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O Ofício da História Profº Me. Ubiratã F. Freitas O Ofício da História Profº Me. Ubiratã F. Freitas APOSTILA DE HISTÓRIA 1º ANO ENSINO MÉDIO

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O Ofício da História Profº Me. Ubiratã F. Freitas

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O Ofício da História

Profº Me. Ubiratã F. Freitas

APOSTILA DE HISTÓRIA

1º ANO

ENSINO MÉDIO

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O Ofício da História Profº Me. Ubiratã F. Freitas

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O Ofício da História Prof. Ubiratã F. Freitas

SUMÁRIO

Aula 01 .............................................................................

Aula 02 .............................................................................

Aula 03 .............................................................................

Aula 04 .............................................................................

Aula 05 .............................................................................

Aula 06 .............................................................................

Aula 07 .............................................................................

Aula 08 .............................................................................

Aula 09 .............................................................................

Aula 10 .............................................................................

Aula 11 .............................................................................

Aula 12 .............................................................................

Aula 13 .............................................................................

Aula 14 .............................................................................

Aula 15 .............................................................................

Aula 16 .............................................................................

Aula 17 .............................................................................

Aula 18 .............................................................................

Aula 19 .............................................................................

Aula 20 .............................................................................

Aula 21 .............................................................................

Aula 22 .............................................................................

Aula 23 .............................................................................

03

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Aula 01

História – 1º Ano Ensino Médio

INTRODUÇÃO A HISTÓRIA

As Origens do Homem

Introdução

As vivências humanas expressam o contexto histórico de cada época. O estudo do passado e a

compreensão do presente não se relacionam de forma determinista; as “soluções de ontem” não servem para

os problemas de hoje. Sem um processo de recriação que considere mudanças e permanências históricas, as

experiências do passado não podem ser aplicadas no presente, mas podem ser analisadas para formar um

futuro melhor.

A palavra História

Historien – no grego antigo “procurar saber”, “informar-se”. Então história significa procurar.

(Jacques Le Goff).

História – Uma palavra polissêmica possui diversos significados como:

- História ficção, livros de aventura, novelas de televisão, filmes, etc.

- História processo vivido, as lutas e sonhos, alegrias e tristezas de uma pessoa ou de um grupo social fazem

parte de sua história.

- História conhecimento. A produção de um conhecimento que procura entender como os seres humanos

viveram e se organizaram desde o passado mais remoto até os dias de hoje. Um saber preocupado em

desvendar as historicidades das vivências humanas.

Tempo e História

A compreensão das relações entre passado e presente é uma das mais intrigantes questões da

história. “A escrita da história não pode ser isolada de sua época”. O historiador vive seu tempo; a história

que ele escreve está ligada à história que ele vive – tempo presente. O historiador trabalha para seu tempo

não para a eternidade.

Historiografia

É o processo de escrita da história presente, ou seja, o que o historiador escreve sobre os fatos

históricos que se apresentam, dentro de sua compreensão. A história, como forma de conhecimento, é uma

atividade continua de pesquisa.

O historiador investiga e interpreta as ações humanas que, ao longo do tempo, provocaram

mudanças e continuidades em vários aspectos da vida pública ou privada: na economia, nas artes, na

política, no pensamento, nas formas de ver e sentir o mundo, no cotidiano, na percepção das “diferenças”.

Origem Humana

Diferentes sociedades têm dado várias respostas para questão do surgimento do ser humano na

Terra. Nesse caso, surgiram duas versões do aparecimento do homem na terra; o Criacionismo e o

Evolucionismo.

- Criacionismo, parte do princípio da criação de Deus, sendo o grande criador de tudo que hoje conhecemos,

criando o homem a imagem de deus, distinguindo-o dos outros animais por sua espiritualidade.

- Evolucionismo, parte de um princípio que o homem surgiu na Terra, a partir de um ancestral, em um

processo evolutivo e adaptação ao meio onde vive, onde a seleção natural faz a diferença pela luta pela

sobrevivência.

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Pré-História

É a parte da história que estuda os vestígios dos primeiros homens que originaram a espécie

humana – na visão evolucionista. As disciplinas que estudam a pré-história são a Paleontologia Humana e a

Arqueologia Pré-Histórica.

- Paleontologia Humana, estuda os fósseis dos corpos dos seres humanos pré-históricos, como ossos, dentes,

e partes mais resistentes que se preservam no de correr dos anos.

- Arqueologia Pré-Histórica, estuda os objetos feitos pelos humanos pré-históricos, procurando descobrir

como vivam, a partir de sua produção de utensílios como instrumentos de pedra, cerâmica e sepulturas. Ou

seja, a sua cultura material.

- A Pré-História está dividida em dois períodos: o Paleolítico e Neolítico.

- O Paleolítico está dividido em três períodos, sendo eles:

- Paleolítico Inferior,

- Paleolítico Médio,

- Paleolítico Superior.

Essa subdivisão do Paleolítico se dá o desenvolvimento da espécie humana, onde toda sua evolução

caracteriza a sobrevivência da espécie. O período Neolítico vai se caracterizar pela manifestação da

produção e apropriação do homem a Terra.

Hominídeos

Cientistas chamam de Hominídeos a família biológica da qual possivelmente fazem parte os seres

humanos atuais e seus parentes ancestrais. Os primeiros fósseis humanos mais antigos foram encontrados na

África, se ramificando para outras regiões da Terra como Europa, Ásia, Austrália e América.

Em processo de evolução um dos Hominídeos que se desenvolveu com características humanas foi

o Australopithecus – termo que significa macacos dos sul – viveram na África por volta de 4milhões de

anos. Teve um desenvolvimento que originou cinco tipos de Australopitecos:

Período Paleolítico Inferior

Australopithecus Robustos

Australopitecos Afarensis

Australopithecus Africanus

Australopithecus aethiopicus

Australopithecus Bosei

Por volta de 2 milhões de anos, a árvore da família dos hominídeos apresentava dois ramos

principais: Australopithecus que se extinguiu a cerca de 1 milhão de anos; e o gênero Homo, que chegou ao

homem atual.

O desenvolvimento do homem se da seguinte forma:

Período Paleolítico Médio

- Homo Hábilis – homem habilidoso – viveu há 2 milhões de anos na África tinham um volume cerebral em

torno de 700 cm³. Sua característica está na alimentação, além de vegetais acrescentou a carne.

- Homo Erectus – Viveram na África por volta de 1,7 milhões de anos a 300 mil anos e dispersou-se pela

Europa e Ásia, tinha cerca de 900 cm³ de volume cerebral. Tornou-se onívoros – vários tipos de alimentos -.

Foi à primeira espécie a produzir instrumentos de pedra com um padrão definido, caça sistemática e

utilização do fogo.

- Homo Neanderthalensis (homo sapiens primitivo) – viveram aproximadamente 135 mil até 34 mil anos,

viveu na Europa, Ásia e Oriente próximo. Sua capacidade cerebral é de 1400 cm³ e altura de 1,67, com um

biótipo mais forte que o homo habilis e erectus. Desenvolveram vários instrumentos de pedra, como facas,

raspadores, pontas de lanças, onde na confecção desses objetos, é possível verificar um controle das mãos e

organização precisa de trabalho. Para alguns pesquisadores, esse homo já possuía língua falada e preservava

sua comunidade, conserva também ritual e sepultamento.

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Período Paleolítico Superior

- Homo sapiens sapiens – viveu na África, Ásia, Europa e migrou par América. Viveu aproximadamente há

40 mil anos, dando o formato do que somos hoje, com um volume cerebral de 1350 a 1400 cm³. Suas

principais características são o desenvolvimento da consciência reflexiva, da linguagem falada e escrita, da

técnica, da capacidade de expressão artística, do senso de moralidade.

Período Neolítico A partir dos 1000 a.C. os grupos Homo sapiens sapiens, passam de um processo de caçador e

coletor, há produtor de alimentos, causando uma grande transformação em sua forma de vida. Praticaram

agricultura, a domesticação e criação de amimais organizaram os primeiros núcleos urbanos. Etc.

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Aula 02

História – 1º Ano Ensino Médio

A Herança Cultural das Civilizações Antigas Orientais

Introdução

A Mesopotâmia abrigou as primeiras sociedades conhecidas, por volta do IV milênio antes de Cristo.

O nome Mesopotâmia significa ‘terra entre dois rios’ foi atribuído à região pelos antigos gregos, dadas a sua

localização entre os rio Tigre e Eufrates, ou seja, essa região ficou conhecida pela historiografia como “O

Crescente Fértil”. Atualmente, na maior parte antiga da Mesopotâmia localiza-se o Iraque, onde existem

mais de 10 mil sítios arqueológicos, são fontes de estudos para se conhecer a história dos povos

mesopotâmicos.

As primeiras civilizações

A prática da agricultura e da pecuária aconteceu em vários locais diferentes do mundo. A

importância das atividades agrícolas pode ser exemplificada pelo fato de que, até o século VI a.C., não havia

moeda cunhada na economia mesopotâmica. A cevada e alguns metais, como prata e o cobre, eram

utilizados como padrão de valor nas trocas comerciais.

Principais povos

Na região mesopotâmica viveram diferentes povos: sumérios, acádios, babilônicos, assírios e

caldeus. Ao longo da história, esses povos confrontaram-se em vários momentos. Grupos nômades e

seminômades, das montanhas ou do deserto, atacavam as populações sedentárias que viviam nos vales e nas

planícies, onde havia terras férteis para plantar e para criar rebanhos.

Transformações sociais

A Mesopotâmia foi uma das primeiras regiões do mundo em que ocorreu a chamada “revolução

agropastoril”. O desenvolvimento da agricultura e da pecuária foi modificando a forma como os grupos

humanos se organizavam. Alguns deles começaram a controlar a produção de alimentos, permaneciam mais

tempo nos lugares que ocupavam, passando a formar aldeias agrícolas e pastoris.

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Na agricultura destacam-se os cultivos de cavada (produção d pão), trigo, linho (confecção de

tecidos), sésamo (gergelim, usado para extração de óleo para alimentação e iluminação), tâmaras, legumes,

etc. Na pecuária, criavam-se ovelhas, cabras, porcos, bois e asnos.

Sociedades do Oriente Próximo

Primeiras cidades

Algumas aldeias mesopotâmicas deram origem às primeiras cidades, como Ur, Uruk, Nippur, Kirch,

Lagash e Eridu, por volta de 4 mil anos atrás. Formavam aglomerações com várias construções (casa,

templos, ruas, pontes, palácios) eram geralmente cercadas por muralhas, visando a sua proteção.

Essas cidades continuavam muito ligadas à vida rural, misturando o espaço urbano com áreas de

plantações ou pastoreio. No entanto, nas cidades surgiu um grande número de novos ofícios: carpinteiros,

ourives, cortadores de pedra, ceramistas, pedreiros, tecelões e comerciantes. O possível surgimento das

cidades é que o aumento da população nas aldeias toraram-se necessárias novas formas de organização de

trabalho, da justiça, da religião, e da segurança dos habitantes e bens econômicos.

Centro de poder: os templos

Os povos da mesopotâmia eram politeístas, adoravam diversos, onde muitos eram relacionados com

a natureza. As cerimônias religiosas eram dirigidas por um sacerdote, e era dividida em corporações que se

dedicava a um determinado deus. As cidades tinham um deus protetor, que possuía um templo em sua

homenagem.

Um rico patrimônio formado a partir das oferendas, os templos tinham um poder econômico a partir

de um rico patrimônio em terras, rebanhos, plantações e oficinas artesanais, desenvolviam um ativo

comércio com regiões vizinhas. Desenvolveram um sistema de escrita e numeração para controlar as

economias e produção de alimentos.

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Escrita: código de registrar a fala A fala e a memorização tornaram-se insuficiente para dar conta de inúmeros dados da vida cotidiana

nas sociedades mesopotâmicas; pois não era mais confiável a memória somente a memória para registrar

transações comerciais e econômicas.

Com a necessidade de registrar as transações financeiras e econômicas, foi desenvolvida uma forma

de registro, através de sinais e símbolos, a escrita, em uma forma de linguagem verbal que pudesse ser

fixada, entendida e transmitida pelos outras pessoas.

A escrita dos Sumérios é o mais antigo registro encontrado no mundo e é conhecida como

cuneiforme, pois era produzida em tabua de argila com um estilete em forma de cunha.

Normas para convivência social – o código Hamurabi

Foi na Mesopotâmia que se desenvolveram os primeiros “códigos jurídicos” escritos. Entre os mais

antigos está o de Hamurabi – rei da Babilônia – que formou um código com 280 artigos, com normas sobre

diversos temas. Em grande parte, essas normas foram recolhidas das sociedades da Mesopotâmia; mas ao

organizá-la num código, reafirmou a importância da função do rei como um ordenador da vida social.

Antiguidade Oriental: Características Gerais

De uma maneira geral, os estudiosos são absolutos em apontar a região do Crescente Fértil como

aquela na qual se desenvolveram algumas das primeiras civilizações humanas, mais precisamente a egípcia e

a mesopotâmica.

A partir de, aproximadamente, 4000 a.C., núcleos urbanos estavam se constituindo, as estruturas

sociais das antigas comunidades já estavam em processo de dissolução e poderosos Estados eram

organizados. Ao mesmo tempo, os primeiros sistemas de escritas (hieroglífica no Egito Antigo e cuneiforme

na Mesopotâmia) eram desenvolvidos, e grandes obras de engenharia começavam a ser construídas.

De maneira geral, as sociedades da Antiguidade Oriental apresentavam as seguintes características:

- produção de um significativo excedente agrícola necessário para garantir a subsistência de funcionários

públicos, militares, sacerdotes, comerciantes e artesãos especializados;

- expansão da atividade comercial necessária para garantir o abastecimento de matérias-primas essenciais

que não existiam nas regiões em que se desenvolveram essas civilizações;

- controle absoluto da economia por parte de um Estado fortemente centralizado;

- crença no caráter divino dos monarcas;

- existência de religiões politeístas com divindades representadas com a forma de homens, animais ou com

corpo humano e a cabeça de animal (antropozoomorfismo);

- desenvolvimento de expressivos conhecimentos no campo da matemática, da engenharia, da astronomia, da

medicina, etc.;

- construção de grandes obras arquitetônicas caracterizadas pela monumentalidade

Assim como em outras civilizações da Antiguidade Oriental, também no Egito Antigo verificou-se o

predomínio das atividades agrícolas, embora uma expressiva indústria artesanal também tenha se

desenvolvido, responsável pela produção de tecidos, tijolos, artigos de couro, cerveja, armas, ferramentas,

utensílios domésticos, joias, etc. Por essa razão, na base da pirâmide social existia uma maioria absoluta de

trabalhadores, incluindo camponeses, submetidos a trabalhos forçados e obrigados a pagar tributos ao

Estado.

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Mapa do Egito e Mesopotâmia – Oriente Próximo

O filosofo alemão Friedrich Engels em sua obra A Origem da Família, da Sociedade privada e do

Estado, faz menção sobre a questão do escravismo primitivo que se tornou uma constante ação na vida do

homem, levando em conta mecanismos que levaram o próprio homem a se tornar uma ‘mercadoria’,

revelando a gênese do escravismo antigo.

“Numa fase bastante primitiva do desenvolvimento da produção, a força de trabalho do homem se

tornou apta para produzir consideravelmente mais do que era preciso para a manutenção do produtor. Essa

fase de desenvolvimento é, no essencial, a mesma em que nasceram a divisão do trabalho e a troca entre

indivíduos. Não se demorou muito a descobrir a grande ‘verdade’ de que também o homem podia servir de

mercadoria, de que a força de trabalho do homem podia chegar a ser objeto de troca e consumo, desde que

o homem se transformasse em escravo. Mal os homens tinham descoberto a troca e começaram logo a ser

trocados, eles próprios. O ativo se transformara em passivo, independentemente da vontade humana.”

(ENGELS, Friedrich. A Origem da Família, da Sociedade privada e do Estado. São Paulo: Global, 1984, p.

86.).

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Aula 03

História 1º Ano Ensino Médio

O Escravismo na Antiguidade Clássica: Grécia

A expressão Antiguidade Clássica faz referência ao grande significado atribuído à civilização greco-

romana, cuja importância histórica foi resgatada no contexto do Renascimento durante os séculos XV e XVI

pelos humanistas. Para eles os valores culturais greco-latinos, considerados de alta qualidade, portanto

clássicos (expressão origem latina associada àquilo que é considerado excelente), estavam na gênese

histórica do mundo ocidental. A história da Grécia Antiga pode ser dividida em vários períodos que tiveram

características específicas. Observe a linha do tempo nos quais estes vários períodos são representados.

2000 a.C. 1200 a.C. 800 a.C. 500 a.C. 338 a.C. 145 a.C.

Período

Creto-Micênico

Período

Homérico

Período

Arcaico

Período

Clássico

Período

Helenístico

Estendeu-se do ano

2000 a 1200 a.C.

tendo como um dos

seus símbolos o

Palácio de Cnossos.

É marcado pelo

seguimento dos

genos, grupos

familiares que

viviam em aldeias

camponesas com

maior autonomia.

Caracterizado pelo

surgimento das

polis (Cidades-

Estados) que

diferentemente das

cidades atuais,

tinham total

autonomia política.

Esse período foi

marcado também

pela expansão

grega no

Mediterrâneo e

colonização de

várias regiões.

Consolidaram-se

os conceitos de

cidadania e

democracia em

diversas cidades-

Estados gregas.

Esse período foi

marcado também

pelas guerras

entre gregos e

persas e, no

século V a.C.

entre 431 e 404

a.C.

Mascado pelo

domínio da

Macedônia

(pequeno reino

localizado ao Norte

da Grécia) sobre o

mundo grego e pela

formação da

cultura helenística,

resultante da fusão

de elementos da

cultura grega com

as culturas

orientais, iniciou-se

em 338 a.C. e

estendeu-se até a

dominação romana

(145 a.C.).

O mundo grego transcendeu os limites geográficos da Grécia na atualidade. Aliás, o próprio conceito

de ‘grego’ na Antiguidade era bastante diferente do que é corrente nos dias de hoje. De acordo com o senso

comum, acredita-se que a Grécia Antiga era um ‘país’, assim como os que existissem na atualidade. Porém,

esse conceito seria estranho no mundo grego da Antiguidade. Afinal, eram considerados gregos aqueles que

se identificavam como tal, isto é, falavam a mesma língua, tinham tradições comuns, acreditavam ter uma

ascendência também comum, cultuavam os mesmos deuses, embora cada pólis tivesse o seu próprio deus da

cidade (ou deusa) protetor, e tinham, portanto, uma identidade cultural específica.

No final do Período Arcaico (do século VIII a.C. ao século a.C.) que, em diversos momentos e em

várias regiões da Grécia (Continental, Peninsular e Insular), surgiram e se multiplicaram as pólis.

Diferentemente das cidades contemporâneas, a pólis era autônoma, isso é, gozava de uma total

independência, tendo suas próprias leis, moeda, força militar, organização política e deuses protetores.

O conceito do que era ser grego na Antiguidade ganhou maior complexidade com a expansão

colonial, uma vez que, a partir desse momento, eles passaram a se autodenominar helenos, isto é, habitantes

da Hélade, ou seja, do mundo grego. Assim, onde houvesse gregos, lá estava à Grécia, presente, portanto,

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nas várias colônias fundadas tanto no litoral do Mar Negro quanto no sul da Itália (Magna Grécia) ou litoral

sul da atual França.

A expansão colonial provocou inúmeras transformações no mundo grego, dentre as quais se

destacam:

Uma intensa relação comercial entre as colônias fundadas e as “Cidades-Estados”;

A produção de excedentes, tanto na agricultura quanto na indústria artesanal, destinados à

exportação;

O surgimento de um novo grupo social formado por comerciantes enriquecidos que passaram

a rivalizar com os amigos eupátridas, isto é, os ‘bem-nascidos’, tradicionais proprietários das

melhores terras e que, no período anterior (Homérico), haviam dominado a vida política que

se organizava em torno dos genos (grande família grega);

Desenvolvimento de uma economia crescente monetária, com a utilização inicialmente de

moedas de cobre, mais tarde, de prata (a unidade monetária era chamada de dracma);

Difusão da cultura grega e da visão de mundo dos antigos helenos, fortalecendo sua

identidade cultural e definindo com mais clareza, tanto para eles próprios quanto para os

outros, o significado do ideal da Paideia, expressão utilizada para designar a formação

integral do homem, tanto no plano físico quanto no plano intelectual;

Expansão da vida urbana em função do crescimento do artesanato e da atividade comercial;

Início de uma série de reformas em função das pressões dos grupos sociais emergentes que

exigiam maior participação política, no limite, em muitas das pólis essas reivindicações

contribuíram para o aparecimento de regimes políticos nos quais todo o demos, isto é, o povo

participava;

Surgimento, no final do período, da democracia em algumas pólis, com destaque para Atenas,

que se tornou o modelo clássico da demokratia.

O mundo do trabalho e a escravidão

Foi também no contexto da expansão colonial, mais precisamente a partir do Período Clássico

(século V e IV a.C.), que a escravidão – existente anteriormente em pequena escala – tornou-se a forma de

trabalho hegemônica no mundo grego, embora a mão de obra livre, sobretudo na agricultura, continuasse a

ter um peso expressivo na economia.

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É interessante observar também que, a partir dessa época, muitas atividades produtivas, sobretudo

aquelas nas quais se exigia grande esforço físico, passaram a ser vistas como desprezíveis pelos homens

livres. Estes, cada vez mais, cultuavam a ociosidade, percebida como “irmã da liberdade”. O filósofo Platão,

no século VI a.C., afirmava que “é próprio de um home m bem nascido desprezar o trabalho”, enquanto seu

discípulo, Aristóteles, refletindo o pensamento dominante entre os homens livres, sugeria que “o privilégio

do homem livre não é a liberdade, mas a ociosidade, que tem por complemento o trabalho forçado dos

outros, isto é, a escravatura”.

Em muitas pólis, sobretudo aquelas nas quais a indústria artesanal e a atividade comercial eram

muito expressivas, a população escrava chegou a ser maior que a população livre. No século V a.C.,

estudiosos apontam um total de 140 mil escravos em Atenas, numa população de 250 mil habitantes.

Considere ainda que até mesmo o Estado possuía escravos que trabalhavam nas obras públicas em

diversos ofícios como: segurança, limpeza de ruas, construções de obras, extração mineral, etc. também

outra origem da escravatura era o não pagamento de dívidas ao estado e grandes proprietários comerciais.

Durante o Período Clássico, a escravidão tornou-se uma importante fonte de renda para investidores

que adquiriam escravos e os alugavam para particulares ou até mesmo para o Estado, auferindo com essa

atividade grandes lucros. Nesse período (Clássico) que a organização da produção com base no trabalho

escravo atingiu seu momento máximo. Este período coincidiu com uma série de guerras entre gregos e

persas que se estenderam do ano 500 a.C. ao 479 a.C.. Nas origens dessa série de conflitos encontram-se o

choque entre a expansão grega na Ásia Menor, na qual diversas colônias haviam sido fundadas (Bizâncio,

Mileto, Êfeso, etc.) e as pretensões do Império Persas sobre a mesma região.

As vitórias sobre os persas garantiu a autonomia das pólis, reforçou a identidade cultural helênica,

garantiu um aumento do número de escravos na economia grega. Ao mesmo tempo, a disseminação da

escravidão provocou significativas mudanças no interior das sociedades das diversas pólis, além de

enriquecer algumas delas, sobre tudo Atenas que, a partir de então, se impôs no mundo grego.

A hegemonia ateniense foi reforçada com a criação da Liga de Delfos, um conjunto de pólis que

haviam se unidos contra os persas e que, após o conflito, continuaram contribuindo com recursos financeiros

que eram administrados por Atenas.

Nesse contexto, acentuaram-se as rivalidades entre as pólis, e algumas delas, com governos

oligárquicos, formaram a Liga do Peloponeso, sob a liderança de Esparta, com o claro objetivo de se

contrapor à influência ateniense. Assim o precário equilíbrio que havia entre as cidades se rompeu e, entre

431 a.C e 404 a.C., o mundo grego mergulhou na Guerra do Peloponeso, vencida pelo conjunto de cidades

liderado por esparta.

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O Ofício da História Profº Me. Ubiratã F. Freitas

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Durante o período Helenístico, que se estendeu do século IV a.C. até o século II a.C., o mundo grego,

fragilizado por guerras e pelos conflitos sociais internos nas pólis que comprometeram a economia, acabou

sendo dominado por um novo poder político e militar emergente: a Macedônia, reino que ficava ao norte da

Grécia. Embora falassem uma língua semelhante ao grego e acreditassem que tinham ancestrais comuns, os

macedônios, sob a liderança do rei Felipe II, dominaram, em 338 a.C., as cidades gregas, que perderam sua

tradicional autonomia.

Com a ascensão de Alexandre, filho de Felipe II, iniciou-se a formação de um vasto império, que

incorporou territórios até então pertencentes aos persas, inimigos comuns de gregos e macedônios. As

conquistas de Alexandre foram muito rápidas. Formou um dos maiores impérios da Antiguidade, porém com

curta duração e que, após a sua morte, terminou se fragmentando.

No século II a.C. o mundo grego e a Macedônia foram incorporados a um novo império político e

militar que surgia e se firmou no Mediterrâneo: Roma.

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Aula 04

História – 1º Ano Ensino Médio

África: O berço da humanidade

O “lugar” dos áfricos imposto pela história européia: ao longo da história ocidental, os africanos

foram conquistados, escravizados, inferiorizados e estigmatizados pelo preconceito racista. O milenar tráfico

de escravos rendeu fortunas a algumas elites econômicas e muita miséria, exploração e sofrimento a dezenas

de milhões de africanos. Como foi efetivado este lamentável quadro da história africana? Que heranças

deixaram?

A história tradicional do Ocidente, marcada por uma visão eurocentrista, quase sempre tratou como

não relevante à história de outras regiões. Esse olhar, que tem subordinado e diminuído a importância de

outros povos e que apresenta a Europa como eixo do movimento evolutivo, foi impulsionada desde a

Antiguidade, época em que a região mediterrânea era definida como o centro do mundo. A África, desde

então, passou a ser vista como distante, como a região dos “homens de faces queimadas” Daquele período

até o final da Idade Média, especialmente com a religiosidade cristã medieval, ganhou impulso a associação

da cor negra ao pecado e ao demônio, firmando a visão preconceituosa em relação aos povos africanos.

A ideia da supremacia européia e consequente inferioridade de outras culturas, especialmente as

africanas, consolidaram-se durante a Idade Moderna, quando a Europa passou a centralizar o poder

econômico, politico e militar mundial. Para respaldar essa “inferiorização” da África, apontado então como

região do mal, no livro do Gênesis, Noé, amaldiçoou seu filho e toda sua geração futura. Pelo livro bíblico, e

lenda, diz que os filhos de Cã foram morar em uma região que o sol brilhava muito, queimando sua pele e

tornando-os negros.

Por séculos prevaleceu à mentalidade de enquadramento de inferioridade dos africanos num grau da

escala evolutiva, a mesma que classificava vários povos em avançados ou atrasados ou civilizados e

primitivos. Impunha-se a ideia de que o homem africano era incapaz de produzir cultura e história,

argumento que serviu aos escravagistas e aos imperialistas do século XIX, que, alias, utilizaram o discurso

justificador de “civilizar” a África.

A Matriz Africana de Todos os Homens

Ao contrário do que pregava essa visão estereotipada das populações e da cultura africana, o

continente foi palco de uma ampla e complexa diversidade histórica, que começa com os primórdios da

humanidade. Na África, na região que atravessa a Etiópia, o Quênia e a Tanzânia, foram encontrados antigos

fósseis de ancestrais humanos, como os fósseis do Australopitecos, Homo habilis, Homo erectus, que

viveram no continente africano desde 7 milhões a 2 milhões de anos a.C.. Ali viveram, portanto, diversas

linhagens paralelas de nossos ancestrais, que se entrelaçaram até desenvolver o homem moderno, que teve

sua evolução para a atualidade com uma variação entorno de 500 mil anos para o processo evolutivo do

Homo sapiens sapiens atual.

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As Áfricas

Os meios de comunicação muitas vezes nos apresentam uma série de generalizações a respeito da

África. São frequentes as notícias sobre crises e guerras, mas nem sempre se especificava a área ou país que

ocorreram esses fatos. O desconhecimento da região leva a falsa impressão de que o continente africano é

um único bloco.

Ao observar o meio natural, as formações politicas, as manifestações culturais e os diferentes níveis

de contato com outras regiões do planeta, percebe-se que a África apresenta multiplicidade geográfica,

histórica, política, sociocultural e étnica.

Ao Norte e ao Sul do Saara

A geografia africana é marcada pelo deserto do Saara. Ele divide o continente africano em duas

grandes “África”: a mediterrânea (ao norte) e a subsaariana (ao sul). O deserto é essencial para a

compreensão dos processos históricos e culturais do continente africano, pois é uma barreira natural que

dificulta o contato entre os grupos de ambos os lados. A pesar de escassos, existiram contatos entre essas

regiões ao longo da história, impulsionados principalmente pelos grupos nômades do Saara.

A porção noroeste da África (Mauritânia, Marrocos, Argélia, Tunísia, Saara Ocidental e Líbia) é

chamada de Magrebe. Os povos dessa região, conhecidos, em geral, como berberes, tiveram influência dos

povos do Mediterrâneo, como os fenícios, gregos, romanos, germânicos e árabes. Já a região ao sul do Saara

permaneceu mais isolada. Espalhados por florestas, savanas e estepes, os diversos se comunicavam

principalmente por meio do comércio. Na região ocidental, próximo aos rios Senegal e Níger, as trocas

envolviam ouro, peles, artesanato e escravos, e as mercadorias comercializadas eram transportadas até as

rotas das caravanas saarianas. Outras atividades também foram desenvolvidas como a agricultura, caça,

pesca e o pastoreio. A metalurgia também teve importante desenvolvimento que repercutiu no

desenvolvimento de técnicas agrícolas mais efetivas para a subsistência.

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Os Estados Africanos Entre os séculos V e XVII, desenvolveram-se várias formações políticas na África Subsaariana.

Havia desde impérios até pequenas aldeias. A sedentarização desses grupos tem relação com sua atividade e

localização geográfica. O domínio da metalurgia e o desenvolvimento da agricultura nas regiões próximas a

rios favoreceram a fixação das comunidades.

Os Clãs constituíam o modo de organização política mais simples. Seus membros, divididos em

famílias, reconheciam um ancestral comum e vivia sob a autoridade de um chefe eleito, geralmente um

membro mais velho. A função do chefe era zelar pela distribuição justa dos ganhos e das tarefas, além de

garantir a segurança do Clã.

Quando as ladeias se agrupavam, seja por aliança ou por relações de parentesco, formavam-se os

reinos, governados por um rei e por um conselho. O soberano contava também com um corpo de burocratas

e com soldados, sendo, ao mesmo tempo, chefe político e líder religioso. Algumas sociedades também se

organizavam em cidades, geralmente fortificadas e com intensa atividade comercial. As cidades possuíam

autonomia. Os indivíduos agrupavam-se em famílias, e o governante era responsável pela administração dos

conflitos, pela paz com estrangeiros, pela distribuição das terras e pela aquisição de escravos.

A Escravidão nas Sociedades Africanas

A escravidão nas sociedades africanas tem sido tema de muitos debates. A existência da escravidão

nas sociedades africanas é aceita hoje pela maioria dos estudiosos. Tonavam-se escravos os prisioneiros de

guerra ou as pessoas expulsas de suas comunidades. Entendido como propriedade, os escravos podiam ser

trocados por outras mercadorias, utilizados como pagamento de dívidas, como trabalhadores agrícolas ou em

atividade militares.

A situação dos escravos variava entre as diferentes sociedades africanas. Em alguns povos

islamizados havia a possibilidade de ascensão do cativo à condição de homem livre. Já nas comunidades ao

sul do Saara, a prática de alforria não era comum. Contudo, a escravidão tradicional africana não pode ser

comparada ao tráfico de escravos explorados pelos europeus a partir do século XV. A escala entre as duas

formas de cativeiro são muito diferentes. Em cinco séculos de tráfico atlântico, destinado basicamente às

colônias na América, os europeus arrancaram até 11 milhões de pessoas da África.

A enorme demanda euro-americana por escravos estimulou interruptas guerras de apresamento entre

os povos africanos. Em decorrência dessas guerras, inúmeras sociedades, antes florescentes, entraram em

decadência. Por sua vez, o constante envio de milhares de homens, mulheres e crianças para fora do

continente causou a estagnação demográfica em vastas regiões da África, situação revertida apenas no

século XX.

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Aula 05

História – 1º Ensino Médio

Os Povos Antigos da África

Com frequência, os meios de comunicação somente veiculam notícia sobre conflitos internos no

continente africano, explicitando em um sensacionalismo capitalista os problemas sociais e miliares,

principalmente a fome nos países mais pobres da África. Mas a África é muito mais que um continente

pobre e sem uma perspectiva positiva para o futuro. O que na verdade acontece, é que a ganância do homem

ocidental trouxe para o continente africano os problemas que não foram resolvidos no Ocidente, sendo

assim, depois de vários séculos de exploração e discriminação, os resultados são apresentados de forma que

o mundo todo tenha pena de um continente que sofreu atrocidades estereotipadas que classificaram a África

como um continente exótico e atrasadas, ignorando suas peculiaridades históricas.

A história da África entre os séculos VI e XVI, demonstram uma diversidade cultural muito

acentuada e pouco valorizada, a sua rica distinção cultural e geográfica, percebe-se que os povos africanos

criaram instituições políticas sólidas e constituíram importantes impérios, como o de Mali e o de Songai,

além de reinos influentes em sua época, como os dos Iorubas e o de Gana.

Por volta do século VI, a África era habitada por muitos povos, com línguas, costumes e

religiosidades diferentes. Esses povos apresentavam variadas formas de organização política e social: havia

desde pequenos grupos nômades até reinos e impérios com complexas formas de organização política e

social.

As Sociedades do Sudão Ocidental

Entre os séculos IV e XV, desenvolveram-se vários Estados na região do Sahel, sobretudo próximo

ao delta do rio Niger. Essa área sudoeste do Saara era conhecida naquele período como Sudão Ocidental,

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sem correspondência com o atual país chamado Sudão. Nessas regiões viviam povos que se dedicavam à

agricultura, ao pastoreio, à caça e à pesca. Sua organização baseava-se em aldeias, cujas casas eram cercadas

pelas roças e pastos, trabalhados pelos membros do Clã. Nessas aldeias, a liderança era confiada a um chefe

que deveria zelar em todos os sentidos pelas famílias da sociedade da aldeia.

Com a introdução e progressiva utilização do camelo, a partir do século III, aumentaram as travessias

dos povos berberes em direção à zona do Sahel e cresceu também o comércio com a região. Mercadorias

como sal, cobre, perfumes e tecidos de algodão eram levadas pelas caravanas e trocadas por ouro, cereais e

escravos.

O Reino de Gana

Os povos soninquês viviam em aldeias localizadas entre os rio Senegal e Níger, provavelmente desde

o século VIII a.C. No final do século IV, algumas ladeias se aliaram para garantir a segurança de suas terras

contra as ameaças dos povos nômades. A união política desses grupos permitiu também o controle do

comércio com as caravanas vindas do norte, por meio da cobrança de tributos.

Já pelo século seguinte, esses vilarejos constituíram o reino de Gana, que tinha sua riqueza garantida

pelo ouro extraído na região mais ao sul do rio Niger. A palavra “gana” era o titulo dado ao soberano, que

posteriormente passou a denominar todo o reino. O soberano era o responsável pela organização

administrativa, militar e tributária e justiça. A partir do século X, pós quase quinhentos anos de crescimento

e prosperidade, o reino de Gana entrou em um período de estagnação. Os ataques dos berberes convertidos

ao islamismo (século IX) e dos almorávidas (século XI) desorganizaram a sociedade soninquês e suas

atividades econômicas.

A expansão islâmica e seu contato com os povos soninquês levaram à convivência das duas culturas

em algumas cidades, sendo verificados tanto os cultos animistas quanto a fé muçulmana. No entanto, as

campanhas dos almorávidas para total conversão dos soninquês ao islamismo geraram conflitos. Entre os

séculos XI e XIII, houve uma série de embates entre almorávidas e soninquês. A capital do reino, Koumbi

Saleh, foi disputada pelos dois grupos a fim de garantir o controle político do reino. No século XIII, outros

dois povos do Sudão colaboraram para o fim de Gana.

Os Impérios de Mali e Songai

Além dos soninquês, outros grandes grupos étnicos habitavam a região do Sudão Ocidental: Os

sossos e os mandingas. No século XIII, o islamismo se disseminava pelo Sahel por intermédio do comércio

nas savanas. Porém, alguns povos, se opuseram à presença islâmica, como os sossos, que, após a

desorganização de Gana, se insurgiram contra os muçulmanos almorávidas e iniciaram um movimento de

expansão para o sul. A expansão dos sossos sobre as regiões habitadas pelos mandingas resultou, no final do

século XII, no domínio de varias de suas aldeias. Como reação, os mandingas organizaram-se em unidades

políticas maiores.

A expansão dos sossos foi finalmente interrompida em 1235, quando foram derrotados pelo chefe

(mansa) Sundiata a Keita. Após a vitória, os mandingas espalharam-se pelo reino de Gana e pelas regiões

conquistadas pelos sossos, ao sul e a leste. Os diversos clãs mandingas se uniram em torno da figura do

mansa, constituindo o Império do Mali. O império do Mali chegou ao auge no século XIV, o Mali entrou em

decadência após uma série de conflitos com outros grupos étnicos vindos do norte e do sul do império.

Um desses grupos eram os songais. Situados próximos à cidade de Gaô, que era um centro comercial

a leste de Mali, eles mantinham certa independência em relação ao poder do mansa. No século XV, diante

das invasões dos nômades do deserto, os songais, liderados pelo soberano Soni Ali, enfrentaram os tuaregues

e conquistaram Tombuctu. A partir de então, os songais iniciaram um processo de expansão e conquista de

outras regiões e clãs, formando o império Songai.

Como em outros casos, o islamismo e os cultos tradicionais conviveram nos domínios songai. O

próprio Soni Ali declarava-se muçulmano, em bora conhecesse pouco sobre o islamismo e mantivesse os

cultos aos ancestrais. O império Songai seguiu próspero até o final do século XVI, quando foi conquistado

pelo reino muçulmano do Marrocos.

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O Reino de Benin

Na região sul do Sudão Ocidental (sul da Nigéria), viviam os povos edos. Entre esses povos

organizou-se o reino de Benin. As tradições orais contam que o Benin surgiu quando alguns chefes edos

pediram a um herói mítico chamado Odudua que lhe enviasse um líder. O herói mandou então seu filho

Oronyan, responsável pela formação do reino.

O reino de Benin era governado pelo Obá – líder político e religioso. Sua economia era baseada na

agricultura e no comércio de produtos agrícolas e cobre. A partir do século XV, Benin estabeleceu relações

comerciais com os europeus, exportando escravos, pimenta, ouro, peles, marfim, perolas, entre outros itens.

A Cidade de IIê Ifé

Outro povo que também habitava a região sul do Sudão Ocidental eram os iorubas. Esses grupos,

desde o primeiro milênio da era cristã, viviam em pequenas aldeias e cultivavam as mesmas espécies que os

edos, tendo uma organização política baseada em pequenas unidades e alguns reinos. Entre essas formações

políticas, destacou-se a cidade de IIê Ifé. Sua formação baseia-se na tradição oral e mítica.

IIê Ifé era uma espécie de cidade-estado, cujo governo estavam a cargo de um soberano, designado

pelo titulo de oni. O oni era líder religioso e político da cidade e estendia seu poder sobre os clãs dos

iorubas. Os reinos e cidades dos iorubas, sobretudo IIê Ifé, foram grandes centros produtores de arte,

principalmente máscaras e esculturas em bronze, além de placas de metal e arte em terracota (tipo de barro).

O Reino do Congo

Próximo à bacia do rio Congo, a sudeste do continente africano, formou-se o reino do Congo. As

tradições orais, registradas por europeus nos séculos XVI e XVII, conta que o reino teve origem com a

migração de um grupo banto que atravessou o rio Congo no século XIV, indo da margem norte até as terras

mais ao sul, onde ficaram conhecidos como muchicongos.

O líder desses povos, Nimi a Luqueni, casou-se com a filha do soberano local e tornou-se o

manicongo, “senhor do Congo”. com o tempo os muchicongos integraram-se aos povos locais e, por meio de

casamentos a alianças, o manicongo, conseguiu estender seu poder sobre diferentes linhagens, constituindo

reino do Congo. O manicongo vivia na capital Banza Congo, com as mulheres, seus conselheiros e alguns

escravos. As aldeias sob seu domínio eram governadas por um chefe originário das famílias que viviam

naquelas áreas e um chefe indicado pelo manicongo.

As terras eram férteis e a agricultura predominava. Além disso, a caça e a pesca beneficiavam-se das

longas áreas de savanas e dos numerosos rios. Havia também as trocas com os povos da costa, de onde vinha

o sal. Estima-se que no século XVI o reino do Congo se estendia por uma área de aproximadamente 160 mil

quilômetros quadrados, com cerca de cinco milhões de habitantes.

O Reino de Monomotapa

Entre os povos xonas, que habitavam aparte mais sul do continente africano, entre os rios Zambeze e

Limpopo, formou-se o reino Monomotopa. O soberano era ao mesmo tempo, líder político e religioso, porém

apenas as regiões próximas ao centro de poder do reino estavam diretamente sob seu controle. Os povos

xonas beneficiavam-se da fertilidade das áreas ribeirinhas, para a agricultura, e o ouro e cobre, além do

comércio com os grupos que habitavam a costa.

Durante o século XV, os xonas expandiram-se em direção ao norte e edificaram construções altas,

com muralhas de pedra circulares conhecidas como zimbábues. Nesse período, o reino Monomotapa

conheceu certa estabilidade política, que foi perdida apenas no século XVI, quando o poder se fragmentou

devido os conflitos com povos vizinhos, desintegrando o reino.

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Ruinas - Zimbábues

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Aula 06

História 1º Ano Ensino Médio

O Escravismo na Antiguidade Clássica: Roma

A partir da cidade de Roma, os romanos conquistaram vários povos. As conquistas provocaram

mudanças socioeconômicas, política e no cotidiano de sua população. Assim, como na história da Grécia

Antiga, é possível dividir a história romana em períodos. A base dessa divisão são as mudanças ocorridas

nas formas de governo de Roma.

Roma Antiga: Periodização

Etrusco Monarquia República Império Divisão do

Império

Queda do

Império

Século VI a.C 753 a.C.

segundo a

tradição, data

da fundação da

cidade de

Roma.

509 a.C.

substituição da

Monarquia pela

República

27 a.C. Otávio

é proclamado

imperador.

Ano I -

nascimento de

Jesus

395 d.C.

divisão do

império em

duas partes:

Ocidente e

Oriente.

Queda do

império

Ocidental

marcada pela

invasão de

Roma pelos

Hérulos

São poucas as informações históricas bem fundamentadas a respeito dos primeiros tempos da história

romana. Na gênese dessa história, predominam os mitos. Os dados que existem sobre esse período de foram

obtidos através de descobertas a arqueológicas que possibilitaram uma revelação das origens de Roma.

A península Itálica era ocupada por etruscos, ao norte; Latinos, sabinos e samnitas, ao centro; e

gregos, que ocupavam terras ao sul (Magna Grécia), desde a expansão colonial ocorrido no princípio do

Período Arcaico.

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Os etruscos, povo que vivia na região da atual Toscana, exerceram grande influência na própria

formação de Roma, muito embora as pesquisas históricas sobre esse período sejam limitadas, uma vez que

sua escrita ainda não foi decifrada. De qualquer forma, parece certo que, por volta do século VI a.C., os

etruscos chegaram à região do Lácio – berço original de Roma – e deixaram influências marcantes na

civilização romana, pois, além de serem bons agricultores, ativos comerciantes e hábeis no trabalho com o

bronze e com a cerâmica, foram influenciados pelos gregos da Magna Grécia, com os quais mantinham

relações comerciais.

Desde os primeiros tempos de sua existência, Roma enfrentou conflitos com povos vizinhos. Nesse

período, eram frequentemente os conflitos e disputas por terras e colheitas. Ao mesmo tempo, os romanos

tinham a necessidade de conquistar novas terras para uma população sempre crescente. A cada guerra, Roma

melhorava seus equipamentos e a organização de seu exército.

A forma pela qual certo território era conquistado determinava o modo como os romanos tratavam o

povo dominado. Os conquistadores que se aliavam a Roma tinham de fornecer forças militares aos romanos

e recebiam direitos parciais ou totais de cidadania. Já os que se recusavam a se render e acabavam

derrotados e massacrados ou escravizados e tinham suas terras tomadas.

Ao final do século III a.C., os romanos já haviam conquistado quase toda a península Itálica. Essas

conquistas provocaram grandes modificações na sociedade romana, destacando-se as seguintes:

Aumento das trocas comerciais no Mediterrâneo em função da produção de excedentes na

agricultura e na indústria artesanal, interligando cidades e regiões dos três continentes então

conhecidos: Europa, África e Ásia;

Formação da ordem dos equestres (cavaleiro), um grupo constituído por indivíduos que

haviam enriquecido – comerciantes – e que tinham renda suficiente para servirem na

cavalaria do exército;

Enriquecimento e fortalecimento dos comerciantes que, em pouco tempo, passaram a

reivindicar participação na vida política;

Grande aumento do número de escravos (prisioneiros de guerra e dívidas com o Estado)

enriquecimento do Estado romano gerado pelo pagamento de tributos das províncias

(conquistas romanas) e pela venda de escravos;

Concentração das terras conquistadas nas mãos dos grandes proprietários;

Êxodo rural em direção a Roma, causado pela ruína de pequenos proprietários que não

conseguiam competir com o preço dos produtos que chegavam das províncias ou de grandes

propriedades nas quais era empregada a mão de obra escrava;

Expansão da vida urbana em função do crescimento do artesanato, da atividade comercial e

do êxodo rural;

Construção de grandes obras públicas, como anfiteatros, circos, templos, estradas e aquedutos

(dutos de água).

Assim como na Grécia, em Roma havia três origens para a escravidão: a guerra, a descendência e o

endividamento. Entretanto, de acordo com a historiografia tradicional, era com as guerras que Roma

conseguia a maior parte dos escravos. O contingente destes aumentou de forma expressiva no período da

República e no início da fase imperial.

No mundo romano, os escravos eram considerados uma propriedade e um “instrumento” nas mãos do

senhor, e podiam pertencer tanto a particulares quanto ao Estado. De um modo geral, trabalhavam nas

grandes obras públicas, como pontes, aquedutos, monumentos e estradas, na agricultura, na extração

mineral, na atividade artesanal ou como criado doméstico. Os mais especializados e cultos eram secretários,

músicos, tecelões e professores. Escravos também atuavam em espetáculos públicos ou privados,

caracterizados pela extrema violência. Tal era o caso dos gladiadores.

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A Crise do Escravismo Antigo

O Império Romano atingiu sua máxima extensão no século II d.C. durante o governo de Trajano (98-

117). No entanto, a partir de então, não foram realizadas novas conquistas. Pelo contrário, várias regiões

foram abandonadas ou reconquistadas pelos “Bárbaros”, designação atribuída pelos romanos a todos aqueles

que não falavam Latim, viviam além das fronteiras do Império e possuíam uma “cultura inferior”, isto é, não

haviam sido romanizados.

Ao mesmo tempo, os gastos do Estado romano eram crescentes, não apenas com a manutenção das

legiões, como também com a administração, a distribuição gratuita de trigo e os espetáculos públicos

(torneios, lutas e corridas), ou seja, Pão e Circo.

No entanto, as receitas do Estado tendiam a diminuir, uma vez que a organização da produção e a

geração de riquezas despendiam, em grande parte, do trabalho de escravos, e o número destes, a partir de

então, começou a declinar. Menos escravos, menor produção, menor arrecadação de impostos etc. gastos

cada vez mais crescentes. Essa equação comprometeu a economia romana. Assim, a crise do escravismo

tornou-se também uma crise do Estado com repercussões no conjunto da sociedade.

Muitos imperadores recorreram à desvalorização da moeda, o denário, para cobrir gastos do Estado,

o que levou muitos particulares a reterem as “moedas boas”, isto é, aquelas que continham uma porcentagem

maior de ouro ou prata, comprometendo uma economia até então essencialmente monetária. Ao mesmo

tempo, um processo inflacionário contínuo tomou conta da economia. O resultado disso é que passou a ser

comum o pagamento em produtos e não em dinheiro.

Diante da crise financeira, da crescente ameaça dos povos “bárbaros”, dos conflitos sociais, da crise

do Estado e de uma insegurança generalizada, muitos proprietários de latifúndios deixaram as cidades e

foram buscar segurança nas grandes propriedades rurais autossuficientes. Nelas uma nova forma de trabalho

passou a predominar, uma vez que o abastecimento de escravos estava definitivamente comprometido. Essa

nova organização da produção ficou conhecida pela expressão colonato.

Os colonos estavam vinculados a terra e ao proprietário desta, não podendo abandoná-la. No período

final do Império Romano, portanto, as cidades perderam sua antiga importância ao mesmo tempo em que a

ruralização da sociedade e da economia se impôs, especialmente em sua parte ocidental. Considere-se que, já

como sintoma da própria crise, em 395 o Império Romano foi dividido em Império do Ocidente, capital

Roma, e Império do Oriente, capital Constantinopla.

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Aula 07

História – 1º Ano Ensino Médio

O Islamismo

A civilização árabe-islâmica surgiu e irradiou-se a partir da península Arábica, situada no sudoeste da

Ásia. Com clima extremamente quente e seco, cerca de 80% de seu território são constituídos por desertos.

Viviam na península Arábica diversos povos, organizados em tribos ou clãs, que costumam ser classificados

em dois grandes grupos, conforme suas características culturais mais marcantes:

- Árabes do Litoral: povos sedentários que moravam próximos da costa, como Meca e Yatrib. Dedicavam-se

ao comércio, conduzindo as caravanas de camelos com mercadorias do Oriente para as regiões próximas do

Mediterrâneo.

- Árabes do Deserto: povos seminômades que viviam em torno dos oásis da península. Dedicavam-se

principalmente a criação de cabras, ovelhas e camelos, produção artesanal e pilhagens de outras tribos.

A Arábia não teve uma unidade politica até o século VII. Os árabes ligavam-se uns aos outros apenas

pelos laços de parentescos e por elementos culturais comuns – falavam o mesmo idioma, a pesar das

variações regionais, e possuíam as mesmas crenças religiosas, eram politeístas, adorando centenas de

divindades.

A existência de um templo na cidade de Meca fazia dela um importante ponto de convergência de

crentes. Nos períodos de paz, a cidade transformava-se num movimentado ponto encontro e principal centro

comercial dos árabes, recebendo pessoa e mercadorias de diversas regiões.

Arábia Islâmica

A construção do Estado árabe iniciou-se com Maomé (570-632), um mercador da cidade de Meca

que fundaria o Islamismo, religião monoteísta cujos seguidores também são chamados de muçulmanos.

Quando Maomé iniciou suas pregações, dizia que os ídolos do templo deveriam ser destruídos, pois havia

um só deus criador universal, Alá. Isso provocou a reação dos sacerdotes de Meca, pois estava eca mudando-

se para Medina, onde congregou e difundiu a nova religião organizando um exército de fiéis. Essa saia de

Maomé de Meca ficou conhecida de Hégira.

Em 630 Maomé invade conquista Meca destruindo os ídolos da Caaba, mas deixando a pedra negra

que representa o símbolo de união. A partir dai o Islamismo foi se expandindo pela Arábia, e diversos povos

forma se unificando em torno da nova religião. Assim, por meio da identidade religiosa, criou-se uma nova

organização política e social entre eles e formou-se o Estado Islâmico, de governo teocrático. Com a morte

de Maomé, o poder religioso, político e militar, ficou centralizado nas mãos dos califas.

Alcorão: o livro sagrado

Os princípios básicos do Islamismo encontram-se reunidos no Alcorão (que significa leitura), além

das normas religiosas, o livro sagrado inclui preceitos jurídicos, morais, econômicos e políticos que orientam

o cotidiano da vida social. Proíbe que os fiéis comam carne de porco, consumam bebidas alcoólicas ou

pratiquem jogos de azar. O roubo é severamente punido. A poligamia masculina é permitida.

O livro sagrado do Islamismo visa, em linhas gerais, apresentar a descrição das origens do Universo

e do ser humano. Também as relações desejáveis entre homens e especialmente as relações deles com Deus.

Além disso, ao longo do texto definem-se procedimentos a serem observados pelos fiéis no que se refere à

mortalidade, à economia e a grande número de questões cotidianas.

A ideia é que o texto seja uma clara resposta a todas as necessidades humanas, tanto materiais como

espirituais. Para os fiéis do Islamismo, o conteúdo do Alcorão representa a própria palavra de Deus, vertida

para o árabe na exata forma como foi revelada ao profeta Maomé.

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Sunitas e Xiitas

A pós a morte de Maomé, a religião islâmica sofreu várias interpretações, entre as quais se

destacaram as de dois grupos, até hoje conflitantes.

Os Sunitas – defende como condição para o homem ocupar o cargo de chefe do Estado muçulmano

(o califa), ter sólidas virtudes morais – como honra, respeito pelas leis e capacidade de trabalho. Os sunitas,

além do Alcorão, seguem a suna, que se refere ao comportamento habitual do profeta e seus companheiros,

quanto as suas ações, falas, aprovações e desaprovações. Essas informações, registros através de narrativas

curtas, são denominadas hadic.

Os Xiitas – postulam que a chefia do Estado muçulmano só pode ser ocupada por um legítimo

descendente ou parente de Maomé. Afirmam que o chefe da comunidade islâmica é pessoa diretamente

inspirada por Alá e que os fiéis lhe devem obediência absoluta.

Atualmente, a maioria dos seguidores do xiismo encontra-se no Irã, no Iraque e no Iêmem. Na demais

região do mundo islâmico predomina os seguidores do sunismo chegando a 84% dos atuais muçulmanos.

A expansão Islâmica

Quando invadiram Império Persa, os árabes estavam longe de serem grupos tribais, como as

comunidades que ali habitavam antes do início da pregação de Maomé. Constituiu um exército muito bem

organizado e motivado, ima vez que, além do saque e da conquista de territórios e riquezas, buscavam a

expansão da fé, a concretização de um estilo de vida inspirado pelo profeta.

Um dos motivos da expansão islâmica nessa primeira fase foi à tolerância então praticada pelo

governo islâmico em relação aos territórios ocupados. Além do domínio das cidades e da determinação de

tributos, a serem pagos pelas populações dominadas, pouca coisa mudou. Os habitantes do território

conquistados podiam manter suas religiões e tradições.

A Fragmentação do Império Islâmico

À medida que o Império Islâmico crescia, foi absorvendo tradições culturais diferentes de acordo

com as características específicas de cada território incorporado. Se considerarmos as tradições árabes que se

fixaram na península Arábica, no Oriente Próximo e no Norte da África, comparadas com a tradição persa,

nos domínios do extinto Império Sassânida, as diferenças são significativas. Mas a religião sempre

desempenhou a função de elemento agregador dessas múltiplas culturas.

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Durante a dinastia Abássida, mesmo em seu apogeu, novos califados vão surgindo nos domínio do

Império Islâmico, como nas regiões do atual Irã, Egito e Tunísia. Isso decorreu da dificuldade em exercer

um governo efetivo em toda a extensão do Império, o que levou ao fim da unidade política, fragmentando a

comunidade islâmica em vários centros de poder. Cada um desses centros possuía formas de governo e

tradições culturais e suas características, mas todos mantinham em comum a prática do islamismo.

Cultura Islâmica

Depois de conquistarem as mais diferentes regiões, os muçulmanos não se limitavam a cobrar

tributos dos povos submetidos. As autoridades procuravam aprofundar a compreensão do conhecimento

produzido pelos que ali viviam antes deles.

Com essa busca de conhecimentos, ocorreu um processo de assimilação dessas diversas culturas,

assim como sua difusão. Essa assimilação não se limitou às áreas conquistadas. Os conhecimentos vindos

das mais longínquas regiões, como a China, com quem os muçulmanos mantinham relações de comércio,

também foram incorporados e difundidos.

A produção do conhecimento

Esse desenvolvimento era garantido por um trabalho de tradução para o árabe de tudo o que

considerassem significativo da cultura dos povos dominados. A circulação constante desse material por todo

o Império garantia que as contribuições das diferentes civilizações fossem comparadas e analisadas por

sábios islâmicos com formações variadas. Isso permitia que eles realizassem sínteses desses conhecimentos

antes dispersos e que chegassem, através deles, a novas e importantes descobertas e desenvolvimentos.

Assim, entre o século VII e IX, os muçulmanos travaram contato com diferentes culturas de povos

conquistados pela expansão islâmica. Eram regiões do Oriente Próximo, da Península Balcânica, do sul da

Ásia e até da Índia.

Nesse período ocorreram traduções para o árabe de obras persas, romanas, gregas e indianas dos mais

diversos ramos de conhecimento. Eram áreas como matemática, astronomia, astrologia, ética, mecânica,

física, filosofia, arquitetura, geometria e medicina. Essa literatura foi distribuída por todo Império Islâmico.

O mundo cristão só conheceu vários desses textos muito tempo mais tarde, graças a essas traduções.

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Aula 08

História – 1º Ano Ensino Médio

IDADE MÉDIA – origem do feudalismo

Médio é uma palavra usada para designar algo que está no meio, que exprime uma posição

intermediaria entre um ponto e outro. Na periodização eurocêntrica estabelecida no século XVII, a Idade

Média estaria no meio da história, entre Idade Antiga e a Idade Moderna. Assim, o período da

aproximadamente mil anos, que vai convencionalmente da queda de Roma até a tomada de Constantinopla

pelos turco-otomanos em 1453, foi chamada de Idade Média.

A Idade Média está dividida em duas partes: Alta Idade Média e Baixa Idade média.

Alta Idade Média:

- Reino Merovíngio:

Desde o século II, os Francos vinham pressionando as fronteiras do Império Romano, até se

estabelecerem na região da Gália, atual França. O domínio sobre toda a Gália foi possível graças à conversão

de Clóvis, neto do herói franco Meroveu, ao cristianismo, em 496. Contando com o apoio da Igreja, Clóvis

organizou o reino Franco e consolidou a dinastia merovíngia.

A idéia de estado e bem público desapareceu com o Império Romano, passando a terra a ser

distribuída entre clero e nobreza. A figura do rei tornava-se, assim, bastante frágil entre os francos,

submetida ao poder dos proprietários de terras. A pouca autoridade dos reis valeu-lhes o título de “reis

indolentes”, que tinham suas funções usualmente delegadas aos major domus, tipo de primeiros ministros. O

mais importante deles foi Carlos Martel, que comandou os francos na batalha de poitiers em 732,

derrotando os árabes.

Em 751, o filho de Carlos Martel, Pepino, o Breve, contando com o apoio papal, depôs o último

soberano merovíngio. Iniciou-se uma nova dinastia, a Carolíngia. Por causa do apoio recebido, Pepino

cedeu ao papa grande extensão de terra no centro da península Itálica. Passando para a administração da

Igreja, sob o nome de Patrimônio de São Pedro, esse território constituiu o embrião do atual Vaticano.

Carlos Magno, filho de Pepino, assumiu o trono em 768, fundando o Império Carolíngio, período de

maior poder dos fracos na Alta Idade Média. Além de doar, em troca de lealdade, as terras adquiridas nas

guerras de conquistas à nobreza e ao clero, dividiu o território sob seu controle em Condados e Marcas. (os

títulos de nobreza conde/condessa derivam de condado, assim como os de marquês/,marquesa, de marca).

Carlos Magno tinha uma administração nomeada pelo próprio imperador (missi dominici), assim fazia valer

suas leis que ficaram conhecidas como Capitulares, ou seja, as primeiras leis escritas do Ocidente medieval.

Carlos Magno Recebeu o título de Imperador do Novo Império Romano do Ocidente pelo papa leão

III no ano de 800. O mandatário da Igreja via na ampliação do reino franco uma possibilidade de expansão

do cristianismo e o retorno à própria concepção de império, desaparecida desde a queda de Roma, e como

consequência o poder imperial seria o anteparo da Igreja. Carlos Magno foi responsável, portanto, por uma

experiência centralizadora durante a conturbada Alta Idade Média.

O êxito administrativo de Carlos Magno foi acompanhado por significativo desenvolvimento

cultural, estimulado pelo próprio Imperador. Com o desuso do latim e a escrita pelos povos germânicos, o

chamado Renascimento Carolíngio mudou esse quadro, ainda que temporariamente. Escolas foram

fundadas, o ensino estimulado e varias obras da antiguidade greco-romana preservadas pela atuação da

Igreja, que logo teria o monopólio cultural do continente europeu.

Com a morte de Carlos Magno em 814, começa a decadência de seu império. Seu filho Luís, o

Piedoso, herdou o império e governou até 841. Após sua morte, seus filhos dividiram o império em partilhas

pelo Tratado de Verdun em 843. Condes, marqueses e outros nobres passaram a ter uma crescente

importância, fortalecendo assim a tendência à descentralização. Consolidava-se, nesse contexto, o

Feudalismo.

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A Alta Idade Média (século V-IX)

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Transição progressiva do

escravismo para a servidão

A ALTA IDADE MÉDIA

Sobrevivência do Império

Romano do Oriente (Bizâncio)

Decadência do Império Romano no Ocidente (476)

Formação progressiva do

feudalismo na Europa

Ocidental Formação do

Reino franco

Família dos merovíngios

(reis indolentes) Destaque

para o major domus Carlos

Martel

Apogeu com Justiniano (527-565):

- conquistas

- Corpus Juris Civilis

- Catedral de Santa Sofia

Unificação árabe

com Maomé:

Islamismo

Dinastia carolíngia fundada

por Pepino, o Breve.

Apogeu com Carlos Magno,

Imperador do novo Império

Romano do Ocidente

Expansão: fechamento do

Mediterrâneo

Queda de Constantinopla

em 1453 – invasão dos

turco-otomanos

Predomínio da ordem feudal na Europa

843: Tratado de Verdun

(divisão do Império

Carolíngio)

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Aula 09

História – 1º Ano Ensino Médio

O Feudalismo – Alta Idade Média

O feudalismo é uma organização social típica da Idade Média europeia, caracterizada pelo sistema de

grandes propriedades territoriais isoladas (feudos) pertencem à nobreza e ao clero e trabalhadores pelos

servos da gleba, numa economia de subsistência. O sistema era organizado segundo uma extensa e

intrincada hierarquia de feudos. A terra única fonte de poder, era recebida pelo senhor, em caráter

hereditário. O senhor beneficiário da doação de um feudo tornava-se vassalo do doador suserano, qualquer

que fosse o titulo nobiliárquico deste (rei, conde, visconde, etc.), ficando ambos ligados por laços de

lealdade e ajuda mútua. A propriedade da terra não era plena. O senhor que a recebia em doação não podia

vendê-la e a propriedade era herdada pelo filho primogênito.

A Sociedade Feudal

Essa sociedade se estrutura em relações de suserania e vassalagem tornando o poder muito

descentralizado. Tais relações eram estabelecidas quando um nobre concedia terras a outro nobre menos

poderoso, também poderia ser em forma de concessões de cobrança de impostos, pedágios em pontes e

estradas, tudo em troca de lealdade e ajuda mútua. Na prática os próprios reis eram senhores feudais com

domínios limitados. A sociedade feudal baseava-se na existência de dois grupos sociais – senhores e servos -

, podendo ser caracterizada como estamental, na medida em que as categorias eram claramente definidas e

não era comum qualquer tipo de modalidade. Cada senhor ocupava uma grande propriedade rural

denominada feudo o qual era dividido em três partes:

Primeira: grande extensão de terra que era chamada domínio senhorial, era usado pelo senhor

e seus agentes diretos e englobava, no centro, o castelo, o moinho e as oficinas artesanais.

Segunda: era dividida em parcelas concedidas a camponeses (servos) de condição semilivre,

pois não podiam abandonar o feudo e estavam obrigados a corvéia. - terceira: a propriedade

senhorial, bosques, pradarias, era utilizada conjuntamente pelo senhor e pelos servos. Embora

o senhor fosse o proprietário das terras, o servo tinha aposse, isto é, o usufruto da sua faixa de

terra, e também a propriedade dos seguintes meios de produção: arado, enxada e outras

ferramentas para agricultura. Em troca de concessão, o camponês era obrigado a produzir um

excedente econômico para o senhor e, principalmente, da corvéia, base de relação servil. Em

cada feudo, o senhor fazia as leis, administrava a justiça, cunhava moedas, exigiam-se

impostos aos mercados que transitavam por suas terras e estipulava o tributo que os

camponeses livres e os servos tinham que pagar. Cada feudo era economicamente

autossuficiente.

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A economia feudal No feudo eram produzidos os alimentos necessários aos servos e ao nobre, bem como roupas,

instrumentos de trabalho e armas. Os camponeses pagavam impostos ao senhor em produto (parte da

colheita) em trabalho nas terras senhoriais (corveia) ou em dinheiro. Também os habitantes das cidades

(burgo) tinham que pagar uma taxa ao senhor das terras em que se localizavam. O feudo estava dividido em

três partes:

Manso senhorial ou domínio: área explorada pelos servos diretamente em benefício do

senhor, dentro da qual se erguia o castelo;

Manso servil: correspondente a terras arrendadas pelos servos para exploração própria, mas

das quais deviam varias obrigações e taxas ao senhor feudal;

Manso comunal: formado por terras – normalmente pastos e bosques – de uso comum de

senhores e camponeses.

Dentro da estrutura feudal, os campos abertos (manso comunal) eram de uso coletivo, também fazia

parte os bosques, a coleta de madeira para diversas atividades, como lenha e construção de utensílios

diversos. A reserva senhorial, terra, borque, pomar, tudo pertencia exclusivamente ao senhor, tudo que era

produzido era de sua propriedade privada, não dividia com os servos, pois os mesmos já tinham suas faixas

de terra para plantar e pagar seu arrendamento ao senhor feudal. O castelo era de uso exclusivo do senhor

feudal, mas também abrigava artesões, ferreiros e dava proteção aos servos quando atacados por outros

senhores em busca de novas terras, para anexar a seus feudos. O senhor também detém a terra e o poder –

incompleto – sobre os servos; cabe a esses uma pequena posse individual, as ferramentas, fornece ao senhor

uma contribuição que é inicialmente em trabalho, e ligava-se ao senhor por uma relação de dependência.

A agricultura na Alta Idade Média teve um aumento de produção, visto que novas técnicas forma

empregadas para um bem comum. Uma forma de plantio foi empregada, o sistema trienal que tem uma

eficácia e forma de regeneração do solo, perfazendo assim, uma rotatividade de plantio, assim um aumento

de produção agrícola.

O Trabalho Feudal

O trabalho na sociedade feudal estava fundado na servidão, relação que mantinha os trabalhadores

preso aterra e subordinados a uma série de obrigações em impostos e serviços. Nessa época era comum que

as pessoas nascessem, vivessem e morressem sem jamais sem sair do mesmo lugar, atrelados às obrigações

para como o senhor de feudo. A exploração do trabalho serviu era legitimada pela a Igreja. Na ordenação

dos papeis sociais, sua concepção ideológica contribuía para isso. Para a Igreja, cada membro da sociedade

tinha deveres a cumprir em sua passagem pela terra, o que disseminava uma mentalidade favorável à

condição subordinada dos servos. Segundo a Igreja, era dever do servo trabalhar, do clérigo rezar e do nobre

proteger militarmente a sociedade. A servidão é uma forma de obrigação imposta o produtor pela força e

independentemente de sua vontade para satisfazer certas exigências econômicas de um senhor, quer tais

exigências tomem a forma de serviços a prestar ou de taxas apagar em dinheiro ou em espécie. Os servos

deviam uma serie de obrigações para os senhores, normalmente conhecidas como impostos feudais. As

principais delas são:

- corvéia: trabalho obrigatório nas terras do senhor (manso senhorial), executando diversos trabalhos além

da agricultura, durante alguns dias da semana.

- talha: porcentagem da produção obtida no trabalho no manso servil;

- banalidades: impostos, pagos em produtos, pela utilização de equipamentos pertencentes ao senhor (forno,

moinho, celeiro).

A Igreja Medieval

O triunfo do cristianismo contribuiu para a forte religiosidade que marcou a mentalidade medieval.

Foi nessa época que a Igreja começou a organizar-se com o objetivo de zelar pela homogeneidade dos

princípios da religião cristã e promover a conversão dos pagãos. Presentes em todos os níveis de uma

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sociedade marcada pela religiosidade, os membros da Igreja medieval fomentavam valores como a

passividade e subordinação dos homens comuns perante o senhor, tanto o senhor espiritual (clérigo),

encarregado de proteger as almas, quanto o senhor feudal da terra (nobre), que protegia os corpos. O poder

da igreja, portanto, não estava revestido ao plano espiritual, mesmo que fosse importante a espiritualidade

nesse período, mas revestido de um poder temporal. Isso porque ela foi, pouco a pouco, transformando-se na

maior proprietária de terras da Idade Média e construindo fortes vínculos com a estrutura feudal. Além dos

territórios diretamente controlados pelo papa, o alto clero e varias ordens religiosas dispunham de muitos

feudos.

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Aula 10

História – 1º Ano Ensino Médio

Feudalismo – a Baixa Idade Média e a crise do sistema feudal

A formação do feudalismo se deu na Alta Idade Média (século V ao X), toda sua estrutura social vai

se concretizar nesse período, formando uma sociedade estamental ou de ordem composta de três

seguimentos hierarquizados: ordem religiosa, ordem de nobreza (cavalheiros) e ordem dos camponeses

(povo). Para o Clero o esquema de três ordens era um símbolo da harmonia social, no qual cada seguimento

exercia uma função necessária para a sociedade. Esse modelo de ordens submetia toda sociedade aos

mandos da Igreja, fortificando assim todo seu poder.

A Baixa Idade Média (século X ao XIV) foi marcada por profundas transformações na sociedade, as

quais conduziram à superação das estruturas feudais e à progressiva estruturação do futuro modo de

produção capitalista. No plano econômico, um sistema agrícola de autossuficiência foi substituído por uma

economia comercial. No plano social, a hierarquia estamental foi se desintegrando, surgindo paralelamente

um novo grupo social ligado ao comércio: a burguesia. Politicamente, o poder pessoal e universal dos

senhores feudais foi sendo gradualmente substituídos pelo poder centralizador dos soberanos, originando as

monarquias nacionais européias.

Essas mudanças, que marcaram o início da Baixa Idade Média, emergiram das próprias contradições

da estrutura feudal, que se mostrou incapaz de atender às necessidades da população européia. O feudalismo

conservou por muito tempo muitas de suas características, o correndo uma transição gradativa, que só

atingiria a maturidade alguns séculos depois.

A Indústria Feudal

Embora a vida econômica da Idade Média se baseasse principalmente na produção agrícola de

subsistência, desde os primórdios do período medieval comerciantes e artesãos asseguraram, ainda que em

bases precárias, a produção e a circulação de bens entre os domínios senhoriais. Essas pessoas habitavam os

burgos, lugares fortificados que impulsionaram a retomada da vida urbana. O estilo de vida de seus

habitantes, os burgueses, mostrava-se bem diferente daquele que ocorria nos feudos.

De início, os burgos surgiram em pontos estratégicos dos feudos e permaneceram sob controle dos

nobres. O desenvolvimento econômico foi acelerado a partir da vida urbana. Já no século XIII, antigos

núcleos de origem romana haviam sido revitalizados e muitos burgos tinham se transformado em cidades

importantes.

A indústria manufatureira (indústria aqui entendida como um conjunto das atividades que participam

da fabricação de produtos manufaturados a partir de matérias-primas) se expandiu nesse período em resposta

às necessidades de vestiário e moradia e às exigências das constantes guerras.

Alguns setores artesanais, entretanto, sustentaram-se e desenvolveram-se no período, trabalhando

para a nobreza e o alto clero: armeiros, que serviram aos nobres guerreiros; ourives, pintores e construtores,

que trabalhavam na edificação de catedrais e castelos etc. inovações técnicas aplicadas aos trabalhos

agrícolas também foram observadas nessa época, como a utilização dos “arados de ferro” no lugar dos de

madeira, mais franco e menos eficiente, e o aperfeiçoamento de “moinhos hidráulicos”. Buscou-se ainda

expandir as terras cultivadas com o aterramento de pântanos e a derrubada de floresta. No entanto, a

população continuava acrescer em ritmo mais acelerado que o da produção.

Desenvolveram-se também, o comércio marítimo costeiro e o terrestre, realizados a curta distância.

As feiras que o corriam na região de Champagne atraíram negociantes de várias partes da Europa.

Caravanas de mercadores compravam e vendiam peles, mel, cera, trigo, madeira, minerais, vinho, sal e

tecidos. O mundo do trabalho também assistiu a transformações importantes durante a Baixa Idade Média.

Algumas das obrigações servis, já os camponeses passaram a exigir salário pelo trabalho ou parte do

excedente da produção. Alguns vendiam seus excedentes em feiras e outros abandonaram as lavouras e se

especializaram na produção artesanal e no comércio.

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Nos burgos, desenvolveram-se as corporações de ofício. Responsáveis pela organização e

distribuição de determinados produtos manufaturados, essas associações típicas da sociedade medieval

reuniam profissionais do mesmo ramo, desde os mestres de perícia reconhecida até os aprendizes. Todas

essas mudanças provocadas pelo incremento comercial, manufatureiro e urbano ocasionaram os confrontos

entre as visões de mundo dos senhores feudais, por um lado, e dos comerciantes e artesãos.

A Crise e a Cidade

A fome, a peste e a guerra despovoaram os campos e provocaram escassez de mão de obra, uma vez

que grande parte das pessoas que não tinham sido vitimadas pela peste ou pela guerra haviam se deslocado

para as cidades. A mão de obra abundante no inicio da Baixa Idade Média, tornou-se rara e,

consequentemente, melhor remunerada. Nesse contexto, os senhores feudais ficaram enfraquecidos, pois

deixaram de receber os tributos que garantiam as suas rendas. Houve, então, um recrudescimentos da

exploração do trabalho servil, precipitando uma série de revoltas nos campos.

Podemos dizer que houve uma inversão da tendência que prevalecia desde então: a produção rural

passou a organizar-se em função do mercado urbano. Com o declínio da aristocracia feudal e a ascensão da

burguesia urbana, o eixo dinâmico da sociedade europeia passou dos campos para as cidades. Desta forma,

tinha início uma dinâmica social até então rara no rígido sistema social das ordens medievais, ou seja, as

chances de mobilidade social tornaram-se viáveis. Os grupos sociais que constituíram o setor excluído dos

privilégios feudais passaram a questionar a ordem social e a pôr em xeque a função social da nobreza.

O movimento cruzadista

O crescimento comercial estimulou o primeiro movimento de expansão militar do Ocidente cristão.

O motivo oficial da primeira Cruzada foi de inspiração política e religiosa. Convocada pelo papa Urbano II

tinha como objetivo conquistar Jerusalém, a Chamada terra Santa, considerado o berço do cristianismo.

Para encorajar a participação nas Cruzadas, a Igreja concedeu indulgência plena, isto é, perdão de

todos os pecados para aqueles que morressem em combate. Partiram para a Terra Santa muitos cavaleiros da

nobreza feudal e outros tantos cavaleiros errantes, homens sem feudo cujas oportunidades de ascensão social

estavam restritas aos prêmios em torneios, ao serviço mercenário e, com muita sorte, à possibilidade de casar

com uma dama da alta nobreza.

Essa união de forças em torno de uma causa comum diminuiu os frequentes conflitos entre os

senhores feudais pela posse da terra. Até então o clero havia se esforçado para pôr um fim à violência dos

guerreiros e proteger de seus ataques o restante da sociedade desarmada.

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Foram cinco as Cruzadas, não foram somente essas expedições, ocorridas ao longo de quase 200

anos, que levaram ao renascimento comercial da Europa, mas elas, certamente, contribuíram para sua

dinamização. As Cruzadas tiveram um papel significativo na mentalidade europeia. O espírito delas seria

importante motivação para a reconquista cristã da Península Ibérica e o desenvolvimento das grandes

navegações que levaram a conquista da América.

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Aula 11

História – 1º Ano Ensino Médio

O Renascimento do Século XIV

As transformações socioeconômicas iniciadas na Baixa Idade Média e que culminaram com a

Revolução Comercial da Idade Moderna afetaram todos os setores da sociedade, ocasionando inclusive

mudanças culturais. Intimamente ligadas à expansão comercial, à reforma religiosa a ao absolutismo

político, as transformações culturais dos séculos XIV a XVI – movimento denominado Renascimento

Cultural – estiveram articuladas com o capitalismo comercial.

Primeiro grande movimento cultural burguês dos tempos modernos, o Renascimento enfatizava uma

cultura laica e racional, sobretudo não feudal. Entretanto, embora tentasse sepultar os valores da Igreja

católica, apresentou-se como um entrelaçamento dos novos e antigos valores refletindo o caráter de transição

do período. Buscando subsídios na cultura Greco-romana, o Renascimento foi à eclosão de manifestações

artísticas, filosóficas e científicas do novo mundo urbano e burguês. Descartando a imensa produção cultural

do período anterior, o renascimento caracterizou-se por ser essencialmente um movimento anticlerical em

ante escolástico, pois a cultura leiga e humanista opunha-se à cultura eminentemente religiosa e teocêntrica

do mundo medieval.

No conjunto da produção renascentista, começam a sobressair valores modernos, burgueses, como o

otimismo, o individualismo, o naturalismo, o hedonismo (teoria do prazer humano) e o neoplatonismo. Mas

o elemento central do Renascimento foi o Humanismo, isto é, o homem como o centro do universo

(antropocentrismo), a valorização da vida terrena e da natureza, o humano ocupando o lugar cultural até

então dominado pelo divino e extraterreno.

Antropocentrismo: exaltação e glorificação do homem, colocando no centro de todas as

preocupações e da produção artística, científica e filosófica;

Racionalismo: busca de explicações racionais e científicas para os fenômenos naturais;

Universalismo: especulação do homem nos mais diversos campos do conhecimento.

O Humanismo Renascentista

O Humanismo, desenvolvido principalmente entre os séculos XV e XVI, caracterizou-se pela

concepção de que o ser humano é criatura e criador do mundo em que vive. E, dessa maneira, pode ser

construtor de si mesmo. Deus criou o homem conferindo-lhe a liberdade de construir a si mesmo. Por isso,

desde o nascimento o homem não tem uma natureza defina ou um destino pré-estabelecido. Ou seja, ele

pode ser juiz ou artesão supremo de sua vida, modelando-se na obra que ele próprio escolheu. Dessa forma,

tanto poderá designar em um ser bestial quanto ascender a realidades sublimes.

Os humanistas, num gesto ousado, tendiam a considerar como mais perfeita e mais expressiva a

cultura (antiga, grega e romana) que havia surgido e se desenvolvido no seio do paganismo, antes do

advento de Cristo. A Igreja, portanto, para quem a história humana só atingira a culminância na Era Cristã,

não poderia ver com bons olhos essa atitude. Não quer isso dizer que os humanistas fossem ateus, ou que

desejassem retornar ao paganismo. Muito longe disso, o ceticismo (crença) toma corpo na Europa somente a

partir dos séculos XVII e XVIII. Eram todos cristãos e apenas desejavam reinterpretar a mensagem do

Evangelho à luz da experiência e dos valores de Antiguidade. Valores esses que exaltavam o indivíduo, os

feitos históricos, à vontade e a capacidade de ação do homem, sua liberdade de atuação e de participação na

vida das cidades. A crença de que o homem é a fonte de energias criativas ilimitadas, possuindo uma

disposição inata para a ação, a virtude e a glória. Por isso, a especulação em torno do homem e de suas

capacidades físicas e espirituais se tornou a preocupação fundamental desses pensadores, definindo uma

atitude que se tornou conhecida como antropocentrismo. A coincidência desses ideais com os propósitos da

camada burguesa é mais do que evidente.

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Com o humanismo abandonava-se o uso dos conhecimentos clássicos tão-somente para provar

dogmas e verdades religiosas, descartando-se a erudição medieval confinada nas bibliotecas ou na clausura

dos mosteiros. Impulsionava-se a paixão pelos clássicos Greco-romanos numa busca de sabedorias e belezas

“esquecidas” pela Idade Média.

Fatores Geradores do Renascimento

As transformações econômicas do final da Idade Média, associadas aos processos de urbanização e

ascensão da burguesia, tornaram as concepções artístico-literárias feudais inadequadas. Novas concepções

afloraram, refletidas no desenvolvimento comercial e na nova sociedade urbana emergente. As primeiras

manifestações renascentistas triunfaram na Itália.

A reabertura do Mar Mediterrâneo a partir das Cruzadas, as cidades italianas de Florença, Veneza,

Roma e Milão transformaram-se em grandes centros de desenvolvimento capitalista, movido pelo qual

apresentavam as condições necessárias para a germinação e proliferação do renascimento. Nesse contexto,

surgiram os mecenas, ricos patrocinadores das artes e das ciências, que objetivavam não só a promoção

pessoal, mas também proveitos culturais e econômicos. Destacaram-se como protetores das artes os Médicis.

Em Florença os Sforzas, em Milão. Não podemos esquecer que a Igreja foi uma grande mecena nesse

período.

Completando os diversos componentes que favoreceram o desenvolvimento renascentista na Itália, a

influência árabe teve muita importância, pois era grande depositário de valores da Antiguidade Clássica e

que mantinha contatos comerciais com os portos italianos, principalmente com Genova e Veneza.

Fases do renascimento nas artes e literatura

O renascimento italiano se impôs efetivamente a partir do século XIV, estendendo-se até o século

XVI, ficando dividido em três fases: os Trecento (os anos trezentos) a fase do século XIV, Quattrocento (os

anos quatrocentos) fase do século XV e Cinquecento (os anos quinhentos) período mais criativo, que foi de

1500 a 1550.

O Trecento, ou primeira etapa do movimento artístico da renascença: a principal figura desse

período é Giotto (1266-1337), artista plástico que rompeu com a tradicional pintura medieval

e seu imobilismo, caracterizado por uma hierarquia rígida que determinava a importância dos

personagens pintados, prevalecendo sempre a figura religiosa acima dos homens. Giotto fez

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do humano e da vida o foco de suas pinturas, dando às suas figuras um aspecto humano com

traços de individualidade. Nas letras, o período caracterizou-se pelo uso da língua italiana,

embora tivesse fortes influencias medievais.

O Quattrocento, ou escola de Florença: o entusiasmo pela cultura greco-romana fez nascer,

na literatura desse período, as línguas clássicas e o paganismo. Em Florença, foi criada a

Escola Filosófica Neoplatônica, com o patrocínio do mecenas Lourenço de Médici. Na

pintura, tiveram grande importância técnica a óleo. Dentre eles, podemos destacar Masaccio

(1401-1419), que, rompeu com resquícios da arte medieval, chamados de “gótico tardio”.

Deu aos seus trabalhos realismo, volume, tomando da arquitetura e da escultura alguns dos

princípios básicos. Conseguiu transportar para suas telas a geometria em perspectiva do

arquiteto Brunelleschi e do escultor Donatello.

Sandro Botticelli (1445-1510) foi outro destaque da pintura renascentista. Suas obras

apresentam figuras leves, tênues, quase imateriais. Traduz uma expressão espiritual, religiosa,

simbólica. Seus personagens buscam alcançar a beleza Neoplatônica, que se refere a união

entre o paganismo clássico e o cristianismo.

Leonardo da Vinci (1452-1519), um dos humanistas mais completos do Renascimento, é

considerado figura de transição, pois viveu a metade do Quattrocento e o início do

Cinquecento. No primeiro período, quando Florença era o polo cultural da Itália, a arte ainda

imitava os modelos clássicos e predominava o uso das línguas clássicas. Ao mesmo tempo em

que eram usadas a língua italiana e o grego, predominavam nesse período a originalidade, a

criação tanto na forma como no conteúdo o que resultava numa arte própria – fusão do

clássico com o moderno.

O Cinquecento, ou escola de Veneza: nesse período em que a língua italiana foi

sistematizada, destacam-se alguns escritores como; Francesco Guicciardini, Torquato Tasso

e Ariosto, todos literários. Mas quem deu maior importância para esse período foi Nicolau

Maquiavel (1469-1527) o iniciador do moderno pensamento político, o maior expoente

literário do período. Em o príncipe, defende um Estado absolutista em favor do qual todos os

meios são justificáveis, estando a “razão de Estado” acima de qualquer outro ideal. Escreveu

também a História de Florença, Discurso sobre a primeira década de Tito Lívio e a peça

Mandrágora, considerada a mais perfeita obra teatral escrita em língua italiana. Outros

artistas também fizeram parte desse período da renascença como Rafael Sânzio e

Michelangelo Buonarroti.

Principais artistas do Renascimento

Leonardo da Vinci: considerado o símbolo do Renascimento, sua obra atingiu quase todos os

campos do conhecimento humano. Suas obras mais famosas são a Monalisa, Anunciação e A

virgem dos rochedos.

Miguel Ângelo Buonarroti, ou Michelangelo: destacou-se como escultor, arquiteto e pintor.

Imortalizou-se e, obras como o projeto da cúpula da basílica de são Pedro e os afrescos da

Capela Sistina (juízo final, Dilúvio e Criação de adão) e por suas notáveis esculturas (Davi,

Moisés e Pietá).

Rafael Sânzio: foi um grande pintor de retratos e Madonas (representações da Virgem Maria

com o Menino Jesus), também foi o autor de diversos afrescos no Palácio do Vaticano.

Literatura Renascentista

O renascimento cultural foi impulsionado pela invenção da prensa de tipos móveis de metal do

alemão Johann Gutemberg, a qual possibilitou a reprodução e divulgação das obras literárias em grande

escala. Os escritores Renascentistas escreviam em línguas nacionais, criticavam e ridicularizavam os valores

da sociedade medieval. Dentre os escritores, destacam-se: Dante Alighieri com a divina comédia, Petrarca

com a obra O Cancioneiro, Boccaccio com Decameron, Erasmo de Roterdã “pai do humanismo”, escreveu

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Elogio da Loucura; Thomas Morus autor de A utopia; Camões e sua obra Os lusíadas; Miguel de Cervantes

com Don Quixote de La Mancha; William Shakerspeare, o homem mais destacado da Renascença inglesa,

escreveu uma vasta obra para o teatro, como Hamlet, Romeu e Julieta, Sonhos de uma noite de verão e

Otelo.

A Ciência Renascentista

A pesar da interferência da Igreja católica, que continuava impondo dogmas, a ciência desenvolveu-

se durante o renascimento cultural. Dentre os vários expoentes da ciência renascentista, podemos destacar:

Leonardo da Vinci: foi o pioneiro na elaboração de um mapa-múndi mostrando o continente

americano. Criou projetos de engenhos voadores e fez estudos sobre anatomia humana.

Nicolau Copérnico: combateu o modelo geocêntrico e propôs um modelo heliocêntrico, com

o Sol no centro do sistema solar.

Giordano Bruno: rompeu com a visão aristotélica de um mundo estático, sugerindo a idéia de

um Universo infinito. Foi torturado e morreu queimado da fogueira da Inquisição.

Galileu Galilei; foi primeiro cientista a utilizar um pêndulo para medir intervalos de tempo.

Aperfeiçoou o telescópio de refração e descobriu os satélites de Júpiter. Por defender a teoria

heliocêntrica de Copérnico, foi forçado a se retratar perante a Igreja católica.

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Aula 12

História – 1º Ano Ensino Médio

A Centralização do Poder e o Estado Moderno

O século XV inaugurava um novo período do processo histórico da Europa ocidental: possuir terras

já não era mais sinônimo de poder; as relações sociais de dominação e de exploração também não eram as

mesmas do mundo feudal; mudanças qualitativas na economia europeia abriram espaço para uma nova

ordem política e social.

Tendo suas origens do feudalismo, o mundo moderno evoluiria até culminar no seu oposto – o

capitalismo do mundo contemporâneo. Assim, em muitos aspectos, o mundo moderno constituiu uma

negação do mundo medieval, embora ainda não se caracterizasse como um todo sólido, maduro,

apresentando-se como uma época de transição. Foi o período de consolidação dos ideais de progresso e de

desenvolvimento, que reforçou o pensamento racionalista e individualista, valores burgueses que iriam

demolir o universo ideológico católico-feudal. Entre os séculos XV e XVIII, estruturou-se uma nova ordem

socioeconômica, denominada capitalismo comercial. Durante esse período, a nobreza, ainda garantia por

suas propriedades e títulos uma posição social em vantagem a burguesia comercia que se desenvolvia e que

ainda, estava longe de ser classe dominante, com prestígio junto à aristocracia.

Assim, sendo um período de transição, a importância do comércio e da capitalização, que

constituíram a base sobre a qual se desenvolveria o sistema capitalista. Como decorrência um novo Estado,

novas normas e novos valores forma gerados segundo as novas exigências do homem ocidental.

A Economia e Sociedade do Antigo Regime

Com as cruzadas, no início da Baixa idade média, processou-se um conjunto de alterações

socioeconômicas, decorrentes do renascimento do comércio, da urbanização e do surgimento da burguesia.

A junção desses elementos, por sua vez, impulsionou o processo de formação do Estado nacional, e

lentamente foram sendo demolidos os pilares que sustentavam o feudalismo. O renascimento do comércio na

Europa e a exploração colonial do Novo Mundo americano e afro-asiático propiciaram a ascensão

vertiginosa da economia mercantil. No meio rural europeu, as relações produtivas variavam desde as feudais

(senhor-servo) até as que envolviam o trabalho assalariado (proprietário-camponês), prenunciando o que

viria a ser um regime de características capitalista. A exploração do trabalhador e a expropriação de suas

terras possibilitaram uma gradativa e crescente ampliação de riquezas nas mãos dos donos das terras e dos

meios de produção – chamada acumulação primitiva de capitais.

O Estado no Antigo Regime

O Estado moderno retratou a transição do período do Feudalismo para o Capitalismo, refletindo os

interesses dos grupos sociais em conflito, ao preservar os privilégios da aristocracia feudal e abrir espaço ao

novo grupo burguês ascendente. Na prática, foi o resultado da derrocada do poder universal (igreja) e local

(nobreza) e da formação das monarquias nacionais. O Estado característico da época moderna é conhecido

como absolutista, na medida em que o poder estava concentrado nas mãos do rei e de seus ministros, os

quais aproveitavam as limitações dos grupos sociais dominantes – nobreza e burguesia – para monopolizar a

vida política. Incapaz de exercer hegemonia (a nobreza estava em decadência e a burguesia ainda se

mostrava frágil), esses grupos precisavam do Estado para preservar suas condições e privilégios; daí

sujeitarem-se ao rei, reforçando o poder do Estado moderno. Com as alterações ocorridas no comércio, o Rei

tornou-se figura importante. Isso porque o impulso das relações comerciais, o reaparecimento das cidades e

as mudanças na economia desorganizaram boa parte das antigas relações feudais. O surgimento da burguesia

e de centros urbanos à margem dos nobres e de seus domínios é um exemplo da reorganização das relações

sociais. Essas alterações abriram espaço para a entrada em cena dos reis, que se tornaram figuras importantes

nos processos de regulamentação das novas relações dentro da sociedade.

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Dificuldades e Características das Monarquias Nacionais

Alguns obstáculos marcaram o processo de formação das monarquias nacionais. Primeiro foram às

tensões entre os poderes nacionalistas das monarquias, por um lado, e, por outro, os poderes universalistas,

como Igreja e o Sacro império, que pretendia submeter e controlar toda a cristandade, e os poderes

particularistas, da nobreza feudal.

Outro obstáculo foi a grande variedade de costumes e a fragmentação existente na Europa Ocidental.

Eram moedas, hábitos, leis, tributos, pesos e medidas que variavam de região para região, de reino para

reino. Como submeter essas diferenças a um único poder? A monarquia nacional deveria conferir alguma

unidade a essas realidades distintas, o que não foi uma tarefa fácil para os reis e seus juristas.

Para dar conta dessas diferenças, das divergências e do funcionamento do Estado, os monarcas

dispunham de um aparato administrativo e jurídico e de um exército, que também contava com mercenários,

para garantir a ordem.

Essa característica limitadora do capitalismo e do desenvolvimento econômico burguês possibilitaria

o surgimento e avanço das ideias liberais, que levaram posteriormente às revoluções burguesas que

demoliram o estado absolutista. Devido à preponderância, nesse período, do absolutismo – poder capaz de

definir regras, práticas e ações em todos os níveis –, consolidou-se a concepção de um Estado interventor,

que devia atuar em todos os setores da vida nacional. No plano econômico, essa intervenção manifestou-se

através do mercantilismo.

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Aula 13

História – 1º Ano Ensino Médio

A Reforma Calvinista e Inglesa

A Suíça separou-se do Sacro Império em 1499 e a Reforma protestante iniciou-se em seu território

com Ulrich Zwinglio (1489-1531), que levou as ideias de Lutero ao país em 1529, desencadeando violenta

guerra civil, da qual ele próprio foi vítima. Pouco depois, chegou a Genebra o francês João Calvino (1509-

1564), que logo passou a divulgar suas ideias, fundando uma nova corrente religiosa.

As ideias de Calvino fundamentavam-se no princípio da predestinação absoluta, segundo o qual

todos os homens estavam sujeitos à vontade de Deus, e apenas alguns estariam destinados à salvação eterna.

O sinal da graça divina estaria em uma vida de virtudes, dentre as quais o trabalho diligente, a sobriedade, a

ordem e a parcimônia (contenção de gastos). Dessa forma, a doutrina calvinista exaltava características

individuais necessárias às práticas comerciais. Suas ideias, portanto, estavam mais próximas dos valores

capitalistas.

Inspirado em Lutero, Calvino considerava a Bíblia a base da religião, não sendo necessária sequer a

existência de um clero regular. Criticava o culto ás imagens e admitia apenas os sacramentos da eucaristia e

batismo. O calvinismo expandiu-se rapidamente por toda a Europa, mais do que o luteranismo, na medida

em que atendia às expectativas espirituais da burguesia. Assim, atingiu os Países Baixos e a Dinamarca,

além da Escócia, (John Knox) cujos seguidores foram chamados presbiterianos, da França (huguenotes) e da

Inglaterra (os puritanos).

A Reforma na Inglaterra

A Reforma Protestante foi desencadeada na Inglaterra pelo rei Henrique VIII (1509-1547), que

obteve dividendos políticos com o processo. Tendo como pretexto a anulação de seu casamento com

Catariana de Aragão para casar-se com Ana Bolena, o monarca inglês rompeu com o papa. Em 1534

publicou o Ato de Supremacia, criando a Igreja anglicana, da qual era o líder. Excomungado pelo papa,

reagiu, confiscando os bens dos membros da Igreja distribuídos pelo reino.

Apesar de assemelhar-se externamente ao catolicismo, com a manutenção das imagens e do clero, o

conteúdo da doutrina anglicana aproximava-se do calvinismo. Serviu aos interesses políticos do rei e às

expectativas da burguesia e foi à seita puritana que mais buscou enfatizar os aspectos calvinistas da religião.

A Contra Reforma

A expansão das doutrinas protestantes pela Europa gerou uma reação da Igreja, que buscou reverter o

quadro, num movimento que ficou conhecido como Contra Reforma. Uma iniciativa pioneira foi à fundação

da Companhia de Jesus, ordem religiosa criada pelo ex-soldado espanhol da região basca Ignácio de Loyola.

Organizando em rígida hierarquia e submetidos a uma disciplina quase militar, os “soldados de Cristo”,

como foram chamados, buscaram combater o protestantismo por meio do ensino e da expansão da fé

católica. Daí deriva o projeto da catequese indígena na América e nos demais continentes onde havia

colônias europeias.

Em 1542, o papa Paulo III convocou o Concilio de Trento, com o objetivo de discutir assuntos

religiosos, inclusive com teólogos protestantes. Nenhum consenso foi possível, e o Concilio acabou apenas

por reafirmar os princípios católicos, condenado o protestantismo. Entretanto, algumas medidas

moralizadoras começaram a ser tomadas, como a proibição da venda de indulgências e a criação de escolas

para a formação de eclesiásticos. Pouco antes do Concilio de Trento, o papa restabeleceu a Inquisição, agora

sob a forma do tribunal do Santo Ofício. Sempre em nome do combate ás heresias e comandada pelo

superior da ordem jesuítica, nas décadas seguintes, a Inquisição condenou a tortura e a morte milhares de

pessoas na Europa e nas colônias além-mar.

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Foi criado o Index, lista de livros proibidos pela Igreja católica. Qualquer obra considerada contraria

aos princípios da fé, incluindo livros científicos (de Galileu Galilei, Giordano Bruno, entre outros), as

Bíblias protestantes e, inúmeros outros autores, faziam parte dessa lista.

A Contra Reforma não destruiu o protestantismo, mas limitou a sua expansão. Seu sucesso mais

duradouro encontra-se na América, onde as iniciativas catequéticas dos jesuítas, nos séculos XVI e XVII,

deram frutos, sendo hoje a América Latina o local de maior concentração de católicos no mundo.

As Mudanças que Ocorreram Contra a Igreja

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Aula 14

História – 1º Ano Ensino Médio

Reforma da Igreja

A Renascença havia revitalizado a vida intelectual europeia, e nesse processo, descartara a

preocupação medieval com a teologia. De modo semelhante, a Reforma marcou o início de uma nova

perspectiva religiosa. Contudo, a Reforma protestante não teve origem nos círculos elitista dos eruditos

humanistas. Ela foi desencadeada por Martinho Lutero (1483-1546), um desconhecido monge alemão e

brilhante teólogo. A rebelião de Lutero contra a autoridade da Igreja fragmentou, em menos de uma década,

a unidade da cristandade. Iniciada em 1517, a Reforma dominou a história da Europa ao longo de grande

parte do século XVI.

A Igreja Romana, sediada em Roma, era a única instituição europeia que transcendia as fronteiras

geográficas, étnicas, linguísticas e nacionais. Durante séculos, estendera sua influência sobre cada aspecto da

sociedade e da cultura europeia. O resultado, porém, foi que sua imensa riqueza e poder parecem ter

superado seu compromisso com a busca da santidade nesse mundo e da salvação no seguinte. Obstruído pela

riqueza, viciado no poder internacional e protegendo seus próprios interesses, o clero, do papa abaixo,

tornou-se alvo de um bombardeio de críticas, iniciado na Baixa Idade Média.

O Contexto da Reforma

O processo de centralização monárquica, em andamento na Europa desde o final da Idade Média,

tornou-se tenso o relacionamento entre os reis e a Igreja, até então detentora de sólido poder temporal.

Assim, além do domínio espiritual sobre a população, os membros do clero detinham o poder político-

administrativo sobre os reinos. Roma – Isto é, o papa – recebia tributos feudais provenientes das vastas que

essa prática passasse a ser questionada pelos monarcas.

Dentro da própria Igreja, dois sistemas ideológicos se defrontavam. De um lado, o tomismo, corrente

predominante assumida especialmente pela cúpula romano-papal, que via no livre-arbítrio e nas boas obras o

caminho para a salvação. Do outro, a teologia agostiniana, fundada no princípio da salvação pela fé e

predestinação.

Um ingrediente poderoso na crise religiosa que se delineava foi a desmoralização do clero. Os abusos

e o poder excessivo de seus membros (do alto e baixo clero) contradiziam abertamente suas pregações

moralizadoras. Embora condenassem a usura e desconfiasse do lucro, os membros da Igreja praticavam-nos

de forma desenfreada. O comércio de bens eclesiásticos, o uso da autoridade para garantir privilégios, o

desrespeito ao celibato clerical e até a venda de cargos eclesiásticos não eram raros na Igreja desde o final da

Idade Média. O maior escândalo talvez fosse o da venda de indulgencias, isto é, do perdão dos pecados

cometidos pelos fiéis em troca de pagamentos a religiosos.

Nas universidades, o movimento de crítica ganhava vulto, principalmente em Oxford, na Inglaterra,

com John Wyclif, e em Praga, na Boêmia (Sacro Império Romano-Germânico), com João Huss. Wyclif

atacou severamente o sistema eclesiástico, a opulência do clero e a venda da indulgencias, defendendo o

confisco dos bens da Igreja na Inglaterra e a adoção dos votos de pobreza material do cristianismo primitivo.

Huss encampou as críticas de Wyclif e associou-se à independência da boêmia, que estava sob domínio do

Sacro Império, sendo seus seguidores chamados de hussitas. Huss acabou sendo preso, condenado e

queimado por decisão do Concílio de Constança, em 1415.

A Reforma Luterana

O grande rompimento iniciou-se na Alemanha, região do Sacro Império Romano-Germânico. A

Alemanha era ainda basicamente feudal, agrária, com alguns enclaves mercantis e capitalistas ao norte. A

Igreja era particularmente poderosa no Sacro Império, onde possuía cerca de um terço do total das terras. A

nobreza alemã por essa razão encontrava-se ansiosa por diminuir a influência da instituição, além de cobiçar

suas propriedades, o que estimulou ainda mais o rompimento.

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A Reforma teve início com Martinho Lutero (1483-1546), membro do clero e professor da

Universidade de Wittenberg. Crítico pregava a teologia agostiniana da predestinação, negando os jejuns e

outras práticas comuns apregoados pela Igreja. Em 1517, em Wittenberg, o monge insurgiu-se contra a

venda de indulgência realizada pelo dominicano João Tetzel, escrevendo um documento conhecido como As

95 teses, que radicalizava publicamente suas críticas à Igreja e ao próprio papa. Em 1520, o papa Leão X

redigiu uma bula condenando Lutero, exigindo sua retratação e ameaçando-o de excomunhão.

Queimando a bula em público, a reação de Lutero agravou a situação, ampliando suas consequências.

Estabeleceu-se uma verdadeira crise política, na qual a nobreza alemã dividiu-se, em parte a favor, mas, em

sua maioria, contra o papa. O imperador Carlos V convocou uma Assembléia, chamada Dieta de Wornms,

em 1521, na qual o monge foi considerado herege.

Acolhido por parte da nobreza, Lutero passou a dedicar-se à tradução da Bíblia do latim para o

alemão e a desenvolver os princípios da nova corrente religiosa. Mais tarde, em 1530, a Confissão de

Augsburgo fundamentou a doutrina luterana. Seu conteúdo incluía:

O principio da salvação pela fé, rejeitando o tomismo;

A livre leitura da Bíblia, vista como único dogma da nova religião (daí a importância de tê-la

traduzida para o idioma comum do povo);

A supressão do clero regular, do celibato clerical e das imagens religiosas (ícones);

A manutenção de apenas dois sacramentos: o batismo e a eucaristia;

A utilização do alemão, em lugar do latim, nos cultos religiosos;

A negação da transubstanciação (transformação do pão e vinho no corpo de e sangue de

Cristo), aceitando-se pão e vinho como um todo, o corpo de Cristo;

A submissão da Igreja ao Estado.

Ao subordinar a Igreja ao Estado, Lutero atraiu a simpatia de grande parte da nobreza alemã,

ampliando o apoio à nova doutrina. Entretanto, essas mesmas ideias serviram para inspirar a revolta

camponesa dos anabatistas. Liderados por Thomas Münzer, camponeses viram, na quebra da autoridade

religiosa, uma possibilidade de romper com a estrutura feudal, passando a confiscar terras, inclusive da

nobreza.

Lutero, entretanto, condenou violentamente os anabatistas, pregando a utilização da força para

exterminá-los. Repeliu também a burguesia, pois considerava o dinheiro um instrumento do demônio para a

disseminação do pecado. A partir de 1555, a Paz de Augsburgo, estabeleceu que cada governo dentro do

Sacro Império pudesse escolher sua religião e a de seus súditos de acordo com a vontade de seus príncipes.

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Aula 15

História – 1º Ano Ensino Médio

A Expansão Marítima Europeia – Grandes Navegações

A grande crise dos séculos XIV e XV, marcada pela Guerra dos Cem Anos entre França e Inglaterra

durante o século XIV, desestabilizou as rotas comerciais que cruzavam a França, essas eram importantes

para a articulação do comércio continental, ficaram comprometidas pela guerra, tornando necessário o

estabelecimento de caminhos alternativos.

Ao mesmo tempo, a Peste Negra devastou a população européia em muitas áreas, levando à violenta

retração dos mercados consumidores e, portanto, da atividade comercial. Finalmente a fome generalizada,

provocada pela escassez de alimentos que configuraram no cenário de destruição da guerra, completou o

contexto do que ficou conhecido como a crise do século XIV.

A diminuição da população européia criou uma situação na qual a retomada da atividade comercial

se faria de forma lenta, na mesma medida da própria expansão demográfica. O desvio de metais preciosos

para o Oriente, com o objetivo de se comprarem especiarias e outros artigos de luxo, favoreceu para o

esgotamento das minas de metais preciosos de ouro e prata no continente europeu, tornando limitada a oferta

de moedas, estrangulando o comércio. E, finalmente, o monopólio da lucrativa rota mediterrânea das

especiarias, exercido pelas cidades italianas, notadamente Veneza, restringia a possibilidade de lucros de

outras cidades europeias.

Esses fatores acabaram de forçar a burguesia européia a buscar novas rotas alternativas para expandir

o comércio, e a saída evidente era a navegação atlântica. Teve origem aí o processo de expansão marítima

européia. A empreitada de enfrentar a desconhecida navegação no Oceano Atlântico exigia investimentos de

vulto, que estavam muito além das possibilidades de qualquer cidade europeia isoladamente. Em outras

palavras, era necessária a mobilização ampla de recursos, o que foi feito em escala nacional, tornando a

centralização monárquica um verdadeiro pré-requisito para a expansão marítima da Europa.

As Navegações Portuguesas

A progressiva participação lusa no comércio europeu ganhou impulso no início do século XV.

Assim, a precoce centralização monárquica (Revolução de Ávis, 1385), associando os poderes políticos

concentrados nas mãos do rei e aos interesses do setor mercantil, teve papel decisivo na montagem das

grandes navegações portuguesas.

Esse contexto foi ainda favorecido pelos estudos náuticos liderados pela atuação do infante D.

Henrique, o navegador (1394-1460). D. Henrique atraiu para sua residência, em Sagres, navegadores

cosmógrafos, cartógrafos, mercadores e aventureiros, desde o início do século XV. Tal conjunto de

conhecimentos tornou viável o projeto expansionista português e seu desejo de viagens pelo Oceano

Atlântico, o que contribuiu para atingir as Índias, superando as limitações ao comércio continental europeu

do século XV.

Pouco apouco, ganhou corpo o objetivo português de realizar o périplo africano, isto é, a viagem em

torno da África. Nesse quadro, as expedições portuguesas avançaram, a cada ano, milhas em direção ao sul,

atingindo pontos cada vez mais distantes do litoral da África e ilhas do Atlântico (Açores, Madeira, Cabo

Verde). A exploração das ilhas inabitadas e recém-conquistadas contou com uma política de povoamento

baseada na agricultura e na pecuária. Além da criação de gado, foram implantados cultivos, principalmente

de trigo, vinhas e cana-de-açúcar. A divisão da nova terra em capitanias hereditárias – sistema pelo qual o rei

escolhia entre seus nobres os administradores (capitães-donatários), no qual devia promover o povoamento e

a exploração econômica do novo território –, era uma forma de aperfeiçoar a colonização, sendo adotada

posteriormente nas terras da América portuguesa.

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O processo de expansão portuguesa:

1415, tomada de Ceuta, no norte da África;

1418-1432, a ocupação do arquipélago dos Açores, com introdução de Capitanias

Hereditárias;

1434, a chegada ao Cabo Bojador;

1444, a descoberta do arquipélago de Cabo Verde;

1482 Diogo Cão atinge a foz do rio Zaire;

1486, D. João II organiza duas expedições para o Oceano Índico: uma terrestre comandada

por Pedro de Cavilhã, e outra marítima, comandada por Bartolomeu Dias;

1488, Bartolomeu dias atinge o Cabo da Boa Esperança;

1498, Vasco da Gama atinge Calicute, na costa oeste da Índia;

1500, Pedro Alvares Cabral oficializa a posse sobre o Brasil.

As Navegações Espanholas

Pouco antes de a expansão marítima portuguesa atingir seu objetivo de chegar às Índias, a Espanha

acabou por organizar expedições atlânticas, tornando-se a segunda monarquia europeia a fazê-lo. A primeira

viagem espanhola, bastante modesta, foi concebida em 1492, por um navegador genovês, Cristóvão

Colombo. Partiu do porto de Palos na Espanha, no mês de agosto, em três caravelas (Nina, Pinta e Santa

Maria) com o propósito de atingir as Índias contornando o globo terrestre, navegando sempre em direção ao

Ocidente. Assim, buscava-se uma rota alternativa àquela controlada pelos portugueses no sul, em torno da

África. Colombo chegou ao continente americano pensando ter alcançado as Índias e morreu acreditando

nisso. Atlântico, Somente em 1504 desfez-se o engano, quando o navegador Américo Vespúcio confirmou

tratar-se de um novo continente.

A essa altura, portugueses e espanhois, espalhados pelo Atlântico detinham o monopólio das

expedições oceânicas, sendo seguidos por outras nações a partir do início do século XVI, especialmente

França e Inglaterra. Entretanto, os dois reinos ibéricos já haviam decidido a partilha do mundo antes mesmo

que outras nações começassem a se aventurar nos novos territórios: em 1493, a bênção do papa Alexandre

VIU a esse acordo levaram à edição da Bula Intercoetera, substituída no ano seguinte pelo tratado de

Tordesilhas.

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Esse estipulava que todas as terras situadas a oeste do meridiano de Tordesilhas (a 370 léguas a oeste

do arquipélago de Cabo Verde) pertenceriam à Espanha, enquanto as terras situadas a leste seriam

portuguesas, como é possível observar no mapa. Outras nações européias rejeitaram esse tratado, e a disputa

pelos territórios recém “descobertos” seria um marco na Idade Moderna, que se iniciava.

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Aula 16

História – 1º Ano Ensino Médio

O Mercantilismo – 1º Ano

O Estado Moderno A idade moderna inicia-se em 1453, com a tomada de Constantinopla pelos turcos e estende-se até

1789 com o início da Revolução Francesa. O século XV marcou uma nova fase do processo histórico da

Europa Ocidental. Estruturou-se uma nova ordem socioeconômica – O Capitalismo Comercial. A nobreza

mantinha as “aparências” de poder por causa das suas terras e títulos. Embora estivessem em dificuldades

financeiras, ainda sim, a alta burguesia queria se estabelecer e permanecer no poder com as novas regras da

economia. Já a pequena burguesia ascendente, mesmo com próspero comércio, não conseguia ser a classe

dominante junto à aristocracia.

A Idade Moderna, na verdade, pode ser considerada como um período de transição, que valorizou o

comércio e a capitalização, que serviriam de base para o desenvolvimento do sistema capitalista.

A Formação do Estado Moderno A Idade Moderna foi bem diferente da Idade Média. Pode-se dizer que suas características foram

bem opostas. A Idade Média foi marcada por:

Regionalismo político – onde os feudos e as comunas tinham autonomia política, causando a

fragmentação no sistema administrativo;

O poder da igreja – que enfatizava e colocava a autoridade do Papa sobre os reinos da

época. No Estado Moderno desenvolveu-se a noção da soberania, ou seja, a ideia de que o

soberano (governante) tinha o direito de consolidar suas decisões perante seus súditos (ou

governados) que morassem no seu território. Para isso ocorrer, o Estado desenvolveu vários

meios para controlar a política de seu território.

Alguns desses meios foram:

Burocracia: funcionários que cumpriam ordens do rei e desempenhavam as tarefas de

administração pública. Estes cargos eram ocupados pela nobreza palaciana e pela alta

burguesia.

Poder militar: incluía todas as forças armadas – a marinha, exército e polícia – para

assegurar a ordem pública na sociedade e o poder do governo.

União da justiça- a legislação passou a valer em todo o território nacional.

Sistema tributário: ou seja, sistema de impostos regulares e obrigatórios para manter o

governo e a administração pública.

Idioma oficial: um mesmo idioma falado em todo território do estado, que transmitia as leis,

ordens e tradições da nação, além de valorizar seus costumes e cultura.

O Estado moderno também é conhecido como Estado Absolutista, porque o poder estava

concentrado nas mãos de poucos (reis e ministros) que se aproveitavam das limitações dos grupos sociais

dominantes (a nobreza e a burguesia) para controlar a política.

O Estado dependia dos impostos arrecadados sobre as atividades comerciais e manufatureiras. Por

isso, era necessário que o Estado tivesse membros da alta burguesia em cargos do governo, incentivar o

lucro, a expansão dos mercados comerciais e a exploração das colônias.

A Base do Mercantilismo e o Absolutismo A base teórica do absolutismo foi dada por Jacques Bossuet e Thomas Hobbes. Bossuet defendia o

direito divino dos reis; seus atos eram superiores ao julgamento dos homens. Já Hobbes justificou o

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absolutismo, a partir do fato dos homens entrarem em um acordo, onde o poder ficaria com o rei e a ordem

seria estabelecida.

Essas monarquias regulavam suas economias de acordo com as práticas mercantilistas que tinham

por base:

Aumentar a qualquer custo as economias da Coroa;

Vender mais do que comprar;

Incentivar a produção interna, incluindo as colônias, para assim ter uma balança comercial

favorável;

Adotar medidas de proteção para as manufaturas e controlar as taxas alfandegárias sobre os

produtos importados;

Conquistar colônias e explorar produtos de alto valor comercial na Europa;

A aliança da burguesia mercantil com os reis em favor dos seus interesses econômicos. Com

isso a burguesia conseguiu até mesmo formar um exército forte.

Nesse período, teve um estado interventor, que atuava em todos os setores da vida nacional. Na

economia, essa intervenção manifestou-se através do mercantilismo.

O MERCANTILISMO Mercantilismo foi o conjunto de teorias e práticas de intervenção econômica do sistema absolutista.

Era um sistema complexo e envolvia teorias exatas sobre produção manufatureira, utilização da terra e do

poder do Estado. Pode-se dizer que era uma política de controle e incentivo, onde o estado buscava garantir

o seu desenvolvimento comercial e financeiro e também o seu poder. Portanto, pode-se afirmar que o

absolutismo forneceu a base política necessária para o mercantilismo.

Sua base principal foi:

O metalismo: a riqueza e o poder de um estado de acordo com os metais preciosos

acumulados, ouro e prata.

Balança comercial favorável (superávit comercial): exportar mais do que importar; diminuir

a importação e acumular capital. Com esses princípios foram aplicados: Na Espanha – o

Estado investiu em metais preciosos, através da exploração colonial americana e para por

restrições as importações, priorizou o metalismo.

Protecionismo: necessário para assegurar o monopólio, era adotado por meio de medidas

fiscais ou alfandegárias que dificultava a entrada de mercadorias de outros países,

encarecendo-os.

Monopólio: direitos exclusivos dos reis sobre as economias nacionais.

Estímulo à economia nacional: as práticas do mercantilismo eram voltadas ao fortalecimento

da economia interna.

Colonialismo: o mais importante meio para atingir os objetivos mercantilistas, uma vez que

nas colônias as potências podiam instaurar, sem restrições, suas políticas econômicas. O

fortalecimento da economia nacional tinha como finalidade o enriquecimento do Estado e dos

comerciantes, ou seja, a burguesia.

Mercantilismo nos séculos XVI-XVIII Na França, principalmente no século XVII, o governo tentou diminuir as importações e aumentar o

valor das exportações, por estimular as manufaturas, em especial àquelas voltadas para a produção de artigos

de luxo. Para esse objetivo, criou diversas companhias de comércio. Seu maior defensor foi – o ministro de

Luís XIV –, Colbert, pois na França o mercantilismo foi chamado de colbertismo, e também de

industrialismo, visto que essa política econômica dava prioridade às indústrias francesas, além de ter

incentivos para a construção naval; com tudo isso, a França conseguiu conquistar o mercado externo.

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Na Inglaterra, o governo favoreceu o desenvolvimento naval para a exportação e a exploração do

comércio externo. Também incentivou a produção manufatureira e protegendo-a da concorrência através de

medidas protecionistas econômicas, com uma forte política alfandegária. Houve várias medidas de proteção

ao comércio marítimo. Como a criação de leis contra o transporte de produtos da metrópole e das colônias

inglesas por navios estrangeiros. Esta lei evitava gastos com fretes para navios estrangeiros e impedia a

evasão de moedas para o exterior, deixando o lucro do comércio no país. Estes foram os atos de navegação,

que serviram para o desenvolvimento comercial inglês.

No século XVI Portugal e Espanha tomaram a liderança nas mudanças econômicas na Europa.

Também tomaram a frente na expansão ultramarina, logo acabaram sendo os primeiros a se beneficiar das

riquezas das terras descobertas. A Espanha foi a mais beneficiada, pois teve nas suas colônias de exploração

metais preciosos. Enquanto que Portugal buscava manter o monopólio comercial das índias e permanecer

com a nova terra “descoberta”, Brasil. Dentro desse processo mercantilista, outro mecanismo foi criado para

fortificar as bases do mercantilismo europeu absolutista, o Pacto Colonial.

Pacto colonial

Sistema que consistia na passagem obrigatória pela metrópole dos produtos que entravam ou saíam

da colônia. Todos os produtos manufaturados da metrópole deveria produzir, de acordo, com as exigências

do mercado, para garantir lucros à coroa e a burguesia.

A Espanha logo enriqueceu, por causa do acúmulo de metais preciosos. Mas o excesso desses metais

gerou em longo prazo, problemas para a economia espanhola. Tanto que diminuiu as atividades agrícolas

fazendo a Espanha ficar dependente das importações. Esse problema também se espalhou por outros países

europeus.

Esta crise favoreceu os países produtores como França, Holanda e Inglaterra, a fortificar suas

exportações e acumular capital, visto que estes países se voltaram para o comércio exterior favorecendo

novas tecnologias agrícolas para a produção como meio de entesouramento.

A Relação: Econômica e Política no Mercantilismo O comércio permitiu ao governo manter e sustentar novas necessidades. Como: os exércitos a serviço

do rei. Visto que o exército era importante para a defesa do estado nacional, e, a extensão política do

mercantilismo econômico.

Essa relação- rei e burguesia – tinha suas vantagens. O rei controlava o recolhimento de impostos,

que tinha uma parte reservada para o exército. A burguesia recebia a proteção militar e política para

continuar com projetos econômicos e sua expansão rumo a novos mercados, ou seja, ao Imperialismo.

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Aula 17

História – 1º Ano Ensino Médio

A Colonização América

A expansão colonial iniciada pelos países europeus no século XV nas grandes navegações constitui

um dos capítulos mais importantes da história moderna. Se, por um lado, seus defensores veem nela uma

incontestável ação civilizadora, é certo que, por outro, ela acarretou a desaparição de importantes culturas e

a sujeição de numerosos povos às necessidades e interesses coloniais.

Eram duas horas da madrugada do dia 12 de outubro de 1492 quando o marujo da caravela gritou:

“Terra, terra”. A frota de Cristóvão Colombo enfim chegava a algum lugar. Em 3 de agosto a nau Santa

Maria e as caravelas Pinta e Niña tinham zarpado do porto de Palos, no sul da Espanha. Em 6 de setembro, a

expedição fez escala nas ilhas Canárias e partiu com as embarcações rumo ao desconhecido. Em 12 de

outubro chegou a uma ilha do arquipélago das Bahamas, Colombo colocou o nome da ilha de São Salvador.

Navegou para a outra ilha que batizou de São Domingos.

Embora os europeus agissem como se estivessem descobrindo um novo mundo, o continente

americano já era habitado, há muito tempo, por diversas culturas, com diferentes formas de organização

social. Na época da chegada dos europeus, três grandes impérios se destacavam: o Asteca, e Maias na

Mesoamérica (denominação dos povos que vivam na América central e, extremo sul da América do Norte) e

o Inca, na região andina.

Após a chegada de Colombo, as Antilhas se tornaram o ponto de partida para as novas conquistas.

Ali, foi explorado o ouro de aluvião (rios, córregos). No início, em geral, os europeus eram bem recebidos e

bem tratados pelos nativos. Predominavam as alianças, a miscigenação, as trocas culturais e o escambo

(troca de mercadorias). Ao poucos os maus tratos e as novas doenças trazidas pelos espanhóis causaram

epidemias que dizimaram grandes contingentes de ameríndios. Com o avanço dos europeus pelo continente,

a conquista sobre a população nativa tornou-se mais intensa. Dois exploradores espanhóis, Fernão Cortês e

Francisco Pizarro, lideraram a primeira fase da ação europeia sobre a América.

Em 1519, o grupo liderado por Fernão Cortez chegou a Tenochtitlán, capital asteca, onde foi bem

recebido pelo imperador Montezuma. Tempos mais tarde, porém, um conflito entre espanhóis e astecas

eclodiu. Após intensa batalha com utilização de cavalos, arcabuzes e canhões, os espanhóis derrotaram os

guerreiros astecas. Em 1521, Cortez tomou a capital do Império Asteca.

Dez anos mais tarde, uma expedição comandada por Francisco Pizarro dominou o Império Inca,

cujas proporções territoriais eram enormes. Aproveitando-se da crença dos incas em suas boas intenções,

Pizarro conseguiu se aproximar do imperador Atahualpa e prende-lo. Ao realizar alianças políticas com

facções dissidentes, os espanhóis puderam contar com o apoio de grupos insatisfeitos com a dominação inca.

Cuzco, a capital do Império Inca foi devastada e saqueada em 1533. Homens, mulheres e crianças foram

torturados para revelarem tesouros escondidos. Nos Andes, a resistência mais tenaz dos incas perdurou por

algumas décadas, até a execução do imperador Tupac Amaru I, em 1571. Assim ficou a estrutura

administrativa da Espanha nas terras da América:

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A pesar do esplendor cultural dos grandes impérios americanos, as culturas nativas não conseguiram

resistir aos homens que vieram do mar. Os massacres e as doenças reduziram drasticamente a população

ameríndia. Os contatos propiciados pelas novas conquistas desencadearam grandes epidemias, provocando

uma enorme taxa de mortalidade. Doenças contagiosas como a varíola dizimaram populações nativas

inteiras. As guerras de conquistas e a subnutrição contribuíram muito para a dominação cultural e política

europeia. Poucas vozes européias se ergueram para denunciar o massacre da população indígena. Entre elas,

destaca-se a do frei dominicano Bartolomé de Las Casas (1484-1566), que se opôs à ideia de “guerra justa” e

denunciou as atrocidades realizadas pelos espanhóis em território americano.

Para quem defendia a ação violenta contra os indígenas, a guerra era justa, pois, de outra maneira,

tais povos não abdicariam de seus costumes “bárbaros” e não se submeteriam aos espanhóis. Lãs Casas foi

contra esse pensamento, denunciando que a tortura e o assassinato dos nativos da América eram movidos

apenas pela ganância e crueldade dos espanhóis. Segundo ele, que também desejava a conversão dos

indígenas ao cristianismo, a palavra e o convencimento deveriam vir antes da espada.

Mesmo cona atuação de Las Casas, as conquistas européias provocaram a destruição e

desestruturação social e econômica das populações locais. Grandes impérios nativos deixaram de existir e os

habitantes que restaram foram submetidos a várias formas de trabalho em favor dos espanhóis.

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Aula 18

As Sociedades Pré-Colombianas

Na época da chegada dos europeus na América, estima-se que sua população estivesse próxima de

cem milhões de habitantes, irregularmente distribuídos pelo continente e em diferentes estágios de

desenvolvimento. “havia de tudo entre os indígenas da América: astrônomos e canibais, engenheiros e

selvagens da Idade da Pedra. Mas nenhuma das culturas nativas conhecia o ferro nem o arado, nem o vidro e

a pólvora, nem empregava a roda, a não ser em pequenos carrinhos.” (GALEANO, Eduardo. As veias

Abertas da América Latina, 1981).

Os ameríndios mais avançados tecnologicamente e que possuíam sofisticada organização social

cultural formavam a maioria da população americana no século XV. Isto porque o aumento demográfico

decorrente da agricultura neolítica permitiu que se formassem, em certos locais, concentrações

populacionais, resultando na urbanização, processo que caracterizou séculos e até milênios da história dos

povos pré-colombianos.

Em meio a esta evolução, surgiram sociedades divididas em classes sociais com um Estado

estruturado e dominador, que impunha tributos, transformando a ordem tribal em civilizações com crescente

complexidade de organização e cultura, especialmente na América Central e nos Andes. Na primeira,

destacaram-se as civilizações Maias e Astecas e regiões andinas, a Inca, não sendo, porém, as únicas.

Sociedades Pré-Colombianas

Os mesoamericanos

A região mesoamericana corresponde à boa parte dos atuais países como México, Guatemala, El

Salvador, Honduras, Nicarágua e Costa Rica, produziram ao longo de 25 séculos diversas civilizações

poderosas, destacando-se a dos Olmecas, Maias, Toltecas e principalmente a dos Astecas.

Das primeiras civilizações mesoamericanos a dos Olmecas é considerada a fundadora da “cultura

mãe” da América Central, cujo desenvolvimento situa-se entre um pouco antes de 1000 a.C. até pouco

depois do século V a.C. A economia olmeca estava baseada na agricultura de feijão, milho e abobora ao

longo dos rios e caça e pesca. Toda vida olmeca estava ligada aos vários centros religiosos cerimoniais.

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Existia um comércio baseado em pedras preciosas (jade e outras) para adorno, produziam uma cerâmica

rudimentar, criaram uma escrita e um calendário pouco conhecido, os quais serviram de base para o

desenvolvimento das civilizações posteriores.

Os Olmecas construíram a cidade de Teotihuacán por volta de 100 a.C. localizada a nordeste da atual

Cidade do México, com predomínio social, centro administrativo e religioso, com palácios, pirâmides,

avenidas, praças e bairros planificados, pertenciam a uma aristocracia guerreira e aos funcionários da

administração estatal, possuía uma população superior a de 80 mil habitantes.

A Civilização Maia

Ocupando uma região que correspondia hoje a península mexicana de Iucatã, Guatemala, Beleze e

Honduras, na América Central, atingiu o seu apogeu econômico cultural entre os séculos III e XI,

organizando-se em cidades-estados, como Palenke, Tikal, Copan, entre outras. O predomínio social cabia a

uma elite militar e sacerdotal, de caráter hereditário, comandada pelo Halach Uinic, responsável pela

administração e cobrança de impostos. Nos arredores das cidades ficavam as ladeias de camponeses

submetidos à servidão coletiva.

No século IX, floresceram cidades-estados que antes eram de pouca expressão, como El Tajin (atual

Vera Cruz), xochicalco (Atual Morelos) E Colula (atual Puebla), as quais pouco depois entraram em declínio

devido a invasões estrangeiras. Quando chegaram os espanhóis, no século XV, todas as cidades maias

estavam arruinadas, beirando a total desintegração, uma decadência de vários séculos cujas razões são ainda

pouco conhecidas. Ao final da civilização Maia surgiram novas hegemonias de invasores mesoamericanos,

destacando-se por um breve período a dos Toltecas e, a seguir, a dos mexicas, também conhecidos por

Astecas.

A Civilização Asteca

De todas as grandes culturas pré-colombianas da região mesoamericana, a asteca foi a mais

grandiosa. A civilização Asteca reuniu um império que e estendia desde o oeste mexicano até o sul da

Guatemala, uma área superior a trezentos mil quilômetros quadrados, envolvendo uma população próxima

de 12 milhões de habitantes. Sua capital, Tenochtitlán (hoje cidade do México), espalhava-se por 13

quilômetros quadrados e tinha uma população perto de cem mil pessoas, segundo estimativas mais seguras

(há quem chegue a apontar quinhentos mil habitantes).

Em seu apogeu, o império asteca era sustentado pelo domínio sobre povos vizinhos, obrigados a

pagarem tributos, o que era conseguido com alianças, confederações e constantes expedições punitivas dos

astecas, assemelhando-se muitíssimo às civilizações da Antiguidade Oriental, como Egito e Mesopotâmia.

A Civilização Inca

Por volta de 1438, formou-se na região do atual Peru o Império Inca. Chamava-se Tawantinsuyo, em

quechua, principal língua falada nos Andes. No Império Inca, o principal deus era Inti, o deus sol. O império

cobrava tributos das aldeias vizinhas, chamadas ayllus, que cultivavam vários tipos de batata nas terras altas

do território, transportados da serra ao litoral no lombo de lhamas. Os incas foram os únicos na América a

domesticas animais para o trabalho.

Por terem conquistados vastas áreas com diferentes ambientes ecológicos e climáticos, desde o frio

altiplano andino até a quente costa peruana, o Império Inca pôde desenvolver atividades bem variadas. Na

verdade, o Império Inca era imenso, incluindo os atuais Peru, Bolívia, e Equador, o sul da Colômbia e o

noroeste argentino. Os incas estavam em plena expansão na região amazônica quando foram conquistados

pelos espanhóis, na década de 1530.

Uma diferença importante entre os impérios inca e asteca reside na forma de tributação. No caso

asteca, como vimos, embora o tributo em trabalho fosse essencial, predominava o pagamento em gêneros

agrícolas ou artesanato enviado a Tenochtitlán. No caso inca, prevalecia o tributo em trabalho, conhecido

como mita. Esse trabalho era uma oferenda ao deus sol, encarnado no próprio soberano dos incas, chamado

também de Inca.

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Aula 19

História – 1º Ano Ensino Médio

Astecas

Na América, a organização de sociedades mais complexas, como a dos Astecas, Maias e Incas, não

ocorreu ao mesmo tempo em que no Oriente próximo ou na Europa. Aliás, os processos históricos não são

nunca os mesmos em todas as sociedades. O próprio continente americano mostra evidências dessa

afirmação. Na América, durante séculos, conviveram (e ainda convivem) inúmeros povos com realidades

históricas bem distintas: povos nômades de cultura primitiva, como muitas tribos norte-americanas, os

esquimós (Alasca), os ianomâmis e os xavantes (Brasil), que viviam (alguns ainda vivem) basicamente da

caça e da coleta, os tupis-guaranis (América do Sul), os pueblos (América do Norte) e os aruaques (América

Central), sedentários e agrícolas; e, finalmente, os povos de culturas mais complexas – maias, incas e

astecas.

Os Astecas e sua Origem

A influência dos olmecas entre os astecas também foi muito grande, sobretudo porque eles viveram,

em tempos, diferentes, basicamente na mesma região. Após a hegemonia olmeca, a região sofreu várias

invasões de povos vindos da América do Norte.

Os primeiros povoadores procedentes do norte, da região de Nahua (família linguística do nahuatl),

construíram, entre 500 e 600 d.c. baseados nas tradições olmecas, uma grande cidade, Teotihuacán, com

gigantescas pirâmides homenageando o Sol, a Lua e seu deus maior, Quetzacoatl. Nesse centro urbano

desenvolveu-se uma sociedade sobre a qual, infelizmente, temos poucas informações.

Os toltecas, uma das tribos nahuas do norte, chegaram à América Central entre 850 e 900 d.c., e

talvez tenham se submetido aos sacerdotes de Teotihuacán, pois deram continuidade à construção e

manutenção dessa grande cidade. Em razão do gigantismo de suas construções, muitos povos consideravam

que ela havia sido construída por gigantes, antes da chegada dos homens à região. Eles organizaram um forte

Estado e uma rica civilização, que, após disputas internas, guerras externas e invasões, chegou ao fim em

1194 d.c.

Calendário Asteca

O povo mexica, mais conhecido como asteca, é originário da região de Aztlán (daí a palavra asteca),

no sul da América do Norte. Ele se estabeleceu no planalto mexicano (especificamente nas ilhas do lago

Texcoco), junto com outros povos, após uma longa marcha, em 1168 d.c. No ano de 1325 eles começaram a

construção de sua cidade, Tenochtitlán, que no século XV seria uma das maiores cidades do mundo.

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Organização Política - A formação do Império Asteca

A formação do Império asteca baseou-se na aliança de três grandes cidades, texcoco, Tlacopán e a

capital, Tenochtitlán, estendendo seu poder por toda a região. As relações políticas que se estabeleceram

entre elas e as regiões que controlavam ainda não são muito claras. Contudo, pode-se afirmar que não era

uma estrutura rigorosamente centralizada, como ocorreria entre os incas.

Na confederação Asteca conviviam inúmeras comunidades com idiomas, costumes e culturas

diferentes (zapotecas, mixtecas, totonacas, etc.) A unidade entre elas dava-se em torno de aspectos religiosos

e, principalmente, através da centralização militar dos astecas e da arrecadação dos impostos em

Tenochtitlán. As diversas províncias da região que, além dos tributos, elas deveriam fornecer contingentes

militares e submeter-se aos tribunais da capital.

O Império asteca atingiu seu apogeu entre 1440 e 1520, quando foi inteiramente destruído pelos

colonizadores espanhóis liderados por Cortés. Após diversas incursões colonizadoras em agosto de 1521 o

Império Asteca foi inteiramente conquistado. Diversas razões levaram à derrota asteca a primeira é

propriamente militar: a guerra, para os astecas, tinha como objetivo a dominação político-militar, para os

espanhóis a guerra era de conquista e extermínio. Além disso, as estratégias militares e, principalmente, o

armamento bélico dos colonizadores eram bem mais avançados. Outro motivo importante foi a proliferação

de várias doenças e epidemias entre os astecas (a mais forte foi a varíola). Um fato adicional que contribuiu

muito para a derrota asteca foi a aliança estabelecida entre alguns povos da região (tlaxcaltecas, totonecas,

etc.) e os espanhóis. A intenção imediata desses povos era derrotar a hegemonia dos astecas na região, e os

espanhóis eram fortes aliados para alcançar esse objetivo. Todavia, eles não puderam prever o que lhes

aconteceria após a derrota asteca, com a consolidação da colonização européia.

A Economia Asteca

A sustentação da economia do Império estava baseada justamente no pagamento dos tributos em

mercadorias. A não destruição das cidades submetidas e a manutenção relativa do poder local incluíam-se

nessa lógica de arrecadação dos tributos, que variavam muito. Estima-se que, no final do Império,

Tenochtitlán recebia toneladas de milho, feijão, cacau, pimenta seca; centenas de litros de mel, milhares de

fardos de algodão, manufaturados têxteis, cerâmicas, armas, além de animais, aves, perfumes, papel, etc.

A produção agrícola estava baseada essencialmente nos cereais, sobretudo no milho que, na verdade,

foi à base da alimentação das civilizações pré-colombianas. É bem provável que essas sociedades não

teriam se desenvolvido sem o milho, pois ele as sustentava e possibilitava o crescimento de suas

populações.

A posse das terras tinha uma característica muito interessante: o Estado asteca era proprietário de

todas as terras e as distribuía aos templos, cidades e bairros (calpulli). Já nas cidades e bairros, a exploração

da terra tinha um caráter coletivo, todo adulto tinha direito de cultivar um pedaço de terra para sobreviver e o

dever de trabalha-la. Na fase final do Império, essa relação foi se modificando, pois sacerdotes, comerciantes

e chefes militares se desobrigaram de trabalhar na terra, criando uma forma de diferenciação social.

A Sociedade Asteca

Foi uma sociedade fundada em aspectos religiosos e na guerra, aqueles que detinham mais poder

eram os sacerdotes, seguidos dos chefes militares e dos altos funcionários do Império. Os altos funcionários

militares e do Estado recebiam a denominação tecuhtli (dignitário), eram escolhidos pelo soberano e tinham

uma série de privilégios (não pagavam impostos e viviam em grandes residências).

Logo abaixo estavam os calpullec, espécies de administradores dos bairros (calpulli). Inicialmente

eles eram escolhidos pelos habitantes dos bairros, mas com o tempo passaram a ser indicados pelos

soberanos.

O comércio externo era realizado por poderosas corporações de comerciantes, os pochtecas. O

comércio de luxo entre as cidades era monopolizado por eles. Em razão do rápido enriquecimento desse

setor da sociedade, ele foi ganhando gradativamente poder e distinção.

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A maioria dos artesãos trabalhava vinculada a algum senhor (tecuhtli), e muitos mantinham oficinas

em palácios e templos. O imposto era pago em artigos de sua especialidade e não eram obrigados ao trabalho

coletivo.

A maior parte da população estava entre os macehualli, que eram homens livres com direito a

cultivar um pedaço de terra para sua sobrevivência, embora devessem obrigações como pagamento de

impostos em mercadorias (a maior fonte de arrecadação), prestar o serviço militar e o trabalho coletivo

(construir, conservar e limpar estradas, pontes e templos).

Os tlatlacotin formavam o estrato social mais baixo, composto geralmente por prisioneiros de guerra,

condenados, desterrados. Em troca de casa, comida e trabalho, eles se vinculavam a um amo. Isso não

significava que eram escravos, pois podiam torna-se livres e possuir bens.

Religião e a Cultura Asteca

Os astecas eram considerados o povo mais religioso da região. Sua religião era essencialmente

astral, isto é, baseada nos astros, e foram absorvendo deuses e ritos das mais importantes era Uitzlopochtli,

que representava o sol do meio-dia.

Os mitos e ritos astecas eram muito ricos e variados, e relacionavam-se com a natureza. Os cultos

mais importantes sempre envolviam o Sol. Eram muito comuns rituais com sacrifícios humanos; a guerra,

portanto, era uma grande fornecedora de prisioneiros para os sacrifícios. Geralmente toda a energia da

comunidade estava canalizada para as atividades ritualísticas, realizadas com uma série encenações e

procedimentos minuciosos.

As atividades artísticas dos astecas foram muito influenciadas pelas tradições olmecas e toltecas. A

escultura em jade e as grandes construções são exemplos claros dessas influências. A arquitetura estava

ligada à vida religiosa, a forma mais frequentemente utilizada era a pirâmide com escadarias, culminando

em um santuário no topo.

Os afrescos coloridos e as pinturas murais também tinham destaque entre as artes astecas. O escriba

ostentava o título de pintor, pois os hieróglifos eram acompanhados por uma série de quadros

cuidadosamente desenhados.

A música e a poesia estavam intimamente ligadas. Quase sempre acompanhadas por instrumentos,

danças e encenações, as músicas tinham caráter religioso. Infelizmente, a violência da colonização espanhola

acabou destruindo grande parte dessa rica produção.

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Aula 20

História – 1º Ano Ensino Médio

Os Incas

Origens

O povo incaico é originário de uma região entre o lago Titicaca e a cidade de Cuzco, no Peru. A

partir daí os incas expandiram-se por uma área que abrangia desde o sul da Colômbia, passando pelo

Equador, Peru, Bolívia e norte da Argentina, até o sul do Chile Esse Império chegou a reunir cerca de 15

milhões de pessoas, de povos com línguas, costumes e culturas diferentes.

Antes da construção do Império incaico viviam nessa região povos com culturas e formações sociais

avançadas, que se costuma denominar pré-incaicos. Eles estavam distribuídos por toda a costa leste do

continente sul-americano, nas serras e no altiplano andino; os chavin viviam nas serras peruanas; os manabi,

no litoral do equador; os chimu, no norte do Peru; e havia ainda os chinchas, mochicas, nazca, e outros.

Talvez grande demonstração do desenvolvimento desses povos pré-incaicos seja Tiahuanaco. Tratava

–se de um grande centro cerimonial (hoje suas ruínas estão a cerca de 100 Km de La Paz, capital da Bolívia)

que recebia periodicamente milhares de pessoas por Ano. Estima-se que essa civilização que parece ter sido

influenciada pelos chavin, estabeleceu-se na região por volta do século X d. C.

A Organização Política Inca

O Império Inca absorveu as diversas culturas das civilizações preexistentes, colocando-as a serviço

da expansão e manutenção do Império. A vitória sobre os chancas, em 1438 d. C., liderada pelo inca

Yupanqui, marcou o início da formação do Império. Ele ocupou quase todo o Peru, chegando até a fronteira

do Equador. Seus sucessores expandiram o Império para o altiplano boliviano, norte da Argentina, Chile

(Tope Inca) e equador, até o sul da Colômbia (Huayana capac, 1493-1528).

A expansão foi interrompida em razão da disputa entre dois irmãos, filhos de Huayana: Huascar, que

centralizou seu Império em Cuzco, e Atahualpa, sediado em Quito. A rivalidade entre os irmãos levou oi

Império a uma verdadeira guerra civil, enfraquecendo-º A vitória de Atahualpa não lhe trouxe vantagens,

pois, junto dela, chegaram os colonizadores, liderados por Pizarro, que destruíram todo o Império Inca.

Para controlar seu Império o Estado inca mantinha um constante censo populacional, um instrumento

fundamental para o censo era o quipo, uma espécie de elaborada calculadora manual feita de cordões

coloridos e nós. Quem realizava o levantamento e a leitura eram os funcionários chamados de

quipucamayucus.

Esse imenso Império inca, controlado de perto pelo Estado, precisou de uma infraestrutura que

permitisse a circulação de funcionários, mensageiros, impostos, populações, exércitos, etc. Para que isso

ocorresse, foi construída uma incrível rede de pontes e caminhos lajeados. Ao longo desses caminhos havia

os tambos, pequenas construções que continham alimentos e água, servindo de alojamento para os viajantes.

A Sociedade Inca

O Estado inca era imperial, capaz de controlar rigidamente tudo o que ocorria em sua vasta extensão

territorial. O chefe desse Estado era o Inca, um imperador com poderes sagrados hereditários, reverenciado

por todos.

Ao lado do inca havia uma rede de sacerdotes, escolhidos por ele entre a nobreza.

Para manter o Império íntegro, criou-se uma complexa burocracia administrativa e militar. Os cargos

administrativos eram distribuídos entre membros da nobreza e acabaram adquirindo hereditariedade. O

caráter guerreiro do Império privilegiava a formação e educação militar. Como os burocratas, essa camada

privilegiada era mantida graças aos tributos arrecadados pelo Estado.

Os camponeses, chamados de llactaruna, em troca do direito de trabalho nos ayllus, eram obrigados

a cultivar as terras do Inca e dos curacas e a pagar os impostos em mercadorias. Além disso, o estado os

obrigava a trabalhar nas obras públicas, como as pirâmides, caminhos, pontes, canais de irrigação e terraços.

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Havia também os artesãos especializados, considerados artistas (pintores, escultores, ceramistas,

tapeceiros, ourives, etc.), e os curandeiros e feiticeiros (cirurgiões, farmacêuticos, conhecedores de plantas

medicinais, etc.).

Os yanaconas, originários da sublevação da cidade de Yanacu, eram escravos. Às vezes algum povo

conquistado também se tornava escravo. Eles não trabalhavam na produção, e suas funções eram

eminentemente domésticas.

Economia Inca

A base da economia inca estava nos ayllu, espécie de comunidade agrária. Todas as terras do Império

pertenciam ao Inca, logo, ao Estado. Através da vasta rede de funcionários, essas terras eram doadas aos

camponeses para a sua sobrevivência. Os membros de cada ayllu deveriam, em troca, trabalhar nas terras do

Estado e dos funcionários, nas obras públicas e pagar impostos.

A base da produção agrícola era o milho, seguido pela batata, tomate, abóbora, amendoim, etc. Nas

áreas mais altas e com dificuldades de obtenção de água, o milho tinha de ser plantado nos terraços feitos

nas encostas das serras com canais de irrigação.

A domesticação de lhamas, vicunhas e alpacas foi importante para o fornecimento de lã, couro e

transporte. Os cachorros-do-mato e porcos tinham importância secundária.

O comércio era muito precário e restringia-se basicamente aos bens de luxo destinados à corte.

Religião dos Incas

Havia uma rede de sacerdotes, escolhidos entre a nobreza. Suas funções variavam desde a

manutenção dos templos, realização de sacrifícios, adivinhações, curas milagrosas, até feitiçarias e oráculos.

A grande maioria dos cultos e cerimônias religiosas dos incas era em homenagem ao Sol. Os sacerdotes

também tinham a função de ensinar e divulgar, junto com historiadores oficiais, os mitos, lendas e histórias

sobre o inca. É interessante notar que existia uma religião para a nobreza e outra divulgada entre a população

mais pobre.

Cultura Inca

Lembrando o que já foi dito, o Estado inca utilizou-se das inúmeras conquistas das civilizações pré-

incaicas para controlar e manter seu Império.

Eles faziam um uso abancado da matemática, conheciam inclusive o zero; conheciam muito bem a

astronomia, pois o Sol representava o deus mais importante, podendo prever eclipses e fazer calendários;

usavam pesos e medidas padronizados.

Os trabalhos dos incas na manufatura do ouro, da prata e do cobre maravilharam os espanhóis. Além

disso, produziam cerâmica, tecidos coloridos, esculturas e pinturas.

Machu Pichu

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Talvez as maiores produções incaicas estejam relacionadas com a arquitetura e a engenharia. Por

meio delas foi possível construir pirâmides, palácios, pontes e caminhos; cidades como Cuzco e Machu

Pichu, que reuniam milhares de pessoas e mantinham uma rica ordem urbanística. E os famosos terraços

irrigados nas serras e montanhas para a produção agrícola.

Conclusão

Concluímos então que quando Colombo chegou à América, em 1492, encontrou o continente

habitado há muito tempo por várias civilizações e povos. Os povos pré-colombianos apresentavam

diferentes estágios de desenvolvimento cultural e material, classificados em sociedades de coletor-caçadores

e sociedades agrárias. Dentro desse segundo grupo, três culturas merecem maior destaque: os maias, os

astecas e os incas. Alcançaram notáveis conhecimentos de astronomia e matemática, além de dominar

técnicas complexas de construção, metalurgia e cerâmica. Desenvolveram técnicas diferentes de agricultura.

Enquanto o fim da cultura maia é até hoje um mistério, sabemos que os povos astecas e incas decaíram

perante a conquista espanhola.

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Aula 21

História – 1º Ano Ensino Médio

Os Maias

Origens

Antes que os maias se radicassem em algumas regiões da América Central, existiam aí povos

originários, como os otomies e otoncas. Vindos da América do Norte, após décadas vagando pela América

Central, os maias estabeleceram-se no Yucatán e áreas próximas, por volta de 900 a. C. A produção do

milho e a influência dos olmecas forram mito importante para o seu desenvolvimento.

A área ocupada pelos maias pode ser dividida em duas regiões. A das terras altas (área abrangida

hoje por El Salvador e Guatemala) estava voltada para o Pacífico e, apesar de possuir boas condições

naturais, não teve muita importância para a construção da civilização maia.

É comum dividir-se o processo de construção da civilização maia em uma primeira fase (317-987) e

uma segunda fase (987-1697). A primeira fase teria se iniciado em 317 d.C. Essa data, na realidade, tem

como referência o mais antigo objeto maia encontrado até hoje. Sabe-se que essa civilização já existia antes

de 317, mas não se dispõe ainda de informações precisas a respeito desse período.

A Sociedade Maia

A sociedade começou a desenvolver-se, com destaque para três cidades: Chichen-Itzá, Mayapan e

Uxmal. Em 1004 foi criado a Confederação Maia, que reuniu essas três grandes cidades. Dezenas de cidades

e povoados são criados ao longo dos duzentos anos seguintes, expandindo seu poder político na região. Após

o período de união (entre os séculos X e XI), as cidades da Confederação entram em confronto, sendo

Mayapan a vitoriosa. A hegemonia política dessa cidade foi sustentada por uma forte base guerreira.

Inúmeras revoltas explodem na região, e em 1441 Mayapan é incendiada; As grandes cidades são

abandonadas por causa das guerras.

As lutas internas, as catástrofes naturais (terremotos, epidemias, etc.), as guerras externas e

principalmente, o declínio da agricultura levaram a sociedade maia à decadência. Quando os europeus

chegaram à região (1559), os sinais de enfraquecimento dos maias eram evidentes, tornando a conquista

mais fácil. Em 1697, a última cidade maia (Tayasal) é conquistada e destruída pelos colonizadores.

Cada cidade tinha um chefe supremo (halach uinc), e o cargo era hereditário.

Os camponeses e artesãos compunham a maioria da população (mazehualob) eram obrigados a pagar

os tributos, a trabalhar nas grandes obras e moravam nos bairros mais distantes dos centros. Os escravos,

geralmente por conquinsta, serviam a um senhor, mas não trabalhavam na produção.

A Religião dos Maia

A sociedade maia tinha um caráter fortemente religioso; a religião dava legitimidade ao poder, que

era exercido basicamente por algumas famílias.

O Ahaucan (senhor da serpente) é o supremo sacerdote. Ele indica os outros sacerdotes, rege as

cerimônias, recebe tributos e decide sobre as coisas do estado. Existiam também sacerdotes com funções

específicas, como os adivinhos, os encarregados dos sacrifícios humanos, os escribas, etc.

A Organização do Estado Maia

Os maias não chegaram a organizar um forte e poderoso Estado centralizado. Na realidade, as

cidades maias importantes controlavam as aldeias e terras próximas. Não havia nenhum poder ou instituição

que as unificasse. Elas tinham autonomia econômica e política, e geralmente eram governadas por famílias.

Houve períodos em que a unidade foi estabelecida entre algumas cidades, como durante a

Confederação Maia. N entanto, a regra era a independência e a luta entre cidades por novas terras, tributos,

matérias primas, etc.

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A Economia Maia

A economia dos maias baseava-se na agricultura. A tecnologia empregada nas atividades agrícolas

era bastante primitiva. Contudo, eles conseguiam uma extraordinária produtividade, principalmente do

milho. É justamente em virtude dessa produção do milho, gerando excedentes, que um grande contingente

de mão-de-obra podia ser liberado das atividades agrícolas para a construção de templos, pirâmides,

reservatórios de água, etc.

As terras pouco férteis da região obrigavam os maias a realizar um rodízio, que geralmente mantinha

a terra boa durante oito a dez anos. Após esse período era necessário procurar novas terras, cada vez mais

distantes das aldeias e cidades. O esgotamento das terras, as distâncias cada vez maiores entre elas e as

cidades e o aumento da população levaram à civilização maia uma dura realidade. A fome, um dos fatores

que a levaram à decadência.

A Cultura Maia

Os conhecimentos de astronomia dos mais eram realmente avançados, e seus observatórios, bem-

equipados. Eles podiam prever eclipses e elaboraram um calendário de 365 dias. Para o desenvolvimento da

astronomia, a matemática era um elemento fundamental, daí terem acumulado conhecimento nessa área.

A atividade médica e a farmacêutica também eram bastante desenvolvidas, o que foi reconhecido até

pelos colonizadores. As peças teatrais, os poemas, as crônicas, as canções, tinham uma função literário-

religiosa bem evidente.

Mas a arquitetura e a engenharia representam as áreas do conhecimento mais desenvolvidas pelos

maias. Seus grandes centros religiosos, as pirâmides, as cidades com edifícios de vários andares, os canais de

irrigação e os reservatórios de água maravilham os conquistadores europeus.

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Aula 22

História – 1º Ano Ensino Médio

AMÉRICA INGLESA

A Inglaterra só entrou efetivamente no processo colonial no reinado de Elizabeth I (1558-1603)

quando a construção naval, o comércio marítimo e a atividade corsária ganharam estímulos. Houve, então,

um choque entre Inglaterra e Espanha – potencia da época – que culminou com a derrota da incrível armada

espanhola, em 1588. Nesse período tentou-se, colonizar a América no Norte organizando-se três expedições

sob o comando de Walter Raleigh, em 1584, 1585 e 1587, que, entretanto, não alcançaram o sucesso

esperado.

No século XVII, a atividade colonial inglesa edificou-se com a derrocada da Espanha e a criação de

companhias de comércio, numa aliança entre o Estado e a emergente classe burguesa para exploração e

ocupação das Antilhas e da América do Norte. O empreendimento contou também, com o excedente

populacional proveniente dos cercamentos na Inglaterra. A existência desse excedente, que não encontrava

colocação na cadeia de produção das cidades, ai ao encontro da necessidade de pessoas para colonizar o

novo Mundo, representando, consequentemente, uma solução para os problemas urbanos da metrópole.

Outro aspecto que ativou a colonização forma os conflitos políticos-religiosos dos séculos XVI e

XVII, que estimularam a emigração de puritanos e quakers, em direção a América do Norte. Durante os

séculos XVII e XVIII, estruturaram-se treze colônias na América do Norte: ao norte desenvolveu-se uma

economia autônoma, mercantil e manufatureira, não dependente da metrópole, e, ao sul, uma economia

agrícola, que produzia exclusivamente para o mercado externo. “Quakers era um grupo religioso, de tradição

protestante, surgido na Inglaterra no século XVII, fundado por George Fox. Os Quakers [...] constituem

agrupamentos radicais formados por homens e mulheres procedentes dos meios humildes da população

inglesa. Os Quakers apresentavam-se como contrários ao calvinismo e a qualquer autoridade eclesiástica,

intitulando-se ‘amigos da verdade’ [...]”.

A ocupação inglesa na América do Norte iniciou-se na costa leste, onde atualmente estão o estado da

Carolina do Norte e a ilha de Roanoke. Essa região recebeu o nome de Virginia em homenagem a Rainha

Elizabeth I, que era solteira, mas foi somente a partir de 1607 e que se efetivou definitivamente a

colonização, pois anteriormente, as incessantes lutas com os indígenas não deram suporte necessários para

uma colonização efetiva.

A Virginia foi a primeira colônia inglesa fundada na América, transformou-se num grande centro de

produção de tabaco, produto altamente consumido na Europa. O sucesso econômico do empreendimento

levou as companhias comerciais a fundarem outras colônias para produção de itens tropicais de grande

aceitação no mercado europeu: índigo (anil), arroz, algodão. Todos esses produtos eram obtidos por meio do

sistema de plantation, caracterizado pela monocultura praticada em grandes propriedades e com a utilização

de mão de obra escrava, e eram destinados ao mercado externo. Esse sistema foi a marca das colônias do sul,

denominadas, por isso, colônias de exploração.

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Parte setentrional dos Estados Unidos, de clima e condições naturais semelhantes aos da Europa,

ficou conhecida como nova Inglaterra. Nessa região, a colonização desdobrou-se de forma diversa:

predominaram os colonizadores provenientes da perseguição político-religiosa, como os puritanos, cujo

primeiro grupo desembarcou, do navio Mayflower, em 1620, na costa de Massachusetts, fundando a cidade

de Plymouth.

Logo novas levas de colonos ativaram a colonização da região, transformando a parte setentrional em

uma colônia de povoamento, diferente em sua estrutura das colônias do sul. A ocupação baseou-se na

pequena e média propriedade agrícola, em que o trabalhador era não raramente o próprio colono.

Diversificou-se, assim, a produção, implementando-se também manufaturas e comércio, necessário para o

escoamento da produção e a obtenção de itens externos, a construção naval ganhou grande impulso e as

relações comerciais chegaram às Antilhas, à África e até na Europa.

A evolução econômica da Nova Inglaterra resultou, assim, numa capitalização progressiva, ao

contrário do que aconteceu no sul, onde houve uma extroversão econômica, com a produção visando

somente ao mercado externo e vivendo em função dele. No século XVIII, quando a Inglaterra emergiu como

grande potência mundial e a monarquia parlamentar inglesa estabilizou o país, redefiniu-se a política

colonial, ampliando-se as restrições econômicas e a tributação aos colonos americanos. Sob a justificativa de

dificuldades do Tesouro público inglês, especialmente após a Guerra dos sete anos (1756-1763), criaram-se

inúmeros impostos coloniais, o que levou os colonos a se unirem para conquistar a independência, em 1776.

A Colonização e administração da colônia Inglesa

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Aula 23

História – 1º Ano Ensino Médio

A Colonização de Outros Países na América

A participação da França no processo de colonização iniciou-se concretamente no século VXII, com

o patrocínio do governo absolutista dos Bourbons, sob a orientação mercantilista dos ministros Richelieu e

Colbert. Uma das primeiras regiões ocupadas pelos franceses foi o norte da América – atual Canadá –, onde

a colonização alicerçou-se no extrativismo (madeiras e peles) e no comércio com os indígenas. Também

tomaram uma grande faixa interior, que ia dos grandes lagos ao México, área que denominaram Louisiana,

em homenagem a seu monarca Luís XIV, e algumas ilhas das Antilhas.

No século XVIII, as desastrosas guerras em que a França se envolveu na Europa, levaram-na a perder

boa parte de suas colônias. Com a Revolução Francesa (1789) a as guerras napoleônicas, no início do século

XIX, esse processo se aceleraria. O Canadá, por exemplo, foi perdido para a Inglaterra ao final da Guerra

dos Sete Anos e a Louisiana, entregue aos Estados Unidos, já independente, por Napoleão Bonaparte, em

1803.

A atual dos Países baixos, ou Holanda, como metrópole colonial começou em meio à luta pela

independência contra a Espanha, iniciada no final do século XVI. Em 1648, com o Tratado de Vestfália, os

Países Baixos – já poderosos comercialmente – constituíram uma república autônoma. Durante esse projeto

foi criada a Companhia das Índias Orientais (1602), destina a explorar o comércio com a África e a Ásia e,

pouco depois, a Companhia das Índias Ocidentais (1621), dirigida para o comércio e ocupação de regiões

americanas.

As invasões ao Nordeste brasileiro (1624-1625 e 1630-1654) fizeram parte da estratégia dessa

companhia. Quanto a Portugal, integrou o Brasil ao capitalismo europeu, com base na exploração agrícola

nos séculos XVI e XVII com a cana-de-açúcar e na mineração.

A Europa Como Centro do Mundo Com as conquistas coloniais, o continente europeu passou a ocupar um lugar cada vez mais central

no cenário mundial. Com a expansão do poder e da influência europeia, firmou-se uma característica

importante da modernidade: de periferia do mundo muçulmano que fora da Idade Média, o mundo europeu

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passou a ser um “construtor de periferias”, tomando a América Latina como sua primeira grande experiência

de dominação sobre povos e terras desconhecidos até então.

E isso não se restringiu à economia ou à política, abarcando também o campo das ideias, e de

valores, firmando concepções de “progresso”, “desenvolvimento” e “civilização” a serviço da contínua

capitalização burguesa. A superação daquilo que chamamos de Antigo Regime, seria a confirmação da ideia

de progresso sob o comando dos europeus. A América foi cobiça por várias nações europeias, que

estabeleceram em seus domínios em pontos diversos do continente, gerando guerras, conflitos de fronteiras,

acordos e negociações.