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O mundo no mundo encantado de Akili Verônica Bonfim

O mundo encantado de Akili

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Page 1: O mundo encantado de Akili

O mundo nomundoencantadode Akili

Verônica Bonfim

Page 2: O mundo encantado de Akili

O mundo nomundoencantadode AkiliVerônica Bonfim

Page 3: O mundo encantado de Akili

O mundo nomundoencantadode AkiliVerônica Bonfim

Page 4: O mundo encantado de Akili

Um dia, não muito distante e num mundo bem pertinho

de nós, uma linda menina nascia. Tinha a pele tão

negra como a noite e brilhava como as estrelas. Foi um

dia de muita festa no Reino de Íretí, na pequena aldeia

Adimó, localizada no lado esquerdo do corpo mundo,

bem onde pulsa o coração da humanidade. Ali, onde

tudo começou: África!

Sua mãe Omi e seu pai Òrun fizeram três dias de festa e

todos na aldeia pintaram seus corpos, acenderam

fogueira e dançaram por três dias para saudar a sua

chegada.

No sétimo dia, seu pai levou a pequena menina para

Tempo benzê-la e levantando-a aos céus, numa linda

noite de luar, pediu que o senhor da vida e tudo o que

há, a abençoasse. A pequena menina, elevada ao alto

sorriu para aquele que reconhecia como pai pela

primeira vez, abriu os braços e com as pequenas

mãozinhas no rosto de Òrun balbuciou o que o vento

lhe trouxe.

Seu pai, muito emocionado e atento agradeceu Tempo,

abraçou sua filha com o maior amor que nem mesmo

ele sabia existir e saiu com ela no ombro gritando pela

aldeia:

— Akili! Ela se chama Akili.

Mais uma princesa nascia naquele pequeno lugarejo, do outro

lado do Oceano Atlântico onde todo mundo é Rei e Rainha, onde

tudo e toda gente é colorida, tudo é dança, música e festa.

Akili e seus irmãos brincavam muito, mas também ajudavam na

casa, pescavam, caçavam o necessário para a sobrevivência da

família e levavam água e mantimentos para os mais idosos, como

toda criança da aldeia.

Em troca, os idosos Vó Binda e Vô Dito, como eram chamados,

ensinavam sobre as histórias,

lendas e costumes

dos seus povos e lugar.

Com eles, as crianças

também aprendiam

a ler e escrever,

pois os Vôs e Vós

tudo sabiam daquele

e de outros mundos,

mas às crianças,

só era permitido contar e

mostrar o que era das crianças.

.

E

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k

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A

Ac

ah

am—

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Page 5: O mundo encantado de Akili

Um dia, não muito distante e num mundo bem pertinho

de nós, uma linda menina nascia. Tinha a pele tão

negra como a noite e brilhava como as estrelas. Foi um

dia de muita festa no Reino de Íretí, na pequena aldeia

Adimó, localizada no lado esquerdo do corpo mundo,

bem onde pulsa o coração da humanidade. Ali, onde

tudo começou: África!

Sua mãe Omi e seu pai Òrun fizeram três dias de festa e

todos na aldeia pintaram seus corpos, acenderam

fogueira e dançaram por três dias para saudar a sua

chegada.

No sétimo dia, seu pai levou a pequena menina para

Tempo benzê-la e levantando-a aos céus, numa linda

noite de luar, pediu que o senhor da vida e tudo o que

há, a abençoasse. A pequena menina, elevada ao alto

sorriu para aquele que reconhecia como pai pela

primeira vez, abriu os braços e com as pequenas

mãozinhas no rosto de Òrun balbuciou o que o vento

lhe trouxe.

Seu pai, muito emocionado e atento agradeceu Tempo,

abraçou sua filha com o maior amor que nem mesmo

ele sabia existir e saiu com ela no ombro gritando pela

aldeia:

— Akili! Ela se chama Akili.

Mais uma princesa nascia naquele pequeno lugarejo, do outro

lado do Oceano Atlântico onde todo mundo é Rei e Rainha, onde

tudo e toda gente é colorida, tudo é dança, música e festa.

Akili e seus irmãos brincavam muito, mas também ajudavam na

casa, pescavam, caçavam o necessário para a sobrevivência da

família e levavam água e mantimentos para os mais idosos, como

toda criança da aldeia.

Em troca, os idosos Vó Binda e Vô Dito, como eram chamados,

ensinavam sobre as histórias,

lendas e costumes

dos seus povos e lugar.

Com eles, as crianças

também aprendiam

a ler e escrever,

pois os Vôs e Vós

tudo sabiam daquele

e de outros mundos,

mas às crianças,

só era permitido contar e

mostrar o que era das crianças.

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O

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Num lindo dia de sol Alamoju, irmão mais velho de Akili

fez um tambor e deu de presente para ela pelos seus cinco

anos. O tambor falante, assim como todo tambor da aldeia,

cantava e alegrava os dias e as noites. Mesmo em dias de

morte de alguém toda a aldeia cantava para espantar os

maus espíritos e festejar os dias em que aquela pessoa

passou entre eles.

O tambor falante de Akili chamava-se Alafiá.

Ela lhe deu este nome por que ele era colorido e toda vez

que ele tocava ela dançava e toda a família, aldeia, vovós e

vovôs dançavam também.

Quando Akili fazia malcriação com os pais, irmãos ou

vovôs, Tempo a chamava e pedia que ela pensasse sobre o

que fez, o que ela obedecia prontamente.

Sentava num cantinho do quarto, se escondia dentro do

tambor e só saía depois que não tinha medo ou vergonha e

estivesse pronta para abraçar a quem magoou.

Num dia desses de pensar sobre a malcriação, ela se escondeu

dentro de Alafiá que rufou muito alto. Ela lhe perguntou:

— O que foi Alafiá, você soltou pum-pum?

Ele respondeu de forma doce:

— Claro que não pequena princesa, foi um ronco. Desde o seu

nascimento, faz cinco anos que toco sem parar e agora chegou a

hora de descansar um pouco.

E dormiu por três noites seguidas.

Alafiá parecia adivinhar que

viajaria por noites e noites,

luas e luas a fio,

rumo ao outro lado

do Atlântico.

Page 7: O mundo encantado de Akili

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Num lindo dia de sol Alamoju, irmão mais velho de Akili

fez um tambor e deu de presente para ela pelos seus cinco

anos. O tambor falante, assim como todo tambor da aldeia,

cantava e alegrava os dias e as noites. Mesmo em dias de

morte de alguém toda a aldeia cantava para espantar os

maus espíritos e festejar os dias em que aquela pessoa

passou entre eles.

O tambor falante de Akili chamava-se Alafiá.

Ela lhe deu este nome por que ele era colorido e toda vez

que ele tocava ela dançava e toda a família, aldeia, vovós e

vovôs dançavam também.

Quando Akili fazia malcriação com os pais, irmãos ou

vovôs, Tempo a chamava e pedia que ela pensasse sobre o

que fez, o que ela obedecia prontamente.

Sentava num cantinho do quarto, se escondia dentro do

tambor e só saía depois que não tinha medo ou vergonha e

estivesse pronta para abraçar a quem magoou.

Num dia desses de pensar sobre a malcriação, ela se escondeu

dentro de Alafiá que rufou muito alto. Ela lhe perguntou:

— O que foi Alafiá, você soltou pum-pum?

Ele respondeu de forma doce:

— Claro que não pequena princesa, foi um ronco. Desde o seu

nascimento, faz cinco anos que toco sem parar e agora chegou a

hora de descansar um pouco.

E dormiu por três noites seguidas.

Alafiá parecia adivinhar que

viajaria por noites e noites,

luas e luas a fio,

rumo ao outro lado

do Atlântico.

Page 8: O mundo encantado de Akili

II

Akili ficou olhando para o seu amigo com olhos

curiosos, desconfiados e atentos por um longo

período, mas não havia entendido nada e continuava

achando que o ronco estrondoso foi realmente um

pum.

Após a terceira noite, Alafiá acordou num susto só! A

Senhora dos Ventos e o Deus Trovão, de mãos dadas

ventavam sobre toda a aldeia, bradavam muito alto

para que naquela noite ninguém saísse de suas casas.

Tempo, pediu que todas as famílias se recolhessem

mais cedo, pois algo de muito ruim se aproximava,

mas nem ele, o Senhor da vida, poderia impedir ou

revelar.

As famílias obedeceram e Vó Binda pôs-se a contar

histórias para distrair as crianças que, inquietas,

corriam, pulavam e brincavam de esconder embaixo

das saias das mulheres elegantes da aldeia e também

entre as pernas magras e longas dos homens elegantes

da aldeia.

A menina Akili, agora com oito anos, já entendia tudo

do mundo dos adultos.

Bom, pelo menos achava.

Vó Binda e Vô Dito não cansavam de dizer:

— Menina Akili, não se esqueça de que ser criança é

uma bênção divina!

A menina de olhos pretos e brilhantes como

jabuticabas, coçava a cabeça e pensava:

— Sei, mas... Do que eles estão falando mesmo?

Acho que vovó está maluca.

E corria pelo quintal e ria, ria e ria...

Era a bênção de que nossos ancestrais estavam falando:

ser criança, onde só a brincadeira e o riso importavam.

Naquele dia lindo de sol, Alafiá e todos os tambores da aldeia

começaram a rufar uma música de alerta.

Neste dia, ninguém se pôs a dançar como de costume e o

céu escureceu mais cedo que o normal.

Como já sabiam o que fazer todos se recolheram às suas

casas e as crianças puseram-se a correr para a casa de

Vó Binda para ouvir mais uma de suas histórias sobre

sua gente, sua dança,

suas comidas

e suas crenças.

Neste dia, só neste dia,

Vó Binda não contaria

mais uma daquelas

histórias lindas

que toda

criança da aldeia

adorava.

Page 9: O mundo encantado de Akili

II

Akili ficou olhando para o seu amigo com olhos

curiosos, desconfiados e atentos por um longo

período, mas não havia entendido nada e continuava

achando que o ronco estrondoso foi realmente um

pum.

Após a terceira noite, Alafiá acordou num susto só! A

Senhora dos Ventos e o Deus Trovão, de mãos dadas

ventavam sobre toda a aldeia, bradavam muito alto

para que naquela noite ninguém saísse de suas casas.

Tempo, pediu que todas as famílias se recolhessem

mais cedo, pois algo de muito ruim se aproximava,

mas nem ele, o Senhor da vida, poderia impedir ou

revelar.

As famílias obedeceram e Vó Binda pôs-se a contar

histórias para distrair as crianças que, inquietas,

corriam, pulavam e brincavam de esconder embaixo

das saias das mulheres elegantes da aldeia e também

entre as pernas magras e longas dos homens elegantes

da aldeia.

A menina Akili, agora com oito anos, já entendia tudo

do mundo dos adultos.

Bom, pelo menos achava.

Vó Binda e Vô Dito não cansavam de dizer:

— Menina Akili, não se esqueça de que ser criança é

uma bênção divina!

A menina de olhos pretos e brilhantes como

jabuticabas, coçava a cabeça e pensava:

— Sei, mas... Do que eles estão falando mesmo?

Acho que vovó está maluca.

E corria pelo quintal e ria, ria e ria...

Era a bênção de que nossos ancestrais estavam falando:

ser criança, onde só a brincadeira e o riso importavam.

Naquele dia lindo de sol, Alafiá e todos os tambores da aldeia

começaram a rufar uma música de alerta.

Neste dia, ninguém se pôs a dançar como de costume e o

céu escureceu mais cedo que o normal.

Como já sabiam o que fazer todos se recolheram às suas

casas e as crianças puseram-se a correr para a casa de

Vó Binda para ouvir mais uma de suas histórias sobre

sua gente, sua dança,

suas comidas

e suas crenças.

Neste dia, só neste dia,

Vó Binda não contaria

mais uma daquelas

histórias lindas

que toda

criança da aldeia

adorava.

Page 10: O mundo encantado de Akili

Vó Binda e Vô Dito anunciaram para toda a

aldeia:

— O grande barco chegou! Como já haviam nos

avisado a Senhora dos Ventos e o Deus Trovão,

este dia chegou! Diferente da Arca de Noé, esse

grande barco não levará a todos juntos e nem

veio para nos salvar do dilúvio, pois como o

Senhor da Vida nos ensina, o dilúvio não existe.

O dilúvio somos nós quando nos deixamos

inundar e aos nossos corações, com sentimentos

que não são bons e nem edificantes.

A menina Akili de um salto só levantou-se e

perguntou:

— Vô, o que é edificante?

Como de costume Vô Dito sorriu como quem a

carrega no colo e respondeu:

— É algo que nos serve de exemplo, que é

construtivo e grandioso. Como você e toda

criança que está aqui e no mundo, pequena Akili.

Nesse momento os pais de Akili a chamaram em

casa, pediram para que ela ficasse quietinha

dentro de Alafiá. O tambor falante iria protegê-la,

pois partiriam em poucas horas numa viagem

sem destino e sem volta por luas e luas.

III A menina Akili para quem, mesmo fingindo adulta tudo não

passava de brincadeira em seu mundo de criança, obedeceu e

ali, no colo de Alafiá, adormeceu por muitas luas até o

tambor falante tocar novamente, mas ela achou tudo

estranho, pois ninguém dançou, o céu não coloriu e...

— Espera um pouco! Onde está todo mundo? Cadê meus pais

e meus irmãos? Onde estão meus vovôs e amigos?!!!

Pela primeira vez em dez anos a menina Akili que nunca

chorou, nem de tanto rir, derramou lágrimas que encheria

um rio inteiro e pediu à Senhora das Águas, que neste

momento surgiu à sua frente, para que a levasse de volta à

sua aldeia:

Page 11: O mundo encantado de Akili

Vó Binda e Vô Dito anunciaram para toda a

aldeia:

— O grande barco chegou! Como já haviam nos

avisado a Senhora dos Ventos e o Deus Trovão,

este dia chegou! Diferente da Arca de Noé, esse

grande barco não levará a todos juntos e nem

veio para nos salvar do dilúvio, pois como o

Senhor da Vida nos ensina, o dilúvio não existe.

O dilúvio somos nós quando nos deixamos

inundar e aos nossos corações, com sentimentos

que não são bons e nem edificantes.

A menina Akili de um salto só levantou-se e

perguntou:

— Vô, o que é edificante?

Como de costume Vô Dito sorriu como quem a

carrega no colo e respondeu:

— É algo que nos serve de exemplo, que é

construtivo e grandioso. Como você e toda

criança que está aqui e no mundo, pequena Akili.

Nesse momento os pais de Akili a chamaram em

casa, pediram para que ela ficasse quietinha

dentro de Alafiá. O tambor falante iria protegê-la,

pois partiriam em poucas horas numa viagem

sem destino e sem volta por luas e luas.

III A menina Akili para quem, mesmo fingindo adulta tudo não

passava de brincadeira em seu mundo de criança, obedeceu e

ali, no colo de Alafiá, adormeceu por muitas luas até o

tambor falante tocar novamente, mas ela achou tudo

estranho, pois ninguém dançou, o céu não coloriu e...

— Espera um pouco! Onde está todo mundo? Cadê meus pais

e meus irmãos? Onde estão meus vovôs e amigos?!!!

Pela primeira vez em dez anos a menina Akili que nunca

chorou, nem de tanto rir, derramou lágrimas que encheria

um rio inteiro e pediu à Senhora das Águas, que neste

momento surgiu à sua frente, para que a levasse de volta à

sua aldeia:

Page 12: O mundo encantado de Akili

— Senhora da Águas, peço

sua bênção e proteção e

peço que me ajude a

encontrar minha família e

voltar para minha aldeia,

por favor!

A Senhora das Águas

curvou-se, a pegou no

colo, enxugou suas

lágrimas, acariciou os seus

cabelos e disse:

— Pequena princesa Akili, não chore, não tenha medo. Você precisa ser

forte para enfrentar as dificuldades quando estas surgirem e elas vão

surgir. Precisa ter um abraço grande para caber todos os que

precisarem de um carinho e de amor. Precisa olhar o mundo além do

seu, veja: Existem outros lugares onde nem tudo é amor, nem todo

mundo é Rei e Rainha, nem todas as crianças são felizes. Um mundo

onde o grande barco os levaria.

E a Senhora das Águas em seu espelho cristalino revelou quase tudo

aos olhos curiosos e assustados da pequena Akili que agora, tinha uma

missão: fazer o planeta caber dentro da sua aldeia, onde tudo é

colorido, todos são Reis e Rainhas e tudo é festa!

— Mas... Como vou conseguir isso?

Pensou a menina. Olhou com olhos suplicantes para a Senhora das

Águas que nada lhe respondeu e...

— Já sei!!! Se eu não posso trazer todo o planeta para dentro da minha

aldeia, então vou levá-la para o mundo. Vou ser escritora! Vou ensinar

a todas as crianças tudo o que Vó Binda e Vô Dito nos ensinaram, vou

contar como nossa gente vive e vou viajar pelo mundo com Alafiá,

colorindo cada canto do planeta toda vez que ele rufar e vou...

— Hahahaha!!!

A pequena Akili, rindo muito das cócegas que seu tambor

falante lhe fazia, pergunta num susto:

— Ué, eu acho que dormi um sono muito profundo Alafiá, você viu?

Parecia que eu estava em outro lugar, mas não lembro bem

aonde e nem como era. Estranho, muito estranho...

Você também dormiu Alafiá?

— Não pequena Akili, eu não dormi.

Respondeu Alafiá e piscou um olho para a Senhora das Águas

que, nesse momento, se esvaía num rio cristalino e largo,

cercado de flores brancas e amarelas que dançavam junto

à correnteza, desembocando no grande mar sagrado e

levando consigo as sombras e o grande barco para

bem longe do Reino de Adimó.

A pequena Akili de imediato:

— Então você soltou pum-pum, pois se não dormiu

por que roncou?!

Alafiá pegou a pequena menina, colocou-a sobre os ombros e

saíram gargalhando e rufando,

colorindo e alegrando toda

a aldeia que naquele momento

voltava aos poucos à sua

rotina e já sabia que tinha

uma pequena rainha,

uma griot, contadora de história,

disposta a alegrar o mundo e

fazer dele uma aldeia linda,

colorida e farta para

toda gente, planta, rio, mar,

terra ou bicho

que nele habitar.

Page 13: O mundo encantado de Akili

— Senhora da Águas, peço

sua bênção e proteção e

peço que me ajude a

encontrar minha família e

voltar para minha aldeia,

por favor!

A Senhora das Águas

curvou-se, a pegou no

colo, enxugou suas

lágrimas, acariciou os seus

cabelos e disse:

— Pequena princesa Akili, não chore, não tenha medo. Você precisa ser

forte para enfrentar as dificuldades quando estas surgirem e elas vão

surgir. Precisa ter um abraço grande para caber todos os que

precisarem de um carinho e de amor. Precisa olhar o mundo além do

seu, veja: Existem outros lugares onde nem tudo é amor, nem todo

mundo é Rei e Rainha, nem todas as crianças são felizes. Um mundo

onde o grande barco os levaria.

E a Senhora das Águas em seu espelho cristalino revelou quase tudo

aos olhos curiosos e assustados da pequena Akili que agora, tinha uma

missão: fazer o planeta caber dentro da sua aldeia, onde tudo é

colorido, todos são Reis e Rainhas e tudo é festa!

— Mas... Como vou conseguir isso?

Pensou a menina. Olhou com olhos suplicantes para a Senhora das

Águas que nada lhe respondeu e...

— Já sei!!! Se eu não posso trazer todo o planeta para dentro da minha

aldeia, então vou levá-la para o mundo. Vou ser escritora! Vou ensinar

a todas as crianças tudo o que Vó Binda e Vô Dito nos ensinaram, vou

contar como nossa gente vive e vou viajar pelo mundo com Alafiá,

colorindo cada canto do planeta toda vez que ele rufar e vou...

— Hahahaha!!!

A pequena Akili, rindo muito das cócegas que seu tambor

falante lhe fazia, pergunta num susto:

— Ué, eu acho que dormi um sono muito profundo Alafiá, você viu?

Parecia que eu estava em outro lugar, mas não lembro bem

aonde e nem como era. Estranho, muito estranho...

Você também dormiu Alafiá?

— Não pequena Akili, eu não dormi.

Respondeu Alafiá e piscou um olho para a Senhora das Águas

que, nesse momento, se esvaía num rio cristalino e largo,

cercado de flores brancas e amarelas que dançavam junto

à correnteza, desembocando no grande mar sagrado e

levando consigo as sombras e o grande barco para

bem longe do Reino de Adimó.

A pequena Akili de imediato:

— Então você soltou pum-pum, pois se não dormiu

por que roncou?!

Alafiá pegou a pequena menina, colocou-a sobre os ombros e

saíram gargalhando e rufando,

colorindo e alegrando toda

a aldeia que naquele momento

voltava aos poucos à sua

rotina e já sabia que tinha

uma pequena rainha,

uma griot, contadora de história,

disposta a alegrar o mundo e

fazer dele uma aldeia linda,

colorida e farta para

toda gente, planta, rio, mar,

terra ou bicho

que nele habitar.

Page 14: O mundo encantado de Akili

alegrar o mundo

e fazer dele

uma aldeia linda,

colorida e farta

para toda gente,

planta, rio, mar,

terra ou bicho

que nele habitar

Page 15: O mundo encantado de Akili

alegrar o mundo

e fazer dele

uma aldeia linda,

colorida e farta

para toda gente,

planta, rio, mar,

terra ou bicho

que nele habitar

Page 16: O mundo encantado de Akili

A pequena Akili

acaricia Alafiá,

seu eterno amigo e fiel

escudeiro e agradece ao Senhor da Vida e de

tudo o que há, por saber da bênção que é ser

criança.

— É... Vovó não estava maluca. É muito bom

ser criança!!!

Tempo sorri com a grandiosidade do gesto da

menina e Alafiá o reverencia e lhe pede

baixinho, quase em pensamento para que a

menina não ouça:

— Senhor, dá-lhe olhos de criança, mesmo

quando ela não couber mais no meu colo,

mesmo quando eu já estiver tão velhinho que

não puder mais rufar ou carregá-la em meus

ombros, mesmo quando eu já tiver partido,

cumprido meu destino e não estiver aqui para

ser testemunha das coisas lindas que ela vai

criar ou dos filhos que ela vai ter ou da aldeia

que ela vai levar consigo, colorindo todo o

planeta.

Senhor, dá-lhe olhos de criança para o

segredo não quebrar.

IIV

oc n tu ao erv vic v o etm neo g an sos

— Alafiá, agora além de você soltar

pum-pum dizendo que foi um ronco,

ainda fala sozinho? Eu hein!

E riram muito por luas, luas e luas...

Page 17: O mundo encantado de Akili

A pequena Akili

acaricia Alafiá,

seu eterno amigo e fiel

escudeiro e agradece ao Senhor da Vida e de

tudo o que há, por saber da bênção que é ser

criança.

— É... Vovó não estava maluca. É muito bom

ser criança!!!

Tempo sorri com a grandiosidade do gesto da

menina e Alafiá o reverencia e lhe pede

baixinho, quase em pensamento para que a

menina não ouça:

— Senhor, dá-lhe olhos de criança, mesmo

quando ela não couber mais no meu colo,

mesmo quando eu já estiver tão velhinho que

não puder mais rufar ou carregá-la em meus

ombros, mesmo quando eu já tiver partido,

cumprido meu destino e não estiver aqui para

ser testemunha das coisas lindas que ela vai

criar ou dos filhos que ela vai ter ou da aldeia

que ela vai levar consigo, colorindo todo o

planeta.

Senhor, dá-lhe olhos de criança para o

segredo não quebrar.

IIV

oc n tu ao erv vic v o etm neo g an sos

— Alafiá, agora além de você soltar

pum-pum dizendo que foi um ronco,

ainda fala sozinho? Eu hein!

E riram muito por luas, luas e luas...

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O Mundo no Mundo Encantado de Akili - Verônica BonfimDesign Gráfico - Rita Márcia CostaIlustrações - Luciano Luppi