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VAMOS PREMIAR O QUE DE MELHOR SE FAZ PELA SAÚDE EM PORTUGAL em em e e e e e ass associ oc açã o c o om: om m m PRÉMIO SAÚDE SUSTENTÁVEL EDIÇÃO Publicidade Este suplemento faz parte integrante do Jornal de Negócios n.º 4134, de 4 de dezembro de 2019, e não pode ser vendido separadamente. O melhor que se faz na saúde Catarina Resende de Oliveira A paixão pelo estudo do cérebro Projetos A revolução digital na saúde Os retratos dos cinco premiados e das cinco menções honrosas atribuídas na 8.ª edição do Prémio Saúde Sustentável David Cabral Santos

O melhor que se faz na saúde - Cofina Eventos · altura, o centro dirigido por Ar-sélio Pato de Carvalho transfor-mou-se em Centro de Neurociên-cias e Biologia Celular, onde pas-sou

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VAMOS PREMIAR O QUE DE MELHOR SE FAZ PELA SAÚDE EM PORTUGAL

emem eeeee assassocioc açãç o co om:ommmm

PRÉMIO

SAÚDE SUSTENTÁVEL

8ªEDIÇÃO

Publicidade

Este suplemento faz parte integrante do Jornal de Negócios n.º 4134, de 4 de dezembro de 2019, e não pode ser vendido separadamente.

O melhor que se faz na saúde

Catarina Resende de Oliveira A paixão pelo estudo do cérebro Projetos A revolução digital na saúde

Os retratos dos cinco premiados e das cinco menções honrosas atribuídas na 8.ª edição do Prémio Saúde Sustentável

David Cabral Santos

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II | QUARTA-FEIRA

| 4 DEZ 2019

“Mu i t o d i s -creta, reser-v a d a ,

simples, delicada no trato, inte-ligente, observadora que culti-va um certo perfeccionismo, in-quieta e aberta a novos desa-fios”, assim foi caracterizada por Luís Portela, chairman da Bial, no seu elogio público, Ca-tarina Resende de Oliveira, Prémio Personalidade Saúde Sustentável.

O ministro holandês da Saú-de disse em outubro passa-do que a “demência pode ser dentro de 10 a 15 anos uma ameaça à saúde global na mesma escala do HIV/sida”. As doenças neurodegenerati-

vas, e de uma maneira geral as doenças do cérebro, são doenças que têm um peso socioeconómi-co muito elevado. Afetam não só o indivíduo doente, mas a famí-lia e a sociedade. As neurodege-

nerativas são crónicas, progres-sivas, evoluem de uma maneira lenta e, não sendo uma causa de morte, como acontece com o en-farte do miocárdio ou o AVC, são altamente incapacitantes. Na Europa, estima-se que 35% das doenças são de natureza neuro-degenerativa, responsáveis por um elevado “desgaste” a nível da saúde. O seu peso socioeconómi-co advém do facto de o indivíduo deixar de ser produtivo, necessi-tar de cuidados de terceiros, o que leva ao envolvimento da fa-mília. Este processo é extrema-mente desgastante para quem acompanha os doentes no seu dia a dia, ou seja, para os cuidadores formais ou informais. Esta é uma das razões pelas quais a legisla-ção relativa aos cuidadores é muito importante. É necessário protegê-los, olhá-los com olhos de ver. Estas doenças estão liga-das ao processo de envelheci-mento, que é um fator de risco para muitas delas.

O que em Portugal tem um impacto grande, pois somos o quinto país mais envelhe-cido do mundo… O envelhecimento é uma

conquista e simultaneamente um desafio. O aumento da lon-gevidade surge porque há me-

lhores cuidados médicos porque a saúde e as condições de vida são melhores. Estas doenças são algo que nos é “cobrado”, que é extremamente pesado para a so-ciedade e para os serviços de saú-de.

Assistiu e participou, quan-do já era médica e tinha a sua carreira clínica no hos-pital, quando se deu a cria-ção do Serviço Nacional de Saúde (SNS), a que tem es-tado ligada… Sou uma defensora do Servi-

ço Nacional de Saúde porque é onde encontro os melhores cui-dados de saúde.

As esperanças que tinha no SNS foram cumpridas quan-do olha para a situação atual do SNS? Será que tal como no envelhecimento também falhou a previsão? A saúde é um dos fatores mais

importantes para a estabilidade social e económica de qualquer país. Uma população com saúde é fundamental para o trabalho e para o progresso da sociedade. A existência de um SNS permite que o indivíduo independente-mente da sua condição de nasci-mento tenha iguais perspetivas de atendimento quando está

doente, ou seja, quando está fra-gilizado, é algo que tem um enor-me valor. O Serviço Nacional de Saúde foi uma das maiores con-quistas do 25 de Abril de 1974 porque criou este fator de estabi-lidade que é a saúde. Foi criado

há 40 anos num contexto que en-tretanto sofreu alterações, o que requer que o SNS, sem perder as suas linhas-mestras, tenha de se adaptar.

Como é que se pode fazer?

O paradigma da doença mudou, para uma maior prevalência das doenças crónicas não transmissíveis, e deu-se a evolução da medicina e das tecnologias, o que requer que o SNS, sem perder as suas linhas-mestras, tenha de se adaptar, defende Catarina Resende de Oliveira.

FILIPE S. FERNANDES

O SNS é um fator de estabilidade para as pessoas

NEGÓCIOS INICIATIVAS SAÚDE SUSTENTÁVEL

“Sou uma defensora do SNS porque é onde encontro os melhores cuidados de saúde.”

“O SNS permite que o indivíduo independentemente da sua condição tenha iguais perspetivas de atendimento quando está doente.”

CATARINA RESENDE DE OLIVEIRA INVESTIGADORA

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QUARTA-FEIRA | 4 DEZ 2019

| SUPLEMENTO

| III

De facto, nas últimas décadas, o paradigma da doença mudou, para uma maior prevalência das doenças crónicas não transmis-síveis. Simultaneamente foi enorme a evolução da medicina e das técnicas de diagnóstico e te-rapêutica. Se pensarmos por exemplo na evolução das técni-cas de imagem, é inquestionável que nos permitem ter uma atua-ção mais precisa, com maior ri-gor de diagnóstico, mas exigem equipamentos que têm atualiza-ções constantes e que são muito onerosos. Por outro lado, os ci-dadãos e os doentes têm acesso a informação que está disponível em grandes quantidades e de uma maneira indiscriminada, e passaram a ter maiores exigên-cias. Ouvimos muitas vezes as pessoas dizerem: “Fui à urgência mas nem me fizeram uma TAC.” O doente saiu defraudado por-que não foi pedido um determi-nado exame. O salvador de vidas

não é a TAC ou a ressonância magnética, é a observação clíni-ca, e é nesta que os profissionais de saúde devem continuar a ser muito bem treinados. É impor-tante a educação em saúde para evitar que a exigência não justi-ficada do cidadão leve a uma prá-tica médica demasiado depen-dente das tecnologias, que tem hoje um preço muito elevado.

Em termos de sustentabilida-de do Serviço Nacional de Saúde o que é que acha que se deveria fazer? É necessário repensar o SNS

para lhe dar uma maior funciona-lidade e sustentabilidade. São múltiplos os aspetos a ter em con-ta, mas há um para o qual não se tem olhado e que considero im-portante. Como profissionais de saúde, prestamos os cuidados que consideramos serem os melhores para as pessoas. Pergunto-me muitas vezes se esses cuidados de

saúde são aqueles que as pessoas esperavam e se na realidade fo-ram os melhores para elas. Ou seja, não é comum fazermos uma avaliação dos resultados da pres-tação de cuidados tendo em con-ta a perspetiva do doente. A ava-liação do valor dos cuidados pres-tados tem de ser feita, e é impor-tante pôr o doente no centro da decisão. Não é ele que vai decidir mas é ele que nos vai dar o apor-te do valor do cuidado que lhe foi prestado. Isto tem de ser equacio-nado e pesado. Há que tirar par-tido das novas tecnologias e usá--las na prestação de cuidados de saúde à distância, por exemplo, no acompanhamento durante o período de recuperação de um doente que pode ser feita em casa com vantagem. As abordagens à questão da sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde são múltiplas. As potenciais soluções requerem organização e planea-mento. ��

A paixão pelo estudo do cérebro

PERFIL

Aos cinco anos não queria apren-der as letras porque queria ser sempre menina, mas depois de entrar na escola foi sempre uma aluna brilhante. “Talvez tivesse o pressentimento do que implicava aprender a ler”, diz Catarina Re-sende de Oliveira, que nasceu em Coimbra em fevereiro de 1946. Desde muito cedo que a sua de-terminação foi seguir medicina. O pai, professor de Medicina da Universidade de Coimbra, con-siderava que os seus interesses biomédicos e na fisiopatologia seriam satisfeitos num curso de Biologia, por exemplo. Mas Ca-tarina Resende de Oliveira gos-tava do contacto com as pes-soas, por isso seguiu o seu cami-nho e licenciou-se em 1970 e tor-nou-se assistente da Faculdade de Medicina e médica. Em 1976 entrou nos serviços de neurologia do Hospital Univer-sitário de Coimbra. Diz que “to-dos somos influenciados por role models”. Tinha um profes-sor de Neurologia, António Nu-nes Vicente, que era uma pessoa brilhante, de uma grande argú-cia como clínico, de uma grande valia pedagógica e que marcou muitos alunos. “Tudo isto me despertou o desejo e o fascínio pelo cérebro, como funciona, como nos permite contactar com o mundo exterior, controlar as nossas emoções, a importância do cérebro na vida”, diz. Foi sem surpresa que escolheu Neurolo-gia. Fez uma carreira clínica até che-gar a chefe clínica. Quando esta-va a fazer o internato de espe-cialidade em Neurologia, matri-culou-se como aluna livre e co-meçou a frequentar aulas em Bioquímica, Biologia Molecular na Faculdade de Ciências e Tec-nologia da Universidade de Coimbra, para reforçar a sua for-mação em investigação e alguns conhecimentos na área biológi-ca. Conheceu Arsélio Pato de Carvalho que dirigia um centro

mais dedicado à investigação na biologia e que marcou o seu tra-jeto futuro na investigação. A investigação Deu início ao projeto de doutora-mento, em que se operou esta vi-ragem para “o mundo da investi-gação mas sempre com uma pers-petiva médica”. O que gostava mesmo era de investigação em neurociências. Em 1984 doutora--se em Neurociências pela Univer-sidade de Coimbra, onde deu au-las e chegou a catedrática. Nessa altura, o centro dirigido por Ar-sélio Pato de Carvalho transfor-mou-se em Centro de Neurociên-cias e Biologia Celular, onde pas-sou a fazer investigação. Nas neurociências, a investiga-ção de Catarina Resende de Oli-veira centrou-se no estudo dos mecanismos celulares e mole-culares das doenças neurode-generativas, os mecanismos que levam a que os neurónios degenerem em doenças como as de Alzheimer, Parkinson – as mais frequentes. Publicou mais de 200 artigos em vários jor-nais e revistas científicas inter-nacionais e tem mais de 7.600 citações. “O achado mais marcante foi o facto de termos encontrado para estas doenças neurodegenerati-vas o papel da mitocôndria, que é a central energética das nossas células, cujo compromisso fun-cional conduz à degenerescência e morte celular. A degenerescên-cia está associada a uma falên-cia da energia celular, neste caso neuronal, e tudo o resto de de-sencadeia a partir daqui.” Diz que o mais gratificante no seu percurso é a sua capacidade de atuar como mentora e moti-vadora de jovens investigadores e fala da sua “família científica que tem filhos, netos e bisne-tos”. A sua família é constituída pelo marido, um colega de cur-so de Medicina, quatro filhos e seis netos.

A investigação de Catarina Resende de Oliveira centrou-se no estudo dos mecanismos celulares e moleculares das doenças neurodegenerativas.

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IV | QUARTA-FEIRA

| 4 DEZ 2019

“N ão vamos tentar resol-ver todos os p ro b l e m a s

do mundo mas há três áreas em que podemos ter impacto: demo-cratização do conhecimento e acesso a dados, assegurar que os profissionais de saúde passam mais tempo com os doentes e me-nos a processar dados e a tercei-ra é continuar a apoiar na desco-berta científica. No coração disto tudo está a inteligência artificial”, resumiu Pedro Pina os objetivos da Google Health, na entrega de prémios da 8.ª edição do Prémio Saúde Sustentável, uma iniciati-va do Jornal de Negócios e da Sa-nofi com o apoio da Everis. Este evento teve como tema dominan-te a Revolução da Saúde Digital.

O vice-presidente de Global Solutions da Google referiu que, a inteligência artificial utilizada no diagnóstico do cancro e screening do cancro do pulmão, permitiu que a capacidade de visualização do scanning feito aos pacientes com cancro do pulmão detetasse mais 5% de casos do que os seres humanos conseguiriam interce-tar e reduziu em 11% os falsos po-sitivos.

A IA já foi determinante numa descoberta científica. Na oftalmologia ao estabelecer rela-ções entre as máquinas e os da-dos conseguimos perceber que através do scanning de retina, nos exames de retinopatia para dete-ção da diabetes, e faz parte da parceria que têm com a Sanofi, detetaram uma correlação com a previsão de acidentes cardio-vasculares. “Sem querer, ao fa-zermos análise para prever está-vamos a conseguir prever aciden-tes cardiovasculares”.

“As soluções que estamos a desenvolver em Google Health permitem abrir a caixa negra do algoritmo e os profissionais de saúde ficam a saber qual foi a lógi-ca para chegar a determinadas conclusões”, disse Pedro Pina.

Sanofi digital Isabelle Vitali, Head Digital Inno-vation Center da Sanofi, fez a apresentação, “A Global eHealth Strategy for Sustainability”, sobre a estratégia digital da Sanofi que marca a imersão da empresa no paradigma da Saúde Digital, que define como “uma convergência das ciências na área da biologia, engenharia e física para melhorar e personalizar os cuidados de saú-de”, por exemplo, através de Drugs+, terapêuticas digitais e o fornecimento de cuidados de saú-de virtuais.

Na base da estratégia digital estiveram cinco fatores. Os sis-

temas de saúde estão a ser con-frontados com o aumento expo-nencial dos custos e as restrições dos recursos. O tratamento far-macológico não é suficiente por-que os doentes precisam de so-luções personalizadas, e, por ou-tro lado, há cada vez maior em-poderamento e envolvimento dos doentes na gestão da sua saúde. A regulação e os operado-res dos sistemas estão a adotar as inovações digitais com mais rapidez, tal como a tecnologia está a evoluir de forma rápida e exponencial.

Referiu a particularidade de Ameet Nathwani acumular as funções de Chief Digital Officer (CDO) e Chief Medical Officer (CMO), o que simboliza a apos-

ta da empresa na digitalização, porque, como disse numa entre-vista este gestor, “a indústria far-macêutica está atrasada em cin-co a dez anos em relação a seto-res como bancos ou a distribui-ção, por isso temos de andar mais depressa”.

Por isso, como sublinhou Isa-belle Vitali, tem de se fazer uma aceleração do digital em toda a cadeia de valor do medicamento, desde o I&D, os ensaios clínicos, até à fábrica 4.0 e à cadeia de abastecimento”. Além disso, o aproveitamento do potencial dos dados, das parcerias para a “cria-ção de uma nova cultura digital empresarial e de um ecossistema em que as parcerias têm sido fun-damentais”. Como destacou “o

A revolução digital na saúde

A Google tem projetos na área da saúde digital, alguns dos quais com a Sanofi, que mergulhou numa estratégia transversal a todas as suas atividades. Mas a digitalização do setor pode contribuir para a desigualdade no acesso à saúde.

FILIPE S. FERNANDES

+5%

CASOS DETETADOS O recurso à inteligência artificial permite detetar mais 5% de casos de cancro no pulmão do que a avaliação humana.

NEGÓCIOS INICIATIVAS SAÚDE SUSTENTÁVEL

Coube a Isabelle Vitali, da Sanofi, apresentar a estratégia digital da empresa durante a cerimónia da entrega dos pré

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

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QUARTA-FEIRA | 4 DEZ 2019

| SUPLEMENTO

| V

objetivo é o melhor tratamento para os doentes”.

A Sanofi tem várias parce-rias com a Google como a Verily Life Sciences, que fundou a On-duo Virtual Diabetes Clinic, para encontrar a combinação certa de dispositivo, software, medicamento e atendimento ao paciente. A Sanofi tem ainda a Darwin, uma plataforma com dados de mais de 450 milhões de pacientes em todo o mundo e 318 áreas de doenças. Na área da esclerose múltipla, a Sanofi Venture participa na startup Happify.

A voz dos pacientes O European Patient Forum (EPF) é uma organização eu-

ropeia de pacientes de doen-ças crónicas, que defendem o acesso à saúde com cuidados de saúde com qualidade e cen-trados no paciente. “É a voz do paciente nas instituições da União Europeia como o Par-lamento Europeu e a Comis-são Europeia por forma a dar a perspetiva do paciente nas políticas públicas de saúde eu-ropeias”, explicou Usman Khan, diretor executivo da European Patient Forum, na sua conferência “How Will The Patient 2.0 Live in a Vir-tual World?”.

Para ilustrar a emergência e a diferença, Usman Khan re-correu a uma citação do médi-co interpretado por George

Cloney, em Serviços de Urgên-cia, que dizia ao paciente 1.0, “o meu conselho é que siga os meus conselhos”. Mas o pa-ciente 2.0 assume uma voz em prol de melhores práticas e ca-pacidades clínicas, e tem cul-tivados alguns valores basea-dos no seu empoderamento. Por isso, como diz Michel Se-res, a quem foi diagnosticado a doença de Crohn e que perten-ce ao Patient Safety Move-ment, “se o médico não calçar os sapatos do paciente vai fa-lhar”. Na sua intervenção Us-man Khan sublinhou que a di-gitalização pode não ser igua-litária e que pode agravar a fra-tura digital e o acesso aos cui-dados de saúde. ���

“Queremos um SNS universal, de qualidade e sustentável, e por isso valorizamos o que de melhor se faz na saúde, em Portugal”, referiu Ja-mila Madeira, secretária de Estado da Saúde. Jamila Madeira, secretária de Estado da Saúde, pensa que “não se faz saú-de sem pessoas, e elas são sobretudo o motor de tudo e são a mais-valia das instituições” por isso considerou fun-damental que “nenhum de nós avan-ça sem reconhecimento, sem agrade-cimento. Sem ele o nosso SNS não avança e precisamos que de forma co-laborativa, coletiva e inclusiva” se consigam atingir os objetivos e os me-lhores cuidados de saúde. Considerou que “os recursos são fi-nitos e muito em particular, na saú-de”, que é necessária tornar a saú-de sustentável com os “recursos que temos, para servir melhor os uten-tes. Queremos um SNS universal, de qualidade e sustentável”. A nova secretária de Estado da Saú-de sublinhou que todos os dias a ciência coloca no mercado novas so-luções terapêuticas, novos medica-mentos, novos dispositivos, nova tec-nologia, “à qual não podemos deixar de aderir, não podemos negar o acesso aos nossos utentes, aos nos-sos cidadãos, mas sabemos que em muitos casos eles são extraordina-riamente onerosos, mas ainda assim, no SNS queremos fazê-lo, estamos a fazê-lo com uma enorme preocupa-ção em termos de segurança de da-dos e de segurança com a informa-ção dos utentes, com uma enorme preocupação de interoperabilidade, e de garantia de que todos podem

ter acesso a esses recursos”. Finitude de recursos “A sustentabilidade do sistema de saúde é um dos principais desafios e o digital é uma aposta estratégica. A tecnologia pode ser a chave para a efi-ciência e a otimização de um setor em os recursos são escassos e limitados e há dificuldades de recrutamento de profissionais de saúde”, declarou An-dré de Aragão Azevedo, secretário de Estado da Transição Digital. Acrescentou ainda que “a finitude de recursos implica alargar a capacida-de humana através da tecnologia”. O novo governante fez ainda um ape-lo para que a regulação “não seja um bloqueio à inovação, tendo uma abordagem mais aberta e mais po-sitiva”, de forma a permitir o desen-volvimento de um ecossistema de tecnologias digitais. Francisco Del Val, CEO da Sanofi, pe-diu que haja uma maior estabilida-de no setor farmacêutico e uma vi-são de médio e longo prazo para que os projetos de inovação como os en-saios clínicos ou as parcerias com start-ups na área digital possam prosperar. “A Sanofi está a utilizar a tecnologia digital nos medicamentos biológi-cos”, anunciou Francisco Del Val, CEO da Sanofi, dando como um dos exemplos do impacto da digitaliza-ção na cadeia de valor do medica-mento. Acrescentou que a Sanofi tem uma parceria com a Google com dez projetos em que a utilização de inteligência artificial e o big data po-dem acelerar a descoberta de novos medicamentos e de novas soluções na área da saúde.

Não se faz serviços de saúde sem pessoas

Jamila Madeira é a nova secretária de Estado da Saúde de Marta Temido.

mios da Saúde Sustentável, que vai na sua oitava edição.

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VI | QUARTA-FEIRA

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M iguel Ferreira en-trou a 1 de setem-bro de 2017 para a administração do

Hospital Dr. Francisco Zagalo e um dos primeiros alertas dirigidos a este licenciado em Matemática e doutorado em Sistemas de In-formação é que a unidade estava “inundada de papéis” e com um problema no arquivo clínico. “Avi-saram-me logo que só havia espa-ço para mais dois ou três meses. Tinha de fazer alguma coisa”, lem-bra o gestor. Na cidade capital do azulejo bastou um mês para colo-car em andamento um projeto para a desmaterialização de regis-tos e processos dentro do hospi-tal, em que “a tecnologia, embora seja relevante, acaba por ser ins-trumental porque o que visa é uma alteração das rotinas, tentando eli-minar o papel destes circuitos”.

No designado e agora premia-do, na categoria dos cuidados pri-mários, HOSP – Hospital de Ovar Sem Papel, acabar com essas pi-lhas de processos em papel na mesa dos médicos e retirar as im-pressoras dos gabinetes foram as duas primeiras grandes medidas deste plano, complementadas por outras “coisas simples”. Por exem-plo, os ofícios passaram a ser assi-nados eletronicamente, os muitos regulamentos hospitalares passa-ram a ser produzidos, assinados e depois difundidos pelos serviços por via eletrónica; e a solução de gestão documental que o hospital até já tinha (mas não utilizava) teve a licença reativada com mais horas de formação para colabora-dores.

Após uma primeira fase em que não precisou de dinheiro – de-talhe que na altura espantou Hen-rique Martins, líder da Serviços Partilhados do Ministério da Saú-de (SPMS), que serve os hospitais com tecnologias de informação –, para aprofundar a mudança de processos avançou entretanto com várias candidaturas a fundos comunitários, num investimento global de 1,7 milhões de euros. Uma delas envolve uma solução de “business intelligence” de apoio à gestão e transversal a to-das as áreas: do bloco operatório às consultas, dos recursos huma-nos ao departamento financeiro.

De árvores a funcionários Contando com uma equipa opera-cional de dez elementos, encabe-

çada pelo presidente para “dar o exemplo” e composta por médicos, enfermeiros, administrativos e te-rapeutas, na lista de resultados des-te projeto está o consumo de me-nos 200 mil folhas de papel e uma poupança estimada de 22 árvores só em 2018, quando comparado com o gasto em anos anteriores. Neste pequeno hospital do setor público administrativo, que empre-ga cerca de 250 profissionais (in-cluindo os prestadores de serviço) e serve 55 mil pessoas do concelho de Ovar e de zonas limítrofes, como a Murtosa, a receita eletrónica dis-parou para 70% das prescrições, o que compara com a média nacio-nal a rondar os 10%. Do Minho a Peniche, outras unidades públicas estão a inspirar-se nesta iniciativa.

Mesmo vendo inicialmente

“pessoas a olhar de lado para estas medidas”, Luís Miguel Ferreira conta que “com o tempo acabaram por vestir a camisola”. E algumas tiveram de fazer mais do que isso, mudando mesmo de funções. Foi o caso de Arlete Cardoso, 46 anos, que depois de cinco anos a arqui-var papel numa sala quase sem ja-nelas, numa “atividade completa-mente rotineira, monótona e de desgaste físico”, foi desviada para o “muito mais aliciante” serviço de agendamento do bloco cirúrgico e das consultas pós-operatórias. Ale-xandrina Sousa, assistente opera-cional, foi outra das funcionárias requalificadas com o HOSP para tarefas úteis no apoio aos doentes, tendo deixado de passar os dias en-tre o arquivo e os consultórios mé-dicos, a carregar pastas verdes. �

Ovar escreve no azulejo mandamentos contra o papelO Hospital Dr. Francisco Zagalo está a executar um projeto para desmaterializar registos e processos internos, que já evitou o corte de 22 árvores, requalificou funcionários e fez disparar as receitas eletrónicas para 70% das prescrições.

ANTÓNIO LARGUESA [email protected]

A receita eletrónica disparou para 70% das prescrições no Hospital de Ovar, o que compara com a média nacional a rondar 10%.

Paulo Duarte

NEGÓCIOS INICIATIVAS SAÚDE SUSTENTÁVEL

A tecnologia, embora seja relevante, acaba por ser instrumental porque isto visa uma alteração das rotinas. LUÍS MIGUEL FERREIRA Presidente do conselho diretivo do Hospital Dr. Francisco Zagalo

PRÉMIO CUIDADOS HOSPITALARES

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QUARTA-FEIRA | 4 DEZ 2019

| SUPLEMENTO

| VII

Q uando se torna possível saber exatamente a que horas um paciente tomou

a medicação, enviar um alerta ao médico sobre alterações dos sinais vitais ou mesmo uma fotografia de um hematoma que sugira violên-cia doméstica, somos capazes de agradecer à tecnologia. O maior ganho? Tempo de qualidade para estar com o utente. Presencial-mente. Sem tecnologia.

O Sistema de Gestão de Tare-fas e Atividades (GTA) faz parte do dia-a-dia da Unidade de Lon-ga Duração e Manutenção (ULDM) da Santa Casa da Mise-ricórdia (SCM) da Póvoa de La-nhoso há mais de um ano e permi-te a programação, parametrização e monitorização de tarefas e ativi-dades de enfermeiros, auxiliares e pessoal de limpeza ou piquete.

Através de um smartphone, os profissionais têm acesso às tare-fas que lhes competem e basta co-locar um visto quando terminada, evitando, assim, o tempo que, até aqui, gastavam em frente ao com-putador no final do dia.

"A redução do tempo de regis-to traduz-se em mais tempo dis-ponível para estar junto do uten-te e das famílias", é um dos resul-tados positivos apontado pela en-fermeira diretora Sara Machado.

Na prática, o tempo associado à administração da medicação, que habitualmente levava cerca de dois minutos (registo incluído), faz-se agora em trinta segundos. A par ainda da redução substan-cial de papel e da garantia de cum-primento rigoroso de protocolos quanto à desinfeção de espaços,

Sara Machado considera a segu-rança do utente o resultado mais importante.

"Cada utente tem uma pulsei-ra que está sincronizada com o seu processo clínico", explica, "e o en-fermeiro que vai administrar a te-rapêutica vai confirmar, através da leitura da pulseira no smartphone, que aquele é o uten-te correto e os cuidados que estão planeados".

Alarme à distância de clique Também o apoio domiciliário, o Departamento de Higiene e Lim-peza (DHL), a Estrutura Residen-cial para Pessoas Idosas (ERPI) e os serviços de piquete da Miseri-córdia da Póvoa de Lanhoso já fa-zem uso da tecnologia.

Para o provedor da SCM, a constante evolução da plataforma, de acordo com as necessidades que vão sendo detetadas, tem re-percussões na produtividade, as-sim como na gestão de recursos e consumos. "Com toda esta panó-plia de informação", explica Humberto Carneiro, "nós conse-guimos saber se o consumo está acima ou abaixo do que está esti-pulado, sabemos efetivamente o número de fraldas gastas, e até a que horas e quantas vezes foi lim-pa a casa de banho, porque o DHL tem que passar pela “tag” que está na parede. O sistema diz-nos tudo", conclui.

A juntar à lista de possibilida-des, Vítor Costa, responsável in-formático da Misericórdia da Pó-

voa de Lanhoso, dá um exemplo: "Uma funcionária do apoio domi-ciliário chega a casa do utente e ele apresenta marcas de uma agres-são. Ela pode fotografar, registar a ocorrência e automaticamente o sistema envia um email para a diretora do apoio domiciliário, o diretor clínico e a enfermeira coordenadora", relata.

O responsável da instituição considera esta plataforma "muito flexível, não um projeto fechado". "Nós somos os pivots do desenvol-vimento e, portanto, estamos a fa-zer tudo à nossa semelhança", diz Humberto Carneiro, lembrando, no entanto, que o GTA já desper-tou a atenção de outras institui-ções, em Portugal, mas também em Macau. �

Póvoa de Lanhoso tem GTA de Longa Duração

Tão simples como um “like” no Facebook, o sistema de gestão de tarefas e atividades está a dar mais tempo aos funcionários da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso para dedicar aos utentes. E ainda poupa no papel.

RUI NEVES CLÁUDIA BRANDÃO

A administração da medicação, que demorava cerca de dois minutos (registo incluído), faz-se agora em 30 segundos.

Paulo Duarte

A redução do tempo de registo traduz-se em mais tempo para estar junto do utente e das famílias. SARA MACHADO Enfermeira diretora na Misericórdia da Póvoa de Lanhoso

PRÉMIO CUIDADOS CONTINUADOS

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VIII | QUARTA-FEIRA

| 4 DEZ 2019

E stima-se que entre 10% e 20% das crianças e jovens em Portugal sofrem algum

tipo de perturbação psicológica. E que, destas, só 25% estejam refe-renciadas e acompanhadas por al-gum tipo de serviço de saúde.

Num país onde, ainda por cima, o tema da saúde mental é alvo ainda de preconceito, atuar na prevenção pode fazer a dife-rença. É essa a convicção da As-

sociação Prevenir que, através dos programas que desenvolve junto de crianças e jovens, atua na promoção de hábitos e com-portamentos saudáveis. A asso-ciação, nascida em 2002, rece-beu agora o prémio Saúde Sus-tentável na categoria da Preven-ção e Promoção da Saúde.

Atuar nesta área implica tra-balhar competências como a disciplina e o autocontrolo, a gestão emocional, a verbaliza-ção de sentimentos, a resolução de problemas e tomada de deci-sões. Isto num contexto especí-fico, o escolar, em que a apren-dizagem formal é o foco central de tudo. E começando o mais

cedo possível, ou seja, pelo me-nos no 1º ciclo.

Neste projeto da associação, o Crescer a Brincar, o objetivo é que as escolas desenvolvam, em parceria com a equipa da asso-ciação, programas longitudinais, ou seja, que acompanhem as crianças durante os quatro anos do 1.º ciclo, com competências emocionais diferentes a desen-volver em cada um deles. O au-tocontrolo, a autoestima ou a re-dução da agressividade e da in-disciplina são outras das áreas abordadas na escola primária.

A equipa da associação for-ma os professores, desenha os programas e vai apoiando a sua implementação. Cada criança tem o seu manual e o professor também tem um próprio, da au-toria do psicólogo Paulo Morei-ra. Por regra o financiamento destes programas é assegurado

por autarquias e, pontualmente, por algumas empresas.

“Fazemos intervenção em doze concelhos”, adianta Marga-rida Barbosa, presidente da Asso-ciação. Esta psicóloga educacio-nal explica que “em cada ano, são trabalhadas diferentes competên-cias”. No quarto ano, por exem-plo, trabalham-se as emoções ne-gativas , a tomada de decisão, o sa-ber dizer não, a gestão da pressão dos pares, o lidar com as emoções e previne-se o bullying.

“Há crianças que não têm emoções positivas a não ser na es-cola. Ali sentem que se cria um es-paço de confiança”, acrescenta Inês Moirinha, assistente social que integra igualmente a equipa de especialistas da Associação.

Ao trabalhar a parte emocio-nal, e dado o seu impacto no fun-cionamento cognitivo das crian-ças e jovens, contribui-se também

para uma melhor aprendizagem escolar. Há depois outro lado, que não sendo o foco principal, cons-titui um benefício adicional a re-tirar deste tipo de programas, re-fere Margarida Barbosa: “ao fazer--se uma intervenção na promoção da saúde mental, poupa-se muito dinheiro mais tarde”.

Para os professores, este tipo de programas constitui também uma ferramenta muito valoriza-da já que os ajuda a detetar situa-ções problemáticas e a trabalhar melhor com os miúdos em sala de aula. E contribui para a gestão emocional do próprio professor.

Entre os concelhos abrangidos gestão Amares, Braga, Cascais, Fafe, Guimarães, Lisboa, Monção, Oeiras, Póvoa de Lanhoso, Vila Nova de Famalicão, São João da Madeira e Valpaços num total de 1183 alunos alvo do programa Crescer a Brincar. �

PRÉMIO PREVENÇÃO E PROMOÇÃO DA SAÚDE

“Há crianças que não têm emoções positivas a não ser na escola”Os problemas de saúde mental são os que maior impacto têm na qualidade de vida das crianças e adolescentes e, simultaneamente, os que menos resposta têm em Portugal.

Inês Moirinha, assistente social, e Margarida Barbosa, presidente da Associação Prevenir, nas instalações atuais em Cascais.

Ricardo Ruella

1.183 ALUNOS Este é o número de alunos que já foram abrangidos pelo programa Crescer a Brincar.

Em cada ano, são trabalhadas diferentes competências. Ao fazer-se uma intervenção na promoção da saúde mental, poupa-se muito dinheiro mais tarde. MARGARIDA BARBOSA Presidente da Associação Prevenir

NEGÓCIOS INICIATIVAS SAÚDE SUSTENTÁVEL

MARIA ANA BARROSO [email protected]

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QUARTA-FEIRA | 4 DEZ 2019

| SUPLEMENTO

| IX

A poiar na aceitação da doença, no reforço da au-toconfiança, na reintegra-

ção profissional e na procura de novos meios de geração de rendi-mentos. São estas algumas das áreas em que a Sociedade Portu-guesa de Esclerose Múltipla (SPEM) intervém. O trabalho que desenvolve com o seu progra-ma de cuidados integrados, que procura olhar para um indivíduo como um todo e não apenas mais um doente valeu-lhe agora o ga-lardão Saúde Sustentável na cate-goria dos projetos integrados es-peciais.

“A maioria das pessoas acha que já não consegue fazer nada”, que o diagnóstico as torna incapa-zes ou sem utilidade, algo que na SPEM se procura desconstruir, explicam Ana Sofia Fonseca e Mara Dias, responsáveis por este projeto.

Ambas não têm dúvidas quan-to à importância de o apoio ser dado assim que possível, logo que a pessoa recebe a notícia do médi-co para evitar que o mesmo “se afunde” e deixe levar pelos muitos sentimentos que surgem logo a se-guir a um diagnóstico. Quer seja a negação, a raiva, a depressão, o re-ceio de ficar numa cadeira de ro-das ou o medo de nunca mais con-seguir fazer nada. Ainda que depois as valências em que a sociedade trabalha sejam vá-rias, o primeiro contacto com a

SPEM é feito, por regra, com uma das assistentes sociais. depois dis-so é então proposto um plano de acompanhamento, consoante as necessidades de cada pessoa.

Essas mesmas necessidades podem passar pelo apoio social, domiciliário, psicológico e de nu-trição, pelas atividades ocupacio-nais, pela neuro-reabilitação, aconselhamento jurídico e ajuda na reconversão profissional.

A infraestrutura da sociedade em Lisboa, na zona de Marvila, permite, pela sua dimensão e con-dições, que o doente não tenha de estar a deslocar-se de um lado para o outro. Seja como for, as res-ponsáveis deste projeto assumem, no entanto, que as condições nas delegações que têm pelo país não são as mesmas por enquanto. Ain-da assim, também é verdade que Lisboa, pela dimensão da popula-ção aí residente, exige uma maior capacidade de resposta.

Questionadas sobre o tipo de pessoas que procuram a SPEM, Maria Dias e Ana Sofia Fonseca asseguram que não são só as pes-soas com menos meios financei-ros que recorrem aos seus servi-ços. Até fruto da diferença entre o tipo de atendimento facultado nos

hospitais, públicos ou privados. “Nos hospitais, cada tratamento leva 20 minutos e são atendidas seis ou sete pessoas em simultâ-neo. Aqui falamos de 45 minutos para um doente”, diz Mara Dias.

Criada em 1984, a SPEM presta apoio a portadores de es-clerose múltipla, familiares e cui-dadores . Aqui trabalham 32 pes-soas, tendo a sociedade cerca de dois mil sócios.

Cláudio França, de 28 anos, é um dos utentes da SPEM, a quem foi diagnosticada esclerose múlti-pla há cerca de dois anos. “Cheguei aqui perdido”, confessa. “Come-çou tudo com um surto na perna direita que associei a um mau jei-to. Caía muitas vezes por a perna não responder e sentia uma névoa e o olho a lacrimejar. Fui para o hospital e já não saí de lá”, conta..

Cláudio França lamenta que, quando lhe contaram o que se pas-sava com ele, o diagnóstico lhe te-nha sido apresentado “como algo que me podia pôr numa cadeira de rodas”. O contacto com a SPEM permitiu-lhe passar a ter apoio psicológico, partilhar experiências e perceber o que tinha de mudar para uma maior qualidade de vida.

A esclerose múltipla é uma doença crónica, inflamatória e de-generativa, que atinge o sistema nervoso central, sobretudo entre os 20 e os 40 anos. Nos homens o prognóstico é normalmente mais reservado e a progressão da doen-ça mais rápida. Os números que existem apontam para a existên-cia de cerca de oito mil pessoas em Portugal com esclerose múltipla ainda que se calcule que o núme-ro está subavaliado. �

PRÉMIO PROJETOS INTEGRADOS ESPECIAIS

Olhar para o indivíduo e não para a doençaA Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla presta apoio psicológico, social, domiciliário, ocupacional, de neuro-reabilitação, assistência jurídica e promoção da reconversão profissional.

A maioria das pessoas acha que já não consegue fazer nada, uma vez diagnosticada a esclerose múltipla. ANA SOFIA FONSECA Co-responsável pelo programa de cuidados integrados da Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla

“8.000 DOENTES Esta é a estimativa do número de pessoas com esclerose múltipla, ainda que a SPEM admita que existam mais.

MARIA ANA BARROSO [email protected]

Mara Dias e Ana Sofia Fonseca defendem uma visão integrada do apoio ao indivíduo com esclerose múltipla.

David Cabral Santos

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X | QUARTA-FEIRA

| 4 DEZ 2019

Éo primeiro projeto de Prescrição Social em Portugal. Uma metodo-logia que procura não só

dar resposta às questões clínicas dos utentes mas, sobretudo, dos seus problemas, através da arti-culação entre as equipas dos cen-tros de saúde (médicos, enfermei-ros e assistentes sociais) e as or-ganizações da comunidade local. Neste caso, e de acordo com o pri-meiro balanço deste projeto que arrancou em setembro de 2018, envolve mais de 30 organismos ( junta de freguesia, associações recreativas e culturais, institui-ções de solidariedade social, e ou-tras entidades públicas e não go-vernamentais) da zona da baixa lisboeta e referenciou 130 uten-tes nos primeiros seis meses da sua implementação. A maioria são mulheres e os grupos etários mais representados são entre os 25 e os 29 anos (16) e os 65-69 (15). O principal motivo referen-ciado pelos 49 utentes foi o “iso-lamento social”. E uma das razões tem a ver com a febre do aloja-mento local na junta de freguesia de Santa Maria Maior , que levou ao despejo de muitas pessoas, so-bretudo idosas.

“Quando cheguei à Unidade de Saúde Familiar (USF) da Bai-xa já vinha com a ideia da Prescri-ção Social e quando me cruzei no corredor com a (assistente social) Andreia Coelho, uma ou duas se-manas depois, começamos a dis-cutir e a perceber que fazia todo o sentido importar o conceito do Reino Unido”, conta Cristiano Fi-gueiredo, o mentor deste projeto que já suscitou a curiosidade de

outras unidades do pais e outras entidades.

Este médico de família de 32 anos não tem dúvidas de que a atuação médica é essencial, mas destaca a importância de “ir à raiz do problema” e tentar perceber qual é o contexto social” do uten-te, o que o está a perturbar e o que podem fazer em termos de res-posta em articulação com a co-munidade.

“Se queremos resultados dife-rentes, temos de fazer as coisas de forma diferente”, defende.

As pessoas não têm noção, fri-sa, de que todo o contexto social em que os utentes vivem “tem um impacto de 70% na sua saúde” e acham que vai ser o médico ou o enfermeiro que vai dar resposta aos seus problemas receitando medicamentos. “Mas há muitas si-tuações que não se resolvem com mais medicamentos”, diz o clíni-co, dando o exemplo de que em muitas situações de saúde mental, muitos dos problemas como as depressões e as ansiedades têm uma causa social, como o isola-mento, o desemprego, o sedenta-rismo, entre outras situações.

Cristiano Figueiredo não têm dúvidas em apontar o foco num tipo de respostas mais “holísticas” e “abrangentes”, em detrimento das “respostas mais convencio-nais” a estes problemas. “ E se isto for resolvido, a longo prazo o uten-te vai fazer menos consultas mé-dicas, menos urgências, vai tomar menos psicofármacos, calmantes, etc,”, acrescenta, suportado em al-guns estudos já publicados no Rei-no Unido.

Andreia Coelho, 43 anos, é a assistente social que trabalha para a USF desde 2016 e que abraçou de braços abertos este projeto, onde tem um papel fun-damental, pois é ela que faz a pon-te entre os profissionais de saúde e as entidades locais. �

PRÉMIO CUIDADOS PRIMÁRIOS

Responder aos problemas sociais com o apoio da comunidade local

A Unidade de Saúde Familiar da Baixa, em Lisboa, lançou o primeiro projeto de Prescrição Social em Portugal. Uma metodologia que procura encontrar respostas para os problemas da esfera social dos utentes com o apoio decisivo das entidades locais.

NEGÓCIOS

O mentor do projeto, Cristiano Figueiredo, com a assistente social Andreia Coelho.

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NEGÓCIOS INICIATIVAS SAÚDE SUSTENTÁVEL

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QUARTA-FEIRA | 4 DEZ 2019

| SUPLEMENTO

| XI

Velhice, demência, dor. Cinco respostas exemplares Dos Açores à Madeira, de Fátima a Ponte de Lima, são muitos os casos de boas práticas e bons exemplos na área da saúde. Em baixo, cinco entidades que mereceram menções honrosas. Em comum, a saúde e a prioridade dada ao utente.

MENÇÕES HONROSAS

Este projeto nasceu em 2010 com o objetivo de colmatar as necessidades de cuidados de enfermagem de uma população maioritariamente idosa e com elevado grau de dependência na ilha açoriana. É composto por cinco enfermeiras que se deslocam a casa dos utentes, evitando com isso que os doentes gastem tempo em muitos quilómetros de deslocações e horas de espera para a consulta ou interna-mento. “Nós vamos precisamente ter com os que não têm voz, com os esquecidos, com aqueles que só são relembrados quando entram no serviço de urgên-cia”, diz Sandra Guiomar, uma das enfermeiras do projeto. Com 75 utentes abrangidos, este pro-jeto permitiu reduzir o número de in-ternamentos em 2018, num valor equivalente a uma poupança de 43,6 mil euros para o serviço regional de saúde. “Estamos a falar numa redu-ção de cerca de 71% dos custos”, fri-sa Elisabete Lima, a enfermeira coor-denadora do projeto, que tem uma taxa de implementação na ilha de São Miguel de 20%, abrangendo Ponta Delgada e Lagoa, dois dos seis conce-lhos da ilha. Elisabete Lima (na foto) salienta que o objetivo no futuro é alargar as áreas de atuação a toda a ilha e depois re-plicado em toda a região. Mas para isso será preciso reforçar a equipa porque “os recursos humanos são poucos”.

ELISABETE LIMA Unidade de Saúde da Ilha de São Miguel – Reabilitação Domiciliária

RESULTADOS EM SAÚDE

Este projeto assenta num grupo cen-tralizado de farmacêuticos que, ao abrigo de um regime de exceção con-cedido pelo Infarmed - Autoridade Nacional do Medicamento, assegu-ra, controla e monitoriza todo o cir-cuito do medicamento desde a aqui-sição à administração nas unidades de cuidados continuados da União das Misericórdias Portuguesas. A rede nacional de cuidados continua-dos exige um farmacêutico respon-sável pelo circuito do medicamento, mas para a maioria das unidades se-ria difícil ter um a tempo inteiro. Por outro lado, a UMP queria assegurar a qualidade técnica de todo circuito do medicamento. Foi precisamente por estas razões que Manuel Caldas de Almeida, mé-dico mentor do projeto Centraliza-ção de Recursos Farmacêuticos, fez a proposta ao Infarmed. A rede tem 14 anos de funcionamento e o proje-to começou ao fim de quatro/cinco anos depois de o Infarmed ter dado a autorização excecional para que isso acontecesse. “Fomos crescendo e neste momento temos 86 unidades a quem damos cobertura no circuito do medicamento e isto implica ter-mos oito a dez farmacêuticos em per-manência”, revelou Manuel Caldas de Almeida (na foto). O responsável do projeto destaca ainda a poupan-ça financeira que resultou da centra-lização de recursos farmacêuticos, em duas vertentes.

MANUEL CALDAS DE ALMEIDA União das Misericórdias Portuguesas

– Centralização de Recursos Farmacêuticos

RESPONSABILIDADE AMBIENTAL

Este projeto resulta da parceria en-tre o Serviço de Medicina Física e de Reabilitação do Serviço Regional de Saúde (SESARAM) e a Universidade da Madeira. A implementação des-te projeto de reabilitação cognitiva (atenção, memória e função execu-tiva) em utentes em lesões encefá-licas no hospital Dr. Nélio Mendon-ça (Funchal), sem custos para o ESARAM, é feita com recurso a sis-temas interativos de realidade vir-tual, o qual é ajustado às capacida-des de cada utente. São realizadas duas sessões semanais, de 50 minu-tos cada, durante 12 semanas, e é feito um plano individual de treino diário de estimulação cognitiva. O projeto, que começou a funcionar em janeiro deste ano, assenta no tratamento inovador de pessoas que sofreram traumatismos crania-nos e AVC. É inovador pelas técnicas utilizadas, como uma cidade vir-tual, onde o doente faz tudo como se estivesse na cidade a fazer várias coisas reais, como ir ao multibanco, ao supermercado, ao banco ou à ta-bacaria. Jean-Claude Fernandes (na foto), o médico especializado em medicina física e de reabilitação responsável por este projeto, sa-lienta que este serviço já “é uma re-ferência nacional” e já “está ao ní-vel” dos grandes centros interna-cionais. “Temos ambições e vamos ver até onde este projeto pode avan-çar”, diz.

JEAN-CLAUDE FERNANDES SESARAM – Reabilitação

e Tecnologia

NOVAS PRÁTICAS DE CARÁTER INOVADOR

Esta unidade de saúde do concelho de Ponte de Lima criou uma “bússola” para resgatar todas as semanas os utentes com dores persistentes. Os médicos passaram a enviar os doen-tes com suspeita e/ou dor crónica con-firmada para serem avaliados nesta consulta, em que são feitos questioná-rios e escalas validadas para aferir o grau de dor, a incapacidade para as ati-vidades do dia-a-dia, entre outras va-riáveis relevantes, como a ansiedade e a depressão. A partir daí é delinea-do um plano específico de tratamen-to para cada doente. “Já me dedico a esta questão (dor crónica) desde que sou médico, há quase 15 anos. E fui-me deparando na prática clínica do dia-a--dia com estes doentes que andavam perdidos no sistema, estavam em vá-rias especialidades ao mesmo tempo, recorriam ao serviço de urgência e muitas vezes a medicação que esta-vam a fazer que, tal como a fisiotera-pia, também não era o mais indicado”, conta Raul Pereira (na foto), o coor-denador deste projeto criado em 2015. A consulta de dor envolve três médi-cos e uma enfermeira. Em quatro anos, a USF Lethes fez cer-ca de duas mil consultas a mais de 500 pessoas, com cerca de 80% dos doentes a reportarem um grau de melhoria significativo. 70% dos doentes deixaram de recorrer às con-sultas normais e a prescrição anual de inflamatórios baixou quase 11 pontos percentuais.

RAUL PEREIRA ULS Alto Minho/USF Lethes –

Consulta de Dor

SAÚDE, EXPERIÊNCIA DO CIDADÃO

O apoio especializado e humanizado dos utentes com demência é o princi-pal objetivo deste projeto inovador desenvolvido pela Unidade de Cuida-dos Continuados Bento XVI, em Fáti-ma, que criou um grupo específico para o efeito. São vários os fatores diferenciadores destra unidade-modelo. A começar pela estrutura e o ambiente do edifício. De-pois os cuidados são prestados por uma equipa multidisciplinar, compos-ta por médicos, enfermeiros, técnica de serviço social, terapeutas, fisiote-rapeutas, neuropsicóloga, entre ou-tros profissionais. Quando dão entrada, os doentes são avaliados por todas as áreas, criando--se grupos de trabalho por categorias. “É feita uma avaliação de basem ten-do em conta o perfil cognitivo, o grau de declíneo que já tem, bem como as capacidades mantidas. Isto vai per-mitir definir o que cada utente pode-rá trabalhar, aliado ao gosto de cada um e à capacidade de interação em grupo”, destaca a neuropsicóloga, Helena Pedrosa, a neuropsicóloga, sa-lientando o facto de o trabalho efe-tuado “passa muito por pegar nos conceitos técnicos e aplicá-los atra-vés da humanicação”. Esta unidade já uma referência e reconhecida fora de portas. A diretora técnica da Ben-to XVI, Caterina Cerqueira (na foto) revela que ja receberam muitas visi-tas de outras instituições que querem replicar o projeto nas suas zonas.

CATERINA CERQUEIRA União das Misericórdias

Portuguesas/UCCI Bento XVI – UCCI especializada em utentes com demência

SUSTENTABILDIDADE ECONÓMICA

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PRÉMIO

SAÚDE SUSTENTÁVEL

em associação com:Para esclarecimento de dúvidas:

210 494 902 ou [email protected]

VAMOS PREMIAR O QUE DE MELHOR SE FAZ PELA SAÚDE EM PORTUGAL

VENCEDORES

Cuidados Primários | USF da Baixa

Cuidados Hospitalares | Hospital Dr. Francisco Zagalo – Ovar

Cuidados Continuados | Unidade de Longa Duração e Manutenção da SCM Póvoa do Lanhoso

Prevenção e Promoção de Saúde | Associação Prevenir

Projetos Integrados Especiais | Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla

PRÉMIO PERSONALIDADE | Professora Doutora Catarina Resende de Oliveira

Resultados em Saúde | Unidade de Saúde da Ilha de São Miguel

Saúde, Experiência do Cidadão | ULS Alto do Minho – USF LETHES

Sustentabilidade Económica | União das Misericórdias Portuguesas – UCCI Bento XVI

Responsabilidade Ambiental | União das Misericórdias Portuguesas

Novas Práticas de Carácter Inovador | SESARAM

MENÇÕES HONROSAS