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O NOME PRÓPRIO NO CONTEXTO DE REFLEXÕES SOBRE O SISTEMA DE ESCRITA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Divina Eterna 1 Cisele Ortiz 2 Ana Leide Rodrigues de Sena Góis 3 Sérgio Marcos da Silva 4 Maria Aparecida dos Reis Gonçalves Silva RESUMO Este relato de experiências apresenta os resultados do desenvolvimento do projeto “O Nome Próprio no Contexto de Reflexões sobre o Sistema de Escrita na Educação infantil”, que teve como objetivo aproximar as práticas das crianças na cultura escrita, tornando a aula dinâmica e divertida. O projeto ficou em segundo lugar na premiação do Selo Quem educa, faz!” sob coordenação da Diretoria Regional de Ensino de Colinas do Tocantins. Com o propósito de uma boa aprendizagem de maneira prática com as crianças pequenas, a temática surgiu com o desejo de aprofundarmos mais a partir da escrita do nome próprio dos alunos, tentando compreender a sua importância. Utilizou- se como referencial teórico os Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento, os Campos de Experiências e os Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento que são estabelecidos pela Base Nacional Comum Curricular para Educação Infantil,Revistas para a formação de professores da educação infantil e anos iniciais do ensino fundamentaldo Instituto Avisa Lá, por meio do Programa Formar em Rede e Brandão e Rosa(2011) dentre outros.Pautou-se por uma abordagem qualitativa e quantitativa de pesquisa.A coleta dos dados foi realizada nas aulas do Jardim II, turma composta por 25 crianças de cinco anos, sendo 13 meninas e 12 meninos, da Escola Municipal Maria Pereira Guimarães. São crianças que pensam em tudo o que as cercam, sabem dar suas opiniões e pontos de vistas, de forma bem expressiva, se interessam pelos temas abordados e desenvolvem as atividades com empenho.Percebeu-se que é necessário ensinar e aprender de forma diferente, acreditando no potencial das crianças pequenas, nas inovações e possibilidades de novas conquistas, além de buscar aprimoramentos, fazendo com que a instituições de educação infantil elaborem projetos e planos de aprendizagem significativos para as crianças pequenas. Palavras-chave: Campos de experiências.Nomes dos alunos.Cultura escrita. 1. INTRODUÇÃO Trabalhar com o nome próprio, no Jardim II na Educação Infantil, foi um meio acertado de aproximar as crianças da cultura escrita. O nome próprio é de grande valor 1 Professora Especialista do Jardim II, da Escola Municipal Maria Pereira Guimarães, e-mail: [email protected]. 2 Mestre em Educação; formada em Psicologia; Coordenadora Adjunta do Instituto Avisá-la; e- mail: [email protected]. 3 Mestre em Educação pelo PPGE da Universidade Federal do Tocantins-UFT, e-mail: [email protected]. 4 Pedagogo do Currículo e Formador/Multiplicador do Documento Curricular da Educação Infantil da Diretoria Regional de Colinas do Tocantins, e-mail: [email protected].

O NOME PRÓPRIO NO CONTEXTO DE REFLEXÕES SOBRE O …

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O NOME PRÓPRIO NO CONTEXTO DE REFLEXÕES SOBRE O SISTEMA

DE ESCRITA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Divina Eterna1

Cisele Ortiz2

Ana Leide Rodrigues de Sena Góis3

Sérgio Marcos da Silva4

Maria Aparecida dos Reis Gonçalves Silva

RESUMO

Este relato de experiências apresenta os resultados do desenvolvimento do projeto “O

Nome Próprio no Contexto de Reflexões sobre o Sistema de Escrita na Educação

infantil”, que teve como objetivo aproximar as práticas das crianças na cultura escrita,

tornando a aula dinâmica e divertida. O projeto ficou em segundo lugar na premiação do

Selo “Quem educa, faz!” sob coordenação da Diretoria Regional de Ensino de Colinas

do Tocantins. Com o propósito de uma boa aprendizagem de maneira prática com as

crianças pequenas, a temática surgiu com o desejo de aprofundarmos mais a partir da

escrita do nome próprio dos alunos, tentando compreender a sua importância. Utilizou-

se como referencial teórico os Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento, os

Campos de Experiências e os Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento que são

estabelecidos pela Base Nacional Comum Curricular para Educação Infantil,Revistas

para a formação de professores da educação infantil e anos iniciais do ensino

fundamentaldo Instituto Avisa Lá, por meio do Programa Formar em Rede e Brandão e

Rosa(2011) dentre outros.Pautou-se por uma abordagem qualitativa e quantitativa de

pesquisa.A coleta dos dados foi realizada nas aulas do Jardim II, turma composta por 25

crianças de cinco anos, sendo 13 meninas e 12 meninos, da Escola Municipal Maria

Pereira Guimarães. São crianças que pensam em tudo o que as cercam, sabem dar suas

opiniões e pontos de vistas, de forma bem expressiva, se interessam pelos temas

abordados e desenvolvem as atividades com empenho.Percebeu-se que é necessário

ensinar e aprender de forma diferente, acreditando no potencial das crianças pequenas,

nas inovações e possibilidades de novas conquistas, além de buscar aprimoramentos,

fazendo com que a instituições de educação infantil elaborem projetos e planos de

aprendizagem significativos para as crianças pequenas.

Palavras-chave: Campos de experiências.Nomes dos alunos.Cultura escrita.

1. INTRODUÇÃO

Trabalhar com o nome próprio, no Jardim II na Educação Infantil, foi um meio

acertado de aproximar as crianças da cultura escrita. O nome próprio é de grande valor

1Professora Especialista do Jardim II, da Escola Municipal Maria Pereira Guimarães, e-mail:

[email protected]. 2 Mestre em Educação; formada em Psicologia; Coordenadora Adjunta do Instituto Avisá-la; e-

mail: [email protected]. 3 Mestre em Educação pelo PPGE da Universidade Federal do Tocantins-UFT, e-mail:

[email protected]. 4 Pedagogo do Currículo e Formador/Multiplicador do Documento Curricular da Educação

Infantil da Diretoria Regional de Colinas do Tocantins, e-mail: [email protected].

para as crianças, além dissopossibilita ao docente informá-las sobre as letras, sua

quantidade, variedades, posição e ordem. Com tantos nomes na sala, o trabalho rendeu o

ano inteiro em diversas situações reflexivas.

O projeto teve como objetivo criar um momento inicial de reflexão da leitura e

da escrita. Ele propiciou às crianças vivenciarem situações reais e com sentidos que

sustentam a familiarização com a língua escrita. As crianças, por meio do projeto,

encontraram espaço onde puderam escrever espontaneamente, testaram suas hipóteses

sobre a escrita na busca da compreensão de como o sistema de representação da língua

se organiza.

Depois de uma temporada de formação continuada com o Instituto Avisa Lá, por

meio do Programa Formar em Rede, as minhas velhas convicções foram sendo

desconstruídas e, aos poucos, deram lugar às práticas mais reflexivas, que respeitam e

valorizam o que sabem e como pensam as crianças.

Pensar em formas significativas, para dar início à reflexão sobre o sistema

alfabético, representa exercitar continuamente esse novo modo de ver a criança, porque

é uma tarefa árdua que exige do profissional muita sensibilidade. Diante disso, surgiu a

ideia de trabalhar o nome próprio.

Segundo a BNCC(2018), a escrita do nome próprio tem função social definida

em nossa cultura: identificar as pessoas, identificar aquilo que a ela pertence, referir-se e

localizar-se, ou seja, simplesmente “se fazer existir”. Além de a escrita do nome próprio

na escola ser usada para tais identificações, é utilizado também para proporcionar às

crianças um suporte que lhes favorecem um mergulho na cultura escrita.

Aproposta de trabalhar o nome próprio das crianças tem como fundamento

teórico os direitos de aprendizagem e desenvolvimento, os campos de experiências e os

objetivos de aprendizagem e desenvolvimento que são estabelecidos pela Base Nacional

Comum Curricular para Educação Infantil.

Deste modo, o presente projeto fundamenta-se nos direitos de aprendizagem:

conviver, brincar, participar, expressar, explorar e principalmenteconhecer-se; e também

em tornos dos campos de experiências: fala, escuta, pensamento e imaginação e em

especial o eu, o outro e o nós, no qual a criança constrói sua identidade pessoal, social e

cultural, constituindo uma imagem positiva de si e de seus grupos de pertencimento, nas

diversas experiências de cuidados, interações, brincadeiras e linguagens vivenciadas na

instituição escolar e em seu contexto familiar e comunitário.

Por esta razão, ler e escrever o próprio nome e o dos colegas da classe são

aprendizagens que carregam um significado emocional de muito apreço. Assim, os

nomes assumem grande valor para a aprendizagem do sistema alfabético, pois, a partir

de situações em que é preciso ler ou escrever seu próprio nome e dos colegas, colocam-

se problemas interessantes que contribuem na reflexão sobre o nosso sistema de escrita.

O trabalho com o nome próprio é atividade permanente que pode ser desenvolvida

durante todo o ano letivo, acrescida sempre de novos desafios.

Foi desenvolvido o projeto “O nome próprio no contexto de reflexões sobre o

sistema de escrita na Educação infantil” com a turma do Jardim II (5 anos) composta de

25 crianças, sendo 13 meninas e 12 meninos. São crianças que pensam em tudo o que as

cercam, sabem dar suas opiniões e pontos de vistas, de forma bem expressiva, se

interessam pelos temas abordados e desenvolvem as atividades com empenho.

A sala foi organizada em cantos de atividades diversificadas, (entendemos que a

organização do espaço das salas em cantosdá oportunidade para diferentes

aprendizagens e tira o foco centralizador do professor). Estão organizados na sala quatro

cantos de atividade diversificadas permanentes: Cantinho da mamãe, cantinho dos

toquinhos, cantinho do escritor e cantinho da leitura, e outros cantinhos que são

itinerários(cantinho da beleza, supermercado, médico, farmácia e oficina).

Os mais procurados pelas crianças foram:o cantinho do escritor, onde podem

fazer suas escritas de acordo com suas hipóteses e o cantinho da beleza, onde

experimentam diferentes papéis e situações de acordo com os objetos ofertados. Este

canto está acessível às crianças duas vezes por semana juntamente com outros jogos e

brinquedos.

As atividades que são desenvolvidas com as crianças estão entre momentos mais

coletivos e outros mais livres; não livres de objetos/brinquedos e nem de um adulto que

as observa. Nos momentos livres elas podem inventar suas atividades lúdicas por meio

dos ambientes indutores. Segundo Gilles Brougère(s/d), a criança não brinca em uma

ilha deserta. Ela brinca com substâncias materiais e imateriais que lhe são propostas. Os

brinquedos orientam a brincadeira. Trazem-lhe a matéria.

O desafio diante das atividades livres é de estar sempre observando o que dizem

e como brincam as crianças, para assim, estar incrementando os cantinhos de atividade

com novos objetos para poder alimentar o imaginário delas. O desafio das atividades

coletivas é de estar sempre atenta para desviar dos direcionamentos autoritarista e

tradicionais, que, infelizmente, ainda é muito próximo das crianças. Há ainda, em

algumas salas, as práticas de tarefinhas prontas com os famosos desenhinhos

estereotipados, escrita de maneira fragmentada, com a cópia de letras e sílabas isoladas,

atividades desvinculadas da função social da escrita.

Respeitar as crianças em suas hipóteses, nesse contexto, é um tanto desafiador.

Por vezes, as críticas são ferrenhas, pelo fato de se ensinar valorizando o saber das

crianças e por se tentar colocar em prática um ensino em que as crianças possam refletir

e discutir em pequenos grupos.

Na persistência de um trabalho mais significativo para as crianças, foi que

escolhemos o tema: O nome próprio no contexto de reflexões sobre o sistema de escrita

na Educação infantil, pois possibilitaria aproximar as crianças da escrita de forma

instigante e eficiente. As situações didáticas de leitura e escrita do nome próprio e dos

colegas da classe permitem às crianças refletir, fazendo comparações com outras

escritas, dessa forma é possível ajudá-las a organizar seus pensamentos sobre o sistema

de escrita.

2. DESENVOLVIMENTO

Mais um ano letivo e com ele uma sala cheinha de pessoas miúdas esperando

encontrar naquele lugar muitas coisas para explorar. 25 crianças, imagine se não

tivessem um nome próprio, como seria diferenciada? Logo uma roda para conversamos;

o primeiro assunto “o nome”. Fomos apresentados, alguns nomes um pouco parecidos:

Ana Alice, Ana Jullya, Ana Luiza, mas, nenhum igual. Nesta roda outro assunto: o que

queriam fazer na escola? Fiquei um pouco intrigada, pois pensava que iam citar um

monte de brincadeiras, mas apenas responderam, de forma decidida, que queriam

aprender a ler e a escrever. Logo me veio à memória a fala de uma consultora do

Instituto Avisa Lá, Ana Carolina Pereira de Carvalho: “As crianças do Jardim II estão

aptas para iniciar as reflexões do processo de ler e escrever”. Eu estava à frente de uma

turma dessas: crianças pensantes e ávidas para entrar em contato com a língua escrita.

Diante de tal declaração, o meu maior desafio, era o de oferecer muitas

oportunidades e significativas interações com a cultura escrita e, assim, não perder essa

motivação que as crianças demostraram logo no primeiro dia na escola.

Foram confeccionadas as tarjetas com o nome de cada criança. Iniciei este

trabalho fazendo diariamente a chamada por meio das tarjetas. Em uma grande roda,

mostrava um nome e perguntava: de quem é esse nome? A princípio não conheciam,

raramente o dono do nome se manifestava. Prossegui sempre fazendo a leitura

apontando para as partes dos nomes e entregava a tarjeta a cada criança para servirem

de suporte para escreverem seus nomes na identificação de suas produções.

Depois de alguns dias já puderam se posicionar diante da mesma pergunta. E

quase ninguém se enganava mais. Precisava problematizar algumas situações para que

pudessem falar o que já sabiam. Então mostrei a tarjeta da Ana Alice, e alguns logo

responderam em coro que era o da Ana Alice. Questionei: porque acham que é da Ana

Alice?

A Nicolly respondeu: _ porque começa com a letra “A”. Prossegui indagando: _

E não poderia ser o da Ana Luiza ou o da Ana Jullya, pois os nomes delas também

começam com a letra A? Questionei mostrando as três tarjetas com os nomes

começados com a letra “A”. Issac, respondeu: _ É o da Ana Alice porque tem dois

“AS”, olha! Leu apontando o dedo para os “As”. Neste diálogo, pude observar que as

crianças começavam a perceber que as letras não são partes exclusivas de um único

nome, ao ler ANA ALICE apontando para os “As”, refletiam que a ordem das letras nas

palavras não é aleatória e que existe um sentido convencional para a leitura. Assim, a

cada dia, as crianças avançavam um pouco mais na construção do repertório pessoal de

informações a respeito da língua escrita.

2.1 A situação da chamada diária foi a que mais produziu reflexões.

Nós professores temos uma tarefa burocrática de todos os dias: identificar os

presentes e ausentes para preencher o diário. A princípio, utilizei as tarjetas junto com

as crianças, separando com elas as ausentes do dia, depois em um outro momento fazia

anotações em uma ficha.

Observando que todos os dias uma criança ou outra faltava a aula por algum

motivo, (o mais frequente era problema de saúde), pensei na possibilidade de

continuarmos refletindo sobre a escrita por meio desses nomes, visto que variavam.

Organizei um caderno, e todos os dias uma criança fazia a cópia dos nomes das crianças

faltosas. Aqui não é a cópia pela cópia, é uma situação social, em que reproduz o

contexto cotidiano da chamada do dia.

Tudo começava com a contagem das crianças, pois a merendeira passava para

colher esse número para preparar o lanche. Escolhia uma criança para contar e anotar

esse número no quadro. Elas dispõem de uma tabela numérica (número de 1 a 100) e de

uma reta numérica de 1 até 25 (número de alunos da sala) onde puderam recorrer para

saber como se escreve o número, quando não se lembravam. A forma mais comum das

crianças encontrarem o numeral era contando, do número 1 até o número desejado.

Depois de contabilizarem quantos vieram, as crianças tinham outro desafio, saber

quantos faltaram.

Em um desses momentos, uma criança contou 23 presentes. Lancei a seguinte

questão:se vieram 23 crianças e são 25 matriculados nesta classe, quantos faltaram

hoje? Pela constância dessa atividade na rotina da sala, segura e decidida Áfia Lívia,

disse que faltaram duas crianças. Eu perguntei, como ela fez para descobrir que

faltavam duas? Áfia Lívia foi até a tabela numérica e contou depois do número 23: 24 e

25 apontando dois dedos e afirmou: _Duas crianças faltaram. Fiz outra pergunta: Quais

colegas não vieram na aula? As crianças muito familiarizadas com todos, iam

apresentando sem muita demora os nomes dos faltosos.

A princípio iniciei a proposta me colocando como escriba, as crianças ditavam

os nomes dos faltosos e eu escrevia na lousa. Esta situação permitiu às crianças a

pensarem em cada parte da palavra, antes mesmo de saberem escrever

convencionalmente. Muitas vezes, precisei parar e combinar com elas que tivessem

calma na hora de ditar para mim, falavam todos os nomes de uma vez só.

A minha intenção, era que as crianças descobrissem que as palavras se formam

de pedaços menores e têm diferentes sons que, muitas vezes, se repetem em outros

nomes da classe, e em outras palavras nas listas que tínhamos construídos. Questionei

em uma das vezes: O que percebem de semelhanças e diferenças nos nomes: NICOLLY

e NICOLE? Uma criança correu para a lousa e apontou todas as letras, dizendo sempre:

igual, igual... até finalizar as letras semelhantes e por fim disse: essa (apontando para

NICOLLY) tem dois L ”éles” e o Y; depois (apontando para NICOLE) disse: esse tem

um L ”éle” e o E. A Yasmim também foi à lousa mostrar que o Y era do seu nome.

Para dar sentido ao que as crianças vinham falar para mim, enfatizava suas descobertas

para toda a turma.

Notava que poderia continuar explorando essa situação, pois as crianças

demostravam interesse. Antes mesmo de iniciar a prática, algumas crianças já chegavam

para mim e diziam que um determinado coleguinha tinha faltado no dia. E pediam logo:

Posso escrever hoje? Assim seguiu por vários dias: muitos pedindo para escrever no

caderno de chamada. A princípio, tentava organizá-los de forma que todos pudessem

escrever. Para saber quem tinha escrito naquele dia, pedia que assinassem logo em

baixo da página.

No entanto, observei que algumas crianças não participavam, por timidez ou

insegurança, não faziam muito caso; notei que quase sempre eram as mesmas crianças

que pediam para escrever. Assim, uma nova medida precisava ser tomada para que

todas as crianças tivessem o direito de testar suas hipóteses na escrita dos nomes dos

colegas.

A Base Nacional Comum Curricular de Educação Infantil (BNCC) estabelece

seis direitos de aprendizagem. Enquanto professora, precisava sempre tê-los em mente

para garantir que as experiências que eu fosse planejar para as crianças contemplassem

os aspectos fundamentais do processo. Expressar é o 5º direito de aprendizagem, que

diz: “Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades, emoções,

sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas e opiniões”. Pensando nisso,chamei as

crianças para conversarmos em uma grande roda. Esta é outra prática que valorizo, pois

considero este momento imprescindível para que as crianças tenham o direito de se

expressarem.

Na roda, apresentei o problema e disse que estava com dificuldades em escolher

o ajudante para escrever no caderno de chamada, visto que muitas pediam ao mesmo

tempo e que alguns colegas não estavam tendo a oportunidade de participar. E que eu

precisava de ideias para que este problema fosse resolvido. Logo algumas crianças

levantaram os dedos, organizei a ordem das falas. A Byanca disse: _Tia, escreve os

nomes e faz um sorteio. Outras concordaram com ela.

O sorteio é a forma que adotamos para escolher a criança que leva a sacola de

livro literário para casa para lerem com a família. Creio que Byanca se lembrou dessa

estratégia. Me posicionei e apresentei a proposta de fazermos uma lista com algumas

datas e os nomes do ajudante do dia; recomeçaríamos com as crianças que pouco

escreveram no caderno, depois faríamos uma outra lista com os demais nomes,

cuidando para não deixar ninguém de fora. Todas concordaram, votando a favor.

Assim, ali mesmo na roda, escrevi as datas e as crianças escreveram seus nomes.

Colei a lista na parede na altura das crianças, para que todos os dias pudessem recorrer a

ela para saber quem escreveria no caderno da chamada. Depois desta lista, tudo ficou

mais calmo. Não teve mais aquelas vozes pedindo ao mesmo tempo para escrever no

caderno.

Percebendo que poderia apresentar mais desafios para as crianças, com a escrita

dos nomes. Resolvi propor para a turma que, em vez de ditarem para professora, a

professora ditaria para uma criança. Nesta proposta de escrita pela criança exige um

pouco mais de conhecimento sobre o sistema alfabético de escrita. Quais letras colocar,

quantas letras colocar e em que ordem organizá-las. Iniciei convidando as crianças que

faziam uso de hipótese mais adiantadas.

Em um desses dias faltaram três crianças: (ANA JULLYA, PEDRO e RENAN).

Jade e Áfia Lívia foram para a lousa para juntas escreverem. Repeti o nome ANA

JULLYA sem marcar as partes da palavra. Escreveu logo o “A” e repetia várias vezes o

“NA”. Jade pergunta para Lívia: Como é o NA? Ela mesmo se lembrou: _ O NA de

COLINAS; olham no canto da lousa a palavra que está escrito COLINAS e ler

apontando para as partes do nome, buscando as letras que correspondiamà oralidade.

Decididas disseram é o “N” mais o “A”.

Para escrever PÊ, de Pedro, recorreram à palavra PEIXE na lista dos

personagens da história: “Dez casas e um poste que Pedro fez”. Depois de repetir várias

vezes dro... dro, uma colega que observava falou: _e o R, treme a língua. E escreveu

assim: “PERO”. (As crianças vivenciaram em um outro momento a descoberta que o R

tremia a língua, quando lia as palavras: LEITURA e PEREIRA);

Questionei a escrita do nome “PERO”, se tinha ficando bom para ler

PEDRO?em conflito disseram que não; elas estavam intrigadas. Não estavam satisfeitas

com a sua escrita. Porém, não dispunham de nenhuma pista que as ajudassem. Então,

perguntei se tem outra palavra que tem DRO? Depois de pensarem um pouco, a Jade

diz: “DROGA”. Escrevi na lousa essa palavra sem repetir os sons e pedi que lessem.

Logo, apagaram e escreveram acrescentado o D. Depois a Jade pediu baixinho_ Tia

posso apagar! Apontando para a palavra “Droga”.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desenvolver o presente projeto com as crianças do Jardim II, nos rendeu muitas

conquistas. Enquanto professora, pude exercitar a democratização dos direitos das

crianças, quando dediquei tempo para elas pensarem e exporemseus pensamentos sobre

a escrita; dando oportunidade para elas vivenciarem, nessa etapa da educação básica,

situações cheias de sentido para ler e escrever espontaneamente.

Desde o início do ano, as crianças tiveram contato com a lista de nomes dos

colegas na forma de cartaz e na forma de cartões individualmente; escreveram seus

nomes na identificação de seus pertences, nas suas produções, no cartaz do jogo do

boliche, no cronograma do ajudante do dia, na lousa e no Caderno de Chamada. Pude

observar que as crianças souberam associar as letras do próprio nome com às dos

colegas; localizaram o nome de um colega (ou o seu próprio) na lista de alunos da

classe; tiveram a oportunidade de confrontar suas ideias com as de outros colegas.

Outra potencialidade das crianças foi a autonomia que conquistaram para

buscarem as palavras estáveis de referência para produzir novas escritas. Nesse jogo, os

conhecimentos das crianças foram problematizados e suas hipóteses foram confrontadas

com a escrita convencional.

As rodas de conversa, por exemplo, foram momentos imprescindíveis para que

as crianças pudessem votar e argumentar sobre questões que estavam afetando a

coletividade. Assim, surgiu a ideia da lista do ajudante do dia. Um meio de escrever o

nome próprio de forma significativa, o que organizou a participação de todas as crianças

na escrita no caderninho de chamada.

A lista do ajudante do dia foi um recurso a mais na sala de aula. As crianças

tiveram diariamente o desafio de procurar na lista quem era o escritor do dia. Foram

diversas as estratégias utilizadas pelas crianças. Umas encontraram, partindo do último

nome da criança que tinha escrito no dia anterior, outras buscaram pela data do dia,

pesquisando primeiro no calendário.

A exploração dos números foi destaque também neste trabalho; não foi

mencionado no planejamento, mas todos os dias as crianças utilizaram os números na

contagem dos presentes, ausentes; contaram só os meninos depois somente as meninas;

contaram para saber quem veio a mais: meninas ou meninos; somaram os números para

saber o total de presentes; pesquisaram no calendário e na lista do ajudante do dia para

saber o dia, e quem iria escrever.

Enfim, as crianças vivenciaram o uso dos números no contexto social de forma

significativa. Portanto, para a continuidade deste trabalho nos próximos anos,

acrescentaria as questões relacionadas à exploração dos números no projeto, visto que,

na Educação Infantil, as aprendizagens precisam ser consideradas e organizadas nos

diversos campos de experiências, tendo como eixo principal a interação e as

brincadeiras.

Compreender e considerar a escrita espontânea, deixando as crianças escreverem

fora das amarras da cópia, exigiu de mim uma postura firme e decidida de

desconstrução das velhas concepções de ensino e aprendizagem centrada no professor e

nas tarefinhas prontas com letras isoladas sem desafio para as crianças. Essas

convicções estavam muito presentes, ora pelos colegas, ora por meio das reclamações

dos pais das crianças, que pediam tais tarefinhas. Tudo isso me torturava, pois não era

assim que eu concebia o ensino e a aprendizagem das crianças na educação infantil.

Sendo assim, contribuir para o desenvolvimento e aprendizagem das crianças na

educação Infantil é tarefa árdua e ao mesmo tempo complexa, pois exige do educador

um olhar curioso para as manifestações infantis, seguindo para a busca constante de

formação e aprimoramento de sua competência profissional, que esteja disposto em

oferecer inúmeras oportunidades em que o ler e o escrever têm sentido e significado.

A experiência que vivi pode sim ser replicada por outros professores de crianças

de 5 anos. Inclusive, alguns dos meus colegas de escola, depois que viram o resultado

deste trabalho, se sentiram encorajados e já resolveram adotar o caderno de chamada,

tendo as crianças como escritora dos nomes dos colegas faltosos do dia. Já é um

começo.

Para que esse trabalho aconteça, é preciso elaborar um projeto e uma sequência

didática com significativas situações de ensino sobre o nome próprio; comunicar com as

crianças sobre a participação delas na escrita da chamada, uma vez que a professora tem

a tarefa burocrática de registrar no diário a presença e ausência dos alunos todos os dias.

Assim, tendo os ausentes escrito no caderno, logo saberá os nomes dos alunos

presentes. Providenciar um caderno, encapá-lo e identificá-lo com o nome da

turma(Ilustrei a capa do caderno com alguns desenhos feitos pelas próprias crianças).

As dificuldades, queo(a) professor(a) poderia encontrar numa eventual

replicação, seriam se deparar com as mesmas crianças entusiasmadas querendo

escrevertodos os dias. O(A) professor(a) precisa, desde o princípio do projeto, combinar

essa questão com as crianças na roda de conversa, para que se tenha um rodizio justo e

todas possam participar e se desenvolverem com a proposta; aproveitar o máximo desse

interesse para refletir na escrita dos nomes, fazendo intervenções potentes, para que as

respostas saiam das próprias crianças.

E assim, esperar que crianças, com autonomia, estejam levantando hipóteses em

relação à linguagem escrita, realizando registros de palavras e textos por meio de escrita

espontânea, se arriscando na leitura, tudo isso livres das cansativas e intermináveis

“tarefinhas” vazias de sentido.

REFERÊNCIAS

BRANDÃO, A.C.P. ROSA, E. C. S.Ler e escrever na Educação Infantil: Discutindo

Práticas Pedagógicas.2ª ed. Belo Horizonte: Editora Autentica, 2011.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular da Educação Infantil (BNCC).Brasília:

Ministério da Educação, 2018.

INSTITUTO,Avisa Lá. Revista para Formação de Professores de Educação Infantil

e Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Nº 45. Fevereiro de 2011.

INSTITUTO,Avisa Lá. Revista para Formação de Professores de Educação Infantil e

Anos Iniciais do Ensino Fundamental.Desenhar e escrever com proposito social. Nº

67. Agosto de 2016.

ANEXOS

NOME DA INSTITUIÇÃO:

ESCOLA MUNICIPAL MARIA PEREIRA GUIMARÃES

NOME DO RESPONSÁVEL PELO PREENCHIMENTO:

Divina Eterna Pereira da Silva

CARGO OU FUNÇÃO QUE OCUPA:

Professora

EQUIPE PARTICIPANTE DO PROJETO (que se envolveram na ação)

DIRETORA: Josenir Viana Carvalho

COORDENADORA: Mariza Milhome de Souza Oliveira

PROFESSORA: Divina Eterna Pereira da Silva

E-MAIL: [email protected]

CIDADE:COLINAS DO TOCANTINS –TO.

A QUEM SE DESTINA A AÇÃO (EDUCAÇÃO INFANTIL)

Educação Infantil: 4 a 5 anos

ANO DE EXECUÇÃO: 2019

Escrita do nome próprio nas produções individuais

Tentativas de escrita da palavra GIRASSOL

Contagem das crianças

Escrita em

grupo dos

nomes das

crianças que

faltaram no

dia.

Criança

comunicando a

merendeira o

número de presentes

na sala.

Criança

pesquisando o

ajudante do dia

para escrever os

nomes de quem

faltou no caderno

de chamada.

Criança refletindo como se escreve PEDRO

Escrita dos nomes em duplas: Um ditando para o outro

Caderno de chamada da turma

Os cantos de atividades preferidos das crianças

Canto da casinha Canto do escritor

Canto dos toquinhos

Hipótese de escrita da criança no início do ano

Hipótese de escrita da criança no final do ano.