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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA
VARA CRIMINAL DE BARREIRAS - BAHIA.
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DA BAHIA, por
seu órgão infra firmado, com atribuições nesta comarca, à
vista dos autos das Notícias Crimes nºs 747/2013, 751/2013,
oriundas da INFIP, constantes do Inquérito Policial nº
172/2009, vem, com base neles, à presença de V. Exa.,
propor
AÇÃO PENAL PÚBLICA
pelo oferecimento da presente DENÚNCIA contra:
MARCOS DOS SANTOS VELOSO, brasileiro, maior, inscrito sob o
CPF nº 673.482.899-91; ou 110.823.846-74; ou 109.879.586-
58, residente na Rua São Francisco, nº 2249, Casa, Centro,
Luís Eduardo Magalhães /BA – CEP 47.850-000; ou Rua Eudo
Castro, 07, Bairro Renato Gonçalves, Barreiras/BA – CEP
1
47.800-000;ou Conjunto D, Casa 12, Taguatinga, Brasília/DF
– CEP 72.150-602;
THIAGO FELIPE ALVES VELOSO, brasileiro, maior, inscrito sob
o CPF nº 035.179.545-60, residente na Rua São Francisco, nº
2263, Quadra 149, Lote 07, Mimoso I, Luís Eduardo Magalhães
– BA;
JAILTON FLORZINDO DOS SANTOS (“capitão” ou “capitão do
milho”), brasileiro, maior, inscrito sob o CPF nº
028.381.144-76, residente na Rua São João, nº 1331,
Caetetus, Arapiraca – AL;
VALMIR PARPINELLI, brasileiro, maior, inscrito sob o CPF nº
325.558.309-87, residente na Rua Josafá Marinho, nº 26,
Morada da Lua, Barreiras – BA, CEP. 47.800-000;
ÉRICA CORREA DE OLIVEIRA, brasileira, maior, inscrita no
CPF sob o nº 928.434.091-87, residente na Rua Piauí, Quadra
43, Lote 53, Mimoso, Luis Eduardo Magalhães/BA – CEP 47850-
000;
ADELINO GELLER, brasileiro, maior, inscrito no CPF sob o nº
394.672.287-34, residente na Rua Independência, 148,
Cruzeiro do Sul, Cariacica/ES – CEP 29.144-060;
IOMAR EVANGELISTA DE MORAIS SOBRINHO, brasileiro, maior,
inscrito no CPF sob o nº 953.809.731-91, residente na Rua
Paraná, quadra 69, 2º andar, Centro, Luis Eduardo
Magalhães/Ba - CEP 47.850-000, pelas razões a seguir
expostas;
Inicialmente, insta consignar que o Inquérito
Policial nº 172/2009 fora instaurado, mediante Portaria, a
partir de denúncias originadas no município de Ibotirama-
BA. O referido procedimento investigativo deu origem à
operação Grãos do Oeste, que apurou a existência de um
2
grupo criminoso organizado atuante na região de Barreiras-
BA, especificamente nos municípios de Barreiras, Luiz
Eduardo Magalhães e Ibotirama, com o objetivo de obter,
direta ou indiretamente, benefícios econômicos e/ou
materiais, com a consequente lesão ao erário baiano.
O grupo criminoso identificado pela operação Grãos
do Oeste utiliza-se de um esquema de fraude na
comercialização de grãos com documentos fiscais e de
Arrecadação Estadual DAE`s falsificados, “clonados” ou
emitidos em nome de empresas fictícias, constituídas
fraudulentamente com simulação dolosa do quadro societário
e inserção de pessoas sem capacidade econômico-financeira,
na condição de “laranjas” ou “testas de ferro”.
As investigações empreendidas nos autos apontam
MARCOS VELOSO como o mentor principal do grupo, sócio da
empresa AGROVITTA AGROINDUSTRIAL LTDA., por meio do qual,
em conluio com diversas pessoas, familiares e outras
empresas, a serem mencionadas posteriormente, traça todo o
planejamento tributário fraudulento, criado com o fito
principal de sonegar tributos.
O referido grupo criminoso atua de forma
concatenada, através de sociedades (empresas) fraudulentas,
estruturadas em um esquema de falsidade ideológica,
formação de quadrilha e sonegação fiscal. Verificou-se que,
agindo diretamente com a empresa AGROVITTA AGROINDUSTRIAL
LTDA encontram-se as sociedades: Prima Grãos Indústria,
Comércio, Importação e Exportação de Cereais Ltda; Jailton
Florzindo dos Santos ME; nome fantasia Cerealista JF dos
Santos;e Adelino Gueller & Cia Ltda, nome fantasia Brasil
Cargas.
Essas sociedades têm como atividade principal o
comércio por atacado de cereais e leguminosas beneficiadas,
a preparação e fiação de fibras de algodão ou o transporte
de referidos bens. O esquema funcionava com a falsificação 3
das notas fiscais em nome de empresas de terceiros, como
também na falsificação dos CTRC’s, não recolhendo o ICMS
relativo aos transportes da localidade de origem para a
destinatária das mercadorias.
Nesse sentido, a comercialização dos grãos se dá
mediante a circulação das respectivas cargas com a
utilização de notas fiscais falsas (inidôneas), sendo os
responsáveis pelas mencionadas falsificações, além do
mentor intelectual do grupo MARCOS VELOSO, a pessoa de nome
IOMAR EVANGELISTA DE MORAES SOBRINHO ou “GAÚCHO”. A
falsificação de notas fiscais praticada faz com que
diversas cargas de grãos circulem pelo Estado da Bahia sem
o devido pagamento do ICMS, com a consequente lesão ao
fisco.
Deste modo, através dos vínculos de endereços e
parentescos existentes na formação societária das empresas
envolvidas nas fraudes que se apresentam, fica
caracterizada a engrenagem utilizada pelo grupo criminoso,
com o fito de lesar o erário baiano.
Convém ressaltar, que em 2003 a Secretaria da
Fazenda do Estado da Bahia realizou procedimento fiscal
originado na execução do Mandado Judicial de Busca e
Apreensão nº 173/02, expedido pelo Juiz de Direito Antônio
Luiz Cunha, Titular da Vara Crime da Comarca de Barreiras,
concluindo que os documentos fiscais apreendidos no
escritório do investigado Marcos Veloso tratam-se de
“clonagem” dos documentos verdadeiros emitidos pela SEFAZ.
Tais documentos foram utilizados em operações tributadas a
fim de burlar o fisco deixando de recolher o ICMS devido
nas respectivas operações.
Nesse sentido, convêm trazer à tona a origem e os
meandros criminosos percorridos pelo mentor e líder da
organização criminosa ora investigada, bem como dos demais
denunciados: 4
MARCOS VELOSO
Fora constado que o investigado Marcos Veloso é
conhecido como intermediário nas transações envolvendo
grãos, atuante com habitualidade, tendo este sido autuado
pela prática de sonegação de impostos com a emissão dos
documentos fiscais falsos apreendidos, ensejando a
lavratura do Auto de Infração nº 000.896.548-0, renumerado
para o nº 000089.654/00-7, devidamente inscrito em Dívida
Ativa sob o nº 05195-19-1924-04, em 28/07/04. O referido
auto de infração deu origem à Notícia-Crime nº 747/2013,
conforme fls. 02-05, constantes do procedimento tombado sob
o SIMP nº 003.0.164238/2013, recebidos neste GAESF em
26/08/2013.
Marcos Veloso é a peça principal da estrutura
criminosa. Todas as relações entre as empresas pertencentes
ao esquema fraudulento têm participação direta do
denunciado, conforme se extrai do quanto apurado no
referido inquérito policial (Operação Grãos do Oeste).
Veja-se.
I) De acordo com o Informe de Inteligência
nº 184/2010, fl. 32 e Relatório de Inteligência nº
3956, fls. 185-190, Marcos Veloso possui três CPFs;
II) Cumprido o Mandado de Busca e Apreensão
no escritório de Marcos Veloso, verificou-se que este
mantinha um verdadeiro “escritório” fraudulento da
Secretaria da Fazenda da Bahia, na medida em que foram
apreendidos carimbos de uso exclusivo da SEFAZ, de
cartórios dos municípios de Luís Eduardo Magalhães e
de Barreiras, vide Informe de Inteligência Fiscal nº
184/2010, fl. 35;
5
III) Às fls. 162-165, anexo VI do Informe de
Inteligência nº 184/2010, constam DAE`s apreendidos em
nome de Carlos de Mello, CPF nº 015.465-98, inscrito
como produtor IE 078.588.766, o qual é representado
por Marcos de Souza Veloso, mediante procuração
registrada. Convém salientar, que o referido produtor
é falecido;
IV) Às fls. 77-78 dos autos do processo
0000816-18.2011.805.0022 constam trechos de diálogo
entre Júnior e Iomar (Gaúcho), diálogo em que abordam
a apreensão de cinco caminhões no Posto Fiscal e
apontam Marcos Veloso como responsável pelo produtor
Carlos de Mello. Convém salientar, que o referido
produtor é falecido;
V) À fl.80 dos autos do processo 0000816-
18.2011.805.0022 consta trecho de diálogo entre RUBEM
NOVATO PESSOA JÚNIOR, conhecido como “JÚNIOR”,
(funcionário de Flávio Fernandes – empresa All
Business), IOMAR EVANGELISTA DE MORAES SOBRINHO,
conhecido como “GAÚCHO” (funcionário de Marcos Veloso
– empresa Agrovitta) e Marcos Veloso, acerca da
liberação dos caminhões apreendidos no Posto Fiscal,
oportunidade em que Marcos Veloso aborda a confecção
de um carimbo falsificado, com o CPF do produtor
Carlos Mello, para que ele, Marcos Veloso, venha
assinar e conseguir a liberação dos caminhões no Posto
Fiscal;
VI) Às fls. 53/54 e 130/132 dos autos do
processo 0000816-18.2011.805.0022 constam trechos de
conversa entre Marcos Veloso e seu filho, Thiago
Veloso, diálogo em que, para a efetivação de mais uma
transação comercial, Marcos Veloso orienta Thiago a
falsificar a assinatura de Carlos de Mello (falecido);
6
VII) Às fls. 25-180 dos autos do processo
0000816-18.2011.805.0022, Informe de Inteligência
Fiscal nº 184/2010, verifica-se que Carlos de Mello
teve seu nome envolvido em fatos que configuram crime
de falsidade em Contrato de Arrendamento de Imóvel
Rural e DAE.
VIII) No antigo endereço da empresa
Agrovitta, Marcos Veloso, através da utilização de
crackers, invadiu contas bancárias de clientes do
Banco do Brasil e realizou, com recursos destas,
pagamentos de tributos de responsabilidade das
empresas AGRONORTE AGROINDUSTRIAL LTDA e AGROPECUÁRIA
CACHEADO LTDA, a exemplo da correntista Damiana Silva
Cardoso (fls. 949/952), que teve subtraída da sua
conta corrente a importância de R$ 4.813,81, conforme
notitia criminis apresentada pelo Banco do Brasil, no
volume IV do IP 172/2009 às fls. 953/959.
IX) Além da prática acima narrada, Marco
Veloso atua ainda efetuando a clonagem e autenticação
de documentos fiscais, vide Informe de Inteligência
Fiscal nº 184/2010, fl. 34, interceptação telefônica
às fls. 107-112, e RIF nº 726/2013, e notícias
criminais oriundas do Banco do Brasil constantes dos
autos.
X) No termo de deslacração da Agrovitta
proveniente da DECECAP, vide informe de inteligência
nº 570/2012 juntado ao IP 172/2009, consta em seu item
14 uma procuração da empresa JV Comércio e
Representações Ltda nomeando o denunciado como seu
bastante procurador. Curiosamente, a empresa JV possui
uma inscrição em dívida ativa (nº 651.519.248.003)
pela prática da mesma conduta delituosa alvo da
presente denúncia, qual seja, a inserção de elementos
inexatos em documento fiscal, realizando operações de
circulação de mercadorias sem recolher ICMS, conforme
fl. 801 do IP 172/2009.
7
XI) À fl. 18 dos autos do processo nº
0000816-18.2011.805.0022 consta registro de diálogo
entre um suposto preposto da empresa All Business,
identificado apenas como “Di Paula” e Marcos Veloso,
capturado por meio de interceptação telefônica, de
terminal telefônico cadastrado em nome da empresa All
Business, acerca de pedido de talões de notas fiscais
de produtor rural e de troca de notas fiscais.
Consta do procedimento tombado sob o SIMP nº
003.0.164238/2013 supra, que por ocasião de fiscalização
realizada por prepostos da Secretaria de Estado da Fazenda
(SEFAZ/BA) no escritório comercial de propriedade de Marcos
Veloso, inscrito no CPF nº 673.482.899-91, situado na Rua
Bom Jesus da Lapa, nº 04, Centro, Luís Eduardo
Magalhães/BA, CEP 47.850-000, foram constatadas
irregularidades que implicaram em um débito fiscal,
acrescido de multa, no importe de R$ 678.042,26 (seiscentos
e setenta e oito mil, quarenta e dois reais e vinte e seis
centavos), valor esse devidamente inscrito em Dívida Ativa
(inscrição nº 05195-19-1924-04), em 28/07/04, após
tramitação de Procedimento Administrativo Fiscal (PAF).
Com efeito, evidenciou-se que Marcos Veloso fraudou
a fiscalização tributária ao utilizar documentação fiscal
inidônea, “notas fiscais clonadas”, em operações
tributadas, conforme documentos a seguir listados: Auto de
Infração nº 000.896.548-0 renumerado para 000089.6548/00-7
à fl. 06, Termo de Apreensão de Mercadorias e Documentos
às fls. 08-11, relação de Notas Fiscais avulsas “clonadas”
apreendidas no estabelecimento às fls. 12-14, Notas fiscais
falsas “clonadas” às fls. 15-74, Notas fiscais verdadeiras
às fls. 75-129, demonstrativo de débito às fls. 135-136,
Demonstrativo do Sistema de Crédito Tributário/Certidão da
Dívida Ativa às fls. 139-143, Certidão da Dívida Ativa
atualizada às fls. 159-161.
8
Com esse procedimento houve a supressão do imposto
ICMS, apurado com base na auditoria realizada no valor
histórico de R$ 166.603,34 (cento e sessenta e seis mil,
seiscentos e três reais e trinta e quatro centavos) –
infração de código 53.01.11, segundo os artigos 197; 198, §
2º, 200; 209, II; 911 e 913 do Regulamento do ICMS do
Estado da Bahia, aprovado pelo Decreto Estadual nº
6.284/1997.
Em face de tais condutas, as irregularidades
fiscais perpetradas pelo ora denunciado resultaram no
débito fiscal indicado no parágrafo supra, nos seguintes
termos:
Nº DA INFRAÇÃO NO AI
VALOR PRINCIPAL
ACRÉSCIMO MORATÓRIO MULTA TOTAL
53.01.11 166.603,34 231.828,54 166.603,3
4 565.035,22
Honorários PGE 113.007,04
TOTAL 678.042,26
THIAGO FELIPE ALVES VELOSO
Sócio da empresa Agrovitta, filho do mentor e
líder da organização criminosa, Marcos Veloso, atuava em
conjunto e sob a sua orientação, podendo ser confirmado
pelos elementos a seguir:
I) À fl. 35 dos autos do processo 0000816-
18.2011.805.0022, do Informe de Inteligência Fiscal nº
184/2010, consta que Thiago Veloso também se utilizava
dos carimbos e documentos falsos da SEFAZ e de
cartórios da região, bem como os armazenava em seu
escritório;
II) Às fls. 48-54 e 126-132 dos autos do
processo 0000816-18.2011.805.0022 constam trechos de
diálogo entre Thiago Veloso e Marcos Veloso, captado
em interceptação telefônica, revelando que Marcos
9
passava orientações ao filho quanto às transações
comerciais envolvendo a empresa Agrovitta. Falaram
também, sobre a rotina do escritório e funcionamento
da empresa, restando claro que ambos atuavam em
conjunto e que Thiago seguia as orientações do pai
para a execução das práticas delituosas;
III) Às fls. 53-54 dos autos do processo
0000816-18.2011.805.0022, consta diálogo entre Thiago
Veloso e Marcos Veloso, captado em interceptação
telefônica, oportunidade em que Marcos orientou seu
filho Thiago a falsificar assinatura do produtor
Carlos de Mello para a efetivação de mais uma
transação comercial;
IV) À fl. 97 dos autos dos autos do processo
0000816-18.2011.805.0022, consta novamente diálogo
entre Thiago e Marcos, onde se trava mais uma
oportunidade comercial, envolvendo o “Capitão do
Milho”. Thiago recebe ordens de seu pai para a emissão
de nota fiscal a partir de um arquivo salvo em seu
computador, o que evidencia a parceria entre os dois;
V) Às fls. 14-15 dos autos do processo
0000816-18.2011.805.0022, consta a informação que
Thiago falsificou documentos emitidos em nome da
Cooperativa dos Produtores de Commodities Agrícolas
(Coopercas), vide anexo IV do Informe de Inteligência
Fiscal nº 184/2010. Os documentos falsificados
autorizavam o produtor rural Valter Mikio Morinaga a
emitir notas fiscais de cargas de algodão. Registre-se
que, foram apreendidos jogos de notas fiscais,
inclusive primeiras vias, emitidas em nome do produtor
rural supracitado, referentes à comercialização de
milho, no endereço de Thiago Felipe Alves Veloso.
Convém salientar que outros blocos de notas fiscais
também foram apreendidos em nome de diversos
produtores rurais (TD itens 01, 02 e 04); 10
PRIMA GRÃOS INDÚSTRIA, COMÉRCIO, IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO DE
CEREAIS LTDA.
Convém registrar que a lavratura do Auto de
Infração nº 206851.0061/03-6, devidamente inscrito em
Dívida Ativa sob o nº 01669-19-0767-04, em 20/04/04 deu
origem a Notícia-Crime nº 751/2013, conforme fls. 02-05,
constantes do procedimento tombado sob o SIMP nº
003.0.176054/2013, recebidos neste GAESF em 10/09/2013.
Consta dos referidos autos, que por ocasião de
fiscalização realizada por prepostos da Secretaria de
Estado da Fazenda (SEFAZ/BA) na empresa Prima Grãos
Indústria, Comércio, Importação e Exportação de Cereais
Ltda., CNPJ 02.276.647/0001-76, IE 052.948.598, com sede na
Fazenda Prima Grãos, s/n, BR 135, km 80, Bairro Sede –
Riachão das Neves – BA, CEP nº 47.970-000, gerida pelos
sócios Marcos Veloso e Valmir Parpinelli, foram constatadas
irregularidades que implicaram em um débito fiscal,
acrescido de multa, no importe de R$ 293.171,34 (duzentos e
noventa e três mil, cento e setenta e um reais e trinta e
quatro centavos), valor esse devidamente inscrito em Dívida
Ativa (inscrição nº 01669-19-0767-04) em 20/04/04, após
tramitação de Procedimento Administrativo Fiscal (PAF).
Assim, evidenciou-se que os sócios Marcos Veloso e
Valmir Parpinelli fraudaram a fiscalização tributária ao
emitirem notas fiscais com saídas de milho a granel sem
destaque do imposto, dos exercícios de 2000 e 2001, e
também ao deixarem de recolher nos prazos regulamentares o
ICMS referente a operações não escrituradas nos livros
fiscais próprios, considerando que o contribuinte
apresentou documentos de arrecadação, como prova de
pagamentos das operações, cujas autenticações não foram
identificadas pela rede bancária.
11
Os ilícitos praticados pelos sócios gestores da
empresa Prima Grãos foram demonstrados pelos documentos a
seguir listados: Auto de Infração nº 206.851.0061/03-6 às
fls. 06-10 constantes do procedimento tombado sob o SIMP
supramencionado, demonstrativos de débito à fl. 14,
demonstrativo das notas fiscais com saídas de milho em
grãos, com isenção do ICMS, não recebidas pelo destinatário
Avipal Nordeste S/A, às fls. 16-23, demonstrativo das notas
fiscais emitidas, cujos DAE’s do ICMS apresentados como
pagamentos, não foram identificados pelo Banco nas
autenticações à fl. 24, declaração prestada pela empresa
Avipal Nordeste à fl. 26, relação das notas fiscais
apreendidas no escritório de Marcos Veloso, emitidas pela
Prima Grãos Ltda. tendo como destinatário a Avipal Nordeste
às fls. 27-37, notas fiscais emitidas pela Prima Grãos
Ltda. tendo como destinatário a Avipal Nordeste às fls. 38-
173, livro de registro de entradas nº 003 da Avipal
Nordeste às fls. 174-199, ofício resposta do Banco Bradesco
confirmando o não recebimento o não recebimento de valores
pelo banco à fl. 201, DAE’s com autenticações falsas às
fls. 204-206, certidão da Dívida Ativa às fls. 214-2019, 4ª
e 5ª Alterações contratuais às fls. 220-223.
Com o primeiro procedimento acima relatado, houve a
supressão do imposto ICMS, apurado com base na auditoria
realizada no valor histórico de R$ 70.582,37 (setenta mil,
quinhentos e oitenta e dois reais e trinta e sete centavos)
– infração de código 02.01.03, segundo os artigos 20,
inciso X e 341, inciso XI do Regulamento do ICMS do Estado
da Bahia, aprovado pelo Decreto Estadual nº 6.284/1997.
No que tange ao segundo procedimento adotado pelos
sócios, houve a supressão do imposto no valor histórico de
R$ 2.454,12 (dois mil quatrocentos e cinquenta e quatro
reais e doze centavos) – infração de código 02.01.02,
segundo os arts. 348, § 2º, inciso I-a; 50; 124, inciso I e
323 do Regulamento do ICMS do Estado da Bahia, aprovado
pelo Decreto Estadual nº 6.284/1997.
12
Em face de tais condutas, as irregularidades
fiscais perpetradas pelos ora denunciados resultaram no
débito fiscal indicado no parágrafo supra, nos seguintes
termos:
Nº DA INFRAÇÃO NO AI
VALOR PRINCIPAL
ACRÉSCIMO MORATÓRIO MULTA TOTAL
02.01.03 70.582,37 123.201,16 42.349,34 236.132,87
02.01.02 2.454,12 4.004,63 1.717,88 8.176,63
Honorários PGE 48.861,84
TOTAL 293.171,34
AGROVITTA AGROINDUSTRIAL LTDA.
A AGROVITTA AGROINDUSTRIAL LTDA., CNPJ
07.654.032/0001-50, IE 067.420.167, com endereço comercial
na Rua Paraná, quadra 69, nº 08, Edifício Magazan, 2º
andar, Centro, Luís Eduardo Magalhães – BA na Rua B, s/n,
Centro Industrial do Cerrado, Luís Eduardo Magalhães – BA.
A razão social atual da empresa é AGRONITTA AGROINDUSTRIAL
LTDA, permanecendo com o nome fantasia AGROVITTA.
A referida empresa tem como sócios Thiago Felipe
Alves Veloso, inscrito sob o CPF nº 035.179.545-60, sócio
administrador da empresa, e Érica Correa de Oliveira,
inscrita sob o CPF nº 928.434.091-87, conforme extrato de
dados cadastrais da INFIP à fl. 915 dos autos do IP
172/2009. A empresa iniciou as suas atividades em outubro
de 2005, conforme fls. 659.
Convém registrar, a lavratura do Auto de Infração
nº 278905.0901/12-2, vide documentos às fls. 806-809 do IP
172/2009, referente à empresa Agrovitta, devidamente
inscrito em Dívida Ativa sob o nº 00437-19-0000-13, em
02/04/13, conforme documentos constantes às fls. 925-928
deste inquérito policial.
Consta dos referidos autos, que por ocasião de
fiscalização realizada por prepostos da Secretaria de
13
Estado da Fazenda (SEFAZ/BA) na empresa Agrovitta, dos
sócios Thiago Veloso e Érica, gerida de fato por Marcos
Veloso, com o auxílio de seu filho Thiago Veloso, foram
constatadas irregularidades que implicaram em um débito
fiscal, acrescido de multa, e atualizado no importe de R$
39.617.635,09 (trinta e nove milhões, seiscentos e
dezessete mil, seiscentos e trinta e cinco reais e nove
centavos), valor esse devidamente inscrito em Dívida Ativa
(inscrição nº 00437-19-0000-13,) em 02/04/13, após
tramitação de Procedimento Administrativo Fiscal (PAF).
Com efeito, evidenciou-se que os sócios da empresa Thiago
Veloso e Érica Correa de Oliveira, bem como Marcos Veloso,
gerente de fato, fraudaram a fiscalização tributária na
medida em não efetuaram os recolhimentos do ICMS
substituído por diferimento, no exercício de 2011 a 2012,
deixando de recolher, nos prazos regulamentares, o ICMS
referente a operações comerciais realizadas, considerando a
existência de planilhas contendo notas fiscais eletrônicas
referentes às operações interestaduais de venda de
mercadorias, enquadradas no regime do diferimento sem
recolhimento do ICMS.
Os ilícitos praticados pelos sócios e o gestor de
fato da empresa Agrovitta foram demonstrados pelos
documentos a seguir listados: Auto de Infração nº
278905.090/12-2, Demonstrativo de Débito, Planilhas
contendo falta de recolhimento do ICMS diferido, Dados
Cadastrais da empresa Agrovitta, Termo de Inscrição em
Dívida Ativa e Demonstrativo de débito atualizado no
montante de R$ 39.617.635,09 (trinta e nove milhões,
seiscentos e dezessete mil, seiscentos e trinta e cinco
reais e nove centavos), vide documento constante à fl. 930
dos autos do IP 172/2009.
Ocorre que, mesmo não contando com a participação
de Marcos Veloso no seu quadro societário, ele respondia
pela gerência da empresa, comprovando-se pelos atos
descritos abaixo:
14
I) As investigações preliminares,
empreendidas na Operação em apreço, apontam Marcos
Veloso como administrador de fato da referida empresa,
conforme trecho de diálogo entre Marcos Veloso e
Jailton Florzindo dos Santos, conhecido como “Capitão
do Milho”, oportunidade em ambos definem uma transação
comercial vide fls. 96-97 e fls. 102-103 dos autos do
processo 0000816-18.2011.805.0022;
II) Consta do relatório IP 172/2009, à
fl.785, que o próprio Jailton Florzindo dos Santos,
em depoimento prestado à DECECAP, admitiu manter
relações comerciais com Marcos Veloso e seu filho
Thiago Veloso, apontando o primeiro como proprietário
da empresa Agrovitta, e o nome de Iomar Evangelista de
Morais Sobrinho como funcionário de Marcos Veloso na
referida empresa.
III) A INFIP atestou por meio do Informe de
Inteligência nº 4.017/2009, constante às fls. 46-53
dos autos do Inquérito Policial em análise, a
participação da empresa Agrovitta na falsificação das
notas fiscais tendo utilizado os dados cadastrais do
produtor rural Anésio Horácio Ferreira, vide fls. 17-
18, 24-25, 33-35, apreendidas com os motoristas
contratados pela própria Agrovitta, conforme termos de
declaração acostados às fls. 05-08 do IP 172/2009, bem
como a falsificação de um número de autorização, para
a confecção de documentos fiscais concedido pela SEFAZ
(AIDF) a esse produtor rural, assim confeccionando as
notas fiscais apreendidas, para a realização de
transporte de carga de algodão em pluma, objeto de
ação fiscal no Posto Fiscal Roberval Santos, no
município de Muquém do São Francisco, vide anexo I,
anexo II e anexo III, fls. 54-110 do IP 172/2009;
IV) Foram apreendidos documentos, no
estabelecimento da Agrovitta, dentre eles:
15
a) As primeiras vias de notas fiscais
emitidas pela empresa Strobel e destinados à
empresa Maxigrãos (TD item 09, anexo Informe de
Inteligência nº 570/2012 constante do IP
172/2009), bem como as primeiras vias de notas
fiscais do produtor rural Nelson Luiz Roso
destinados à empresa Maxigrãos (TD itens 09 e
12, anexo Informe de Inteligência nº 570/2012
constante do IP 172/2009).
Todas estas notas eram destinadas a dar
trânsito a mercadorias, de modo que estas não ficavam
em poder dos adquirentes para sua escrituração em
livros fiscais próprios, permitindo assim a utilização
de créditos fiscais, se devidos. Deste modo, as
referidas notas fiscais, ao estarem de posse da
Agrovitta, denotam que a referida empresa atuava na
comercialização de mercadorias utilizando-se do nome
de terceiros, de acordo com Informe de Inteligência
Fiscal nº 570/2012, e anexo V do Informe de
Inteligência nº 184/2010, fls. 156-160 constante do IP
172/2009;
b) DAEs referentes ao pagamento do ICMS de
notas fiscais em nome de Carlos de Mello (TD
item 13, anexo Informe de Inteligência nº
570/2012 constante do IP 172/2009), já
falecido. Este também inscrito como produtor
rural, contudo representado por Marcos Veloso
mediante procuração registrada no Livro 81-P,
fls. 02/022, do Tabelionato de Notas da Comarca
de Peabiru/PR, de 06/08/08. Vale registrar, que
Carlos Mello (falecido) possui seu nome
envolvido em fatos que configuram crime de
falsidade em Contrato de Arrendamento de Imóvel
Rural e DAE, conforme Informe de Inteligência
Fiscal nº 184/2010 constante do IP 172/2009;
16
c) Procuração tendo como outorgante a
empresa JV Comécio e Representações Ltda
nomeando Marcos Veloso como seu bastante
procurador (TD item 14, anexo Informe de
Inteligência nº 570/2012 constante do IP
172/2009);
IV) Embora Érica Correa de Oliveira figure
no Contrato Social da empresa Agrovitta como sócia, a
análise do produto das interceptações telefônicas
deferidas por este Juízo, assim como os demais
elementos informativos apresentados pelas Autoridades
Fazendária e Policial demonstram tratar-se de evidente
caso de interposição fictícia de pessoa (“laranja”),
conforme Informe de Inteligência Fiscal nº 184/2010,à
fl. 32;
IV) À fl. 96 dos autos do processo nº
0000816-18.2011.805.0022 consta trecho de diálogo
entre Marcos Veloso e Jailton Florzindo dos Santos,
“Capitão do Milho”, no qual se trava conversa acerca
de transação comercial, oportunidade em que Jailton é
aconselhado a fazer contato com Thiago Veloso, através
de terminal telefônico cadastrado em nome da
Agrovitta, para deliberar sobre o aludido acordo
comercial, revelando que o poder de gerenciamento que
Marcos exerce nas relações comerciais em nome da
referida empresa;
V) Às fls. 538-540 dos autos do IP 172/2009,
consta depoimento de Iomar Evangelista de Morais
Sobrinho, o qual afirma que antes trabalhava para
Flávio Fernandes na empresa All Busines e que
posteriormente Marcos Veloso lhe ofereceu emprego,
para trabalhar na empresa Agrovitta, tendo ele
aceitado a proposta, restando confirmado mais uma vez
o poder de gerência e administração do Marcos Veloso;
17
VI) Às fls. 543-545 dos autos do IP
172/2009, consta depoimento de Jailton Florzindo dos
Santos, “Capitão do Milho”, onde ele afirma que travou
relações comerciais com Marcos Veloso e Thiago Veloso,
demonstrando que os dois são os proprietários de fato
da Agrovitta;
JAILTON FLORZINDO DOS SANTOS
Sócio da empresa JAILTON FLORZINDO DOS SANTOS ME,
conhecido como “Capitão do Milho” mantém relações
comerciais com Marcos Veloso e incorria nas mesmas práticas
delituosas que este, a seguir demonstradas:
I) Restou comprovada a vinculação entre
Jailton Florzindo dos Santos e Marcos Veloso, tendo em
vista a apreensão de Ordens de carregamento da empresa
Agrovitta no endereço de Jailton, vide TD itens 02-04;
II) Às fls. 48-54 dos autos, consta diálogo
entre Marcos Veloso e Thiago Veloso, captado mediante
interceptação telefônica, onde se trava um acerto de
reaproveitamento de notas fiscais, de modo que as
mercadorias são entregues em diversos locais
utilizando-se do mesmo documento, restando evidente
que tal prática também é utilizada por Jailton;
III) À fl. 96 dos autos, consta diálogo
entre Jailton e Marcos Veloso, captado mediante
interceptação telefônica, oportunidade em que eles
travam uma transação comercial, demonstrando a atuação
criminosa de ambos;
IV) À fl. 97 dos autos, consta diálogo entre
Marcos Veloso e Thiago Veloso, captado mediante
interceptação telefônica, momento em que Thiago
celebrava mais uma transação comercial no escritório
do “Capitão” envolvendo notas fiscais;
18
V) À fl. 99 dos autos, registra diálogo
entre Jailton e Marcos Veloso, capturada mediante
interceptação telefônica, acerca de uma combinação
entre os dois para a liberação de cargas com excesso
de peso objetivando a realização de mais uma transação
comercial ilícita.
VI) Às fls. 543-545 dos autos, consta
depoimento de Jailton Florzindo dos Santos, no qual
ele confirma que conhece Marcos e Thiago Veloso, com
os quais mantém relação comercial, negociando a compra
de grãos de milho. Ele informa ainda, que paga a
Agrovitta, de propriedade de Marcos Veloso, todos os
recolhimentos fiscais dos produtos;
VII) Jailton, em seu depoimento, indica o
nome de Iomar e que este trabalha juntamente com
Marcos Veloso para a efetivação das transações
comerciais, vide fl. 544 dos autos;
ADELINO GELLER
Consta do quadro societário da empresa Adelino
Gueller & Cia Ltda., nome fantasia da empresa Brasil
Cargas. Responsável pela contratação dos transportadores,
realizando entrega de notas fiscais aos motoristas e
informando-os sobre a forma de passar pelo posto fiscal sem
que seja fiscalizado o caminhão. Atuava para as empresas de
Marcos, Agrovitta e Prima, e Flávio, All Business, sempre
recebendo comissões pelas cargas enviadas.
Também recebia os blocos de notas fiscais falsas
encaminhadas por Marcos e Flávio, conforme diálogo
transcrito de interceptação telefônica à fl. 88 dos autos
do processo 0000816-18.20118050022. Abaixo outras
informações que corroboram a participação do denunciado no
esquema criminoso:
I) Termo de deslacração da DECECAP, vide Informe
de Inteligência constante do IP 172/2009, no seu item
19
02 revela que foram apreendidos talões de ordem de
carregamento em nome da Agrovitta, demonstrando a
ligação de Adelino com Marcos.
II) Consta no mesmo termo de deslacração
apreensão de talonário de Ordem de Carregamento
referente à Agrovitta, no endereço de Adelino Geller,
comprovando que as notas fiscais da Agropecuária
Cajueiro Ltda., também apreendidas, serviam para dar
trânsito às mercadorias da Agrovitta, sem que a
empresa pagasse o ICMS e, consequentemente, burlando o
Fisco. (TD 01-02).
IOMAR EVANGELISTA DE MORAIS SOBRINHO
Ex-funcionário de Flávio Fernandes na All
Business,desempenhou funções no setor de faturamento. Após
sua saída da referida empresa, foi empregado de Marcos
Veloso. Participou ativamente nas duas empresas, como um
dos principais responsáveis pela movimentação comercial,
negociando fretes, emitindo notas fiscais, intermediando
contatos de motoristas de cargas e seus contratadores; além
de atuar paralelamente na comercialização de talões de
notas fiscais falsas e constituição de empresas fictícias.
Seguem abaixo outras informações que corroboram com a
participação do denunciado no esquema fraudulento:
I) Às fls. 77/78 dos autos do processo
0000816-18.2011.805.0022 constam trechos de diálogo
entre Júnior e Iomar (Gaúcho), diálogo em que abordam
a apreensão de cinco caminhões no Posto Fiscal e
apontam Marcos Veloso como responsável pelo produtor
Carlos de Mello (falecido).
II) À fl. 80 dos autos do processo 0000816-
18.2011.805.0022 consta trecho de diálogo entre Rubem
Novato Pessoa Júnior (funcionário de Flávio Fernandes
– empresa All Business), Iomar Evangelista
(funcionário de Marcos Veloso – empresa Agrovitta) e
20
Marcos Veloso, acerca da liberação dos caminhões
apreendidos no Posto Fiscal, oportunidade em que
Marcos Veloso aborda a confecção de um carimbo
falsificado, com o CPF do produtor Carlos Mello, para
que ele, Marcos Veloso, venha assinar e conseguir a
liberação dos caminhões no Posto Fiscal;
Desta forma, encontrando-se os denunciados Marcos
dos Santos Veloso, Thiago Felipe Alves Veloso, Jailton
Florzindo dos Santos, Valmir Parpinelli, Érica Correa de
Oliveira, Adelino Geller e Iomar Evangelista de Morais
Sobrinho incursos nas penas do artigo 1º, incisos I, II e V
da Lei 8.137/90, combinado com o artigos 29 (co-autoria),
69 (concurso material) e 288 do Código Penal, estando ainda
o primeiro incurso no 155, § 4º do Código Penal, requeremos
seja a presente denúncia recebida e autuada, e que em
seguida sejam os citados para, querendo, apresentarem a
defesa que tiverem e, enfim, para se verem processar até
final sentença quando espera sejam condenados, tudo nos
termos dos artigos 394 e seguintes do Código de Processo
Penal (CPP).
Requer, também, que se digne V. Ex.ª de
condenar os Denunciados ao pagamento de valor mínimo para
reparação dos danos causados pela infração cometida contra
o Estado da Bahia, nos termos do art. 63, parágrafo único e
art. 387, inciso IV, ambos do Código de Processo Penal
Brasileiro, bem como seja procedida a intimação do ofendido
(Estado da Bahia), por intermédio da Procuradoria do
Estado, para, querendo, acompanhar a presente ação, na
condição de assistente de acusação.
Salvador, 21 de novembro de 2013.
Luís Alberto Vasconcelos Pereira Promotor de Justiça/GAESF
21
Vanezza de Oliveira Bastos Rossi Promotora de Justiça/GAESF
Manoel da Costa Filho Promotor de Justiça
Márcio do Carmo Guedes Promotor de Justiça
Pedro Maia Souza Marques Promotor de Justiça - Coordenador do GAESF
Rol de Testemunhas:
1 - Carlos Augusto Barbosa Nogueira, brasileiro, maior, fazendário,
podendo ser encontrado na Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia,
situada na 2ª avenida, nº 260, Centro Administrativo da Bahia (CAB),
Salvador/BA, CEP 41.745-003;
2 - Miguel Medrado Oliveira Neto, brasileiro, maior, fazendário,
podendo ser encontrado na Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia,
situada na 2ª avenida, nº 260, Centro Administrativo da Bahia (CAB),
Salvador/BA, CEP 41.745-003;
3 - Sandor Cordeiro Fahel, brasileiro, maior, fazendário, podendo ser
encontrado na Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia, situada na 2ª
avenida, nº 260, Centro Administrativo da Bahia (CAB), Salvador/BA,
CEP 41.745-003;
4 - Alex Sandro D Amico, brasileiro, maior, motorista, residente na
Rua Acre, nº 2585, Bairro Custódio Pereira, Uberlândia/MG;
5 - Valério Banoski, brasileiro, maior, motorista, residente à Rua 31
de março, nº 658, Buritis, Centro/MG;
6 - Airton José Zimmgrmann, brasileiro, maior, motorista, residente à
Rua Paulo Shertner, nº 94, Jardim Itália/PR;
7 – Naelton Aparecido Nogueira Silva, brasileiro, maior, bancário,
podendo ser encontrado na Rua Marques de Paranagua, nº 112, Centro,
Ilhéus/BA, CEP 45.653-000;
22
8 – Adervan Pereira Nascimento, brasileiro, maior, bancário, podendo
ser encontrado na Rua Marques de Paranagua, nº 112, Centro, Ilhéus/BA,
CEP 45.653-000;
9 - Damiana Silva Cardoso, brasileira, maior, empresária, residente na
Rua Bela Vista, nº 346, Banco Raso, Itabuna/BA.
INQUÉRITO POLICIAL Nº 172/2009 - REF. NOTÍCIAS CRIMES N°S
747/2013, 751/2013 / INFIP - SEFAZ
INDICIADOS: MARCOS DOS SANTOS VELOSO/ THIAGO FELIPE ALVES
VELOSO/ JAILTON FLORZINDO DOS SANTOS/ VALMIR PARPINELLI,
ÉRICA CORREA DE OLIVEIRA/ ADELINO GELLER / IOMAR
EVANGELISTA DE MORAIS SOBRINHO.
INCIDÊNCIA DELITUOSA: infringiram os denunciados Marcos dos Santos Veloso, Thiago Felipe Alves Veloso, Jailton Florzindo dos Santos, Valmir Parpinelli, Érica Correa de Oliveira, Adelino Geller e Iomar Evangelista de Morais Sobrinho o disposto nos arts. 288 do Código Penal e 1º, incisos I, II e V da Lei 8.137/90, combinado com o arts. 29
23
(co-autoria) e 69 (concurso material), do Código Penal, o primeiro indiciado está ainda incurso no 155, § 4º do Código Penal.
MM. Juiz(a):
1. Oferecemos denúncia em 23 (vinte e três) laudas,
impressas apenas no anverso.
2. Requeremos, nesta oportunidade, o seguinte:
a) que seja oficiado à Secretaria de Segurança Pública para
informar os antecedentes policiais dos acusados;
b) que seja certificado pelo Cartório desta Comarca acerca
da existência de eventuais processos criminais contra os
denunciados;
c) que seja oficiado ao Fórum Distribuidor da Justiça
Federal em Salvador para informar sobre eventuais
processos, findos ou em andamento, existentes contra os
denunciados;
d) que seja oficiado à Superintendência Regional da Polícia
Federal em Salvador para informar sobre os antecedentes
policiais dos denunciados. 3. Neste momento, o Ministério Público
requer a prisão preventiva de Marcos dos Santos Veloso,
Thiago Felipe Alves Veloso e Jailton Florzindo dos Santos,
porque estão presentes a materialidade delitiva e os
indícios de autoria, com o fulcro de assegurar a futura
aplicação da lei penal e a ordem pública administrativa e
econômica.
A materialidade do delito está muito bem
demonstrada, seja através de auditorias realizadas, seja
dos demais documentos constantes dos autos, bem como os
24
indícios de autoria, em face da gestão criminosa que os
denunciados praticam nas suas empresas, cometendo as
diversas condutas criminosas descritas na denúncia. Há nos autos prova de que os ora
denunciados foram autores dos delitos, causando expressivo
prejuízo à Fazenda Pública no valor de R$40.588.848,69
(quarenta milhões, quinhentos e oitenta e oito mil,
oitocentos e quarenta e oito reais e sessenta e nove
centavos), sendo necessário assegurar a futura aplicação da
lei penal e a ordem pública administrativa e econômica.
Frise-se, podem os réus, ainda, evadirem-se do país, já que
dispõem de grandes recursos financeiros.
De acordo com o professor Eduardo Frederico
Andrade de Carvalho, em sua obra “Direito Tributário”:
“a prática reiterada e permanente de crimes de
colarinho branco - no caso, sonegação fiscal -
com grave repercussão financeira negativa ao
erário, representa uma ameaça permanente à
ordem pública, representando uma periculosidade
silenciosa, maligna, amorfa e sub-reptícia
alarmante que merece, por parte do Judiciário,
uma enérgica e corajosa tomada de atitude para
coibir, quando chamado a atuar dentro do devido
processo legal, a prática desses delitos
causadores da falência da Nação. Esse objetivo
pertinaz de lesar os cofres públicos atenta,
sem sombra de dúvida, contra os princípios
básicos da Constituição Federal, contra os
direitos e garantias fundamentais, contra os
direitos sociais e até da organização dos
poderes do Estado.” 1
Sendo assim, não devemos entender os
tributos apenas como mero interesse fazendário, posto que,
o verdadeiro prejudicado é a população brasileira, mais
1 Citado por EISELE, Andreas. Crimes Contra a Ordem Tributária. São Paulo: Dialética, 2002, p.267.
25
especificadamente, no presente caso, o povo baiano, haja
vista que com a sonegação de R$40.588.848,69 (quarenta
milhões, quinhentos e oitenta e oito mil, oitocentos e
quarenta e oito reais e sessenta e nove centavos) deixa o
Estado de desenvolver políticas públicas e de atender o
interesse público primário, prejudicando a execução de
serviços públicos essenciais e inviabilizando a fruição dos
direitos individuais e fundamentais dos cidadãos baianos.
A Jurisprudência do STJ é nesse sentido,
como revelam as seguintes ementas:
“HABEAS CORPUS. PRISÃO PREVENTIVA. CRIME CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO. LAVAGEM DE DINHEIRO. QUADRILHA. OPERAÇÃO "FAROL DA COLINA". MAGNITUDE DA LESÃO. AUTORIA E INDÍCIOS DEMONSTRADOS. PRETENSÃO DE REVOGAÇÃO. REQUISITOS DA CUSTÓDIA ATENDIDOS. PROTEÇÃO DA ORDEM PÚBLICA E ECONÔMICA E DA INSTRUÇÃO. A prisão se mostra justificada quando o julgador demonstra os indícios e a autoria, bem assim, a necessidade de proteção da ordem pública e econômica, tendo em vista a magnitude da lesão ao sistema financeiro. O temor relativo à fuga deve receber, em certos casos que envolvem pessoas de considerável poder econômico, influência não só da ação direta do acusado, mas da experiência de outros casos e, principalmente, das dificuldades presentes em se fazer cumprir uma ordem de prisão em situações de grande vulto. Ordem denegada.”2 (grifos nossos). “HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. QUADRILHA. PRISÃO PREVENTIVA DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA.INEXISTÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. Uma vez demonstrada a necessidade da prisão, atendendo-se aos termos do art. 312 do Código de Processo Penal, não se vislumbra ilegalidade na decisão que indefere o pedido de revogação da custódia cautelar. O fato de o crime pressupor a aplicação de pena sujeita a regime aberto, por si só, não confere à constrição ares de ilegalidade, já
2 HC 40818/RJ, Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA, QUINTA TURMA, data do julgamento: 17/03/2005, DJ 11.04.2005 p. 350.
26
que presentes os requisitos da conveniência da instrução e da aplicação da lei penal. Ordem denegada.” 3
“HABEAS CORPUS. ART. 159, § 1º, C/C ART. 29, CAPUT,E ART. 157, § 2º, I E II, C/C O ART. 29, CAPUT, DO CÓDIGO PENAL. PRISÃO PREVENTIVA. FUNDAMENTAÇÃO. CONDIÇÕES PESSOAIS FAVORÁVEIS. I - Tendo restado evidenciadas as circunstâncias concretas ensejadoras da prisão preventiva do paciente, na sua periculosidade, concretamente demonstrada através do modus operandi que o delito atribuído a esta foi perpetrado, bem como para se evitar a prática de novos delitos, já que o paciente, foragido, além de figurar como procurado, ostenta condenação em crime de quadrilha, resta suficientemente demonstrada a necessidade da manutenção de sua custódia cautelar, com base na garantia da ordem pública. (Precedentes.) II - Condições pessoais favoráveis não têm o condão de por si só, ensejar a revogação da liberdade provisória, se há outros fundamentos nos autos que recomendam a manutenção da custódia cautelar. (Precedentes). Ordem denegada” 4 .
Trata-se de uma organização criminosa,
atuante na Região Oeste deste Estado, cometendo, em caráter
permanente, os crimes de quadrilha ou bando, sonegação
fiscal, falsificação de documentos e fraude eletrônica
contra a ordem administrativa tributária.
Notícia crime proveniente do Banco do
Brasil, juntada aos autos às fls. 953/959 do IP 172/2009,
relata que crackers utilizaram programas espiões para
furtar credenciais de acesso as contas de clientes do
banco, mediante violação dos canais de auto atendimento.
Com o acesso as contas dos clientes, os crackers
realizaram transações fraudulentas, tais como
transferências bancárias, pagamento de boletos, quitação
3 HC 38550/PR (2004/0136944-0). DJ: 06/12/2004, pg. 352. Relator: Min. José Arnaldo da Fonseca. Data da Decisão: 09/11/2004. Quinta Turma, in stj.gov.br . 4 HC 37343/ SP (2004/0108767-6). DJ : 06/12/2004, pg 348. Relator: Min. Félix Fisher. Data da decisão: 16/11/2004. Quinta Turma, in stj.gov.br.
27
de tributos e emissão de DOC/TED, o que configura a
fraude eletrônica. Dentre as ocorrências identificadas
pelo banco, foram realizados pagamentos de
responsabilidade da empresa Agronorte Agroindustrial
Ltda. Na referida empresa consta, atualmente, em seu
quadro societário Carlos de Mello, já falecido, e,
durante o período verificado pelo banco, o denunciado
Marcos Veloso. Cabe destacar ainda, que Marcos Veloso
possui uma procuração outorgada por Carlos de Mello
conferindo-lhe amplos poderes de gerência, conforme fl.
161 dos auto do processo 0000816-18.2011.805.0022.
Parte das ações criminosas ocorre no
ciberespaço, revelando a nova faceta da micro e da
macrocriminalidade hodierna, o que nos conduz a um
repensar dos institutos penais, que necessitam se adequar
a essa modalidade.
Relatório de inteligência da SEFAZ, às
fls. 933/940, relata que informações passadas por
clientes do banco dão conta que os denunciados captam
pessoas para comprar produção de soja de forma mais
barata, pagando os impostos dessa compra com origem na
fraude aplicada a clientes do banco, na condição de
intermediários.
O poderio econômico dos denunciados
facilita a continuidade da prática delitiva sem peias,
vulnerando a ordem pública tributária, bem como atingindo
a própria ordem econômica em geral, por afetar a
concorrência, haja vista que, com a sonegação fiscal,
podem os denunciados praticar preços comerciais menores
que seus concorrentes. É uma concorrência desleal,
vulneradora da ordem econômica, posto que ofende os
dispositivos constitucionais que a protegem.
Com a utilização generalizada da
informática nas organizações públicas e privadas, o crime
sofisticou-se, exigindo uma estrutura empresarial, com
divisão de tarefas.
28
Essas características estão presentes nos
crimes tributários cometidos contra a Fazenda Estadual,
causando danos elevados à coisa pública.
Ora, essa organização criminosa tem a
suspeita de participação de agentes públicos na realização
das infrações penais e na proteção dos criminosos. Somente
esta quadrilha promoveu uma sonegação fiscal superior a 40
(quarenta) milhões de reais, prejudicando, obviamente, os
serviços públicos essenciais, haja vista que aquilo que foi
sonegado por essa quadrilha, faltará na saúde, na educação,
nas estradas, na segurança e no serviço público em geral.
Este tipo de criminalidade é difusa, porque
não tem uma vítima direta, na maioria das situações,
atingindo, sobretudo, a coletividade como um todo, e
causando enormes prejuízos ao erário, como acentuou MAURO
ZAQUE DE JESUS, in verbis:
“Nesse diapasão, desnecessário salientar que
o prejuízo financeiro causado por tais organizações criminosas é altíssimo, ressaltando-se, por oportuno, que não obstante serem elevados os danos, estes não são visualizados em um primeiro momento, ou seja, apesar de enormes os danos, permanecem invisíveis por considerável período. Isto em face de que a atuação criminosa, com apoio de pessoas que a deveriam estar combatendo, inexistindo vítimas diretas que sentiriam e acusariam o prejuízo, ocorre em áreas específicas, contando com alto grau de operacionalidade e cobertura necessária para maquiar a atividade criminosa e, quando é descoberta, o prejuízo já se faz monstruoso e a reparação quase sempre impossível.
Exemplos da dificuldade de visualizar os danos causados são os casos de organizações voltadas à sonegação fiscal, de organizações voltadas a lesar a previdência social, onde se desvia muito dinheiro, sem que ninguém perceba, e quando se descobre o prejuízo é enorme. E, diga-se, prejuízo não somente financeiro, mas também decorrente do desgaste institucional, da desconfiança e descrédito da sociedade nos órgãos estatais, que deveriam combater tais crimes. Ainda, os crimes fiscais, provocam indisposição geral com relação ao pagamento dos impostos, alegando os empresários ser impossível competir com a concorrência que sonega, atribuindo-lhes, como se direito adquirido, a faculdade de também sonegar e
29
aderir à ação de organizações criminosas formadas por fiscais.”5
A ordem pública está sendo violada, assim,
por essa organização criminosa. A doutrina e a
jurisprudência entendem que havendo ofensa às normas
jurídicas, haverá ofensa à ordem pública. A lição de
TOURINHO FILHO bem ilustra tal doutrina, in verbis:
“(...). Ordem pública é a paz, a tranqüilidade no meio social. Assim, se o indiciado ou réu estiver cometendo novas infrações penais, ou se ele já vinha cometendo outras, sem que a Polícia lograsse prende-lo em flagrante; se estiver fazendo apologia do crime, ou incitando ao crime, ou se reunindo em quadrilha ou bando, haverá perturbação da ordem pública. (...)6. (grifos nossos).
Esse entendimento também do STJ, in verbis: “HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. LAVAGEM DE DINHEIRO E FORMAÇÃO DE QUADRILHA. PRISÃO PREVENTIVA. DECRETO DEVIDAMENTE FUNDAMENTADO. ART. 312 DO CPP. Tendo o decreto de custódia cautelar se fundado em indícios suficientes de autoria e prova da existência do delito, a que se acresce a necessidade de manter-se a ordem pública, descogita-se, no caso, de constrangimento ilegal. Primariedade, bons antecedentes e ocupação lícita. Circunstâncias que, isoladamente, não inviabilizam a custódia preventiva, quando fundada nos requisitos do artigo 312 do CPP. Ordem denegada.” 7 (grifos nossos).
Muito oportuno o apanhado da doutrina e da
jurisprudência feito pelo Ministro FELIX FISCHER, no Habeas
Corpus nº 7343, nos seguintes termos:
Convém destacar, ainda, que a segregação ainda teve como objetivo impossibilitar ao acusado a prática de novos delitos, inclusive constando
5 6 CÓDIGO DE PROCESSO PENAL COMENTADO, Saraiva, 2001, 6ª edição, p. 577. 7 HC 37307/MG (2004/0107966-3). DJ : 25/10/2004, pg. 373. Relator Min. José Arnaldo da Fonseca. Data da Decisão: 28/09/2004. Quinta Turma, in stj.gov.br.
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que o paciente também figurava como procurado, ostentando condenação por quadrilha. Destarte, é bem de ver, como diz J. L. da Gama Malcher (in "Manual de Processo Penal", 2ª ed., Freitas Bastos Editora, págs. 120⁄121), que a prisão cautelar "é medida destinada a sempre assegurar uma de suas finalidades, pois tem um destino certo, determinado por Lei: visa garantir a ordem pública quando, diante de um acusado perigoso, serve para evitar a prática de novos crimes, ou então quando a ordem pública esteja ameaçada pelo próprio fato, em virtude de medidas que devam ser tomadas no curso da própria investigação ou de garantias do processo; a conveniência de instrução criminal é considerada na prisão preventiva evitando-se que a colheita de provas seja perturbada, ameaçada, desvirtuada pelo acusado; e finalmente, visa a prisão provisória assegurar a aplicação da lei penal, mantendo o acusado no distrito da culpa, evitando sua fuga e a posterior frustração da pena a ser aplicada." (grifei). Doutrina Basileu Garcia in "Comentários ao Código de Processo Penal" (Forense, vol. III, págs. 169⁄170) que "para a garantia da ordem pública, visará o magistrado, ao decretar a prisão preventiva, evitar que o delinqüente volte a cometer delitos, ou porque é acentuadamente propenso à práticas delituosas, ou porque, em liberdade encontraria os mesmos estímulos relacionados com a infração cometida. Trata-se, por vezes, de criminosos habituais, indivíduos cuja vida é uma sucessão interminável de ofensas à lei penal: contumazes assaltantes da propriedade, por exemplo. Quando outros motivos não ocorressem, o intuito de impedir novas violações determinaria a providência". Segundo Paulo Rangel in "Direito Processual Penal" (7ª Edição, Ed. Lumen Juris, Rio de Janeiro, p. 616), "por ordem pública, deve-se entender a paz e a tranqüilidade social, que deve existir no seio da comunidade, com todas as pessoas vivendo em perfeita harmonia, sem que haja qualquer comportamento divorciado do modus vivendi em sociedade. Assim, se o indiciado ou o acusado em liberdade continuar a praticar ilícitos penais, haverá pertubação da ordem pública, e a medida extrema é necessária se estiverem presentes os demais requisitos legais". Assim também é o entendimento de Fernando Capez: “Garantia da ordem pública: a prisão cautelar é decretada com a finalidade de impedir que o agente, solto, continue a delinqüir, ou de acautelar o meio social, garantindo a
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credibilidade da justiça, em crimes que provoquem grande clamor popular. No primeiro caso, há evidente perigo social decorrente da demora em se aguardar o provimento definitivo, porque até o trânsito em julgado da decisão condenatória o sujeito já terá cometido inúmeros delitos. Os maus antecedentes ou a reincidência são circunstâncias que evidenciam a provável prática de novos delitos, e, portanto, autorizam a decretação da prisão preventiva com base nessa hipótese" (in Curso de Processo Penal, 7ª Edição, Revista e Ampliada, Editora Saraiva, São Paulo, 2001, p. 234). Nesse sentido destaco os seguintes precedentes proferidos por esta Corte Superior de Justiça: "CRIMINAL. HC. ROUBO DE GADO. FORMAÇÃO DE QUADRILHA. RECEPTAÇÃO DE FURTO. PRISÃO PREVENTIVA. DECRETO FUNDAMENTADO. NECESSIDADE DA CUSTÓDIA DEMONSTRADA. RÉU FORAGIDO GARANTIA À APLICAÇÃO DA LEI PENAL. REITERAÇÃO DELITUOSA. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. PRESENÇA DOS REQUISITOS AUTORIZADORES. CONDIÇÕES PESSOAIS FAVORÁVEIS. IRRELEVÂNCIA. ORDEM DENEGADA.
I. Não se vislumbra ilegalidade na decisão que decretou a custódia cautelar dos pacientes, se demonstrada a necessidade das prisões, atendendo-se aos termos do art. 312 do CPP e da jurisprudência dominante.
II. A evasão do réu pode ser suficiente para motivar a segregação provisória a fim de garantir a aplicação da lei penal. Precedente.
III. A reiteração delituosa do agente pode motivar a segregação cautelar para garantia da ordem pública. Precedente.
IV. Condições pessoais favoráveis não são garantidoras de eventual direito à liberdade provisória, se a manutenção da custódia é recomendada por outros elementos dos autos.
Ordem denegada". (HC 29268⁄PA, 5ª Turma, rel. Min. Gilson Dipp, DJ de 28⁄10⁄2003). "PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE ENTORPECENTES. PRISÃO PREVENTIVA. FUNDAMENTAÇÃO. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. I – Relaxada a prisão em flagrante, não há óbice a que se mantenha preso o réu, desta feita por força de decreto de prisão preventiva adequadamente motivado. II – A decisão que motiva a medida constritiva para garantia da ordem pública e
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aplicação da lei penal, considerando a real possibilidade da prática de novos delitos, mostra-se devidamente fundamentada. (Precedentes.) Ordem denegada". (HC 20784⁄SC, 5ª Turma, DJU de 03⁄06⁄2002). "PROCESSUAL PENAL – HOMICÍDIO QUALIFICADO – AUSÊNCIA DE PROVAS DE AUTORIA – EXAME DE PROVAS - INVIABILIDADE – PRISÃO PREVENTIVA – NECESSIDADE . - A via estreita do writ não comporta o exame de alegações concernentes à ausência de provas de autoria do delito, em razão de demandarem a profunda análise probatória. - Por outro lado, no que tange à sustentada ausência de fundamentação do decreto de prisão preventiva, observo que, ao contrário do alegado pelo recorrente, o decisum encontra-se fundamentado. O magistrado local lastreou-se em circunstâncias concretas e suficientes para a manutenção do paciente sob custódia. A materialidade e indícios de autoria restaram comprovados. Além disso, salientou o decisum a necessidade da medida constritiva para que fosse evitada eventual fuga e preservada a conveniência da instrução criminal e garantia da ordem pública, já que o acusado além de coagir testemunhas, prosseguiu na reiteração de crimes de mesma natureza. - Recurso desprovido." (RHC 11768⁄MS, 5ª Turma, Rel. Min. Jorge Scartezzini, DJU de 02⁄09⁄2002). "HABEAS CORPUS. ROUBO DUPLAMENTE QUALIFICADO. PRISÃO PREVENTIVA DECRETADA PELO TRIBUNAL A QUO EM SEDE DE RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. FUNDAMENTAÇÃO SUFICIENTE. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. PERICULOSIDADE CONCRETA DO RÉU. Prisão preventiva que está devidamente fundamentada, tendo em vista a gravidade do delito, a forma como o mesmo foi perpetrado (grave ameaça, uso de arma de fogo) e o fato de o paciente responder a outro feito de mesma natureza, de forma a resguardar a ordem pública e prevenir a prática de novos delitos. Ordem denegada". (HC 31361⁄SP, 5ª Turma, Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, DJU de 02⁄09⁄2002). "PROCESSO PENAL – NEGATIVA DE AUTORIA - INVIABILIDADE DE APRECIAÇÃO - RECEPTAÇÃO – PRISÃO PREVENTIVA – NECESSIDADE. - A via estreita do habeas corpus não comporta o amplo exame de provas. Assim sendo, torna-se inviável eventual discussão acerca da autoria do delito - De outro lado, se a segregação cautelar, preenchendo os requisitos legais, apresenta
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convincente fundamentação, não há que se falar em constrangimento ilegal, mormente quando o paciente, processado por crime de receptação, ao obter sua liberdade provisória, comete novos delitos de mesma natureza. - Ordem denegada." (HC 15209⁄SP, 5ª Turma, Rel. Min. Jorge Scartezzini, DJU de 26⁄08⁄2002). "HABEAS CORPUS. DENÚNCIA. INÉPCIA. EXERCÍCIO DO DIREITO DE DEFESA. PRISÃO PREVENTIVA. FORMA DE IMPEDIR A PRÁTICA DE NOVOS CRIMES. 1. Não se apresenta como inepta denúncia que, dadas as circunstâncias da prática criminosa, não particulariza detalhadamente a efetiva e concreta atuação de cada um dos participantes, sem, contudo, impedir o livre e amplo exercício do direito de defesa, respeitados, por outro lado, os ditames do art. 41 do Código de Processo Penal. 2. Subsiste decreto de prisão preventiva lançado como garantia o impedimento da prática de novos delitos, haja vista responderem os pacientes a outros processos criminais. 3. Ordem denegada". (HC 15196⁄AL, 6ª Turma, Rel. Min. Fernando Gonçalves, DJU de 06⁄05⁄2002). "HABEAS CORPUS. TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES. PRISÃO PREVENTIVA. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. INOCORRÊNCIA. REITERAÇÃO DELITUOSA. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. CRIME EQUIPARADO A HEDIONDO. INSUSCETIBILIDADE DE LIBERDADE PROVISÓRIA. NULIDADE DE AÇÃO PENAL. AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO DA DEFENSORA PARA AUDIÊNCIA. DESIGNAÇÃO DE DEFENSORA DATIVA. INDEMONSTRAÇÃO DO PREJUÍZO. EXCESSO DE PRAZO. ENCERRAMENTO DA INSTRUÇÃO. 1. Fundamentado à saciedade o decreto de prisão preventiva (artigo 312 do Código de Processo Penal), sobretudo na garantia da ordem pública, que se encontra em sobressalto em face da reiteração delituosa do agente, não há falar em sua revogação. 2. É de se manter o decreto segregatório na hipótese de a ré ser pessoa propensa às práticas delituosas de natureza gravíssima, já tendo, inclusive, condenação por outro delito de tráfico. 3. Para que produza nulidade da ação penal, a colidência de defesas deve ser considerada não apenas formalmente, mas, sobretudo, materialmente, requisitando, por conseguinte, tal apreciação, o reexame de todo o conjunto da prova, incompatível com a via angusta do habeas corpus. 4. "Encerrada a instrução criminal, fica superada a alegação de constrangimento por
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excesso de prazo." (Súmula do STJ, Enunciado nº 52). 5. Habeas corpus denegado". (HC 16004⁄CE, 6ª Turma, rel. Min. Hamilton Carvalhido, DJ de 29⁄10⁄2001). Registre-se, ainda, que o paciente encontra-se foragido. Nestas circunstâncias, a jurisprudência desta Corte, bem como a do Pretório E, é consagrada no sentido de que a fuga é motivo suficiente para embasar a custódia cautelar. Por fim, cumpre ressalvar que circunstâncias pessoais favoráveis, tais como bons antecedentes, endereço fixo e certo, emprego lícito, dentre outros, não têm o condão de por si só, garantir às recorrentes a liberdade provisória, se restam evidenciados nos autos outros fatores que recomendam a manutenção da custódia cautelar. Nesse sentido: RHC 10.556⁄SP, 5ª Turma, Relator Min. Gilson Dipp, DJU de 23⁄04⁄2001; RHC 10.304⁄PR, 5ª Turma, Relator Min. Edson Vidigal, DJU de 05⁄03⁄2001; RHC 10.121⁄SP, 5ª Turma, Relator Min. José Arnaldo da Fonseca, DJU de 05⁄03⁄2001; HC 12.640⁄MT, 5ª Turma, do qual fui relator, DJU de 14⁄08⁄2000; RHC 10.657⁄PB, 6ª Turma, Relator Min. Hamilton Carvalhido, DJU de 19⁄02⁄2001.”
A Jurisprudência do STF também segue esse
posicionamento, conforme ementas abaixo colacionadas:
“HABEAS CORPUS. PRISÃO PREVENTIVA. GARANTIA DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL. POSSIBILIDADE CONCRETA DE FUGA DA PACIENTE. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. PERICULOSIDADE. RISCO DE REITERAÇÃO DELITIVA. DECRETO DE PRISÃO DEVIDAMENTE FUNDAMENTADO. PRECEDENTES. ORDEM DENEGADA. No que se refere à garantia da aplicação da lei penal, deve-se levar em conta que a paciente é acusada de integrar quadrilha de tráfico internacional de órgãos cujo líder é de nacionalidade israelense, com ligações também com a África do Sul. Tais circunstâncias indicam a grande probabilidade de evasão da paciente, caso posta em liberdade. A garantia da ordem pública, por sua vez, visa, entre outras coisas, a evitar a reiteração delitiva, assim resguardando a sociedade de maiores danos. Sendo a paciente, segundo afirma a acusação, um dos principais membros da quadrilha, teme-se que, em liberdade, continue a comandar esse esquema criminoso, restabelecendo o elo com os integrantes que se encontram em outros países ou foragidos.
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Ao contrário do que se alega na petição inicial, existem nos autos elementos concretos, e não meras conjecturas, que apontam a paciente como importante integrante da organização criminosa em comento. Mais ainda, a periculosidade dela e o risco de reiteração criminosa e de evasão do distrito da culpa são suficientes para a manutenção da segregação cautelar. Ordem denegada.” 8
“HABEAS-CORPUS. AUSÊNCIA DE AUTORIA. REEXAME DE PROVAS. IMPOSSIBILIDADE. PRISÃO PREVENTIVA. REQUISITOS. NÃO-CONFIGURAÇÃO DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. 1. Crimes de receptação qualificada, adulteração de sinal identificador de veículo automotor e formação de quadrilha. Pretensão de que fosse reconhecida a ausência de autoria, por ter o paciente, antes dos fatos delituosos, arrendado o estabelecimento comercial onde se deu o flagrante. Inviabilidade do writ para o reexame de provas. 2. Prisão preventiva. Decreto que se encontra suficientemente fundamentado na garantia da ordem pública, por ser o acusado dono de outros "desmanches", havendo, inclusive, receio de que se permanecesse solto continuaria a delinqüir. Ordem denegada.” 9
Visando, então, a garantia da ordem pública
econômica e a futura aplicação da lei penal, em razão da
existência de grupo criminoso organizado (quadrilha) e dos
crimes contra a ordem administrativa tributária, deve ser
decretada a prisão cautelar dos denunciados, com fundamento
nos arts. 311 e seguintes do CPP.
Isto posto, requer o Ministério Público a
decretação da prisão preventiva de Marcos dos Santos
Veloso, Thiago Felipe Alves Veloso, Jailton Florzindo dos
Santos, por ter respaldo no CPP, art. 312 e seguintes.
É a promoção.
Salvador, Bahia, 21 de novembro de 2013.
8 HC 84658/PE. DJ : 03/06/2005, pg.00048. Relator Min.Joaquim Barbosa. Data da Decisão: 15/02/2005. Segunda Turma, in stf.gov.br. 9 HC 82684/SP. DJ : 01/08/2003, pg.00141. Relator Min.Maurício Côrrea. Data da Decisão: 29/04/2003. Segunda Turma, in stf.gov.br.
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Luís Alberto Vasconcelos Pereira Promotor de Justiça/GAESF
Vanezza de Oliveira Bastos Rossi Promotora de Justiça/GAESF
Manoel da Costa Filho Promotor de Justiça
Márcio do Carmo Guedes Promotor de Justiça
Pedro Maia Souza Marques Promotor de Justiça - Coordenador do GAESF
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