201
O NOVO EXODO NO DEUTERO-ISAÍAS - PARADIGMA E ANAMNÉSIS DE SALVAÇÃO DANIEL MARTINS SOTELO 1

o Novo Exodo

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: o Novo Exodo

O NOVO EXODO NO DEUTERO-ISAÍAS - PARADIGMA E

ANAMNÉSIS DE SALVAÇÃO

DANIEL MARTINS SOTELO

SÂO PAULO 1996

1

Page 2: o Novo Exodo

RESUMO

O Dêutero-Isaías continua a seduzir os leitores e pesquisadores da ciência vetero-testamentária. Após as descobertas do século passado e deste século, a obra isaiana fascina seus leitores em muitos sentidos. O debate sobre a formação e composição do Dêutero-Isaías mostrou avanços. Mas, a discussão ainda continua, passando, principalmente: pela redação final, pelas inserções posteriores, pela formação do miolo e pela moldura dêutero-isaiana. As seções mais discutidas são: os textos sobre Ciro, o persa, e os textos sobre o Servo Sofredor. Na formação literária, a mixação, de poesia e da prosa, é constante. A construção teológica é mais forte que a histórica. O motivo do êxodo, ao qual está dedicada esta dissertação, é um tema muito importante em Dêutero-Isaías, profeta na Babilônia de 550 a 539/8 a. C. Este novo êxodo situa-se na perspectiva da promessa, da salvação. Os profetas antes do exílio anunciavam o castigo e só depois a salvação. O Dêutero-Isaías começa pela promessa. O novo êxodo é um paradigma e é anámnesis, é promessa e salvação. A recordação do antigo êxodo no Dêutero-Isaías tem a função de mostrar que este novo êxodo será muito maior, fenomenal, fantástico. É a transformação e a superação do antigo êxodo. É o que se vê em: Isaías 41,1-11; 42,16-21; 49,7-12; 51,9-14; 52,7-12; 55,12-13. Na exegese destes textos fica evidenciado que o novo êxodo no Dêutero-Isaías anuncia a promessa e a salvação. Esta promessa vem pela libertação da opressão da Babilônia, através da saída, da caminhada pelo deserto transformado e da chegada a Sião com o anúncio de que todas as nações presenciariam este acontecimento.

2

Page 3: o Novo Exodo

Dedico este trabalho para o Dr Milton Schwantes diretor e mentor da monografia

defendida na Faculdade Nossa Senhora da Assunção no ano de 1996.

O agradecimento também vai para este MESTRE dos mestres.

Aos membros da Banca, ao Dr Beni dos Santos que agora é bispo na grande São

Paulo e ao meu amigo ex-dominicano Domingos Zamagna por sua perspicácia e

coleguismo.

3

Page 4: o Novo Exodo

Dedico aos meus pais em ZAKHORIYM: Ramon Sotelo Guerra Abba e Maria

Encarnacion Rodrigues Martinez que tiverem seus nomes mudados porque não

sabiam direito o idioma português, só falavam o espanhol, e que seus nomes

foram transformados por um funcionário sem escrúpulos ou por ignorância num

cartório do interior paulista,

Aos meus irmãos que de doze restam apenas cinco mulheres e três homens,

Aos meus netos, neta e filhos, às mulheres que passaram em minha vida

amorosa.

4

Page 5: o Novo Exodo

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO 1 O CONTEXTO SÓCIO-HISTÓRICO DE 550 A 539/8 a. C.

1.1 O ANTIGO ORIENTE E JUDÁ

1.2 A QUEDA DA ASSÍRIA EM 722 a. C.

1.3 A BATALHA DE MEGIDO

1.4 O DOMÍNIO EGÍPCIO NA ÁREA DE MEGIDO E CARQUEMIS

1.5 A PRIMEIRA DEPORTAÇÃO DOS JUDAÍTAS PARA A BABILÔNIA

1.6 A SEGUNDA DEPORTAÇÃO DOS JUDAÍTAS PARA A BABILÔNIA

1.7 AS CONSEQUENCIAS DA QUEDA DE JERUSALEM

CAPÍTULO 2 AMBIENTE SÓCIO-HISTÓRICO DO DEUTERO-ISAÍAS

2.1 OS ANTECEDENTES HISTÓRICOS

2.2. OS ANTECEDENTES DO DEUTERO-ISAÍAS

2.2.1 A história do tempo do Deutêro-Isaías

2.2.2 A mensagem do Deutêro-Isaías

2.3 A SITUAÇÃO DOS EXILADOS NA BABILÕNIA

2.4 A VIDA NO EXÍLIO

2.4.1 O trabalhador Judaita e o trabalho compulsório

2.5 O DEUTERO-ISAÍAS NO CONTEXTO BABILÔNICO

2.5.1 o Isaías da Babilônia

2.6 A QUEDA DA BABILÔNIA E O FIM DO IMPÉRIO NEOBABILÔNICO

CAPÍTULO 3 ESTRUTURA DO LIVRO DO DEUTERO-ISAÍAS

5

Page 6: o Novo Exodo

3.1 A FORMAÇÃO DO DEUTERO-ISAÍAS

3.1.1 A história da pesquisa do Deutêro-Isaías

3.1.1.1 O Deutêro-Isaías conforme Bernhard Duhm

3.1.1.2 O Deutêro-Isaías conforme Brevard S. Childs

3.1.1.3 O Deutêro-Isaías conforme Claus Westermann

3.1.1.4 O Deutêro-Isaías conforme Roy F. Melugin

3.1.1.5 As tradições históricas no Deutero-Isaías

3.1.1.6 Comparações entre Brevard S. Childs, Claus Westermann e Roy F.

Melugin

CAPÍTULO 4 O MOTIVO DO EXODO NO DEUTERO-ISAÍAS

4.1 OS ANTECEDENTES DO MOTIVO DO EXODO NO DEUTERO-ISAÍAS

4.2 O NOVO EXODO COMO PARADIGMA E ANAMNESIS EM DEUTERO-

ISAÍAS

4.3 O NOVO EXODO COMO SALVAÇÃO EM DEUTERO-ISAÍAS

4.4 O EXODO NO DEUTERO-ISAÍAS COMO NOVO EXODO

CAPÍTULO 5 O MOTIVO DO EXODO NOS TEXTOS DO DEUTERO-ISAÍAS

5.1. ISAÍAS 40,1-11

5.1.1 O texto em Hebraico

5.1.1.1 Tradução

5.1.1.2 Questões exegéticas

5.1.1.3 O motivo do Êxodo

5.2. ISAÍAS 43,16-21

5.2.1 O texto em Hebraico

5.2.1.1 Tradução

5.2.1.2 Questões exegéticas

5.2.1.3 O motivo do Êxodo

5.3. ISAÍAS 49,7-12

5.3.1 O texto em Hebraico

5.3.1.1 Tradução

6

Page 7: o Novo Exodo

5.3.1.2 Questões exegéticas

5.3.1.3 O motivo do Êxodo

5.4 ISAÍAS 51,9-14

5.4.1 O texto em Hebraico

5.4.1.1 Tradução

5.4.1.2 Questões exegéticas

5.4.1.3 O motivo do Êxodo

5.5 ISAÍAS 52,7-12

5.5.1 O texto em Hebraico

5.5.1.1 Tradução

5.5.1.2 Questões exegéticas

5.5.1.3 O motivo do Êxodo

5.6 ISAÍAS 55,12-13

5.6.1 Texto em Hebraico

5.6.1.1 Tradução

5.6.1.2 Questões exegéticas

5.6.1.3 Motivo do Êxodo

CONCLUSÃO

REFERÊNCIAS

7

Page 8: o Novo Exodo

INTRODUÇÃO

O motivo do êxodo tem-se desenvolvido a contento na América

Latina, principalmente na Teologia da Libertação. Gustavo Gutiérrez1 emprega o

tema para demonstrar a hermenêutica da libertação. Não somente usa o êxodo

como também o segundo êxodo da Babilônia em sua teologia. Rubem Alves, em

sua obra, trata estes êxodos como paradigma da libertação2. Contudo, quem mais

trabalhou exegeticamente os temas do êxodo e do Servo Sofredor, dando uma

abordagem quanto à forma, ao conteúdo e à composição do Deutêro-Isaías, foi

Carlos Mesters3.

O motivo do êxodo é um tema fascinante dentre muitos temas

discutidos na obra isaiana.

O motivo do êxodo na teologia bíblica e na exegese está longe de

estar esgotado nas pesquisas do Primeiro Testamento. Faz parte de uma ampla

discussão e que muitas vezes permeia todos os níveis das teorias e das

hipóteses4 e das práticas.

A discussão continua e por certo continuará por duradouros

períodos. Sabemos, porém, de antemão, que esta idéia do êxodo ocorre tanto no

Antigo Testamento como, também, no Novo Testamento5. Num estudo

1GUTIERREZ, Gustavo. Teologia da libertação. Editora Vozes, Petrópolis, Rio de Janeiro, 1985, 5a. edição, p.130-176.2ALVES, Rubem. Cristianismo, opio o liberación. Ediciones Sígueme, Salamanca, 1973, p.54-159,180-240.3MESTERS, Carlos. A missão do povo que sofre - Os cânticos do Servo de Deus no livro do profeta Isaías. Editora Vozes/CEBI, Petrópolis, 1981, p.194.4VIRGULIN, Stefanus. O Dêutero-Isaías. in: FABRIS, Rinaldo. Problemas e perspectivas das ciências bíblicas. Edições Loyola, São Paulo, 1993, p.178-194. Ver também a obra de SARNA, Naum. Exploring Exodus, the Heritage of Biblical Israel. Schocken Books, New York, 1987, p.277.5CROATTO, José Severino. Êxodo: uma hermenêutica da liberdade. Edições Paulinas, São Paulo, 1981, p.35-73.

8

Page 9: o Novo Exodo

pormenorizado podemos detectar que o tema percorre toda literatura

intertestamentária; encontrando-se inserido em toda a literatura apócrifa,

pseudoepígrafe como na patrística.

O retorno dos cativos, após 538 a.C., não foi em massa, mas

devagar e aos poucos. Muitos nem retornaram. Os Judaítas começaram a fazer a

viagem de regresso, peregrinando em direção à terra prometida. O segundo

êxodo, mencionado pelo Deutêro-Isaías, fala de uma nova passagem pelo

deserto, uma nova travessia e enfim a chegada a Jerusalém. Esta idéia de êxodo

está, pois, presente, efetivamente na mensagem em vários relatos do nosso

profeta.6

Existe substancial bibliografia sobre o Deutêro-Isaías, desde autoria,

formação, composição, análise literária, temática, tradições desenvolvidas ao

longo da obra, e teologia do autor no exílio7.

A discussão em torno da obra isaiana começou no século XII d.C.

com um teólogo e filósofo judeu medieval chamado Ibn Ezra, quem colocou pela

primeira vez em dúvida a unicidade do livro de Isaías e consequentemente afirmou

a existência de vários escritores. Quatro séculos depois, em 1789, Johann

Christian Doederlin, seguindo a sugestão feita em 1873 por seu patrício Johann

Gottfried Eichhorn, inicia a teoria da separação do livro de Isaías. Passou-se a

enfatizar que o Deutêro-Isaías deveria ser separado das outras partes dos outros

Isaías. Bernhard Duhm afirmou a tese da existência das várias partes de Isaías,

como: o Isaías Segundo e o Trito-Isaías. Postulou também, que os outros textos

6Na discussão do período histórico baseio-me em algumas obras de História de Israel, como por exemplo: SOGGIN, José Alberto. Storia d’Israel. Paideia Editrice, Brescia, 1984, p.375-389; JAGERSMA, Hans. A History of Israel in the Old Testament Period. SCM Press, London, 1988, v.2, p.74-191; DONNER, Herbert. Geschichte des Volkes Israel und seiner Nachbarn. Vandenhoeck und Ruprecht, Göttingen, 1984, v.2, p.381-390 (tradução bem posterior em português por Editora Sinodal); FOHRER, Georg. História da Religião de Israel, Paulinas, São Paulo, 1984.7WIENER, Claude. Êxodo de Moisés - caminho para hoje. Edições Loyola, São Paulo, 1974, p.87-122.

9

Page 10: o Novo Exodo

do livro de Isaías foram elaborados e reescritos por um grupo dos discípulos de

Isaías, que passou a ser denominado de: círculo de discípulos de Isaías8.

A tese sobre a separação do livro de Isaías foi amplamente aceita

em toda a pesquisa: Isaías 1-39 foi denominado de Isaías de Jerusalém, ou

também de Primeiro Isaías; Isaías 40-55 (objeto de nossa pesquisa) foi

denominado de Deutêro-Isaías ou “Isaías Júnior” (Carlos Mesters)9 ou ainda o

Isaías da Babilônia; e por fim, Isaías 56-66 de Trito-Isaías.

Ainda hoje as descobertas de Bernhard Duhm continuam em

evidência e vigor, contudo conservadores e fundamentalistas insistem ainda na

unicidade do livro do profeta Isaías e que o profeta é o autor-escritor de toda obra.

Isto ocorre, seguidamente. Nós assumimos as posições da crítica literária, da

redação, da forma e da história, que determinou a divisão do livro do profeta

Isaías10.

Vimos que a bibliografia sobre o Deutêro-Isaías é grande. Porém, as

obras específicas sobre a temática do êxodo e o novo êxodo não são frequentes.

Numa revisão bibliográfica, é possível avaliar uma ou duas dezenas de artigos

sobre o assunto que analisam o êxodo e o novo êxodo como tipologia, simbologia

e analogia desta idéia11.

8MUILENBURG, James. The book of Isaiah 40-66. in: Interpreters Bible, v.5, Abingdon Press, Nashville, 1957, p.381-422.9MESTERS, Carlos. A missão do povo que sofre - Os cânticos do Servo de Deus no livro do profeta Isaías. Editora Vozes/CEBI, Petrópolis, 1981, p.194. Os calvinistas de origem holandesa radicados nos Estados Unidos da América editaram pela Bernhard Williams Eerdmanns de Michigan compõem a facção fundamentalista e editaram vários livros sobre o profeta Isaias, como exemplo cito: YOUNG, Eduard J. Isaiah, a commentary. Eerdmanns Publishing Company, 1965, 3vol; YOUNG, Eduard J. Studies in Isaiah. London, Tyndale, 1954; WALLIS, Oswald T. The Unity of Isaiah. Philadelphia, The Presbiterian and Reformed Publishing Company, 1950, p.170.10MELUGIN, Roy. The formation of Isaiah 40-55. Beiheft zur Zeitschrift für die alttestetamentliche Wissenschaft. v.141, Walter De Gruyter, Berlin/New York, 1976, p.77-174.11Os artigos citados na bibliografia final referem-se ao êxodo como os de: ANDERSON, Bernhard W. Exodus tipology in second Isaiah. in: Bernhard W. Anderson e Walter

10

Page 11: o Novo Exodo

Entende-se o novo êxodo ou segundo êxodo como uma

rememoração dos acontecimentos ocorridos no êxodo do Egito. Pensa-se que a

menção do êxodo traz a recordação dos fatos anteriores, porque tem um

determinado objetivo teológico. O Deutêro-Isaías leva o povo a recordar os

acontecimentos anteriores, trazendo à memória do povo o processo salvífico de

Javé. A bibliografia disponível induz a concluir que em determinados textos na

obra do Deutêro-Isaías se processa a recordação do Egito. Javé retirará o povo da

Babilônia. Porém, no primeiro êxodo, o líder era Moisés, aqui neste êxodo da

Babilônia o auxílio vem de um estrangeiro ungido por Javé, para retirar o seu povo

da escravidão. Logo, o novo êxodo não terá um só guia semelhante a Moisés12.

O êxodo será, conforme as narrativas dêutero-isaiânicas,

maravilhoso, espetacular e milagroso. Os prodígios serão maiores que os milagres

e as pragas no Egito. O povo não vai receber os mandamentos e sim uma nova

profissão de fé no retorno. O cântico de Miriam será substituído pelo cântico de

vitória. A salvação é iminente e mais rápida. Javé não é o guerreiro do êxodo do

Egito. No Dêutero-Isaías, Deus é o Criador e o transformador de tudo e de todas

as coisas. Na obra isaiana está inserida uma teologia da criação e da história,

para mostrar que a salvação irá acontecer para criar novas todas as coisas. O

juízo de Deus suscitará o persa Ciro, para destruir as nações escravizadoras de

Judá. O Deutêro-Isaías desdobra-se em duas partes para demonstrar as etapas

de salvação:

Harrelson. Israel’s Prophetic Heritage. Harper and Brothers, New York 1962, p.177-195; BEADUET, Roland. La Typologie de l’Exode dans le Second Isaie, Estudes Theologiques. Press de l’Universite de Laval, Quebec, 1963, p.11-21; BLEKINSOPPP, Joseph. Alcance e profundidade da tradição do êxodo no Dêutero-ISaías Is.40-55. in: Concilium, dezembro 1966 (nr.10), Livraria R.Morais, Lisboa/Recife, 1966, p.37-46.; WIENER, Claude. O Dêutero-Isaías. in: O profeta do novo êxodo. Cadernos Bíblicos, v.7, Edições Paulinas, São Paulo, 1984, 2a. edição, p.84. WIENER, Claude. Êxodo de Moisés. São Paulo, Loyola, 1974, p.148; ZIMMERLI, Walter. Il nouvo Esodo. in: Rivelazione di Dio. Editrice Jaca Book, Milano, 1975, p.175-185.12WIENER, Claude. Êxodo de Moisés. São Paulo, Loyola, 1974, p.87-122.

11

Page 12: o Novo Exodo

a) Javé é o Todo-Poderoso para conceder a seu povo regresso à sua

terra - Is 40-48.

b) A nova fase será a de reconstrução da terra - Is 49-55.

A salvação de Judá não significa apenas o fim da escravidão, mas

também o perdão da culpa. A bondade de Javé é a manutenção da aliança e da

promessa do povo de Deus (Is, 40,1, 48,8; 43,1).

O presente trabalho foi conduzido visando, através de uma análise

dos textos, reler e reinterpretar o motivo do êxodo em Deutêro-Isaías. Este motivo

insere-se num contexto maior da teologia do Deutêro-Isaías: o êxodo como motivo

da teologia da salvação. O alvo do trabalho é o tema do êxodo, mas pretendemos

também demonstrar que o novo êxodo é uma teologia da salvação.

CAPÍTULO 1 O CONTEXTO SÓCIO-HISTÓRICO DE 550 a.C. a 539/8 a. C.

12

Page 13: o Novo Exodo

A situação deste período mostra que, por onde o dominador

Nabucodonosor passou, houve destruição de Jerusalém, houve desolação no

templo. O povo que ainda acreditava e tinha alguma esperança na não conquista

por parte dos invasores desesperou. Infelizmente existem poucos documentos que

comprovam certos pormenores. Mas, para o período que prenuncia a invasão e a

destruição por parte da Babilônia, em Jerusalém há registros de tais

acontecimentos.

Os anos difíceis de 609, 597 e 587/6 a.C. são descritos de formas

diferentes tanto no Antigo Testamento em 2 Reis 24 e 25 como em Jeremias e

Lamentações; nas crônicas babilônicas e em alguns óstracas - material epigráfico

em hebraico - e em alguns selos13. Os conflitos na política e em vários setores da

vida pública e religiosa afloraram em Jerusalém. A luta pelo poder foi imensa.

Assim, alguns grupos tentaram a resistência contra a Babilônia e até organizaram

a insurreição. Enquanto que, outro grupo aceitava a dominação estrangeira,

gerando a partir daí uma luta entre os próprios Judaítas. O profeta Jeremias

iniciou a luta com o anúncio da pregação em 627 a.C.. Falava dos presságios de

catástrofe que o povo não conseguia enxergar. Este discurso rendeu-lhe a

denominação de: Jeremias, o profeta do desastre (Jr 7,15).

O rei Joaquim iniciou seu reinado em 609 a 598 a.C., vivenciando a

ebulição e mudanças no seu reinado, provocadas pela dominação egípcia e a

ameaça babilônica. Em 605 a.C., o rei se livra da ameaça e da guerra egípcio-

babilônica em Carquemis e no Eufrates. Nabucodonosor foi herdeiro natural de

Nabopolassar quem derrotou o egípcio Neco. Estes fatos retratam o contexto da

época e encontram-se registrados em Jr 46,2 e nas crônicas dos reis babilônicos

durante os reinados de Nabopolassar e Nabucodonosor14.

13TADMOR, Haim. Época del Primer Templo, el cautiverio babilónico y la restauración. in: Haim H. Ben Sasson. História del pueblo judío. V.1, Alianza Editorial Madrid, 1988, p.186-200.14PRITCHARD, James. La sabiduría del Antiguo Oriente. Ediciones Garriga, Barcelona, 1966, p.239-243.

13

Page 14: o Novo Exodo

1.1 O ANTIGO ORIENTE E JUDÁ

O Antigo Oriente próximo sofre profundas transformações ao passar

de uma conjuntura política implantada pelo Império Assírio ao domínio do Império

Babilônico, refletindo-se na economia e arrecadação de impostos e tributos que

eram feitos pelos assírios pessoalmente. Os babilônios colocam seus

governadores e pessoal especializado para fazer a arrecadação. Na implantação

da dominação dos povos, os assírios faziam a transmutação de populares de um

local para o outro para dificultar as fugas e as reorganizações. Os babilônios

localizavam as populações de diferentes nacionalidades num mesmo local e

separavam os especialistas para realizarem seus trabalhos nas cidades e suas

construções, nas irrigações, nas plantações, ruas e estradas. No caso dos

judaítas, eles foram levados as pessoas pertencentes à elite de Jerusalém.

Neste ambiente histórico da época, Judá está reduzida e dominada.

O reino do norte, Israel, havia sido dominado e destruído pelas várias incursões

assírias. O reino do sul, Judá, vivia em clima de tensão e de apreensão em função

da situação da ameaça da política reinante em seus domínios e ao seu redor.

Sabia-se que a qualquer momento Judá podia ser invadida e conquistada.

Nabucodonosor II estava rondando os domínios na vizinhança, e já havia

dominado locais estratégicos próximos. Inclusive havia afugentado o Egito e

lutado na batalha de Carquemis. A Assíria estava sob o domínio babilônico desde

605-56l a.C. Joaquim e posteriormente Zedequias procurou apoio no Egito com

desaprovação dos profetas que viram a eminente invasão e dominação. Os reis

que se apoiaram em aliados contra a Babilônia viram Jerusalém ser sitiada em

597 a.C. e ser conquistada em 587/6 a.C. Para melhor compreensão deste

período, é necessário conhecer um pouco da vizinhança de Judá.

14

Page 15: o Novo Exodo

1.2 A QUEDA DA ASSÍRIA EM 722 a.C.

O Império Assírio começa a desmoronar e sucumbe perante a sua

própria grandeza. Na Babilônia, as revoltas e lutas pelo poder favorecem a

ascensão de Nabucodonosor II ao trono. Na mesma situação o maior inimigo da

Babilônia, o Egito, surge em plena recuperação, e também como inimigo da

Assíria. A XXª Dinastia assume o poder no Egito no período de 660 a.C., sob a

influência de psaméticos.

Apesar desta efervescência política no Antigo Oriente Próximo, com

a mudança de poder no Egito e na Assíria, a mudança de vassalos só ocorre em

650 a.C.. As tropas assírias deixam o Egito sossegado, e este invade o antigo

território da Filistéia. Isto parece coincidir exatamente com uma invasão dos

assírios na Síria e Sidônia.

No período de 626 a.C., a revolta na Babilônia contra a Assíria surte

algum efeito positivo. O caldeu Nabopolassar assume o poder e faz uma aliança

importante com os medos, contudo ainda não ocorre o final do poder da Assíria. O

sumo sacerdote de Haran, Assur-Ubalit II, é proclamado rei da Assíria e se

mantém a duras penas, por pouco tempo, como governador de Nínive em 610-609

a.C.

O Egito, por sua vez, permanece aliado da Assíria até o fim das

intempéries. Assur-Ubalit II, depois da queda de Haran em 610 a.C., recebe apoio

do Faraó Neco, com armas, com a brigada egípcia e um exército formado por

mercenários estrangeiros. O resto da tropa de Assur-Ubalit II tenta resistir e

reconquistar Haran, mas cai fulminado diante do poderio das tropas babilônicas.

Em 608 a.C., o faraó Neco faz uma campanha na Palestina e o rei Josias de Judá

morre neste confronto em oposição feita na batalha de Megido.

15

Page 16: o Novo Exodo

Desta forma o império assírio chega ao fim. O faraó Neco está

enfraquecido devido às batalhas anteriores e aos auxílios prestados aos seus

aliados. Judá começa a pagar tributos em forma de impostos aos egípcios,

cobrados pelas alianças efetuadas com seus vizinhos em troca da proteção

recebida.

1.3 A BATALHA DE MEGIDO

Megido é um ponto de ligação de dois caminhos: o primeiro vai de

Siquém a Hazor e o outro de Acco, Hazor a Damasco. A cidade é um interposto

na rota comercial. Este caminho depois dos importantes que começam no Golfo

de Ácaba, dirige-se a Damasco, passando pelas serras da Transjordânia. Megido

é uma cidade que faz encruzilhada destes caminhos e destas rotas comerciais e

ponto estratégico.

Na batalha de Megido o rei Josias se defronta com o rei faraó Neco.

Esta batalha teve conseqüências importantes para a vida posterior em Judá. Após

a queda de Haran, o faraó Neco se lança ao ataque na Palestina e no Eufrates.

Ele se utiliza da via das caravanas comerciais da Cisjordânia. Esta rota comercial

é a antiga estrada para se chegar aos locais de comércio da época. No meio desta

rota ficava a principal cidade-estado das caravanas que era Megido. Neste local, o

rei Josias de Judá foi se defrontar com o faraó Neco na batalha que resultou em

sua derrota e morte e no pagamento de tributos aos egípcios (confira 2 Reis

23,29). Megido tornou-se a base militar avançada e de apoio para o Egito. De lá

os egípcios controlavam a situação política e a arrecadação de impostos15.

15SCHWANTES, Milton. História de Israel local e origens. Polígrafo, v.7, fasc.1, Comissão de Publicações da Faculdade de Teologia da IECLB, São Leopoldo, 1984, p.25-28. Ver também TADMOR, Haim. The period of the first Temple, the Babylonian Exile and the Restoration. in: H. H. Sasson. A History of the Jewish People. Weidenfeld and Nicholson / Dvir Publishing House, London/Tel Aviv, 1969/1976, p.91-182.

16

Page 17: o Novo Exodo

Embora os relatos da batalha de Megido permitam visualizar a

amplitude do conflito, ficam questões como: por que Josias entra em conflito com

faraó Neco? Por que o Antigo Testamento se refere pouco a este fato? Seria a

influência profética pró-babilônica? Ou seria influência do rei Josias na redação

dos livros do Antigo Testamento? As questões não são devidamente comentadas

no Antigo Testamento.

Josias via no confronto entre os Egípcios e os Babilônicos a

superioridade do poder babilônico. Acreditava que não seria incomodado pelos

egípcios. Pensava que os babilônios, vencendo os egípcios, ficariam livres do

incômodo do pagamento dos impostos aos egípcios. Desta forma livre e

independente, Judá estaria com a paz garantida, como o profeta Jeremias

predissera (Jr 24). O rei Josias não atendeu o profeta Jeremias e seu anúncio do

perigo de retaliações. Apesar de o profeta mostrar esta situação, ele, contudo, não

atentou para a ameaça egípcia. Não atendeu a seu apelo e a sua repreensão.

Josias foi defrontá-lo em Megido. Nesta “batalha” o rei de Judá morre (2 Rs

23,29).

Neco parte depois para Carquemis e novas conquistas. Carquemis

era um grande centro econômico neste período, localizado ao norte da Assíria.

Começa, então, o avanço da Babilônia e suas conquistas na Palestina em

confronto com o Egito.

1.4 O DOMÍNIO EGÍPCIO NA ÁREA DE MEGIDO E DE CARQUEMIS

O Egito tinha certo controle sócio-econômico nesta região, em função

de suas bases militares e de arrecadação de tributos nas cidades de Megido e de

Carquemis. Neco parte para o leste em direção ao crescente fértil. Encontra e se

confronta com os babilônios que vem para a Palestina. Nesta luta e na

demonstração de poder por parte dos dois impérios nenhum dos dois sai

17

Page 18: o Novo Exodo

vencedor, nesta ocasião. Neco não consegue conquistar Haran dos assírios. Esta

cidade mais tarde entrará em colapso e será dominada pelos babilônios. 16

O faraó Neco firmou seus pés sobre a Síria e também na região de

Canaã. Existem inscrições a este respeito em textos egípcios17. O Egito chegou a

governar a Fenícia e Judá por breve tempo18.

Após a morte de Josias, Jeoacaz assume o poder em Judá e se

torna rei (2 Rs 23,30). Jeoacaz não é o filho mais velho do rei Josias para assumir

o trono de Judá. Jeoacaz permanece no poder apenas por três meses (609/8) e o

faraó Neco em sua campanha na Palestina submete-o em Ribla e o deporta para

o Egito. Jr 22,10-22 fala destas injustiças e da reação dos judaítas a essa

vassalagem e que o rei Salum (Jeoacaz) não retornaria a Judá. O faraó entroniza

outro e muda seu nome para Jeoaquim (2 Rs 23,31-34). Neste tempo, o faraó

Neco submete todas as cidades-estado, próximas de seus vassalos, Amarna e

algumas cidades de Judá.

1.5 A PRIMEIRA DEPORTAÇÃO DOS JUDAÍTAS PARA A BABILÔNIA

A primeira deportação ocorreu em 597 a.C., quando Nabucodonosor

estava diante das portas de Jerusalém. Joaquim havia resistido e vai para o

cativeiro com a primeira leva de judaítas para a Babilônia. Ele foi rei de Judá por

três meses apenas em 587 a.C. Nabucodonosor nomeia em seu lugar o tio

Matanias, que governa em Judá por onze anos: 598/7-587/6 a.C.19

16TADMOR, Haim. Época del templo, el cautivero babilónico y la restauración. In: SASSON, H.H.Ben. Historia del pueblo judío. v.1, Alianza Editorial, Madrid, 1988, p.186-200.17WILSON, John A. Textos históricos egípcios. In; PRITCHARD, James (editor). La sabiduría del Antiguo Oriente. Ediciones Garriga, Barcelona, 1968, p.239-243.18PRITCHARD, James. Op. cit., p. 239-243.19PRITCHARD, James. La sabiduría del Antiguo Oriente. Ediciones Garriga, Barcelona/Madrid, 1966, p.239-243.

18

Page 19: o Novo Exodo

Os anais babilônicos20 mostram que Nabucodonosor, além de

colocar outro rei em Judá, levou prisioneiros judaítas para a Babilônia. Os

prisioneiros faziam parte da casa real e da elite jerusalimitana. Joaquim

permanece prisioneiro na Babilônia. Em 2 Rs 25,27-30 e Jr 52,31-34 se vê que o

rei permaneceu prisioneiro por trinta e sete anos. Foi perdoado por Evil-Merodac,

o sucessor de Nabucodonosor em 561-560 a.C..

Nabucodonosor, além de levar os cativos da casa real, transportou

vários especialistas como: funcionários do estado e do templo, artesãos, ourives e

milícia. Ele também levou todos os tesouros do templo e do palácio real para esta

terra distante (2 Rs 24,13). Nesta leva inclui-se o sacerdote Ezequiel (Ez 1,1-3)

que se torna profeta em terra estranha. Jr 52,28 se refere a três mil e vinte e três

cativos, enquanto que 2 Rs 24,16 fala de dez mil prisioneiros. Mesmo não sendo

possível especificar com exatidão os dados disponíveis, o número de prisioneiros

deve ter sido elevado.

Os desacordos sobre os números de deportados são enormes.

Também não há unanimidade sobre as datas em que Jerusalém caiu nas mãos

dos babilônios, podendo ter ocorrido no verão de 587 a.C. ou ainda no verão de

586 a.C.. Como o sistema cronológico babilônico difere da forma cronológica

judaíta, as tentativas de precisar datas absolutas tornam-se questionáveis.

Jeremias e Ezequiel datam alguns eventos em conexão com o cativeiro de

Jeoaquim (Ez 33,21) ou com relação aos reinados dos reis babilônicos (2 Rs 25,8;

Jr 52,12). Assim se dá a queda final de Jerusalém e o início do cativeiro na

Babilônia.

1.6 A SEGUNDA DEPORTAÇÃO DOS JUDAÍTAS PARA A BABILÔNIA21

20 JAGERSMA, Hans. Op. cit., p.203-221.21 JAGERSMA, Hans. Op. cit., p.203-221.

19

Page 20: o Novo Exodo

O cativeiro na Babilônia a partir de 586 a.C. passa a ser uma

realidade dura na vida dos exilados. Esta realidade reflete-se em vários níveis na

vida dos judaítas. Este cativeiro vai se prolongar por quase meio século. A

adaptação no exílio vai ser difícil, o trabalho duro, o serviço a Javé e o culto são,

em grande parte, abandonados. Vão ocorrer mudança e evolução da língua. A

conservação da língua por escrito vai determinar os aspectos da vida do exilado.

Neste período de exílio a remodelação da vida e a criação de novas

formas religiosas sofrem a influência e o sincretismo dos babilônios. Serão

preponderantes tanto na criação literária dos judaítas como na forma religiosa.

Surge a preocupação pela história da vida do povo, a criação de uma teologia, a

recopilação da história do próprio povo. Em certo sentido, o exílio auxiliou na

criação literária, na preservação dos ritos e dos cultos.

Existem registros destas preocupações no Antigo Testamento como

em 2 Rs 25. A obra literária começava por enfocar os próprios acontecimentos do

povo. Assim, a criação da obra historiográfica deuteronômica é um sinal desta

preocupação. Sabemos também muita coisa do exílio pela obra dos profetas como

é o caso do profeta Jeremias e do escrito de Lamentações e de Salmos. As

narrativas proféticas que mais tratam destes acontecimentos são do profeta

Ezequiel que atuou na própria Babilônia.

Tanto Ezequiel como o Dêutero-Isaías são os profetas no exílio.

Contudo, os textos mais explícitos sobre o exílio se encontram na obra do profeta

em questão: o Dêutero-Isaías (Is 40-55) que atua especificamente no período de

550-529 a.C.

1.7 AS CONSEQÜÊNCIAS DA QUEDA DE JERUSALÉM

20

Page 21: o Novo Exodo

Fica difícil demonstrar e estimar as conseqüências da queda de

Jerusalém e o fim do Estado judaíta. O fim da dinastia davídica tem

conseqüências trágicas, pois a falta de sua ideologia muito bem organizada cria

problemas para a reorganização da vida jerusalimitana. A dinastia se tinha

enraizado, a figura de Davi permanecia indelével presente na esperança de

reorganização da vida em Judá. A esperança da vinda do tempo de salvação

estava inculcada no pensamento e na ideologia davídica.

A perda de identidade e de independência trouxe marcas

insuperáveis para a vida do povo que permaneceu em Judá. Os babilônicos, ao

contrário dos assírios, tinham outro método e prática de deportação dos

conquistados. As transposições de grupos étnicos feitos pelos assírios são

abandonadas pelos babilônicos. Na Babilônia os grupos permanecem juntos e em

coesão trabalham e mantém a identidade. Na Assíria, se misturava os grupos para

dificultar a reorganização da vida pessoal e étnica.

Os exilados na Babilônia refazem a sua vida. Eles se reorganizam e

inclusive reescrevem a história do povo. Existe um florescimento literário, ritual e

cultual. Observa-se o surgimento de blocos literários do Antigo Testamento e das

releituras de vários textos do Antigo Testamento neste período. A mudança do

pensamento profético é organizada neste período. A mudança do pensamento

profético também ocorre na Babilônia com o Dêutero-Isaías.

Nos profetas anteriores como Isaías, Amós e Miquéias, a mensagem

ainda é de condenação pelo pecado cometido e o exílio é o pagamento deste

pecado. Enquanto isso Ezequiel e o Dêutero-Isaías já falam de salvação e não de

condenação de Javé. Os períodos que vão da deportação até a época do

livramento com o persa Ciro são de suma importância para a vida dos exilados em

Judá. Como eles sobreviveram à catástrofe, houve o tempo necessário para a

reorganização da vida coletiva em Judá. Ocorre a organização até a fraca

independência política e a preservação da identidade do povo. Os dois profetas,

21

Page 22: o Novo Exodo

Ezequiel e o Dêutero-Isaías, mostram a evolução teológica e literária, o retorno à

história e à religião do exilado em Judá.

CAPÍTULO 2 O AMBIENTE SÓCIO-HISTÓRICO DO DÊUTERO - ISAÍAS

Este capítulo discorre sobre o período de 550 a.C., fazendo uma

aproximação ao ambiente sócio-histórico de Dêutero-Isaías. Para uma perfeita e

22

Page 23: o Novo Exodo

necessária compreensão necessária se torna a esboçar a situação decorrente

deste período de 550 a.C., em relação ao período das deportações dos exilados

para a Babilônia, essencialmente as deportações de 597 e de 587/6. Queremos

determinar os judaítas que foram deportados nestes períodos. Para onde foram os

deportados, como viviam, como trabalhavam e como era o Império babilônico

neste período? Como ocorreu o declínio deste Império e como deu início ao novo

império persa e sua ascensão?22

2.1 OS ANTECEDENTES HISTÓRICOS

Passaram-se vários períodos de altos e baixos desde a ascensão e

sucessão ao trono de Salomão e seu modo de expandir o seu território. Os

problemas causados por sua política expansionista provocaram um clima de

revanche por parte de seus vizinhos. A política continuada de seus sucessores de

taxação e de tributarismo e bitributarismo levaram a um enfraquecimento da

população em suas reservas e na produção de bens. No comércio e no campo

houve um empobrecimento que foi culminar na dominação dos citadinos sobre os

campesinos.

Os sucessores de Salomão provocaram a divisão do reino do Norte

com a capital em Samaria e o Reino do Sul com o governo de Jerusalém. Mesmo

com as ideologias de “reforma”, ocorridas no período de Ezequias e Josias, a

situação de dominação sócio-política continuou. Mesmo no período de opressão

assíria e suas formas de imperialismo, não se suscitou mudança nos governos do

22 Esta situação é pouco desenvolvida em algumas obras da História de Israel, como: BRIGHT, John. História de Israel. Edições Paulinas, São Paulo, 1981, 2a. edição, p.436-505; AHLSTROM, Gösta. The History of Ancient Palestine. Fortress Press, Minneapolis, 1993, p.741-812; HAYES, John H. e HOOKER, Paul K. A new chronology for the kings of Israel and Judah. John Knox Press, Atlanta, 1988, p.85-98.

23

Page 24: o Novo Exodo

Norte e do Sul. Após a destruição do Norte e com a invasão dos Assírios, o Sul

continuou com sua política tributária enfraquecendo o povo.23

2.2 OS ANTECEDENTES DO DÊUTERO-ISAÍAS

James Muilenburg24 desenvolve a situação histórica deste período

como sendo importante para entender o pensamento e a atividade do Dêutero-

Isaías. Conforme este autor, por trás do pensamento do profeta está implícita a

história da aliança e da promessa davídica, a tradição de Sião e outras tradições

como a própria história do Antigo Oriente Próximo. Isto fica evidente quando o

profeta menciona e reelaboram as leituras das tradições do Antigo Israel, como a

tradição de Abraão e a queda das nações (Assíria, do Egito, de Jerusalém e da

Babilônia). Contudo o profeta destaca o surgimento de um novo império que traria

benefícios para o povo escolhido.

Os acontecimentos históricos deste período podem ser esboçados

da seguinte maneira: a morte do último rei da Assíria em 613 a.C. e a invasão e

destruição de Jerusalém por Nabucodonosor II, o maior rei da Babilônia em 587/6

a.C.. Na seqüência reina Nabonides até a queda da Babilônia em 538 a.C.,

quando surge o novo império persa com o rei Ciro.

2.2.1 A HISTÓRIA DO TEMPO DO DÊUTERO-ISAÍAS

23 BRIGHT, John. História de Israel. Edições Paulinas, São Paulo, 1981, p.436-440.24 MUILENBURG, James. The Book of Isaiah 40-66. In: Interpreters Bible, v.5. Abingdon Press, Nashville, 1957, p.381-422; MILLER, John Maxwell e HAYES, John H. A history of Ancient Israel and Judah. SCM Press, London, 1986, p.416-437; NORTH, Martin. Historia de Israel. Ediciones Garriga, Barcelona, 1966, p.237-273; FOHRER, Georg. Storia d’Israele. Paideia Editrice, Brescia, 1980, p.201-231.

24

Page 25: o Novo Exodo

Claus Westermann inicia seu “Isaías 40-66 a commentary”25,

narrando a situação histórica deste período. O tempo da atividade do Dêutero-

Isaías situa-se entre a queda e a destruição de Jerusalém em 587/6 a.C., até a

queda da Babilônia e seu império em 539 a.C. As partes mais evidentes de sua

mensagem coincidem com o fim deste período, provavelmente em torno de 550

a.C., ano em que começam as campanhas vitoriosas de Ciro, o persa. Outro autor

como Joaquim Begrich, mostra que o Deutêro-Isaías pode ser fixado nestas datas,

por diferentes estágios de sua mensagem, contudo, para Claus Westermann, isto

pode ser duvidoso. Pois para Claus Westermann, o conteúdo dos capítulos 40-55

mostra que a atividade deste se estende por longo tempo, talvez por várias

décadas. Os esboços destes eventos políticos neste período são bem conhecidos,

diferentes dos resultados apresentados por Brevard S. Childs.

Para este período histórico, Claus Westermann mostra que o império

babilônico somente permaneceu forte enquanto Nabucodonosor II esteve no poder

de 604 a 562 a.C. Depois da destruição de Jerusalém em 587/6 a.C. e da

destruição de Tiro em 585 a.C., o império enfraqueceu e só após treze anos de

investimento na região, consegue alguns bons resultados. O profeta Jeremias

52,30 mostra que a Babilônia fez campanhas posteriores contra Judá, fazendo

deportações, fato este registrado no Antigo Testamento. Em 586 a.C., marcha

contra o Egito. A Babilônia enfraquece com a morte de Nabucodonosor II e com a

ascensão de Nabonides, o último rei da Babilônia em 556-539 a.C.

As mudanças no trono da Babilônia pioram a situação. Nabonides

era descendente de sacerdote devoto da deusa Lua SIN. Restaura o templo em

Haran, luta contra o poderoso sacerdote de Marduk na Babilônia. Todos estes

procedimentos corroboram para que a Babilônia caia cada vez mais. Nabonides

fez de Tema, no deserto árabe, a sua capital e permanece no trono por oito anos,

nos quais seu filho Sheshbazzar assume o poder na verdade.

25 WESTERMANN, Claus. Isaiah 40-66 a commentary. Westminster Press, Philadelphia, 1969, p.16-17.

25

Page 26: o Novo Exodo

No reino da Média, um reino rival da Babilônia, Afaxares tem o poder

e faz de Ecbatana sua capital. Seu reino se estende de Halys até a fronteira com a

Lídia. Seu filho, o sacerdote Astyages, em 585-550 a.C., se torna vassalo de Ciro,

o rei persa, em Ashan. Em 550 a.C., Ciro conquista Ecbatana, e se torna rei de

toda esta região. Em 546 a.C., Ciro conquista Sardis e Lídia e o Deutêro-Isaías

parece aludir a tais fatos em Isaías 41,2-3 e em 45,1-3. Algum tempo depois a

Babilônia faz um pacto com a Lídia e com o Egito. No cilindro de Ciro há indícios

que tanto o sacerdote de Marduk como alguns textos babilônicos aludem à

invasão de Ciro como sendo uma ação libertadora26.

Porém em 539 a.C., as tropas de Ciro aportam nas entradas da

cidade da Babilônia e o império babilônico “todo-poderoso” cai por terra (Is 47 e Jr

50-51). O Império Persa assume o poder, e se torna senhor de todo o Antigo

Oriente Próximo. Assim demarca a ascensão do império babilônico e atuação de

um profeta: o Deutêro-Isaías.

Judá durante o exílio é mostrado no Deutêro-Isaías através dos

eventos mundiais, os quais são atestados por seus textos e muitos outros textos

de profetas como Ezequiel e Jeremias. Durante o exílio, o profeta Jeremias

(52,28-30) refere-se ao número de exilados como sendo quatro mil e seiscentos

prisioneiros, não incluídas mulheres e crianças. Outros números são citados em

outros textos com doze mil ou ainda quinze mil, que podem constituir um número

simbólico.

Entretanto o exílio a tradição oral vai dar lugar para a tradição escrita,

a língua passa por mudança e evoluções, o serviço na sinagoga tem o seu espaço

vital.

Considerando as poucas referências específicas sobre o profeta

Deutêro-Isaías, quanto à sua pessoa, seu nome, Claus Westermann, com seus

26 PRITCHARD, James. La sabiduría del Antiguo Oriente. Ediciones Garriga, Barcelona, 1969, p.243-246.

26

Page 27: o Novo Exodo

estudos, contribuiu muito para um maior conhecimento do profeta Isaías. No

prólogo do livro, em 40,6-7, há uma revelação sobre o chamado, o tempo de

duração e atuação do profeta, mostrando, ainda, que ele constitui parte da

descendência profética pré-exílica.

O Dêutero-Isaías se identifica como profeta do povo, chamado para

pregar através de seu próprio lamento. A queda de uma nação tem como

resultado o pecado do povo e a salvação dos exilados como promessa divina. Os

que vão ao exílio pertencem aos sobreviventes que conhecerão a justiça divina. A

insistência do Dêutero-Isaías na solidariedade com seu povo é muito importante

para compreender o próprio Dêutero-Isaías.

Em sua mensagem, em sua pregação mostra que foi colocada a

palavra de Javé em sua boca. Deixa claro que é o próprio Javé que está falando

no lugar dele, isto não ocorre nos profetas anteriores.

O clamor do Dêutero-Isaías também tem suas repercussões no

cânon do Antigo Testamento. O Salmo 90 tem como base Is 40,7. A linguagem

característica do Dêutero-Isaías é a ligação da sua profecia com as afinidades do

livro. A familiaridade do profeta com os Salmos é muito grande. O serviço de

adoração dos exilados pode ser visto neste caso. A semelhança dele com o

profeta Ezequiel, que usou o sacerdócio em sua proclamação, são muito grandes.

O Dêutero-Isaías está, também, conectado com os cantores do templo, com o

meio cultual, com o povo em sua vida e com os Salmos.

2.2.2 A MENSAGEM DO DÊUTERO-ISAÍAS

A mensagem do Dêutero-Isaías representa a profecia vivida durante

o exílio na Babilônia. O principal objetivo da profecia do Dêutero-Isaías é a

27

Page 28: o Novo Exodo

salvação. A queda de Jerusalém é fruto do juízo de Javé. A característica

marcante do Dêutero-Isaías consiste no anúncio da salvação. O profeta foi

comissionado para falar a palavra de Deus após o julgamento numa situação

particular, na qual esta é a palavra de Deus.

O centro da mensagem do Dêutero-Isaías é, pois, o oráculo de

salvação ou a promessa desta. O grito de lamento: “Não tenhais medo” tem como

base a promessa divina da graça dada em resposta ao lamento individual. A

proclamação de salvação vem complementar o lamento. Algumas vezes isto se

encontra associado à promessa da salvação. Outras vezes o Dêutero-Isaías fala

da mensagem de salvação na linguagem do Salmo de Louvor. O oráculo

concernente a Ciro (Is 45,1-8; 45,13). Que é o suporte de todo o livro está

totalmente relacionado com a mensagem de salvação. Javé é mostrada como o

único Deus apesar do desastre do povo escolhido de 586 a.C. No oráculo contra a

Babilônia em 46,1; 47 são evidenciadas a queda dos deuses da Babilônia. Existe

um hino de louvor, o que significa o cumprimento da proclamação de salvação (Is

7).

Portanto, a forma das palavras de salvação do Dêutero-Isaías

constitui a promessa ou o oráculo de salvação. A palavra de salvação recebe sua

forma peculiar na sua origem no culto. Conforme colocado por Joachim Begrich27,

o oráculo de salvação no Dêutero-Isaías é um oráculo sacerdotal de salvação. A

resposta comunicada pelo sacerdote no lamento individual é também a promessa

de salvação. O sacerdote garante que Deus ouviu as súplicas do povo ou do

indivíduo. A proclamação do Dêutero-Isaías muda do juízo para a salvação que

vai ser cumprida de fato. O Dêutero-Isaías é, portanto um evangelho é a alegria

manifestada. Os exilados retornarão. Isso ocorrerá numa exultação e num regozijo

para os indivíduos, as nações, os desertos e todos os habitantes. Haverá alegria

para os que estão nos lugares ermos e desabitados, nas montanhas e para as

27 BEGRICH, Joachim. Studien zu Deuterojesaja. Christian Kaiser Verlag, München, Theolhische Bücherei, v.20, 1963, p.153-160.

28

Page 29: o Novo Exodo

árvores. Todos se alegrarão. A proclamação de salvação não é endereçada a um

indivíduo somente. Notamos, então, que a salvação é para o exilado.

2.3 A SITUAÇÃO DOS EXILADOS NA BABILÔNIA

A situação dos exilados não é muito conhecida. Os judaítas

permanecem assentados na Babilônia em locais e bases de trabalho. Na realidade

não são prisioneiros, mas estão livres a serviço do governo babilônico nestas

localidades. Alguns textos do Antigo Testamento nos dão a idéia sobre a vida

destes exilados, como os locais onde eles permanecem e vivem. O rio Quebar e

Tel Abib é mencionado em Ez 1,3; 3,15. Outros locais referidos são: Tel-Melah,

Tel-Harsa, Querbu, Adan e Immer mencionados em Esd 2,59; Ne 7,16. Algumas

informações são dadas pelos próprios babilônicos28. Nomes judaicos e javistas

mostram que a presença judaíta era uma realidade na Babilônia. Ez 40-48 mostra

que a visão do novo templo juntamente com o Sl 137,5 designa o retorno e a

presença destes exilados nestes locais.

Muitos judaítas que prosperaram nem retornariam à pátria, adotando

o exílio como novo local de vida. Fontes babilônicas confirmam que os judaítas

obtiveram boa posição no comércio e no trabalho. Arquivos de Nippur mostram

nomes judaítas que vieram a fazer grandes e importantes negócios na Babilônia29.

Muitos exilados permaneceriam nestes locais.

Outros fatores marcaram a vida do exilado: a criação da instituição

do sábado, a recordação das antigas tradições e das leis de Lv 19,3, que tratam

dos anciãos, também é desta época. A vida religiosa não está muito clara. A

28 PRITCHARD, James. La sabiduría del Antiguo Oriente. Ediciones Garriga, Barcelona, 1969, p.221-222.29 idem, p. 221-222.

29

Page 30: o Novo Exodo

prática religiosa deve ter sofrido uma influência sincretista. Criam-se as sinagogas

e outras formas de adoração.

2.4 A VIDA NO EXÍLIO DA BABILÔNIA

A vida no exílio foi intensa. Os exilados numa nova situação vivencial

passam por sérios problemas de adaptação em terra estranha. A saudade e a

rememoração dos fatos ocorridos em Jerusalém e no desterro transformam os

exilados em nostálgicos por excelência. O Sl 137 demonstra isto: a frustração e a

esperança na salvação futura.

Evidentemente, a cultura, a religião, as idéias se mesclam e são

influenciadas pelos babilônicos. Na esfera cultural isso se nota na literatura e na

historiografia. Exemplos nós temos nas histórias do dilúvio e da criação de pessoa

e do mundo que influenciaram na construção das imagens no Antigo Testamento.

Gn 1,1-2,4a que trata da criação é um relato influenciado por narrativas

babilônicas.

Nas atividades literárias as influências mais marcantes estão na obra

literária do escrito sacerdotal. Também o código de santidade em Lv 17-26 e as

suas afinidades com o profeta Ezequiel pode ser observado. A formulação de um

novo ritual, de formas sacrificiais, da adoração, e as leis sacrificais de Lv 1-7

denotam tal influxo no profeta do exílio.

Quanto à vida e ao trabalho veremos a seguir.

2.4.1 O TRABALHADOR JUDAÍTA E O TRABALHO COMPULSÓRIO

30

Page 31: o Novo Exodo

As crônicas babilônicas noticiam que neste período deportados eram

usados como trabalhadores30. Existia uma diferença entre o trabalhador escravo e

o compulsório. O trabalho era diferente no caso do trabalho forçado do

compulsório. Este último era praticado por cidadãos e por cativos. Eles eram

convocados em certas ocasiões anualmente para trabalharem a serviço da casa

real como: nas construções de palácios e do templo, nos serviços militares, na

guerra, nas colheitas do rei, e em outros afazeres na nação.

Nas construções de Nabucodonosor os trabalhos específicos

consistiam em construções de canais e de irrigação no período da seca e na

proteção nas enchentes. A construção de palácios para as festas e para o

descanso de verão e inverno. A residência do rei, como a residência do deus

Marduk e do templo precisavam ser mantidas. Notícias encontradas mencionam

que os jardins do palácio, as muralhas das cidades, para a proteção durante uma

invasão, foram construídos. Os babilônios se especializaram nas construções e

utilizaram o betume para as infiltrações e as casas se tornaram mais resistentes e

eficazes31.

2.5 O DÊUTERO-ISAÍAS NO CONTEXTO BABILÔNICO

O Dêutero-Isaías atuou durante o exílio, mais especificamente

durante o governo de Nabonides em 550-539 a.C.32 A sua obra está conectada

com os acontecimentos finais do império neobabilônico e a tomada da cidade da

Babilônia por Ciro. O grande problema é descrever a pessoa deste profeta

anônimo e totalmente desconhecido. Dependendo da interpretação, talvez Is 40,1-

30 D. J. WISEMAN. Nebuchadrezzar and Babylon. Oxford University Press, Oxford, 1991, 4a, edição, p.43-78.31 JAGERSMA, Hans. Op. cit., p.180-191.32 NEWSONE JR, James D. By the waters of Babylon. T&T Clark, Edinburgh, p.69-123.

31

Page 32: o Novo Exodo

11 ou o cântico do Servo Sofredor possam fornecer subsídios quanto à pessoa,

vida e obra do profeta. Contudo ainda não se chegou a uma unanimidade sobre a

interpretação dos Cânticos de Javé, se deve ser interpretada coletivamente ou

individual.

Sabemos que as profecias deste profeta e a escatologia são dirigidas

aos exilados da Babilônia. Os acontecimentos sociais e políticos demonstram que

suas palavras de consolo e de salvação são dirigidas a esse período. Os referidos

acontecimentos também influenciaram a sua mensagem, pregação e teologia. Is

45,1 chama o rei Ciro de escolhido. O tema essencial desta profecia é o anúncio

de que o sofrimento do povo chegará a um fim e bom termo. O poder de Deus

acabará com o cativeiro como no primeiro êxodo e guiará o povo de retorno a

Sião.

Os anúncios da salvação e do novo êxodo constituem a evidente

ação criadora de Javé. Ele anuncia a libertação e o retorno do povo da Babilônia

para Jerusalém através de atos maravilhosos, e de atitudes espetaculares: a

transformação do deserto para a passagem do povo.

2.5.1 O ISAÍAS DA BABILÔNIA 33

O Isaías da Babilônia também é denominado de Segundo Isaías ou

como Carlos Mesters prefere de Isaías Júnior34. Ele é assim chamado para

diferenciar do Primeiro-Isaías ou do Isaías de Jerusalém e do Terceiro ou Trito-

Isaías. A discussão sobre a figura e a personagem começou na Idade Média e

33 MESTERS, Carlos. A missão do povo que sofre - Os cânticos do Servo de Deus no livro do profeta Isaías. Editora Vozes, Petrópolis, 1981, p.11-22.34 PRITCHARD, James. Op. cit., p.243.

32

Page 33: o Novo Exodo

teve um grande incentivo a partir dos estudos de Johan G.Eichhorn em 1783. Esta

discussão não terminou35.

Este Isaías está relacionado à frustração dos judaítas, à esperança

no retorno da comunidade e à mensagem de conforto. Um escolhido de Javé

libertará o povo do exílio. Na nova administração do governo de Nabonides, os

judaítas que trabalham na Babilônia e que serviam seus dominadores viram na

escalada militar persa uma estranha forma de esperança. Não só os judaítas,

como os próprios babilônicos sacerdotes de Marduk acreditaram que Ciro traria

boas novas. Os sacerdotes, cujo culto a Marduk fora negligenciado, e os

comandantes militares e os chefes burocráticos viram nestas deslocações da

milícia persa um fim iminente do império neobabilônico. A esperança foi

reacendida em lados opostos: nos judaítas e nos sacerdotes de Marduk, que não

mais suportavam o governo e o culto estrangeiro da deusa lua Sin. Os sacerdotes

de Marduk glorificam a entrada e possessão da cidade pelo governante persa. 36

O Isaías da Babilônia traz uma mensagem de consolo. Is 40,21-26

tratam da mensagem do “Santo de Israel” em luta e contraposição com os outros

deuses. Is 41,2-4 mostram o poder de Ciro, o persa. Todos os reis e príncipes se

prostrariam diante dele. Assim, este profeta anônimo anuncia a libertação do

cativeiro babilônico, e o retorno a Sião através do deserto transformado.

2.6 A QUEDA DA BABILÔNIA E O FIM DO IMPÉRIO NEOBABILÔNICO37

O Império Babilônico em pouco tempo se tornara um grande império.

Começou a se desmoronar com a morte e luta pelo poder deixado por

35 JAGERSMA, Hans. Op. cit., p.191-192.36 DUHM, Bernhard. Das Buch Jesaja em, Goettinger Handkommentar zum Alten Testament. Goettingen, Vandenhoeck und Ruprecht, 1982, 2a. edição, p.20-28.37 Idem, p.20-28.

33

Page 34: o Novo Exodo

Nabucodonosor II. A dinastia não se prolongou por muito tempo. O seu filho Awil

Marduk (no Antigo Testamento é chamado de Evil Merodac) sucede-o. Este chega

a governar durante um período breve de 561-560 a.C. O genro de Nabucodonosor

II chamado Neriglissar assume o poder tirando a vida e conseqüentemente o

governo de Evil-Merodac. Neriglissar se autonomeou rei da Babilônia. Jr 39,3-13

menciona-o como um dos generais de Nabucodonosor II na destruição de

Jerusalém em 587/6 a.C. No período de seu governo, exatamente em 557 a.C.,

teve algum sucesso militar, porém logo é sucedido por seu filho Labash Marduk.

Este permanece no poder apenas três meses. Uma revolução interna coloca fim a

esta tentativa de instaurar uma nova dinastia.

Surge então no cenário Nabonides, assumindo o poder e se tornando

rei. Ele governou por um razoável período, 555-539/8 a.C., quando se encerra o

período do império neobabilônico. A mãe de Nabonides possivelmente foi

sacerdotisa da deusa da lua Sin no templo de Haran, o que lhe facilitou em muito

na ascensão ao trono. Ele mesmo encorajou ao culto a esta deusa em todo o

império durante seu governo. Isto criou certas rivalidades do governante com os

sacerdotes do deus Marduk. Foi que levou a que estes agradecessem ao seu

deus pela chegada do novo império e de um novo governante, dominando o

mundo de então: Ciro, o persa. Is 44,28 e 45,1 denotam que tanto os babilônios

como os judaítas estão agradecidos pela vinda de um novo imperador. O final do

império babilônico ocorreu em 539/8 a.C., quando a armada persa adentra as

portas da Babilônia. Não houve resistência, inclusive Ciro foi auxiliado por judaítas

e sacerdotes de Marduk para tomar o poder. Ciro é visto como o libertador: Is

45,1-3 denominam Ciro de escolhido de Javé, que libertaria o povo judaíta do

cativeiro.

34

Page 35: o Novo Exodo

CAPÍTULO 3 ESTRUTURA DO LIVRO DO DEUTERO-ISAÍAS

Na estrutura do livro do Dêutero-Isaías nós dedicaremos à história da

pesquisa do livro. Como é que surgiu a discussão em torno dos descobrimentos e

da separação deste livro? Como é que alguns autores específicos vêem a

35

Page 36: o Novo Exodo

situação atual desta obra, o período histórico, social e político da época?

Analisaremos a literatura em torno da obra e como se deu sua formação, divisão e

a atual composição que está no cânon bíblico.

3.1 A FORMAÇÃO DO DÊUTERO-ISAÍAS

3.1.1 A HISTÓRIA DA PESQUISA SOBRE O DÊUTERO-ISAÍAS

A história da pesquisa mostra que os grandes descobrimentos nas

ciências bíblicas começam no século XIX, todas envoltas pela égide do

racionalismo, com o auxílio do método histórico-crítico que trouxe uma

contribuição excepcional à interpretação bíblica. Isto auxiliou e tornou a ciência

bíblica mais eficaz. O livro do Dêutero-Isaías passou a ser o mais pesquisado.

Vejamos como se deu esta pesquisa em torno desta obra.

3.1.1.1 BERNHARD DUHM38

Na pesquisa sobre o profeta Isaías, o grande mérito cabe ao

lançamento do Comentário de Isaías de Bernhard Duhm39, em 1892. Este

comentário deu origem às descobertas sobre a composição da obra do livro de

Isaías. Bernhard Duhm foi o primeiro a separar o livro do profeta Isaías em: Isaías

de Jerusalém, que também foi denominado de Isaías histórico ou primeiro Isaías;

o Segundo Isaías, denominado de Dêutero-Isaías e o Terceiro ou Trito-Isaías. No

Dêutero-Isaías ele descobriu como unidades especiais, os Cânticos do Servo

Sofredor de Javé. Trabalhou acentuadamente na crítica literária e histórica do

Dêutero-Isaías, como nos outros Isaías, mostrando a importância desta obra.

38 BUDDE, Karl. Das Buch Jesaja Kap 40-66. Tübingen, J.C.Mohr, 1909, 3a. edição, Handkomentar zum Alten Testament, p.609-71, op. cit., in: James Muilenburg, op. cit., p.399.39 BEGRICH, Joachim. Studien zu Deuterojesaja. Christian Kaiser Verlag, München, Theologische Bücher, v.20, 1963, p.68-80.

36

Page 37: o Novo Exodo

Seus estudos ainda estão em evidência sem modificações depois de um século de

pesquisa.

Outro grande pesquisador ao lado de B. Duhm, o qual trouxe

notáveis contribuições à pesquisa do Dêutero-Isaías, foi Karl Budde40. Após estas

pesquisas, as grandes descobertas sobre o Dêutero-Isaías ficaram restringidas a

um pequeno círculo de estudiosos como: Joachim Begrich41 e Karl Elliger42, que

mostraram a independência do Primeiro Isaías, e a dependência do Dêutero-

Isaías em relação ao Trito-Isaías. Depois destes pesquisadores, surgem Eberhard

von Waldow43, Claus Westermann44, Roy Melugin45, Klaus Kiesow46 e outros47.

3.1.1.2 O DÊUTERO-ISAÍAS CONFORME BREVARD S. CHILDS48

Para este autor o Dêutero-Isaías faz parte de um todo. Apesar de a

crítica haver separado o livro de Isaías em três, este e outros autores continuam

considerando-o como uma unidade e um bloco de um só autor49.

40 ELLIGER, Karl. Deutero-Jesaja. In: Seine Verhältnisse zu Tritojesaja. Em Berträge zur Wissenschaft Alten und Neuen Testament, v.11, 1933, p.109-213.41 WALDOW, Eberhard von. The message of Deutero-Isaias. In: Interpretation, 221 (1968), p.259-87.42 WESTERMANN, Claus. Isaiah 40-48 a Commentary. In: Old Testament Library, Westminster Press, Philadelphia, 1969, p.3-30.43 MELUGIN, Roy F. The formation of Isaiah 40-55. Walter der Gruyter, Berlin/New York, em Beiheft zur Zeitshrift für die Altestamentliche Wissenschaft, 1976, p.141.44 KIESOW, Klaus. Exodutexte in Jesajabuch. Literankritische und motivgeschichtlische Analysen. Orbis Biblicas et Orientalis, v.24, Universitätsverlag Freiburg / Vandenhoeck und Ruprecht, Freiburg/Goettingen, 1979, p.13-175.45 Para a história da pesquisa da ciência bíblica pesquisei a obra de: KRAUS, Hans Joachim. Geschichte der historich kritischen erfoschung des Alten Testament. Neukirchen Vluyn, Neukirchen, 1969, p.193-327.46 Para a outra parte sobre o Dêutero-Isaías consultei a obra de CHILDS, Brevard S. Introduction to the Old Testament as Scriptures. Fortress Press, Philadelphia, 1989, 6a. edição, p.311-333 e sua mais recente obra: CHILDS, Brevard. Biblical theology of the Old and the New Testament. Fortress Press, Philadelphia, 1992, p.162-167.47 CHILDS, Brevard S. op. cit., p.325-330.48 CHILDS, Brevard S. op. cit., p.325.49 CHILDS, Brevard S. op. cit., p.321-22.

37

Page 38: o Novo Exodo

Brevard S. Childs analisando outros autores, tanto católicos como

protestantes conservadores ou não, mostrou a reação dos mesmos quanto à

divisão da obra isaiana. Os autores conservadores se apegam em determinados

fundamentos para mostrar a indivisibilidade da obra de Isaías:

a - O contexto literário do atual livro de Isaías atribui a totalidade do

livro ao próprio profeta Isaías. A tradição apóia e atribui a autoria ao profeta. Esta

ênfase está relacionada à afirmação de autoridades rabínicas, do Novo

Testamento e do período patrístico.

b - Estes autores afirmam a similaridade da linguagem e do estilo, e

insistem em que vários conceitos sustentam a autoria e a unidade da obra literária.

As diferenças existentes, eles explicam pela intenção do autor em alterar a

descrição e a narração dos fatos. Isto é fundamentado no dogma da inerência e

da inspiração bíblica.

c - A atividade sobrenatural divina e da própria profecia fez com que

o autor previsse os acontecimentos do século V a.C., em pleno século VIII a.C.

Brevard S. Childs traz em sua análise inicial uma visão panorâmica

das opiniões diversas de especialistas sobre o Dêutero-Isaías, mas a sua opinião

não foge à regra dos próprios autores citados. Após as análises destes autores,

ele inicia um novo bloco de análise de outros pesquisadores, vistos em nosso

trabalho, tais como: Claus Westermann e Roy F. Melugin. A sua análise destes

autores mostra que os mesmos fizeram descobertas extremadas que os anteriores

não haviam visto em suas obras.

Outra questão muito discutida são os Cânticos do Servo Sofredor.

Recebem considerações do autor. Para o próprio Brevard S. Childs o mais

importante em todo o debate é a unidade literária e a composição conjunta do

Segundo e do Trito-Isaías. Ele entende que a obra é só de um autor:

38

Page 39: o Novo Exodo

3.1.1.3 O DÊUTERO-ISAÍAS DE CLAUS WESTERMANN 50

Conforme Claus Westermann, a proclamação pode ser combinada

com a disputa profética. Em Is 49,14-26, o lamento contra Sião anuncia a

reconstrução da cidade (Is 19,16s), o retorno dos exilados (Is 49,18-21s), à

extensão do seu território (Is 49,19) e a ruptura do poder que escraviza Israel. A

proclamação é combinada com: o lamento comunitário, a proclamação e a época

da salvação. O livro termina com a proclamação da saída da Babilônia e a jornada

de retorno para a terra através do deserto (Is 55,22).

A pregação do Dêutero-Isaías traz uma linguagem usada no louvor a

Deus. No salmo de louvor ou hino de louvor, a divina majestade é o tema das três

primeiras secções de Is 40,12. 17-18. 24-25. Há o contraste da glória de Deus

com a pobreza da fé de Israel. Na quarta secção (Is 40,27-31) transmite-se a

mensagem de conforto à nação. A forma de louvor a Deus também inclui títulos

usados para o próprio Deus. Este louvor é uma maneira de descrever a si próprio.

Isto é encontrado nos anúncios dos discursos de juízo e nos oráculos de Ciro (Is

41,4; 43,10-13; 43,15; 44,24-28; 45,3b; 45.12,18-21; 46.4,9; 48.12-15). Estes

textos também contêm o louvor ao criador e ao Senhor da história na forma de

auto-anúncio. O Dêutero-Isaías expressa ainda a aflição de seu povo, a visão de

Deus como uma nova grandeza e majestade. Fala do Deus único, verdadeiro e

poderoso e de uma nova libertação miraculosa.

No oráculo de Ciro em 44,24-28 nos deparamos com as seguintes

séries de oposições: “O nosso Redentor” no v.24a, a verdade das profecias

antigas em v.26a e a reconstrução das ruínas da cidade de Jerusalém em v.26b.

50 WESTERMANN, Claus. Isaiah 40-66 a commentary. Old Testament Library, Westminster Press, Philadelphia, 1969, p.3-30.

39

Page 40: o Novo Exodo

O louvor a Deus se funde com a proclamação de salvação, constituindo outra

característica fundamental da teologia do Dêutero-Isaías.

Outra forma muito importante do Dêutero-Isaías é a pregação

através da polêmica. O ataque se dirige às nações e aos deuses estrangeiros e

vai contra os outros profetas. O Deus de Israel luta com os outros deuses para

mostrar qual é o verdadeiro Deus: o Deus de Israel. Existem precursores

teológicos nas afirmações do Dêutero-Isaías em sua pregação profética sobre

Ciro. Como no Primeiro Isaías ele fala do rei da Assíria, enquanto que Jeremias

fala do rei da Babilônia. E o Dêutero-Isaías se refere a Ciro, o persa. Porém, aqui

algo novo acontece. Enquanto que nos outros profetas é assegurado o juízo de

Deus, no Dêutero-Isaías é assegurado a salvação que vem por um estrangeiro.

A polêmica do Dêutero-Isaías contra as nações nos discursos de

juízo é evidente no confronto de Javé com Israel seu povo (43,22-28; 50,1; 42,18-

25). Estes textos falam realmente da disputa. Os discursos de juízo contra Israel

sobre os pecados presentes e os pecados passados foram perdoados. Nestes

casos, o Dêutero-Isaías difere dos profetas tradicionais pré-exílicos. Os outros

profetas não anunciaram o perdão, o Dêutero-Isaías fala deste perdão dos

pecados (40,1; 43,25). A salvação é dada e acompanhada do perdão.

Os cânticos de louvor ou de clamor de exultação em 42,10-13; 44,23;

48,8-20; 49,13; 51,3(?); 52,9 e 54,1 testificam desta salvação.

A mensagem do Dêutero-Isaías, mesmo sendo semelhante a dos

demais profetas pré-exílicos no que se refere à chamada para a decisão, se

destaca por sua mensagem de salvação. Ele conclama ao louvor e à exultação a

Javé nos cânticos de louvor. Este júbilo indica a resposta da fé. Estes cânticos de

louvor que estão inseridos no Dêutero-Isaías mostram que no Antigo Testamento

o louvor pode tomar o lugar que no Novo Testamento se chama de fé.

40

Page 41: o Novo Exodo

Os cânticos do Servo de Javé são considerados como cânticos

genuínos. Eles são encontrados em 42,1-4; 49,1-6; 50,4-9; 52,13-53,12. Estes

cânticos usam outros termos já aplicados no Antigo Testamento ao rei, ao profeta

ou ao homem justo individual. O servo é o mediador, à semelhança de Moisés,

que também foi designado por Deus como servo de Deus. Em toda a profecia, o

termo “servo” pode ser encontrado, principalmente em profecias que precedem o

Dêutero-Isaías, inclusive em Jeremias, profeta antes do Dêutero-Isaías e do exílio.

O sentido do Servo Sofredor Vicário tem por ofício mediar e se expande para o

conceito posteriormente, dando aos gentios a salvação vinda dele.

3.1.1.4 O DÊUTERO-ISAÍAS CONFORME ROY F. MELUGIN 51

O autor inicia o seu trabalho com a formulação do problema e do

método que vai utilizar em sua pesquisa. Na primeira parte ele analisa através do

criticismo da forma e da história da forma o que os diversos autores fizeram em

suas análises do Dêutero-Isaías. Estes autores foram os primeiros a aplicarem os

métodos supracitados na pesquisa do Dêutero-Isaías. Depois Roy Melugin passa

a discutir autor por autor, as suas hipóteses de trabalho para depois apresentar a

sua própria hipótese:

“Os desacordos talvez não podem afetar o assunto se eles

diferem meramente em detalhes. Mas suas diferenças são

fundamentais. Eles discordam sobre a natureza real do

processo da composição. O profeta não fala em pequenas

declarações que revelam as estruturas da tradição oral do

discurso? Ou como o artista criou suas próprias formas?

Estamos diante de um colecionador? Ou temos um longo

poema? Que método de análise pode ser usado? É o

criticismo da forma apropriado? Ou podemos como James

Muilenburg ver uma estrutura de estrofes? Pesquisadores

51 MELUGIN, Roy F. The formation of Isaiah 40-55. Walter der Gruyter, Berlin/New York, Beiheft zur Zeitschrift für die Altestestamentliche Wissenschaft, v.141, 1976, p.1-7.

41

Page 42: o Novo Exodo

recentes nos legaram estas questões, sendo que todas

podem ser reduzidas a uma só: qual a natureza da poesia e

o arranjamento do corpus do Dêutero-Isaías? A questão é o

assunto deste livro” 52.

Na parte seguinte ele discute então a questão do método. “A questão

acerca da natureza da poesia e do arranjamento do Dêutero-Isaías é a primeira

questão do problema do método. Nosso ensaio tem produzido dois métodos

opostos de aproximação empregados por James Muilenburg. O método de Claus

Westermann pode ser visto em parte como uma síntese entre os dois métodos,

assim merece um lugar como alternativa” 53.

Roy F. Melugin passa a analisar os métodos aplicados por James

Muilenburg e Claus Westermann e fazer a sua aproximação entre a crítica da

forma e o criticismo da forma. A conclusão que ele chega a partir desta discussão

é:

“Esta crítica tem por propósito não demolir a posição de

James Muilenburg. A sua contribuição é muito grande para

ser facilmente destruída. Portanto, a análise acima indica que

se tem passado sobre o criticismo de maneira precipitada.

Talvez possamos concordar ultimamente com Claus

Westermann de que a criatividade do profeta é dominante na

análise da crítica da forma constituindo um valor marginal...

Começamos então com a tarefa da análise da forma...

Inquirimos sobre o arranjamento do corpus do Dêutero-Isaías

como um todo. Será que o presente arranjamento do texto é

significante querigmaticamente ou artisticamente? Ou temos

um arranjo que é só mecânico? O plano do livro reflete tanto

a questão da forma como do arranjamento” 54.

52 MELUGIN, Roy F. op. cit., p.7.53 MELUGIN, Roy F. op. cit., p.7.54 MELUGIN, Roy F. op.cit., p.10.

42

Page 43: o Novo Exodo

As partes principais da obra de Roy F. Melugin começam daqui por

diante. Na primeira parte ele investiga “a análise dos gêneros literários em

Dêutero-Isaías” começando com os “discursos de salvação”. Ele parte da

pesquisa dos discursos pelo “oráculo sacerdotal de salvação” 55.

Em sua conclusão sobre os discursos de salvação, o autor escreve:

“Se os oráculos do Dêutero-Isaías sobre a certeza de

salvação são imitações é admitido não como certo, mas está

claro que eles exibem um gênero que pode ser isolado do

seu contexto pela forma. Agora tornando ao restante do

discurso de salvação do Dêutero-Isaías, eles manifestam um

gênero? Ou temos vários gêneros? São todas unidades? Ou

são, como Claus Westermann sugere, partes de uma longa

composição poética?” 56

No final deste capítulo Roy F. Melugin analisa as outras formas de

discurso de salvação como: “Não tenha medo”, a “Heilsankündigung” (oráculos de

certeza de salvação) e, por fim, “os anúncios de salvação” como o anúncio do

futuro. Depois disto vem a pesquisa dos textos do Dêutero-Isaías para a

comprovação daquilo que foi feito: 41,17-20 e 42,14-17; 46,1-4; 51,17-23; 55,1-7

para fundamentar a sua análise da metodologia proposta no início57.

Na seqüência, Roy F. Melugin discute os “discursos de disputa”. Ele

mostra que “o fundamental problema em nosso estudo do Dêutero-Isaías é se a

crítica da forma ilumina a estrutura do texto... Temos examinado os discursos de

salvação” 58. O autor passa a analisar o problema dos discursos numa perspectiva

55 MELUGIN, Roy F. op.cit., p.12-22.

56 MELUGIN, Roy F. op. cit., p.22.57 MELUGIN, Roy F. op. cit., p.22-27.58 MELUGIN, Roy F. op. cit., p.28.

43

Page 44: o Novo Exodo

histórica e a aplicar a análise da crítica da forma. Assim ele escolhe alguns textos

do livro do Dêutero-Isaías para fundamentar o seu trabalho: 40,12-17; 40,18-

24.25-26; 46,5-11; 40,27-31; 45,9-13; 44,24-28; 48,1-11; 42,18-25. Conclui

dizendo que este capítulo mostrou os resultados de que a “estrutura dos discursos

de disputa do Dêutero-Isaías é de sua própria criação” 59.

A discussão posterior passa pela análise do “discurso de juízo” onde

este autor vê os processos entre Javé e Israel. O autor parte da via histórica e faz

uma exegese de determinados textos como: 43,22-28; 50,1-3. Depois ele analisa

os processos entre Javé e as outras nações na perspectiva histórica e na análise

da crítica da forma60. Deste modo a sua conclusão é que “a tentativa de mostrar os

discursos de juízos do Dêutero-Isaías - o processo entre Javé e Israel e o

processo entre Javé e as nações - são em longa medida formados pelas próprias

mãos do profeta. Ao certo, em alguns destes discursos podemos ver a clara

imitação de formas particulares usadas pelo profeta de forma absoluta (44,6-8;

43,22-28)... “Portanto, o Dêutero-Isaías sempre usa o discurso de juízo para o

propósito de disputa” 61.

O próximo desenvolvimento do autor consiste do estudo dos

“Cânticos do Servo de Javé”. Por fim, ele apresenta a parte essencial de sua obra,

que são os arranjamentos das unidades do gênero literário do Dêutero-Isaías.

Estes são determinantes na sua maneira para entender a composição da obra

dêutero-isaiana. Para este autor o Dêutero-Isaías foi composto da seguinte

maneira:

a - 40,12-44,23 (esta secção ele subdivide em 40,12-31; 41,1-42,13;

42, 4-44,23)

59 MELUGIN, Roy F. op. cit., p.44. Para uma melhor compreensão ver a sua análise completa nas p.28-44.60 MELUGIN, Roy F. op. cit., p.45-63.61 MELUGIN, Roy F. op. cit., p.63.

44

Page 45: o Novo Exodo

b - 44,24-49,13 (o autor subdivide em 44,24-48,21 e 49,1-6.7.8-

12.13)

c - 49,14-55,13 (subdividida em 49,14-52,12 e 52,12-55,13).

Roy F. Melugin analisa secção por secção e conclui da seguinte

forma:

“Em nossa pesquisa da formação de Is 40-55 foi colocado o

debate entre estes autores que analisaram os capítulos do

Dêutero-Isaías como uma coleção de fórmulas originalmente

separadas. A conclusão é que a obra é de um só autor... O

resultado final de nossa análise indicou, então, que iniciamos

com os gêneros como uma unidade básica... Tenho tentado

demonstrar as dificuldades com a criticada forma e que Is 40-

55 foi composto de poemas longos, construídos a partir de

um complexo entretecido de elementos de vários gêneros...

Is 40-55, então é uma coleção de unidades independentes

originalmente, mas o arranjo é querigmático” 62.

3.1.1.5 AS TRADIÇÕES HISTÓRICAS NO DÊUTERO-ISAÍAS

a) A tradição do êxodo. Esta é a mais importante de todas as

tradições. Para o Dêutero-Isaías, esta tradição é até a mais importante na história

de Israel. No Dêutero-Isaías, por sua vez, o êxodo é o coração de sua mensagem

aos exilados na Babilônia. As passagens que mostram estes fatores essenciais

são: 43,16-21 e a proclamação de salvação em 51,9-52,3. Esta reminiscência do

êxodo é aplicada à partida da Babilônia em 52,11, na qual o profeta anuncia o

retorno pelo deserto, miraculosamente transformado. O profeta se refere às

antigas peregrinações no deserto em 43,19; 55,12; 41,11; 49,9 sob a liderança de

Javé. O lugar que o Dêutero-Isaías dá ao êxodo é notável.

62 MELUGIN, Roy F. op. cit., p.175.

45

Page 46: o Novo Exodo

b) A tradição profética. Dêutero-Isaías, o profeta da salvação,

tem afinidades com os profetas pré-exílicos da ruína, mas com uma diferença

fundamental, anuncia a salvação e o perdão. Os outros anunciavam a ruína.

c) A tradição dos salmistas. O Dêutero-Isaías revela também

afinidades com o saltério. O oráculo de salvação constitui uma resposta ao

lamento. O salmo de louvor tem características semelhantes aos oráculos de

louvor no Dêutero-Isaías. Como por exemplo, em Is 40,12-31 e nos Sl 39; 49; 90.

3.1.1.6 COMPARAÇÕES ENTRE BREVARD S. CHILDS, CLAUS

WESTERMANN E ROY F. MELUGIN63

Os autores acima citados elaboram um trabalho de fôlego sobre o

Dêutero-Isaías. Talvez sejam os trabalhos atuais mais completos sobre a obra

dêutero-isaniana. Fazem um retrospecto analítico de toda a situação desde o

século passado até o momento da pesquisa elaborada. Inicia como análise das

obras desde Bernhard Duhm até os mais recentes trabalhos. Concentramo-nos

nas obras de Claus Westermann, passando por Hugo Gressmann, Karl Elliger,

Sidney Smith, Ludwig Köhler, Joachim Begrich, James Muilenburg e por fim Hans

Eberhard von Waldow.

A obra de Roy F. Melugin está dividida em duas grandes partes: a

primeira analisa os gêneros literários e a segunda analisa a disposição dos textos

através da obra. A primeira trata dos discursos de salvação, dos discursos de

disputa e dos discursos de juízo ou de julgamento. Na segunda se elabora as

secções do Dêutero-Isaías.

63 MELUGIN, Roy F. The formation of Isaiah 40-55. Walter der Gruyter, Berlin/New York, Beiheft zur Zeitschrift für dir Altestamentlische Wissenschaft, v.141, 1976, p.10-175; WESTERMANN, Claus, op. cit., p.3-30; CHILDS, Brevard S. op. cit., p.320-322.

46

Page 47: o Novo Exodo

O primeiro capítulo desta obra retrata a questão da crítica da forma

na pesquisa de toda a literatura profética, com ênfase na obra isaiana. Tem como

base as obras de autores importantes como: Hermann Gunkel, Sigmund

Mowinckel, Hans Walter Wolff, Walther Zimmerli e Claus Westermann. Estes

foram os pioneiros a separarem e isolarem os discursos proféticos. A

“Formgeschichte”/história da forma e a “Gattung”/gênero determinaram as

pesquisas sobre os discursos proféticos. As várias tentativas de se estabelecerem

os gêneros literários dos profetas pré-exílicos determinaram a pesquisa do

Dêutero-Isaías, que tinha um corpus de coleções de discursos separados e que

Claus Westermann os classificou da seguinte forma: promessa (Verheissungen),

exortação (Mahnworte) e as formas não proféticas de discurso essencialmente

hínicos, identificados em 1914 por Hugo Gressmann64.

Ludwig Koehler65, em 1923, viu no Dêutero-Isaías uma coleção de

unidade, que na realidade consistem em imitações das formas orais do discurso

profético. Portanto, os gêneros literários tradicionais foram modificados e serviram

como material-base sobre a qual o profeta ou o escritor exerceu seu poder

poético.

Tanto para Hugo Gressmann quanto para Ludwig Koehler o Dêutero-

Isaías foi composto originalmente em discursos separados. Eles não se

preocuparam depois com a questão do rearranjamento e dos reagrupamentos das

coleções destes discursos.

Sigmund Mowinckel, em 1931, mostrou que o Dêutero-Isaías era

formado por uma coleção independente de expressões cultuais. Depois pesquisou

o arranjamento destas coleções. Segundo ele, os discursos foram arranjados

conforme os temas similares e a conexão de frases (estribilhos). Cada discurso foi

64 GRESSMANN, Hugo. Die literarische Analyse ind Dutero-Jesaja. In: Zeitschrift für die Altstestammentliche Wissenschaft, v.34 (1914), citado por Roy F.Melugin, op.cit., p.2. 65 KOEHLER, L. Deutero-Jesaja Stillkritisch Untersucht. Zeitschrift für die Altstestammentliche Wissenschaft, v.37, 1932, Berlin citado por Roy F.Melugin, op. cit., p.2

47

Page 48: o Novo Exodo

colocado em seu contexto sobre a forma de associação com o discurso

precedente. O significado mecânico desta associação não tem significado para a

compreensão total da mensagem profética. A hipótese de Sigmund Mowinckel foi

revivida posteriormente por outro pesquisador da obra de Isaías que foi Karl

Elliger.

Karl Elliger, em 1933, reviveu as hipóteses de Sigmund Mowinckel

concordando que o Dêutero-Isaías é uma coleção de expressões originalmente

separadas. Concordando também que essas coleções foram reagrupadas e

rearranjadas com um significado especialmente teológico. O discípulo do Dêutero-

Isaías arranjou estes discursos por assuntos, os quais manifestam estas coleções

com continuidade de pensamento. Karl Elliger viu neste texto o processo como

resultado de agrupamento formando uma unidade da mensagem profética, mais

do que unidade formais.

Assim notamos que houve um trabalho árduo de pesquisa e de

utilização de método histórico-crítico.

Joachim Begrich66, em 1934, aplicou seus estudos críticos ao

Dêutero-Isaías. Examinou o fundamento e a estrutura de cada gênero literário. Ele

não trabalhava com a categoria geral da promessa (Verheissung) como descrição

da mensagem de condenação feita pelos profetas anteriores. No Dêutero-Isaías, a

mensagem é escatologizada, a aplicação da promessa de salvação é mais

interessante. Após uma análise detalhadamente elaborada da visão do processo

de transmissão no Dêutero-Isaías viu que a imitação de uma forma de oráculo de

salvação foi usada pelo sacerdote em resposta ao Salmo de Lamento. Da mesma

forma os oráculos ou os discursos de juízo e o discurso de disputa eram gêneros

nos quais se identificou os discursos comumentes empregados no procedimento

legal, ou seja, eram os discursos na porta da cidade.

66BEGRICH, Joachim. Studien zu Deuterojesaia. Theologische Bücherei, 20, Christian Kaiser Verlag, München, 1963, p.81-92

48

Page 49: o Novo Exodo

Os autores anteriores, Hugo Gressmann, Ludwig Koehler, Joachim

Begrich acreditavam que o discurso do Dêutero-Isaías era uma imitação literária

dos gêneros da tradição oral. Por que nas circunstâncias do exílio o discurso do

Dêutero-Isaías não circulara oralmente? O Dêutero-Isaías usou as formas dos

discursos costumeiramente empregados nos círculos não proféticos da imitação

do processo legal de composição.

Toda esta pesquisa, elaborada por Joachim Begrich, criou um novo

caminho alternativo para a discussão do Dêutero-Isaías, continuada por H.

Eberhard von Waldow67.

Este não concorda com seu antecessor de que os discursos são

imitações literárias de uma forma pré-estabelecida de discurso oral. Em sua

opinião o Dêutero-Isaías foi um profeta cúltico e o oráculo de salvação é um

gênero genuíno profético. O discurso originou-se no culto. Assim eles não são

imitações de formas de discursos que foram utilizados na porta da cidade como

forma de juízo legal.

Surgiu, na escola norte-americana, outro especialista sobre o

Dêutero-Isaías, que contribuiu com aspectos interessantes no estudo em questão,

James Muilenburg68. Ele veio trazer novas alternativas especiais dentro da

pesquisa dêutero-isaniana. O seu trabalho mostrou que o Dêutero-Isaías tem um

estilo de escrita diferente, que a estrofe sempre começa com uma expressão

muito utilizada como: “Veja”, “Eis que”. Estas expressões são uma característica

da denominada forma do estilo imperativo e pode significar o começo de uma

nova estrofe. A estrofe sempre tem introduções no estilo hebraico de métrica, tem

conclusões e repetições de palavras.

67WALDOW, H.E. von. “The message of Deutero Isaiah”. Interpretation, 22(1968), p.259-287. Do mesmo autor podemos ver: Der Traditionsgeschichtliche Hintergrund der prophetischen Gerichtsreden. Beiheft zur Zeitschrift für die Alttestamentliche Wissenschaft, n.85, Alfred Toepelmann, Berlin, 1963, p.170.68MUILENBURG, J. Isaiah 40-66. IDB, v.5, New York, Abingdon Press, Nashville, 1956, p.381-422.

49

Page 50: o Novo Exodo

James Muilenburg trabalhou as situações do anúncio do conselho

celestial de Javé; a vinda de Javé sobre os inimigos de Israel; o pastor que

apascenta e conforta seu povo como um rebanho; Javé é o criador de todas as

coisas. Israel é o povo de Javé como Deus e também o seu próprio servo; a

promessa de redenção é dada aos escolhidos; Ciro é o eleito que conquista a

Babilônia e liberta o povo de Israel; as nações ouvirão que Javé é Deus de Israel e

por fim a vinda do rei e o clamor que “Javé é o Rei de Israel” é colocado na boca

de todas as nações.

A pesquisa em torno do Dêutero-Isaías tem um ponto marcante com

o comentário de Claus Westermann. Este trabalhou intensivamente as questões

do discurso de disputa e o anúncio de salvação que foram reagrupados de acordo

com a estrutura do salmo de lamento. Roy F. Melugin divide o seu escrito de

forma estrutural da seguinte maneira:

Na primeira parte, Roy F. Melugin discute a situação dos discursos

de salvação, classificando-os em oráculo sacerdotal de salvação e em outras

formas. O primeiro é introduzido pela fórmula clássica: “Não tenham medo”. Esta

frase tem um endereço direto, uma expressão da proximidade da ajuda de Javé,

sempre utilizada na forma nominal e a expressão de que Javé dá ouvido às

súplicas que são apresentadas. Enfim, existe o anúncio do futuro no verbo

imperfeito e Javé é o sujeito. Porém podem ocorrer outras fórmulas conhecidas.

Como exemplo no texto de 43,16-21 onde o “Não tenha medo” converte-se na

fórmula “Não me lembrarei das coisas velhas” e em Is 55,8-13 o discurso de

salvação é mudado para o discurso de disputa.

H. Eberhard von Waldow trabalhou a estrutura do discurso da

seguinte forma:

1. Uma introdução

50

Page 51: o Novo Exodo

2. Uma fórmula de mensageiro ou chamado de atenção seguido de

“Não tenham medo”.

3. Um endereçamento direto, onde:

a - a declaração da intervenção de Javé começa com uma

expressão do conteúdo geral, tendo usualmente Javé como sujeito, seguido pela

elaboração da intervenção de Javé com a deidade como sujeito gramatical no

perfeito ou no imperfeito e a substanciação da intervenção freqüentemente não

presente.

b - a declaração das conseqüências da intervenção de Javé,

uma declaração na qual Javé não é mais o sujeito, estando sempre no imperfeito.

c - o propósito da intervenção de Javé.

Nas outras formas de discursos de salvação, ocorrem os oráculos de

certeza de salvação, o anúncio de salvação. Estas têm como base a criatividade

poética:

a. Em 41,17-20 e 42,14-17 encontramos:

1. A referência à queixa

2. O anúncio da intervenção de Javé expressada no imperfeito e Ele

como sujeito

3. A elaboração do anúncio da intervenção de Javé expressada no

imperfeito e Ele como sujeito.

b. Em 46,1-4 observa-se a fusão de dois gêneros: cântico da vitória e

o discurso de salvação.

c. Em 51,17-23 o derivado do discurso é usado no conforto do

lamento.

51

Page 52: o Novo Exodo

d. Em 55,1-5 ocorre o discurso da imitação do gênero sapiencial com

a convocação à refeição. Este mostra o aspecto da essência da vida. O comer e o

beber têm raízes na sabedoria.

I - Os discursos de disputa têm como estrutura: uma estrutura básica,

que tem como ponto de partida o que fala e o seu oponente, a conclusão que é o

resultado lógico do argumento baseado no ponto de comum acordo. Este discurso

é pouco usado na literatura profética, pouco comum nos outros profetas, mais

utilizado no discurso sapiencial. Como exemplo nós podemos citar:

a. 40,12-17 tem como base uma série de questões retóricas

introduzidas por “quem?”, terminando como “Eis que!”

b. 40,18-24; 40,5-11 e 46,5-11 possuem uma estrutura estereotipada.

A questão: “Quem é comparável ao deus como Eu?”, tem outra descrição

sarcástica dos ídolos fabricados. Os profetas vêm ou perguntam sobre o culto e às

vezes aparecem com questões retóricas ou com imperativos ou lembrados de

todas as situações do povo com o estilo participial do hino.

c. 40,27-31 possui um discurso de disputa com o estilo de salmo

individual de lamento e esta disputa possui uma estrutura no estilo litúrgico com

um argumento contra a queixa cúltica.

d. Is 45,9-19 o discurso ocorre com formas de questões retóricas,

refletindo a incredulidade de quem fabrica um objeto de ídolo, que pode ser

inferior ao próprio objeto fabricado.

e. Em 44,24-28 pode ser um hino ou também um discurso de

mensageiro que foi incorporado ao estilo de auto-pregação ou ainda uma disputa

discursiva. Tem uma introdução ao estilo de auto-pregação ou ainda uma disputa

discursiva. Tem uma introdução hínica anterior e uma composição poética, mas

52

Page 53: o Novo Exodo

possui cláusulas participais que são oposições de pregações. Encontra-se nele

um oráculo ao rei.

f. Em 48,1-11 possui uma mistura da segunda pessoa do singular e

plural. É uma disputa, onde ocorre a expressão “Coisas novas e coisas velhas”.

Parece-se com a narrativa etimológica encontrada no Pentateuco. Tem um estilo

narrativo. É uma fusão de vários estilos.

g. Em 41,18-25 é um salmo de lamento. Os autores Claus

Westermann e Roy F. Melugin falam que aqui ocorre a reflexão criativa do

Dêutero-Isaías.

II - Os discursos de juízo ou os relatos de julgamento. Eles existem

como expressões de julgamento entre Javé e o povo de Israel. O juízo ocorre

entre Javé e as outras nações. Estes discursos eram comuns nas situações dos

relatos poéticos e são imitações dos discursos orais feitos no portão da cidade. Os

discursos de juízo profético são imitações das formas dos discursos legais. Eram

comuns nas situações dos relatos proféticos e são imitações dos discursos de

juízo cúltico ou do festival da renovação da aliança. A estrutura deste discurso

começa com a reprovação, a acusação; depois a declaração da inocência do

acusado; logo em seguida vem a contra-acusação do acusado; e, por fim, a

chamada para a decisão ao juízo. Esta fórmula é a mais comum encontrada no

processo entre Javé e o povo de Israel, assim:

a. 43,22-28 reflete o discurso usado no procedimento legal no portão

da cidade.

b. 50,1-3 é um poema que reflete o divórcio de Javé do país; é uma

reação contra a fé do povo que tem se separado de Javé.

III - O processo entre Javé e as nações. Claus Westermann e Roy F.

Melugin mostram que os discursos foram também elaborados a partir do discurso

53

Page 54: o Novo Exodo

de juízo, anunciados no portão da cidade como forma da corte ou da assembléia

dos anciãos para julgar a culpa ou a inocência dos povos.

Conforme Claus Westermann, este discurso de juízo é encontrado no

Dêutero-Isaías como disputa entre Javé e as nações. Ele é uma forma derivada de

um gênero que tem seu fundamento na vida de Israel. Este discurso reflete o

processo entre Javé e os deuses de todas as nações. Os oponentes de Javé são

convocados ao processo. Javé argumenta seu caso num estilo altamente

estereotipado. Utiliza-se a expressão “quem?” e a descrição na primeira pessoa

com um estilo de hino de auto-louvor como na questão do estilo de auto-louvor e

por fim tem um final com “eis que”.

A parte mais discutida do Dêutero-Isaías nos dias atuais é a secção

dos Cânticos do Servo Sofredor de Javé. Não é necessário entrar em maiores

detalhes. Esta secção foi muito pesquisada e talvez é a mais debatida69. Existe

uma vasta pesquisa sobre o assunto.

1. 42,1-4 constitui o primeiro hino. É um discurso de Javé sobre o

servo. Começa a frase com “eis que” e indica a eleição do servo de Javé.

2. 42,5-9 é o segundo hino, fala do compromisso do servo.

3. 49,1-6 constitui o terceiro hino, este é um salmo de agradecimento

individual que inclui o comissionamento de um rei e do profeta.

4. 50,4-11 representa o quarto hino e é o lamento de dor que

contrasta a missão do servo e sua experiência. Tem uma linguagem jurídica e é

um salmo de lamento.

5. Finalmente, temos Is 52,13-53,12 o quinto hino. Este é um salmo

de agradecimento integrado com um salmo de lamento e a exaltação do servo.

Roy F. Melugin, no final de sua obra, se dedica à composição das

unidades dos gêneros literários do Dêutero-Isaías. Este trabalho representa a sua

69GORGULHO, M. L. O Servo de Yahweh nos escritos do Dêutero-Isaías. Tese de doutorado, PUC/RJ, 2v, 1989, p.618.

54

Page 55: o Novo Exodo

tese e sua conclusão sobre a estrutura literária do Dêutero-Isaías. Ele segue

Claus Westermann em vários momentos: a associação verbal, a associação

temática e a associação do ambiente do Dêutero-Isaías.

A estrutura básica do Dêutero-Isaías pode ser resumida da seguinte

forma. Is 40-55 é composta de várias etapas: 40,1-11 é a estrutura do corpo inteiro

como se fosse uma miniatura do resto do livro. É um tipo de esboço ou resumo da

obra. Este esboço foi empregado intencionalmente como prólogo da coleção. Este

texto permanece como uma unidade e como a vocação do profeta. Foi elaborado

depois um epílogo com ligação ao prólogo.

Ficou evidente neste capítulo que a composição do Dêutero-Isaías

em sua fase final teve uma elaboração de um redator que juntou a primeira parte à

terceira, ficando no meio o Isaías da Babilônia. Assim a estrutura do Dêutero-

Isaías ou Isaías 40-55 tem uma estrutura básica composta pelo prólogo e o

epílogo, tendo um miolo que é um entretecido de uma obra poética incomparável.

Este prólogo 40.1-11 reflete a estrutura de um corpo inteiro que foi

retratado em uma miniatura e que foi empregado intencionalmente como prólogo

de uma vasta coleção. Esta é a opinião de Claus Westermann. Os versos de 40

como prólogo têm um complexo de um chamado poético e se insere no contexto

de vários outros chamados, de outros profetas como Is 6. Este relato é um relato

unificado, uma reflexão e guarda uma unidade literária. Is 40,1-11 tem em si

outras unidades literárias que foram juntadas formando um todo (J Begrich: v.1-2;

3-5; 6-8; 9-11).

O epílogo de Is 55,6-13 corresponde ao começo do corpo do livro do

Dêutero-Isaías (Is 40,1) que é muito semelhante ao prólogo principalmente a 55,6-

13. Como no prólogo pode-se separar em várias unidades e composições o

epílogo também tem esta forma de se apresentar. Is 55,6-13 pode ser separado

em v.6-7 correspondente a uma pequena tora sacerdotal, que é a maneira de uma

55

Page 56: o Novo Exodo

chamada profética sacerdotal semelhante a Is 6;1 Rs19 e o próprio texto citado de

Is 40,1-11.

Conforme Roy F. Melugin houve uma justaposição de unidades de

gêneros individuais. O arranjamento deste fundamento parece estar bem claro.

Houve um modelo satisfatório de uma progressão mecânica deste arranjamento.

Porém, achar este fundamento e designar estas evidências e como se procedeu

este fundamento do arranjamento das unidades é muito difícil. Reconstruir a

história da formação desta coleção e reconstruir estágio após estágio como foi

produzido Is 40-55 é quase impossível. As hipóteses surgem como: a construção

artística, o uso da linguagem dentro das unidades dos gêneros, o caminho nas

quais estas unidades formam um contexto relacionado com a história. A forma do

pensamento e a relação com a poesia. O significado que é demonstrado pelas

imagens e os jogos de palavras, as repetições de sons, a forma do poema em

geral, ajuda a explicar como foi formado este complexo de Is 40-55.

A progressão da formação do texto contribui para a explicação do

significado e da formação. Os capítulos tiveram uma construção retórica e que

ajudou na composição final deste Dêutero-Isaías. Por isso tanto a prólogo como

os epílogos demonstram como surgiu e como se formou esta composição e este

arranjamento na obra final. Se o prólogo e o epílogo foram rearranjados, juntados

em unidades posteriores, o corpo deutero-isaianiano foi obra de várias etapas.

Como exemplo, tomamos o texto de Is 41,1-7 como ilustração disto que está

sendo feito sobre a unidade de gênero.

A forma de discurso convence imediatamente a uma compreensão

parcial do significado da unidade. O escritor poeta dá uma figura de um resumo de

um julgamento: “Ouçam-me... vamos enfrentarmos em juízo”(41,1). Este tom

resume o julgamento ou processo final desenvolvendo o processo de Javé contra

as nações e de Javé contra Israel. Em 46,1-4 repete-se as palavras e as imagens

para significar que o poema está em progressão, estas, repetições refletem o

contraste entre os deuses que serão destruídos e Javé que destruiu também

56

Page 57: o Novo Exodo

liberta o povo. A figura dos deuses impotentes que poderão ser destruídos o povo

e libertados conforme a vontade de Javé.

A reconstrução hipotética da história da redação ou da forma

demonstra que o rearranjador imitou estes escritos. Esta descoberta atual no texto

evidência que a construção foi arranjada por um eminente poeta que usou uma

linguagem especial da poesia e trabalhou artisticamente este material.

A reconstrução do texto deutero-isaiano oferece uma amostragem

importante para o nosso estudo. Desde o prólogo ou o epílogo e mesmo os textos

selecionados na exegese favorecem e auxiliam a análise do exílio e a pregação do

êxodo novo e a libertação dos judaítas. Apesar da variedade de gêneros literários

sendo oráculos, as invectivas, os ditos de disputa e os processos de julgamentos

foram arranjados favoravelmente de uma maneira que este material seja

entendido pelo leitor como uma mensagem de libertação, de salvação e de novo

êxodo.

Rolf Rendtorff escreve preciosamente sobre esta situação,

“apesar de sua forma anônima em que permanece Is 40-55,

o texto manifesta uma independência marcada e uma

coerência de forma e de expressão teológica. Os textos de

vários gêneros todos eles servem a um propósito de

permanecer que é formulado tanto no prólogo como em

outros textos conclamar os judaítas que estão vivendo no

exílio e que o exílio está no fim, que Javé os trará de volta

por um caminho no deserto para Jerusalém e os guiará como

livres do exílio como um pastor solícito. Isto também é

confirmado no epílogo. A palavra de Javé virá sobre os

exilados e que estes estarão livres para retornarem ao lar em

alegria no júbilo da criação”.

57

Page 58: o Novo Exodo

Finalizamos esta parte, mostrando que as concepções do Dêutero-

Isaías obtidas com os trabalhos de Brevard S. Childs, Claus Westermann, Roy F.

Melugin, mesmo que díspares, nos dão uma estrutura básica e completa sobre a

formação da obra isaiana. Apesar de Brevard S. Childs e de Claus Westermann

vincularem o Trito-Isaías ao Dêutero-Isaías, e que R. F. Melugin faça a leitura

somente de Is 40-55, concluímos com a maioria: que o Dêutero-Isaías é o

composto de uma estrutura básica: um prólogo, um miolo-centro e um epílogo,

conforme as ponderações apresentadas.

O seu miolo é dividido literariamente em três etapas: os discursos de

disputa, os discursos de juízo e os cânticos do Servo Sofredor de Javé.

Após as considerações feitas até aqui e indispensáveis ao perfeito

entendimento do Dêutero-Isaías, podemos dedicar-nos ao estudo pormenorizado

e ao objeto e do presente trabalho, o motivo do êxodo no Dêutero-Isaías. Dentro

da estrutura discutida do Dêutero-Isaías, existem textos que vamos analisar na

perspectiva do motivo do êxodo. Escolheremos somente os textos explicativos do

êxodo, e faremos uma leitura a partir da ótica latino-americana70.

Desta maneira a promessa e o anúncio de libertação são repetidos

com muitas palavras no início e no fim e também em vários textos do Dêutero-

Isaías, como no miolo do livro.

Procuramos no próximo capítulo especificar a questão do motivo do

êxodo no Dêutero-Isaías. Por isso foi necessário especificar a análise da

composição do livro do Dêutero-Isaías para entrar nesta nova fase. A ligação da

composição com o motivo do êxodo parte de que os textos inseridos e à sua

composição são importantes para determinar a próxima fase. A análise histórica e

70CERESKO, A.R. Introduction to the Old Testament, a Liberation Perspective. Orbis Books/Geofrey Chapman, 1992, New York/London, p.189-201,232-243.

58

Page 59: o Novo Exodo

literária da obra do Dêutero-Isaías determina e análise do motivo do êxodo e do

novo êxodo.

CAPÍTULO 4 O MOTIVO DO ÊXODO NO DEUTERO-ISAÍAS

O presente capítulo analisa as pesquisas vétero-testamentárias

realizadas sobre o motivo do êxodo no Dêutero-Isaías. A primeira parte se refere a

análise da bibliografia sobre o tema do êxodo, seguido por uma análise do texto

bíblico para melhor compreensão desta temática. Os textos escolhidos do

Dêutero-Isaías serão tematicamente estudados. Será conduzida uma análise

literária dos textos escolhidos do Dêutero-Isaías passo a passo, e será feita, uma

exegese dos textos para conhecer como o profeta enfrenta este tema. A exegese

básica terá como ponto de partida os resultados já elaborados pela ciência bíblica

e as descobertas feitas na ótica latino-americana.

4.1 ANTECEDENTES

A bibliografia pesquisada sobre o êxodo no Dêutero-Isaías traz

resultados muito controvertidos.

59

Page 60: o Novo Exodo

Um trabalho filológico, exegético, histórico bem fundamentado, tem

no ensaio e Klaus Kiesow71.

Esta obra oferece uma análise literária dos textos que denotam o

tema do êxodo.

Na primeira parte da obra, o autor estuda a situação do tema com a

colocação do problema. Na segunda parte, o autor identifica os textos que serão

analisados: 40,1-11; 43,16-21; 49,7-12; 51,9-14; 52,7-12; 55,12-13, mais os textos

do Primeiro Isaías (cap. 35) e do Terceiro Isaías (62,10-12). Conforme Klaus

Kiesow os textos que fazem parte do Dêutero-Isaías são os mais importantes.

Na última parte ele analisa a hermenêutica dos textos que denotam o

êxodo e faz a contextualização: o balanço da crítica da redação, o motivo do

êxodo, o seu emprego, um resumo e a perspectiva teológica dos textos.

Na parte inicial da obra, o autor mostra que o êxodo é um tema

central de toda teologia. As teologias européias, como a teologia da libertação,

utilizam o motivo do êxodo. A teologia européia através da teologia da esperança

com Jürgen Moltmann72 e na filosofia social com Ernst Bloch trabalhou o êxodo em

perspectivas diferentes, mas dando ênfase neste tema73.

Na elaboração da sua teologia da salvação, Klaus Kiesow mostra

que certos textos do livro de Isaías 40-55 falam explicitamente do êxodo do Egito,

da travessia do mar e da peregrinação pelo deserto74.

71KIESOW, Klaus. Exodustexte im Jesajabuch, literarkitische und motivgeschichtiliche Analysen. Editions Universitaire/Vandenhoeck und Ruprecht, Fribourg/Göttingen, 1979, p. 1-22.72MOLTMANN, Jürgen. Teologia da esperança. São Paulo, Editora Herder, 1971, p.363-395.73BLOCH, Ernest. El ateismo en el cristianismo. Taurus Ediciones, 1983, p. 79-112.74KIESOW, Klaus. op. cit. p. 9-22

60

Page 61: o Novo Exodo

Acerca do motivo do êxodo em Dêutero-Isaías, Klaus Kiesow

enumera vários autores como sendo os pioneiros no assunto citado: Jacques

Guillet75, Walther Zimmerli76, Bernhard Anderson77, Joseph Blenkinsopp78, Carol

Stuhlmueller79, Dieter Baltzer80. Estes autores consideram que os seguintes textos

mencionam a idéia de êxodo: 40,1-11; 43,16-21; 49,7-12; 51,9-12; 52,7-12; 55,12-

13; 62,10-12 e Is 35 81. Outros textos não tão explícitos sobre o novo Êxodo

constituem no máximo a quantia de treze e que os autores deixam de relacionar

uns e mencionar outros diminuindo a relação a seis textos: Is 40,1-11; 43,16-21;

49,7-12; 51,9-12; 52,7-12; 55,12-1382·. Klaus Kiesow analisa oito destes textos:

seis do Dêutero-Isaías, um do Primeiro Isaías e um do Trito-Isaías.

Conforme o próprio Klaus Kiesow o motivo do êxodo é um pomo de

discórdia entre os comentaristas do Dêutero-Isaías:

“O alcance e o significado do motivo do êxodo em Is 40-55

foram analisados de várias maneiras desde a virada do

século83. Os resultados em sua maioria encontram-se

registrados em comentários. A indagação, em quais textos o

motivo do êxodo deve ser atestado? Reflete a primeira

75GUILLET, Jacques. Le theme de la marche an desert dans l’Ancien Testament et le Nouveau Testament. In: Recherches de Science Religieuse 36 (1949), p.164-181.76ZIMMERLI, Walter. Il nuovo esodo. In: Rivelazione di Dio. Editrice Jacca Book, Milano, 1975, p.175-185.77ANDERSON, Berhard. Exodus tipology in second Isaiah. in: Bernhard Anderson e Walter Harrelson. Israel’s Prophetic Heritage. Harper and Brothers, New York, 1962, p.177-195.78BLENKISOPP, Joseph. Alcance e profundidade da tradição do êxodo no Dêutero-Isaías Is.40-55. In: Revista Concilium no. 10, dez(1996), Livraria Morais, Lisboa/Recife, p.37-46.79STUHLMUELLER, Carol. The creative redemption in Deutero-Isaiah. Pontifício Instituto Bíblico, Rome, 1970.80BALTZER, Dieter. Ezequiel und Deuterojesaja. Beiheft zur Alttestamentliche Wissenschaft, Berlim, v.121, 1971, p.12-24.81KIESOW, Klaus. op. cit., p.17.82KIESOW, Klaus. op. cit., p.17.83WIENER, Claude. O Dêutero-Isaías. São Paulo, Edições Paulinas, 1984, p.50-52. Êxodo de Moisés. São Paulo, Loyola, 1974, p.50, 79, 122, 142.

61

Page 62: o Novo Exodo

particularidade do uso do motivo do “novo êxodo”. Esta não é

a questão de um complexo temático fechado84. Os textos

distribuídos em freqüentes análises, as quais nem sempre

podem ser interpretados de uma maneira equivocada” 85.

O motivo do êxodo por sinal tem freqüentemente causado diversas

interpretações e os textos do Dêutero-Isaías em análise demonstram que motivos

isolados têm uma estreita ligação do êxodo do Egito sendo recordados no exílio

da Babilônia:

“Motivos isolados algumas vezes estão em nítida relação

como o milagre do mar dos caniços e a caminhada no

deserto. Em outras situações estão isolados ou usados num

contexto diferente (compare o motivo da passagem a seco

no mar em relação com a correnteza em 51,10 com 42,15 e

Is 50,2; o motivo da dádiva da água em 43,20 com 44,3).

Este motivo não deixou dúvidas de uma real alusão ao êxodo

do Egito” 86.

A disparidade de interpretações leva o autor a concluir que:

“Nesta difusa situação dos textos, muitos autores tratam com

uma admirável liberdade, as diversas “provas documentais”

para uma saída da Babilônia e para um regresso dos

exilados, a construção de uma estrada de Javé e a entrada

de Jerusalém, o dom da água e os rios, o cultivo da

plantação no deserto e a reconstrução do país não tem

textos semelhantes no primeiro êxodo, o desenvolvimento

84CROATTO, José Severino. Êxodo uma hermenêutica da liberdade. São Paulo, Paulinas, p.35-74.85KIESOW, Klaus. op. cit., p.17.86KIESOW, Klaus. op.cit., p.17

62

Page 63: o Novo Exodo

ilustra isto através da comparação com o Pentateuco e

aplicá-lo à situação do exílio” 87.

Klaus Kiesow complementa a situação do êxodo em Dêutero-Isaías

citando outro autor A. Zillessen que descreve da seguinte maneira:

“O exílio da Babilônia é uma equivalência do cativeiro do

Egito. Os sinais de castigo como seca, falta de água, de ar

são lembranças das pragas do Egito. A saída não é sigilosa,

apressada, mas deve constituir uma festiva procissão,

acompanhada pelo próprio Javé que, como na primeira

caminhada, estava presente na nuvem e no fogo... O milagre

no mar dos caniços deve-se repetir na obstrução da água e a

feliz travessia..., sendo porém maior que todos os antigos

acontecimentos, tem o seu ápice com: a estrada ou caminho

maravilhosamente preparada seguindo por montanhas

rebaixadas, as profundezas do deserto aterrados... e a

caminhada através de tremendos acontecimentos da

natureza, a maravilhosa transformação do deserto em uma

terra rica em água e nutrientes, em uma abundante e

verdejante vegetação. Os povos vizinhos e distantes, os

animais selváticos louvam e exaltam as maravilhas de

Deus”88.

K. Kiesow mostra que esta característica dos textos do Dêutero-

Isaías violenta um pouco as características originais e diferem do primeiro êxodo.

A interpretação se fosse rigoroso deveria compor o texto como se desenrola no

primeiro êxodo. O Dêutero-Isaías não leva a pressupor a tomada da terra e a

conquista que se segue no primeiro êxodo após a viagem pelo deserto. O

87KIESOW, Klaus. op.cit., p.1888KIESOW, Klaus. op.cit., p.18-19

63

Page 64: o Novo Exodo

Dêutero-Isaías somente mostra um novo êxodo, uma nova caminhada, um novo

retorno: o de Javé a Sião.

No final das contas o que o Dêutero-Isaías faz é relembrar a Gola e

mostrar aos indecisos que a nova Gola iniciou e a antiga terminou. A mensagem

destas narrativas é composta para lamentar ou convocar os exilados para o

retorno. Esta lembrança era um sinal de um ritual, de uma festa de ano novo para

que o povo jamais se esquecesse da esperança da saída do exílio89.

4.2 O NOVO ÊXODO COMO PARADIGMA E ANÁMNESIS EM DÊUTERO-

ISAÍAS90

O primeiro êxodo é interpretado no segundo êxodo. O segundo

êxodo é um paradigma e uma anámnesis do primeiro êxodo. O êxodo babilônico é

um paradigma do êxodo do Egito. O segundo êxodo é uma reelaboração teológica

do primeiro êxodo. Um êxodo relata a história e o outro a teologia91.

O Dêutero-Isaías, conclama os prisioneiros de Babel a voltarem à

pátria 40,3-5,9-11. Descreve a saída da terra da Babilônia com o olhar posto no

êxodo de Israel do Egito. A saída de Babel será muito mais maravilhosa porque

acompanha maiores prodígios de Deus. O deserto, através do qual será

construída a magnífica estrada plana, se transforma, pelo poder de Yahweh -

assim anuncia o profeta numa arrojada visão - em um paraíso. O Senhor mesmo,

qual pastor solícito, guiará o seu povo, apagará a fome e a sede e, guiando e

protegendo os exilados no caminho de volta, será a sua vanguarda e a

89KIESOW, Klaus. op.cit., p.19-2090WIENER, Claude. O Dêutero-Isaías - O profeta do novo êxodo. São Paulo, Paulinas, 2a.edição, p.9-17,50-51; LACK, Remi. L’universo simbolico del secondo Isaias (40-55). In: Leiture Struturalista dell’Antico Testamento. Borla Edizioni, Roma, 1978, p.38-64; LACK, Remi. Symbolique du Livre d’Isaie. Biblical Institute Press, Analecta Biblica, 59, Roma, 1973, p.77-121.91 Claude Wiener, op.cit., p.9-17.

64

Page 65: o Novo Exodo

retaguarda. As grandiosas imagens com seus traços particulares e o termo de

comparação, em segundo plano, para realçar o esplendor do novo êxodo. Assim

Claude Wiener descreve o êxodo no Dêutero-Isaías de maneira lúcida e

perspicaz92.

O profeta Dêutero-Isaías ou o profeta do novo êxodo recorda o

primeiro êxodo da seguinte maneira em 43,18: “não vos lembreis das coisas

antigas, nem considereis as coisas passadas”. Sempre se refere ao êxodo do

Egito. E ainda ele mostra em outras passagens a maneira diferente do primeiro

êxodo: “Eis que faço novas todas as coisas, que está saindo à luz, porventura não

o percebeis? Eis que porei um caminho no deserto, e rios no ermo” (Is 43,19). No

primeiro êxodo o caminho passava pelo mar e pelo deserto, no segundo êxodo o

caminho passará pelo deserto.

Um detalhe importante é que, no primeiro êxodo, o cerne da questão

é a profissão de fé dos israelitas que permaneceu como a ação salvadora de Deus

na travessia do mar dos caniços. O Dêutero-Isaías usou o acontecimento do

êxodo como o protótipo da ação salvadora de Deus, como exemplo, a

prefiguração da salvação eminente.

Gerhard von Rad mostra em sua teologia que a pregação do

Dêutero-Isaías está estreitamente vinculada com o acontecimento da época da

vinda de Ciro e que a sua mensagem tem sido formada de três tradições da

profecia anterior: a tradição do êxodo, a tradição de Davi e a de Sião. O primeiro

plano de sua visão do futuro o ocupa, sem lugar de dúvidas, a tradição do êxodo.

De todos os atos salvíficos que Javé em favor de Israel, este se acha de tal

maneira no centro de tudo que o profeta só pode representar-se no acontecimento

salvífico futuro como um novo êxodo93.

92 Claude Wiener, op.cit., p.50 (grifos meus)93 RAD, Gerhard Von. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo, Aste, vol.II, 1986, 2a.edição, p.230 (citação livre).

65

Page 66: o Novo Exodo

Conforme Gerhard von Rad,

“o Dêutero-Isaías conhecia muito bem todas as tradições

antigas de Israel e principalmente a tradição do primeiro

êxodo. Em várias oportunidades o Dêutero-Isaías menciona

este êxodo em sua obra. O profeta do novo êxodo transforma

todas as tradições do antigo Israel com base na tradição do

novo êxodo. Exemplos destas tradições podem ser

mencionados: a tradição de Abraão em 41,8; 51,1, ou a

figura Jacó em 43,22. Nestas tradições dos patriarcas

começa a história da salvação. Tudo isto conduz ao novo

êxodo. Ele mostra ainda que a tradição da cidade de Sião-

Davi é enfatizada na construção da vida do retorno “pois o

êxodo leva até uma cidade da qual Javé tem saído como

protetor, que será reconstruída de novo” 94.

Para Gerhard von Rad, o êxodo e o novo êxodo são uma história da

salvação e da tradição. Javé será o Nagib, o chefe de Israel, que conduzirá o povo

pelo deserto, o caminho de volta a Sião (55,4). Também ele será o goel, o

redentor e resgatador e o criador do novo Israel, do novo êxodo95. Os verbos

“criar” e “resgatar”, conforme Gerhard von Rad, designam o momento da salvação.

O Dêutero-Isaías é o único profeta a tratar do motivo da criação entre

todos os demais profetas. Para este profeta o autêntico acontecimento salvífico é

o êxodo e o retorno à terra destes exilados, com a vinda do próprio Javé, que

acompanhará o seu povo. O motivo do êxodo nada mais é que aquilo que Gerhard

von Rad designa: um equivalente histórico-salvífico da primeira saída de Israel do

Egito. Javé saiu como um guerreiro em outro tempo contra o Egito 42,13. Neste

novo êxodo, com uma diferença: sem mortes e destruição e sim com a paz sairão

da Babilônia. Javé dará de beber milagrosamente a seu povo com a água no

94 RAD, Gerhard Von. op. cit., p.231.95 RAD, Gerhard Von. op. cit., p.231.

66

Page 67: o Novo Exodo

deserto em Is 48,21. Pois este novo êxodo será muito mais maravilhoso que o

antigo, pois desta vez as pessoas não sairão depressa e escondida. Esta idéia da

pressa era um elemento importante nas antigas tradições do êxodo (Ex 12,11; Dt

16,3). Javé pessoalmente conduzirá o povo de retorno a Sião.

Claude Wiener96 mostra que a lembrança do deserto, com suas

grandezas, permaneceram, sem dúvida, profundamente gravadas na memória de

Israel. E, quando Israel se encontra de novo em terra estranha, surge de novo a

esperança de voltar à terra dos antepassados. Esta volta será à imagem da

marcha de outrora através do deserto. Este é o tema constante de Is 40-55: a

nova marcha no deserto será tão maravilhosa que fará esquecer a marcha de

outrora (43,16. 18. 19). O passado e o futuro se misturam nessas evocações

(48,20-21). Como outrora no deserto na coluna de nuvem e na coluna de fogo, o

próprio Senhor conduzirá a marcha de Israel 52,12. Pois, afinal de contas, é de

uma vinda de Deus que se trata. Mais ainda do que regressar à sua terra, Israel

deve se preparar para acolher o Senhor que vem; instalar-se no deserto é marchar

junto com ele, é encontrá-lo97.

Claude Wiener, ao afirmar que o Dêutero-Isaías faz uma conexão

com o primeiro êxodo para relacionar os dados do segundo êxodo, mostra a

alusão ao começo de sua história de forma clara: a alusão a princípio refere-se

realmente ao contexto do êxodo. Primeiro faz uma evocação de um passado de

vergonha e de ultrajes, com destaque para dois períodos importantes, que ele

denomina de: período da “adolescência” que se refere ao tempo do êxodo no

Egito descrito em Jr 2,2, e a vergonha do tempo presente certamente não é “o

exílio no Egito quando a nação ainda não tinha esposo”, mas sim o pecado, que

iniciou no tempo do êxodo. Estas idéias podem ser notadas no profeta Os 9,10 e

mais fortemente em Ez 23,3 e Sl 78,12-18. O tempo da “viuvez” se refere à vida

96 WIENER, Claude. O êxodo de Moisés. São Paulo, Edições Loyola, 1974, p.122.97 Idem. p.122-127.

67

Page 68: o Novo Exodo

sem o esposo. O exílio foi uma conseqüência do pecado de Israel a ser pago na

Babilônia98.

Na verdade, Claude Wiener quer dizer com isto que “o primeiro

êxodo e o novo êxodo” é para Israel, desde sempre, a lembrança fundamental

destes acontecimentos. A saída do Egito é o fato ao qual Israel deve a sua

existência como povo, povo salvo e povo do Senhor.

Outros autores analisados99 concordam em designar o novo êxodo

como forma de recordação, tanto nos outros profetas como também no Novo

Testamento, que se reportam a esta rememoração (Am 3,1; 5,25; Os 2,17; Mq

6,4-5; Jr 2,2-3; Ez 20; Ag 2,6; Sl 18; 68; 77; 78; 105; 106; 114; 136 e 137).

Estas citações mostram as recordações do passado e são para

testar a memória do povo. Fazem com que a memória esteja sempre viva quanto

aos acontecimentos futuros. O novo êxodo será melhor que o primeiro êxodo, pois

fará esquecer as coisas passadas. O próprio profeta do Dêutero-Isaías usa esta

linguagem e uma terminologia especial para designar este novo êxodo como uma

recordação do antigo. Este novo êxodo é uma nova criação. Não haverá

necessidade de recordar as coisas antigas. Deus irá recriar criar de novo o povo

de Israel. O êxodo é o ato criador da nova história de Israel e do próprio povo de

Israel.

Como no primeiro êxodo se tem a criação da história e a criação do

povo de Israel através da fé javista, no segundo êxodo se tem a recriação do povo

de Israel: o novo Israel que cantará e louvará a Javé, o seu Deus.

98 Ibidem. p.122-127.99 BLENKINSOPP, Joseph. Alcance e profundidade da tradição do êxodo no Dêutero-Isaías 40-55. In: Concilium. Dez, 1966, p.37-48; ZIMMERLI, Walther. Il nuovo esodo nella predicazione dei due grande profeti dell’esilio. In: Rivelazione di Dio (tradução de Gottes Offenbarung, Christian Kaiser Verlag, Muenchen, 1963), Editrice Jacca Book, Milano, 1975, p.175-185; ANDERSON, Bernhard. Exodus tipology in Second Isaiah. op. cit, p.177-195; WIENER, Claude. op. cit., p.122-127.

68

Page 69: o Novo Exodo

CONCLUSÃO

Exemplos das lembranças destas tradições do êxodo podem ser

esboçados da seguinte maneira:

A A promessa aos patriarcas

1 - Isaías lembra o nascimento de Israel desde Abraão que Javé chama e o

abençoa em 41,8; 51,1 -2.

2 - A outra parte da história de Israel começa com o pecado de Jacó: o primeiro

patriarca citado por Isaías em 43.27 também está correspondente em Os 12,3. A

benção aos descendentes é reiterada em 48,18-19 que também inclui o dom da

terra, o milagre da fertilidade de Israel em 49,19-21; 54,1-3 citando Gn 28,14 e por

fim a mediação do benefício de salvação de outras nações em 42,6-7 citando Gn

12,2-3.

B A libertação do êxodo no Egito

1) Javé liberta o seu povo em 40,10; 51,9; e 52,10. A glória de Javé é vista pelo

povo no antigo êxodo (Ex 16,7) e agora tem sido vista por todas as nações em Is

40,5.

2) Não há alusões às pragas do Egito em Dêutero-Isaías, nem referências à

páscoa. Somente a menção de que o povo não precisaria sair depressa como fez

antigamente no Egito, citações em Is 52,12 e em Dt. 16,3; Ex 12,11.

3) Durante o êxodo Javé seria o protetor do povo; temos as citações em Is 52,l2

ou Ex 13,21-22 e Ex 14,19-20.

4) Javé guerreira pelo povo em Is 42,13 citando Ex 15,3; Ele sairá vencedor da

batalha em Is 51,9-10 citado de Ex 14,25. Ele derrotaria os carros e os cavaleiros

69

Page 70: o Novo Exodo

em Is 43,16-17 citado de Ex 14.28e 15,10-21. Acabariam com os opressores de

Israel, Is 49,24-26; 51,22-23 citado de Is 52,3-6.

5) O novo êxodo será acompanhado de um cântico como cântico de vitória de

Míriam em Is 42,10-13 citado de Ex 15,21.

C A jornada através do deserto

1) Javé prepara o caminho pelo deserto e guia o povo em Is 40,3-5; 42,16;43

citando em Is 11,16; 35,8-l0.

2) Pelo caminho o povo terá alimentação e a bebida necessária em Is 41,17-20;

43,19-21; 49,10. Ele fará jorrar água pelo deserto como ocorreu na rocha de

Meribá em Is 48,21 citado de Ex 17,27; Nm 20,8. O deserto será transformado em

Is 49,9-11; 55,13 são citados em Is 35,6-7.100

D A nova entrada na terra prometida

1- Javé guiou seu povo pelo deserto a Sião e a terra foi dividida entre as tribos de

acordo a Is 49,8

2- O novo Israel consistira na confederação tribal que se reunira na Babilônia e na

dispersão a Sião, a cidade santa em Is 52,1.

No esboço anterior notamos que o Dêutero-Isaías faz uma história da

história de Israel partindo dos patriarcas até o fim do cativeiro da Babilônia, a

saída deste e a chegada a Sião, a cidade santa de Davi. O Dêutero-Isaías

relembra as leis passadas, alude às tradições, a criação e a nova criação até a

transformação da natureza em Is 51,3 citando Ez 28,13. Na criação fala do tempo

da criação primeira a nova criação da terra e do céu em Is 40,12-31; 42,5; 44,24;

45,9-13, 18; 48,13; 51, 13-16. Para o Dêutero-Isaías a nova criação será da

100 NAVARRO, Enrique Farfan. El desierto tranformado, una imagem deuteroisaniana de regeneracion. Pontificio Instituto Bíblico, Analecta Bíblica: 130, Roma, p.275. A obra se refere a transformação do deserto no Dêutero-Isaías.

70

Page 71: o Novo Exodo

criação fora do caos (em Is 45,18-19), fala da soberania de Javé na criação de

todas as coisas se põe em conexão com a história. A criação está também

relacionada com a redenção.

A criação está em relação com a história da salvação. Deus nestes

textos é entendido como o criador e soberano. Fica claro também a tradição de

um novo começo e um novo fim. Não só cosmológico como também teológico que

é a mensagem do próprio Dêutero-Isaías. Esta é uma tipologia real da história de

Israel. O êxodo é uma garantia de que Javé redimirá o seu povo e que os eventos

demonstrados têm um propósito de sabedoria e de poder para o cumprimento da

vontade de Deus. Esta mensagem tem como objetivo a proclamação de que Javé

é o Senhor de seu povo e principalmente o Senhor de suas histórias.

4.3 O NOVO ÊXODO COMO SALVAÇÃO EM DÊUTERO-ISAÍAS101

A saída do Egito é o encontro fundamental da fé de Israel em Javé. É

uma confissão de fé. Essa relação com a fé se cristalizou na Bíblia. Na realidade

os relatos querem demonstrar que o pecado levou o povo ao exílio no Egito e na

Babilônia. A recondução ao deserto nas Escrituras mostra o pagamento e o

perdão destes pecados. A retirada destes locais de escravidão, o perdão dos

pecados conferido ao povo é o motivo desta salvação.

Profetas como Os 2,16-17; Jr 31,31 e Ez 20,32-34 se referem ao

novo êxodo como uma forma de condenação pelos pecados. Nem sempre o novo

êxodo tem como características a condenação. O novo êxodo não tem como

características a condenação. O profeta Dêutero-Isaías, em várias oportunidades,

através de passagens magistrais, mostra que o deserto e o exílio são etapas da

salvação propostas por Javé. Por isso ele é identificado como o profeta da

salvação. Em Ezequiel, o novo êxodo, vem descrito como o grande “Dia de Javé”.

101 Sigo como exemplo o trabalho de Walther Zimmerli op. cit., p.175-185.

71

Page 72: o Novo Exodo

Nele o povo no Egito não é condenado a trabalhos forçados (Ez 34,41). A ira de

Javé demonstra que o povo foi condenado à escravidão para que a força de Javé

seja demonstrada na libertação do povo da escravidão.

O cenário que vem depois da saída do cativeiro, a caminhada e a

peregrinação pelo deserto, manifesta a Salvação. A expressão em Ezequiel do

“deserto do Egito”(Ez 20,36) é a evocação das coisas passadas e a estranha

expressão deste mesmo profeta “o deserto dos povos”(Ez 20,36) para evocar a

caminhada à terra prometida. As tradições do deserto evocam, pois, os juízos

divinos nos confrontos com o pecado do povo. Haverá um juízo denominado de

“Dia de Javé”, onde o povo estará face a face com ele.

Para Walther Zimmerli102 o êxodo e o novo êxodo em Ezequiel

significam: vida e morte. Vida no momento em que o povo é libertado e tem como

recompensa o retorno à terra prometida. A morte seria a negação de tudo isto na

perspectiva escatológica do profeta.

Desta forma o profeta reconhece e demonstra a futura ação salvífica

de Javé. Assim sendo, Javé tem três prerrogativas com suas ações salvíficas:

como rei, como juiz e como pastor. O rei soberano liberta Israel, o juiz que julga as

nações opressoras e o próprio povo de Israel em seus pecados, e de pastor

conduzindo o povo pelo deserto em retorno à terra prometida.

O profeta Dêutero-Isaías é o profeta da salvação, tem uma

linguagem diferente para expressar o novo êxodo. Ele traz um discurso figurado

que é um discurso. Em sua obra abundam as palavras criadas para demonstrar

estes episódios, imagens construídas e alusões dos grandes eventos que para ele

é o novo êxodo. Esta é a sua mensagem central: o novo êxodo é uma salvação. O

texto de Is 47 nos mostra os exilados na terra da deportação. Javé abaterá a

102 ZIMMERLI, Walther. Op. cit., p.180-185.

72

Page 73: o Novo Exodo

Babilônia, humilhará os deuses estrangeiros em 46,1-3; enviará os destruidores

que acabarão com os escravizadores em 43,14-46.

Para o Dêutero-Isaías o segundo êxodo na Babilônia, será muito

mais maravilhoso. O profeta começa a mostrar suas diferenças em relação aos os

outros profetas. Notamos que existe no Dêutero-Isaías uma criatividade como

escritor. A diferença entre o profeta Ezequiel e o Dêutero-Isaías está em que

Ezequiel fala do “deserto dos povos” (Ez 20,36) para designar o retorno à pátria,

que na linguagem do Dêutero-Isaías corresponde a “através do deserto”. Ezequiel

não mostra os milagres. O Dêutero-Isaías designa a transformação do deserto e o

primeiro êxodo mostra a nuvem, ao anjo, a coluna de fogo.

Javé no Dêutero-Isaías tem a imagem do pastor que guia o povo,

protege e cuida do rebanho, para que nada aconteça a ele: Is 40,11 citando Gn

33, 13; Sl 23. Aquele que conduz à fonte das águas em 49,10 é o pastor que

atravessa o deserto e que é vitorioso como um guerreiro na batalha em 42,13. Ele

é quem tem como prêmio levar e entregar salvo o povo no cap. 40. Para isso há a

necessidade de se manifestar a glória de Javé para que todos reconheçam que

Javé é o salvador. Isto não é mostrado por outros profetas anteriores ou

posteriores.

Assim sendo, as figuras de alto e baixo, montanhas e outeiros.

Massa e Meribá, a criação e nova criação, as colinas e as depressões, terra árida

e a terra fértil, designam sempre a grandeza de Javé em transformar todas as

coisas. A nova criação à semelhança do novo êxodo se dará será no deserto. Os

morros serão aplainados, as montanhas rebaixadas, os vales aterrados. Haverá a

água no deserto e no ermo. As árvores estarão florescendo, rios correndo. Tudo

isto faz parte desta nova criação e do novo êxodo. Tudo: homens, nações,

natureza, povos, animais do campo, as árvores, as montanhas glorificarão a Javé

(41,19; 55,13; 42,10-14; 43,20; 55,12).103

103 NAVARRO, Enrique Farfan. op. cit., p.186-204.

73

Page 74: o Novo Exodo

Enquanto os outros profetas falam de juízo, de pecado e da

condenação de Javé, o Dêutero-Isaías fala de retorno e da salvação. Enquanto os

outros falam do retorno à escravidão e ao deserto, o Dêutero-Isaías fala da saída,

da graça, da glória de Javé, do louvor prestado a ele pela salvação, admiração

dos remidos e da salvação dos povos.

4.4 O ÊXODO EM DÊUTERO-ISAÍAS COMO O NOVO ÊXODO

O Dêutero-Isaías privilegia as tradições encontradas no Pentateuco;

tradições por ele reinterpretadas e reelaboradas conforme a mensagem

querigmática de sua profecia. Tradições como dos patriarcas, de Moisés, da

libertação, do êxodo do Egito, de Davi e de Sião são veiculados em sua pregação.

O profeta enfatiza a tradição do êxodo. Encontramos em seus textos expressões

para designar estas tradições na sua pregação: coisas antigas-coisas novas, um

caminho no mar, um caminho no deserto, o caminho nas águas - rios no deserto,

coisas primeiras - coisas do futuro, um caminho no deserto - uma senda na

estepe.

Estas comparações servem para mediar e nortear a sua mensagem

alenta aqueles que estão distantes da pátria. Os escritos de Dêutero-Isaías

servem para fortificar a fé dos que vacilam no Deus que os desamparou. Auxilia e

ajuda os exilados a relembrarem de Javé mesmo no cativeiro. Mostra que Javé

salvará o povo e o colocará a caminho de volta para Jerusalém.

O êxodo da Babilônia será, na comparação do êxodo do Egito, muito

mais maravilhoso, fenomenal e milagroso. Como houve milagres na saída do

Egito, haverá milagres na saída da Babilônia. Não acontecerão as pragas como

ocorreu no Egito e a destruição dos inimigos de Israel. Em compensação os

74

Page 75: o Novo Exodo

milagres do novo êxodo serão a transformação do deserto para a passagem do

povo em retorno à pátria. As árvores, as montanhas, as colinas baterão palmas. O

deserto será transformado com a irrigação, com rios no ermo, florescerão as flores

e as árvores do campo. No deserto seco nascerão os rios, no lugar do espinheiro

crescerá o cipreste, no lugar da sarça a murta.

O êxodo no Dêutero-Isaías, comparado com o primeiro êxodo, será

diferente nos acontecimentos e nas maravilhas. Existem semelhanças nos

acontecimentos e nas maravilhas. Existem semelhanças de acontecimentos,

porém existem também muitas diferenças. No primeiro êxodo, havia a

intermediação de Moisés para retirar o povo. Neste segundo êxodo o próprio Javé

com seu braço forte tirará o povo. Javé guiará o povo na retaguarda e na dianteira.

Não guiarão então: as nuvens, a fumaça e o fogo, nem o sol e a lua servirão para

iluminar e ajudar o povo a se orientar. Ele mesmo guiará o povo para a terra

prometida.

A relação de um êxodo para o outro está na transformação da

própria natureza e a sua função na vida do povo. Esta natureza tem uma função e

importância imediata nas narrativas dos dois êxodos. A natureza influencia e

privilegia a situação do homem oprimido e escravizado. A contraposição do

deserto midbar com as águas mayim fica evidente na comparação dos dois

êxodos. O primeiro êxodo privilegia o deserto, a caminhada por ele, sua travessia,

a peregrinação durante quarenta anos, os mandamentos lidos no deserto, o Deus

no Sinai.

O segundo êxodo privilegia a transformação do deserto: endireitar o

caminho tortuoso, aterrar os vales, aplainar as montanhas, fazer uma estrada

através do deserto. O povo jubilante juntamente com a natureza “passeia” pelo

deserto em direção ao Sião. Sião é uma instituição e uma tradição davídicas. No

primeiro êxodo as tradições são mosaicas: Moisés é o baluarte desta narrativa. No

segundo êxodo Sião é o representante desta tradição.

75

Page 76: o Novo Exodo

Sião é a cidade que receberá os eleitos jubilosos e libertados do

cativeiro do êxodo babilônico. No primeiro êxodo após a travessia do Jordão, fica

evidente a posse da terra prometida. No segundo êxodo a cidade de Sião

receberá os remanescentes, os eleitos de Javé, mas não haverá luta e a posse

pela terra prometida. A idéia permanece que a terra é de Javé e

conseqüentemente dos exilados que retornam.

A idéia dos dois êxodos contrapõe o mar, a água e o deserto. Sendo

assim a idéia do seco e do úmido que está no início da criação parece estar

presente.

O seco e o úmido se contrapõem nos dois êxodos. A travessia é a

seco no primeiro êxodo. Caminha-se pelo deserto. O deserto é sinônimo de

aridez, de seco. No segundo êxodo se atravessa o deserto transformado de seco

em rios de águas. Existe uma contraposição seco-úmido104 nos dois êxodos. O

mar está seco e o deserto está irrigado. O deserto transformado é o novo êxodo.

O deserto sempre foi tido como o ideal de vida. Em algumas

narrativas o ideal do deserto está relacionado com o paraíso. A localização

geográfica do paraíso está no meio da aridez do deserto. No meio do deserto está

o oásis, o oásis é o paraíso no deserto tanto para caravanas como para qualquer

tentativa de sobrevivência no deserto. No Antigo Testamento encontra-se também

= a saída de Abraão de Ur para a terra prometida no deserto. A fuga de Abraão e

de José para o Egito pelo deserto.

As narrativas dos evangelhos mostram o deserto como o início de

tudo: a pregação de João Batista começa no deserto, o anúncio sobre a atuação

de Jesus está no deserto; a vinda de Jesus começa pelo deserto; a tentação de

Jesus ocorre no deserto; a fuga de Jesus e sua família para o Egito seguem pelo

deserto; a conversão de Paulo no caminho de Damasco é um evento do deserto.

104 CASALIS, Mathieu. O seco e o úmido: uma análise semiológica dos mitos da criação e do dilúvio. In: Estudos Teológicos, no. 3, v.24 (1984), São Leopoldo, p.250-281.

76

Page 77: o Novo Exodo

O êxodo do Dêutero-Isaías é o novo êxodo, é a teologia do novo

êxodo e a teologia do caminho a teologia da transformação do deserto, e a

teologia da salvação. O êxodo no Dêutero-Isaías é o centro teológico da

mensagem deste profeta desconhecido. Este é o profeta, que em seu gênio

literário, combina a poesia, o hino e a proclamação profética de modo (sui generis)

em sua época. Enquanto os profetas anteriores anunciam a catástrofe, a ruína, a

destruição por causa do pecado do povo, este profeta exílico, pelo contrário,

anuncia a salvação, a saída do cativeiro babilônico, o perdão dos pecados e o

retorno a Sião. O êxodo sintetiza através dos hinos e da poesia toda a alegria e o

júbilo da salvação do povo retornando à pátria. Este profeta utiliza linguagens

figuradas que são retiradas da natureza para mostrar esta situação de salvação.

CONCLUSÃO

Nesta parte fizemos uma reflexão sobre o motivo do êxodo em

Dêutero-Isaías. Notamos através da pesquisa que o assunto a ser debatido existe

muito tempo. Apesar de a discussão ser antiga, novos resultados foram obtidos

em tempos recentes. Os antecedentes da pesquisa são claros. O tema do êxodo e

do novo êxodo não chegou ao final e a um consenso geral. Tanto a teologia

européia como a latino-americana pesquisaram o tema e chegaram a resultados

diferentes.

O motivo do êxodo em Dêutero-Isaías foi usado como símbolo,

tipologia, como paradigma e anámnesis. Então ficou evidente que o êxodo

primeiro é refletido no segundo êxodo. Que o segundo êxodo relembra as

tradições vétero-testamentárias como a promessa aos patriarcas, a libertação do

Egito, a jornada através do deserto, e a entrada em Sião - terra prometida. Que o

novo êxodo é aplicado como salvação dos judaítas pelo profeta. Que o êxodo é o

novo êxodo e diferencia-se em vários aspectos do primeiro êxodo = a

77

Page 78: o Novo Exodo

transformação do deserto para a passagem do povo sob a autoridade e direção de

Javé.

Este capítulo serve de base para apreendermos os resultados

obtidos por outros especialistas sobre a temática do novo êxodo. O capítulo ajuda-

nos a analisarmos no próximo a escolha e a exegese de textos em Dêutero-Isaías.

Os resultados obtidos aqui serão ou não comprovados na próxima secção. A

temática desenvolvida no anterior será demonstrada em frente.

78

Page 79: o Novo Exodo

CAPÍTULO 5 O MOTIVO DO ÊXODO NOS TEXTOS DO DEUTERO-ISAÍAS

Neste capítulo procuraremos fazer uma exêgese de textos

escolhidos no Dêutero-Isaías. Texto que enfatizem o tema do êxodo e do novo

êxodo. Os textos foram escolhidos conforme a sua importância implícita e explícita

sobre o tema do êxodo.

Os textos em número de seis que demonstram temática são: Is 40,1-

11; 43,16-21; 49,7-12; 51,9-14; 52,7-12 e 55,12-13. Em primeiro lugar serão

expostos os textos e as traduções dos mesmos. Em segundo lugar as questões

exegéticas mais importantes. Em terceiro lugar as questões teológico-exegéticas.

Será feito comentário acerca do texto para evidenciar o motivo do êxodo. Uma

conclusão dos resultados obtidos em cada exêgese do texto escolhido. Este

capítulo tem como ênfase a amostragem do motivo do êxodo nos textos

escolhidos.

5.1 Isaías 40,1-11 105

105 Utilizo os comentários de: WESTERMANN, Claus. Isaiah 40-66. A commentary. Philadelphia Westminster Press, 1969; CROATTO, José Severino. Isaias, La palabra profetica y su relectura hermeneutica. La liberacion es posible. v.2: 40-55, 1994, p.5-17; MACKENZIE, John Louis. Second Isaiah Doubleday. New York, 1968; BONNARD, Pierre E. Le second Isaie. Paris, J. Gabalda, 1972, p.83-92. Os textos originais são de Hans Peter Huger, da BHS.

79

Page 80: o Novo Exodo

5.1.1 OTEXTO EM HEBRAICO

לב ־ על דברו אלהיכם׃ יאמר עמי נהמו נהמו

כי עונה נרצה כי צבאה מלאה כי וקראו ירושלם

לקחה מיד יהוה כפלים בכל ־ חטאתיה׃ קול קורא

לאלהינ׃ מסלה בערבה ישרו יהוה דרך במדכרפנו

העקב והיה ישפלו וגבעה וכל־הר ינשא כל־גיא

למישור והרכסים לבקעה׃ דבר׃ ונגלה כבוד יהוה וראו

כל ־ בשר יחדו כי פי יהוה קול אמר קרא ואמר מה

אקרא כל ־ הבשר חציר וכל־חסדו כציצ השדה׃ יבש

יבש יהוה נשבה בו אכןחציר כי רוח חציר נבל ציד

יקום לעולם׃ ל הר־גבה חציר נבל ציץ ודבר־אלהיו

עלי לך מבשרת ציון הרימי בכח קולך מבשרת ירושלם

הרימי אל ־ תיאי אמרי לערי יהודה היה אלהיכם׃ הנה

שכרו אתו ופעלתו לפניו׃ כרעה עדרו ירעה בזרעו יקץ

טלאים ובחיקו ישא עלות ינהל׃

5.1.1.1 Tradução

v. 1 “Consolai, consolai o meu povo, diz o Senhor”.

80

Page 81: o Novo Exodo

v. 2 “Falai ao coração de Jerusalém e dizei-lhe em alta voz, que a sua iniqüidade

está expiada, que ela recebeu da mão de Javé em dobro, por todos os seus

pecados”.

v. 3 “Uma voz chama: No deserto abri um caminho para Javé; na estepe aplainai

uma vereda para o nosso Deus”.

v. 4 ”Todo vale seja aterrado, todo monte e toda colina sejam nivelados, todos os

lugares escarpados sejam transformados em planícies, e os lugares elevados seja

aplainados”.

v. 5 “Então a glória de Javé seja manifestada e toda a carne o verá, pois a boca de

Javé o disse”.

v. 6 Eis uma voz que diz: “Clama, ao que pergunto: Que ei de clamar?”. Toda a

carne é erva e toda a sua graça como flor do campo.

v. 7 Seca-se a erva e murcha a flor, quando o sopro do Senhor sopra sobre elas.

(na verdade o povo é erva).

v. 8 Seca-se a erva, murcha-se a flor, mas a palavra de nosso Deus permanece

para sempre.

v. 9 Sobe a um alto monte, mensageiro de Sião; eleva a sua voz com o vigor

mensageiro de Jerusalém; ergue a sua voz e não te mais; e dize às cidades de

Judá: “Eis aqui o vosso Deus”.

v. 10 Eis que o Senhor Javé: Ele vem com poder, o seu braço lhe assegura o

domínio, eis que com ele o seu salário, diante dele a sua recompensa.

v 11 Como um pastor, apascenta Ele o seu rebanho com seu braço reúne os

cordeiros, os levará nos seus braços, conduz com carinho as ovelhas que

amamentam.

5.1.1.2 QUESTÕES EXEGÉTICAS106

Este texto apresenta algumas dificuldades de análise.

106 Sigo aqui o livro de WESTERMANN, Claus. Isaiah 40-66 a commentary. Philadelphia, Westminster Press, 1969, p.33-36.

81

Page 82: o Novo Exodo

Primeiro, o texto está relacionado com 57,7-12. Alguns comentários

explicitam que v.1-2 é um prólogo e que a secção subseqüente de v.3-4, refere-se

ao motivo do êxodo e que a parte posterior de v.6-8 trata da vocação do Dêutero-

Isaías como se dá no Primeiro-Isaías no texto de 6,1-13.107 Claus Westermann diz

que os v.3.4.9 e os que antecedem e os que complementam esta perícope são

termos típicos de uma vocação profética. Nestes versos, ocorrem como em outras

secções, imperativos e exclamativos referindo-se ao retorno do exílio babilônico.

O texto de Is 40.1-11 pode ser dividido em quatro secções:

a - v.1-2 chama-se de prólogo

b - v.3-5 são as exclamações para o retorno do exílio

c - v.6-8 a vocação pela exclamação

d - v.9-11 a exclamação por Sião e por Jerusalém, as cidades de Judá.

Existem repetições enfáticas no v.1 como: “consolai”, semelhantes

ao termo: “desperta” de Is 51,9. Temos igual a repetição destes mesmos termos

em 51,17. Outra repetição é o triplo hinnein “eis que” em Is 40,9-11 que aparece

outras vezes.

Numa análise estrutural teríamos o seguinte esquema em forma do

conjunto:

a - v.1-2 prólogo

b - v.3-5 retorno pelo deserto

b’ - v.6-8 chamado pela exclamação (grito)

a’ - v.9-11 exclamação por Sião e Jerusalém.

O prólogo de 40.1-2 rompe por completo com o Primeiro Isaías.

Começa desta forma uma nova fase, um novo assunto, uma nova linguagem, uma

nova situação histórica. Podemos destacar no v.1a linguagem de reforço

encontrada também em outras passagens já assinaladas. O “consolai, consolai” é

107 WESTERMANN, Claus. Op. cit., p.33.

82

Page 83: o Novo Exodo

um termo ligado à misericórdia e à libertação do “meu povo” é encontrado no v.1b

como linguagem de reforço e ênfase. No v.2 deve-se destacar essencialmente o

termo “Jerusalém” que é o local exato para onde irão os exilados libertos de

retorno. Esta cidade e Sião referem-se ainda 1a construção da ideologia davídica.

O v.2c mostra que a iniqüidade do povo foi expiada. Que foi pago em dobro os

pecados que são encontrados no v.2d. Javé condena o povo ao exílio pelos

pecados cometidos.

Nos v.3-5 encontramos a narrativa do retorno dos exilados pelo

deserto. José Severino Croatto108 denomina esta secção de “o motivo do

caminho”. O v.3 designa o deserto como caminho. A distância referente ao trecho

em linha reta da Babilônia até Jerusalém está cheia de percalços e de acidentes

geográficos. O autor do Dêutero-Isaías sabia muito bem de todos estes fatores.

Assim sendo mostra que as colinas deveriam ser rebaixadas e transformadas em

planícies como a no v.4b, o vale deveria ser aterrado no v.4a, a direção para a

terra prometida cheia de curvas deveria ser endireitada no v.4c, e os lugares com

depressões deveriam ser aterrados no v.4d. Tudo isto se refere ao que deveria ser

chamado de “caminho de Javé”.

No v.5 há a manifestação da glória de Javé, que poderia ser

traduzida neste caso por poder (Qebod). No deserto será manifestada esta glória

ou poder (v.5a). Todos os seres contemplarão esta glória e com ela todas as suas

maravilhas do v.5b, pois a boca do Senhor está dizendo destas maravilhas (v.5c).

José Severino Croatto mostra que os v.6-8 fazem parte da

“linguagem sapiencial de comparação” 109. Encontramos a comparação do uso do

vegetal e da carne como figura de linguagem. Compara-se o homem (carne) como

uma coisa passageira e pequena (a erva - um vegetal). Este é um paradigma para

108 CROATTO, José Severino. Isaías 40-55. Buenos Aires, La Aurora, 1994. (uso o original em espanhol, mas está sendo traduzido pela Editora Vozes), p.13-17.109 CROATTO, José Severino. Op. cit., p.39.

83

Page 84: o Novo Exodo

designar a eternidade de Deus em contraste com a vida humana que é passageira

(v.6,7a,b.8).

O v. 7c é um acréscimo posterior (“na verdade o povo é erva”). A

expressão “nosso e vosso Deus” aparecem em cada uma das três secções: v.1-2;

v.3-5; v.6-8. Parece conectar uma parte com a outra. Pode também designar a

diferenciação entre o Deus de Israel e os deuses estrangeiros da Babilônia.

Clamor por Sião e as cidades de Judá (v.9-10) é a última parte da

secção do texto e designa a situação do mensageiro para mostrar o Deus de Sião,

em seu poder e domínio (v.10). No v.11 existe uma figura do pastor que é muito

comum em outros profetas (exemplo em Jr 23, 3; Ez 34,1). A expressão de “a voz

alta” também aparece na primeira parte. Parece uma figura de retórica; enfatiza-se

com as repetições Is 40,1-11 é uma poesia.

5.1.1.3 O MOTIVO DO ÊXODO

Os v.1-2 nos dão a idéia de Jerusalém como se fosse a esposa de

Javé. Isto ocorre outras vezes no próprio texto do Dêutero-Isaías, como em: o que

mais nos chama atenção nesta secção é a expressão “milícia” do v.2b. Neste

período, os cativos (neste caso os exilados) eram usados em alguns períodos

pelos conquistadores como soldados, combatentes ou até mesmo no trabalho

compulsório.110

A expressão: “consolai, consolai”, significa que está terminando o

exílio, a escravidão no sentido restrito e que a prática da vassalagem o trabalho

forçado, o serviço militar estará findando.

“O pecado no sentido social e econômico e as “iniqüidades” foram

expiadas em dobro. Todos estão mais do que pagos. A compreensão da divina

110 CARDOSO, Ciro Flamarion. O trabalho compulsório na Antiguidade. São Paulo, Editora Ática, 1984, p.14-18.

84

Page 85: o Novo Exodo

retribuição ainda está presente no Dêutero-Isaías. Apesar do recado, a retribuição

de Javé, o pagamento com o cativeiro, o sofrimento no exílio a libertação será

iminente (56,11,26). A libertação do cativeiro na Babilônia é uma questão de

momentos. Na política estará sobressaindo outra potência, outro reino. Este

império era usado por Javé para a destruição da potência opressora. Esta

potência destruiria a Babilônia dando auxílio e a libertação ao povo de Israel.111

Os v.3-5 são os de maior importância. Na secção anterior é mostrada

a preparação de Jerusalém e dos exilados. Os v.3-5 designam a preparação do

caminho de retorno, de um novo êxodo. Pode-se pensar no retorno do povo

exilado de forma literal e como outros pensam de um retorno espiritual. Como não

aconteceu de fato um retorno em massa. Esta espiritualização cria um novo112

problema, mas também a forma de um retorno histórico que não se deu de forma

integral.

“Nesta passagem o tema é o caminho, que se supõe da

Babilônia à Jerusalém.... O texto está construindo uma vez

mais com imagens literárias que, não obstante, respondem à

realidades experimentais.... Não sei chegar à Jerusalém por

via reta, senão por um caminho alternativo pela via

setentrional, onde existem vales e montanhas, que

necessitam ser aplainadas.... Deus se manifestará como

energia (poder) (termo mais correto para a tradicional

“Gloria”) para traduzir o hebraico 113.

Os judaítas são representados pelo escritor como na linguagem

sapiencial de comparações (vegetais) que ocorrerem outros textos do próprio

profeta (Is 40,6-8) para denotar a fraqueza humana 114.

111 CROATTO, José Severino. Op. cit., p.15.112 Idem, p.15.113 Ibidem, p.15.114 Ibidem, p.16.

85

Page 86: o Novo Exodo

Nestes v.6-8 encontramos um diálogo diferente dos demais

encontrados. Nas secções anteriores temos o indivíduo como mensageiro, nesta

parte é o próprio Javé/Deus o mensageiro. Aqui aparece uma novidade ainda não

encontrada: o intermediário como uma imagem elaborada, a erva e a flor para

representar a vida humana que é efêmera. O v.7 se parece muito com o v.24 do

mesmo capítulo. Ao nível ideológico há uma comparação entre o deus Marduk, o

deus nacional da Babilônia em contraposição com o Deus de Israel. Elohiym. Este

é mais poderoso que o outro deus por fazer a libertação e realizar o caminhar do

povo pelo deserto.

Os v.9-11 mostram uma nova mensagem. Esta mensagem é uma

mensagem profética: “sobe a um alto monte” e “eleva a tua voz”. O v.9 tem uma

linguagem de reforço para a mensagem do v.7 onde está presente o Deus de

Israel. A mensagem é de boas novas 115.

Em toda a perícope de Is 40,1-11 ocorre a cena da libertação e do

retorno do povo colinas e cidades de Judá serão as testemunhas destas façanhas.

O mensageiro vem de um local distante do deserto. O v.3 continua a mensagem

teológica, todos os ouvintes devem escutar o que Deus tem a dizer. No livro do

Êxodo, no primeiro êxodo, Javé libertou o povo do Egito com seu poder e com o

seu braço forte. No v.l0 repete-se a imagem novamente do poder e do braço forte

de Javé. A libertação em Isaías será: “ele vem com poder, e seu braço poderoso

lhe dará todo o domínio”.

O v.l0b mostra que Javé dará o pago, a retribuição aos opressores, o

que difere muito do v.2b, que, por seu turno, refere aos exilados. No v.11,

encontra-se a figura do pastor, o Senhor é o pastor, que livrará o povo e os

apascentará. Para que através do deserto haja alguém capaz de conduzir o povo

e somente Javé pode fazer este trabalho: “com pastor apascentará o seu

rebanho”, “com seu braço forte, reúne o rebanho”, “conduzirá com seus braços” e

115 Ibidem, p. 16.

86

Page 87: o Novo Exodo

“levará com carinho as ovelhas que ainda amamentam”. Isso difere do primeiro

êxodo, pois lá era Moisés que levava e guiava o povo.

O texto analisado da base para interpretações como = o novo êxodo

é uma anámnesis, um paradigma, uma comparação. O novo êxodo aqui repete o

primeiro êxodo como a teologia do caminho. Como no primeiro a passagem e a

marcha pelo deserto.

CONCLUSÃO

O texto anuncia o fim da escravidão na Babilônia e o começo de um

novo êxodo. Os exilados retornarão a Jerusalém e esta cidade deverá anunciar ás

outras cidades de Judá que Deus vem como um pastor que conduz o rebanho

liberto e conduzirá o povo de volta pelo deserto sob a proteção. O exílio findou, a

escravidão terminou, é a mensagem do texto. A idéia do primeiro êxodo está

implícita neste novo êxodo: á saída, o caminho pelo deserto, o retorno e a

chegada a Sião. Tudo isto que ocorreu no primeiro êxodo deve ocorrer no

segundo êxodo. A libertação do primeiro será menos magnífica que o segundo

êxodo.

Como aconteceu no primeiro êxodo, os milagres estão presentes no

segundo: no primeiro a passagem pelo mar (Ex 14,17) neste pelo deserto. O

presente do maná para a alimentação do povo (Ex 16,10) não tem correlato no

segundo; a manifestação de Javé do Sinai é substituída pela manifestação de

Javé no Deserto e em Jerusalém no templo. Assim será o segundo êxodo descrito

pelo caminho no deserto.

5.2 Isaías 43,16-21116

5.2.1TEXTO EM HEBRAICO

116 WESTERMANN, Claus. Isaiah, a commentary. Westminster Press, Philadelphia, 1969, p.126-129.

87

Page 88: o Novo Exodo

נתיבה׃ עזים ובמים דרך בים הנותן יהוה כה אמר

ישכבו בל־יקומו יחדו ועזו וסוס חיל ־ המוציא רכב

דעכו כפשתה כבו׃ אל ־ תזכרו ראשנות וקדמניות אל

־ תתבננו׃ הנני עשה חדשה התה תצמח הלוא תדעוה

אף אשים במדבר דרך בישמון נהרות׃

נתתי ־ כי יענה ובנות תנים השדה חית תכבדני

במדבר מים נהרות בישימן להשקות עמי בחירי׃ עם ־

זו יצרתי לי תהלתי יספרו׃ 5.2.1.1 TRADUÇÃO

v. 16 Assim diz o Senhor, que abriu o caminho no mar e uma senda nas águas

impetuosas;

v. 17 Os que lança os carros e cavalos, o exército com poder, caiam para não se

levantarem, se apagaram como a mecha que se extingue.

v. 18 Não lembrais das coisas passadas, nem penseis nas antigas;

v. 19 Olhai, eis que se fez algo novo, e está brotando; não o reconheceis? Abrirei

um caminho pelo deserto, nos rios secos.

v. 20 Me glorificarão as feras selvagens, chacais e avestruzes, porque oferecerei

água no deserto, rios no ermo, para acabar com a sede do meu povo, de meu

eleito.

v. 21 O povo que eu modelei, para proclamar o meu louvor.

88

Page 89: o Novo Exodo

5.2.1.2 QUESTÕES EXEGÉTICAS

Numa análise estrutural temos a seqüência seguinte:

A. Abrirei um caminho pelo deserto, nos rios secos

B. Glorificar-me-ão as feras selvagens, chacais e as avestruzes

A’ Porque oferecerei água no deserto, rios nos ermos, para acabar

com a sede de meu povo, de meu eleito

B’ O povo que eu modelei, para proclamar o meu louvor.117

O texto poderia ser denominado de “o caminho no deserto”. Esta

secção está relacionada literariamente com 41,17-20 e com 42,14-17, que podem

ser classificados literariamente como “proclamação da salvação”.118 Conforme

Claus Westermann, a estrutura desta proclamação de salvação pode ser dividida

em:

a - lamento

b - proclamação de salvação

c - retorno de Deus

d - intervenção de Deus

e - o fim está próximo.

José Severino Croatto119 faz uma análise desta secção e encontra

nela um quiasmo:

A. v.19 c,d. abrirei um caminho pelo deserto, nos rios secos ...

nos rios secos ...

B. v.20 a,b. me glorificarão as feras selvagens,

chacais e avestruzes ...

A’ v. 20 c, d, e, f. porque oferecerei água no deserto, rios nos ermos,

para acabar com a sede de meu povo, de meu

eleito...

117 CROATTO, José Severino. op. cit., p.55-56.118 WESTERMANN, Claus. op. cit. p.126-129.119 CROATTO, José Severino. op. cit., p.45-58.

89

Page 90: o Novo Exodo

B’ v. 21 a, b. o povo que eu modelei, para proclamar o meu louvor.

O texto oferece uma citação quase literal de Ex 6,6 e também pode

ser encontrado nos salmos. O v.17a segue a descrição em Êxodo. Literalmente o

v.17 é também um Salmo. Parece que se refere a uma confissão de fé. Tem uma

natureza hínica.

Nos v.18-19a mostram-nos que o povo se esqueceu dos

acontecimentos primeiros descritos nos v.16-17, que é o êxodo. Neste aspecto

Javé realizará coisas novas “eis que faço novas coisas”, e mostra ainda que o

novo êxodo corresponda ao primeiro êxodo que vai ressurgir de novo. Existe uma

conexão imediata com o texto de Dt 6 e do Sl 78, que são as memórias do povo

que incitavam a recordar a lei de Israel: recordar, transmitir e proclamar. Porém

facilmente o povo se esquecera dos acontecimentos anteriores. Os atos salvíficos

do primeiro êxodo caíram no esquecimento.

O v.19b é um texto explícito sobre o novo êxodo: “abrirei um caminho

pelo deserto, nos rios secos”. Continua e completa 40,3.

O texto mostra as maravilhas proclamadas para acontecerem no

deserto: “as feras selvagens darão glórias: os chacais e as avestruzes”. O milagre

continua de uma forma ainda maior: “a água no deserto, e os rios nos lugares

ermos”, “para acabar com a sede de meu povo, meu eleito”. Fica assim

demonstrado como estes milagres descritos no primeiro êxodo era destruir para

salvar. No segundo êxodo é criar para salvar.

O v.21 mostra o resultado do novo êxodo. Tudo isto deve ser para a

glória, para proclamar o louvor a Javé. A expressão: “o povo que eu modelei”

refere-se à criação de todas as coisa e à criação do homem à imagem e à sua

semelhança como em Gn 2. O texto dá o resultado de uma nova criação. O novo

êxodo ultrapassa o primeiro êxodo. Com exceção do texto anterior sobre o novo

90

Page 91: o Novo Exodo

êxodo, este texto tem uma nova forma literária, é diferente dos demais. O texto é

uma poesia com início de um discurso de proclamação de salvação.

5.2.1.3 MOTIVO DO ÊXODO

A recordação do primeiro êxodo é para mostrar como será o segundo

êxodo. Este será de fato a promessa de salvação do exílio babilônico. No v.16

existe um tipo de Javé que é o salvador em contraposição ao Javé do v.17 que é o

destruidor dos inimigos do povo de Israel. Como ele destruiu os inimigos no Egito,

ele salva Israel na Babilônia. A promessa de destruição agora é para os

opressores atuais.

No v.18 temos um reforço dos acontecimentos dos v.16-17. A

pergunta é uma questão retórica, talvez para mostrar como o povo havia se

esquecido das maravilhas. Não se estava mais enxergando a realidade que

estava brotando e que aconteceria, a respeito de coisas que estavam muito

visíveis aos seus olhos. O v.19a mostra e também enfatiza tudo isto: “olhai, eis

que faço algo novo e que está brotando, não o percebeis?”.

O v.19b traz a idéia do que vai acontecer “será aberto um caminho

no deserto, e rios secos nos ermos”. Isto é descrito para ficar evidente a

grandiosidade de Deus que faz tanta coisa, a ponto de o povo não se lembrar

destes fatos. Porém, o profeta é aquele que faz o povo rememorar os fatos

através da pregação e do anúncio: “a voz alta sobre o monte”. O Dêutero-Isaías é

o profeta que faz lembrar o povo das maravilhas, dos atos portentosos de Javé.

Ele é o profeta do novo êxodo, é o profeta da salvação.

No v.20a Javé através do profeta, mostra que, se o povo se

esqueceu, não se lembra mais de nada, se o povo não presencia a Qebod

Yahweh, então são convocados os animais do deserto para que mostrem e

anunciem a glória de Javé: “glorificar-me-ão as feras selvagens, os chacais e as

91

Page 92: o Novo Exodo

avestruzes”. No v.20b Javé oferece um milagre que é “colocar a água no deserto,

rios nos ermos, para acabar com a sede de meu povo, de meu eleito”. Isto faz

lembrar as águas amargas do deserto do Sinai que se transformam em água

potável, as águas de Meribá e o milagre de Moisés fazendo jorrar água da rocha

no primeiro êxodo. O Dêutero-Isaías usa a tradição de uma forma muito

interessante para rememoração dos fatos que acontecerão.

CONCLUSÃO

Este texto explicita que o cativeiro acabará: porque a Babilônia será

destruída, o povo eleito se esquecerá do primeiro êxodo, pois está surgindo um

novo êxodo. Haverá uma nova libertação da servidão da Babilônia. O êxodo

descrito em Ex 6,6 serve como base e modelo da tradição da fé de Israel para a

construção da teologia do Dêutero-Isaías. Interessante é a transformação do

deserto: irrigação, aplainar, endireitar, aterrar são as figuras mais fortes. Tudo isto

será feito para a passagem do povo pelo deserto.

O texto mostra ainda que se deva esquecer todos os acontecimentos

antigos e prestar a atenção nas novas coisas que estão para se realizarem. O

novo êxodo a nova criação nas novas coisas que estão para se realizarem. O

novo êxodo é uma nova criação.

O hino designa os acontecimentos salvíficos do êxodo. O texto que

ocorre em 40,22 e também nos Sl 104,2; 136,5 referem-se e alude ao êxodo

antigo como presente. Aqui os 16-17 expressam o êxodo, a salvação de Israel por

Javé “que abre bem caminho nas águas (antigo) e no deserto (novo). A linguagem

de reforço é “não vos lembreis das coisas antigas”, mas, a libertação do exílio vem

expressar em símbolos que retomam a tradição do êxodo e do deserto. O êxodo é

um acontecimento arquetípico de novos acontecimentos. O êxodo aqui ensina a

olhar para o futuro manifestado no presente e pela esperança.120

120 CROATTO, José Severino. op. cit., p.58.

92

Page 93: o Novo Exodo

O novo êxodo representa como lembrança a travessia, a luta contra

os inimigos. Ele pede ao exilado não ficar pensando nas coisas passadas e

prestar atenção na salvação futura.

5.3 Isaías 49,7-12121

5.3.1 O TEXTO EM HEBRAICO

כה אמר־יהו גאל ישראל קדושו לבזה ־ נפש למתעב

גוי לעבד משלים מלכים וקמו שרים וישתחוו למען

יהוה אשר נאמן קדש ישראל ויבחרך׃ כה אמר יהוה

בעת רצון עניתיך וביום ישועה עזרתיך ואצרך ואתנך

שממות׃ נחלות להנחיל ארץ להקים עם לברית

לאמר לאסורים צאו לאשר בחשך גלו על־דרכים ירעו

יכם שרב ־ ולא ירעבו ־ שפיים מרעיתם׃ לא ובכל

ינהגם ועל ־ מבעי מים ינהלם׃ ושמש כי ־ מרחמם

ושמתי כל ־ הרי לדרך ומסלתי ירמון׃ הנה ־ אלה

121 Sigo os comentários de Claus Westermann. Isaiah a commentary. Philadelphia Westminster Press, 1969, p.212-216; CROATTO, José Severino. Isaías 40-55. 1994 (uso o original e está sendo traduzido pela Editora Vozes), p.120-129; SCHOECKEL, Luiz Alonso. Os profetas - v-2, Edições Paulinas, São Paulo, 199p.

93

Page 94: o Novo Exodo

מרחוק יבאו והנה ־ אלה מצפון ומים ואלה מארץ

סינים׃

5.3.1.1 TRADUÇÃO

v.7 Assim diz o Senhor: redentor e Santo de Israel, ao desprezado, ao abominado

das nações, ao escravo dos opressores: Te verão os reis e se levantarão,

príncipes se prostrarão, por que o Senhor é fiel, porque o Santo de Israel te

elegeu.

v.8 Assim diz o Senhor: no tempo da graça te ouvi, no dia da salvação te socorri,

guardar-te-ei e te constituirei aliança do povo; para restaurares a terra, para

repartires as heranças assoladas.

v.9 Para dizeres aos cativos: Saí, aos que estão em trevas: “Vinde à luz”; ainda

pelos caminhos pastarão; terão pastos nos prados desnudos(desertos);

v.10 Não passarão fome nem sede, não lhes fará dano o sol nem a clamaria,

porque o que deles se compadece os guiará, os conduzirá aos mananciais das

águas.

v.11 Transformei todos os meus montes em caminhos e as minhas veredas serão

levantadas.

v.12 Eis que estes virão de longe, e eis que aqueles que do norte e do ocidente e

aqueles outros da terra de Sinim.

5.3.1.2 QUESTÕES EXEGÉTICAS

A análise de Klaus Kiesow difere da de José Severino Croatto e de

Luiz Alonso Schoekel, porém é semelhante a de Claus Westermann. Klaus Kiesow

e Claus Westermann mostram que devido às semelhanças de 42,5-9 e 42,1-4, os

textos compõem à mesma perícope de 49,7-12. Estes textos dão ênfase retórica

da proclamação da salvação. Em Is 49,7-12 contém várias adições posteriores.

94

Page 95: o Novo Exodo

Tem relatos de transposição e de omissões em sua formação122. O v.8 é uma

adição posterior que foi inserida posteriormente no texto.

Claus Westermann propõe uma estrutura narrativa deste texto da

seguinte maneira:

v.7a possui uma introdução com uma indicação de um lamento comunitário

v.8a é uma proclamação da intervenção divina

v.8c-12 é uma proclamação da intervenção divina

v.7c é o objeto de admiração reconhecida pelos reis e pelos príncipes

Claus Westermann afirma que o v.7b foi uma passagem escolhida. O

redentor e o Santo de Israel são dois títulos para o Deus de Israel. O texto ainda

explicita um povo oprimido (servo de governadores) e o desprezo das nações.

O editor final de Is 49,1-6 aplicou a concepção de servo como um

atributo da desgraça. A partir de Is 49,7-12 endereça uma proclamação de

salvação.

O v.8 mostra em suas primeiras palavras endereçadas ao opressor e

ao desprezado das nações que existe uma promessa de salvação para o povo

escolhido. Este verso começa com um louvor a Deus, respondendo ao lamento

das nações. Começa desta forma, neste verso, a intervenção de Deus para a

libertação do povo, o estabelecimento na terra com o v.8c. Fala da liberdade dos

cativos no v.9. O v.11.12 dependem do v.8a.

Na seqüência os v.9b-10b trazem a proclamação de salvação, dando

uma descrição de como será a jornada de retorno à pátria. Usam também a figura

122 “Again, editors are almost unanimous that Is 49,7-12 contain additions and that we have to take account of transplantations, and also omissions.” “De novo, os editores são sempre unânimes que Is 49,7-12 contém adições e que temos tomado relatos com transposições e também omissões.” WESTERMANN, Claus, op. cit., p.213.

95

Page 96: o Novo Exodo

de um pastor que conduzirá o rebanho com cuidado, como ocorreu no texto

anterior de Is 40,11.

O fundamento do êxodo está relacionado com “o início da história da

nação, repete suas imagens de forma menos explícita como em Is 40.1-11”, afirma

categoricamente Claus Westermann. Os relatos dos atos miraculosos de Deus

são como alimento e a bebida, o guia pelo caminho no deserto. Claus

Westermann mostra que o v.11 é uma seqüência dos v.9a, b e do v.10, posterior,

ele descreve a jornada de volta à pátria.

Paul Volz e Christopher North123 estão corretos em afirmar que este

v.12 dá a visão de “Deus como motivo” central em reunir os desprezados. Deveria

vir após o v.18 do mesmo capítulo, nesta própria secção. A questão do nome

próprio do país denominado de Sewnin ou Sinin pode ser lido como Syone

(Assuã) no sul do Egito (Ez 29,10; 30,6). Este local foi conhecido através de

papiros descobertos em Elefantina no próprio Egito.

O v.7b mostra o objeto da ação presente de Deus, que tem agido por

Israel e sobre os povos. Pasmados e admirados os reis e príncipes serão as

testemunhas de Javé para as nações e para os exilados em relação aos

acontecimentos que viriam e que o povo não está enxergando. Este êxodo

também é uma poesia.

5.3.1.3 O MOTIVO DO ÊXODO

O termo goel “redimir” do v.7 é de importância. O redentor era aquele

que pagava o preço estipulado por lei a um escravo ser libertado, ou por dívida de

um parente próximo a ser pago, ou mesmo alguém da família a ser resgatado de

uma dívida ou da escravidão. Aqui Javé é o redentor e está pagando, redimindo o

escravo Israel da dívida da escravidão babilônica, como foi feito também no Egito.

123 op. cit., in: MUILENBURG, James. op. cit., p.390-394.

96

Page 97: o Novo Exodo

O v.7 menciona ainda “o desprezado, o abominado das nações e o escravo dos

oprimidos”. Isto vem corroborar tudo o que foi dito anteriormente. Esta libertação

redentora seria em breve, pois o vento no perfeito indica um acontecimento não

distante no futuro.

A libertação de fato deveria ocorrer e seria visto e testemunhado por

reis e por príncipes. Estes presenciariam a fidelidade de Javé. Claro está que há

referência ao motivo do novo êxodo à semelhança do primeiro êxodo do Egito. A

dimensão deste texto que está ligada à façanha do profeta em demonstrar que

Israel transmitiria aos povos, sendo visto por outras nações. Javé seria conhecido

e contemplado por todos por intermédio da libertação do povo da escravidão

babilônica.

O v.8 diz que: “e te constitui aliança do povo”. Isto reforça a idéia

anterior. Na realidade tudo isto está ligado ao fato de que o texto é um hino de

louvor, mas que seu final mostra a reconstrução da pátria: “para restaurares a

terra” e também “para repartires a herança desolada”. A menção está ligada à

distribuição da terra em herança às doze tribos em Josué. Tanto Jerusalém como

as outras partes por onde Nabucodonosor passou ficou desolada. Este deveria

pagar o preço desta redenção para reconstruir e redividir novamente a pátria. Fica

evidente que a idéia de retorno está implícita. O v. 9a aponta para os cativos, os

escravos, sendo-lhes dada a libertação. Terão numa figura pastoril, retorno e a

alimentação pelo caminho de volta à terra prometida. O v.10 complementa tudo

isto. Não passarão nem fome nem sede.

O fato do novo êxodo é o reflexo do primeiro: o maná no deserto foi a

alimentação para não passarem fome, a água na rocha jorrando para não

passarem sede. Assim será no segundo êxodo no retorno da Babilônia. Neste

verão evidencia-se ainda a teologia do caminho e do retorno como no primeiro

êxodo. Isto também ocorre nos textos de Is 40,3; 43,16; 49,11. Todos estes versos

discorrem acerca do motivo do caminho, onde será a passagem construída por

97

Page 98: o Novo Exodo

Javé, para Ele e seu povo caminharem até chegarem em Sião. No primeiro êxodo,

Javé caminha com o povo através do deserto, sendo este guiado pela nuvem, pelo

fogo, e por outros fenômenos da natureza. Neste êxodo as coisas maravilhosas

são mais fenomenais: o aplainar as montanhas, os montes e as colinas, endireitar

o caminho tortuoso, aterrar os vales. Estas figuras são fortes, pois são impossíveis

de se realizarem naquela época no deserto.

Finalizando, o v.12 nos mostra que haverá um retorno em massa

para a terra prometida: virão de longe, do norte e do ocidente, da terra de Sinin

(Egito). Será uma caminhada muito longa. Deveria ter uma estrada especial que

confluenciasse com Jerusalém. Portanto, na história nada disto ocorreu. Tudo isto

é repetido da temática retirada do primeiro êxodo, que vai ocorrendo em cada

texto proposto na análise do êxodo no Dêutero-Isaías. Esta repetição nos versos é

um reforço retórico na teologia do motivo do novo êxodo.

CONCLUSÃO

Neste texto ficou evidente que os judaítas, apesar de serem

desprezados pelas nações, serão contemplados com grande espanto por todos os

reis e os príncipes da terra pela salvação. Pois o Senhor reverterá a sua sorte e

tirará o povo da escravidão da Babilônia para a liberdade em Sião. Se houver

dentre o povo alguém que esteja desanimado, Deus promete salvá-lo. Ainda que

sua pátria esteja devastada será reconstruída e repovoada. A idéia da

transformação do deserto é para que o povo retorne à pátria. O segundo êxodo se

evidencia a partir do v.9 “saí” e nos v.11-12 quando se transmitem as

transformações que ocorrerão no deserto. Os montes se transformarão em

caminhos planos. Os que retornarão: “eis que virão de longe... do norte... do

ocidente... e da terra de Sinin...”.

98

Page 99: o Novo Exodo

A libertação está próxima e a chegada a Sião será breve. Duas

expressões claras referentes aos escravos e opressores v.7, no dia da salvação te

socorri. Javé irá guardar e constituir aliança com o povo para restaurar a terra,

repartir as heranças assoladas. Javé diz aos cativos: “saí e ele remirá todos no

caminho atravessando o deserto em direção à Jerusalém”. A perícope elabora a

lembrança da transformação do deserto e como Javé guiou o povo, guiará agora

no deserto em retorno à Sião.

5.4 Isaías 51,9-14124

5.4.1 O TEXTO EM HEBRAICO

עורי עורי לבשי ־ עז זרוע יהוה עורי כימי קדש דרות

עולמים הלוא את ־ היא המחצבת רהב מחוללת תנין׃

הלוא את ־ היא המחרבת ים מי תהום רבה השמה

ישובון יהוה ופדויי גאולים׃ ים דרך לעבר ־ מעמקי

ששון ראשם ־ על עולם ושמחת ברנה ציון ובאו

ושמחה ישיגון נסו יגון ואנחה׃ אנכי אנכי הוא מנחמכם

מי ־ את ותיראי מאנוש ימות ומבן ־ אדם חציר ינתן׃

ותשכח יהוה עשך נוטה שמים ויסד ארץ ותפחד תמיד

כונן להשחית היום מפני חמת המציק כאשר ־ כל

תאית חמת המציק׃ מהר צעה המציק כאשר כונן

124KIESOW, Klaus. op. cit., p.6-27; ver também Claus Westermann, op. cit., p.238-247.

99

Page 100: o Novo Exodo

להשחית ואיה המת המציק׃ מהר צעה להפתח ולא ־

ימות לשחת ולא יחסר לחמו׃

5.4.1.1 TRADUÇÃO

v.9 Desperta, desperta. Arma-te de força, braço do Senhor: desperta como nos

dias passados, como nas gerações antigas; não és tu aquele que abateu o Egito,

e feriu o monstro marinho?

v.10 Não és tu aquele que secou o mar, as águas do grande abismo? O que fez

no fundo do mar um caminho, para que passassem os remidos?

v.11 Assim voltarão os remidos do Senhor, e virão a Sião com júbilo, perpétua

alegria lhes coroará as cabeças; o regozijo e alegra os alcançarão, e deles fugirão

a dor e o gemido.

v.14 O exilado cativo depressa será libertado, lá não morrerá nem descerá à

sepultura, o seu pão não lhe faltará.

5.4.1.2 QUESTÕES EXEGÉTICAS

Esta perícope talvez seja dentre as analisadas a que mais se refere a

tradições do Antigo Testamento e do primeiro êxodo. Autores como Klaus Kiesow

propõe que o texto contenha apenas o que ocorre tradicionalmente em 51,9-14.

Por seu turno Claus Westermann faz divisões deste texto como sendo Is 51,3

como um fragmento de um hino de louvor. As secções subseqüentes de 51,9-52,3

faz parte de uma perícope maior. Os textos propostos acima estão inseridos nesta

perícope global.

100

Page 101: o Novo Exodo

Klaus Kiesow125 mostra esta secção como sendo uma unidade. Esta

unidade de Is 51,9-14 é dividida nas secções: v.9-11 e 12-14. Repete-se nesta

perícope a mesma mensagem do: “desperta”, “desperta”, “desperta”.

Os textos mais explícitos sobre o motivo do êxodo são: v.9-11 e o

v.14 que se referem a este motivo. Os textos repetem a mesma idéia do tema do

primeiro e do segundo êxodos. Como podemos notar, o Sl 74.12-15 se assemelha

ao texto de Isaías. Estes dois textos tratam de antigas tradições mitológicas como:

das origens do mar, da força e do braço do Senhor.

Na parte de v.9b-10 se percebe uma linguagem mitológica através de

um hino, que talvez tenha sido uma forma de polêmica contra a religião babilônica,

contra os deuses estrangeiros. Esta é uma recordação da passagem através do

mar dos caniços.

O v.11 deve estar fora de seu local verdadeiro e, assim sendo, é um

acréscimo posterior, uma citação de 35,10. O que mais chama a atenção no v.9a

é o fato de pedir que se “arme de força” e que o “braço do Senhor” tenha o poder

e a força. Estes termos designam que a libertação deve estar próxima e será

utilizada a força, o poder de Javé para esta libertação. Lembram as guerras de

Javé em outras passagens do Antigo Testamento, como em Is 6; 7; 8; 11; 12. Há

rememoração dos antigos fatos do primeiro êxodo: “desperta como nos dias

antigos” ou “como nas gerações passadas”. Os textos demonstram que o Senhor

“destruiu o Egito e feriu o monstro marinho”. Aparece a idéia teológica no fato de

ferir o “monstro marinho”. Temos a idéia da mitologia babilônica: o conforto do

Deus de Israel com os deuses da Babilônia configura este texto.

O v.10 repete o antigo êxodo “secar o mar” para que o povo pudesse

passar a pé. “O que dez um caminho no fundo do mar para que os remidos

pudessem atravessar”, repete a idéia de Ex 14,15-25, especialmente os v.21-22.

125 KIESOW, Klaus. op. cit., p.6-27.

101

Page 102: o Novo Exodo

O v.11 é um texto fora do seu contexto, fora do local adequado.

Reflete um cântico de vitória. É uma ideologia de Sião como que representasse o

cântico de vitória de Mirian ou Débora.

O v.14 quando menciona “o exilado cativo depressa será libertado”,

evidencia a pressa da salvação-libertação do povo, imagem repetida do êxodo de

sair depressa do Egito comendo ervas amargas e pães asmos. Este v.4 está

ligado ao fim do cativeiro babilônico. Fala do início da luta de Ciro, o persa, contra

o império Babilônico. O profeta reflete historicamente os fatos referidos

anteriormente.

5.4.1.3 O MOTIVO DO ÊXODO

Nesta seção de Is 51,9-14126, o motivo do êxodo inicia na própria

perícope. O v.1 refere-se a esta idéia: ouvi-me vós aquele que procura a justiça e

a Javé. Nesta perspectiva o v.9 encontra a lembrança “das gerações antigas”

referindo-se ao êxodo do Egito: “não és tu aquele que abateu o Egito e feriu o

monstro marinho?” O v.10 refere-se de novo ao êxodo primeiro: “o que secou o

mar, as águas do grande abismo? Aquele que fez o caminho no fundo mar para

que passassem os remidos?” A última palavra deste verso fala dos “remidos”.

Quem são estes? Os escravos resgatados, comprados. No sentido do êxodo são

os salvos ou libertos da escravidão dos opressores estrangeiros. O que faz este

verso e o v.11 é realmente mostrar o cântico da lembrança dos “resgatados de

Javé que retornarão à Sião” cantando, com alegria e júbilo.

O v.13 mostra que Javé destruirá o tirano e no v.14 está o ápice da

libertação: “o exilado cativo depressa será libertado”. A idéia do v.13 é que os

exilados não permanecerão no exílio: “lá não morrerá, lá não descerá à

sepultura...”.

126 CROATTO, José Severino. op. cit., p.145-155.

102

Page 103: o Novo Exodo

Nesta secção fica evidente a idéia de paradigma e a anámnesis que

será através do júbilo, da alegria e da lembrança do mar, da água, do deserto.

Porém a idéia mais forte é a lembrança de que o exilado será depressa libertado

(v.14).

CONCLUSÃO

O êxodo neste trecho descreve a mera recordação do primeiro êxodo

do Egito. Mostra que o Deus que abateu os egípcios tem o poder para abater os

babilônicos e para salvar os judaítas. Como feriu o mostro marinho, que secou o

mar, as águas do grande abismo e que fez passar os remidos pelo fundo domar,

também trará os resgatados da Babilônia a Sião. Eles virão alegres e cantando.

Este é um hino de louvor à libertação da Babilônia.

Necessário se torna, então, a preparação para o novo êxodo. O

caminho deve ser preparado para o retorno, para a vinda do Servo Sofredor.

Como os remidos passaram pelo mar a seco, pelo fundo do mar, poderão passar

pelo deserto seco transformado em rios, água, as colinas rebaixadas, os vales

aterrados, os caminhos tortuosos endireitados, as aves, e os animais do campo

glorificando, cantando ao Senhor Javé.

5.5 Isaías 52,7-12127

5.5.1 O TEXTO EM HEBRAICO

127 SCHOECKEL, Luiz Alonso. Profetas. Ediciones Cristiandad, v-2, Madrid, 1980, p.93-398 (sobre o Dêutero-Isaías existe uma tradução portuguesa pela Edições Paulinas, 1989).

103

Page 104: o Novo Exodo

מה ־ נאוו על ־ ההרים רגלי מבשר משמיע שלום

מבשר טוב משמיע ישועה אמר מלך אלהיך׃ קול יחדו

ירנו כי עין בעין יראו בשוב יהוה ציון׃ פצחו רננו יחדו

חרבת ירושלם כי ־ נחם יהוה עמו גאל ירושלם׃ חשף

־ זרוע קדשו לעיני כל ־ הגים וראו כל ־ יהוה את

אפסי ־ ארץ את ישועת אלהיו׃ סורו סורו צאו משם

טמא אל ־ תגעו צאו מתוכה הברו נשאי כלי יהוה׃ כי

לא בחפזון תצאו ובמנוסה לא תלכון כי ־ הלך לפניכם

יהוה מאספכם אלהי ישראל

5.5.1.1 TRADUÇÃO

v.7 Que formosos são os pés sobre os montes daqueles que anunciam as boas

novas, que faz ouvir a paz, que anuncia coisas boas, que faz ouvir a salvação, que

diz a Sião: o teu Deus reina!

v.8 Eis o gritos dos teus atalaias! Eles erguem a voz juntamente exultam; porque

com seus próprios olhos distintamente vêem o retorno a Sião.

v.9 Rompei em júbilo, exultais a uma só voz, ò ruínas de Jerusalém, porque o

Senhor consolou o seu povo, e remiu a Jerusalém.

v.10 O Senhor desnudou o seu santo braço à vista de todas as nações; e todos os

confins da terra verão a salvação do nosso Deus.

v.11 Retirai-vos, retirai-vos, saí de lá, não toqueis cousas imundas; saí do meio

dela, purificai-vos, os que levais os utensílios do Senhor.128

128 o v.11 fala do ritual da purificação. Mostra o seu conhecimento do escritor sacerdotal.

104

Page 105: o Novo Exodo

v.12 Porquanto não saireis apressadamente, nem ireis fugindo; porque o Senhor

irá adiante de vós, e o Deus de Israel será a vossa retaguarda.

5.5.1.2 QUESTÕES EXEGÉTICAS

Claus Westermann129 divide esta secção em duas partes com os

títulos. Seu Deus é rei Is 52,7-10 e o “retirai-vos” de forma (dupla) está presente

em Is 52,11-12. Estas duas secções fazem parte de um longo poema composto

(51, 9-52,3) que tem por intenção mostrar o fim da lamentação de Israel. O texto

posterior é um hino de exultação à esta resposta ao lamento. O v.9 é um hino que

se assemelha a outros hinos, como Is 42, 10-13; 44, 23; 45, 8, 48, 20; 49,13, 51,

3. Porém o texto é uma conclusão desta secção. Tendo a mesma estrutura e os

mesmos vocábulos. No texto está o clamor transformado em regozijo.

Nesta parte, o Dêutero-Isaías é realmente um grande poeta;

conforme o tratamento dado por vários autores ao texto: Luiz Alonso Schoekel130,

José Severino Croatto131 fazem este tratamento. Foi mostrado que na secção de

40,9-14. Deus é o pastor de Israel. Existe aqui uma guinada muito grande: Deus é

o rei de Israel. Há uma transposição de pastor para rei. Esta mudança de direção

do pastor para o duro rei é de suma importância: no v.8 o rei vem liderando uma

procissão triunfal a esta cidade.

No v.10a o rei vem sobre os seus inimigos com a vitória. No v.7 ele

vai subir ao trono com júbilo conforme faziam os reis em sua entronização.

Conforme Sigmund Mowinckel132, o texto seria uma espécie de

festival de entronização do rei. Este festival era conhecido tanto em Israel como

pelos vizinhos e em todo Antigo Oriente Próximo. Para o próprio Sigmund

129WESTERMANN, Claus. op. cit., p.249-253.130 SCHOECKEL, Luiz Alonso. op. cit.131 CROATTO, José Severino. op. cit., p.90.132 MOWINCKEL, Sigmund. The Psalms in Israel Worship. Basil Blackwell, Oxford, 1982, p.106-139.

105

Page 106: o Novo Exodo

Mowinckel este texto seria um hino da ideologia real, e que tem paralelos no

antigo Israel. Por isso existe um esquema especial para entender o texto:

A. A exaltação do rei forma o fundamento dos v.7-l2 e é assimilado

como se fosse a mensagem de salvação.

B. Estes versos descrevem não um ato de culto mas um ato de Deus

na história em que Ele libertou Israel e reservou o seu destino. A ascensão ao

reinado de Deus no v.7b está bem junto com a sua compaixão no v.9. No Dêutero-

Isaías e nos Salmos estas narrativas mostram que o poder soberano de Deus

sempre vem com sua divindade.

Na realidade, o v.7 tem uma citação semelhante em Dt 1,10, onde o

verbo na’ah pode significar tanto “ser formoso” como que no tempo qual tem o

sentido de “adornar”. A expressão designa a formosura dos pés do mensageiro.

Para o povo de o exílio ouvir a mensagem do Dêutero-Isaías deve ser algo

especial.

Esta é a linguagem demonstrada pelo profeta Dêutero-Isaías para designar a sua

mensagem: as boas novas do mensageiro.

O v.8 mostra o mensageiro propriamente dito. O mensageiro que

anuncia em voz alta. A mensagem do retorno de Javé e a visão do mesmo são

centrais nestes versos para a compreensão da mensagem.

Os v.9-10 designam as boas novas dos mensageiros. Notamos que

isto vem corroborar com o estilo típico do profeta isaiano.

A força de Javé neste texto mostra que os remanescentes no exílio e

na diáspora babilônica estavam sofrendo, mas que deveriam agora irromper em

júbilo e exultação com cânticos, porque até os confins da terra verão a salvação e

a glória de Deus.

106

Page 107: o Novo Exodo

No v.10 existe uma metáfora do “braço de Deus” que vem da

linguagem própria deste profeta. Mostra esta metáfora que o poder e a força vêm

de Javé para salvar. Pode ser entendido literalmente também como no primeiro

êxodo: a força é mesmo militar.

Os v.11-12 mostram outras características da mensagem do profeta

isaiano. Falam da salvação e da libertação do povo. Uma coisa nova surge nesta

mensagem e nesta teologia do profeta. Encontra-se aqui inserida uma linguagem

sacerdotal levítica das coisas imundas, impuras, das leis da purificação. O povo

em seu trono se deverá purificar. O mais importante destes versículos refere-se ao

primeiro êxodo. No outro êxodo se deveriam comer as ervas amargas e sair de

pressa, neste novo êxodo pelo contrário, não há motivo para sair depressa, nem

fugir como foi feito anteriormente. Deus irá adiante guiando e na retaguarda

protegendo, cuidando para que nada aconteça ao povo.

O texto ainda tem um interesse especial nas práticas cultuais. Isto

aconteceu no período dos profetas Ezequiel e de Jeremias. No Dêutero-Isaías não

foi visto em texto anterior. Este texto fala da santidade de Javé, das impurezas dos

deuses e das práticas cúlticas a deuses estranhos. Talvez o texto refere-se aos

vasos de purificação ou a outros utensílios usados nos atos de culto, como

podemos notar nos seguintes textos: 2 Cr 36,7-10; Ex 12,11; 13,21; Dt 1,30-33;

16,3. Os textos de Isaías referem-se ao primeiro êxodo. Isto fica evidente que

neste texto analisado fala sobre o novo êxodo.

Os exilados devem sair devagar, em paz e segurança sob a liderança

e a proteção de Deus. Ao contrário, no antigo êxodo saíram depressa e em

guerra. Luiz Alonso Schoekel analisando este texto mostra que deveria fazer parte

de uma procissão litúrgica. Conforme este autor, o verbo “sair” é o verbo do êxodo

e também do novo êxodo. José Severino Croatto133 subdivide esta secção como

133SCHOECKEL, Luiz Alonso. op. cit., p.326-328.

107

Page 108: o Novo Exodo

uma unidade maior. As subdivisões podem ser equacionadas da seguinte maneira

v.1-12; v.3-6; v.7-l2, este sendo o centro.134 Claus Westermann vê neles o motivo

central deste texto e deve ser o novo êxodo.135

Esta secção difere de todas as anteriores. Temos repetições em

abundância pela descrição de fatores teológicos e retóricos. No v.7 evidencia-se a

expressão “teu Deus reina”. Nesta parte do verso, temos a ambientação da

proclamação da mensagem profética. No v.7 os mensageiros sobem em um

monte alto ou numa colina, levanta-se a sua voz, e grita ou proclamam a

mensagem. O texto ainda fala dos pés e não da voz do mensageiro que transmite

a paz e as boas novas de salvação.

O v.8 segue a idéia do anterior. Ele mostra o clamor das atalaias que

gritavam e louvavam porque anteviram o retorno a Sião com o Senhor. Este verso

é uma seqüência do v.7. O v.9 é onde se mostra o júbilo e a exultação de um coro

muito engraçado, “as ruínas, os montões de pedras de Jerusalém dando louvor.” A

cidade Jerusalém, os seus muros, o templo, foram colocados abaixo e sob ruína

na devastação da invasão babilônica. Porém Javé convoca um coro de pedra para

entoar louvor, porque ele quer “consolar o seu povo e o reuni-lo em torno de si em

Jerusalém”. O termo “consolar” aparece constantemente no texto isaiano em 40,1.

O termo “remir” designa o pagamento da dívida ou uma quantia estipulada para a

libertação da escravidão e aparece neste texto outra vez.

O v.10 tem uma figura interessante sobre o desnudar o seu “santo

braço à vista de todas as nações”, referindo-se a Javé. Deus parece alguém que

numa briga arregaça as mangas da camisa para poder brigar melhor. Pode

significar também a demonstração do poderio de uma nação. Pode ser também

que isso relembra idéia do primeiro êxodo, onde Moisés era o instrumento

intermediário de Javé que lutava com os egípcios e o poder militar de Faraó.

Neste êxodo, Javé é quem brigará por Israel. Este verso ainda mostra a figura da

134 KIESOW, Klaus. op. cit., p.160-166.135 WESTERMANN, Claus. op. cit., p.249-252.

108

Page 109: o Novo Exodo

intervenção divina sobre os fatos políticos. Javé julgava as nações opressoras que

oprimem o povo escolhido.

Na complementação deste verso é mostrado que todas as nações e

todos os confins da terra verão a salvação de Javé. Os v.11-12 fazem parte de

uma unidade literária e por assim dizer de uma unidade teológica. Começa com a

influência da literatura delas principalmente da lei da purificação elaborada na

secção do “Código de Santidade” em Lv 14-27. Este “não tocar coisa imunda”, “saí

do meio dela”, significa que estão no meio da impureza, de uma nação impura.

Isso tornava necessário fazer o rito da purificação, pois todos estão contaminados.

Aqueles que carregam os utensílios do templo do Senhor, os sacerdotes, devem

dar o exemplo da pureza.

O v.12 repete o livro do Êxodo. Ao contrário do primeiro êxodo aqui

não há necessidade de escapar depressa como foi no Egito, fugir do exército para

não morrer. Neste novo êxodo se podia sair tranqüilamente e em paz. Pois Deus

iria guiando o povo. Como aconteceu no primeiro êxodo, no novo êxodo o Senhor

irá à dianteira e na retaguarda amparando e protegendo o povo eleito.

5.5.1.3 MOTIVO DO ÊXODO

Na secção o motivo do êxodo é anunciado pelos mensageiros e as

atalaias. Estes mensageiros anunciam em voz alta “o retorno à Sião”. Este

anúncio é feito com exultação. Todos os povos e os exilados serão com os

próprios olhos o regresso do Senhor à Sião. Por enquanto o texto fala somente do

retorno de Javé e não do povo.

O v.7 anuncia as boas novas, a paz e a salvação. O v.8 designa o

retorno de Javé. O v.9 pede que todos exultem em júbilo, inclusive as ruínas de

Jerusalém, por que uma grande coisa irá acontecer: Javé consolou o povo e remiu

109

Page 110: o Novo Exodo

Jerusalém. O v.10 é o mais forte na apresentação do êxodo. Ele faz lembrar que

Javé com seu poder e força (Qebod) retirará o povo da escravidão. Como fez no

primeiro êxodo, no novo também utilizará a força para libertar os exilados. Todas

as nações presenciarão que Javé é poderoso e libertador. A salvação de Javé

será vista em todos os confins da terra.

O retorno deverá ser após a purificação de todos. No primeiro êxodo

era para fugir, comer ervas amargas. Neste novo êxodo era para purificar-se de

todas as impurezas. Os sacerdotes “os que carregam os utensílios do Senhor”

deveriam ser os primeiros a dar o exemplo na retirada do exílio para Jerusalém. O

v.12 é uma rememoração do primeiro êxodo e que o novo seria de forma

diferente. Não era para fugir nem sair depressa, porque o Senhor cuidará de

todos. Ele irá à dianteira e na retaguarda cuidando da saída e do caminho dos

exilados.

CONCLUSÃO

O texto de Is 54,7-12 mostra a saída do exílio da Babilônia. O texto

incita o povo a se permanecer limpo, puro. Não podiam tocar coisas impuras.

Começando pelos sacerdotes. Aqueles que usam os utensílios do templo. Os que

carregariam as coisas sagradas que possuíam no exílio, deveriam levar para

Jerusalém. Estas coisas deveriam permanecer puras. Os sacerdotes como os

utensílios deveriam se purificar. O povo, sacerdote, e os utensílios deveriam sair

do meio da impureza. Dirigindo pelos caminhos preparados por Javé, o povo que

recebeu as boas novas, a salvação ou libertação anunciada estão proclamando o

reino de Deus.

O regozijo, o júbilo e a exaltação de Jerusalém destruída devem ser

pelos feitos de Javé que se dirige à Jerusalém em companhia do povo restaurado.

Deus caminha com o povo, redime o povo e deverá se instalar com Ele em Sião. A

110

Page 111: o Novo Exodo

idéia também aqui é de lembrança do poder de Javé na primeira libertação e de

seu poder nesta segunda libertação.

5.6 Is 55,12-13136

5.6.1 TEXTO EM HEBRAICO

והגבעות ־ בשמחה תצאו ובשלם תובלון ההרים כי

־ כף׃ ימחאו ־ עצי השדה וכל יפצחו לפניכם רנה

יעלה הדס יעלה ברוש תחת הסרפד תחת הנעצוץ

והיה ליהוה לשם לאות עולם לא יכרת׃

5.6.1.1 TRADUÇÃO

v.12 Porque saireis com alegria e em paz sereis guiados; os montes e os outeiros

romperão em cânticos diante de vós, e todas as árvores do campo baterão

palmas.

v.13 Em lugar do espinheiro crescerá o cipreste, e em lugar da sarça crescerá a

murta, e será isto para a glória do Senhor, e memorial eterno que jamais será

extinto.

5.6.1.2 QUESTÕES EXEGÉTICAS

O texto pode ser um epílogo sobre a proclamação de uma partida, a

saída da Babilônia para a Palestina. Parece uma liturgia processional. A alegria é

retratada por um hino de louvor para um retorno importante. O texto relatado pode

ser denominado de um hino escatológico de louvor ou simplesmente pode ser 136 CROATTO, José Severino. Op. cit., p.7-12.

111

Page 112: o Novo Exodo

chamado de cântico de uma procissão de retorno. As criaturas de toda a natureza

darão louvor à glória de Javé. Este louvor é encontrado em alguns Salmos. O final

de um livro composto pelo Dêutero-Isaías. O relato mostra a redenção e o

redentor lado a lado. A parte mais importante literariamente é o v.12a. O verbo

que denota o êxodo é “sair” que significa o sentido do novo êxodo: a saída do

cativeiro.

Este trecho analisado deve ser entendido como um epílogo do livro

isaiano em conexão com o seu prólogo em Is 40,1-11. O final de Isaías é Is 55,1-

13 denominado o livro da consolação.

O próprio autor, José Severino Croatto137 define este epílogo como

contendo partes distintas: os v.1-3a secção que ele denomina de chamada ao

banquete; os v.3b-5 denominado de promessa da aliança; os v.6-9 chamado de a

busca de Javé. O final do texto é de nosso interesse, os v.12-13 designam o novo

êxodo. O trecho representa a saída da Babilônia, com um clima de festa e de

júbilo, o caminho do retorno todo enfeitado para a passagem dos caminhantes.

Estes teriam como companhia os montes, as árvores, os outeiros, dançando e

batendo palmas. Este é o processo final da libertação.

5.6.1.3 MOTIVO DO ÊXODO

Os textos anteriores referem-se ao motivo do êxodo. Este texto não

foge à regra. Ele é igual a todos os textos analisados. Na realidade o v.12 é um

hino de louvor, fala de coisas extraordinárias. Na linguagem isaiana os milagres do

primeiro êxodo se transformam em atos portentosos e mais miraculosos. Notamos

as figuras usadas na natureza: as árvores batendo palmas, os montes e os

outeiros entoando cânticos de louvor. No v.13 os milagres são mais concretos na

natureza como: crescer em lugar do espinheiro o cipreste, em lugar da sarça

florescer a murta, isto é a transformação da vegetação. O reflorestamento do

137 Idem, p.7-12.

112

Page 113: o Novo Exodo

deserto é notificado neste local. O deserto jamais comportaria tal situação naquela

época, plantas que cresciam e não valiam para nada, crescer estas plantas num

local onde é permitido rios nos ermos, é um verdadeiro milagre. Hoje podemos ver

isto em vários lugares, aquilo que o profeta deutero-isaiano preconizava pode ser

visto na atualidade. Somente com a irrigação seria possível o deserto ser

transformado. O milagre da tecnologia hoje é visível naquela época somente pelo

milagre.

O Dêutero-Isaías conclui que todas as coisas descritas devem ser

para a exultação de Javé. Pelos fatos de libertação e a transformação do deserto

(v.13).

CONCLUSÃO

Os verbos “sair com alegria” e “ser guiados em paz” deixa bem

evidente a saída do exílio. Os verbos mostram o novo êxodo, pois no primeiro

êxodo mostra o “sair depressa” e não o “sair com alegria”. No primeiro êxodo fala

de ser guiado pela nuvem, fogo, sol, lua e não da paz (shalom). No primeiro êxodo

não aparecem as metáforas dos montes e dos outeiros cantando e batendo

palmas.

Estas metáforas designam a alegria da libertação da Babilônia.

Mostra o texto a transformação do deserto num paraíso e isto designa a imagem

espetacular da libertação e o retorno para Jerusalém. Este texto de Is 55,12-13 é

muito importante para entendermos o novo êxodo. Este texto é o final, a conclusão

do livro e o início da caminhada dos libertados. A marcha aqui descrita é uma

procissão triunfal. Ele não mostra o local da saída e da chegada, porém, mostra a

alegria da salvação.

No texto de Is 40,1-11 existem quatro secções que enfatizam a

nossa temática do novo êxodo:

113

Page 114: o Novo Exodo

a - Nesta primeira secção composta de v.1-2 denominado de

prólogo, ocorre um duplo “consolai” que tem por objetivo enfatizar o fim do êxodo.

O cativeiro está chegando ao fim. Esta expressão: “consolai” designa ainda o

amor de Javé pelos exilados e que a vassalagem está por terminar, para iniciar o

novo êxodo. O “consolai” tem como prerrogativa mostrar que a libertação está

próxima e o êxodo em seu início.

b - A segunda divisão é a secção de V. 3-5, que complementa a

secção anterior. A primeira determina que o povo se anime e a segunda convoca

o povo a caminhar pelo deserto.

Tanto uma como a outra enfatizam o retorno e o fim do cativeiro. As

duas mostram que o ânimo e o consolo exigem um esforço para o retorno que se

dará após o exílio. Esta secção mostra ainda a preparação de todas as coisas.

Esta preparação procura deixar o exilado alegre pela libertação. E que o retorno

não constituirá uma caminhada pelo deserto, mas deve ser aguardado com a fé e

a esperança.

Chegou o fim do cativeiro. Agora importa aos exilados ter fé e ânimo

para enfrentar a caminhada de retorno. Neste sentido o êxodo e o novo êxodo

coincidem. Tanto em um como no outro a glória de Javé está presente nas

narrativas. Esta secção mostra que o novo êxodo é sinônimo do “motivo do

caminho”.138

O deserto é a passagem dos exilados.

O caminho de retorno é grande e difícil. Caracterizado por acidentes

geográficos. Impossível de seguir em linha reta. Os exilados passarão por este

caminho através de sua transformação. As colinas rebaixadas, os vales aterrados,

os caminhos tortuosos endireitados.

138 MESTERS, Carlos. A missão do povo que sofre. Os cânticos do Servo Sofredor no livro do profeta Isaías. Editora Vozes/CEBI, Petrópolis, 1981, p.49-107.

114

Page 115: o Novo Exodo

Este é o caminho que Javé oferece aos exilados em seu retorno. Esta

linguagem do profeta designa a grandiosidade do novo êxodo. Os milagres que

deveriam ocorrer transformariam o deserto. O novo ou segundo êxodo seria mais

magnífico que o primeiro êxodo. Este êxodo será mais importante que o anterior.

Tudo isto deveria ocorrer para que a glória de Javé fosse

manifestada. No deserto e na caminhada dos exilados o poder e a glória de Javé

se tornariam mais visíveis. Todos contemplariam a glória de Javé e as suas

maravilhas.

c - Na terceira secção de v. 6-8 ocorre um diálogo entre Javé e o seu

mensageiro o profeta. A mensagem é exposta em forma de antítese. Esta antítese

é “uma linguagem em forma sapiencial de comparação”. Nesta secção compara-

se o homem como algo passageiro, como a erva. Um vegetal pequeno, um

arbusto de pouca duração. Constituindo assim um paradigma, para mostrar a

importância do povo de Javé sendo liberto da escravidão.

O opressor nada pode fazer para segurar os exilados presos que

serão libertos. O opressor é passageiro, seu poder acaba, mas o poder e a glória

de Javé permanecem eternamente. Javé liberta e destrói os destruidores que são

passageiros. “Não temas” o opressor passará como uma erva. “Consolai, confiai”

na promessa libertadora de Javé dada aos exilados.

d - Esta última secção de V. 9-11; e a convocação das cidades de Sião e

Jerusalém que estejam também preparadas para receberem os exilados libertos.

Os mensageiros convocam a todas as cidades para presenciar a glória e o poder

de Javé. Javé o todo-poderoso é como um dócil pastor que guiará seus

escolhidos. Exilados, libertos, em direção à cidade santa.

115

Page 116: o Novo Exodo

Este texto parece demonstrar uma figura retórica. A ênfase retórica

está nas repetições como marca característica do profeta. O texto é uma poesia

que inaugura uma nova etapa de libertação. O mensageiro vem do deserto

anunciando os grandes feitos miraculosos e salvadores de Javé à Sião. Este grito

do porta-voz anuncia a vitória, a libertação. Vitória do povo e de Javé sobre o

opressor. Libertação de Javé com seu poder. O anúncio fala da vinda de Javé à

frente de uma procissão guinado o povo pelo deserto em liberdade. Todos estão

salvos.

O texto analisado evidência o motivo do êxodo. Is. 40,1-11 chama a

atenção pelas expressões que denotam o poder e a salvação, dando início ao

novo êxodo. Como no início chama a atenção à idéia de que Jerusalém é a

esposa de Javé, os exilados são os filhos escolhidos de Javé. A expressão

“milícia” designa exatamente a força e o poder de Javé para salvar. A expressão

pode dar a idéia também de que os cativos eram recrutados pelos conquistadores

como combatentes e no trabalho compulsório. Neste caso específico os exilados

estão trabalhando nos campos e trabalhos dos babilônicos.

A expressão: “consolai” é para pedir aos exilados a paciência, a

força, a esperança até que o exílio acabe. O fim da escravidão no sentido restrito

está chegando. O duplo: “consolai” designa a promessa de salvação aos exilados.

A milícia e o trabalho forçado acabaram.

José Severino Croatto comentando este texto escreve: “O pecado no

sentido social e econômico e as “iniqüidades” foram expiadas em dobro. Tudo.

Tudo está pago. A compreensão da divina retribuição está presente no Dêutero-

Isaías. Apesar do recado, a retribuição de Javé, o pagamento com o cativeiro, o

sofrimento no exílio, a libertação será iminente. A libertação do cativeiro na

Babilônia é uma questão de momento. Na política estará sobressaindo outra

potência, outro reino. Este novo império será usado por Javé para a destruição da

116

Page 117: o Novo Exodo

potência opressora. Esta potência destruirá a Babilônia dando auxílio e a

libertação ao povo de Israel”.

Este texto evidencia então o tema do fim do êxodo. O êxodo acabou.

Inicia-se a nova fase que é a libertação e o retorno para Sião.

Is. 40, 1-11 é um texto importante para a compreensão do motivo do

êxodo. Como no texto de v. 1-2 narra a preparação de Jerusalém e dos exilados,

Na secção de v. 3-5 narra a preparação do caminho para o retorno. O início do

novo êxodo, a salvação dos exilados é evidencias claras deste texto.

Alguns autores pensam num retorno de Israel como um retorno

espiritual. De fato este retorno não aconteceu em massa, Nem todos retornaram a

Jerusalém. Pode-se pensar que esta interpretação é uma forma de

espiritualização. A forma de um retorno histórico na realidade não se deu de forma

integral. O importante é que evidência o texto o tema do êxodo: o consolo, o

anuncio da libertação, como seria a retorno, Javé guiaria o povo, o caminho seria

modificado para a passagem do povo, e todos presenciariam a grandeza do poder

de Javé, e a chegada do povo a Sião.

“Nesta passagem o tema é o caminho, que se supõe da

Babilônia ã Jerusalém... O texto está construído uma vez

mais com imagens literárias que, não obstante, respondem

as realidades experimentais... Não se chega a Jerusalém por

via reta, senão por um caminho alternativo pela via

setentrional, onde existem vales e montanhas, que

necessitam ser aplainadas... Javé se manifestará como

energia (o termo mais correto no original para traduzir o

hebraico é: poder)”.

117

Page 118: o Novo Exodo

O texto declara o fim do êxodo, início da libertação e a preparação da

caminhada de retorno. Declara de forma diferente de outros profetas e outros

textos que a libertação dos exilados será pela força de Javé. Que o próprio Javé

anunciará este grande feito do êxodo. A mensagem aqui é de boas novas de

salvação.

Em toda a perícope de Is 40,1-11 ficou indicado o tema do êxodo. No

texto ocorre a cena da libertação e do retorno do povo. Colinas, cidades de Judá

serão como testemunhas de Javé aos povos a libertação dos exilados. Todos os

povos o verão o retorno do povo salvo. No primeiro êxodo, Javé libertou o povo do

Egito com seu poder e com seu braço forte. Nesta perícope ocorre a idéia do

poder e do braço forte de Javé (40,10). Que Javé dará a retribuição aos

opressores do povo escolhido, tudo em dobro. O texto evidência a salvação, o

novo êxodo como recordação, como anámnesis. Este texto é um paradigma do

motivo do êxodo. A recordação é a teologia do caminho e da salvação.

O texto analisado anuncia o fim da escravidão na Babilônia e o

começo do novo êxodo, Os exilados retornarão a Jerusalém e esta cidade será

testemunha às outras cidades que Javé vem como pastor conduzindo o seu povo

pelo deserto sob sua proteção. O Exílio findou, a escravidão terminou. A idéia do

primeiro êxodo repete-se em Is 40, 1-11.

A importância deste texto e de sua análise e da exêgese é para

mostrar que o êxodo é anuncio da salvação do povo exilado, de sua saída da terra

opressora, da caminhada pelo deserto. O êxodo novo serve como base para a

compreensão da pesquisa sobre do motivo do êxodo. O texto evidência que o

novo êxodo é salvação. Que o profeta Dêutero-Isaías anuncia o novo êxodo como

salvação efetuada ao povo escravo na Babilônia, O texto demonstra que a

salvação é uma faceta do novo êxodo. O novo êxodo é a pregação da salvação e

não de condenação como os profetas pré-exílicos faziam. O Dêutero-Isaías é um

profeta da salvação e do novo êxodo.

118

Page 119: o Novo Exodo

CONCLUSÃO

“O motivo do êxodo em Dêutero-Isaías” implica numa compreensão

maior: “o novo êxodo como salvação” dos exilados na Babilônia. Isto ocorre num

período entre o final do século VI e início do século V a.C. (em 586 a.C. foi a ida

dos exilados, 550 a 539 o reino de Nabonides e início do império persa com Ciro).

O profeta Dêutero-Isaías anuncia uma mensagem de esperança, de promessa e

de salvação ao povo exilado. Esta mensagem é de conforto e consolo.

O tema do êxodo é um fio condutor que leva a esperança ao povo

escolhido desde o livro do Êxodo no Antigo Testamento e perpassa todo Novo

Testamento em vários escritos. O livro dos Salmos e outros escritos fazem uma

releitura deste tema importante do Antigo Testamento de forma preciosa. O Novo

Testamento acompanha o Antigo Testamento desenvolvendo o tema do êxodo em

escritos como o Evangelho de João, nos sinóticos e no Apocalipse. Este tema

acompanha toda a Bíblia como releitura da vida e da travessia pelo deserto.

Coloca Jesus nesta itinerância a vagar pelo deserto, como se ele fosse testado

para se tornar um indivíduo maduro e preparado para qualquer acontecimento na

sua missão de salvar os exilados. Jesus aguarda a sua hora (Evangelho de João)

e se prepara orando, jejuando no deserto para que no momento certo de sua

atuação liberte todo o povo da escravidão.

A presença do tema nos dois testamentos constitui uma teologia.

Cada texto faz a sua interpretação nova do êxodo do Egito e da Babilônia,

tornando-se este um paradigma da libertação como salvação do cativeiro.139

Para tanto o tema do êxodo em Dêutero-Isaías continua a ser uma

verdadeira fonte rica a ser explorada na exegese e na teologia. Na pesquisa

exegética moderna foi feita uma estatística e se demonstrou que o interesse pelas

139 ALVES, Rubem. Cristianismo, ópio o liberacion. Ediciones Sigueme, Salamanca, 1973, p.54-159 e 180-240.

119

Page 120: o Novo Exodo

fontes da obra isaiana é incomparável com os demais escritos

véterotestamentários.140 Já não se pode dizer o mesmo do tema do êxodo no

Dêutero-Isaías, que é diferente da pesquisa do êxodo no Êxodo.141

O livro do profeta Isaías começou a ser dividido por um autor

medieval que viu em sua estrutura elementar uma diferença gritante quanto a

terminologia, a época e a história discorrida em todos os 66 capítulos. Notou que a

formação estilística do livro em sua completude era conflitante. Isto ocorreu no

século XII com o filósofo judeu Ibn Ezra que começou a colocar em dúvida já na

sua época a unidade literária e composicional do livro de Isaías como um todo.

Chegou à conclusão de que Isaías não constituía um e sim vários escritos e

escritores que compuseram a sua totalidade final. O livro na realidade refletia

vários períodos históricos diferentes.

No século XVIII dois teólogos, seguindo em pistas elaboradas por Ibn

Ezra: Johann Gottfried Eichhorn e Johann Christian Doederlin (1789) começaram

a desmembrar e fomentar a teoria da separação do livro do profeta Isaías. Esta

obra então foi dividida aleatoriamente em três partes. Reunindo na primeira parte

de Isaías os capítulos 1-39, sendo denominado de Isaías de Jerusalém ou

Primeiro-Isaías. A segunda parte da obra agrupou os capítulos 40-55 e foi

denominado de Dêutero-Isaías ou Isaías da Babilônia ou ainda Isaías Júnior (por

Carlos Mesters). Por fim, a parte final dos capítulos 56-66 denominado de Trito-

Isaías.

Autores posteriores viram outras discrepâncias ainda no Primeiro

Isaías 1-39 e notaram a existência de um apocalipse em Is 14-27. O Primeiro

Isaías ficou assim dividido em: Is 1-13; 14-27; e por fim 28-39. Alguns capítulos do

Primeiro Isaías e do Trito-Isaías como o 35 e 62 passaram a ser considerados

140 CHILDS, Brevard S. Introduction to the Old testament as Scripture. Fortress Press, Philadelphia, 1989, 6a.ediçäo, p.311-338.141 KIESOW, Klaus. Exodus texte im Jesajabuch literakritische und Motivgeschirctliche Analysen. Editions Universitaires, Fribourg, Suisse / Vandenhoeck und Ruprecht, Goettingen, 1979, p.168-203.

120

Page 121: o Novo Exodo

como pertencentes ao Dêutero-Isaías para vários autores. A pesquisa sobre a

estrutura do Dêutero-Isaías ajuda a demarcar os textos que mostram o tema do

Êxodo.

A VIDA SOCIAL DOS JUDAÍTAS EM JERUSALÉM E NO EXÍLIO DA

BABILÔNIA

Os habitantes de Jerusalém e das imediações, como também os

camponeses são os que permanecem na terra, para o pagamento de tributos,. Os

camponeses são obrigados a produzirem mantimentos e os frutos da terra para

pagarem os tributos aos babilônicos. Desta situação dos que permaneceram no

campo, muitos passaram por dificuldades. Devido as dívidas produzidas, pelo

sistema econômico, e por não produzirem o necessário se endividaram. Tiveram

que vender seus bens, vender seus familiares e algumas vezes se venderem para

pagarem as suas dívidas142.

Tanto os que permaneceram na leva de 597 a.C., de 587/6 ou depois

tiveram que permanecer para produzir e pagar os tributos devidos. Jer 40,7 fala

dos pobres da terra. São aqueles que se empobreceram e começaram a vagar por

não terem trabalho, o que produzir e o que pagar se tornando escravos não só dos

babilônicos como também de seus credores judaítas.143

Pouca coisa foi produzida nesta época difícil de opressão. Em

Jerusalém no período do exílio não se produziu literariamente quase nada. Ao

contrário do que foi produzido no exílio na Babilônia.144

142 ALBERTZ, Rainer. A history of Israelite religion in the Old Testament Period. - From exile to the Maccabeus. Vol 2, Westminster John Knox Press, Louisville, 1994, p.369-436.143 ALBERTZ, Rainer. op. cit., p.399-347.144 Idem, p.375-387.

121

Page 122: o Novo Exodo

A situação dos exilados na Babilônia era diferente. Os que foram

levados ao exílio eram aristocratas, das classes mais altas. Eram ourives,

arquitetos, engenheiros, carpinteiros e uma mão de obra especializada. Estes

foram levados com o propósito de trabalharem nos locais em que Nabucodonosor

queria. Era o trabalho de irrigação, de construções de palácios de verão e de

inverno, nas plantações, nas cidades e nos palácios.

A produção intelectual era livre. E este período é o mais fértil na

literatura judaíta. Produziram-se as obras mais importantes da Babilônia Hebraica

como: a Ob H Dtr, Ob H Cr, o próprio Dt e suas releituras dos profetas e de outros

escritos, alguns profetas como o Dêutero-Isaías, Ez, partes de Jr. As leis cultuais e

sacrificiais, a instituição do sábado, a sinagoga e muitas formas de adoração na

Babilônia.145

A ESTRUTURA DO DÊUTERO-ISAÍAS.

A estrutura do Dêutero-Isaías, porém em comparação com os outros

Isaías ficou mais ou menos coeso, com três grandes secções: I - Is 40,12 -44, 23;

II - Is 44,24-49, 13 e por fim, III - Is 49,14-55, 13. Dentro desta estrutura existe um

prólogo em Is 40,1-11 e um epílogo em Is 55,6-13, fazendo desta uma moldura.

Esta estrutura fica bem clara com a inserção da faceta histórica deste profeta na

Babilônia no exílio.146 No início da obra deutero-isaiana mostra os antecedentes

históricos do exílio que foram registrados por outros livros do Antigo Testamento

(2 Rs, Jr).

cO Dêutero-Isaías em sua estrutura relata somente os

acontecimentos do exílio da Babilônia; da vida do povo em terra estranha, do

trabalho compulsório, dos assentamentos nos canais de irrigações, nas

plantações e construções. Estes acontecimentos são registrados nos anais dos

babilônicos e dos Persas sob Ciro.147

145 Ibidem, p.369-436.146 KIESOW, Klaus. op. cit., p.20-27.147 WISEMAN, Donald J. Nebuchadnezzar and Babylon. OUP, Oxford, 1991, p.43-78; PRITCHARD, James. La sabiduria del Antiguo Oriente. Ediciones Garriga, Madrid, 1969.

122

Page 123: o Novo Exodo

O sofrimento do povo levou o profeta a anunciar o novo êxodo. Este

anúncio é o êxodo como salvação, tema que é releitura do antigo êxodo no Egito

que se repetirá em grande escala e com maior intensidade. O êxodo do Dêutero-

Isaías é elaborado de uma forma totalmente diferente do êxodo do Egito. Esta

releitura é encontrada em diversas passagens do Antigo e do Novo Testamento,

Salmos, Mateus, João e o Apocalipse registram estes fatos para mostrar a igreja

num verdadeiro êxodo peregrinando pela terra.

O trabalho forçado, o trabalho especializado levou os judaítas a uma

espécie de privilégios na Babilônia. O relato de componentes da classe alta como:

ourives, carpinteiros, engenheiros e arquitetos para o trabalho especializado.

Assim é descrito a situação de indivíduos que fizeram fama e riqueza e que jamais

voltariam à terra prometida. Pelo contrário encontramos os indivíduos que ficaram

na miséria nas imediações de Jerusalém. Trabalhadores que permaneceram e

tinham que pagar os pesados tributos para o opressor. Camponeses que se

endividaram, tiveram que vender os seus bens e muitas vezes os familiares e a si

próprio para pagar o tributo devido.

Nesta estrutura notamos que o tema do êxodo no Dêutero-Isaías fica

mais evidente, principalmente se o entendermos através dos textos como viviam

os exilados.

O MOTIVO DO ÊXODO NO DÊUTERO-ISAÍAS

O motivo do êxodo no Dêutero-Isaías é um fio condutor na teologia

bíblica e na exegese do Antigo Testamento e do Novo Testamento. Este tema

acompanha os primórdios da fé de Israel, o início da fé javista. Acompanha os

israelitas desde o início da formação como povo, até chegar às releituras feitas

nos evangelhos sinóticos, em João e no Apocalipse.

123

Page 124: o Novo Exodo

Este motivo do êxodo foi acompanhado de pesquisa, de exegese e

de aplicação de métodos os mais variados possíveis. Inclusive a teologia latino-

americana elabora desta perspectiva uma leitura importante e uma hermenêutica

fundamental deste tema.

O motivo do êxodo, tanto no livro de Êxodo como no Dêutero-Isaías

passou por vários tipos de leitura e óticas diferentes, sendo analisado como: a

leitura do primeiro mundo, a leitura espiritualista e a leitura social. Tanto uma

como a outra pode ser um modo reducionista, porém a leitura feita pela teologia

latino-americana pode ser considerada a mais abrangente. A leitura do tema do

êxodo no Dêutero-Isaías lança luzes no êxodo, como salvação, lembrança,

memória ou paradigma.

O êxodo no Dêutero-Isaías é a interpretação, constitui a leitura do

primeiro. Este êxodo no Dêutero-Isaías é denominado de novo êxodo. Claude

Wiener o denomina o Dêutero-Isaías de profeta do novo êxodo.148 Este profeta

conclama os exilados através de sua pregação a voltarem para Jerusalém. Ele

descreve a saída da Babilônia de uma forma mais magnífica e maravilhosa do que

a saída do Egito. Recorda alguns acontecimentos nele e reinterpretam outros

fatos, tomando alguns exemplos do antigo êxodo como paradigma e anámnesis. A

travessia do deserto ilustra esta consideração: no primeiro êxodo esta travessia

está ligada aos acontecimentos de milagres como a água da rocha, as codornizes

e o maná. No novo êxodo está a transformação do deserto, das montanhas, dos

vales, rios com correntezas no deserto.

No primeiro êxodo Javé protegia o povo com o sol, a lua, o fogo, a

nuvem, o anjo. No novo êxodo Ele mesmo será a retaguarda e a dianteira do povo

guardando e protegendo para que nada aconteça. Estas imagens têm traços

particulares e formas de comparação, tudo é colocado, palavras e termos, para

que o novo êxodo seja realçado. O profeta do novo êxodo é o criador de uma

148 WIENER, Claude. op. cit., p.9-17.

124

Page 125: o Novo Exodo

linguagem metafórica incrivelmente sem precedentes. Ele mesmo em suas

palavras anuncia que o povo deve esquecer as primeiras coisas e não considerar

as que se passaram (Is 43,18), porém mostra que o novo êxodo difere do antigo

em esplendor e magnificência. O anúncio é: “eis que faço nova todas as coisas,

que está saindo à luz, porventura não o percebeis? Eis que porei um caminho no

deserto, e rios nos ermos.” (Is 43,19)

A recordação é um marco triunfal do profeta do novo êxodo e

também é uma superação com as coisas novas. As antigas coisas foram

fenomenais, porém as novas coisas superam em toda superlatividade. A forma de

recordar é superar e este superar mostra que o recordar é salvar.149

O novo êxodo no profeta é também a salvação. Salvar do exílio

babilônico. O salvar como em outros relatos ou narrativas não é salvar do pecado

ou da condenação, mas salvar do exílio. Salvar é libertar, retornar à pátria,

caminhar em direção à Sião. Javé não é guerreador, mas o salvador. Ele salva

como rei, como juiz e como pastor. Rei que é soberano para libertar Israel, juiz

que julga Israel e os povos opressores, que conduz como pastor solícito pelo

deserto em retorno à pátria.

O êxodo em Dêutero-Isaías é o novo êxodo. Este profeta do novo

êxodo parte de tradições e da fé antiga de Israel para reformular, superar o antigo

êxodo e demonstrar o novo êxodo. Ele recupera as tradições dos patriarcas,

Moisés, o êxodo do Egito, Davi e Sião. A partir destas tradições ele anuncia e

enuncia sua pregação do novo êxodo.

AS ANÁLISES DE TEXTOS DO NOVO ÊXODO

Os textos de Is 40,1-11; 43,16-21; 49-7, 12; 51,9-14; 52,7-12; 55,12-

13 foram analisados a partir da tradução, de questões exegéticas, do motivo do

149 RAD, Gerhard von. op. cit., p.231.

125

Page 126: o Novo Exodo

êxodo e uma conclusão. Esta análise deu-nos condições de analisar texto por

texto, fazer exegese e notar que o motivo do êxodo é evidente. A partir desta

análise as conclusões sobre o motivo do êxodo são:

1 - O povo foi levado ao cativeiro porque abandonou o esposo Javé.

O marido alisa a esposa. Mas Is 40,1-11 mostra que este aplainamento está

terminado. O duplo: “consolai, consolai” demonstra o fim do exílio. O retorno será

breve e a caminhada pelo deserto será transformada. A idéia de um novo êxodo

que supera o antigo êxodo.

2 - Em Is 43,16-21 através do hino designa que o exílio acabará. O

estrangeiro inimigo será destruído, o povo deverá esquecer o antigo êxodo e

somente pensar no novo êxodo. O paradigma do novo êxodo, do êxodo do Egito é

anunciado neste texto. Este hino relata os acontecimentos salvíficos do novo

êxodo. A salvação de Israel por Javé que abre um caminho nas águas (o antigo

êxodo) e abre um caminho no deserto transformado (novo êxodo). A mensagem é

para não lembrar ou esquecer o êxodo antigo, pois este novo êxodo será tão

maravilhoso que superará tudo.

3 - Em Is 49,7-12 relata que Javé é o redentor de Israel que redimirá

o desprezado e abominado, os escravos dos opressores. Este redentor redime o

povo e transforma a natureza e reúne os dispersos de todos os lugares da terra. O

v.12 narra esta reunião: visão de longe, do norte e do ocidente e da terra de Sinim.

4 - Em Is 51,9-14 narra a destruição dos inimigos. Como abateu os

egípcios, abaterá os inimigos deste exílio. Aquele que secou o mar, as águas do

grande abismo, o monstro marinho destruído. Desta forma o redentor redimirá e

retornará a Jerusalém com alegria, júbilo e regozijo. Relata que o exilado será

libertado.

126

Page 127: o Novo Exodo

5 - Em Is 52,7-12 relata a grandeza daquele que anuncia as boas-

novas. As boas-novas é o ouvir a paz, a salvação, o retorno à Sião. Todos devem

exultar: ruínas, montes, pois Javé consolou e remiu Jerusalém. Javé libertou e

reuniu seu povo de todos os confins da terra. Narra o sair do exílio e a purificação

daqueles que retornarão a Sião.

6 - Em Is 55,12-13 relata o sair com alegria e ser guiado em paz. A

natureza participará com cânticos e palmas para saudar os libertos do exílio.

O NOVO ÊXODO

A literatura sobre a temática do novo êxodo no Dêutero-Isaías não

facilita a pesquisa.150 A situação do tema do novo êxodo como salvação é pouco

difundida. A questão é equacionar a crítica literária à teologia, à história e à

exegese do tema do novo êxodo. A difusão da exegese no primeiro mundo difere

e em muito da nossa exegese latino-americana.151

O que encontramos em circunstâncias anteriores152 os trabalhos

analisados sobre o tema do êxodo no Dêutero-Isaías tiveram um papel importante,

porém os trabalhos fizeram tipologia deste tema.153 Na exegese latino-americana

ficou evidenciada a interpretação do motivo do êxodo no Dêutero-Isaías como

paradigma e anámnesis.154 Na exegese latino-americana os textos mais

escolhidos sobre o tema do êxodo no Dêutero-Isaías são: Is 40,1-11; 43,16-21;

49,7-12; 51,9-14; 52,7-12; 55,12-13. Estes textos são os que denotam com maior

intensidade e traz no bojo a esperança da salvação com a mensagem do novo

êxodo.155

150 KIESOW, Klaus. op. cit., p.20-27.151 ANDERSON, Bernhard. op. cit., p.177-195; ALVES, Rubem. op. cit., p.180-240.152 WIENER, Claude. op. cit., p.122-127.153GUILLET, Jacques. op. cit., p.164-181.154 GUTIERREZ, Gustavo. op. cit.; ALVES, Rubem. op.cit., p.130-176.155 CROATTO, José Severino. Op. cit., p.7-12.

127

Page 128: o Novo Exodo

O novo êxodo no Dêutero-Isaías diferentemente do êxodo do Egito

constitui linguagem própria do profeta Dêutero-Isaías. O Dêutero-Isaías criou uma

literatura, teceu e costurou os gêneros litúrgicos e hínicos. Esta forma traz uma

linguagem figurada ao mostrar a travessia do deserto, a transformação do deserto,

a construção de uma via expressa do exílio para o povo dirigir-se à Sião.

Esta linguagem usada pelo profeta Dêutero-Isaías constrói de

maneira diferente uma teologia do caminho. Caminho este que terá as montanhas

rebaixadas, os vales aterrados, os caminhos tortuosos endireitados. Esta

transformação é usada para encorajar, facilitar o retorno do povo do exílio em

direção à antiga pátria. Linguagem esta que foi figurada e escatologizada na

realidade não foram cumpridas. Esta é uma linguagem que tem por objetivo dar

força à esperança de salvação. O novo êxodo é o antítipo do antigo êxodo no

Egito. Porém o Dêutero-Isaías usa o primeiro êxodo, vê e reinterpreta-o. Nos

textos analisados vemos as semelhanças e as diferenças existentes entre os dois

êxodos.

O novo êxodo no Dêutero-Isaías difere do primeiro da seguinte

maneira: Javé liberta o povo Is 40,10; 51,9; 52,10. A sua glória é vista pelo povo

no antigo êxodo em Ex 16,7 e será presenciada por todas as nações. Não há

alusões das maldições no Egito em Dêutero-Isaías, nem a páscoa, mas a menção

de um texto do Êxodo em que o povo: sairia devagar, em paz, alegre e sem

pressa, e sem comer ervas amargas relatadas em Is 52,12; Dt 16,3; Ex 12,1. No

êxodo Javé será o protetor do povo em Is 52,12; Ex 13,21-22; Ex 14,19-20. Javé

guerreia pelo povo e vence a batalha (Is 43,13; Ex 15,2; Is 51,9-10 e Ex 14,25. Ele

derrotará cavalos e cavaleiros (Is 43,16-17 e Ex 14,18; 15,10-21). Destruiria os

opressores de Israel em Is 49,24-26; 51,22-23 e Is 52,3-6.

O novo êxodo será com cânticos de júbilo e de vitória. Como na

vitória de Miriam, Is 42,10-13 e Ex 15,21. A jornada pelo deserto, o caminho

128

Page 129: o Novo Exodo

preparado e o povo guiado em Is 40,3-5; 42,16; 43,19 e Is 11,16; 35,8-10. O povo

no caminho receberá comida e bebida em Is 41,17-20; 43,19-21, 49,10. Jorrará

água no deserto como em Meribá em Is 48,21; Ex 17,27; Nm 20,8. O deserto

transformado Is 49,9-11; 55,13; Is 35,6-7. A nova entrada na Terra prometida será

através de uma majestade de Javé, do deserto a Sião e a terra redividida (Is 49,8)

e o novo Israel consistirá na confederação tribal que se reunirá na Babilônia e na

dispersão a Sião, a Cidade Santa (Is 52,1).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

BÍBLIAS, DICIONÁRIOS E GRAMÁTICAS

BÍBLIAS

129

Page 130: o Novo Exodo

ALMEIDA, João Ferreira de. A Bíblia Sagrada - Antigo e Novo Testamento.

Revista e atualizada no Brasil, 2a edição, Sociedade Bíblica do Brasil, São

Paulo, 1995,1262p.

ELLIGER, Karl e RUDOLPH, Wilhelm (editores). Biblia Hebraica Stuttgartensia.

Deutsche Bibelgesellschaft, Stuttgart, vierte verbesserte Auflage, 1990, 1574p.

KITTEL, Rudolph (editor). Biblia Hebraica. Württenbergische Bibelanstalt,

Stuttgart, 1937, 1434p.

RAHLFS, Alfred (editor). Septuaginta. Deutsche Bibelgesellschaft, Stuttgart, 1935,

941p.

GIRAUDO, Tiago (editor). A Bíblia de Jerusalém. São Paulo, Paulinas, 1985,

2366p.

TEB Tradução Ecumênica da Bíblia. São Paulo, Loyola, 1994, 2480p.

DICIONÁRIOS

BAUMGARTEN, Walter. Hebräisches und aramäisches Lexikon zum Alten

Testament. vol.1 e 2. Leiden, E. J. Brill, 1967, 430p.

BOTTERWERCK, G.Johannes e RINGGREN, Helmer. Theological Dictionary of

the Old Testament. William B. Eerdmanns Publishing Company, Grands Rapids

Michigan, v.1-7, 1974-1995, 3990p.

130

Page 131: o Novo Exodo

BROWN, C; DRIVER; BRIGGS, G.C.A. A Hebrew and English Lexicon of the Old

Testament. Oxford, Oxford University Press, 1968, 7a.edição, 1127p.

FOHRER, Georg; HOFFMANN, Hans Werner; HUBER, Friedrich; VOLLMER,

Jochen; WANKE, Gunther. Diccionario del hebreo y aramaico bíblicos.

Ediciones La Aurora, Buenos Aires, 1982, 345p.

GESENIUS, Wilhelm e BUHL, Franz. Hebräisches und aramäisches

Handwörterbuch über das Altes Testament. Berlin, Springer Verlag, 1915,

17a.edição, 1012p.

JENNI, Ernst e WESTERMANN, Claus. Dicionário teológico manual del Antiguo

Testamento. Ediciones Cristiandad, Madrid, v.1-2, 1978 e 1985, v.1 1272 col.,

v.2 1328 col.

KIRST, Nelson e outros. Dicionário hebraico-português e aramaico-português. São

Leopoldo/Petrópolis, Sinodal/Vozes, 1989, 2a edição, 305p.

KOEHLER, Ludwig e BAUMGARTNER, Walter. Lexicon in Veteris Testamenti

libros. Leiden, E. J. Brill, 1958, 2a. edição, 1138p.

GRAMÁTICAS

BADILLOS, Angel Sanz. A history of the Hebrew language. Cambridge, Cambridge

University Press, 1993, 371p.

HOLLENBERG, Walther e BUDDE, Karl. Gramática da língua hebraica. São

Leopoldo, Sinodal, 1988, 6a edição, 484 p.

131

Page 132: o Novo Exodo

KAUTZSCH, E. Gesenius Hebrew Grammar. Oxford, Claredon Press, 1963, 2a

edição, 598p.

LAMBDIN, Thomas O. Introduction to biblical Hebrew. Charles Scribner’s Sons,

New York, 1971, 345p.

MEYER, Rudolph. Gramática del hebreo-bíblico. CLIE, Terrasa, 1989, 490p.

WEINGREEN, Jacob. Hebreu biblique. Paris, Beauchesne, 1984, 307p.

CONCORDÂNCIAS

LISOWSKY, Gerhard. Konkordanz zum Hebräischen Alten Testament. Deutsche

Bibelgesellschaft, Stuttgart, 1981, 1672p.

MANDELKERN, S. Veteris Testamenti concordantiae hebraicae atque chaldaicae.

Leiden, E. J Brill, 1926, 2a.edição, 1110p.

INTRODUÇÕES AO ANTIGO TESTAMENTO

BALLARINI, Teodorico. Introdução à Bíblia. v.2/3. Petrópolis, Vozes, 1977, 431p.

BENTZEN, Aage. Introdução ao Antigo Testamento - v.2. São Paulo, ASTE, 1974,

352p.

CHILD, Brevard S. Introduction to the Old Testament as Scripture. Philadelphia,

Fortress Press, 1989, 6a edição, 688p.

132

Page 133: o Novo Exodo

EISSFELDT, Otto. Introduzione all’Antico Testamento. Paidéia Editrice, Brescia,

4v., 1984, 682p.

GOTTWALD, Norman. Introdução sócio-literária à Bíblia Hebraica. São Paulo,

Paulinas, 1988, 651p.

GOTTWALD, Norman. A Light to the Nations. Harper and Brothers, New York,

1964, 417p.

MESTERS, Carlos. Por trás das palavras. Petrópolis, Vozes, 1984, 5a edição,

257p.

MESTERS, Carlos. Deus onde estás? Petrópolis, Vozes, 1987, 7a edição, 255p.

MESTERS, Carlos. Flor sem defesa. Petrópolis, Vozes, 1983, 206p.

RENDTORFF, Rolf. The Old Testament an Introduction. SCM Press, London,

1985, 308p.

RENDTORFF, Rolf. Composition of the Book of Isaiah in: Canon and Theology

Overture to an Old Testament Theology. Overtures to Biblical Theology.

Fortress Press, Minneapolis, 1993, 147-169p.

SCHIMDT, Werner H. Introdução ao Antigo Testamento. São Leopoldo, Sinodal/

IEPG, 1994, 395 p.

SELLIN, Ernest e FOHRER, Georg. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo,

Edições Paulinas, v-2, 1984, 2a edição, 461 p.

133

Page 134: o Novo Exodo

SOGGIN, José Alberto. Introduction to the Old Testament. SCM Press, London,

1984, 508p.

HISTÓRIAS DE ISRAEL

BEN-SASSON, Haim Hillel (editor). A history of the Jewish People. Weidenfeld and

Nicholson, London, 1969, 1170p.

DONNER, Herbert. Geschichte des Volkes Israels und seiner Nachbarn.

Vandenhoeck und Ruprecht, Goettingen, v-2, 1986, 511p. (tem tradução pela

Editora Sinodal).

ECHEGARAY, Joaquim Gonzáles. O crescente fértil e a Bíblia. Petrópolis, Vozes,

1995, 278p.

FOHRER, Georg. Storia d’Israel. Paideia Editrice, Brescia, 1986, 353p.

HAYES, John H. e HOOKER, Paul K. A New Chronology for the Kings of Israel

and Judah. John Maxwell. Israelite and Judean History. SCM Press, London,

1985, 304p.

NOTH, Martin. Historia de Israel. Ediciones Garriga, Barcelona, 1967, 429p.

SOGGIN, José Alberto. An introduction to the history of Israel and Judah, arranged

and rewriting, second edition. Trinity International Press, 1994, 474p.

WEBER, Max. Ancient Judaism. Macmillan Publishing Company, 1967, 483p.

134

Page 135: o Novo Exodo

WEBER, Max. The Sociology of religion. Methuen and Company, London, 1966,

308p.

DÊUTERO-ISAÍAS

ACROYD, Peter R. Exile and restoration. SCM Press, London 1968, 285p.

ACROYD, Peter R. Studies in the religion tradition of the Old Testament. SCM

Press, London, 1987, 305p.

BLEKINSOPP, Joseph. A history of prophecy in Israel. Westminster, Philadelphia,

1983, 298p.

CHILTON, Bruce D. The Glory of Israel the theology and provenience of the Isaiah

Targum. JSOTSS 23, Journal for the Study of the Old Testament Press,

Sheffield, 1984, 117p.

CONRAD, Edgard W. Reading Isaiah. Overture of Biblical Theology, Fortress

Press, Philadelphia, 1991, 185p.

DIETRICH, Walter. Jesaja und die Politik. Christian Kaiser Verlag, Muenchen,

1976, 328p.

ELLIGER, Karl P. Deuterojesaja in seinen Verhaeltnis zu Tritojesaja, Beiheft zur

Wissenschaft Alten und Neue Testament. W. Kohlhammer Verlag, Stuttgart,

1933, 307p.

FRANCKE, Chris. Isaiah 46; 47; 48. Eisenbrauns, Winona Lake, 1994, 293p.

135

Page 136: o Novo Exodo

HAAG, Herbert. Der Gottesknecht bei Deuterojesaja. Darmstadt,

Wissenschafthiche Buchgesellschaft, 1985, 195p.

HAYES, John H. e IRVINE, William. Isaiah. Abingdon Press, Nashville, 1987,

415p.

HOLLADAY, William. Isaiah. Pilgrim Press, New York, 1978, 270p.

HOOKER, Morna D. Jesus and the servant the influence of the servant of Deutero-

Isaiah in the New Testament. Society of Promotion for Christian Knowledge,

London, 1959, 225p.

KAISER, Otto. Der koenigliche Krnecht, Forschung zur Religion und literatur des

Alten und Neuen Testament. Goettingen, Vandenhoeck und Ruprecht, 1962, 2a

edição, 148p.

KNIGHT, Georg A.F. Deutero-Isaiah. Abingdon Press, Nashville, 1964, 279p.

MELUGIN, Roy F. The formation of Isaiah 40-55. Walter der Gruyter, Berlin e New

York, Beiheft zur Zeitschrift für die Alttestamentliche Wissenschaft, no.141,

1976, 185p.

NORTH, Christoph R. The Servant Suffering. Oxford University Press, Oxford,

1948, 235p.

NORTH, Christoph R. El libro de Isaias 40-55. La Aurora, Buenos Aires, 1960,

169p.

OATES,Joan. Babilônia, auge y declive. Martinez Roca, Madrid, 1989, 297p.

136

Page 137: o Novo Exodo

PARROI, Andre. Babylone et l’Ancien Testament. Delachaux, Paris/Neuchatel,

1956, 141p.

PAURITSCH, Karl. Die neue Gemeinde. Pontifício Instituto Bíblico, Rome, 1971,

274p.

PORUBCAN, Stefan. Il Patto Nuovo in Isaia 40-66. Pontifício Instituto Bíblico,

Rome, 1958, 330p.

PROPP, William Henry. Water in the wilderness. A Biblical motif and mythological

Background. Harvard Semitic Monograph 40, Scholars Press Atlanta, Georgia,

1987, 144p.

RAD, Gerhard von. Teologia do Antigo Testamento vol.2. São Paulo, ASTE, 1984,

2a edição, 466p.

SMART, James D. History and theology in second Isaiah. Westminster Press,

Philadelphia, 1965, 303p.

SCHWANTES, Milton. Das Recht der Armen. Beitraege zur biblischen Exegese

und Theologie, v. 4. Peter Lang, Frankfurt, 1977, 312p.

SCHIMITT, John J. Isaiah and his interpreters. Paulist Press, Mahwah, 1986,

137p.

SHREINER, Josef. O livro da escola de Isaías. in: Palavra e Mensagem. São

Paulo, Paulinas, 1978, p.210-136.

SEITZ, Cristopher R. Final destiny. Fortress Press, Minneapolis, 1991, 228p.

137

Page 138: o Novo Exodo

SEITZ, Cristopher R. Reading and preaching Isaiah. Fortress Press, Minneapolis,

1988, p.126.

STEINEMANN, Jean. O livro da consolação de Israel. São Paulo, Edições

Paulinas, 1976, 339p.

STUHLMUELLER, Carol. The Creative redemption in Deutero-Isaiah. Pontifício

Instituto Bíblico, Rome, 1970, 294p.

VERMELYEIN, Jacques. The book of Isaiah. Leuven University Press, Leuven,

1989, 476p.

VERMELYEIN, Jacques. Isaie. v.1-2, Gabalda, Paris, 1977, 821p.

VIRGULIN, Stephanus. O Dêutero-Isaías in: Problemas e perspectivas das

Ciências Bíblicas. São Paulo, Loyola, 1994, p.223-244.

WHYBRAY, R.N. Thanksgiving for a liberating Prophet. Journal for the Study of the

Old Testament Supplement Series v.4, JSOT, Press Sheffield, 1978, 184p.

WHYBRAY, R.N. Isaiah 40-66. New Century Bible, Oliphants, London, 1975, 298p.

WESTERMANN, Claus. Sprache und Struktur der Prophetie Deuterojesaja, in:

Forschung am Alten Testament vol.I . Christian Kaiser Verlag, Muenchen,

Theologische Buechrei, v.24, 1964, p.92-170.

WILLIAMSON, H.G.M. The Book Called Isaiah, Deutero-Isaiah’s role in

composition and redaction. Claredon Press, Oxford, 1994, 306p.

WISEMAN, D.J. Nebuchdrezzar and Babylon. British Museum and Oxford

University Press, Oxford, 191, 3a edição, 152p.

138

Page 139: o Novo Exodo

O EXÍLIO

BEAUCAMP, Evode. Le livre de la consolation d’Israel. CERF, Paris, 1991, 255p.

CARROLL, Robert P. After the fall, exiles and “exiles”. In: From chaos to covenant.

SCM Press, London, 1981, p.226-248.

CARROLL, Robert P. Isaiah Tradition. In: When prophecy Failed. Reaction and

responses to failure in the Old Testament Profetic traditions. SCM Press,

London, 1979, p.130-156.

EPH’AL, Israel. The ancients Arabs. Magnes Press, Jerusalem, 1982, 265p.

HERMANN, Siegfried. Prophetie und Wirklichkeit in der Epoche des babylonischen

Exils. Arbeiten zur Theolgie, v.32, 1967, Calwer Verlag, Stuttgart, 31p.

HOLLADAY, William L. Isaiah, Scrolls of a Prophetic Heritage. The Pilgrim Press,

Cleveland, Ohio, 1978, 270p.

JANSSEN, Enno. Juda in der Exilzeit. Forschung zur Religion und Literatur des

Alten und Neuen Testament, vol. 69, Vandenhoeck und Ruprecht, Goettingen,

1956, 124p.

KLEINE, Ralph. Israel no exílio, uma interpretação teológica. São Paulo, Edições

Paulinas, 1990, 175p.

NEWSONE, James D. By the waters of Babylon. T. and T. Clark, Edinburgh, 1980,

176p.

139

Page 140: o Novo Exodo

ODED, Bustenary. Mass deportation and deportees in New Assyrian empire.

Harrassowitz, Wiesbaden, 1979, 150p.

RAITT, Thomas. A theology of exile. Fortress Press, Philadelphia, 1977, 271p.

O ÊXODO E O NOVO ÊXODO

ANDERSON, Bernhard W. Exodus Tipology in second Isaiah. in: Bernhard W.

Anderson e Walter Harrelson. Israel’s Prophetic Heritage. Harper and Brothers,

New York, 1962, p.177-195.

BEAUDET, Roland. La Typologie de l’exode dans le second Isaie. Etudes

Theologiques, v-2, Presses de l’Universite de Laval, Quebec, 1963, p.11-21.

BLEKINSOPP, Joseph. Alcance e profundidade da tradição do êxodo no Dêutero

Isaías. Is 40-55. in: Revista Concilium, v.10(1966), Livraria Morais,

Lisboa/Recife, 1966, p.37-46

WIENER, Claude. O Dêutero-Isaías, o profeta do novo êxodo. Cadernos Bíblicos,

v.7., Paulinas, São Paulo, 1984, 2a edição, 83p.

WIENER, Claude. O êxodo de Moisés. Loyola, São Paulo, 1984, 149p.

WEILER, Anton / IERSEL, Bas van (editores). Êxodo, paradigma sempre atual.

Revista Concilium, v.209, (1987). Petrópolis, Vozes, 1987, 144 p. (A revista é

composta de artigos sobre o tema do Êxodo e a atualidade, os ensaios

utilizados são: Rita Burns. O livro do êxodo p.13-24; Erich Zenger. O Deus do

140

Page 141: o Novo Exodo

Êxodo nas mensagens dos profetas p.25-37; J. Casey. O tema do êxodo no

livro do Apocalipse tem como pano de fundo o Novo Testamento, p.38-47).

ZIMMERLI, Walter. Il nuovo esodo. In: Rivelazione di Dio, Editrice Jacca Book,

Milano, 1975, p.175-185.

O DÊUTERO-ISAÍAS E O ÊXODO NA PERSPECTIVA LATINO-AMERICANA

DOBBERAHN, Friedrich Erich. Experimentum crucis, um estudo sobre a

identidade, projeto político-social e destino de um escravo deportado em 587/6

a.C., para a Babilônia. In: Estudos Teológicos, São Leopoldo, 1989, v.29, no. 3,

p.295-312.

MESTERS, Carlos. A missão do povo que sofre: os cânticos do Servo de Deus no

livro do profeta Isaías. Petrópolis/Belo Horizonte, Vozes/CEBI, 1981, 194p.

MOSCONI, Luis. E todas as árvores baterão palmas (Is 55,12). In: Estudos

Bíblicos, 38, Petrópolis/São Leopoldo, Vozes/Sinodal, 1993, p.48-52.

SCHWANTES, Milton. Sofrimento e esperança no exílio. História e teologia do

povo de Deus no século VI a.C. São Leopoldo / São Paulo, Sinodal/Paulinas,

1987, 134p.

SCHWANTES, Milton (organizador). A memória popular do êxodo. Estudos

Bíblicos, v.16, Petrópolis, Vozes, 1988 (a revista trata do tema do êxodo numa

ótica popular. Os artigos usados são: Milton Schwantes. O êxodo como evento

popular, p.9-18; Carlos Artur Dreher. As tradições do Êxodo e do Sinai, p.52-68;

Sandro Galazzi. Êxodo 3 e o profetismo camponês, p.69-75), 84p.

141

Page 142: o Novo Exodo

ZABATIEIRO, Júlio Paulo Tavares. Servos do império, uma análise da servidão no

Dêutero-Isaías. In: Estudos Bíblicos, v.18, Editora Vozes, Petrópolis, 1988,

p.37-43.

142