC o pedestre pode acessar o

estacionamento à sua esquerda, outras edificações à sua frente

e a Biblioteca Central à sua direita. Essa possibilidade de

caminhos confere ao pedestre em uma indecisão de um

percurso, já que não apresenta muito bem uma leitura do

espaço e nem de uma dimensão de calçada satisfatória para o

usuário.

Figura 39- Perspectiva da Ala Norte - ICC

Figura 40- Vista Geral da Estação “F”

Page 51: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

51

Ao prosseguir para as edificações à sua frente, o

pedestre se depara com um conflito viário fruto da estrutura

viária que privilegia os automóveis, onde a passagem é feita por

meio de uma faixa de pedestres, mal sinalizada e pouco

iluminada. Entretanto, na lateral do ICC, ainda se preserva o

mesmo aspecto de ponto de encontro observado na outra

extremidade do ICC. O espaço com a presença de algumas

árvores e um ponto de alimentação é ideal para promover o

encontro e a permanência de pessoas nesse lugar.

4.1.7 Estação “G”

A estação “G”, foi colocada no mapa, no início deste

capítulo, como um ponto disperso e fora do percurso

longitudinal do estudo de caso em análise. A explicação para

isso é que o pedestre, ao chegar nesse ponto, se depara com

uma grande barreira formada pelos estacionamentos da

Faculdade de Economia e Contabilidade, FACE; dos Pavilhões

Anísio Teixeira e João Calmon; dos Institutos de Relações

Internacionais e Ciências Política; e o prédio do Departamento

de Ciências da Computação e Estatística, CIC e EST. Esta

situação se caracteriza como um grande conflito viário que

gera, inevitavelmente, uma dificuldade de acesso à essas

edificações. Portanto, ao estabelecer esse estacionamento como

principal elemento de conformação desse espaço, o pedestre

não compreende, de imediato, qual o espaço é dedicado a ele,

nem qual caminho percorrer para acessar as edificações dessa

área.

É importante salientar que todas as edificações possuem

um acesso com calçadas e uma delimitação do espaço do

pedestre. Porém, todos esses acessos são alcançados a partir

desse conflito viário. O estacionamento se transforma, então, no

principal lugar de locomoção do pedestre.

Figura 42- Detalhe da configuração dos percursos das estações F. G e H

Figura 41- Espaço de

permanência no final

da Ala Norte

Page 52: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

52

Pavilhões Anísio Teixeira e João Calmon

Para continuar esse percurso longitudinal, utiliza-se

então o Pavilhão Anísio Teixeira; PAT; que é a edificação mais

próxima ao ICC. O PAT, assim como o PCJ, foram construídos

simultaneamente nos anos de 1999 e 2000 em uma tentativa

emergencial para suprir uma carência de espaço de diversas

unidades acadêmicas dentro do Instituto Central. (Schlee et al.

2014, pg 110).

O autor do projeto, o arquiteto e professor Cláudio

Queiroz, procurou implantar esses edifícios de forma harmônica

com o projeto do Minhocão. Pode-se perceber que, apesar de a

sua implantação estar dentro de um grande estacionamento, o

acesso à esse edifício busca se conectar ao ICC, por meio da

continuação do eixo da edificação consolidada, o ICC, com a

nova, o Pavilhão. Em relação à acessibilidade e permeabilidade

do edifício, ele permite a continuação do percurso do pedestre

de forma coerente e integradora, mas suas condições externas

de conservação da pavimentação não são adequadas para o

pedestre.

Módulo de Apoio e Serviços Comunitários

Ao atravessar o Pavilhão Anísio Teixeira para o MASC,

Módulo de Apoio e Serviços Comunitários, encontra-se,

novamente, o estacionamento como um conflito viário para o

pedestre alcançar a outra edificação. O MASC, realizado pelo

CEPLAN, sob a coordenação do diretor e arquiteto Alberto Faria,

foi construído em 2012 com o objetivo de abrigar e centralizar

em pontos estratégicos no campus as funções relacionadas às

atividades de serviço e comércio da UnB, (Schlee et al. 2014, pg

142).

É uma edificação térrea configurada a partir de um

pátio central que dispõe de um mobiliário destinado para

refeições e lanches. A sua planta, em forma retangular, distribui

ao longo de suas laterais atividades como lanchonetes, bancas e

fotocopiadoras. O edifício apresenta acessibilidade em emtrês

das suas quatro fachadas e contribui em um espaço de

passagem do pedestre por meiodele. A permeabilidade do

espaço permite o contato visual do edifício com a FACE,

Faculdade de Economia e Contabilidade, com os pavilhões PAT

e PJC.

Figura 43- Vista Geral da Estação “G”

Page 53: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

53

Figura 44- Acesso à FACE

Porém, apesar de apresentar acessibilidade para todas

as faces de seu edifício, a implantação do MASC em uma base

retangular dentro de um estacionamento, conforma em um

espaço totalmente rodeado pelo sistema viário e com isso, o

pedestre acaba por se concentrar em uma área “ilhada” e sem a

existência de um percurso definido e dimensionado para o

pedestre continuar o seu caminhar nesse eixo.

4.1.8 Estação “H”

Ao chegar à estação “H”, observa-se que, ao se deparar

com as últimas edificações na parte norte do campus,

consequentemente, o pedestre também se depara com o fim

do seu percurso por meio da inexistência de qualquer calçada

depois do sistema viário. A edificação que está sendo

construída à sua frente ainda não possui uma indicação de seu

acesso, e as edificações recentemente inauguradas; o BAES -

Bloco de Salas de Aula Eudoro de Sousa, à direita; e o Instituto

de Ciências Sociais – ICS; à esquerda; não possuem acesso a

partir dessa estação. A locomoção nesse espaço, então, é feita

apenas a partir da estrutura viária dedicada aos carros,

enquanto que o pedestre não tem mais o espaço físico da

calçada para poder caminhar.

Esta implantação infeliz é sintomática do privilégio que o

automóvel possui em nossas cidades e, infelizmente, também

no campus universitário. O acolhimento experimentado até

então no percurso escolhido se dissolve completamente na

parte norte do campus, uma área projetada e construída

recentemente, e onde fica clara a perda de qualidade espacial

das áreas públicas/abertas do campus, e o completo abandono

do homem como referência projetual do espaço urbano.

Figura 45- Acesso do

estacionamento ao MASC

Page 54: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

54

Figura 48- Vista Geral da Estação “H”

Figura 46- Fim do percurso do

pedestre

Figura 47- Acesso ao BAES

4.2 Quadro Resumo

No sentido de sintetizar todas as informações coletadas, criou-se uma

tabela-resumo onde todos os itens foram avaliados segundo três critérios:

ótimo/bom; regular/satisfatório; ruim/insatisfatório. Pode-se exemplicar a

partir do critério do sombreamento que a definição de ótimo/bom será

atribuído para espaços em que existam um bom sombreamento,

regular/satisfatório para áreas relativamente sombreadas e

ruim/insatisfatório pela ausência de sombras. O contrário, por exemplo,

pode ser estabelecido na avaliação dos conflitos viário. Se existirem vários

conflitos viários este critério será avaliado como ruim/insatisfatório, onde

ocorrem alguns conflitos será considerado como regular/satisfatório e

quando não houver nenhum conflito, ou poucos, será atribuído ao espaço

o critério de ótimo/bom. A intenção está em resumir todos os aspectos

avaliados durante o percurso em uma única tabela para que se estabeleça

o comparativo entre a qualidade espacial de cada estação.

Page 55: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

55

Figura 49- Quadro-Resumo Avaliação Final das Estações

Page 56: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

56

Considerações Finais

O estabelecimento de uma contextualização histórica, a

partir do panorama da criação dos campi universitários no

mundo, para se chegar ao Brasil, foi realizado para se adquirir o

entendimento dos paradigmas que deram fundamento à

elaboração e construção do campus Darcy Ribeiro. O espaço

físico do campus foi o resultado da concepção urbanística da

cidade de Brasília com a união de um pensamento acadêmico

voltado para a concepção uma universidade-modelo para o

Brasil. Sendo assim, percebe-se a importância da qualidade

desse espaço tanto para os estudantes e trabalhadores que

fazem o uso dessa universidade diariamente, quanto para

manter o seu caráter simbólico para a cidade de Brasília e

também como modelo para as outras universidades do Brasil.

Com isso, a partir da compreensão da configuração do

espaço da universidade de Brasília, foram traçadas as diretrizes

para a análise do espaço do pedestre dentro do campus. Essas

diretrizes, obtidas por meio da leitura de importantes

referências bibliográficas, foram importantes para a composição

de um quadro-resumo de critérios a serem analisados no

estudo de caso, presente mais tarde nesse trabalho. Os critérios

estabelecidos, para cada dimensão analisada, podem ser

aplicados a qualquer área sob o qual se queira obter um

levantamento do espaço físico em estudo e resultados da

qualidade da configuração de um determinado espaço. Para

isso, basta apenas aplicar a metodologia elaborada de forma

criteriosa e analítica.

Diante da análise realizada a partir do estudo de caso do

principal percurso do campus, foi possível perceber que o lugar

do pedestre na universidade apresenta diferentes qualidades

que dependem da sua localização no espaço. Isto é, em

determinados lugares onde a implantação da edificação em

relação ao espaço público é bem resolvida, contribui para que o

espaço do pedestre seja mais bem tratado e ofereça uma

qualidade adequada. Enquanto que, em lugares em que a

edificação não procura se conectar com o espaço à sua volta, o

espaço para o pedestre perde a sua qualidade, sendo pouco

utilizado e até mal conservado.

Outro padrão que pode ser observado, é que as

primeiras edificações construídas no campus mostram uma

relação maior com o espaço público por meio da busca por

uma acessibilidade coerente e uma maior permeabilidade do

seu edifício com o entorno. Estas edificações estabelecem

Page 57: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

57

relações não apenas com seu entorno imediato, mas

consideram e se integram com os principais caminhos do

campus, conectando as diversas edificações umas às outras por

meio dos percursos dos pedestres.

Enquanto que, atualmente, pela necessidade da

construção de novas áreas para atender às demandas

institucionais do campus, as edificações perderam o caráter de

ser parte da composição do espaço público do campus, para

compor um sistema de prédios onde cada curso tem a sua

edificação, sem necessariamente se relacionar com as demais.

Obviamente que, não se pode fazer disso uma regra, pois

existem alguns espaços já consolidados na área central do

campus que ainda apresentam irregularidades em seus

percursos, mas as áreas mais antigas do campus oferecem,

geralmente, maior qualidade de percurso e permanência aos

pedestres

A partir da análise da configuração do espaço no

campus Darcy Ribeiro, pode-se perceber que em determinados

lugares, principalmente na área central do campus, o espaço do

pedestre existe como um lugar confortável, atraente e

dimensionado para ele. As primeiras edificações do campus, e

algumas mais recentes, se preocupam com o pedestre dentro

do seu espaço e do conforto ambiental que a ele devem ser

garantidos. Porém, os espaços públicos intermediários que

conectam essas edificações ainda devem ser aprimorados para

garantir segurança ao pedestre minimizando o conflito viário

com bicicletas e carros, a partir da atribuição do ser humano

como a escala de maior importância dessa hierarquia.

Os percursos, de forma geral, devem ser mapeados e

fiscalizados para que haja a constante renovação, atualização e

troca de piso para promover a sua conservação. Além disso, a

arborização e a delimitação do percurso a partir de calçadas

que definam o espaço do pedestre, especialmente em regiões

menos consolidadas do campus, devem ser projetadas para a

permanência da boa qualidade do espaço em todo o campus.

Diante disso, deve-se atribuir mais valor à universidade,

não só como um ensino acadêmico, mas também como um

ensino à sociedade, a partir da composição de um espaço

urbano de excelente qualidade e bons parâmetros, para que

assim possam ser levados à sociedade, e consequentemente, às

cidades, como um modelo de espaço e conformação a ser

seguido e implementado.

A escolha de um campus universitário, para exemplificar

essa análise, é justificada pelo fato de que esse espaço é uma

referência para a sociedade, pois abriga uma série de unidades

acadêmicas em que se procura, constantemente, pesquisar,

estudar e aprimorar determinados cenários urbanos que

precisam ser melhorados ou modificados. Logo, a universidade

possui uma responsabilidade social por ser uma ferramenta de

disseminação de ideias e de mudança de paradigmas, que são

definidas a partir das soluções encontradas no mundo

acadêmico.

Page 58: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

58

Referências Bibliográficas

ABREU, L. B. D. Campus Darcy Ribeiro. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Arquitetura e Urbanismo). ed. Brasília: Faculdade

de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Brasília, 2013.

COSTA, L. Concursos de Projeto. Relatório do Plano Piloto de Brasília, Brasília, 1956. Disponivel em:

<http://concursosdeprojeto.org/2010/04/21/concurso-brasilia/>. Acesso em: 05 Setembro 2014.

COSTA, L. Brasília Revisitada 1985/1987, Complementação, preservação, adensamento e expansão urbana. Revista Projeto nº 100, São

Paulo. 115-122.

ECHAVARRI, J. P.; DAUDÉN, F. J. L.; SCHETTINO, M. P. Architecture & Pedestrians. Madrid: Gobierno de España, 2013.

Page 59: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

59

FLÓSCULO, F. F. P. B. et al. Material Didático Prof Frederico Flósculo. Plano Diretor Físico do Campus Universitário Darcy Ribeiro, 1998.

Disponivel em: <https://sites.google.com/site/flosculo/anexos-avaliacao-de-pos-ocupacao>. Acesso em: 28 Setembro 2014.

GEHL, J. Cidade para pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013.

MENEZES, M. R. D. O lugar do pedestre no Plano Piloto de Brasília. Tese, Mestrado em Arquitetura e Urbanismo - Faculdade de

Arquitetura e Urbanismo. Brasília: Universidade de Brasília. 2008.

OLIVEIRA, J. F. D.; DOURADO, L. F.; MENDONÇA, E. F. UnB: da universidade idealizada à "universidade modernizada". In: MOROSINI, M. A

Universidade no Brasil: concepções e modelos. Brasília: Inep, 2006. p. 144-164.

PESCATORI, C. P. C. D. S.; BOWNS, C. Transporte e eqüidade: ampliando o conceito de sustentabilidade pelo estudo de casos de Brasília.

Cadernos Metrópole 19, São Paulo, 1ºsem 2008. 293-317.

PINTO, G. D. A.; BUFFA, E. Arquitetura e educação: câmpus universitários brasileiros. São Carlos: EdUFSCar, 2009.

RIBEIRO, D. Universidade de Brasília. Brasília: UnB, 2012.

ROMERO, M. B. Princípios Bioclimáticos para o Desenho Urbano. Brasília: [s.n.], 2000.

SCHLEE, A. R. et al. Registro Arquitetônico da Universidade de Brasília. Brasília: Editora UnB, 2014.

TACO, P. W. G.; DAFICO, C. C. F.; SEABRA, L. O. Transporte e circulação dos usuários do campus Darcy Ribeiro da Universidade de Brasília:

elementos para uma política da mobilidade sustentável. In: CATALÃO, V.; LAYRARGUES, P.; ZANETI, I. Universidade para o século XXI.

Brasília: UnB, 2011. p. 211-227.

UNB AGÊNCIA. Universidade de Brasília. Traço do arquiteto no campus Darcy Ribeiro, 2012. Disponivel em: <www.unb.br>. Acesso em:

26 Setembro 2014.

Page 60: O Lugar do Pedestre no Espaço Universitário

60