35
CAMPANHA NACIONAL DE ESCOLAS DA COMUNIDADE FACULDADE CENECISTA DE CAPIVARI - FACECAP PEDAGOGIA O PAPEL DA BRINCADEIRA NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL ADRIANA HITOME DE CASTRO Capivari, SP 2011

o Papel Da Brincadeira No Desenvolvimento Da Crianca Na Educacaol Infantil

Embed Size (px)

DESCRIPTION

ok

Citation preview

Page 1: o Papel Da Brincadeira No Desenvolvimento Da Crianca Na Educacaol Infantil

CAMPANHA NACIONAL DE ESCOLAS DA COMUNIDADE

FACULDADE CENECISTA DE CAPIVARI - FACECAP

PEDAGOGIA

O PAPEL DA BRINCADEIRA NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇ A NA

EDUCAÇÃO INFANTIL

ADRIANA HITOME DE CASTRO

Capivari, SP 2011

Page 2: o Papel Da Brincadeira No Desenvolvimento Da Crianca Na Educacaol Infantil

CAMPANHA NACIONAL DAS ESCOLAS DA COMUNIDADE

FACULDADE CENECISTA DE CAPIVARI - FACECAP

PEDAGOGIA

O PAPEL DA BRINCADEIRA NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇ A NA

EDUCAÇÃO INFANTIL

Monografia apresentada ao Curso de Pedagogia da FACECAP/CNEC Capivari, para obtenção do título de Pedagogo, sob a orientação da Prof.ª Ms Rita de Cássia Cristofoleti.

ADRIANA HITOME DE CASTRO

Capivari, SP 2011

Page 3: o Papel Da Brincadeira No Desenvolvimento Da Crianca Na Educacaol Infantil

FICHA CATALOGRÁFICA

Castro, Adriana Hitome de

O papel da brincadeira no desenvolvimento da criança/

Adriana Hitome de Castro. Capivari-SP: CNEC, 2011

34p.

Orientadora: Profª Ms. Rita de Cássia Cristofoleti

Monografia apresentada ao curso de Pedagogia.

1.Educação Infantil. 2. Brincadeiras de faz-de-conta. 3.

Aprendizagem e desenvolvimento. I. Título

CDD 372.1

Page 4: o Papel Da Brincadeira No Desenvolvimento Da Crianca Na Educacaol Infantil
Page 5: o Papel Da Brincadeira No Desenvolvimento Da Crianca Na Educacaol Infantil

Dedico este trabalho aos profissionais da área de educação e a todas as crianças.

Page 6: o Papel Da Brincadeira No Desenvolvimento Da Crianca Na Educacaol Infantil

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por estar sempre no meu caminho, iluminando e me

guiando.

Aos meus pais Emília e Geraldo (in memoriam), irmãos, minhas tias Helena e Samira,

e, principalmente, ao meu esposo Eduardo pela dedicação, compreensão, companheirismo e

carinho durante todos estes anos. Aos meus filhos Yuji e Koji, eternos amores e a toda minha

família que, com muito carinho e apoio, não mediram esforços para que eu chegasse até esta

etapa de minha vida.

A minha orientadora Profª Ms. Rita de Cássia Cristofoleti pela sua grande dedicação,

paciência e disponibilidade para os encontros de orientação para que o trabalho fosse

elaborado e concretizado, aprendendo com sua sabedoria e simpatia.

À professora e coordenadora Teresa, pelo convívio, pelo apoio, pela compreensão e

pela amizade.

A todos os meus professores, que foram tão importantes na minha vida acadêmica,

que se mostraram extremamente atenciosos e comprometidos com o nosso processo de

aprendizado.

Aos amigos e colegas, pelo incentivo e pelo apoio constantes, lembranças que serão

eternamente guardadas no coração. A todos muito obrigada.

Page 7: o Papel Da Brincadeira No Desenvolvimento Da Crianca Na Educacaol Infantil

CASTRO, Adriana Hitome de. O papel da brincadeira no desenvolvimento da criança na educação Infantil. Monografia de Conclusão de Curso. Curso de Pedagogia. Faculdade Cenecista de Capivari – CNEC. 34 p., 2011.

RESUMO

Esta pesquisa tem por objetivo desenvolver um estudo acerca da importância das brincadeiras na educação infantil, visando a identificar as influências destas na formação da criança e no processo educativo. Nesse sentido, é por meio das brincadeiras que a criança passa a transformar os conhecimentos que já possuía anteriormente em conceitos mais aprimorados com os quais brinca. Por isso, na educação infantil, é importante organizar espaços que permitam à criança explorar diferentes tipos de brinquedos e brincadeiras como os jogos, os brinquedos de montar, brincadeiras de roda, brincadeiras de faz-de-conta, etc. Esses recursos, quando privilegiados no contexto da educação infantil, permitem acionar os processos de aprendizagem e desenvolvimento da criança. Para analisar a importância da brincadeira nos processos de aprendizado da criança, este estudo irá se referenciar na abordagem histórico-cultural de desenvolvimento humano elaborada por Vigotski (1998). Para concluir, este estudo irá relatar uma pesquisa de campo realizada em uma escola particular, cujo foco principal é promover o entrelaçamento teórico com a prática vivenciada. Palavras-chave: 1. Educação infantil. 2. Brincadeiras de faz-de-conta. 3. Aprendizagem e

desenvolvimento.

Page 8: o Papel Da Brincadeira No Desenvolvimento Da Crianca Na Educacaol Infantil

SUMÁRIO

Introdução.................................................................................................................................08

1. O papel da brincadeira no desenvolvimento da criança: as contribuições da perspectiva

histórico-cultural.......................................................................................................................11

1.1. As brincadeiras no desenvolvimento real e potencial, segundo

Vigotski.........................................................................................................................13

2. O brincar e a Educação Infantil............................................................................................17

3. As brincadeiras das crianças na escola de Educação Infantil...............................................23

3.1 A Instituição............................................................................................................23

3.2. As brincadeiras na educação infantil – O espaço da brinquedoteca......................24

3.3. As brincadeiras realizadas no parque.....................................................................26

3.4. A hora da história...................................................................................................28

3.5. A hora do banho e a hora da troca..........................................................................29

Considerações Finais.................................................................................................................31

Referências ...............................................................................................................................33

Page 9: o Papel Da Brincadeira No Desenvolvimento Da Crianca Na Educacaol Infantil

8

INTRODUÇÃO

Na idade pré-escolar, surgem necessidades que são importantes para o

desenvolvimento da criança. Uma das atividades que deve ser privilegiada no espaço da

Educação Infantil é a brincadeira, pois “ela se faz presente na escola nas mais variadas

situações e sob as mais diversas formas. Muitas também são as concepções sobre o seu lugar e

sua importância na prática pedagógica”. (FONTANA E CRUZ, 1997, p.119).

O brincar pode ser um recurso importante que possibilita o desenvolvimento da

criança, é uma das formas mais comuns do comportamento humano, principalmente durante a

infância, e é nessa fase que a criança passa a se descobrir e a se conhecer. Através de uma

brincadeira da criança, podemos compreender como ela se vê e constrói suas representações

sobre o mundo. Nesse processo, a criança brinca porque é prazeroso e faz bem para ela.

Para Oliveira (2007), o jogo simbólico ou faz-de-conta é uma ferramenta para a

criação da fantasia, ela atua sobre a capacidade da criança de imaginar e representar,

articulada com outras formas de expressão, abrindo caminho para a autonomia, a criatividade,

a exploração de significados e sentidos. Também são os jogos instrumentos para a

aprendizagem de regras sociais, além da brincadeira favorecer o equilíbrio afetivo da criança,

também contribui para o processo de apropriação de signos sociais e “cria condições para uma

transformação significativa da consciência infantil, por exigir das crianças formas mais

complexas de relacionamento com o mundo”. (OLIVEIRA, 2007, p.160).

A brincadeira permite a construção de novas possibilidades de ação e formas inéditas de arranjar os elementos do ambiente. Os objetos manipulados na brincadeira especialmente, são usados de modo simbólico, como um substituto para outros, por intermédio de gestos imitativos reprodutores das posturas, expressões e verbalizações que ocorrem no ambiente da criança. (OLIVEIRA, 2007, p.160).

Vigotski (apud REGO, 1995) ao discutir sobre o papel do brinquedo no

desenvolvimento infantil, atribui uma ênfase importante à brincadeira de “faz-de-conta”,

como brincar de casinha, brincar de escolinha, brincar com um cabo de vassoura como se

fosse um cavalo.

Este tipo de brincadeira é característico nas crianças que aprendem a falar e que,

portanto, já são capazes de representar simbolicamente e de se envolver numa situação

imaginária.

Percebe-se, então, que na brincadeira qualquer coisa pode transformar-se em outra,

sem limitações, pois quando a criança brinca, ela elabora hipóteses para a resolução de seus

Page 10: o Papel Da Brincadeira No Desenvolvimento Da Crianca Na Educacaol Infantil

9

problemas e toma atitudes além do comportamento habitual da sua idade, em que transforma

o significado dos objetos de acordo com seus desejos, sem se preocupar em adaptar-se à

realidade, enriquecendo a sua identidade, porque vivencia outras maneiras de ser e de pensar.

Para Rego (1995), a criança passa a criar uma situação ilusória e imaginária para poder

satisfazer seus desejos não realizáveis. Esta é uma característica que define o brinquedo de um

modo geral. “A criança brinca pela necessidade de agir em relação ao mundo mais amplo dos

adultos e não apenas ao universo dos objetos a que ela tem acesso”. (REGO, 1995, p.82).

Mesmo no universo de faz-de-conta, há regras que devem ser seguidas, que são

aquelas que fazem com que a criança se comporte de forma mais avançada do que aquela

habitual para a sua idade.

Nesse sentido, este trabalho pretende analisar a importância do brincar, e das

brincadeiras de faz-de-conta no desenvolvimento infantil, não apenas como um passatempo,

mas como atividades que possibilitam a aprendizagem de várias habilidades, bem como a

utilização das brincadeiras como uma ferramenta pedagógica.

Para Kishimoto (2010, p. 01):

O brincar é uma ação livre, que surge a qualquer hora, iniciada e conduzida pela criança, dá prazer, não exige como condição, um produto final, relaxa, envolve, ensina regras, linguagens, desenvolve habilidades, e introduz no mundo imaginário. Para nosso estudo considera-se todo o período da educação infantil como importante para a introdução das brincadeiras. Pela diversidade de formas de conceber o brincar alguns tendem a focalizar o brincar como característico de processos imitativos da criança, dando maior destaque apenas ao período posterior aos dois anos de idade. O período anterior é visto como preparatório para o aparecimento do lúdico. No entanto, temos clareza de que a opção pelo brincar desde o início da educação infantil é o que garante a cidadania da criança e ações pedagógicas de maior qualidade.

Assim, no primeiro capítulo, esse trabalho irá discutir as contribuições da perspectiva

histórico-cultural desenvolvida por Vigotski no que diz respeito aos processos de

desenvolvimento da criança na educação infantil e sua relação com as brincadeiras de faz-de-

conta.

No segundo capítulo, o trabalho irá abordar alguns aspectos do brincar na educação

infantil, visando a identificar a importância e os benefícios que o brincar traz para o processo

de ensino aprendizagem da criança.

No terceiro capítulo o trabalho irá analisar, através de uma pesquisa de campo e de

observações do ambiente escolar, as brincadeiras de que a criança participa diariamente na

Page 11: o Papel Da Brincadeira No Desenvolvimento Da Crianca Na Educacaol Infantil

10

escola de educação infantil e sua contribuição para os processos de aprendizado e

desenvolvimento da criança.

Page 12: o Papel Da Brincadeira No Desenvolvimento Da Crianca Na Educacaol Infantil

11

CAPÍTULO 1 - O PAPEL DA BRINCADEIRA NO

DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA: AS CONTRIBUIÇÕES DA

PERSPECTIVA HISTÓRICO-CULTURAL

Toda criança brinca. Se no início do século XX, havia discussões sobre a necessidade

dos objetos e dos brinquedos serem adaptados às necessidades de aprendizagem da criança

(MONTESSORI apud ANGOTTI, 2003), hoje também não é diferente, mas tratando-se das

brincadeiras de faz-de-conta, torna-se necessária uma busca em alguns estudos que mostram o

que a brincadeira provoca e/ou favorece em cada fase do desenvolvimento da criança.

Na perspectiva Histórico-Cultural elaborada por Vigotski (1998) e seus colaboradores,

a brincadeira assume uma tarefa central no desenvolvimento dos processos psicológicos da

criança. Ao discutir a relevância das brincadeiras no desenvolvimento da criança, o autor

atribui importância significativa à brincadeira de faz-de-conta. “[...] a brincadeira de faz-de-

conta é privilegiada em sua discussão sobre o papel do brinquedo no desenvolvimento”.

(OLIVEIRA, 1997, p. 66).

Para ele, a brincadeira tem papel fundamental na formação da criança, pois valoriza o

meio social como forma de aprendizagem humana. Sendo assim, na brincadeira a criança

socializa seus pensamentos e cria situações imaginárias que incorporam elementos do

contexto cultural no qual está inserida.

Segundo Rego (1995, p. 81):

A imaginação é um modo de funcionamento psicológico especificamente humano que não está presente nos animais nem na criança muito pequena. É, portanto, impossível a participação da criança muito pequena numa situação imaginária. Ela tende a querer satisfazer seus desejos imediatamente.

Ao citar as contribuições de Vigotski no que diz respeito à brincadeira da criança

pequena, podemos analisar que: “ninguém jamais encontrou uma criança muito pequena, com

menos de três anos de idade, que quisesse fazer alguma coisa dali a alguns dias, no futuro”.

(VIGOTSKI, 1984, p. 106 apud REGO, 1995, p. 81). Porém, as crianças pequenas, também

interagem com diferentes tipos de brinquedos, que são necessários para a aprendizagem futura

da representação e da imaginação.

Entretanto, na idade em que a criança frequenta a educação infantil, surge uma grande

quantidade de tendências e desejos não possíveis de serem realizados de imediato. Percebe-se

que o brinquedo surge justamente, quando a criança começa a experimentar tendências

Page 13: o Papel Da Brincadeira No Desenvolvimento Da Crianca Na Educacaol Infantil

12

irrealizáveis, onde a mesma “envolve-se num mundo ilusório e imaginário, onde os desejos

não realizáveis podem ser realizados, e esse mundo é o que chamamos de brinquedo”.

(VIGOTSKI, 1998, p.122).

O termo “brinquedo” empregado por Vigotski se refere, principalmente, ao ato de

brincar e sempre que uma criança brinca, ela cria uma situação imaginária.

Segundo OLIVEIRA (1997):

Numa situação imaginária como a brincadeira de ‘faz-de-conta’, ao contrário, a criança é levada a agir num mundo imaginário (o ônibus que ela está dirigindo na brincadeira, por exemplo), onde a situação é definida pelo significado estabelecido pela brincadeira (o ônibus, o motorista, os passageiros, etc.) e não pelos elementos reais concretamente presentes (as cadeiras da sala onde ela está brincando de ônibus, as bonecas, etc.). (OLIVEIRA, 1997, p. 66).

De acordo com Vigotski (apud FONTANA E CRUZ, 1997) a brincadeira é

fundamental para desenvolver o pensamento da criança porque trabalha diversos aspectos que

contribuem no desenvolvimento emocional e cognitivo da mesma. Afirma que, ao brincar, a

criança age sobre os objetos como adultos. Assim, as brincadeiras das crianças pequenas

caracterizam-se pela reprodução de ações humanas realizadas em torno de objetos.

É importante ressaltar que a situação imaginária para Vigotski (1998) é pré- requisito

para que as crianças tornem-se conscientes da existência de regras nas brincadeiras.

Segundo Vigotski (1998):

O que restaria se o brinquedo fosse estruturado de tal maneira que não houvesse situações imaginárias? Restariam as regras. Sempre que há uma situação imaginária no brinquedo, há regras – não as regras previamente formuladas e que mudam durante o jogo, mas aquelas que têm sua origem na própria situação imaginária. Portanto, a noção de que uma criança pode se comportar em uma situação imaginária sem regras é simplesmente incorreta. Se a criança está representando papel de mãe, então ela obedece as regras de comportamento maternal. O papel que a criança representa e a relação dela com o objeto (se o objeto tem seu significado modificado) originar-se-ão sempre das regras. (VIGOTSKI, 1998, p.125).

Percebe-se que são as regras da brincadeira e o papel social que ela está representando

na situação imaginária que fazem com que a criança se comporte de forma mais avançada do

que aquela habitual para sua idade. Para Oliveira (1997, p.67), “o que na vida real é natural e

passa despercebido, na brincadeira torna-se regra e contribui para que a criança entenda o

universo particular dos diversos papéis que desempenha”.

Vigotski, citado por Fontana e Cruz (1997, p.126), nos diz:

Page 14: o Papel Da Brincadeira No Desenvolvimento Da Crianca Na Educacaol Infantil

13

... é no brinquedo que a criança aprende a agir numa esfera cognitiva, ao invés de uma esfera visual externa, dependendo das motivações e tendências internas, e não dos incentivos oferecidos pelos objetos externos.

Nota-se que na brincadeira os objetos perdem sua força determinadora e a criança

passa a operar com os significados das coisas. Só brincando é que ela vai começar a perceber

o objeto não da maneira que ele é, mas como desejaria que fosse.

Você já imaginou que um cabo de vassoura pudesse ser um cavalo de verdade? E que

valente cavaleiro! Na verdade o cavalinho de pau é um objeto tão simples que em algumas

épocas era utilizado pelas crianças como se fosse um meio de transformar o objeto em seu

mundo de faz–de-conta, de fantasia. Um príncipe em seu cavalo de pau chega feliz ao castelo,

ou até mesmo uma tropa, a fim de destruir o campo inimigo e seu herói montado em seu

cavalo de pau, são situações ilusórias e imaginárias que a criança cria para satisfazer seus

desejos irrealizáveis.

Complementando o que foi citado acima:

É através de seus brinquedos e brincadeiras que a criança tem oportunidade de desenvolver um canal de comunicação uma abertura para o diálogo com o mundo dos adultos, onde ela restabelece seu controle interior, sua auto-estima e desenvolve relações de confiança consigo mesma e com os outros. (GABARINO et al, 1992 apud BOMTEMPO, 2009, p.69).

Dessa forma, percebe-se que o brinquedo tem grande importância no desenvolvimento

psicológico da criança, pois cria novas relações entre situações imaginárias e situações da

vida real.

Segundo Vigotski (1998), é nas brincadeiras que a criança constrói suas necessidades

para aproximá-la do mundo adulto. O autor ainda explica que há mudanças em seu

desenvolvimento cognitivo e a criança torna-se capaz de aceitar novos componentes na

brincadeira, respeita as regras e dá significado a objetos que lhe permitem realizar a mesma

ação próxima do real.

1.1 – As brincadeiras e os níveis de desenvolvimento real e potencial,

segundo Vigotski

A teoria de Vigotski (apud REGO, 1995) destaca que é preciso considerar dois níveis

de desenvolvimento para se entender o processo pelo qual a criança passa durante seu

crescimento intelectual: o nível de desenvolvimento real e o nível de desenvolvimento

potencial. Vejamos a seguir:

Page 15: o Papel Da Brincadeira No Desenvolvimento Da Crianca Na Educacaol Infantil

14

Entende-se por nível de desenvolvimento real aquela aprendizagem de que já se tomou

conhecimento, aquilo que a pessoa já sabe fazer sozinha, sem ajuda de ninguém.

O nível de desenvolvimento potencial é referente ao que a criança ainda não consegue

fazer sozinha, porém com a mediação de outra pessoa ela pode executar a ação.

Entre esses dois níveis está aquilo que Vigotski chamou de “zona de desenvolvimento

proximal”.

A zona de desenvolvimento proximal (ZPD) pode ser definida da seguinte maneira:

Ela é distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de seu desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes. (VIGOTSKI, 1998, p. 112).

Dentre as considerações do autor, a zona de desenvolvimento proximal seria o

caminho que a criança percorre para desenvolver funções que estão em processo de

amadurecimento, e serão consolidadas em um nível de desenvolvimento real.

É levando em consideração o conceito de zona de desenvolvimento proximal que

devemos pautar nossos esforços educativos, pois, como afirma Vigotski:

[...] aquilo que é zona de desenvolvimento proximal hoje, será o nível de desenvolvimento real amanhã - ou seja, aquilo que uma criança pode fazer com a assistência hoje, ela será capaz de fazer sozinha amanhã. (VIGOTSKI, 1998, p.113).

Vigotski, citado por Rego (1995), nos diz que:

O desenvolvimento da criança é visto de forma prospectiva, pois a zona de desenvolvimento proximal define aquelas funções que ainda não amadureceram, que estão em processo de maturação, funções que amadurecerão, mas que estão presentes em estado embrionário. Essas funções poderiam ser chamadas de brotos ou de flores do desenvolvimento, ao invés de frutos do desenvolvimento. (VYGOTSKY, 1984, p.94 apud REGO, 1995, p.73 e 74).

A zona de desenvolvimento proximal define caminhos que podem levar a criança à

aprendizagem, considerando que são os desafios que proporcionam um avanço no

desenvolvimento mental da criança.

Quando se refere ao desenvolvimento de uma criança, o que se espera é compreender

por qual caminho o desenvolvimento pode acontecer.

Page 16: o Papel Da Brincadeira No Desenvolvimento Da Crianca Na Educacaol Infantil

15

Para Vigotski (1998), para se ter uma concepção plena de zona de desenvolvimento

proximal, deve-se levar em consideração o papel da imitação no desenvolvimento mental da

criança.

Para o autor (apud OLIVEIRA, 2010, p.65), “a imitação não é mera cópia de um

modelo, mas reconstrução individual daquilo que é observado nos outros”.

A discussão de Vigotski (apud OLIVEIRA, 2010), sobre a imitação nos remete à

questão da brincadeira, enfatizando a importância significativa que ela traz nos processos

iniciais de aprendizagem da criança, que também é responsável por criar uma zona de

desenvolvimento proximal. Leontiev (1988) diz que “[...] no brinquedo a criança sempre se

comporta além do comportamento habitual de sua idade, além de seu comportamento diário;

no brinquedo é como se ela fosse maior do que é na realidade”. (LEONTIEV, 1988, p. 22

apud FONTANA E CRUZ, 1997, p. 129).

De acordo com Leontiev (1988, p. 122 apud FONTANA E CRUZ, 1997, p. 129),

assim a brincadeira é a atividade

[...] em conexão com a qual ocorrem as mais importantes mudanças no desenvolvimento psíquico da criança e dentro da qual se desenvolvem processos psíquicos que preparam o caminho da transição da criança para um novo e mais elevado nível de desenvolvimento.

Percebe-se que, na idade em que a criança frequenta a Educação Infantil, a atividade

imitativa que faz através dos brinquedos e brincadeiras, pode ser considerada uma atividade

condutora do desenvolvimento infantil, que cria oportunidades para ela realizar ações que

estão além de suas próprias capacidades, contribuindo para a sua aprendizagem e ampliando a

capacidade cognitiva da criança.

A zona de desenvolvimento proximal é o espaço que existe de aprendizagem através

da interação com outras pessoas e que colabora para a ampliação dos conhecimentos através

das relações com outros sujeitos mais experientes da cultura, ou seja, é a aprendizagem que

sem a ajuda externa seria impossível de ocorrer.

A criança traz para as brincadeiras a sua cultura, seu modo de ver o mundo que

favorece uma interação através das imitações, das ações cotidianas, contribuindo claramente

para o seu desenvolvimento. Dessa maneira, o brinquedo gera oportunidades para o

desenvolvimento intelectual, com ele a criança começa a adquirir motivação, as habilidades e

as atitudes necessárias para a sua participação social.

Nesse sentido, o ato de brincar é de extrema importância. Segundo Oliveira (2010):

Page 17: o Papel Da Brincadeira No Desenvolvimento Da Crianca Na Educacaol Infantil

16

[...] a promoção de atividades que favoreçam o envolvimento da criança em brincadeiras, principalmente aquelas que promovem a criação de situações imaginárias, tem nítida função pedagógica. A escola, particularmente a educação infantil poderiam se utilizar deliberadamente desse tipo de situações para atuar no processo de desenvolvimento das crianças. (OLIVEIRA, 2010, p.69).

Ao considerarmos a relevância da brincadeira no desenvolvimento da criança, o

segundo capítulo irá destacar a relação entre a educação infantil e os espaços destinados à

brincadeira no ambiente escolar.

Page 18: o Papel Da Brincadeira No Desenvolvimento Da Crianca Na Educacaol Infantil

17

CAPÍTULO 2 - O BRINCAR E A EDUCAÇÃO INFANTIL

Para compreender a importância do brincar na educação infantil faz-se necessário

retomar alguns pontos principais da história desse segmento de ensino no Brasil, a fim de que

se entenda o valor do espaço da brincadeira no desenvolvimento da criança pequena, assim

como, seu lugar na escola de educação infantil.

A Lei nº 4.024 de 1961, de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em seus artigos

23 e 24, nos diz que a educação infantil, ou seja, a educação pré-primária destina-se aos

menores de sete anos e seria ministrada em escolas maternais e jardins de infância.

(OLIVEIRA, 2007).

Em 1971, a Lei nº 5.692, determinou, em seu artigo 19, que os sistemas de ensino

velassem para que as crianças de idade inferior a sete anos recebessem educação escolar em

maternais, jardins de infância e instituições equivalentes.

A constituição de 1988 também estabelece os direitos da criança: à vida, à saúde, à

alimentação, à educação, ao lazer, à dignidade, à profissionalização, à cultura, à liberdade, ao

respeito, à convivência familiar e comunitária. Estabelece ainda, que a família, a sociedade e

o Estado sejam os responsáveis para que se faça cumprir a lei.

Em 1990, surge o Estatuto da Criança e do Adolescente, que concretizou as conquistas

dos direitos das crianças promulgados pela Constituição.

O grande avanço na Educação Infantil surge com a Lei de Diretrizes e Bases da

Educação, Lei nº 9.394/96, que estabelece ser finalidade da educação o desenvolvimento

integral da criança de 0 a 6 anos de idade, observando seus aspectos físico, psicológico,

intelectual e social.

A partir da LDB de 1996, estudos e documentos são escritos a fim de se delimitar um

espaço educacional para as crianças pequenas, que articule a questão do cuidado com a

questão da educação, ou seja, do ensino dos conhecimentos produzidos pela humanidade.

Nesse contexto, a brincadeira se torna um dos recursos mais privilegiados na educação

das crianças que frequentam o ensino infantil.

Segundo Wajskop (2009):

Compreendida dessa forma, a brincadeira infantil passa a ter uma importância fundamental na perspectiva do trabalho pré-escolar, tendo em vista a criança como sujeito histórico e social. Se a brincadeira é, efetivamente, uma necessidade de organização infantil ao mesmo tempo em que é o espaço da interação das crianças, quando estas podem estar pensando/imaginando/ vivendo suas relações familiares, as relações de trabalho, a língua, a fala, o corpo, a escrita, para citar alguns dos

Page 19: o Papel Da Brincadeira No Desenvolvimento Da Crianca Na Educacaol Infantil

18

temas mais importantes, então esta brincadeira se transforma em fator educativo se, no processo pedagógico, for utilizado pela criança para sua organização e trabalho. (WAJSKOP, 2009, p.37).

Aguiar (1998, p.36) diz que: “é na idade pré-escolar, mediante a brincadeira, a

fantasia, que a criança adquire maior parte de seus repertórios cognitivos, emocionais e

sociais”.

É fundamental saber que os brinquedos são de vital importância para o

desenvolvimento e educação da criança, por propiciar o desenvolvimento simbólico, estimular

a sua imaginação, a sua capacidade de raciocínio e a sua auto-estima.

Em relação às atividades escolares, toda escola de educação infantil precisa ter clareza

do que quer desenvolver na criança, pois é preciso preocupar-se se as crianças estão usando

brinquedos e materiais que realmente lhes possibilite um avanço em seu desenvolvimento,

tanto nas brincadeiras mais livres, como nas brincadeiras planejadas, dirigidas pelo professor.

Segundo Kishimoto (2009):

Hoje a imagem de infância é enriquecida, também com o auxílio de concepções psicológicas e pedagógicas, que reconhecem o papel de brinquedos e brincadeiras no desenvolvimento e na construção do conhecimento infantil [...]. (KISHIMOTO, 2009, p.21).

Para Oliveira (2007), o professor deverá ser o incentivador no processo educativo da

criança, pois é ele quem cria os espaços, disponibiliza materiais, participa das brincadeiras, ou

seja, faz a mediação na elaboração do conhecimento.

Segundo Oliveira (2007):

Considerando a criança um agente ativo de seu processo de desenvolvimento, o professor infantil faz a mediação entre ela e seu meio, utilizando os diversos recursos básicos disponíveis: o próprio espaço físico da creche ou pré-escola com seu mobiliário, equipamentos e materiais, as tarefas e instruções propostas e, particularmente, sua maneira de se relacionar com a criança: como a observa, apóia, questiona, responde-lhe, explica-lhe, dá-lhe objetos e a consola. (OLIVEIRA, 2007, p.204).

Percebe-se a partir dos princípios aqui expostos, que o professor deverá contemplar a

brincadeira como princípio norteador das atividades didático-pedagógicas possibilitando,

assim, que as manifestações corporais encontrem significado através da ludicidade presente

na relação que as crianças mantêm com o mundo.

Page 20: o Papel Da Brincadeira No Desenvolvimento Da Crianca Na Educacaol Infantil

19

O educador deve ter consciência de que um trabalho interessante, de qualidade,

certamente terá grandes resultados no que diz respeito ao desenvolvimento psicomotor e

intelectual de seu aluno. Deve-se elaborar plano de aula adequado, com utilização de

atividade didática diferenciada capaz de motivar seu aluno a participar e desenvolver seus

conhecimentos.

Segundo Teles (1997, p. 15):

A brincadeira, o jogo, o humor colocam o indivíduo em estado criativo. Entretanto, se a brincadeira que estimula a criatividade só pode florescer num ambiente de liberdade e flexibilidade psicológicas, de busca de prazer, de auto realização, devemos concluir que o desenvolvimento daquela encontra-se profundamente vinculado aos objetivos educacionais.

Como vimos antes, o desenvolvimento infantil acontece através das brincadeiras, e é

através dela, que a criança começa a separar a fantasia da realidade e a extravasar os mais

diversos sentimentos. Interagindo com os brinquedos e jogos, ela também desenvolve

importantes habilidades motoras e intelectuais com mais facilidade.

Segundo Kishimoto (2010), as práticas pedagógicas devem garantir experiências

diversas. Para a autora, primeiro a criança adquire o “conhecimento de si e do mundo por

meio das experiências sensoriais, expressivas e corporais para movimentação ampla,

expressão da individualidade e respeito pelos ritmos e desejos da criança”. (KISHIMOTO,

2010, p. 03). Essa possibilidade de adquirir diferentes tipos de experiências e

autoconhecimento colabora para as futuras aprendizagens das crianças.

Nesse sentido, a criança utiliza objetos domésticos, de uso cotidiano para novas

descobertas, como entrar em caixas, descobrir texturas, puxar carrinhos, subir em almofadas,

que são experiências interativas e motoras, em que se pode aprender e brincar pela repetição

das ações.

São inúmeras as experiências expressivas, corporais e sensoriais das crianças pelo brincar. Não se podem planejar práticas pedagógicas sem conhecer a criança. Cada uma é diferente de outra e tem preferências conforme sua singularidade. Em qualquer agrupamento infantil, há crianças que estão mais avançadas, outras, em ritmos diferentes. Dispor de um tempo mais longo, em ambientes com variedade de brinquedos, atende os diferentes ritmos das crianças e respeita a diversidade de seus interesses. (KISHIMOTO, 2010, p. 04).

Na Educação Infantil, um brinquedo na visão da criança, pode ser qualquer objeto que

ela possa usar no ato de brincar. Alguns deles permitem as crianças divertirem-se, e ao mesmo

tempo, ajudam no desenvolvimento da sua vida social, especialmente aqueles usados em

Page 21: o Papel Da Brincadeira No Desenvolvimento Da Crianca Na Educacaol Infantil

20

jogos cooperativos. Assim, o professor “ao observá-la em suas atividades individuais ou

grupais, pode constatar quando a criança é alguém plena de desejos, que aguarda serem

realizados”. (OLIVEIRA, 2007, p.208).

Como afirma Kishimoto (2010, p. 01):

O brincar é a atividade principal do dia a dia. É importante porque dá o poder à criança para tomar decisões, expressar sentimentos e valores, conhecer a si, os outros e o mundo, repetir ações prazerosas, partilhar brincadeiras com o outro, expressar sua individualidade e identidade, explorar o mundo dos objetos, das pessoas, da natureza e da cultura para compreendê-lo, usar o corpo, os sentidos, os movimentos, as várias linguagens para experimentar situações que lhe chamam a atenção, solucionar problemas e criar. Mas é no plano da imaginação que o brincar se destaca pela mobilização dos significados.

Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998), o brincar

é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da identidade e da autonomia da

criança. É a partir do brincar que ela aprende a observar e a interagir com outras pessoas

desenvolvendo assim sua imaginação. Já quando utiliza a linguagem do faz-de-conta, a

criança amplia sua concepção sobre as coisas e pessoas ao desempenhar vários papéis sociais

ou personagens, criando um cenário no qual a criança é capaz de imitar a vida como também

de transformá-la. “Brincar é, assim, um espaço no qual se pode observar a coordenação das

experiências prévias das crianças e aquilo que os objetos manipulados sugerem ou provocam

no momento presente”. (BRASIL, Vol. I, 1998, p.23). Ainda, segundo o RCNEI,

No ato de brincar, os sinais, os gestos, os objetos e os espaços valem e significam outra coisa daquilo que aparentam ser. Ao brincar as crianças recriam e repensam os acontecimentos que lhes deram origem, sabendo que estão brincando. O principal indicador da brincadeira, entre as crianças, é o papel que assumem enquanto brincam. Ao adotar outros papéis na brincadeira, as crianças agem frente à realidade de maneira não-literal, transferindo e substituindo suas ações cotidianas pelas ações e características do papel assumido, utilizando-se de objetos substitutos. (BRASIL, 1998, VOL. I, p.27).

Percebe-se que para a criança aprender maneiras diferentes de brincar, ela precisa ter

contato com outras crianças, e com pessoas mais velhas em espaços dentro e fora da

instituição infantil.

Segundo Kishimoto (2010, p.1):

A criança não nasce sabendo brincar, ela precisa aprender, por meio das interações com outras crianças e com os adultos. Ela descobre em contato com objetos e

Page 22: o Papel Da Brincadeira No Desenvolvimento Da Crianca Na Educacaol Infantil

21

brinquedos certas formas de uso desses materiais. Observando outras crianças e as intervenções da professora ela aprende novas brincadeiras e suas regras. Depois que aprende, pode reproduzir ou recriar novas brincadeiras. Assim elas vão garantindo a circulação e preservação da cultura lúdica.

Nesse sentido, cabe ao educador na educação infantil intervir de maneira adequada,

para proporcionar à criança conhecimentos, visando sempre satisfazer as suas necessidades,

com atividades diversificadas, favorecendo sempre a interação e o desenvolvimento da

criança. Mas para que isso ocorra, é preciso enfatizar nas propostas pedagógicas a formulação

de um currículo ligado às práticas cotidianas das crianças.

Segundo Oliveira (2007):

Construir uma proposta pedagógica implica a opção por uma organização curricular que seja um elemento mediador fundamental da realidade cotidiana da criança – as concepções, os valores, e os desejos, as necessidades e os conflitos vividos em seu meio próximo - e a realidade social mais ampla, com outros conceitos, valores e visões de mundo. Envolve elaborar um discurso que potencialize mudanças, que oriente rotas. Em outras palavras, envolve concretizar um currículo para crianças. (OLIVEIRA, 2007, p.169).

Assim, o currículo precisa ser entendido como um projeto coletivo, apropriado para

toda situação educativa, com concepções e decisões de profissionais, e também garantir a

participação da família e da comunidade em todo o processo.

Os ambientes de aprendizagem como recursos pedagógicos também requerem atenção

e planejamento, pois “não basta organizar a sala em “cantinhos”, se nela persistir uma

pedagogia centrada nas instruções do professor”, (OLIVEIRA, 2007, p.193). O que importa é

um ambiente funcional e estruturado para que haja uma boa integração entre alunos,

professores e demais pessoas que trabalhem na instituição.

Para Oliveira (2007):

Além da existência de parceiros envolvidos afetivamente com a criança e disponíveis para interagir com ela, as condições para a constituição de um rico ambiente interacional na creche ou pré- escola dependem igualmente da presença de suportes ambientais – mobiliários, equipamentos – que criem oportunidades de trabalho em subgrupos, especialmente em áreas preparadas para o desenvolvimento de atividades diversificadas estruturadas na sala de aula e também nos espaços comuns (o solário, a sala do grupo, o pátio coberto, o parque, etc.). Nesses espaços, as crianças exploram o ambiente e constroem significações. (OLIVEIRA, 2007, p.195).

Para a autora, o importante é a criança ser “acolhida e estimulada, ser inserida em

ambientes aconchegantes, cheios de diferentes materiais e com decoração estética bem

cuidada” (OLIVEIRA, 2010, p. 198), para assim perceber a riqueza das atividades elaboradas

Page 23: o Papel Da Brincadeira No Desenvolvimento Da Crianca Na Educacaol Infantil

22

por ela, além de ampliar o mundo de sensações e percepções, como recurso para o seu próprio

desenvolvimento.

Sendo assim, no próximo capítulo analisaremos as situações de brincadeiras

organizadas pelas crianças e também situações propostas pela professora em uma escola de

educação infantil situada no interior do estado de São Paulo.

Page 24: o Papel Da Brincadeira No Desenvolvimento Da Crianca Na Educacaol Infantil

23

CAPÍTULO 3 – AS BRINCADEIRAS DAS CRIANÇAS NA ESCOLA DE

EDUCAÇÃO INFANTIL

Para compreender a importância da brincadeira no desenvolvimento da criança que

estuda na escola de Educação Infantil, esse capítulo irá apresentar uma pesquisa de campo

realizada nas salas dos Maternais (crianças de 02 a 03 anos de idade) no segundo semestre do

ano de 2011 entre os meses de agosto e setembro em uma escola particular de uma cidade

localizada no interior do estado de São Paulo, procurando apreender nas relações de ensino

produzidas na escola, as situações de brincadeiras que envolvem as crianças em espaços livres

e situações organizadas pela professora, entrelaçando os dizeres dos autores estudados com a

observação feita ao longo da pesquisa.

3.1- A instituição

A escola onde foi realizada a pesquisa se localiza na área central de uma cidade no

interior do estado de São Paulo, sendo esta uma instituição particular que atende a uma

clientela sócio-cultural de classe média alta, porém a escola também oferece bolsas de estudos

para os alunos de famílias com menor poder aquisitivo. A maioria dos pais são funcionários

públicos, gerentes e funcionário de bancos, estudantes, vendedores do comércio,

administradores de empresas, donas de casa etc.

Com relação à educação básica, a escola atende em média 325 alunos, com idade

entre 2 a 16 anos, do Maternal ao Ensino médio, no período da manhã e tarde.1

Com relação à estrutura física da escola, o espaço é amplo, possui 1 biblioteca, 1

laboratório de Ciências, sala dos professores, 12 salas de aulas, 1 sala de artes, 1 cozinha, 1

cantina, 1 papelaria, 1 elevador, 6 banheiros sendo 1 reservado somente para a Educação

Infantil e o parque. Também há lugares destinados para secretaria e lavanderia.

As salas são de tamanho médio com exceção da sala da brinquedoteca que é pequena.

Os maternais exploram bastante o espaço físico externo da instituição, com exceção dos dias

chuvosos que por ser um espaço físico aberto ao tempo, nãohá possibilidade de utilizá-lo.

Todas as salas da Educação Infantil possuem lousas e varais com saquinhos com nome para

identificação de cada criança. 1 A escola onde a pesquisa foi realizada também oferece cursos técnicos, de graduação e pós graduação. Neste estudo, descreveremos apenas a organização da escola destinada ao atendimento da educação básica, mais precisamente com relação à Educação Infantil.

Page 25: o Papel Da Brincadeira No Desenvolvimento Da Crianca Na Educacaol Infantil

24

A instituição funciona de segunda a sexta-feira, das 6h45 às 18h00, tendo alunos no

período da manhã e tarde. O período da manhã é destinado ao atendimento dos alunos do

Ensino Fundamental II (6º ao 9º ano) e Ensino Médio, e à tarde a escola atende a Educação

Infantil e os Anos Iniciais do Ensino Fundamental (1º ao 5º ano).

Os momentos de entrada e saída dos alunos da Educação Infantil são flexíveis, mas a

instituição pede que os alunos cheguem e saiam num determinado horário para melhor

funcionamento e atendimento das crianças.

A pesquisa que ora é apresentada foi realizada nas salas dos maternais com crianças de

02 a 03 anos de idade, no período da tarde.

Algumas crianças chegam à escola acompanhadas pelos pais, outras pelas avós e

algumas são trazidas pelas vans. O horário de entrada da Educação Infantil é às 13h00 e os

alunos são recebidos pelas estagiárias da escola2 que ficam auxiliando a entrada e a saída, que

acontece a partir das 17h00.

Ao chegar à sala de aula as crianças organizam a mochila no lugar destinado, e depois

brincam com os brinquedos da sala até os demais alunos chegarem.

A rotina das salas onde foi feita a pesquisa envolve a oração do dia, atividades como

leitura de história, atividades de recortes, atividades com massinha ou em folha,

brinquedoteca, hora do lanche, hora de escovar os dentes, banho e troca de fraldas. A área

externa (parque) é usada em horários determinados para cada turma, a professora usa o espaço

externo conforme a necessidade e a disponibilidade do local.

O sono é algo que depende da necessidade da criança, e é respeitado na instituição.

Nas observações feitas sobre a rotina da sala de aula, considera-se que é bem tranquila,

a direção confia em seus funcionários e os pais que deixam as crianças na escola também

estão cientes de que elas serão bem cuidadas e educadas.

3.2 – As brincadeiras na educação infantil – O espaço da brinquedoteca

Durante a pesquisa realizada, nota-se que o brincar na educação infantil é de vital

importância no cotidiano das crianças, é como fórmula mágica, pois além de ajudar no

desenvolvimento da criança, é o caminho para a sua descoberta como sujeito singular.

Na instituição onde foi realizada a pesquisa, as crianças vão todos os dias ao parque e

também à brinquedoteca da escola e nota-se que é a hora preferida delas.

2 As estagiárias são alunas do curso de Pedagogia, oferecido pela própria instituição.

Page 26: o Papel Da Brincadeira No Desenvolvimento Da Crianca Na Educacaol Infantil

25

Para o RCNEI:

Brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da identidade e da autonomia. O fato de a criança, desde muito cedo, poder se comunicar por meio de gestos, sons e mais tarde representar determinado papel na brincadeira faz com que ela desenvolva sua imaginação. Nas brincadeiras as crianças podem desenvolver algumas capacidades importantes, tais como a atenção, a imitação, a memória, a imaginação. Amadurecem também algumas capacidades de socialização, por meio da interação e da utilização e experimentação de regras e papéis sociais. (BRASIL, Vol. 2, 1998, p.22).

Durante a observação feita na brinquedoteca, percebe-se que os brinquedos, livros de

fantoches, os jogos e vídeos educativos são recursos que fazem com que as crianças viagem

em seu mundo imaginário, criem situações, pois é brincando que a criança estabelece uma

relação entre o mundo infantil e o mundo real do adulto.

Para Santos (2000, p.58):

Falar sobre brinquedoteca é, portanto, falar sobre os mais diferentes espaços que se destinam à ludicidade, ao prazer, às emoções, às vivências corporais, ao desenvolvimento da imaginação, da criatividade, da auto-estima, do autoconceito positivo, da resiliência, do desenvolvimento do pensamento, da ação, da sensibilidade, da construção do conhecimento e das habilidades.

O brincar na escola é organizado pelo professor de forma diferente do brincar em casa

e em outro lugar, pois o professor associa tudo o que a criança faz ou fala em novos

conhecimentos, habilidades, e faz com que as crianças entendam as suas possibilidades e

limitações do momento, desenvolvendo o conhecimento de normas e valores. Trabalhar

também com os conflitos e frustrações originárias das situações de disputa de papéis, próprias

das brincadeiras.

A brinquedoteca onde foi realizada a pesquisa é pequena, mas o acervo é bastante

explorado pelos alunos. Os brinquedos e jogos ficam organizados em prateleiras de fácil

acesso para crianças

Para Santos (2010, p. 32):

É importante valorizar o acervo em uma proposta lúdica, pois quando os brinquedos e jogos são selecionados, analisados, classificados e dispostos de maneira prática, pressupõe-se que há qualidade nesse processo. Mas a clareza de uma proposta lúdica não está na quantidade ou na qualidade dos brinquedos e dos jogos, e sim na postura do educador e na dinâmica das atividades.

Page 27: o Papel Da Brincadeira No Desenvolvimento Da Crianca Na Educacaol Infantil

26

Para podermos visualizar as interações entre as crianças e entre as crianças e a

professora no espaço da brinquedoteca, iremos relatar um episódio em que a brincadeira passa

a ser mediada por uma história de um conto clássico infantil.

Em um dos dias visitados pelas crianças na brinquedoteca, acompanhadas pela

professora, os alunos interagiam uns com os outros montando quebra cabeças, cantando,

pulando, brincando livremente, brincadeiras que despertavam a imaginação. A professora

sempre auxiliava quando necessário, mas sem interferir na criação das brincadeiras das

crianças.

Nesse dia, um dos alunos do Maternal fez que estava lendo uma historinha.

_ O lobo mau apareceu e mordeu a Bi3, disse o Re.

_ E comeu o Pe e a Ga... rsrsrs e depois gormiu.

Todos riram juntos.

Uma das alunas imaginou que estava regando as flores, com um regador de brinquedo.

Percebe-se que a criança cria uma situação imaginária e é nessa situação que ela

constrói um conhecimento físico e social sobre o mundo que a cerca. Assim, é na brincadeira,

que a criança passa a reconhecer o mundo através das suas representações, ampliando o seu

desenvolvimento.

Para Oliveira (2007):

[...] a criança pequena exercita capacidades nascentes, como as de representar o mundo e de distinguir entre pessoas, possibilitadas especialmente pelos jogos de faz- de-conta e os de alternância, respectivamente. Ao brincar a criança passa a compreender as características dos objetos, seu funcionamento, os elementos da natureza e os acontecimentos sociais. Ao mesmo tempo, ao tomar o papel de outro na brincadeira, começa a perceber as diferentes perspectivas de uma situação, o que lhe facilita a elaboração do diálogo interior característico de seu pensamento verbal. (OLIVEIRA, 2007, p.160).

Nesse sentido, ter espaços na escola que possibilitem a criação e o uso da imaginação

nas brincadeiras é de fundamental importância para o desenvolvimento da linguagem e dos

processos psicológicos superiores, como nos diz Vigotski (1998).

3.3 – As brincadeiras realizadas no parque

O parquinho desta instituição é amplo e possui gangorra, gira-gira, casinha de boneca

onde se guardam os brinquedos pequenos e bancos para se sentar. 3 Os nomes dos alunos serão representados na pesquisa por suas letras iniciais.

Page 28: o Papel Da Brincadeira No Desenvolvimento Da Crianca Na Educacaol Infantil

27

Como a hora do parque é bastante esperada pelas crianças, quando chega o momento

da ida a esse local, os alunos ficam inquietos e pulando. Na hora que a professora pede para

formar o trenzinho (fila), os alunos o fazem cantando até chegar ao parque.

Nota-se que a professora intervém com as crianças, criando oportunidades para que

elas aprendam a participar das brincadeiras, esperar a sua vez para brincar e valorizar os seus

sentimentos.

Segundo o RCNEI:

A intervenção do professor é necessária para que, na instituição de educação infantil, as crianças possam, em situações de interação social ou sozinhas, ampliar suas capacidades de apropriação dos conceitos, dos códigos sociais e das diferentes linguagens, por meio da expressão e comunicação de sentimentos e idéias, da experimentação, da reflexão, da elaboração de perguntas e respostas, da construção de objetos e brinquedos etc. Para isso, o professor deve conhecer e considerar as singularidades das crianças de diferentes idades, assim como a diversidade de hábitos, costumes, valores, crenças, etnias etc. das crianças com as quais trabalha respeitando suas diferenças e ampliando suas pautas de socialização. (BRASIL, Vol. 1, 1998, p.30).

Nas interações e nas brincadeiras realizadas no parque as crianças brincam de variadas

situações. São super heróis, fadas, mamãe, papai, filhinha, dirigem trem, ônibus, assistem à

televisão e imaginam todo o mundo que está à sua volta.

Na situação apresentada a seguir, uma das alunas aproximou-se da professora e disse:

-Oi, eu sou a Re, você faz um doce de banana?

- Faço sim, disse a professora.

Ao ouvir o dizer da professora, a Re correu na casinha de brinquedo e pegou algumas

bolinhas de plástico. Quando voltou disse:

-Qué sorvete de uva e morango? Disse Re.

-Não mexa aquiii (disse Re para a Be).

Enquanto isso as crianças que estavam no gira-gira, imaginavam que estavam dentro

de um carro ou talvez um ônibus, e diziam que estavam indo para o shopping, andar de

trenzinho.

Com os pés eles aumentavam e diminuíam a velocidade do gira-gira.

Re continuava brincando de fazer sorvete.

-Eu quero de chocolate, disse Be.

-Ainda não tá pronto, falou Re.

- O meu é de palito, gritou He.

Page 29: o Papel Da Brincadeira No Desenvolvimento Da Crianca Na Educacaol Infantil

28

Re não deixava ninguém mexer em seu brinquedo que imaginava ser um sorvete (era

um cone e uma bolinha) e se alguém tentasse brincar com as bolinhas, ela começava a gritar.

-Nãoooo mexa lá, dizia Re.

Dois meninos brincavam que estavam jogando vídeo game, com duas peças de

encaixes, corriam de um lado para outro como se estivem correndo com carrinhos.

-Vummmm, vumm... bibi... bibi..., diziam eles.

Podemos observar que nessas situações, as crianças vão trazendo para a brincadeira,

situações vivenciadas em seu cotidiano, pois possuindo experiências sobre alimentação,

cozinha, transportes, as crianças conseguem transpor para a brincadeira, momentos e

situações que só os adultos podem realizar.

Na brincadeira vivenciada por Re e suas amigas, Re tem dificuldades de compartilhar

seus brinquedos com as demais. Intervindo e fazendo as mediações, a professora vai

organizando as situações de brincadeira para que as crianças aprendam a dividir, compartilhar

e colaborar com as invenções que o grupo realiza.

3.4 – A hora da história

A hora da história é bastante esperada pelas crianças. A professora pede para os alunos

irem até o cantinho da leitura e fala para que se sentem em círculo. Conforme ela vai lendo,

vai interagindo com as crianças e, assim, elas vão imaginando, fazendo caretas, dando risadas.

Dessa maneira faz com que desenvolvam emoções prazerosas e de forma significativa.

Depois que a professora contou a história, alguns alunos também quiseram contar,

então Isa foi a primeira.

A ovelhinha rosa.

Era uma vez a ovelha rosa que era rosa, a ovelha rosa pintava tudodinho, tudo de

rosa, até a casa do cavalo, aí bagunçou tudo de lama, tudo, e daí, e os outros riram dela

porque só ela era rosa, e daí ela ficou triste, e aí um dia ela falou porque só eu sou rosa,

daí a galinha disse: porque você não pinta tudo de rosa, e pintou tudinho de rosa, pintou

a cabritinha, o pintinho, a galinha tudo de rosa, e daí ficou tudo rosa, e daí deu chuvão e

tirou tudo a tinta, menos da ovelha, e um dia eles ficaram felizes para sempre.

Page 30: o Papel Da Brincadeira No Desenvolvimento Da Crianca Na Educacaol Infantil

29

Nota-se que na hora em que ela conta a história, mesmo não sabendo ler, ela imagina,

elabora fantasias e constrói um repertório de ideias para expor aos demais alunos. Mediada

pela leitura da professora em sala de aula, Isa cria sua própria história e mostra um mundo

cheio de criatividade e linguagem. Ao entrar em contato com as histórias, inicialmente através

da leitura da professora, a criança amplia o seu vocabulário e aprende a usar novas palavras

em novos contextos de uso social.

Segundo Fontana e Cruz (1997), a relação entre pensamento e palavra analisada por

Vigotski,

[...] não é uma coisa, mas um processo, um movimento contínuo de vaivém do pensamento para a palavra, e vice versa. Nesse processo, a relação entre o pensamento e a palavra passa por transformações [...]. (VYGOTSKY, 1987 apud FONTANA e CRUZ, 1997, p.86).

Com base nesses aspectos, percebe-se que a leitura é uma forma de acesso ao universo

simbólico, importante para o desenvolvimento da criança. Quanto mais cedo a criança tiver

acesso aos livros e perceber o prazer que a leitura produz, maior será a probabilidade de ela

tornar-se um adulto leitor. Da mesma forma, através da leitura a criança adquire uma postura

crítico-reflexiva, extremamente relevante à sua formação cognitiva.

3.5 – A hora do banho e a hora da troca

Após o lanche, as crianças escovam os dentes e aquelas que ainda usam fraldas tomam

banho uma de cada vez. A professora transforma essa hora em uma atividade lúdica e de

aprendizagem, onde a mesma canta com eles, havendo interação entre ambos, tornando-se,

assim, um momento de descontração e relaxamento.

Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (Vol. 2, 1998,

p.58):

Os procedimentos com a higiene e proteção da pele, proporcionam bem-estar às crianças e permitem que elas percebam a sensação de estar seca e molhada. A observação, pelo professor, da freqüência das eliminações, do aspecto do cocô e do xixi e do estado da pele da criança fornece dados sobre a saúde e o conforto de cada criança e aponta para outros cuidados que forem necessários.

Nesse sentido, a escola de Educação Infantil precisa organizar os espaços e os

ambientes, onde a criança se sinta segura e que venha satisfazer as necessidades dela, e ainda

possibilite sua socialização com o mundo e com as pessoas que a cercam.

Para Oliveira (2007, p. 193):

Page 31: o Papel Da Brincadeira No Desenvolvimento Da Crianca Na Educacaol Infantil

30

[...] o ambiente das creches e pré-escolas pode ser considerado como um campo de vivências e exploração, zona de múltiplos recursos e possibilidades para a criança reconhecer objetos, experiências, significados de palavras e expressões, além de ampliar o mundo de sensações e percepções. Funciona esse ambiente como recurso de desenvolvimento, e, para isso, ele deve ser planejado pelo educador, parceiro privilegiado de que a criança dispõe.

Com base nesses aspectos, podemos perceber que as crianças precisam de tempo e

espaços para brincar, pois além de incorporar valores morais e culturais, é a forma mais

completa que elas têm de se comunicar consigo mesma e com o mundo.

Na escola onde a pesquisa foi realizada pudemos perceber que a brincadeira ocupa a

maior parte dos espaços das atividades organizadas pela professora, seja através de momentos

criados pelas brincadeiras livres em que a imaginação e o faz-de-conta prevalecem, seja

através de momentos criados pela professora numa roda de história, brincadeira de roda etc. A

brincadeira, nesse sentido, passa a ser parte constitutiva da aprendizagem e do

desenvolvimento intelectual da criança.

Page 32: o Papel Da Brincadeira No Desenvolvimento Da Crianca Na Educacaol Infantil

31

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando que a brincadeira e o brinquedo fazem parte da infância e que toda

criança tem direito de brincar, o trabalho apresentado buscou entender a relação do brinquedo

e das brincadeiras de faz-de-conta na educação infantil.

Compreendemos que o mais importante nas brincadeiras de faz-de-conta é a satisfação

em brincar, e que, favorece a aprendizagem e o desenvolvimento de um modo prazeroso.

Através das contribuições da perspectiva histórico-cultural estudadas nesse trabalho,

foi possível compreender que a brincadeira de faz-de-conta e as demais brincadeiras

desenvolvidas pela criança são capazes de produzir efeitos significativos no seu

desenvolvimento afetivo, motor, social e cultural.

É evidente que cada criança busca realizar no seu mundo imaginário o que não é

possível na vida real, mostrando também seus desejos mediante as elaborações de seus

conflitos.

Os brinquedos e objetos utilizados pelas crianças para brincar tormam-se importantes

e muitas vezes deixam o sentido real, transformando-se em personagens imaginários capazes

de transmitir segurança à brincadeira realizada pela criança. Para ela um objeto pode ser seu

super herói, outro pode ser o inimigo derrotado, pois é na brincadeira que o desenvolvimento

cognitivo aparece criando soluções para a situação de maneira confortável.

Na idade pré-escolar a criança, na interação com outras crianças e com a professora,

apreende experiências próprias de seu grupo social e vai se constituindo enquanto sujeito

singular. Nesse sentido, como afirma Vigotski (1998) na brincadeira através da aproximação

com as situações de vida real, a elaboração do desenvolvimento mental da criança vai se

ampliando e se modificando.

Ao imitar um adulto, a criança busca na brincadeira as características do seu

personagem e transforma os pequenos objetos em seres que completam o quadro de sua

fantasia. É interessante observar a forma de brincar da criança e as imitações que faz com seu

mundo real e a organização de sua imaginação.

Durante a pesquisa de campo, observou-se a linguagem, o repertório de palavras e

como se dá a brincadeira entre alunos da mesma faixa etária. Um ponto comum entre as

brincadeiras que as crianças realizavam foi a satisfação e o desejo de estar brincando com

outras crianças e as soluções encontradas para a elaboração de seus conflitos.

Page 33: o Papel Da Brincadeira No Desenvolvimento Da Crianca Na Educacaol Infantil

32

Nas brincadeiras realizadas pelas crianças, havia sempre a criação de personagens

representando um comandante, o vilão da história, a mocinha etc. revelando o mundo de

compreensão, de leitura e de criação de papéis.

Nesse sentido, este estudo pretendeu contribuir com o profissional da Educação

Infantil, sobre a importância de valorizar as brincadeiras de faz-de-conta e os jogos para o

desenvolvimento da criança. Seguindo a perspectiva teórica de Vigotski (1998), concluímos

que é de extrema relevância que as crianças tenham espaços na escola que proporcionem o

desenvolvimento de brincadeiras, pois compreendemos que é através dos jogos e das

brincadeiras que a criança desenvolve sua curiosidade, a atenção, a autonomia, sua capacidade

de resolver problemas e todos esses fatores fazem parte da aprendizagem e são constitutivas

do desenvolvimento da subjetividade da criança.

Page 34: o Papel Da Brincadeira No Desenvolvimento Da Crianca Na Educacaol Infantil

33

REFERÊNCIAS

AGUIAR, J.S. Jogos para o ensino de conceitos. Campinas: Papirus, 1998.

ANGOTTI, M. O trabalho docente na pré-escola: Revisitando teorias, descortinando práticas. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003. BOMTEMPO, E. A brincadeira de faz-de-conta: lugar do simbolismo, da representação, do imaginário. In: KISHIMOTO, T. M. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo: Cortez, 2009. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998. Volume 1. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil . Brasília: MEC/SEF, 1998. Volume 2. FONTANA, R.A.C; CRUZ, N. Psicologia e trabalho pedagógico. São Paulo: Atual, 1997. HEINKEL, D. O brincar e a aprendizagem na infância. Ijuí: Unijuí, 2000. KISHIMOTO, T. M. Brinquedos e brincadeiras na Educação Infantil. In: Ministério da

Educação e Cultura. Programa Currículo em movimento. 2010. Disponível em:

<http://portal.mec.gov.br/index.php?Itemid=1096&id=15860&option=com_content&view>.

Acesso em 18 maio 2011.

KISHIMOTO, T. M. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. 12 ed. São Paulo: Cortez, 2009. OLIVEIRA, Z. R. Educação Infantil: fundamentos e métodos. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2007. OLIVEIRA, M.K. Vygotsky - Aprendizado e desenvolvimento: Um processo sócio-histórico. 5. ed. São Paulo: Scipione, 2010. ______________. Vygotsky - Aprendizado e desenvolvimento: Um processo sócio-histórico São Paulo: Scipione, 1997. REGO, T.C. Vygotsky: Uma perspectiva histórico-cultural na educação. 11. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995. SANTOS, S.M.P. O brincar na escola: Metodologia lúdico-vivencial, coletânea de jogos, brinquedos e dinâmicas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010 (Coleção Brinquedoteca).

Page 35: o Papel Da Brincadeira No Desenvolvimento Da Crianca Na Educacaol Infantil

34

______________. Brinquedoteca: A criança, o adulto e o lúdico. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. TELES, M.L. Socorro! É proibido brincar! Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. VIGOTSKI, L.S. A formação social da mente: O desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. WAJSKOP, G. Brincar na pré-escola. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2009.