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CENTRO UNIVERSITÁRIO POSITIVO O MERCADO INTERNACIONAL DE SOFTWARE: OPORTUNIDADES E DESAFIOS PARA EMPRESAS BRASILEIRAS CURITIBA 2007

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CENTRO UNIVERSITÁRIO POSITIVO

O MERCADO INTERNACIONAL DE SOFTWARE: OPORTUNIDADES E

DESAFIOS PARA EMPRESAS BRASILEIRAS

CURITIBA

2007

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OSCAR ROBERTO BURZYNSKI

O MERCADO INTERNACIONAL DE SOFTWARE: OPORTUNIDADES E

DESAFIOS PARA EMPRESAS BRASILEIRAS

Dissertação apresentada ao programa de Mestrado em Administração do UnicenP, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Administração.

Campo de conhecimento: Internacionalização

Orientação: Alexandre R. Graeml

CURITIBA

2007

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Dados Internacionais de catalogação na Publicação (CIP) Biblioteca do UnicenP - Curitiba – PR

B974 Burzynski, Oscar Roberto. O mercado internacional de software : oportunidades e desafios para empresas brasileiras / Oscar Roberto Burzynski. � Curitiba : UnicenP, 2007. 93 p. : il. Dissertação (mestrado) – Centro de Estudos Superiores Positivo – UnicenP, 2007. Orientador : Alexandre R. Graeml.

1. Indústria de software. 2. Globalização. 3. Comércio exterior – Promoção.I. Título.

CDU 339.5

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OSCAR ROBERTO BURZYNSKI

O mercado internacional de software:

oportunidades e desafios para empresas brasileiras

Dissertação apresentada ao programa de Mestrado em Administração do UnicenP, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Administração.

Campo de conhecimento: Internacionalização

Data de aprovação:

30 / 09 / 2007. Banca examinadora: _________________________________ Prof. Dr. Alexandre Reis Graeml (orientador) Centro Universitário Positivo _________________________________ Prof. Dr. Clóvis Luiz Machado da Silva (professor e coordenador do programa) Centro Universitário Positivo _________________________________ Prof. Dr. Heitor Takashi Kato (membro externo) Pontifícia Universidade Católica do Paraná

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Dedicatória

Para Ana Catarina e Maria Eduarda, minhas

queridas filhas e razão de tudo em minha vida e que, com

muita compreensão e colaboração, souberam entender a

minha ausência.

E para Eliane, minha esposa e amiga. Minha base

forte e grande incentivadora.

A vocês o meu amor.

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Agradecimentos

Primeiro agradeço a Deus, o ser maior que ilumina o meu caminho.

Segundo à minha mãe, Catarina. Professora de profissão e educadora por

natureza. Pessoa muito importante em minha vida. Seus ensinamentos são a

minha herança. Obrigado pela ajuda e por ter se preocupado até mais do que eu

com o término deste trabalho.

Ao meu pai, Boleslau, homem simples do interior que com sua coragem veio para

a capital. Estou aqui terminando este trabalho em virtude de sua ousadia. Acho

que eu não teria essa coragem.

À Eliane, minha esposa, companheira e amiga que mesmo abrindo mão de

alguns de nossos sonhos, não hesitou em me incentivar.

Agradeço imensamente ao professor Alexandre Graeml. Que sorte a minha em

tê-lo como orientador. Seu apoio foi fundamental e sua compreensão me deu

forças para terminar este trabalho. Desde que o conheci aprendi a admirá-lo pela

sua competência e dedicação. Alexandre, obrigado mesmo.

À minha irmã Lúcia, outra incentivadora e que me ajudou durante o período do

mestrado.

Agradeço também ao Ernani, Távio, Alfredo e Carlos, meus irmãos e Lindamir,

minha irmã, pessoas com as quais posso contar.

Ao professor Érico Eleutério da Luz, que me incentivou a ingressar no mestrado e

que exerceu papel de meu conselheiro. Valeu.

Aos professores do mestrado: Bruno, Gimenez, Crubellate, Marie, Luciane e

Clóvis. Vocês acrescentaram muito.

À professora Márcia May Gomel, pela ajuda com um tema que para mim era novo.

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Rogério Lopuch, meu primo. Obrigado pela ajuda na reta final deste trabalho.

Aos funcionários da biblioteca do UnicenP. O atendimento de vocês é diferente.

Obrigado pela paciência e pela ajuda.

Por último, agradeço a todas as pessoas que colaboraram com a pesquisa de

campo. Alguns foram verdadeiros professores. A disponibilidade de vocês é que

permitiu a realização das entrevistas, parte importante deste trabalho.

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Epígrafe

“Não me envergonho de errar, pois não me canso de aprender”.

Sócrates.

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Resumo

A tecnologia da informação está causando grandes transformações na vida das pessoas, das empresas e da sociedade como um todo. O desempenho de todos os setores da economia está baseado na informação e na indústria do conhecimento e o software apresenta-se como o componente mais dinâmico dessa indústria. Este trabalho contempla o setor de software e aborda o aspecto da internacionalização. Tem como objetivo pesquisar a participação de empresas brasileiras no mercado internacional de software e compreender qual a relação que existe entre essa participação e o discurso dos empresários do setor de software e dos agentes de fomento à exportação. Visa ainda a identificar quais os fatores que interferem positiva e negativamente na participação brasileira no mercado internacional de software. A pesquisa é caracterizada como exploratória e de natureza descritiva. Para a coleta de dados, utilizou-se o método de entrevistas semi-estruturadas, técnica aceita para pesquisas qualitativas como a que se apresenta. Para a análise de dados, o método utilizado foi a análise de conteúdo. Os resultados da pesquisa evidenciam um baixo desempenho exportador das empresas brasileiras, motivado por fatores internos e externos que serão discutidos em detalhe. Ao final, são apresentadas as limitações da pesquisa e algumas recomendações sobre possíveis novas pesquisas relacionadas ao tema.

Palavras-chave

Indústria de software, internacionalização, agentes de fomento à exportação.

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Abstract

It is causing great changes to the life or people, organizations and our society. The performance of any sector is now based on diligent information and knowledge management. The software industry is one of the most dynamic components of such scenario. New solutions are presented to the market every day and some of them may already be outdated even before being introduced. Companies from different parts of the world work hard to be ahead of the competition, because the market is eager for new technologies capable of improving productivity. That means that those who are faster ensure for their organizations an important edge. This dissertation deals with the software industry and focuses on its internationalization. Its purpose is to analyze the participation of Brazilian companies in the international software market and to understand if there is concensus among entrepreneurs and government agents in charge of estimulating foreign trade on the reasons for the current performance of Brazilian companies in the international market. The research was exploratory and had descriptive purposes. Inteviews were carried out with companies and agents and data were analyzed using content analysis. It was noticed that the country is an underachiever in the international software market and the reasons for that were also discussed, based on internal and external factors that were mentioned by the participants. At last, research limitations were presented and considerations were made about related research topics.

Keywords

Software industry, internationalization, executing agencies.

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Sumário

1 INTRODUÇÃO......................................... ........................................... 15

1.1 SITUAÇÃO-PROBLEMA ..................................................................... 16

1.2 OBJETIVOS DO ESTUDO .................................................................. 16 1.2.1 Objetivo geral ..................................................................................... 17 1.2.2 Objetivos específicos .......................................................................... 17

1.3 JUSTIFICATIVAS TEÓRICA E PRÁTICA DO ESTUDO....................... 17 1.3.1 Justificativa teórica ............................................................................. 19 1.3.2 Justificativa prática ............................................................................. 20

1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO ............................................................ 20

2 A INTERNACIONALIZAÇÃO E A INDÚSTRIA DE SOFTWARE .... ..... 22

2.1 A INTERNACIONALIZAÇÃO ............................................................... 22

2.2 A INDÚSTRIA DE SOFTWARE ........................................................... 25

2.3 SERVIÇOS ......................................................................................... 27 2.3.1 Caracterização dos serviços ............................................................... 28 2.3.2 Software caracterizado como serviço .................................................. 28

2.4 CONTEXTO DA INDÚSTRIA DE SOFTWARE..................................... 29

2.5 O MERCADO INTERNACIONAL DE SOFTWARE............................... 29

2.6 O MERCADO MUNDIAL DE TI............................................................ 30

2.7 A INDÚSTRIA DE SOFTWARE NO BRASIL........................................ 32

2.8 O MERCADO BRASILEIRO EXPORTADOR DE SOFTWARE ............. 36

3 METODOLOGIA........................................ ......................................... 39

3.1 PLANEJAMENTO DA PESQUISA ....................................................... 39

3.2 NATUREZA DA PESQUISA E SUA CONCEPÇÃO.............................. 39

3.3 A ESCOLHA DO MÉTODO PARA A PESQUISA ................................. 40

3.4 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA QUANTO ÀS SUAS VARIÁVEIS......................................................................................... 40

3.4.1 Pesquisa quantitativa .......................................................................... 40 3.4.2 Pesquisa qualitativa ............................................................................ 41 3.4.3 Abordagem metodológica da pesquisa ................................................ 42

3.5 DELIMITAÇÃO E “DESIGN” DA PESQUISA........................................ 43 3.5.1 Coleta de dados.................................................................................. 44 3.5.2 Dimensão temporal da pesquisa ......................................................... 45 3.5.3 Roteiros de entrevista ......................................................................... 45 3.5.4 Empresas pesquisadas ....................................................................... 46 3.5.5 Agentes de fomento à exportação de software .................................... 48

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3.5.6 O método para análise de dados......................................................... 50

3.6 LIMITAÇÕES DO ESTUDO................................................................. 51

4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DE DADOS ....................... ......................... 53

4.1 AS EMPRESAS E OS AGENTES DE FOMENTO À EXPORTAÇÃO DE SOFTWARE ......................................................... 53

4.1.1 As empresas do setor de software ...................................................... 53 4.1.2 Os agentes de fomento à exportação .................................................. 54

4.2 ENTREVISTAS SEMI-ESTRUTURADAS............................................. 56 4.2.1 Fatores facilitadores da exportação de software brasileiro ................... 56 4.2.2 Fatores dificultadores da exportação de software brasileiro ................. 61 4.2.3 A “Imagem Brasil” ............................................................................... 69 4.2.4 Ações e estratégias voltadas ao mercado internacional....................... 70 4.2.5 Outros fatores de análise .................................................................... 72

4.3 SÍNTESE SOBRE A CONSECUÇÃO DOS OBJETIVOS...................... 74

CONCLUSÃO .......................................... ......................................................... 77

REFERÊNCIAS ........................................ ........................................................ 84

APÊNDICE 1 - ROTEIRO DAS ENTREVISTAS REALIZADAS COM OS EMPRESÁRIOS ........................................ ......................................... 90

APÊNDICE 2 - ROTEIRO DAS ENTREVISTAS REALIZADAS COM OS AGENTES DE FOMENTO À EXPORTAÇÃO DE SOFTWARE........ .... 91

APÊNDICE 3 - RELAÇÃO DAS EMPRESAS ENTREVISTADAS .... .................. 92

APÊNDICE 4 - RELAÇÃO DE AGENTES DE FOMENTO À EXPORTAÇÃO PARTICIPANTES DA PESQUISA............... ............... 93

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Lista de ilustrações

Figura 1 Participação nacional e estrangeira no desenvolvimento de programas..................................................................................... 34

Figura 2 Empresas do setor de software por atividade................................. 35

Figura 3 Exportação brasileira de software e serviços de software............... 38

Figura 4 Análise de conteúdo ...................................................................... 51

Lista de tabelas

Tabela 1 Mercado mundial de software ........................................................ 30

Tabela 2 Cenário mundial do mercado de TI ................................................ 31

Tabela 3 Distribuição da Indústria de TI ....................................................... 32

Tabela 4 Porte das empresas que desenvolvem software no Brasil. ............. 35

Tabela 5 Mercado consumidor de software por setor.................................... 36

Tabela 6 Classificação quanto ao tipo de entrevista com empresários do setor de software. ..................................................................... 48

Tabela 7 Porte das empresas entrevistadas e atividade exportadora............ 54

Tabela 8 Instituições citadas como agentes de fomento à exportação de software. .................................................................................. 55

Tabela 9 Fatores internos que facilitam a exportação ................................... 56

Tabela 10 Fatores externos que facilitam a exportação .................................. 59

Tabela 11 Fatores internos que dificultam a exportação ................................. 62

Tabela 12 Fatores externos que dificultam a exportação ................................ 67

Tabela 13 Ações e estratégias voltadas ao mercado internacional ................. 71

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Abreviaturas e siglas

Sigla Significado

Abes

Assespro

Apex

BNDES

CMM

Cits

ERP

Fiep

Lactec

MCT

MDIC

MIT

OECD

PIB

Sebrae

SEI

Softex

Tecpar

TI

Associação Brasileira das Empresas de Software

Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação – Reg. Paraná

Agência de Promoções de Exportações do Brasil

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

Capability Maturity Model

Centro Internacional de Tecnologia de Software

Enterprise Resource Planning

Federação das Indústrias do Estado do Paraná

Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento

Ministério da Ciência e Tecnologia

Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

Massachussetes Institute of Technology

Organisation for Economic Cooperation and Development (Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento)

Produto Interno Bruto

Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

Software Engineering Institute

Associação para Promoção da Excelência do Software Brasileiro

Instituto de Tecnologia do Paraná

Tecnologia da Infomação

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1 INTRODUÇÃO

A informatização é uma característica da sociedade moderna, em que se

caminha a passos largos para uma economia baseada em conhecimento. Ainda

não se tem uma dimensão exata de seus efeitos, mas hoje é quase impossível

imaginar que se possa não fazer uso dela, em qualquer segmento.

A informação e o conhecimento são hoje importantes propulsores de uma

economia, crescendo continuamente a participação da indústria de serviços

intensivos em conhecimento no PIB das nações. Pode-se, inclusive, afirmar que o

mundo está vivendo uma nova revolução, baseada em informação e

conhecimento, que afeta o desempenho de todos os setores econômicos e que,

além de tudo, por si só representa um setor altamente dinâmico.

[...]Diferentemente da terra, do trabalho e do capital, tão importantes ao crescimento econômico durante a Revolução Industrial, a força motriz que apóia a revolução tecnológica é intangível: o conhecimento[...] (PARKER, 1999, p. 417).

Na indústria do conhecimento, o software é um dos segmentos mais

dinâmicos, apresentando crescente especialização. É um setor amplamente

difundido e em evolução no mundo todo.

No caso da indústria brasileira de software, o cenário atual revela que ela

tem um conjunto de realidades, mais do que uma identidade única. Mostra-se

como uma indústria em expansão, ávida por novos consumidores e mercados.

Porém, talvez devido ao fato de ser uma indústria com resquícios de uma política

que impediu um grau maior de desenvolvimento no passado, ainda não atingiu a

maturidade, se é que isso é possível, já que se trata de uma área de intenso

dinamismo e desconhecimento de seus próprios limites. Empresas nacionais de

tamanhos diferentes competem igualmente entre si no mercado brasileiro e, mais

do que isso, rivalizam com empresas internacionais, que viram oportunidades de

expansão de seus negócios em um país que se abria para investimentos nesta

área.

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Ao contrário do que ocorre no Brasil, com um grande número de empresas

estrangeiras instaladas ou comercializando seus serviços ou produtos, ainda é

pequena a presença de empresas brasileiras no mercado internacional. Isso se

explica em parte pelo fato de a indústria brasileira de software não ter sido muito

estimulada durante a reserva de mercado e só ter sido exposta à competição

internacional a partir da década de 90, quando houve o abandono da reserva de

mercado e o país começou a ter maior integração de sua economia à economia

internacional.

À parte do que ocorreu antes da década de 90, o Brasil é hoje um

importante mercado e o desafio maior para as empresas nacionais talvez seja

adquirir competitividade internacional, em um mercado altamente promissor, em

forte expansão e atualmente dominado por um grupo restrito de países.

1.1 SITUAÇÃO-PROBLEMA

Considerando como premissa que a internacionalização é uma importante

estratégia das empresas e que constitui fator de sucesso, o presente estudo

busca investigar o seguinte problema de pesquisa:

Quais os principais fatores internos e externos que afetam a

internacionalização de empresas brasileiras de soft ware na perspectiva dos

dirigentes das empresas e dos agentes de fomento à exportação de

sotfware?

1.2 OBJETIVOS DO ESTUDO

O presente estudo, com o intuito de entender melhor o setor de software e

a atuação das empresas brasileiras no âmbito internacional, possui o objetivo

geral e os objetivos específicos.

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1.2.1 Objetivo geral

O objetivo geral deste trabalho consiste em identificar os fatores internos e

externos que afetam a internacionalização de empresas brasileiras de software

na perspectiva dos dirigentes das empresas e dos agentes de fomento à

exportação de software e a sua relação com a participação brasileira no mercado

internacional.

1.2.2 Objetivos específicos

Os objetivos específicos, definidos para responder a questão principal da

pesquisa, são:

• compreender o contexto internacional da indústria de software;

• verificar como é a participação brasileira no mercado internacional de

software;

• identificar os fatores facilitadores ou dificultadores da atuação de

empresas brasileiras no mercado internacional de software, sob a

perspectiva dos dirigentes de empresas e das agências de fomento;

• verificar se existe dentro das empresas desenvolvedoras de software

uma estratégia voltada ao mercado internacional;

• tentar identificar se existe influência do governo na participação das

empresas brasileiras no mercado global de software.

1.3 JUSTIFICATIVAS TEÓRICA E PRÁTICA DO ESTUDO

É inegável que o aumento da competitividade e a globalização da

economia vêm transformando o ambiente em que estão inseridas as empresas.

Considerando esta dinâmica competitiva do mercado, Porter (1990) afirma que a

competitividade de um país depende do acúmulo de competitividade estratégica

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de cada uma de suas empresas na economia globalizada. Reforçando essa idéia,

Previdelli (1996) lembra que, nos dias atuais, dificilmente uma nação pode viver

economicamente isolada.

Para Deresky (1994), a internacionalização é um processo pelo qual uma

empresa gradualmente muda o seu modo de operar em resposta à competição

internacional ou à saturação do mercado doméstico, buscando conquistar novos

mercados e diversificar seus negócios. Dessa maneira, a internacionalização

supõe a presença de um número cada vez maior de empresas atuando em

território estrangeiro, produzindo e/ou distribuindo bens e/ou serviços.

A velocidade com que acontecem as mundanças na área de tecnologia, a

acirrada competição que as empresas enfrentam em seus mercados locais e a

globalização dos mercados modificam o ambiente e exigem que as empresas

demonstrem flexibilidade de adaptação. Neste sentido, novas estratégias devem

ser traçadas e implementadas, pois, do contrário, as empresas correm risco de

perder competitividade. Nesse sentido, Lorange (1982, p. 181) afirma:

[...] se as estratégias não são mudadas para corresponder às condições mudadas, o sistema de planejamento irá produzir uma rigidez organizacional, ao invés da desejada habilidade de enfrentar a mudança com flexibilidade. A revisão anual da estratégia, os encontros de planejamento semestrais e o entendimento geral da estratégia devem ser mudados se necessário para contribuir com a flexibilidade estratégica [...].

A internacionalização é uma estratégia que pode ser adotada pelas

empresas. A adaptação a um mundo globalizado torna essa estratégia uma

importante aliada, quando se pensa em sucesso empresarial e conforme Graeml

(1998), em tempos de competição acirrada, as decisões precisam ser tomadas

com muita agilidade. Afirma o autor que postergar decisões pode apresentar um

custo muito elevado em função do risco de se perder a oportunidade.

No setor de software isso também é verdadeiro, porém alguns fatores

podem interferir no esforço das empresas em internacionalizarem-se, tornando o

processo mais simples ou mais complicado. A relevância do presente estudo está

associada à importância de identificar quais são esses fatores, ou seja,

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determinar o que está contribuindo favoravelmente e o que pode estar

atrapalhando a participação de empresas brasileiras do setor de software no

mercado internacional. Ao se buscar verificar se há alinhamento de percepções

entre empresários e agentes de fomento, acredita-se poder verificar se há

consenso sobre os motivos do bom ou mau desempenho do setor no mercado

internacional. Além disso, espera-se poder contribuir com sugestões do que

poderia ser feito para facilitar a formulação de estratégias de internacionalização,

a partir da análise dos dados coletados nesta pesquisa.

O cenário atual apresenta um conjunto de realidades para a indústria

brasileira de software. Ainda é pequena a sua participação no mercado mundial

de software, se comparada à de outros países (SOFTEX, 2002). Mudar essa

realidade talvez seja o maior desafio para as empresas brasileiras do setor. E

para que isso ocorra, é fundamental entender quais fatores internos e externos

estão influenciando essa participação.

1.3.1 Justificativa teórica

Em todos os campos da atividade econômica, o processo de globalização

ocasiona transformações que, naturalmente, têm influência sobre as empresas e

sobre a forma como elas desenvolvem suas atividades. O fato de estarem cada

vez mais expostas à competição global desperta nas empresas muitos

questionamentos quanto ao direcionamento estratégico a ser adotado.

No setor de software, assim como em muitos outros, participar no mercado

global deixou de ser privilégio de poucas empresas e passou a ser uma exigência

para empresas que desejam se manter competitivas (SOHN et al., 2002).

A indústria brasileira de software vem se desenvolvendo e sua adaptação

ao mercado global somente será possível se forem identificados os fatores que

interferem na formulação de estratégias voltadas à internacionalização, sejam

eles fatores que beneficiam ou que prejudicam essa ação.

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São poucos os estudos acadêmicos existentes no país sobre a

internacionalização das empresas brasileiras do setor, apesar da relevância

dessa área, por envolver serviços de alto valor agregado, intensivos em mão-de-

obra qualificada e não agressivos ao ambiente. Essa carência de estudos

baseados no método científico justifica a realização de pesquisas que levem a

uma melhor compreensão da área para propor políticas e estratégias para ela.

1.3.2 Justificativa prática

O estudo poderá contribuir com elementos que permitam elucidar ou

propiciar um melhor entendimento sobre o processo de formulação de estratégias

voltadas para o mercado internacional pelas empresas brasileiras de software, a

partir da indentificação dos fatores que ajudam e que inibem uma maior

participação no mercado internacional.

Ainda, em termos práticos, a pesquisa poderá contribuir com subsídios a

uma mudança na forma como as empresas e as agências de fomento pensam o

processo de internacionalização, ajudando a melhorar a sua forma de trabalho e

sua participação e, conseqüentemente, do Brasil no mercado internacional de

software.

1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO

Neste primeiro capítulo, apresentou-se a pesquisa. Foi discutido o

problema de pesquisa e delimitados os seus objetivos geral e específicos. Por fim,

procurou-se justificar a relevância do trabalho, antes de apresentar sua estrutura

geral, que fecha o capítulo.

O capítulo 2 apresenta os conceitos fundamentais para o estudo e, no

referecial teórico, mostra o que já foi discutido academicamente sobre a indústria

de software. Apresenta ainda um panorama sobre o contexto da indústria de

software. Traz informações sobre o cenário mundial de software e de TI e sobre a

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participação do Brasil neste cenário. Este capítulo discute ainda a indústria

brasileira de software e o mercado para seus produtos.

O capítulo 3 trata sobre a metodologia empregada na pesquisa. Todos os

procedimentos metodológicos concernentes são ali apresentados: qual o tipo de

pesquisa, sua classificação, a metodologia usada para a análise de dados. Aí se

apresenta o design e a delimitação da pesquisa, além de suas limitações.

A descrição e análise dos dados coletados na pesquisa de campo são

feitas no capítulo 4.

Na seqüência, são apresentadas as conclusões do estudo e as

recomendações para estudos futuros.

As referências e os apêndices encerram o trabalho.

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2 A INTERNACIONALIZAÇÃO E A INDÚSTRIA DE SOFTWARE

Com a finalidade de embasar teoricamente o estudo, pesquisaram-se

autores que abordam os temas relacionados à internacionalização e ao setor de

software. Serão discutidos neste capítulo aspectos sobre internacionalização e

também conceitos sobre software, sua caracterização e a evolução histórica da

indústria de software.

2.1 A INTERNACIONALIZAÇÃO

Uma das dificuldades que as empresas enfrentam, atualmente, dentro da

visão estratégica, é o processo da globalização (DOMINGOS et al., 2002). De

acordo com Rocha (2002), embora não seja recente, esse processo vem

assumindo um ritmo acelerado nos últimos anos. Para Versiani (1995), uma das

principais características da globalização é apresentar fortes doses de incerteza,

obrigando as empresas a serem ágeis e terem velocidade em suas operações.

Para este autor, a globalização exige presença em outros mercados, aumento de

produtividade, redução de custos, melhoria na qualidade, qualificação de pessoas

e investimentos em novas tecnologias. Para Bassi (1999), a globalização é um

processo de integração mundial e em diversos setores. Além do setor econômico,

que quase sempre é encarado como único setor envolvido na globalização, os

setores políticos, ambientais, culturais, de comunicações, entre outros,

constituem o todo no processo de formação do conceito de globalização.

Dentro desse aspecto de globalização, uma possibilidade estratégica que

surge é a de uma empresa internacionalizar-se. Esta é uma ação que pode ser

adotada quando se almeja a expansão de negócios, aumento de competitividade,

busca de novas tecnologias, etc. Mas, para que se possa discutir a

internacionalização como estratégia, esta deve, primeiramente, tentar ser

entendida em seu conceito, pois conforme observam Welch e Luostarinen (1988),

o próprio termo ainda não está claramente definido. Segundo estes autores,

internacionalização compreende o processo de envolvimento em operações

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internacionais, sejam elas de entrada ou de saída. Para Johanson e Vahlne

(1990), internacionalização é apenas o conjunto de operações que envolvem os

negócios internacionais. Para Domingos et al. (2002), o termo internacionalização

tem sido relacionado às práticas das empresas voltadas para atividades externas,

ou seja, atividades que ultrapassam as fronteiras do país de origem. Justificando

a concepção ampla do termo internacionalização, Wech e Loustarinen (1988)

observam que transpor barreiras internacionais, estar inserido em um contexto

além fronteiras, deslocar atividades, adquirir conhecimento, habilidade e

experiência internacional são fatores que, ao mesmo tempo em que formam o

conceito de internacionalização, ajudam a melhor entendê-lo.

A internacionalização tem sido motivo de preocupação pelas empresas.

Isso se dá porque ela se constitui em uma nova forma de competição e exige

compreensão. Segundo Bartlett (1995), os movimentos de empresas ao exterior

inicialmente eram motivados pela possibilidade de se obter matéria-prima e/ou

mão-de-obra barata, ou seja, o processo tradicional de internacionalização se

justificava pela exploração de recursos. Em um segundo momento, o intuito das

empresas foi de penetrar em outros mercados para desenvolver produtos ou

estratégias. Atualmente, as empresas se internacionalizam com o intuito de se

manterem informadas sobre os movimentos internacionais que são vitais para a

sobrevivência em uma economia globalizada. Conforme afirma Caldeira (2002), o

aumento da competitividade e a globalização da economia apresentam um novo

ambiente para a realização de negócios. Cada vez mais as empresas começam a

direcionar esforços para poderem estar aptas a participar da competição global e,

para isso, faz-se necessário que adotem estratégias competitivas adequadas ao

processo de internacionalização.

A internacionalização e o modelo de Uppsala

As operações internacionais se caracterizam por ultrapassar fronteiras

nacionais e a internacionalização normalmente é uma conseqüência do

crescimento das organizações que, ao se depararem com um mercado nacional

já saturado, em que não conseguem mais espaço para expandir a presença de

seus produtos, buscam novos mercados.

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O modelo de Uppsala, formulado por Johanson e Vahlne (1977), e assim

conhecido em virtude de esses pesquisadores estarem associados à Escola de

Uppsala, na Suécia, explica os passos para a internacionalização das empresas,

a partir de uma abordagem comportamental. Estudos desenvolvidos por

Johanson e Wiedersheim-Paul (1975) em empresas suecas haviam mostrado que

existiam características semelhantes entres as empresas pesquisadas no

processo de internacionalização. Esses autores denominaram estas

características de “cadeia de estabelecimento” e “distância psíquica”,

considerando que, de maneira geral, quanto maior o conhecimento de

determinado mercado, maior era o nível de investimentos nele.

Segundo o modelo de Uppsala, as empresas inicialmente buscam sua

internacionalização em países psiquicamente próximos ao seu país de origem e

que tenham as mesmas características em termos de desenvolvimento,

linguagem, aspectos culturais, entre outros, pois com isso diminui-se o grau de

incerteza no processo de internacionalização. Hornell et al., apud Hilal e Hemais

(2001), realizaram um ranking de países e de sua distância psíquica em relação à

Suécia e concluíram que as empresas suecas tinham grande propensão a realizar

investimentos em países como Dinamarca, Noruega e Finlândia, entre outros, por

apresentarem baixa distância psíquica da Suécia. Somente de forma gradual

tendiam a penetrar em mercados mais distantes.

O modelo de Uppsala apregoa também que o processo de

internacionalização se dá em quatro estágios de desenvolvimento gradual:

1) atividades de exportação irregulares, ou seja, exportações esporádicas;

2) atividades de exportação por meio de representantes no exterior;

3) atividades de exportação por meio de subsidiárias de vendas estabe-

lecidas no mercado externo;

4) a implantação de plantas de unidades fabris no mercado externo.

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É importante destacar, na análise do modelo de Uppsala, o seu aspecto

incremental. As empresas, ao definirem seus processos de internacionalização,

utilizam duas variáveis que servem de base para a tomada de decisões. A

primeira é o conhecimento do mercado e está associada ao mercado-alvo, ou

seja, à identificação de que mercado, exatamente, se quer atender. A segunda é

o comprometimento e diz respeito ao montante de recursos investidos em

determinado mercado. Todo esse processo, entretanto, é gradual e, à medida

que as empresas vão adquirindo experiência, podem aumentar o montante de

investimentos e, conseqüentemente, suas atividades internacionais.

Surgiram várias críticas ao modelo de Uppsala, devido ao fato de não ser

possível aceitar que um modelo seja aplicável a todas as empresas, em virtude

de características específicas de cada uma. Com isso, etapas apresentadas no

modelo podem ser eliminadas. De acordo com Parker (1999), existem evidências

cada vez mais comuns de organizações cujos investimentos internacionais foram

significativos desde a sua fundação, o que não justifica um processo de

internacionalização baseado em um sistemático conjunto de estágios. Contudo,

para Forte e Sette Júnior (2005), mesmo que até certo ponto o modelo seja

questionável, as críticas não o inviabilizam e a validade do modelo pode ser

julgada positivamente em muitos aspectos.

2.2 A INDÚSTRIA DE SOFTWARE

Ao se analisar a palavra software, constata-se que é uma junção de soft,

do inglês (macio, mole, flexível) mais ware (produto, artigo, manufaturado) e este

termo foi originado analogamente ao termo hardware, de hard (duro, sólido,

inflexível, rígido) mais ware, sendo este último a representação do componente

ou conjunto de componentes físicos de um computador e seus periféricos. O

software, por sua vez, representa a parte abstrata de um sistema computacional.

São os programas que controlam e operam computadores ou sistemas

computacionais ou que providenciam as aplicações ou funções que rodam nestes

sistemas (QUINTAS apud SAMPAIO, 2006). O termo software é utilizado para

designar o conjunto de instruções lógicas que fazem com que o computador

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realize determinadas funções, agrupadas de maneira organizada em programas

(SOUSA, 2004).

Para Sousa (2004), indústria de software é o conjunto de empresas que

possuem capacitações para a prestação de serviços nas etapas do processo de

construção de software. Essa definição de indústria de software baseia-se na

definição de serviços, proveniente da tradicional divisão entre setor primário,

secundário e terciário, que se apóia na distinção entre atividades que resultam

em trocas de bens materiais e todas as demais, que não possuem um claro

relacionamento com algo tangível, sendo identificadas como serviços. Dentro

desta lógica, considera-se que a indústria de software se constitui de empresas

cuja atividade principal se concentra na troca de serviços de construção de

software com o mercado (TEIXEIRA; GUERRA, 2002). De acordo com Castells

(2006), a indústria de software teria o mesmo significado que a indústria de

tecnologia da informação (TI), a qual pode ser entendida como a indústria que

produz software, serviços e hardware, este último não podendo ser separado em

função da sua necessidade para a utilização do software. Software e hardware

estão inexoravelmente ligados (SHAPIRO; VARIAN, 1999).

A história da indústria de software teve seu marco introdutório por volta dos

anos 60, época em que o software era considerado parte integrante do hardware

e não havia comercialização como componente distinto das máquinas. O preço

era estabelecido sobre o conjunto da solução. Entretanto, em certo momento,

ficou evidente que o desenvolvimento de software envolvia custos, os quais eram

iguais ou mais altos que os envolvidos na produção das máquinas. Esse aspecto

foi decisivo para que se iniciasse um movimento para apropriação de um valor

comercial ao software, desmembrando-o do hardware. A partir dos anos 1970, na

visão de Heeks, apud Sousa (2004), ocorreu uma transformação na indústria de

software, marcada por altas taxas de crescimento, o que permitiu a expansão das

fronteiras do desenvolvimento para outros centros, proporcionando a

internacionalização dos serviços de software.

No Brasil, a trajetória da indústria de software também esteve,

originalmente, atrelada à trajetória do desenvolvimento de hardware. Até o início

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da década de 90, período em que vigorava no país a reserva de mercado no

setor de informática1, a produção de software ficava em segundo plano, pois os

incentivos eram para as empresas produtoras de hardware. Somente a partir do

fim da reserva de mercado, em 1992, é que se começou a discutir uma política de

incentivos para as empresas produtoras de software no Brasil (SOFTEX, 2002).

Com relação à indústria de software, Silva Filho (2003) afirma que o

potencial do Brasil no exterior é pouco conhecido, mas que a demanda para a

internacionalização da produção de software cria uma boa perspectiva para o

país. Existem desafios a serem superados e as empresas brasileiras, em alguns

setores, já se destacam, embora precisem continuar se aprimorando para serem

competitivas no mercado global.

2.3 SERVIÇOS

Considerando software como um serviço de transferência de conhecimen-

tos, é necessário realizar aqui o resgate dos conceitos de serviços.

De acordo com Lovelock e Wright (2001), devido a sua diversidade,

tradicionalmente era difícil definir os serviços. Do mesmo modo, difícil também

era compreender o modo pelo qual os serviços eram criados e entregues aos

clientes, porque muitos insumos e resultados são intangíveis. Duas definições

que capturam a essência dos serviços são as seguintes:

• serviço é um ato ou desempenho oferecido por uma parte à outra.

Embora o processo possa estar ligado a um produto físico, o

desempenho é essencialmente inatingível e normalmente não resulta

em propriedade de nenhum dos fatores de produção (LOVELOCK;

WRIGHT, 2001);

1 Lei de informática – Lei 7232 de outubro de 1984, que estabelecia a política de informática

brasileira.

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• serviço é a performance (execução, desempenho) ou experiência e via

de regra não pode ser tocado ou armazenado (GRÖNROOS, 1990).

2.3.1 Caracterização dos serviços

Berkowitz et al. (2000) consideram que há quatro características nos

serviços: intangibilidade, inconsistência, inseparabilidade e inventário.

• intangibilidade: os serviços são desempenhados, isto é, não são objetos

e por isso são intangíveis. Fica mais difícil a avaliação pelos

consumidores;

• inconsistência: os serviços dependem das pessoas que os fornecem e a

sua qualidade está diretamente ligada às capacidades de quem os

desempenha e fornece;

• inseparabilidade: existe dificuldade em separar a prestação do serviço

do próprio serviço. A interação do consumidor com o prestador de

serviço é o que determina a avaliação. A interação depende do tipo de

serviço, podendo ser total (consulta médica), parcial (conserto de

carro) e nula (serviço bancário eletrônico);

• inventário: necessário para bens físicos, porém desnecessário para

serviços. Seu fornecimento está condicionado às pessoas que os

oferecem.

De acordo com Graeml (2000, p. 34), os produtos possuem duas

dimensões: uma física e uma de informação. Os produtos industriais tendem a

ser mais físicos, enquanto os serviços são quase só informação.

2.3.2 Software caracterizado como serviço

Para Davenport e Prusak (1998), o setor de software é um novo tipo de

indústria baseado em conhecimento. Esses autores declaram que as empresas

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de software vendem produtos, que em essência, são idéias, propriedade

intelectual e por esse motivo pode-se classificar o software como um serviço, ou

seja, são funções em uma determinada mídia. Para Arbache (2002), o setor de

software também deve ser classificado como um serviço, pois apresenta

características que são inerentes aos serviços: é intangível (não pode ser

tocado); invisível (embora seus efeitos possam ser sentidos) e indivisível (não

funciona em partes). Além disso, existe muita dificuldade em estabelecer-lhe um

valor. O software também é intransferível, no sentido de que foi feito para um

usuário, muito embora possa ser copiado. Este mesmo autor ainda afirma que a

intransferibilidade se refere, no entanto, não ao software em si, mas ao seu efeito

sobre o computador.

2.4 CONTEXTO DA INDÚSTRIA DE SOFTWARE

Este tópico tem como objetivo descrever o contexto da indústria de

software, abordando primeiro o cenário internacional e, em um segundo

momento, apresentando um panorama e indicadores sobre a participação da

indústria brasileira de software no mercado internacional.

2.5 O MERCADO INTERNACIONAL DE SOFTWARE

No cenário econômico atual, poucas indústrias têm apresentado

crescimento tão rápido quanto a indústria de tecnologia da informação (TI) e,

particularmente, o segmento software e serviços relacionados (OECD, 2002).

Essa afirmação da Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento

(OECD) é baseada em uma previsão sobre o mercado mundial de software e

serviços relacionados, que deve saltar de um valor total de US$ 90 bilhões em

1997 para US$ 900 bilhões em 2008, o que representa um crescimento de mil por

cento em uma década. Os números do mercado mundial de software

apresentados ao final de 2005 já apresentam valores da ordem de US$ 662

bilhões (ABES, 2006), mostrando que se não forem atingidos os US$ 900 bilhões

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projetados, chegar-se-á muito próximo disso, confirmando a rapidez com que

cresce a indústria de software.

Ao se fazer a análise do mercado internacional de software, deve-se

salientar a participação dos Estados Unidos, que responde por US$ 287,5 bilhões

ou 43,4% do mercado mundial, demonstrando a sua hegemonia neste setor. Ao

se fazer a comparação do total atingido pelos Estados Unidos com o Japão,

segundo colocado neste mercado, nota-se que a participação americana é quase

cinco vezes maior que a do Japão, conforme mostra a Tabela 1, a seguir.

Tabela 1 Mercado mundial de software

PAIS VOLUME (US$ bilhões) PARTICIPAÇÃO (%)

Estados Unidos Japão Reino Unido Alemanha França Canadá Itália Austrália Espanha Suécia Holanda Brasil Suíça China Bélgica Demais países Total

287,5 63,2 59,5 41,3 36,8 17,9 16,9 16,2 11,6 10,1 9,5

7,23 6,9 6,9 6,3

64,17 662

43,4 9,5 9,0 6,2 5,5 2,7 2,5 2,4 1,7 1,5 1,4

1,09 1,05 1,05 0,95 9,8 100

Fonte: Abes (2006).

2.6 O MERCADO MUNDIAL DE TI

De acordo com Castells (2006), a indústria de TI (tecnologia da

informação) é a indústria que engloba o montante produzido de software e

serviços, mais o que foi produzido de equipamentos neste setor, chamado de

hardware. A TI afeta profundamente o desempenho de todos os setores

econômicos, sejam públicos ou privados e é, por si só, um setor de grande peso

econômico (TAURION, 2004).

No cenário mundial, a indústria de TI tem se mostrado também em grande

evolução e seu crescimento demonstra que de fato é uma importante fonte de

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oportunidades. A maioria dos países em desenvolvimento busca uma maior

participação na indústria de TI, pois é uma importante forma de promoção de

inovação e produção de crescimento econômico, além de geração de divisas com

a exportação de produtos, serviços e soluções. Para se ter uma idéia de sua

representatividade, o mercado mundial de TI apresentou, em 2005, valores que

chegaram a US$ 1,08 trilhão. Mais uma vez, os Estados Unidos ocupam a

primeira posição no ranking, com cifras que atingiram US$ 416 bilhões, seguidos

do Japão, com US$ 108 bilhões, e do Reino Unido, com US$ 73 bilhões. A

Tabela 2 mostra como está a indústria mundial de TI.

Tabela 2 Cenário mundial do mercado de TI

CENÁRIO MUNDIAL DO MERCADO DE TI (EM US$ BI)

PAÍS VALOR PARTICIPAÇÃO (%)

Estados Unidos

Japão

Reino Unido

China

Espanha

Brasil

Rússia

Índia

México

Israel

Irlanda

Demais Países

Total

416,0

108,0

73,0

30,0

17,0

11,9

11,9

9,1

7,6

3,8

2,9

388,8

1080,0

38,52

10,00

6,76

2,78

1,57

1,10

1,10

0,84

0,70

0,35

0,27

36,00

100,00

Fonte: Abes (2006).

Na indústria de TI, uma observação merece destaque: empresas que se

destacavam como grandes produtoras de hardware, e que tinham suas receitas

quase que totalmente provenientes deste segmento, passaram a investir em

desenvolvimento de software e serviços especializados de consultorias, fazendo

com que o padrão de competição na indústria ficasse muito mais acirrado

(TAURION, 2004).

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Ao se fazer uma divisão na indústria de TI, nota-se que os serviços são

responsáveis por 40,8% do mercado, ficando o hardware com 38,7% e o software

com 20,5% do total (ABES, 2006). A Tabela 3 mostra como está a distribuição do

mercado mundial de TI, entre software, hardware e serviços.

Tabela 3 Distribuição da Indústria de TI

DISTRIBUIÇÃO DA INDÚSTRIA DE TI

SERVIÇOS HARDWARE SOFTWARE

40,8% 38,7% 20,5% Fonte: Abes (2006).

2.7 A INDÚSTRIA DE SOFTWARE NO BRASIL

De acordo com Taurion (2004), a indústria de software brasileira pode ser

considerada uma das principais forças entre os países em desenvolvimento.

Ainda, segundo este autor, o crescimento desta indústria no país tem sido grande

nos últimos anos, com saltos significativos de melhoria em capacitação e

competitividade.

A partir de 1990, com o abandono da reserva de mercado, a indústria de

informática no Brasil começou a ter uma política orientada ao mercado (SOFTEX

2002). A competição global obrigou o Brasil a abandonar uma política que

privilegiava apenas o hardware e que tratava o software como um subproduto das

vendas de hardware. A implementação da Lei 8.248/912 e a criação em 1996 da

Sociedade SOFTEX, uma organização não-governamental com o objetivo de

coordenar o Programa Softex 20003, alcançaram resultados positivos no que diz

2 Lei que estabelecia isenções a empresas de hardware na medida em que houvesse

compromisso em manter níveis de produção local e em desenvolver conteúdo e P&D locais, substituída pela Lei 10.176/01 que tinha o mesmo escopo, porém obrigava que fossem feitas aplicações dos incentivos nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

3 Programa Nacional de Software para Exportação. Programa do Ministério da Ciência e Tecnologia para estimular o surgimento de uma indústria brasileira de software voltada para a exportação.

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respeito à promoção do desenvolvimento e exportação de software. Porém, o

volume de recursos aportados ao Programa Softex ficou aquém do necessário

para alavancar ganhos de escala ou atingir um número de empresas compatível

com uma estratégia focada em desenvolvimento de produtos (SOFTEX, 2002).

De acordo com estudo realizado pela ABES (2006), atualmente o mercado

brasileiro de software e serviços ocupa a 12ª posição no ranking do mercado

mundial. O montante que o Brasil movimentou neste setor, no ano de 2005,

alcançou a cifra de US$ 7,23 bilhões, ou seja, 0,95% do PIB (produto interno

bruto) brasileiro. No que diz respeito somente a software, o total movimentado

chegou a US$ 2,72 bilhões, o que representa 1,2% do mercado mundial e 41% do

mercado latino-americano, no qual o Brasil ocupa a primeira posição.

Ao se fazer uma análise do mercado total de TI na América Latina, os

valores alcançaram em 2006 o montante de US$ 30,6 bilhões, sendo que o Brasil

teve uma representatividade de 39% neste total, chegando ao total de US$ 11,9

bilhões, ocupando a primeira posição também no mercado total latino-americano

de TI, em que o México aparece na segunda posição, com uma participação de

7,6 bilhões de dólares.

Os valores apresentados revelam que o Brasil é hoje um importante

mercado, com uma demanda alta e com boas perspectivas de crescimento.

Quando se fala do mercado brasileiro de software, é importante destacar

que, embora tenha movimentado a cifra acima mencionada, em grande parte este

mercado é composto por programas desenvolvidos fora do Brasil. Apenas 29% do

total do mercado brasileiro de software é abastecido por software desenvolvido

internamente.

O gráfico a seguir ilustra a representatividade nacional e estrangeira no

desenvolvimento de software.

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Figura 1 Participação nacional e estrangeira no desenvolvimento de programas.

Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de dados da Abes (2006).

O mercado brasileiro na atualidade é composto por aproximadamente

7.760 empresas que se dedicam ao desenvolvimento, produção e distribuição de

software e prestação de serviços. Deste total, 1.850 empresas se dedicam ao

desenvolvimento e produção de software; 4.190 empresas têm como atividade a

distribuição e revenda de software e 1.720 empresas atuam no setor de

prestação de serviços (ABES, 2006).

Ao se analisar os números sobre as empresas que atuam no setor de

software, percebe-se que o total de empresas que atuam no desenvolvimento de

software apresenta uma pequena diferença em relação às empresas que se

dedicam à prestação de serviços, porém a maior concentração de empresas que

atuam neste setor está no grupo que se dedica à comercialização e distribuição.

A Figura 2, a seguir, apresenta a distribuição das empresas do setor de

software por atividade.

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Figura 2 Empresas do setor de software por atividade

Fonte: O autor, a partir de dados da Abes (2006).

Entre as empresas que atuam no desenvolvimento e produção de software,

1742 empresas, que correspondem a 94% do total, são classificadas como micro

ou pequena empresa, com base na classificação do Sebrae, que leva em conta o

número de funcionários.

Tabela 4 Porte das empresas que desenvolvem software no Brasil.

PORTE DAS EMPRESAS QUE DESENVOLVEM SOFTWARE

TAMANHO DA EMPRESA QUANTIDADE PARTICIPAÇÃO (%)

MICROEMPRESAS

PEQUENAS EMPRESAS

MÉDIAS EMPRESAS

GRANDES EMPRESAS

667

1075

94

14

36%

58%

5%

1% Fonte: O autor, a partir de dados da Abes (2006).

Ao se analisar o mercado consumidor interno de software, que movimentou

US$ 2.685 milhões em 2005, de um total de US$ 2.720 milhões, conforme já

apresentado, uma concentração maior apresenta-se nos setores industrial e

financeiro, responsáveis por 50% de mercado usuário, seguidos por serviços,

comércio, governo, agroindústria e outros.

TOTAL DE EMPRESAS DO SETOR DE SOFTWA RE E SERVIÇOS

SOFTWARE

6040 EMPRESAS SERVIÇOS

1720 EMPRESAS DESENVOLVIMENTO

1850 EMPRESAS

COMERCIALIZAÇÃO

4190 EMPRESAS

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Tabela 5 Mercado consumidor de software por setor

MERCADO CONSUMIDOR DE SOFTWARE POR SETOR

SETOR VOLUME EM US$ MI PARTICIPAÇÃO

INDÚSTRIA

FINANÇAS

OUTROS

SERVIÇOS

COMÉRCIO

GOVERNO

ÓLEO E GÁS

AGROINDÚSTRIA

TOTAL

742,4

607,9

481,4

377,2

204,4

172,4

70,6

28,7

2.685,0

27,6%

22,6%

17,9%

14,0%

7,6%

6,4%

2,6%

1,1%

100% Fonte: O autor, a partir de dados da Abes (2006).

2.8 O MERCADO BRASILEIRO EXPORTADOR DE SOFTWARE

O mercado mundial, assim como o mercado brasileiro de software, é um

mercado em ascensão, mas quando se analisam as exportações brasileiras de

software, pode-se afirmar que estas são ainda incipientes. De acordo com Furlan

(2003), existe boa qualidade no software brasileiro, porém a participação nas

exportações está muito abaixo do potencial. Esse pesquisador afirma ainda que,

em razão das necessidades de continuar o seu caminho de desenvolvimento, as

empresas brasileiras poderiam estar aproveitando melhor as oportunidades de

exportação dos seus produtos de boa qualidade. Stefanuto (2004) afirma que a

indústria de software brasileira se desenvolveu junto à indústria de hardware e

este formato teve implicações no processo de produção de software do Brasil.

Segundo este autor, o surgimento de atividades empreendedoras em software

era desprovida de cultura integradora, com pouca capacidade de laços

cooperativos e com elevada fragmentação regional. Aliado a tudo isso, havia

baixa inserção externa da indústria brasileira de software. Para Gomel (2005),

existe uma baixa tendência exportadora das empresas brasileiras do setor,

opinião corroborada por Sampaio (2006), que afirma que, ao contrário de outros

países, cujas indústrias de software voltaram-se para o mercado externo, a

indústria de software brasileira, favorecida pela demanda interna, criou um viés

antiexportação, ficando desvinculada do padrão de acumulação dos grandes

centros em termos de inserção mundial. Para Roselino (2006), a indústria

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brasileira de software apresenta aspectos promissores, apesar dos seus

resultados externos pouco expressivos até o momento.

O baixo índice de exportações brasileiras tem sido apontado como um

indicador de debilidade da indústria brasileira de software frente a outros países

que apresentam taxas de internacionalização muito maiores para este segmento

(SOFTEX, 2002).

No estudo realizado pela Softex, em parceria com o MIT (SOFTEX, 2002),

para um melhor entendimento sobre o mercado exportador de software, fez-se

uma divisão entre produtos e serviços na indústria de software. O estudo mostrou

que, para se ter empresas competitivas internacionalmente nestas áreas, é

necessário que existam investimentos consistentes ao longo de vários anos, a fim

de sedimentar competências e capacidades.

No que diz respeito à exportação de software e serviços, Estados Unidos,

Alemanha e outros grandes países desenvolvidos se destacam. Porém, países

como Índia, Irlanda e Israel possuem participação significativa, sendo que desses,

a Índia merece destaque especial. Em grande parte, o mercado indiano cresce a

partir de contratos para trabalho de baixo valor agregado, principalmente

atendendo os Estados Unidos, em função de uma diferença grande nos custos de

mão-de-obra qualificada. O conhecimento da língua inglesa é um outro fator

importante que acaba contribuindo para a Índia adquirir uma vantagem

competitiva, quando se compara a outros países.

Analisando o Brasil, esforços têm sido feitos para o aumento de sua

participação no mercado mundial, mas o país ainda está longe de alcançar

expressividade, se comparado a outros países. O Brasil, em 2005, exportou US$

178 milhões em software e serviços, sendo US$ 35,6 milhões (20%) em software

e, o restante, US$ 142,4 milhões, em serviços (ver Figura 3). Há uma estimativa

de que a Índia exportará US$ 50 bilhões em 2008 (TAURION, 2004). Portanto,

mesmo que ocorra um elevado crescimento das cifras de 2005 até 2008, é difícil

imaginar que se atinjam valores próximos no Brasil do que deverá exportar a

Índia.

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A questão que se apresenta para o Brasil é: é possível chegar a valores de

exportação significativamente maiores do que atualmente se apresentam? Muitos

defendem que sim, principalmente por ter o Brasil já alcançado maturidade

suficiente para entender e definir uma política eficiente para esta área e por

apresentar alguns exemplos de sucesso em desenvolvimento de software, como,

a área de e-business; ERPs; a informatização bancária; as eleições

informatizadas; as compras governamentais, entre outras (SOFTEX, 2002;

TAURION, 2004). O que parece estar faltando é uma orientação ao mercado

externo e, na opinião dos que estudam o setor, a eliminação de alguns entraves

que ainda devem ser atacados (STEFANUTO, 2004; GOMEL, 2005).

Figura 3 Exportação brasileira de software e serviços de software

Fonte: O autor, a partir de dados da Abes (2006).

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3 METODOLOGIA

Este capítulo visa a apresentar como a pesquisa foi elaborada. Abordará

alguns conceitos sobre o planejamento da pesquisa; sua natureza e concepção;

em seguida, apresentará o método utilizado e trará algumas considerações sobre

a pesquisa quantitativa e qualitativa e outras informações que nortearam a

realização deste estudo, que visa a responder a seguinte pergunta: Quais os

principais fatores internos e externos que afetam a internacionalização de

empresas brasileiras de software na perspectiva dos dirigentes das

empresas e dos agentes de fomento à exportação de s otfware?

3.1 PLANEJAMENTO DA PESQUISA

Segundo Mattar (1993), pesquisas diferentes implicam procedimentos

distintos para coleta e análise de dados, de forma a atender tecnicamente aos

objetivos da pesquisa. Como afirmam Malhotra et al. (2005, p. 54), as pesquisas

devem ser concebidas, em uma forma ampla, como sendo exploratórias ou

conclusivas e é isso que define a estrutura para a realização do projeto de

pesquisa.

3.2 NATUREZA DA PESQUISA E SUA CONCEPÇÃO

A natureza de uma pesquisa pode ser exploratória ou formuladora,

descritiva ou causal e a natureza que determinado estudo assume depende do

objetivo específico para o qual a pesquisa está dirigida (MATTAR, 1993;

MALHOTRA et al., 2005).

As pesquisas exploratórias ou formuladoras têm como objetivo fundamental

a descoberta de idéias e intuições e utilizam-se de processos de pesquisa

flexíveis, de modo a permitir a consideração de aspectos diferentes sobre

determinado fenômeno. Sua aplicação é para casos em que se pretende uma

familiarização com o fenômeno ou sua compreensão. No caso de estudos

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descritivos, o objetivo é apresentar as características de uma situação e verificar

a freqüência com que certo fenômeno ocorre. Os estudos causais, por sua vez,

procuram verificar uma hipótese causal entre determinadas variáveis.

Característica dos estudos causais é a necessidade de processos que não

apenas reduzam o viés, mas também permitam inferências a respeito da

causalidade.

Para o estudo em questão, em se tratando de planejamento, utilizou-se o

planejamento de pesquisa exploratória e, com relação à natureza, a opção do

estudo é pela natureza descritiva, que é a mais ajustada aos objetivos propostos.

3.3 A ESCOLHA DO MÉTODO PARA A PESQUISA

Após ter sido definida a natureza da pesquisa, o próximo passo a ser dado

é a definição do método de pesquisa mais adequado ao trabalho.

Com base na classificação de Isaac e Michael (1999) e Mattar (1993), o

presente trabalho combina o método descritivo com o estudo de campo.

3.4 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA QUANTO ÀS SUAS VARIÁVEIS

Em linhas gerais, qualquer pesquisa se caracteriza como um esforço para

a descoberta de novas informações e para verificação e ampliação do

conhecimento existente. Não importa qual seja o objeto ou campo de estudo.

Para um melhor entendimento de suas variações, classificam-se as pesquisas

como pesquisas quantitativas e pesquisas qualitativas.

3.4.1 Pesquisa quantitativa

Segundo Godoy (1995), em um estudo quantitativo, o pesquisador conduz

o seu trabalho a partir de um plano estabelecido, a priori, com hipóteses

claramente especificadas e variáveis operacionalmente definidas.

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A preocupação de um estudo quantitativo é com a medição objetiva e a

quantificação dos resultados. O que se busca neste tipo de estudo é a precisão,

tentando evitar distorções na etapa de análise e interpretação de dados,

garantindo assim uma margem de segurança em relação às inferências obtidas.

Ainda, de acordo com a autora, a pesquisa quantititativa procura enumerar e/ou

medir os eventos estudados e emprega, para a análise de dados, um instrumental

estatístico.

3.4.2 Pesquisa qualitativa

A pesquisa qualitativa, ainda segundo Godoy (1995), de maneira diversa

da quantitativa, não tenta enumerar ou medir os eventos estudados e tampouco

emprega instrumental estatístico na análise de dados. À medida que o estudo se

desenvolve, parte das questões ou focos de interesse vão se definindo. De

acordo com Vieira (2004), a pesquisa qualitativa pode ser definida como a que se

fundamenta principalmente em análises qualitativas. Salienta o autor que, o fato

de não utilizarem técnicas estatísticas, não transforma as análises qualitativas em

especulações subjetivas. Esse tipo de pesquisa envolve a obtenção de dados

descritivos sobre lugares e processos interativos, pelo contato direto do

pesquisador com a situação estudada e procura compreender fenômenos

segundo a perspectiva dos sujeitos, ou seja, dos participantes da situação em

estudo. A análise de dados na pesquisa qualitativa tem um enfoque indutivo, pois

não se parte de hipóteses iniciais e por essa razão não se tem a necessidade de

confirmação de hipóteses como na pesquisa quantitativa. Ela se concentra mais

em descrições longas do que em quadros estatísticos. Expressões como

“pesquisa de campo” e “pesquisa naturalística” podem ser vistas como sinônimos

de pesquisa qualitativa (GODOY, 1995). Isto ocorre com a pesquisa “de campo”

por conduzir o estudo no ambiente natural dos sujeitos, diferentemente dos

estudos desenvolvidos em laboratórios ou ambientes controlados pelo

investigador. No caso da pesquisa “naturalística”, dá-se pela idéia implícita de

que os sujeitos são observados em seu hábitat, de forma não-intervencionista.

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Conforme afirma Godoy (1995), na abordagem qualitativa de um estudo,

valoriza-se o contato direto do pesquisador com o ambiente e a situação que está

sendo estudada. O pesquisador passa a ser, dessa maneira, o instrumento mais

confiável de observação, seleção, análise e interpretação dos dados coletados.

De acordo com Silva e Menezes (2001), a pesquisa qualitativa considera

que existe uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um

vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito, que não

pode ser traduzido em números. Como o pesquisador participa junto com o

pesquisado, a pesquisa qualitativa passa a ter um perfil mais humanístico.

Creswell (2003) diz que, enquanto a pesquisa quantitativa não impõe valores e só

reporta a realidade, a qualitativa é fortemente influenciada pelos valores do

pesquisador. Afirma ainda, este mesmo autor, que a pesquisa quantitativa pode

negligenciar a construção social e cultural das variáveis e que a pesquisa

qualitativa, ao contrário, mostra atitudes e aprofunda o entendimento de

fenômenos sociais, pois o pesquisador necessita considerar o fator social de

maneira holística. Nas pesquisas qualitativas, “o ambiente e as pessoas nele

inseridas devem ser olhados holisticamente: não são reduzidos a variáveis, mas

observados como um todo” (GODOY, 1995).

3.4.3 Abordagem metodológica da pesquisa

Os estudos denominados qualitativos têm como preocupação fundamental

o estudo e a análise do mundo empírico em seu ambiente natural e os

pesquisadores que adotam essa abordagem têm preocupação maior com o

processo do que simplesmente com os resultados ou o produto. Em geral, os

investigadores qualitativos têm o interesse de verificar como determinado

fenômeno se manifesta nas atividades, procedimentos e interações diárias.

Tentam compreender os fenômenos que estudam a partir da perspectiva dos

participantes.

Godoy (1995) afirma que, “quando um estudo é de caráter descritivo e o

que se busca é o entendimento do fenômeno como um todo, na sua

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complexidade, é possível que uma análise qualitativa seja a mais indicada”. Ainda

segundo a autora, quando se trata de problemas pouco conhecidos e a pesquisa

é de cunho exploratório, o enforque qualitativo muitas vezes se torna o mais

apropriado.

Em função do exposto, o presente estudo, que já foi caracterizado como

sendo um estudo de campo, descritivo e de cunho exploratório, devido ao

problema estabelecido, foi desenvolvido adotando-se uma abordagem

metodológica qualitativa, que se mostrou mais adequada e compatível com os

seus intuitos.

3.5 DELIMITAÇÃO E “DESIGN” DA PESQUISA

O presente estudo já foi caracterizado como sendo um estudo de campo,

descritivo e, em sua abordagem metodológica, caracterizado como uma análise

qualitativa. A perspectiva qualitativa em um estudo supõe uma interação do

pesquisador com o pesquisado, como já foi discutido, devido à forma como é feita

a coleta de dados.

De acordo com Godoy (1995), muitos pesquisadores qualitativos fazem

seus trabalhos de campo por meio de observação e entrevistas, destinando muito

tempo ao trabalho, no local da pesquisa e em contato direto com o pesquisado.

Em algumas situações, pode o pesquisador não deixar clara ao pesquisado a

intenção original da pesquisa, ou evita expô-la a todo o grupo, para evitar a

indução de respostas ou uma postura diferente daquela que rotineiramente

ocorreria. Afirma esta mesma autora que a neutralidade do pesquisador pode

evitar envolvimento com os sujeitos, entretanto, há também os que se posicionam

de maneira diferente, procurando um maior envolvimento e identificação com o

pesquisado.

No trabalho de campo, o pesquisador tem a necessidade de coletar os

dados que serão posteriormente analisados. Para tanto, utiliza-se de

instrumentos que o ajudam nessa tarefa. Gravadores, filmadoras, máquinas

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fotográficas, ou, simplesmente, um bloco de anotações tornam-se muito úteis.

Porém, em uma pesquisa qualitativa, um fenômeno pode ser mais bem

observado e compreendido se o pesquisador fizer parte do contexto, e, como já

mencionado, é o próprio pesquisador o instrumento mais confiável de observação,

análise e interpretação dos dados coletados (GODOY, 1995). Em uma entrevista,

por exemplo, um simples gesto do entrevistado pode responder muita coisa e isso

somente pode ser percebido com a presença do pesquisador no ambiente do

pesquisado.

Como a pesquisa qualitativa é caracterizada como descritiva (GODOY,

1995), a palavra escrita tem importante destaque nessa abordagem, pois ocupa

papel fundamental tanto no processo de obtenção dos dados quanto na

apresentação dos resultados. Diferente da abordagem quantitativa, na qual a

forma numérica tem grande destaque, os dados coletados na pesquisa qualitativa

aparecem sob a forma de transcrições de entrevistas, anotações, imagens,

desenhos, documentos, entre outros. Para a autora, todos deverão ser

considerados visando à compreensão ampla do fenômeno estudado.

3.5.1 Coleta de dados

Devido à característica do estudo, a opção feita quanto ao meio para a

coleta de dados foi por entrevistas semi-estruturadas. As entrevistas semi-

estruturadas, segundo Triviños (1987), envolvem a realização de perguntas

básicas, fundamentadas em hipóteses e teorias. Essas perguntas direcionam a

um amplo campo de questionamentos, pela criação de novas hipóteses baseadas

nas respostas dos informantes. Gil (1996, p. 90) afirma que a entrevista pode ser

entendida como uma técnica que envolve duas pessoas numa situação “face-a-

face”. Uma conversação guiada pode trazer informações detalhadas e sistemati-

zadas para uma boa análise.

Para o estudo em questão, as entrevistas semi-estruturadas de fato

mostraram-se como o meio mais adequado à coleta de dados, pois possibilitaram

uma maior interação entre entrevistado e entrevistador, em encontros “face-a-

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face”, dando condições de aprofundamento das opiniões, percepções e

interpretações da realidade.

Durante o processo de entrevistas, muitas indicações de publicações e

fontes de pesquisa foram feitas pelos entrevistados.

Também fizeram parte do processo de coleta de dados essas e outras

fontes que trazem informações sobre o setor de software. Foram consultados

ainda sites na Internet, no sentido de colher informações sobre números e dados

estatísticos do setor.

3.5.2 Dimensão temporal da pesquisa

Toda pesquisa, ao ser elaborada, tem uma dimensão temporal,

independentemente da abordagem adotada, qualitativa ou quantitiva. É preciso

que o pesquisador defina qual o tipo de corte que adotará na pesquisa (VIEIRA,

2004).

Esta pesquisa tem uma caracterização que mais se adapta ao tipo

seccional com avaliação longitudinal, pois o que se busca é o presente a respeito

do fenômeno, porém dados do passado tornam-se relevantes para o seu

entendimento.

3.5.3 Roteiros de entrevista

Para a realização do presente trabalho, optou-se por um setor que

apresentasse relevância no aspecto econômico. Inicialmente, pensou-se em

setores como alimentos, vestuário, telecomunicações, entre outros. Porém, a

partir de uma sugestão apresentada ao autor pelo orientador dessa pesquisa, o

setor escolhido foi o de TI (Tecnologia da Informação) e o segmento específico foi

o de software. Seguindo a linha de pesquisa de internacionalização, o projeto foi

desenvolvido no sentido a estudar de participação brasileira no mercado mundial

de software.

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Visando ao atingimento do objetivo proposto pelo estudo e a responder à

sua questão principal, elaborou-se um roteiro de entrevistas. As entrevistas

seriam realizadas com empresários do setor de software e também com agentes

de fomento à exportação brasileira neste setor. Para uma melhor organização e

por necessidade devido ao conteúdo das entrevistas, foi feita uma divisão em

dois grupos de entrevistados. Do primeiro grupo, faziam parte empresários do

setor de software e, do segundo, agentes de fomento à exportação brasileira de

software. Essa divisão tornou-se necessária porque os roteiros de entrevistas

precisavam ser diferentes, pois algumas perguntas feitas aos empresários não

fariam sentido se fossem feitas aos agentes. A diferença entre os dois roteiros na

verdade está na quantidade de perguntas. Tanto para os empresários quanto

para os agentes foram feitas onze perguntas iguais, porém para os empresários

havia sete perguntas adicionais. O roteiro com as perguntas para os empresários

do setor de software é apresentado no Apêndice 1 e o roteiro com as perguntas

para os agentes de fomento à exportação é apresentado no Apêndice 2 .

3.5.4 Empresas pesquisadas

A partir de uma lista prévia de empresas que atuam no setor de software,

iniciaram-se os contatos via telefone e e-mail para agendamento das entrevistas.

Por opção e por questões que serão apresentadas posteriormente, em um

primeiro passo, somente foram contactadas as empresas do setor, deixando-se

os agentes de fomento para um segundo momento. Conforme afirma Yin (2005),

para a coleta de dados, os participantes devem ser selecionados propositalmente

e o pesquisador deve estar atento a como esta coleta será feita, determinando

quem participará e quem será entrevistado ou observado. Creswel (2003)

entende que a idéia por trás de uma pesquisa qualitativa é selecionar

propositalmente os participantes com melhores condições de ajudar o

pesquisador a entender o problema e responder as questões da pesquisa.

Com base nisso, ao serem solicitadas as entrevistas, somente foram

agendadas pelo pesquisador aquelas em que houve concordância dos

proprietários e/ou diretores das empresas em serem entrevistados ou então de

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gerentes que de fato fossem responsáveis pela área específica de software ou

pela gestão estratégica da empresa. Essa escolha foi feita para reduzir distorções

na informação obtida e garantir que os entrevistados tivessem o esperado

conhecimento do assunto. O trabalho, de maneira geral, busca entender o setor

de software e a participação das empresas no mercado internacional. Por essa

razão, a pesquisa não se restringiu a um setor específico de software. Buscou-se

qualquer empresa que tivesse alguma relação com o desenvolvimento de

software.

Outro ponto a ser destacado é que também não houve, ao se escolher

empresas para contato, diferenciação por tamanho de empresa. Essa não

diferenciação se deu de forma proposital para poder entender até que ponto o

tamanho da empresa interfere quando se analisa o setor com vistas à

internacionalização. O grupo de empresas4 selecionadas para participarem da

pesquisa foi formado por um total de 24 (vinte e quatro) empresas. Por uma

questão de conveniência e otimização de recursos, esse grupo foi formado

basicamente por empresas situadas na cidade de Curitiba, com exceção a duas

empresas situadas na cidade de Pato Branco, interior do estado do Paraná.

Desse grupo de empresas, embora estejam situadas em Curitiba, uma é franquia

de um grupo de Joinville, estado de Santa Catarina, outra é franquia de um grupo

da capital paulista e uma terceira empresa é filial de um grupo da cidade de

Americana, no interior do estado de São Paulo.

As entrevistas, após agendadas, foram realizadas nas sedes das empresas

e não houve em nenhum caso o estabelecimento de um prazo para a sua

realização. Esse fato propiciou ao pesquisador a exploração de diversas

informações adicionais que puderam ser colhidas mesmo sem fazer parte do

roteiro de entrevistas inicialmente proposto. Cabe ressaltar o bom nível de

entendimento do setor por parte de todos os entrevistados, assim como a

receptividade ao pesquisador.

4 A relação das empresas, com sua localização e nicho de atuação, faz parte do Apêndice 3.

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No início de cada entrevista, foi solicitada ao entrevistado autorização para

a gravação da entrevista. Com exceção da entrevista com uma empresa de

Curitiba, em que houve um problema com o equipamento, todas as entrevistas,

em que o entrevistado aceitou (doze casos), foram gravadas, para permitir que o

pesquisador pudesse rever o material quantas vezes fossem necessárias. Nos

casos das empresas situadas na Cidade de Pato Branco, as entrevistas foram

realizadas por telefone e, nesses casos, não houve solicitação e tampouco

gravação das entrevistas. Procurou-se, nestes dois casos, anotar a maior

quantidade possível de informações passadas pelos respondentes. Houve,

naturalmente, algum prejuízo no que diz respeito à anotação das respostas,

porém julga-se que houve assimilação suficiente das informações, o que

minimizou as dificuldades de interpretação. As doze entrevistas gravadas foram

posteriormente transcritas para um melhor aproveitamento das informações. Nas

dez entrevistas restantes em Curitiba, em que não houve autorização de

gravação, durante o transcorrer das entrevistas, procurou-se realizar o máximo

possível de anotações e, assim que concluídas, o pesquisador reservou tempo

para repassar os principais pontos e complementar suas anotações.

Tabela 6 Classificação quanto ao tipo de entrevista com empresários do setor de

software.

GRAVADAS ENTREVISTAS TIPO

sim não

22 presencial 12 10

2 telefone 0 2 Fonte: O autor.

3.5.5 Agentes de fomento à exportação de software

Para clarificar, neste trabalho, foram tratados como agentes de fomento

todos os órgãos oficiais que, na prática, têm algum programa de incentivo

financeiro voltado para a exportação de software. Esse incentivo caracteriza-se

como sendo alguma linha de crédito ou financiamento direto voltado para o

desenvolvimento e exportação de software. Também fazem parte da lista

instituições que, mesmo sem propiciarem incentivos financeiros, atuam na

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promoção à exportação de software e que foram confirmadas pelo pesquisador

em pergunta direta. No Apêndice 4, encontra-se a relação dos órgãos ou

instituições entrevistados como agentes de fomento à exportação de software.

Partindo de uma lista inicial de instituições caracterizadas como sendo

agentes de fomento à exportação, existia dúvida se de fato todas eram mesmo

agentes de fomento e se a lista estava completa. Gomel e Sbragia (2006) já

apontavam o fato de serem poucas as fontes oficiais de fomento, em trabalho

realizado sobre o desempenho exportador brasileiro da indústria de software, sem,

entretanto, mencionar quantas e quais eram tais fontes. Durante o transcorrer das

entrevistas com as empresas, foi possível notar que mesmo os empresários do

setor de software tinham dúvidas quanto ao que significava agentes de fomento.

Como mencionado anteriormente, haviam sido criados dois grupos de

entrevistados, ou seja, o grupo de empresários e o de agentes de fomento. Isso

foi feito de modo proposital pelo fato de o roteiro de perguntas ser diferente, mas

também em vista da dificuldade em saber quem de fato deveria ser entrevistado

quando se tratava de agentes de fomento. Uma das perguntas do roteiro de

entrevistas com as empresas tinha exatamente a função de explorar essa

situação: “Quais os órgãos ou instituições que conhece e que atuam no sentido

de fomento à exportação de software?” As respostas obtidas foram as mais

variadas. Unanimidade nas respostas ocorreu apenas com relação à Softex, a

associação para promoção da excelência do software brasileiro. Apareceram,

ainda, o Ministério da Ciência e Tecnologia – MCT; o Ministério do

Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC; BNDES; Tecpar;

Sebrae; Fiep; Lactec; Apex; Abes; Assespro; Cits; Prefeitura de Curitiba e

Câmaras de Comércio.

Todos os órgãos citados pelos entrevistados foram contactados a fim de

verificar a real participação como agentes de fomento. Embora todos tenham

alguma ligação, seja direta ou indireta com o setor de software, nem todos podem

ser classificados como agentes de fomento à exportação, com base nos critérios

acima mencionados para este trabalho.

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No que concerne às entrevistas com os agentes de fomento, apenas uma

pôde ser realizada pessoalmente pelo entrevistado, no ambiente de seu

representante. Todas as demais entrevistas foram realizadas por telefone, por

questão de conveniência e custo, já que os entrevistados das agências de

fomento se localizam em cidades diferentes à do pesquisador. Em alguns casos,

foi difícil a localização da pessoa responsável e que melhor se enquadraria como

respondente, porém só foi realizada a entrevista depois da certeza por parte do

entrevistador de que se havia chegado à pessoa mais indicada para a entrevista.

Com uma exceção apenas, foi possível constatar a boa vontade em ajudar,

demonstrada pelas pessoas entrevistadas.

3.5.6 O método para análise de dados

Após a realização da coleta de dados, o próximo passo foi a realização da

análise de dados. Em uma pesquisa qualitativa, como os pesquisadores não

partem de hipóteses estabelecidas a priori, não se preocupam em buscar dados

ou evidências que corroborem ou neguem tais suposições, já que inexistentes

(GODOY, 1995). Normalmente partem de questões ou focos de interesse amplos,

que vão se tornando mais diretos e específicos no transcorrer da investigação. As

abstrações são construídas a partir dos dados. Um método que se adapta à

realização da análise de dados em uma pesquisa qualitativa, que permite a

inferência de conhecimentos na busca por resultdos, é a análise de conteúdo,

proposta por Bardin (2000), e que neste estudo serviu como ferramenta principal

de análise dos dados.

Segundo Bardin (2000, p. 31), a análise de conteúdo “é um conjunto de

técnicas de análise das comunicações”. “Não se trata de um instrumento, mas de

um leque de apetrechos [...] adaptável a um campo de aplicação muito vasto: as

comunicações”. A análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das

comunicações que visa a obter, por procedimentos sistemáticos de descrição do

conteúdo das mensagens, indicadores quantitativos ou não e tem em sua função

heurística o enriquecimento da tentativa exploratória, o aumento à propensão à

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descoberta. A intenção da análise de contéudo é permitir inferências de

conhecimentos relativos às condições de produção/recepção das mensagens.

Figura 4 Análise de conteúdo

Fonte: O autor, com base em Bardin (2000).

Em um primeiro momento, logo após o término das entrevistas, foi feita

uma análise. Porém como se trata de uma pesquisa qualitativa, a captação do

ponto de vista do entrevistado ficou a cargo do pesquisador e, por conta disso,

foram feitas inferências. Com o intuito de validar os resultados da pesquisa, uma

nova análise foi feita, aproximadamente quinze dias depois da primeira, uma vez

que se recomenda esse procedimento nesses casos. Isso pode não assegurar

totalmente que a pesquisa de fato representa a realidade e que os resultados são

incontestes, até porque a população da pesquisa não foi representativa, porém

minimiza possíveis distorções de interpretação e melhora a validade.

3.6 LIMITAÇÕES DO ESTUDO

As limitações de um estudo decorrem, muitas vezes, da abordagem

metodológica empregada. Embora a pesquisa qualitativa seja uma forma viável

de pesquisa (GODOY, 1995), com conhecimentos teórico-empíricos que

permitem atribuir-lhe cientificidade (VIEIRA, 2004), a interpretação e as

inferências ficam por conta do pesquisador, que pode involuntariamente

acrescentar um viés.

Outra limitação do presente estudo é ter sido realizado sem se levar em

conta nichos específicos de atuação. Os resultados apresentados levam em

COMUNICAÇÃO INFERÊNCIAS RESULTADO

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conta a percepção das respostas de modo amplo, ou seja, alguns nichos ou

segmentos específicos do setor de software podem apresentar resultados

diferentes dos encontrados neste estudo.

Durante a realização do trabalho, foi possível notar que o setor de software

tem demonstrado uma grande capacidade de crescimento e as projeções de fato

são animadoras. Porém falta informação acerca deste setor até mesmo para os

seus integrantes. Dados estatísticos, por exemplo, foram difíceis de ser

encontrados, mesmo em órgãos oficiais, o que de certo modo poderia enriquecer

o trabalho e embasar as decisões dos executivos do setor.

Embora o pesquisador não seja um profissional do setor de software, sua

formação é na área de comércio exterior e alguns conceitos sobre políticas de

apoio à exportação, independente do segmento, assim como sobre a atuação de

empresários no que diz respeito ao comércio internacional, podem já fazer parte

de um modelo mental, capaz de, eventualmente, gerar algum viés de

interpretação.

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4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DE DADOS

Este capítulo apresenta uma descrição sobre o campo de estudo e procura

apresentar uma análise baseada nas respostas dos empresários e dos agentes

de fomento à exportação. A análise de conteúdo foi feita utilizando-se a técnica

da análise da enunciação, uma das técnicas propostas5 para este tipo de análise

e que mais se ajusta ao tipo de coleta de dados que foi realizada, que foi por

meio de entrevistas.

4.1 AS EMPRESAS E OS AGENTES DE FOMENTO À EXPORTAÇÃO DE

SOFTWARE

Para um melhor entendimento, apresenta-se abaixo a divisão entre os

entrevistados.

4.1.1 As empresas do setor de software

Com uma relação prévia de empresas atuantes no setor de software,

realizou-se contato para as entrevistas. A exigência para a realização da

entrevista era que o respondente fosse o proprietário e/ou diretor ou gerente

responsável pela área de software. Da relação inicial, 24 (vinte e quatro)

empresas contactadas aceitaram colaborar com a pesquisa. Alegando falta de

tempo; excesso de trabalho; ausênca do resposável para responder a pesquisa;

entre outros, 05 (cinco) empresas contactadas não foram entrevistadas. Em dois

casos, não houve retorno das ligações.

Não houve escolha por nicho de atuação e tampouco em função do porte

da empresa, sendo que elas foram contactadas por conveniência, para saber se

5 As técnicas de análise caracterizadas na obra de Bardin (2000) são: análise categorial;

análise de avaliação; análise da enunciação (utilizada neste trabalho); análise da expressão; análise das relações; análise do discurso.

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aceitavam participar da pesquisa. A título de ilustração, a tabela a seguir mostra a

classificação por porte de empresas e indica se as empresas já realizaram

atividade exportadora.

Tabela 7 Porte das empresas entrevistadas e atividade exportadora

PORTE DAS EMPRESAS ENTREVISTADAS EXPORTA/EXPORTOU TIPO/PORTE6 QUANTIDADE

SIM NÃO

MICROEMPRESAS

PEQUENAS EMPRESAS

MÉDIAS EMPRESAS

GRANDES EMPRESAS

TOTAL

10

8

3

3

24

2

1

0

3

6

8

7

3

0

18 Fonte: O autor.

4.1.2 Os agentes de fomento à exportação

Para a coleta das informações junto aos agentes de fomento, utilizou-se

também uma relação prévia de instituições caracterizadas como tal. Além disso,

utilizou-se a informação dos respondentes das empresas que citavam as

instituições que julgavam se tratar de agentes de fomento à exportação. Todas as

instituições citadas foram consultadas para comprovação de sua atuação. Na

tabela a seguir aparecem todos os que foram citados pelos entrevistados como

agentes. Também se apresenta a freqüência de citações pelos empresários.

6 Classificação segundo o SEBRAE por número de funcionários. Não foi possível classificação

em função do faturamento, em virtude da não concordância de algumas empresas em fornecer tal informação.

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Tabela 8 Instituições citadas como agentes de fomento à exportação de software.

INSTITUIÇÃO FREQÜÊNCIA A

GE

NT

ES

• SOFTEX – Associação para promoção da excelência do software brasileiro

• BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

• TECPAR – Instituto de Tecnologia do Paraná

• MDIC – Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio Exterior

• MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia

• APEX BRASIL – Agência de Promoções e Exportações do Brasil

24

6

2

1

1

1

O A

GE

NT

ES

• SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

• CITS – Centro Internacional de Tecnologia de Software

• FIEP – Federação das Indústrias do Estado do Paraná

• ABES – Associação Brasileira das Empresas de Software

• ASSESPRO – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação – Regional Paraná

• PMC – Prefeitura Municipal de Curitiba

• LACTEC – Instituto de Tecnologia p/ o desenvolvimento

• Câmaras de Comércio

7

6

4

2

1

1

1

1 Fonte: O autor.

É importante destacar que, dos vinte e quatro entrevistados, cinco

disseram não conhecer nenhum agente e não citaram nenhuma instituição por

iniciativa própria, no início da entrevista7. Um dos entrevistados também disse

não conhecer nenhum, mas achava que câmaras de comércio faziam alguma

coisa no sentido de “aumentar” as exportações brasileiras. No quadro acima, está

considerada esta citação sobre câmaras de comércio.

7 Durante o transcorrer da entrevista, diversos entrevistados citaram a Softex, considerada pelo

entrevistador como agente de fomento (esta observação precisa ser feita para que não haja conflito com o exposto no segundo parágrafo da página 49).

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4.2 ENTREVISTAS SEMI-ESTRUTURADAS

A seguir são apresentados os resultados das entrevistas semi-estruturadas.

Pelo fato de que os roteiros de entrevistas eram diferentes em quantidade de

perguntas, serão apresentadas tabelas-resumo para as perguntas comuns aos

dois grupos (empresas e agentes de fomento), assim como tabelas-resumo de

perguntas adicionais feitas somente aos empresários, conforme já explicitado no

capítulo 3. Ao mesmo tempo, serão feitas considerações e a análise do conteúdo.

4.2.1 Fatores facilitadores da exportação de software brasileiro

4.2.1.1 Fatores internos facilitadores à exportação de software brasileiro

Nesta questão, os entrevistados foram perguntados sobre quais fatores

internos facilitam a exportação. A tabela a seguir apresenta o resumo das

respostas.

Tabela 9 Fatores internos que facilitam a exportação

INCIDÊNCIA FATOR

EMPRESÁRIOS AGENTES

• Produto adequado 1 0

• Preço do software 3 0

• Criatividade dos profissionais brasileiros 9 3

• Qualidade do software brasileiro 3 0

• Qualidade dos profissionais 5 1

• Mão-de-obra barata 2 1

• Flexibilidade de adaptação do profissional brasileiro

4 0

• Crédito 1 0

• Competência das empresas brasileiras 0 3 Fonte: O autor.

Ao se fazer a análise dos fatores internos que facilitam a exportação de

software, aparecem diferentes respostas, mas com uma maior freqüência

aparecem fatores relacionados ao capital humano. A criatividade do profissional

brasileiro aparece em destaque, assim como a qualidade desses profissionais,

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além da competência das empresas brasileiras que está diretamente ligada ao

capital humano. Segundo um dos entrevistados,

“Nós acreditamos que o produto desenvolvido pelo profissional brasileiro é muito bem visto no mercado internacional. Hoje o Brasil já mostra de forma geral que os seus desenvolvedores são de ponta”.

Para os dois grupos entrevistados, a criatividade do profissional brasileiro

no setor de software apareceu com uma alta freqüência de respostas. Segundo

os que afirmaram ser a criatividade uma grande vantagem competitiva, o Brasil

explora pouco essa vantagem. Alguns segmentos de software, como o de games,

por exemplo, aparecem com grande destaque, pois criatividade é preponderante

para o desenvolvimento e criação de novos softwares para esse segmento.

Outro item que teve uma boa freqüência de respostas foi a qualidade dos

profissionais do setor de software. Para o grupo de empresários, essa resposta

teve uma maior freqüência, pois além de eles mesmos serem em sua maioria

profissionais dessa área, empregam outros profisionais em suas empresas.

A flexibilidade de adaptação dos profissionais brasileiros também apareceu

entre os empresários, que consideram que, comparativamente com profissionais

de outros países, os brasileiros conseguem captar o que o cliente ou o

consumidor deseja, apresentando sugestões que melhoram o produto final,

muitas vezes se antecipando às suas necessidades. Segundo um entrevistado,

“outras culturas são mais resistentes e a flexibilidade do brasileiro é uma

vantagem competitiva”.

No que diz respeito ao desenvolvimento de software, o brasileiro pode ser

classificado entre os melhores do mundo. É um fator imporante a ser considerado

quando se trata de querer exportar, pois a qualidade do software está

diretamente ligada à capacidade do profissional que o desenvolveu. Outra

característica, no caso dos brasileiros, é o relacionamento que é criado com os

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clientes. No caso de outsourcing 8 , por exemplo, o profissional brasileiro leva

grande vantagem, pois interage mais com o contratante, dando atenção e

gastando mais tempo no atendimento, procurando envolver-se com os seus

problemas. Isso, externamente, é muito valorizado. Segundo um entrevistado:

“Temos profissionais preparados e competentes e no mercado internacional somos competitivos em função da mão-de-obra barata. Outro ponto é a critaividade e flexibilidade dos profisionais brasileiros. Eles se envolvem com o problema dos clientes, tentando solucioná-los. Profissionais de outros países só respondem aquilo que lhes é perguntado ou no que são especialistas. Não se envolvem. Isso o cliente valoriza muito”.

Um outro fator na análise, que também está ligado ao profissional, embora

por influência de uma conjuntura, diz respeito ao custo dos profissionais do setor

de software brasileiro. Comparativamente com outros países, o Brasil tem no

custo da mão-de-obra mais uma vantagem competitiva. Este fato tem causado

algum problema para pequenas e microempresas no Brasil. Empresários

reclamam que estão perdendo bons profissionais em virtude de que empresas

maiores, multinacionais principalmente, estão “roubando” talentos com ofertas

salariais e de benefícios que prejudicam as empresas menores, em virtude de

alocá-los em projetos internacionais, onde continuam a representar mão-de-obra

relativamente barata.

Nas respostas dos agentes de fomento, a maior freqüência aparece na

competência das empresas brasileiras, o que acaba por envolver novamente o

capital humano. Uma empresa será competente na medida em que as pessoas

que a formam forem competentes. Os agentes destacaram muito a percepção

que eles têm sobre a competência das empresas, em virtude das dificuldades que

enfrentam para dar continuidade a seus negócios. Com todas as adversidades

que os empresários enfrentam, ainda conseguem apresentar bons produtos e

serviços, o que lhes permite competir em igualdade com outros países no

mercado internacional.

8 Subcontratação de entidade externa para desenvolvimento ou produção de parte específica de

um produto ou serviço que uma empresa fornece.

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4.2.1.2 Fatores externos facilitadores da exportação de software brasileiro

Os fatores externos facilitadores da exportação de software brasileiro

apresentados neste tópico são percepções dos entrevistados, não tendo feito

parte do escopo deste trabalho a comprovação da sua validade. Na tabela a

seguir, apresenta-se a opinião dos respondentes com a freqüência de citação

para cada item.

Tabela 10 Fatores externos que facilitam a exportação

INCIDÊNCIA FATOR

EMPRESÁRIOS AGENTES

• Qualificação dos profissionais 2 2

• Diminuição da carga tributária p/ produtos brasileiros 1 0

• Qualidade do software brasileiro 3 2

• Criatividade do profissional brasileiro 4 2

• Facilidade de adaptação aos produtos locais 2 1

• Mão-de-obra barata 4 0

• Flexibilidade de adaptação do profissional brasileiro 1 0

• Alta demanda do mercado mundial 2 0

• Afinidade da cultura ocidental com outras culturas 0 1

• Presença de multinacionais no Brasil 0 1

• Qualidade dos serviços brasileiros 0 1

• Não souberam informar – sem opinião 5 0 Fonte: O autor.

Quando se faz a análise dos fatores externos, nota-se que há uma

dispersão maior nas opiniões. Muitos entrevistados do grupo de empresários não

opinaram. Isso se dá, possivelmente, pelo fato de que muitos desses empresários

não atuam no mercado internacional (ver Tabela 7) e também nunca buscaram

informações a respeito de outros mercados. Quanto às opiniões dos agentes, foi

possível perceber que eram mais afirmações do que propriamente opiniões e isso

pelo fato de estarem mais informados a respeito do mercado mundial. Esse

conhecimento maior sobre o setor por parte dos agentes de fomento é possível

em virtude de que existe uma maior participação por parte deles em eventos

relacionados ao setor no exterior e com isso conseguem mais facilmente obter

informações a respeito dos produtos brasileiros fora do Brasil. Para os

empresários, essa participação acaba se tornando mais difícil, pois se pelo lado

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dos agentes o custeio das despesas de participação, viagens, etc. é da própria

instituição que eles representam, pelo lado dos empresários, todo o custo

existente é por conta de seus próprios recursos.

Mais uma vez se observa que se valoriza muito a competência e a

criatividade do profissional brasileiro, e, além da qualidade, pesa favoravelmente

o custo da mão-de-obra, como vantagem competitiva. De fato, embora

internamente o custo dos profissionais tenha grande representatividade no custo

total das empresas, externamente não representa muito. Por esse motivo, muitas

empresas contratam mão-de-obra brasileira e isso acaba impactando diretamente

no resultado de exportação de serviços no setor de software.

Uma opinião isolada que apareceu, mas que de alguma forma acaba não

fazendo sentido neste quadro, é a diminuição da carga tributária para os produtos

brasileiros. Como foi respondida por um entrevistado, optou-se em não alterar a

forma original da resposta. No entendimento do pesquisador, o que o entrevistado

queria dizer é que a diminuição da taxação a produtos brasileiros no exterior

proporcionaria maior competitividade internacional do software produzido no país.

O pesquisador, nesse caso, interpretou essa resposta mais como sendo uma

percepção do respondente do que efetivamete realidade.

O que parece ter fugido à percepção dos respondentes é a alta demanda por

software no mercado mundial. Esse esquecimento pode ter se dado em virtude da

alta demanda interna, o que tem feito os empresários não prestarem muita atenção

ao mercado internacional. Embora quase metade dos entrevistados considere o

mercado externo interessante, com conhecimento também de sua alta demanda,

pelo menos no momento atual se concentram no mercado interno. Para os

empresários, o mercado externo é atrativo pelo fato de reduzir a dependência de um

único mercado, no caso o nacional. Para eles, a vulnerabilidade a que está sujeita a

economia interna é motivo de preocupação e, no caso de estarem atendendo outros

mercados, correm menos riscos associados a incertezas locais.

Pôde-se notar que um fator importante para os empresários é a imagem que

se pode criar ao atender o mercado externo. Uma empresa, ao ter o seu produto

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vendido para um outro país, cria uma imagem positiva, pois devido à grande

competitividade existente no mercado internacional, ao atingi-lo, consegue uma

espécie de certificação de qualidade para o seu produto. Segundo um empresário, “o

mercado externo é estratégico. É base para desenvolver o nome da empresa”. Para

a grande maioria, entretanto, a dificuldade de conseguir se mostrar no mercado

internacional é uma grande barreira a ser rompida. Conforme afirma um outro

respondente:

“A diferença básica que se pode estabelecer é que internamente o empresário age sozinho e no exterior precisa que alguém o leve até lá. É muito mais difícil. O empresário pode explorar o mercado interno com chance maior de êxito. Há espaço no mercado externo, porém precisa apoio das instituições”.

Para os agentes de fomento, a facilidade que o brasileiro tem de adaptar-se a

outras culturas também representa um diferencial. Segundo um respondente, “o

indiano, por exemplo, é muito frio, diferente do brasileiro que, ao iniciar uma

conversa, já pergunta se está tudo bem, mesmo não conhecendo quem está do

outro lado”.

A presença de multinacionais apareceu também como um facilitador

externo e isso se dá pelo fato de que muitas empresas multinacionais atuando no

Brasil utilizam soluções brasileiras de software e acabam levando de “carona”

essas soluções para os países de origem e suas filiais pelo mundo. Esse fator

tem sido pouco explorado pelos empresários brasileiros, que poderiam utilizar

essa condição para mostrar melhor os seus produtos no exterior. Ao que tudo

indica, o caminho é difícil em virtude de que as empresas multinacionais que utilizam

soluções de software brasileiras são empresas grandes e as soluções que utilizam

são apenas aquelas que não conseguem customizar em suas tecnologias.

4.2.2 Fatores dificultadores da exportação de software brasileiro

4.2.2.1 Fatores internos que dificultam a exportação de software brasileiro

A tabela a seguir apresenta respostas sobre os fatores que dificultam a

exportação do software brasileiro, na opinião dos empresários e dos agentes de

fomento.

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Tabela 11 Fatores internos que dificultam a exportação

INCIDÊNCIA FATOR

EMPRESÁRIOS AGENTES

• Falta de apoio governamental 11 0

• Tributação excessiva 15 2

• Falta de foco no software 3 0

• Pouco invetimento na qualificação de mão-de-obra 2 0

• Falta de agentes de fomento à exportação de software 1 0

• Idioma 4 3

• Burocracia brasileira 9 2

• Legislação trabalhista brasileira – encargos 1 1

• Perda de profissionais para mercados estrangeiros 1 0

• Morosidade nos processos relacionados ao governo 2 1

• Falta de capacidade de investimento do empresário brasileiro 2 0

• Difícil aquisição de componentes importados 1 0

• Desconhecimento dos trâmites para exportação 3 0

• Dificuldade de dar suporte técnico no mercado exteno 1 0

• Falta de certificação de qualidade do software nacional 1 1

• Custo alto para desenvolvimento de software 2 1

• Despreparo dos profissionais brasileiros no setor 1 1

• Concorrência internacional 1 0

• Capacidade de gestão do empresário brasileiro 1 3

• Alta demanda interna 10 2

Fonte: O autor.

Nota-se que houve diversidade nas opiniões sobre os fatores internos que

dificultam a exportação brasileira de software. Neste tópico, foi possível constatar

que tudo o que foi citado de alguma maneira parece refletir a realidade interna

brasileira, pois todos os entrevistados do grupo dos empresários sugeriram que já

haviam sido afetados por algum ou mais fatores.

Ao se analisar as repostas dos empresários, é bastante evidente que, na

sua percepção, as maiores dificuldades para exportação brasileira no setor de

software estão relacionadas ao governo.

A tributação excessiva, a falta de apoio do governo e a burocracia

aparecem como os maiores dificultadores. Os empresários consideram que faltam

ações de governo para melhorar a situação. De acordo com um entrevistado, “a

ação do governo é fraca. Não há financiamento e o empresário brasileiro não

consegue investir”. Agentes de fomento concordam com os empresários no que

diz respeito à burocracia e à tributação. Afirmam que a burocracia impõe

dificuldades e impede que as empresas consigam ter acesso à ajuda existente.

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“O empresário brasileiro acaba desistindo da ajuda do governo, pois existe

excesso de garantias que se pede para se conseguir algum tipo de

financiamento”, afirma um dos agentes entrevistados. Consideram que de fato a

burocracia atrapalha e que há morosidade nos processos que envolvem agências

governamentais. Entretanto, dizem que em muitos casos os empresários

reclamam que não há apoio do governo, mas que isto não procede. Segundo

afirmam, “existe disponibilidade de recursos, porém muitos empresários não

sabem onde procurar e acabam sobrando recursos”. Pelo lado dos empresários,

percebe-se que não sabem exatamente o que está disponível. Como o mercado

interno está aquecido, não existe preocupação em buscar o mercado externo e,

em função disso, o empresário não procura saber de quais recursos

governamentais disporia para custear, por exemplo, o desenvolvimento, a

promoção e a exposição de seus produtos em outros mercados. Ao que tudo

indica, está faltando comunicação. De um lado, recursos que sobram e, de outro,

desconhecimento aliado ao desinteresse. Como resultado, um efeito contínuo de

oportunidades desperdiçadas de melhoria do desempenho empresarial e

governamental no mercado internacional. Concordam também alguns dos

agentes que a tributação faz com que o empresário tenha dificuldade em manter

o seu negócio e isso também interfere na competição com outros países no setor

de software.

Alguns agentes enfatizaram as limitações de gestão do empresário

brasileiro. As micro e pequenas empresas seriam as mais afetadas pela

deficiência em gerir, principalmente em decorrência da sua estrutura.

Normalmente há sobrecarga de responsabilidades sobre os gestores nessas

empresas. É difícil, segundo observam os agentes, para o gestor de uma

pequena ou microempresa dar conta de todas as tarefas que envolvem os seus

negócios. Essa opinião foi corroborada por um empresário.

“Acho que a maior dificuldade é para o pequeno e microempresário, pois as grandes empresas têm pessoas específicas para cada função nos departamentos. Fica mais fácil dessa maneira. Nas pequenas e micro empresas muitas vezes o dono é quem faz tudo”.

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Outros aspectos, como o custo alto para desenvolvimento, a legislação

trabalhista e o excesso de encargos, também apareceram como respostas a

fatores que dificultam a exportação de software brasileiro. Para esses fatores,

ações de governo poderiam ajudar.

Uma resposta de um empresário foi de que existe despreparo dos

profissionais brasileiros. Segundo afirma, seria necessário mais treinamento aos

profissionais do setor. Essa resposta se contrapõe a outras afirmações sobre a

qualidade e competência dos profissionais brasileiros, mas o que ocorre é que,

embora sejam competentes, criativos, etc., existe pouco investimento em

qualificação da mão-de-obra. Em alguns segmentos específicos, há falta de

profissionais, o que prejudica a competição no mercado externo. A resposta teve

concordância de um agente que afirmou: “mão-de-obra qualificada é um problema

em alguns pólos. Não se formam pessoas. Existem muitos currículos

inadequados nas faculdades”.

Uma resposta que apareceu, e talvez até fora de contexto devido à

pergunta, foi com relação à concorrência internacional. Porém para manter a

forma original, optou-se em não excluí-la. Um empresário que já atua no mercado

externo foi quem deu a resposta. Poderia ser um fato isolado, caso não fosse

importante. Ao darem mais atenção ao mercado interno em virtude da alta

demanda, os empresários acabam deixando de lado oportunidades de negócios

no mercado externo, permitindo com isso que outros players internacionais as

aproveitem. Torna-se um tanto perigosa essa prática, pois os espaços no

mercado internacional podem estar sendo ocupados e, quando se pensar em

estratégia voltada ao atendimento do mercado externo, podem ocorrer surpresas

desagradáveis, já tendo outras empresas se posicionado, imponto barreiras a

novos entrantes.

A falta de certificação do software também foi dada como resposta sobre

fatores internos que dificultam a exportação. Para ser competitiva, uma indústria

precisa oferecer padrões de qualidade em nível mundial, baseados nas

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certificações CMM 9 ou SEI 10 . Conforme Taurion (2004), em janeiro de 2004,

somente três empresas de software possuíam certificação CMM nível três, no

Brasil, em uma escala que vai até cinco. Para se ter uma idéia, das 54 empresas

que nesta mesma época possuíam a certificação CMM em nível máximo (nível

cinco) no mundo, 27 estavam na Índia.

A falta de foco no segmento software foi citada e uma observação de um

empresário serve para ilustrar essa situação:

“Exportação de software não é pauta prioritária de um projeto de nação no Brasil. Tudo o que se trata de exportação no Brasil vai priorizar commodities. Não se tem muita interlocução para exportação de software. Justamente por isso, os resultados que se têm são pífios. São frutos de estratégias empresariais isoladas. Não existe projeto e dificilmente vai se fazer alguma coisa em nível de país, sem uma pauta governamental para isso”.

O que chamou a atenção foi o fato de que alguns empresários não

conhecem os trâmites da exportação. São empresários que não exportam, mas

afirmaram que teriam dificuldades e teriam que buscar alguém que pudesse

ajudá-los se tivessem oportunidades no mercado internacional. Em dois casos, a

percepção foi de que esse fator estava inibindo bastante a busca pelo mercado

externo. Cria-se com isso um círculo vicioso e prejudicial, pois, ao desconhecer

os trâmites, a empresa deixa de exportar e se não exporta deixa de conhecer os

trâmites.

“Como providenciar e realizar o faturamento do serviço prestado? Não se tem certeza se está sendo feito de maneira correta ou não. Existe desconhecimento dos trâmites e isso dificulta a procura por mercados externos”.

9 Certificação CMM – Capability Maturity Model. Modelo para avaliação da maturidade dos

processos de software de uma organização e para identificação das práticas-chave, que são requeridas para aumentar a maturidade desses processos. O CMM prevê cinco níveis de maturidade: inicial, repetível, definido, gerenciado e otimizado (SOFTEX, 2002).

10 SEI – Software Engineering Institute, vinculado à Carnegie-Melon University, fundada com o objetivo de pesquisar problemas encontrados comumente nas tarefas vinculadas ao desenvolvimento e manutenção de software e propor soluções que sejam aceitas internacionalmente (TAURION, 2004).

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Outro fator, segundo empresários e agentes, que atrapalha o Brasil no

cenário internacional de software, é o idioma. Embora não seja unanimidade,

esse fator tem tirado do Brasil importante parcela de participação no mercado

internacional. Segundo o que afirmaram, países que têm o inglês como idioma

oficial levam vantagem, pois torna-se mais fácil o entendimento das solicitações,

principalmente quando existe necessidade de suporte técnico. O setor de

serviços é o mais afetado. Afirmaram que dominar o inglês já é uma necessidade

para se atuar na área de tecnologia da informação, mas isso é ainda mais

importante, de fato uma obrigatoriedade, para quem atua ou pensa em atuar no

mercado internacional.

Um fator primordial na análise da relação das empresas brasileiras de

software com o mercado externo é a alta demanda interna por software. Esse

fator tem impedido que muitos empresários se preocupem com o mercado

externo, pois normalmente novos mercados são prospectados em função de

necessidade. Se não existe essa necessidade, já que a empresa opera a plena

capacidade, a busca por novos mercados fica em segundo plano. Embora achem

importante o mercado externo, os entrevistados dão a entender que suas

empresas estão desfrutando de um momento muito propício no mercado interno,

de alta demanda, que pode, entretanto, estar gerando uma acomodação. A

preocupação maior com essa falta de atenção ao mercado externo em função do

bom momento no mercado interno é justamente que se deixe de buscar

aprimoramento e, conseqüentemente, se perca qualidade. Já foi citada a questão

da certificação para que se possa operar no mercado internacional. Com a

despreocupação gerada pela demanda interna, que nem sempre é tão exigente

quanto a externa, pode-se estar gerando de fato uma acomodação que se reflete

na falta de estímulo para prospectar novos negócios, mas também uma

despreocupação com o aprimoramento da qualidade, o que pode interferir

diretamente em possíveis oportunidades futuras.

4.2.2.2 Fatores externos que dificultam a exportação de software brasileiro

A tabela a seguir apresenta a opinião dos entrevistados sobre fatores

externos que dificultam a exportação de software brasileiro.

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Tabela 12 Fatores externos que dificultam a exportação

INCIDÊNCIA FATOR

EMPRESÁRIOS AGENTES

• Idioma 4 0

• Suporte pós-vendas 2 0

• Adaptação – customização do software 4 1

• A cultura de determinados países 2 0

• Qualificação – certificação do software 2 2

• Falta de imagem do Brasil no setor de software 1 2

• Concorrência internacional 1 0

• Falta de qualificação de mão-de-obra 0 2

• Desconfiança sobre idoneidade do empresário brasileiro 1 1

• Não responderam 6 0 Fonte: O autor.

Em relação aos fatores externos que dificultam a exportação de software

brasileiro, tanto os empresários quanto os agentes fazem afirmações que revelam

conhecimento das dificuldades em se exportar software. Basicamente, isso se dá

pelo fato de tentativas já terem sido feitas com o intuito de atender novos

mercados e existir conhecimento efetivo das dificuldades. Do total, seis

empresários que nunca realizaram exportação não responderam.

Percebeu-se que as dificuldades são específicas para segmentos

específicos. Quando se fala em customização de software, por exemplo, em

alguns setores isto não é possível, ou é difícil, em virtude da legislação interna de

outros países. Para que fosse possível desenvolver um software, customizado de

acordo com a legislação, necessário seria primeiro a realização de um estudo

aprofundado dessa legislação ou a contratação de alguém que tivesse domínio

sobre ela. Isso poderia elevar muito o custo e inviabilizar o projeto. De acordo

com um entrevistado, “[...] torna-se muito oneroso o processo de adptação do

software ao local que se quer atingir”. Outro entrevistado também expressou

opinião nesse sentido: “não exporto, pois o meu produto é específico para

determinado segmento e ficaria muito caro fazer a adaptação para outros países”.

Alguns segmentos do setor de software também têm dificuldades em dar

suporte técnico para seus produtos e isso também se torna um fator dificultador

de exportação. Um entrevistado afirma:

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“É difícil manter uma estrutura de suporte local. Eu teria que contratar ou firmar uma parceria com alguma empresa para viabilizar a exportação. Não sei se nesse caso valeria a pena”.

Outro empresário também dá sua opinião:

“A estrutura local ou o parceiro que te represente é difícil de se conseguir. Além disso, deixa de ser um serviço de tua empresa e não garante a qualidade necessária”.

Uma outra resposta dada pelos empresários mostra um fator importante

que deve ser considerado quando se busca o mercado externo: conhecimento da

cultura local de cada país, para não ferir ou de alguma forma agredir tradições,

costumes, religião, etc. De acordo com um entrevistado, “em alguns lugares, o

produto, mesmo sendo ‘top’, não é aceito por ferir a cultura local”. Outro

acrescenta: “a cultura de determinados países torna difícil a exportação”.

Resposta que chamou atenção e que apareceu tanto no grupo dos

empresários quanto no dos agentes foi a desconfiança do mercado externo sobre

a idoneidade do empresário brasileiro. Essa resposta reflete não somente uma

situação no setor de software, mas algo mais geral. Um empresário declarou:

“O que o importador lá fora quer receber é o que a ele foi mostrado. Quer garantia de receber aquilo que comprou. Existe muita desconfiança com a seriedade do empresário brasileiro e isso está associado à malandragem. Existe muito medo por parte do comprador externo em ter certeza se vai receber de fato o que comprou. Alguns países exigem comprovação e lacre de pallets por empresas contratadas para isso”.

De acordo com a resposta de um agente, “existe muita picaretagem e isso

compromete as exportações”.

A qualificação e a certificação do software brasileiro, assim como a

qualificação da mão-de-obra do profissional brasileiro, também foram citadas,

porém existe concordância entre empresários e agentes apenas no que diz

respeito à qualificação e certificação do software. Para os empresários, não

existe problema de qualificação da mão-de-obra. De acordo com um empresário,

“o cliente avalia mais a qualidade do software do que o país. Não tem importância

o país e sim o produto final”. Essa declaração mostra que indiferente do país ser

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considerado de primeiro mundo ou não, se tiver produto de qualidade terá

condições de competir no mercado internacional.

O idioma também é um fator que atrapalha a exportação de software.

Nessa questão, o problema não está relacionado com o desenvolvimento do

software em si, pois normalmente os desenvolvedores dominam ao menos o

idioma inglês. O problema do idioma relaciona-se mais à comercialização do

software. Muitos empresários têm bons produtos, porém não conseguem realizar

a negociação, prejudicados pela deficiência de vendas em um segundo idioma.

Declarações dos dois grupos entrevistados evidenciaram um outro

empecilho às exportações de software, que é a associação da “imagem Brasil”

neste setor. Este item será tratado separadamente, a seguir.

4.2.3 A “Imagem Brasil”

Esse tópico visa a discutir, de acordo com as respostas dos empresários e

dos agentes de fomento, a imagem que se tem do Brasil, quando se trata do setor

de software. Em um questionamento direto, foi perguntado se existia uma

“Imagem Brasil” para o setor de software no mercado internacional e se era

positiva ou negativa.

Os empresários não demonstraram consenso com relação à questão.

Alguns vêem o Brasil como um competidor mundial no setor de software, com

uma imagem bastante positiva. Citam casos de sucesso que ajudaram a colocar o

Brasil no cenário mundial. O setor bancário, o setor de telecomunicações, as

eleições utilizando urnas eletrônicas, software de gestão (ERP), entre outros,

foram exemplos mencionados de competência brasileira. Não há, entretanto,

ligação comprovada do fato de já existirem casos de sucesso de empresas que

exportam, com a imagem positiva do Brasil no exterior. Alguns empresários, ao

mesmo tempo em que dizem ter o Brasil uma imagem positiva no exterior,

afirmam que o país não é ainda um player importante. Afirmam que o Brasil se

destaca apenas em alguns setores específicos. Aparecem novamente a exaltação

da criatividade do brasileiro, sua capacidade de adaptação e flexibilidade, que

ajudam a criar uma imagem positiva do Brasil.

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Ao mesmo tempo em que há empresários otimistas, uma parcela, com

menor participação, porém, acha que está longe de o Brasil conquistar um lugar

de destaque no campo do software. Acham que existem boas perspectivas, mas

lembram que necessitam de apoio.

“O Brasil é pouco conhecido no desenvolvimento de software. É uma promessa e existem boas perspectivas. Há evolução, ampliação nesse sentido, no entanto, estamos aquém ainda de mercados emergentes que têm expertise na área de software”.

No que diz respeito à criação de imagem no exterior, falta apoio, e o

governo, segundo os empresários, deveria ser mais atuante. Um empresário

afirmou, “falta apoio e um guarda-chuva institucional do governo”.

Se entre os empresários há discordância quando à existência de uma

“imagem Brasil” no exterior, isto não acontece quando se analisa o grupo de

agentes de fomento. Em todas as respostas existe afirmação de que o Brasil

ainda não se consolidou internacionalmente no setor de software. “Não é um

player tradicional. Precisa provar que tem competência”. “Falta imagem

constituída”. Imagem, segundo afirmam, não se cria fazendo propaganda, mas

sim com qualidade e competência. Todos também vêem grandes oportunidades e,

segundo alguns agentes, fatores como qualificação de mão-de-obra, melhoria no

sistema de ensino com forte base tecnológica, currículos adequados nas

faculdades e melhoria no sistema de gestão empresarial, entre outros, poderiam

alavancar fortemente o setor de software no Brasil. Conseqüentemente, isso

criaria imagem positiva do Brasil no mercado externo, neste setor.

4.2.4 Ações e estratégias voltadas ao mercado internacional

Os empresários do setor de software, ao serem perguntados sobre ações e

estratégias voltadas para o mercado internacional, apresentaram diferentes

respostas. Conforme mostra a Tabela 7, dezoito empresas cujos sócios ou

gerentes foram entrevistados não participam, atualmente, do mercado

internacional. Os empresários, ao serem perguntados sobre o fato de existirem ou

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não ações e estratégias voltadas a este mercado em suas empresas,

responderam em um maior número negativa do que positivamente.

Tabela 13 Ações e estratégias voltadas ao mercado internacional

PERGUNTA SIM NÃO

Existem ações e estratégias voltadas ao mercado internacional? 4 14 Fonte: O autor.

Fica claro, de acordo com as respostas dos empresários, que não há ações

e/ou estratégias voltadas ao mercado externo. Essas respostas demonstram que

não é foco, nas empresas em que ainda não há negociações com o exterior, o

desenvolvimento de ações e estratégias neste sentido. Os empresários, salvo nos

casos em que a customização aparece como grande empecilho a estratégias

voltadas ao mercado externo, sentem-se muito atraídos pelo mercado interno. A

demanda no mercado interno é muito elevada e isso tem inibido estratégias e

ações visando ao mercado internacional. Soma-se à demanda interna a

dificuldade de se fazer mostrar em outros mercados. Não há capacidade

financeira para participação em feiras, encontros do setor, etc. Alguns esforços

são feitos individualmente pelos empresários. O que se necessita, segundo um

entrevistado, é apoio governamental.

“Precisa ter apoio de instituições governamentais. As embaixadas e representações diplomáticas deveriam ser mais que um simples lugar onde tremula a bandeira brasileira. Diferente de outros países no Brasil. É difícil se desenvolver por si só”.

Outros entrevistados seguem na mesma linha, fazendo as seguintes

considerações:

“Para prospectar mercado é difícil, pois é tributado até para exposição. Poderia haver isenção e/ou diminuição da tributação. Na compra de stands, por exemplo, deveria ter apoio do governo. Mais incentivos, menos burocracia. Existe um desamparo por parte das representações brasileiras no exterior. Falta uma boa agenda”.

E, ainda:

“Desenvolvemos software sob encomenda. O que falta é o mercado externo saber da qualidade de nossa empresa. Tomar conhecimento do que fazemos. Nossa divulgação é apenas uma página na Internet”.

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No grupo dos empresários que têm estratégias voltadas ao mercado

externo, foram citadas participações em feiras, possibilidade de franquias e

participações em missões comerciais, mas mesmo nesses casos constata-se

pouca efetividade. É mais uma questão de tentar ser proativo do que realmente

ter uma estratégia visando ao mercado externo.

4.2.5 Outros fatores de análise

Conforme Godoy (1995), na abordagem qualitativa de um estudo, valoriza-

se o contato direto do pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo

estudada. Passa a ser, dessa maneira, o pesquisador o instrumento mais

confiável de observação, seleção, análise e interpretação dos dados coletados.

Nesse sentido, alguns outros fatores puderam ser observados durante as

entrevistas, que fazem parte do contexto do setor de software, que serão

discutidos neste item.

O Brasil ainda não é um player tradicional no mercado internacional de

software. Necessita provar que tem competências e que pode se juntar a outros

países já consagrados como grandes fornecedores desse mercado. Embora em

algumas soluções o Brasil já seja referência, o país necessita expandir suas

competências para outros segmentos, para se consolidar como um fornecedor

usual deste mercado.

A facilidade de se trabalhar no mercado interno, onde se fala o mesmo

idioma e se tem a mesma cultura e valores, é um fator que interfere muito no

resultado pouco expressivo do comércio internacional brasileiro de software. Para

o empresário, existe interesse pelo mercado externo, mas o interno é mais fácil.

Uma dificuldade que se apresenta aos empresários do setor de software é

o excesso de burocracia do país. Esse tópico já foi apresentado anteriormente,

mas as reações dos empresários, ao abordarem o assunto, demonstram que

muito da falta de negócios no mercado externo é fruto da burocracia. O

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empresário somente procura o mercado exterior quando efetivamente há claras

perspectivas de bons negócios. Nesses casos ele se sujeita a enfrentar o

processo, que muitas vezes nem é tão moroso e burocrático como imagina. Do

contrário, prefere continuar tentando fazer negócios apenas internamente,

perdendo oportunidades e fazendo com que o país também as perca.

Foi possível observar e com isso inferir que o pequeno empresário tem

grandes dificuldades em seu dia-a-dia. A principal é a gestão de sua empresa. Há

muitas atribuições e isso impede a prospecção de novos mercados, por exemplo.

A sua sobrevivência como empresário é a sua maior preocupação e um dos seus

maiores medos é, muito diferente do que deveria ser, a ação do governo. Em vez

de ser o governo um aliado na busca por novas oportunidades, torna-se o maior

perigo. A tributação, os encargos trabalhistas e outras exigências tranformam-se

em elementos de grande preocupação. As garantias exigidas quando se buscam

financiamentos, por exemplo, em muitos casos, são tantas, que fazem com que o

empresário desista antes mesmo de começar a tentar obtê-los. Como existe

dificuldade de recursos próprios para uma possível estratégia voltada ao mercado

externo, ela deixa de ser planejada e implementada.

No setor de software, o segmento de serviços parece ser um bom caminho

para o Brasil. Competências dos profissionais brasileiros aliados à mão-de-obra

barata no contexto internacional permitiriam que bons negócios fossem feitos.

Outsourcing pode se tornar um grande nicho para empresas brasileiras. Os

Estados Unidos e países da Europa importam muita mão-de-obra e a vantagem

do fuso horário – times on11 – é brasileira.

Embora haja ações de governo, o que está faltando é comunicação. O

empresário desconhece os trâmites e o governo não divulga adequadamente as

oportunidades que disponibiliza. Também se constitui um fator negativo ao

11 No setor de serviços, em muitos casos, necessita-se de profissionais apresentando soluções

aos clientes em tempo real. O Brasil, em relação aos Estados Unidos e à Europa, tem uma diferença pequena de fuso horário e isso representa uma vantagem em relação a países asiáticos, por exemplo, porém tem sido pouco explorada.

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mercado internacional a falta de perenidade das ações de governo. Interrompem-

se e mudam-se rapidamente as políticas e isso gera falta de credibilidade. Seria

necessário haver mais continuidade nos programas.

Por último, foi possível perceber que o mercado de software brasileiro

apresenta-se muito fragmentado. Os empresários mostram-se muito

individualistas e sem aptidão para trabalhar em conjunto.

4.3 SÍNTESE SOBRE A CONSECUÇÃO DOS OBJETIVOS

O presente estudo teve como intuito verificar e tentar compreender o setor

de software abordando o aspecto da internacionalização das empresas brasileiras.

O principal objetivo era identificar se existe identidade entre a retórica dos

empresários e dos agentes de fomento à exportação com respeito à participação

brasileira no mercado internacional.

Quanto aos objetivos específicos, foi possível apresentar o contexto

internacional, o qual mostra que existe uma alta demanda e que países

desenvolvidos têm uma grande participação. Países em desenvolvimento

aparecem como exportadores de mão-de-obra, contribuindo para aumentar os

números das exportações de serviços no setor de software.

Para o Brasil, falta desenvolver a imagem de um competidor neste setor,

tendo como perspectiva o segmento de customizações. No segmento de software

embarcado12, as empresas transnacionais têm o domínio.

Outro objetivo específico era a identificação de fatores internos e externos

que facilitam e dificultam a atuação de empresas brasileiras no exterior. Pôde-se

constatar que muitos são os fatores.

12 Software embarcado, ou também chamado software de apoio, é aquele incorporado ou

interligado a outros, sendo combinado para criar uma solução mais abrangente. É na verdade um software que funciona em conjunto como uma máquina. É um software de apoio que cria em conjunto um produto final, cujo custo e o valor comercial são influenciados, em muitos casos, de forma significativa, pelo software embarcado.

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Internamente, aparece como facilitador, em primeiro plano, o capital

humano. A criatividade e a competência dos profissionais brasileiros trabalham a

favor da indústria brasileira de software.

O governo, tanto na opinião dos empresários como também na opinião de

alguns agentes, é o que mais dificulta. Embora haja ações de governo que visam

a ajudar as empresas, aspectos burocráticos e entraves legais desestimulam as

empresas a buscar apoio. Com isso, oportunidades de negócios são perdidas e

conseqüentemente prejudicam o desempenho exportador brasileiro.

Ainda, como fator interno e que também contribui para um fraco

desempenho exportador, aparece o fato de o mercado interno estar com uma alta

demanda por software, o que faz os empresários darem mais atenção a esse

mercado. O desconhecimento dos trâmites para exportação pelos empresários

também prejudica o desempeho exportador brasileiro, mas neste caso torna-se

uma conseqüência do fato de estarem mais voltados ao atendimento do mercado

interno.

Externamente também aparecem fatores que facilitam e dificultam as

operações das empresas brasileiras. Aspectos relacionados às pessoas

aparecem como os maiores facilitadores. Mão-de-obra barata, criatividade,

qualificação dos profissionais são alguns exemplos. Como dificultadores, o idioma

e a falta de certificação de qualidade do software foram mencionados como

sendo fatores que exercem influência.

O estudo também tinha a intenção de responder algumas questões

relacionadas ao setor de software, abordando o tema da internacionalização.

Quando analisada a relação entre o tamanho da empresa e a sua

participação no mercado internacional, notou-se que existe maior facilidade para

as grandes empresas, já que a existência de uma boa estrutura de recursos

humanos é fundamental para a prospecção de negócios no exterior.

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O aspecto financeiro também tem grande influência. Diferentemente das

micro e pequenas empresas, que sofrem pela falta de pessoas e recursos e que

em sua maioria lutam para não desaparecerem do mercado, as grandes dispõem

de recursos para investir no desenvolvimento de novos mercados, a longo prazo.

Quanto à pergunta sobre estratégia voltada ao mercado externo, ficou claro

que não existe. Há algumas exceções, porém negócios internacionais

normalmente ocorrem por acaso. Essa constatação é mais evidente nas micro e

pequenas empresas.

Por último, havia um objetivo específico relacionado à influência do

governo na participação das empresas no mercado global de software. O estudo

mostrou que são muitas as exigências por parte do governo e isso desestimula o

empresário. As empresas do setor de software demonstram que preferem realizar

ações por conta própria a buscar apoio do governo. A morosidade e a burocracia

aparecem como grandes barreiras.

Com base nisso, foi possível endereçar o objetivo geral do estudo e

constatar que sobre o setor de software de fato existe alinhamento entre o que

falam os empresários e o governo e o seu desempenho exportador. Esse

alinhamento, no entanto, ocorre no sentido de reconhecer o fraco desempenho no

âmbito internacional. De um lado, empresários afirmam que têm capacidade e

criatividade, porém lhes faltam recursos. Do outro lado, o governo dizendo que

existem recursos disponíveis, mas que devido a características da gestão das

empresas, esses recursos não são usados. O estudo mostra que está faltando

comunicação entre o governo e empresários. O setor de software é dependente

da ação conjunta e somente se isso ocorrer será possível obter um melhor

desempenho.

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CONCLUSÃO

Após a análise das entrevistas, em que empresários e agentes de fomento

à exportação puderam discorrer sobre suas opiniões sobre o setor, serão

apresentadas algumas conclusões e considerações finais. Também, a título de

continuidade de pesquisas na área, serão feitas algumas recomendações, que

poderão ser seguidas por outros pesquisadores que se interessem na

continuidade deste estudo.

Após analisar os conteúdos das entrevistas feitas com o grupo de

empresários e de agentes de fomento, assim como todas as informaçõs coletadas

durante o estudo, foi possível verificar alguns pontos importantes e que serão

apresentados na seqüência.

A indústria de software está em crescimento e, assim como os benefícios

dessa indústria, esse crescimento não está restrito a nenhum país. Trata-se de

uma indústria que a cada dia apresenta novas oportunidades em virtude de seu

dinamismo. Não é diferente no Brasil, porém ao se analisar a participação da

indústria brasileira no cenário mundial, pode-se afirmar que é muito pequeno o

esforço exportador nacional. Países menores, ou comparativamente no mesmo

nível de desenvolvimento econômico do Brasil, vêm ocupando espaço mais

destacado.

O estudo comprovou que um dos fatores que interferem no resultado do

Brasil no mercado internacional de software é a alta demanda interna. Os

empresários estão muito preocupados em não perder negócios em seu país,

onde conseguem mais facilmente estarem presentes. A maioria acha que, por

enquanto, não é hora de preocupar-se com o mercado externo, pois existem

muitas oportunidades internamente, embora considerem que o mercado externo

também é importante.

O estudo mostrou que a alta demanda interna interfere diretamente no

modelo de negócios da indústria brasileira de software. Ao se voltarem ao

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mercado interno, os empresários deixam de buscar novos mercados e seus

modos de atuação são influenciados por essa prática. Muitos empresários não

conhecem o processo, ou seja, a operacionalização do comércio exterior no setor

em que atuam. Fica claro que não conhecem porque não exportam e vice-versa.

Não exportam também porque o modelo de negócios é voltado ao mercado

interno e não por desconhecimento das possibilidades da exportação.

Outra conclusão do estudo é referente à “imagem Brasil” no setor de

software, internacionalmente falando. Com exceção de alguns casos isolados de

sucesso, o Brasil não tem, na visão dos entrevistados, uma imagem solidamente

constituída. Setores como o de automação bancária, ERP, eleições eletrônicas,

põem o Brasil em destaque, mas isso não é o suficiente para garantir que o Brasil

seja referência no cenário mundial. É possível concluir também que pouco se tem

feito para a promoção dessa imagem, embora para se tornar referência seja

necessário ir além da promoção, proporcionando o mercado externo efetivamente

com produtos e serviços. Se existe debilidade participativa no cenário

mercadológico, inevitavelmente não se dispõe de imagem forte.

Foi apresentado no estudo que no universo de empresas brasileiras

desenvolvedoras de software, 94% são micro e pequenas empresas. Das vinte e

quatro empresas entrevistadas, dezoito classificam-se como micro ou pequenas.

O estudo revela que a inserção no mercado externo é mais difícil para empresas

que têm essa classificação. Das dezoito empresas, apenas três exportam ou já

exportaram, ao passo que das três grandes empresas entrevistadas, todas têm

presença no mercado internacional. O estudo revela a dificuldade das micro e

pequenas empresas em alcançar mercados externos. Isso se dá por uma questão

estrutural e de gestão. Normalmente essas empresas são administradas pelo

próprio proprietário que desenvolve várias funções, com poucos colaboradores e

às vezes é uma empresa de uma única pessoa. A gestão não é deficiente no

sentido de competência, mas sim no sentido de acúmulo de funções. Muitas

vezes, o proprietário e os colaboradores desenvolvem funções administrativas,

técnicas, operacionais, etc., todas ao mesmo tempo, o que pode afetar aspectos

como prospecção de mercado, por exemplo. Nas grandes empresas normalmente

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existem setores específicos para cada função, o que torna mais fácil o

desempenho de funções diferentes por diferentes pessoas. Uma dessas funções

pode ser a busca por novos mercados ou, até mesmo, o fomento do comércio

exterior. Alia-se ao fato das dificuldades de gestão por acúmulo de funções nas

micro e pequenas empresas a dificuldade de se conseguir formas de

financiamento, muitas vezes pelo excesso de garantias exigidas, outras pela falta

de tempo em se informar sobre as linhas de financiamento existentes e

disponíveis.

Em muitos casos, foi constatado o desinteresse pelo mercado externo, em

função das oportunidades existentes e ainda não devidamente exploradas no

próprio país. Por último, constatou-se, em algumas situações, desconhecimento

das possibilidades e oportunidades do mercado externo.

Trabalhos anteriores já mencionavam a baixa inserção das empresas

brasileiras de software no mercado internacional, baixo potencial exportador;

baixa tendência exportadora, viés antiexportação e resultados abaixo do

esperado no mercado internacional de software (FURLAN, 2003; STEFANUTO,

2004; GOMEL, 2005; SAMPAIO, 2006; ROSELINO, 2006). Os resultados desta

pesquisa corroboram esses trabalhos anteriores e confirmam a falta de ações e

estratégias voltadas ao mercado internacional, ao menos no caso das empresas

estudadas. A alta demanda interna no país é responsável direta por essa falta de

interesse pelo mercado externo. A maioria dos entrevistados considera o

mercado externo interessante, seja pela não dependência de um mercado único,

seja pela vulnerabilidade a que está sujeita a economia interna, ou ainda em

função da imagem que se pode criar da empresa ao se tornar fornecedora do

mercado internacional. Porém, poucas empresas de fato pensam o mercado

internacional como uma atividade normal. Algumas empresas exportam ou já

exportaram, mas não se pode considerar que houve uma estratégia ou uma ação

efetiva nesse sentido. Foi mais um acontecimento isolado, normalmente fruto do

acaso.

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A indústria de software tem de fato um conjunto de realidades mais do que

uma identidade. É um setor bastante promissor, cuja relação com o governo

merece algumas considerações.

Entraves, sejam burocráticos ou de qualquer outra natureza, estão

atrapalhando o desempenho exportador brasileiro. Os empresários reclamam que

o governo não dá apoio e que não disponibiliza recursos ao setor de software.

Faltam, segundo eles, ações efetivas que alavanquem a indústria de TI como um

todo. Para os empresários, alguns órgãos representativos do governo deveriam

atuar mais fortemente visando à promoção do setor. Citam as embaixadas e

representações diplomáticas apenas como lugares em que “tremula a bandeira

brasileira”.

A burocracia aparece como um fator interno que atrapalha muito os

empresários. Existe excesso de exigências e os empresários reclamam que é

difícil se enquadrar. Muitas vezes deixam de procurar qualquer ajuda do governo

pelo fato de que não conseguem apresentar todos os relatórios e documentos

exigidos. Citam ainda que existe muito pessoal despreparado para a análise de

pedidos de financiamento e, por isso, pouca ajuda é liberada. Quando se trata de

micro ou pequena empresa, as dificuldades aumentam. Avaliam que está faltando

foco e interesse do governo no setor. Acreditam que para o governo, é mais

importante a exportação de commodities do que tecnologia.

Os empresários exaltam a qualidade tanto do software como do

profissional brasileiro. Para eles, a flexibilidade e critatividade do brasileiro são

vantagens altamente competitivas. Destacam que há necessidade de certificação

do software brasileiro para uma maior inserção no mercado internacional.

Os agentes de fomento à exportação alertam que o empresário deveria ser

mais organizado. Segundo eles, existe disponibilidade de recursos, porém esses

recursos não estão sendo utilizados. O governo disponibiliza linhas de

financiamento voltadas à exportação, porém os empresários não conseguem

atender as exigências para obter acesso a essas linhas. Acaba sobrando dinheiro.

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Na opinião dos representantes dos agentes de fomento entrevistados, os

empresários necessitam melhorar a gestão das empresas.

O presente trabalho avaliou as considerações feitas tanto pelos

empresários como pelos agentes de fomento. A conclusão a que se chega é que

existe grande consenso entre empresários e agentes de fomento sobre alguns

fatores que afetam o desempenho exportador brasileiro, conforme segue a seguir.

• O empresário, principalmente nas micro e pequenas empresas, tem

dificuldade de acesso a crédito. O governo diz ter dinheiro sobrando,

porém, em algumas linhas do BNDES, por exemplo, em decorrência da

estrutura dessa instituição, usa bancos comerciais como intervenientes,

o que dificulta a liberação dos recursos.

• Concordam empresários e agentes quanto à qualidade do software e do

profissional brasileiro, porém o empresário está tendo que mostrar isso

no mercado externo sozinho. Falta apoio do governo nesse sentido, na

visão deles.

• A burocracia é item de concordância nos dois grupos entrevistados.

Existe de fato burocracia e, além disso, morosidade no andamento dos

processos.

• A gestão das empresas foi citada pelos agentes de fomento como um

ponto problemático. Constata-se que a gestão empresarial precisa

melhorar.

Aparece ainda, como resultado do estudo, a falta de cooperação entre os

empresários. Boas práticas não são compartilhadas e isso também afeta o

desempenho no mercado internacional. A certificação do software brasileiro,

embora seja lembrada pelos empresários e agentes, não está sendo buscada.

Pelo lado dos empresários, existe uma acomodação em virtude de viverem uma

situação favorável no mercado interno. Pelo lado do governo, a falha é em não

tentar promover a busca por essa certificação.

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O fim do trabalho não representa o fim das pesquisas. A fim de dar

continuidade nas pesquisas que envolvem o setor de software, o presente

trabalho traz algumas recomendações de futuros estudos que poderiam ser

desenvolvidos.

A pesquisa desenvolvida teve uma análise qualitativa e é suscetível a viés

de interpretação. Em se tratando de um estudo descritivo, não houve

preocupação com representatividade de amostra. Como sugestão para um futuro

trabalho, propõe-se a realização de uma pesquisa quantitativa, para tentar

comprovação de algumas hipóteses.

As empresas foram entrevistadas na medida em que aceitaram participar

da pesquisa, portanto, por adesão. Algumas das que foram contactadas não

aceitaram participar. Como foram escolhidas ao acaso, simplesmente por

pertencerem ao setor que estava sendo estudado, não houve definição de nicho

de atuação. Esse fato pode gerar viés de análise, pois, embora as empresas

participantes pertençam a um mesmo setor, a atuação por nichos pode trazer

resultados diferentes. Segmentos isolados, como games, software de gestão,

softwares educacionais, telecomunicações, serviços financeiros, por exemplo,

podem ser analisados de forma discriminada em estudos futuros, para se verificar

o quanto os achados diferem, em virtude da variável segmento.

O estudo se baseou em entrevistas com empresários e agentes de fomento

à exportação do setor de software. Foram apresentados fatores internos e

externos que ajudam e dificultam o processo de exportação do software brasileiro.

Um estudo visando ao aprofundamento maior em um ou mais fatores poderia

identificar resultados mais próximos da realidade do setor.

Um estudo comparativo entre o setor de software e um ou mais setores da

economia também poderia ser realizado, com o intuito de traçar um paralelo entre

facilidades e dificuldades encontradas quando se visa ao mercado externo.

No que concerne à análise sobre fatores externos que dificultam a

exportação de software brasileiro, esta foi feita em cima de percepções dos

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empresários mais do que em cima de fatos reais. Um estudo sobre esses fatores

para identificação da realidade objetiva poderia, ainda, ser foco de pesquisa

futura.

Ao terminar este trabalho, é possível ter uma compreensão maior do setor

de software e da sua internacionalização.

Foi mencionado anteriomente que o software é o segmento mais dinâmico

da indústria de tecnologia, indústria que afeta todos os setores econômicos. Seu

crescimento tem sido muito grande e quem estiver melhor capacitado, dentre as

empresas que atuam na área, ocupará lugar de destaque.

O Brasil apresenta uma série de potencialidades que foram explicitadas no

trabalho, porém apresenta também deficiências. Se tem como vantagem

competitiva a flexibilidade e a criatividade do brasileiro, deveria investir mais em

qualificação de mão-de-obra, pois, como o software é fruto da criatividade, o país

poderia se transformar em referência em desenvolvimento. Se existe um

contingente grande de micro e pequenas empresas no setor, dever-se-ia dar

condições a elas de crescimento dos seus negócios. Se existem recursos

disponíveis, deveria ser facilitado o acesso.

A demanda mundial é grande e o Brasil não pode deixar de pensar no

mercado externo. Enquanto está apenas pensando no mercado interno, outros

países estão ocupando lugar no cenário mundial. Pode ser tarde quando se

começar a pensar diferente.

O estudo mostrou que existem oportunidades e igualmente exitem desafios.

A internacionalização precisa se transformar em parte da estratégia, mas deve

ser focada e sustentada. Somente uma imagem forte da empresa e do país, como

fornecedor de produtos de qualidade na área, pode sustentar o crescimento.z

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REFERÊNCIAS

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APÊNDICE 1 - ROTEIRO DAS ENTREVISTAS REALIZADAS COM

OS EMPRESÁRIOS

ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA DISSERTAÇÃO

Empresa:

Endereço:

CNPJ: Telefone:

Número de funcionários Data de fundação:

Faturamento anual bruto:

Responsável:

1 – Quais os tipos de software que a empresa desenvolve?

2 – A empresa é exportadora de algum tipo de software?

3 – Se exporta, para quais países atualmente está exportando?

4 – Quando se deu o início das exportações e em que foi motivado, principalmente?

5 – Como foi o processo de exposição da empresa e produtos/serviços no exterior?

6 – Quais são os fatores internos que mais facilitam a exportação de software?

7 – Quais são os fatores externos que mais facilitam a exportação de software?

8 – Quais são os fatores internos que mais dificultam a exportação de software?

9 – Quais são os fatores externos que mais dificultam a exportação de software?

10 – Qual o mercado mais atrativo para a empresa, o interno ou o externo?

11 – Existe, em seu entendimento, associação da “Imagem Brasil” no setor de software no mercado internacional? Ela é positiva ou negativa?

12 – Quais os órgãos ou instituições que conhece e que atuam no sentido de fomento à exportação de software?

13 – Os órgãos governamentais têm dado suporte suficiente para as empresas que pretendem entrar ou que já estão inseridas no comércio internacional neste setor?

14 – O Brasil já está consolidado no mercado internacional de software ou ainda é uma promessa?

15 – Existe atualmente uma estratégia voltada ao mercado externo?

16 – Quais são as ações que ainda podem ser colocadas em prática pela empresa e que possibilitariam um melhor desempenho no contexto internacional?

17 – Quais são as políticas públicas que ainda podem ser colocadas em prática e que possibilitariam um melhor desempenho no contexto internacional?

18 – O que significa o termo internacionalização?

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APÊNDICE 2 - ROTEIRO DAS ENTREVISTAS REALIZADAS COM

OS AGENTES DE FOMENTO À EXPORTAÇÃO DE SOFTWARE

ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA DISSERTAÇÃO

Instituição:

Endereço:

CNPJ: Telefone:

Número de funcionários:

Data de início das atividades:

Responsável:

1 – Quais são os fatores internos que mais facilitam a exportação de software?

2 – Quais são os fatores externos que mais facilitam a exportação de software?

3 – Quais são os fatores internos que mais dificultam a exportação de software?

4 – Quais são os fatores externos que mais dificultam a exportação de software?

5 – Qual o mercado mais atrativo para as empresas, o interno ou o externo?

6 – Existe, em seu entendimento, associação da “Imagem Brasil” no setor de software no

mercado internacional? Ela é positiva ou negativa?

7 – Os órgãos governamentais têm dado suporte suficiente para as empresas que pretendem

entrar ou que já estão inseridas no comércio internacional neste setor?

8 – O Brasil já está consolidado no mercado internacional de software ou ainda é uma promessa?

9 – Quais são as ações que ainda podem ser colocadas em prática pelas empresas e que

possibilitariam um melhor desempenho no contexto internacional?

10 – Quais são as políticas públicas que ainda podem ser colocadas em prática e que

possibilitariam um melhor desempenho no contexto internacional?

11 – O que significa o termo internacionalização?

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APÊNDICE 3 - RELAÇÃO DAS EMPRESAS ENTREVISTADAS

NOME DA EMPRESA NICHO DE ATUAÇÃO CIDADE

STRATEGOS ENGENHARIA, INFORMÁTICA E CONSULTORIA LTDA.

ERP, BANCO DE DADOS CURITIBA

SIGMA DATASERV INFORMÁTICA S.A. SOFTWARE SOB ENCOMENDA

CURITIBA

CTS INFORMÁTICA LTDA. FONOAUDIOLOGIA E FISIOTERAPIA

PATO BRANCO

SPONTE INFORMÁTICA SOLUÇÕES PARA ESCOLA DE IDIOMAS

PATO BRANCO

WISE SYSTEMS VÁRIOS – TELECOM – ERP CURITIBA

DATASUL PARANAENSE VERTICAIS- ERP- TECNOLOGIA CRM

CURITIBA

DIGIDATA CONSULTORIA E SERVIÇOS DE LTDA. CALL CENTER CURITIBA

EBS SISTEMAS CONTABILIDADE-GESTÃO CURITIBA

TOPDATA APLICAÇÃO E CONTROLE ON LINE – EMBARCADO

CURITIBA

INFOPAR LTDA. AUTOMAÇÃO COMERCIAL – CONSULTORIA

CURITIBA

AUTOMA CONSULTORIA E INFORMÁTICA LTDA. SOLUÇÕES DE CALIBRAÇÃO GESTÃO DA QUALIDADE

CURITIBA

DESENVOLVA SISTEMAS DE INFORMÁTICA LTDA WEB – ERP CURITIBA

HORUS INFORMÁTICA DIVERSOS-BANCO DE DADOS-SOFTWARE DE

CONTEÚDO

CURITIBA

OBJECTIVE SOLUTIONS TV POR ASSINATURA – TELEFONIA

CURITIBA

AIS AUTOMAÇÃO INDUSTRIAL SOFTWARE LTDA. GESTÃO DE FRIGORÍFICOS CURITIBA

QUALITYWARE INFORMÁTICA EMBARCADO – IDENTIDADE DIGITAL - CONSULTORIA

CURITIBA

VOXEL ENGENHARIA DE SISTEMAS SOFTWARE SOB ENCOMENDA

CURITIBA

POSITIVO INFORMÁTICA EDUCACIONAL CURITIBA

SIGILUS INFORMÁTICA LTDA. SUPORTE DE SISTEMAS CURITIBA

PRÁXIS CONSULTORIA E FORMAÇÃO ESPORTIVA ÁREA ESPORTIVA CURITIBA

MICROSIGA ERP CURITIBA

SÉCULUS INSTALAÇÕES DE SOFTWARES LTDA. ERP-FINANCEIRO CURITIBA

FOLHAMATIC INFORMÁTICA CONTABILIDADE – CRM CURITIBA

PREÂMBULO INFORMÁTICA JURÍDICO CURITIBA

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APÊNDICE 4 - RELAÇÃO DE AGENTES DE FOMENTO À

EXPORTAÇÃO PARTICIPANTES DA PESQUISA

AGENTES DE FOMENTO À EXPORTAÇÃO DE SOFTWARE

SOFTEX ASSOCIAÇÃO PARA PROMOÇÃO DA EXCELÊNCIA DO SOFTWARE BRASILEIRO

BNDES BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL

TECPAR INSTITUTO DE TECNOLOGIA DO PARANÁ

MDIC MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR

MCT MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA

APEX BRASIL AGÊNCIA DE PROMOÇÕES E EXPORTAÇÕES E INVESTIMENTOS

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