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Joana Filipa Morte
O ORAMENTO DO ESTADO PARA 2013 UM SEVERO
MODELO DE IRS?
Relatrio de Estgio de Mestrado em Administrao Pblica Empresarial para a obteno do grau de Mestre, orientado
pelo Professor Doutor Jos Eduardo Figueiredo Dias, apresentado Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.
2013
O Oramento do Estado para 2013
um severo modelo de IRS?
Ficha tcnica
Tipo de Trabalho
Ttulo
Autor
Orientador
Identificao do Curso
Data
Relatrio de Estgio para a obteno do grau de Mestre
O Oramento do Estado para 2013 um severo modelo
de IRS?
Joana Filipa Morte
Professor Doutor Jos Eduardo Figueiredo Dias
Mestrado em Administrao Pblica Empresarial
2013
2
3
Agradecimentos
Aos meus pais, minha irm, aos meus tios e minha av Maria, por todo o amor e
por tudo fazerem de forma a proporcionar as minhas conquistas acadmicas. a eles
que dedico este relatrio.
Ao meu orientador, Professor Doutor Jos Eduardo Oliveira Figueiredo Dias, pela
disponibilidade, apoio, motivao e compreenso durante a elaborao deste relatrio.
s minhas grandes amigas, Edna Borges e Ins Cruz que me acompanharam desde
o incio nesta longa jornada e em especial Joana Neto pela ajuda, suporte e pacincia
ao longo de todo o meu percurso.
Agradeo, tambm, Direo de Finanas de Coimbra pelo interesse e
disponibilidade que apresentaram no s a mim, mas a todos os estagirios que
recebem, da qual destaco a Equipa de Apoio Inspeo Tributria, na qual estive
inserida, pelo carinho, motivao e apoio, durante e aps o estgio, e por me
transmitirem a tica inerente relao laboral e sobretudo a paixo do trabalho pela
causa pblica.
4
ndice
s Lista de Abreviaturas ........................................................................................................ 7
Resumo ............................................................................................................................ 8
1. Introduo .................................................................................................................. 9
2. Enquadramento terico .............................................................................................11
2.1. Noo de Imposto..............................................................................................11
2.2. Os momentos da vida do imposto ......................................................................13
2.2.1. Primeiro momento/ Estrutura do imposto ....................................................13
2.2.2. Segundo momento/ Fases do imposto........................................................16
2.2.2.1. Lanamento .........................................................................................17
2.2.2.2. Liquidao ...........................................................................................17
2.2.2.2.1. Avaliao direta ...............................................................................18
2.2.2.2.2. Avaliao indireta ............................................................................18
2.2.2.3. Cobrana .............................................................................................19
2.3. Classificao dos impostos ................................................................................19
2.3.1. Impostos diretos e impostos indiretos .........................................................19
2.3.2. Impostos reais e impostos pessoais ...........................................................21
2.3.3. Impostos peridicos e impostos de obrigao nica ...................................21
2.3.4. Outras classificaes ..................................................................................22
2.4. O Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (IRS) .........................22
2.4.1. A tributao do rendimento e a sua evoluo no tempo .............................22
2.4.2. O IRS e a sua estrutura normativa ..............................................................25
3. Caracterizao do Assunto .......................................................................................28
3.1. O Oramento de Estado para 2013 ...................................................................28
3.1.1. O OE/2013 e o cenrio macroeconmico ...................................................28
3.1.2. A origem do Oramento do Estado Retificativo ...........................................29
3.1.2.1. Medidas de conteno oramental ......................................................30
3.2. O OE/2013 e o IRS ............................................................................................31
3.2.1. As alteraes ao IRS ..................................................................................32
4. Resultados e Discusso ...........................................................................................36
4.1. Receita fiscal expectvel ...................................................................................36
4.2. Despesa Fiscal presumvel ................................................................................38
4.3.ExemploPrtico........................................................................................................41
5. Concluso .................................................................................................................45
5
5.1. Concluso Geral ................................................................................................45
5.2. Lacunas do relatrio ..........................................................................................46
5.3. Orientaes para trabalhos futuros ....................................................................47
Bibliografia .......................................................................................................................48
Anexos...............................................................................................................................50
6
ndice de figuras
Figura 1 Determinao do Imposto a pagar .................................................................. 15
Figura 2 Curva de Lorenz Rendimento depois de Imposto ......................................... 34
Figura 3 Evoluo da Receita Fiscal 2012-13, por imposto ........................................... 37
Figura 4 Receita Fiscal do Estado ................................................................................ 37
Figura 5 Evoluo da Receita Fiscal 2010-13, por imposto ........................................... 39
Figura 6 Evoluo da Despesa Fiscal 2010-13, por tipo .............................................. 39
Figura 7 Evoluo da Despesa Fiscal 2010-13 (em % do PIB nominal) ....................... 40
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Lista de Abreviaturas
ADM Assistncia na Doena aos Militares
ADSE - Assistncia na Doena aos Servidores Civis do Estado
AT Autoridade Tributria e Aduaneira
CIRC Cdigo do Imposto sobre as Pessoas Coletivas
CIRS Cdigo do Imposto sobre as Pessoas Singulares
CPPT Cdigo de Procedimento e de Processo Tributrio
CRP Constituio da Repblica Portuguesa
IAS Indexante dos apoios sociais
IMI Imposto municipal sobre imveis
IRC Imposto sobre o rendimento das pessoas coletivas
IRS Imposto sobre o rendimento das pessoas singulares
IUC Imposto nico de circulao
IVA Imposto sobre o valor acrescentado
LGT Lei Geral Tributria
LOE/2012 Lei do Oramento do Estado para 2012
OE Oramento do Estado
OE/2013 Oramento do Estado para 2013
OER Oramento do Estado Retificativo
PAEF Programa de Assistncia Econmica Financeira
PIB Produto interno bruto
p.p. pontos percentuais
UTAO Unidade Tcnica de Apoio Oramental
SAD Assistncia na Doena GNR/PSP
8
Resumo
Com o presente relatrio pretende-se destacar as consequncias subjacentes s
medidas implementadas, na tributao do rendimento das pessoas singulares, com a
aprovao do Oramento do Estado para 2013, bem como da receita expectvel que lhe
est inerente.
A situao com contornos muito especficos e espinhosos que Portugal atravessa,
aliado s exigncias decorrentes da instituio do Programa de Assistncia Econmica
Financeira, regeu a necessidade de efetivao da consolidao oramental, por
intermdio do aumento da receita e atravs de cortes na despesa do Estado.
Nesta tica, o Oramento do Estado para 2013 assume um papel preponderante na
conduo da poltica fiscal, com principal destaque no seu impacto no rendimento
disponvel das famlias portuguesas.
9
1. Introduo
A situao particularmente difcil que Portugal atravessa conduziu-nos ao imperativo
de consolidao oramental, tanto por via do aumento da receita, como por intermdio de
cortes na despesa do Estado. luz da ajuda financeira requerida e com a instituio do
Programa de Assistncia Econmica Financeira a preponderncia,
(...) de acumulao da credibilidade e confiana junto dos credores, bem como
de honrar os compromissos internacionais assumidos pelo Estado Portugus e,
bem assim, de salvaguardar a realizao das suas tarefas fundamentais perante
os seus cidados [levaram] o Governo, enquanto rgo responsvel pela
conduo da poltica geral do pas, a ter de adotar, para o ano de 2013, medidas
suplementares de consolidao oramental (...) (Relatrio do Oramento do
Estado para 2013, (2012), p. 39).
Nesta lgica e com o pressuposto de que as medidas introduzidas devem respeitar
os princpios constitucionais da proporcionalidade e da proteo da confiana, intrnsecas
das relaes entre um Estado de Direito e os seus cidados, a tributao do rendimento
das pessoas singulares sofreu profundas alteraes, destacando-se como uma das
grandes medidas decorrentes do Oramento do Estado para 2013.
O objetivo primordial deste relatrio prende-se com a aferio das consequncias
inerentes s medidas implementadas, em sede da tributao do rendimento das pessoas
singulares, bem como da receita expectvel subjacente.
A estratgia de investigao utilizada para realizao deste relatrio alicera-se na
investigao arquivstica, com base em documentos oficiais e na legislao em vigor.
A estrutura do presente relatrio consiste em cinco captulos, cuja distribuio se
pauta pela caracterizao do geral para o particular, da seguinte forma: o captulo I
corresponde s consideraes iniciais, o captulo II visa o enquadramento terico
partindo da definio cientfica de imposto, aliado a todas as suas etapas e distines,
progredindo para a caracterizao cronolgica e normativa do imposto sobre o
rendimento das pessoas singulares. No captulo III pretende-se, primeiro, enquadrar o
leitor no cenrio macroeconmico patente realidade portuguesa, bem como destacar as
alteraes inerentes a essa realidade dinmica e, em segundo, determinar as alteraes
advindas do Oramento do Estado para 2013 em sede de IRS. Por sua vez, no captulo
IV determina-se a receita e despesa expectveis provenientes das alteraes constantes
no Oramento do Estado para 2013 e aplicam-se as alteraes em sede de IRS a um
10
caso tpico de um determinado agregado familiar. O captulo V diz respeito s
consideraes finais, no qual se incluem as lacunas do trabalho e orientaes para
trabalhos futuros.
11
2. Enquadramento terico
2.1. Noo de Imposto
Segundo MANUEL PEREIRA,
A noo moderna de imposto tem como ponto de partida a conhecida definio
de Jeze: o imposto uma prestao pecuniria, exigida aos particulares por via
de autoridade, a ttulo definitivo e sem contrapartida, com vista cobertura dos
encargos pblicos ( Jeze in Pereira, (2011), p.13).
Esta conceo evoluiu no sentido de incorporar outras finalidades, para alm da
obteno de receitas (...) para ser progressivamente visualizado como instrumento de
poltica econmica e social (Pereira, (2011), p.13), culminando na definio de imposto
atualmente aceite. Ainda a este respeito e de acordo com CASALTA NABAIS, a definio de
imposto reca sobre trs elementos, um objetivo, outro subjetivo e um teleolgico/ finalista
(2009, p. 10).
Do ponto de vista objetivo, o imposto corresponde a uma prestao, pecuniria,
unilateral1, definitiva e coativa, na medida em que integra uma relao de natureza
obrigacional e no uma relao de carcter real, concretizada em dinheiro, a que no lhe
corresponde qualquer contraprestao especfica (a favor do contribuinte), nem qualquer
reembolso, restituio ou indeminizao e cuja fonte se circunscreve lei,
exclusivamente por fora do encontro do facto tributrio ou do pressuposto de facto do
imposto com a lei, que assim modela o seu contedo, independentemente (...) de
qualquer manifestao de vontade do contribuinte como prescrevem (...) os n. 1 e 2 do
artigo 36. da LGT (Nabais, (2009), p. 16).
Na tica subjetiva, uma prestao com as caractersticas objetivas exigida (ou
devida por) a detentores individuais ou coletivos de capacidade contributiva, em
consonncia com o critrio material da igualdade ou justia fiscal (n 1 artigo 4. da LGT)
concretizado na generalidade e na uniformidade dos impostos, a favor de entidades que
exeram funes ou tarefas pblicas (de forma a que os impostos tambm revertam a
favor de pessoas privadas titulares de funes pblicas).
Generalidade quer dizer que todos os cidados esto adstritos ao pagamento
de impostos, no havendo entre eles, portanto, qualquer distino (...) de ndole
1 O imposto uma prestao unilateral no presente (stricto sensu) e no futuro (definitiva) - NABAIS, (2009), p.
15.
12
meramente poltica; por seu turno, uniformidade quer dizer que a repartio dos
impostos pelos cidados obedece ao mesmo critrio, a critrio idntico para
todos. (Teixeira Ribeiro in Teixeira Ribeiro, (1997), p. 261)
No mbito teleolgico/ finalista, o imposto exigido pelas entidades que exeram
funes pblicas para o desempenho das suas competncias de ordem no
sancionatria. Por outras palavras o imposto no visa nica e exclusivamente a obteno
de receitas, existem tambm impostos cuja finalidade no se esgota na rea fiscal ou
financeira. Existe, portanto, uma distino entre impostos fiscais (cujo objetivo primordial
a obteno de receitas) e os impostos extrafiscais2 (que visam simultaneamente a
obteno de receitas e outras finalidades, ou apenas finalidades de outro carcter).
TEIXEIRA RIBEIRO acrescenta,
(...) que nunca os impostos fiscais so exclusivamente fiscais, uma vez que o
Estado, ao lan-los, tem sempre em mira certa repartio dos encargos pelos
contribuintes; nem nunca os impostos extrafiscais so exclusivamente
extrafiscais, uma vez que as receitas dos prprios impostos s com outras
finalidades que no a cobertura das despesas acabam sempre, mais cedo ou
mais tarde, por ser nela aplicados (1997, p. 259-260).
De acordo com o autor, a distino reside na finalidade imediata, que quando se
circunscreve cobertura das despesas, est-se perante impostos fiscais e por outro lado
nos casos em que a finalidade imediata no apenas ou nem sequer essa, so
impostos extrafiscais. A CRP prev, ainda que subtilmente, estas duas modalidades no
n1 do artigo 103. ao estabelecer O sistema fiscal visa a satisfao das necessidades
financeiras do Estado e outras entidades pblicas e uma repartio justa dos rendimentos
e da riqueza., bem como o n 1 do artigo 5. da LGT que estatui A tributao visa a
satisfao das necessidades financeiras do Estado e de outras entidades pblicas e
promove a justia social, a igualdade de oportunidades e as necessrias correes das
desigualdades na distribuio da riqueza e do rendimento.
Ainda no domnio teleolgico/ finalista, a finalidade sancionatria excluda, na justa
medida em que se pretende aplicar uma sano existem diversas figuras de direito
nomeadamente,
(...) uma multa (sano pecuniria penal), uma coima (sano pecuniria
contra-ordenacional), um confisco (sano penal traduzida na apreenso e
correspondente perda a favor do Estado do produto obtido e dos instrumentos
utilizados na prtica de acto ilcito), uma indeminizao (reparao do prejuzo
2 No limite a sua finalidade principal evitar ou obstar verificao do respectivo pressuposto de facto ou
facto gerador. - NABAIS, (2009), p. 19.
13
causado a outrem atravs de acto ilcito), etc., mas nunca perante um imposto.
(Nabais, (2009), p. 19)
Sumariamente, o imposto corresponde a uma prestao pecuniria, unilateral,
definitiva e coativa, exigida a (ou devida por) detentores (individuais ou coletivos) de
capacidade contributiva, a favor de entidades que desempenham funes pblicas, sem
carcter sancionatrio.
2.2. Os momentos da vida do imposto
O imposto enquanto figura do sistema fiscal, apresenta uma estrutura dinmica que
se reparte em dois momentos, o momento do estabelecimento, criao, instituio ou
incidncia do imposto e o momento da sua aplicao, efetivao, administrao ou
gesto.
2.2.1. Primeiro momento/ Estrutura do imposto
Segundo CASALTA NABAIS,
No primeiro momento, trata-se de definir o se (an) e o quando (quantum) do
imposto, o que engloba a definio normativa: 1) do facto, actividade ou situao
que d origem ao imposto (o chamado pressuposto de facto, facto gerador ou
facto tributrio); 2) dos sujeitos activos e passivos (contribuinte, responsveis,
substitutos, etc) da obrigao do imposto; 3) do montante do imposto, (...) e 4),
na medida em que decidem que no h lugar a imposto ou h lugar a menos
imposto, dos benefcios fiscais (2009, p. 39).
O facto gerador reparte-se em dois elementos, o objetivo (facto tributrio em si) e o
subjetivo (que relaciona o sujeito passivo do imposto com o elemento objetivo). No que
respeita o elemento objetivo, este comporta quatro aspetos, o aspeto material (associado
a uma manifestao de capacidade contributiva), o aspeto espacial (imputado conexo
do fato tributrio com determinado territrio conexo de territorialidade), o aspeto
temporal (relacionado com a dimenso no tempo do fato tributrio, baseado na
necessidade de precisar na lei de que modo se concretiza no tempo o fato tributrio, com
vista determinao das consequncias fiscais) e, por ltimo, o aspeto quantitativo (que
torna possvel efetuar uma medio da manifestao de capacidade contributiva). Por
14
sua vez, o elemento subjetivo destina-se a ligar o sujeito (individual ou coletivo) ao facto
tributrio em si (elemento objetivo), constituindo os sujeitos passivos do imposto.
Ainda no domnio do fato gerador do imposto, o n.1 do artigo 36. da LGT,
estabelece que A relao jurdica tributria constitui-se com o fato tributrio., isto , um
imposto pressupe a existncia de um fato tributrio, definido numa lei, que quando
verificado faz nascer a respetiva obrigao. Nas palavras de CASALTA NABAIS, trata-se
(...) dum momento normativo, mais exactamente dum momento legislativo qualificado, j
que a sua disciplina se encontra subordinada s exigncias do princpio da legalidade
fiscal. As exigncias mencionadas so inerentes ao recorte constitucional do sistema
fiscal portugus3 (sistema dos tributos unilaterais/ impostos)4 de forma a assegurar a
reserva de lei5, a par dos elementos do imposto como estabelece o n2 do artigo 103. da
CRP e a articulao horizontal (entre os demais impostos que vigoram no nosso
ornamento jurdico, como veremos no ponto seguinte), bem como a articulao vertical (
entre o sistema fiscal portugus e o da Unio Europeia) (Nabais, (2009), p. 34).
O primeiro momento, como CASALTA NABAIS refere, tambm constitudo pela
definio dos sujeitos ativos e passivos cuja determinao reside nas regras de
incidncia, por um lado a incidncia real e por outro a incidncia pessoal. Na primeira
interessa averiguar o que est sujeito a imposto estando, portanto, relacionada com o
elemento objetivo do fato gerador, enquanto a segunda prende-se com a determinao
de quem est sujeito a imposto, por outras palavras est associada ao elemento subjetivo
do fato gerador e est consagrada nos n 1 e ss do artigo 18. da LGT como se
transcreve,
1 O sujeito ativo da relao tributria a entidade de direito pblico titular do
direito de exigir o cumprimento das obrigaes tributrias, quer diretamente quer
atravs de representante.(...)
3 No se confunde com o sistema tributrio, na medida em que este constitudo pelo conjunto dos tributos
sem qualquer distino (imposto, taxa e contribuies). - NABAIS, (2009), p. 33-34. 4 Em oposio aos tributos bilaterais (taxas) dotados de reserva lei parlamentar (ou decreto-lei parlamentar
autorizado) cuja fundamentao reside no princpio da proporcionalidade taxa/prestao estadual
proporcionada ou taxa/custos especficos causados respectiva comunidade. Importa referir que a distino
entre tributos unilaterais e bilaterais reside no critrio da bilateralidade e da proporcionalidade, uma vez que
para alm de se verificar a bilateralidade do tributo, este tambm deve ser proporcional respectiva
contraprestao especfica, de forma a ser considerado taxa. No obstante existe, ainda, uma diviso
tripartida que distingue os impostos, das taxas e das contribuies/tributos especiais. - NABAIS, (2009), p.
20- 21. 5 Subprincpio do Princpio da legalidade da Administrao Pblica ( a Administrao Pblica s pode agir
quando esteja habilitada por uma autorizao legal (quer pode ser nacional ou comunitria), o que remete
para o outro subprincpio o princpio do primado da lei. SOUSA, (2009).
15
3 O sujeito passivo a pessoa singular ou coletiva, o patrimnio ou a
organizao de fato ou de direito que, nos termos da lei, est vinculado ao
cumprimento da prestao tributria, seja como contribuinte direto, substituto ou
responsvel. (...).
O montante do imposto, ou matria coletvel (aspeto quantitativo do elemento
objetivo) apurado atravs das regras de incidncia real, cuja funo :
Figura 3 Determinao do Imposto a pagar; Fonte: (Pereira, (2011), p.35)
Nas palavras de MANUEL PEREIRA,
O clculo do imposto pressupe por um lado, regra geral, a aplicao de uma
taxa. S assim no , quando se est perante um imposto em que a lei fixa o
respectivo valor numa certa importncia os chamados impostos de quota fixa
(2011).
Nesta lgica, a natureza das taxas (a aplicar matria coletvel) revela-se de
extrema importncia, sendo por isso pertinente fazer-lhe o devido escrutnio. Por um lado
temos a taxa nominal ou estatutria, definida por lei e aplicada matria coletvel, como
se demonstra na Figura 1, de forma a fixar-se a coleta. Esta taxa pode ser proporcional (o
seu valor constante, qualquer que seja o valor da matria coletvel), progressiva (o seu
valor aumenta em funo do valor da matria coletvel) e, ainda, regressiva (o seu valor
diminui em funo do valor da matria coletvel). Em contrapartida, temos a taxa efetiva
que resulta da relao entre o imposto a pagar e um indicador da base tributvel
(Pereira, (2011), p. 35). A ttulo de exemplo, em Portugal, a taxa efetiva de IRS
corresponde relao entre o total de IRS liquidado e o rendimento bruto declarado.
Tanto a base tributvel como, posteriormente, a coleta pode ser alvos de
agravamentos ou desagravamentos (Pereira, (2011), p. 34) (as dedues e abatimentos
base tributvel e as dedues coleta, respetivamente), os denominados benefcios
Base Tributvel
- Dedues e abatimentos base tributvel
= Matria coletvel
x Taxa
= Coleta
- Dedues coleta
= Imposto a pagar
16
fiscais. No caso das dedues e abatimentos base tributvel, o fato gerador pode ser
alvo de delimitao positiva ou delimitao negativa, sendo que a ltima resulta em
situaes de no sujeio, ao passo que a primeira d lugar a isenes situaes que
so abrangidas pelas regras de incidncia, e nesse sentido esto sujeitas a imposto, mas
que um facto autnomo impede que sejam tributadas (Pereira, (2011), p. 31). Se o fato
autnomo incidir sobre o elemento objetivo do fator gerador estamos perante isenes,
naturalmente, objetivas ou reais, caso incida sobre o elemento subjetivo estamos perante
isenes subjetivas ou pessoais, estabelecidas unicamente por fora da lei. Ainda na
esfera das isenes subjetivas/pessoais, ou seja isenes sobre o sujeito (individual ou
coletivo) passivo de imposto, o conceito de incidncia econmica ganha especial revelo,
na medida em que esta que determina quem suporta efectivamente o imposto
(Pereira, (2011), p. 31). Outros dois conceitos que emergem, so o da distribuio inicial
e da distribuio final da carga fiscal. No primeiro estamos perante o contribuinte de
direito (pessoa descrita na lei como sendo o respectivo sujeito passivo (Pereira, (2011),
p. 31)) e no segundo perante o contribuinte de fato (o contribuinte de direito tem a
possibilidade de transferir para terceiros a carga fiscal que lhe est imputada). Este
processo, de transferncia de obrigaes fiscais, denominado de repercusso e quando
concludo alcana-se a distribuio final do imposto (a incidncia econmica) que se
revela determinante para apurar se foi cumprido o princpio da capacidade contributiva.
2.2.2. Segundo momento/ Fases do imposto
De acordo com MANUEL PEREIRA,
Apresentados os elementos que estruturam o imposto [o denominado primeiro
momento], interessa agora verificar a sua dinmica, ou seja o modo como se
desenvolve a sua aplicao, desde o nascimento da respectiva obrigao at ao
seu cumprimento (...) (2011).
A aplicao do imposto desdobra-se em trs fases, o lanamento, a liquidao e a
cobrana, respetivamente6. No lanamento procede-se identificao do(s) sujeitos de
imposto (lanamento subjetivo) e fixa-se a matria coletvel, bem como a taxa(s)
(lanamento objetivo). De seguida efetua-se a liquidao em que se apura a coleta
6 Os autores consultados distinguem o lanamento da liquidao, embora ressalvem a existncia de opinies
discordantes. Desta forma, estes termos so interpretados no seu sentido estrito ou tcnico, uma vez que no
sentido amplo, ambos se confundiam na esfera um do outro. NABAIS, (2009), p. 40, nota de rodap 65.
17
(aplicando-se a(s) taxa(s) matria coletvel), que corresponder ao montante do
imposto caso no existam dedues a aplicar (dedues coleta). Por ltimo
executada a cobrana que diz respeito ao momento em que o imposto entregue ao
Estado, voluntariamente ou coercivamente.
2.2.2.1. Lanamento
O processo, em escopo, tem incio com a declarao do contribuinte, como est
consagrado no n1 do artigo 59. do CPPT, ao determinar que, O procedimento de
liquidao instaura-se com as declaraes dos contribuintes ou, na falta ou vcio destas,
com base em todos os elementos de que disponha ou venha a obter a entidade
competente. Cabe AT, na falta de entrega da declarao, bem como nos casos em
que o contribuinte no declare a cessao da sua actividade e ainda quando seja do
conhecimento dos servios a ocultao de fatos no declarados, a elaborao da
liquidao oficiosa como estabelece o n 7 do artigo 59. do CPPT, Sempre que a
entidade competente tome conhecimento de fatos tributrios no declarados pelo sujeito
passivo e do suporte probatrio necessrio, o procedimento de liquidao instaurado
oficiosamente pelos competentes servios.
2.2.2.2. Liquidao
Entre ns, a jurisprudncia aponta para dois mtodos de determinar a matria
coletvel, de forma a efetuar-se a liquidao, a avaliao direta e a avaliao indireta,
como estabelece o n 1 do artigo 81. da LGT,
A matria tributvel avaliada ou calculada diretamente segundo os critrios
prprios de cada tributo, s podendo a administrao tributria proceder a
avaliao indireta nos casos e condies expressamente previstos na lei.
18
2.2.2.2.1. Avaliao direta
A avaliao direta baseia-se na declarao do contribuinte ou de um terceiro,
entendendo-se por terceiro(s) o sujeito(s) que pagam ao contribuinte qualquer tipo de
remunerao. Nas palavras de TEIXEIRA RIBEIRO,
Na determinao por declarao de terceiro, a matria colectvel denunciada
por quem a paga ao contribuinte: os patres declaram os salrios que pagam
aos trabalhadores, os arrendatrios declaram as rendas que pagam aos
senhorios, (...) (1997, p. 361).
De acordo com o n1 do artigo 83. da LGT, a avaliao direta visa a determinao do
valor real dos rendimentos ou bens sujeitos a tributao, sendo da competncia da AT,
excetuando os casos expressamente definidos por lei (como o caso da autoliquidao),
nos termos do n1 do artigo 82. da LGT. A respeito das declaraes apresentadas o n1
do artigo 75. da LGT consagra que,
Presumem-se verdadeiras e de boa f as declaraes dos contribuintes
apresentadas nos termos previstos na lei, bem como os dados e apuramentos
inscritos na sua contabilidade ou escrita, quando estas estiverem organizadas de
acordo com a legislao comercial e fiscal.
Significa, portanto, que estamos perante uma autntica presuno de veracidade
quer das declaraes quer dos elementos contabilsticos que as apoiam (Pereira, (2011),
p. 42).
2.2.2.2.2. Avaliao indireta
O n2 do artigo 83. da LGT estabelece que a avaliao indireta visa a determinao
do valor dos rendimentos (...) a partir de indcios, presunes ou outros elementos de que
a administrao tributria disponha, cuja competncia pertence AT aliada
participao do contribuinte nos termos do n2 e 3 do artigo 82. da LGT. Destaca-se,
ainda, o seu carcter subsidirio em relao avaliao direta excetuando os casos
expressamente previstos na lei, como fixa o artigo 85. da LGT e o n1 do artigo 81., do
mesmo diploma, que remete para o artigo 87. e seguintes da LGT. Na tica de TEIXEIRA
19
RIBEIRO, Temos o sistema de avaliao mista um misto de avaliao administrativa e
particular (...) (1997, p. 361), na medida em que a determinao da matria coletvel
feita atravs de presunes, ou seja a matria coletvel real mas presumida e portanto
o contribuinte pode contestar nos casos em que discorda do valor apurado pela AT.
2.2.2.3. Cobrana
Como referido anteriormente, a cobrana pode ser por duas vias, a voluntria ou a
coerciva nos termos do artigo 78. do CPPT. O pagamento voluntrio est consagrado no
artigo 84. do mesmo cdigo e efetuado entre as balizas temporais definidas na
legislao, enquanto a cobrana coerciva efetuada no decorrer do processo de
execuo fiscal, decorrido o prazo para o pagamento voluntrio. Nos termos do artigo
148. e seguintes do CPPT, a cobrana coerciva corresponde cobrana do imposto em
falta e dos juros de mora, contados a partir do fim do prazo para o pagamento voluntrio
e at data do pagamento da dvida artigo 86. do CPPT e artigo 44 da LGT.
CASALTA NABAIS remata,
Em suma, do ponto de vista dinmico, o que importante distinguir e separar
adequadamente o momento da instituio ou do estabelecimento dos impostos
do momento da sua aplicao ou efectivao (2009, p. 42).
2.3. Classificao dos impostos
2.3.1. Impostos diretos e impostos indiretos
A distino entre impostos diretos e indiretos pode ser efetuada atravs de critrios
econmicos ou de critrios jurdicos.
Na esfera dos critrios econmicos existem trs critrios distintos, designadamente:
1) o critrio financeiro (que se prende com o objeto do imposto, determinando que
impostos diretos so os que ao atingirem manifestaes imediatas de capacidade
contributiva pressupem a existncia de um sujeito, patrimnio ou rendimento e os
20
impostos indiretos dizem respeito aos impostos que atingindo as manifestaes mediatas
da capacidade contributiva tributam a despesa, a transferncia de bens ou demais
manifestaes indiretas da capacidade contributiva); 2) o critrio da repercusso
econmica (que afere se os impostos so repercuteis ou no no adquirente final de bens
e servios, estabelecendo que so impostos diretos os que no tm repercusso e, em
contrapartida, so impostos indiretos aqueles que tm repercusso no consumidor final) e
3) o critrio econmico stricto sensu ou da contabilidade nacional (que se circunscreve
natureza econmica dos tributos unilaterais, quer isto dizer que os classifica consoante a
sua integrao nos custos de produo das empresas. Desta forma tem-se que, impostos
diretos so os que no constituem custos de produo das empresas e impostos
indiretos correspondem aos tributos (unilaterais) que constituem custos de produo das
empresas, que por isso so deduzidos ao produto nacional, bruto ou lquido, ou seja, os
impostos sobre o consumo.) Refira-se que este o critrio com mais destaque no nosso
ordenamento jurdico-fiscal, como aponta CASALTA NABAIS ao escrever, Quanto
classificao ou arrumao oramental das receitas fiscais, h consenso no sentido de
que ela segue o critrio da contabilidade nacional (2009, p. 47).
Por sua vez, os critrios jurdicos ramificam-se da seguinte forma: 1) o critrio do
lanamento administrativo (so impostos diretos impostos com lanamento os tributos
em que do procedimento fiscal decorre um ato administrativo de lanamento ou ato
tributrio e so impostos indiretos impostos sem lanamento aqueles que no so
precedidos desse ato administrativo); 2) o critrio do rol nominativo (constituem impostos
diretos aqueles em que o lanamento tenha fundamento numa lista/ rol nominativo de
contribuintes perante a administrao fiscal e so impostos indiretos, os impostos em que
tal no sucede. Importa destacar, que luz do sistema fiscal complexo com que nos
deparamos, este critrio deixa de se enquadrar nas exigncias inerentes, sendo que a
existncia ou no de uma lista no preponderante.) e 3) o critrio do tipo de relao
jurdica base do imposto (que diz respeito ao tipo de relao jurdica fonte da obrigao
de imposto configurao instantnea ou duradoura do elemento temporal do fato
tributrio estabelecendo que so impostos diretos aqueles que se prolongam/
perpetuam no tempo e impostos indiretos, os que no configuram continuidade entre si,
ou seja, dotados de carcter instantneo, como sucede por exemplo com os atos
isolados).
21
2.3.2. Impostos reais e impostos pessoais
Nas palavras de TEIXEIRA RIBEIRO,
primeira vista, todos os impostos so simultaneamente reais e pessoais. (...)
todos eles incidem sobre a matria colectvel (...) e da o seu carcter real; todos
eles so pagos (...) pelos titulares da matria colectvel, e da o seu carcter
pessoal (1997, p. 291).
Em boa verdade, existem impostos que no tm em conta a situao do contribuinte,
na medida em que se distanciam do condicionalismo econmico e social ou da situao
pessoal em que se encontra o contribuinte, que como sucede no IMI, no IUC, no IVA e no
IRC. Estes tributos (unilaterais) so denominados de impostos reais, que no seu polo
extremado encontram em oposio os impostos pessoais alicerados na capacidade
contributiva do sujeito. Nos impostos pessoais a fixao da quantia tem em linha de conta
1) a situao em que se encontra o sujeito, consagrando, para esse efeito, 2) a iseno
de um mnimo de existncia ou de uma deduo na base, nomeadamente 3) o
abatimento de encargos de famlia e genericamente 4) a aplicao de uma taxa
progressiva. CASALTA NABAIS acrescenta,
De resto, os impostos pessoais podem ser mais ou menos pessoais consoante
partilhem da generalidade das caractersticas [acima enumeradas] dos impostos
pessoais ou apenas algumas delas (2009, p. 54).
Sublinhe-se que o IRS constitui um exemplo perfeito de impostos do tipo pessoal, na
medida em que tem em ateno as quatro caratersticas elencadas.
2.3.3. Impostos peridicos e impostos de obrigao
nica
semelhana do que ocorre no critrio do tipo de relao jurdica base do imposto
(terceiro critrio jurdico na distino entre impostos diretos e indiretos), o pressuposto de
tributao assenta na estabilidade ou continuidade do fato. Quer isto dizer que se
entende por impostos peridicos aqueles que se perpetuam no tempo, que enquanto no
for do conhecimento da AT uma alterao/cessao da situao conhecida (por
intermdio de declarao) presume-se essa continuidade e os respetivos efeitos. Em
22
contraposto esto os impostos de obrigao nica, cujo pressuposto de caractr
isolado, ou seja, no expectvel que se repitam no mesmo espetro temporal.
2.3.4. Outras classificaes
A classificao de imposto, ainda se desdobra em mais 5 distines, nomeadamente
a distino entre: i) impostos de quota fixa e quota varivel; ii) impostos estaduais e no
estaduais; iii) impostos gerais e especiais; iv) impostos principais e acessrios; e v)
impostos sobre o rendimento, sobre o patrimnio e sobre o consumo. Todavia e luz do
tema a dissertar, no parece pertinente o devido escrutnio.
Em suma, e visto que se pretende caracterizar o impostos sobre o rendimento das
pessoas singulares, o IRS um imposto direto, pessoal, de obrigao nica e estadual
(na justa medida em que o sujeito ativo da obrigao de imposto o Estado). , tambm,
de quota varivel (a taxa a aplicar oscila de acordo com a matria coletvel), de carcter
geral (uma vez que se destina a um conjunto de situaes homogneas) e principal
(gozam de autonomia, existem por si, no dependendo da existncia de qualquer
relao tributria anterior (Pereira, (2011), p. 54)), incidindo sobre o rendimento (a
natureza econmica da base sobre que incide o imposto o rendimento).
2.4. O Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (IRS)
2.4.1. A tributao do rendimento e a sua evoluo no
tempo
Entre ns, a tributao do rendimento generalizado iniciou-se em 1641 com a criao
da dcima militar, de forma a colmatar as despesas da guerra da Restaurao7, atravs
da taxao, a 10%, dos rendimentos prediais, dos de capitais, dos ofcios e das rendas.
Apesar de constituir um largo avano de acordo com a poca e pela sua globalidade, um
antecedente histrico do imposto nico que agora se institui (Decreto-Lei 442-A/88), no
decorrer do sculo XIX a dcima esmoreceu devido criao de impostos cedulares e
7Entre o reino portugus e o reino espanhol, que mais tarde derrubou a Dinastia Filipina, com a assinatura do
Tratado de Lisboa de 1668.
23
reais, que ainda hoje esto presentes no nosso recorte fiscal como o caso, por
exemplo, das contribuies prediais, industriais e do imposto sobre capitais (ou dcima
de juros anterior reestruturao da incidncia).
O ano de 1922 d lugar reforma fiscal, fundamentalmente centrada nos
rendimentos reais, constituindo o primeiro imposto global verdadeiramente pessoal
(Decreto-Lei 442-A/88). Todavia, o nvel de incumprimento decorrente das suas
limitaes de aplicao, resultou na sua substituio pelo imposto complementar ainda
antes da reforma tributria de 1929, cuja finalidade residia na tributao de rendimentos
normais.
Em 1929 criado o imposto profissional, paralelamente aos impostos parcelares, em
que o imposto complementar funcionava como um tributo de sobreposio.
Entre 1962 a 1965 decorreu uma nova reforma fiscal que,
no alterou a estrutura dualista do sistema: impostos cedulares ou de produto
incidentes sobre as diferentes fontes de rendimento e prescindindo das
circunstncias pessoais dos contribuintes [e] imposto complementar sobrepondo-
se ao conjunto global dos rendimentos j submetidos aos impostos reais e tendo
em conta a situao pessoal dos contribuintes (Decreto-Lei 442-A/88).
Esta reforma surge da conjugao/conciliao do imposto sobre o valor acrescentado8,
com o carcter nico e progressivo do imposto sobre o rendimento pessoal que por isso,
tem em linha de conta as necessidades e rendimentos do agregado familiar. A primeira (e
rudimentar) configurao do IRS e do IRC (para a tributao das pessoas coletivas)
emerge, nesta altura, de forma a agregar todos os impostos cedulares nomeadamente, o
imposto profissional, da contribuio predial, da contribuio industrial, sobre a indstria
agrcola, o imposto de capitais, o complementar e o imposto de mais-valias.
Deparamo-nos, ento, com um renovado sistema fiscal que ao invs de se centrar
na tributao fragmentada, tributa os rendimentos individuais de forma unitria. Esta
conglomerao (dos tributos) permitiu uma distribuio da carga fiscal segundo um
esquema racional de progressividade, em consonncia com a capacidade contributiva
(Decreto-Lei 442-A/88), de forma a colmatar os desequilbrios da distribuio primria do
rendimento, (que decorre do processo produtivo) atravs de uma segunda redistribuio
de forma a definir um padro de distribuio tido como social e politicamente mais
aceitvel (Decreto-Lei 442-A/88). Note-se que a tributao unitria tambm assume
8 Antigo imposto de transaes, cuja alterao tambm ocorreu nesta reforma.
24
caractersticas de um sistema cedular, na medida em que continua a diferenciar os
diversos tipos de rendimento pessoal, na fase da anlise/identificao dos rendimentos
de acordo com a sua natureza. Infere-se, portanto, que o imposto nico global comporta
[caractersticas que] (...) constitum remanescncia do tratamento separado, que no
anterior sistema se fazia em cdulas diferenciadas at final (Decreto-Lei 442-A/88).
Os contributos da reforma da dcada de 60 esto centrados nos mtodos de
apuramento do rendimento coletvel, embora tenha persistido o sistema cedular misto
resultante da anterior reforma. Apesar dos avanos conseguidos, a evoluo do regime
de tributao do rendimento, entre ns seguiu o trilho da,
preponderncia dos elementos cedulares, marcada pela introduo no mago
das prprias cdulas, num arremedo de pessoalizao que, pela forma
descoordenada como foi executado, levou inclusivamente anomalia de inverter
a discriminao qualitativa dos rendimentos, visando na origem a proteco da
fonte de trabalho (Decreto-Lei 442-A/88).
A ltima grande reforma estrutural do sistema tributrio ocorreu em 1989,
principalmente por razes de homogeneizao com os restantes Estados-membro das
Comunidades Europeias. Aquando a integrao9 de Portugal, o recorte tributrio dos
restantes membros j se pautava pela tributao global dos rendimentos. Foi ento que
se assumiu frontalmente a tributao unitria do rendimento (Decreto-Lei 442-A/88), de
acordo com a conceo de acrscimo patrimonial, cuja base de incidncia engloba todo o
poder aquisitivo, no descurando as mais-valias, bem como as receitas irregulares e os
ganhos fortuitos (rendimento-acrscimo)10. A adoo desta conceo prende-se com o
fato de conduzir a uma definio compreensiva do rendimento tributvel (Decreto-Lei
442-A/88), seguindo os princpios estruturantes do sistema fiscal vigente, dos quais se
destaca o princpio da capacidade contributiva e, ainda, por oposio conceo mais
restritiva de rendimento, presente na corrente terica da fonte do rendimento. Acolheu-
se, assim, com maior nitidez do que na anterior reforma (...) uma concepo
tendencialmente ampla de rendimento (Decreto-Lei 442-A/88).
9 Portugal tornou-se membro das Comunidades Europeias a 1 de Janeiro de 1986.
10 Conceo oposta da conceo da fonte.
25
2.4.2. O IRS e a sua estrutura normativa
O IRS composto por nove categorias de rendimentos, (cuja denominao est
ordenada alfabeticamente) sendo que as seis primeiras dizem respeito s diferentes
fontes/origens do rendimento-produto, a stima corresponde s mais-valias e as duas
restantes tm carcter/natureza residual. A necessidade desta diviso prende-se com a
diversidade dos regimes de tributao, designadamente na determinao do rendimento
e dos mtodos de perceo do imposto, o que em nada diverge com o tratamento
unitrio da matria colectvel, reflectido basicamente na aplicao de uma nica tabela
de taxas progressivas (Decreto-Lei 442-A/88). Esta foi a soluo encontrada de forma a
conciliar as especificidades das diferentes categorias de rendimentos com a concepo
da tributao pessoal, intrnseca unicidade tributria.
, neste momento, pertinente caracterizar sucintamente as diversas categorias
acima enumeradas. Por conseguinte, as categorias A e B correspondem aos rendimentos
provenientes do trabalho, a primeira (categoria A) diz respeito ao trabalho dependente e a
segunda (categoria B) prende-se com o trabalho independente. Esta distino emergiu
devido ao carcter individualista das regras prprias em matria de incidncia,
determinao da matria colectvel e liquidao, prevendo-se uma deduo especial
para os rendimentos da primeira destas categorias (Decreto-Lei 442-A/88). No que toca
categoria B, o legislador tomou uma posio mais restritiva ao estabelecer uma lista
das atividades que integram a categoria designadamente os,
rendimentos imputveis ao trabalho independente, os direitos de autor sobre
obras intelectuais e os rendimentos resultantes da concesso ou cedncia
temporria de patentes de inveno, licenas de explorao, modelos, marcas,
etc., bem como os percebidos pela transferncia do Know-how, uns e outros
quando auferidos por titulares originrios (Decreto-Lei 442-A/88).
A categoria C, por sua vez, diz respeito aos rendimentos comerciais e industriais
obtidos por pessoas singulares, resultantes de atividades situadas em zonas de
confluncia (Decreto-Lei 442-A/88), como o caso dos rendimentos do trabalho
auferidos pelos empresrios. O apuramento da matria coletvel, nesta categoria, rege-
se maioritariamente pelas regras aplicveis no CIRC no apuramento do lucro tributvel.
A categoria D compreende os rendimentos agrcolas, provenientes do exerccio de
atividades agrcolas, silvcolas ou pecurias, cujo apuramento da matria coletvel em
parte semelhante ao aplicvel na categoria C, sendo que se encontram desvios em casos
26
especficos, como ocorre com os rendimentos de carcter plurianual. Desta forma,
destaca-se a sua autonomia, inerente, devido natureza especfica dos rendimentos.
A tributao da categoria E, ou seja, dos rendimentos de capitais contempla,
os juros e lucros provenientes de participaes de capital, bem como as
royalties derivadas da propriedade intelectual ou industrial e do Know-how,
desde que no sejam auferidas pelo titular originrio, bem como os rendimentos
da prestao de assistncia tcnica e da cedncia do uso de equipamento
agrcola, comercial, industrial e cientfico (Decreto-Lei 442-A/88).
A categoria F enquadra os rendimentos prediais e a sua base de incidncia
circunscreve-se aos rendimentos efetivamente percebidos dos prdios (urbanos e
rsticos) arrendados, assim como os decorrentes da cesso de explorao de
estabelecimentos comerciais ou industriais. Destaca-se, neste domnio, a contribuio
autrquica (IMI), cuja coleta deduzida na coleta do IRS (proporcional aos rendimentos
englobados, sem exceder a coleta apurada em sede de IMI) e, tambm, as dedues,
suscetveis, referentes s despesas com os prdios.
As mais-valias (ou incrementos patrimoniais) esto previstas na categoria G, cujo
regime de tributao se desenha bastante especfico (no que diz respeito elevada
deduo da matria coletvel) devido ao carcter excecional dos rendimentos. Importa,
ainda, referir que esta categoria abarca situaes tipificadas por outras palavras, est-se
perante uma categoria dotada de um enunciado taxativo, de forma a facilitar a aplicao
das normas fiscais.
As duas ltimas categorias, categoria H e categoria I gozam de um regime de
tributao especial, embora por razes e em termos distintos (Decreto-Lei 442-A/88),
sendo que na primeira (categoria H) esto integradas as penses e a segunda (categoria
I) diz respeito a outros rendimentos, como por exemplo os ganhos de jogo, lotarias e
apostas mtuas.
Aps a lacnica caracterizao das diversas categorias de rendimentos, revela-se
pertinente expor alguns dos pilares em que as mesmas assentam. A este respeito tem-
se, em primeira linha, a incomunicabilidade de perdas suportadas entre diferentes
categorias (designadamente, categorias B, C, D e G), embora o reporte das perdas a
anos futuros seja possvel, com regras prprias de acordo com a categoria. Outro aspeto
fulcral prende-se com o carcter progressivo das taxas a aplicar, de forma a assegurar a
27
finalidade redistributiva do sistema de tributao do rendimento (...) [beneficiando] os
titulares de baixos nveis de rendimento (Decreto-Lei 442-A/88). Com as finalidades de
justia social (atenuao da progressividade resultante do englobamento dos
rendimentos), de respeito por uma posio de igualdade dos cnjuges (que
contribuem, qualquer que seja o regime matrimonial de bens, para a
conservao e valorizao do patrimnio familiar) e de aproximao [de
tratamento do casamento com as unies de facto] (Decreto-Lei 442-A/88).
Na tributao do rendimento familiar utilizado o mtodo do quociente conjugal ou
splitting, por forma a [restringir] a diviso total dos rendimentos familiares aos dois
membros a quem incumbe a direco do agregado (Decreto-Lei 442-A/88).
Com vista simplificao da tributao e de forma a assegurar maior comodidade
dos contribuintes no cumprimento das suas obrigaes (Decreto-Lei 442-A/88), (que em
ltima anlise nos remete para o cumprimento das obrigaes fiscais), emerge a
unicidade do imposto que se concretiza na obrigao da entrega da declarao anual de
rendimentos. A instituio da autoliquidao em IRS, tambm se regeu por esta mesma
lgica de simplicidade, bem como a configurao do nmero de escales (em que se
enquadra o rendimento) que inicialmente eram 11 para posteriormente serem 8, que com
a aprovao do Oramento do Estado para 2013 (devido aos constrangimentos e
compromissos estabelecidos) se viram reduzidos a 5.
No que diz respeito configurao do Cdigo este compreende,
o captulo inicial, em que se contm a matria de incidncia, sete captulos
consagrados respectivamente determinao do rendimento colectvel, taxas,
liquidao, pagamento, obrigaes acessrias, fiscalizao, garantias e um
ltimo contendo disposies diversas (Decreto-Lei 442-A/88).
Por ltimo, urge referir que configurao do IRS dotada de um carcter bastante
especfico, uma vez que se visa constituir um sistema com esteio em eficincia,
simplicidade e estabilidade de forma a,
corresponder aos imperativos de aperfeioamento da administrao e da justia
fiscais, de renovao das mentalidades quanto ao cumprimento dos deveres
tributrios e de melhoria do relacionamento entre o Estado e os contribuintes
(Decreto-Lei 442-A/88).
28
3. Caracterizao do Assunto
3.1. O Oramento de Estado para 2013
O OE para 2013 configura-se um oramento difcil para os portugueses, o aumento
da carga fiscal (...) muito significativo11, mas recuar agora e desperdiar todo o
esforo que fizemos para acumular credibilidade externa seria incompreensvel (Sumrio
Executivo in Relatrio do Oramento do Estado para 2013, (2012), p. v).
Nas palavras do PROFESSOR DOUTOR VTOR GASPAR12,
No deixa, no entanto, de ser um oramento mais justo no sentido da repartio
equitativa do esforo adicional que pedido aos portugueses na medida em que
todos os rendimentos so tributados e de uma forma mais alargada e mais
progressiva (Sumrio Executivo in Relatrio do Oramento do Estado para
2013, (2012), p. i).
Acrescenta-se ainda que,
a alternativa (...) que se coloca ao Pas simples: continuar a percorrer, at ao
termo da vigncia do PAEF, a via difcil da consolidao oramental, a qual
deixar, a breve trecho, de carecer de ajuda externa e recuperar, assim, a sua
plena autonomia na conduo da sua poltica, que naturalmente assenta na sua
sustentabilidade econmica-financeira; ou, pelo contrrio, descurar as medidas
de consolidao oramental e regressar ao ponto de partida, da insolvncia
iminente do Estado Portugus (Relatrio do Oramento do Estado para 2013
(2012), p. 39).
3.1.1. O OE/2013 e o cenrio macroeconmico
Aquando a apresentao do OE/2013, a previso do dfice oramental, para 2013,
situava-se em 4,5% do PIB (1,5 p.p. acima do definido inicialmente no PAEF), que com a
Alterao ao OE/201313 passou para 5,5% do PIB, no decorrer das negociaes da
stima avaliao regular com a misso tcnica. Desta forma, a variao do PIB real, que
nas previses do OE/2013 tinha sido revisto em baixa em 1,3 p.p., passou a uma
11
Relatrio do Oramento do Estado para 2013, Sumrio Executivo, p. v. 12
data, Ministro de Estado e das Finanas, na apresentao da Proposta do Oramento do Estado para
2013; 13
A 31 de Maio de 2013.
29
contrao de 2,3%, motivado pela deteriorao da conjuntura externa no quarto trimestre
de 2012, em particular nos pases da rea euro, [conduzindo] a um impacto considervel
nas perspetivas para a economia portuguesa (Relatrio da Alterao ao Oramento do
Estado para 2013, (2013), p. 7). Este agravamento ressentiu-se nas perspetivas do
mercado de trabalho, transferindo a previso de 16,4% de taxa desemprego para 18,2%,
resultando numa maior contrao do consumo privado, por via da diminuio do
rendimento disponvel das famlias.
A contrao assinalada contribuiu para a reviso da procura interna em -1,2 p.p., ou
seja, uma contrao na ordem dos 4,1%, que se conjetura numa maior contrao das
importaes, luz da evoluo mais negativa do consumo privado e do investimento.
No obstante, os indicadores do crescimento da produtividade aparente do trabalho,
no OER foram revistos em alta, passando de 0,7% para 1,7%, bem como o contributo
das exportaes lquidas para o crescimento do PIB [que se mantm] praticamente
inalterado, cujo valor +1,8 p.p., 0,1 p.p. inferior ao previsto no OE 2013 (que era de
+1,9 p.p.) (Relatrio da Alterao ao Oramento do Estado para 2013, (2013), p. 8).
Aps esta breve eptome das previses do cenrio macroeconmico constantes no
OE/2013 e, posteriormente, no OER cabe, agora, assinalar as razes que conduziram
elaborao da alterao ao OE primeiramente aprovado.
3.1.2. A origem do Oramento do Estado Retificativo
A necessidade da alterao ao OE/2013 reside, essencialmente, em dois fatores. O
primeiro prende-se com a deciso de inconstitucionalidade14 do Tribunal Constitucional,
em relao suspenso do 14 ms para a funo pblica e 90% para os pensionistas
(artigos 29. e 77. da Lei 66-B/201215), o que se traduziu num impacto significativo na
despesa (na ordem dos 1.274 milhes)16. E, por sua vez, o agravamento (no
calculado)17 do cenrio macroeconmico que se projetou na reviso em baixa das
receitas fiscais (transversal aos impostos diretos e indiretos). Os dois fatores aliados
repercutiram-se no aumento das despesas com a Segurana Social, por um lado,
14
Acrdo do Tribunal Constitucional n. 187/2013. 15
Lei que aprovou o Oramento do Estado para 2013. 16
De acordo com os dados constantes no Relatrio da Alterao ao Oramento do Estado. 17
No sentido de que altura da elaborao do OE 2013, no existiam indicadores que o previssem.
30
devido a maiores custos com penses (no seguimento da deciso do Tribunal
Constitucional) e tambm, com o subsdio de desemprego dadas as perspetivas
desfavorveis para a evoluo do mercado de trabalho (Relatrio da Alterao
ao Oramento do Estado para 2013, (2013), p. 4).
No entanto, a UTAO18 esclarece que a reposio do subsdio de frias aos
funcionrios pblicos se encontra de acordo com as previses no OE/2013, uma vez que
esse valor provm da reserva oramental consagrada nesse diploma legal.
Importa, tambm, referir que na alterao ao OE/2013 no esto previstas quaisquer
medidas de agravamento da tributao sobre o rendimento como se transcreve,
O conjunto de alteraes (...) respeita o compromisso de no aumentar
impostos. , por isso, necessrio adotar um conjunto de medidas de conteno
de despesa que compensem o efeito oramental das medidas que foram objeto
de declarao de inconstitucionalidade (Relatrio da Alterao ao Oramento
do Estado para 2013, (2013), p. 6).
3.1.2.1. Medidas de conteno oramental
O oramento retificativo para 2013, contm 3 medidas no mbito da reforma da
Administrao Pblica, que partida se ressentiro no rendimento disponvel dos
agregados familiares, nomeadamente:
Alterao do perodo normal de trabalho de 35 para 40 horas semanais;
Introduo do sistema de requalificao de trabalhadores em funes pblicas;
Aumento das contribuies dos beneficirios para os subsistemas de proteo
na doena (ADSE, SAD e ADM) e reduo da respetiva contribuio a suportar
pela entidade empregadora.
A primeira medida elencada foi promulgada por Vossa Excelncia o Presidente da
Repblica, a 22 de Agosto do presente ano e posteriormente (a 3 de Setembro) foi
apresentada uma providncia cautelar (ao Tribunal Administrativo de Crculo de Lisboa)
por parte do Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos, de forma a impedir a sua entrada
em vigor, com o pressuposto de que constitui uma,
18
No parecer tcnico n.4/2013 (Anlise da 1. alterao ao Oramento do Estado para 2013).
31
violao clara da alnea d) do artigo 59. da Constituio da Repblica
Portuguesa, que indica que todos os trabalhadores, sem distino de idade,
sexo, raa, cidadania, territrio de origem, religio, convices polticas ou
ideolgicas, tm direito () ao repouso e aos lazeres, a um limite mximo da
jornada de trabalho, ao descanso semanal e a frias peridicas pagas
(Sindicato dos Impostos interpe providncia cautelar contra 40 horas de
trabalho in Jornal Pblico, 2013)19.
No que diz respeito segunda medida apontada, o Tribunal Constitucional no
desempenho das funes e a requerimento de Vossa Excelncia o Presidente da
Repblica, declarou-a inconstitucional20 no que concerne desvinculao do trabalhador
com a entidade patronal, neste caso o Estado. Desta forma, decorrem as negociaes
entre o executivo e os sindicatos da funo pblica com vista ao consenso acerca desta
temtica.
Conclui-se, portanto, que o cenrio em que Portugal se encontra no esttico e que
no desenrolar do tempo, mais medidas sero apresentadas por forma a atingir os valores
acordados, no mbito do PAEF, de conteno oramental.
3.2. O OE/2013 e o IRS
Aps a breve caracterizao do cenrio macroeconmico e a anlise dos fatores que
conduziram retificao do OE/2013, cabe agora dissertar acerca das medidas
respeitantes tributao do rendimento das pessoas singulares. Como descrito no ponto
anterior, a alterao ao OE/2013 no se reflete nas medidas aprovadas em sede do
imposto em foco e por isso a anlise ser de acordo com os preceitos constantes na Lei
66-B/2012.
As medidas apresentadas no OE/2013 relativas ao IRS visam colmatar as medidas
consideradas inconstitucionais pelo Tribunal Constitucional (artigo 21. e 25. da
LOE/2012), com uma abordagem abrangente que,
[visa] deliberadamente uma distribuio mais equitativa no esforo da
consolidao oramental entre i) sector pblico e sector privado, por um lado; e
19
A utilizao desta notcia e no do comunicado emitido pelo Sindicato prende-se com o facto de que no stio
da internet do mesmo no se encontrar disponvel o citado comunicado. 20
Acrdo n.474/2013 do Tribunal Constitucional.
32
entre ii) rendimentos do trabalho e rendimentos de capital, por outro (Relatrio
do Oramento do Estado para 2013, (2012), p. 46).
Ainda a este respeito o Relatrio do OE/2013 determina,
A repartio do esforo entre o sector pblico e o sector privado ser alcanada
por via dos impostos diretos, com particular incidncia no IRS, enquanto a
repartio do esforo entre os rendimentos do trabalho e do capital ser
garantida pela introduo de elementos adicionais de tributao sobre o capital e
o patrimnio (2012, p. 46).
A UTAO remata,
O relatrio da proposta de lei do OE/2013 prev que o aumento muito
significativo da tributao em 2013 se venha a traduzir num acrscimo da receita
fiscal (...) com especial destaque para o IRS (Anlise proposta do Oramento
do Estado para 2013 (2012), p.28).21
3.2.1. As alteraes ao IRS
As alteraes em sede de IRS, advindas do OE/2013, so designadamente:
Reduo do nmero de escales de 8 para 5;
Determinao de uma taxa mxima de 48%;
Aplicao de uma sobretaxa de 3,5%22, ao excedente do valor anual da
retribuio mnima mensal garantida23;
Manuteno da taxa adicional de solidariedade de 2,5% a rendimentos
superiores a 80.000 (ltimo escalo);
Aumento na tributao dos rendimentos provenientes do trabalho independente
(categoria B), enquadrados no regime simplificado24, passando a contar para
efeitos de tributao 75% do rendimento (em vez dos 70%25) note-se que na
proposta de OE/2013, o valor apontado era 80% e no 75%;
21
No parecer tcnico n.6/201. 22
Na proposta do OE/2013, o valor a taxa a aplicar era de 4%, mas o Governo, antes da aprovao, recuou. 23
Conforme o disposto no artigo 187., n 1 da Lei n.66-B/2012 24
Artigo 31. do CIRS. 25
No regime simplificado, para efeitos de tributao considera-se que uma percentagem dos rendimentos
auferidos corresponde a despesas e portanto no tributada. Com o OE/2013 essa percentagem diminiu,
passando de 30% para 25%.
33
Reduo das dedues coleta, no valor de 10 p.p. do IAS26, com o aumento
em 5 p.p. das dedues personalizantes dos dependentes e a possibilidade de
aumento de 10 p.p. nos agregados familiares com 3 ou mais dependentes;
Agravamento da taxa a aplicar (de 25% para 28%) aos rendimentos de capital
(juros e dividendos) e aos rendimentos provenientes de mais-valias em partes de
capital e outros valores mobilirios;
Introduo de uma taxa liberatria (28%) da tributao dos rendimentos prediais,
em que os senhorios tm a possibilidade de optar entre o englobamento (regime
atual) e o pagamento da referida taxa;
So tambm ajustados os limites de deduo dos encargos com imveis e
ajustadas as tabelas de deduo coleta e dos benefcios fiscais, de acordo
com as mudanas estrutura de taxas da tabela geral;
Alargamento da base de incidncia dos rendimentos da categoria A, com o
enquadramento da tributao dos rendimentos auferidos no exerccio das
funes de Deputado ao Parlamento Europeu;
Aplicao de uma taxa agravada, de 35%, s transferncias de rendimentos de
capitais provenientes de pases/territrios sujeitos a regimes fiscais privilegiados;
As alteraes na estrutura de taxas de IRS prosseguem a lgica de salvaguarda das
famlias de mais baixos rendimentos atravs da manuteno de um mnimo de existncia
(...) (Relatrio do Oramento do Estado para 2013, (2012), p.65) e visam o aumento da
progressividade do imposto. Desta forma, e de acordo com as previses27 do Governo,
estima-se que cerca de 30% dos agregados familiares esto excludos do pagamento de
imposto. Esta alterao tambm tem repercusses positivas na distribuio dos
rendimentos na economia tornando-a,
(...) mais equitativa (...), uma vez que a estrutura de escales e taxas foi
desenhado de modo a que o esforo contributivo cresa mais depressa do que a
capacidade contributiva. (Relatrio do Oramento do Estado para 2013, (2012),
p. 66).
Veja-se, para o efeito a nova configurao das taxas:
26
Corresponde ao Indexante dos Apoios Sociais, definido pela Lei n. 53-B/2006, utilizado enquanto
referencial determinante da fixao, clculo e atualizao das contribuies, das penses e outras prestaes
atribudas pelo sistema de segurana social e no clculo das dedues para efeitos de IRS. Em 2013, o seu
valor situa-se em 419,22 (valor inalterado desde 2009). Instituto de Gesto do Fundo Social Europeu, LP. 27
Baseadas na simulao das alteraes propostas para o OE/2013, usando a totalidade de declaraes
submetidas em 2012. Note-se que o valor apurado no tem em linha de conta os contribuintes, que devido
aos baixos rendimentos, esto dispensados de apresentao de declarao (aumento neste sentido a
percentagem de agregados familiares excludos do pagamento) - Relatrio do Oramento do Estado para
2013, Captulo 2, pg 65, nota de rodap 5.
34
Modelo anterior de IRS28 Modelo atual29
At 4.898 11,5% At 7.000 14,5%
Entre 4.898 e 7.410 14% Entre 7.000 e 20.000 28,5%
Entre 7.410 e 18.375 24,5% Entre 20.000 e 40.000 37%
Entre 18.375 e 42.259 35,5% Entre 40.000 e 80.000 45%
Entre 42.259 e 61.244 38% Mais de 80.000 48%
Entre 61.244 e 66.045 41,5%
Entre 66.045 e 153.300 43,5%
Mais de 153.300 46,5%
Com as estas alteraes ( estrutura de taxas) estima-se que a taxa mdia de IRS
se situe em 11,8% (ao invs dos 9,8%), assente nos pressupostos da concentrao da
carga fiscal nos agregados familiares com maiores rendimentos. Para esta concluso
tambm se tem em conta a deslocao da curva de Lorenz30 para o interior, o que resulta
na reduo do ndice de Gini31 em 2,5%, (...) resultado que evidencia a menor assimetria
na distribuio do rendimento (Relatrio do Oramento do Estado para 2013, (2012), p.
66), como ilustram os grficos que se seguem.
Figura 4 Fonte: Ministrio das Finanas
28
Pela redao da Lei n. 55-A/2010, de 31 de Dezembro. 29
De acordo com o artigo 68., n. 1 do Captulo III, do CIRS. 30
Procura ilustrar a desigualdade existente na distribuio do rendimento entre famlias numa determinado
contexto/economia. medida que a curva se aproxima da reta, mais equitativa a distribuio do
rendimento. 31
ndice que afere a desigualdade na distribuio do rendimento.
35
Acerca desta matria, importa referir que no presente relatrio no so tratados os
impactos expectveis da sobretaxa (3,5%) a aplicar, uma vez que os dados constantes
no suporte bibliogrfico so referentes s previses com a sobretaxa a 4%. No obstante,
previa-se que com a sobretaxa a 4% ocorresse um aumento adicional de 1,4%,
perfazendo uma taxa mdia de IRS de 13,2%, o que no parece ser muito dspar do valor
atual.
36
4. Resultados e Discusso
Neste domnio importa, agora, aferir os resultados expectveis com as novas
medidas implementadas a nvel fiscal, com principal destaque para o peso do IRS, na
receita e despesa do Estado, bem como o resultado das mesmas no rendimento
disponvel em casos generalizados de famlias portuguesas.
4.1. Receita fiscal expectvel
No Relatrio do OE/2013, as medidas de consolidao oramental das
Administraes Pblicas, por via do IRS, representavam 1,7% do PIB, 2810,0
milhes32, por sua vez, no Parecer Tcnico de anlise proposta do OE/2013, foi
estimado um valor acima, correspondente a 1,9% do PIB, ou seja, 3092,5 milhes33.
A previso da receita lquida em sede de IRS, com as alteraes iniciais ao cdigo
ascendiam aos 12.066,3 milhes (Relatrio do Oramento do Estado para 2013,
(2012), p. 95). Todavia, com a alterao da sobretaxa (de 4% para 3,5%), as perspetivas
de receita diminuram para 11.649,9 milhes. Destaca-se, no entanto, a diferena de
valores indicados entre o Relatrio do OE/2013 e o Relatrio da Alterao ao OE/2013,
em que no ltimo, o valor expectvel com as medidas iniciais do OE/2013 ascendia aos
11.986,3 milhes, o que no est de acordo com os valores apontados no primeiro,
sendo que a fonte indicada a mesma, o Ministrio das Finanas. Para o efeito veja-se o
Quadro III.1.5. Evoluo da receita fiscal 2012 2013, por imposto e o Quadro 4
Receita Fiscal do Estado, que se transpem.
32
Relatrio do Oramento do Estado para 2013, p. 47, Quadro II.3.1. Medidas de consolidao oramental
em 2013. 33
No parecer tcnico n.6/201, Tabela 10 Medidas de consolidao oramental das Administraes
Pblicas do lado da receita em 2013.
37
Figura 5 Fonte: Ministrio das Finanas
Figura 6 Fonte: Ministrio das Finanas
Destaca-se, tambm, o total da receita fiscal esperada que no Relatrio do OE/2013
se situa em 35.947,7 milhes (Relatrio do Oramento do Estado para 2013, (2012), p.
95) e que com o retificativo se situa, agora, em 34.233,1 milhes (Relatrio de
Alterao ao Oramento do Estado para 2013, (2013), p.11) devido ,
(...) deteriorao do cenrio macroeconmico, [ao] efeito esperado da reposio
plena do subsdio de frias aos trabalhadores da Administrao Pblica, [s]
medidas de poltica fiscal entretanto introduzidas [nomeadamente a triplicao
do incentivo fiscal concedido (15%), aumentado o valor da deduo em IRS do
IVA suportado com aquisies e prestaes de servios] e, por fim, [ao] efeito
base referente receita fiscal no ano de 2012. (Relatrio de Alterao ao
Oramento do Estado para 2013, (2013), p.11).
38
de referir, mais uma vez que o valor correspondente receita fiscal do Estado com
as medidas no OE/2013 difere entre relatrios, sendo que no do retificativo o valor se
situa em 35.827,7 milhes.
No que diz respeito aos impostos que incidem, igualmente, sobre o rendimento dos
agregados familiares (como o caso dos impostos sobre o consumo e sobre o
patrimnio) a receita expectvel dos primeiros diminui nas ltimas previses, como se
depreende da anlise figura 4, uma vez que o cenrio macroeconmico agravou-se
como descrito no ponto 2.1.1. deste relatrio.
4.2. Despesa Fiscal presumvel
Desde j, urge esclarecer que a quantificao da despesa fiscal presumvel assenta
no (...) mtodo da receita potencial, em resultado da prossecuo de objetivos
extrafiscais (Relatrio do Oramento do Estado para 2013, (2012), p. 98). Desta forma,
(...) procedeu-se comparao da receita fiscal obtida no presente34 enquadramento
legal, com a que resultaria caso no se aplicasse qualquer exceo, iseno ou reduo
de taxa (Relatrio do Oramento do Estado para 2013, (2012), p. 98). A maior limitao
deste mtodo prende-se com a falta de circunspeo das alteraes dos
comportamentos dos agentes econmicos, inerentes ao dinmico cenrio
macroeconmico. Daqui extrai-se, precisamente, o fato de tanto a despesa como a
receita fiscal serem meramente conjeturais.
Importa, ainda, clarificar que a despesa fiscal corresponde a um ano econmico,
(...) ou seja, ao perodo de abrangncia total das medidas do Oramento do
Estado do ano respetivo (...) [e] foi alocada temporalmente ao ano ao qual se
encontra associada a origem de uma obrigao fiscal equivalente e no quele
em que o pagamento do imposto seria definitivamente realizado, invocando-se
deste modo o princpio da especializao do exerccio35. (Relatrio do
Oramento do Estado para 2013, (2012), p. 98).
No que diz respeito despesa fiscal, propriamente dita, verifica-se uma reduo
significativa na sua globalidade entre 2010 e 2013, como se depreende da seguinte
tabela.
34
Remete para as medidas adotadas no OE/2013, sem qualquer estrangulamento. 35
Visa tributar a riqueza gerada em cada exerccio e da que os respetivos proveitos e custos sejam
contabilizados medida que sejam obtidos e suportados, e no medida que o respetivo recebimento ou
pagamento ocorram; Acrdo do Supremo Tribunal Administrativo n. 0269/12, de 9 de Maio de 2012.
39
Figura 7 (p) previso; Fonte: Ministrio das Finanas
Observemos o seguinte grfico:
Figura 8 Fonte: Ministrio das Finanas
40
Entre 2010 e 2013 assistiu-se a uma reduo na despesa das Administraes
Pblicas em 5.891,9 milhes, (...) isto , 38,1% decorrente das medidas de poltica
fiscal concretizada naquele perodo (Relatrio do Oramento do Estado para 2013,
(2012), p. 98). Em relao ao OE/2013, estava prevista uma reduo adicional de 6,1%
face a 2012, todavia e com as alteraes proposta inicial do OE/2013, partida este
valor ser revisto em baixa.
A despesa inerente ao IRS no espectro temporal considerado,
(...) ter-se- reduzido em 33,8%, em consequncia da limitao e reduo
substancial das dedues coleta, tendo a principal reduo, em cerca de
22,8%, ocorrido no ano de 2012 (Relatrio do Oramento do Estado para 2013,
(2012), p. 100).
A previso para 2013 da despesa fiscal em IRS, constante no Relatrio do OE/2013,
situava-se nos 2.672,2 milhes, que corresponde a uma reduo em 8,2% face a 2012
atendendo,
(...) as alteraes legislativas propostas no que toca deduo coleta coleta
personalizante, atualizao dos limites da deduo dos encargos com imveis
e limitao de benefcios fiscais [constantes no OE/2013] (Relatrio do
Oramento do Estado para 2013, (2012), p. 100).
Quanto ao peso da despesa fiscal relativamente ao PIB, em 2010 representava
9,0% (do PIB) e para 2013 a previso situa-se em 5,7% do PIB nominal, o que se traduz
numa reduo em 3,3 p.p., como se afere no grfico seguinte.
Figura 9 Fonte: Adaptado de Ministrio das Finanas
41
O peso da despesa fiscal inerente tributao do rendimento das pessoas
singulares, decresce 0,7 p.p., em relao ao ano de 2010, motivado, em grande parte,
pelas alteraes legislativas acima descritas.
4.3. Exemplo Prtico
De forma a perceber como que as medidas em IRS se traduzem na prtica altura
de as aplicar ao seguinte caso36.
Casal Pereira:
Tanto o Sr. Pereira como a sua esposa so trabalhadores por conta de outrm,
sendo que a Sra. Pereira tambm exerce advocacia por conta prpria. Os rendimentos
auferidos e as despesas suportadas, no decorrer do ano fiscal, so os seguintes:
Rendimentos
Sr. Pereira
Ordenado - 12.000
Dividendos de aes - 750
Rendas de imvel prprio - 8.000
Mais-valia da venda do imvel arrendado - 10.000
Sra. Pereira
Ordenado - 7.000
Subsdio de almoo - 1.550
Prestao de servios - 13.000
Despesas do
casal
Plano Poupana Reforma (PPR) - 2.000 x 2
Reparao da canalizao do imvel arrendado - 300
Despesas de sade - 1.200
Crdito para habitao - 5.200 ( 2.600 relativos a juros e 2.600 relativo
a capital)
36
De acordo com o caso prtico constante no stio da internet da PricewaterhouseCoopers.
42
No que diz respeito s retenes, assume-se um valor global retido ao casal de
1.855 em 2013, sendo que a reteno na fonte de sobretaxa ascendeu a 308, em
2013.
Veja-se, ento, as diferenas de tributao relativamente ao ano de 2012 e ao ano
de 2013.
2012 2013
Rendimentos de cada categoria
Categoria A
Salrios 19.000,00 19.000,00
(-) Deduo especfica
Deduo especfica x 2 ( 8.208,00) ( 8.208,00)
(=) Rendimento lquido 10.792,00 10.792,00
2012 2013
Rendimentos de cada categoria
Categoria B
Honorrios e servios prestados 13.000,00 13.000,00
(x) Regime Simplificado
coeficiente 70% (2012); 75%
(2013)
0.70 0.75
(=) Rendimento lquido 9.100,00 9.750,00
2012 2013
Rendimentos de cada categoria
Categoria E
Dividendos (englobamento por
opo) 750,00 750,00
(-) Valor do rendimento no sujeito
a tributao: 50% ( 375,00) ( 375,00)
(=) Rendimento lquido 375,00 375,00
43
2012 2013
Rendimentos de cada categoria
Categoria F
Rendas imvel prprio
(englobamento por opo) 8.000,00 8.000,00
(-) Dedues
Despesas de manuteno e
conservao ( 300,00) ( 300,00)
(=) Rendimento lquido 7.700,00 7.700,00
2012 2013
Rendimentos de cada categoria
Categoria G
Mais-valia alienao imvel
arrendado 10.000,00 10.000,00
(-) Valor do rendimento no
sujeito a tributao: 50% ( 5.000,000) ( 5.000,000)
(=) Rendimento lquido 5.000,000 5.000,000
2012 2013
Soma do rendimento lquido das categorias =
Rendimento coletvel 32.967,00 33.617,00
(/) Quociente conjugal /2 /2
16.483,50 16.808,50
(x) Taxa de imposto 24,5% 28,5%
4.038,46 4.790,42
(-) Parcela a abater ( 900,46) ( 980,00)
(x) Coeficiente conjugal x 2 x 2
(=) Coleta 6.276,00 7.620,84
Dedues coleta:
Deduo pessoal e familiar 522,50 427,50
Despesas de sade 120,00 120,00
Crdito habitao 390,00 296,00
25% prmios seguro vida 0,00 0,00
Benefcios Fiscais
20% entregas para PPR (x 2 ) deduo mxima 100,00 100,00
(-) Dedues coleta e Benefcios Fiscais 1.132,50 943,50
44
(=) Imposto Liquidado 5.143,50 6.677,34
(-) Retenes na fonte 3.796,25 1.855,00
(=) Valor a pagar / (a receber) 1.347,25 4.822,34
(+) Sobretaxa (2013)
(-) Reteno na fonte da sobretaxa -
701,30
308,00
(=) Valor total a pagar/ (a receber) 5.215,64
Considerando o caso da famlia Pereira, possvel aferir-se que existem profundas
alteraes, nomeadamente no valor da taxa a aplicar que passa de 24,5% em 2012, para
os 28,5%, passando a estar enquadrada no segundo escalo de IRS (que compreende
os rendimentos entre 7.000,00 e 20.000,00). Tambm se percebe que existe um
estrangulamento no campo das dedues coleta, na qual se verifica um acentuado
decrscimo nas dedues pessoais e familiares. Neste caso, o valor a pagar de imposto
aumenta 3.868,39, embora se perceba que se trata de um caso em que se pretende
explanar a maioria das alteraes na tributao do rendimento pessoal, no deixa de ser
possvel afirmar que esta tributao se torna muito mais gravosa para os agregados
familiares de rendimentos ditos mdios.
45
5. Concluso
5.1. Concluso Geral
A finalidade deste relatrio prendia-se com a apreciao das medidas
implementadas na tributao do rendimento das pessoas singulares resultantes da Lei
66-B/2012 de 31 de Dezembro, que aprovou o Oramento do Estado para 2013.
Com os olhos focados neste objetivo, primeiramente procedeu-se caracterizao
do imposto, de forma a perceber-se o seu papel e conceito no nosso ornamento jurdico e
posteriormente destacaram-se as demais dimenses que o compem, desde a sua
estrutura at sua aplicao que culmina na cobrana do mesmo. De forma a
caracterizar o imposto sobre o rendimento das pessoas singulares foi fundamental
destacar algumas das classificaes de impostos, assim como a sua evoluo no tempo
e a sua estrutura, com inteno de estabelecer os pressuposto nos quais a tributao do
rendimento das pessoas singulares se baseia/fundamenta.
No que diz respeito s concluses inerentes aos resultados expectveis, percebe-se
que a realidade em que nos inserimos no imvel e que depende de muitos fatores, de
entre os quais se destaca o comportamento de consumo da sociedade portuguesa e
nesta linha, que a primeira, o comportamento dos mercados internacionais, que tanto
peso revelam ter na consolidao das nossas finanas pblicas, na medida em que ainda
decorre o Programa de Assistncia Econmica Financeira. Desta forma, entende-se a
importncia da instituio de um Oramento Retificativo para o corrente ano, potenciado
pelas decises de carcter inconstitucional por parte do Tribunal Constitucional no
decorrer das suas competncias, que em ltima anlise se circunscrevem ao
cumprimento do respeito pelos princpios e preceitos constantes na Lei Fundamental
Portuguesa, por outras palavras a Constituio da Repblica Portuguesa. Nesta lgica,
nunca demais ressalvar que podem ser institudas mais medidas por forma a respeitar
as metas oramentais estabelecidas com os credores internacionais.
No mbito da tributao do rendimento das pessoas singulares aferiu-se que este
Oramento comps a maior reforma fiscal, neste domnio, desde a reforma de 1989 com
a entrada de Portugal nas Comunidades Europeias. Reforma, esta, que foi motivada pela
inconstitucionalidade das normas constantes na Lei do Oramento do Estado para 2012
(artigo 21. e 25.), com vista repartio do esforo entre o setor pblico e o privado de
forma mais equitativa, alargada e progressiva, atendendo proteo das famlias de mais
46
baixos rendimentos. No obstante, evidente que estas alteraes comportam um
agravamento da tributao das famlias portuguesas, cujas linhas gerais se
circunscrevem reformulao dos escales, bem como ao estreitamento das dedues
coleta e ainda ao aumento da tributao dos rendimentos de capitais.
Todavia urge concluir nas palavras do PROFESSOR DOUTOR VTOR GASPAR37, na
apresentao da proposta do Oramento do Estado para 201338 ao estatuir,
Dada a dureza da situao natural que neste momento surjam receios e
incertezas quanto ao sucesso do Programa de Ajustamento (...) [decorrentes] da
natureza do ajustamento que temos que fazer. Mas recuar agora e desperdiar
todo o esforo que fizemos para acumular credibilidade externa seria
incompreensvel.
5.2. Lacunas do relatrio
No decorrer da elaborao do presente relatrio de estgio, existiu um conjunto de
limitaes que embora tenham sido contornadas, torna-se imperativo destaca-las. Em
primeiro lugar, destaca-se o fato de os dados utilizados terem em grande parte carcter
conjetural, em justa medida com o fato de este tema estar dependente de muitas
variveis, que no so estticas e cuja influncia se denota desde logo pela diferena
das previses. Neste domnio tambm no se pode descurar que o ano fiscal, em
escrutnio, ainda no terminou e, portanto podem surgir novas medidas ou polticas que
influenciem os resultados destacados. Por outro lado importa, tambm, referir a falta de
suporte institucional no mbito das simulaes de IRS para o ano de 2013, uma vez que
o Portal das Finanas ainda no tem disponvel o citado simulador, conduzindo os
demais cidados a um simulador que pode no ser fidedigno, que em ltima anlise
dimana em resultados pouco precisos.
37
data, Ministro de Estado e das Finanas. 38
A 15 de Outubro de 2012.
47
5.3. Orientaes para trabalhos futuros
No que diz respeito a trabalhos futuros, seria interessante aferir concretamente os
resultados tanto no lado da receita, como da despesa em sede IRS, de forma a ser
possvel balancear os proveitos/ganhos das mudanas na tributao do rendimento das
pessoas singulares.
48
Bibliografia
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Disponvel em:
http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/f1355a6df14ff0af80257a
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23A4AC97947E/0/CIRS_01_2013.p