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www.derechoycambiosocial.com ISSN: 2224-4131 Depsito legal: 2005-5822 1
Derecho y Cambio Social
O NOVO CONSTITUCIONALISMO LATINO-AMERICANO:
POR UMA EPISTEMOLOGIA DO SER A PARTIR DA
AMRICA-LATINA (SUL)
Heleno Florindo da Silva1
Alosio Krohling2
Fecha de publicacin: 01/10/2015
SUMRIO: Introduo. 1. Pluralismo epistemolgico e o
direito fundamental diversidade: uma anlise a partir do Sul
(Amrica Latina). 2. O novo constitucionalismo latino-
americano: em busca de instrumentos para uma nova
epistemologia do ser. Concluso.
RESUMO: A Amrica Latina no decorrer das ltimas dcadas
vem, sistematicamente, passando por inmeras transformaes
constitucionais que, em seu contexto global, so frutos de
movimentos sociais de luta, ou seja, por debates filosficos,
polticos e socioculturais, acerca da necessidade de
transformao de sua realidade perifrica, de modernidade
1 Doutorando em Direitos e Garantias Fundamentais pela Faculdade de Direito de Vitria
(FDV). Mestre em Direito em Direitos e Garantias Fundamentais pela Faculdade de Direito de
Vitria (FDV). Especialista em Direito Pblico pelo Centro Universitrio Newton Paiva.
Bacharel em Direito pelo Centro Universitrio Newton Paiva. Membro do Grupo de Pesquisa
Estado, Democracia Constitucional e Direitos Fundamentais da Faculdade de Direito de
Vitria (FDV). Membro Diretor da Academia Brasileira de Direitos Humanos (ABDH).
Professor no Curso de Direito da Faculdade So Geraldo (FSG). Coordenador do Ncleo de
Pesquisa do Curso de Direito da Faculdade So Geraldo (FSG).
2 Ps-doutor em Filosofia Poltica e Cincias Sociais pela Pontifcia Universidade Catlica de
So Paulo PUC/SP. Doutor e Filosofia pelo Instituto Santo Anselmo Roma, Itlia,
reconhecido como titulao de PH.D. Filosofia pela Universidade Federal do Esprito Santo
UFES. Mestre em Teologia e Filosofia pela Universidade Gregoriana Roma, Itlia, e em
Sociologia Poltica pela Escola de Sociologia e Poltica de So Paulo. Graduado e Filosofia
pela Faculdade Anchieta So Paulo, e em Cincias Sociais pela Loyola University, Chicago,
USA. Professor permanente do Curso de Ps Graduao Estrito Senso (Mestrado e
Doutorado) da Faculdade de Direito de Vitria (FDV). Pesquisador e Membro do Grupo de
Pesquisa Mltiplo Retrico e Dialtico: tica, interculturalidade e direitos humanos
fundamentais na histria das ideias jurdicas no Brasil.
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tardia, enquanto construo poltica, jurdica e social da
Modernidade. A partir dessas premissas, o start desse cenrio de
rompimento com o paradigma Moderno de construo scio-
poltica do Estado, pode ser visto na Constituio Brasileira de
1988 e seu pice com a Constituio Boliviana de 2009.
Portanto, desse contexto de busca por transformao
paradigmtica, atravs de dilogos cada vez mais plurais, que o
presente trabalho buscar demonstrar como uma epistemologia
latino-americana, construda, nos dizeres de Boaventura de S.
Santos, no Sul e pelo Sul Global, pode ser compreendida como
instrumento de transformao constitucional de uma sociedade.
Todas essas discusses inauguram a possibilidade de uma nova
perspectiva para os tericos do direito que se preocupam com a
construo poltica, social e, sobretudo, filosfica do Estado e
das Constituies na Modernidade. Assim, fala-se no
surgimento de um novo constitucionalismo, que rompe com as
Teorias modernas sobre o Estado, bem como sobre a
Constituio, um constitucionalismo de emancipao social, de
resgate, de libertao, de desencobrimento de todos aqueles que
foram, violentamente, excludos e estigmatizados pela
construo da Periferia pelo Centro moderno. Portanto, ser a
partir de uma racionalidade latino-americana, verdadeira
epistemologia do sul, que buscaremos discutir os desdobramento
e os fundamentos do que hoje se convencionou chamar de Novo
Constitucionalismo Transformador, Democrtico, Latino-
Americano.
PALAVRAS-CHAVE: Modernidade; Novo
Constitucionalismo Latino-Americano; Epistemologia do Sul.
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INTRODUO
Vivenciamos nas ltimas dcadas um perodo de grandes mudanas, que
nos obriga, dentre outras coisas, a realizar um empenho neste novo milnio
na busca por tomarmos parte desde cenrio de grande mundializao
neoliberal, mas, contudo, sem deixarmos de estar conscientes, bem como
de agirmos no mbito cultural da diversidade e da legitimidade local,
realidades nsitas a um mundo totalmente interligado.
um momento, portanto, que nos obriga repensar a realidade, a fim
de que seja possvel construirmos um projeto social e poltico contra
hegemnico (a partir do Sul Global), capaz de reordenar as relaes
tradicionais entre Estado e Sociedade, ou seja, entre uma tica
universalizante e um relativismo cultural, entre uma razo prtica e uma
filosofia do sujeito.
Nestes termos, possvel perceber que deste contexto atual,
multifacetado, que surge a necessidade de elaborao de um dilogo entre
um discurso de integrao e um discurso de diversidade, ou seja, entre as
formas tradicionais da modernidade e as experincias diversas, plurais,
heterogneas, no-formais, de conhecimento, de modo de vida, de
jurisdio.
Ressalta-se, que a partir dessas premissas acerca da realidade atual,
fundamental destacar, tambm, que na presente contemporaneidade, as
novas formas plurais e emancipatrias, de matriz contra hegemnica, de
legitimao social, que veem surgindo de amplos e diversos movimentos
sociais, cujo objetivo est na transfigurao do Estado e de sua
Constituio, elementos de efetivao e distribuio representativa do
poder do Estado, como se verifica, conforme se ver abaixo, nas discusses
acerca do novo constitucionalismo latino-americano.
A partir de ento, apoiados na viso metodolgica do mltiplo
dialtico3, o presente trabalho ser desenvolvido com o objetivo para
apresentar resposta ao presente problema de pesquisa: possvel
percebermos, atravs da anlise do novo constitucionalismo latino-
americano e do direito fundamental diversidade, uma nova epistemologia
do ser, construda a partir do Sul e pelo Sul Global, compreendida
3 Para um aprofundamento acerca do mtodo do Mltiplo Dialtico, ver KROHLING, Alosio.
Dialtica e Direitos Humanos mltiplo dialtico: da Grcia Contemporaneidade.
Curitiba: Juru Editora, 2014.
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como instrumento de transformao scio-poltica e constitucional de uma
sociedade?
A partir de ento, na primeira parte do presente trabalho, buscaremos
analisar o fenmeno daquilo que se entende como pluralismo
epistemolgico, bem como a necessidade de se reconhecer um direito
fundamental diversidade, o que ser feito a partir do sul global, sobretudo
e principalmente, do contexto poltico, social e cultural, da Amrica Latina.
J na segunda parte, analisaremos as novas tendncias constitucionais
latino-americanas e, em especial, o que se convencionou chamar de novo
constitucionalismo latino-americano, para, com isso, tentarmos extrair
dessa nova perspectiva, alguns instrumentos para a construo de uma nova
epistemologia do ser.
Portanto, com o presente trabalho buscamos contribuir para o atual
debate poltico, social e cultural, acerca da pluralidade, da diversidade e da
necessidade de convivncia entre seres completamente diferentes a fim de
se alcanar o bem comum, desenvolvendo um olhar mltiplo dialtico a
partir da Amrica Latina, de sua diversidade e de seus recentes movimentos
constitucionais.
1. PLURALISMO EPISTEMOLGICO E O DIREITO FUNDAMENTAL DIVERSIDADE: Uma Anlise a partir do
Sul4 (Amrica Latina).
a partir desse cenrio, conforme destacado acima, de verdadeira crise, um
perodo de grandes mudanas, perodo de verdadeira crise civilizatria5,
fruto daquilo que a modernidade imps ao mundo, como nico padro
poltico, econmico, social e cultural possvel, que necessariamente deveria
ser partilhado por todos, e que caminha para autodestruio, que partiremos
para anlise do direito fundamental diversidade a partir do contexto
poltico-social latino-americano.
4 Sob essa perspectiva, Boaventura de Sousa Santos afirmar a necessidade que enfrentamos
hoje, no contexto global, de aprender com o sul, haja vista ser constitudo de pases, sem sua
grande maioria, que sofreram e ainda sofrem as mazelas de 500 anos de desenvolvimento do
capitalismo global do colonizador, como nica forma de sustentao da modernidade europeia,
concluindo, a partir da, que: O primeiro passo aprender com o Sul. O sul se constitui de
povos, pases e naes que mais tm sofrido com o desenvolvimento do capitalismo global,
porque se mantiveram como pases subdesenvolvidos, em desenvolvimento permanente, sem
chegar nunca ao marco dos pases desenvolvidos. E por isso, aprender com o Sul signifi