O NOVO CÓD. FLORESTAL BRASILEIRO

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    UNIVERSIDADE DE BRASLIA

    INSTITUTO DE CINCIAS HUMANAS

    DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

    BRUNO BORTOLETO

    IGOR AMAURY AVELINE

    LUCIANA FELIX

    MARIANA BARROS DA NBREGA GOMES

    MAX ALEXANDRE BARBOSA VILLELA

    LOBBY E AGRONEGCIO NO BRASIL: O NOVO CDIGO FLORESTAL

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    Braslia DF

    2 semestre de 2010

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    SUMRIO

    Introduo..........................................................................................................................................1

    1.Referencial Histrico......................................................................................................................3

    1.1. O agronegcio no Brasil..................................................................................................3

    1.2. A Bancada Ruralista.......................................................................................................4

    2. Referencial Terico........................................................................................................................7

    2.1. Spykman e o conceito de poder......................................................................................7

    2.2. Guimares e o lobby poltico...........................................................................................8

    2.3. Pereira e o confronto desenvolvimentistas versus ambientalistas...............................9

    3. Estudo de Caso: o novo Cdigo Florestal brasileiro.................................................................11

    3.1. O Cdigo Florestal Brasileiro.......................................................................................11

    3.2. O Cdigo Florestal brasileiro comparado: o que muda?...........................................12

    3.3. O lobby da Bancada Ruralista......................................................................................14

    Concluso.........................................................................................................................................18

    Anexos..............................................................................................................................................20

    Referncias Bibliogrficas...............................................................................................................23

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    INTRODUO

    O agronegcio, do ingls agribusiness, chegou ao Brasil na dcada de 1970. Nesse perodo,

    as facilidades tcnicas ensejadas pela chamada Revoluo Verde, favoreceram a produo e omanejo eficiente da produo agrcola, e a expanso da fronteira agrcola nas regies NorteCentro-Oeste do Brasil. Os interesses dos empresrios do agronegcio, sobretudo aquelesrelacionados s questes ambientais, constituem importante ponto de divergncia e tpicodegrandes debates.

    A oposio entre ruralistas e ambientalistas constitui um dos debates mais acirradosno meio

    rural brasileiro atualmente: de um lado, os empresrios do agronegcio, com seu discurso em favordo crescimento econmico; de outro, os ativistas ambientais, com seus argumentos em defesa domeio ambiente e do desenvolvimento sustentvel. No bojo desta discusso, est a proposta dereforma do Cdigo Florestal brasileiro.

    Uma vez que as deliberaes relativas a uma reforma legal concentram-se, mormente, noCongresso Nacional, o embate parlamentar se coloca entre os parlamentares ligados proteoambiental e aqueles representantes dos interesses dos empresrios do agronegcio. Es

    ses ltimoscompem a chamada Bancada Ruralista, considerada o maior grupo de interesse do CongressoNacional brasileiro.

    Na Bancada Ruralista, as demandas dos empresrios do agronegcio encontram-seinstitucionalizadas, em um dos poderes tripartites do Estado brasileiro. Simultaneamente, quando seconsideram os prprios parlamentares que a integram, em sua maioria empresrios do agronegcio,observam-se os prprios interessados atuando em causa prpria. Esse imiscuir de atores, que seconfundem nas relaes de poder, constitui especial interesse para a anlise geopoltica.

    Analisando a relao entre os empresrios do agronegcio e o Poder Legislativo, estetrabalho tem como objeto de estudo o lobby empreendido pelos parlamentares da Bancada Ruralistada legislatura 2007-2011 do Congresso Nacional brasileiro, no que concerne reforma do CdigoFlorestal brasileiro. A aprovao, em comisso, do projeto que prev a reforma do Cdigo Florestalreflete o poder de articulao e de conformao da agenda poltica do Poder Legislativo brasileiros demandas dos empresrios do agronegcio. No esteio dessa problemtica, surge a seguin

    tepergunta de pesquisa:

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    Como os parlamentares integrantes da Bancada Ruralista do Congresso Nacionalbrasileiro, que representam as demandas dos empresrios do agronegcio, trabalham pelaaprovao do novo Cdigo Florestal brasileiro?

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    Objetivando oferecer uma resposta pergunta supracitada, este trabalho consistir,emlinhas gerais, de um referencial histrico do surgimento do agronegcio no Brasil eda origem eformao da Bancada Ruralista, seguido de um referencial terico contendo a fundamentaoconceitual que orienta as anlises. Finalmente, apresentar-se- um estudo de caso so

    bre a propostade reforma do Cdigo Florestal brasileiro aprovada em comisso no ms de julho de 2010,enfatizando-se a atuao dos parlamentares da Bancada Ruralista, enquanto representantes doagronegcio, no processo de discusso e aprovao do projeto de reforma em comisso, bem comoem sua conduo para a votao em plenrio.

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    Captulo 1

    Referencial Histrico

    1.1. O agronegcio no Brasil

    A expresso agribusiness (em portugus, agronegcio) surgiu em 1957, nos Estados Unidos,por Ray Goldberg e John Davis, pesquisadores e professores da Universidade de Harvard. Defiram,ento, agronegcio como o conjunto de atividades e funes que permitem a produo e consu

    de alimentos e matria-prima de origem agropecuria (PINHO; AGUIAR, 1998:V).

    O Brasil no apresentou, desde o incio de sua histria, a agricultura como atividadeimportante social e economicamente. No incio do perodo colonial, a economia baseava-se na trocade manufaturados e alimentos europeus por recursos naturais extrados da floresta.No havia ainteno de produzir alimentos para consumo interno ou exportao.

    Porm, os portugueses encontraram aqui nichos ecolgicos favorveis ao plantio de culturasde seu interesse, de modo que trouxeram para c plantas e animais que imaginaram p

    udessemfacilmente cultivar. So exemplos: cana-de-acar, banana, manga, laranja, caf, gado deleite ecorte, galinhas poedeiras, arroz e feijo.

    Do perodo colonial at a dcada de 1970, no Brasil, houve pouqussimas inovaes naagricultura, com baixo uso de fertilizantes, defensivos e mecanizao. Em 1970, apresentou-se umcenrio de acelerado processo de urbanizao do pas (impulsionado por emprego, sade, educao,transporte e segurana atrativos da cidade em relao ao campo), onde mais de 70% da populaoera urbana, sendo que esta no produzia nenhum alimento, pelo contrrio, demandava-os paraconsumo.

    Dessa maneira, o Brasil viu-se obrigado a produzir mais, uma vez que a importao dealimentos da cesta bsica de consumo acabaria por desequilibrar a balana comercial,contribuindopara deix-la desfavorvel. Assim, o pas deveria parar de importar alimentos e investir paradesenvolver o potencial gerado pela grande biodiversidade, a abundncia de gua, matria-prima,mo-de-obra, terra e insolao pertencente ao Brasil, aproveitando toda a sua capacida

    de ociosa.

    Foi nesse perodo que surgiu o I Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) e,

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    posteriormente, o II PND, com o objetivo de planejar, coordenar e executar polticas para oagronegcio brasileiro. A Poltica de Integrao Nacional baseava-se na construo de estras,difuso de energia eltrica e telecomunicaes, alm de ocupao do territrio nacional, aacorreo do solo do Cerrado, da irrigao do semirido nordestino e substituio do extrat

    moflorestal por explorao agrcola, industrial e mineral na Amaznia. Foram criadas a Embrapa eEmbrater, centros de pesquisa e produo de conhecimento e de tecnologias, para assistir zona

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    rural, de forma que esta pudesse superar os impedimentos que o ambiente apresentava aodesenvolvimento de uma grande produo.

    Portanto, pode ser visto no Brasil, a partir da dcada de 1970, que o agronegcio brasileiro

    modernizou-se baseado na pesquisa, para diversificao e aumento da produo, alm de avanemeficincia, tanto visando o desenvolvimento do tratamento da terra quanto da mo-de-obra. Odesenvolvimento da terra est relacionado correo do solo, por exemplo. Em relao mobra, a mecanizao e a difuso de energia eltrica exemplificam este desenvolvimento. Dessamaneira, reas que antes eram consideradas imprprias para cultivo tornaram-se agricultveis. Detal modo, houve uma diversificao das variedades de cultura e pastagem, somadas a fertilizantesqumicos, alm de prticas mais eficientes que permitiam maior produo numa mesma rea.

    Assim, as inovaes tecnolgicas e organizacionais na agricultura convergiram para criar um novouso do tempo um novo uso da terra, dado que tambm foi possvel diminuir o ciclo devida dasculturas e o espao de cultivo.

    No Brasil, observa-se a cultura da cana-de-acar no nordeste, do caf no sudeste, a extraoda borracha na regio amaznica. No sul do pas, nas colnias portuguesas, italianas, alems,polonesas etc, a pecuria praticada desde o sculo XVIII, sendo que hoje grande exportador decarne bovina, suna e aves. No centro-oeste, a cultivo da soja e laranja, a partir

    da dcada de 1970.Desse modo, podemos ver que a histria da economia brasileira, com suas questes sociais,polticas e culturais, tem forte ligao com agronegcio, alm de que notvel que a insecultivo em todas as regies do pas foi agente catalisador do processo de desenvolvimento destas.

    Podemos pode-se constatar, ento, que o primeiro setor continuamente apresentou papelimportante na movimentao e desenvolvimento da economia e da sociedade brasileira,e hoje issono diferente. Sempre existiram, tambm, atores nesse processo que buscavam meios defazerseus interesses serem atendidos pelo Estado. Esses grupos de interesse atuam dediversas formas,sejam institucionais ou no.

    1.2. A Bancada Ruralista

    No sistema partidrio atualmente em vigor no Brasil, os partidos polticos apresentam

    apenas diretrizes gerais de atuao em suas plataformas polticas sem priorizar demandasespecficas. Essa realidade enseja uma fragmentao da atuao parlamentar, de modo que os

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    legisladores concentram seus esforos, individualmente, em favor de tais demandas.Nesse embatepoltico, a construo de alianas mister para a consecuo dos interesses. Assim, comoentaEdlcio Vigna, assessor do Instituto de Estudos Socioeconmicos (INESC), a atividadede presso

    inerente ao trabalho legislativo (VIGNA,2007:13).

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    Da presso poltica empreendida no seio do legislativo brasileiro como tambm ocorre naesfera parlamentar de outros pases origina-se a formao dos chamados grupos de interesse. Osgrupos de interesse agem conjuntamente objetivando interesses especficos. Insere-se nessa

    denominao, a Bancada Ruralista, cuja origem e histria constituem o cerne deste captulo. ABancada Ruralista recebe a denominao Grupo Temporrio Pblico de Interesse Particular,adotada pelo cientista poltico Davi Fleischer em razo de se tratar de um conjuntosuprapartidriode atores pblicos eletivos.

    O embrio da Bancada Ruralista data da Assembleia Constituinte (1987-1988), quandoaselites agrrias brasileiras eram encabeadas pela Unio Democrtica Ruralista (UDR), fundada em

    1985 pelo pecuarista goiano Ronaldo Caiado e pelo cafeicultor paulista Plnio Junqueira Jnior. AUDR interps feroz oposio reforma agrria e democratizao da terra (BARCELOS EBARRIEL,2009:11).

    Durante a Assembleia Constituinte, observou-se o quo articulada era a atuao da UDR,aqual procurou incutir em todos os associados uma identidade nica e favorvel aos interesses declasse. Com os parlamentares no foi diferente: o que se viu no foi a simples ao dos lobbiesagindo nos gabinetes parlamentares, mas a presena de um poder extraparlamentar que invadia e se

    sobrepunha s regras da prtica parlamentar (BRUNO,1997:86).

    Esse carter da UDR foi especialmente importante para orientar as formas articulaopoltica da Bancada Ruralista que viria a se constituir. Ademais, o grande esforo uderrista nacriao de uma identidade de classe, foi fundamental na garantia de coeso interna nogruporuralista, o que se verifica atualmente na Bancada Ruralista, que conserva a sobreposio dosinteresses de classe sobre os interesses particulares.

    De fato, o que estava em jogo na concepo de participao poltica da UDR era asobrevivncia e o fortalecimento dos grandes proprietrios de terra enquanto classe(BRUNO,1989:3) e, dados seus mtodos violentos e radicais, era constituda por um nmerorestrito de parlamentares o que, contudo, no limitava seu poder de articulao poltica. Tratava-sede vinte deputados engajados na luta poltica pelos interesses da UDR. esse grupo de vintedeputados-militantes. e sua entourage. que, com o respaldo do ministro da Agricultura do governoCollor, ai constituir o ncleo-base para a criao da Bancada Ruralista (BRUNO,1997:87). Com aeleio de Ronaldo Caiado, ento no PFL-GO, na legislatura 1990-1994, iniciaram-se osfortes

    lobbies parlamentares relacionados s mesmas reivindicaes da UDR.

    Segundo Regina Bruno,

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    Ronaldo Caiado, oriundo de um dos mais tradicionais cls polticos de Gois, rene em sia funode idelogo e principal articulador da entidade. seu porta-voz. Junqueira, por seulado, pertencente a

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    uma tradicional famlia de cafeicultores do Estado de So Paulo e diretor de cinco empresasagropecurias, funciona como o conselheiro-mor da UDR (BRUNO,1997:52).

    Na dcada de 1990, a instabilidade poltica do governo Collor deu incio desarticulaopoltica dos ruralistas. O resultado foi a desintegrao da UDR em 1993. A partir de ento, aBancada Ruralista passou por uma reorganizao interna e por uma redefinio da atuao pocade seus membros. A partir desse momento que se pode falar em uma Bancada Ruralista. SegundoVigna,

    O restabelecimento desta representao foi possvel devido a uma conjuno de fatores. Re

    altamosos mais significativos: primeiro, o crescimento do PFL (segunda bancada partidria) trs para aCmara dos Deputados os representantes da elite agrria mais conscientes da importncia daorganizao da Bancada Ruralista como grupo de interesse, presso e lobbying; segundo,eleies denotrios conservadores para as presidncias da Cmara e do Senado Federal; terceiro, avitria, naseleies presidenciais, da aliana PFL-PSDB. Pode-se distinguir, tambm, um quarto fator: a derrotado ento deputado Ronaldo Caiado. rfo desta liderana vigorosa e centralizadora, o grupo ampliou

    sua articulao com outros setores parlamentares (VIGNA,2001:1).

    Na legislatura 1995-1999, houve certo abandono dos meios violentos pregados pelaUDR eos parlamentares da Bancada Ruralista passaram a atuar em demandas especficas e diversificadas.A composio da Bancada Ruralista oscilou muito desde ento. Na legislatura 1999-2003,verifica-se uma reduo do nmero de integrantes da bancada. Nesta legislatura, a eleio de RonaldoCaiado (DEM-GO), Abelardo Lupion (DEM-PR), Lus Carlos Heinze (PP-RS), antigas lideranasruralistas, guiou a ao da bancada, como no princpio.

    A tendncia de diminuio dos membros da bancada se repete na legislatura 2003-2007,quando a Bancada Ruralista se torna mais profissional, projetando-se na arena poltica e na mdiacomo o grupo de interesse de maior proeminncia no Congresso Nacional. O processodediversificao da representao dos interesses da bancada tambm se aprofunda e continua nos anosseguintes.

    Na legislatura 2007-2011, verifica-se a reverso da tendncia de diminuio de membros dabancada e o nmero de integrantes retorna ao patamar da legislatura 1995-1999. A c

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    omposio dabancada nesse perodo mostra-se mais conservadora e, apesar da diversidade partidria queapresenta, afasta-se dos interesses exclusivamente partidrios, permanecendo fielaos interesses declasse. Destarte a reduo numrica da bancada em duas legislaturas consecutivas, suacapacidade

    de atuao eficiente no ficou comprometida dado seu elevado poder de mobilizao, o quallhepermite garantir facilmente a maioria relativa no momento das votaes.

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    Captulo 2

    Referencial Terico

    2.1. Spykman e o conceito de poder

    Spykman argumenta que um mundo ordenado possui conflitos, seno os belicosos, os quetravados em cmaras e salas de audincia, sendo que o equilbrio de poder encontra-senapermanente atividade poltica, a fim de obter o melhor equilbrio entre os Estados (que so o seusatores de estudo).

    Acrescenta que a poltica de equilbrio s pode ser praticada pelos grandes atores, j que ospequenos, quando atuam, s podem unir-se entre si para ganhar peso, ou unir-se a grandes, demaneira que possa pesar, de alguma forma, na balana de poderes estabelecida.

    Apresenta a concepo poltica de poder do povo estadunidense que, em geral, consideraopoder como algo ruim. Isto , com base na tradio crist e ideologia nacional, o podecomo fim perverso do indivduo, por isso, seria este impensvel como objeto de desejo, seja noplano individual, social ou estatal. Spykman, porm acredita que essa concepo fantas

    iosa, umavez que a luta pelo poder um elemento intrnseco na relao entre os homens (COSTA,1992:173). Segundo ele, inerente ao poder a persuaso, a compra, a permuta e a coero.

    Em analogia ao processo de aprovao do Novo Cdigo Florestal brasileiro, notvel que osatores envolvidos travam uma grande guerra de influncia, na Cmara dos Deputados. Observa-seuma clivagem entre ruralista e ambientalista, em que cada lado deseja utilizar-se do poder depersuaso, compra, permuta e coero, tal com Spykman defende, para fazer com que a decisofinal seja favorvel aos seus interesses.

    So dois grupos que possuem, em si, bastante poder. A Bancada Ruralista, de grandetradio no Congresso Nacional, apresenta representao desde o perodo imperial. A bancadaambientalista, apesar de mais recente, apresenta ampla visibilidade, uma vez que, desde a dcada de1990, a questo ambiental ganhou notoriedade social e , no momento, foco de constante apelo nasociedade, atravs da mdia. Ambos tentam conquistar para si grupos que, pelo menosnessa rea,

    tm pouca fora, mas poderiam alterar a balana em favor de um dos lados, em detrimento do outro.

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    No Brasil, assim como na sociedade estadunidense, h certa averso ao poder, de modoqueeste visto como algo alcanando atravs de meios escusos, tal como a corrupo. O indivo quedetm poder carrega grande taxa de preconceito, e o mesmo vale para os grupos organizados. Asociedade brasileira, de modo geral, encara toda essa batalha de poderes como um

    a disputa entreindivduos torpes que buscam, unicamente, satisfazer os prprios objetivos e interesse, enxergandoa arena poltica como algo distante da realidade dos cidados honestos, ignorando queem todas

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    as relaes humanas h atuao poltica, uma busca constante de influenciar as atitudes alias, semmaniquesmos, pois esta uma caracterstica inerente ao ser humano, enquanto criaturas que serrelacionam entre si.

    2.2. Guimares e o lobby poltico

    O pensamento de Guimares expe dois grandes problemas do Brasil: desigualdades evulnerabilidades sociais, econmicas, polticas, externas , os quais resultam, atravsdaprecariedade das instituies sociais e dos fatores de produo, no subdesenvolvimento.Assim, asorigens desses problemas so histricas e estruturais, de modo que em todos os momen

    tos dahistria do Brasil Colonizao, Imprio e Repblica no houve reais rupturas, mas simperpetuao de uma elite agrria, gerando uma macroestrutura hegemnica do poder, controlada emoldada por essas minorias detentoras do poder econmico.

    Nesse sentido, a manuteno dessa macroestrutura produz desigualdades manifestadas naestrutura de poder brasileiro, sendo que uma delas o lobby de empresas nos trs poderesbrasileiros Executivo, Judicirio e Legislativo. Guimares aponta isso como um processo decorrupo da vontade poltica do povo, explicando nesse trecho: No processo legislativo,

    de umlado interesses econmicos financiam as eleies e organizam seus representantes em defesa delegislao que garanta seus privilgios, enquanto o Executivo (...) por meio do controle daliberalizao de verbas e do preenchimento de cargos na administrao, teve sempre a possibilidadede conquistar o voto de parlamentares e assim, obter o seu apoio (GUIMARES, 2005:19).

    Assim, trazendo essa discusso de Guimares para a aprovao do novo Cdigo Florestalbrasileiro observa-se que esses problemas se expressam de maneira explcita na atuao da BancadaRuralista, a qual sendo muitas vezes financiada por grandes empresrios do agronegcio tendem aconfluir com interesses mercadolgicos e desenvolvimentistas.

    Alm disso, na segunda parte dessa frase, Guimares chama a ateno para outro mecanismodo lobby da Bancada Ruralista presente no Executivo: a troca tcita de nomeaes de Ministros ealtos cargos do Executivo como grandes estatais de setores estratgicos e a liberalizao deverbas por apoio de outras bancadas nas votaes no plenrio. Detendo-se de cargos estratgicos no

    executivo os ruralistas podem articular o convencimento de outros congressistas,trocandofavorecimento de licitaes, cargos, propina, por apoio de outras bancadas.

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    Outro resultado do lobby apontado por Guimares o incentivo a privatizaes a evaso dafiscalizao de agncias do Estado. Neste trecho, evidencia-se a questo: (...) os grandes gruposeconmicos exerceram enorme influncia sobre os processos decisrios de natureza patrimonial,como no caso das privatizaes, e de natureza regulamentadora, com a finalidade de s

    e subtrair

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    fiscalizao das agncias do Estado, de evadir a tributao (...) grandes grupos econmicoemespecial os grupos estrangeiros, h dcadas recebem tratamento de favor junto administraofazendria e credenciaria, tais como isenes tributrias e acesso privilegiado ao crditopblico e a

    condies extraordinrias para o pagamento de dvidas junto ao Tesouro e bancos oficiais(GUIMARES, 2005: 20).

    Essa desregulamentao das agncias do Estado est muito presente no Novo Cdigo florestalbrasileiro, o qual se aprovado cria mecanismos para agncias competentes caducaremas dvidas deagricultores, assim como legalizarem as reas que cometeram irregularidades antesde julho de2008.

    2.3. Pereira e o confronto desenvolvimentistas versus ambientalistas

    Carlos Patrcio de Freitas Pereira aborda o debate entre desenvolvimentistas eambientalistas. O autor argumenta que, no bojo desse conflito de ideias, parte dacomunidadeinternacional interfere em defesa do preservacionismo no Hemisfrio Sul, esquecidade que eladevastou e persiste na destruio do meio ambiente com a emisso de efluentes de todaordem.Outra parte da comunidade internacional, ligada ao mercado produtivo do agronegci

    o e daminerao, responsvel pelo impacto socioambiental (PEREIRA,2007:288).

    O debate proposto por Pereira relaciona-se ao embate parlamentar entre ruralistas,representantes dos empresrios do agronegcio, e ambientalistas quanto reforma do CdigoFlorestal Brasileiro. A Bancada Ruralista empreendeu vigoroso lobby poltico paraa aprovao daproposta de reforma do Cdigo Florestal Brasileiro em comisso e segue se mobilizando para levaro projeto a plenrio. O debate suscitado por Pereira, bem como seus desdobramentos, sobretudo noque diz respeito proposta de reforma do Cdigo Florestal brasileiro, contribui para fundamentar edar base s anlises apresentadas neste trabalho.

    Muitos dos parlamentares da Bancada Ruralista so empresrios do agronegcio, o querefora ainda mais seu interesse na aprovao do novo Cdigo Florestal Brasileiro que prev, entreoutras coisas, o perdo da dvida dos agricultores, a proibio de desmatamento por cinco anos apartir da publicao da lei e a regularizao das terras em uso na agropecuria que no esvamlegalizadas at 2008.

    Em meio a crticas da comunidade internacional ao novo Cdigo Florestal brasileiro,h

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    interesses internacionais, principalmente na regio amaznica. As crticas procuram desacreditar ocomprometimento do Brasil com as agendas internacionais de preservao ambiental. Pereira seposiciona sobre este aspecto ao afirmar que desde as antigas propostas de internacionalizao, nossculos XIX e XX, at as atuais, de soberania limitada ou gesto compartilhada dos rec

    ursos da

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    regio, pode-se observar uma constncia nos objetivos e uma crescente propaganda a respeito(PEREIRA,2007:289).

    No contexto das atividades de lobby, mobilizao e influncia poltica, a Bancada Ruralista

    emerge como um ator que se confunde, ora identificando-se com o prprio Estado, ora com osprprios empresrios do agronegcio. Enquanto a Bancada Ruralista procura garantir asdemandasdos empresrios do agronegcio, os grandes prejudicados so o meio ambiente e os pequenosprodutores, cuja sobrevivncia depende de sua atividade.

    Como ressalta Pereira, na rea do agronegcio, a tendncia monocultura e concentraofundiria tem levado dependncia dos agricultores aos conglomerados industriais dominados porpoucas empresas multinacionais do setor agroqumico (...) inegvel que o agronegcio t

    raz umforte impacto socioambiental em razo do desmatamento da reas florestais, com perigo parareduo da diversidade biolgica, com influncia, nem sempre benfica, na agricultura dascomunidades sertanejas (PEREIRA,2007:320).

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    Captulo 3

    Estudo de Caso: o novo Cdigo Florestal brasileiro

    3.1. O Cdigo Florestal Brasileiro

    A Lei atual, de acordo com o direito vigente no Brasil, que abrange o Cdigo Florestal aLei 4771/1965. Desde sua promulgao aos dias de hoje visvel que a realidade brasileira mudou,seja no aspecto econmico, social ou poltico. No plano interno do pas, essas foram explicadas noscaptulos IV e V desta parte II, e no plano global so reflexos do processo de evoluodo

    Capitalismo. Processo marcado porrevolues

    nos meios de comunicao, transporte einformtica, intensificando o processo de produo e evidenciando atores da geopoltica

    contempornea no nvel da presente anlise, restringe-se aos empresrios do agronegcio

    Brasil.

    Portanto, a necessidade de um Novo Cdigo Florestal, contextualizado com as demandasambientais e que reflita a vontade da populao do territrio brasileiro, imprescindvel. Entretanto,os parlamentares brasileiros tm distorcido seus papis como representantes da vontade do povo,privilegiando os interesses de uma parcela restrita da populao os empresrios do agr

    onegcio. Odebate sobre um novo cdigo ganha espao na sociedade brasileira em 2007, quando o Decreto N6321/2007 instituiu penas ao descumprimento de determinaes do Cdigo Florestal em vigor, oqual trazia uma longa lista de exigncias que no estavam sendo observadas.

    A partir de ento, a inobservncia daquela legislao passou a implicar pesadas penas, desdemultas entre R$ 50,00 e R$ 500,00 por dia a, at mesmo, a interdio da propriedade. Em 2008,porm, este decreto foi revogado, e a partir de ento uma srie de decretos foram prevendo puniespara quem no respeitasse a Lei ambiental, mas logo em seguida vinha um substitutoadiando oprazo de regulamentao das propriedades. Isso se manteve at que em 2009, o presidente LusIncio Lula da Silva emitiu o Decreto N 7929/2009, o qual obriga a recomposio da ReservaLegal em todo o pas. Como o incio de seu vigor em junho de 2011, isso explica porque houvetanta movimentao em 2010 no Poder Legislativo sobre o tema.

    Desse modo, a Lei N 4771/1965 est em vias de ser revogada, estando em tramite no na

    Cmara dos Deputados o Projeto de Lei substituto N 1876/1999. Na realidade, essa Lei foi alteradapelos parlamentares de modo a receber o nome de Segundo Substituto ao Projeto de

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    Lei N1876/1999. E este Segundo Substituto foi aprovado em julho passado, a Comisso Especial daCmara dos Deputados destinada a tratar das mudanas no Cdigo Florestal brasileiro, seguindoagora para a votao no plenrio da Casa.

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    Entre julho e dezembro de 2010 observou-se um intenso lobby da Bancada Ruralistaemordem de obter assinaturas suficientes dos parlamentares para por a votao em nvel de urgncia, oque trancaria a pauta do plenrio at a votao do Projeto de Lei. Ademais, aps aprovadana

    Cmara dos Deputados, passar pelo Senado e pela Presidncia da Repblica. Este ltimo cargopoder sancionar a Lei, veta-la de modo integral, ou de modo parcial.

    3.2. O Cdigo Florestal brasileiro comparado: o que muda?

    A primeira diferena importante a ser notada entre a Lei do Cdigo Florestal em viasde ser

    revogado e o novo a mudana no limite da propriedade de terra. Observa-se que, embora emambos os cdigos cada estado da federao o limite para pequena propriedade seja diferente, alegislao atual aumentou em todos os estados a quantidade de metros quadrados mnimosquedefiniam esse limite. Fixando um estado para realizar uma comparao da mudana, tem-se que noAmazonas definia-se pequena propriedade como aquela de at 150 hectares. J no cdigoatual, olimite 4 mdulos fiscais, que representam 304 hectares 1 mdulo fiscal amaznico correspondea 76 hectares.

    Assim, o tamanho mnimo do que se considera pequena propriedade dobrou, e comopequenos proprietrios so isentos de Reserva Legal, favorece-se o desmatamento. Ao mesmotempo aumenta as reas que esses novos proprietrios podem cultivar, aumentando a possibilidadede lucro com o comrcio dos produtos agrcolas.

    No que tange s reas de Preservao Permanente APP o Artigo 3 do novo cdigoestabelece em que medida os interesses sociais justificam a interveno humana nas APP. Porexemplo, aceitvel o uso sustentvel dessas reas praticado por comunidades tradicionais ou posserural familiar, desde que no descaracterizem a cobertura vegetal existente. Entretanto, no h aprescrio do rgo que emanar a regulamentao das APP, no fazendo referncia ao IBAMAqualquer outro rgo governamental e, dessa maneira, abrindo uma brecha na Lei parapossveisconstataes quando rgos fiscalizadores autuarem as propriedades irregulares.

    Percebe-se tambm uma diminuio nos casos que caracterizariam as APP. Por exemplo,faixas marginais de rios para se enquadrarem em APPs agora devem ser mais estreitas e os riosmais curtos. Alm da retirada de topo de morros, montes, montanhas e serras dessaprescrio. E

    mais, a excluso de dunas, reas de populaes silvcolas e comunidades indgenas antesidosno Artigo 3 do velho cdigo.

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    Ainda se tratando de APP, o Artigo 4 estabelece que no caso de reas urbanas consolidadasas alteraes nos limites das reas de Preservao Permanente devero estar previstas nosanosdiretores ou nas leis municipais de uso do solo. Isso representa um retrocesso,porque a

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    desconsiderao de um rgo estadual na regulamentao abre margem para arbitrariedadesmunicipais, na quais a fiscalizao costuma ser mais frgil. Ademais, considerando apenas o localdesconsidera-se a importncia regional do bioma protegido pela APP.

    Sobre Reservas Legais, o Artigo 15 da nova legislao torna possvel que as APP sejam

    computadas no clculo do percentual destinado a Reserva Legal. Isso alm de diminuiras reasverdes efetivamente protegidas, dificulta a fiscalizao da obedincia da Lei, pois asreaspreservadas ficaram mais dispersas nas propriedades.

    Alm disso, no que tange Reservas Legais importante constatar ainda que a legislao de1965 j prescrevia a reduo das RL de imveis situados dentro da Amaznia Legal para finsderegularizao ambiental, e na nova norma isso no se altera. Assim, fica mantida a possibilidade de

    reduo das reas de RL, caso se fosse indicado pelo Zoneamento Ecolgico Econmico estadual,para at 50% da propriedade, excludas as APP e reas de expressiva biodiversidade.

    Nessa comparao entre os Cdigos Florestais brasileiros, a questo mais preocupanteencontra-se nos Artigos 23 e 24 doa nova Lei, os quais se referem s punies aos proprietrios deterras irregulares. O primeiro artigo determina a criao de Programas de RegularizaoAmbientalpela unio ou unidades federativas do Brasil para adequar coerentemente os imveis rurais diante danova norma jurdica. Esses programas deverem ser promulgados em at 5 anos aps a publicao do

    novo cdigo, e abrangero todos imveis que tiveram a vegetao nativa suprimida irregularmenteantes de 22 de julho de 2008.

    J o segundo artigo determina que at que o Programa de Regularizao Ambiental sejapromulgado, sob a condio de que os proprietrios se cadastrem no programa do governodestinado a essa regularizao e respeitem os termos de compromisso assinados, ficaassegurada amanuteno das atividades agropecurias e florestais em reas rurais consolidadas, at aslocalizadas em reas de Preservao Permanente e de Reserva Legal.

    Nesse sentido, mais que assegurar as atividades dos produtores rurais, o Artigo24determina que fiquem suspensas as cobranas de multas decorrentes de infraes cometidas antesde 22 de julho de 2008 na respectiva propriedade ou posse, referentes supresso irregular devegetao nativa em reas de Preservao Permanente, reas de Reserva Legal ou em reas deinclinao entre 25 e 45 no foi citado anteriormente, mas essa outra caracterizaoque no podem ser alvo de cultivo agrcola.

    O novo cdigo muito otimista, determinando que as multas deverem ser convertidas emprestao de servios que visem melhoria e recuperao da qualidade do meio ambiente,

    suprimindo o Artigo 26 do antigo Cdigo Florestal, o qual previa sanes penais aos infratores domesmo.

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    Por fim, em uma anlise geral do antigo e novo Cdigo Florestal, evidente uma maiorateno ao desenvolvimento econmico do pas em detrimento da conservao do meio ambienteOprprio relator do Projeto de Lei substituto, Aldo Rebelo, chega a admitir essa viso economicistana publicao de seu parecer sobre a mudana. No documento por ele publicado, a na pri

    meira frasecontm a seguinte dedicatria: Dedicado aos agricultores brasileiros (REBELO,2010:2),seguidode uma epgrafe muito significativa:

    (...) h dois tipos de leis: umas, absolutamente equnimes e gerais, outras,estranhas, cuja sano provm apenas da necessidade ou da cegueira dascircunstncias. Se estas cobrem de ignomnia o culpado que as infringe, a ignomnia passageira e o tempo se encarrega de revert-la definitivamente sobre os juzes eas naes. Hoje, quem desonrado? Scrates ou o magistrado que o obrigou a

    beber cicuta?Denis Diderot, em Sobrinho de Rameau (REBELO,2010:3).

    A interpretao dessa frase, comparada aos escritos no parecer, tentam passar aos leitoresque, embora essa nova Lei parea incoerente, sem os mritos que deveriam ser contidos nela, h umengano de julgamento, e o tempo comprovar como o Congresso Nacional tem razo em defender aaprovao do novo Cdigo Florestal brasileiro. Outros argumentos falaciosos so encontrados noparecer do relator, de modo que um dos exemplos de como a Bancada Ruralista se a

    rticula paratrabalhar pela aprovao do Novo Cdigo Florestal brasileiro, atravs do convencimento de outrosdeputados utilizando-se de argumentos retricos, sem mostrar o real problema da nova legislao.

    3.3. O lobby da Bancada Ruralista

    A Bancada Ruralista dispe de diferentes mtodos de atuao para atingir seus objetivosdentro do Congresso Nacional. O arranjo poltico estruturado pela bancada lhe permite aes quetransbordam o espao governamental e as arenas polticas institucionais. Isto revelaa hbilcapacidade de seus membros-componentes de manter vnculos e alianas tanto no interior do Estadoquanto fora dele, principalmente com empresrios do agronegcio, que muitas vezes tmrepresentantes diretos entre os parlamentares.

    A primeira grande caracterstica que fundamenta todo o complexo persuasivo presente nosmembros-componentes da Bancada Ruralista seu poder de articulao e mobilizao de outra

    sbases ou bancadas polticas. Seus laos de cooperao e reciprocidade a outras bancadaspolticas

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    sustentam sua vitalidade e confiana institucional.

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    importante ressaltar que sua alta capilaridade poltica no se efetiva pelo nmero absolutode seus parlamentares, mas pela habilidade de construir novas alianas, novas relaesinstitucionais e novos cdigos de conduta e fidelidade a outras bancadas ou gruposde interesse.

    Outro diferencial poltico da bancada a sua aproximao com diferentes partidos, que nopode serinterpretada como a ausncia de ideologia, mas uma estratgia de convencimento e simpatia, umaforma de ilustrar sua sensibilidade frente s diversas questes de seu interesse. Historicamentesuprapartidria, a Bancada Ruralista capaz de se identificar com inmeras questes temticas paragarantir sua diversidade e sua perene habilidade de pressionar o Congresso Nacional.

    A dinmica da bancada funcionalmente adaptada pela aprovao-votao de interesses

    especficos de orientao classista e nunca atravs de um nico partido. O suprapartidarismo apenas uma estratgia, um dispositivo de fora poltica, um mecanismo de unio e reciprocidadesolidria entre os empresrios do agronegcio de diversos setores. O grupo ruralista nose submete,necessariamente, a nenhuma regra, seno a da fidelidade aos seus interesses. Votaunificadasomente nas proposies que possam afetar seus negcios no mercado. Nas votaes que noenvolvem seus interesses, cada deputado "liberado" para seguir ou no as indicaes daslideranas partidrias, invertendo a lgica do processo legislativo.

    Outra caracterstica que viabiliza a conquista dos interesses da Bancada Ruralista a tomadade postos e cargos-chave em comisses e ministrios. A indicao para os ministrios e a ocupaode cargos estratgicos em partidos a fonte do poder poltico da bancada. O controledas instnciaspor onde tramitam os projetos e programas voltados ao campo, bem como as polticaspblicasrurais, entre elas as de reforma agrria e a da reformulao do Cdigo Florestal, aprovando aquelessimpticos aos seus interesses e engavetando ou descartando aqueles que so desnecessrs aopas se torna mecanismo vitorioso e de grande significado poltico para a bancada.

    Por fim, nas duas ltimas legislaturas os ruralistas tm segmentado sua atuao, distribuindofunes polticas aos seus representantes atravs de pactos previamente programados. Umadivisoruralista de comando foi realizada para obteno de eficcia em suas aes, bem como otimizar olobby.

    O discurso dos empresrios do agronegcio brasileiro a partir dos membros-componentesda bancada, ilustra uma leitura particular e classista sobre a organizao e a produo

    na zona ruralbrasileira, como tambm estrutura uma plataforma de aes polticas que representam um ponto de

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    vista, um prisma de anlise, no entanto recoberto pelos mantos institucionais do Estado.

    Para alm de revelar um bloco de poder institucional ou mesmo um grupo de presso, aBancada Ruralista representa o maior sujeito poltico representante das elites agrrias incorporado

    nas tramas institucionais do Estado brasileiro. Suprapartidria, a bancada mantm unidos uma redede potenciais agentes que atuam em favor de interesses comuns.

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    A articulao e o dilogo dos parlamentares da bancada com outros sujeitos polticos erepresentantes do agronegcio demonstra sua competncia em manejar o discurso sobreo agrobrasileiro e a solidificar e influenciar relaes. O idelogo da UDR, o pecuarista e deputadoRonaldo Caiado (DEM-GO), foi o principal protagonista que aproximou e influencio

    u entidadeslocais, sindicatos e associaes, levantando a bandeira do agronegcio, da iniciativaprivada e dadefesa da propriedade. Sua atuao, percorrendo desde os corredores e gabinetes do parlamentobrasileiro, influenciando parlamentares, partidos e decises at sua jornada por fazendas, prefeiturase sindicatos, revela a tcnica e a magnitude de produzir uma articulada teia de alianas, do local aonacional.

    O relacionamento dos parlamentares ruralistas com as entidades e federaes (naciona

    is elocais) expressa um tom de grande cumplicidade, sobretudo porque seus membros, alm de exercera profisso de homens do campo, ocupam cargos e postos polticos de destaque. A senadoraruralista Ktia Abreu (DEM-TO) recentemente tomou posse do o cargo de presidente da CNA Confederao Nacional da Agricultura e Pecuria do Brasil desfecho de toda sua militnciaparlamentar, tanto como ex-lder da UDR, como ex-presidente da FAET Federao da Agriculturado Estado do Tocantins. O deputado ruralista Abelardo Lupion (DEM-PR) ocupa o cargo de

    diretor-institucional da ABCZ Associao Brasileira dos Criadores de Zebu e o atualpresidente de negociaes do grupo de trabalho que rediscute a dvida agrcola dos produtores. Oex-deputado ruralista Silas Brasileiro (PMDB-MG) ocupou em 2007 o cargo de diretor-executivodo CNC Conselho Nacional do Caf rgo que defende os interesses do caf do Brasil eseus cafeicultores. Cumpre salientar que o atual deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO)alm defundador e idelogo, comandou a UDR, a partir da Cmara dos Deputados, e transformouoparlamento numa extenso poltica da entidade.

    Todo esse quadro explicativo demonstra o poder e a ampla capacidade de articulaomultiescalar das elites agrrias sob vias institucionais, como tambm refora a debilidade das atuaisrelaes polticas e formas de organizao poltica da sociedade. A configurao e o arranernoda Bancada Ruralista resultado de uma histrica e longa jornada de alianas, vitrias,derrotas,contradies e disputas por hegemonia, que marcam a histria do patronato rural brasileiro.

    Portanto, a Bancada Ruralista representa a reunio de distintas territorialidadespresentes nopatronato rural brasileiro, desde o empresrio rural, a multinacional, o agropecua

    rista que compe aarquitetura social da ideologia do agronegcio. Sua forma de ler e interpretar o espao agrrio por

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    meio de um particular discurso sobre o agronegcio brasileiro representa o desdobramento deterritorialidades j consolidadas e hegemonizadas, no entanto reproduzidas pelo canal enunciativodo Estado.

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    A partir de uma anlise das estatsticas do nmero de deputados da bancada por unidade dafederao, foi possvel ilustrar a territorialidade do poder agro-fundirio atravs dos membrosruralistas. O mapeamento dos parlamentares e seus estados de origem nos permiteinferir como o

    poder agro-conservador est disposto espacialmente e em quais unidades da federao essa classe seconcentra.

    Logo, atravs da anlise das prticas institucionais dos parlamentares ruralistas, possvelafirmar que o poder no campo brasileiro constitudo pelo intenso e incessante movimentoarticulado de distintas escalas de presso e influncia, encontrando na Bancada Ruralista suaexpresso mxima de defesa e proteo das elites do agronegcio no Brasil, reconhecendo sua

    forma de organizao superior a qualquer critrio poltico e democrtico. O bloco de poderdochamado agronegcio agora parlamentar, garantia institucional que mantm e reproduzas atuais eassimtricas relaes sociais e de poder inseridas no mundo rural brasileiro e que conserva aestrutura fundiria.

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    CONCLUSO

    A partir das anlises feitas ao longo deste trabalho, sobretudo no estudo de casoapresentado,

    percebe-se a notvel participao da Bancada Ruralista na aprovao, em comisso, do projedereforma do Cdigo Florestal brasileiro. Durante os trabalhos de elaborao, discusso evotao daproposta, o poder de articulao e mobilizao poltica da bancada se mostrou evidente,principalmente quando consideradas as formas de atuao empregadas pelos parlamentares dabancada.

    A Bancada Ruralista formada por parlamentares oriundos de todas as regies brasileiras eessa caracterstica refora o aspecto da territorialidade presente na Bancada. Em nme

    ros absolutos,a regio Nordeste a que apresenta o maior nmero de deputados membros da Bancada Ruralista, oque pode se justificar pelo tamanho da regio e pela concentrao de latifndios na suazona rural.Entretanto, em termos relativos, percebe-se uma grande representao dos ruralistasnos estados daregio Sul.

    A ao dos lobistas no regulamentada no Brasil. Contudo, por detrs dos mecanismosvelados de lobby empreendidos pela Bancada Ruralista, o parecer do deputado AldoRebelo, relatordo Projeto de Lei que prev a reforma do Cdigo Florestal brasileiro, torna-a eviden

    te. O relatrioapresentado, notadamente favorvel aos interesses dos empresrios do agronegcio, sustentouveementemente a posio da Bancada Ruralista. Tal posicionamento surpreendeu sociedade civil ea imprensa, por se tratar de um parlamentar filiado ao PCdoB, partido que, tradicionalmente, no sealia aos interesses dos membros da Bancada Ruralista.

    A posio favorvel de Aldo Rebelo demonstra, mormente, o poder de mobilizao daBancada Ruralista, a qual se articulou de tal maneira a conseguir a adeso de um parlamentarinfluente, de um partido no alinhado Bancada e que no se autodeclara ruralista, como osmembros da Bancada.

    Quando comparado ao anterior, o novo Cdigo Florestal brasileiro apresenta mudanasdecarter desenvolvimentista, em detrimento da preservao do meio ambiente. No novo cdigo, helementos que claramente favorecem os empresrios do agronegcio, como o Artigo 24 do Projetode Lei substituto, o qual trata do perdo da dvida dos agricultores.

    Aps a aprovao na comisso, o projeto deve ir a plenrio e, at sua votao, o lobby da

    Bancada Ruralista deve continuar. J se podem notar investidas da Bancada no pedido de votaoem carter de urgncia colocado pelo deputado federal Sandro Mabel (PR-GO), cujo arg

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    umento arelevncia social da matria. Uma vez levado a plenrio em carter de urgncia, o Projetode Lei diretamente encaminhado para a ordem do dia e deve ser votado seguindo-se dos procedimentostradicionais de votao para leis ordinrias.

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    Para ser aprovado, metade dos parlamentares registrados na sesso devem ser favorveis aoProjeto. Desse modo, como j mencionado anteriormente, alm de seu considervel nmero demembros, a Bancada Ruralista dispe de grande poder de mobilizao, o que lhe permiteaprovar o

    novo Cdigo Florestal brasileiro facilmente, atravs de uma votao em bloco.

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    ANEXOS

    Figura 1. Evoluo da Bancada Ruralista 1995-2011

    Figura 2. Representao proporcional da Bancada Ruralista na Cmara dos Deputados nalegislatura 2007-2011.

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    Figura 3. Composio da Bancada Ruralista por partido poltico na legislatura 2007-2011

    Figura 4. Composio da Bancada Ruralista por partido poltico na legislatura 2007-2011

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    Figura 5. Composio da Bancada Ruralista por estado da federao na legislatura 2007-2011

    Figura 6. Composio da Bancada Ruralista por estado da federao na legislatura 2007-2011

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