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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE DIREITO O MINISTÉRIO PÚBLICO E O CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL GABRIEL ANNONI CARDOSO Biguaçu, Junho de 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI

CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE DIREITO

O MINISTÉRIO PÚBLICO E O CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL

GABRIEL ANNONI CARDOSO

Biguaçu, Junho de 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI

CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE DIREITO

O MINISTÉRIO PÚBLICO E O CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL

GABRIEL ANNONI CARDOSO

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de

Bacharel em Direito.

Orientador: Professor Msc. Celso Wiggers

Biguaçu, Junho de 2008

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2

AGRADECIMENTOS

Aos familiares e àqueles que, fazendo parte de

minhas relações, auxiliaram-me com o afeto e

toda consideração.

Ao meu orientador, Professor Celso Wiggers, pelo

ensinamento desprendido, pela atenção, pela

certeza e confiança depositadas na conquista

dessa etapa.

Aos colegas de turma, pela alegria da convivência

do dia-a-dia, pelo crescimento que juntos tivemos,

na cumplicidade e na diversidade de opiniões,

pela busca da construção de um saber.

Aos colegas de trabalho e ao Promotor de Justiça,

Dr. Alexandre Herculano Abreu, da 30ª

Promotoria de Justiça da Comarca da Capital,

pelo apoio e compreensão durante a realização

deste trabalho.

À Direção do Curso de Direito – Campus Biguaçu,

primeiramente, na gestão da Professora Msc.

Helena Nastassya Paschoal Pitsica e,

posteriormente, pelo Professor Msc. Alceu de

Oliveira Pinto Júnior.

Ainda, por fim, aos professores do Curso de

Direito, pela disponibilidade na edificação da

relação de ajuda, por terem sido imprescindíveis

em meu processo de aprendizagem, para chegar

até aqui, concluído!

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3

DEDICATÓRIA

A Deus, pelo nosso pai, que o exaltou, e lhe deu o

nome que é sobre todo nome, no céu e na terra,

Jesus, rei dos reis, príncipe da paz...

Aos meus pais, José Martins Cardoso e Miriam

Ferreira Annoni, cúmplices e grandes

incentivadores desta conquista, os quais, com

amor e paciência, souberam compreender os

infindáveis momentos de minha “ausência”,

necessários à conclusão deste trabalho.

Aos meus queridos avós, Nelso Alberi Annoni e

Norma Ferreira Annoni, Nelson Cardoso ( in

memoriam) e Melchiades Maria Martins Cardoso,

pelo amor, carinho, respeito, perseverança e

confiança no sustento dessa minha trajetória.

A maioria de nós está repleta de modelos sociais

de felicidade. Todos queremos, sem sombra de

dúvida, ser certos e adequados. E, assim, nos

obrigamos a agir contra os impulsos de nossa

verdadeira natureza. Pensamos fazer o melhor,

acabamos por nos conduzir ao vale do desajuste

e da dor. Até que a audácia de uma alma forte e

lúcida, como a de minha companheira, Jaqueline

Faleiros da Cunha, mostrou-me que o verdadeiro

vencedor é aquele que tem a coragem de calar o

mundo em si e caminhar pelo seu próprio

coração.

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4

A preocupação com o controle externo da polícia,

baseia-se na constatação de uma realidade onde à

violência policial expressiva corresponde o incremento

da desconfiança e do medo da população nos agentes

institucionais. Essa situação tem corroído a imagem da

corporação junto à sociedade, reforçando, ainda mais, o

estigma profissional. (Anália Soria Batista – Sociedade

e Estado, Brasília, v. 21. n. 1 p. 236, jan./abr 2006).

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5

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Biguaçu, Junho de 2008.

Gabriel Annoni Cardoso Graduando

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6

PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Gabriel Annoni Cardoso, sob o

título O Ministério Público e o controle externo da atividade policial, foi submetida

em 17 de junho de 2008 à banca examinadora composta pelos seguintes

professores: [Nome dos Professores] ([Função]), e aprovado com a nota [Nota]

([nota extenso]).

Biguaçu, Junho de 2008.

Professor Msc. Celso Wiggers Orientador e Presidente da Banca

Professora Msc. Helena Paschoal Nastassya Pítsica Responsável pelo Núcleo de Prática Jurídica

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7

ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que o autor considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

Ministério Público

“O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do

Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos

interesses sociais e individuais indisponíveis” (artigo 127, caput).1

Polícia

“Polícia é o vocábulo que designa o conjunto de instituições, fundadas pelo

Estado, para que, segundo as prescrições legais e regulamentares estabelecidas,

exerçam vigilância para que se mantenham a ordem pública, a moralidade, a

saúde pública e se assegure o bem-estar coletivo, garantindo-se a propriedade e

outros direitos individuais”.2

Controle externo da atividade policial

“O controle externo da atividade policial deve ser compreendido como um

conjunto de normas que regulam a fiscalização exercida pelo Ministério Público

em relação à polícia, na prevenção, apuração e investigação de fatos tidos como

criminosos, na preservação dos direitos e garantias constitucionais dos presos

que estejam sob responsabilidade das autoridades policiais e na fiscalização do

cumprimento das determinações judiciais”.3

1 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988.

2 Criminalidade e violência: Ministério da Justiça, v. I, 1980, p. 19 a 33 apud Alvaro Lazzarini in A segurança pública e o aperfeiçoamento da polícia no Brasil in Revista A Força Policial, nº 5

jan./mar. 1995, p. 8.

3 GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 1ª ed. (ano 2002), 5ª tiragem. Curitiba: Juruá, 2006, p. 63.

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8

SUMÁRIO

RESUMO ...........................................................................................11

ABSTRACT .......................................................................................12

INTRODUÇÃO ..................................................................................13

CAPÍTULO 1 O MINISTÉRIO PÚBLICO ...........................................16

1.1 HISTÓRIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO – NOÇÕES INTRODUTÓRIAS..........17

1.2 O MINISTÉRIO PÚBLICO NO BRASIL – NOÇÕES HISTÓRICAS ..................19

1.3 O MINISTÉRIO PÚBLICO NAS CONSTITUIÇÕES DO BRASIL .....................22

1.3.1 O Ministério Público e a Constituição do Império de 1824 ......................23

1.3.2 O Ministério Público e a Constituição da República de 1891..................23

1.3.3 O Ministério Público e a Constituição da República de 1934..................24

1.3.4 O Ministério Público e a Constituição da República de 1937..................25

1.3.5 O Ministério Público e a Constituição da República de 1946..................25

1.3.6 O Ministério Público e a Constituição da República de 1967..................27

1.4 O MINISTÉRIO PÚBLICO NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA

FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 .......................................................................28

1.4.1 Conceito de Ministério Público....................................................................30

1.4.2 Função do Ministério Público ......................................................................32

1.4.3 Organização e atribuição do Ministério Público .......................................35

1.4.4 Princípios Institucionais do Ministério Público ........................................36

1.4.4.1 Unidade ........................................................................................................37

1.4.4.2 Indivisibilidade ............................................................................................38

1.4.4.3 Independência funcional ...........................................................................39

1.4.4.4 Promotor Natural ........................................................................................40

1.4.5 Garantias do Ministério Público ..................................................................41

1.4.5.1 Garantias institucionais.............................................................................42

1.4.5.1.1 Autonomia funcional ................................... Erro! Indicador não definido.

1.4.5.1.2 Autonomia administrativa ........................... Erro! Indicador não definido.

1.4.5.1.3 Autonomia financeira .................................. Erro! Indicador não definido.

1.4.6 Garantias e vedações aos membros do Ministério Público ....................43

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CAPÍTULO 2 DA POLÍCIA ................................................................49

2.1 DA SEGURANÇA PÚBLICA – NOÇÕES GERAIS ...........................................49

2.2 DA POLÍCIA – NOÇÕES HISTÓRICAS ............................................................52

2.2.1 Conceito de Polícia .......................................................................................58

2.2.2 Divisão tradicional das Polícias ..................................................................60

2.2.2.1 Polícia Administrativa ................................................................................62

2.2.2.2 Polícia Judiciária ........................................................................................64

2.2.3 Das espécies de Polícia e sua destinação .................................................68

2.2.3.1 Polícia Federal, Rodoviária Federal e Ferroviária Federal....................70

2.2.3.2 Polícia Civil e Polícia Militar ......................................................................74

2.2.3.3 Guarda Municipal .......................................................................................76

CAPÍTULO 3 O CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL

PELO MINISTÉRIO PÚBLICO ..........................................................79

3.1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS NO BRASIL ..................................................82

3.1.1 Precedentes da atual Lex Magna ................................................................82

3.1.2 A Carta de Curitiba ........................................................................................84

3.1.3 A Origem da expressão controle externo ..................................................85

3.2 CONCEITO E FINALIDADE DO CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE

POLICIAL PELO MINISTÉRIO PÚBLICO ...............................................................86

3.3 NATUREZA DO CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL PELO

MINISTÉRIO PÚBLICO ............................................................................................91

3.4 LEGISLAÇÃO VIGENTE DO CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE

POLICIAL PELO MINISTÉRIO PÚBLICO ...............................................................92

3.4.1 Artigo 129 da atual Lex Magna ....................................................................93

3.4.2 Lei Orgânica do Ministério Público da União ............................................93

3.4.3 Lei Orgânica Nacional do Ministério Público ............................................96

3.4.4 Lei Orgânica do Ministério Público do Estado de Santa Catarina .........98

3.5 INSTRUMENTOS PARA O EXERCÍCIO DO CONTROLE EXTERNO DA

ATIVIDADE POLICIAL PELO MINISTÉRIO PÚBLICO ....................................... 100

3.5.1 Investigação direta pelo Ministério Público............................................ 101

3.5.2 Requisição de instauração de inquéritos policiais e respectivas

diligências ............................................................................................................. 103

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10

3.5.3 Livre ingresso nas Delegacias de Polícia e em qualquer recinto público

ou privado ............................................................................................................. 104

3.5.4 Fiscalização de estabelecimentos prisionais ......................................... 105

3.5.5 Acesso a quaisquer documentos relacionados com a atividade-fim

policial ................................................................................................................... 106

3.5.6 Requisitar à autoridade competente a adoção de providências para

sanar a omissão indevida ou para prevenir ou corrigir ilegalidade ou abuso

de poder ................................................................................................................ 107

3.5.7 Promoção de Ação Penal .......................................................................... 108

3.5.8 Promoção de Ação Civil Pública .............................................................. 108

3.5.9 Ter ciência imediata da prisão de qualquer pessoa .............................. 109

3.5.10 Impetração de habeas corpus ................................................................ 110

3.6 LIMITES AO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA EXERCER O CONTROLE

EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL ................................................................. 111

3.7 OBSTÁCULOS ENFRENTADOS PELO MINISTÉRIO PÚBLICO NO

EXERCÍCIO DO CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL ................ 113

CONCLUSÃO ..................................................................................117

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS .........................................121

ANEXOS..........................................................................................127

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RESUMO

CARDOSO, Gabriel Annoni. O Ministério Público e o controle externo da atividade policial. 2008. 140 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI), Biguaçu, 2008.

Este trabalho destinou-se à análise do controle externo da

atividade policial, exercido pelo Ministério Público, o qual possui previsão no

artigo 129, inciso VII, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988,

e está inserido na legislação infraconstitucional, pela Lei Orgânica do Ministério

Público da União, Lei Orgânica Nacional do Ministério Público e Leis Orgânicas

dos Ministérios Públicos Estaduais. Com este propósito, fez-se uso do método de

investigação dedutivo. Ao longo da explanação, constatou-se que, introduzida no

rol de funções ministeriais, a fiscalização da atividade policial caracteriza-se como

uma expressão do sistema de freios e contrapesos, adotado pelo constituinte de

1988, visando à garantia da harmonia entre os independentes Poderes do Estado.

Assim, sem relação de subordinação hierárquica, a Instituição Ministerial cabe

controlar a legalidade e regularidade da atividade-fim promovida pela Polícia Civil

e Militar, sempre que no exercício do múnus de Polícia Judiciária, com fins de

persecução penal. Pela análise da doutrina e legislação pátria, bem como das

manifestas opiniões dos operadores do direito a respeito do tema, traçou-se o

perfil desta função fiscalizatória ministerial, analisando-se sua abrangência, seus

limites e os principais obstáculos enfrentados para sua completa aplicação

prática, conforme determina o mencionado mandamento constitucional. Concluiu-

se que o controle externo pelo Ministério Público apresenta-se como um

instrumento imprescindível para a fiscalização do trabalho das Polícias, devendo

respeitar os direitos fundamentais do cidadão e as demais normas legais. Deste

modo, visa melhorar as investigações e ainda contribuir para evitar omissões e

eventuais abusos nas atividades investigatórias.

Palavras-chave: Ministério Público. Polícia. Controle

externo da atividade policial.

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12

ABSTRACT

CARDOSO, Gabriel Annoni. The Public Prosecution and the external control of the police activity. 2008. 140 f. Work of Conclusion of Course (Course of Law of the University of the Valley of Itajaí - UNIVALI), Biguaçu, 2008.

This work was destined to analysis the external control of the

police activity, exercised by the Public Prosecution in the article 129, incise VII, of

the Federal Republic Constitution of Brazil of 1988, and it´s inserted in the

infraconstitucional legislation, Organic Law of the Public Prosecution of the Union,

National Organic Law of the Public Prosecution and Organic Law of the State

Public Prosecution. Therefore, it was made of the deductive investigation method.

Along the explanation, it was verified that, introduced in the list of ministerial

functions, the police activity fiscalization is characterized as an expression of the

system of brakes and counterbalances, adopted by the representative of 1988,

seeking to the warranty of the harmony among the independent Powers of the

State. Thus, without relation of hierarchic subordination, the Ministerial Institution

fits to control the legality and regularity of the end activity of the Civil and Military

Policy, whenever in the exercise of the duty of Judiciary Policy, with objective to

criminal persecution. Analyzing the doctrine and homeland legislation, as well as

of the opinions of the operators of the law about the theme, the profile of this

ministerial function fiscalization was drawn, being analyzed sweats inclusion, their

limits and the main obstacles faced for them completes practical application, as it

determines mentioned constitutional commandment. In finally, could be said that

the external control for the Public Prosecution comes as an indispensable

instrument for the fiscalization to control the work of the Police, but always

respecting the citizen's fundamental law and the other legal norms. This way, it

have as objective improve the investigations and still to contribute to avoid

omissions and eventual abuses in the investigate activities.

Key-word: Public Prosecutor. Police. The external control of

policeman´s activity.

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INTRODUÇÃO

O objetivo institucional da presente pesquisa é produzir uma

monografia para a obtenção do grau de bacharel em Direito, pela Universidade do

Vale do Itajaí – UNIVALI, Campus Biguaçu. Como objetivo geral, dedica-se a

analisar a função controladora do Ministério Público sobre as atividades policiais,

com a abordagem de sua legalidade, limitação e relevância no Estado

Democrático de Direito. Quanto aos objetivos específicos, elaboraram-se os

seguintes: a. Conhecer a realidade da Instituição Ministerial, no que diz respeito à

sua história, conceito, função, organização e atribuição, princípios, garantias e

vedações; b. Apresentar noções gerais sobre a Polícia – Segurança Pública, bem

como sua historicidade, conceito, divisão tradicional, espécies de Polícia e sua

destinação; e c. Verificar como é realizada a função controladora do Ministério

Público sobre as atividades policiais.

A justificativa da escolha do tema consubstancia-se na

questão polêmica que vem sendo discutida entre doutrinadores e tribunais de

todo país, que entendem estar havendo um confronto direto entre as instituições

da Polícia Brasileira e do Ministério Público, no tocante ao exercício do controle

externo da atividade policial, sendo este um assunto atual e relevante, que

desperta interesse não só à comunidade jurídica, como a toda sociedade

brasileira.

Diante dessa situação, e mediante o amparo da Constituição

da República Federativa do Brasil de 1988 e das legislações infraconstitucionais,

coloca-se a seguinte pergunta de pesquisa, a qual norteou o desenvolvimento do

trabalho: “Por que o Ministério Público não exerce a sua prerrogativa

constitucional de forma mais intensa em relação ao controle externo da atividade

policial?”

Para responder a esse questionamento, elaborou-se a

seguinte hipótese: Primeiramente, existe a necessidade de uma integração entre

os órgãos estatais responsáveis pela investigação criminal (polícia) e pela

posterior acusação em juízo (Ministério Público), para fortalecer a ação penal e a

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14

função jurisdicional não ficar prejudicada. Assim, em relação aos obstáculos

enfrentados pelo Parquet, pode-se citar como principal, a informalidade com que

é tradicionalmente exercida a atividade policial, especialmente no que se refere

ao processamento do inquérito e investigação, o que acaba prejudicando

intensamente tanto o controle interno quando o externo desta atividade.

No desenvolvimento deste trabalho, adota-se o método

dedutivo, partindo-se da formulação dos problemas gerais, na busca de posições

científicas que os sustentem ou neguem, apontando-se, ao final, a predominância

ou não das hipóteses mencionadas.

No que diz respeito à investigação, usa-se a técnica do

referente, das categorias e do conceito operacional, com auxílio da pesquisa

bibliográfica, da revisão doutrinária em obras jurídicas e legislações pertinentes.

Cabe mencionar que o rol de categorias e conceitos

operacionais estão listados em glossário, no início deste trabalho, onde os

conceitos operacionais das categorias têm a opção de estar contidos na

introdução, no decorrer do trabalho, ou em glossário. Pretende-se, com isso,

estabelecer um acordo semântico em torno das palavras utilizadas, permitindo,

assim, uma melhor compreensão das idéias expostas no conjunto da pesquisa.

Para beneficiar o desenvolvimento do presente estudo, o

percurso teórico realizado foi distribuído em três capítulos, e estes em

subcapítulos, fazendo com que a abordagem da temática proposta siga uma

seqüência lógica.

Para tanto, apresentar-se-á no capítulo 1, a figura do

Ministério Público, como sendo uma instituição de extrema importância no Estado

Democrático de Direito, cuja finalidade é proteger um interesse público, que ora

está ligado a pessoas determinadas (direitos individuais disponíveis, quando

atingirem relevância social, e individuais indisponíveis), ora a grupos de pessoas

determinadas ou determináveis (direitos coletivos), ora a grupos não

determináveis (direitos difusos) e ora a toda a coletividade. Neste capítulo, ainda,

será realizado um breve panorama em relação à história da Instituição Ministério

Público, identificando e expondo fatores que possam atribuir um melhor

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15

entendimento a respeito do desenvolvimento do Parquet. Explicar-se-á também, a

respeito de sua origem no Brasil, com uma rápida retrospectiva da mesma nas

Constituições brasileiras anteriores à atual vigente, bem como a sua função,

organização e atribuição, princípios institucionais, garantias e vedações aos

membros do Ministério Público.

Assim como foi explanado na presente pesquisa, um

capítulo específico dedicado à Instituição do Ministério Público, não poderia a

Polícia Brasileira ficar desprovida de igual dedicação, uma vez que, para melhor

entendimento do tema proposto, faz-se necessário identificar, no segundo

capítulo, a distinção das atribuições conferidas pela Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988 a essas Instituições, a fim de que se possa adentrar

no objetivo principal do atual estudo, qual seja, o controle externo da atividade

policial pelo Ministério Público.

No Capítulo 3, tratar-se-á sobre o controle externo da

atividade policial pelo Parquet, o qual, de acordo com o artigo 129, inciso VII, da

atual Lex Magna, será feito na forma de Leis Complementares da União e dos

Estados. No aspecto Federal, cita-se a Lei Complementar n. 75/1993 (Lei

Orgânica do Ministério Público da União), e no âmbito Estadual, a Lei

Complementar n. 197/2000 (Lei Orgânica do Ministério Público do Estado de

Santa Catarina).

No entanto, é importante ressaltar que a Constituição da

República Federativa do Brasil de 1988, não define com precisão o objeto de

incidência deste controle, sendo que, por embasamento doutrinário e análise das

Legislações Orgânicas do Ministério Público, afirma-se que estão sujeitas ao

controle externo pelo Ministério Público, a Polícia Civil e Militar, sempre que no

exercício do múnus de Polícia Judiciária.

Encerra-se o trabalho com a Conclusão, na qual serão

apresentados pontos essenciais destacados no decorrer da pesquisa, seguidos

da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões sobre o controle

externo da atividade policial exercido pelo Ministério Público.

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16

CAPÍTULO 1

O MINISTÉRIO PÚBLICO

Atualmente, nos diversos órgãos da justiça brasileira, as leis

são aplicadas para que sejam dirimidos inúmeros conflitos que surgem entre os

membros da sociedade. Assim, a cada minuto são praticados inúmeros crimes no

país.

Como poderia estar a sociedade presente para auxiliar em

todos esses acontecimentos? Obviamente, não pode a sociedade, sem algum tipo

de representação, tomar ciência desses intermináveis eventos ocorridos no país.

Diante disso, nasce a instituição do Ministério Público, a qual é responsável pela

fiscalização da aplicação da lei – custo legis, como também na garantia dos

direitos sociais e individuais indisponíveis.

O Poder Constituinte originário, com o intuito de organizar a

atividade jurisdicional, institucionalizou atividades profissionais (públicas e

privadas), atribuindo-lhes o status de funções essenciais à Justiça, tendo

estabelecido, nos artigos 127 a 130, da Constituição da República Federativa do

Brasil de 1988, o Ministério Público.4

Neste sentido, o artigo 127, caput, da atual Lex Magna,

define que o Ministério Público é, in verbis:

Instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado,

incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático

e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.5

4 Cf. LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 10. ed. rev., atual. e ampl – São

Paulo: Editora Método, 2006, p. 447.

5 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Distrito Federal: Senado

Federal. 1988.

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17

Todavia, antes de se adentrar no estudo de seu conceito,

mister se faz a apresentação histórica de seu surgimento.

1.1 HISTÓRIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO – NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

A definição do momento exato da origem histórica do

Ministério Público é uma tarefa árdua, uma vez que existe uma grande

divergência de opiniões entre os doutrinadores a respeito de qual seria a primeira

manifestação da denominada Instituição do Ministério Público.6

Segundo registros históricos, o Ministério Público é uma

Instituição que surgiu há mais de quatro mil anos na figura do funcionário real do

Egito, conhecido como magiaí. Em conformidade com textos descobertos nas

escavações, tal funcionário era a língua e os olhos do rei, sendo incumbido de

algumas atribuições, tais como: castigar os rebeldes, reprimir os violentos,

proteger os cidadãos pacíficos, acolher os pedidos do homem justo e verdadeiro,

perseguir o homem malvado, mentiroso e ouvir as palavras da acusação,

indicando as disposições legais que se aplicavam ao caso.7

Paulo Rangel complementa:

Nessa época, o comandante da cidade exercia o papel de

acusador público, fazendo as vezes do, hoje, Ministério Público. A

análise dessa corrente, que vê no Egito a origem do Ministério

Público, é feita através da atenção que no Egito se dava ao direito

processual, fazendo nascer aí uma função tipicamente

fiscalizadora.8

6 Cf. GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 2006, p. 37.

7 Cf. MAZZILLI, Hugo Nigro. Regime Jurídico do Ministério Público: análise da Lei Orgânica

Nacional do Ministério Público, aprovada pela Lei n. 8.625, de 12 de fevereiro de 1993. 3. ed. rev., ampl. e atual. à luz da LOMPU, da LONMP e da LOEMP. São Paulo: Saraiva, 1996, p. 2.

8 RANGEL, Paulo. Investigação Criminal direta pelo Ministério Público: visão crítica. 2. ed. rev.

ampl. e atual. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005, p 123.

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18

Entrementes, alguns autores ainda afirmam estar na

Antigüidade Clássica as raízes do Ministério Público, como por exemplo, os

éforos9 de Esparta, os Tesmótetas10 gregos, os personagens romanos dos

advocati fisci11, como também do censor, que era a figura do magistrado

responsável por defender a moralidade pública e fazer o censo dos cidadãos.

Cabe mencionar, ainda, que havia os procuratores caesaris.12

Não obstante os achados históricos serem atribuídos à

Antigüidade Clássica, a corrente mais aceita é a de que a origem do Ministério

Público surge do direito francês, como explica Paulo Rangel:

[...] a origem mais precisa da instituição está no direito francês, na

figura dos procureurs du roi (procuradores do rei), nascendo e

formando-se no judiciário francês. Na França, era vedado que os

Procuradores do Rei (les gens du roi) patrocinassem quaisquer

outros interesses que não os da coroa, devendo prestar o mesmo

juramento dos juízes. Foi na Ordenança de março de 1302, de

Felipe IV, chamado de o Belo, Rei da França, o primeiro diploma

legal a tratar dos Procuradores do Rei. Os reis demonstravam,

através de seus atos, a independência que o Ministério Público

tinha em relação aos juízes, constituindo-se em verdadeira

magistratura diversa da dos julgadores, pois os Procuradores do

9 Havia também, por volta do século VII a.C., a instituição dos éforos, cinco magistrados

anualmente eleitos, na cidade grega de Esparta, que formavam um Tribunal idealizado para controlar os atos dos dois reis espartanos e dos gerontes (câmara com 28 membros, escolhidos entre cidadãos espartanos com mais de 60 anos). Todos estes, basicamente, se responsabilizavam pela execução da legislação e pelo exercício da acusação penal, o que ensejou a interpretação de que poderiam ser antepassados do Ministério Público (SOUZA, Victor Roberto Corrêa de. Ministério Público: aspectos históricos. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n. 229, 22 fev.

2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4867>. Acesso em: 09 set. 2007).

10 Em campos da Grécia Antiga, no século VIII a.C., existiram os tesmótetas. Eram os tempos da

oligarquia grega, onde o governo passou a ser exercido por um Arcontado, conselho no qual seis de seus membros exerciam as funções de fiscais da execução das leis atenienses. Estes seis, retirados dentre os arcontes, eram os tesmótetas (SOUZA, Victor Roberto Corrêa de. Ministério Público: aspectos históricos. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n. 229, 22 fev. 2004. Disponível em:

<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4867>. Acesso em: 09 set. 2007).

11 Os fisci advocatum, os procuratores caesaris e o praetor fiscalis, eram funcionários que geriam

os bens e receitas imperiais. Confiscavam o patrimônio de romanos condenados, possuindo competência para a persecução criminal em nome do Império Romano. (SOUZA, Victor Roberto Corrêa de. Ministério Público: aspectos históricos. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n. 229, 22 fev.

2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4867>. Acesso em: 09 set. 2007).

12 Cf. RANGEL, Paulo. Investigação Criminal direta pelo Ministério Público: visão crítica. 2005,

p 123.

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19

Rei dirigiam-se aos juízes do mesmo „assoalho‟ (Parquet em

francês) em que estes estavam sentados, porém, o faziam de pé.

Daí a expressão cunhada ao Ministério Público de que ele era a

Magistratura de pé (Magistrature debout).13

No mesmo diapasão, Enos da Costa Palma ressalta:

Felipe, o Belo, procurando robustecer a posição do „Procurador do

Rei‟, antes mero mandatário judicial para questões fiscais, dá-lhe

independência em relação aos juízes, determinando inclusive que

passasse a ter assento no „parquet‟, isto é, no estrado ao lado dos

juízes. A esta altura, o „Procurador do Rei‟ já exercia o controle do

processo e o poder de requerer a pena. Configurava-se o embrião

maior do nosso atual Promotor de Justiça.14

Em relação ao significado da expressão Ministério Público,

cabe ressaltar que o termo francês Parquet (assoalho), haurido da tradição

francesa, se incorporou ao vocabulário jurídico para mencionar o fato de os

agentes do rei (les gens du roi), antes de assumirem o grau de magistrados

ficavam sobre o assoalho das salas de audiência. Portanto, chamava-se

“magistratura de pé” (magistrature débout), conferido às “pessoas do rei” (les

gens du roi).15

1.2 O MINISTÉRIO PÚBLICO NO BRASIL – NOÇÕES HISTÓRICAS

A origem do Ministério Público brasileiro sofreu influência

direta do direito lusitano, com as Ordenações Afonsinas (1446), Manuelinas

13

RANGEL, Paulo. Investigação Criminal direta pelo Ministério Público: visão crítica. 2005, p

123-124. (mantida a grafia da fonte)

14 PALMA, Enos da Costa. Programa de princípios institucionais do Ministério Público. 1. ed.

Rio de Janeiro: Líber Júris Ltda, 1986, p. 35.

15 BULOS, Uadi Lammêgo. Constituição Federal anotada. 7. ed. rev. e atual. até a Emenda

Constitucional n. 53/2006 – São Paulo: Saraiva, 2007, p. 1118.

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20

(1521) e, por fim, as Filipinas (1603), sendo que nestas duas últimas, ocorreu o

surgimento da figura do Promotor de Justiça.16

A respeito, Paulo Rangel:

As „Ordenações Afonsinas‟ formaram a primeira grande

codificação portuguesa, realizada por D. Afonso, que, embora não

se refira ao Ministério Público, serviu de base para o nascimento

da ordem jurídica brasileira, pois, descoberto meio século depois,

o Brasil sofreu forte influência jurídica de seus mandamentos.17

Em relação às Ordenações Manuelinas, Hugo Nigro Mazzili

e Amaro Alves de Almeida Filho, ambos citados por Guimarães, esclarecem que

as mesmas traziam, no Livro I, o Título XI, que tratava “Do Procurador dos nossos

feitos”, o Título XII, do mesmo livro, que disciplinava a respeito do “Promotor da

Justiça da Casa da Sopricaçam” e o Título XXXIV, que, por sua vez, trazia os

requisitos para ser “Promotor da Justiça”:

O promotor de justiça deve ser letrado, e bem entendido para

saber espertar, e aleguar as causas, e razões que pera lume, e

clareza da Justiça, e pera inteira conservaçam della convem, ao

qual mandamos que com grande cuidado, e diligencia requeira

todas as causas que pertencerem à Justiça, e conservaçom de

nossa jurisdiçom, em tal guisa, que por sua culpa, ou negligencia

nom pareça Justiça, nem nossa jurisdiçom seja deturpada; porque

fazendo o contrário, a Deos no outro mundo, e a nós neste dará

disto conta.18

Dando seqüência aos passos das codificações portuguesas,

segundo Antônio Cláudio da Costa Machado, fala-se da chamada Ordenações

Filipinas, de 1603, onde o Promotor de Justiça era nomeado pelo rei e chamava-

se “Promotor de Justiça da Casa de Suplicação”, tendo como atribuição legal:

16

Cf. RANGEL, Paulo. Investigação Criminal direta pelo Ministério Público: visão crítica. 2005,

p 124.

17 RANGEL, Paulo. Investigação Criminal direta pelo Ministério Público: visão crítica. 2005, p

124.

18 GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 2006, p. 40 (mantida a grafia da fonte).

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21

[...] requerer tôdas as cousas que tocam à Justiça, com cuidado e

diligência, em tal maneira que por sua culpa e diligência não

pereça; [...] formar libelos contra os seguros, ou presos, que por

parte da justiça hão de ser acusados na Casa de Suplicação pôr

acordo da Relação.19

Portanto, pode-se afirmar que surge, pela primeira vez, a

função fiscalizatória do Ministério Público e o seu papel de acusador.

O primeiro texto legislativo elaborado no Brasil, a tratar da

figura do Promotor de Justiça, foi o diploma de 09 de janeiro de 1609, que

disciplinava a composição do Tribunal da Relação do Brasil, sediado na Bahia,

onde o papel de Procurador da Coroa e de Promotor de Justiça era exercido por

um dos dez desembargadores que compunham o Tribunal.20

No Brasil Império, em 1832, surgiu o Código de Processo

Criminal do Império, que tratou, em seus artigos 36 a 38, a respeito da nomeação

e funções dos Promotores de Justiça e, a posteriori, a Lei n. 261, de 03 de

dezembro de 1841, reformulou este Código, destinando o Capítulo III aos

Promotores Públicos.21

A respeito do Código de Processo Criminal do Império,

Antônio Cláudio da Costa Machado explica que o artigo 37 deste diploma dava

como atribuição ao Promotor de Justiça:

[...] denunciar os crimes públicos e policiais, o crime de redução à

escravidão de pessoas livres, cárcere privado ou homicídio ou

tentativa, roubos, calúnias, injúrias contra pessoas várias, bem

como acusar os delinqüentes perante os jurados, solicitar a prisão

e punição dos criminosos e promover a execução das sentenças e

mandados judiciais (§ 2º); dar parte às autoridades competentes

19

MACHADO, Antônio Cláudio da Costa. A Intervenção do Ministério Público no Processo Civil Brasileiro. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 15-16. (mantida a grafia da fonte).

20 Cf. RANGEL, Paulo. Investigação Criminal direta pelo Ministério Público: visão crítica. 2005,

p 125.

21 Cf. GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 2006, p. 41-42.

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22

das negligências, omissões e prevaricações dos empregados na

administração da justiça (§ 3º).22

Contudo, somente em 1890, após a Proclamação da

República, o Ministério Público recebeu, pela primeira vez no Brasil, o tratamento

de Instituição, por meio do Decreto n. 848, de 11 de outubro de 1890, e do

Decreto n. 1.030, de 14 de novembro do mesmo ano. Tratando-se do Ministério

Público, seguiram outros Decretos, tais como o de n. 2579, de 16 de agosto de

1897, o Decreto n. 9.263, de 28 de novembro de 1911, e o Decreto n. 16.273, de

20 de dezembro de 1923.23

Em relação ao Decreto n. 848/1890, Magno Alexandre

Moura enumera alguns destaques, tais como:

1) A indicação do Procurador-Geral pelo Presidente da República;

2) a função do procurador de cumprir as ordens do Governo da

República relativas ao exercício de suas funções e de promover o

bem dos direitos e interesses da União (art. 24, alínea c).24

É importante destacar, ainda, a evolução da Instituição

frente às Constituições do Brasil, análise que brevemente passa-se a destacar.

1.3 O MINISTÉRIO PÚBLICO NAS CONSTITUIÇÕES DO BRASIL

Raulino Jacó Brüning esclarece, em sua obra, que: “até a

Independência do Brasil, em 1.822, a Justiça como um todo (incluindo a atuação

do Ministério Público) praticamente nada evoluíra, porque desde 1.603 era regida

pelas Ordenações Filipinas, estanques, sem atualização”.25

22

MACHADO, Antônio Cláudio da Costa. A Intervenção do Ministério Público no Processo Civil Brasileiro. 1998, p. 17-18 (mantida a grafia da fonte).

23 Cf. GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 2006, p. 42.

24 MOURA, Magno Alexandre F. Escorço Histórico do Ministério Público. Revista do Ministério

Público. Alagoas, n. 11:99-108, jul./dez. 2003, p. 102.

25 BRÜNING, Raulino Jacó. História do Ministério Público Catarinense. Florianópolis: Habitus,

2001, p. 63.

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23

A propósito, afirma o autor:

A modernização iniciou quando, ainda em 1.822, em agosto, por

ato do Príncipe Dom Pedro (governou o Brasil de 1822 a 1831), foi

abolida a tortura e certas penas graves, como o açoite, o confisco

e outras sanções cruéis e infamantes.26

1.3.1 O Ministério Público e a Constituição do Império de 1824

A primeira Constituição do Brasil nasceu em 1824 e não

tratou do Ministério Público durante o Império, limitando-se, apenas, na

abordagem da figura do procurador de Coroa e Soberania Nacional, que era

quem realizava a acusação no juízo dos crimes.27

Nessa linha de raciocínio, esclarece Hugo Nigro Mazzilli:

Da primeira Constituição, a do Império (25-3-1824), vale evocar

seu art. 48, dispositivo esse situado no capítulo „Do Senado‟: „No

juízo dos crimes, cuja acusação não pertence à Câmara dos

Deputados, acusará o procurador da Coroa e Soberania

Nacional‟.28

1.3.2 O Ministério Público e a Constituição da República de 1891

A respeito do tema, Jádel da Silva argumenta:

A Constituição Republicana de 1891 não cuidou do Ministério

Público como Instituição. Apenas, na Seção referente ao Poder

Judiciário, se referia ao Procurador-Geral da República, dizendo

que „O Presidente da República designará, dentre os Membros do

Supremo Tribunal Federal, o Procurador-Geral da República,

26

BRÜNING, Raulino Jacó. História do Ministério Público Catarinense. 2001, p. 63.

27 Cf. RANGEL, Paulo. Investigação Criminal direta pelo Ministério Público: visão crítica. 2005,

p 127.

28 MAZZILLI, Hugo Nigro. Regime Jurídico do Ministério Público: análise da Lei Orgânica

Nacional do Ministério Público, aprovada pela Lei n. 8.625, de 12 de fevereiro de 1993. 1996, p.13.

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24

cujas atribuições se definirão em lei‟ (artigo 58, § 2º). Passaram os

Estados a organizar o seu Ministério Público, fazendo de seus

membros simples agentes da confiança dos governos locais.29

1.3.3 O Ministério Público e a Constituição da República de 1934

Com a Constituição de 1934, o Ministério Público foi

guindado à condição de Instituição, nos seus artigos 95 a 98, que traçam normas

gerais de sua organização.30

Sobre o assunto, Alexandre de Moraes assim se pronuncia:

A Constituição de 1934 preocupou-se mais profundamente com o

Ministério Público, regulando-o no Título I (Da organização

Federal), Capítulo VI (Dos órgãos de cooperação nas actividades

governamentaes), Secção I (Do Ministério Público). Entre

importantes normas, a Constituição Federal previu a existência de

Ministérios Públicos na União, no Distrito Federal e Territórios, e

nos Estados, a serem organizados por lei (art. 95). Além disso, o

Chefe do Ministério Público, no âmbito federal (Procurador-Geral

da República), passou a ser nomeado pelo Chefe do Poder

Executivo, sem a necessidade de fazer parte do Poder Judiciário,

porém, com os mesmos vencimentos deste. A Carta

Constitucional também previu a estabilidade e vedações aos

membros do Ministério Público, e a necessidade de concurso

público para o ingresso à carreira.31

Cabe, ainda, ressaltar os artigos 95 ao 9832, da Constituição

da República dos Estados Unidos do Brasil, de 16 de julho de 1934.

29

SILVA, Jádel da. O Ministério Público. Origens históricas e perspectivas atuais. Revista Jurídica do Ministério Público Catarinense. Ano 1 - Jan./jun. 1978, vol. 1, p. 55.

30 Cf. GONÇALVES, Edilson Santana. O Ministério Público no Estado Democrático de Direito.

Fortaleza: ABC Fortaleza, 2000, p. 38.

31 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 15. ed. São Paulo: Atlas, 2004, p. 513.

32 “Art 95. O Ministério Público será organizado na União, no Distrito Federal e nos Territórios por

lei federal, e, nos Estados, pelas leis locais. § 1º - O Chefe do Ministério Público Federal nos Juízos comuns é o Procurador-Geral da República, de nomeação do Presidente da República, com aprovação do Senado Federal, dentre cidadãos com os requisitos estabelecidos para os Ministros da Corte Suprema. Terá os mesmos vencimentos desses Ministros, sendo, porém, demissível ad nutum. 2º - Os Chefes do Ministério Público no Distrito Federal e nos Território

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25

1.3.4 O Ministério Público e a Constituição da República de 1937

A Constituição de 1937 repetiu o silêncio já constatado na

Constituição de 1891, diminuindo a previsão constitucional do Ministério Público,

apenas fazendo breves referências no título em relação ao Poder Judiciário, em

especial, ao Supremo Tribunal Federal, prevendo, assim, a possibilidade de

interposição de recursos pelo Ministério Público, bem como estipulou a cláusula

do chamado “quinto constitucional” na composição dos Tribunais Superiores.33

Os artigos 99 e 10534, da Constituição Federal, de 10 de

novembro de 1937, determinavam quem seria o Chefe do Ministério Público e

quantos lugares seriam preenchidos na composição dos Tribunais.

1.3.5 O Ministério Público e a Constituição da República de 1946

Segundo Raulino Jacó Brüning: “a Constituição de 1.946

colocou o país no rumo do regime democrático (e federativo) e marcou também a

independência do Ministério Público como instituição”.35

serão de livre nomeação do Presidente da República dentre juristas de notável saber e reputação ilibada, alistados eleitores e maiores de 30 anos, com os vencimentos dos Desembargadores. § 3º - Os membros do Ministério Público Federal que sirvam nos Juízos comuns, serão nomeados mediante concurso e só perderão os cargos, nos termos da lei, por sentença judiciária, ou processo administrativo, no qual lhes será assegurada ampla defesa. Art 96 - Quando a Corte Suprema declarar inconstitucional qualquer dispositivo de lei ou ato governamental, o Procurado Geral da República comunicará a decisão ao Senado Federal para os fins do art. 91, nº IV, e bem assim à autoridade legislativa ou executiva, de que tenha emanado a lei ou o ato. Art 97 - Os Chefes do Ministério Público na União e nos Estados não podem exercer qualquer outra função pública, salvo o magistério e os casos previstos na Constituição. A violação deste preceito importa a perda do cargo. Art 98 - O Ministério Público, nas Justiças Militar e Eleitoral, será organizado por leis especiais, e só terá na segunda, as incompatibilidades que estas prescrevem”. (BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 16 de julho de 1934 . Disponível

em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao.htm>. Acesso em: 27 fev. 2008).

33 Cf. MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 2004, p. 513.

34 “Art 99. O Ministério Público Federal terá por Chefe o Procurador-Geral da República, que

funcionará junto ao Supremo Tribunal Federal, e será de livre nomeação e demissão do Presidente da República, devendo recair a escolha em pessoa que reúna os requisitos exigidos para Ministro do Supremo Tribunal Federal”. “Art 105. Na composição dos Tribunais superiores, um quinto dos lugares será preenchido por advogados ou membros do Ministério Público, de notório merecimento e reputação ilibada, organizando o Tribunal de Apelação uma lista tríplice”. (BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 10 de novembro de 1937. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_04/Constituicao.htm> Acesso em: 27 fev.

2008).

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26

Colhe-se da obra de Hugo Nigro Mazzilli que:

Já a Constituição democrática de 18 de setembro de 1946 voltou

a dar relevo à instituição, conferindo-lhe título próprio (arts. 125 a

128). Previu-se a organização do Ministério Público da União (art.

125) e dos Estados (art. 128); a escolha do procurador-geral da

República, dentre pessoas que preenchessem os mesmos

requisitos de ministros do Supremo Tribunal Federal (art. 126);

cometeu-se à instituição a representação da União (art. 126,

parágrafo único); fixaram-se as regras de ingresso na carreira sob

concurso, asseguraram-se as garantias de estabilidade e

inamovibilidade (art. 127), bem como instituiu-se o princípio de

promoção entrância a entrância (art. 128). Em dispositivos

esparsos cuidou-se de cometer ao procurador-geral da República

a representação de inconstitucionalidade (art. 8º, parágrafo único),

e ainda se impôs a obrigatoriedade de ser ouvido o chefe do

Ministério Público nos pedidos de seqüestro de verbas públicas

(art. 204, parágrafo único); de outro lado, fixou-se a competência

do Senado para aprovar a escolha do procurador-geral da

República (arts. 63, I, e 126), como ainda para processá-lo e julgá-

lo nos crimes de responsabilidade (art. 62, II), enquanto se deferiu

ao Supremo Tribunal Federal a competência para processá-lo e

julgá-lo nos crimes comuns (art. 101, I, b). Foi assegurada a

participação do Ministério Público na composição dos Tribunais

(arts. 103 e 124, V).36

Alexandre de Moraes complementa:

Importante previsão era a do art. 127, que proclamava três

importantes regras: concurso público, estabilidade e

inamovibilidade. Assim, ficou determinado que os membros do

Ministério Público da União, do Distrito Federal e dos Territórios

ingressariam nos cargos iniciais da carreira mediante concurso e

após dois anos de exercício, não poderiam ser demitidos senão

por sentença judiciária ou mediante representação motivada do

35

BRÜNING, Raulino Jacó. História do Ministério Público Catarinense. 2001, p. 152.

36 MAZZILLI, Hugo Nigro. Regime Jurídico do Ministério Público: análise da Lei Orgânica

Nacional do Ministério Público, aprovada pela Lei n. 8.625, de 12 de fevereiro de 1993. 1996, p. 14.

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27

chefe do Ministério Público, com fundamento em conveniência do

serviço.37

Cabe, ainda, informar que o Ministério Público também

participava da composição do Tribunal Federal de Recursos, que era composto

por nove juízes, nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a

escolha pelo Senado Federal, sendo que dois terços entre magistrados e um

terço entre advogados e membros do Ministério Público, respeitando os requisitos

do artigo 99.38

1.3.6 O Ministério Público e a Constituição da República de 1967

Sem trazer grandes mudanças, a Carta de 1967 apenas

recolocou as disposições acerca do Ministério Público dentro do Poder Judiciário

(Capítulo VIII – Do Poder Judiciário; Seção IX – Do Ministério Público). Porém,

cabe informar que tal alteração foi revogada pela Emenda Constitucional n. 01/69

– em verdade, tratava-se da Carta de 1969 decretada por uma junta militar –, que

novamente trouxe o Ministério Público para o capítulo referente ao Poder

Executivo (Capítulo VII – Do Poder Executivo; Seção VII – Do Ministério Público).

Em 1977, ainda por intermédio de Atos Institucionais, passou a prever a edição de

Lei Complementar para o estabelecimento de normas gerais para a organização

dos Ministérios Públicos Estaduais.39

No mesmo sentido, Uadi Lammêgo Bulos disserta:

Com a Emenda Constitucional n. 1/69, o Ministério Público passou

a integrar o Capítulo do Poder Executivo (arts. 94 a 96), com

aumento de atribuições do chefe da Instituição, que poderia ser

nomeado e demitido, livremente, pelo Presidente da República.

Mais tarde, a Emenda Constitucional n. 7/77 deu nova redação ao

art. 96, prevendo a existência de lei complementar, de iniciativa do

presidente, para estabelecer normas gerais a serem adotadas na

37

MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 2004, p. 514 (mantida grafia da fonte).

38 Cf. MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 2004, p. 514.

39 Cf. MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 2004, p. 515.

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28

organização do Parquet estadual. Nesse ínterim, conferiram-se

mais poderes ao procurador-geral da República.40

1.4 O MINISTÉRIO PÚBLICO NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA

FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

trata do Ministério Público no capítulo “Das funções essenciais à Justiça”,

definindo as suas funções institucionais, as garantias e as vedações de seus

membros. Porém, é no aspecto cível que a Instituição adquiriu novas atribuições,

ressaltando a sua atuação na tutela dos interesses difusos e coletivos – meio

ambiente, consumidor, patrimônio histórico, turístico e paisagístico; pessoa

portadora de deficiência; criança e adolescente; idoso; comunidades indígenas e

minorias ético-sociais. Assim, tornou o mesmo como uma espécie de Ouvidoria

da sociedade brasileira.41

Salienta Uadi Lammêgo Bulos:

A Carta de 1988 pode ser apelidada de a Constituição do

Ministério Público. Do ângulo constitucional positivo, nunca se viu

tanta atenção ao Parquet como agora. Na votação histórica, de 12

de abril de 1988, os constituintes aprovaram, em 1 º Turno, por

350 votos favoráveis, doze contrários e vinte e uma abstenções, o

texto contendo os atuais preceitos relativos à instituição. [...] Os

princípios e as garantias a que estão sujeitos os seus membros, a

forma de nomeação e a autonomia dos procuradores-gerais, as

funções institucionais, as normas fundamentais delineadoras dos

caracteres da instituição foram predispostos em técnica jamais

vista antes. Até o poder de iniciativa das leis, em certas matérias,

atribuíram-lhe (art. 169), sem falar da capacidade de elaborar sua

proposta orçamentária, com base nos limites impostos pela Lei de

Diretrizes Orçamentárias. Não se lhe deu, contudo, a faculdade de

iniciar proposta orçamentária, o que é da alçada do orçamento

geral, submetido ao Legislativo pelo Executivo. [...] Seja como for,

40

BULOS, Uadi Lammêgo. Constituição Federal anotada. 2007, p. 1119.

41 Cf. MOURA, Magno Alexandre F. Escorço Histórico do Ministério Público. Revista do

Ministério Público. 2003, p. 104.

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pela primeira vez um texto constitucional brasileiro disciplinou,

enfaticamente, a estrutura orgânico-funcional da instituição, as

principais regras relativas ao seu funcionamento e atribuições.

Nesse ponto, o trabalho dos constituintes Plínio de Arruda

Sampaio, Theodoro Mendes, Fábio Feldman, dentre outros,

merece registro.42

Na seqüência, em consonância com a atual Constituição da

República Federativa do Brasil, foi editada a Lei n. 8.625, de 12 de fevereiro de

1993, que instituiu a Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, dispondo a

respeito de normas gerais para a organização do Ministério Público dos Estados.

E, ainda, cabe lembrar com fundamental importância, a Lei Complementar

Federal n. 75, de 20 de maio de 1993, que trata a respeito das organizações,

atribuições e estatuto do Ministério Público da União.43

De acordo com os ensinamentos de Uadi Lammêgo Bulos:

Inexistem dúvidas acerca da posição sobranceira do Ministério

Público no contexto institucional brasileiro. Isto, contudo, não lhe

subtrai a condição de instituição vinculada ao Poder Executivo, o

que jamais significa depreciar a sua independência. Ao contrário,

seus membros integram a categoria de agentes políticos. Atuam

sem ingerências externas, porque possuem responsabilidades

constitucionais próprias, além de outras previstas em lei. Subme-

tem-se a critério seletivo, via concurso público de provas e títulos,

no que não estão sujeitos ao regime estatutário comum. São

escolhidos e investidos, no cargo, por normas específicas, as

quais Ihes regulam, também, a conduta e o processo pelo

cometimento de delitos funcionais e de responsabilidade.44

O Supremo Tribunal Federal ainda se manifesta:

Não se trata de quarto poder, como pretendem alguns. É engano

se pensar que o alargamento de suas funções é o bastante para

tal conclusão. Também é equivocada a postura de alguns, no

sentido de invocarem o seu locus constitucional. Ora, pouco

42

BULOS, Uadi Lammêgo. Constituição Federal anotada. 2007, p. 1120 (mantida a grafia da

fonte).

43 Cf. MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 2004, p. 516.

44 BULOS, Uadi Lammêgo. Constituição Federal anotada. 2007, p. 1121.

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importa a posição tópica do Parquet, se o conteúdo normativo da

Seção I, do Capítulo III, está posta neste ou naquele lugar. No

dizer do Ministro Rodrigues Alckmin, „a questão da colocação

constitucional do Ministério Público entre os Poderes é uma

questão de somenos, pois o verdadeiro problema é a sua

independência‟. De fato, garantida a autonomia da instituição,

torna-se despiciendo o problema, cujo interesse passa para o

âmbito das especulações teóricas.45

1.4.1 Conceito de Ministério Público

Conforme a lição de Hugo Nigro Mazzilli:

Não deixa de ser interessante anotar que, na sua etimologia, a

palavra „ministério‟ se prende ao vocábulo latino manus e aos

derivados ministrar, ministro, administrar – daí a ligação inicial aos

agentes do rei (les gens du roi), pois seriam a mão do rei (hoje,

certamente, para manter a metáfora, a mão da lei).46

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

ampliou consideravelmente os poderes conferidos ao Ministério Público. Nos

moldes do artigo 127 da referida Constituição, conforme já destacado

inicialmente, este órgão tornou-se instituição permanente, essencial à função

jurisdicional do Estado (sem pertencer ao Poder Judiciário), incumbindo-lhe a

defesa da ordem jurídica, do regime democrático, e dos interesses sociais e

individuais indisponíveis.47

Nesse vértice, Rodrigo Régnier Chemim Guimarães:

Como Instituição essencial à função jurisdicional do Estado, o

Ministério Público ocupa espaço destacado na aplicação da

Justiça em nosso País. Não mais se admite a prestação

45

STF, RTJ, 147:120-130 (apud BULOS, Uadi Lammêgo. Constituição Federal anotada. 2007,

p. 1121).

46 MAZZILLI, Hugo Nigro. Regime Jurídico do Ministério Público: análise da Lei Orgânica

Nacional do Ministério Público, aprovada pela Lei n. 8.625, de 12 de fevereiro de 1993. 1996, p. 9 (mantida a grafia da fonte).

47 Cf. MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 2004, p. 518.

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jurisdicional em sua plenitude, sem a intervenção efetiva do

Ministério Público nas causas que interessam à sociedade. O

termo 'essencial', empregado pelo constituinte, é bastante claro e

estabelece esta necessidade de participação do Ministério Público

na prestação jurisdicional. Com isso, o Estado-Judiciário não pode

prestar a jurisdição, olvidando do Ministério Público nas causas

pertinentes definidas em lei, sob pena de não-valia da própria

atuação do Judiciário. [...] O termo „essencial‟, empregado pelo

constituinte, é bastante claro e estabelece esta necessidade de

participação do Ministério Público na prestação jurisdicional,

olvidando do Ministério Público nas causas pertinentes definidas

em lei, sob pena de não-valia da própria atuação do Judiciário.48

Logo, o Ministério Público está incumbido da defesa dos

interesses sociais e individuais indisponíveis. Isto significa que a atuação desta

Instituição deve estar sempre voltada a garantir aos cidadãos o pleno exercício de

seus direitos, sejam eles sociais – interesses difusos e coletivos - sejam eles

individuais indisponíveis.49

Assim, a atuação do Ministério Público visa proteger um

interesse público, que ora está ligado a pessoas determinadas (direitos individuais

disponíveis, quando atingirem relevância social, e individuais indisponíveis), ora a

grupos de pessoas determinadas ou determináveis (direitos coletivos), ora a

grupos não determináveis (direitos difusos) e ora a toda a coletividade.50

Em relação a esta finalidade da atuação institucional, cabe

mencionar que a mesma vem repetida no primeiro artigo da Lei Complementar

Federal n. 75, de 20 de maio de 1993 (Lei Orgânica do Ministério Público da

União - LOMPU), da Lei Federal n. 8.625, de 12 de fevereiro de 1993 (Lei

Orgânica Nacional do Ministério Público - LONMP), e da Lei Complementar

Catarinense n. 197, de 13 de julho de 2000 (Lei Orgânica Estadual do Ministério

Público - LOEMP).

48

GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo Ministério Público. 2006, p. 45.

49 Cf. MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 2004, p. 520.

50 Cf. MAZZILLI, Hugo Nigro. Regime Jurídico do Ministério Público: análise da Lei Orgânica

Nacional do Ministério Público, aprovada pela Lei n. 8.625, de 12 de fevereiro de 1993. 1996, p. 213.

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32

1.4.2 Função do Ministério Público

A atual Constituição da República Federativa do Brasil

ampliou as funções do Ministério Público, tornando-o um defensor da sociedade,

tanto na esfera penal, com a titularidade exclusiva da ação penal pública, quanto

no campo cível, como fiscal dos demais Poderes Públicos e defensor da

legalidade e moralidade administrativa, inclusive com a titularidade do inquérito

civil e da ação civil pública.51

De forma exemplificativa, a Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988 elencou as principais funções do Ministério Público

em seu art. 12952.

A esse propósito, Uadi Lammêgo Bulos resume com

clareza:

[...] Na área penal, deu-se-Ihe o encargo privativo de interpor a

ação penal pública; o controle externo da atividade policial, na

forma da lei complementar; o poder de requisitar diligências

investigatórias; a determinação de instaurar inquérito policial; o

dever de indicar os fundamentos jurídicos das manifestações

processuais. No campo cível, a constituição garantiu-Ihe, além do

direito de promover ações interventiva e de inconstitucionalidade -

como sói no regime pregresso -, o direito de defender, em juízo,

interesses das populações indígenas, outorgando-se-Ihe, também,

51

Cf. MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 2004, p. 520.

52 “Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: I - promover, privativamente, a ação

penal pública, na forma da lei; II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia; III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos; IV - promover a ação de inconstitucionalidade ou representação para fins de intervenção da União e dos Estados, nos casos previstos nesta Constituição; V - defender judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas; VI - expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua competência, requisitando informações e documentos para instruí-los, na forma da lei complementar respectiva; VII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei

complementar mencionada no artigo anterior; VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais; IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas”. (BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Distrito Federal:

Senado Federal. 1988 (grifou-se).

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a missão de promover inquéritos cíveis e ações civis públicas para

a proteção do patrimônio público e social, o meio ambiente etc.53

Importa mencionar que este rol foi alargado pela Lei

Orgânica Nacional do Ministério Público, nos termos do artigo 2554.

Ainda em relação às funções, cabe mencionar o artigo 8255,

da Lei Complementar Estadual - Catarinense n. 197/2000.

53

BULOS, Uadi Lammêgo. Constituição Federal anotada. 2007, p. 1121.

54 “Art. 25. Além das funções previstas nas Constituições Federal e Estadual, na Lei Orgânica e

em outras leis, incumbe, ainda, ao Ministério Público: I - propor ação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais face à Constituição Estadual; II - promover a representação de inconstitucionalidade para efeito de intervenção do Estado nos Municípios; III - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei; IV - promover o inquérito civil e ação civil pública, na forma da lei: a) para a proteção, prevenção e reparação dos danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, e a outros interesses difusos, coletivos e individuais indisponíveis e homogêneos; b) para a anulação ou declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio público ou à moralidade administrativa do Estado ou de Município, de suas administrações indiretas ou fundacionais ou de entidades privadas de que participem; V - manifestar-se nos processos em que sua presença seja obrigatória por lei e, ainda, sempre que cabível a intervenção, para assegurar o exercício de suas funções institucionais, não importando a fase ou grau de jurisdição em que se encontrem os processos; VI - exercer a fiscalização dos estabelecimentos prisionais e dos que abriguem idosos, menores, incapazes ou pessoas portadoras de deficiência; VIl - deliberar sobre a participação em organismos estatais de defesa do meio ambiente, neste compreendido o do trabalho, do consumidor, de política penal e penitenciária e outros afetos à sua área de atuação; VIII - ingressar em juízo, de ofício, para responsabilizar os gestores do dinheiro público condenados por tribunais e conselhos de contas; IX - interpor recursos ao Supremo Tribunal Federal e ao Superior Tribunal de Justiça; X – (VETADO); XI – (VETADO)” (BRASIL. Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, Lei federal nº 8.625/1993. Disponível em:

<http://www.mp.sc.gov.br/portal/site/portal/portal_lista.asp?campo=1375> Acesso em: 27 fev. 2008).

55 “Art. 82. São funções institucionais do Ministério Público, nos termos da legislação aplicável: I -

promover a defesa do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis; II – promover a representação destinada a intervenção do Estado nos Municípios para assegurar a execução de lei, ordem ou decisão judicial; III - propor ação direta de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais em face da Constituição Estadual, inclusive por omissão; IV - promover, privativamente, a ação penal pública; V - impetrar „habeas corpus‟ e mandado de segurança; VI - promover o inquérito civil e a ação civil pública, na forma da lei, para: a) a proteção dos direitos constitucionais; b) a proteção, prevenção e reparação dos danos causados ao patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica e aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; c) a proteção dos interesses individuais indisponíveis, individuais homogêneos, difusos e coletivos relativos à família, à criança, ao adolescente, ao idoso e às minorias étnicas; d) a anulação ou declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio público ou à moralidade administrativa do Estado ou de Município, de suas administrações indiretas, fundacionais ou entidades privadas de que participem; e) a proteção de outros interesses individuais indisponíveis, individuais homogêneos, sociais, difusos e coletivos; VII - exercer a defesa dos direitos assegurados nas Constituições Federal e Estadual, sempre que se cuidar de garantir-lhes o respeito: a) pelos poderes estaduais ou municipais; b) pelos órgãos da Administração Pública estadual ou municipal, direta ou indireta; c) pelos concessionários e permissionários de serviço público estadual ou municipal; d) por

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O exame detalhado de todas as funções ministeriais

precisaria de um estudo exclusivo, sendo que, neste trabalho, reservar-se-á

espaço de destaque apenas para uma delas, que é o controle externo da

atividade policial, pertencente ao campo de atuação na esfera criminal pelo

Ministério Público. Portanto, tendo em vista ser o tema central desta abordagem,

esta função será tratada com maior ênfase no terceiro capítulo.

entidades que exerçam outra função delegada do Estado ou do Município ou executem serviço de relevância pública; VIII - exercer a fiscalização dos estabelecimentos prisionais e dos que abriguem idosos, crianças, adolescentes, incapazes ou pessoas portadoras de deficiência; IX - responsabilizar os gestores de dinheiro público por contas irregulares ou ilegalidade de despesa e prática de atos de improbidade administrativa; X - manifestar-se nos processos em que sua participação seja obrigatória por lei e, ainda, quando entender cabível a intervenção em razão de interesse público, para assegurar o exercício de suas funções institucionais, não importando a fase ou o grau de jurisdição em que se encontrem os processos; XI - interpor recursos; XII - promover, além da ação civil pública, outras ações necessárias ao exercício de suas funções institucionais, em defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis, interesses individuais homogêneos, especialmente quanto à ordem econômica, à ordem social, ao patrimônio cultural, à probidade administrativa e ao meio ambiente; XIII - promover outras ações necessárias ao exercício de suas funções institucionais, nelas incluído o mandado de injunção, sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à cidadania, quando difusos ou coletivos os interesses a serem protegidos; XIV - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas; XV – promover a ação para declaração da indignidade ou incompatibilidade para o oficialato e perda do correspondente posto ou patente, e para perda da graduação dos praças da Polícia Militar; XVI – realizar audiências públicas sobre temas afetos a sua área de atuação, visando dirimir, prevenir conflitos e buscar soluções, envolvendo a sociedade civil e os setores interessados; XVII - exercer o controle externo da atividade policial, civil ou militar, podendo, dentre outras medidas administrativas e

judiciais: a) ter livre ingresso em estabelecimentos policiais ou prisionais; b) ter acesso a quaisquer documentos relativos à atividade de polícia judiciária, ou requisitá-los; c) requisitar à autoridade competente a adoção de providências para sanar a omissão ou para prevenir ou corrigir ilegalidade ou abuso de poder; d) requisitar à autoridade competente a abertura de inquérito sobre a omissão ou fato ilícito ocorridos no exercício da atividade policial, determinando as diligências necessárias e a forma de sua realização, podendo acompanhá-las e também proceder diretamente a investigações, quando necessário; e) acompanhar atividades investigatórias; f) recomendar à autoridade policial a observância das leis e princípios jurídicos; g) requisitar à autoridade competente a instauração de sindicância ou procedimento administrativo cabível; h) exigir comunicação imediata sobre apreensão de adolescente; i) avocar inquérito policial em qualquer fase de sua elaboração e requisitar, a qualquer tempo, as diligências que se fizerem necessárias; § 1º O controle externo da atividade policial será exercido tendo em vista: I - o respeito aos fundamentos do Estado Democrático de Direito, aos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, aos princípios informadores das relações internacionais, bem como aos direitos assegurados na Constituição Federal e na lei; II - a preservação da ordem pública, da incolumidade das pessoas e do patrimônio público; III - a prevenção e a correção de ilegalidade ou de abuso de poder; IV - a indisponibilidade da persecução penal; V - a competência dos órgãos incumbidos da segurança pública; VI - outros interesses, direitos e valores relacionados ao exercício da atividade policial”. (SANTA CATARINA. Lei Complementar Estadual nº 197/2000 – Lei Orgânica do Ministério Público do Estado de Santa Catarina.

Disponível em: <http://www.mp.sc.gov.br>. Acesso em: 1º de abril de 2008) (grifou-se).

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1.4.3 Organização e atribuição do Ministério Público

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988,

em seu artigo 12856, afirma que o Ministério Público abrange o Ministério Público

da União, que, por sua vez, se subdivide em: Ministério Público Federal; Ministério

Público do Trabalho; Ministério Público Militar; Ministério Público do Distrito Federal

e Territórios; e existe também o Ministério Público dos Estados.57

A atual Carta Magna, ainda, em seu artigo 128, § 5º,

descreve que as Leis Complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa é

facultada aos respectivos procuradores-gerais, estabelecerão a organização, as

atribuições e o estatuto de cada Ministério Público.58

Segundo Hugo Nigro Mazzili:

[...] a Lei nº 8.625, de 12 de fevereiro de 1993, e a Lei

Complementar nº 75, de 20 de maio de 1993, correspondem,

respectivamente à Lei Orgânica Nacional do Ministério Público e à

Lei Orgânica do Ministério Público da União.59

56 “Art. 128. O Ministério Público abrange: I - o Ministério Público da União, que compreende: a) o

Ministério Público Federal; b) o Ministério Público do Trabalho; c) o Ministério Público Militar; d) o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios; II - os Ministérios Públicos dos Estados. § 1º - O Ministério Público da União tem por chefe o Procurador-Geral da República, nomeado pelo Presidente da República dentre integrantes da carreira, maiores de trinta e cinco anos, após a aprovação de seu nome pela maioria absoluta dos membros do Senado Federal, para mandato de dois anos, permitida a recondução. § 2º - A destituição do Procurador-Geral da República, por iniciativa do Presidente da República, deverá ser precedida de autorização da maioria absoluta do Senado Federal. § 3º - Os Ministérios Públicos dos Estados e o do Distrito Federal e Territórios formarão lista tríplice dentre integrantes da carreira, na forma da lei respectiva, para escolha de seu Procurador-Geral, que será nomeado pelo Chefe do Poder Executivo, para mandato de dois anos, permitida uma recondução. § 4º - Os Procuradores-Gerais nos Estados e no Distrito Federal e Territórios poderão ser destituídos por deliberação da maioria absoluta do Poder Legislativo, na forma da lei complementar respectiva. § 5º - Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa é facultada aos respectivos Procuradores-Gerais, estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério Público” [...] (BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Distrito Federal: Senado Federal, 1988).

57 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Distrito Federal: Senado

Federal, 1988.

58 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Distrito Federal: Senado

Federal, 1988.

59 MAZZILLI, Hugo Nigro. Regime Jurídico do Ministério Público: análise da Lei Orgânica

Nacional do Ministério Público, aprovada pela Lei n. 8.625, de 12 de fevereiro de 1993. 1996, p. 243.

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No que diz respeito à criação de lei que organize o Ministério

Público da União, Hugo Nigro Mazzilli ainda explica que a competência é

concorrente, alegando que:

Embora a Constituição fale em iniciativa privativa do presidente

para lei de organização do Ministério Público da União, idêntica

iniciativa é facultada ao procurador-geral da República: há, pois,

iniciativa concorrente de ambos para a lei que deve estabelecer a

organização, as atribuições e o estatuto do Ministério Público da

União. Privativa é só a iniciativa do presidente da República para

a lei que cria normas gerais para os Ministérios Públicos dos

Estados e do Distrito Federal e Territórios.60

A propósito, leciona o autor:

[...] leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa é

facultada aos respectivos procuradores-gerais, minudenciarão a

organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério

Público, devendo os Estados observar as normas gerais fixadas

na lei federal referida no art. 6.1, § 1º, II, d, da Constituição.61

1.4.4 Princípios Institucionais do Ministério Público

A própria Constituição da República Federativa do Brasil de

1988, no §1º do artigo 12762, descreve três princípios institucionais básicos, que,

ao lado daqueles identificados pela doutrina, servem de diretrizes para a

organização e atuação do Ministério Público.

Alexandre de Moraes, sobre o tema, disserta:

60

MAZZILLI, Hugo Nigro. Regime Jurídico do Ministério Público: análise da Lei Orgânica

Nacional do Ministério Público, aprovada pela Lei n. 8.625, de 12 de fevereiro de 1993. 1996, p. 243.

61 MAZZILLI, Hugo Nigro. Regime Jurídico do Ministério Público: análise da Lei Orgânica

Nacional do Ministério Público, aprovada pela Lei n. 8.625, de 12 de fevereiro de 1993. 1996, p. 244 (mantida a grafia da fonte).

62 “Art.127. [...] §1º São princípios institucionais do Ministério Público a unidade, a indivisibilidade e

a independência funcional”. (BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,

Distrito Federal: Senado Federal. 1988. Cabe ressaltar que este mesmo parágrafo foi reproduzido na LONMP, onde consta no parágrafo único de seu art.1°).

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37

Os princípios institucionais do Ministério Público devem ser

analisados e interpretados em relação a cada um dos ramos do

Parquet – MPU (com suas quatro previsões: MPF, MPT, MP / DF

e MPT) e MPEs – uma vez que inexiste hierarquia entre eles, mas

tão-somente distribuição constitucional de atribuições.63

Contudo, não se pode deixar de citar, por fim, o princípio do

Promotor Natural que, apesar de não constar expressamente no artigo 127, § 1º,

da atual Constituição da República Federativa do Brasil, fora reconhecido

existente e determinada sua observância necessária, nos moldes do

entendimento do Plenário do Supremo Tribunal Federal.64

Neste passo, passa-se à análise dos princípios

mencionados.

1.4.4.1 Unidade

Consoante aos ensinamentos de Uadi Lammêgo Bulos,

inexiste unidade entre o Parquet Federal e os Ministérios Públicos Estaduais.

Assim, não há que se falar em unidade entre o Ministério Público de um Estado e

de outro, nem entre os diversos ramos do Ministério Público da União. É que o

princípio da unidade só incide no âmbito de cada Ministério Público.65

Não é outro o entendimento de Alexandre de Moraes:

A unidade significa que os membros do Ministério Público

integram um só órgão sob a direção única de um só Procurador-

geral, ressalvando-se, porém, que só existe unidade dentro de

cada Ministério Público, inexistindo entre o Ministério Público

63

MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional. 6

ed. atualizada até a EC nº 52/06 – São Paulo: Atlas, 2006, p. 1679.

64 Cf. MAZZILLI, Hugo Nigro. Regime Jurídico do Ministério Público: análise da Lei Orgânica

Nacional do Ministério Público, aprovada pela Lei n. 8.625, de 12 de fevereiro de 1993. 1996, p. 83.

65 Cf. BULOS, Uadi Lammêgo. Constituição Federal anotada. 2007, p. 1087-1088.

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38

Federal e os dos Estados, nem entre o de um Estado e o de outro,

nem entre os diversos ramos do Ministério Público da União.66

No mesmo vértice, o Supremo Tribunal Federal entendeu,

com base no princípio da Unidade do Ministério Público, que:

[...] o ato processual de oferecimento da denúncia, praticado, em

foro incompetente, por um representante, prescinde, para ser

válido e eficaz, de ratificação por outro do mesmo grau funcional e

do mesmo Ministério Público, apenas lotado em foro diverso e

competente, porque o foi em nome da instituição, que é una e

indivisível.67

1.4.4.2 Indivisibilidade

O princípio da indivisibilidade decorre do próprio corolário da

unidade, isto é, o membro do Ministério Público não pode ser subdividido

internamente em inúmeras instituições autônomas e desvinculadas entre si.

Sendo assim, o Parquet não se vincula ao processo no qual oficia, podendo ser

substituído por outro, conforme o que dispuser a lei.68

Sobre este princípio, Valter Foleto Santin pontua:

A indivisibilidade significa que a instituição é um todo indivisível é

único o ofício de Ministério Público, podendo um membro ser

substituído por outro da mesma carreira e ramo (membro do

Ministério Público Federal por outro membro do mesmo ramo;

membro do Ministério Público do Estado de São Paulo, por outro

membro do Ministério Público de São Paulo, não do Paraná nem

66

MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 2004, p. 518.

67 STF – Pleno – HC 85.137/MT, Rel. Min. Cezar Peluso – Informativo STF nº 402, p. 4 e

Informativo STF nº 401, p. 2 (apud MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional. 2006, p. 1679).

68 Cf. BULOS, Uadi Lammêgo. Constituição Federal anotada. 2007, p. 1088.

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39

de outro Estado, vice-versa), sem que interfira no desempenho

das funções.69

O Superior Tribunal de Justiça ainda contribui:

O Ministério Público é uno e indivisível, mas apenas na medida

em que os seus membros estão submetidos a uma mesma chefia.

Essa unidade e indivisibilidade só dizem respeito a cada um dos

vários Ministérios Públicos que o sistema jurídico brasileiro

consagrou.70

1.4.4.3 Independência funcional

A Instituição Ministério Público é independente na realização

de suas atribuições, não ficando sujeito às ordens de qualquer órgão, somente

devendo prestar contas de seus atos à Constituição, às leis e à sua consciência.71

Este princípio encontra-se presente, exemplificadamente, na

redação do artigo 28, do Código de Processo Penal, pois, se o Procurador-Geral

de Justiça discordar da promoção de arquivamento do Promotor de Justiça,

poderá, o mesmo, oferecer denúncia, determinar diligências, ou mesmo designar

outro órgão ministerial para oferecê-la, mas nunca poderá determinar que o

proponente do arquivamento inicie a ação penal. Assim, pode-se afirmar que nem

seus superiores hierárquicos podem determinar-lhes ordens no sentido de agir de

certa maneira dentro de um processo.72

A esse respeito, Valter Foleto Santin assim se manifesta:

69

SANTIN, Valter Foleto. O Ministério Público na investigação criminal. Bauru, São Paulo:

EDIPRO, 2001, p. 198.

70 STJ, ROMS 5563/RS, rel. Min. César Asfor Rocha, 1ª Turma, decisão: 21-8-1995, DJ1,

de 16-10-1995, p. 34609 (apud BULOS, Uadi Lammêgo. Constituição Federal anotada. 5. ed. rev. e atual. até a Emenda Constitucional n. 39/2002 – São Paulo: Saraiva, 2003, p. 1088).

71 RTJ 147/142 (apud MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil interpretada e legislação

constitucional. 2006, p. 1680).

72 Cf. MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional.

2006, p. 1680.

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40

A autonomia funcional ou independência funcional garante a

liberdade de atuação do órgão do Ministério Público, sem sofrer

influência hierarquicamente superior. O membro atua livremente

no caso concreto, de acordo com as regras legais e a sua

consciência, sem direcionamento vinculativo e compulsório dos

órgãos superiores, para que possam servir aos interesses da lei e

não aos dos governantes. Agem conforme a sua convicção fática

e jurídica. A hierarquia é apenas administrativa, não podendo o

chefe da instituição determinar como deva agir o membro

oficiante, muito menos em qual sentido. A chefia do Procurador-

Geral é administrativa, não funcional.73

Destaca-se, também, a lição do Supremo Tribunal Federal:

É indispensável que o Ministério Público ostente, em face do

ordenamento constitucional vigente, especial posição na estrutura

do poder estatal. A independência institucional constitui uma das

mais expressivas prerrogativas político-jurídicas do parquet, na

medida em que lhe assegura o desempenho em toda a sua

plenitude e extensão, das atribuições a ele conferidas.74

1.4.4.4 Promotor Natural

Como já ressaltado, não se pode deixar de citar, por fim, o

princípio do Promotor Natural. Apesar de não ter sido expressamente relacionado

no artigo 127, § 1º, da atual Carta Magna, a verdade é que o Plenário do Supremo

Tribunal Federal já reconheceu a existência desse princípio, por maioria de

votos.75

O Supremo Tribunal Federal conceitua o princípio do

Promotor Natural:

73

SANTIN, Valter Foleto. O Ministério Público na investigação criminal. 2001, p. 199.

74 STF, Tribunal Pleno, ADIMC 789, rel. Min. Celso de Mello, decisão: 22-10-1992, Em. de

Jurisp., v. 1693-02, p. 196; DJ1, de 26-2-1993, p. 2356 (apud BULOS, Uadi Lammêgo. Constituição Federal anotada. 2007, p. 1088).

73 Cf. MAZZILLI, Hugo Nigro. Regime Jurídico do Ministério Público: análise da Lei Orgânica

Nacional do Ministério Público, aprovada pela Lei n. 8.625, de 12 de fevereiro de 1993. 1996, p. 83.

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41

O postulado do Promotor Natural, que se revela imanente ao

sistema constitucional brasileiro, repele, a partir da vedação de

designações casuísticas efetuadas pela chefia da Instituição, a

figura do acusador de exceção. Esse princípio consagra uma

garantia de ordem jurídica, destinada tanto a proteger o membro

do Ministério Público, na medida em que lhe assegura o exercício

pleno e independente do seu ofício, quanto a tutelar a própria

coletividade, a quem se reconhece o direito de ver atuando, em

quaisquer causas, apenas o Promotor cuja intervenção se

justifique a partir de critérios abstratos e predeterminados (sic),

estabelecidos em lei. A matriz constitucional desse princípio

assenta-se nas cláusulas da independência funcional e na

inamovibilidade dos membros da Instituição. O postulado do

Promotor Natural limita, por isso mesmo, o poder do Procurador-

Geral que, embora expressão visível da unidade institucional, não

deve exercer a Chefia do Ministério Público de modo hegemônico

e incontrastável. Posição dos Ministros Celso de Mello (relator),

Sepúlveda Pertence, Marco Aurélio e Carlos Velloso. Divergência,

apenas, quanto à aplicabilidade imediata do princípio do Promotor

Natural: necessidade da interpositio legislatoris para efeito de

atuação do princípio (Ministro Celso de Mello); incidência do

postulado, independentemente de intermediação legislativa

(Ministros Sepúlveda Pertence, Marco Aurélio e Carlos Velloso.

Reconhecimento da possibilidade de instituição do princípio do

Promotor Natural mediante lei (Ministro Sydnei Sanches). Posição

de expressa rejeição à existência desse princípio consignada nos

votos dos Ministros Paulo Brossard, Octávio Gallotti, Néri da

Silveira e Moreira Alves.76

1.4.5 Garantias do Ministério Público

Cabe informar que as garantias constitucionais do Ministério

Público foram-lhe conferidas pelo legislador constituinte, com o intuito do pleno e

independente exercício de suas funções, e serão divididas no presente estudo em

garantias institucionais e garantias aos membros do Ministério Público.77

76

STF – HC nº 67.759/RJ, Rel. Min. Celso de Mello, RTJ 150/123, RTJ 148/181 (apud, MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional. 2006, p. 1683).

77 Cf. MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 2004, p. 524.

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42

Ainda cabe ressaltar uma passagem de Uadi Lammêgo

Bulos a respeito:

Evidente que as garantias do Ministério Público, suas funções e

garantias constitucionais, configuram cláusulas imodificáveis (art.

60, § 4º). Não há sentido em derrubar as vigas mestras do Parquet

que, com a reconstrução da ordem constitucional, emergiu sob o

signo da legitimidade democrática. „Ampliaram-se-Ihe as

atribuições; dilatou-se-Ihe a competência; atendeu-se, finalmente,

a antiga reivindicação da própria sociedade civil. Como o Mi-

nistério Público não constitui órgão ancilar do Governo, instituiu o

legislador constituinte um sistema de garantias destinado a

proteger o membro da instituição e a própria instituição, cuja

atuação configura a confiança de respeito aos direitos individuais

e coletivos, e a certeza de submissão dos Poderes à lei‟.78

1.4.5.1 Garantias institucionais

1.4.5.1.1 Autonomia funcional

A autonomia funcional, fazendo parte da instituição como um

todo e abrangendo todos os órgãos do Ministério Público, está descrita no artigo

127, § 2º, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, uma vez

que, ao cumprir os seus deveres institucionais, o membro da instituição não se

submeterá a nenhum outro poder, seja Legislativo, Executivo ou Judiciário, órgão,

autoridade pública, entre outros. Portanto, deve apenas observar a Constituição,

as leis e a sua própria consciência.79

1.4.5.1.2 Autonomia administrativa

Pedro Lenza explica:

78

STF, Min. Celso de Mello, RTJ, 147:161 (apud BULOS, Uadi Lammêgo. Constituição Federal anotada. 2007, p. 1130).

79 Cf. LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 2006, p. 453.

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43

Prevista no art. 127, § 2º, a autonomia administrativa consiste na

capacidade de direção de si próprio, autogestão, auto-

administração, um governo de si. Assim, o Ministério Público

poderá, observado o disposto no art. 169, propor ao Poder

Legislativo a criação e a extinção de seus cargos e serviços

auxiliares, provendo-os por concurso público de provas ou de

provas e títulos, a política remuneratória e os planos de carreira,

enfim, sua organização e funcionamento.80

1.4.5.1.3 Autonomia financeira

Descrita no art. 127, § 3º, ao Ministério Público assegurou-se

a capacidade de elaborar sua proposta orçamentária dentro dos limites dispostos

na lei de diretrizes orçamentárias, podendo, assim, de forma autônoma,

administrar os recursos que lhe forem destinados.81

Pedro Lenza, em seu livro, afirma que:

Assim como fixado para a magistratura [...] a EC n. 45/2004

regulamentou o procedimento de encaminhamento da proposta

orçamentária do Ministério Público e solução em caso de inércia.

Proibiu, outrossim, a realização de despesas ou a assunção de

obrigações que extrapolem os limites estabelecidos na lei de

diretrizes orçamentárias, exceto se previamente autorizadas,

mediante a abertura de créditos suplementares ou especiais (art.

127, §§ 4º, 5º e 6º).82

1.4.6 Garantias e vedações aos membros do Ministério Público

Aos membros da Instituição, importa destacar que a

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 determinou o respeito a

80

LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 2006, p. 453.

81 Cf. LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 2006, p. 453-454.

82 LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 2006, p. 454 (mantida a grafia da

fonte).

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44

certas garantias, que são: a vitaliciedade, a inamovibilidade e a irredutibilidade de

vencimentos dos promotores; todas visando à defesa do Estado democrático de

Direito e dos direitos fundamentais.

Como bem registra Alexandre de Moraes, tais garantias

constitucionais do Ministério Público foram-lhe atribuídas pelo legislador

constituinte com a finalidade do pleno e independente exercício de suas

funções.83

Em relação à vitaliciedade, Pedro Lenza explica:

Adquire-se a vitaliciedade após a transcorrência do período

probatório, ou seja, dois anos de efetivo exercício do cargo,

tendo sido admitido na carreira, mediante aprovação em concurso

de provas e títulos (art. 128, § 5º, I, “a”). A garantia da

vitaliciedade assegura ao membro do Ministério Público a perda

do cargo somente por sentença judicial transitada em

julgado.84

Alexandre de Moraes complementa:

O membro vitalício dos Ministérios Públicos dos Estados somente

perderá o cargo por sentença judicial transitada em julgado,

proferida em ação civil própria, nos seguintes casos: prática de

crime incompatível com o exercício do cargo, após decisão judicial

transitada em julgado; exercício da advocacia; abandono do cargo

por prazo superior a trinta dias corridos.85

Cabe ressaltar, porém, que, de forma excepcional, o membro

do Ministério Público poderá não ser vitalício, mesmo que já tenha ultrapassado o

estágio probatório, preservando tão-somente a garantia da estabilidade. Isso

ocorre em relação aos membros do Ministério Público, admitidos antes da

promulgação da atual Constituição da República do Brasil, que optarem pelo regime

anterior, no que disser respeito às garantias e vantagens, observando-se quanto às

83

Cf. MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 2004, p. 524 (mantida a grafia da fonte).

84 LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 2006, p. 454.

85 Cf. MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional.

2006, p. 1702.

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45

vedações a situação jurídica da própria data da promulgação da Carta Magna

(ADCT, art. 29, § 3º).86

Pedro Lenza conceitua a inamovibilidade:

O membro do Ministério Público não poderá ser removido ou

promovido, unilateralmente, sem a sua autorização ou

solicitação. Excepcionalmente, contudo, por motivo, de interesse

público, mediante decisão do órgão colegiado competente do

Ministério Público (no caso, o Conselho Superior do Ministério

Público), por voto da maioria absoluta de seus membros, desde

que lhe seja assegurada a ampla defesa, poderá vir a ser

removido do cargo ou função (art. 128, § 5º, I, “b”, modificado pela

EC 45/2004).87

Não é diferente o entendimento de Alexandre de Moraes:

Uma vez titular do respectivo cargo, o membro do Ministério Público

somente poderá ser removido ou promovido por iniciativa própria,

nunca ex officio de qualquer outra autoridade, salvo em uma única

exceção constitucional por motivo de interesse público, mediante

decisão do órgão colegiado competente do Ministério Público, por voto

da maioria absoluta de seus membros, assegurada ampla defesa.88

Ainda, em conformidade com o artigo 128, § 5º, I, “c”89, da

atual Constituição da República Federativa do Brasil, fica assegurado ao Parquet

86

Cf. MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional.

2006, p. 1703.

87 LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 2006, p. 454 (mantida a grafia da

fonte).

88 MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional.

2006, p. 1704 (mantida a grafia da fonte).

89 “Art. 128. O Ministério Público abrange: § 5º - Leis complementares da União e dos Estados,

cuja iniciativa é facultada aos respectivos Procuradores-Gerais, estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério Público, observadas, relativamente a seus membros: I - as seguintes garantias: c) irredutibilidade de subsídio, fixado na forma do art. 39, § 4º, e ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 150, II, 153, III, 153, § 2º, I; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)” (BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Distrito Federal: Senado Federal. 1988).

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46

a garantia da irredutibilidade de subsídio, fixado na forma do art. 39, § 4º90, e

ressalvado o disposto nos artigos 37, X e XI91, 150, II92, 153, § 2º, I93.

Assim, tem-se que os subsídios dos membros do Ministério

Público não poderão ser reduzidos, lembrando-se que está assegurada a

irredutibilidade nominal, não se garantindo a corrosão inflacionária.94

90 “Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão conselho de política

de administração e remuneração de pessoal, integrado por servidores designados pelos respectivos Poderes. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) (Vide ADIN nº 2.135-4) § 4º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e Municipais serão remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela única, vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória, obedecido, em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)” (BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Distrito Federal: Senado Federal. 1988).

91 “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos

Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) X - a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que trata o § 4º do art. 39 somente poderão ser fixados ou alterados por lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, assegurada revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distinção de índices; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) (Regulamento) XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da administração direta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do Poder Legislativo e o subsídio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e aos Defensores Públicos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003)” (BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Distrito Federal: Senado

Federal. 1988).

92 “Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos

Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos” (BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil.

Brasília, Distrito Federal: Senado Federal. 1988).

93 “Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: § 2º - O imposto previsto no inciso III: I -

será informado pelos critérios da generalidade, da universalidade e da progressividade, na forma da lei” (BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Distrito Federal: Senado Federal. 1988).

94 Cf. LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 2006, p. 454-455.

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47

No que tange ao alcance da garantia constitucional da

irredutibilidade de vencimentos, o Supremo Tribunal Federal já estabeleceu tratar-

se de cláusula que: “veda a redução do que se tem”.95

Dessa forma, no mesmo entendimento, como mencionado

pelo Ministro Celso de Mello:

Irredutibilidade de vencimentos: Em relação ao alcance da

garantia constitucional da irredutibilidade de vencimentos, o STF já

estabeleceu tratar-se de cláusula que "veda a redução do que se

tem" (RTJ104/808). Dessa forma, como salientado pelo Ministro

Celso de Mello, "o Supremo Tribunal Federal, tendo presente a

concreta abrangência desse postulado fundamental, enfatizou que

'a garantia constitucional de irredutibilidade de vencimentos (...)

torna intangível o direito que já nasceu e que não pode ser

suprimido' (RTJ 118/300, Rei. Min. Carlos Madeira), pois, afinal, a

garantia da irredutibilidade incide sobre aquilo que, a título de

vencimentos, o servidor já vinha percebendo (RTJ 112/768, Rei. Min.

Alfredo Buzaid). Cumpre ter presente, neste ponto, a sempre

relembrada decisão desta Suprema Corte, em período no qual a

garantia em causa somente dizia respeito aos membros do Poder

Judiciário, na qual se assentou, concernentemente ao tema em

debate, que 'o que a irredutibilidade veda é a diminuição, por lei

posterior, dos vencimentos que o juiz, em exercício antes de sua

vigência, estivesse recebendo' (RTJ45/353, 355, Rei. Min. Evandro

Lins). Esse entendimento -impõe-se enfatizar - tem sido reiterado

em diversos pronunciamentos dessa Corte Suprema, nos quais,

por mais de uma vez, já se proclamou que a garantia constitucional

da irredutibilidade de vencimentos proíbe que o estipêndio funcional

seja reduzido ou afetado, por ato do Poder Público, em seu valor

nominal (RTJ 105/671, 675, Rei. Min. Soares Munoz)" (STF - Pleno

- Adin n° 1.396-3/SC - Medida liminar - Rei. Min. Celso de Mello,

Diário da Justiça, Seção I, 2 fev. 1996).96

Mais uma vez tentando desatrelar o membro do Ministério

Público de qualquer força influente, o constituinte estabeleceu para o Ministério

95

RTJ 104/808 (apud MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional. 2006, p. 1707).

96 STF - Pleno - Adin n° 1.396-3/SC - Medida liminar - Rei. Min. Celso de Mello, Diário da Justiça,

Seção I, 2 fev. 1996 (apud MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional. 2006, p. 1707) (mantida a grafia da fonte).

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Público vedações de algumas atividades que poderiam de qualquer forma

atrapalhar ou infamar o ofício do Parquet. Estão elas descritas no artigo 128, §5º,

inciso II, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, que são: a.

receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto, honorários, percentagens ou

custas processuais; b. exercer a advocacia; c. participar de sociedade comercial,

na forma da lei; d. exercer, ainda que em indisponibilidade, qualquer outra função

pública, salvo uma de magistério; e. exercer atividade político-partidária, salvo

exceções previstas na lei.97

Como ilustração, cabe transcrever uma decisão proferida

pelo Supremo Tribunal Federal a respeito do exercício da advocacia e

autodefesa:

Impossibilidade do exercício da autodefesa técnica por

membro do Ministério Público: STF – „A Turma, por maioria,

deferiu habeas corpus contra decisão do Tribunal de Justiça do

Estado do Rio de Janeiro que recebera a denúncia oferecida

contra promotora de justiça, uma vez que a resposta à denúncia

fora apresentada pela própria denunciada, atuando em causa

própria. Considerou-se que as funções do Ministério Público são

incompatíveis com o exercício da advocacia (Lei n° 8.906/94, art.

28, II), ainda que atuando em causa própria‟.98

Apresentada a instituição do Ministério Público, e sendo o

objeto de estudo desta pesquisa a análise de uma de suas funções, qual seja, o

controle externo da atividade policial e a efetividade da atuação do Parquet,

conforme já ressaltado anteriormente, direcionar-se-á, portanto, o seguinte

capítulo ao estudo da Polícia Brasileira.

97

Cf. MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 2004, p. 531.

98 STF - 2

a T. - HC n° 76.671/RJ - Rei. Min. Nelson Jobim, decisão: 9-6-1998. informativo STF, n°

114 (apud MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional. 2006, p. 1708) (mantida a grafia da fonte).

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49

CAPÍTULO 2

DA POLÍCIA

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988,

em seu artigo 129, inciso VII, descreve tão somente que o Ministério Público

exercerá o controle da atividade policial, sem definir se esta atividade policial é

somente da Polícia Judiciária (Polícia Civil), ou refere-se também à Polícia

Preventiva (Polícia Militar).99

Respeitando a atual Lex Magna, as Leis Orgânicas do

Ministério Público e as doutrinas pertinentes, pode-se afirmar que estão sujeitas

ao controle externo pelo Ministério Público, a Polícia Civil e Militar, sempre que no

exercício do múnus de Polícia Judiciária, com fins de persecução penal,

abrangendo também, a fiscalização quanto às ilegalidades ou abusos de poder

cometidos pela autoridade policial ou seus agentes.100

Desta forma, cabe apresentar, neste capítulo, então, um

panorama a respeito de todos os tipos de Polícias existentes no Brasil, sejam elas

Preventivas ou Repressivas.

2.1 DA SEGURANÇA PÚBLICA – NOÇÕES GERAIS

Em uma sociedade que se busca o respeito pela

democracia, a segurança pública visa garantir a proteção dos direitos individuais e

assegura o pleno exercício da cidadania. Conforme bem destaca Alexandre de

Moraes, a atual Constituição da República Federativa do Brasil preceitua que a

99

GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo Ministério Público. 2006, p. 87.

100 Cf. LOCATELLI, Paulo Antônio. O Ministério Público e o Controle Externo da Atividade Policial.

Atuação – Revista Jurídica do Ministério Público Catarinense. 2003, p. 59.

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50

segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos é

exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e

patrimônio, sem, contudo, reprimir-se abusiva e inconstitucionalmente a livre

manifestação de pensamento.101

Não é diferente o entendimento de Uadi Lammêgo Bulos:

Como a convivência harmônica reclama a preservação dos

direitos e garantias fundamentais, é necessário existir uma

atividade constante de vigilância, prevenção e repressão de

condutas delituosas. Daí a razão de ser da segurança pública do

Estado, isto é, manter a paz dentro da adversidade, pois é dentro

do embate de interesses antagônicos que emerge o seu poder

fundamental, qual seja, o de procurar manter o equilíbrio nas

relações sociais.102

Neste sentido, a segurança pública é tratada no artigo

144103, caput, da atual Carta Magna.

Alexandre de Moraes ainda faz uma ressalva, explicando

que a Constituição Federal da República Federativa do Brasil de 1988 concedeu

aos Municípios o direito, através do exercício de suas competências legislativas, a

constituir Guardas Municipais com o objetivo de proteger os seus bens, serviços e

instalações, conforme prescrito em lei, sem, contudo, reconhecer-lhes a

possibilidade de exercício de Polícia Ostensiva ou Judiciária.104

Destaca José Afonso da Silva, que a “segurança pública”

consiste numa situação de preservação ou restabelecimento dessa convivência

social que permite que todos gozem de seus direitos e exerçam suas atividades

101

Cf. MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 2004, p. 675.

102 BULOS, Uadi Lammêgo. Constituição Federal anotada. 2007, p. 1175.

103 “Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida

para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I - polícia federal; II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias civis; V - polícias militares e corpos de bombeiros militares [...] § 8º Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme a lei dispuser” (BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,

Distrito Federal: Senado Federal. 1988).

104 Cf. MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil interpretada e legislação

constitucional. 2006, p. 1817.

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sem perturbação de outrem, salvo nos limites de gozo e reivindicação de seus

próprios direitos e defesa de seus legítimos interesses. Trata-se, assim, de uma

atividade de vigilância, prevenção e repressão de condutas delituosas.105

Emerson Clayton Rosa Santos, não obstante, observa:

As forças de segurança buscam aprimorar-se a cada dia e atingir

níveis que alcancem a expectativa da sociedade como um todo,

imbuídos pelo respeito e à defesa dos direitos fundamentais do

cidadão e, sob esta óptica, compete ao Estado garantir a

segurança de pessoas e bens na totalidade do território brasileiro,

a defesa dos interesses nacionais, o respeito pelas leis e a

manutenção da paz e ordem pública. Paralelo às garantias que

competem ao Estado, o conceito de segurança pública é amplo,

não se limitando à política do combate à criminalidade e nem se

restringindo à atividade policial.106

Assim, a segurança pública, enquanto atividade

desenvolvida pelo Estado é responsável por empreender ações de repressão,

oferecer estímulos ativos para que os cidadãos possam conviver, trabalhar,

produzir e se divertir, protegendo-os dos riscos a que estão expostos.107

Agora, passa-se ao estudo desta que vem significar, como

lembra o autor, a atividade administrativa tendente a assegurar a ordem, a paz

interna, a harmonia e, mais tarde, o órgão do Estado que zela pela segurança dos

cidadãos, sendo, atualmente, portanto, órgão a que se atribui, exclusivamente, a

função negativa, ou seja, a função de evitar a alteração da ordem jurídica.108

105

SILVA. José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 11ª ed. São Paulo: Malheiros. 2003, p. 753-754.

106 SANTOS, Emerson Clayton Rosa. Conceito de segurança pública. Disponível em:

<http://br.monografias.com/trabalhos2/seguranca-publica/seguranca-publica.shtml>. Acesso em: 18.11.2007.

107 Cf. SANTOS, Emerson Clayton Rosa. Conceito de segurança pública. Disponível em:

<http://br.monografias.com/trabalhos2/seguranca-publica/seguranca-publica.shtml>. Acesso em: 18.11.2007.

108 Cf. SILVA. José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 2003, p. 754.

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2.2 DA POLÍCIA – NOÇÕES HISTÓRICAS

Inicialmente, conforme bem recorda Rodrigo Régnier

Chemim Guimarães, para enveredar com segurança pela história, impõe-se

delimitar o campo desejado e consultar os historiadores que abordem o tema

escolhido. Em que pese esta preocupação, é certo que os pesquisadores

costumam considerar as questões históricas sob os mais variados enfoques e

abordagens, imprimindo-lhes nuances e perspectivas próprias. Tal divergência

também se apresenta no surgimento da Polícia, quando os doutrinadores não

revelam uma linha de tratamento uniforme. Não obstante a esta uniformidade,

ainda assim, apresentam-se de forma resumida, breves noções históricas quanto

ao seu surgimento.109

Em relação a existência de formas primitivas de Polícia,

cabe transcrever a lição de Luiz Carlos Rocha:

O faraó Menés já declarava ser a polícia o principal e maior bem

de um povo. Na mesma linha de pensamento, os hebreus

dividiram a cidade de Jerusalém em quatro partes, denominadas

„quarteirões‟, designando um agente de polícia para cuidar de

cada um destes „quarteirões‟. No entanto, foi entre os romanos

antigos, com o reinado de Augusto César, que a polícia passou a

ser organizada, com chefes de polícia preventiva e repressiva dos

incêndios, escravos, fugitivos, furtos, roubos, vadiagem, ladrões

habituais ou reincidentes, em suma, das classes perigosas.

Segundo Pestana, os romanos não admitiam a presença de

soldados dentro das cidades, por entender que suas presenças

poderiam constituir ameaça às suas liberdades e assim é que

resolveram criar uma polícia com a finalidade de manter a ordem

interna. É, pois, precisamente entre os romanos que se vislumbra

a adoção do termo politia „no sentido de manter a ordem pública, a

tranqüilidade e a paz interna‟. No tempo do Império Romano, já se

encontravam funcionários encarregados de informar os

magistrados a respeito da ocorrência de determinado crime,

detalhando suas circunstâncias, chamados de curiosi, irenarche,

stationarii, nuntiatores e os digiti duri, agindo como arremedos dos

109

Cf. GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo Ministério Público. 2006, p. 21.

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modernos policiais.110

Contudo, o termo Polícia ganha nova concepção na Idade

Média, onde, o Príncipe tinha o poder de arrecadar tributos, denominado este de

ius policei, considerado necessário na busca da boa ordem da coisa pública. E

assim, explica Rodrigo Régnier Chemim Guimarães:

No século XIV, tanto a França quanto a Alemanha adotaram o

termo „polícia‟ para designar, nos moldes gregos antigos, a

atividade e os fins estatais. Diferentemente dos franceses, os

alemães vão um pouco além na utilização do termo, e passam a

valer-se da expressão „Estado Polícia‟. Nesta época, o Poder de

Polícia, ou seja, o Poder de Estado, concentrava-se nas mãos do

Príncipe que, desconsiderando o ser humano como portador de

direitos e arvorando-se como representante divino, decidia o

destino dos homens. Adotava-se, então, um sistema processual

de cunho eminentemente inquisitório, concentrando todo o poder

de investigar e julgar nas mãos de um único órgão.111

Não obstante, é com o surgimento do Estado liberal (e o

homem passando a ser sujeito de direitos e não mais mero objeto) que o conceito

de Polícia passa a ser marcado como sinônimo de manutenção da ordem e da

segurança. Logo, o Estado somente interviria, com seu Poder de Polícia, em

caso de ameaça à ordem da coletividade. Segundo ressalta o autor, surge aqui a

noção jurídica do Poder de Polícia, próxima dos moldes de sua atual

compreensão.112

Cabe ressaltar, seguindo as orientações de João Mendes de

Almeida Júnior, o conceito que a Assembléia Nacional Francesa tinha de Polícia

em 1791:

A polícia, considerada em suas relações com a segurança pública,

110

GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo Ministério Público. 2006, p. 22 (mantida a grafia da fonte).

111 GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 2006, p. 23.

112 Cf. GORDILLO, Agustín A. Estúdios de Derecho Administrativo. Buenos Aires: Editorial Perrot,

1963, p. 11, apud BEZNOS, Clovis. In: Poder de Polícia. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1979,

p. 16.

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deve preceder à ação da justiça; a vigilância deve ser o seu

principal caráter; a sociedade considerada em massa é o objeto

essencial de sua solicitude. [...] A polícia é administrativa ou

judiciária. A polícia administrativa tem por objeto a manutenção da

ordem pública em cada lugar e em cada parte da administração

geral. Ela tende principalmente a preveni r os delitos. A policia

judiciária investiga os delitos que a polícia administrativa não pôde

evitar que fossem cometidos, colige as provas e entrega os

autores aos tribunais incumbidos pela lei de puni-los.113

No Brasil, a primeira manifestação de "Polícia" foi trazida

pelos portugueses e conforme os ensinamentos de Rodrigo Régnier Chemim

Guimarães:

Vigiam em Portugal as chamadas Ordenações Afonsinas, as

quais tratavam a polícia e a magistratura de maneira unitária,

preponderando, inclusive, a atividade policial sobre a judicial.

Aliás, ambos não passavam de longa manus do Rei de Portugal.

Logo em seguida, em 1521, vieram as Ordenações Manuelinas.

Neste início da colonização do Brasil, apesar de todo o poder ser

exercido em nome do rei, na prática, eram os governadores das

cidades que cumulavam as funções de polícia, de acusação e

julgamento, todas concentradas, como recomendava o sistema

inquisitório da época. Embora formalmente estivessem vigorando

ao tempo das capitanias hereditárias, as Ordenações Manoelinas

não constituíam a fonte do Direito aplicável no Brasil, pois o

arbítrio dos donatários, na prática, é que impunha as regras

jurídicas. Ao capitão era dada a faculdade de nomear ouvidor, o

qual conhecia das apelações e agravos de toda a capitania e de

ações novas até dez léguas de distância onde se encontrasse.114

Destarte, foi o Alvará de 10 de maio de 1808, no entanto,

que criou Intendência Geral de Polícia da Corte e do Estado do Brasil, para o

cumprimento de normas da legislação criminal, utilizando a palavra 'delegado'

para designar a autoridade policial da Província.115

113

ALMEIDA JÚNIOR, João Mendes de. O Processo Criminal Brasileiro. 4. ed. Rio de Janeiro:

Freitas Bastos, 1959, v. 1, p. 249 (mantida a grafia da fonte).

114 GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 2006, p. 24.

115 THOMÉ, Ricardo Lemos. Contribuição à prática de polícia judiciária. 1997, p. 15-16.

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Nesse sentido, Ricardo Lemos Thomé destaca:

A história policial brasileira tende à compreensão de que houve

um rápido amadurecimento quanto à legislação processual penal,

abreviando-se os caminhos percorridos pela pátria-mãe. De fato,

quando da edição do Alvará de 10 de maio de 1808 (que instituiu

no Brasil a Polícia Judiciária, o Delegado de Polícia e seus

agentes), Portugal já havia passado por longa experiência

legislativa com as Ordenações Afonsinas, Filipinas e

Manuelinas.116

Sobre o assunto, também leciona Valter Foleto Santin:

Nas Ordenações Filipinas acham-se os primeiros passos que

levariam à futura criação dos órgãos estatais de polícias. O

serviço de polícia era exercido gratuitamente por moradores,

divididos em quadras ou quarteirões e controlados pelos alcaides

e depois pelos juízes da terra.117

Após a proclamação da independência do Brasil, com a

edição da Lei de 13 de outubro de 1827, os cargos de comissários e cabos de

Polícia foram extintos, surgindo, assim, figura assemelhada à do atual Delegado

de Polícia, a ser exercida, no entanto, por um juiz de paz, fazendo com que a

Polícia ainda não se dissociasse da magistratura.118

A questão deve ser analisada até mesmo de forma inversa,

isto é, a magistratura é que tinha atuação dependente da Polícia, que de resto era

representativa da vontade do imperador. Este, ao exercer o Poder Moderador,

podia destituir os magistrados ou alterar-lhes a sentença condenatória.119

116

THOMÉ, Ricardo Lemos. Contribuição à prática de polícia judiciária. Florianópolis: Ed. do

Autor, 1997, p. 19.

117 SANTIN, Valter Foleto. O Ministério Público na investigação criminal. 2001, p. 50.

118 Cf. GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 2006, p. 26.

119 Cf. GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 2006, p. 26.

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Conforme Epitácio Torres, o Código de Processo Criminal

do Império, que entrou em vigor no ano de 1832, tratou da matéria, em seus

artigos 6, 16º e 18º, nos seguintes termos:

Segundo o novo Código, teria cada distrito um juiz de paz, um

escrivão, um inspetor para cada quarteirão e tantos oficiais de

justiça quantos fossem necessários. Cada termo teria um

conselho de jurados, um juiz municipal, um promotor público e

outros auxiliares da justiça. Haveria também em cada comarca um

juiz de direito, e nas cidades maiores até o máximo de três juízes

de direito, dentre os quais um seria chefe de polícia.120

Assim, a Polícia e a Magistratura confundiam-se num único

órgão, ambos atuando em nome e sob o comando maior, agora do Imperador do

Brasil.121

A Intendência Geral da Polícia foi extinta com a reforma do

Código de Processo Criminal do Império, pela Lei n. 261, de 03 de dezembro de

1841, e foi criado, assim, o cargo de Chefe de Polícia em cada uma das

províncias da Corte, tendo, cada um destes chefes, seus respectivos delegados e

subdelegados, nomeados pelo imperador. Os Chefes de Polícia continuavam a

ser escolhidos entre os desembargadores e juízes de Direito.122

A lei referida anteriormente foi regulamentada pelo Decreto

n. 120, de 31 de janeiro de 1842, estabelecendo-se, pela primeira vez, a divisão

da Polícia em Administrativa e Judiciária. Cabe observar a explicação de Joaquim

Canuto Mendes de Almeida, a respeito do sistema então vigente:

Esse regime - como se vê - tripartia o papel da polícia, que era

autoridade judiciária, e polícia administrativa e de polícia judiciária:

os Chefes de Polícia, seus delegados e subdelegados, tinham

todas as atribuições policiais e, dentre as jurisdicionais, a de

formar a culpa aos delinqüentes. Durante cerca de trinta anos o

120

TORRES, Epitácio. Polícia. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1978, p. 32 (mantida a grafia da fonte).

121 Cf. GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 2006, p. 27.

122 Cf. GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 2006, p. 27-28.

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Brasil viveu este estado de coisas, não sem protestos e projetos

legislativos de reforma, que culminaram na Lei 2.033, de

20.09.1871, após discussões que, nas duas casas do parlamento

imperial, suscitou, sobretudo, a questão da diferença das funções

policiais e judiciárias, da separação da polícia e da judicatura.123

A propósito, Rodrigo Régnier Chemim Guimarães disserta:

Como visto, nesta mesma fase histórica, já com o Código de

Processo Criminal do Império de 1832, foram traçadas as

primeiras linhas da sistematização da investigação policial, a qual,

com o advento da Lei 2.033, de 20.09.1871, regulamentada pelo

Dec.-lei 4.824, de 28 de novembro de 1871, ganhou o nome -

ainda hoje utilizado - de inquérito policial. [...] Com a queda do

império e a promulgação da Constituição Republicana de 1891,

surgiu outro fato marcante na evolução da Polícia brasileira,

quando, na esfera da Justiça Federal, não mais foi autorizada a

existência de Polícia Judiciária com o direito de iniciativa de

pronunciamento, nem com função decisória, com os Estados-

membros passando a ter administração própria e autônoma, e

resultando nas organizações policiais estaduais, o que perdurou

até 1937, com a promulgação da nova Constituição da República

que trouxe a reunificação da legislação processual penal.124

Entretanto, em 1902, com o advento da Lei n. 947, de 29 de

dezembro, a Polícia foi novamente reestruturada, subdividindo-se em: Civil e

Militar, a qual, mesmo após inúmeras alterações legislativas, encontra-se

presente ainda hoje.125

Ainda sobre o tema, Rodrigo Régnier Chemim Guimarães

salienta que:

Por fim, não se pode esquecer o papel desempenhado pela

polícia brasileira no recente passado de exceção nascido em

1964, que, seguramente, contribuiu de forma marcante para a

123

ALMEIDA, Joaquim Canuto Mendes de. Princípios Fundamentais do Processo Penal. São

Paulo: Revista dos Tribunais, 1973, p. 64 (mantida a grafia da fonte).

124 GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 2006, p. 28.

125 Cf. GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 2006, p. 29.

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atual situação de violência e corrupção no seio de parcela

significativa da polícia brasileira. [...] Como é sabido, durante a

ditadura militar, a polícia brasileira serviu ao regime e acabou

criando uma mentalidade de ação em prol da chamada Segurança

Nacional, justificadora de toda e qualquer ação arbitrária por parte

dela própria.126

A evolução continuou até que a Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988 delineou a estrutura básica do sistema policial

brasileiro, no Capítulo III (Segurança Pública), em seu artigo 144127, no qual,

atualmente, estabelece que a segurança pública será exercida através das

Polícias Federal, Rodoviária Federal, Ferroviária Federal, Civis, Militares e Corpos

de Bombeiros Militares. A par destes órgãos, a Constituição ainda autoriza a

criação de Guardas Municipais.128

Assim, Valter Foleto Santin finaliza, posicionando-se a

respeito da Polícia na atualidade:

Atualmente, a palavra polícia é empregada para designar a

instituição, corporação ou órgão incumbido de manter o

cumprimento da lei, a ordem e a segurança pública e de reprimir e

perseguir o crime.129

2.2.1 Conceito de Polícia

Rodrigo Régnier Chemim Guimarães ensina que a palavra

"Polícia", etimologicamente, é oriunda das Cidades-Estado da Grécia Antiga,

onde as atividades governamentais eram chamadas de "politéia", também

126

GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo Ministério Público. 2006, p. 32.

127 Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida

para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I - polícia federal; II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias civis; V - polícias militares e corpos de bombeiros militares [...] § 8º Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme a lei dispuser” (BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,

Distrito Federal: Senado Federal. 1988).

128 Cf. GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 2006, p. 31.

129 SANTIN, Valter Foleto. O Ministério Público na investigação criminal. 2001, p. 48.

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originária de "polis", ou seja, cidade. Entretanto, não se evidenciava o emprego do

termo "Polícia", eis que os gregos não vislumbravam a necessidade de uma

estrutura policial, pois inexistia a propriedade privada, tudo pertencendo às

Cidades-Estado. O emprego do termo politia, assim, estava mais vinculado à idéia

de governar.130

A Polícia, instrumento da Administração, é uma instituição

de direito público, destinada a manter e a recobrar, junto à sociedade e na medida

dos recursos de que dispõe, a paz pública ou a segurança individual.131

Já Rodrigo Régnier Chemim Guimarães define "Polícia",

como sendo a função administrativa estatal que tem como escopo a manutenção

da ordem pública, a fim de que se possa viver harmoniosamente em sociedade,

atuando de forma preventiva e repressiva no combate aos desvios de conduta

dos cidadãos.132

Segundo José Geraldo da Silva:

[...] em amplo sentido, quer o vocábulo exprimir a ordem pública, a

disciplina política, a segurança pública instituídas, primariamente,

como base política do próprio povo erigido em Estado; e, em

sentido estrito, quer o vocábulo designar o conjunto de instituições

fundadas pelo Estado para que, segundo as prescrições legais e

regulamentares estabelecidas, exerçam vigilância para que se

mantenham a ordem pública, bem como a sua segurança. 133

Já para Alexandre de Moraes, Polícia é:

[...] a atividade da administração pública dirigida a concretizar, na

esfera administrativa, independentemente da sanção penal, as

limitações que são impostas pela lei à liberdade dos particulares

ao interesse da conservação da ordem, da segurança geral, da

130

Cf. GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo Ministério Público. 2006, p. 21-22.

131 Cf. MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo Penal. 17. ed. São Paulo: Atlas. 2005, p. 79.

132 Cf. GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 2006, p. 34.

133 SILVA, José Geraldo da. O Inquérito Policial e a Polícia Judiciária. São Paulo: Livraria e

Editora de Direito, 1994, p. 48.

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paz social e de qualquer outro bem tutelado pelos dispositivos

penais.134

Pimenta Bueno, seguindo este entendimento, também

afirma que “a Polícia é a instituição estatal destinada a manter a ordem pública, a

segurança pessoal, a propriedade e assegurar os direitos individuais”.135

Enfim, Valter Foleto Santin afirma que:

Atualmente, a palavra polícia é utilizada para denominar a

instituição, corporação ou órgão encarregado de manter o

cumprimento da lei, da ordem e da segurança pública e de

reprimir e perseguir o crime. [...] A polícia é a instituição estatal

destinada à manutenção da ordem e dos bons costumes,

encarregada de preservar a tranqüilidade dos cidadãos e do

patrimônio, dentro da noção de prestação de serviços de

segurança pública, incumbida da prevenção, repressão e

investigação de infrações penais. [...] Portanto, a polícia é o

instrumento para a consecução da obrigação estatal de prestar

segurança pública, com a participação do povo, para a

preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e

do patrimônio. Dentre os direitos individuais garantidos

encontram-se os atinentes à inviolabilidade do direito à vida, à

liberdade, à segurança e à propriedade (art. 5º, caput, CF),

inseridos na prestação de segurança pública estatal, feita pela

polícia. Os entes policiais existem para proteger o cidadão, sua

incolumidade e patrimônio e manter a ordem pública. Também

são direitos sociais (art. 6º, CF).136

2.2.2 Divisão tradicional das Polícias

Pedro Lenza explica que a atividade policial divide-se em

duas grandes áreas: administrativa e judiciária, sendo que a primeira – Polícia

Preventiva (ou ostensiva), atua preventivamente, evitando que o crime aconteça,

134

MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 2004, p. 653.

135 GOMES, Amintas Vidal. Novo manual do delegado. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1978, p.1.

136 SANTIN, Valter Foleto. O Ministério Público na investigação criminal. 2001, p. 50-51.

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na área do ilícito administrativo, e a segunda – Polícia Repressiva, atua

repressivamente, depois de ocorrido o ilícito penal.137

Valter Foleto Santin ensina que:

A Polícia Administrativa limita os excessos da liberdade, protege

as situações individuais e procura manter o equilíbrio social. O seu

poder visa coibir as atividades nocivas aos interesses sociais ou

que infrinjam as disposições legais ou regulamentares, estranhas

à alçada criminal. Esta policia é de profissões, de associações, de

liberdade de pensamento e censura, de comunicações, de

construções e de vizinhança, dos serviços chamados de utilidade

pública e sanitária. A restrição à liberdade e à propriedade se faz

por meio de fiscalização, prevenção e repressão, agindo a

Administração coercitivamente. [...] A Polícia Judiciária seria

encarregada de investigação criminal e de auxiliar o Judiciário e o

Ministério Público, no cumprimento de mandados e requisições.138

Celso Antônio Bandeira de Mello distingue a Polícia

Administrativa da Polícia Judiciária com base no caráter preventivo da primeira e

repressivo da segunda. A Polícia Administrativa se predispõe unicamente a

impedir ou paralisar atividades anti-sociais enquanto a judiciária se preordena à

responsabilização dos violadores da ordem jurídica.139

Não é diferente o entendimento de Maria Sylvia Zanella Di

Pietro:

A principal diferença que se costuma apontar entre as duas está

no caráter preventivo da polícia administrativa e no repressivo

da polícia judiciária. A primeira terá por objetivo impedir as ações

anti-sociais, e a segunda, punir os infratores da lei penal. A

diferença não é, no entanto, absoluta, pois a polícia administrativa

tanto pode agir preventivamente (como, por exemplo, proibindo

o porte de arma ou a direção de veículos automotores), como

pode agir repressivamente (a exemplo do que ocorre quando

apreende a arma usada indevidamente ou a licença do motorista

137

Cf. LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 2006, p. 483.

138 SANTIN, Valter Foleto. O Ministério Público na investigação criminal. 2001, p. 51.

139 Cf. MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 21. ed., São Paulo:

Malheiros, 2006, p. 791.

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infrator). No entanto, pode-se dizer que, nas duas hipóteses, ela

está tentando impedir que o comportamento individual cause pre-

juízos maiores à coletividade; nesse sentido, é certo dizer que a

polícia administrativa é preventiva. Mas, ainda assim, falta precisão

ao critério, porque também se pode dizer que a polícia judiciária,

embora seja repressiva em relação ao indivíduo infrator da lei

penal, é também preventiva em relação ao interesse geral, porque,

punindo-o, tenta evitar que o indivíduo volte a incidir na mesma

infração.140

Diante da breve distinção das duas grandes áreas da

atividade policial – administrativa e judiciária, tratar-se-á, a seguir, de analisar, de

forma específica, a Polícia Administrativa.

2.2.2.1 Polícia Administrativa

Segundo Hely Lopes Meireles, a Polícia Administrativa:

[...] atua preventivamente sobre os bens e as atividades que

afetam a comunidade, incidindo direta e repressivamente sobre as

pessoas que atentam contra as instituições e a sociedade ou

agridem individualmente qualquer de seus membros.141

Portanto, a Polícia Aministrativa limita os excessos da

liberdade, protege as situações individuais e procura manter o equilíbrio social,

sendo que seu poder visa a coibir as atividades nocivas aos interesses sociais ou

que infrinjam as disposições legais ou regulamentares, estranhas à alçada

criminal. Essa é a Polícia de profissões, de associações, de liberdade de

140

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 17. ed. São Paulo: Altas, 2004, p.

112 (mantida a grafia da fonte).

141 MEIRELES, Hely Lopes. (Apud COSTA, Paula Bajer Fernandes Martins da. Sobre a posição da

polícia judiciária na estrutura do direito processual penal brasileiro da atualidade. Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo: RT, 1998, p. 215).

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63

pensamento e censura, de comunicações, de construções e de vizinhança, dos

serviços chamados de utilidade pública e sanitária.142

José Cretella Júnior informa que:

A polícia administrativa é também denominada polícia preventiva.

Exerce atividades a priori, antes dos acontecimentos, procurando

evitar que as perturbações se verifiquem. [...] A polícia

administrativa tem por escopo impedir as infrações da lei (sendo

nesta parte preventiva) e sustentar a ordem pública em cada lugar,

bem como em toda a parte do reino, assegurar a ordem e

segurança públicas, a proteção dos direitos concernentes à

liberdade, à vida e à propriedade, e, bem assim, a prevenção dos

delitos, por meio de ordens e determinações a tal fim dirigidas. À

polícia administrativa ou preventiva incumbe, em geral, a vigilância,

proteção da sociedade, manutenção da ordem e tranquilidade

públicas, bem assim assegurar os direitos individuais e auxiliar a

execução dos atos e decisões da Justiça e da Administração.143

Logo, sua atuação está ligada à imposição de limitações a

bens jurídicos individuais, especialmente a liberdade e a propriedade, em prol da

garantia do êxito da administração.144

Para Manuel Pinheiro:

[...] a polícia administrativa não apura as infrações penais, antes visa

prevenir que elas aconteçam. Não participa, como a polícia

judiciária, da persecução criminal, colaborando com o órgão

acusador e o órgão JLirisdicional. Nem por isso o Ministério Publico

pode deixar de acompanhar a sua atividade, por força da missão

que lhe foi expressamente confiada no a n. 129, inciso II da

Constituição Federal [...] Inegável que a atividade policial ad-

ministrativa, que tem como finalidade a preservação da ordem

pública e da inco-lumidade das pessoas e do património, é um

serviço da mais alta relevância pública. Assim, incumbe ao Parquet

142

Cf. ROCHA, Luiz Carlos. Organização policial brasileira: Polícia Federal, Polícia Rodoviária

Federal, Polícia Ferroviária, polícias civis, polícias militares, corpos de bombeiros militares, guardas municipais. 1991, p. 02.

143 CRETELLA JR., José. Direito Administrativo brasileiro. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2000, p. 556.

144 Cf. TUCCI, Rogério Lauria. Persecução penal, prisão e liberdade. São Paulo: Saraiva, 1980,

p. 37-38.

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64

zelar para que os procedimentos policiais preventivos atendam aos

ditames da legalidade e respeitem os direitos fundamentais

consagrados na Lei Maior.145

Em face de todo o exposto, Celso Antônio Bandeira de Mello

finaliza dissertando que:

[...] pode-se definir a polícia administrativa como a atividade da

Administração Pública, expressa em atos normativos ou concretos,

de condicionar, com fundamento em sua supremacia geral e na

forma da lei, a liberdade e a propriedade dos indivíduos, mediante

ação ora fiscalizadora, ora preventiva, ora repressiva, impondo

coercitivamente aos particulares um dever de abstenção

("nonfacere") a fim de conformar-lhes os comportamentos aos

interesses sociais consagrados no sistema normativo.146

Explanado a respeito da Polícia Administrativa, passa-se,

agora, a analisar a Polícia Judiciária.

2.2.2.2 Polícia Judiciária

A Polícia Judiciária, em contrapartida, é denominação dada

ao órgão policial, a que se comete a missão de averiguar a respeito dos fatos

delituosos ocorridos ou das contravenções verificadas, a fim de que sejam os

respectivos delinqüentes ou contraventores punidos pela prática das infrações

cometidas. Esta é repressiva, porque, não se tendo podido evitar o mal

(preventivamente), por não ter sido previsto de modo efetivo, ou por qualquer

outra circunstância, procura, então, pela investigação dos fatos, recolher provas,

descobrir autores e entregar-lhes às autoridades judiciárias para que cumpram a

lei.147

145

PINHEIRO, Manuel (Apud MARQUES, Carlos Alexandre. Controle externo da atividade policial: natureza e mecanismos de exercício. Jus Navigandi, Teresina, ano 4, n. 44, ago. 2000.

Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1598>. Acesso em: 26 mar. 2008).

146 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 2006, p. 791.

147 Cf. OLIVEIRA, Joél Bino de; LOPES, Rogério Antonio. Teoria e prática da polícia judiciária à

luz do princípio da legalidade. 2. ed. (ano 2002). 4. tir. Curitiba: Juruá, 2006, p. 15.

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65

Assim, a Polícia Judiciária é auxiliar dos órgãos

jurisdicionais penais na repressão ao crime que ocorreu, apesar de toda a

vigilância realizada. Sua atuação é determinada pelas leis processuais penais,

que conferem às autoridades policiais garantias dos vários interesses que se

entrechocam na persecutio criminis, além de certa discricionariedade quando do

exercício de suas funções.148

Conforme menciona Paulo Alves Franco:

Polícia Judiciária é o órgão que atua na repressão ao crime, isto é,

após o crime acontecer. A função da Polícia Judiciária é apurar a

infração penal e a sua autoria. [...] é exercida pelas autoridades

policiais, que são os Delegados de Polícia. As autoridades

policiais podem ser estaduais ou federais. [...] A Polícia Judiciária

é auxiliar da Justiça. É ela quem colhe todas as informações,

procede às investigações sobre a infração penal, apura a sua

autoria e envia os autos ao Juízo competente para que o Promotor

possa promover a ação penal.149

No mesmo diapasão, Valter Foleto Santin sustenta que:

A função de polícia judiciária é exercida para auxiliar o Judiciário e

o Ministério Público, tendo em vista que essas instituições não

possuem corpo policial próprio para desempenhar a execução de

atividades técnico-criminais e de coerção legal, que exijam

servidores especializados em segurança pública, no cumprimento

de mandados e requisições de informações e diligências,

previstas no art. 13, I a III, do Código de Processo Penal. Estas

hipóteses legais são exemplificativas, não exaustivas. Tais

ativídades policiais podem ser na execução de mandados de

condução coercitiva, prisão cautelar e por condenação, busca e

apreensão de documentos e objetos, quebra de sigilo de

comunicações, localização de pessoas e realização de outras

diligências necessárias, antes, durante ou depois da ação penal.

Essas atividades são de auxílio, de cooperação, de ajuda; são

complementares, auxiliares, subsidiárias.150

148

Cf. TUCCI, Rogério Lauria. Persecução penal, prisão e liberdade. 1980, p. 38.

149 FRANCO, Paulo Alves. Inquérito policial. São Paulo: Sugestões Literárias, 1992, p. 01-02.

150 SANTIN, Valter Foleto. O Ministério Público na investigação criminal. 2001, p. 59.

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66

Cabe ressaltar, contudo, que a autoridade policial não julga

e não atua inter partes, cabendo-lhe sim a tarefa de reunir o que se fizer

necessário para a restauração da ordem jurídica violada pelo delito. Não é órgão

jurisdicional em que pese a expressão Polícia Judiciária.151

Fernando Capez resume, afirmando que a Polícia Judiciária

“possui a finalidade de apurar as infrações penais e suas respectivas autorias, a

fim de fornecer ao titular da ação penal elementos para propô-la.”152

Destarte, o artigo 4º, do Código de Processo Penal153,

refere-se à Polícia Judiciária determinando que a atividade policial deva ser

exercida dentro de limites territoriais (cada autoridade atuando em sua

circunscrição), embora preveja exceções (podendo uma invadir a circunscrição de

outra, no caso, por exemplo, de uma perseguição a um delinqüente, que, saindo

daquela em que cometeu o crime, passa à outra, quando de sua fuga).154

Não se pode deixar de recordar que, ao exercer sua função

precípua, a Polícia Judiciária deve observar sempre os direitos humanos

fundamentais, previstos no artigo 5º155, da Constituição da República Federativa

151

MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal. 2000, p. 160.

152 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 12 ed. São Paulo: Saraiva. 2005, p. 68.

153 “Art. 4º - A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas

respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria” (BRASIL. Código de Processo Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>.Acesso em: 1º

de abr. 2008).

154 NORONHA, Edgard de Magalhães. Curso de Direito Processual Penal. 28. ed. atualizada por

Adalberto José Q. T. de Camargo Aranha. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 22.

155 “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos

brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva; VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei; [...] X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem

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67

do Brasil de 1988, e o respeito aos princípios que informam a persecução

penal.156

Em relação à natureza de sua atividade, registra-se que

existem duas correntes doutrinárias. A primeira a define como um procedimento

cautelar, enquanto o entendimento divergente a apresenta como simples

procedimento administrativo.

Defendendo o segundo entendimento, tem-se Guilherme de

Souza Nucci, que afirma ser sua atividade um conjunto de diligências para a

apuração da infração penal e de sua autoria, ou, em outras palavras, “um

procedimento preparatório da ação penal”, sendo, então, procedimento

persecutório de caráter meramente administrativo.157

consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial; [...] XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens; XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente; XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar; [...] XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano; [...] XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas: a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder; b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal; XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; [...] LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei; LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada; LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado; LXIV - o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório policial; LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária; LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança; LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel; LXVIII - conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder; LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público [...]” (BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Distrito Federal: Senado Federal. 1988).

156 Cf. GUASQUE, Luiz Fabião. O Ministério Público e o controle externo da atividade policial.

Revista do Ministério Público do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 1996, p. 141.

157 Cf. NUCCI, Guilherme de Souza (Apud CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 12 ed.

São Paulo: Saraiva. 2005, p. 67).

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68

Já José Frederico Marques, em contrapartida, entende que a

atividade administrativa, por meio da qual é exercido o Poder de Polícia, se dá em

processo cautelar, visando a assegurar, enfim, os meios e os resultados do

processo definitivo, evitando-se, assim, as conseqüências do periculum in mora

(perda dos elementos de convicção do delito).158

A propósito, ainda leciona o autor:

[...] a Polícia Judiciária não está subordinada, hierarquicamente e

administrativamente, às autoridades Indiciarias e às do Ministério

Público. Há, no entanto, relações funcionais no âmbito da Justiça

Penal, em que a própria autoridade policial se subordina ao

Judiciário e ao Ministério Público, uma vez que a polícia incumbe

preparar a ação penal, de que este último é o órgão competente

para propô-la. Essa subordinação deriva dos vínculos que são

criados na regulamentação do processo penal.159

Assim, tem-se que a Polícia Judiciária é órgão da

administração que exerce o Poder de Polícia nos delitos, cuja atividade preventiva

da Polícia Administrativa não fora suficiente, sendo sua finalidade auxiliar o

judiciário, (na busca dos delinqüentes e da materialidade e das demais

circunstâncias do fato típico), trazendo as evidências necessárias para a

propositura de Ação Penal pelo Ministério Público, procedimento conhecido,

enfim, como inquérito.160

2.2.3 Das espécies de Polícia e sua destinação

Conforme os preceitos de Valter Foleto Santin, pode-se

afirmar que todas as Polícias têm obrigação constitucional de prestar serviços de

segurança pública para a preservação da ordem pública e da incolumidade das

pessoas e do patrimônio – art. 144, caput. Portanto, nessa tarefa, há a divisão de

Polícias ostensivas e não ostensivas; as ostensivas são as Polícias Rodoviária e

158

Cf. MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal. 2000, p. 160.

159 MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal. 2000, p. 167.

160 Cf. MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal. 2000, p. 172.

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69

Ferroviária Federais e as Militares (art. 144, §§ 2°, 3° e 5°), com trabalho de

prevenção e repressão de crimes; já as Polícias não ostensivas são a Polícia

Federal e as Polícias Civis (art. 144, §§ 1° e 4°, CF), que têm campo de atuação

mais amplo: prevenção, repressão, investigação e cooperação judiciária.161

Dessa maneira, ensina o autor:

A Constituição Federal traça as funções e destinações das polí-

cias no art. 144162. O regramento constitucional trata do exercício

da Segurança Pública pelos órgãos policiais estatais. Todos os

órgãos policiais típicos (polícia federal, polícia rodoviária federal,

polícia ferroviária federal, polícias civis, polícias militares e corpos

de bombeiros), além da guarda municipal, são usados e destinam-

se ao cumprimento do dever estatal de prestar os serviços de

segurança pública, sem prejuízo do exercício do "direito e

responsabilidade de todos" retratado na possibilidade de

participação do povo.163

161

Cf. SANTIN, Valter Foleto. O Ministério Público na investigação criminal. 2001, p. 53.

162 “Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida

para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I - polícia federal; II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias civis; V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. § 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a: I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei; II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência; III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras; § 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais. § 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias federais. § 4º - às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares. § 5º - às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil. § 6º - As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. § 7º - A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança pública, de maneira a garantir a eficiência de suas atividades. § 8º - Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei. § 9º A remuneração dos servidores policiais integrantes dos órgãos relacionados neste artigo será fixada na forma do § 4º do art. 39” (BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Distrito Federal: Senado Federal.

1988).

163 SANTIN, Valter Foleto. O Ministério Público na investigação criminal. 2001, p. 54.

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70

2.2.3.1 Polícia Federal, Rodoviária Federal e Ferroviária Federal

A respeito do tema, Rodrigo Régnier Chemim Guimarães:

A Polícia Federal destina-se a apurar os chamados „crimes de

natureza federal‟, ou seja, crimes praticados em detrimento da

ordem política e social; crimes que lesem bens, serviços ou

interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas

públicas; e aqueles cuja prática tenha repercussão interestadual

ou internacional e exija repressão uniforme, conforme disposição

legal, como, por exemplo, no caso dos crimes contra o sistema

financeiro nacional e mesmo no combate à criminalidade

organizada. Neste último aspecto, considerando o exagerado

crescimento dos crimes violentos ocorridos no país no ano de

2001 e início de 2002 e, principalmente, diante da intensa

repercussão na mídia nacional do crime de seqüestro que resultou

na morte do Prefeito da cidade paulista de Santo André, Celso

Daniel, o Presidente da República editou a Medida Provisória 27,

de 24.01.2002, regulamentando esta possibilidade de atuação

investigativa da Polícia Federal, quando verificada a prática de

crimes de seqüestro, cárcere privado e extorsão mediante

seqüestro, se o agente foi impelido por motivação política ou

quando praticado em razão da função pública da vítima, bem

como nos casos onde se verifique crimes de formação de cartel

ou qualquer violação aos direitos humanos, assim definidos em

tratados internacionais firmados pelo Brasil.164

A Polícia Federal tem como função repreender o tráfico

ilícito de entorpecentes e drogas afins, bem como o contrabando e descaminho,

além de estar-lhe afeto o exercício das funções de Polícia Marítima e de

fronteiras. A sua atuação abrange todo o território nacional.165

O ilustre Promotor de Justiça ainda ensina:

Na apuração das infrações penais supra referidas, a Polícia

Federal exerce, com exclusividade, as funções de Polícia

Judiciária da União. Neste sentido, muito se tem dito a respeito do

164

GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo Ministério Público. 2006, p. 31-32.

165 GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 2006, p. 32.

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71

que se entenda por „exercer, com exclusividade‟, como dispõe o

inc. IV, do § 10, do art. 144, da Constituição da República. [...] É

certo que o dispositivo constitucional quis que as funções de

Polícia Judiciária da União somente fossem exercidas pela

Polícia Federal. Desta conclusão, simples e óbvia, extrai-se

outra, ou seja: que as Polícias Civis e Militares, ou até

mesmo o Exército, não podem exercer as atividades de

Polícia Judiciária da União.166

Nesse diapasão, destaca Valter Foleto Santin:

O dispositivo referido trata com maior amplitude da policia federal,

prevendo como sua destinação quatro funções: (1) a apuração de

infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento

de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades

autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações

cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e

exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei; (2) prevenir

e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes, o contrabando e o

descaminho, sem prejuízo de ação fazendária ou de outros

órgãos públicos; (3) exercer as funções de polícia marítima,

aérea, portuária e de fronteiras; e (4) exercer, com exclusividade,

as funções de polícia judiciária da União (art. 144, § 1°, I a IV,

CF).167

Resumindo, a Polícia Federal exerce o papel de Polícia

Judiciária da União, agindo sempre com o objetivo de apurar os fatos e a autoria

de crimes federais, excetuando-se os crimes militares.

A Polícia Rodoviária Federal, órgão também classificado no

artigo 144, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, como a

instituição responsável pela segurança pública, está incumbida de efetuar o

patrulhamento ostensivo das rodovias federais. As suas atribuições estão

detalhadas no Decreto n. 1.655, de 03 de outubro de 1995, que prescreve:168

166

GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo Ministério Público. 2006, p. 32.

167 SANTIN, Valter Foleto. O Ministério Público na investigação criminal. 2001, p. 60.

168 GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 2006, p. 33.

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72

A Polícia Rodoviária Federal foi criada pelo presidente

Washington Luiz no dia 24 de julho de 1928, através do Decreto

nº 18.323 - que definia as regras de trânsito à época, com a

denominação inicial de „Polícia de Estradas‟. Mas somente em

1935, Antônio Felix Filho, o „Turquinho‟, considerado o 1º

Patrulheiro Rodoviário Federal, foi chamado pelo administrador

Natal Crosato, a mando do Engenheiro-Chefe da Comissão de

Estradas de Rodagem, hoje DNIT, Yeddo Fiúza, para organizar os

serviços de vigilância das rodovias Rio-Petropólis, Rio São Paulo

e União Indústria.169

Em relação às competências dessa Polícia, as mesmas

estão amparadas pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, no

seu artigo 144, pela Lei n. 9.503 (Código de Trânsito Brasileiro), pelo Decreto n.

1.655, de 03 de outubro de 1995, e pelo Regimento Interno, aprovado pela

Portaria Ministerial n.122, de 20 de março de 1997.170

Deste modo, além do patrulhamento ostensivo das rodovias

federais, a Polícia Rodoviária Federal, conforme Decreto supramencionado e do

Regimento Interno, tem, ainda, as seguintes atribuições:

[...] exercer os poderes de autoridade de polícia de trânsito,

cumprindo e fazendo cumprir a legislação e demais normas

pertinentes, inspecionar e fiscalizar o trânsito, assim como efetuar

convênios específicos com outras organizações similares [...] -

aplicar e arrecadar as multas impostas por infrações de trânsito e

os valores decorrentes da prestação de serviço de estadia e

remoção de veículos, objetos, animais e escoltas de veículos de

cargas excepcionais, executar serviços de prevenção,

atendimento de acidentes e salvamento de vítimas nas rodovias

federais [...] - realizar perícias, levantamento de locais, boletins de

ocorrências, investigações, testes de dosagem alcoólicas e outros

procedimentos estabelecidos em leis e regulamentos,

imprescindíveis à elucidação dos acidentes de trânsito [...] -

credenciar os serviços de escoltas, fiscalizar e adotar medidas de

segurança relativas aos serviços de remoção de veículos, escoltas

169

BRASIL. Polícia Rodoviária Federal. Disponível em:

<http://www.dprf.gov.br/PortalInternet/index>. Acesso em 28 de novembro de 2007.

170 BRASIL. Polícia Rodoviária Federal. Disponível em:

<http://www.dprf.gov.br/PortalInternet/index>. Acesso em 28 de novembro de 2007.

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73

e transporte de cargas indivisíveis [...] - assegurar a livre

circulação nas rodovias federais, podendo solicitar ao órgão

rodoviário a adoção de medidas emergenciais, bem como zelar

pelo cumprimento das normas legais relativas ao direito de

vizinhança, promovendo a interdição de construções, obras e

instalações não autorizadas; executar medidas de segurança,

planejamento e escoltas nos deslocamentos do Presidente da

República, Ministros de Estado, Chefes de Estado e diplomatas

estrangeiros e outras autoridades, quando necessário, e sob a

coordenação do órgão competente; efetuar a fiscalização e o

controle do trânsito e tráfico de menores nas rodovias federais,

adotando as providências cabíveis contidas na Lei nº 8.069, de 13

de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente);

colaborar e atuar na prevenção e repressão aos crimes contra a

vida, os costumes, o patrimônio, a ecologia, o meio ambiente, os

furtos e roubos de veículos bens, o tráfico de entorpecentes e

drogas afins, o contrabando, o descaminho e os demais crimes

previstos em leis; o realizar concursos públicos, outros processos

seletivos, cursos, estágios, formação, treinamentos e demais

atividades de ensino na área de sua competência.171

Já no que diz respeito à Polícia Ferroviária Federal, salienta-

se que também é um órgão incluso no artigo 144, da atual Constituição da

República Federativa do Brasil, possuindo funções semelhantes às da Polícia

Rodoviária Federal, uma vez que, ao invés de efetuar o policiamento ostensivo e

investigações nas Rodovias Federais, exerce suas funções junto às ferrovias

federais.172

Rodrigo Régnier Chemim Guimarães ainda assegura que

“excluídos os crimes de alçada federal, nos Estados-membros a Polícia é

exercida pelas denominadas Polícia Civil e Polícia Militar”.173

171

BRASIL. Polícia Rodoviária Federal. Disponível em:

<http://www.dprf.gov.br/PortalInternet/index>. Acesso em 28 de novembro de 2007.

172 BRASIL. Polícia Rodoviária Federal. Disponível em:

<http://www.dprf.gov.br/PortalInternet/index>. Acesso em 28 de novembro de 2007.

173 GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 2006, p. 33.

Page 75: O MINISTÉRIO PÚBLICO E O CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE ...siaibib01.univali.br/pdf/Gabriel Annoni Cardoso.pdf · atividade policial. 2008. 140 f. Trabalho de Conclusão de Curso

74

2.2.3.2 Polícia Civil e Polícia Militar

Já em relação à Polícia Civil, Rodrigo Régnier Chemim

Guimarães argumenta que:

As Polícias Civis, a exemplo da Polícia Federal, estão subordina-

das ao Poder Executivo e, mais precisamente, inseridas no

contexto das Secretarias Estaduais da Segurança pública. [...] São

dirigidas por Delegados de Polícia e a elas incumbem as funções

de Polícia Judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as

militares. [...] A carreira de Delegado de Polícia é precedida de

prévio concurso público e exigido o grau de Bacharel em Direito

para os candidatos. No entanto, em algumas localidades do País,

e até mesmo em Estados considerados mais estruturados, ainda

se verifica a existência do „Assistente de Segurança‟, vulgarmente

chamado de „Delegado calça-curta‟, pessoa não habilitada

formalmente em concurso público, de regra sem preparação

jurídica alguma, indicada para exercer a função em razão de

ligações políticas locais.174

A Polícia Civil exerce, assim, as funções da chamada Polícia

Repressiva, e atua no combate da criminalidade após a verif icação de sua

ocorrência.175

A propósito, comenta o autor:

Diferente papel é desempenhado pelas Polícias Militares, que atu-

am preventivamente, marcando presença ostensiva nos espaços

públicos, a fim de, com a simples presença física do Policial

Militar, intimidar as ações criminosas [...] Na prática, ambas as

funções - de prevenção e repressão - acabam sendo exercidas

pelas duas corporações, variando apenas a intensidade.176

174

GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo Ministério Público. 2006, p. 33.

175 Cf. GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 2006, p. 33.

176 GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 2006, p. 34.

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75

O artigo 7º do Código de Processo Penal Militar afirma, em

síntese, que a Polícia Judiciária Militar é exercida por diversas autoridades, sendo

elas as seguintes:

a) pelos ministros da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, em

todo o território nacional e fora dele, em relação às forças e

órgãos que constituem seus Ministérios, bem como a militares

que, neste caráter, desempenhem missão oficial, permanente ou

transitória, em país estrangeiro; b) pelo chefe do Estado-Maior

das Forças Armadas, em relação a entidades que, por disposição

legal, estejam sob sua jurisdição; c) pelos chefes de Estado-Maior

e pelo secretário-geral da Marinha, nos órgãos, forças e unidades

que lhes são subordinados; d) pelos comandantes de Exército e

pelo comandante-chefe da Esquadra, nos órgãos, forças e

unidades compreendidos no âmbito da respectiva ação de

comando; e) pelos comandantes de Região Militar, Distrito Naval

ou Zona Aérea, nos órgãos e unidades dos respectivos territórios;

f) pelo secretário do Ministério do Exército e pelo chefe de

Gabinete do Ministério da Aeronáutica, nos órgãos e serviços que

lhes são subordinados; g) pelos diretores e chefes de órgãos,

repartições, estabelecimentos ou serviços previstos nas leis de

organização básica da Marinha, do Exército e da Aeronáutica; h)

pelos comandantes de forças, unidades ou navios;177

Assim, nota-se que esse artigo, transcrito acima, não inclui

diretamente a Polícia Militar; porém, na prática, esta também exerce as funções

de Polícia Judiciária Militar, conforme os ensinamentos de Jorge César de Assis:

[...] dentro do conceito genérico de Comandantes de Forças,

referidos na letra “h”, deste artigo, estão o Comandante-Geral, o

Chefe do Estado Maior, os Comandantes Regionais e os

Comandantes de Unidades, tanto das Polícias Militares quanto

dos Corpos de Bombeiros Militares.178

No mesmo vértice, Valter Foleto Santin esclarece:

Três instituições policiais constitucionais (polícia federal e as polí-

177

BRASIL. Código de Processo Penal Militar. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>.Acesso em: 1º de abr. 2008.

178 ASSIS, Jorge César de. Código de Processo Penal Militar Anotado. 2. ed. Curitiba: Juruá,

2006, p. 33.

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cias civis e militares) possuem finalidades de apuração de

infrações penais e exercício de funções de polícia judiciária (art.

144, § 1°, I e IV e § 4°) e cinco (polícias federal, rodoviária e

ferroviária federais e militar e guarda municipal) destinam-se à

prevenção de crimes ou policiamento ostensivo (§ 1°, 11 e 111, §§

2°, 3°, 5° e 8°).179

Em conformidade com o artigo 144, parágrafo 5º180, da

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, à Polícia Militar,

incumbe, ainda, a execução de atividades de defesa civil, através dos Corpos de

Bombeiros.181

2.2.3.3 Guarda Municipal

A atual Constituição da República Federativa do Brasil

possibilitou, aos Municípios, a criação das Guardas Municipais, destinadas à

proteção dos bens, serviços e instalações municipais.182

Neste aspecto, muita discussão já se verificou nos

Municípios que criaram as suas Guardas Municipais. Em relação ao campo de

sua atuação, Rodrigo Régnier Chemim Guimarães explica:

Mais uma vez a prática revela-se conflitante com a mera

disposição legal, na medida em que, o que vem efetivamente

ocorrendo, é que a presença da Guarda Municipal nas ruas, não

raras vezes, vem fazendo com que a mesma acabe atuando de

forma a prevenir e, até mesmo, reprimir a prática de crimes outros

que não aqueles relacionados com bens, serviços e instalações

179

SANTIN, Valter Foleto. O Ministério Público na investigação criminal. 2001, p. 55.

180 “Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos [...] § 5º - às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil” (BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Distrito Federal: Senado Federal. 1988).

181 Cf. GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 2006, p. 35.

182 Cf. GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 2006, p. 36.

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municipais - como disciplina a Constituição da República -,

imiscuindo-se, assim, em primeira análise, nas funções

inicialmente reservadas às Polícias Militar e Civil.183

A respeito da questão, destaca-se o entendimento do

Superior Tribunal de Justiça:

A guarda municipal, a teor do disposto no § 8°, do art. 144, da

CF/88, tem como tarefa precípua a proteção do patrimônio do

Município, limitação que não exclui nem retira de seus integrantes

a condição de agentes da autoridade, legitimados, dentro do

princípio de auto-defesa da sociedade, a fazer cessar eventual

prática criminosa, prendendo quem se encontra em flagrante

delito, como de resto facultado a qualquer do povo pela norma do

art. 301 do CPP. Nestas circunstâncias, se a lei autoriza a prisão

em flagrante, evidentemente que faculta - também - a apreensão

de coisas, objeto do crime. Apenas o auto de prisão em flagrante

e o termo de apreensão serão lavrados pela autoridade policial.184

Em face das circunstâncias que envolvem a criminalidade de

rua, a Guarda Municipal acaba atuando como Polícia Repressiva, contribuindo

para amenizar a violência no país, agindo, como destacou o Superior Tribunal de

Justiça, em nome do princípio maior de autodefesa da sociedade.185

Nesse sentido, Rodrigo Régnier Chemim Guimarães leciona:

Neste aspecto, inclusive, o Senado Federal já aprovou a Proposta

de Emenda Constitucional 87/99, de autoria do Deputado Federal

José Eduardo Dutra, e com a redação alterada por sugestão do

Senador Artur da Távola, prevendo que as Guardas Municipais se

destinarão não somente à proteção dos bens, serviços e

instalações do Município, mas também à proteção de sua

população, conforme disciplinará outra lei federal [...] Com a

possível promulgação da Emenda Constitucional acima referida,

183

GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo Ministério Público. 2006, p. 36.

184 BRASIL. Recurso Ordinário em Habeas Corpus 7.916 – SP – STJ – 6ª Turma – Rel. Min.

Fernando Gonçalves – j. em 15.10.1998 – improvido – votação unânime, in DJU, Seção, 1, de 09.11.1999. Disponível em: <http://www.stj.gov.br> Acesso em: 08 de março de 2008 (mantida a grafia da fonte).

185 Cf. GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 2006, p. 36.

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78

surgirá, agora de direito, um novo corpo policial capaz de contri-

buir para a diminuição da violência e da criminalidade, tanto de

forma preventiva, quanto repressiva, com a vantagem de estar

com sua atividade centralizada num único Município. De qualquer

sorte, surgirão conflitos naturais de atribuição, que somente a lei e

o tempo poderão dirimir, cabendo o alerta de René Dotti, para que

se evitem os abusos de Prefeitos na condução das suas

polícias.186

Explanado a respeito da Segurança Pública e seus diversos

órgãos, passa-se, na seqüência, ao terceiro e último capítulo, que tratará do

objeto de estudo desta pesquisa – o controle externo da atividade policial e a

efetividade da atuação dos membros do Ministério Público.

186

GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo Ministério Público. 2006, p. 37.

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79

CAPÍTULO 3

O CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL PELO

MINISTÉRIO PÚBLICO

Em relação às inovações constitucionais e alterações na

legislação processual penal no Brasil, um dos temas que vem causando inúmeras

controvérsias e polêmica, quanto à sua interpretação e aplicação, é o exercício

do controle externo da atividade policial, atribuição constitucional conferida ao

Ministério Público.

O Promotor de Justiça, Rodrigo Régnier Chemim

Guimarães, esclarece:

Cumpre ressaltar, inicialmente, que o relacionamento do Ministério

Público com a Polícia, em nosso País, já existia a nível

infraconstitucional, antes mesmo do advento da Constituição da

República de 1988, através das inúmeras disposições contidas no

Código de Processo Penal e na antiga Lei Complementar n° 40/81.

Ou seja, de uma forma ou de outra, o Ministério Público já exercia

relativo controle sobre a atividade policial, ainda que, antes da

citada Carta Magna, tal controle não viesse explicitamente

disciplinado na lei, como agora estipulado e ampliado no art. 129,

VIl187, da Constituição da República.188

Em virtude dessa disposição expressa, muitas críticas vêm

surgindo - grande parte delas provenientes da própria Polícia, no sentido de não

aceitar a atividade constitucional do Ministério Público, procurando polemizar a

187

“Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: [...] VII - exercer o controle externo da atividade policial [...]” (BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Distrito Federal: Senado Federal. 1988).

188 GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Cad. Min. Pub. 1998, p. 41.

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80

questão e deturpar o real significado do controle externo da atividade policial, a

razão de sua existência e a forma de se efetivá-lo.189

A respeito dos “controles”, Valter Foleto Santin resume com

clareza:

Todos os órgãos públicos devem possuir controles para maior e

melhor vigilância, fiscalização, segurança, regularidade, eficiência e

qualidade dos serviços públicos, para acompanhamento da correção

e lisura do comportamento dos servidores públicos, em prol do inte-

resse da sociedade. Controle significa ato de vigilância, verificação

administrativa, fiscalização, inspeção, supervisão e exame minucioso

exercido sobre as atividades de pessoas, órgãos e departamentos.190

Assim, com mais de uma década após a promulgação da

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, ainda vivencia-se uma

grande dificuldade no trato do tema do controle externo da atividade policial, seja

para conceituá-lo, seja para delimitar o seu exercício.

Nesse sentido, Carlos Alexandre Marques, Promotor de

Justiça e Coordenador do Centro de Apoio Operacional do controle externo da

atividade policial de Goiás, ressalta que:

Pois bem, função constitucional introduzida pela Carta de 1988, o

controle externo da atividade policial ainda hoje é um terreno pouco

explorado pelo Ministério Público, seja porque as discussões sobre

seu alcance mais dividem do que somam, seja porque ainda se

tenta definir com clareza e praticidade o seu modo de exercício.

Bom lembrar que muitos colegas do Ministério Público não querem

nem assumir tal papel por achá-lo repugnante e de risco, chegando

ao ponto de prever a contaminação negativa da instituição,

trazendo para nós os vícios dos organismos policiais. De sorte que

há argumentos vários para cada uma dessas posições de rejeição

ao controle externo, que partem tanto do próprio Ministério Público

como também, e principalmente, da Polícia. Todavia, todos esses

argumentos (a maioria de fundo corporativo ou de defesa ou

disputa de nichos de poder) sucumbem quando confrontados com

189

Cf. GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Cad. Min. Pub. 1998, p. 42.

190 SANTIN, Valter Foleto. O Ministério Público na investigação criminal. 2001, p. 70.

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81

o preceito constitucional que prevê o controle externo da atividade

policial, por sinal estabelecido de modo genérico, e que atribui ao

Ministério Público a titularidade da ação penal pública, verdadeira

parcela da soberania do Estado e de manifestação do jus

puniendi.191

No mesmo sentido, cabe mencionar uma transcrição a

respeito da polêmica que o tema suscita, na lição de Waldo Fazzio Júnior:

Quando o constituinte de 1988 atribuiu ao Ministério Público o

controle externo da alividade policial (art. 129, inciso Vil), não lhe

conferiu uma autorização ou um poder (Kann-Formulierung) mas

uma determinação de dever (Muss-Bestimmimgen). [...] A

atribuição do controle externo da atividade policial ao Ministério

Público não é simples programação constitucional abstrata. Trata-

se da imposição concreta de um dever material que não comporta

juízos discricionários de oportunidade e conveniência. [...] Com

efeito, a plenitude do exercício da legitimação ativa para a ação

penal pública não se satisfaz com o mero repasse de elementos

probatórios ao órgão jurisdicional. O exercício material pleno da

legitimação ativa na ação penal pública reclama o controle da

investigação como antecedente lógico e necessário para viabilizar

a dedução da pretensão punitiva. Titular é o que detém o título, é

o dominus, sendo natural que controle os atos preparatórios, que

instruirão sua postulação, tanto sob o aspecto extrínseco da

legalidade como no plano substancial da eficácia e da

objetividade. Ora, o inteiro cumprimento de uma imposição

constitucional não se contenta com o simples desempenho formal

de uma atividade; reclama exercício suficiente. [...] Por derradeiro,

ao imperativo constitucional de controlar a atividade policial

imposto ao Ministério Público, corresponde o direito subjetivo

pessoal, cujo titular é qualquer cidadão, de exigir que o "parquet"

o faça.192

191

MARQUES, Carlos Alexandre. Controle externo da atividade policial: natureza e mecanismos de exercício. Jus Navigandi. Teresina, ano 4, n. 44, ago. 2000. Disponível em:

<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1598>. Acesso em: 26 mar. 2008 (mantida a grafia da fonte).

192 FAZZIO JR., Waldo. O Ministério Público e o dever constitucional do controle externo da atividade policial. Revista do Ministério Público do Estado de Sergipe, n. 12, 1997, pp. 100-102

(mantida a grafia da fonte).

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82

Entretanto, para cumprir cum laude esse papel, faz-se

necessário um comprometimento intenso do Ministério Público com a investigação

criminal, pois a este interessa diretamente o êxito do trabalho policial de coleta de

provas. Assim, para que uma ação penal tenha sucesso, é imprescindível ocorrer

uma estreita ligação com a eficiência demonstrada na fase investigatória, isto é,

quanto maior o rol de indícios, circunstâncias e elementos de prova coletados na

fase de inquérito policial, mais segurança terá o Promotor de Justiça de formar a

sua convicção para o arquivamento ou para a propositura da ação penal pública.193

Todavia, antes de se adentrar no estudo de seu conceito,

mister se faz uma apresentação breve da história de seu surgimento.

3.1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS NO BRASIL

3.1.1 Precedentes da atual Lex Magna

O relacionamento do Ministério Público com a Polícia

Judiciária, antes da promulgação da atual Constituição Brasileira, vinha disciplinado

somente no âmbito infraconstitucional, que, inicialmente, estava inserido no próprio

Código de Processo Penal, nas Leis extravagantes e, a posteriori, onde adquiriu

maior força, com a Lei Complementar Federal n. 40, de 14 de dezembro de 1981 –

antiga Lei Orgânica Nacional do Ministério Público.194

De acordo com os ensinamentos de Rodrigo Régnier Chemim

Guimarães, o artigo 5º, inciso II, do Código de Processo Penal Brasileiro, ressalta

que:

[...] nos crimes de ação penal pública, o inquérito policial será

iniciado, dentre outras maneiras, através de requisição do Ministério

Público, o que implica dizer que a Polícia Judiciária está obrigada a

193

MARQUES, Carlos Alexandre. Controle externo da atividade policial: natureza e mecanismos de exercício. Jus Navigandi. Teresina, ano 4, n. 44, ago. 2000. Disponível em:

<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1598>. Acesso em: 26 mar. 2008.

194 GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 2006, p. 49.

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83

instaurar o respectivo inquérito policial, quando instada a tanto pelo

Ministério Público. E, aqui, cumpre assinalar que o Ministério

Público, quando requisita a instauração do inquérito policial, não

está solicitando ou requerendo, mas sim, determinando a

instauração do mesmo, sob pena de a autoridade policial, em tese,

incorrer em crime de prevaricação, a menos que tal determinação

seja manifestamente infundada.195

Assim, cabe informar que os artigos do Código de Processo

Penal fornecem a idéia do controle externo exercido pelo Ministério Público junto à

Polícia, quando afirmam que:

[...] o inquérito policial pode ser iniciado através de requisição do

Ministério Público, cabendo a este a possibilidade de requisitar

diligências que entender necessárias, tendo poder para decidir

sobre o destino a ser dado ao inquérito, ao analisar se este

preenche as condições para o oferecimento de ação penal ou se

deve ser arquivado; não estando o Ministério Público atrelado ao

mesmo para formar sua opinião sobre o caso.196

A propósito, comenta o autor:

Ainda que a autoridade policial não queira instaurar o inquérito

policial, ouvir determinada pessoa ou colher determinada prova

(por achar desnecessário), deve fazê-lo se for instada a tanto, de

forma fundamentada, pelo Ministério Público. [...] Tal poder nada

mais é, na prática, do que exercer um controle sobre a atividade

policial, especificando quais medidas a Polícia deve tomar para obter

melhores resultados em sua investigação.197

Em relação à prática, cabe ressaltar que o papel

desempenhado pelo Ministério Público sempre foi o de custos legis, ou melhor,

fiscal da lei, e, em princípio, o de aplicação correta da lei pelas Polícias Repressiva

195

GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo Ministério Público. 2006, p. 50 (mantida a grafia da fonte).

196 GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 2006, p. 52.

197 GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 2006, p. 52.

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84

e Preventiva, objetivando impedir que abusos fossem cometidos e que a lei fosse

desrespeitada.198

3.1.2 A Carta de Curitiba

As discussões sobre o capítulo destinado ao Ministério

Público, na nova Carta, ganharam repercussão no 1º Encontro Nacional de

Procuradores-Gerais de Justiça e Presidentes de Associações do Ministério

Público do Brasil, realizado em julho do ano de 1986, na cidade de Curitiba, cujo

resultado ficou intitulado em um documento chamado “Carta de Curitiba”.199

No que diz respeito à “Carta de Curitiba”, em entrevista para

a Escola Superior do Ministério Público de São Paulo, Hugo Nigro Mazzilli teceu

alguns comentários:

Aprovada a Carta de Curitiba - a matriz do Capítulo do MP na

Constituição -, São Paulo propôs uma moção no sentido de que

deveríamos assumir o compromisso de defender o texto na

Constituinte. O acordo saiu. Esse é o principal valor da Carta de

Curitiba: foi o primeiro documento de consenso sobre um projeto

de MP uniforme para o Brasil.200

Não se poderia deixar de mencionar o relacionamento

estabelecido na “Carta de Curitiba” entre a Instituição do Ministério Público com a

Polícia, que prescreveu o seguinte: “são funções institucionais privativas do

Ministério Público: [...] b) promover a ação penal pública e supervisionar os

procedimentos investigatórios, podendo requisitá-los e avocá-los; [...].201

198

Cf. GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo Ministério Público. 2006, p. 54.

199 Cf. GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 2006, p. 55.

200 MAZZILLI, Hugo Nigro. Entrevista concedida ao CEAF - Centro de Estudos e Aperfeiçoamento

Funcional da Escola Superior do Ministério Público de São Paulo, in: Plural - Boletim Informativo do CEAF/Escola Superior do Ministério Público, ano 5, n. 25, Disponível em:

<www.mp.sp.gov.br>. Acesso em: 25 de março de 2008 (mantida a grafia da fonte).

201 GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 2006, p. 56 (mantida a grafia da fonte).

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85

O ilustre Promotor de Justiça, Rodrigo Régnier Chemim

Guimarães concluiu:

Tal redação dava maior amplitude ao exercício efetivo do controle

da atividade policial na medida em que possibilitava ao Ministério

Público a supervisão dos procedimentos investigatórios. O termo

„supervisão‟ vem do verbo „supervisar‟, que, segundo ensina

Aurélio202, significa: „dirigir, orientar ou inspecionar em plano

superior‟. Assim, o inquérito policial continuaria sendo executado

pela autoridade policial, porém, sob a direção do Ministério Público,

que orientaria o seu curso e poderia avocá-lo quando entendesse

prudente e necessário à melhor investigação.203

3.1.3 A Origem da expressão controle externo

Ibsen Pinheiro, um dos constituintes da atual Constituição da

República Federativa do Brasil, foi incumbido, na época, de participar da redação

do texto relacionado ao Ministério Público, e assim relata:

Não foi fácil chegar ao novo perfil da instituição. Eu sei porque

estava na Constituinte e, designado pelo líder Mário Covas,

coordenei a elaboração do texto dos arts. 127, 128 e 129 que

compõem a seção do Ministério Público na Constituição Federal,

conduzindo, também, a pesada negociação que a precedeu, não

apenas entre as lideranças políticas, mas muito mais com as

corporações interessadas, especialmente as polícias civil e

militar, a magistratura e a advocacia. [...] Logo, o perfil do Ministério

Público que aí está não é casual, nem acidental, mas produto de

muita reflexão, muito entendimento, algumas concessões de

partes a partes (daí a diferença no mecanismo de provimento do

cargo de Procu-rador-Geral na União e nos Estados, assim como a

expressão "controle externo da atividade policial")[...].204

202

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa.

Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988, p. 617.

203 GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 2006, p. 56 (mantida a grafia da fonte).

204 PINHEIRO, Ibsen. Ministério Público Novo de Guerra, in Observatório da Imprensa, Caderno da

Cidadania, p. 1-2. Disponível em: <www.observatoriodaimprensa.com.br> Acesso em: 25 mar. 2008 (grifou-se).

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86

Em relação à análise da origem da expressão “controle

externo da atividade policial”, adotada pelo Constituinte de 1988, cabe destacar,

com extrema relevância, conforme os ensinamentos de Rodrigo Régnier Chemim

Guimarães, que:

[...] esta ampliou a possibilidade de atuação do Ministério Público

junto aos organismos policiais, mas deixou a desejar no aspecto de

clareza e objetividade de redação [...] perdeu-se oportunidade de

avançar ainda mais nesta questão, deixando-se de adotar o texto

originalmente elaborado na „Carta de Curitiba‟, que propiciaria maior

e melhor forma de atuação conjunta do Ministério Público com a

Polícia e significativa melhoria na investigação criminal.205

Assim, concluso o breve histórico a respeito do controle

externo da atividade policial, passa-se, então, para a análise do seu conceito,

natureza e espécies.

3.2 CONCEITO E FINALIDADE DO CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE

POLICIAL PELO MINISTÉRIO PÚBLICO

Para Rodrigo Régnier Chemim Guimarães:

O Constituinte de 1988 não definiu o que seja, exatamente, o cha-

mado „controle externo da atividade policial‟, deixando para o

legislador infraconstitucional a tarefa de conceituá-lo, através de leis

complementares, ou seja, das leis orgânicas dos Ministérios

Públicos da União e dos Estados da Federação. [...] Assim, o

conceito de „controle externo‟, por ora, vem sendo tratado mais no

plano doutrinário, do que legislativo, onde são evidenciadas

algumas tentativas de se enunciar o significado do preceito.206

205

GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo Ministério Público. 2006, p. 56.

206 GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 2006, p. 63.

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87

Inicialmente, é importante entender a compreensão

etimológica da expressão. Começa-se, então, pela origem da palavra “controle”, e

quem dá a lição é Hugo Nigro Mazzilli:

Em vernáculo, a expressão „controle‟, advinda do francês

contrôle, significa ato de vigilância e verificação administrativa;

domínio ou governo; mais especificamente, ato de fiscalização,

inspeção, supervisão, exame minucioso exercido sobre as

atividades de pessoas, órgãos, departamentos, como seja a

própria fiscalização financeira ou orçamentária; significa ainda o

próprio corpo de funcionários encarregados de velar pela

observância das leis e regulamentos, notadamente em matéria

financeira.207

Em relação aos termos “externo” e “atividade policial”, os

quais complementam o termo referenciado anteriormente (externo), faz-se

necessário transcrever os ensinamentos de Rodrigo Régnier Chemim Guimarães:

O termo „externo‟, por sua vez, implica em dizer que é exercido por

órgão distante da estrutura da Polícia. [...] E „atividade policial‟, duas

palavras aqui indissociáveis, resume-se no contato e na

investigação de situações criminosas propriamente ditas, no

cuidado com as pessoas tidas sob sua custódia (sejam presos

provisórios ou condenados definitivamente) e no cumprimento de

determinações judiciais (a exemplo do cumprimento de mandados

de prisão, busca e apreensão, dentre outras medidas judiciais).208

Realizada esta análise etimológica, cabe informar que o

sistema existente na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

estabelece, para todas as funções do Estado, a existência do controle de uma

instituição por outra, ou seja, é a aplicação da fórmula jurídica de freios e

contrapesos (checks and balances), que contribui para o bom funcionamento do

Poder Público, bem como se considera um pressuposto essencial para a garantia

dos direitos fundamentais dos indivíduos, sendo este considerado, por muitos,

como a solução para manter respirando o Estado Democrático de Direito, tipo de

207

MAZZILLI, Hugo Nigro. O Ministério Público na Constituição de 1988. São Paulo: Saraiva,

1989, p. 243 (mantida a grafia da fonte).

208 GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 2006, p. 64.

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88

organismo no qual voluntariamente o Brasil filiou-se conforme descreve o artigo

1º209 da nossa atual Lei Maior.210

Não é diferente o entendimento do Promotor de Justiça de

Santa Catarina, Paulo Antonio Locatelli:

A Constituição da República de 1988, conhecida como Cons-

tituição Cidadã, estabelece diversos sistemas de controle, os

quais visam ao equilíbrio entre os Poderes do Estado, sendo a

sociedade a maior beneficiada pela eficácia desses sistemas. O

Controle Externo da Atividade Policial pelo Ministério Público

integra essa diretriz de freios e contrapesos, característica do

Estado Democrático de Direito, em que os Poderes e instituições

públicas são independentes e harmónicos entre si, no entanto,

são controlados externamente de forma recíproca.211

Francisco Taumaturgo de Araújo Júnior explica que o artigo

129, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, conferiu, ao

Ministério Público, o exercício do controle externo da atividade policial, com o

objetivo de fiscalizar a atividade da Polícia, na missão de apurar as infrações penais,

para que o inquérito seja revestido de elementos fortes para contribuir na

propositura da ação penal e ao próprio processo penal, bem como para que a

atividade policial caminhe respeitando o princípio da legalidade. Cabe salientar que

o Parquet exercerá o controle externo da atividade-fim da Polícia e não dos policiais,

pois estes estão sujeitos a um controle interno, exercido por órgãos

hierarquicamente superiores.212

209

“Art.1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constituindo-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos [...]” (BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Distrito

Federal: Senado Federal. 1988).

210 MARQUES, Carlos Alexandre. Controle externo da atividade policial: natureza e mecanismos

de exercício. Jus Navigandi. Teresina, ano 4, n. 44, ago. 2000. Disponível em:

<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1598>. Acesso em: 26 mar. 2008.

211 LOCATELLI, Paulo Antonio. O Ministério Público e o Controle Externo da Atividade Policial.

Atuação – Revista Jurídica do Ministério Público Catarinense. v. 3, n. 6, maio/ago. 2005 –

Florianópolis, p. 55.

212 ARAÚJO JÚNIOR, Francisco Taumaturgo de. Controle Externo da Atividade Policial, o

outro lado da face. Disponível em <http://www.pgj.ce.gov.br/artigos/artigos.asp?iCodigo=34v>

Acesso em 16 de abril de 2008.

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89

Com outro posicionamento, Edison Miguel da Silva Jr. analisa

o controle externo da atividade policial pelo Ministério Público como:

[...] um controle de legalidade na apuração das infrações penais

pela polícia judiciária em defesa do cidadão e obrigatoriedade da

persecução penal que não foi criado pela Constituição de 1988. É

inerente às próprias funções ministeriais de 'fiscal da lei'. A

novidade de 1988 foi elevar o controle de legalidade a preceito

constitucional por ser uma necessidade social e anseio da

sociedade brasileira. Dessa forma, o controle externo existia antes

mesmo da atual Constituição e independe de lei nova que imponha

tal ônus aos membros do parquet. Este controle de legalidade não

é originário da Constituição de 1988, mas intrínseco às funções

ministeriais e os instrumentos legais para a sua efetivação

encontram-se espalhados na legislação em vigor.213

Assim, pode-se entender como controle externo da

atividade policial o conjunto de normas que regulam a fiscalização executada

pelo Ministério Público sobre a atividade policial, seja na prevenção, seja na

apuração e investigação de fatos tidos como criminosos, seja na preservação

dos direitos e garantias constitucionais dos presos que estejam sob

responsabilidade das autoridades policiais, bem como na fiscalização do

cumprimento das determinações judiciais.214

Rodrigo Régnier Chemim Guimarães explica:

Com isto não se quer afirmar que a figura do Delegado de Polícia

não tenha mais razão de ser. Pelo contrário, o Delegado continuará

executando as diligências investigatórias necessárias, apenas que

sob o controle de um órgão externo: o Ministério Público, destinatário

final da atividade da polícia judiciária.215

213

SILVA JR., Edison Miguel da. Controle Externo da Atividade Policial e Legislação Vigente (apud MARQUES, Carlos Alexandre. Controle externo da atividade policial: natureza e mecanismos de exercício. Jus Navigandi. Teresina, ano 4, n. 44, ago. 2000. Disponível em:

<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1598>. Acesso em: 26 mar. 2008).

214 Cf. GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 2006, p. 64.

215 GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 2006, p. 65.

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90

Desta feita, oportuno ressaltar que este sistema de

fiscalização não implica uma relação de hierarquia e subordinação entre o

Ministério Público e a Polícia, até porque, aquele deve ater-se às atividades-fim

da Polícia Judiciária, de forma a possibilitar a efetividade dos direitos

fundamentais da pessoa, assegurados na Constituição da República Federativa

do Brasil de 1988.

Para Geraldo do Amaral Toledo Neto:

O controle externo deve ser entendido como um instrumento de

realização do jus puniendi. Seu objetivo é dar ao Ministério

Público um comprometimento maior com a investigação criminal

e, consequentemente, um maior domínio sobre a prova produzida,

a qual lhe servirá de respaldo na denúncia, sempre na busca dos

elementos indispensáveis para a instrução do processo.216

No mesmo sentido, Hugo Nigro Mazzilli salienta:

Examinando-se as diversas formas de controle externo

instituídas pela Constituição, e buscando a primordial finalidade

da atuação ministerial, chegamos à conclusão de que, com esse

dispositivo, intentou o constituinte de 1988 criar um sistema

precípuo de fiscalização, um sistema de vigilância e verificação

administrativa, teleologicamente dirigido à melhor coleta dos

elementos de convicção que se destinam a formar a opinio

delictis do promotor de justiça, fim último do inquérito policial.217

Desta forma, a finalidade do controle externo é aumentar a

possibilidade de fiscalizar as atividades policiais, por um órgão estatal não

pertencente à estrutura policial e, ao mesmo tempo, encarregado da ação penal e

da defesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis. Cabe informar, ainda,

que a destinação da fiscalização do trabalho policial está diretamente ligada à

melhoria do trabalho investigatório, evitando, assim, eventuais omissões, abusos

216

TOLEDO NETO, Geraldo do Amaral. O Ministério Público e o efetivo controle da atividade policial. Jus Navigandi. Teresina, ano 6, n. 55, mar. 2002. Disponível em:

<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2812>. Acesso em: 31 mar. 2008 (mantida a grafia da fonte).

217 MAZZILLI, Hugo Nigro. Regime Jurídico do Ministério Público: análise da Lei Orgânica

Nacional do Ministério Público, aprovada pela Lei n. 8.625, de 12 de fevereiro de 1993. 1996, p. 244 (mantida a grafia da fonte).

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91

e irregularidades nos registros de ocorrências policiais, na movimentação de

inquéritos policiais, bem como na própria atividade investigatória.218

3.3 NATUREZA DO CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL PELO

MINISTÉRIO PÚBLICO

Em relação à prática do exercício do controle externo da

atividade policial, adotar-se-á a divisão deste controle em ordinário e

extraordinário, conforme explicado por Rodrigo Régnier Chemim Guimarães:

Assim, a primeira espécie de controle externo da atividade policial, é

denominada de controle externo ordinário, consistente naquela

atividade ministerial exercida corriqueiramente, seja através dos

controles realizados na verificação do trâmite dos inquéritos

policiais, e consequente cumprimento de diligências requisitadas,

seja através de visitas periódicas (ao menos mensais) às

Delegacias de Polícia e organismos policiais, a fim de verificar a

regularidade dos procedimentos policiais e da custódia dos presos

que porventura se encontrem no local. [...] Este controle externo

ordinário, a princípio, pode ser exercido por todos os Promotores de

Justiça ou Procuradores da República, com atribuições criminais,

salvo se houver determinação expressa em sentido contrário nas

respectivas leis orgânicas dos Ministério Públicos Estaduais ou for

disciplinado de forma diversa por Ato do Procurador-Geral de

Justiça.219

Em relação ao controle externo extraordinário, este dar-se-á

quando da verificação de um ato ilícito cometido por alguma autoridade policial no

exercício de suas funções. Assim, o exercício do controle externo da atividade

policial implicará na instauração de procedimento administrativo investigatório no

âmbito da Promotoria de Justiça, para apurar possível abuso da autoridade

policial.220

218

Cf. SANTIN, Valter Foleto. O Ministério Público na investigação criminal. 2001, p. 77.

219 GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 2006, p. 65 (mantida a grafia da fonte).

220 Cf. GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 2006, p. 65.

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92

A propósito ressalta o autor:

É de se considerar aqui, ser o investigado policial, tendo a prática

demonstrado que, não raras vezes, ele está propenso a adotar

condutas intimidatórias aos Membros do Ministério Público no

equivocado entendimento que isso possa evitar a apuração integral

do fato contra si pendente.221

Assim, entende-se prudente a atuação de uma Promotoria

Especializada, a exemplo, pode-se citar o Estado de Santa Catarina, que possui

algumas Promotorias de Justiça que detêm esta atribuição específica de exercer o

controle externo da atividade policial, tais como: a 2ª Promotoria de Justiça da

Comarca de Tubarão, a 8ª Promotoria de Justiça da Comarca de Itajaí, entre

outras.222

3.4 LEGISLAÇÃO VIGENTE DO CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE

POLICIAL PELO MINISTÉRIO PÚBLICO

Na legislação atual, as disposições acerca do controle

externo da atividade policial estão distribuídas entre diversas codificações, tais

como: a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, a Lei

Complementar n. 75, de 20 de maio de 1993 (Lei Orgânica do Ministério Público

da União), a Lei n. 8.625, de 12 de fevereiro de 1993 (Lei Orgânica Nacional do

Ministério Público) e a Lei Complementar n. 197/2000, de 13 de julho de 2000 (Lei

Orgânica do Ministério Público do Estado de Santa Catarina).

221

GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo Ministério Público. 2006, p. 65.

222 Cf. SOUZA, Sandro Ricardo de. Aspectos controvertidos do controle externo da atividade

policial. Atuação – Revista Jurídica do Ministério Público Catarinense. Florianópolis:

Procuradoria Geral de Justiça e Associação Catarinense do Ministério Público, v.3, n.6, 2003, p.71.

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93

3.4.1 Artigo 129 da atual Lex Magna

A atual Constituição Federal da República Federativa do

Brasil dispõe que é função institucional do Ministério Público exercer o controle

externo da atividade policial, na forma da lei complementar da União e dos

Estados, que devem estabelecer a organização, as atribuições e o estatuto da

instituição. 223

Importa salientar que a norma do primeiro dispositivo é de

eficácia limitada, uma vez que não possui aptidão para produzir os seus efeitos

essenciais de imediato, dependendo da regulamentação de Lei Complementar

para alcançá-los.224

Sobre este dispositivo, discorre Fauzi Hassan Choukr:

Trata-se de norma que guarda equivalência a muitas outras

encontradas na mesma matriz, como temos na Constituição

espanhola, italiana e portuguesa. Na verdade, nada mais é que

uma decorrência lógica do figurino acusatório tantas vezes

mencionado, onde o Ministério Público, titular da ação penal

pública, tem na polícia judiciária sua longa manus.225

3.4.2 Lei Orgânica do Ministério Público da União

Acatando à determinação constitucional, a Lei Orgânica do

Ministério Público da União (Lei Complementar n. 75/1993) regulamenta o

exercício do controle externo da atividade policial, estabelecendo mecanismos de

223

“Art. 129. São funções institucionais do Ministério [...] VII – exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei complementar no artigo anterior [...]” (BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Distrito Federal: Senado Federal. 1988).

224 Cf. MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo Penal. 2005, p. 20.

225 CHOUKR, Fauzi Hassan. O relacionamento entre o Ministério Público e a Polícia

Judiciária no Processo Penal Acusatório. Disponível em: <http://www.mp.pe.gov.br/index>.

Acesso em: 24 de março de 2008 (mantida a grafia da fonte).

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controle in genere, objetivando coletar elementos probatórios seguros, para a

instauração da ação penal.226

O Ministério Público da União tratou do assunto em seu

artigo 3º227. Portanto, no artigo 9º, prevê que o tal controle será exercido por meio

de medidas judiciais e extrajudiciais, o que exemplifica citando:

I – ter livre ingresso em estabelecimentos policiais ou prisionais.228

Esse dispositivo visa permitir que o membro do Parquet

tenha plena ciência das condições materiais e humanas, em que são

desenvolvidos tanto os trabalhos investigativos, quanto de segregação, em

respeito aos direitos fundamentais.229

II – ter acesso a quaisquer documentos relativos à atividade-fim

policial; III – representar à autoridade competente pela adoção de

providências para sanar a omissão indevida, ou para prevenir ou

corrigir ilegalidade ou abuso de poder.230

Esse inciso explica que o controle externo da atividade

policial pelo Ministério Público não significa uma subordinação hierárquica. No

âmbito funcional, caso o promotor de justiça verifique a ocorrência de quaisquer

226

MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo Penal. 2005, p. 20.

227 “Art. 3º O Ministério Público da União exercerá o controle externo da atividade policial tendo em

vista: a) o respeito aos fundamentos do Estado Democrático de Direito, aos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, aos princípios informadores das relações internacionais, bem como aos direitos assegurados na Constituição Federal e na lei; b) a preservação da ordem pública, da incolumidade das pessoas e do patrimônio público; c) a prevenção e a correção de ilegalidade ou de abuso de poder; d) a indisponibilidade da persecução penal; e) a competência dos órgãos incumbidos da segurança pública”. (BRASIL. Lei Complementar Federal nº 75/1993 – Lei Orgânica do Ministério Público da União. Disponível

em: <http://www.mp.sc.gov.br/portal/site/portal/portal_detalhe.asp?20secao_id=58>. Acesso em: 1º de abril de 2008.

228 BRASIL. Lei Complementar Federal nº 75/1993 – Lei Orgânica do Ministério Público da

União. Disponível em:

<http://www.mp.sc.gov.br/portal/site/portal/portal_detalhe.asp?20secao_id=58>. Acesso em: 1º de abril de 2008.

229 Cf. FREITAS, Manuel Pinheiro. Controle externo da atividade policial: do discurso à prática.

Coleção Centros de Apoio Operacional. Ministério Público do Estado de Goiás, 2006, p.17.

230 BRASIL. Lei Complementar Federal nº 75/1993 – Lei Orgânica do Ministério Público da

União. Disponível em:

<http://www.mp.sc.gov.br/portal/site/portal/portal_detalhe.asp?20secao_id=58>. Acesso em: 1º de abril de 2008.

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faltas disciplinares, tendo esse órgão ministerial atribuições de controle externo,

tem que se dirigir aos superiores hierárquicos do funcionário público faltoso

(Delegado de Polícia, Escrivão, Investigador, Carcereiro), indicando, então, as

falhas e as providências que entender cabíveis, para que a autoridade

administrativa competente possa agir.231

IV – requisitar à autoridade competente a instauração de inquérito

policial sobre a omissão ou fato ilícito ocorrido no exercício da

atividade policial.232

Nesse vértice, cabe informar que o descumprimento da

exigência ministerial pode possibilitar a deflagração de ação penal, se existente o

dolo específico de satisfazer interesse ou sentimento pessoal, nos moldes do

descrito no artigo 319233 do Código Penal, que trata do crime de prevaricação.234

V – promover a ação penal por abuso de poder.235

Partindo do mesmo preceito, o artigo 10236, da mencionada

lei, também prevê a obrigatoriedade da imediata comunicação, pela autoridade

federal ou do Distrito Federal e Territórios ao Ministério Público, da prisão de

231

MAZZILLI, Hugo Nigro. Regime Jurídico do Ministério Público: análise da Lei Orgânica

Nacional do Ministério Público, aprovada pela Lei n. 8.625, de 12 de fevereiro de 1993. 1996, p. 235.

232 Cf. MAZZILLI, Hugo Nigro. Regime Jurídico do Ministério Público: análise da Lei Orgânica

Nacional do Ministério Público, aprovada pela Lei n. 8.625, de 12 de fevereiro de 1993. 1996, p. 235.

233 “Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra

disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa” (BRASIL. Código Penal. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 1º de abr. 2008).

234 Cf. MAZZILLI, Hugo Nigro. Regime Jurídico do Ministério Público: análise da Lei Orgânica

Nacional do Ministério Público, aprovada pela Lei n. 8.625, de 12 de fevereiro de 1993. 1996, p. 235.

235 Cf. MAZZILLI, Hugo Nigro. Regime Jurídico do Ministério Público: análise da Lei Orgânica

Nacional do Ministério Público, aprovada pela Lei n. 8.625, de 12 de fevereiro de 1993. 1996, p. 235.

236 “Art. 10 - A prisão de qualquer pessoa, por parte de autoridade federal ou do Distrito Federal e

Territórios, deverá ser comunicada imediatamente ao Ministério Público competente, com indicação do lugar onde se encontra o preso e cópia dos documentos comprobatórios da legalidade da prisão” (BRASIL. Lei Complementar Federal nº 75/1993 – Lei Orgânica do Ministério Público da União. Disponível em:

<http://www.mp.sc.gov.br/portal/site/portal/portal_detalhe.asp?20secao_id=58>. Acesso em: 1º de abril de 2008).

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qualquer pessoa, com indicação do lugar onde se encontra, bem como da cópia

dos documentos comprobatórios da legalidade da segregação.

Essa providência facilita a fiscalização do cabimento da

prisão e, como consequência, possibilita a proteção à liberdade do segregado

pelo Parquet, bem como dá margem ao controle exercido posteriormente da

instauração ou não do respectivo inquérito policial.237

3.4.3 Lei Orgânica Nacional do Ministério Público

A Lei n. 8.625, de 12 de fevereiro de 1993, conhecida por Lei

Orgânica Nacional do Ministério Público, estabelece as normas gerais de

organização dos Ministérios Públicos Estaduais, de modo a aproximá-los e evitar

aversões entre si, gerando, assim, uma identidade nacional da instituição.238

Valter Foleto Santin explica:

[...] a Lei Federal nº 8.625, de 1993, que traçou as normas gerais

do Ministério Público dos Estados não tratou propriamente da

função institucional de exercício do controle externo, restando

para normatização pelas leis complementares estaduais [...]239

Pode-se citar, como exemplo, o artigo 41, onde a lei

ordinária prevê o direito da Instituição Ministerial examinar, em qualquer

repartição policial, autos de flagrante ou inquérito, findos ou em andamento, ainda

que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos (inciso

VIII) e de ter acesso ao indiciado preso, a qualquer momento, mesmo quando

decretada a sua incomunicabilidade (inciso IX).240

237

Cf. FREITAS, Manuel Pinheiro. Controle externo da atividade policial: do discurso à prática. Coleção Centros de Apoio Operacional. Ministério Público do Estado de Goiás, p.19.

238 Cf. MAZZILLI, Hugo Nigro. Manual do Promotor de Justiça. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1991,

p. 133.

239 SANTIN, Valter Foleto. O Ministério Público na investigação criminal. 2001, p. 74.

240 “Art. 41 - Constituem prerrogativas dos membros do Ministério Público, no exercício de sua função, além de outras previstas na Lei Orgânica: [...] VIII - examinar, em qualquer repartição policial, autos de flagrante ou inquérito, findos ou em andamento, ainda que conclusos à

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Destarte, cabe ainda informar que se encontra previsão

acerca da mesma temática no artigo 10, ao prescrever que compete ao

Procurador-Geral de Justiça designar membros do Ministério Público (inciso IX)

para acompanhar inquérito policial ou diligência investigatória (alínea “e”).241

Por derradeiro, observa-se a redação dada no artigo 26242,

que facultou ao Parquet, a requisição de diligências investigatórias e a

instauração de inquérito policial e de inquérito policial militar, podendo inclusive

acompanhá-los, desde que respeitado o descrito no artigo 129, inciso VIII243 da

autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos; IX - ter acesso ao indiciado preso, a qualquer momento, mesmo quando decretada a sua incomunicabilidade [...]” (BRASIL. Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, Lei federal nº 8.625/1993. Disponível em:

<http://www.mp.sc.gov.br/portal/site/portal/portal_lista.asp?campo=1375> Acesso em: 27 fev. 2008).

241 “Art. l0. Compete ao Procurador-Geral de Justiça: [...] IX - designar membros do Ministério

Público para: [...] e) acompanhar inquérito policial ou diligência investigatória, devendo recair a escolha sobre o membro do Ministério Público com atribuição para, em tese, oficiar no feito, segundo as regras ordinárias de distribuição de serviços [...]” (BRASIL. Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, Lei federal nº 8.625/1993. Disponível em:

<http://www.mp.sc.gov.br/portal/site/portal/portal_lista.asp?campo=1375> Acesso em: 27 fev. 2008).

242 “Art. 26 - No exercício de suas funções, o Ministério Público poderá: I - Instaurar inquéritos civis

e outras medidas e procedimentos administrativos pertinentes e, para instruí-los: a) expedir notificações para colher depoimento ou esclarecimentos e, em caso de não comparecimento injustificado, requisitar condução coercitiva, inclusive pela Polícia Civil ou Militar, ressalvadas as prerrogativas previstas em lei; b) requisitar informações, exames periciais e documentos de autoridade federais, estaduais e municipais, bem como dos órgãos e entidades da administração direta, indireta ou funcional, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; c) promover inspeções e diligências investigatórias junto às autoridades, órgãos e entidades a que se refere a alínea anterior; II - requisitar informações e documentos a entidades privadas, para instruir procedimentos ou processo em que oficie; III - requisitar à autoridade competente a instauração de sindicância ou procedimento administrativo cabível; IV - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial e de inquérito policial militar, observado o disposto no art. 129, inciso VIII, da Constituição Federal, podendo acompanhá-los; V - praticar atos administrativos executórios, de caráter preparatório; VI - dar publicidade dos procedimentos administrativos não disciplinares que instaurar e das medidas adotadas; VIl -sugerir ao Poder competente a edição de normas e a alteração da legislação em vigor, bem como a adoção de medidas propostas, destinadas à prevenção e controle da criminalidade; VIII - manifestar-se em qualquer fase dos processos, acolhendo solicitação do juiz, da parte ou por sua iniciativa, quando entender existente interesse em causa que justifique a intervenção [...]” (BRASIL. Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, Lei federal nº 8.625/1993. Disponível

em: <http://www.mp.sc.gov.br/portal/site/portal/portal_lista.asp?campo=1375> Acesso em: 27 fev. 2008).

243 “Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: [...] VIII - requisitar diligências

investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais [...]” (BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil.

Brasília, Distrito Federal: Senado Federal. 1988).

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98

atual Lex Magna. Estas prerrogativas também são concernentes à fiscalização e

acompanhamento das atividades da Polícia Judiciária.244

Em relação aos dispositivos mencionados acima, vislumbra-

se a utilização de diretriz idêntica àquela adotada pela Lei Orgânica do Ministério

Público da União, abordada anteriormente, uma vez que, também prevê, ainda

que esparsamente, mecanismos para seu exercício.

A omissão desta Lei Orgânica em tratar com maior detalhes

a respeito do tema, fica suplementada diante da ordem nela contida para a

aplicação subsidiária das normas da Lei Orgânica do Ministério Público da União

aos Ministérios Públicos dos Estados, como prevista no seu artigo 80245. Deste

modo, as disposições da Lei Complementar n. 75, de 1993, acerca do controle

externo da atividade policial, também se aplicam aos Ministérios Públicos

Estaduais, sem qualquer prejuízo.246

3.4.4 Lei Orgânica do Ministério Público do Estado de Santa Catarina

No Estado de Santa Catarina, a matéria foi tratada por meio

da Lei Complementar n. 197/2000, a Lei Orgânica do Ministério Público

Catarinense.247 Dentre outras previsões, a referida lei descreve como função

institucional do Ministério Público exercer o controle externo da atividade policial,

244

Cf. DECOMAIN, Pedro Roberto. Comentários à Lei Orgânica Nacional do Ministério Público. Florianópolis: Obra Jurídica, 1996, p. 351.

245 “Art. 80 - Aplicam-se aos Ministérios Públicos dos Estados, subsidiariamente, as normas da Lei

Orgânica do Ministério Público da União” (BRASIL. Lei Complementar Federal nº 75/1993 – Lei Orgânica do Ministério Público da União. Disponível em:

<http://www.mp.sc.gov.br/portal/site/portal/portal_detalhe.asp?20secao_id=58>. Acesso em: 1º de abril de 2008).

246 Cf. FREITAS, Manuel Pinheiro. Controle externo da atividade policial: do discurso à prática.

Coleção Centros de Apoio Operacional. Ministério Público do Estado de Goiás, p.19.

247 Cf. SOUZA, Sandro Ricardo de. Aspectos controvertidos do controle externo da atividade

policial. Atuação – Revista Jurídica do Ministério Público Catarinense. Florianópolis:

Procuradoria Geral de Justiça e Associação Catarinense do Ministério Público, v.3, n.6, 2003, p.72.

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99

civil ou militar, conforme estabelece o inciso XVII, do seu artigo 82248, podendo,

dentre outras medidas judiciais ou administrativas:

a) ter livre ingresso em estabelecimentos policiais ou prisionais; b)

ter acesso a quaisquer documentos relativos à atividade de polícia

judiciária, ou requisitá-los; c) requisitar à autoridade competente a

adoção de providências para sanar a omissão ou para prevenir ou

corrigir ilegalidade ou abuso de poder; d) requisitar à autoridade

competente a abertura de inquérito sobre a omissão ou fato ilícito

ocorridos no exercício da atividade policial, determinando as

diligências necessárias e a forma de sua realização, podendo

acompanhá-las e também proceder diretamente a investigações,

quando necessário; e) acompanhar atividades investigatórias; f)

recomendar à autoridade policial a observância das leis e

princípios jurídicos; g) requisitar à autoridade competente a

instauração de sindicância ou procedimento administrativo

cabível; h) exigir comunicação imediata sobre apreensão de

adolescente; i) avocar inquérito policial em qualquer fase de sua

elaboração e requisitar, a qualquer tempo, as diligências que se

fizerem necessárias [...]. 249

Cabe ressaltar ainda, que esta lei também se preocupa em

mostrar o objetivo fundamental do controle externo, qual seja, proteger os

fundamentos do Estado Democrático de Direito, os objetivos fundamentais da

República Federativa do Brasil, os princípios informadores das relações

internacionais, bem como os direitos assegurados na Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988 e na lei (inciso I), preservar a ordem pública, a

incolumidade das pessoas e do patrimônio público (inciso II), prevenir e corrigir

ilegalidade ou abuso de poder (inciso III), respeitar o princípio constitucional da

248

“Art. 82. São funções institucionais do Ministério Público, nos termos da legislação aplicável: [...] XVII - exercer o controle externo da atividade policial, civil ou militar [...]” (SANTA CATARINA. Lei Complementar Estadual nº 197/2000 – Lei Orgânica do Ministério Público do Estado de Santa Catarina. Disponível em: <http://www.mp.sc.gov.br>. Acesso em: 1º de abril de 2008.

249 SANTA CATARINA. Lei Complementar Estadual nº 197/2000 – Lei Orgânica do Ministério

Público do Estado de Santa Catarina. Disponível em: <http://www.mp.sc.gov.br>. Acesso em: 1º

de abril de 2008.

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100

indisponibilidade da persecução penal (inciso IV), outros interesses, direitos e

valores relacionados ao exercício da atividade policial (inciso VI).250

Em suma, tem-se que a fiscalização do controle externo da

atividade policial objetiva proteger os direitos fundamentais da pessoa, em

respeito aos mandamentos constitucionais, e, para tanto, oferece um rol

exemplificativo de medidas de que pode se utilizar o membro do Parquet.251

3.5 INSTRUMENTOS PARA O EXERCÍCIO DO CONTROLE EXTERNO DA

ATIVIDADE POLICIAL PELO MINISTÉRIO PÚBLICO

Atualmente, muitas críticas têm surgido, por parte da Polícia,

que resiste em aceitar a atividade constitucional do Ministério Público, procurando

polemizar a questão e deturpar o efetivo significado do controle externo da

atividade policial, a razão de sua existência, e os mecanismos para se efetivá-

lo.252

Existem vários instrumentos legais à disposição do

Ministério Público para efetivar o exercício do controle externo da atividade

policial. Em regra geral, a maioria desses instrumentos estão previstos em leis de

âmbito nacional e, portanto, podem ser utilizados, indistintamente, tanto pelo

250

“Art. 82. São funções institucionais do Ministério Público, nos termos da legislação aplicável: [...] XVII - exercer o controle externo da atividade policial, civil ou militar [...] § 1º O controle externo da atividade policial será exercido tendo em vista: I - o respeito aos fundamentos do Estado Democrático de Direito, aos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, aos princípios informadores das relações internacionais, bem como aos direitos assegurados na Constituição Federal e na lei; II - a preservação da ordem pública, da incolumidade das pessoas e do patrimônio público; III - a prevenção e a correção de ilegalidade ou de abuso de poder; IV - a indisponibilidade da persecução penal; V - a competência dos órgãos incumbidos da segurança pública; VI - outros interesses, direitos e valores relacionados ao exercício da atividade policial”. (SANTA CATARINA. Lei Complementar Estadual nº 197/2000 – Lei Orgânica do Ministério Público do Estado de Santa Catarina. Disponível em: <http://www.mp.sc.gov.br>. Acesso em: 1º

de abril de 2008).

251 Cf. FONTANELLA, Ricardo. Controle Externo da Atividade Policial. Disponível em:

<http://www.mp.rr.gov.br/Intranet/pageDirectory/artigos/controleexterno.pdf>. Acesso em: 1º de abril de 2008.

252 Cf. GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Cad. Min. Pub. 1998, p. 42.

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101

Ministério Público da União, quanto por quaisquer dos Ministérios Públicos

Estaduais.253

Procurar-se-á, neste sentido, proceder a uma breve análise

dos instrumentos de aplicação nacional, mais com o objetivo de elencá-los do

que, propriamente, detalhá-los, tendo em vista que existem tópicos, os quais, por

si sós, já serviriam de objeto de uma nova monografia em separado.

3.5.1 Investigação direta pelo Ministério Público

Cabe destacar, como um dos principais instrumentos legais

para o exercício do controle externo da atividade policial, a possibilidade de o

Ministério Público instaurar procedimentos administrativos investigatórios para

apuração de infrações penais, principalmente quando os criminosos sejam as

próprias autoridades policiais.254

Essa possibilidade, como destacado por Rodrigo Régnier

Chemim Guimarães:

[...] é garantida constitucionalmente, através dos incs. I e VI, do

art. 129255, da Constituição da República Federativa do Brasil de

1988, e esmiuçada na Lei Orgânica Nacional do Ministério Público

(art. 26256), Lei Orgânica do Ministério Público da União (arts. 7° e

253

Cf. GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo Ministério Público. 2006, p. 115.

254 Cf. GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 2006, p. 115.

255 “Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: I - promover, privativamente, a ação

penal pública, na forma da lei: [...] VI - expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua competência, requisitando informações e documentos para instruí-los, na forma da lei complementar respectiva" (BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,

Distrito Federal: Senado Federal. 1988).

256 “Art. 26. “No exercício de suas funções, o Ministério Público poderá: I - instaurar inquéritos,

civis e outras medidas e procedimentos administrativos pertinentes e, para instruí-los: a)

expedir notificações para colher depoimento ou esclarecimentos e, em caso de não comparecimento injustificado, requisitar condução coercitiva, inclusive pela Policia Civil ou Militar, ressalvadas as prerrogativas em lei; b) requisitar informações, exames periciais e documentos de órgãos e entidades da administração direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; c) promover inspeções e diligências investigatórias junto às autoridades, órgãos e entidades a que se refere a alínea anterior; II - requisitar informações e documentos a entidades privadas, para instruir procedimentos ou

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102

8°257) e nas diversas Leis Orgânicas dos Ministérios Públicos

Estaduais.258

A propósito leciona o autor:

Este instrumento legal é importantíssimo para o desempenho do

controle externo da atividade policial na medida em que se tenha

notícia de faltas ou abusos de autoridade por parte das Polícias. É

salutar que, nesses casos, a par de outros tantos, o Ministério

Público não fique aguardando providências das próprias Polícias

em investigar e responsabilizar administrativamente seus agentes,

mas sim, promova, de imediato, a necessária investigação para

assegurar-se da veracidade, ou não, da notícia de abuso de poder

que lhe chegue ao conhecimento. [...] Para tanto, será necessária a

instauração do que se usou denominar „procedimento

administrativo investigatório‟ no âmbito da própria Promotoria ou

Procuradoria da República encarregada. Este procedimento, a

exemplo do que acontece com as investigações em geral, não

obedece a um rito próprio, mas poderá adotar as normas

pertinentes ao inquérito civil e ao Código de Processo Penal no

que forem aplicáveis. Por exemplo: adotar a sistemática de

instauração dos inquéritos civis, através de Portarias, com o

regular registro das mesmas em livro próprio na Promotoria, e de

requisições de documentos seguindo a linha dos inquéritos civis e,

por outro lado, adotar o Código de Processo Penal no que diz

processo em que oficie: [...] V - praticar atos administrativos executórios, de caráter preparatório”(BRASIL. Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, Lei federal nº 8.625/1993.

Disponível em: <http://www.mp.sc.gov.br/portal/site/portal/portal_lista.asp?campo=1375> Acesso em: 27 fev. 2008). (grifou-se).

257 “Art. 7°. Incumbe ao Ministério Público da União, sempre que necessário ao exercício de suas

funções institucionais: I - instaurar inquérito civil e outros procedimentos administrativos correlatos: (...) Art. 8°. Para o exercício de suas atribuições o Ministério Público da União poderá, nos procedimentos de sua competência: I – Notificar testemunhas e requisitar sua condução

coercitiva, no cave de ausência injustificada; II –requisitar informações, exames periciais e documentos de autoridades da Administração Pública direta ou indireta; III – requisitar da Administração Pública serviços temporários de seus servidores e meios materiais necessários pare a realização de atividades especificas; IV – requisitar informações e documentos a entidades privadas; V – realizar inspeções e diligências investigatórias; VI – ter livre acesso a qualquer local público ou privado, respeitadas as normas constitucionais pertinentes à inviolabilidade do domicilio; VlI - expedir notificações e intimações necessárias aos procedimentos e inquéritos que instaurar; VIII – ter acesso incondicional a qualquer banco de dados de caráter público ou relativo a serviço de relevância pública; IX – requisitar o auxílio de força policial" (BRASIL. Lei Complementar Federal nº 75/1993 – Lei Orgânica do Ministério Público da União. Disponível

em: <http://www.mp.sc.gov.br/portal/site/portal/portal_detalhe.asp?20secao_id=58>. Acesso em: 1º de abril de 2008) (grifou-se).

258 GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 2006, p. 115.

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103

respeito à oitiva das testemunhas, interrogatório do investigado e,

também, em caso de arquivamento do procedimento administrativo

investigatório.259

3.5.2 Requisição de instauração de inquéritos policiais e respectivas

diligências

Outro importante instrumento à disposição do Ministério

Público, para o efetivo exercício do controle externo da atividade policial, é o

direito de requisitar a instauração de inquéritos policiais, bem como a realização

de diligências a serem cumpridas pela autoridade policial, na apuração das

infrações penais.260

Os dispositivos legais estão inseridos no artigo 129, inciso

VIII261, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, no artigo 26,

inciso IV262, da Lei 8.625/1993 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público) e nos

259

GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo Ministério Público. 2006, p. 116.

260 Cf. GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 2006, p. 116.

261 “Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: [...] VIII - requisitar diligências

investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais” (BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,

Distrito Federal: Senado Federal. 1988).

262 “Art. 26. No exercício de suas funções, o Ministério Público poderá: [...] IV - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial e de inquérito policial militar, observado o disposto no art. 129, inciso VIII, da Constituição Federal, podendo acompanhá-los” (BRASIL. Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, Lei federal nº 8.625/1993. Disponível

em: <http://www.mp.sc.gov.br/portal/site/portal/portal_lista.asp?campo=1375> Acesso em: 27 fev. 2008).

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artigos 5°, inciso II263 e artigo 13, inciso II264, ambos do Código de Processo

Penal.265

Nas lições de Rodrigo Régnier Chemim Guimarães:

Nesta questão, é importante de novo ressaltar que o Ministério Pú-

blico, quando está requisitando providências da autoridade policial, o

está fazendo de maneira impositiva, isto é, não se trata de um

pedido, mas de verdadeira determinação. A autoridade policial deve,

necessariamente, cumprir a requisição, sob pena de incidir em crime

de prevaricação, a menos que a ordem seja manifestamente

ilegal.266

3.5.3 Livre ingresso nas Delegacias de Polícia e em qualquer recinto público

ou privado

No exercício do controle externo da atividade policial é

disposto ao Ministério Público o livre ingresso nas Delegacias de Polícia e em

qualquer recinto público ou privado, ressalvada a garantia constitucional de

inviolabilidade do domicílio, a teor do que prescreve o artigo 41, inciso VI, letras

"b" e "c"267, da Lei Orgânica Nacional do Ministério Público e no artigo 9°, inciso

I268, da Lei Orgânica do Ministério Público da União.269

263

“Art. 5º. Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado: [...] II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo” (BRASIL. Código de Processo Penal. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>.Acesso em: 1º de abr. 2008).

264 “Art. 13. Incumbirá ainda à autoridade policial: [...] II - realizar as diligências requisitadas pelo

juiz ou pelo Ministério Público” (BRASIL. Código de Processo Penal. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>.Acesso em: 1º de abr. 2008).

265 Cf. GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 2006, p. 116.

266 GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 2006, p. 116.

267 “Art. 41. Constituem prerrogativas dos membros do Ministério Público, no exercício de sua função, além de outras previstas na Lei Orgânica: [...] VI - ingressar e transitar livremente: [...] b) nas salas e dependências de audiências, secretarias, cartórios, tabelionatos, ofícios da justiça, inclusive dos registros públicos, delegacias de polícia e estabelecimento de internação coletiva; c) em qualquer recinto público ou privado, ressalvada a garantia constitucional de inviolabilidade de domicílio” (BRASIL. Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, Lei federal nº 8.625/1993.

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105

Assim, Rodrigo Régnier Chemim Guimarães comenta:

Esta prerrogativa é, de suma importância na efetivação do

exercício do controle externo da atividade policial, pois que não é

dado à autoridade policial impedir o acesso do membro do

Ministério Público ao interior das Delegacias de Polícia ou de

qualquer outro órgão a ela vinculado, como, por exemplo, o

Instituto Médico Legal ou o Instituto de Criminalística. Assim, o

Ministério Público tem condições de, em casos de denúncias de

abuso de poder da Polícia, ocorridos ou que estejam

ocorrendo no interior de estabelecimentos policiais, impedir

que o mesmo prossiga, identificar, in loco, os responsáveis e

tomar imediatamente as medidas cabíveis.270

3.5.4 Fiscalização de estabelecimentos prisionais

Ao Ministério Público está assegurado o direito de fiscalizar

os estabelecimentos prisionais, inclusive as cadeias públicas. Este instrumento

tem seu amparo legal no artigo 25, inciso VI271, da Lei n. 8.625/1993 (Lei Orgânica

Disponível em: <http://www.mp.sc.gov.br/portal/site/portal/portal_lista.asp?campo=1375> Acesso em: 27 fev. 2008).

268 “Art. 9º O Ministério Público da União exercerá o controle externo da atividade policial por meio

de medidas judiciais e extrajudiciais podendo: I - ter livre ingresso em estabelecimentos policiais ou prisionais” (BRASIL. Lei Complementar Federal nº 75/1993 – Lei Orgânica do Ministério Público da União. Disponível em:

<http://www.mp.sc.gov.br/portal/site/portal/portal_detalhe.asp?20secao_id=58>. Acesso em: 1º de abril de 2008).

269 Cf. GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 2006, p. 117.

270 GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Cad. Min. Pub. 1998, p. 46.

271 “Art. 25. Além das funções previstas nas Constituições Federal e Estadual, na Lei Orgânica e em outras leis, incumbe, ainda, ao Ministério Público: [...] VI - exercer a fiscalização dos estabelecimentos prisionais e dos que abriguem idosos, menores, incapazes ou pessoas portadoras de deficiência” (BRASIL. Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, Lei federal nº 8.625/1993. Disponível em:

<http://www.mp.sc.gov.br/portal/site/portal/portal_lista.asp?campo=1375> Acesso em: 27 fev. 2008).

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Nacional do Ministério Público), e no artigo 68, parágrafo único272, da Lei n.

7.210/1984 (Lei de Execuções Penais).273

Rodrigo Régnier Chemim Guimarães pontua que:

Ao possibilitar a visita a estabelecimentos prisionais pelo

Ministério Público, o legislador conferiu a essa Instituição um

poder-dever de zelar por aqueles que se encontram recolhidos à

prisão, fiscalizando o correto cumprimento da pena, além de

impedir que alguém venha a ser preso ilegalmente, e que abusos

possam ser cometidos contra os encarcerados. [...] Assim, a

qualquer instante está o membro do Ministério Público

autorizado a proceder vistorias nos estabelecimentos prisionais,

não podendo à autoridade policial impor condições (como, por

exemplo, incomunicabilidade do preso) ou fixar horários e limites

a essas visitações, a teor do artigo 41, IX, da Lei Orgânica

Nacional do Ministério Público.274

3.5.5 Acesso a quaisquer documentos relacionados com a atividade-fim

policial

Este direito encontra-se consubstanciado no artigo 9°, inciso

II275, da Lei Orgânica do Ministério Público da União (aplicada subsidiariamente

aos Ministérios Públicos Estaduais) e no artigo 41, VIII276, da Lei Orgânica

Nacional do Ministério Público.277

272

“Art. 68. Incumbe, ainda, ao Ministério Público: [...] Parágrafo único. O órgão do Ministério Público visitará mensalmente os estabelecimentos penais, registrando a sua presença em livro próprio”. (BRASIL. Lei de Execuções Penais. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>.

Acesso em: 1º de abr. 2008).

273 Cf. GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Cad. Min. Pub. 1998, p. 46.

274 GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Cad. Min. Pub. 1998, p. 46.

275 “Art. 9º O Ministério Público da União exercerá o controle externo da atividade policial por meio

de medidas judiciais e extrajudiciais podendo: [...] II - ter acesso a quaisquer documentos relativos à atividade-fim policial”. (BRASIL. Lei Complementar Federal nº 75/1993 – Lei Orgânica do Ministério Público da União. Disponível em:

<http://www.mp.sc.gov.br/portal/site/portal/portal_detalhe.asp?20secao_id=58>. Acesso em: 1º de abril de 2008).

276 “Art. 41. Constituem prerrogativas dos membros do Ministério Público, no exercício de sua função, além de outras previstas na Lei Orgânica: [...] VIII - examinar, em qualquer repartição policial, autos de flagrante ou inquérito, findos ou em andamento, ainda que conclusos à

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Sobre o tema, Rodrigo Régnier Chemim Guimarães salienta:

Entende-se por „documentos relativos à atividade-fim policial‟ todos

aqueles que se refiram a investigações de infrações penais, ainda

que possam se resumir a meros indícios ou boletins de ocorrência e

não tenham sido juntados aos autos de inquérito policial, bem como

aqueles referentes aos presos que, porventura, estejam custodiados

e sob guarda policial, além dos diversos livros de registro

obrigatórios em cada Delegacia de Polícia.278

3.5.6 Requisitar à autoridade competente a adoção de providências para

sanar a omissão indevida ou para prevenir ou corrigir ilegalidade ou abuso

de poder

Este dispositivo está transcrito no artigo 26, inciso III279, da

Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, e no artigo 9°, inciso III280, da Lei

Orgânica do Ministério Público da União.281

Rodrigo Régnier Chemim Guimarães ainda explica:

Ao constatar qualquer espécie de omissão, ilegalidade ou abuso de

poder por parte da Polícia, além de proceder à investigação criminal

autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos” (BRASIL. Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, Lei federal nº 8.625/1993. Disponível em:

<http://www.mp.sc.gov.br/portal/site/portal/portal_lista.asp?campo=1375> Acesso em: 27 fev. 2008).

277 Cf. GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Cad. Min. Pub. 1998, p. 46.

278 GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público. 2006, p. 118.

279 “Art. 26. No exercício de suas funções, o Ministério Público poderá: [...] III - requisitar à autoridade competente a instauração de sindicância ou procedimento administrativo cabível” (BRASIL. Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, Lei federal nº 8.625/1993. Disponível

em: <http://www.mp.sc.gov.br/portal/site/portal/portal_lista.asp?campo=1375> Acesso em: 27 fev. 2008).

280 “Art. 9º O Ministério Público da União exercerá o controle externo da atividade policial por meio

de medidas judiciais e extrajudiciais podendo: [...] III - representar à autoridade competente pela adoção de providências para sanar a omissão indevida, ou para prevenir ou corrigir ilegalidade ou abuso de poder” (BRASIL. Lei Complementar Federal nº 75/1993 – Lei Orgânica do Ministério Público da União. Disponível em:

<http://www.mp.sc.gov.br/portal/site/portal/portal_detalhe.asp?20secao_id=58>. Acesso em: 1º de abril de 2008).

281 Cf. GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Cad. Min. Pub. 1998, p. 46.

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108

pertinente, pode o Ministério Público requisitar à autoridade

competente - geralmente à Corregedoria da Polícia - a instauração

de procedimento administrativo, a fim de que sejam adotadas

medidas visando adequar e responsabilizar o infrator.282

3.5.7 Promoção de Ação Penal

Constatada uma infração penal praticada por autoridade

policial, além de requisitar a adoção de medidas no âmbito administrativo, deve o

Ministério Público, depois de realizada a investigação, e presentes os requisitos

essenciais a ação, promover a ação penal respectiva.283

Em relação à fundamentação legal, cabe destacar, além do

artigo 129, inciso I284, da atual Carta Magma, o artigo 9°, inciso V285, da Lei

Orgânica do Ministério Público da União.

3.5.8 Promoção de Ação Civil Pública

A propósito, Rodrigo Régnier Chemim Guimarães:

Outra providência que pode e, se for o caso, deve ser tomada pelo

Ministério Público, quando do exercício do controle externo da

atividade policial, é a adoção de medidas judiciais também no âmbito

cível, a exemplo do que já se disse quando da necessidade de

282

GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo Ministério Público. 2006, p. 120.

283 MARQUES, Carlos Alexandre. Controle externo da atividade policial: natureza e mecanismos

de exercício. Jus Navigandi. Teresina, ano 4, n. 44, ago. 2000. Disponível em:

<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1598>. Acesso em: 15 abr. 2008.

284 “Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: I - promover, privativamente, a ação

penal pública, na forma da lei [...]” (BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil.

Brasília, Distrito Federal: Senado Federal. 1988).

285 “Art. 9º O Ministério Público da União exercerá o controle externo da atividade policial por meio

de medidas judiciais e extrajudiciais podendo: [...] V - promover a ação penal por abuso de poder” (BRASIL. Lei Complementar Federal nº 75/1993 – Lei Orgânica do Ministério Público da União. Disponível em:

<http://www.mp.sc.gov.br/portal/site/portal/portal_detalhe.asp?20secao_id=58>. Acesso em: 1º de abril de 2008).

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109

instaurar ação penal pública, ingressando com ação civil pública

contra o agente policial ímprobo, valendo-se da Lei de Improbidade

Administrativa (Lei 8.429/92), que, além de ser mais ampla do que

os tipos penais existentes, prevendo casos de improbidade por

fatos e condutas não tipificadas criminalmente, possibilita a aplicação

de uma série de sanções civis e administrativas (e não penais, como

equivocadamente insistem alguns poucos), que podem resultar

desde a perda dos bens ilicitamente acrescidos ao património do

agente, como também aplicação de multa civil, ressarcimento do

dano causado, até a perda da função pública e suspensão dos

direitos políticos até oito anos, dentre outras.286

3.5.9 Ter ciência imediata da prisão de qualquer pessoa

Outro instrumento do Ministério Público, no exercício do

controle externo da atividade policial, vem descrito no artigo 10287, da Lei Orgânica

do Ministério Público da União, e consubstancia-se no dever imposto à autoridade

policial de comunicar, imediatamente, ao Ministério Público, a prisão de qualquer

pessoa, indicando o lugar onde se encontra preso e anexando cópias dos

documentos comprobatórios e justificadores dessa prisão.288

286

GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo Ministério Público. 2006, p. 121-122.

287 “Art. 10. A prisão de qualquer pessoa, por parte de autoridade federal ou do Distrito Federal e

Territórios, deverá ser comunicada imediatamente ao Ministério Público competente, com indicação do lugar onde se encontra o preso e cópia dos documentos comprobatórios da legalidade da prisão” (BRASIL. Lei Complementar Federal nº 75/1993 – Lei Orgânica do Ministério Público da União. Disponível em:

<http://www.mp.sc.gov.br/portal/site/portal/portal_detalhe.asp?20secao_id=58>. Acesso em: 1º de abril de 2008).

288 Cf. SILVA JR., Edison Miguel da. Controle Externo da Atividade Policial e Legislação

Vigente apud MARQUES, Carlos Alexandre. Controle externo da atividade policial: natureza e mecanismos de exercício. Jus Navigandi. Teresina, ano 4, n. 44, ago. 2000. Disponível em:

<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1598>. Acesso em: 15 abr. 2008.

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110

3.5.10 Impetração de habeas corpus

Por fim, com fulcro no artigo 5°, inciso LXVIII289, da

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, e artigo 32, inciso I290, da

Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, é autorizado ao Ministério Público

impetrar habeas corpus em favor de quem se encontre injustamente preso.

Assim, são estes os instrumentos de que dispõe o Ministério

Público, em nível nacional, para o exercício do controle externo da atividade

policial. Porém, ainda cabe lembrar que existem instrumentos disponíveis para o

Ministério Público com aplicabilidade regional na Lei Complementar n. 197/2000,

de 13 de julho de 2000 - Lei Orgânica do Ministério Público do Estado de Santa

Catarina, conforme transcrito no item 1.4.2 do primeiro capítulo.

É importante, também, ressaltar a lição de Valter Foleto

Santin:

O controle do Ministério Público pode ser exercido por verificação e

fiscalização das notícias-crimes, instrumentos de registro de

ocorrências, providências adotadas, andamento de investigações,

tramitação de inquéritos e procedimentos e cumprimento de

requisições do Ministério Público, que se inserem nas funções de

investigação e de cooperação com autoridades do Ministério Público

e judiciárias. As atividades de prevenção, repressão e que afetem ao

direito do cidadão de receber efetivamente os serviços de segurança

pública podem ser submetidas a controle externo do Ministério

Público. Também é possível o controle das atividades policiais por

289

“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] LXVIII - conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder” (BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Distrito Federal: Senado Federal. 1988).

290 “Art. 32. Além de outras funções cometidas nas Constituições Federal e Estadual, na Lei Orgânica e demais leis, compete aos Promotores de Justiça, dentro de suas esferas de atribuições: I - impetrar habeas-corpus e mandado de segurança e requerer correição parcial, inclusive perante os Tribunais locais competentes” (BRASIL. Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, Lei federal nº 8.625/1993. Disponível em:

<http://www.mp.sc.gov.br/portal/site/portal/portal_lista.asp?campo=1375> Acesso em: 27 fev. 2008).

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111

fiscalização da detenção de presos e execução de pena de

condenados.291

Diante do exposto, pode-se afirmar que o controle externo

da atividade policial é feito atualmente de forma principiante na maior parte do

país. Praticamente, restringe-se à fiscalização dos inquéritos policiais, durante a

sua tramitação, pelos pedidos de prazo e por requisições ou requerimentos de

diligências.292

3.6 LIMITES AO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA EXERCER O CONTROLE

EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL

Cabe informar que a fiscalização exercida pelo Ministério

Público sobre a Polícia não se confunde com subordinação hierárquica desta em

relação ao Parquet, pois representaria um descumprimento ao princípio da

separação dos poderes, tal como define o jurista Hugo Nigro Mazzilli:

Por certo não é intuito do legislador criar verdadeira hierarquia ou

disciplina administrativa, subordinando a autoridade policial aos

agentes do Ministério Público. Certamente, aludido controle

externo não importará poder disciplinar do Ministério Público sobre

a polícia.293

Para este autor, as faltas disciplinares não são abrangidas

pela fiscalização do Ministério Público, que as deverá informar aos superiores

hierárquicos do funcionário público faltoso, indicando as falhas e sugerindo as

providências que entender cabíveis.294

291

SANTIN, Valter Foleto. O Ministério Público na investigação criminal. 2001, p. 78.

292 Cf. SANTIN, Valter Foleto. O Ministério Público na investigação criminal. 2001, p. 79.

293 MAZZILLI, Hugo Nigro. Regime Jurídico do Ministério Público: análise da Lei Orgânica

Nacional do Ministério Público, aprovada pela Lei n. 8.625, de 12 de fevereiro de 1993. 1996, p. 246.

294 Cf. MAZZILLI, Hugo Nigro. Regime Jurídico do Ministério Público: análise da Lei Orgânica

Nacional do Ministério Público, aprovada pela Lei n. 8.625, de 12 de fevereiro de 1993. 1996, p. 247.

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112

No mesmo diapasão, manifesta-se Luiz Fabião Guasque:

O controle externo da atividade policial pelo Ministério Público não

significa ingerência que determine a subordinação da polícia

judiciária ao Parquet. Mas a prática de atos administrativos por

este, de forma a possibilitar a efetividade dos direitos

fundamentais da pessoa assegurados na Carta de 1988, conforme

o dever jurídico que lhe é imposto pelo art.127, caput, da lei

maior.295

Isso também é depreendido do narrado posicionamento de

Francisco Taumaturgo de Araújo Júnior:

Como expresso no ordenamento Constitucional, o Ministério

Público exercerá o controle externo da atividade policial e não dos

policiais, pois estes estão sujeitos a um controle interno,

desenvolvido pelos órgãos hierarquicamente superiores. Controla-

se, assim, a atividade-fim da polícia, onde há interesse do

Ministério Público.296

No entanto, pode-se afirmar que o alcance do controle

externo da atividade policial se encerra na fiscalização dos aspectos extrínsecos

de legalidade dos atos procedimentais exercidos pela Polícia. Ao realizar os atos

investigatórios em desacordo com as normas legais, a Polícia ficará sujeita às

providências do Ministério Público, que as tomará, não de modo auto-executório,

mas as requererá perante o órgão competente do Poder Judiciário.297

Em relação ao limite de abrangência da fiscalização do

Parquet sobre o trabalho policial, ainda convém mencionar que a legitimidade da

295

GUASQUE, Luiz Fabião. O Ministério Público e o controle externo da atividade policial. Revista do Ministério Público do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 1996, p. 141.

296 ARAÚJO JÚNIOR, Francisco Taumaturgo de. Controle Externo da Atividade Policial, o

outro lado da face. Disponível em <http://www.pgj.ce.gov.br/artigos/artigos.asp?iCodigo=34v>.

Acesso em: 16 de abril de 2008.

297 Cf. COSTA, José Armando da. Manual de polícia judiciária. Rio de Janeiro: Forense, 1999,

p.401.

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113

vigilância alcança tanto a atividade da Polícia Civil quanto Militar, sempre que

relacionadas ao exercício do múnus de Polícia Judiciária.298

3.7 OBSTÁCULOS ENFRENTADOS PELO MINISTÉRIO PÚBLICO NO

EXERCÍCIO DO CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL

Em que pese a existência de normas legais, que prevêem a

fiscalização externa da atividade policial pelo Ministério Público, os membros do

Parquet deparam-se com obstáculos que dificultam, sobremaneira, o exercício

desta função.

Dentre os principais desses problemas, destaca-se a

informalidade com que é tradicionalmente exercida a atividade policial,

especialmente no que tange ao processamento do inquérito e investigação, que

prejudica tanto o controle interno quanto o externo. A falta de normatização

específica, acerca da forma do procedimento administrativo destinado a

documentar a investigação, impede sua fiscalização, porquanto não há como se

vigiar aquilo que não é devidamente documentado, especialmente nos casos em

que o acompanhamento presencial é inviável.

Sobre o tema, opina Carlos Alberto Araújo:

É imprescindível para a institucionalização do serviço público

policial que a atividade de investigação seja formalizada em

certidões de diligências que retratem a investigação em seus

detalhes, a fim de que a memória da investigação seja da

instituição policial e não do agente ou autoridade policial.

Inquéritos policiais não podem brotar depoimentos, sem uma

semeadura clara, sem relatórios institucionais que permitam a

298

Cf. LOCATELLI, Paulo Antônio. O Ministério Público e o Controle Externo da Atividade Policial. Atuação – Revista Jurídica do Ministério Público Catarinense. 2003, p. 59.

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114

seqüência do trabalho por qualquer agente ou autoridade e,

ainda, os controles interno e externo.299

Ademais, a informalidade do trabalho policial facilita a

instalação da criminalidade no aparelho estatal ao possibilitar a desinformação, a

infidelidade dos dados e a manipulação administrativa no que tange à realização

ou não de determinada diligência ou investigação ou, pior ainda, “construção de

inquéritos eleitos ou privilegiados”.300

Carlos Alberto Araújo ainda assevera que:

A polícia, na sua atividade-fim, que é a produção de base para o

exercício da ação penal pelo Ministério Público, a completa

institucionalização do inquérito policial será reconhecida como

alicerce do respeito da sociedade, como instituição aberta, de

uma legalidade transparente, assim alcançando a justificação e a

confiança social.301

O mesmo problema é enfrentado no estado catarinense,

conforme noticia o Promotor de Justiça Paulo Antonio Locatelli:

Percebe-se que a falta de um controle administrativo interno mais

eficiente nas Delegacias de Polícia dificulta o conhecimento da

situação fática e o efetivo controle. Verifica-se que inexiste no

momento por parte da Secretaria de Estado de Segurança Pública

[...], como também pela Corregedoria e Chefia da Polícia Civil,

normatização determinando quais os registros que deverão existir

junto às Delegacias. [...] O regramento sem dúvida traria reflexo

na eficácia do Controle Externo da Atividade Policial pelo

Ministério Público Catarinense.302

299

ARAÚJO, Carlos Alberto. O Controle Externo da Atividade Policial. Atuação – Revista Jurídica do Ministério Público Catarinense. Florianópolis: Procuradoria Geral de Justiça e

Associação Catarinense do Ministério Público, v.3, n.6, 2003, p. 27.

300 ARAÚJO, Carlos Alberto. O Controle Externo da Atividade Policial. Atuação – Revista

Jurídica do Ministério Público Catarinense. 2003, p. 22.

301 ARAÚJO, Carlos Alberto. O Controle Externo da Atividade Policial. Atuação – Revista

Jurídica do Ministério Público Catarinense. 2003, p. 23.

302 LOCATELLI, Paulo Antônio. O Ministério Público e o Controle Externo da Atividade Policial.

Atuação – Revista Jurídica do Ministério Público Catarinense. 2003. p. 61.

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115

Outro aspecto polêmico em relação ao tema é a falta de

previsão de punição para o não-cumprimento das requisições ministeriais, quando

derivadas da sua atividade fiscalizatória. Ante a grande possibilidade de atingir a

completa ineficácia, se faz necessária a confecção de legislação “que confira ao

Ministério Público o poder de requisitar – conditio sine qua non – o saneamento

das ilegalidades e irregularidades da atividade policial de persecução penal” .303

Com o respectivo embasamento legal – necessário ante a

inexistência de sujeição hierárquica entre Ministério Público e a Polícia – deve ser

estabelecida uma relação jurídica interinstitucional, com a previsão de poderes e

deveres entre uma instituição controladora e uma instituição controlada,

atribuindo-se meios sólidos para o exercício da analisada função fiscalizatória.304

No Estado de Santa Catarina, grande parte das Promotorias

de Justiça ainda não tem atribuição para exercer o controle externo da atividade

policial. Porém, seria necessário, para o bom andamento, que este controle fosse

incluído dentre as atividades desenvolvidas. Esta inclusão se procederia por ato da

Administração Superior, atribuindo às Promotorias a função deste controle. Pode-se

citar, como exemplo, uma comarca com cinco Promotores de Justiça atuando na

área criminal, como júri, juizados especiais criminais e crimes comuns, todos de

forma concorrente e disjuntiva, estariam legitimados a exercer os atos de controle.305

Cabe mencionar os ensinamentos do Promotor de Justiça

Catarinense, Paulo Antonio Locatelli:

Para edificar-se de forma sólida e contundente, deve o solo a ser

construído o conceito da operacionalização do controle ser firme,

inatingível de sofrer erosão. Deve o Promotor atuante não ceder a

temeridade do confronto, pois o ódio irracional e a incompreensão

de certos segmentos policiais não deverão servir de empecilho e

deverão ser prontamente repelidos. Para isso, impõe-se uma

303

ARAÚJO, Carlos Alberto. O Controle Externo da Atividade Policial. Atuação – Revista Jurídica do Ministério Público Catarinense. 2003, p. 23.

304 ARAÚJO, Carlos Alberto. O Controle Externo da Atividade Policial. Atuação – Revista

Jurídica do Ministério Público Catarinense. 2003, p. 23.

305 Cf. LOCATELLI, Paulo Antônio. O Ministério Público e o Controle Externo da Atividade Policial.

Atuação – Revista Jurídica do Ministério Público Catarinense. 2003, p. 58.

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116

construção gradual, ininterrupta e duradoura do controle externo

da atividade policial. Superar obstáculos, dissipar preconceitos, inibir

a possível aversão causada pela função, além de incitar o

conhecimento interno da polícia também é prioritário. Nem sempre

o exercício do controle externo será compatível com a expectativa

advinda da consciência do Promotor de Justiça, gerada por sua

própria convicção e fomentada pela instituição. É preciso

compreender que o controle externo sofre limitações. A restrição

advém do inconformismo de quem é controlado, num histórico de

omissão do exercício dessa função principalmente pelo critério

estrutural e orçamentário. As corporações tendem a se unir,

impedindo a fiscalização e muitas vezes, infelizmente, agentes são

acobertados sob o manto das instituições, quando na realidade

deveriam ter sua postura corrigida.306

A propósito, o autor finaliza:

Conceber um Ministério Público ao mesmo tempo atuante,

sensível aos clamores sociais, eficaz no cumprimento do dever de

exercer o controle externo da atividade policial e compreensível

quanto às dificuldades enfrentadas pelas polícias, mas sobretudo,

firme e austero na rotina de zelar pela moralidade e legalidade dos

atos policiais, é o grande desafio que emerge da nossa rotina

diária e que precisamos enfrentá-lo com disposição e galhardia.

Cumpre informar que será colocado no Anexo 1, ata da 5ª

reunião da comissão de estudos do controle externo da atividade policial – Centro

de Apoio Operacional Criminal – Ministério Público – SC e no Anexo 2, Acórdãos

do Superior Tribunal de Justiça, ambos em caráter informativo e exemplificativo,

que tratam a respeito do tema ora desenvolvido.

Após a descrição e análise dos tópicos constantes neste

capítulo, passa-se, a seguir, às conclusões a que se chegou com o referido

estudo.

306

LOCATELLI, Paulo Antônio. O Ministério Público e o Controle Externo da Atividade Policial. Atuação – Revista Jurídica do Ministério Público Catarinense. 2003, p. 58-59.

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117

CONCLUSÃO

Com o intuito de promover uma reflexão e uma continuação

dos estudos a respeito do tema apresentado, cabe agora tecer algumas

considerações finais a respeito da função controladora do Ministério Público sobre

as atividades policiais, com a abordagem de sua legalidade, limitação e relevância

no Estado Democrático de Direito.

Atualmente, o Brasil vem se deparando com um aumento

assustador dos índices de abusos, arbitrariedades e, conseqüentemente, da

impunidade, conforme demonstrado pela mídia e demais meios de comunicação.

O excesso de trabalho e o escasso quadro funcional, de que dispõe a Polícia,

dificultam a realização adequada de sua atividade-fim, propiciando, assim, num

excessivo número de resultados insatisfatórios.

Ademais, pode-se afirmar que a instituição policial é

bastante suscetível à instalação da corrupção entre seus agentes, haja vista a

ampla liberdade com que exerce suas atividades, decorrente da ausência de

normatização que imponha uma forma específica para tanto.

Nesse contexto, a instituição do Ministério Público aparece

como um essencial instrumento de combate à ineficácia da atividade investigativa,

porquanto, com base no artigo 129, inciso VII, da Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988, lhe foi cometida a legitimidade para exercer o

controle externo da atividade policial.

Deste modo, ao fiscalizar a atividade policial, o membro do

Ministério Público age como verdadeiro ator do mecanismo de cheks and

balances, zelando pela garantia dos direitos fundamentais dos indivíduos e das

demais normas legais, ao passo que inicia o devido processo legal para a

responsabilização pelos eventuais abusos por ela praticados, coibindo assim, a

sua própria ocorrência.

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118

A atribuição de tal função ao Ministério Público se justifica

em virtude de inúmeras garantias a ele conferidas, tais como: vitaliciedade,

irredutibilidade de subsídio, inamovibilidade e independência funcional, todas

previstas nos artigos 127 e 128, §5º, inciso I, da atual Lex Magna. Portanto, a

Instituição Ministerial tem a imparcialidade necessária para o pleno desempenho

desta função fiscalizadora, motivo por que é, por excelência, o responsável pela

defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e

individuais indisponíveis.

Outro motivo que confere razoabilidade à referida

legitimação é a estreita ligação existente entre as funções do Ministério Público e

da Polícia Investigativa. A função primordial desta última é exatamente coletar e

apresentar ao Parquet, os elementos suficientes para embasar a eventual

propositura de ação penal pública, cuja titularidade é exclusiva do Ministério

Público.

Destarte, ao possibilitar a fiscalização do Parquet sobre as

atividades exercidas pelo autor das diligências investigativas, representa corolário

do sistema acusatório adotado pela Constituição da República Federativa do

Brasil de 1988, haja vista o resultado das pesquisas se destinar a formar a opinio

delicti do Promotor de Justiça. Por certo, não seria coerente que o titular exclusivo

da ação penal pública, que se utiliza das provas coletadas no curso do inquérito,

fosse impossibilitado de verificar a lisura com que foram praticados os atos da

persecução penal em sua fase inicial.

Relativamente à aplicabilidade dos dispositivos legais que

prevêem a fiscalização da atividade policial pelo Ministério Público, foi observado

que ainda há um longo caminho para a sua efetiva implementação.

Dentre os obstáculos enfrentados, ficou claro que um dos

mais significativos na atualidade é a informalidade com que é tradicionalmente

conduzido o inquérito policial. A inexistência de previsão da obrigatoriedade, para

a manutenção de registros precisos das diligências realizadas pela autoridade

policial, bem como dos eventos criminosos de que toma conhecimento, por

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119

exemplo, tornam praticamente impossível que seja controlada sua legalidade,

assim como dos atos que lhes sejam decorrentes.

De nada adianta atribuir ao Ministério Público função de

tamanha responsabilidade, se não há um contexto que colabore com esta

perspectiva.

O aumento assustador da violência, decorrente do avanço

da criminalidade, hoje assistido por uma sociedade brasileira indefesa, precisa de

um Ministério Público mais atuante no campo penal, que acompanhe o momento

da coleta dos indícios probatórios do crime e assegure, com brilhantismo, o seu

papel de dominus litis.

Em conclusão, tem-se que a fiscalização externa da

atividade policial é imprescindível para garantir um policiamento eficiente,

evitando, o crescimento da violência policial, que vem preocupando, cada vez

mais, os cidadãos, os próprios policiais, os governantes, os jornalistas e os

cientistas sociais. Isto ocorre, em razão de ser ela praticada por agentes do

Estado, que têm a obrigação constitucional de garantir a segurança pública, a

quem a sociedade confia a responsabilidade do controle da violência. Assim,

estabelecida a discricionariedade pertencente à função policial, o controle do

policial no seu trabalho diário torna-se um desafio para todas as instituições

policiais do mundo, ainda mais em função da tendência crescente à

descentralização.

Portanto, fica evidente a necessidade de se criar uma

legislação que, além de exemplificar os meios para que se pratique a vigilância,

preocupe-se em preparar a fundação das bases, e, verdadeiramente, permitir que

se cumpra o disposto na atual Constituição da República Federativa do Brasil.

Muito há para ser feito até que se mostrem claros e induvidosos os limites do

controle externo da atividade policial pelo Ministério Público. Vale aqui salientar

que o exercício dessa função constitucional não significa a supressão dos

organismos policiais, nem a sua subserviência hierárquica. O quadro normativo

brasileiro não permite e não aponta para isso. Ao invés, o aludido controle deve

ser lido e compreendido como controle externo da atividade-fim policial, mas que

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120

deve ser feito nessa seara com toda a firmeza e rigor, buscando maior interação e

eficiência dos órgãos encarregados da segurança social, porém, sem jamais

corroborar atitudes ilegais ou de violência em desfavor do indivíduo ou da

comunidade.

Diante do exposto, é possível se afirmar, então, que tanto o

objetivo geral quanto os objetivos específicos foram alcançados, acreditando-se

que o trabalho venha a servir de importante instrumento para que os organismos

jurídicos e governamentais continuem implementando ações que objetivem ao

cumprimento da função controladora do Ministério Público sobre as atividades

policiais, com a abordagem de sua legalidade, limitação e relevância no Estado

Democrático de Direito.

Ao concluir esta etapa final do trabalho, enfatiza-se que a

experiência adquirida por meio de leituras, aplicação dos instrumentos escolhidos

e da análise do conteúdo, proporcionou um grande desafio ao graduando, que

poderá produzir bons frutos àqueles que se propuserem a dar continuidade a uma

pesquisa com o referencial teórico e os instrumentos aqui utilizados.

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ANEXOS

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ANEXO 1 – ATA DA 5ª REUNIÃO DA COMISSÃO DE ESTUDOS DO

CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL – CENTRO DE APOIO

OPERACIONAL CRIMINAL – MINISTÉRIO PÚBLICO - SC

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ANEXO 2 – ACÓRDÃOS