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OÍlMUM UIVI A TERRA UM MUNDO FUTURÍl t) TESTEMUNHI) ,\, A CI)MISSAO MUNDIAL PARA IMBIENTE E DESENVOLVIMENTI} I II

O nosso futuro comum

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Uma terra um mundo O testemunho da comissão mundial para o ambiente e sustentabilidade

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Page 1: O nosso futuro comum

OÍlMUMUIVI A TERRA UM MUNDO

FUTURÍl

t) TESTEMUNHI),\,

A CI)MISSAO MUNDIAL PARA

IMBIENTE E DESENVOLVIMENTI}I

II

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'l l'lt(lll(.'it() (' ('lt;ltt: Serviços do Gabinete de Ustuclo:i ír [)[iu)()rrínL-ÍrLo

da Administração do Terr i t.r'rr i o.

COpyfight: \dorId Commission on InvirtrrÍrruÍrI arrcJ Development lg87

A presente ediçao é tla Í'rlri[)onsabilidade do Gabinete de Estudose PlaneamenIo da /\tJnrrlri:;Lraçao do Terrifório ['4inistério do

Planeamento e da /\dmi rri s; L raçao do Terri tório.

UMA TERRA UM MUNDO

O TESTEMUNHO DA COMISSÃO MUNDIATPARA O AMBIENTE E DESENVOTVIMENTO

Tiragetlt: qooo exemplares

Depósito l,egul N.o 17832187

EXeCUçãO GfáfiCa! Secreraria-Geral do Minisrério do planeamento e da Administração do Território

Rua do Século, 51 1200 LISUOA

Setembro l9B7

r§tirp MINISTERIO DO PLANEAMENTO E DA

Gabinete de Estudos e PlaneamentoADMINISTRAÇÃO DO TERRITORIO

da Administração do Território

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NOTA PRÉVIA - DECLARAÇÃO DE TÓQUIO

UMA TERRA UM MUNDOTESTEMUNHO DA COMISSÃO MUNDIAL PARA O AMBIENTE

E DESENVOLVIMENTO

I-ODESAFIOMUNDIALÊxitos e FracassosAs Crises InterligadasDesenvolvi mento SustentávelAs Lacunas Institucionais

rr - AS oRTENTAÇÕES OE POLÍTrCAPopulação e Recursos HumanosGarantia de alimentaçâo: Sustentar o PotencialEspécies e Ecossistemas e Recursos para o Desenvolvi-

mentoIndústria: Produzir Mais com Menos

O Desafio Urbano

III - COOPERAÇÃO INTERNACIONAL E REFORMA INSTITU-CIONAL

O Papel da Economia InternacionalA Gestão dos Recursos ComunsPaz, Segurança, Desenvolvimento e AmbienteMudança ao Nível Institucional e Legal

Chegar às FontesTratar dos EfeitosAvaliar os Riscos a Nível MundialFazer Escolhos CriteriososCriar os ÀÍeros Legais/nvestrr no Nosso Futuro

rv-APELOÀACÇÃO

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NOTA PRÉvTe

A Comissão Mundial para o A mbiente e oDesenvolvimento f oi constituída em 1 98 4 pela Assem bleiaGeral das Nações Unidasr como um órgão independente,e ainda como objectivos:

o) Reexaminar as questões crítieas do ambientee do desenvolvi mento e formular propostas deacção inovadoras, concretas e realistas quepermitissem tra tá-las;

D Reforçar a cooperação internacional no domíniodo ambiente e do desenvolvimento, bem comoestudar e propor novas formas de cooperação,que podem surgir a partir dos padroes existentese influenciar as políticas e os acontecimentoseom vista às alterações necessárias; e

c) Aumentar o nível de conhecimento de compromissode acção por parte de indivíOuos, orsanizaçõesvoluntáriâsr empresas, instituições e governos.

Em Tóquio, ao ehegarmos ao fim do nosso mandato,continuam os con vi ctos que é possível construir um f uturopróspero, justo e seguro.

No entanto, sabemos que esta possibilidade dependede todos os países adoptarem o objectivo de desenvolvimentosustentável como fi m último e teste máximo da políticanacional e da cooperação internacional. Este desenvolvimento

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pode dcí'irrir sc sirnplesmente como uma forma de abordagem<lo pogresso que vai ao encontro das necessidades do presentescnl cornprometer a capacidade de as futuras geraçõespoderem dar resposta às suas. Uma transição bem sucedida,para um desenvolvimento sustentáve} até ao ano 2000 epara além desta data, requer um mudança maciça dosobjectivos da sociedade. Existe igualmente a prossecuçãoconcertada e vigorosa de diversos imperativos estratégicos.

A Comissão Mundial para o Ambiente e oDesenvolvimento exorta todas as nações do Mundo, emconjunto ou individualmente, a integrarem o desenvolvimentosustentável nos seus objectivos e a adoptarem os princípiosseguint.e.s, que deverão orientar as suas acções de política:

1. Revigorar o Crescimento

A pobreza é uma grande fonte de degradaçãoambiental, euê não só afecta muitas pessoas nos paísesem desenvolvimento, como mina o desenvolvimentosustentável de toda a comunidade de nações - tanto emdesenvolvimento como industrializadas. Deve estimular-seo crescimento económicor €ffi particular nos países emdesenvolvimento, melhorando simultaneamente a basede recursos' ambientais. Os países industrializados podeme devem contribuir para o relançamento do crescimentoeconómico mundial. Tem de haver uma acção internacionalurgente que resolva o problema da crise da dívida externa;um aumento substancial dos fluxos financeiros para odesenvolvimento; bem como a estabilização das receitasem moeda estrangeira dos exportadores de produtos debase de baixo rendimento.

2. Alterar a Qualidade do Crescimento

O novo crescimento tem de ser diferente, em queo carácter sustentável, a equidade, a justiça social e asegurança estejam firmemente implicados como grandesobjectivos sociais. Uma componente indispensável é o recursoa formas de energia seguras e sadias sob o aspecto ambiental.A educação, a comunicação e a cooperação internacionalpodem contribuir para ajudar a alcançar estes objectivos.Todos os que planeiam o desenvolvimento devem ter em

conta, ao avaliarem as riquezas nacionais, não só os indicado-res eccnómicc padrão, mas também o estadc dos ',stocks"de recursos naturais. Uma melhor distribuição do rendimento,uma diminuição da vulnerabilidade a desastres naturaise a riscos de carácter técnico, uma melhoria da saúde ea preservação do património cultural - toclos estes elementoscontribuem para uma melhoria da qualidade destecreseimento.

3. Conservar e Melhorar a Base de Recursos

A sustentabilidade requer a conservação de recursosambientais como o ar puro, a água, as florestas e os solos;a manutenção da diversidade genética; e uma utitizaçãoeficaz da energia, da água e das matérias-primas. Deveacelerar-se a eficiência da produção de forma a reduziroconsumo per capita de recursos naturais e a encorajaruma mudança para produtos e tecnologias não poluentes.Apela-se a todos os países para que evitem a poluiçãoambiental através da entrada em vigor de regulamentosambientais rigorosos, da promoção de tecnologia poucopoluentes e da previsão dos impactes de novos produtos,tecnologias e resíduos.

4" Garantir um Nível Sustentável de Poluição

Dever-se-ão formular políticas demográficas aintegrar noutros programas de desenvoivimento económicoe social - de educação, cuidados de saúde, e de crescimentodas condições de sobrevivência dos pobres. A maior facilida.lede acesso a serviços de planeamento familiar é, por si só,uma forma de desenvolvimento social que dá aos casais,e às mulheres em particular o direito à livre escolha.

5. Reorientar a Tecnologia e Gerír os Riscos

A tecnologia cria riscos mas oferece os meios paraos gerir. Nos países em desenvolvimento tem de se melhorarmuito a capacidade de inovação tecnológica. Também setem de alterar, em todos os países, a orientação dodesenvolvimento tecnológico de forma a que passe a prestarrnaior atenção aos factores ambientais. Tornam-senecessários mecanismos nacionais e internacionais que

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visem avaliar os impactes potenciais das. novas tecnologias,antes de elas começarem a ser amplamente utilizadas.Também são necessárias acções semelhantes no caso degrandes intervenções nos sistemas naturais, tais como desviode rios ou desbaste de florestas. Deve pôr-se em realcee reforçar a responsabilidade por danos de consequênciasnão internacionais. Dever-se-á promover uma maiorpartÍcipação do público, bem como o tivre acesso ainformações pertinentes nos processos de tomada de decisõesrespeitantes ao ambiente ê ao desenvolvimento. .

6. Integrar o Ambiente e a Economia na Tomada de Decisões

Os objectivos ambientais e económicos podem edevem actuar no sentido de um reforço mútuo. Asustentabilidade exige que se ponham em vigor medidasimplicando maior responsabilidade pelo impacte de decisõesde política. Aqueles que tomam estas decisões devem serresponsáveis pelo impacte das mesmas no potencial derecursos ambientais dos países respectivos. Devem eentrara sua atenção mais nas fontes de danos ambientais do .quenos sintomas. A capacidade de prever e evitar os danosno ambiente faz com que as dimensões ecológicas daspolíticas devam ser consideradas em simultâneo com osaspectos económicos, comerciais, energéticos, agrícolase outros. Devem ser tidas em consideração nos mesmosprogramas e nas mesmas instituições nacionais einternacionais.

7. Reformar as Relações Económicas Internacionais

Um crescimento sustentável a longo praz,o implicaalterações de fundo com vista a produzir fluxos comerciais,de capital e de tecnologia mais equitativos e melhorsincronizados com os imperativos ambientais. São necessáriasmelhorias fundamentais no acesso ao mercado, natransferência de tecnologia e nas finanças internacionaisque auxiliem os países em desenvolvimento a ampliar assuas oportunidades através da diversificação das respectivasbases económicas e comerciais e da construção da suaautoconfiança.

8. Reforçar a Cooperação Internacional

A introdução de uma dimensão ambientai vai trazerum elemento adicional de urgência e interesse mútuo, uniavez que o facto. de não se considerar a interacção entrea degradação dos recursos e a pobreza crescente tendea aumentar, tornando-se um problema ecológico mundial.Deve atribuir-se a maior prioridade à monitorizaçã,o,avaliação, investigação e desenvolvimento do ambiente,bem como à gestão de recursos, em todos os domínios dodesenvolvimento internacional. Para tal, torna-se necessárioum elevado níve1 de compromisso assumido por todos ospaíses relativamente ao funcionamento satisfatório dasinstituições multilaterais; à elaboração e observância deregras internacionais em domínios tais como o comércioe o investimento; e ao diálogo construtivo sobre todas aquelasquestões, em que os interesses nacionais não coincidemimediatamente, mas que requerem negociações. Tambémé imprescindível o reconhecimento da importância essencialda paz e segurança internacionais. As novas dimensõesdo carácter multilateral são essenciais a um progressohumano sustentável.

A Comissão está convicta eu€r se conseguirmosprogredir realmente no sentido de irmos ao encontro destesprincípios neste final de século, o próximo século poderáoferecer, a toda a família humana, um futuro mais seguro,mais próspero, mais equitativo e com mais esperança.

(D eciaraçõ.o de Tóquto)

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UMA TERRA UM MUNDO

TESTEMUNHO DA COMI§SÃO MUNDIALPARA O AMBIENTE E O DESENVOLVIMENTO

Em meados do século xx vimos o nosso planeta pelaprimeira vez a partir do espago. Os historiadores talvezconsiderem gue esta visão teve um impacte no pensamentoainda maior que a revolução de Copérnico, no século xvr,que alterou a imagem que o homem tinha de si próprioao revelar que a Terra não é o centro do universo. A partirdo espaço, vê-se uma bola pequena e frágil envolvida nãopela actividade e construções humanas, mas sim por umtecido de nuvens, oceanos, zonas verdes e solos. A faltade capacidade do homem para adaptar as suas acções àqueletecido está a causar alterações fundamentais nos sistemasplanetários. Muitas destas alterações são acompanhadaspor riscos que ameaçam a vida. Esta nova realidade, àqual se não pode fugir, tem de ser reconhecida - e gerida.

Felizmente, a esta nova realidade corresponde umdesenvolvimento mais positivo, novo neste século. Podemmovimentar-se informações e bens mais rapidamente doque nunca, à volta do globo; podem produzir-se maisalimentos e mais bens com um menor investimento derecursos; a nossa tecnologia e eiência permitem-nos, pelomenos, examinar mais profundamente e compreender melhoros sistemas naturais. A partir do espaço, pode ver-se eestudar-se a Terra como um organismo euja saúde dependeda saúde de todas as suas partes. Temos o poder de conciliaros interesses humanos com as leis naturais e de evoluirneste processo. Neste aspecto as nossas heranças culturaise espirituais podem reforçar os interesses económicos eos imperativos da sobrevivência.

Esta Comissão crê que o homem pode construirum futuro mais próspero, mais justo e mais seguro. O nossorelatório, 'rO Nosso Futuro Comumtt, não é uma previsãode uma decadência cada vez maior no campo do ambiente,da pobreza e da injustiça num mundo cada vez mais poluído,onde os recursos escasseiam cada vez mais. Antes pelocontrário, vimos a possibilidade de uma nova era de

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crescimento económico, que tem de se basear em políticasque mantenham e expandam os recursos ambientais básicos.E acreditamos que este crescimento é absotutamenteimprescindível para aliviar a grande pobreza, que se temvindo a agravar em grande parte do mundo emdesenvolvi mento.

Mas a esperança da Comissão está condicionadapor uma acção política decisiva e imediata com vista aoinício da gestão dos recursos ambientais de forma a garantirtanto um progresso sustentável da humanidade, como asobrevívência do homem. Não estamos a prever um futuro;só estamos a fazer um aviso - aviso urgente baseado nasmais recentes e melhores provas científicas - que chegoua altura de tomdr as decisões que garantam os recursosnecessários ao sustento das actuais e futuras gerações.Não oferecemos um texto pormenorizado que sirva de baseà acção, mas antes um caminho através do qual os povosdo munclo podem alargar as suas esferas de cooperação.

i. O DESAF'IO MUNDIAL

Êxitos e fracassos

Todos aqueles que procuram êxito e sinais deesperança podem encontrar muitos; a mortalidade infantiltem vindo a diminuir; a esperança de vida do homem temaumentado; também tem aumentado a percentagem deadultos, a nível mundial, que sabem ler e escreverl temsubido a percentagem de crianças que frequentam a escola;a produção mundial de alimentos tem crescido mais depressado que a população.

No entanto, os mesmos processos que deram origema estas vitórias têm vindo a criar tensões que o planetae os seus povos iá não podem suportar, e que têmtradicionalmente sido divididas em falhas de

'rdesenvolvimentoÍ' e falhas de gestão do ambiente humano.No que diz respeito ao desenvolvimento e em termos denúmeros absolutos, há hoje em dia mais gente com fomeno mundo do que em qualquer outra época, e este númerotende a aumentar. O mesmo se passa com o número dos

que não sabem ler nem escrever, dos que não têm acessoa água potável ou a uma habitação condigna, e dos quenem lenha têm para cozinhar ou aquecer-se. É maior adistâneia entre os países ricos e os pobres - e não tenclea diminuir - e, considerando as tendências actuais e asdisposições institucionais, não parece que este processovenha a inverter-se.

Também existem tendências ambientais que ameaçamalterar de forma radical o planeta, que ameaçam as vidasde muitas espécies, incluindo a espécie humana. Todosos anos cerca de 6 milhões de hectares de terras de sequeiroprodutivas transformam-se em deserto sem qualquer valor.Em três décadas isto significaria uma área aproximadamenteigual à Oa Arábia Saudita. Todos os anos são destruídosmais de 11 milhões de hectares de floresta, o que, em trêsdécadas, significaria uma área igual à da Índia. Grandeparte desta área de floresta é transformada em terra decultivo de baixa qualidade incapaz de sustentar osagricultores que aí se instalem. Na Europa, as chuvas ácidasmatam as florestas e os lagos e danificam o patrimónioartístico e arquitectónico das nações; podem mesmoacidificar grandes extensões de solo para o qual deixa dehaver qualquer esperança de recuperação. A utilizaçãodos combustíveis fósseis lança para a atmosfera dióxidode carbono, que vai causar um aquecimento gradual anível mundial. Este ?'efeito de estufa", no início do próximoséculo, pode causar um aumento nas temperaturas médiasmundiais suficiente para alterar as áreas de produçãoagrícola, elevar o nível das águas do mar inundando ascidades costeiras, e provocar a ruptura das economiasnacionais. Outros gases de origem industrial ameaçamdestruir a camada de ozono que protege o planeta, causandoum aumento drástico da ocorrência de cancro no homeme nos animais e levando a uma ruptura da cadeia alimentaroceânica. A indústria e a agricultura introduzem substânciastóxicas na cadeia alimentar humana e nos lençóis freáticospara além dos limites de depuração possível.

Os governos nacionais e as instituições multilateraiscomeçaram a compreender que é impossível separar asquestões do desenvolvimento económico, das ambientais;

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muitas formas de desenvolvimento vão desgastar os recursosambientais, nos quais se têm de basear, e, por sua vez,a degradação do ambiente pode inviabilizar o

desenvolvimentoeconómico.Apobrezaéacausaprincipal-efeito dos problemas ambientais a nível mundial.Portanto, é inútit tentar tratar os problemas ambientaissem se ter uma perspectiva mais ampla que englobe osfactores subjacentes à pobreza existente no mundo e àdesi gualdade internaci onal.

Estas preocupações estiveram na base doestabelecimento, em 1983, da Comissão Mundial para oAmbiente e o Desenvolvimento, pela Assembleia Geraldas NU. Esta Comissão é um órgão independente, tigadoaos governos e ao sistema das NU, mas fora do respectivoeontrolo. De acordo com o mandato, a Comissão tinhatrês objectivos: reexaminar as questões críticas do ambientee do desenvolvimento e formular propostas realistas comvista à sua solução; propor novas formas de cooperaçãointernacional relativamente a estas questões, que deverãoinfluenciar as políticas e os acontecimentos no sentidodas mudanças necessárias; e aumentar os níveis de

A Comissão Mundial para o Ambiente e o Desenvolvimento reuniu-sepela primei ra vez em Outubro de I gBq e publ icou o seu relatório900 dias mais tarde, em Abril de lgB7, Durante esses poucos dias:

A crise ambiente-desenvolvimento provocada pela seca em Africaatingiu o máximo, pondo em risco 35 milhões de pessoas e matandocerca de um milhão.Uma fuga numa fábrica de pesticidas, em Bhopal, India, matoumais de 2000 pessoas e cegou e feriu mais de outras 200 000.

Na cidade do México exptodi ram camiões contendo gás I íquido,matando 1000 pessoas e deixando milhares sem lar'A explosão do reactor nuclear', em Chernobyl, lançou part,ícuIasnucleares pela Europa, àumentando os riscos futuros de cancrohumano.

Devido a um incêndio num armazé,m, na Suíça, o rio Reno recebeuprodutos químicos agrícoIas, solventes e mercúrio, daí resul tandoa morte de mi Ihões de peixes e o perigo de contaminação daágua potáveI na República Federal da Alemanha e nos PaísesBaixos.Cerca de 60 mi Ihões de pessoas morreram devido a diarreiasrelacionadas com má qualidade da água'potáveI e malnutrição;a maior parte eram crianÇas.

entendimento e de compromisso de acção de indivíduos,organizações voluntáriâsr empresas, institutos e governos.

A través c1as nossas deliberações e do teste rn unhode pessoas nas audiências públicas nos cinco continentes,todos os membros da Comissão focaram a sua atençãonutl te ma essencial: m uitas tendências do desenvolvi mentoactual deixam aumentar o número de pessoas pcbres evulneráveis, degradando si multaneamente o a m biente.Como poderá um tal desenvolvimento servir, no próximoséculo, o clobro da população mundial dependente do mesmoambiente ? A cômpreensão deste faeto f ez ampliar a nossaconcepção de desenvolvi mento. Passámos a considerá-1onão no seu contexto restrito de crescimento económiconos paises em desenvolvimento. Verificámos que é necessáriauma nova via de desenvolvi m en1-o, que possa asseguraro progresso humano não só nalguns lugares e durante algunsanos, mas também em todo o planeta, num Í'uturo longínquo.

Assi m, o "desenvolvi mento susten tável" torna-seum objectivo não só para os países e m desenvol vim ento,mas também para os industriali zados.

As Crises Interligadas

Até há pouco tempo, o planeta um grande mundoonde as actividades humanas e os seus efeitos se encontravamnitidamente compartimentados em nações, êffi vários sectores(energia, agri cultura ) eomércio) e em grandes grupos depreocupaçao (a m bient€, economia, sociedade),cornparti mentos estes que se começaram a diluir. Estef acto aplica*se em particular às várias "crisest' mundiaisque mobili zaram a preocupação de todos durante a útti madécada.. Não são crises separadas: uma crise ambiental,uma crise de desenvolvi m ento, uma crise de energia.Constituem unt todo.

A Terra está a passar por um período de crescimentodramático e de m odif icações f undamentais. O nosso mundode 5 biliões de habitantes tem de arranjar lugar, numambiente finito, para outro mundo humano. De acordocom as projecções das N U, durante o próximo século ) apopulação poderá estabili zar entre os 8 e os 14 biliões.

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Mais de 907o deste aumento ocorrerá nos paises mais pobres,e 90o/o desse crescimento em cidades iá neste momentosuperlotadas.

A actividade económica multiplicou-se de formaa criar uma economia mundial de $13 triliões e poderá,na próxima metade de século, quintuplicar ou mesmodecupiicar; A produção indüstrial cresceu mais de 50 vezesneste século que passou, correspondendo quatro quintosdeste crescimento ao período a partir de 1950. Estes númerosreflectem e pressagiam os profundos impactes na biosfera,à medida gu€, a nível mundial, se vai investindo emhabitação, transporte, agricultura e indústria. Grande partedo creseimento económico vai buscar matérias-primasàs florestas, ao solo, ao mar e aos cursos de água.

Um incentivo principal do crescimento económicoé a nova tecnologia, eu€r embora oferecendo c potencialpara abrandar o consumo perigosamente rápido dos recursosfínitos, traz consigo elevados riscos, incluindo novas formasde poluição e a introdução, no planeta, de novas variaçõesde fcrmas de vida que poderão alterar os caminhos daevolução. Entretanto, as indústrias que mais se baseiamnos recursos ambientais e que mais poluem crescem maisrapidamente no mundo em descnvolvimento, onde se verificauma maior necessidade de crescimento lado a lado comuma fraca capacidade de minimizar os efeitos secundáriosprejudiciais.

Estas mudanças correlacionadas juntaram a economiae a ecologia mundiais em novos caminhos. No passado,preocupámo-nos com os impactes do crescimento económicono ambiente. Agora, somos forçados a preocuparmo -noscom os impactes da crise ecológica - degradação dos solos,regimes hídricos, atmosfera e florestas - nas nossasperspectivas económicas. No passado mais recente, vimo-nosforçados a fazer face a um aumento drástico dainterdependência económica entre as nações. Somos agoraobrigados a acostumarmo-nos a uma interdependênciaecológica crescente entre as nações. A ecologia e a economiaestão cada vez mais interligadas - ao nível local, regional,nacional e mundial - numa rede contínua de causas e efeitos.

O empobrecimento dos recursos básicos iocais podeprovoear o empobrecimento de áreas mais vastas: adesflorestação, pelos agricultores, das terras altas causaa ínundação das terras baixas; a poluição industrial roubaaos pescadores locais das suas pescarias. Estes graves cicloslocais fazem-se agora sentir a nível nacional e regional.A degradação das terras de eultura lança milhões de"refugiados do ambiente", através das fronteiras. Adesftorestação na Arnérica Latina e na Ásia causa maisinundações, e inundações cada vez mais destruidoras, nasnações que se encontram no sopé das montanhas ou naparte baixa dos cursos de água. As chuvas ácidas e aspartículas nucleares espalharam-se além fronteiras portoda a Europa. I:enómenos semelhantes estão a surgir àescala mundial, tais como o aquecimento global da atmosferae a destruição do ozono. As subseâncias químicas perigosas,que afectam os alimentos, são objecto de comérciointernacional. Durante o século que se avizinha, a criseambiental, que caus& os movimentos populacionais, podeaumentar drastieamente, enquanto as barreiras levantadasa esses movimentos se podem tornar ainda mais rígidasdo que já são.

Durante as úttimas décadas, nos países emclesenvolvimento começaram a apareeer as preocupaçõescom problemas ambientais que ameaçam a vida. Devidoao número crescente de agricultores face às terrasdisponíveis cs campos começam a ser alvo de grande pressão.As cidades enchem-se de pessoas, automóveis e fábricas.Simultaneamente, estes países em desenvolvimento têmde se movimentar num mundo em que a diferença dedisponibilidade de recursos entre a maioria das naçõesem desenvolvimento e as industrializadas aumentaconstantemente, em que os países industrializados dominamno campo da elaboração das regras por parte de algunsdos principais organismos internacionais e em que o mundoindustrial já utilizou grande parte do capital ecológicomundial. Esta desigualdade constitui o principal problema"ambiental'? do nosso planeta; e é também o seu principalproblema de "desenvolvimento".

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Em muitos paises em desenvolvimento, as relaçõeseconómicas internacionais constituem um problema particularrelativamente à gestão do ambiente. A agricultura, asilvicultura, a produção de energía e a mineração sãogeradoras de, pelo menos, metade do produto nacionalbruto de muitos daqueles países e são responsáveis porpercentagens ainda maiores de formas de subsistência eemprego. As exportações de recursos naturais continuarna ser um importante factor nas economias destes paises,em particular dos menos desenvolvidos, a maior parte dosquais sofrem enormes pressões, tanto internacionais comointernas, para sobreexplorarem a sua base de recursosambientais.

A recente crise em África ilustra da melhor e maistrágica forma os caminhos pelos quais a economia e aecologia podem actuar em conjunto, destruindo e levandoà catástrofe. Embora despoletada pela seca, as suas causasreais encontram-se bem mais fundo - em parte nas políticasnacionais, que deram atenção de menos e tarde demaisàs necessidades dos pequenos agricultores e às ameaçascriadas pela população em crescimento rápido. As suasraizes estendem-se ainda por um sistema eeonómico mundialque, de um continente pobre, tira mais do que 1á põe. Asdívidas que as nações africanas, que vivem da venda deprodutos primários, não podem pagar forçam-nas asobreexplorar os solos frágeis, transformando assim terrasboas em desertos. As bameiras comerciais das nações ricas -e em muitos paises em desenvolvimento - f azem com queos africanos tenham dificuldades em vender as suasmercadorias por preços razoáveis, criando assim aindamaior pressão nos sistemas ecológicos. O auxílio vindode outras nações não só provou ser inadequado à escala,como muitas vezes reflectiu antes as prioridades das naçõesdadoras em detrimento das necessidades das receptoras.A base da produção de outras áreas do mundo emdesenvoivimento sofre igualmente, tanto devido a falhaso nível local, como devido às manobras do sistema económicointernacional. Como consequência da "crise da dívida"da América Latina, os recursos naturais desta região estãoagora a ser utilizados não tendo em vista o desenvolvimento,

mas sim para corresponderem às obrigações financeiraspara com os credores estrangeiros. Esta abordagem doproblema da dívida é insufieiente sob muitos aspectos:económico, político e ambiental. Exige que paísesrelativamente pobres aceitem, ao mesmo tempo, uma pobrezacrescente e a exportação de quantidades cada vez maicresde recursos escassos.

A maior parte dos paises em desenvolvimento tem,hoje em diu, rendimentos per capita inferiores aos quetinha no início da .lécada. A pobreza e o desemprego cadavez maiores fizeram aumentar a pressão sobre os recursosambientais, dado que cada vez mais pessoas se vêm forçadasa dependerem directamente desses recursos. Muitos governosreduziram os esforços para proteger o ambiente e paraintegrar as considerações de carácter ecológico nos planosde desenvolvimento.

A crise amhriental, QU€ se aprofunda e amplia,representa uma ameaça para a segurança nacional - e mesmo

A cpmissão procurou as vias que perrnitirão aodesenvolvimento mundial entrar, no século xxi, num caminho seguro,Entre a publicaÇão t-lo r,osso relatório e o primeiro dia do séculoxxi decorrerão cerca de 5000 dias. Que crises ambienEais seencontram em esfera para esses S000 dias?

Durante os anos 7o, cerca do dobro das pessoas, ErnrelaÇão à populaÇão dos anos 60. soflreram anualmente desastres"naturais". Os desastres rnais intimamente associados com umamá gestão do ambiente/desenvolvimento secas e inundaÇõesatingiram a rnaior parte destas pessoas e aumentaram rnuito, emtermos do número de indivíOuos afectados. Cerca de lB,b milhõesde indivíduos foram atingidos anualmente pela seea, nos anos60, ao passo que na déeada de 7A este número atingiu os Zq,Ltmi lhões. Na década de 60 houve 5,2 mi thões de ví timas deinundações, por ano, ê l5,t{ milhões nos anos 70. O número devítimas de ciclones e terramotos também subiu em flecha, à medidaque cada vez mais indivíduos pobres construíam casas sem seguranÇaem terrenos perigosos.

Ainda não existem os dados para os anos 90, mas jáse verificaram 35 milhões de vítimas de seca só em África e dezenasde rnilhões atingidos pela seca na Índia, melhor controlada E,Por isso, JTlEnos publicitada. As torrentes jorraram dos Andese dos Himalaias desflorest,ados, cada vez com mais força. A décadade 80 parece estar destinada a arrastar esta terríveI tendênciapara os anos 90, transFormando-os numa década de crise.

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para a sobrevivência - que pode ser ainda maior do quea constituída por países vizinhos bem armados e malintencionados,. assim como as alianças hostis. Actualmente,já em certas partes da América Latina, Ásia, Médio Orientee África, o declínio ambiental tem-se vindo a tornar numafonte de agitação política e tensão internacional. Adestruição recente de grande parte das teras de produçãoagrícola, em África, foi mais grave do que se um exércitoinvasor tivesse levado a cabo uma potítica de terra queimada.E, no entanto, a maioria dos governos afectados aindacontinua a gastar muito mais na protecção dos seus povoscontra os exércitos invasores, do que contra a invasão dodeserto.

A nível mundial, as despesas militares totalizamcerca de $ t trilião por ano e continuam a aumentar. Emmuitos países, as despesas militares consomem umapercentagem extremamente elevada do produto nacionalbruto, o que acaba por causar grandes danos nos esforçosde desenvolvimento dessas sociedades. Os governos tendema basear as suas concepções de i'segurança" em definiçõestradicionais, o que se torna mais claro nas tentativas paraa alcançar através do desenvolvimento de sistemas de armasnucleares potencialmente capazes de destruirem o planeta.De acordo com estudos efectuados, o Inverno nuclçar, escuroe frio, que se seguiria a uma guerra nuclear mesmo limitada,poderia destruir os ecossistemas vegetais e animais, deixandoaos sobreviventes humanos um planeta dêvastado, muitodiferente daquele que lhes tinha sido deixado como herança.

A corrida aos armamentos - em todas as partesdo mundo - apropria-se antecipadamente dos recursos quepoderiam ser utilizados de forma mais produtiva paradiminuir as ameaças à segurança criadas pelo conflitoambiental e pelos ressentimentos alimentados pela pobrezageneralizada.

Muitos dos esforços actuais para proteger e mantero progresso humano, para satisfazer as necessidades humanas'e para concretizar as ambições do Homem, são simplesmenteinsustentáveis - tanto nas nações ricas, como nas pobres.Exige-se demais e depressa demais à conta dos reeursos

ambientais já desgastados, para que se possa esperardisponibilidade num futuro ainda longínquo sem risco dabancarrota. Pode ser que, na nossa geração, o balanço ainda.exiba lucros, mas os nossos filhos herdarão os prejuízos.Pedimos emprestado às gerações futuras o capital ambiental,sem que tenhamos a intenção ou perspectiva de pagá-lo.Podem rogar-nos pragas por termos esbanjado tanto, masnunca poderão cobrar essa dívida. Agimos assim porquepodemos fugir às responsabilidades: as gerações futurasnão têm voto; não têm poder potítico ou financeiro; nãopodem impugnar as nossas decisões.

Mas os resultados deste esbanjamento excluemrapidamente as opções das gerações futuras. A maior partedaqueles que hoje em dia tomam as decisões já terá morridoantes do nosso planeta come?ar a sentir os pesados efeitosdas chuvas ácidas, do aquecimento mundial, da destruiçãodo ozono, ou da expansão da desertificação e dodesaparecimento de espécies. N{uitos dos jovens votantesde hoje ainda estarão vivos. Nas audiências da Comissão,foram os jovens, aqueles que mais têm a perder, os críticosmais severos da gestão actual do nosso planeta.

Desenvolvi mento Sustentável

A humanidade tem a capacidade de tornar odesenvolvimento sustentável - isto é, assegurar que eleresponda às necessidades do presente sem comprometera capacidade rje as gerações futuras darem resposta àssuas próprias necessidades. O conceito de desenvolvimentosustentável implica certos limites - não limites absolutos,mas sim limitações impostas peio estado actual da tecnologiae da organização social relativamente aos recursosambientais e pela capacidade de a biosfera absorver osefeitos das actividades humanas. Mas, tanto a tecnologiacomo a organização social podem ser geridas e melhoradasde forma a abrir caminho para uma nova era do crescimentoeconómico. A Comissão crê que a pobreza tão generalizadajá não é inevitável. A pobreza é não só um mal, por si só,mas o desenvolvimento sustentável exige que se vá. aoencontro das necessidades básicas de todos e que se dê

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-a todos a oportunidade de realizarem as suas aspiraçõesa uma vida melhor. Um mundo em que a pobreza sejaendémica estará sempre sujeito a catástrofes de carácterecológico e outras.

A resposta às necessidades essenciais exige nãosó uma nova era de crescimento económico para as naçõesem que a maioria é pobre, mas também a garantia de queesses pobres terão direito à respectiva quota-parte derecursos necessários para assegurar esse crescimento. Estaequidade poderá ser auxiliada por sistemas políticos quegarantam a participação efectiva dos cidadãos nas tomadasde deôisão e por uma maior democracia nas tomadas dedecisão a nível internacional.

O desenvolvimento mundial sustentável implicaque os mais abastados adoptem estilos de vida dentro daspossibiiidades ecológicas do nosso planeta - na forma comoutilizam a energia, por exemplo. Além disso, as populaçõesem rápido crescimento podem aumentar a pressão sobreos recursos, fazendo assim abrandar qualquer subida donível de vida; Iogo, o desenvolvimento sustentável só podeser levado a cabo se a dimensão e o crescimento da populaçãoestiverem de harmonia com o potencial produtivo, emconstante alteragão, do ecossistema.

Por fim, o desenvolvimento sustentável não é umestado de harmonia fixo mas antes um processo de mudançaem que a exploração de recursos, a orientação dosinvestimentos e do desenvolvimento tecnológico além dAstransformações institucionais têm de dar resposta àsnecessidades tanto futuras como presentes. Sabemos queo processo não é fácil nem simples, pois têm de fazer-seescolhas difíceis. Assim, em última anáIise, odesenvolvimento sustentável tem de basear-se na vontadepolítica.

As Laeunas Institucionais

O objgctivo do desenvolvimento sustentável e anaturez,a integrada dos desaf ios mundiaisam biente/desenvolvi m ento levantam problemas àsinstituições nacionais e internacionais, que foram criadas

tendo em vista preocupações Iimitadas e objectivossectoriais. A reacção geral dos governos à rapidez e à escaladas mudanças a nível mundial tem sido de relutância aoreconhecimento da necessidade de se modificarem a elespróprios. Aqueles desafios são interdependentes e integrados,exigindo formas de abordagem globais e a participaçãodas populações.

A maioria das instituições, que têm de fazer facea estes desafios, tendem a ser independentes, fragmentadase funcionam com mandatos relativamente curtos comprocessos de decisão fechados. Os responsáveis pela gestãodos recursos naturais e pela protecção do ambienteencontram-se institucionalmente separados dos responsáveispela gestão da economia. O mundo real é o dos sistemaseconómico e ecológico interligados; as potíticas e asinstituições com ele relacionadas têm de mudar.

Verifica-se uma necessidade crescente de cooperaçãointernacional eficaz com vista à gestão da interdependênciaecológica e económica. Ao mesmo tempo, tem vindo adiminuir a confiança nas instituições internacionais e oapoio que lhes era dado.

A outra grande falha institucional na luta para dominaros desafios ambiente/desenvolvimento é a incapacidadede os governos responsabilizarem os organismos, cujasacções de política degradam o ambiente, e obterem agarantia de que as suas políticas evitem essa degradação.A preocupação com o ambiente surgiu na sequência dosdanos causados pelo rápido crescimento económico quese seguiu à 2.a Grande Guerra. Os governos, pressionadospelos cidadãos, viram-se obrigados a recuperar a degradaçãoe para tal criaram ministérios e departamentos do ambiente.Muitos obtiveram êxito - dentro dos limites dos respectivosmandatos - no que diz respeito à melhoria da qualidadedo ar, da água e de ourtros recursos. Mas grande partedo seu trabalho foi necessariamente a reparação de danoscausados pela Guerra: a reflorestação, a recuperação deterras desertificadas, a rec-onstrução de ambientes urbanos,a restauração de habitats naturais e a reabilitação de zonasselvagens.

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A existência desses departamentos deu a muitosgovernos e aos seus cidadãos a falsa impressão de que eles,só por si, podiam proteger e melhorar os recursos ambientaisbásicos. Todavia, muitos países industrializados e a maiorparte dos países em desenvolvimento suportam pesadosencargos económicos devidos a problemas herdados, taiscomo a poluição do ar e da água, a destruição das águassubterrâneas e a proliferação de substâncias químicas tóxicase resíduos perigosos. A estes outros problemas se vieramjuntar, mais recentemente - a erosão, a desertificaçâo,a acidificação, os novos produtos químicos e novas formasde resíduos - directamente relacionados com políticas epráticas agrícolas, industriais, de energia, de silviculturae de transportes.

As actuações dos órgãos de planearnento e sectoriais,relacionados com a economia sáo normalmente demasiadorestritivos, havendo uma preocupação excessiva com acapacidade produtiva e/ou o seu crescimento. Estas actuaçõesao nível da indústria incluem apenas objectivos de produção,sendo considerados os problemas de poluição como umapreocupaçâo dos órgãos do ambiente. Por exemplo, ascentrais termoeléetricas no seu Í'uncionamento originampoluição ácida, mas a resolução deste problema é encaradacomo prática normal cle outros órgãos. Actualmente o desafioconsiste em atribuir aos órgãos de planeamento e sectoriaisuma responsabilização pelos efeitos das suas decisões naqualidade do ermbiente humano, dando maior poder àsagências do ambiente por forma a fundamentar uma actuaçãomais ampla com vista ao combate a um desenvoivi mentoinsustentável.

Verifica-se a mesma necessidade de mudança emrelação aos organismos internacionais que gerem osempréstimos para Í'ins de desenvolvimento , os regulamentoscomerciais, o desenvolvimento agrícola, etc. Estesorganismos também não têrn tomado em consideração osefeitos sobre o ambiente provocados pelas suas acções,embora alguns cornecem a tentar fazê-Io.

A capacidade para anticipar e evitar os danos sobreo ambiente exige que o vector ecológico das políticas seja

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considerado em simultâneo com os aspectos económicos,comerciais, €ilergéticos, agrícolas e outros. Deverão serdiscutidos em conjunto e nas mesmas instituições nacionaise internacionais.

Esta nova orientação é um dos grandes desafiosinstitucionais para os anos I0 e para além dessa década,que exige um grande desenvolvi m ento e ref orma dasinstitr-riçoes. Nlluitos paises pobres ou pequenos demais oucom uma capacidade de gestão li mitada ver-se-ão e mdificuldades para alcançar este objectivo sem ajuda. Seránecessáric dar-lhes assistência financeira e técnicâr bemcomo formação adequada. Mas as modificações necessáriasenvolvem todos os países, grandes e pequenos, ricos e pobres.

II. AS ORIENTAÇÕNS DE POLÍTICA

A Comissão f ocou a sua atenção nas áreas dapopulação, da garantia de alimentação, da extinção deespécies e recursos genéticos, da energia, da indústriae dos estabeleci m entos humanos não esquecendo quetodos eles estão interligados e não pode m ser tratadosisolados uns dos outros. Este capítulo contém apenas algumasdas muitas recomendações da Comissão.

População e Recursos Humanos

Em muitas partes do mundo, a população crescea taxas tais que não podem ser sustentadas pelos recursosam bientais disponíveis e que ultrapassam qualquerexpectativa razoável de melhoria das condições de habitação,cuidados de saúde, alimentação ou fornecimento de energia.

A questão não se limita ao número de pessoâs, masà relação entre esse número e os recursos disponíveis. Assim,o "problema da população'r deve ser condu zido no sentidode eli minar a pobreza gener alizada, de f orma a garantirum acesso mais equitativo aos recursos, assi m como dareduca qão, de forma a melhorar a capacidade humana degerir esses recursos.

Torna-se necessário tomar medidas urgentes paratimitar as taxas máxi mas de crescimento populacional.

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As medidas tomadas agora vão influenciar o nível a queirá estabilizar a população no próximo século, em cereade 6 biliões de habitantes. I\las isto não é apenas uma questãodemográfica; proporcionar às pessoas as condições e aeducação que thes permitam escolhar a dimensão da suafamíiia constitui uma Í'orma de assegurar - em particularàs mulheres - o direito básico humano à livre-escolha.

Os governos que têm que resolver estes problemasdeverão desenvolver políticas populacionais multiÍacetadasa iongo prazo e campanhas que tenham em vista amplosobjectivos demográficos: reforçar as motivações sociais,culturais e económicas do planeamento familiar, eproporcionar a todos aqueles que o queiram a educação,os contraceptivos e os serviços necessários.

O desenvolvimento dos recursos humanos é umaexigência crucial não só na formação do conhecimentoe das capacidades técnicas, mas também na criação denovos valores que vão ajudar os indivíduos e as nações aenfrentar as realidades social, ambiental e dedesenvolvimento em rápida mudança. Os conhecimentospartilhados a nível mundial ajudarão a garantir um melhorentendimento mírtuo e a criar uma maior vontade de partilharequitativamente os recursos globais.

Os povos tribais e indígenas são dignos de especialatenção, pois as forças do desenvolvimento económicocausam ruptura nos seus estilos de vida tradicionais - estilosesses que podem dar Iições às sociedades modernasrelativamente à gestão de recursos nos ecossistemascompósitos de florestas, montanhas e terras de cultura.Alguns estão ameaçados de possível extinção devido a umdesenvolvimento insensi.to, sobre o qual não têm qualquercontrolo. Dever-se-ã.o reconhecer os seus direitostradicionais, dando-lhes uma voz activa na formulaçãodas políticas relativas ao desenvolvimento dos recursosnas suas áreas.

Garantia de Alimentação: Sustentar o Potencial

O aumento da produção mundial de cereais ultrapassousem dúvidas o crescimento da populaçâo mundial. No entanto,

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todos os anos há mais pessoas no mundo que não têmalimentos suficientes. A agricultura mundial pode darálimentos a todos, mas estes nem sempre estão disponíveisonde fazem falta.

A produção nos países industrializados tem sidohabitualmente muito subsidiada e protegida contra aconcorrência internacional. Estes subsídios encorajarama sobreutilização do solo e de produtos químicos, acontaminação tanto nos recursos hídricos eomo dos alimentose a degradação dos campos. Grande parte deste esforçoresultou em excessos de produção e respectivos encargosfinanceiros. Parte deste excesso de produção foi enviadopara os paises em desenvoh,imento a preços excepcionais,onde foi inviabilizar as políticas agrícolas dos paisesreceptores. Nalguns países, todavia, já se nota uma tomadade consciência crescente das consequências dessas acçõespara o ambiente e para a economia, sendo o ênfase daspolíticas agrícolas posto no encorajamento da conservaçãodo ambiente.

Por outro lado, muitos países em desenvolvimentosofreram o problema oposto: os agricultores não contamcom apoio suficiente. Nalguns, a melhoria da tecnologiaaliada a incentivos de preços e à utilização de apoios estataisIevou a um grande incremento na produção alimentar.Simultaneamente não se deu a atenção devida aos pequenosprodutores de alimentos. Utilizando tecnologias muitasvezes inadequadas e contando com poucos incentivoseconómicos, muitos são Ievados para terras marginais:demasiado secas e inclinadas e com falta de nutrientes.As florestas são desbastadas e solos produtivos tornam-seestéreis.

A maior parte das nações em desenvolvimentonecessitam de sistemas de incentivos mais eficazes comvista a encorajar a produção, em especial de produtosalimentares. Em resumo, as "regras do jogo" têm de sevirar mais a favor dos pequenos agricultores. Por outrolado, a maioria dos países industrializados tem de alteraros sistemas actuais, de forma a evitar a produçãoexcedentária, reduzir a concorrência desleal com paises

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que podem apresentar as vantagens verdadeiramenteequiparadas e promover práticas agrícolas que tenhamem vista um ambiente sadio.

A segurança alimentar exige que se dê atenção àsquestões das redes _ de distribuição, uma vez que a Í.omesurge mais frequentemente devido à falta do poder de comprado que à falta de alimentos disponíveis. Esta segurançapode ser incrementada através de reformas agráriàs e depolíticas que protejam os agricuitores de ãubsistência,os que se dedicam ao pastoreio e os que não possuam terras,todos eles grupos vulneráveis que por volta do ano 2000atingirão 220 milhões de famílias. A suêi prosperidade,maior ou menor, dependerá do clesenvolvimento ruralintegrado, que aumenta as oportunidades de trabalho tantodentro como fora da agricultura.

Espécies e Ecossistemas: Recursos para o DesenvolvimentoAs espécies existentes no nosso planeta encontram-se

em crise. Ao nível científico verifica-se um consensocrescente segundo o qual as espécies estão em vias deextinção a uma velocidade jamais observada, embora hajauma certa controvérsia quanto a este facto e aos riscosa ele associados. Ainda qse está, no entanto, a tempo depôr cobro a este processo.

A diversiclade das espécies é necessária ao normalfuncionamento dos ecossistemas e da biosÍ'era, como umtodo. o material genético das espécies selvagens contribuicom biliões de dólares, por uno, pnm a economia mundialsob a Í'orma de culturas melhoradas, novas drogas emedicamentos, bem como matérias-primas para a indüstria.NIas abstraindo do aspecto útil, há também razões de caráctermoral, ético, cultural, estético e puramento cientíÍ'icopara conservar os seres selvagens.

Uma primeira prioridade consiste em incluir oproblema cjas espécies em extinção e dos ecossistemasameaçados nos programas políticos como uma questãomaior, não só económica màs também no que se referea recursos.

Os governos podem refrear a destruição das florestas

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tropicais e de outros reservatórios de diversidade biológicaao mesmo tempo que os desenvolvem sob o aspectoeconómico. A reÍ'orrna dos sistemas de obtenção de receitase dos term os de concessão no sector Í lorestal pode levara um aumento de rendimentos cle biliões de dólares, alémcJe promover uma utili zação, a longo pra zo, mais eficazdos recursos florestais e de evitar a desflorestação.

A rede de áreas protegidas necessária ao mundo,no futuro, deve incluir áreas muito mais vastas sujeitasa um certo grau de protecção, o que signi f i ca que o custode conservação subirá directamente e em termos deoportunidades de desenvolvimento previstas. Mas) a longoprazo, as oportunidades de desenvolvimento sofrerão umamelhoria. Assim, os organisnros internacionais dedesenvolvi m ento deverão prestar uma atenção global esistemática aos problemas e oportunidades de conservaçãodas espécies.

Os governos deverão ver da possibilidade de chegara um acordo sobre uma "Convenção das Espécies",semelhante, no espírito e no âmbito, a outras convençõesinternacionais que reflectem os princípios clos "recursosuniversais". Deverão igualmente ter em considerllção acordosÍ'inanceiros internacionais com vista a apoiar aimplementação de uma tal convenção"

Energia: Escolhas Considerando oDesenvolvimento

Ambiente e o

Para se obter um desenvolvi m ento sustentável éimprescindível uma via energética segura e sustentável,que ainda não conseguimos encontrar. Têm vindo a baixaros índices de utiLização de energia. No entanto, aindustri alização, o desenvolvimento agrícola e as populaçoesem rápido crescimento nos países em desenvolvimentovão ter necessidade de muito mais energia. A ctualrn ent€,um cidadão m édio, numa econom ia de m ercadoindustri alizada, consome 8 0 vezes mais energia que umcidadão de África a sul do Sara. Assim, QUâlquer cenáriorealista ) a nível mundial, referente ao consumo de energiatern de prever um consumo suplementar de'energia primáriapara os paises em desenvolvimento.

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Para que o consumo de energia nos paises emdesenvolvimento atinja os niveis dos paises industrializadoscerca do ano 2025, torna-se necessário rnultiplicar o consumomundial actual por um factor de cincô, nível que oecossistema ntundial não poderá suportar, em particularse estes aumentos se basearem em combustíveis fósseisnão renováveis. As anreaças de aquecimento da atmosferae de acidificaçao do ambiente condicionam proveivelmentemesmo a duplicação daquele consumo, baseado na conrposiçãoactual de Í'ontes primárias.

- Por conseguinte, qualquer nova época de expansãoeeonómica tem de basear-se rnenos no consumo de energiado que no crescimento passado. A conservação de ener[iadeve constituir o ponto nrais alto das estratégias nacionãisde energia que visam um desenvolvimento sustentável,e muito se pode Í'azer neste domínio. Os equipamentosmodernos podem ser objecto de nova concepção, de formaa terem o nresmo poder energético utilizando apenas cloisterços ou mesmo metade da energia primária necessáriapara fazer funcionar quaiquer equipamento tradicional;e as soluções que visam esta conservação apresentanrfrequentemente bons resultados de custo-eficlência.

Depois de quase quatro décadas de grancle esforçotecnológico, a energia nuclear passou a sãr amplamenteutilizada. No entanto, durante todo este período, o tipode custos, riscos e beneficios que ela implica tornaram-secada vez mais evidentes e têm sido alvo de grandecontrovérsia. Por todo o mundo, vários paises assunlemposições diferentes quanto à utilização da energia nuclear,e a discussão, no âmbito da Comissão, reflectiu tambérnestas opiniões e posiçoes divergentes. No entanto, todosconcordaram que a prorlução de energia nuclear só se justificadesde que existam soluções eficazes para os problemasque ela levanta. f)ever-se-á dar a máxima prioridade àinvestigação e ao desenvolvimento de alternativas viáveissob o aspecto ecológico e não prejudiciais ao ambiente,bem como de meios para aumentar a segurança na utilizaçãoda energia nuclear.

A poupança de energia só pode fazer o mundo ganhar

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tempo com vista ao desenvolvimento de "formas de baixoconsumo energético" baseadas em fontes renováveis, gu€deverão constituir o suporte da estrutura energética globaldurante o século xxr. A maior parte destas fontes são aindaproblemáticas mas, dadas as inovações em curso, poderãopassar a fornecer a mesma quantidade de energia primáriaque o mundo consome actualmente. No entanto, para seatingirem estes niveis de utilização, será necessário umprograma coordenado de projectos de investigação,desenvolvimento e aplicação recorrendo aos fundosnecessários para garantir o rápido desenvoivimento dasenergias renováveis. Será necessário auxiliar os paisesem desenvolvimento a alterarem os seus padrões de utilizaçãode energia neste sentido.

Milhões de indivíduos nos países em desenvolvimentotêm Í'alta de madeira combustível, a principal fonte deenergia doméstica de metade da humanidade, e o seu númerotende a crescer. Os países pobres neste recurso devemorganizar o sector agríqola de forma a produzir grandesquantidades de madeira e outros combustíveis vegetais.

As alterações necessárias na gama actual de fontesde energia disponíveis não se poderão conseguir apenasatravés de pressões de mercado, devido ao papel dominantedos governos enquanto produtores de energia e à suaimportância como consumidores. Se se quiser manter eampliar a tendência recente para o aumento de eficiênciana poupança de energia, os governos têm de fazer destefacto um objectivo explícito das suas políticas de preçosde energia para os consumidores. Os preços necessáriosao encorajamento da adopção de medidas de poupançade energia podem ser estabelecidos de diversas formas.Embora a Comissão não apresente qualquer preferência,os lrpreços de conservação" exigem que os governos pesem,a longo prazo, os custos e os beneficios das diferentesmedidas a tomar. Dada a importância dos preços do petróleono âmbito da política energética internacional, devemexplorar-se novos mecanismos que visem incentivar o diáIogoentre consumidores e produtores.

Impõe-se claram ente a escolha de uma opção

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energética segura, que não prejudique o ambiente e queseja economiiamente viável, a fim de se poder mantero progresso humano num futuro distante. Mas serãonecessárias novas atitudes de vontade política e cooperaçãoinstitucional.

Indústria: Produzir Mais com Menos

Hoje em dia o mundo produz sete vezes mais doque em 1950. Considerando as taxas de crescimentopopulacional, será necessário um aumento de produçãocinco a dez vezes maior para elevar os niveis de consumodos países em desenvolvimento até aos níveis do mundoindustrializado, quando as taxas de creseimento demográficoficarem niveladas, durante o próximo século.

A experiência, nos paises industrializados, demonstrouque as técnicas anti-poluição provaram dar bons resultadosem termos de eusto-eficácia, no que se refere aos prejuízosque se puderem evitar na saúde, na qualidade e no ambiente,e que tornaram muitas indústrias mais rentáveis atravésde um melhor aproveitamento de recursos. Apesar de seter mantido o crescimento económico, o consumo dematérias-primas manteve-se constante ou diminuiu mesmo,e as novâs tecnologias passaram a oferecer maior eficiência.

Os países têm de suportar os custos da industrializaçaoinadequada, e muitos em desenvolvimento iá começarama compreender que não têm nem os recursos nem - dadasas rápidas mudanças tecnológicas - tempo suficiente pararecuperar o ambiente, no futuro, depois de o terem danificadono presente. Mas estes paises também necessitam de receberauxílio e informação dos países industrializados a fim defazerem o melhor uso da tecnologia. As multinacionaistêm uma responsabitidade muito eipecial na preparaçãoda opção industrial dos países em que operam.

As novas tecnologias oferecem a promessa de maiorprodutividade, maior eficiência e menor poluição; no entanto,muitas trazem consigo os riscos de novas substânciasquímicas e resíduos tóxicos e de mriores acidentes de cujotipo e escala estão para além dos mecanismos actuais decombate. Verifica-se uma necessidade urgente de controlos

mais apertados na exportação de substâncias químicasindustriais e agrícolas perigosas. Dever-se-ão aumentartambém os controlos actuais referentes ao depósito deresíduos perigosos.

N{uitas das necessidades do Homem só podem sersatisfeitas através de bens e serviços proporcionados pelaindústria, e a opção do desenvolvimento sustentável temde ser alimentada por um fluxo contínuo de riquezaproveniente da indústria.

O Desafio Urbano

No fim deste século, cerca de metade da poputaçãohabitará em cidades; o mundo do século xxr será um mundoessencialmente urbano. Durante apenas 65 anos, a populaçãourbana do mundo em desenvolvimento decuplicou, passandode cerca de 100 milhões em 1920 para 1 bilião hoje emdia. Em 1940, um indivíduo em cada 100 habitava numacidade de 1 milhão ou mais habitantes; em 1980, um emcada 10 vivia em cidades desse tipo. Entre 1985 e o ano2000 as cidades do Terceiro Mundo poderão ver a suapopulação aumentada de cerca de três quartos de um bilião,o que aponta para a necessidade de nos próximos anos omundo em desenvolvimento aumentar em cerca de 65016

a sua capacidade de produzir e gerir as infra-estruturasurbanas, os serviços e o alojamento, de forma a simplesmentemanter as condições extremamente precárias quefrequentemente se verificam hoje em dia.

Poucas cidades do mundo em desenvolvimento têmo poder, os recursos e o pessoal qualificado que proporcionemà sua população, em crescimento acelerado, o espaço, osserviços e as condições necessárias a uma vida humanacondigna: água potável, saneamento básico, escolas etransportes. O resultado é um amontoado de bairros ilegaiscom condições primitivas, excesso de popuiação e um indicecrescente de doenças associado a um ambiente insalubre.Muitas cidades nos paises industrializados também enfrentameste tipo de problemas - a deterioração das infra-estruturas,a degradação do ambiente, a decadência dos centroshistóricos e o colapso dos subúrbios. No entanto, tendo

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em conta os meios e os recursos necessários para ultrapassarestes problemas, a questãoo nestes casos é, em úttima análise,uma escolha política e social. O mesmo não acontece nospaíses em desenvolvimento, a braços eom a maior criseurbana.

É necessário que os governos desenvolvam estratégiasexplícitas que orientem os processos de urbanização,aliviando a pressão exercida sobre os maiores centros urbanose construindo cidades mais pequenas, integrando-as melhornos seus I'hinterlands" rurais. Isto significa o exame e aalteração de outras políticas - impostos, preços alimentares,transportes, saúde, industrialização que aetualmentefuncionam contra os objeetivos das estratégias dos centrospopulacionais.

Uma boa gestão urbana exige a descentralização - defundos, de poder político e de pessoal - para as autarquiasIocais, que se encontram em melhor posição para avaliare gerir as necessidades locais. Mas o desenvolvimentosustentável das cidades depende de um trabalho decolaboração com as maiorias pobres dos centros urbanos,que são quem verdadeiramente constroi as cidades, apelandopara as suas aptidões, energia e recursos das associaçõesde moradores e outras. Muito se pode eonseguir atravésde acções ao nível das unidades de vizinhança queproporcionam às famílias os serviços básicos e as ajudama construir, casas melhores, à volta deles.

III. COOPERAÇÃO INTERNACIONALE REFORMA INSTITUCIONAL

O Papel da Economia Internacional

Para que as troeas económicas internacionaisbeneficiem todos os intervenientes, têm de se satisfazerduas condições: garantir a manutenção dos ecossistemas,dos quais depende a economia mundial, e assegurar aosparceiros económicos uma base equitativa para as trocas.Em muitos países em desenvolvimento não se verifieaqualquer destas condições.

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Em muitos países em desenvolvimento, o crescimentotem sido coartado pela baixa dos preços dos produtos básicos,pelo proteccionismo, por intoleráveis encargos de dívidase pela redução dos fluxos financeiros de auxílio aodesenvolvimento. Se o nível de vida tem de subir de'formaa diminuir a pobreza, devem inverter-se estas tendências.

O Banco Mundial e a Associação Internacional parao Desenvolvimento têm uma responsabilidade particularcomo principais agentes do financiamento multilateraispara os países em desenvolvimento. No contexto dos fluxosfinanceiros em aumento constante, o Banco Mundial podedar apoio a projectos e políticas visando um ambiente sadio.No que respeita ao financiamento a correcções estruturais,o Fundo Monetário Internacional deverá dar apoio aobjectivos de desenvolvimento mais amploS e a prazo maislongo do que tem feito até agora: crescimento, objectivosde carácter social e impactes ambientais.

O nível actual da dívida de muitos países, em especialem África e na América Latina, não é compatível comum desenvolvimento sustentável. Os países devedores têmsido obrigados a utilizar os excedentes comerciais paraliquidar as dívidas, estando a esgotar seriamente os recursosnão renováveis para este fim. É necessária uma acção urgente.com vista a aliviar os pesos das dívidas externas atravésde soluçõês que assentem numa repartição mais justa dasresponsabilidades e dos encargos assumidos tanto pelosdevedores como pelos credores.

Os acordos existentes relativos a bens de eonsumopodem ser significativamente melhorados: um financiamentomais compensador que contrabalance os choques económicospode encorajar os produtores a considerarem prazos maislongos e a não produzirem bens em excesso; os programasde diversificação podem prestar maior asistência. Podemelaborar-se aeordos específicos relativos a produtos debase tomando como modelo o Acordo Internacional sóbreMadeiras Tropicais, um dos poucos que inclui espeeificamentepreocupações ecológicas.

As companhias multinacionais podem desempenhar

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um papel importante no desenvolvimento sustentável, emparticular à medida que os paises em desenvolvimentocomeçam a confiar mais na participação do capitalestrangeiro. Mas, se se quiser que estas companhias tenhamuma influência positiva no desenvolvimento, tem de sereforçar a capacidade de negociação dos paises emdesenvolvimento face às multinacionais, de forma a queaqueles possam'ver satisfeitas as suas preocupações como ambiente.

Contudo, estas medidas específicas têm de serincluídas num contexto mais vasto de cooperação eficazcom vista à criação de um sistema económico internacionalcujo objectivo é o crescimento e a eliminação da pobrezano mundo.

A Gestão dos Recursos Comuns

As formas tradicionais da soberania nacional criamproblemas especiais na gestão dos "recursos mundiais ecomuns" e dos seus ecossistemas partilhados - os oceanos,o espaço exterior e a Antárctida. Já se progrediu um pouconestas três áreas, mas muito ficou por fazer.

A Conferência das NU sobre a l,ei dos Mares foia tentativa mais ambiciosa para estabelecer um regirneinternacional de gestão dos oceanos. Todos os paises deverão,tão breve quanto possível, ratificar o Tratado da Lei dosMares. Dever-se-ão reforçar os acordos de pesca de formaa evitar a sobreexploração actual, bem como as eonvençõesrelativas ao controlo e regulamentação do t'depósito" deresíduos perigosos no mar.

São cada vez maiores as preocupações com a gestãodo espaço exterior, centrando-se na utilização dastecnologias associadas aos satélites, que monitorizam ossistemas planetários, na melhor utilização das capacidadeslimitadas da órbita geossíncrona de satétites de comunicação,e na limitação do lançamento de resíduos no espaço. Acolocação em órbita e os testes com armas no espaçoaumentarão muito estes resíduos. Cabe à comunidadeinternacional procurar elaborar e implementar um regimepara o espaço, que assegure que esta mantenha um ambiente

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pacíficopara benefício de todos.

A Antárctida tem vindo a ser gerida, desde 1959,pelo Tratado da Antárctida. No entanto, muitas naçõesfora deste pacto consideram-no demasiado limitado, tantono que diz respeito à participação, como ao âmbito dassuas medidas de protecção. As recomendações da Comissãovisam a salvaguarda do que se conseguiu alcançar até aopresente, â inclusão do desenvolvimento da exploraçãomineira num regime de gestão, bem como várias opçõespara o futuro.

Paz, Segurança, Desenvolvimento e Ambiente

Entre os perigos que o ambiente tem de enfrentar,a possibilidade de uma guerra nuclear é, sem dúvida, omais grave. Certos aspectos das questões de paz e segurançadizem directamente respeito ao coneeito de desenvolvimentosustentável. Deve ampliar-se a noção global de segurança,tal como entendida tradicionalmente - em termos de ameaçaspolíticas e militares à soberania nacional - de forma aincluir os crescentes impactes da crise do ambiente - aosníveis local, naeional, regional e mundial. Não existernsoluções militares para a rrinsegurança ambiental".

Os governos e os organismos internacionais deverãofazer uma análise de custo-beneficio, em termos da garantiade segurança, e do dinheiro gasto em armamentos emcomparação com o dinheiro gasto com a redução da pobrezaou a recuperação de um ambiente destruído.

Mas, mais necessário que tudo é promover a melhoriadas relações entre as grandes potências capazes dedesenvolverem ú'r.rmas de destruição geral. Só assim se podemconseguir acori:ros de controlo mais restrito da proliferaçãoe experiência com vários tipos de armas de destruiçãogeral - nucleares e não nucleares -, incluindo as que têmimplicações para o ambiente.

Mudança ao Nível Institucional e Legal

O relatório completo da Comissão,"O Nosso FuturoComum", contém (em particular no capítulo 72) muitas

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-recomendações específicas visando alterações de carácterinstitucional e legal, QUê não se podem resumir de formaadequada. Contudo, as principais propostas da Comissãoenglobam seis áreas prioritárias.

Chegar às Fontes

Os governos devem começar já a responsabilizardirectamente os organismos nacionais, económicos esectoriais, de forma a que eles garantam, nas suas políticas,programas e orçamentos, o apoio a um desenvoivimentoeconómica e ecologicamente equilibrado.

Da mesma forma, as várias organizações regionaisdevem esforçar-se mais por integrar totalmente o ambientenos seus objectivos e actividades. São particularmentenecessários novos acordos regionais, entre os paises emdesenvolvimento, que tratem os problemas ambientaistransfronteiras.

Todos os organismos e departamentos internacionaisdeverão garantir que os seus programas encorajem e apoiemo desenvolvimento sustentável, devendo igualmente melhorara coordenação e cooperação. O Secretário-Geral daOrganização das Nações Unidas deverá criar um centrodirector a alto nível, para o sistema das NU, cujo fim sejaavaliar, aconselhar, assistir e informar sobre os progressosfeitos com vista àquele objectivo.

Tro,tnr dos EfeÍtos

Os governos deverão igualmente reforçar a acçâoe as capacidades dos departamentos de protecção doambiente e de gestão dos recursos, facto necessário emmuitos paises industrializados e ainda mais em paises emdesenvolvimento, que precisam de auxílio para reforçarenlas suas instituições. Dever-se-á dar mais força ao Programadas Nações Unidas para o Ambiente como principal fontede dados e de avaliação do estado do ambiente' e comoprincipal advogado e agente de modificação e cooperaçãointernacional no domínio de questões críticas de protecçãodo ambiente e dos recursos naturais.

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Avaliar os RÍscos c Nívet Mttrtclio,l

Deve-se reforçar e ampliar rapidamente a capacidadede identificar, avaliar e informar relativamente aos riscosde danos irreversíveis causados aos sistemas naturais e

às ameaçâs à sobrevivência, segurança e bem-estar dacomunidade mundial. Os governos, individual oucolectivamente, são os principáis responsáveis por isto'O programa de vigilância mundial do PNUA deverá constituiro centro, no sistema das NU, da avaliação de riscos.

Todavia, dada a natureza política da maior partedos riscos mais críticos, também é necessária uma capacidadeindependente, mas complementar, de avaliação e informaçãodos riscos "títi"ot a nívet mundial. Para tal; dever-se-áestabelecer um novo programa internacional de cooperaçãoentre organizações não governamentais, instituiçõescientíficas e grupos industriais.

F az er Escolhas CrÍterÍo.sos

Fazer as escolhas dificeis, que estão implicadasna obtenção dum desenvolvimento sustentável dependedo amplo ápoio e do grau de comprometimento de um públicobem informado, de organizações não governamentais, da

comunidade científica e da indústria. Dever-se-ão ampliaros seus direitos, os papéis que desempenham e a sua

participagáo no planeamento do desenvolvimento, na tomadade decisões e na implementação dos projectos.

Criar os Meios Legais

A legislação nacional e internacional tem vindo

a ser rapidãmente ultrapassada pelo ritmo acelerado e

pela escaia crescente dos impactes sobre a base ecológicaão desenvolvimento. Os governos sentem agora a necessidadede preencher as grandes lacunas na legislação nacionale internàcional existente relacionadas com o ambiente,de encontrar os caminhos para reconhecer e proteger os

direitos das gerações presentes e futuras a um ambienteàáequaoo à süa saúde e bem-estar, de preparar, lob a égidedas Nações Unidas, uma Declaração universal sobre a

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protecção do ambiente e o desenvolvimento sustentável,com uma Convenção subsequente, bem como de fortaleeeros processos para evitar ou resolver as ôisputas relativasa questões de ambiente e gestão de recursos.

InvestÍr no Nosso Fufrtro

Durante a última década, foi possível demonstraro balanço geral custo-benefício dos investimentos feitosno combate à poluição. Também se demonstraramrepetidamente os custos crescentes dos danos económicose ecológicos devidos a falta de investimentos na protecçãoe melhoria, do ambiente - que se refleetiram muitas vezesem terríveis números de vítimas de inundações e fome.Mas há grandes implicações financeiras: relativamenteao desenvolvimento de energias renováveis, ao controloda poluição e ao desenvolvimento de formas de agriculturaque impliquem uma utilização menos intensiva dos recursos.

As instituições financeiras multilaterais têm umpapel crucial a desempenhar. O Banco Mundial estáactualmente a proceder a uma nova orientação dos seusprogramas tendo em vista maiores preocupações ambientais,o que deverá ser acompanhado por um forte compromissopor parte do Banco, relativamente ao desenvolvimentosustentável. É também essencial que os Bancos de Fomentoregionais e o Fundo Monetário Internacional incluamobjectivos semelhantes nas suas políticas e nos seusprogramas. As organizações de auxílio bilateral necessitamigualmente de estabelecer novas prioridades e objectivos.

Dadas as dificuldades de aumento dos actuais fluxosde auxílio internacional, os governos deverão considerarseriamente hipóteses de conseguir rendimentos adicionaisprovenientes do uso dos bens comuns e dos recursos naturais.

rv. APELO À ACÇAO

No decurso deste século, a relação entre o mundo humano eo planeta qlp o suporta sofreu uma transformação profunda.

No início do século, nem o número de humanos nema tecnologia tinham o poder de alterar radicalmente os

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sistemas planetários. Ao chegarmos ao fim deste século,não só o crescente número de seres humanos e as suasactividades têm esse poder, como também se estão r, clargrandes alterações não esperadas na atmosfera, nos solos,nas águas, entre as plantas e os animais, e nas relaçõesentre todos estes elementos. A rapidez destas alteraçõesestá a ultrapassar a capacidade de resposta do meiocientífico, e a nossa própria capacidade de avaliação eprecaução. São frustrantes as tentativas de adaptaçãoe os esforços para acompanhar as novas concepções. Estasituação constitui uma grande preocupação para muitosdos que procuram a forma de incluir estas questões nosprogramas políticos.

A responsabilidade recai não apenas sobre um únicogrupo de nações. Os países em desenvolvimento enfrentamos desafios, que ameaçam a vida, da desertificação, dadesflorestação e da poluiçáo, e suportam a maior parteda pobreza associada à degradagão do ambiente. Toda afamíIia humana das nações sofrerá com o desaparecimentodas florestas tropicais, a extinção de espécies vegetaise animais e as alterações nos indíces de precipitação. Asnações industrializadas enfrentam os desafios ameaçadoresdos produtos químicos tóxicos, dos resíduos tóxicos e daacidificação. Todas as nações podem sofrer com as emissões,dos países industrializados, compostas de dióxido de carbonoe de gases nocivos à camada de ozono, e com qualquerguerra futura que recorra aos arsenais nucleares controladospor essas nações. Todos os países têm um papel adesempenhar na alteração das téndências e na correcçãode um sistema económico internacional euê, em vez dediminuir, aumenta a desigualdade e o número de pobrese de pessoas com fome.

As próximas décadas vão ser cruciais. Chegou aaltura de acabar com os padrões do passado. As tentativasde manter a estabilidade social e ecotógica com base nasantigas formas de abordagem do desenvolvimento e daprotecção do ambiente só vão aumentar a estabilidade.Tem de se procurar a segurança através da mudança. AComissão tomou nota de diversas acções a realizar a fimde se reduzirem os riscos para a sobrevivência e de escolhar

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a via para o desenvolvimento sustentável no futuro. Noentanto, temos consciência que uma tal reorientação, comuma base de continuidade, se encontra simplesmente forado aleance das estruturas actuais de tomada de decisãoe dos acordos institucionais, tanto naeionais comointernacionais.

Esta Comissão foi cuidadosa ao basear asrecomendações nas realidades das instituições actuais,no que pode e deve ser feito hoje em dia. Mas, para quese possam manter em aberto as opções para as geraçõesfuturas, é necessário que a geração actual comece já eunida.

Para que se chegue às mudanças necessárias,consideramos imperativo que se siga activamente esterelatório. Tendo presente este objectivo, apelamos paraa Assembleia Geral das NU para gu€r após devidaconsideração, transforme este relatório num Programadas Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável.Entretanto poder-se-á dar início, a nível regional, aconferências subsequentes especiais. Após um períododeterminado depois da apresentação deste relatório àAssembleia Geral, dever-se-á convocar uma conferênciainternacional, durante a qual se fará a anáIise do progressofeito e se promoverão os acordos seguintes necessáriosao estabeleeimento de critérios e à manutenção do progressohumano.

Primeiro e antes de mais, a Comissão preocupou-secom as populações - de todos os países e de todos os credos.E é a essas populações que dirigimos o nosso relatório. Asmudanças de atitude, a que fazemos apelo, dependem deuma grande eampanha de educação, discussão e participaçãode todos. Esta campanha tem de começar já, se se quiseratingir um progresso humano sustentável.

Os membros da Comissão Mundial para o Ambientee o Desenvolvimento são provenientes de 21 países muitodiferentes. Durante as nossas discussões, muitas vezesestivemos em desacordo sobre pormenores e prioridades.Mas apesar das nossas raízes tão diferentes e das diversas

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responsabilidades a nível nacionalconsegui mos chegar a acordo quanto àsorientar a mudança.

Somos unânimes na convicção deo be m -estar e mesmo a sobrevivênciadependem de tal mudança, já.

e internacional,linhas que deverão

que a segurança,no nosso planeta