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ISCTE LICENCIATURA EM ANTROPOLOGIA MUSEOLOGIA ETNOGRÁFICA SENTIR O MUSEU MESTRE MARTINS CORREIA ENSAIO FINAL ANA CANHOTO N.º 27685 TURMA AB2 Figura 1. Escultura em bronze sobre o campo e o mar, no exterior do edifício Equuspolis.

O Museu Martins Correia in MUSEOLOGIA ETN

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Um trabalho sobre um museu da terra dos meus pais e com o qual tenho alguma relação de familiaridade.

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Page 1: O Museu Martins Correia in MUSEOLOGIA ETN

ISCTE

LICENCIATURA EM ANTROPOLOGIA

MUSEOLOGIA ETNOGRÁFICA

SENTIR O MUSEU MESTRE MARTINS CORREIA

ENSAIO FINAL

ANA CANHOTO

N.º 27685

TURMA AB2

Figura 1. Escultura em bronze sobre o campo e o mar, no exterior do edifício Equuspolis.

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«Já reparaste – os museus em todo o mundo são expoentes para a formação superior de todas as pessoas – pelos museus as pessoas adquirem conhecimentos de entusiasmo para com todas as actividades vivas ...» (Martins Correia in Maltez, 2003: 9)

Introdução

O Museu Municipal Martins Correia, tal como está declarado na sua denominação, trata-se de

um museu da responsabilidade do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal da Golegã.

Em 1982, aquando da implantação da estátua A Camponesa, no Palácio do Pelourinho, em

frente à antiga Cadeia, foi inaugurado o Museu Municipal Martins Correia, no espaço da

cadeia. Neste, o Mestre Martins Correia executou algumas das obras num atelier e as expôs.

Em 1984 doou o seu espólio ao Município e, em 2002, três anos após a sua morte, dada a

degradação deste edifício com mais de 600 anos, foi opção do Presidente da Câmara

Municipal da Golegã Dr. José Veiga Maltez planear a sua mudança para um espaço próprio –

o Equuspolis. Publicado online, em 1 de Maio de 2003, no Jornal o Mirante pode-se ler:

«Instalado desde 1982 num edifício seiscentista (que foi cadeia e posto de telégrafo e postal),

que há uns anos sofreu algumas obras, sobretudo ao nível da cobertura, o museu apresenta

problemas que, segundo Veiga Maltez, são de difícil resolução.» (Bastos, 2003). À Lusa

afirmou a filha do Mestre, Elsa Martins Correia Ribeiro, compreender as razões pelas quais a

autarquia decidiu a mudança do espólio. Muito embora tivesse sido vontade de seu pai manter

as cinzas ao pé das suas obras, seria uma perca maior a degradação de cerca de 600 peças

(Bastos, 2003).

Um percurso de vida

Joaquim Martins Correia nasceu na Rua da Oliveira, na Golegã, a 7 de Dezembro de 1910. De

origens camponesas, os seus pais faleceram da chamada “pneumónica”. Órfão desde muito

cedo afastou-se da sua terra natal e, em Novembro de 1922 entrou para a Casa Pia de Lisboa.

Nesta completou o curso industrial e foi-lhe atribuída uma bolsa de estudo para cursar na

Escola de Belas Artes de Lisboa. Ingressou no curso de desenho desta Escola em 1928,

contudo diplomou-se em escultura.

Muito embora a primeira exposição tenha ocorrido em 1938, a sua obra adquiriu grande

relevo quando, em 1940, expõe na Missão Estética de Viana do Castelo a sua obra O

Cruzeiro do Minho. O seu sucesso foi retratado na primeira página do jornal O Século. A

partir dessa data realizou várias exposições artísticas e recebeu vários prémios, não só em

Portugal como também as suas obras se espalharam pelo Brasil, pela Índia, pelo Japão, por

Guiné-Bissau e em Moçambique. De entre várias obras, em Lisboa é de referir a decoração da

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estação do Metro de Picoas, da escadaria da sala de recepção do Hotel Ritz e do átrio da Torre

Vasco da Gama, no Parque das Nações.

Já na Golegã, para além do próprio Museu, o acervo deste artista encontra espalhado por

vários locais desta vila. Destacam-se, para além de A Camponesa já referida, os relevos em

bronze do Palácio da Justiça, um painel de cerâmica na frontaria da Casa de Convívio e a

estátua O Povo de Amor Cantava, em frente à Igreja da Nossa Senhora dos Anjos. É de referir

ainda a imortalização do seu nome na Escola Básica 2,3 e Secundária do Concelho da Golegã.

Dos vários materiais artísticos presentes na obra do Mestre salienta-se, par além da escultura e

da pintura, a medalhistica e a poesia, com a publicação do livro Poemas Martins Correia.

Durante a sua longa actividade profissional dedicou-se também à pedagogia das artes,

ensinando na Escola Rafael Bordalo Pinheiro, nas Caldas da Rainha e em várias escolas de

Lisboa. Leccionou na Casa Pia e foi professor assistente na Escola de Belas Artes de Lisboa

A sua dedicação ao ensino terminou em 1971.

Aos 89 anos, a 30 de Julho de 1999 o Mestre falece na Golegã.

A visão do mundo segundo o Mestre

Apesar das contingências que levaram o Mestre a distanciar-se da sua terra natal, a sua

relação com o Ribatejo está espelhada na sua obra. Na arte reflecte a terra onde nasceu, as

gentes desta e seus usos e costumes, demonstrando que «... nunca esteve totalmente afastado

da Golegã.» (Tomás, 1994: 49).

Do mundo rural descrito na sua escultura, pintura, desenho e cerâmica fazem parte os cavalos

lusitanos, os touros, a terra, os lavradores e a mulher, figura de destaque. A Demoiselle da

Golegã, de bronze policromado, representando a mulher do campo com o cântaro na mão e O

Lavrador da Golegã e os Cavalos, pintura a pastel, são exemplos demonstrativos da sua

relação com a terra natal. Como afirmou o Mestre, num artigo da Revista Cerâmicas de 1994,

a importância de representar o povo residia num «... “sentir mais livre, mais responsável,

mais autentico, um povo que a gente sente dentro de nós, um povo bastante democratizado,

que tem uma igualdade, em que todas as formas são imponentes em termos de afirmação

popular.”.» (Tomás, 1994: 45)

Para além da descrição da ruralidade, na sua obra encontra-se também patente a relação entre

o saber popular e o saber erudito. Sobressaem bustos, em bronze e em mármore, de seus

congéneres de todas as áreas artísticas, bem como figuras de destaque da história e cultura

portuguesas. De entre os vários os bustos destacam-se o de Fernando Namora, de Jaime

Cortesão, de Miguel Torga, de Sofia de Mello Breyner e de Natália Correia, estas últimas suas

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semelhantes na poesia. Como também, de Raul Solnado e de António Vilar, figuras do teatro

e cinema português.

A mulher, figura marcante na sua arte, é demonstrada como musa inspiradora. Quer na

pintura quer na escultura e na poesia, o Mestre mostra retratar a mulher como a sereia que se

esquiva no mar e persuade com o seu ondular (Tomás, 1994: 46). O mar é representado pela

mulher e a poesia está figurada no busto de uma mulher.

Encontram-se, ainda, pinturas de auto-retratos, moldes e medalhas em bronze.

Na pluralidade das obras do Mestre predominam, sob o preto ou branco as cores fortes, as

cores da terra e do mar – vermelho, amarelo, azul e o dourado. Afirmou o artista, numa

entrevista publicada no Jornal Encontro da Escola C+S da Golegã, em Dezembro de 1995, o

seu gosto pela cor, principalmente por aquelas que denominou de cores mediterrânicas

(AA.VV., 1995). Os seus bronzes são, na sua maioria, policromados, tal como na pintura e na

cerâmica é realçada a cor e o contraste.

O Museu no edifício Equuspolis

A abertura ao público do novo espaço do Museu Municipal Martins Correia ocorreu a 10 de

Maio de 2003, data da inauguração do Equuspolis, edifício construído de raiz para fins

museológicos e educativos. Instalado no primeiro piso deste edifício polivalente, está

integrado no roteiro turístico municipal.

O Equuspolis, de acordo a etimologia do nome, remete para a cidade dos cavalos,

evidenciando a proeminente importância deste animal na vivência do ser humano nesta

região. Na porta de entrada do edifício, o visitante é imediatamente remetido para a relevância

deste animal na região, através da placa indicadora, na qual constam duas cabeças de cavalo

estilizadas. E, por baixo desta, uma placa anuncia que, neste espaço encontra-se o Museu

Municipal Martins Correia.

Em todo o seu espaço existe espelhada a ideia de informalidade, de um centro cultural que

visa ultrapassar a oferta museológica. A moderna arquitectura exterior, união harmoniosa com

o jardim e a água da Lagoa de Alverca, conjuga-se com a simplicidade dos espaços interiores.

O visitante ao aproximar-se da entrada do Equuspolis é confrontado com uma escultura em

bronze do Mestre, na qual está exposto o discurso da ruralidade, na temática da dicotomia

mar/campo.

Para entrar no Equuspolis, os visitantes têm de tocar uma campainha. Trata-se de um espaço

aberto ao público, mas cuja localização tornou-se imposição da necessidade de manter a porta

exterior fechada por razões de segurança. Este facto, aparentemente impeditivo aos olhos do

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público, tem sido ultrapassado através da inclusão do Equuspolis no roteiro turístico,

adquirido no Posto de Turismo da vila. Como é, também, no diálogo com as recepcionistas

que abrem a porta, que os visitantes se integram na dinâmica quer do espaço Equuspolis, quer

do Museu em si. É nesta recepção que ao visitante lhe é permitido adquirir o Catálogo Museu

Municipal Martins Correia, bem como observar e comprar algumas serigrafias do Mestre.

As obras dos artistas da região são uma constante em todo o Equuspolis. Destaca-se, ao entrar

no hall deste edifício, um espaço aberto a exposições temporárias, e uma escadaria na qual, no

fim do primeiro lanço, na parede branca, sobressai uma fotografia do Mestre Martins Correia.

Segundo o transmitido aos visitantes, destaca-se que estas escadas servem apenas para descer

dos pisos superiores.

Na zona das escadas de subida ao Piso 1, estão expostas fotografias de Tereza Trancas e

pinturas e esculturas sobre tauromaquia de Rui Fernandes, artista plástico de raízes

goleganenses, que, em conjunto com do Presidente da Câmara Municipal Dr. José Veiga

Maltez, são responsáveis pela lógica expositiva dos espaços do Equuspolis.

Subindo ao Piso 1, quer nas escadas quer no hall de entrada deste piso, o visitante é, de

imediato, integrado no Museu. Sem entrar no espaço a este destinado, deparamo-nos, na

escadaria, com O Rosto do Povo, seguindo-se outras obras de medalhística do Mestre e um

retrato seu, esculpido em madeira, oferecido pelo artista Arne Gunnerud Norge, em 1984.

Neste piso existe, ainda, uma biblioteca centrada na temática do cavalo e um Espaço Internet.

Sobre as paredes brancas desta sala ressaltam pinturas de artistas da região, entre as quais

algumas obras oferecidas ao Mestre. Deste modo o frequentador deste espaço, quer para ter

acesso à Internet quer para aceder a material bibliográfico sobre os equídeos, depara-se com a

arte e com as obras do Mestre Martins Correia. Este facto decorre não apenas de existirem

peças de arte exibidas nesta sala, como também foi opção expositiva mostrar aos olhos do

visitante as obras do próprio Museu. A continuidade dos espaços, sem existência de quaisquer

impeditivos materiais, paredes, entre outros, apela o visitante, ao entrar no hall, a se sentir

integrado no interior do Museu.

É de mencionar que o Equuspolis dispõe de elevadores para permitir o acesso ao Museu a

todo o público.

As obras do Mestre no Museu

Dado o elevado acervo de obras doadas pelo Mestre Martins Correia, algumas das quais se

degradaram e se perderam no antigo espaço de exposição, na actualidade o Museu possui

cerca de quinhentas peças, a maioria catalogadas. Destas, dado o espaço existente, foi escolha

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dos responsáveis não expor todas as obras no Museu, encontrando-se, no Hotel Lusitano,

quadros e esculturas do Mestre.

Segundo deliberação unânime do Executivo Camarário, no início de 2007, este Hotel passou a

ser considerado um núcleo museológico do Museu Municipal Martins Correia. Este acto

mostra ter como objectivo a integração dos clientes do Hotel na arte da região e o incentivo à

visita ao próprio espaço no Equuspolis. As restantes obras encontram-se na reserva do Museu.

De entre as obras patentes no Museu, podemos encontrar pintura, escultura, medalhistica,

cerâmica e documentação. Destacam-se, de entre vários documentos, o livro Fanga de Alves

Redol, Estrelas Cadentes de Gaspar Bonacho, Caballus, oferecido por Serrão de Faria, e um

ensaio biográfico do Dr. Francisco Mendes Brito, todos com ligação afectiva à Golegã. Como

também outros livros pertencentes ao Mestre, catálogos de exposições suas e o seu livro

Poemas Martins Correia. Sobressai, de entre o exposto, um esboço do edifício da antiga

cadeia, oferecido em 1985 por Hirosuka Watanuk e, ao lado deste, uma lista dos trabalhos

executados pelo Mestre desde 1940 a 1993.

Em todo o espaço museológico, bem como nas restantes áreas do edifico Equuspolis,

predomina a apresentação das obras artísticas sobre bases brancas. As paredes são brancas e

nestas sobressaem as obras coloridas do Mestre. Na sua maioria, as esculturas estão expostas

sob colunas brancas, permitindo ao visitante visualizar as suas várias dimensões. A

documentação existente é divulgada em bases brancas com vidro protector.

A amplitude dos espaços e o facto de ter sido escolha não expor neste todo o acervo existente,

permite-nos, como visitantes, esta possibilidade. Não existem focos de luz direccionados e,

durante o dia, por entre enormes e elevadas janelas de vidro existentes, luz natural incide

sobre todas as salas. Somos conduzidos a olhar para todos os objectos de arte como

merecedores de serem valorizados. É de referir que existem algumas esculturas expostas

sobre colunas pintadas, no entanto a cores destas demonstram a não existência de hierarquias,

pois remetem apenas para uma fina linha colorida no topo das colunas.

Não existe ordem cronológica na exposição das obras, pois de acordo com as placas

indicadoras junto às peças, a maioria das obras do Mestre não têm data. No entanto, está

patenteada uma escolha temática, que inicia com a homenagem aos seus congéneres na arte e

figuras emblemáticas da cultura e história portuguesas. Ao percorrer o espaço, o visitante

começa a sentir-se integrado na etnografia ribatejana e goleganense, através de pinturas,

esculturas e cerâmica de cavalos, lavradores, arquétipos de homens, mulheres e profissionais

do campo. Na última sala, em espaço contíguo ao anterior e sem separações físicas aparentes,

encontram-se essencialmente esculturas e pinturas que incidem sobre o tema mar. Destacam-

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se esculturas alusivas à profissão e bustos de homenagem a Cabrillo, navegador português, e

a Boitaca, arquitecto da Igreja Matriz da Golegã. Estas escolhas são demonstrativas de uma

clara separação entre mar e campo, dois palcos profissionais diferentes unificados na relação

das obras com o património cultural da vila, da região e do país.

Para além do produto da arte do Mestre Martins Correia, existe uma sala na qual estão

expostas obras que lhe foram oferecidas. Por se tratar de um espaço de reuniões, separado

fisicamente da restante área do Museu através de uma porta, que só é fechada em caso de

utilização para tal fim, foi opção que as suas paredes brancas reflectissem o apreço de colegas

e amigos do escultor. Desta constam, essencialmente, pinturas e uma escultura, todas ao

mesmo nível hierárquico, demonstrando que, mais uma vez, é política museológica a não

predominância de qualquer obra artística específica. É, ainda, de mencionar que esta sala é

interior, com uma janela dirigida às escadas de descida do Museu.

Todo o espaço interior do Museu dispõe de cadeiras. Ressalta ao olhar a ideia de

contemplação da arte. Pretende-se que visitantes se sentem e meditem sobre as obras de arte

expostas.

O Museu como discurso de identidade local

Este Museu, tal como acima referido, encontra-se implantado num edifício construído de raiz

e inaugurado em 2003. Toda a implementação e organização do exterior e interior do edifício

são da responsabilidade do Pelouro da Cultura, cujo seu representante máximo é o Presidente

da Câmara Dr. José Veiga Maltez. De acordo com o Relatório de Execução de 2003 do

Programa Operacional da Região de Lisboa e Vale do Tejo, o Equuspolis, como projecto

promovido e implementado pela Câmara Municipal da Golegã, insere-se numa lógica de

afirmação desta vila como Capital do Cavalo. Procurou-se, assim, consolidar a vila da Golegã

«... como elemento estruturante do espaço regional ... que serve os interesses da população

local e regional.» (Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale

do Tejo, 2003: 83).

É nesta busca por uma identidade local e regional que se insere a obra do Mestre Martins

Correia. Expressão artística símbolo da ruralidade e representativa do cavalo, configura-se na

apropriação da obra como objecto de identidade local e sua consequente transformação em

património cultural. Este facto é demonstrado na recente criação de um roteiro turístico, no

qual consta o Equuspolis como «património edificado» (Maltez, s.d.).

Aquando da abertura da Casa-Estúdio Carlos Relvas, em Abril de 2007, foi decidido pelo

Pelouro da Cultura criar o Guia do Conselho da Golegã (Maltez, s.d.). Este tornou-se uma

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mais valia para o Museu, pois por se encontrar numa zona limítrofe da vila, a sua localização

foi, durante algum tempo, um obstáculo à visita pelos turistas.

Através deste guia o visitante é incentivado a percorrer os locais de referência identitária

goleganense, entre os quais a Casa-Estúdio Carlos Relvas, a Igreja Matriz da Golegã, o

Pelourinho, o Arneiro, local da Feira de S. Martinho / Feira Nacional do Cavalo, e o espaço

Equuspolis. É através deste ritual que o visitante é confrontado com as diferentes estruturas

patrimoniais, decorrentes de épocas arquitectónicas distintas. Formas estas que não entram em

conflito, mas sim dialogam na comunhão de valores identitários iguais – o cavalo, o campo e

o povo. Este parece ter sido o objectivo dos responsáveis pelo Pelouro da Cultura e que está

patente nas estatísticas de visita ao Museu. Não foi possível ter acesso a estes dados, no

entanto de acordo com os discursos das recepcionistas e com o observado no local, em visitas

realizadas em Agosto e em Novembro, passou a existir uma maior frequência de turistas e de

grupos organizados. Factos estes reveladores de um aumento significativo desde a inserção do

Museu no roteiro turístico.

Sentir o novo Museu

Podemos referir que este Museu se integra numa nova realidade museológica. A sua

localização num espaço multifacetado assim o permite. A existência de ateliers, no segundo

piso do edifício Equuspolis, revela que este não é apenas um espaço contemplativo, é também

um local de educação e de experiência. Bem como, é neste piso, por cima do Museu, que está

instalada a Divisão de Intervenção Social, responsável por intervir na consciência social da

população local.

Igualmente, a existência de uma biblioteca temática e de um espaço público para aceder à

Internet, faz do Equuspolis não só um lugar de visita do turista, mas também um local de

frequência dos habitantes da vila. Tal como acima referido, a arte exposta nas paredes e a

visualização do hall de entrada para o Museu, parece levar-nos a sentir uma permanente

aproximação com a obra do Mestre Martins Correia. Procura-se mostrar que este não é um

Museu para elites, mas sim uma pertença da comunidade. Neste campo destaca-se a doação

ao Museu, por parte de particulares, de obras do Mestre.

Finalizar com um poema

Dada a minha relação com este Museu, esta obra e a minha identificação com a Golegã,

encerro este meu discurso com um poema do Mestre, exposto num placar pendurado na

parede junto às escadas de descida do Museu.

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A raiz da erva

estava ferida;

O Sol do dia

não chegava lá

por causa de uma pedra

que ao lado da erva

tapava o sol de cá.

Mas um dia,

outro dia,

um animal,

cavalo branco

de muita beleza,

tendo visto a erva presa

tirou a pedra e pensou:

o Sol poderoso

nem sempre aquece

e muitas vezes esquece

o que a terra gerou.

Martins Correia in Livro Poemas Martins Correia

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ANEXOS

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Figura 2. Placas identificativas do Equuspolis e do Museu Municipal Martins Correia

Figura 3. A arquitectura do edifício Equuspolis (Câmara Municipal da Golegã, 2005)

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Figura 3. Imagens do interior do Museu (Câmara Municipal da Golegã, 2005)

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