29

O Oitavo Pecado - Adriana Vargas

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Um livro ousado e irá lhe enganar!O Oitavo pecado agitará com todos os seus instintos; sentirá do caos ao cosmo, a essência do amor distorcido e toda fúria do pecado mitológico! Uma mulher curiosa, um anjo que nasce com os instintos aflorados em busca da verdade. O que é verdade? Como alcançá-la? Mitos, curiosidades e facetas envolvendo uma narrativa peculiar e instigante. Henaph resolve traçar o próprio destino! Sem saber o ônus do caminho trilhado, ela segue destemida e incansavelmente, sedenta da existência humana. Um triângulo amoroso que a divide entre o rei Minos de Creta, protetor e cuidadoso e o deus grego Hermes, sábio e intrigante. Os deuses darão um palpitar dramático, ao final da trama!

Citation preview

Page 1: O Oitavo Pecado - Adriana Vargas
Page 2: O Oitavo Pecado - Adriana Vargas
Page 3: O Oitavo Pecado - Adriana Vargas

“O amor verdadeiro tornou-se a prova demeu sustento. É o amor espiritual, o amor de

almas que se encontram em mundos invisíveis eimaginários, lugar que somente quem ama

e os deuses sabem chegar.”

Page 4: O Oitavo Pecado - Adriana Vargas
Page 5: O Oitavo Pecado - Adriana Vargas

O oitavo pecadoO oitavo pecadoEm nome de uma paixão

Adriana Vargas Aguiar

Page 6: O Oitavo Pecado - Adriana Vargas

Copyright ©, 2012 de Adriana Vargas de AguiarTítulo: O Oitavo PecadoSubtítulo: Em nome de uma paixãoLinha literária: Literatura FantásticaCapa: André SiqueiraRevisão: Verônica SobreiraDiagramação: Josi Raquel Echeverria1º edição em 2012email: [email protected]

Ficha Catalográfica elaborada pelo BibliotecárioAparecido Toledo Melchiades – CRB1- 2353

A282oAguiar, Adriana Vargas de.O oitavo pecado: em nome de uma paixão / Adriana Vargas de Aguiar – Campo Grande, MS: Modo Editora, 2012. 214 p.; Il.

ISBN – 978-85-65588-00-3

1. Literatura brasileira 2. Literatura fantástica 3 Romance brasileiro I. Título. CDD 869.3.

_______________________________________________

_______________________________________________

Page 7: O Oitavo Pecado - Adriana Vargas

I. Do Princípio à missão II. Entre a missão e a paixão III. Os EnsinamentosIV. O Oitavo Pecado Capital V. Mundos e Rumos diferentes VI. O Reino de Creta VII. A morte de Thera VIII. O Real e o imaginário IX. O sacrifício X. A maldição do Touro XI. O treinamento para a batalha XI. O acampamento do Exército XIII. A Emboscada XIV. Revelação no Calabouço XV. Três oportunidades XVI. O Veredito FinalXVII. A escolha XVIII. O ReecontroSinopses dos próximos lançamentos

Sumário

918304355668195

108121131143154164174185196207217

Page 8: O Oitavo Pecado - Adriana Vargas
Page 9: O Oitavo Pecado - Adriana Vargas

9

Adriana Vargas O Oitavo Pecado

Era o deserto do nada! Tranquilamente eu respirava, na vértebra do Criador, que aguardava em silêncio absoluto - o momento de pôr-me no mundo. Sentia-me a sua criação intrínseca, presa por entre as suas vértebras, sendo preparada para cumprir a minha missão, enquanto me revestia da contemplação imaginária de um mundo desconhecido. Contorcia-me em uma cavidade estreita. Era insuportável o breu do silêncio profundo que vinha do lado externo e de algo que eu desconhecia. As vibrações dos sons eram irregulares. Por vezes, ouvia apenas uma canção ou um ruído contínuo e cadenciado em língua vernácula: um mantra diferenciado, quase cantado. Quando me percebia menos aflita, dentro de minha alcova, tentava entender o que a linguagem dizia, contudo conseguia apenas sentir e isso era bom! O Pai era cuidadoso. Queria me agradar, enquanto criava algo do lado externo. Havia alguns entretenimentos na espera. Eu roçava a ponta dos dedos em suas costelas e o fazia cócegas e em

Do princípio à missão

I

Page 10: O Oitavo Pecado - Adriana Vargas

10

Adriana Vargas O Oitavo Pecado

minutos, Ele espirrava, achando graça de minha brincadeira. Esta era a nossa comunicação. Quando seu canto era triste, eu tentava nadar em seu plasma, até alcançar uma distância razoável de seu coração. Ficava olhando. Seu ritmo era descompassado e parecia falar. Então, era a minha vez de cantar: imitava as palavras codificadas que ouvia, deixando que meu olhar penetrasse como os fluídos em camadas em torno da voz secreta que expandia até a sua intuição. Queria apenas que Ele soubesse: eu estava ali e que por menor que fosse a minha condição em ajudá-lo, faria o meu melhor, pois Ele era o único ser que eu amava. Em instantes, rompia-se o núcleo atormentador. Uma luz era acesa por dentro de cavidades e atingia-me por completo. Eu senti um desejo em gargalhar. E assim o fiz, ouvindo o eco fora da vértebra que me abrigava. O Pai também sorria e ambos passávamos a nos corresponder com risadas altas e engraçadas. Estava prestes a nascer, porém sentia que poderia decepcionar meu Pai em algum momento. Sentia-me constantemente insatisfeita e sem ansiedade para conhecer suas criações exteriores. Eu queria poder inventar um mundo só meu, fechava os olhos e era inviável conseguir imaginá-lo, pois figuras e imagens eram uma incógnita. Conhecia apenas as formas e cores que existiam dentro do Pai. Foi assim que me eduquei: à base do que foi disposto a mim. O formato do coração seria o lugar que me acalmaria! Os lugares proibidos de alcançar eram os que mais me fascinavam Eles estavam mais abaixo, onde encontrava- se tudo escuro, o Pai colocou travas e era inacessível. Ele me dizia, por transmissão de pensamento, que eu poderia me perder se por ventura conseguisse ludibriá-lo. E, se chegasse até lá, jamais encontraria o caminho de volta. Ficaria presa e submersa entre a loucura e a subversão. A única sensação que

Page 11: O Oitavo Pecado - Adriana Vargas

11

Adriana Vargas O Oitavo Pecado

eu tinha era a de que se tratava de um lugar quente e exalava um cheiro atrativo, nada mais! Imaginei este lugar, a cavidade de um plasma vibratório que formavam borbulhas feitas do calor intenso, que ao ser tocado na pele, penetraria irremediavelmente, através do cheiro exalado, mudando completamente a minha forma de ser. Algo por dentro seria tocado, tornando-me forte e com poderes de criação como aos do Pai. Este lugar proibido seria a minha escola experimental, local em que eu aprenderia a transcender, além do que era permitido. A voz, em meu mundo inventado, seria a do veículo que me conduziria quando eu fechasse os olhos para imaginar. Se ecoasse os sons da língua vernácula que sempre ouvia dali da vértebra, locomover-me-ia a galope pelo timbre ecoado. Não haveria fronteiras ou uma odisseia em outros mundos. Se me sentisse triste em algum aspecto, confusa, sem saber como voltar, colocaria a mão em meu coração. E isso me consolaria, este acharia o caminho de volta, pois aprendi a sua linguagem - é só fechar os olhos e senti-lo. Ele responde e muda os sentimentos! Escreveria uma carta a Ele. A carta é o meu pensamento. Explicaria os motivos pelos quais me levaram a seguir meu próprio caminho, quem sabe assim, Ele pudesse compreender que meu impulso expansivo tornar-me-ia uma bandeirante. Nasci para ser livre e com o dom da invenção. Saí igual a Ele. A intuição tinha uma forte potencialidade, o que me faria engenhar as criações características a mim, remanescentes do material que fui feita. Uma perpendicular sairia do lugar onde estava e formaria um ângulo reto, na direção de algum lugar que me conduziria ao que me pertence. De repente, um clarão! Intimidei, encolhendo-me em algum canto, com as mãos cobrindo a cabeça. Senti medo!

Page 12: O Oitavo Pecado - Adriana Vargas

12

Adriana Vargas O Oitavo Pecado

Seria uma penalização por tais pensamentos? Um foco de luz vinha em minha direção e assemelhava-se a uma eufonia, trazendo brilhos que mudavam de cores: ora, nuances avermelhadas, ora rosadas; marfim e cintilante. Fui apanhada por uma mão que me trazia para o lado externo. Por medo, permaneci de olhos fechados e permaneci com os traços da sobrancelha franzidos, tentando ao máximo evitar o atrito com a claridade. Ficarei cega! – pensei. Um castigo justo! Assim não conseguiria reconhecer os artefatos que criei para construir o meu mundo clandestino. O Pai direcionou a mão na altura dos meus olhos e eu os abri, sem conseguir ir contra aquela força magnetizante que ecoava de suas mãos. Era uma força terna, porém, uma ordem: “Abra os olhos!” E eu os abri, com medo e permaneci com eles abertos. Vi tanta beleza! Quase mudei meus planos. Olhei para o céu e vi uma cor airosa que eu traduzia como algo gentil e confortável. Era o azul. Fiquei em espanto, por algum tempo paralisada, sem conseguir piscar os olhos. Um frescor vinha desta tonalidade que invadia minha consciência e sensibilidade. Certamente, nunca conseguiria inventar algo similar, colhido do ciano e magenta. Parecia tudo muito complicado e incrivelmente fantástico. Já me imaginei galopando nos timbres vocais desta densidade em velocidade exacerbada. Meus conhecimentos diziam que eu iria conseguir manter o equilíbrio, na gravidade do timbre, se tudo que perpetrasse fosse com o coração. Talvez, isto seja o significado da fé! A intuição surgirá por entre a fresta e será incontrolável, pois está localizada em lugares distintos de minha percepção. A intuição é livre e possui essência límpida, nada a alcança para formá-la. É de índole natural como o inesgotável azul do céu. A dificuldade está na razão calculista e medíocre que a

Page 13: O Oitavo Pecado - Adriana Vargas

13

Adriana Vargas O Oitavo Pecado

todo o momento arma ciladas para me retirar de caminhos benfazejos. Congratulei-me! Algo falava comigo a todo tempo... Com olhos de bondade, o Pai convidou-me para mostrar o resto da criação e a cada revelação, uma surpresa. Eram gritos de liberdade na alma. Ele pousou a bondade sobre meu ser e passamos a flutuar em um passeio por toda a Galáxia. Quando nuvens refrigeradas me tocaram, o desejo foi de abraçá-las. Aquela sensação era primária em sua plenitude, era um toque doce nos pulmões, a apneia, um ar com gosto doce e refrescante. Distinto da peculiaridade quente e proibida, com travas que havia dentro do ventre do grande Pai. O vento fazia penteado em meus cabelos e senti o desejo de permanecer por ali um tempo a mais, antes de seguir a minha intuição. Como poderia me afastar do Pai, já que Ele é a substância primária e singular de todas as coisas? Fora de Sua vértebra, penso individualmente, porém, com a ignorância em resíduo, esqueço que estou exteriorizada, mas próxima dos olhos do Pai. O Pai Supremo engloba tudo. Demorei a compreender o que estava acontecendo. Onde estaria minha divindade? Poderia inventar um mundo paralelo? Apenas meu estado raso me colocaria em baixas trepidações, abrangentes ao meu ser e ao local que quero chegar, através da apatia, da identificação da porção de fios dos polos. Eu e o lugar de atração: vibrações que atraem tais polos, através de uma frequência inferiorizada gerando energia... Fui feita de material divino, mas não sou divina. Sou uma manifestação de uma inspiração, um grão luminoso que saltou da divindade. Entristeci! Sentei-me amuada à beira de uma fonte cristalina e fiquei olhando a água passar pelos dedos dos meus pés. Queria

Page 14: O Oitavo Pecado - Adriana Vargas

14

Adriana Vargas O Oitavo Pecado

que aquela água me purificasse a ponto de levar de mim a vã filosofia que me causa ilusões. Um dia, talvez, serei destinada à perfeição e não serei apenas um objeto inacabado, proeza de uma inspiração. Posso voar, posso falar por telepatia. Estou em estado angelical. Nunca criarei um mundo, apenas para transformar a força vibratória que hoje sinto - triste! Não queria ser um anjo infeliz, apenas. Sou imortal e trago uma missão a ser realizada: proteger o Éden e me preparar para guardar alguém. Será que o Senhor se enganou? Não! Sou apenas uma guardiã. De graça, ganhei a imortalidade. Inventar é difícil em minhas condições, estou a serviço d’Ele. E jamais incumbida da realização de meus desejos. Expandirei a mensagem do bem. Proibida de criar ao menos uma árvore, serei a companheira fiel do Pai, por toda a eternidade. Como faço para sentir prazer em minha missão? Posso realizar minha obrigação, mas para mim, será apenas um dever! Nasci para ser anjo, mas o que houve? Um anjo que se preze tem obrigação de ser otimista. Imaginação, eu tenho muita, porém, inútil. Sigo e ouço minha intuição. Ela é rebelde e quer ir contra a minha própria natureza.Preocupada, estou sem levantar voo. As asas pesam e a reação da gravidade de minhas impurezas sobre as moléculas impedem-me de me reconhecer angelical. Corro perigo de ser expulsa do paraíso e perder minha identidade. Preciso de um anjo! Fechei os olhos e procurei alcançar a energia de toda a beleza criada pelo Pai. Como era majestoso e lindo tudo que estava sendo proporcionado. Onde está o lugar sagrado dentro da essência que neste momento, quero encontrar para livrar-me do mal e propagar a missão que aqui vim cumprir? A paz é reveladora da justiça sacramentada. Para tanto, há apenas um caminho: o caminho que eu percorrer com amor e a fé. Para isso, preciso esvaziar-me das preocupações

Page 15: O Oitavo Pecado - Adriana Vargas

15

Adriana Vargas O Oitavo Pecado

e deixar que eu seja entregue nos braços desta sensação que chega vagarosamente: um sono bom e profundo. Nos primeiros instantes de sono, como que hipnotizada, sinto-me libertada da cota dos parasitas espirituais da alma. Sinto a matéria levitando. Estava adormecida, mas sabendo de tudo que estava ocorrendo. O corpo estava sendo elevado a uma altura considerável e, de repente, um voo involuntário, propulsionado, que me levaria a algum lugar desconhecido, passando por dentro de nuvens refrigeradas e confortavelmente me sentia bem quista por algo inexplicável. A sensação de proteção aumentava como se eu estivesse chegando a algum lugar plausível e desconhecido. Globos luminosos ao longe eram observados, com feixes de luzes coloridas. Parecia um arco-íris derramando orvalho sobre todas as coisas existente no solo. A atmosfera se tornava mais branda e com um cheiro de jasmim. Seres que jamais vi igual e, se estivesse em minha perfeita consciência, assustar-me-iam com a sua forma física. Passavam por mim e me transmitiam paz. Eram grandes e com formas diversas. Estavam protegendo o espaço sideral, emanando luz como as que foram irradiadas em meu nascimento. Senti-me, por um tempo, circulando em volta de um corpo, o refletor de uma energia quente e fora de meu entendimento. O desejo de cantar invadiu-me e nada mais do que eu aprendera antes era útil naquele instante. Tudo havia se despojado em um vasto mundo de novos conhecimentos, através de sensações. De repente, um silêncio profundo. Eu adormeci! Estava totalmente ausente de explicações. As veredas, que agora percorria, eram somente sensações de sono. Por vezes sentia algumas vibrações vindas de dentro do meu ser. Chegara o momento crucial da escolha. Algo estava por acontecer e dependia do meu livre-arbítrio para se aprofundar em qual-

Page 16: O Oitavo Pecado - Adriana Vargas

16

Adriana Vargas O Oitavo Pecado

qualquer dos caminhos escolhidos. Faltavam os polos que me induziriam a uma escolha vinda da alma. Somente conhecia aquele lugar maravilhoso, motivo pelo qual eu estaria ali e me via, sem hipocrisia, com as minhas tendências decadenciais articuladas. Havia em mim, apenas uma noção ilusória acerca do inexistente, desconhecido. O que seria de mim se acaso mergulhasse neste mar tenro de desejos ocultos? Acordei aos pés de uma árvore Magnólia, floreada por cachos brancos que caíam sobre os meus cabelos. Estava em outro lugar. O azul celestial me pareceu diferente. A atmosfera era mais densa e os sons pareciam ser de volume menos alto com um toque de realidade maior. A minha faixa vibratória se identificava com o ambiente. Era um lugar bonito, porém, não tão mágico quanto o Éden. A percepção dos sentimentos tornara-se mais dificultosa. Eu estava à mercê da sorte... Tentei levantar e senti o corpo pesado como se tivesse aumentado a massa corporal e diminuído a etérea. Minhas asas estavam sem o viço. Um sono novo aproximou-se, mas este se parecia com cansaço. Adormeci profundamente, sem sentidos e sem nenhuma reação virtual ou perceptiva.

Page 17: O Oitavo Pecado - Adriana Vargas

17

Adriana Vargas O Oitavo Pecado

Page 18: O Oitavo Pecado - Adriana Vargas

18

Adriana Vargas O Oitavo Pecado

Tempos depois me vi sonhando! Parecia real, mas era um sonho. Eu vi meu corpo deitado e um cavalheiro galo-pando em um cavalo. Atrás dele, seguia um rebanho de cordei-ros. Nunca tinha visto um homem antes! Ele desceu do animal e se ajoelhou a me contemplar por minutos. Nenhum músculo se movia, a respiração era indetectável. O varão colocou a espada ao chão e pôs seus dedos em meu pulso. Abri os olhos e vi a imagem de um anjo que me enfeitiçou no primeiro encontro de olhares. Seu olhar pene-trante parecia triturar tudo que havia em mim. Fiquei de olhos abertos, por receio que o encantamento se perdesse no ar, antes de ouvir a sua voz, mas uma força pungente fez com que meus olhos se fechassem como se estivesse me avisando que deveria voltar ao Éden. Quando abri os olhos, pude perceber melhor as suas feições, o que me pareceu muito estranho, pois na primeira vez que nos olhamos, jurava que seus cabelos eram escuros e sua pele bronzeada. Percebendo minha inquietação, ele me

Entre a missão e a paixão

II

Page 19: O Oitavo Pecado - Adriana Vargas

19

Adriana Vargas O Oitavo Pecado

advertiu: — Fica calma! Se acordares, não voltarás mais para a esfera consciente. Isto é um sonho. Todas as imagens vistas são surreais. Não fazes parte deste lugar. Antes que eu respondesse, ele retirou de dentro da bolsa um amuleto feito de raízes e o colocou em minhas mãos: — Leva isto contigo. Ao chegares à tua morada, exala este aroma à luz do luar, isto te ajudará a recuperar-te de tuas mazelas. Ele tinha uma beleza incomparável, embora diferente da imagem do cavalheiro pastoreando os cordeiros. Talvez, eu estivesse realmente sonhando e em estado de confusão. A sua face refletida contra os raios de sol misturava-se à sua aparição. Pele branca, estatura alta, os raios diluíam-se em olhos como o azul do céu. Ele trazia em torno dos cabelos encaracolados e longos, uma coroa de louros de ouro e nos pés sandálias também douradas, com asas. Sobre o corpo, apenas um manto branco de linho e tudo ao seu redor cheirava bem. Trazia a tiracolo, uma bolsa de couro e em uma das mãos, uma espada de ouro. Encantei-me! Mesmo que pudesse dizer algumas palavras, nada conseguiria proferir. Lembrei-me do mantra recitado por meu Pai, mas se o dissesse, sairia galopando no timbre. Meus olhos se prenderam em braços fortes, amarrei-me em suas pupilas e rente ao que poderia imaginar. Fui tragada por uma paixão explosiva e súbita, sem ter o desejo de viver mais nada, apenas entregar-me, acreditando que seria o mesmo homem que me acordou com olhos curiosos. Pude pressentir uma afinidade de almas. Era algo próximo de ideias quiméricas. Tudo que estava sentindo era fantasioso, porém, real a ponto de querer trocar minha divindade por um único toque dele. Sentia uma ligação quase instantânea a este ser. Estaria diante de um desígnio da divindade, como uma integração de

Page 20: O Oitavo Pecado - Adriana Vargas

20

Adriana Vargas O Oitavo Pecado

almas ou a completude da parte que me faltava? Espiava-o sem medidas, tentando decifrar o que estava acontecendo e por nenhum momento ele desviou os olhos de mim. — De onde veio? – falei através do pensamento. Tinha a sensação de que vi mais de uma pessoa quando abri os olhos, mas certamente, em estado de transe, imaginei coisas. — Sou o deus Hermes. Recebi mensagens do Grande Senhor. Disse-me que estarias precisando de ajuda e aqui estou para ajudar-te a voltar para o teu mundo.Sua voz era um canto lírico de flauta doce. Hipnotizava-me a cada sílaba. “O único deus que conheço é o meu Pai”, pensei. Talvez, se eu pedisse para falar mais sobre ele... Fiquei com receio de me parecer ridícula, mas a cada segundo a curiosidade aumentava. Aquele era um momento de descobertas e tudo ao meu redor eram fantásticas novidades, porém a minha condição de anjo não tolerava a odisseia de descobrimentos. A missão já era o suficiente para preencher toda e qualquer necessidade pessoal. Estava num estado de complementação e longe dos anseios e egoísmo, apesar de me sentir apenas uma mortal. — Não sei se quero voltar... – eu disse a ele, em um lamento. Desconsiderava qualquer coisa que fosse contrário ao que estava sentindo. — O Grande Pai te chama para a missão. Ele observava minha expressão desatenta ao que ele dizia: — Ah! Quanto ao que pensaste em relação a conhecer outro deus, além do Grande Pai, sou um deus em hierarquia. O Grande Criador é o Deus Maior. – disse, pacientemente, percebendo a minha confusão. — Sinto-me confusa! Posso confidenciar algo?

Page 21: O Oitavo Pecado - Adriana Vargas

21

Adriana Vargas O Oitavo Pecado

Disse a ele timidamente. Ele sorriu e percebi dentes tão alvos quanto o marfim, enquanto aguardava que o meu segredo fosse revelado. — Nasci anjo, mas estou demasiadamente triste, quanto ao meu estado. O Pai fez-me com o intuito de auxiliá-lo, quanto à circulação de energia no Universo, além de assistir ao Éden, até que eu esteja preparada para ser guardiã de alguém. Mas, desde antes de meu nascimento, minha consciência já era escrava de meus afãs, tinha o desejo de descobrir coisas, conhecer a vastidão do Universo... Fiquei acanhada em dizer sobre o meu desejo, devido à pretensão exacerbada, mas o fiz seriamente: — Nasci com o desejo de construir meu próprio mundo! Ele soltou uma risada. Permaneci em silêncio, arrependida em confidenciá-lo tamanha asneira. —Venha! Antes de entregar-te ao Grande Pai, gostaria de te levar a um passeio. Toma cuidado ao abrir os olhos, pois tudo que verás, será com os olhos da alma. Segui o que disse e assistia a tudo com os olhos fechados. Ele falava a verdade, era um sonho, pois o tempo todo eu conseguia ver meu próprio corpo como se eu tivesse me transformado em duas pessoas. Olhava para este segundo corpo que pensava e ele tinha um material volátil e cintilante, tal como uma nuvem prateada e diáfana. Quanto a Hermes, sua propriedade era a mesma, nem se dividia em dois corpos e nem se tornou transparente. Ele sobrepôs as mãos sobre minha cabeça sem tocá-la e senti minhas asas se fortalecendo a ponto de se mexerem involuntariamente. Sorri, em estado de felicidade! Seguimos lado a lado no espaço. Ele voava em pé e enquanto voava, deixava para trás um rastro dourado e um cheiro agradável de valina. Da espada, saíam faíscas de fogo

Page 22: O Oitavo Pecado - Adriana Vargas

22

Adriana Vargas O Oitavo Pecado

a brilhar como estrelas cadentes. A vestimenta reluzia e eu tentava descobrir se era o reflexo da espada ou se a veste havia se transformado em outro material ou, simplesmente, mudado de cor. Foi então, que percebi, seu manto que era de linho, se transformara em cetim. Ele achava normal o meu jeito de admiração por todas as novidades que eu estava assistindo, seguia tranquilamente o trajeto. — Henaph, preciso te confidenciar novamente. E por um momento, quase tocou e minha mão e ao invés disso, estacionou-a no ar, desconcertado, prosseguiu: — Quando criança e até em tempos juvenis, eu tinha tendências que desabonavam o meu mérito de eternidade. Sentia uma necessidade de prejudicar as pessoas e usufruir de modo, egoísta e desonesto, daquilo que a elas pertencia. Furtava e trapaceava o meu irmão, queria tudo exclusivamente para o meu usufruto. Olhava as coisas que me atraíam e não conseguia me manter forte perante elas. Encontrei algo em minha vida que me trouxe o desejo de mudança: a música. Fui perdoado por Zeus e até ganhei poderes extras, por conta de meu desempenho. — O que quer dizer? Que preciso descobrir algo que eu goste para vencer as minhas tendências que desmerecem o meu dom de ser um anjo? Se ele imaginasse o que estava sentindo, talvez conseguisse entender o que estava acontecendo dentro de mim. — Quase isso. Como anjo podes fazer algo que gostes, além de tua missão. São bônus que ganharás. Nem tudo é trabalho e, ao mesmo tempo, tudo serve para o trabalho. Vê: se descobrires algo que te traga satisfação, sentir-te-á motivada a desempenhar a missão, visto que tua áurea se contemplará no encanto daquilo que fazes! Ouvindo-o, quase o interrompi para perguntar se ele conseguia entender o que havia dentro de mim.

Page 23: O Oitavo Pecado - Adriana Vargas

23

Adriana Vargas O Oitavo Pecado

— Eu concordo. O problema está em minha impulsividade. Estou ansiosa por descobertas, pois sei que através delas encontrarei as outras coisas, como por exemplo, este algo que me trará satisfação. Eu desconheço tudo, nunca tinha visto antes um homem, quero dizer, um deus além do Pai. – rosei-me! Falei sem pensar. Até as minhas palavras denotavam a falta de aptidão angelical. Por que protelar em dizer de uma vez, mesmo sem saber o que queria dizer? Hermes parou novamente e por um momento, quase tocou em meu ombro. Gostaria de entender o motivo pelo qual hesitava em me tocar, se na Magnólia, havia me tocado?!!! — Henaph, o que está descrevendo é a força com que a correnteza tenta te arrastar às paixões. Os olhos azuis brilhavam tal como uma lágrima feita de pérola. — Esta má inclinação poderá fazer com que te percas do caminho da evolução. É uma fuga efêmera. Poderás ser enviada para mundos inferiores a fim de cumprires as consequências do livre-arbítrio. — Mesmo eu sendo um anjo? Então a palavra que descreveria o que sinto chama-se paixão. — Sim! Poderás perder este atributo. Mesmo se mudares a trajetória dos sentimentos, jamais irás fazê-lo por medo do que poderá te acontecer. Se optares pelas paixões que te arrastam a lugares enfadonhos, deverás mudar pelo desejo em ajudares a órbita do mundo e assim cumprires a missão, pela qual vieste incumbida. — Ainda está lutando contra os seus sentimentos para merecer a eternidade? E já foi mandado para estes lugares que mencionou? – questionei, imaginando se ele já teria se apaixonado. — Eu luto todos os dias. Não, Henaph, as missões que cumpro são feitas através da gratidão a que isso me remete.

Page 24: O Oitavo Pecado - Adriana Vargas

24

Adriana Vargas O Oitavo Pecado

Hoje, a necessidade de tocar a lira para ser motivado ao dever, é inexistente. O amor está no comando e cumprir a missão deixou de ser uma obrigação. — Então, quer dizer que, cumprindo a sua missão, já faz o bem? — Quero dizer, faço o bem sem perceber que o estou fazendo. A finalidade, agora, é cumprir aquilo que, com amor, me proponho, utilizando-me das causas naturais que este sentimento me impulsiona a fazê-lo. — O que está a me descrever é de difícil compreensão! — Quero dizer que aquele que cumpre sua missão em prol do bem de uma evolução, faz o bem naturalmente, sem precisar lutar forçadamente para vencer as inclinações. Essas, por si mesmas, serão extirpadas da alma, sem que percebas. Silenciei! Estava muito longe de alcançar essa prática, pois dentro de mim havia apenas um grito de liberdade, por voos panorâmicos e arquitetônicos. — Sinto que meu deleite por tais paixões são provas explícitas de inferioridade e desmerecimento. – disse quase desconsolada. — Teu deleite demonstra a ti e somente a ti, que estás a receber uma oportunidade de melhoras morais, vencendo-te! Basta observares o que a consciência já adverte. Achas isto mágico? — Sim. É interessante. – eram uma incógnita, as palavras para argumentar sua sapiência. — Não é mágico e nem interessante, é divino. É a parcela de sublimidade que trazemos cravada dentro do nosso ser, cada qual com a sua proporção e individualidade. Ele riu. — O que é paixão? Queria saber exatamente o que significava para juntar com o que sentia e saber se estava apaixonada. — A paixão é um motivador do ânimo que, se usado

Page 25: O Oitavo Pecado - Adriana Vargas

25

Adriana Vargas O Oitavo Pecado

em excesso, retira a pureza do sentimento e o torna insalubre. Leva ao sofrimento, desviando da estrada que dará no caminho do bem. A paixão é o martírio da alma, o desejo intenso que se perde em decorrência do ego. — Eu posso me apaixonar pelo azul do céu? Admirá-lo em excesso? Dei um exemplo para saber a resposta sobre meu estado latente. — Podes todas as coisas, inclusive te apaixonares, porém, o excesso de tuas vontades te tornará escrava delas. Afastar-te-á da boa finalidade. Cairás nas garras da inépcia, pois com o tempo quererás apenas observar o céu e tão somente. — Então posso me apaixonar? – queria muito que ele dissesse que sim. — O teu livre-arbítrio o permite. — Como sei que estou apaixonada? – queria entender; queria a solução. — Quando deixares de cumprir a missão para deleitar-te na paixão. Eu já estava apaixonada por situações que imaginava como seriam. Apaixonei-me pela zona proibida dentro de minha gestação, pensava todos os dias no fascínio que ela poderia me causar, se viesse a descobri-la ou experimentá-la. O coibido me fascinava, a ponto de cegar-me, deserdando a consciência. O proibido era também secreto. O conhecimento dos ignorantes nem sequer o alcançava. Por isso, eu nunca saberia o porquê, jamais poderia ser experimentado se nem ao menos sei o mal que tal situação me causaria, se provasse ou conhecesse. — Como faço para me livrar da curiosidade, quanto ao proibido? — Afastando o pensamento. Inclinando-te a cumprires o bem pelo bem. Pedindo auxílio. Fazendo sacrifícios em prol

Page 26: O Oitavo Pecado - Adriana Vargas

26

Adriana Vargas O Oitavo Pecado

da evolução. — E se eu tentar e mesmo assim falhar? Posso ainda realizar a minha paixão? Ele riu: — A paixão não é proibida, apenas escolherás o que quer fazer em teu caminho. Com isso, prestarás conta de tua evolução um dia, arcando com os prejuízos. — Mas o prejuízo é meu? Por que teria que arcar com algo mais, se já me prejudiquei? — Estarás privada de auxiliar àqueles que esperam por tua ajuda. Indiretamente, eles serão afetados. Por isso digo: paixão é fruto do egoísmo. — Todas as paixões causam prejuízos? — Somente aquelas, que por um momento, nos impede de conseguir detê-las, passando-nos a ser joguete das suas próprias ciladas. Assim, ela se virará contra ti e te arrebatará ao chão, como a um animal que precisa ser domado à custa de sofrimento para vencer a rebeldia. A paixão malfeitora é aquela que passa a governar sem a utilidade de construção do bem. — O que posso fazer para vencer a paixão, fora a missão que devo cumprir? — Para vencer a paixão, tens que amar ou te desiludires. Ele novamente parou no espaço, diante de meu corpo etéreo e seus olhos mergulharam, com profundeza em todo o meu pobre ser. Descobri com os efeitos de suas vibrações que ele sabia amar e que isso era tudo o que ele era. — Por que evita me tocar? Escapuliu a pergunta por entre as frestas de minha impetuosidade. Ele hesitou em dizer, mas fixou os olhos santos nos meus... — Não devo entregar-me à paixão. — Quer dizer que se me tocar, irá se apaixonar por

Page 27: O Oitavo Pecado - Adriana Vargas

27

Adriana Vargas O Oitavo Pecado

mim? Mas, tocou-me quando me encontrou na Magnólia?!!! — Quero dizer, Henaph, que se te tocar, lutarei contra as minhas inclinações, em estado de sofrimento e escravidão. Jamais te toquei. Deve ter sido fruto de tua imaginação. Definitivamente a minha própria curiosidade levou-me à confusão de sentimentos. — Pode tocar em uma mulher? Mas vi, sim, quando me tocou, mesmo em outra aparência, agora em... Não havia outra pessoa por lá. Estava atropelando as palavras, querendo dizê-las todas de uma vez. — Não serei arrebatado para esferas inferiores e nem perderei os meus poderes, mas sofreria se acaso isso acontecesse a ti, por culpa de minha imprudência e egoísmo. Poderás morrer. Adquirirás mortalidade. Serás transformada em uma ninfa. Passarei por toda a eternidade, lastimando-me por tamanha irresponsabilidade. Levantei minha mão em sua direção, queria tocar em sua pele, esquecer por um minuto de que éramos imortais, mas fui advertida: — Por favor, isso é incoerente! Vamos seguir! O Criador te espera. Seguimos silenciosamente, até o Portal do Jardim. Ele parecia entristecido. Havia me dito tanta coisa, mas era difícil acreditar em algo que tivesse o quinhão de me fazer crer em algo pior do que a impossibilidade de me apaixonar. Segui Jardim adentro cabisbaixa. Olhei para trás. Ele estava estático no mesmo lugar, olhando-me entrar. Queria voltar e pedir que me levasse com ele. Nem me importaria em ser transformada em uma ninfa, mesmo sem saber o que é isso e que mal isso poderia me fazer. Sou inocente perante a ira dos deuses. Um jorro de falta do saber, escassez do entendimento. Quem poderia me condenar, se somente sabia sentir? Reconheci em seu olhar a outra parte igual ao meu olhar. Igual em variação, na mira, medida, substância e credo.

Page 28: O Oitavo Pecado - Adriana Vargas

28

Adriana Vargas O Oitavo Pecado

A ira é que amadureceria a inocência perdida em mim. Hermes ensinou-me a hermenêutica da paixão: é um vírus que corrói por dentro, faminto e descontrolado. Esta vertente lírica e voraz significa estar apaixonada. Só deixou de falar sobre a intensidade atribuída a este estado. Como poderia ser um anjo, um anjo apaixonado por um deus? Vou dormir para esperar ansiosamente pelo próximo sonho. O próximo encontro. Isso, sim, é uma tragédia consoante de amar!

Page 29: O Oitavo Pecado - Adriana Vargas

29

Adriana Vargas O Oitavo Pecado