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O MERCADO DE MADEIRA E A CONSTRUÇÃO CIVIL AUT 221 _ Arquitetura, Ambiente e Desenvolvimento Sustentável Profª. Dra. Denise Duarte Profª. Dra. Joana Carla Soares Gonçalves Profª. Dra. Roberta Kronka Mulfarth Aline Sasse nº USP 4913065 Elaine Terrin nº USP 4912209 Construção em madeira e qualidade ambiental As decisões para escolha dos materiais de construção deveriam obedecer ao que vem sendo chamado de RRR (redução, reutilização e reciclagem) tendo em vista a diminuição de custos globais. Segundo Ualfrido (1), a madeira é, neste sentido, o material de construção com as melhores propriedades de reutilização e reciclagem, tendo como características positivas: - baixa densidade; - boa resistência à tração e compressão; - totalmente reciclável; fácil trabalhabiblidade; - alta produtividade; - conserva-se indefinidamente imersa em água; - seca e protegida dura séculos; - reduz o CO2 da atmosfera aumentando o O2; - possui boa isolação térmica; - fácil manutenção, etc. Foto 01: Casa Hélio Olga, Ubatuba, SP. 1986. Arq. Hebe Olga de Souza. O emprego da madeira na construção civil Na construção civil, a madeira é utilizada de diversas formas em usos temporários, como: fôrmas para concreto, andaimes e escoramentos, e de forma definitiva é utilizada nas estruturas de cobertura, nas esquadrias (portas e janelas), nos forros e pisos. Os produtos de madeiras utilizados na construção variam desde peças com pouco ou nenhum processamento –madeira roliça – até peças com vários graus de beneficiamento, como: madeira serrada e beneficiada, lâminas, painéis de madeira e madeira tratada com produtos preservativos. Tal emprego vem se mantendo crescente, apesar dos conhecidos preconceitos inerentes à madeira, sempre relacionados à insuficiente divulgação das informações de projetos específicos. Seja na fundação e estruturação de casas e prédios, seja no acabamento, em revestimentos e até nos mobiliários, a madeira permanece como um dos principais itens da construção civil no País. E o padrão de uso insustentável é observado também na destinação final dos materiais. Segundo o estudo do Imazon, a grande maioria (80%) da madeira utilizada na fundação e estruturação dos prédios acaba sendo descartada, enquanto apenas 20% são utilizados na etapa de acabamento, como em portas, batentes, pisos, armários, painéis etc (fig. 1) Na etapa de estruturação, utiliza-se em geral madeira para marcação, nivelamento do terreno e confecção de A atividade florestal Sintetizando o pensamento de diversos autores, a atividade florestal demonstra ser uma das poucas que, com a utilização de métodos racionais de exploração, poderá conjugar a expansão econômica à conservação da qualidade da vida. Trata-se do chamado desenvolvimento sustentado, possível de ser proporcionado pelo setor florestal, não apenas através da produção direta da madeira e dos produtos dela derivados, mas também na geração de outros bens indispensáveis ao tão desejado equilíbrio ecológico. Tais bens podem ser exemplificados como a melhoria da qualidade do ar pela fixação do dióxido de carbono e pela liberação do oxigênio decorrentes da fotossíntese, e a manutenção da biodiversidade com a preservação da fauna e da flora, associada ao conveniente manejo florestal. Reino Unido França Papua Nova Guiné Colômbia EUA Equador Tailândia Coréia Taiwan Filipinas China Malásia Indonésia Japão BRASIL 1,9 2,5 3,0 3,2 4,1 5,4 5,0 5,9 7,4 5,7 7,0 19,4 19,7 28,0 34,1 0 5 10 15 20 25 30 35 40 milhões de m3 eq bra Concentrando não somente a maior parcela de floresta Amazônica, e o mais extensivo remanescente de bioma florestal tropical, o Brasil é, simultaneamente, o maior produtor e consumidor mundial de madeira tropical (fig.2). Estima-se que 86% dos 26,5 milhões de m3 de diversas madeiras extraídas, anualmente, da região amazônica, são consumidas internamente (fig.3). Figura 3 – Exportação vs consumo doméstico de madeira amazônica, 1997. Amigos da Terra / IMAFLORA / IMAZON, 1999 – Fonte: IMAZON Madeira Amazônica 14% 86% Exportação Consumo Doméstico As fontes das madeiras tão desejadas são: FLORESTAS PLANTADAS: que se destinam a produzir matéria-prima para as indústrias de celulose, madeira serrada, painéis à base de madeira e móveis, cuja implantação, manutenção e exploração seguem projetos previamente aprovados pelo Ibama. FLORESTAS NATIVAS: que são exploradas para atender ao mercado de madeiras de duas formas: - Por meio de manejo florestal: através da exploração planejada e controlada da mata nativa. - Por meio de exploração extrativista: explorando comercialmente apenas as espécies com valor de mercado, sem projetos de manejo. Manejo florestal e o Selo Verde Trata-se do aproveitamento das florestas naturais ou plantadas, através de Projeto de Manejo Florestal aprovado pelo IBAMA, é a forma de utilizar estes recursos naturais a partir do princípio de sustentabilidade. Para obter o selo verde, o projeto de manejo florestal deve cumprir uma série de exigências ambientais (redução de danos durante a extração, proteção da fauna, respeito às áreas de preservação permanente etc.) e sociais (respeito à legislação trabalhista, bom relacionamento com a comunidade local etc.), além de ser viável economicamente. No Brasil estão disponíveis o sistema do FSC – Forest Stewardship Council (Conselho de Manejo Florestal) e o sistema de Certificação Florestal Brasileiro do Inmetro (Cerflor) que certifica a produção adequada ambientalmente. No início, a madeira certificada esteve voltada principalmente para o mercado externo, cujas exigências do consumo consciente se ampliaram para os países produtores. Mas a tendência de conquista do mercado interno é relevada pela dimensão das florestas certificadas com o FSC hoje no País: são mais de 3 milhões e 200 mil hectares de matas nativas e florestas plantadas com o selo. Ainda assim, 20% das 3.000 madeireiras que atuam na Amazônia respeitam as leis ambientais e trabalhistas do país, Dessas, somente 0,5% do total exercem sua atividade com padrão de excelência e receberam o certificado FSC (fig.4). MADEIRA AMAZÔNICA ILEGAL MERCADO INTERNO MERCADO EXTERNO 65% 35% 12% 15% ESTADO DE SÃO PAULO REGIÃO SUL 79,5% 20% 0,5% TOTAL EXPLORAÇÃO MADEIRA AMAZÔNICA MADEIRA AMAZÔNICA LEGAL MADEIRA SELO VERDE Figura 04_Destino em porcentagem da exploração total da madeira amazônica. Dados baseado em reportagem da Veja 07/11/2005. MADEIRA SELO VERDE: Respeitam os padrões internacionaisde exportação. Fazem rodízio de área com intervalos de 25 anos. Derrubam 300 a 500 árvores por quilômetro quadrado. MADEIRA LEGAL: Respeitam as leis brasileiras. Só derrubam espécies autorizadas pelo IBAMA. Preservam árvores com risco de extinção. Cortam 600 árvores por quilômetro quadrado. MADEIRA ILEGAL: Cortam qualquer árvore com valo comercial. Para retirar 900 árvores por quilômetro quadrado, derrubam outras 450. 0% 20% 40% 60% 80% 20% 80% Acabamento Descartável fôrmas. Em seguida, a madeira é usada para fixar colunas e as paredes serem levantadas, bem como no preparo de andaimes. Além disso, as fôrmas de madeira são essenciais na construção de lajes. Etapas que podem fazer com que uma única casa de 100 metros quadrados dependa de no mínimo três metros cúbicos desse material. Figura 1 – Tipos de madeira consumidos pela construção vertical, 2001. Amigos da Terra / IMAFLORA / IMAZON, 2001 – Fonte: IMAZON Comparação com outros materiais É importante ser lembrado que o crescimento, a extração e o desdobro de árvores envolvem baixo consumo de energia (Tabela 1), além de não provocarem prejuízo ao meio ambiente, desde que providenciada a respectiva reposição. Outros materiais estruturais, como o aço e o concreto armado, são produzidos por processos altamente poluentes, antecedidos por agressões ambientais consideráveis para a obtenção de matéria-prima. Os referidos processos requerem alto consumo energético e a matéria-prima retirada da natureza jamais será reposta. O contrário se verifica com a madeira, que se renova mesmo sob rigorosas condições climáticas. Ademais, a maior parte da ‘energia incorporada’ (2) em um material está relacionada com o transporte do mesmo, e sob esse aspecto a madeira também se destaca pela sua densidade. Conforme consta na Tabela 1, ela é quatro vezes e dez vezes superior em comparação ao aço e ao concreto, respectivamente. Além disto, a madeira apresenta aspecto visual muito interessante e pode ser processada sem maiores dificuldades, o que viabiliza a definição de diversificadas formas e dimensões, as quais são limitadas apenas pela geometria das toras a desdobrar. (2) EDWARDS, 2005. Tabela 1 – Materiais estruturais – dados comparativos Material A B C D E F G Concreto 24 1.920 20,3 20.000 96 0,83 833 Aço 78 234.000 250,4 210.000 936 3,21 2692 Madeira – conífera 6 600 50,5 10.000 12 8,33 1667 Madeira – dicotiledônea 9 630 90,5 25.000 7 10,00 2778 Fonte: Calil Jr e Dias [3]. As colunas da Tabela 1 representam: A : densidade do material, kN/m³; no caso da madeira, valor referente à umidade de 12%. B : energia consumida na produção, MJ/m³; para o concreto a energia provém da queima de óleo; para o aço, do carvão; para a madeira, energia solar. C : resistência, MPa; para o concreto o valor citado se refere à resistência característica à compressão, produto usinado; para o aço trata-se da tensão de escoamento do tipo ASTM A-36; para a madeira são os valores médios da resistência à compressão paralela às fibras, referida à umidade de 12% de acordo com recomendação da NBR 7190/1997, da ABNT [1]. D : módulo de elasticidade, MPa; mesma descrição da coluna C. E : relação entre os valores da energia consumida na produção e da resistência. F : relação entre os valores da resistência e da densidade. G : relação entre os valores do módulo de elasticidade e da densidade. Apesar de sua inflamabilidade, as peças estruturais de madeira evidenciam um conveniente desempenho a altas temperaturas, melhor que o de outros materiais em condições severas de exposição. Na realidade, a carbonatação superficial das peças se transforma numa espécie de “barreira de isolação térmica”. Sendo a madeira um mal condutor de calor, a temperatura interna cresce mais lentamente, não provocando maior comprometimento da região central das peças que, deste modo, podem manter-se em serviço nas condições onde o aço, por exemplo, já teria entrado em colapso, mesmo não sendo um material inflamável. Embora susceptível ao apodrecimento e ao ataque de organismos xilófagos em circunstâncias específicas, a madeira tem sua durabilidade natural prolongada quando previamente tratada com substâncias preservativas. Mais ainda, a madeira tratada requer cuidados de manutenção menos intensos. Deve ser salientada, neste ponto, a importância do projeto estrutural ser desenvolvido de modo a serem previstos detalhes construtivos que garantam maior durabilidade à madeira impregnada, evitando-se a exposição excessiva aos raios solares e à umidade proveniente da água da chuva. Diante do exposto, é possível concluir que a madeira tem significativo potencial para emprego na construção civil, particularmente na construção de estruturas. É evidente que a disseminação das estruturas de madeira está condicionada à garantia de sua competitividade com outros materiais. Todavia, isto poderá ser conseguido com o domínio dos conhecimentos relativos ao comportamento da madeira sob solicitações mecânicas, com a elaboração de projetos adequadamente fundamentados nos conceitos mais atualizados de segurança estrutural, e com a construção obedecendo aos critérios de qualidade envolvendo meio-ambiente, material e mão-de-obra. Vale ressaltar que a maior parte da madeira proveniente de reflorestamento dentro do Estado de São Paulo, nas quais o pinus e eucalipto se destacam, serve ao mercado de celulose, restando uma pequena parcela, quando comparada à demanda de madeira amazônica, ao mercado de madeira para construção civil, cujas madeiras usadas são preferencialmente: Marcenaria (madeira cerrada): cedro, pau marfim e peroba-rosa Laminados: mogno Dormentes: garapa Pisos e assoalhos: ipê e jatobá Portas, janelas e guarnições: mogno, freijó, cerejeira, cedrorana e angelim pedra Compensados: curupixá, virola rosa, sumaúma e achichá Construção civil: cedrinho e peroba-rosa Ou seja, as ameaças recaem sobre as espécies com maior risco de esgotamento, sobretudo pela forte tradição no uso de madeiras nobres da Amazônia devido a fatores como durabilidade, resistência e diversidade de cores. A busca pela redução do desperdício e pela aproximação da obra de uma construção civil sustentável deve passar pela tentativa de substituição de espécies ameaçadas por outras de propriedades correspondentes. No lugar de algumas dessas madeiras, poderiam ser aplicadas espécies menos conhecidas, como o amesclão, com facilidade para uso em acabamentos, ou o angelim-vermelho, com resistência e durabilidade diferenciadas. Entretanto, o mercado da construção civil ainda carece de informações sobre os tipos de madeira de menor impacto ambiental, onde podem ser encontradas e os cuidados necessários na aquisição. Só no ano de 2001, foram mais de 6 milhões de metros cúbicos em tora usadas pelo Estado de São Paulo, dos quais 69% foram comercializados pelos depósitos de madeira e 21% foram consumidos pelas indústrias de produtos de madeira. Por fim, a construção civil vertical (edifícios) adquiriu 10% da madeira amazônica no Estado (fig. 6). A maior parte da demanda por madeira está no setor da construção que, apesar de ser um consumidor ávido pelo produto, coloca pouca ênfase na qualidade ou no fornecimento sustentável. Figura 6 – Consumo de madeira amazônica e demanda por madeira certificada no Estado de São Paulo, 2001. Amigos da Terra / IMAFLORA / IMAZON, 2001 – Fonte: IMAZON Segundo dados do IMAZON, a madeira amazônica foi comercializada principalmente na forma de estruturas de cobertura, representando quase metade da madeira consumida no Estado de São Paulo. Neste uso, são empregadas peças simplesmente serradas, como vigas, caibros, pranchas e tábuas. Tais produtos são comercializados em lojas especializadas - depósitos de madeira - e destinam-se principalmente à construção horizontal, ou seja, casas e pequenas edificações (fig. 7). Figura 7 – Uso de madeira amazônica no Estado de São Paulo, 2001. Amigos da Terra / IMAFLORA / IMAZON, 2001 – Fonte: IMAZON Na mesma tabela pode ser visto que a madeira usada em andaimes e fôrmas para concreto representa 28% da madeira consumida no Estado de São Paulo. Neste tipo de uso, a construção vertical é a principal demandante, com aproximadamente 485 mil metros cúbicos anuais. Esta quantidade representa 80% da madeira consumida nesse segmento da construção civil. O quadro completa-se com a madeira utilizada em forros, pisos e esquadrias, partes da obra em que a madeira sofre forte concorrência de outros materiais, e em casas pré-fabricadas. Para atender a esses usos na construção civil os principais centros demandantes de madeira serrada, localizados nas Regiões Sul e Sudeste, se abasteceram durante décadas com o pinho-do-paraná (Araucaria angustifolia) e a peroba- rosa (Aspidosperma polyneuron), explorados nas florestas nativas dessas regiões. Com a exaustão dessas florestas, o suprimento de madeiras nativas passou a ser realizado, em parte, a partir de países limítrofes, como o Paraguai, porém, de forma mais significativa a partir da Região Amazônica. As madeiras de pinus (Pinus spp.) e eucalipto (Eucalyptus spp.), geradas nos reflorestamentos implantados nas Regiões Sul e Sudeste, também passaram a suprir, embora em parcela reduzida, a construção habitacional. Tais mudanças têm provocado a substituição do pinho-do-paraná e da peroba-rosa por outras madeiras desconhecidas dos usuários e, às vezes, inadequadas ao uso pretendido. A implantação de medidas visando ao uso racional e sustentado do material madeira devem considerar desde a minoração dos impactos ambientais da exploração florestal centrada em poucos tipos de madeira, passando por medidas para diminuição de geração de resíduos e reciclagem dos mesmos, até a ampliação do ciclo de vida do material pela escolha correta do tipo de madeira e pelos procedimentos do seu condicionamento (secagem e preservação). Diante deste aspecto, é relevante constatar a origem da madeira amazônica comercializada pelos depósitos de madeira. Em 2001, o Estado de Mato Grosso foi o principal fornecedor de madeira para os depósitos do Estado de São Paulo, com cerca de 60% do volume comercializado. Em seguida, estava o Pará, com aproximadamente 22%, enquanto a madeira oriunda de Rondônia representou 15%. O restante (3%) ficou distribuído entre Amazonas, Acre, Maranhão e Amapá (fig. 9). Esses dados devem ser reinterpretados em relação à sustentabilidade no uso da madeira na construção civil, pois representam custos adicionais tanto financeiros quanto ambientais, uma vez que além do preço do transporte que é repassado no custo final do produto, o consumo de combustível fóssil emite gases (CO2) que agravam o aquecimento global. Figura 9 – Origem da madeira amazônica comercializada pelos depósitos no Estado de São Paulo, 2001. Amigos da Terra / IMAFLORA / IMAZON, 2001 – Fonte: IMAZON Conclusão Com este trabalho pôde-se obter, como esperado, um quadro geral sobre o mercado de madeira e a partir disso ter uma visão mais clara e desmistificada sobre este material construtivo. Pois, ao mesmo tempo que se tem toda a problemática da exploração ilegal e o consequente desmatamento intenso das florestas nativas brasileiras, tem-se em contraposição as características mecânicas e energéticas deste material que justificam sua utilização de maneira sustentável. Tal equação pode ser equilibrada através de sistemas de manejo florestal, conhecimento já existente, mas que no entanto, devido a barreiras político-econômicas, não é ainda amplamente aplicado. Porém, o recente interesse por parte do mercado consumidor final sobre a origem da madeira está alterando este quadro, mudança comprovada pela existência de certificações internacionais próprias à exploração de madeira, como no caso o FSC. Nota-se que o Brasil possui um elevado potencial de produção de madeira, mas que no entanto, para sua exploração e utilização sustentável, deve ser reestruturada através de uma visão mais global de toda a produção, pensando no deslocamento do produto e seus custos econômicos, sociais e ambientais embutidos. Além disso, o mercado de madeira de reflorestamento deve ser mais explorado, principalmente no próprio Estado de São Paulo, pois é ao mesmo tempo o maior consumidor e um dos principais produtores deste tipo de madeira, juntamente com a região Sul. Para tanto. deve-se vencer alguns obstáculos como certa rejeição do mercado consumidor devido a falta de informação e a praticamente ausência de incentivos a este tipo de produção. Noruega Suécia Suíça Finlândia Áustria Dinamarca Grécia Portugal Bélgica/Luxembrugo Alemanha Espanha Holanda Itália Reino Unido França São Paulo 0,03 0,04 0,04 0,04 0,06 0,13 0,17 0,6 0,7 1,0 1,3 1,5 1,7 1,8 2,5 5,6 0 1 2 3 4 5 6 milhões de m3 em tora Neste contexto, o mercado interno responde pelo maior percentual de consumo de madeira tropical amazônica ilegal, com cerca de 65% da produção, sendo que a maior parte é destinada à demanda do Estado de São Paulo (15%) e aos estados da região Sul (12%). O Consumo de Madeira no Estado de São Paulo Do total de madeira extraída, o Estado de São Paulo, sozinho, consome 5,6 milhões de m3/ano, o equivalente a 20% do total, ultrapassando o volume de madeira tropical consumido pela França, Grã- Bretanha e Espanha juntas (fig. 5). Figura 5 – Comparação do consumo de madeira tropical entre São Paulo e países europeus, 1997. Amigos da Terra / IMAFLORA / IMAZON, 1999 – Fonte: ITTO / IMAZON (para São Paulo). Depósitos madeira Indústrias Móveis Móveis Casas de madeira Pisos e esquadrias Diversas Construção vertical Setores envolvidos Volume consumido de madeira em tora (mil m3/ano) Demanda madeira certificada (mil m3/ano) Demanda madeira certificada (%) 4.200 666 165 147 301 605 630 167 132 118 60 91 15 15 25 80 20 80 Amazonas Pará Roraima Acre Rondônia Mato Grosso Amapá Maranhão Tocantins CENTRO OESTE NORDESTE SUDESTE SUL SP BIBLIOGRAFIA AFLALO, Marcelo. Madeira como Estrutura: a história da ITA. São Paulo, Paralaxe, 2005. DEL CARLO, Ualfrido. Arquitetura Sustentável e de Baixo Impacto Ambiental. (mimeo) EDWARDS, Brian; HYETT, Paul (colab.) Guia Básica de la Sustenibilidad. Gustavo Gili, 2005. GAUZIN-MÜLLER, Dominique. Arquitectura Ecológica. Barcelona, Editorial Gustavo Gili, 2002. MAY, Peter H. Certificação Florestal no Brasil: valorização comercial e ambiental. SMERLADI, Roberto; VERÍSSIMO, Adalberto (org.) Acertando o Alvo 1: Consumo de Madeira no mercado interno brasileiro e promoção da certificação florestal. Belém, Imazon, 1999. ________. Acertando o Alvo 2: Consumo de Madeira Amazônica e Certificação Florestal no Estado de São Paulo. Belém, Imazon, 2002. KRONKA, Roberta C. Impacto e consumo energético enbutido em materiais de construção. Técnicas construtivas. São Paulo, 1998. Dissertação (Mertado) - Instituto de Eletrotécnica e Energia, Universidade de São Paulo. móveis finos e peças de decoração 1% casas pré-fabricadas de madeira 3% forros, pisos e esquadrias 11% móveis populares 15% andaimes e fôrmas para concreto 28% estrutura de telhados de casas 42% Figura 2 – Consumo de madeira tropical dos maiores países consumidores, 1997. Amigos da Terra / IMAFLORA / IMAZON, 1999 – Fonte: ITTO Endereços eletrônicos: www.fao.org www.remade.com.br www.ecopress.org.br www.mercadofloresta.org.br www.fsc.org.br www.consciencia.br www.set.eesc.usp.br/lamem Exemplos de projeto Foto 02: Casa Acayaba, Guarujá, SP. 1997. Arq. Marcos Acayaba. Foto 03: Casa Aflalo, São Paulo, SP. 1999. Arq. Marcelo e Marta Aflalo. Foto 04: Casa Hélio Olga Jr., São Paulo, SP. 1990. Arq. Marcos Acayaba. (1) DEL CARLO, Ualfrido. Arquitetura Sustentável e de Baixo Impacto Ambiental.

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O MERCADO DE MADEIRA E A CONSTRUÇÃO CIVIL

AUT 221 _ Arquitetura, Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

Profª. Dra. Denise DuarteProfª. Dra. Joana Carla Soares GonçalvesProfª. Dra. Roberta Kronka Mulfarth

Aline Sasse nº USP 4913065Elaine Terrin nº USP 4912209

Construção em madeira e qualidade ambiental

As decisões para escolha dos materiais de construção deveriam obedecer ao que vem sendo chamado de RRR

(redução, reutilização e reciclagem) tendo em vista a diminuição de custos globais. Segundo Ualfrido (1), a madeira

é, neste sentido, o material de construção com as melhores propriedades de reutilização e reciclagem, tendo como

características positivas:

- baixa densidade;

- boa resistência à tração e compressão;

- totalmente reciclável; fácil trabalhabiblidade;

- alta produtividade;

- conserva-se indefi nidamente imersa em água;

- seca e protegida dura séculos;

- reduz o CO2 da atmosfera aumentando o O2;

- possui boa isolação térmica;

- fácil manutenção, etc.

Foto 01: Casa Hélio Olga, Ubatuba, SP. 1986. Arq. Hebe

Olga de Souza.

O emprego da madeira na construção civil

Na construção civil, a madeira é utilizada de diversas formas em usos temporários, como: fôrmas para concreto,

andaimes e escoramentos, e de forma defi nitiva é utilizada nas estruturas de cobertura, nas esquadrias (portas e

janelas), nos forros e pisos.

Os produtos de madeiras utilizados na construção variam desde peças com pouco ou nenhum processamento

–madeira roliça – até peças com vários graus de benefi ciamento, como: madeira serrada e benefi ciada, lâminas,

painéis de madeira e madeira tratada com produtos preservativos.

Tal emprego vem se mantendo crescente, apesar dos conhecidos preconceitos inerentes à madeira, sempre

relacionados à insufi ciente divulgação das informações de projetos específi cos.

Seja na fundação e estruturação de casas e prédios, seja no acabamento, em revestimentos e até nos mobiliários,

a madeira permanece como um dos principais itens da construção civil no País. E o padrão de uso insustentável

é observado também na destinação fi nal dos materiais. Segundo o estudo do Imazon, a grande maioria (80%)

da madeira utilizada na fundação e estruturação dos prédios acaba sendo descartada, enquanto apenas 20% são

utilizados na etapa de acabamento, como em portas, batentes, pisos, armários, painéis etc (fi g. 1)

Na etapa de estruturação, utiliza-se em geral madeira para marcação, nivelamento do terreno e confecção de

A atividade fl orestal

Sintetizando o pensamento de diversos autores, a atividade fl orestal demonstra ser uma das poucas que,

com a utilização de métodos racionais de exploração, poderá conjugar a expansão econômica à conservação

da qualidade da vida. Trata-se do chamado desenvolvimento sustentado, possível de ser proporcionado

pelo setor fl orestal, não apenas através da produção direta da madeira e dos produtos dela derivados, mas

também na geração de outros bens indispensáveis ao tão desejado equilíbrio ecológico. Tais bens podem

ser exemplifi cados como a melhoria da qualidade do ar pela fi xação do dióxido de carbono e pela liberação

do oxigênio decorrentes da fotossíntese, e a manutenção da biodiversidade com a preservação da fauna e

da fl ora, associada ao conveniente manejo fl orestal.

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Concentrando não somente a maior parcela de fl oresta

Amazônica, e o mais extensivo remanescente de bioma

fl orestal tropical, o Brasil é, simultaneamente, o maior produtor

e consumidor mundial de madeira tropical (fi g.2).

Estima-se que 86% dos 26,5 milhões de m3 de diversas

madeiras extraídas, anualmente, da região amazônica, são

consumidas internamente (fi g.3).

Figura 3 – Exportação vs consumo doméstico de madeira amazônica, 1997.

Amigos da Terra / IMAFLORA / IMAZON, 1999 – Fonte: IMAZONMadeira Amazônica

14%

86%

ExportaçãoConsumo Doméstico

As fontes das madeiras tão desejadas são:

FLORESTAS PLANTADAS: que se destinam a produzir matéria-prima para as indústrias de celulose,

madeira serrada, painéis à base de madeira e móveis, cuja implantação, manutenção e exploração

seguem projetos previamente aprovados pelo Ibama.

FLORESTAS NATIVAS: que são exploradas para atender ao mercado de madeiras de duas

formas:

- Por meio de manejo fl orestal: através da exploração planejada e controlada da mata nativa.

- Por meio de exploração extrativista: explorando comercialmente apenas as espécies com valor

de mercado, sem projetos de manejo.

Manejo fl orestal e o Selo Verde

Trata-se do aproveitamento das fl orestas naturais ou plantadas, através de Projeto de Manejo Florestal

aprovado pelo IBAMA, é a forma de utilizar estes recursos naturais a partir do princípio de sustentabilidade.

Para obter o selo verde, o projeto de manejo fl orestal deve cumprir uma série de exigências ambientais

(redução de danos durante a extração, proteção da fauna, respeito às áreas de preservação permanente

etc.) e sociais (respeito à legislação trabalhista, bom relacionamento com a comunidade local etc.), além de

ser viável economicamente.

No Brasil estão disponíveis o sistema do FSC – Forest Stewardship Council (Conselho de Manejo

Florestal) e o sistema de Certifi cação Florestal Brasileiro do Inmetro (Cerfl or) que certifi ca a produção

adequada ambientalmente.

No início, a madeira certifi cada esteve voltada principalmente para o mercado externo, cujas exigências

do consumo consciente se ampliaram para os países produtores. Mas a tendência de conquista do mercado

interno é relevada pela dimensão das fl orestas certifi cadas com o FSC hoje no País: são mais de 3 milhões

e 200 mil hectares de matas nativas e fl orestas plantadas com o selo.

Ainda assim, 20% das 3.000 madeireiras que atuam na Amazônia respeitam as leis ambientais e trabalhistas

do país, Dessas, somente 0,5% do total exercem sua atividade com padrão de excelência e receberam o

certifi cado FSC (fi g.4).

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MADEIRA AMAZÔNICA LEGAL

MADEIRA SELO VERDE

Figura 04_Destino em porcentagem da exploração

total da madeira amazônica.

Dados baseado em reportagem da Veja 07/11/2005.

MADEIRA SELO VERDE: Respeitam os padrões internacionaisde exportação. Fazem rodízio de área com intervalos de 25 anos.

Derrubam 300 a 500 árvores por quilômetro quadrado.

MADEIRA LEGAL: Respeitam as leis brasileiras. Só derrubam espécies autorizadas pelo IBAMA. Preservam árvores com risco

de extinção. Cortam 600 árvores por quilômetro quadrado.

MADEIRA ILEGAL: Cortam qualquer árvore com valo comercial. Para retirar 900 árvores por quilômetro quadrado, derrubam

outras 450.

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Acabamento Descartável

fôrmas. Em seguida, a madeira é usada para fi xar colunas

e as paredes serem levantadas, bem como no preparo de

andaimes. Além disso, as fôrmas de madeira são essenciais

na construção de lajes. Etapas que podem fazer com que

uma única casa de 100 metros quadrados dependa de no

mínimo três metros cúbicos desse material.

Figura 1 – Tipos de madeira consumidos pela construção vertical, 2001. Amigos

da Terra / IMAFLORA / IMAZON, 2001 – Fonte: IMAZON

Comparação com outros materiais

É importante ser lembrado que o crescimento, a extração e o desdobro de árvores envolvem baixo consumo

de energia (Tabela 1), além de não provocarem prejuízo ao meio ambiente, desde que providenciada a respectiva

reposição. Outros materiais estruturais, como o aço e o concreto armado, são produzidos por processos altamente

poluentes, antecedidos por agressões ambientais consideráveis para a obtenção de matéria-prima. Os referidos

processos requerem alto consumo energético e a matéria-prima retirada da natureza jamais será reposta. O contrário

se verifi ca com a madeira, que se renova mesmo sob rigorosas condições climáticas.

Ademais, a maior parte da ‘energia incorporada’ (2) em um material está relacionada com o transporte do mesmo,

e sob esse aspecto a madeira também se destaca pela sua densidade. Conforme consta na Tabela 1, ela é quatro

vezes e dez vezes superior em comparação ao aço e ao concreto, respectivamente. Além disto, a madeira apresenta

aspecto visual muito interessante e pode ser processada sem maiores difi culdades, o que viabiliza a defi nição de

diversifi cadas formas e dimensões, as quais são limitadas apenas pela geometria das toras a desdobrar.

(2) EDWARDS, 2005.

Tabela 1 – Materiais estruturais – dados comparativos

Material A B C D E F G

Concreto 24 1.920 20,3 20.000 96 0,83 833

Aço 78 234.000 250,4 210.000 936 3,21 2692

Madeira – conífera 6 600 50,5 10.000 12 8,33 1667

Madeira – dicotiledônea 9 630 90,5 25.000 7 10,00 2778

Fonte: Calil Jr e Dias [3].

As colunas da Tabela 1 representam:

A : densidade do material, kN/m³; no caso da madeira, valor referente à umidade de 12%.

B : energia consumida na produção, MJ/m³; para o concreto a energia provém da queima de óleo; para o aço, do

carvão; para a madeira, energia solar.

C : resistência, MPa; para o concreto o valor citado se refere à resistência característica à compressão, produto usinado;

para o aço trata-se da tensão de escoamento do tipo ASTM A-36; para a madeira são os valores médios da resistência

à compressão paralela às fi bras, referida à umidade de 12% de acordo com recomendação da NBR 7190/1997, da

ABNT [1].

D : módulo de elasticidade, MPa; mesma descrição da coluna C.

E : relação entre os valores da energia consumida na produção e da resistência.

F : relação entre os valores da resistência e da densidade.

G : relação entre os valores do módulo de elasticidade e da densidade.

Apesar de sua infl amabilidade, as peças estruturais de madeira evidenciam um conveniente desempenho a altas

temperaturas, melhor que o de outros materiais em condições severas de exposição. Na realidade, a carbonatação

superfi cial das peças se transforma numa espécie de “barreira de isolação térmica”. Sendo a madeira um mal condutor

de calor, a temperatura interna cresce mais lentamente, não provocando maior comprometimento da região central

das peças que, deste modo, podem manter-se em serviço nas condições onde o aço, por exemplo, já teria entrado

em colapso, mesmo não sendo um material infl amável.

Embora susceptível ao apodrecimento e ao ataque de organismos xilófagos em circunstâncias específi cas, a madeira

tem sua durabilidade natural prolongada quando previamente tratada com substâncias preservativas. Mais ainda, a

madeira tratada requer cuidados de manutenção menos intensos.

Deve ser salientada, neste ponto, a importância do projeto estrutural ser desenvolvido de modo a serem previstos

detalhes construtivos que garantam maior durabilidade à madeira impregnada, evitando-se a exposição excessiva aos

raios solares e à umidade proveniente da água da chuva.

Diante do exposto, é possível concluir que a madeira tem signifi cativo potencial para emprego na construção

civil, particularmente na construção de estruturas. É evidente que a disseminação das estruturas de madeira está

condicionada à garantia de sua competitividade com outros materiais. Todavia, isto poderá ser conseguido com o

domínio dos conhecimentos relativos ao comportamento da madeira sob solicitações mecânicas, com a elaboração de

projetos adequadamente fundamentados nos conceitos mais atualizados de segurança estrutural, e com a construção

obedecendo aos critérios de qualidade envolvendo meio-ambiente, material e mão-de-obra.

Vale ressaltar que a maior parte da madeira proveniente de refl orestamento dentro do Estado de São Paulo, nas quais o pinus

e eucalipto se destacam, serve ao mercado de celulose, restando uma pequena parcela, quando comparada à demanda de madeira

amazônica, ao mercado de madeira para construção civil, cujas madeiras usadas são preferencialmente:

Marcenaria (madeira cerrada): cedro, pau marfi m e peroba-rosa

Laminados: mogno

Dormentes: garapa

Pisos e assoalhos: ipê e jatobá

Portas, janelas e guarnições: mogno, freijó, cerejeira, cedrorana e angelim

pedra

Compensados: curupixá, virola rosa, sumaúma e achichá

Construção civil: cedrinho e peroba-rosa

Ou seja, as ameaças recaem sobre as espécies com maior risco de esgotamento, sobretudo pela forte tradição no uso de madeiras

nobres da Amazônia devido a fatores como durabilidade, resistência e diversidade de cores.

A busca pela redução do desperdício e pela aproximação da obra de uma construção civil sustentável deve passar pela tentativa

de substituição de espécies ameaçadas por outras de propriedades correspondentes. No lugar de algumas dessas madeiras, poderiam

ser aplicadas espécies menos conhecidas, como o amesclão, com facilidade para uso em acabamentos, ou o angelim-vermelho, com

resistência e durabilidade diferenciadas. Entretanto, o mercado da construção civil ainda carece de informações sobre os tipos de

madeira de menor impacto ambiental, onde podem ser encontradas e os cuidados necessários na aquisição.

Só no ano de 2001, foram mais de 6 milhões de metros cúbicos em tora usadas pelo Estado de São Paulo, dos quais

69% foram comercializados pelos depósitos de madeira e 21% foram consumidos pelas indústrias de produtos de madeira.

Por fi m, a construção civil vertical (edifícios) adquiriu 10% da madeira amazônica no Estado (fi g. 6). A maior parte da

demanda por madeira está no setor da construção que, apesar de ser um consumidor ávido pelo produto, coloca pouca

ênfase na qualidade ou no fornecimento sustentável.

Figura 6 – Consumo de madeira amazônica e demanda por madeira certifi cada no Estado de São Paulo, 2001.

Amigos da Terra / IMAFLORA / IMAZON, 2001 – Fonte: IMAZON

Segundo dados do IMAZON, a madeira amazônica foi comercializada principalmente na forma de estruturas de

cobertura, representando quase metade da madeira consumida no Estado de São Paulo. Neste uso, são empregadas peças

simplesmente serradas, como vigas, caibros, pranchas e tábuas. Tais produtos são comercializados em lojas especializadas

- depósitos de madeira - e destinam-se principalmente à construção horizontal, ou seja, casas e pequenas edifi cações

(fi g. 7).

Figura 7 – Uso de madeira amazônica no Estado de São Paulo, 2001. Amigos da Terra / IMAFLORA / IMAZON, 2001 – Fonte: IMAZON

Na mesma tabela pode ser visto que a madeira usada em andaimes e fôrmas para concreto representa 28% da

madeira consumida no Estado de São Paulo. Neste tipo de uso, a construção vertical é a principal demandante, com

aproximadamente 485 mil metros cúbicos anuais. Esta quantidade representa 80% da madeira consumida nesse segmento

da construção civil. O quadro completa-se com a madeira utilizada em forros, pisos e esquadrias, partes da obra em que

a madeira sofre forte concorrência de outros materiais, e em casas pré-fabricadas.

Para atender a esses usos na construção civil os principais centros demandantes de madeira serrada, localizados nas

Regiões Sul e Sudeste, se abasteceram durante décadas com o pinho-do-paraná (Araucaria angustifolia) e a peroba-

rosa (Aspidosperma polyneuron), explorados nas fl orestas nativas dessas regiões. Com a exaustão dessas fl orestas, o

suprimento de madeiras nativas passou a ser realizado, em parte, a partir de países limítrofes, como o Paraguai, porém,

de forma mais signifi cativa a partir da Região Amazônica. As madeiras de pinus (Pinus spp.) e eucalipto (Eucalyptus spp.),

geradas nos refl orestamentos implantados nas Regiões Sul e Sudeste, também passaram a suprir, embora em parcela

reduzida, a construção habitacional.

Tais mudanças têm provocado a substituição do pinho-do-paraná e da peroba-rosa por outras madeiras desconhecidas

dos usuários e, às vezes, inadequadas ao uso pretendido.

A implantação de medidas visando ao uso racional e sustentado do material madeira devem considerar desde a

minoração dos impactos ambientais da exploração fl orestal centrada em poucos tipos de madeira, passando por medidas

para diminuição de geração de resíduos e reciclagem dos mesmos, até a ampliação do ciclo de vida do material pela

escolha correta do tipo de madeira e pelos procedimentos do seu condicionamento (secagem e preservação).

Diante deste aspecto, é relevante constatar a origem da madeira amazônica comercializada pelos depósitos de madeira.

Em 2001, o Estado de Mato Grosso foi o principal fornecedor de madeira para os depósitos do Estado de São Paulo, com

cerca de 60% do volume comercializado. Em seguida, estava o Pará, com aproximadamente 22%, enquanto a madeira

oriunda de Rondônia representou 15%. O restante (3%) fi cou distribuído entre Amazonas, Acre, Maranhão e Amapá (fi g.

9).

Esses dados devem ser reinterpretados em relação à sustentabilidade no uso da madeira na construção civil, pois

representam custos adicionais tanto fi nanceiros quanto ambientais, uma vez que além do preço do transporte que é

repassado no custo fi nal do produto, o consumo de combustível fóssil emite gases (CO2) que agravam o aquecimento

global.

Figura 9 – Origem da madeira amazônica comercializada pelos depósitos no Estado de São Paulo, 2001. Amigos da Terra / IMAFLORA / IMAZON, 2001

– Fonte: IMAZON

ConclusãoCom este trabalho pôde-se obter, como esperado, um quadro geral sobre o mercado de madeira e a partir disso ter uma visão mais clara

e desmistifi cada sobre este material construtivo. Pois, ao mesmo tempo que se tem toda a problemática da exploração ilegal e o consequente

desmatamento intenso das fl orestas nativas brasileiras, tem-se em contraposição as características mecânicas e energéticas deste material

que justifi cam sua utilização de maneira sustentável. Tal equação pode ser equilibrada através de sistemas de manejo fl orestal, conhecimento

já existente, mas que no entanto, devido a barreiras político-econômicas, não é ainda amplamente aplicado. Porém, o recente interesse

por parte do mercado consumidor fi nal sobre a origem da madeira está alterando este quadro, mudança comprovada pela existência de

certifi cações internacionais próprias à exploração de madeira, como no caso o FSC.

Nota-se que o Brasil possui um elevado potencial de produção de madeira, mas que no entanto, para sua exploração e utilização

sustentável, deve ser reestruturada através de uma visão mais global de toda a produção, pensando no deslocamento do produto e

seus custos econômicos, sociais e ambientais embutidos. Além disso, o mercado de madeira de refl orestamento deve ser mais explorado,

principalmente no próprio Estado de São Paulo, pois é ao mesmo tempo o maior consumidor e um dos principais produtores deste tipo de

madeira, juntamente com a região Sul. Para tanto. deve-se vencer alguns obstáculos como certa rejeição do mercado consumidor devido a

falta de informação e a praticamente ausência de incentivos a este tipo de produção.

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Suéc

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São P

aulo

0,03 0,04 0,04 0,04 0,06 0,13 0,17

0,6 0,71,0

1,31,5

1,7 1,8

2,5

5,6

0

1

2

3

4

5

6

milh

ões

de m

3 em

tor

a

Neste contexto, o mercado interno responde pelo maior percentual de consumo de madeira tropical

amazônica ilegal, com cerca de 65% da produção, sendo que a maior parte é destinada à demanda do

Estado de São Paulo (15%) e aos estados da região Sul (12%).

O Consumo de Madeira no Estado de São Paulo

Do total de madeira extraída, o Estado de São Paulo, sozinho, consome 5,6 milhões de m3/ano, o

equivalente a 20% do total, ultrapassando o volume de madeira tropical consumido pela França, Grã-

Bretanha e Espanha juntas (fi g. 5).

Figura 5 – Comparação do consumo de madeira tropical entre São Paulo e países europeus, 1997.

Amigos da Terra / IMAFLORA / IMAZON, 1999 – Fonte: ITTO / IMAZON (para São Paulo).

Depósitos madeira

Indústrias Móveis

MóveisCasas de madeiraPisos e esquadriasDiversas

Construção vertical

Total

Setores envolvidosVolume

consumido de madeira em tora

(mil m3/ano)

Demanda madeira

certificada (mil m3/ano)

Demanda madeira

certificada (%)

4.200

666165147301

605

6.084 1.198

630

16713211860

91 15

15

2580

2080

20

Amazonas Pará

Roraima

AcreRondônia Mato

Grosso

Amapá

Maranhão

Tocantins

CENTRO OESTE

NORDESTE

SUDESTE

SUL

SP

BIBLIOGRAFIA

AFLALO, Marcelo. Madeira como Estrutura: a história da ITA. São Paulo, Paralaxe, 2005.

DEL CARLO, Ualfrido. Arquitetura Sustentável e de Baixo Impacto Ambiental. (mimeo)

EDWARDS, Brian; HYETT, Paul (colab.) Guia Básica de la Sustenibilidad. Gustavo Gili, 2005.

GAUZIN-MÜLLER, Dominique. Arquitectura Ecológica. Barcelona, Editorial Gustavo Gili, 2002.

MAY, Peter H. Certifi cação Florestal no Brasil: valorização comercial e ambiental.

SMERLADI, Roberto; VERÍSSIMO, Adalberto (org.) Acertando o Alvo 1: Consumo de Madeira no mercado interno brasileiro e

promoção da certifi cação fl orestal. Belém, Imazon, 1999.

________. Acertando o Alvo 2: Consumo de Madeira Amazônica e Certifi cação Florestal no Estado de São Paulo. Belém,

Imazon, 2002.

KRONKA, Roberta C. Impacto e consumo energético enbutido em materiais de construção. Técnicas construtivas. São

Paulo, 1998. Dissertação (Mertado) - Instituto de Eletrotécnica e Energia, Universidade de São Paulo.

móveis finos e peças de decoração 1%

casas pré-fabricadas de madeira 3%

forros, pisos e esquadrias 11%

móveis populares 15%

andaimes e fôrmas para concreto 28%

estrutura de telhados de casas 42%

Figura 2 – Consumo de madeira tropical dos maiores países consumidores, 1997. Amigos

da Terra / IMAFLORA / IMAZON, 1999 – Fonte: ITTO

Endereços eletrônicos:

www.fao.org

www.remade.com.br

www.ecopress.org.br

www.mercadofl oresta.org.br

www.fsc.org.br

www.consciencia.br

www.set.eesc.usp.br/lamem

Exemplos de projeto

Foto 02: Casa Acayaba, Guarujá, SP. 1997. Arq. Marcos Acayaba.

Foto 03: Casa Afl alo, São Paulo, SP. 1999. Arq. Marcelo e Marta Afl alo.

Foto 04: Casa Hélio Olga Jr., São Paulo, SP. 1990. Arq. Marcos Acayaba.

(1) DEL CARLO, Ualfrido. Arquitetura Sustentável e de Baixo Impacto Ambiental.