16
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO ARTHUR PERIN JORGE PENA GUSTAVO RODRIGUES O Neo-realismo italiano e suas influências

O Neo-realismo italiano e suas influências

Embed Size (px)

DESCRIPTION

O intuito deste trabalho é dissertar sobre o estilo cinematográfico denominado Neo-realismo italiano, apresentando suas principais características históricas e estéticas, e analisar os movimentos influenciados por ele, com ênfase na Nouvelle Vague francesa com comparação das características dos dois movimentos.Por fim, é feita uma análise comparativa dos cartazes produzidos para os filmes de ambos os estilos, para determinar suas similaridades e diferenças.

Citation preview

Page 1: O Neo-realismo italiano e suas influências

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

ARTHUR PERIN

JORGE PENA

GUSTAVO RODRIGUES

O Neo-realismo italiano e suas influências

VITÓRIA – ES

2009

Page 2: O Neo-realismo italiano e suas influências

ÍNDICE

1. Introdução 03

2. Neo-realismo italiano 04

3. Movimentos influenciados 06

4. Nouvelle Vague 07

5. Análise de cartazes 09

6. Referências 12

7. Anexos 13

2

Page 3: O Neo-realismo italiano e suas influências

1. Introdução

O intuito deste trabalho é dissertar sobre o estilo cinematográfico

denominado Neo-realismo italiano, apresentando suas principais

características históricas e estéticas. Depois, o trabalho busca analisar os

movimentos influenciados por ele, com ênfase na Nouvelle Vague francesa,

comparando características dos dois movimentos. Por fim, é feita uma análise

comparativa dos cartazes produzidos para os filmes de ambos os estilos,

buscando determinar suas similaridades e diferenças.

3

Page 4: O Neo-realismo italiano e suas influências

2. Neo-realismo italiano

O Neo-realismo italiano surge como um reflexo cultural da situação em

que a Itália se encontrava no final da ocupação nazista. Com o fim da Segunda

Guerra Mundial e do fascismo, houve uma grande mudança nas condições

sociais, econômicas e psicológicas da população e era impossível para uma

sociedade em crise, com alto índice de desemprego, estrutura política

desintegrada e a economia totalmente enfraquecida, manter – tanto

economicamente quanto psicologicamente – a ilusão apresentada pelo cinema

fascista, o cinema do telefone branco.

Os diretores da época acreditavam que a poética do cinema estava na

realidade do cotidiano, que os filmes produzidos deveriam apresentar a

realidade sem interferências – o que é um paradoxo, já que o cinema sempre

transmite uma ideologia, mesmo quando pretende fazer o contrário, pois a

montagem, os planos, os ângulos de câmera, por mais neutros que sejam, não

conseguem transmitir fielmente o olhar do espectador – e que o cinema iria

“revelar e compelir os espectadores a se envolverem com as questões sociais

e éticas exploradas”1.

Justamente por causa da crise vivenciada naquele momento é que o

Neo-realismo italiano surge como um estilo antagônico ao cinema em vigor,

tanto tecnicamente quando esteticamente.

Em seus aspectos técnicos, o cinema Neo-realista italiano é

caracterizado pelo uso freqüente de atores não-profissionais, filmagens fora do

estúdio, aproveitamento de restos de filmes e pedaços de rolos, e pouco uso

de artifícios de edição como iluminação artificial e construção de cenários, não

só pela falta de recursos para a utilização de tais ferramentas como também

pela busca da simplicidade e com o intuito rebelde e revolucionário de quebra

dos paradigmas vigentes. As filmagens feitas nas ruas também causaram a

produção de filmes parcialmente mudos com adição posterior de som, pois,

devido à qualidade das filmagens fora do estúdio, os sons diegéticos e até os

diálogos de certas cenas precisavam ser refeitos posteriormente.

1 Laura E. Ruberto, Kristi M. Wilson, “Italian neorealism and global cinema”, página 65, Wayne State University Press, 2007, 344 páginas.

4

Page 5: O Neo-realismo italiano e suas influências

A estética Neo-realista é a do documentário. Os diretores prezavam pela

autenticidade dos trabalhos (por isso a preferência por não-atores), pois seus

objetivos eram representar o cotidiano da classe desfavorecida italiana. Os

roteiros ficcionais desses filmes nada mais eram que documentários da Itália

apresentados sob a ótica de uma situação factível que qualquer cidadão

italiano poderia enfrentar. Esse aspecto documental é facilmente perceptível

em filmes como Viagem à Itália de Rosselini, em que se alternam cenas do

drama vivido pelo casal protagonista e apresentações – inclusive com

explicações de cunho científico ou turístico – de vários pontos importantes de

Nápoles; ou em Ladrões de Bicicleta de Vittorio De Sica, que mostra a

realidade do desemprego, da criminalidade, da Igreja e das crenças populares,

durante a busca de Antonio por sua bicicleta roubada.

O cinema Neo-realista também é caracterizado pelo uso de uma

estrutura narrativa não ortodoxa que evita as convenções clássicas de

continuidade do sistema capitalista do cinema italiano anterior – e de

Hollywood, como o maior exemplo da época e da atualidade –, que buscava a

criação de grandes espetáculos com o objetivo de maior arrecadação de renda.

Desta forma, os roteiros não apresentam ligações ou explicações dramáticas

para os eventos que ocorrem, pois não há a presença de uma linearidade ou

de um desenvolvimento detalhado dos personagens, cujas atuações não são

“exageradas” e cujas ações não são precedidas de motivações ou causas

psicológicas bem definidas. Essa característica foi muito bem absorvida e

desenvolvida pelos cineastas franceses da Nouvelle Vague posteriormente.

O Neo-realismo italiano durou cerca de uma década (de 1943 a 1953), e

seus principais expoentes foram os cineastas Roberto Rosselini, com filmes

como Roma, città aperta, Paisà e Viaggio in Italia, Luchino Visconti, com

Ossessione, que inicia o movimento, e La Terra Trema, Vittorio De Sica e o

roteirista Cesare Zavattini, com Sciuscià e o aclamado Ladri di Biciclette.

5

Page 6: O Neo-realismo italiano e suas influências

3. Movimentos influenciados

O impacto do Neo-realismo italiano no cinema moderno foi muito grande

e se deu em vários âmbitos: técnicos, estéticos ou ideológicos. Entre os

principais movimentos influenciados encontram-se a Nouvelle Vague francesa,

que sucedeu historicamente o neo-realismo, e cujas influências eram diretas –

Godard, por exemplo, sempre deixou clara sua admiração por Rosselini, e pelo

Neo-realismo em geral –; a nova onda japonesa, ou “Nuberu Bagu”,

influenciada também pela Nouvelle Vague, e buscava criticar a estrutura social

japonesa, explorando a sexualidade, a mudança do papel da mulher na

sociedade e o uso de atores não-profissionais – inclusive delinqüentes e

criminosos –; o Cinema Paralelo indiano, que com a chegada dos filmes neo-

realistas em 1952, através do primeiro festival internacional de cinema indiano,

transformaram, de forma surpreendente, a maneira de fazer cinema na Índia,

acabando com a extensa tradição cinematográfica existente; além de outros

movimentos como o Free Cinema inglês, o Novo Cinema americano e o

Cinema Novo brasileiro.

6

Page 7: O Neo-realismo italiano e suas influências

4. Nouvelle Vague

Nouvelle Vague foi uma corrente de pensamentos relacionada à

produção fílmica, surgida no final dos anos 50 na França. Têm como

fundamento os cadernos de cinema, editoriais produzidos por jovens críticos da

arte cinematográfica.

A análise fílmica nesses cadernos era feita sobre os aspectos técnicos e

estéticos, levando em consideração os aspectos da linguagem cinematográfica,

questionando e refletindo sobre a produção em voga. Adjunto a isso, na época

surgiam estudos referentes à semiologia e psicologia empregada nos filmes.

Dentro desse contexto, os jovens críticos passaram a também a produzir

filmes, adotando medidas que contrapunham o que já estava estabelecido.

Logo a princípio, o fato inconcebível até então, de jovens dirigirem a produção

de filmes, foi concretizado, colocando por terra todo processo hierárquico e

muitas vezes burocrático adotado até então. Além disso, o cinema de

qualidade – que valorizava uma linguagem plástica de estúdio – e o molde

hollywoodiano foram questionados e uma nova abordagem foi adotada.

A câmera passou a se comportar como uma caneta (objetivando a

relação do movimento com a literatura e artes plásticas), ou seja, era um

elemento de criatividade responsável direto por transmitir o caráter subjetivo de

um diretor que é também autor. Isso se explica quando se observa o emprego

narrativo por meio de montagens complexas e trilhas sonoras aplicadas de

forma singular.

Outro elemento de contraversão em relação ao modo produtivo

estabelecido é a não adoção dos moldes narrativos, abordando ao invés

desses, temas amorais – característica dessa geração – com certo índice de

rebeldia e libertinagem que eram abordados como crítica também aos padrões

sociais.

Essa característica de arte de resistência aliada à utilização de plano-

seqüência, filmagem em locação com pouca verba financeira, a idéia de

produzir com pouco, atrela a Nouvelle Vague ao neo-realismo italiano,

movimento antecedente surgido no período imediato ao fim da segunda grande

guerra, que tinha como cerne de seu vigor, mostrar a amplitude e efeitos do

conflito mundial na ótica dos cidadãos da Itália.

7

Page 8: O Neo-realismo italiano e suas influências

Os franceses inovaram a produção cinematográfica pelos elementos

estéticos e artísticos já apresentados, mas também no âmbito técnico, com

câmeras mais leves, filmes mais sensíveis que dispensavam a iluminação

artificial. Elementos que possibilitavam a produção externa dos filmes com

maior qualidade.

O sucesso da Nouvelle Vague acontece por uma congruência de fatores

econômicos, políticos e estéticos, como a liberalização de costumes e recuo da

censura e o aparecimento de uma nova geração de atores como Brigitte

Bardot, Jean-Paul Belmondo e Bernadette Lafont.

A renovação ocorreu em vários níveis, e principalmente na

conceituação da política de autores em que se teorizava sobre a capacidade e

espontaneidade criativa dos diretores que de forma subjetiva expunham seu

olhar sobre o mundo em idéias organizadas segundo precisos preceitos

estéticos.

É importante destacar também o caráter metalingüístico da Nouvelle

Vague em que a montagem responsável pelo ritmo é induzida na direção de

destacar a presença da câmera em ação. Além disso, a utilização subjetiva da

trilha sonora acrescenta atenção aos elementos da linguagem cinematográfica,

sempre frisadas nesse cinema autoral e pessoal.

Os cineastas mais influentes dessa corrente estética e teórica são:

Godar, Truffaut, Alain Resnais, Jacques Rivette, Claude Chabrol e Eric

Rohmer. Grande parte pertencia ao elenco de críticos inovadores da revista

Cahiers Du Cinema (cadernos de cinema), ninho do movimento.

8

Page 9: O Neo-realismo italiano e suas influências

5. Análise de cartazes

Analisando os cartazes dos filmes Neo-realistas italianos, é possível

perceber várias características peculiares que criam um padrão de semelhança

entre esses impressos.

As ilustrações presentes nos pôsteres dos filmes trabalham sempre com

planos bem próximos e closes dos personagens. As imagens normalmente

retratam as principais cenas dos filmes ou procuram transmitir os seus roteiros,

obviamente de maneira simplificada. Esta forma de diagramação agrega mais

dramaticidade ao cartaz, principalmente pelo emprego dos closes. A ênfase na

dramaticidade pode ser atribuída ao período do pós-guerra, mas

paradoxalmente, ela é pouco empregada nos filmes, que prezavam pela

simplicidade e pelo realismo.

Um detalhe técnico compartilhado pela maioria dos cartazes do estilo é

que as imagens utilizadas são, em quase todos os casos, pinturas feitas com

tinta guache ou aquarela, bastante trabalhadas e com uma vasta quantidade de

cores e traços, utilizando efeitos de gradiente para representar luzes e

sombras, de forma a dar mais realismo aos retratos.

Além disso, a diagramação dos pôsteres também segue um padrão. As

composições são normalmente montadas por ilustrações de mais de uma cena

do filme, apresentando seus personagens principais. Essas composições

possuem um plano de frente, com a ilustração principal, e um ou mais planos

de fundo, com as ilustrações secundárias, e os títulos dispostos de forma

centralizada na parte superior ou inferior do cartaz, dependendo da ilustração

apresentada ao fundo.

Os retratos dos cartazes possuem limites bem definidos, geralmente

retangulares e que ocupam quase todo o espaço do cartaz, mas sempre

deixando uma área livre, sendo às vezes delimitados por bordas. Essa

característica dá a impressão de uma pintura tradicional, em tela, cujos limites

são bem claros, e sobre as quais seriam inseridos os títulos dos filmes.

Os cartazes dos filmes da Nouvelle Vague também apresentam algumas

características em comum, e possuem algumas diferenças e semelhanças em

relação aos cartazes Neo-realistas.

9

Page 10: O Neo-realismo italiano e suas influências

A diagramação dos pôsteres não tem a rigidez vista anteriormente nos

filmes italianos. A disposição das informações não segue um padrão tão

definido e a composição das ilustrações também é mais livre, não se

prendendo tanto a uma temática e a uma técnica.

Os títulos têm maior interação com as ilustrações, pois são mais

trabalhados graficamente e se encaixam de maneira mais harmoniosa com a

composição. A tipografia é explorada de forma livre, não se limitando à

centralização e à composição de textos blocados ou em uma mesma linha.

A referência direta com cenas do filme também se perde nos cartazes da

Nouvelle Vague. A maioria das ilustrações retrata somente o personagem

principal em poses padronizadas e não específicas e personagens secundários

são adicionados através do mesmo princípio, com uma preocupação estética,

mas sem preocupações em fazer referências às histórias apresentadas nos

filmes.

A diversidade de técnicas de ilustração também é maior, o uso da

fotografia se torna mais comum e também são produzidas imagens com

nanquim. Além disso, os retratos são mais sintéticos, com uma paleta de cores

menor, utilização de pouco gradiente e mais cores chapadas, aproveitando a

diferença de contraste para criar o efeito de luz e sombra. O traço também é

simplificado, e é possível ver em alguns casos, imagens em alto contraste dos

personagens do filme, eliminando, em parte, o apreço pelo realismo visível no

estilo italiano.

Apesar das diferenças apresentadas entre os dois estilos, os cartazes da

Nouvelle Vague e do Neo-realismo italiano possuem algumas características

em comum.

A retratação da figura humana continua presente na maioria dos

pôsteres de ambos os estilos. As ilustrações realistas ou fotografias ainda

formavam a maior parte das composições dos cartazes, pois apesar da

liberdade alcançada pela Nouvelle Vague, o realismo imagético ainda era uma

das principais características da produção de cartazes.

Os planos mais próximos e closes continuavam a ser aplicados em

quase todos os pôsteres da época, de forma que os filmes continuavam a

apresentar – pelo menos através de seus cartazes – um grande teor dramático,

que muitas vezes não eram correspondidos na tela. Apesar disso, a Nouvelle

10

Page 11: O Neo-realismo italiano e suas influências

Vague já explorava mais a dramaticidade, só que de uma maneira mais

poética, em filmes como Hiroshima Mon Amour e Acossado.

As técnicas de ilustração mais utilizadas ainda eram o guache e a

aquarela, apesar da conquista de um espaço razoável da fotografia na

produção dos cartazes da Nouvelle Vague.

É possível perceber que, assim como no âmbito fílmico, as influências

do Neo-realismo italiano na Nouvelle Vague eram muitas e facilmente

perceptíveis, os cartazes dos filmes desses movimentos também possuíam seu

nível de semelhança. E assim como a Nouvelle Vague também evoluiu e

adaptou idéias apresentadas no Neo-realismo e propôs outras abordagens, os

cartazes também tiverem seus níveis de diferenças e aperfeiçoamento. Pois os

movimentos artísticos nunca ocorrem em um só plano ou atuam em uma só

área, e as mudanças que eles trazem são refletidas – de maneira singular e ao

mesmo tempo conjunta – em todas as suas áreas.

11

Page 12: O Neo-realismo italiano e suas influências

6. Referências

- AUGUSTO, Isabel. “Capitolo 1 – Tesi Finale”.

- BAGSHAW, Mel. “The Art of Italian Film Posters”. London: Black Dog Publishing,

2005, 213 p.

- COSTA, Antonio. “Compreender o cinema”. Rio de Janeiro: Globo, 1987, 272 p.

- FABE, Marilyn. “Closely Watched Films: An introduction to the art of narrative film

technique”. Berkeley: University of California Press, 2004, 279 p.

- MASCARELLO, Fernando. “História do cinema mundial”. São Paulo: Papirus, 2006,

432 p.

- RUBERTO, E. Laura, WILSON, Kristi M. “Italian Neorealism And Global Cinema”.

Detroit: Wayne State University Press, 2007, 344 p.

- http://www.fafich.ufmg.br/~labor/cursocinema/index2.html

12