23
DRAFT PAPER – VERSÃO PRELIMINAR – NÃO CITAR SEM PERMISSÃO DOS AUTORES O PAPEL DA TECNOLOGIA NA CONCEPÇÃO DE TRANSFORMAÇÃO DO EXÉRCITO BRASILEIRO: CAÍMOS NA ARMADILHA DA REVOLUÇÃO DOS ASSUNTOS MILITARES? Augusto W. M. Teixeira Júnior 1 Ricardo Borges Gama Neto 2 Resumo: A concepção de Transformação do Exército expressa um entendimento nacional sobre Transformação Militar ou incorre na armadilha do determinismo tecnológico característico do debate sobre Revolução dos Assuntos Militares (RAM)? Desde a publicação da Estratégia Nacional de Defesa em 2008, o Exército Brasileiro buscou responder aos desafios de elevar o status da Força Terrestre ao patamar de uma então potência emergente. Iniciativas como a Estratégia Braço Forte, PROFORÇA e os Projetos Estratégicos do Exército constituíram importantes passos para a mudança militar desejada. O problema de pesquisa emerge da percepção sobre uma possível falha na concepção de Transformação, onde possivelmente se opta por uma leitura reducionista da Transformação, levando a confundi-la com a RAM. Ilustrativa dessa inferência é o entendimento sobre os Projetos Estratégicos da Força como indutores da Transformação. Metodologicamente, o desenho de pesquisa do artigo consiste num Estudo de Caso. Serão usadas fontes qualitativas como documentos do Ministério da Defesa e do Exército Brasileiro e dados estatísticos sobre gastos militares e orçamento do Ministério da Defesa. Palavras-chave: Mudança Militar. Transformação Militar. Tecnologia. Exército Brasileiro. Projetos Estratégicos. Abstract: Does the Army Transformation concept express a national understanding of Military Transformation or it enters into into the trap of technological determinism, characteristic of the Revolution in Military Affairs debate? Since the publication of the National Defense Strategy in 2008, the Brazilian Army has sought to respond to the challenges of elevating its status to the level of an emerging power. Initiatives such as the Estratégia Braço Forte, PROFORÇA and the Army’s Strategic Projects were important steps for the desired military change. The research problem emerges from the perception about a possible failure in the concept of Transformation, where it is possible that it chooses a reductionist understanding of Transformation, leading to confuse it with the RMA. Illustrative of this inference is the understanding of the Army’s Strategic Projects as inductors of Transformation. Methodologically, the paper's research design consists of a Case Study. Qualitative sources will be used, as documents of the Ministry of Defense and the Brazilian Army and statistical data on military expenditures and budget of the Ministry of Defense. Key-Words: Military Change. Military Transformation. Technology. Brazilian Army. Strategic Projects. 1 Doutor em Ciência Política (UFPE) e Pós-doutorando em Ciências Militares (ECEME). Professor da Universidade Federal da Paraíba (DRI/PPGCPRI/UFPB). Pesquisador do NEP-CEEEx e do INCT-INEU. 2 Doutor em Ciência Política (UFPE). Professor do Departamento de Ciência Política (UFPE), e do Instituto Meira Mattos (IMM-ECEME).

O PAPEL DA TECNOLOGIA NA CONCEPÇÃO DE …€¦ · indutora da tecnologia como elemento da mudança militar (determinismo tecnológico) a coloca em choque com o conservadorismo militar

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: O PAPEL DA TECNOLOGIA NA CONCEPÇÃO DE …€¦ · indutora da tecnologia como elemento da mudança militar (determinismo tecnológico) a coloca em choque com o conservadorismo militar

DRAFT PAPER – VERSÃO PRELIMINAR – NÃO CITAR SEM PERMISSÃO DOS AUTORES

O PAPEL DA TECNOLOGIA NA CONCEPÇÃO DE

TRANSFORMAÇÃO DO EXÉRCITO BRASILEIRO: CAÍMOS NA

ARMADILHA DA REVOLUÇÃO DOS ASSUNTOS MILITARES? Augusto W. M. Teixeira Júnior1

Ricardo Borges Gama Neto2

Resumo: A concepção de Transformação do Exército expressa um entendimento nacional

sobre Transformação Militar ou incorre na armadilha do determinismo tecnológico

característico do debate sobre Revolução dos Assuntos Militares (RAM)? Desde a publicação

da Estratégia Nacional de Defesa em 2008, o Exército Brasileiro buscou responder aos desafios

de elevar o status da Força Terrestre ao patamar de uma então potência emergente. Iniciativas

como a Estratégia Braço Forte, PROFORÇA e os Projetos Estratégicos do Exército

constituíram importantes passos para a mudança militar desejada. O problema de pesquisa

emerge da percepção sobre uma possível falha na concepção de Transformação, onde

possivelmente se opta por uma leitura reducionista da Transformação, levando a confundi-la

com a RAM. Ilustrativa dessa inferência é o entendimento sobre os Projetos Estratégicos da

Força como indutores da Transformação. Metodologicamente, o desenho de pesquisa do artigo

consiste num Estudo de Caso. Serão usadas fontes qualitativas como documentos do Ministério

da Defesa e do Exército Brasileiro e dados estatísticos sobre gastos militares e orçamento do

Ministério da Defesa.

Palavras-chave: Mudança Militar. Transformação Militar. Tecnologia. Exército Brasileiro.

Projetos Estratégicos.

Abstract: Does the Army Transformation concept express a national understanding of Military

Transformation or it enters into into the trap of technological determinism, characteristic of the

Revolution in Military Affairs debate? Since the publication of the National Defense Strategy

in 2008, the Brazilian Army has sought to respond to the challenges of elevating its status to

the level of an emerging power. Initiatives such as the Estratégia Braço Forte, PROFORÇA

and the Army’s Strategic Projects were important steps for the desired military change. The

research problem emerges from the perception about a possible failure in the concept of

Transformation, where it is possible that it chooses a reductionist understanding of

Transformation, leading to confuse it with the RMA. Illustrative of this inference is the

understanding of the Army’s Strategic Projects as inductors of Transformation.

Methodologically, the paper's research design consists of a Case Study. Qualitative sources will

be used, as documents of the Ministry of Defense and the Brazilian Army and statistical data

on military expenditures and budget of the Ministry of Defense.

Key-Words: Military Change. Military Transformation. Technology. Brazilian Army.

Strategic Projects.

1 Doutor em Ciência Política (UFPE) e Pós-doutorando em Ciências Militares (ECEME). Professor da

Universidade Federal da Paraíba (DRI/PPGCPRI/UFPB). Pesquisador do NEP-CEEEx e do INCT-INEU. 2 Doutor em Ciência Política (UFPE). Professor do Departamento de Ciência Política (UFPE), e do Instituto Meira

Mattos (IMM-ECEME).

Page 2: O PAPEL DA TECNOLOGIA NA CONCEPÇÃO DE …€¦ · indutora da tecnologia como elemento da mudança militar (determinismo tecnológico) a coloca em choque com o conservadorismo militar

DRAFT PAPER – VERSÃO PRELIMINAR – NÃO CITAR SEM PERMISSÃO DOS AUTORES

INTRODUÇÃO

A concepção de Transformação do Exército expressa um entendimento nacional sobre

Transformação Militar ou incorre na armadilha do determinismo tecnológico característico do

debate sobre Revolução dos Assuntos Militares (RAM)? O problema de pesquisa emerge de

uma possível falha no processo de concepção de Transformação, onde possivelmente se opta

por uma leitura reducionista da Transformação, na qual a confunde com a RAM.

Não obstante a importância das tradições e da cultura institucional, Forças Armadas de

todo mundo estão sujeitas a processos de mudança militar. Tal como as características e a

conduta da guerra e das operações militares sofrem alterações no espaço e tempo, instituições

castrenses podem se adaptar, modernizar ou se transformar para melhor desempenhar suas

missões tanto em tempos de paz quanto de guerra. De incentivos à mudança advindos de

restrições orçamentárias ou através de choques externos, de ameaças a derrotas militares, o

aparente paradoxo que se constrói pela tensão entre “conservadorismo militar” e as demandas

por mudança é visível na no século presente.

Segundo Farrell e Terriff (2002), eram visíveis no início do milênio evidências de

mudança militar entre importantes Forças Armadas no mundo. Porém, distinto de padrões

anteriores, cuja ênfase recaia no preparo para o emprego da força em cenários de conflito de

alta intensidade, os eventos de mudança militar no século XXI apontavam para a capacitação

simultânea para missões de alta e baixa demanda tecnológica. Um traço marcante do perfil

militar no período é a relevância do aproveitamento das tecnologias de informação,

processamento e informação como subsídio para a condução das operações militares

(FARRELL E TERRIFF, 2002).

A mudança no ambiente estratégico e os impactos orçamentários na Defesa,

especialmente para baixo, são apontados como afetando o planejamento da estrutura das Forças

Armadas no tempo presente (SHURKIN, 2013; COLLINS E FUTTER, 2015). Em vários

países, dentre eles o Brasil, limites orçamentários e o aumento dos custos para aquisição,

Page 3: O PAPEL DA TECNOLOGIA NA CONCEPÇÃO DE …€¦ · indutora da tecnologia como elemento da mudança militar (determinismo tecnológico) a coloca em choque com o conservadorismo militar

DRAFT PAPER – VERSÃO PRELIMINAR – NÃO CITAR SEM PERMISSÃO DOS AUTORES

desenvolvimento e manutenção de tecnologias exercem pressões endógenas. Uma segunda

pressão doméstica é a crise de segurança pública instalada no país acompanhada pela requisição

do emprego das forças em operações subsidiárias e constabulares, notadamente as Operações

de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). Não obstante não faça parte de nenhuma aliança militar

formal ou esteja envolvido em qualquer conflito armado no exterior, o Brasil sofre os efeitos

das pressões exógenas e endógenas apontadas anteriormente.

Desde a publicação da Estratégia Nacional de Defesa (2008), o Exército Brasileiro

buscou responder aos desafios de elevar-se à uma força da Era do Conhecimento. Diagnósticos

do Exército apontavam que dado o estágio em que encontrava o Exército, para a elevação do

poder militar em consonância com a estatura político-estratégica do Brasil, apenas a adaptação

ou a modernização da força seriam insuficientes. A resposta para qual caminho de mudança

militar trilhar estava no Processo de Transformação. Iniciativas como a Estratégia Braço Forte,

PROFORÇA e os Projetos Estratégicos do Exército constituíram importantes passos para a

mudança militar almejada. Entretanto, se destacam nos documentos brasileiros supracitados a

dimensão tecnológica, fundamental à concepção de RAM (OWENS, 1996; KREPINEVICH,

1997; COLLINS e FUTTER, 2015) enquanto que de acordo com a literatura (BOOT, 2005;

SLOAN, 2008; DAVIS, 2010) as dimensões organizacional e doutrinária também são centrais

nos processos de Transformação.

O presente estudo tem enfoque qualitativo e emprega o desenho de pesquisa de Estudo

de Caso (GEORGE e BARNETT, 2005). O caso selecionado é o processo de Transformação

do Exército Brasileiro. O trabalho foi realizado utilizando a estratégia da análise documental de

critérios internos de comparação, ou seja, confrontando os diferentes documentos descritos

(quanto sua natureza e objetivos) com os conceitos definidos pela literatura do tema de pesquisa

produzidos em outros contextos. Serão usadas fontes qualitativas como documentos (PND e

END), informações sobre os Projetos Estratégicos (PAED, EBF e PEE RECOP), tal como

dados estatísticos sobre gastos militares e orçamento da pasta da Defesa.

1. REVISÃO DA LITERATURA E HIPÓTESES

Page 4: O PAPEL DA TECNOLOGIA NA CONCEPÇÃO DE …€¦ · indutora da tecnologia como elemento da mudança militar (determinismo tecnológico) a coloca em choque com o conservadorismo militar

DRAFT PAPER – VERSÃO PRELIMINAR – NÃO CITAR SEM PERMISSÃO DOS AUTORES

O trabalho em tela operacionaliza em seu estudo de caso as explicações de Revolução

dos Assuntos Militares e de Transformação Militar. Entretanto, se faz necessário antes

descrever o tipo de fenômeno que essas categorias fazem parte. Segundo Farrell e Terriff (2002,

p. 05), mudança militar consiste na alteração dos objetivos, estratégias presentes e/ou na

estrutura das organizações castrenses. Os autores supracitados apresentam três fatores que

contribuem na explicação sobre por que as Forças Armadas passam por processos de mudança

militar no século XXI. Primeiramente, a mudança do ambiente estratégico em virtude do fim

da Guerra Fria. Em segundo lugar, os impactos nos orçamentos de defesa ligados ao fim da

rivalidade Leste-Oeste e consequentemente o downsizing de grande maioria das forças armadas

ocidentais. Em terceiro, o ritmo acelerado no desenvolvimento e inovação tecnológica e suas

possibilidades de provocar mudanças revolucionárias na condução das operações militares

(FARRELL E TERRIFF, 2002, p. 3).

Segundo essa abordagem, três seriam as principais fontes de mudança castrense: normas

culturais, política-estratégia e por fim, novas tecnologias. Central para os fins do presente

artigo, a terceira vertente aposta no peso explicativo das novas tecnologias como fontes da

mudança militar. Primeiramente, a evolução tecnológica e os seus impactos na adaptação

organizacional, estratégica e tática implicam num poderoso vetor de mudança. A capacidade

indutora da tecnologia como elemento da mudança militar (determinismo tecnológico) a coloca

em choque com o conservadorismo militar. Entretanto, autores como Farrell e Terriff (2002),

Howard (2004) e Roberts (apud COLLINS E FUTTER, 2015) convergem na observação de

que a tecnologia e seu impacto na mudança militar não se dão sem mediação social. Por

exemplo, Howard (2004) considerava que as mudanças na conduta da guerra se explicam pela

interrelação entre mudanças socias e tecnológicas (emergência de burocracias do estado,

nacionalismo em conjugação com motor a vapor e telégrafos, por exemplo).

Nos anos 1990 o debate ganhou força dentro da academia especialmente através do

conceito de Revolução Militar. As revoluções militares seriam compostas pelos elementos de

mudança tecnológica, desenvolvimento de sistemas, inovação operacional e adaptação

organizacional (KREPINEVICH, 1994). A perspectiva de Krepinevich sobre mudança militar

endossa um entendimento de que estas se dão fundamentalmente através de rupturas, quebras

paradigmáticas com efeitos revolucionários para o campo militar. Esse tipo de mudança

Page 5: O PAPEL DA TECNOLOGIA NA CONCEPÇÃO DE …€¦ · indutora da tecnologia como elemento da mudança militar (determinismo tecnológico) a coloca em choque com o conservadorismo militar

DRAFT PAPER – VERSÃO PRELIMINAR – NÃO CITAR SEM PERMISSÃO DOS AUTORES

castrense é fundamental para entender como se dá a relação entre estruturação das Forças

Armadas e o cumprimento de suas missões.

Segundo Sloan (2008), a perspectiva revolucionária sobre mudança militar estabelece

uma explicação sobre a relação entre como as forças armadas são dimensionadas (sized),

estruturadas e equipadas para enfrentar determinadas ameaças. O panorama sobre mudança

militar descrito nos parágrafos acima deu origem a duas perspectivas do século XX sobre o

objeto em apreço. A primeira, desenvolvida por planejadores soviéticos, partiu da percepção da

distância entre a tecnologia militar ocidental vis-à-vis a soviética. Os primeiros tinham claro

avanço em eletrônica embarcada e em comunicações. Os russos tinham mais quantidade e

menos qualidade. Como resposta, o Marechal Nicolai Orgakov, argumentava a favor de uma

Military-Technical Revolution (MTR) (PROENÇA JUNIOR, RAZA, DINIZ, 1999).

Apesar de oficialmente incorporar variáveis como doutrina e organizações, a ênfase da

MTR dava-se fundamentalmente na tecnologia. Collins e Futter (2015), por exemplo, apontam

como sendo centralidade na tecnologia na MTR como um dos diferenciadores desta para com

a Revolução dos Assuntos Militares, a qual seria sensível a relação tecnologia e doutrina.

A segunda perspectiva sobre mudança militar foi desenvolvida formalmente entre os

anos 1980 e 1990, baseava-se na ideia de Revolution in Military Affairs. Semelhante ao apelo

de mudança radical ou revolucionária defendido por Krepinevich (1994), os defensores da

RAM apostavam que a combinação de novas tecnologias, doutrina e mudanças organizacionais

modificariam a conduta e as características da guerra no futuro. Enquanto a Revolução Militar

de Krepinevich (1994) representava uma interpretação histórica sobre mudança militar, a

Revolução dos Assuntos Militares defendida por planejadores militares como William J. Perry

(1991) e Owens (1996) dava conta de um processo de ruptura paradigmática o qual julgavam

estar em curso nos anos 1990.

Essa ruptura estaria ligada ao impacto da articulação do complexo tecnologia-doutrina-

organização, baseado na mudança do desenho das Forças Armadas em favor de plataformas

mais leves (valor brigada), com ênfase em operações expedicionárias, ancoradas na mobilidade

tática e estratégica. Tão importante como essas características, a jointness (interoperabilidade)

e a substituição de um modelo de força centrado em plataformas para aquele centrado em redes3

3 Ver Network-Centric Warfare (SLOAN, 2012).

Page 6: O PAPEL DA TECNOLOGIA NA CONCEPÇÃO DE …€¦ · indutora da tecnologia como elemento da mudança militar (determinismo tecnológico) a coloca em choque com o conservadorismo militar

DRAFT PAPER – VERSÃO PRELIMINAR – NÃO CITAR SEM PERMISSÃO DOS AUTORES

tornava possível consolidar mudanças organizacionais, como a adoção de uma força

profissional (SLOAN, 2008; COLLINS E FUTTER, 2015).

Quadro 1: características da mudança militar na RAM

Fonte: Elaboração propria, baseado em Sloan (2012).

Ambas as vertentes de mudança militar foram desenvolvidas com base na apreciação da

reestruturação da área de defesa e em particular das Forças Armadas dos Estados Unidos em

resposta à “síndrome do Vietnã”. Entre os anos de 1970 e 1980 os EUA passaram por uma

transição organizacional, doutrinária e tecnológica. O modelo de conscrição compulsória foi

substituído pelo voluntariado profissional, emergia a doutrina de Airland Battle (BENSON,

2012) e subjacente a esses processos, em sintonia com a Second Offset Strategy4 os Estados

Unidos incorporava tecnologias ligadas ao complexo C4ISR ao seu desenho de força.

A forma pela qual a vitória foi alcançada na Guerra do Golfo (1990-1991), em especial

por parte dos EUA, elevou o debate sobre Revolução dos Assuntos Militares como a principal

expressão e promessa da mudança militar. Não restrito aos debates acadêmicos, a RAM foi um

tema fundamental para políticas de defesa entre os anos 1990 e 2000 (COLLINS E FUTTER,

2015). No Brasil, o Exército entende Revolução dos Assuntos Militares como conceito que

4 Focadas em ciência, tecnologia e inovação, as estratégias de compensação foram iniciativas para manter a

superioridade dos EUA em relação à URSS.

Page 7: O PAPEL DA TECNOLOGIA NA CONCEPÇÃO DE …€¦ · indutora da tecnologia como elemento da mudança militar (determinismo tecnológico) a coloca em choque com o conservadorismo militar

DRAFT PAPER – VERSÃO PRELIMINAR – NÃO CITAR SEM PERMISSÃO DOS AUTORES

“expressa os efeitos multiplicadores da eficácia operacional de novos conceitos [operacionais],

capacidades, técnicas e equipamentos militares” (BRASIL, 2010, p. 46).

Apesar de considerar em seu escopo mudanças radicais de doutrina e a adaptação

organizacional, a variável central na RAM é a tecnologia. Segundo Howard (2004), por

exemplo, os advogados da RAM focam mais nos aspectos tecnológicos do que na dimensão

societal. Somado ao determinismo tecnológico, o RAM foi acusado de ser anti-clausewitziano,

em particular pela promessa tecnológica de superar a “névoa da guerra” tal como a “fricção”

no campo de batalha (PROENÇA JÚNIOR, RAZA E DINIZ, 1999). Contudo, o principal

desgaste da RMA como marca e modelo de mudança militar nos anos 2000 foi a experiência

das guerras do Afeganistão e Iraque. A crença no imperativo tecnológico como fator central

para a produção da vitória sofreu revezes quando da emergência da ameaça insurgente no

Iraque, tal como no Líbano em 2006 (SLOAN, 2012). Politicamente, existia um desconforto

com a concepção de ruptura e quebra paradigmática cara a RAM entre os planejadores de

defesa.

Apesar de ter saído do debate pública na década de 2000, muito em função do

predomínio da guerra irregular e de operações intensivas em pessoal, como a contrainsurgência;

características do debate sobre a RAM ainda estão presentes nos Estados Unidos (Third Offset

Strategy), mas também em antagonistas como Rússia (Reforma Miltiar) e China (Modernização

Militar). Umas das formas pela qual o conceito perpassou o tempo foi através da sua

metamorfose em Transformação Militar. Enquanto a RAM via a mudança militar como rápida,

radical e não controlada, a Transformação abraça a concepção de processo, mas com

consequências de descontinuidade (SLOAN, 2008). Se na RAM a mudança revolucionária

tornava obsoleta as competências anteriores, a Transformação teria a capacidade de manter

aquilo que funciona, mas mesmo assim criar novas capacidades (DAVIS, 2010, p. 11).

Segundo Sloan (2008), a Transformação se apoia no aumento descontínuo de

capacidades (discontinuous increase in capability), já a RAM concebe saltos descontínuos

(discontinuous leap) na efetividade militar. Ao lado dos conceitos de Revolução dos Assuntos

Militares e de Transformação Militar, a ideia de Modernização Militar surge como uma das

modalidades de mudança militar no século XXI (Covarrubias, 2005).

Page 8: O PAPEL DA TECNOLOGIA NA CONCEPÇÃO DE …€¦ · indutora da tecnologia como elemento da mudança militar (determinismo tecnológico) a coloca em choque com o conservadorismo militar

DRAFT PAPER – VERSÃO PRELIMINAR – NÃO CITAR SEM PERMISSÃO DOS AUTORES

Segundo Sloan (2008), a modernização está no campo das mudanças evolucionárias,

envolve melhoramentos incrementais nas capacidades necessárias para realizar missões já

desempenhadas. O Exército Brasileiro entende modernização como o “processo de

aprimoramento de estruturas organizacionais para que incorporem capacidades, técnicas e

equipamentos, a fim de melhorarem seu desempenho dentro de conceitos já estabelecidos”

(BRASIL, 2010, p. 46). Transformação, por outro lado, passa pela ideia de adquirir novas

capacidades para realizar não apenas missões tradicionais, mas novas. Para o Exército

Brasileiro, Transformação é o,

“processo de desenvolvimento e implementação de novos conceitos e

capacidades operacionais conjuntas, modificando o preparo, o emprego, as mentes, os

equipamentos e as organizações, para atender as demandas operacionais de um ambiente

sob evolução continuada” (BRASIL, 2010, p. 46).

Em síntese, “enquanto a modernização melhora as habilidades de executar missões de

acordo com os padrões existentes, a transformação das capacidades militares redefine os

padrões.” (SLOAN, 2008, p. 8). Ao passo que a RAM pressupõe ruptura via revolução, a

Transformação propõe aumentos descontínuos de capacidade, a Modernização se caracteriza

pela mudança evolucionária, envolvendo melhorias incrementais aptas a melhorar as estruturas

militares já em funcionamento (ANDREWS, 1998; SLOAN, 2008).

Quadro 2: Comparativo entre Revolução, Modernização e Transformação Militar

Page 9: O PAPEL DA TECNOLOGIA NA CONCEPÇÃO DE …€¦ · indutora da tecnologia como elemento da mudança militar (determinismo tecnológico) a coloca em choque com o conservadorismo militar

DRAFT PAPER – VERSÃO PRELIMINAR – NÃO CITAR SEM PERMISSÃO DOS AUTORES

Fonte: Elaboração própria, baseado em: Proença Júnior, Raza e Diniz, (1999), Covarrubias (2007), Sloan (2008),

Davis (2010), Collins e Futter (2015).

Historicamente, as Forças Armadas brasileiras, em particular o Exército, não seriam

alheios à Mudança Militar. A Missão Militar Francesa de 1919, a participação da Força

Expedicionária Brasileira na Itália (1944/1945), a reforma militar de Castelo Branco e as

mudanças organizacionais da Força Terrestre nos anos 1970 e 1980 (a FT-90 e FT-2000)

(SILVA, 2013) reforçam essa afirmação.

O anseio pela Transformação Militar está ligado à percepção de que os usos do poder

militar se tornaram mais complexos e múltiplos no pós-Guerra Fria. Atualmente, o Exército

enfrenta dois desafios fundamentais: realizar o seu processo de Transformação com vistas a se

adequar aos requisitos da guerra na Era da Informação e capacitar-se para atuar cada vez mais

em Operações no Amplo Espectro. Esses desafios vão além da modernização militar.

2. A TRANSFORMAÇÃO NOS DOCUMENTOS E PROJETOS DO EXÉRCITO

Page 10: O PAPEL DA TECNOLOGIA NA CONCEPÇÃO DE …€¦ · indutora da tecnologia como elemento da mudança militar (determinismo tecnológico) a coloca em choque com o conservadorismo militar

DRAFT PAPER – VERSÃO PRELIMINAR – NÃO CITAR SEM PERMISSÃO DOS AUTORES

O lançamento da Estratégia Nacional de Defesa (BRASIL, 2008) foi um evento

paradigmático para os desenvolvimentos do pensamento e capacidades militares do Brasil, pois,

“Pela primeira vez, o poder político tomou a si a responsabilidade de definir os

parâmetros que balizarão a evolução do segmento militar no contexto da estrutura de

defesa nacional, o que faz recair sobre as Forças renovadas atribuições, principalmente

no sentido de apresentar planejamentos com capacidade de respaldar e motivar decisões

políticas e econômicas por parte do Governo Federal. (BRASIL, 2010, p. 20).

No tocante ao Exército, o documento demandava para a Força a elaboração de planos

de estruturação e equipamentos, o que resultou no desenvolvimento da Estratégia Braço Forte

(BRASIL, 2010, p. 20). Podemos afirmar que é a partir do END que o Exército Brasileiro deu

o impulso inicial ao seu processo de mudança militar, o qual denominou Transformação. A

condição de obsolescência dos equipamentos e a urgente necessidade de incrementar as

capacidades operacionais do Exército foram endereçadas pela END vis-à-vis a um novo papel

que é a transformação das forças armadas como um instrumento de fortalecimento da política

externa soft power, intervenções humanitárias.

Não obstante a retórica de Transformação, em sua maioria, a END apontava caminhos

para cumprir melhor as missões já existentes. O perfil de mudança militar proposta pela END

é melhor caracterizada como modernização. A END consistia num ambicioso programa de

modernização militar, entre seus objetivos o aprimoramento das capacidades de monitorar o

ambiente terrestre, marítimo e aeroespacial, incrementar mobilidade estratégica e em particular

os setores nuclear, cibernético e espacial (IISS, 2010 p. 50). Com exceção do espaço

cibernético, a guisa de atribuições e missões já constavam do rol de ações desempenhadas pelo

Exército na época. A ênfase estratégica na Amazônia foi reforçada com a orientação de

reequipamento e mudança organizacional para melhor atender aos desafios de segurança da

região. Apontou-se a reorganização e reequipamento de unidades militares como forma de

incrementar a dissuasão, a flexibilidade, modularidade e a interoperabilidade (IISS, 2010, p.59).

Entre os objetivos, que denota a ênfase modernizadora mais do que transformação stricto sensu,

consiste no objetivo de com a END promover a capacitação tecnológica e desenvolver a sua

base industrial de Defesa (IISS, 2010, p. 50). Ou seja, a ênfase da Estratégia tem como eixo

Page 11: O PAPEL DA TECNOLOGIA NA CONCEPÇÃO DE …€¦ · indutora da tecnologia como elemento da mudança militar (determinismo tecnológico) a coloca em choque com o conservadorismo militar

DRAFT PAPER – VERSÃO PRELIMINAR – NÃO CITAR SEM PERMISSÃO DOS AUTORES

central o desenvolvimento (econômico, tecnológico e de capacidades), muito mais do que na

própria Transformação das Forças Armadas.

No âmbito internacional, dois eventos são percebidos como contribuindo para

desencadear a mudança militar. Primeiramente, percebia-se que a emergência do Brasil como

potência em ascensão e o aumento de seu prestígio internacional demandaria o incremento das

capacidades militares no sentido de lastrear os anseios político-estratégicos do país. O segundo,

entre os principais estímulos para o processo, destaca-se o impacto da liderança brasileira frente

à MINUSTAH como o que explicitou a urgência para o processo entendido pelo Exército

Brasileiro como Transformação. Segundo avaliação do Estado-Maior do Exército,

“A crise vivida no Haiti colocou em evidência a restrita capacidade de a Força

Terrestre projetar força e de fazer face a situações de contingência, o que poderia ter

colocado em risco nossa capacidade de manter o protagonismo entre os demais países

ali presentes […] ”. (BRASIL, 2010a, p. 17).

No âmbito doméstico, outros fatores são apontados como estopins para a mudança. De

um lado, apesar de ser um atributo constitucional, a crescente demanda política por Operações

de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) entre outras missões subsidiárias, por outro; o premente

desafio de adequar a Força aos limites orçamentários que se tornariam crescentes no decorrer

da de 2010. Diante dos estímulos externos e internos mencionados, o Exército Brasileiro, que

vivenciava problemas severos de obsolescência e necessidade de recuperação da capacidade

operacional, viu na Estratégia Nacional de Defesa uma janela de oportunidade para a mudança

militar, cuja tônica central era realizar a transição de uma força da Era industrial para a Era do

Conhecimento.

No esteio do processo de mudança, um conjunto de documentos foram emitidos no

sentido de orientar a Transformação do Exército. Em maio de 2010 foi lançado o “O Processo

de Transformação do Exército” (BRASIL, 2010a). Entre os argumentos que justificavam o

processo, destacamos o objetivo de elevar as capacidades do Exército para respaldar os

objetivos de projeção internacional do Brasil (BRASIL, 2010). Para tal efeito, a mudança

militar era vista como devendo ser perseguida através do conceito de Transformação, pois a “A

solução para a necessidade de manter o preparo e o emprego do Exército à frente dos novos

Page 12: O PAPEL DA TECNOLOGIA NA CONCEPÇÃO DE …€¦ · indutora da tecnologia como elemento da mudança militar (determinismo tecnológico) a coloca em choque com o conservadorismo militar

DRAFT PAPER – VERSÃO PRELIMINAR – NÃO CITAR SEM PERMISSÃO DOS AUTORES

desafios é, então, encontrada no conceito de transformação, pois exige o desenvolvimento das

novas capacidades para cumprir novas missões.” [grifo nosso] (BRASIL, 2010, p. 9).

A concepção de Transformação do Exército Brasileiro sobre se inspira diretamente na

reflexão de Covarrubias (2007), segundo o qual existiriam três níveis distintos de mudança

militar: adaptação, modernização e transformação. De acordo com o Estado-Maior do Exército

(BRASIL, 2010, p.10), os “pontos que marcam uma transformação” poderiam ser sintetizados

em: transição da estrutura de paz para guerra; compressão operativa; interoperabilidade;

desenvolvimento dos sistemas de armas e gestão da informação.

O entendimento do Exército sobre transformação se inspira nas experiências chilena e

espanhola. A seleção dos casos para estudo é curiosa. O Chile tem uma força armada orientada

fortemente para a defesa externa, dotada de recursos perenes para a aquisição e modernização

de equipamentos (lei do cobre) e não possui a densidade e profundidade estratégica semelhante

a brasileira. A Espanha, por sua vez, além da diferença territorial, sofre influência da OTAN na

estruturação das suas forças, que, per si é um condicionante de mudança militar. O país ibérico

tem que seguir direções de uniformização doutrinária, equipamentos e formas de emprego da

força, demandados para operações combinadas da aliança atlântica. Ademais, por participar da

aliança militar o perfil expedicionário é fundamental. Um outro fator é que ambos têm

orçamentos mais equilibrados que o brasileiro.

Entre os pontos comuns da análise dessas experiências, evidenciados como aprendizado

para o Exército Brasileiro, apontamos como as principais: Transformação como resposta a

mudança de realidades (política-estratégica); racionalização das “estruturas operacionais”;

“modernização da gestão” e “busca por racionalização administrativa”; doutrina como “motor

da transformação”; interoperabilidade; “diminuição do nível em que se processará a integração

dos sistemas de armas”; logística conjunta; adoção de equipamentos modernos e

desenvolvimento em C&T acompanhado da redução dos efetivos; inclusão das operações de

paz “no conjunto das principais missões dos Exércitos do futuro; investimento e

desenvolvimento nos recursos humanos” (BRASIL, 2010, p. 16).

Com base nas avaliações e diagnósticos do Estado-Maior, em “O Processo de

Transformação do Exército” (BRASIL, 2010) é apresentado como a instituição entende por

transformação:

Page 13: O PAPEL DA TECNOLOGIA NA CONCEPÇÃO DE …€¦ · indutora da tecnologia como elemento da mudança militar (determinismo tecnológico) a coloca em choque com o conservadorismo militar

DRAFT PAPER – VERSÃO PRELIMINAR – NÃO CITAR SEM PERMISSÃO DOS AUTORES

“O conceito de transformação surgiu na década de 1970, a partir da discussão

sobre Evolução em Assuntos Militares (EAM) e Revolução em Assuntos Militares

(RAM), combinando dinâmica do progresso gradual com a necessidade de

periodicamente se romper paradigmas na busca da plena capacidade de superar

oponentes e cumprir missões. Com o surgimento das novas tecnologias relacionadas ao

processamento e transmissão de dados, à robótica e aos sistemas de armas, firmou-se a

tendência de sistematizar as ações necessárias para o aproveitamento militar dessas

vantagens potenciais, por intermédio do processo de transformação. Tecnologia da

informação, cibernética, capacidades espacial e nuclear, nanotecnologia, robótica,

C4ISR, biotecnologia, são alguns dos parâmetros com os quais as forças militares estão

se deparando nos conflitos atuais e nos visualizados para o futuro.” (BRASIL, 2010, p.

10).

Destacamos no trecho acima que apesar do estudo das experiências chilena e espanhola

apresentarem a relevância de mudança nas dimensões organizacional e doutrinária, a ênfase no

entendimento do Exército Brasileiro sobre Transformação se dá na dualidade entre capacidades-

missões, cujo foco recai na tecnologia e meios dela derivados como potencializadores da ação

militar. Dessa forma, a Transformação é concebida de forma reducionista, atrelada a uma

vertente ancorada na tecnologia como indutora da mudança militar. Destaca-se que o

entendimento institucional sobre transformação militar do Exército está muito próximo daquilo

que Sloan (2008) chama de abordagem focada na RAM. Esta interpretação, verifica-se na

Portaria Nº 075 do Estado-Maior do Exército de junho de 2010. Nela foi aprovada a diretriz

para implantação do Processo de Transformação do Exército Brasileiro (BRASIL, 2010b).

Destacamos entre os objetivos os que seguem: “a. Promover a transformação do Exército,

trazendo-o de uma concepção ligada à era industrial para a era do conhecimento.” e “b.

Proporcionar ao Exército o desenvolvimento das capacidades requeridas pela evolução da

estatura político-estratégica do Brasil.” (BRASIL, 2010b, p. 1-2).

Baseada na END (BRASIL, 2008) como antecedente do Projeto de Força, no ano de

2012 foi publicado o PROFORÇA (BRASIL, 2012). O referido projeto foi produzido em

decorrência da Estratégia BRAÇO FORTE (EBF/2009)5, resposta do Exército às demandas de

5 A EBF era “constituída por 02 (dois) Planos – Articulação e Equipamento – desdobrados por sua vez em 04

(quatro) Programas – Amazônia Protegida e Sentinela da Pátria (Articulação); e Mobilidade Estratégica e

Combatente Brasileiro (Equipamento) – dos quais derivaram 824 projetos.” (BRASIL, 2012, p.12).

Page 14: O PAPEL DA TECNOLOGIA NA CONCEPÇÃO DE …€¦ · indutora da tecnologia como elemento da mudança militar (determinismo tecnológico) a coloca em choque com o conservadorismo militar

DRAFT PAPER – VERSÃO PRELIMINAR – NÃO CITAR SEM PERMISSÃO DOS AUTORES

modernização da END (BRASIL, 2008). Segundo o Projeto de Força do Exército Brasileiro

(PROFORÇA),

“As novas capacidades a serem adquiridas e as estratégias a serem adotadas

proporcionarão o salto estratégico necessário e devem ser consolidadas em um projeto

de força que estabeleça requisitos militares (capacidades) e proponha arranjos de Força

(estrutura organizacional, articulação, equipamento, logística e preparo), considerando

as limitações orçamentárias. (BRASIL, 2012, p. 3)

A contextualização e justificativa do referido Projeto de Força está ligado a um

determinado entendimento sobre a mudança nos padrões dos conflitos armados na Era do

Conhecimento. Segundo o documento, a evolução dos conflitos armados impulsionaria

modificações na estratégia, especialmente pela necessidade de combater não apenas guerras de

alta intensidade travadas com equipamento de emprego militar de alta tecnologia, como

também guerras assimétricas e irregulares (BRASIL, 2012, p. 5).

Somando-se aos entendimentos da Estratégia Braço Forte e do PROFORÇA foi lançada

em 2013 o documento “Base para a Transformação da Doutrina Militar Terrestre” (BRASIL,

2013a). No âmbito do processo de Transformação, o texto “destina-se a orientar a introdução

de concepções e conceitos doutrinários com vistas à incorporação, na Força Terrestre, das

capacidades e das competências necessárias ao seu emprego na Era do Conhecimento.”

(BRASIL, 2013a, p. 7). Sua principal implicação para as operações terrestres seria a que segue:

“2.2.1 Coerente com o ambiente operacional, o Processo de Transformação do

Exército objetiva dotar a Força de novas competências e capacidades, objetivando

preparar suas tropas para o cumprimento de missões e tarefas na Era do Conhecimento.

A obtenção dessas competências e capacidades é fundamental para que uma Força

Terrestre possa atuar em todo o Espectro dos Conflitos, alcançando o efeito dissuasório

que devem ter as Forças Armadas de um país.” [grifo nosso] (BRASIL, 2013a, p. 12).

No mesmo ano de 2013 foi divulgada a “Concepção de Transformação do Exército

(2013-2022)”, apresentado como “documento orientador do Processo de Transformação do

Exército Brasileiro” (BRASIL, 2013b, p. 8). No documento se consolida o entendimento,

coerente com a visão canônica na literatura, de que transformação consiste em desenvolver

novas capacidades para poder cumprir novas missões em operações de paz ou guerra. O “novo”

Page 15: O PAPEL DA TECNOLOGIA NA CONCEPÇÃO DE …€¦ · indutora da tecnologia como elemento da mudança militar (determinismo tecnológico) a coloca em choque com o conservadorismo militar

DRAFT PAPER – VERSÃO PRELIMINAR – NÃO CITAR SEM PERMISSÃO DOS AUTORES

nesta concepção consistiria em converter o Exército a uma força calcada da “Era do

Conhecimento”. Para tal efeito, um elemento que se destaca são os “indutores da

transformação”6, calcados em capacidades, normalmente associadas a programas e projetos

estratégicos focados em equipamentos. Segundo o Catálogo de Capacidades do Exército

(BRASIL, 2015), afirma que “Capacidades Operativas (CO)”7,

“É a aptidão requerida a uma força ou organização militar, para que possam

obter um efeito estratégico, operacional ou tático. É obtida a partir de um conjunto

de sete fatores determinantes, inter-relacionados e indissociáveis: Doutrina,

Organização (e/ou processos), Adestramento, Material, Educação, Pessoal e

Infraestrutura - que formam o acrônimo DOAMEPI.” (BRASIL, 2015, p. 7)

A definição acima é útil para ilustrar como, apesar da concepção de capacidades

comportar vários vetores, dentre os quais ligados a fatores organizacionais e doutrinários, os

programas e projetos prioritários para o processo de Transformação se baseiam no pilar

tecnológico. Por exemplo, a “A Estratégia Braço Forte, em sua estrutura principal, constou de

823 projetos organizados em quatro grandes programas, a serem desdobrados em curto, médio

e longo prazos (2014 – 2022 – 2030). (BRASIL, 2010, p. 43). No tocante aos dois programas

da EBF, o “Programa Amazônia Protegida” se destacava pela implantação do SISFRON, pela

reestruturação das Brigadas de Selva e a modernização de sistemas operacionais. O “Programa

Sentinela da Pátria” voltava-se à reestruturação das Brigadas e Comandos Militares de Área

(BRASIL, 2010, p. 43).

A mesma ênfase na tecnologia como indutora da Transformação é observada nos

Programas Estratégicos do EPEx: SISFRON, PROTEGER, ASTROS 2020, GUARANI,

PROTEGER, DEFESA Cibernética, Aviação do Exército e Defesa Antiaérea. No contexto do

Portfólio Estratégico do EB, os programas considerados como “indutores da transformação”,

estão no subportifólio “Defesa da Sociedade”8. Como forma de alcançar autonomia estratégica

6 Os indutores da transformação estão relacionados fundamentalmente a programas e projetos estratégicos capazes

de avançar o processo de transformação. Os “Vetores de Transformação” são de ordem mais ampla, transcendendo

a dimensão tecnológica. São eles: Doutrina; Preparo e Emprego; Educação e Cultura; Gestão de Recursos

Humanos; Gestão Corrente e Estratégica, C&T e Modernização do Material; Logística” (BRASIL, 2010, p. 31). 7 Sugerimos a leitura da lista de CMT e CO em Brasil (2015, p. 21). 8 Abaixo deles, no subportfólio “Geração de Força”, que abarcam outros vetores para além da tecnologia.

Page 16: O PAPEL DA TECNOLOGIA NA CONCEPÇÃO DE …€¦ · indutora da tecnologia como elemento da mudança militar (determinismo tecnológico) a coloca em choque com o conservadorismo militar

DRAFT PAPER – VERSÃO PRELIMINAR – NÃO CITAR SEM PERMISSÃO DOS AUTORES

e desenvolver a base industrial de defesa, os programas acima possuem em sua concepção a

produção doméstica e/ou a participação de empresas brasileiras no desenvolvimento e produtos

de defesa. Entretanto, no esteio dos problemas econômicos vividos pelo país, o prazo planejado

para finalização e entrega dos produtos do portfólio sofreu ajustes substantivos.

Figura 1: Recursos dos Programas Estratégicos do Exército (2011-2041)

Fonte: CEEEX, Centro de Estudos Estratégicos do Exército . “A concepção estratégica do exército e os projetos

decorrentes”. XIV CADN, 27.Jul. 2017. Disponível em:

https://www.defesa.gov.br/arquivos/ensino_e_pesquisa/defesa_academia/cadn/palestra_cadn_xi/xiv_cadn/a_con

cepcao_estrategica_do_exercito_brasileiro_e_os_projetos_decorrentes.pdf. Acesso em 15 ago 2018.

O ritmo de aquisições e injeção de recursos nos programas estratégicos vem sendo

afetado pela deterioração das condições econômicas desde 2011 (IISS, 2017). Em 2015, por

exemplo, cerca de 24% do orçamento da pasta da Defesa para aquisições foi cortado9 (IISS,

2015, p. 371-372). No mesmo ano, os fundos para aquisições para o Exército estavam cerca de

56% abaixo do necessário de acordo com o Comandante da força (IISS, 2015, p. 368). O

9 Contudo, destacamos que o orçamento brasileiro não é baixo, mas fortemente impactado pelos gastos

previdenciários.

Page 17: O PAPEL DA TECNOLOGIA NA CONCEPÇÃO DE …€¦ · indutora da tecnologia como elemento da mudança militar (determinismo tecnológico) a coloca em choque com o conservadorismo militar

DRAFT PAPER – VERSÃO PRELIMINAR – NÃO CITAR SEM PERMISSÃO DOS AUTORES

orçamento destinado ao SISFRON, por exemplo, sofreu cortes de 42% em 2015. A redução de

recursos disponíveis para a Defesa persistiu na mudança de governo de Rousseff para Temer,

em que em 2017 foram reduzidos cerca de 30% da verba para aquisições militares, levando ao

atraso de vários programas (IISS, 2018, p. 377).

Como se observa, ao discutir os grandes programas da Força, tal como a vertente de

equipamentos, as expressões “modernização”, “reestruturação”, “completar” e “equipar”

evidenciam como o prolongado quadro de obsolescência no tocante a equipamentos induz ao

enfoque tecnológico e material como representativo daquilo que o Exército percebe como

Transformação. Mediante o quadro de dificuldade orçamentária descrito acima, o perfil das

aquisições de grandes sistemas de armas por parte do Exército entre 2009 e 2017 ilustra a

predominância da ênfase modernizadora em detrimento da transformação.

QUADRO 3: Transferência de Armas para o Exército Brasileiro (2009 a 2017) 10.

Fornecedor Designação Descrição Ano de

Entrega

Quantidade

entregue

França EC725 Super Cougar Helicóptero de transporte 2010-

2017

28

Alemanha BPz-2 Veículo blindado de recuperação ( ARV) 2009 7

BrPz-1 Biber Viatura Lançadora de Ponte (ABL) 2009 4

Leopard-1A5 Carro de Combate 2009-

2012

220

Leopard-1 chassis Chassi de Carro de Combate 2009 4

PiPz-2 Dachs

Viatura Blindada Especializada de

Engenharia (AEV)

2009 4

BPz-2 Veículo blindado de recuperação (ARV) 2012 2

BrPz-1 Biber Viatura Lançadora de Ponte (ABL) 2012 1

PiPz-2 Dachs Viatura Blindada Especializada de

Engenharia (AEV)

2012 1

Gepard Viatura blindada de combate anti-aéreo

(SPAAG)

2013-

2015

34

10 Selecionamos no Quadro apenas aquisições posteriores a publicação da Estratégia Nacional de Defesa (BRASIL,

2008).

Page 18: O PAPEL DA TECNOLOGIA NA CONCEPÇÃO DE …€¦ · indutora da tecnologia como elemento da mudança militar (determinismo tecnológico) a coloca em choque com o conservadorismo militar

DRAFT PAPER – VERSÃO PRELIMINAR – NÃO CITAR SEM PERMISSÃO DOS AUTORES

Israel UT-25/UT-30 Torreta de veículo de combate de infantaria

(IFV)

2014-

2016

30

Itália VBTP Guarani

Veículo blindado de transporte de pessoal

(APC)

2012-

2017

314

Rússia Igla-S/SA-24

SAM Portátil11 2010-

2012

300

Igla-S/SA-24 SAM Portátil 2015-

2016

130

Suécia RBS-70 Mk-3 Bolide SAM Portátil

Suiça Fieldguard Sistema de Controle de Tiro Ativo 2014-

2017

5

EUA S-70/UH-60L Helicóptero 2011 4

S-70/UH-60L Helicóptero 2012 6

6V-53 Motor a Diesel 2013-

2015

150

-M-109A5 155mm Obuseiro autopropulsado 2017 4

M-109A5 155mm Obuseiro autopropulsado 2015 4

6V-53 Motor a Diesel 2015 ---

M-113 Veículo blindado de transporte de pessoal

(APC)

2016 46

M-88 Veículo blindado de recuperação (ARV) 2016 4

M-109A5 155mm Obuseiro autopropulsado 2017 ----

Fonte: SIPRI, SIPRI Arms Transfers Database, 2018. Disponível em:

http://armstrade.sipri.org/armstrade/page/trade_register.php.

Empreendimentos como o “Projeto Estratégico do Exército de Recuperação da

Capacidade Operacional” (PEE RECOP) expressam bem a vertente de modernização e

recomposição de capacidades. Essa inferência é reforçada ao se observar que os “três

Pressupostos Básicos condicionarão a transformação”, apesar da retórica de Transformação,

consiste apontam apenas em fazer melhor aquilo que já consta como missão: a valorização do

11 Surface-to-air missile), míssil superfície-ar.

Page 19: O PAPEL DA TECNOLOGIA NA CONCEPÇÃO DE …€¦ · indutora da tecnologia como elemento da mudança militar (determinismo tecnológico) a coloca em choque com o conservadorismo militar

DRAFT PAPER – VERSÃO PRELIMINAR – NÃO CITAR SEM PERMISSÃO DOS AUTORES

Serviço Militar Obrigatório, a manutenção da Estratégia da Presença e a preservação dos

valores e tradições do Exército.” (BRASIL, 2010, p. 43).

Enquanto que os estímulos externos para a transformação apontam para a necessidade

de criação de capacidades de projeção de poder, os estímulos domésticos impõem mais

enfaticamente a adaptação e modernização do Exército para o cumprimento de missões outras

que não a guerra. Ao passo que o Exército pensava e estruturava aquilo chamada de

Transformação, aumentavam as demandas domésticas para o emprego da força em operações

de segurança interna e segurança pública. Como evidenciado pelo “Plano Estratégico de

Fronteiras” de 2011 (IISS, 2014), ao invés de considerar a ênfase das fronteiras oeste e norte

no escopo de “novas missões”, as ações de vigilância e monitoramento de fronteiras estão mais

no escopo já existente das missões subsidiárias e constabulares das forças. Mudanças

organizacionais, como o desmembrando do Comando Militar da Amazônia para o Comando

Militar do Norte, atende mais a requisitos da potencialidade do emprego da força para operações

de law-enforcement do que a sua transformação num Exército da Era do Conhecimento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme pudemos averiguar, desde o lançamento da Estratégia Nacional de Defesa

(BRASIL, 2008) o Exército Brasileiro tem buscado pensar a sua Transformação Militar em

termos estratégicos e doutrinários. Contudo, predomina nos documentos orientadores do

processo uma visão que aponta a um peso desproporcional da vertente tecnologia-meios-

equipamentos como esteio central do processo de Transformação, confundindo-o com a

perspectiva reducionista de RAM (SLOAN, 2008). Somado a essa questão da aposta

tecnológica como salvação, a própria preocupação na reposição de equipamentos em estágio de

obsolecência e recuperar a capacidade operacional afeta o processo de mudança militar no

sentido de modernizar, e não transformar.

Não obstante seja possível detectar várias iniciativas no sentido de reequipar e

reorganizar o Exército desde a END, a busca pela capacitação tecnológica se destacacou,

inclusive pela própria conexão estabelecida na END entre defesa e desenvolvimento. Apesar de

importante, a preocupação com a aquisição de expertise em ciência, tecnológia e inovação no

Page 20: O PAPEL DA TECNOLOGIA NA CONCEPÇÃO DE …€¦ · indutora da tecnologia como elemento da mudança militar (determinismo tecnológico) a coloca em choque com o conservadorismo militar

DRAFT PAPER – VERSÃO PRELIMINAR – NÃO CITAR SEM PERMISSÃO DOS AUTORES

âmbito da Base Industrial de Defesa afastou o Exército da urgência em dotar a força de

capacidade operacional nos termos daquilo que considera como Era do Conhecimento. Embora

nos documentos analisados a relação entre novas capacidades e novas missões esteja presente

no sentido retórico, as missões elencadas não são novas em sua essência.

Enquanto que a preocupação com a tecnologia foi central na concepção de

Transformação do Exército, a doutrina foi vista como produto do processo de transformação,

discutida no documento “Bases para Transformação da Doutrina Militar Terrestre” (BRASIL,

2013) e mais recentemente na “Concepção Estratégica do Exército” (BRASIL, 2017), ambas

parte do SIPLEx. No campo doutrinário, o Processo de Transformação do Exército evidencia o

seu aspecto modernizador quando confrontamos a doutrina da força e as plataformas previstas

nos programas estratégicos. Se de um lado preferem-se plataformas pensadas para promover

efeito dissuasório com meios convencionais, cada vez mais se adapta a doutrina e meios para o

emprego da força em desgastantes operações outras que não a guerra, como GLO, pacificação

entre outras.

A dimensão organizacional, fundamental na literatura sobre Transformação Militar,

recebeu uma ênfase marginal nos documentos analisados. Isso não é menos importante, pois a

pressão por recursos no contexto de escassez tem na mudança organizacional possíveis

respostas para criar condições efetivas para a transformação. Países como EUA, China, Rússia

entre outros realizam processos profundos de mudança organizacional (Downsizing,

profissionalição, racionalização, entre outros) como forma de possibilitar as dimensões

tecnológicas e doutrinárias da transformação. Na experiência brasileira, mesmo no contexto de

severas restrições orçamentárias, que impactam na redução do ritmo de processos de

modernização e aquisição, a estrutura de gastos do Exército (pessoal ativo e reserva) não foi

seriamente enfrentada (IISS, 2017).

Concluímos que apesar do uso do conceito de Transformação, os pressupostos que

sustentam o processo de Transformação do Exército implicam predominantemente em fazer

melhor aquilo que já é feito. Em síntese, a concepção de mudança militar predominante

encontrada na análise não é nem de Transformação ou RAM, mas sim de modernização.

Page 21: O PAPEL DA TECNOLOGIA NA CONCEPÇÃO DE …€¦ · indutora da tecnologia como elemento da mudança militar (determinismo tecnológico) a coloca em choque com o conservadorismo militar

DRAFT PAPER – VERSÃO PRELIMINAR – NÃO CITAR SEM PERMISSÃO DOS AUTORES

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDREWS, Timothy D. Revolution and Evolution, Understanding Dynamism in Military

Affairs, National Defense University, Washington D.C, 1998. Disponível em:

http://www.dtic.mil/dtic/tr/fulltext/u2/a441473.pdf. Acesso em: 17/03/2017.

BOOT, Max. “The Struggle to Transform the Military”. Foreign Affairs, Essay March/April

2005.

BRASIL, Exército Brasileiro. Catálogo de Capacidades do Exército. Brasília, D.F., 2015.

BRASIL, Exército Brasileiro. Bases para a Transformação da Doutrina Militar Terrestre.

PORTARIA Nº 197-EME, DE 26 DE SETEMBRO DE 2013. Brasília, D.F., 2013a.

BRASIL, Exército Brasileiro. Concepção de Transformação do Exército (2013 – 2022).

PORTARIA Nº 1253, DE 05 DE DEZEMBRO DE 2013. Brasília, D.F., 2013b.

BRASIL, Exército Brasileiro. Projeto de Força do Exército Brasileiro – PROFORÇA

(extrato). 2012.

BRASIL, Exército Brasileiro. O Processo de Transformação do Exército. 3ª edição. 2010a.

BRASIL, Exército Brasileiro. Portaria Nº 075-EME, 10 de Junho de 2010. 60 – Boletim do

Exército nº 24, de 18 de junho de 2010. Brasília, DF. 2010b.

BRASIL, Ministério da Defesa. Estratégia Nacional de Defesa, Brasília, DF. 2008.

COVARRUBIAS, J. A. (2007). “Três pilares de uma transformação militar”. Military Review.

Novembro-Dezembro. Disponível em:

http://www.ecsbdefesa.com.br/defesa/fts/MRnovdez07.pdf.

DAVIS, Paul K. Military Transformation? Which Transformation, and What Lies Ahead? Santa

Monica, CA: RAND Corporation, 2010.

Page 22: O PAPEL DA TECNOLOGIA NA CONCEPÇÃO DE …€¦ · indutora da tecnologia como elemento da mudança militar (determinismo tecnológico) a coloca em choque com o conservadorismo militar

DRAFT PAPER – VERSÃO PRELIMINAR – NÃO CITAR SEM PERMISSÃO DOS AUTORES

FARRELL, Theo; TERRIFF, Terry. “The sources of Military Change”. In: Theo Farrell and

Terry Terriff (Eds.), The Sources of Military Change: culture, politics, technology. London:

Lynne Rienner Publishers, 2002.

GEORGE, Alexander L; BENNETT, Andrew. Case studies and theory development in Social

Sciences. BCSIA Studies in International Security. Cambridge: MIT Press, 2005.

HOWARD, Michael. “How much can technology change Warfare?” in Michael Howard and

John Guilmartin, Jr. (Eds) Two Historians in Technology and War. Carlisle, PA: Strategic

Studies Institute Monographs, 2004.

IISS. International Institute for Strategic Studies. The Military Balance 2018: The annual

assessment of global military capabilities and defence economics. London, 2018.

_____. The Military Balance 2017: The annual assessment of global military capabilities and

defence economics. London, 2017.

_____. The Military Balance 2015: The annual assessment of global military capabilities and

defence economics. London, 2015.

_____. The Military Balance 2014: The annual assessment of global military capabilities and

defence economics. London, 2014.

_____. The Military Balance 2011: The annual assessment of global military capabilities and

defence economics. London, 2011.

Krepinevich, Andrew F. Cavalry to Computer: The pattern of military revolutions. The National

Interest, n. 37, p. 30-42, 1994.

OWENS, William A. “The Emerging System of Systems,” Military Review

(May/June 1995).

PERRY, William. “Desert Storm and Deterrence”, Foreign Affairs 70(4) (Fall 1991).

PROENÇA JR, D.; DINIZ, E.; RAZA, S. G. (1999). Guia de Estudos de Estratégia. Rio de

Janeiro: Jorge Zahar Editor.

SHURKIN, Michael. Setting priorities in the Age of Austerity: British, French and German

Experiences. Santa Monica: Rand Corporation, 2013.

SILVA, Fernando Augusto Valentini da. O Processo de Transformação do Exército: extensão,

fontes e fatores intervenientes. / Fernando Augusto Valentini da Silva. 2013.

SLOAN, Elinor C.. Modern Military Strategy: an introduction. 1. Routledge. 2012.

Page 23: O PAPEL DA TECNOLOGIA NA CONCEPÇÃO DE …€¦ · indutora da tecnologia como elemento da mudança militar (determinismo tecnológico) a coloca em choque com o conservadorismo militar

DRAFT PAPER – VERSÃO PRELIMINAR – NÃO CITAR SEM PERMISSÃO DOS AUTORES

SLOAN, Elinor. Military transformation and modern warfare: a reference handbook.

Greenwood Publishing Group, 2008.