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O manejo de plantas daninhas como base para o manejo sustentado de pomares Prof. Dr. RICARDO VICTORIA FILHO ÁREA DE BIOLOGIA E MANEJO DE PLANTAS DANINHAS ESALQ/USP PIRACICABA/SP

O manejo de plantas daninhas como base para o manejo ... · É um sistema de produção que visa alimentos e outros produtos de alta qualidade usando recursos naturais e outros mecanismos

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O manejo de plantas daninhas como base para o

manejo sustentado de pomares

Prof. Dr. RICARDO VICTORIA FILHOÁREA DE BIOLOGIA E MANEJO DE PLANTAS DANINHAS

ESALQ/USP – PIRACICABA/SP

1. INTRODUÇÃO

2. AGRICULTURA SUSTENTÁVEL E O

MANEJO DE PLANTAS DANINHAS

3. COMPETIÇÃO E ALELOPATIA

4. SISTEMA RADICULAR DAS FRUTÍFERAS

5. MANEJO DO SOLO

6. COBERTURAS VEGETAIS

7. MANEJO DE PLANTAS DANINHAS

8. O USO DO GLYPHOSATE EM POMARES

9. CONCLUSOES

CULTURA

SOJA

MILHO

CANA-DE-AÇÚCAR

FEIJÃO

ARROZ

CAFÉ

TRIGO

CITROS

AREA

12772

12053

4985

1018

3643

2188

1427

1018

VENDA

885.798

185.035

210.069

105.050

96.246

188.663

65.476

163.105

CUSTO

69,35

15,35

42,14

23,71

26,42

86,20

45,89

160,10

US$1000 US$/ha

AREA, VENDA DE AGROQUÍMICOS E CUSTO/ha DAS

PRINCIPAIS CULTURAS NO BRASIL - 1998

SINDAG - 1999

1000ha

Venda total de agroquímicos para

citros no Brasil - 1998 (US$ 1000)

MITICE

58,3%

FUNGICIDE

11,5% OTHER

0,3%INSECTICDE

16,6%

HERBICIDE

13,4%

SINDAG - 1999

FUNGICIDAOUTROS INSETICIDAS

HERBICIDAS

ACARICIDAS

Fonte: Helena Chenical Co., 2002

Herbicidas

47%

Inseticidas

29%

Fungicidas

18%

Outros

6%

Mercado Global de Agroquímicos por categoria

PRODUÇÃO INTEGRADA

DEFINIÇÃO – IOBG (International

Organization for Biological and Integrated

Control of Noxious Animals and Plants)

É um sistema de produção que visa

alimentos e outros produtos de alta

qualidade usando recursos naturais e

outros mecanismos para substituir

agentes poluentes e permitir a condução

de uma agricultura sustentável

OBJETIVOS DA PRODUÇÃO INTEGRADA

• Integrar recursos naturais e mecanismosregulatórios nas atividades de produção parareduzir os insumos na agricultura.

• Obter alimentos e outros produtos de altaqualidade através de tecnologias que sejamadequadas a saúde humana.

• Eliminar ou reduzir fontes de poluentesgerados pela agricultura

• Manter e educar a respeito das múltiplasfunções da agricultura

PRODUÇÃO INTEGRADA DE

FRUTAS

• Conjunto de diretrizes, normas e

regulamentos adotado pelo Ministério

da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento (MAPA) em parceria

com INMETRO e CNPq

• Disponibilizar ao setor produtivo para a

manutenção no mercado e atingir

outros.

PROTEÇÃO INTEGRADA DE

PLANTAS

• Consiste na aplicação de métodos dedefesa de uma forma ecológica,econômica e toxicológica mantendo osorganismos e pragas abaixo do danoeconômico, e enfatizando os fatores decontroles naturais.

• Definição da FAO modificada peloIOBC, 1977

PROTEÇÃO DE PLANTAS NO CONTEXTO

DA AGRICULTURA SUSTENTÁVEL

USO INDIRETO – Prevenção

– Uso de recursos naturais

– Práticas agrícolas sem impacto noagroecossistema

– Proteção e aumento de organismosbenéficos

USO DIRETO – Controle

– Uso de medidas de controle diretamentenos organismos pragas

– Aplicação de medidas menos seletivas

3 – COMPETIÇÃO E

ALELOPATIA

Produção de Laranja em Número de Frutos

Tratamentos

1. Sem mato Todo o Ano

2. Mato na Época 1

3. Mato na Época 2

4. Mato na Época 3

5. Mato nas Épocas 1 e 2

6. Mato nas Épocas 1 e 3

7. Mato nas Épocas 2 e 3

8. Mato Sempre

1974

44,39 a

47,65 a

40,22 a

44,16 a

44,93 a

47,24 a

45,59 a

44,89 a

1975

49,37 b

48,62 b

51,09 b

49,32 b

45,67 ab

47,03 b

49,17 b

38,73 a

Época 1 = Agosto a Novembro Época 2 = Dezembro a Março

Época 3 = Abril a Junho

80% Capim-Marmelada (Brachiaria plantaginea)

10% Guanxuma (Sida rhombifolia var. rhombifolia)

650 plantas/m2

Blanco & Oliveira (1978)

Efeito da interferência das plantas daninhas sobre o crescimento do diâmetro do colmo de Tangerina-

poncã

0

20

40

60

80

100

120

55 151 205 318 405 496 592 685 777 867

Dias após o transplante

Diâ

met

ro (

mm

)

No mato

No limpo

Bortolazzo, 2002

Perdas de produção de laranjeiras em decorrência

da interferência das plantas daninhas com

predominância de Brachiaria decumbens

Carvalho et al, 1993

0

5

10

15

20

25

30

35

40P

rod

uçã

o (

t/h

a)

Limpo

Mar

-Ago

Set-N

ov

Dez

-Ago

Set-F

ev

Jun-

Ago

Dez

-Mai

Mat

o

Efeitos do período de convivência com as plantas daninhas

sobre a produtividade de laranjeiras. Rio Real, BA.

Média de 4 anos

Carvalho et al, 2003

0

10

20

30

40

50

60

70

80t/

ha

ago

a ou

t

nov

a ja

n

fev

a ab

r

mai

a ju

l

ago

a ja

n

nov

- abr

fev

a ju

l

mai

a o

ut

Limpo

mat

o

Efeitos de períodos de convivência das plantas daninhas sobre a produção de laranja.

Gavião Peixoto, Safra 97/98-98/99-99/00

Carvalho, Pitelli & Santana, 2003

0

200

400

600

800

1000

1200

ago

a ou

t

nov a

jan

fev a

abr

mai

a ju

l

ago

a ja

n

nov - a

br

fev a

jul

mai

a o

ut

Lim

po

mat

o

g/m

2

0

5

10

15

20

25

30

t/h

a

Entre-linha Linha Produtividade

Relação entre biomassa acumulada pela comunidade

infestante e a produtividade de laranja – Taiaçu, SP

Carvalho, Pitelli & Santana, 2003

1.SISTEMA RADICULAR DAS FRUTÍFERAS

MONTENEGRO (1960) - plantas cítricas com 10 anos

apresentam acima de 90% das raízes na camada de 0-60

cm. Num raio de 2,0 m a partir do tronco concentram-se

75 a 94% das radicelas.

RODRIGUES Poncirus 41% de 0-10 cm

et al (1978) 91% de 0-50 cm

Cravo 33% de 0-10 cm

81% de 0-50 cm

Caipira 28% de 0-10 cm

79% de 0-50 cm

Sistema Radicular

MOREIRA (1983) Pera Rio 46% de 0-15 cm

60% de 0-30 cm

concentração de

1,4 a 3,5 m

VICTORIA FILHO Natal 70% das radicelas de 0-15 cm

et al (1985) do total coletado em 0-30 m

75% até 1,60 m do tronco

Distância do Tronco (cm)

70

140

210

280

350

420

MOREIRA (1983) - Distribuição Horizontal do

Sistema Radicular

Média da Distribuição (%)

18,36

16,14

18,84

16,06

15,15

15,04

Profundidade (cm)

0-15

15-30

30-60

60-90

90-120

120-150

150-180

Média da Distribuição (%)

45,96

13,40

13,76

11,49

7,21

5,72

2,32

MOREIRA (1983) - Profundidade do Sistema

Radicular, Distribuição Percentual

5 – MANEJO DO SOLO

5. MANEJO DO SOLO

• Escolha do sistema de manejo do solo em pomares

- clima – disponibilidade hídrica

- solo – profundidade e fertilidade

- vegetação natural

- irrigação

- características de plantio

- pragas, doenças e plantas daninhas

• Sistema escolhido deve evitar a erosão e minimizar o impacto ambiental

5. MANEJO DO SOLO

Vantagens do não cultivo

– Evita a erosão

– Facilita sistemas localizados de irrigação

– Facilita a absorção de água e nutrientes

– Possibilita enraizamento superficial

– Facilita diversas operações

– Diminui o risco de geadas

– Conservação da estrutura do solo

– Aspectos econômicos

6 – COBERTURAS VEGETAIS

0 - 10 cm 10 - 20 cm0

20

40

60

80

100

120

140

Roçada Glyphosate Cajamus cajan Dolichos lablab Gradagem

mer

o d

e p

lân

tula

s em

ergid

as

Profundidade

Número médio de plântulas emergidas nas amostras coletadas

na entrelinha no período chuvoso Piracicaba - 1997.

106,9

76

27,835,9

130,6

28,9 28,6

8,715,3

46,2

0 - 20

20 - 40

40 - 60

60 - 80

80 - 100

Profundidade(cm)

Biomassade raiz g/cm2

126,40

40,84

47,67

45,97

65,58

95.14

40.69

4.87

13.16

29.49

Distribuição %

Cultura deCobertura

Produtor Cultura deCobertura

Produtor

38.72

12.51

14.60

14.09

20.08

51.90

22.20

2.64

7.18

16.08

Biomassa de raízes e distribuição em

profundidade no solo - Bahia - Brazil - 1997

Cultura de Cobertura - Canavalia ensiformiscom sub-solagem a uma profundidade médiade 55 cm

Carvalho et al, 1999.

7 - MANEJO DE PLANTAS DANINHAS

USDA - Define IPM como um programa de

seleção, integração e uso de métodos de controle

com base nas conseqüências, nos aspectos

econômicos, ecológico e sociológico.

IWMS - Integrated Weed Management Systems

or WMS - Weed Management System – é um

sistema de manejo de plantas daninhas para

otimizar a produção através do uso adequado de

medida preventivas e uso eficaz de práticas de

controle

MANEJO E CONTROLE

• Manual

• Mecânico

• Físico

• Biológico

• Químico

Métodos de Controle

5mÁrea a ser

tratada/planta

2,5m

1,5m

8m

Esquema mostrando a área a ser tratada com herbicida

a) Fitotoxicidade às plantas quando usadas

inadequadamente

b) Ineficiência no controle

c) Resíduos no solo e na planta

d) Toxicidade ao homem

Controle Químico - Problemas

NORMAS TÉCNICAS GERAIS PARA A

PRODUÇÃO TEGRADA DE FRUTAS –

NTGPIF

ÁREAS TEMÁTICAS

Manejo de cobertura do solo

– OBRIGATÓRIAS:

Controlar processo de erosão e prover a melhoria biológica do solo; realizar o manejo integrado de plantas invasoras

– RECOMENDADAS:

Em culturas perenes, a manutenção de cobertura vegetal deve ser realizada nas entrelinhas

NORMAS TÉCNICAS GERAIS PARA A PRODUÇÃO

TEGRADA DE FRUTAS – NTGPIF

ÁREAS TEMÁTICAS

Herbicidas

• OBRIGATÓRIAS:

Utilizar herbicidas, mediante receituário técnico, conforme legislação vigente; minimizar uso de herbicidas no ciclo agrícola para evitar resíduos e proceder o registro das aplicações em cadernos de campo

• PROIBIDAS

Utilizar herbicidas nas entrelinhas; utilizar herbicidas de princípio ativo pré-emergente na linha de plantio; utilizar recursos humanos desprovidos de equipamentos de proteção individual.

• PERMITIDAS COM RESTRIÇÕES

Utilizar herbicidas com princípio ativo pós-emergente, na linha, somente como complemento a métodos culturais de cada cultura

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

5

10

15

20

25

30

Pro

fundid

ade

(cm

)

% de Redução

0 dias antes da 9ª aplicação 63 dias após a aplicação 216 dias após a aplicação

Valores médios da redução do peso da parte aérea das plantas de pepino, em

relação à testemunha, pelos herbicidas em períodos após a nona aplicação

anual. Piracicaba/SP, 1985.

DIURONA

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

5

10

15

20

25

30

Pro

fundid

ade (cm

)

% de Redução

0 dias antes da 9ª aplicação 63 dias após a aplicação 216 dias após a aplicação

Valores médios da redução do peso da parte aérea das plantas de pepino, em

relação à testemunha, pelos herbicidas em períodos após a nona aplicação

anual. Piracicaba/SP, 1985.

BROMACILA + DIURON

Densidade relativa após a 10o aplicação

Conchal-SP - Brazil, 1986.

1. Testemunha

2. Terbacil

3. Simazine

4. Amet. + secbum.

5. Dichlobenil

6. Diuron

7. Bromacil

8. Bromacil + Diuron

Machado & Victoria Filho (1988)

100,0 A

75,7 AB

91,0 A

92,2 A

99,6 A

21,3 C

73,5 AB

39,8 BC

10a Aplicação

F 25,58**

8 – O USO DO GLYPHOSATE EM

POMARES

•8.1. Grupo químico e anlálogos

1964 – Stauffer patenteou uma série de ácidosfosfônicos e fosfinicos para serem usados comodetergentes.

1969 a 1971 – Monsanto patenteou o uso deácidos fosfônicos para serem usadas comoreguladores de crescimento e herbicidas.

década de 80 – Stauffer desenvolveu umderivado denominado sulfosate.

Principais herbicidas com as suas principais marcas

comerciais.

Grupo

químico

Ingrediente

ativo

Nomes

comerciais

Usos agrícolas no

Brasil

Derivado

da Glicina

Glyphosate RoundupAgrisatoGlifosato AgripecGlifosato FersolGlifosato NortoxGlionGliphoganGlizRodeoRoundup WGScoutTrop

Diversas culturas

com aplicações

dirigidas

plantio direto,

Sulfosate TouchdownZapp

Diversas culturas ePlantio direto

• 8.2. mecanismo de ação

– Numerosos estudos bioquímicos e

genéticos confirmaram que o glyphosate é

um potente inibidor da enzima EPSP

sintase.

• 8.3. efeitos secundários

- 35% da biomassa das plantas tem origem derivada no metabolismo na shikimate (Coggins, 1989; Jensen, 1986).

- 20% do carbono fixado segue esta rota.

- inibição da fotossintese – 0,5 a 4 h após aplicação.

- acúmulo shikimate e/ou S3P

- superprodução de ácidos fenólicos

- interfere na produção de ligninas, antocianinas, flavonas e fitoalexinas.

• 8.4. Absorção e translocação

- absorção ocorre pelas folhas e caules e

acumula em regiões de crescimento ativo nas

plantas (Caseley & Coupland, 1985).

- dentro da planta o glyphosate é relativamente

estável com pequena metabolização, através

de decarboxilação (Stock, et al 1991; Komassa

et al, 1992).

- translocação ocorre prediminantemente

pelo floema.

- condições de estresse de umidade,

temperaturas baixas e dias nublados

dificultam a translocação.

• 8.5. Adsorção no solo

- forte adsorção

- perdas insignificantes por volatilização e

fotodecomposição

- persistência média de 30 a 90 dias

Outros mecanismos de sorção

++++++

P

O

-O

O-

C NH2+ CC

O

O-

pKa

pKa

pKa

pKb

H

HH

H

+++

+++

- - -

OHFe

+++

+++

- - - Forças de van der WaalsInteração eletrostática

Covalente dativa

dupla

Ponte de hidrogênio

Fábio Prata - BIOAGRI

Sorção do glifosato

y = 0,0028x2 - 0,1248x + 0,4043

R2 = 0,99

y = 0,0018x2 - 0,0789x + 0,2558

R2 = 0,99

0

20

40

60

80

100

0 42 84 126 168 210

B = 84 dias

Sin

tom

as

de f

ito

toxic

ida

de

(%

)

y = 0,0029x2 - 0,1273x + 0,4125

R2 = 0,99**

y = 0,002x2 + 0,0654x - 0,3022

R2 = 0,99**

0

20

40

60

80

100

0 42 84 126 168 210

A = 24 dias

Glifosato (mg g-1)

Plantio Direto Plantio Convencional

Solo

NVef

NVef-ox

LAw

LAw-ox

G

G-ox

LVdf-PD

LVdf-PC

S

%

97,4

96,5

97,8

96,5

97,6

84,7

97,2

97,9

D

%

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

Kf

L kg-1

169,0

168,5

243,5

198,3

228,3

31,7

162,9

215,7

Prata et al (2000); Prata (2002)

[email protected]

• 8.6. Degradação

- principal falta de degradação são os

microorganismos

- 50% da molécula original é metabolizada em

28 dias e 90% em 90 dias.

8.7 - SELETIVIDADE

Desenvolvimento de Equipamento

Barras Lateral e

Central Frontal ou

Traseira

Barra Lateral

8.8 - EFEITOS DO GLYPHOSATE NAS PLANTAS

DE CITROS

TUCKER (1977) – estudou os efeitos de doses de

glyphosate de 1,7, 3,3 e 6,6 kg i.a./ha aplicado em

diversas situaçòes nas plantas citricas.

- aplicação em porta-enxertos a alturas de 15

e 20 cm no tronco – sintomas diferenciados

dependendo do porta-enxerto.

- aplicação em plantas adultas com doses de

1,7 e 3,3 kg i.a./ha mostraram queda de

folhas e queda de frutos na dose mais alta.

- aplicação do solo de doses até 13,5 kg i.a./ha

não mostraram efeitos negativos.

- recomendação – evitar contato do herbicida

glyphosate com as plantas de citrus.

8.9. PRECAUÇÃO EM RELAÇÃO

AO USO NA CITRICULTURA

CONCENTRAÇÃO DE GLYPHOSATE (mM)

FIT

OA

LE

XIN

A (

nm

ol/

mg

)

Efeito da concentração de Glyphosate na produção de

fitoalexina por Cassia obtusifolia

9. CONCLUSÕES