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a folha Boletim da língua portuguesa nas instituições europeias http://ec.europa.eu/translation/portuguese/magazine N.º 26 — Primavera de 2008 PORTUGUÊS E ESPANHOL, LÍNGUAS IRMÃS? ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE AS DIFERENÇAS LINGUÍSTICAS C. Rollason .............. 1 IATE: QUE FUTURO? António Mendes da Costa ..................................................................................................................... 4 A DIGITAÇÃO DOS CARACTERES CHINESES Tang Chi Choi ....................................................................................................... 9 ELEMENTOS QUÍMICOS LISTA MULTILINGUE Luís Costa, Ana Garrido, Paulo Correia ..................................................... 11 REGIÕES DOS 27 BULGÁRIA E ROMÉNIA Paulo Correia.................................................................................................... 16 PORTUGUÊS PARA ESTRANGEIROS IDIOSSINCRASIAS CURIOSAS DA LÍNGUA PORTUGUESA Augusto Múrias ........................ 19 Português e espanhol, línguas irmãs? Algumas reflexões sobre as diferenças linguísticas Christopher Rollason Parlamento Europeu (1) Reza um conhecido ditado português, «De Espanha, nem bom vento nem bom casamento», e tradicionalmente as duas grandes línguas ibéricas têm mantido uma relação de irmãos, se não inimigos, pelo menos de certo modo desentendidos. No entanto, nem sempre foi assim. O espanhol de Cervantes e o português de Camões pareciam-se mais, em termos fonológicos, estruturais e lexicais, do que as versões actuais das duas línguas. No canto VII de Os Lusíadas, quando a expedição de Vasco da Gama chega à costa da Índia do Sul, os heróis lusitanos encontram-se com um mouro expatriado, que lhes serve de intérprete com o rei local, comunicando com eles não em português mas, ironicamente, em espanhol, «na língua de Castela». Foi em Lisboa que se imprimiu uma das primeiras edições do Dom Quixote, e mais tarde, no Palácio de Queluz, foi o Príncipe de Alcântara, D. Pedro I do Brasil e D. Pedro IV de Portugal, que nasceu e também morreu numa sala decorada, como se pode ver ainda hoje, com cenas do famoso livro de Cervantes. Apesar dessas ligações passadas, até recentemente, num Portugal que ainda se lembrava amargamente dos 60 anos do domínio filipino e se via a si mesmo como surrounded by Spain and sea, reduzidíssimas eram as pessoas, para além das zonas fronteiriças e de algum especialista universitário, que quisessem aprender correctamente a língua do país vizinho. Hoje em dia, os ventos que sopram de Espanha já devem ser diferentes, pois recomeça a haver um certo casamento cultural entre os dois países ibéricos, pelo menos no sentido de Espanha para Portugal. Há universidades portuguesas cujas Faculdades de Letras já recrutam mais alunos para o castelhano do que para o alemão, situação totalmente impensável há duas décadas (o Brasil também (1) Unidade de Língua Inglesa.

O Papel da União Europeia no Enriquecimento do Portuguêsec.europa.eu/translation/portuguese/magazine/documents/folha26_pt.pdf · Vasco da Gama chega à costa da Índia do Sul,

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  • a folha Boletim da lngua portuguesa nas instituies europeias

    http://ec.europa.eu/translation/portuguese/magazine

    N. 26 Primavera de 2008

    PORTUGUS E ESPANHOL, LNGUAS IRMS? ALGUMAS REFLEXES SOBRE AS DIFERENAS LINGUSTICAS C. Rollason .............. 1 IATE: QUE FUTURO? Antnio Mendes da Costa ..................................................................................................................... 4 A DIGITAO DOS CARACTERES CHINESES Tang Chi Choi....................................................................................................... 9 ELEMENTOS QUMICOS LISTA MULTILINGUE Lus Costa, Ana Garrido, Paulo Correia ..................................................... 11 REGIES DOS 27 BULGRIA E ROMNIA Paulo Correia.................................................................................................... 16 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS IDIOSSINCRASIAS CURIOSAS DA LNGUA PORTUGUESA Augusto Mrias ........................ 19

    Portugus e espanhol, lnguas irms? Algumas reflexes sobre as diferenas lingusticas

    Christopher Rollason

    Parlamento Europeu(1) Reza um conhecido ditado portugus, De Espanha, nem bom vento nem bom casamento, e tradicionalmente as duas grandes lnguas ibricas tm mantido uma relao de irmos, se no inimigos, pelo menos de certo modo desentendidos. No entanto, nem sempre foi assim. O espanhol de Cervantes e o portugus de Cames pareciam-se mais, em termos fonolgicos, estruturais e lexicais, do que as verses actuais das duas lnguas. No canto VII de Os Lusadas, quando a expedio de Vasco da Gama chega costa da ndia do Sul, os heris lusitanos encontram-se com um mouro expatriado, que lhes serve de intrprete com o rei local, comunicando com eles no em portugus mas, ironicamente, em espanhol, na lngua de Castela. Foi em Lisboa que se imprimiu uma das primeiras edies do Dom Quixote, e mais tarde, no Palcio de Queluz, foi o Prncipe de Alcntara, D. Pedro I do Brasil e D. Pedro IV de Portugal, que nasceu e tambm morreu numa sala decorada, como se pode ver ainda hoje, com cenas do famoso livro de Cervantes. Apesar dessas ligaes passadas, at recentemente, num Portugal que ainda se lembrava amargamente dos 60 anos do domnio filipino e se via a si mesmo como surrounded by Spain and sea, reduzidssimas eram as pessoas, para alm das zonas fronteirias e de algum especialista universitrio, que quisessem aprender correctamente a lngua do pas vizinho. Hoje em dia, os ventos que sopram de Espanha j devem ser diferentes, pois recomea a haver um certo casamento cultural entre os dois pases ibricos, pelo menos no sentido de Espanha para Portugal. H universidades portuguesas cujas Faculdades de Letras j recrutam mais alunos para o castelhano do que para o alemo, situao totalmente impensvel h duas dcadas (o Brasil tambm

    (1) Unidade de Lngua Inglesa.

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    tem experimentado um grande acrscimo na aprendizagem do espanhol, aparecendo ao mesmo tempo em terras da Amrica do Sul uma curiosa hibridao que j se baptizou portunhol). A tendncia tambm no forosamente num s sentido, j que o escritor portugus mais conhecido dos nossos dias, o Prmio Nobel Jos Saramago cujo romance A Jangada de Pedra j esboou com ironia as feies de uma iberidade partilhada , residente nas Canrias e considerado pela comunidade intelectual do seu pas adoptivo como praticamente uno de los nuestros. Com a maior aproximao que se est a produzir entre Portugal e Espanha no sculo XXI, talvez estejamos a voltar condio de maior permeabilidade mtua que caracterizava as duas culturas na poca renascentista. Contudo, o facto de existir mais dilogo entre as duas lnguas no significa, evidentemente, que qualquer dia v haver fuso entre elas. So duas grandes lnguas mundiais que tm cada uma a sua dinmica e as suas formas de estruturar o mundo. Neste sentido, e levando em conta o maior interesse agora existente em Portugal pelo idioma do vizinho, proponho, neste breve artigo, explorar algumas das reas lingusticas nas quais existem diferenas marcadas entre as duas lnguas (limitando-me, no entanto, ao uso normativo-nacional e sem ter em conta as variaes regionais). I As formas pronominais e nominais de tratamento e os graus de formalidade Comecemos por um assunto que conjuga as estruturas gramaticais com os aspectos sociolingusticos, isto , a utilizao dos pronomes da segunda pessoa, tanto no singular como no plural e encarados do ponto de vista do grau de formalidade do intercmbio. Aqui, impem-se desde j duas precises importantes. Primeiro, h variaes significativas, para ambas lnguas, entre a prtica europeia e a ibero-americana; segundo, e pelo menos no que diz respeito s variantes europeias, o espanhol costuma ser muito menos formal do que o portugus. Em linhas gerais, o espanhol pratica, no singular, uma simples dicotomia entre o t informal e o usted formal (se bem que na Argentina e nalguns pases centro-americanos o t substitudo pelo vos, pronome arcaizante e desconhecido no resto do mundo hispano, do qual dependem morfologias verbais especiais, como em vos sabs em vez de t sabes). No plural, se no castelhano peninsular normativo se faz a distino entre vosotros/vosotras (informal) e ustedes (formal), na Amrica hispnica h uma s opo, o muito democrtico e polivalente ustedes. No h, praticamente, outras opes, se no for em casos de extrema formalidade, como sejam Vuestra excelencia, Vuestra alteza, etc. (recorde-se aqui que o usted tem as suas origens na frmula corts Vuestra merced). Do ponto de vista da grafia, recordemos que usted y ustedes se escrevem frequentemente nas formas abreviadas Vd. e Vds. Tambm til salientar, no domnio sociolingustico, que em Espanha o tratamento por t (el tuteo) moeda corrente e que, sobretudo entre as pessoas de menos de 50 anos, normal os colegas de trabalho ou os membros de uma mesma profisso tratarem-se entre eles por t, constituindo-se assim um paradigma de informalidade que muito diferente, por exemplo, da prtica em Frana, onde o vous formal continua a imperar fora do mbito familiar ou da amizade ntima. O panorama do portugus , nesse aspecto, bem mais complicado. No Brasil, tudo mais simples, pois prevalece o voc (seguido de um verbo na terceira pessoa), com o seu plural vocs, sendo raro o tu. Em Portugal, por outro lado, a regra a complexidade. Se na segunda pessoa do singular apenas existe o tu, h toda uma gama de frmulas no registo menos informal. O vs, equivalente directo do vosotros/vosotras espanhol, j caiu em desuso (excepto em determinados contextos religiosos ou de extrema formalidade), acompanhado pelas formas correspondentes da segunda pessoa do plural (como vs falardes em vez de vocs falarem), assim como tambm desapareceu, na terceira pessoa do singular, o vossemec (frmula anloga a Vuestra merced e predecessora de voc). Hoje em dia em Portugal, sendo o tu reservado para o trato entre familiares e amigos, existem muitas possibilidades no plano da comunicao mais formal. Assim, se o Carlos Pinheiro estiver a falar com o Pedro Cabral, e supondo que tm um estatuto social igual mas no pretendem ter intimidade, o referido Carlos pode dirigir-se ao seu conhecido Pedro, para lhe pedir a sua opinio, de qualquer um dos seguintes modos: o que pensa?; o que pensa voc?; o que pensa o meu amigo?; o que pensa o Pedro?; o que pensa o Cabral? o que pensa o senhor? o que pensa o senhor Pedro?; o que pensa o senhor Cabral? Temos, pois, as alternativas: voc; o meu amigo; artigo + nome; artigo + apelido; o senhor; o senhor + nome;

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    o senhor + apelido. No caso de o Carlos se dirigir Maria Helena Pereira, tambm apenas conhecida dele, poderia dizer: o que pensa voc?; o que pensa a minha amiga?; o que pensa a Maria Helena?; o que pensa a senhora? ou, se ela for jovem, no casada e no muito feminista, o que pensa a menina? (a opo do apelido, assim, no se daria para uma pessoa de sexo feminino). Tambm e tratando-se de uma mulher de uma certa idade, existe a opo de dona em vez de senhora, se bem que apenas antes do nome e no do apelido: o que pensa a dona Maria? No entanto, se o Carlos estiver a conversar com uma pessoa de estatuto social superior ao dele, ou quiser manter alguma distncia em relao ao interlocutor, poder recorrer a uma frmula que abranja a profisso deste. Assim, dir: o que pensa o senhor engenheiro? o que pensa a senhora arquitecta? o que pensa o senhor doutor? o que pensa a senhora doutora? Caso se dirija a um professor ou a uma professora, quer de uma instituio de escolarizao obrigatria quer da Universidade, o mesmo Carlos, se for aluno, pode optar igualmente pelas frmulas convencionais, abreviadas, que se costumam usar no meio educativo, e, poupando-se ao esforo de dizer senhor doutor ou senhora doutora, perguntar: o que pensa o stor?; o que pensa a stora? No plural, torna-se tudo mais fcil, podendo-se escolher simplesmente entre o menos formal vocs e o mais formal os senhores (ou, se se tratar de duas mulheres, as senhoras). Acrescente-se, neste contexto e uma vez que em portugus o apelido pode fazer parte da frmula de cortesia da segunda pessoa, que existe uma diferena importante de tipo sociolingustico entre o uso dos apelidos nas duas lnguas. Se os espanhis tm correntemente dois apelidos, um vindo do pai e o outro da me (assim como na maioria dos pases hispano-americanos, se bem que os argentinos constituam uma excepo importante na medida em que costumam ter s um), e os portugueses at mais, acontece que no espanhol o apelido mais importante (aquele que se passa aos filhos), o do pai, o primeiro dos dois, mas no portugus vem no ltimo lugar. Por outras palavras, se o sistema espanhol : paterno + materno, o portugus : materno + paterno. Assim, se o Joo Fernandes Costa, residente em Coimbra, habitualmente conhecido como Joo Costa, o seu homlogo Juan Fernndez Costa, cidado de Salamanca, reduz-se ao Juan Fernndez. Fala-se de Cervantes (Miguel Cervantes Saavedra), mas de Cames (Lus Vaz de Cames), de Salazar (Antnio de Oliveira Salazar), mas de Franco (Francisco Franco Bahamonde). Na prtica, h, no entanto, excepes no uso espanhol, sobretudo para gente famosa cujo primeiro apelido muito comum assim: Federico Garca Lorca conhecido como Lorca (ou Garca Lorca, mas nunca como Garca), Pablo Ruiz Picasso como Picasso, e at Jos Luis Rodrguez Zapatero como Zapatero. Por outro lado, nos dois pases, a mulher casada guarda os apelidos tanto do pai como da me, podendo acrescentar o apelido paterno do marido, eventualmente precedido da partcula de. II O futuro do conjuntivo: arcasmo ou moeda corrente? Um dos aspectos do sistema verbal em que o portugus de hoje difere sensivelmente do espanhol na vincada actualidade do futuro do conjuntivo. No espanhol cervantino, esta modalidade ainda fazia parte da fala corrente, encontrando-se, assim, espalhadas pelas pginas do Dom Quixote formas como que yo hubiere, que ella hablare, cuando vinieren ellos, etc.. Hoje em dia, contudo, na lngua castelhana j se tornou um fenmeno marginal, empregando-se em apenas dois contextos, ambos limitados: no registo jurdico (os cdigos, etc.) e nalgumas frases feitas, como sea quien fuere (seja quem for). De resto, j um arcasmo. Na lngua portuguesa, no obstante, trata-se ainda de uma componente usual e aceite do sistema lingustico, cujo domnio essencial para se poder falar e escrever correctamente. moeda corrente em formulaes como venha o que vier ou se Deus quiser, alm de ser obrigatrio em determinadas estruturas sintcticas, como nas oraes temporais referentes ao futuro (Quando ela chegar, aviso-te) e nas frases condicionais do chamado primeiro tipo (Se for possvel, terminarei/termino o trabalho segunda-feira). No espanhol dos nossos dias, estas formas so substitudas, consoante o caso, pelo presente do conjuntivo (Cuando ella llegue, te aviso) ou simplesmente pelo presente do indicativo (Si es posible, terminar/termino el trabajo el lunes). Podemos concluir que para a gente lusitana a temporalidade seria um assunto mais complexo e matizado do que para as pessoas de fala espanhola.

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    III O uso dos verbos ser e estar: algumas variaes Sabe-se que tanto no castelhano como no portugus existem dois verbos, em ambos os casos ser e estar, que significam aspectos diferentes daquilo que noutras lnguas o campo semntico de um s verbo, to be, tre ou sein. No obstante, h algumas variaes interessantes no uso respectivo do ser e estar espanhol e portugus. Em primeiro lugar, no idntica a distino no que diz respeito localizao geogrfica. Assim, um espanhol dir el pueblo de Seplveda est cerca de Segovia, mas um portugus, Abrantes perto de Santarm; e se em Espanha se diz la estacin est muy lejos, o equivalente dizer portugus a estao muito longe. Curiosas, sem dvida, so as variaes relativas a uma condio humana to fundamental como o o casamento. Pelo menos num registo corrente, se um portugus afirma: sou casado, uma espanhola dir: estoy casada. Em termos gerais costuma-se dizer, para as duas lnguas, que ser utilizado para definir um estado permanente e estar define uma condio temporria: se neste exemplo o conceito portugus difere do espanhol no tocante indissolubilidade do matrimnio, isto seria sem dvida um assunto mais para um filsofo ou um socilogo do que para um linguista enquanto tal. De todas as maneiras, o autor deste texto espera ter demonstrado que a tendncia actual para a aproximao das duas lnguas irms ainda est muito longe de eliminar as marcadas diferenas entre elas, essas variaes profundas que so o reflexo de duas maneiras diferentes de estar no mundo atravs da linguagem. No entanto, ser que algum dia os portugueses concluiro que do pas vizinho vem, afinal, bom vento e at bom casamento?

    [email protected]

    IATE: que futuro?

    Antnio Mendes da Costa Conselho da Unio Europeia

    Introduo No ltimo nmero de a folha (n. 25 nmero especial) dois artigos(1) procuraram fazer o retrato do novo banco de terminologia das instituies europeias IATE. Da leitura de um desses artigos IATE: nem tudo so rosas fica uma pergunta no ar: como ir evoluir esta base que se apresenta como uma ferramenta fundamental no apoio redaco multilingue dos textos comunitrios, em particular dos textos legislativos? O futuro do IATE naturalmente ditado por mltiplos factores e esses factores no funcionam isoladamente. No entanto possvel, no meu entender, identificar alguns factos, situaes, ideias e intenes que poderemos considerar determinantes na evoluo futura da base. O primeiro elemento a ter em conta a histria ou mais precisamente o resultado dessa histria. O que de facto o IATE? Para sabermos por onde vai importante sabermos donde vem. Mas um caminho marcado por objectivos e por estratgias para alcanar esses objectivos; quem define uns e outros? Que concepo tm os decisores do que deve ser uma base de dados de terminologia? H depois os meios, os recursos, os actores; quem so esses actores? Qual o papel dos terminlogos?

    (1) Paulo Correia IATE: terminologia interactiva para a Europa; Manuel Leal IATE: nem tudo so rosas. http://ec.europa.eu/translation/portuguese/magazine/documents/folha25_pt.pdf

    mailto:[email protected]://ec.europa.eu/translation/portuguese/magazine/documents/folha25_pt.pdfhttp://ec.europa.eu/translation/portuguese/magazine/documents/folha25_pt.pdf

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    So estes pontos e estas questes que procurarei sucintamente passar em revista terminando por um apontamento sobre o lugar da lngua portuguesa neste cenrio e um palpite sobre o que o IATE pode ou poderia ser e o que provavelmente vir a ser no curto e mdio prazo. Quem torto nasce Comeando pelo prprio nome damo-nos conta de que IATE no um acrnimo comum. Utilizando um neologismo ingls, IATE um backronym, ou seja, numa das acepes deste neologismo, um acrnimo que mudou de casaca. IATE, que agora Inter-Active Terminology for Europe, comeou por ser Inter-Agency Terminology Exchange pois assim o baptizou o CdT (Centro de Traduo) no seu projecto lanado em 1999 com o objectivo de criar uma infra-estrutura de informao terminolgica que pudesse servir as necessidades das Agncias da Unio, seus clientes. Ora acontece que desde 1995 se desenvolviam diligncias e trabalhos concretos para a criao de uma base interinstitucional, cuja necessidade h muito se fazia sentir, e o projecto foi rapidamente recuperado e transformado. A iniciativa do CdT foi polmica mas teve o mrito de quebrar a morosidade de uma cooperao interinstitucional que no tinha apenas apoiantes incondicionais e entusiastas. Mas teve igualmente os seus custos. A urgncia passou a ser a palavra de ordem e neste quadro a tese, j de si minoritria, de manter o legado constitudo pelas bases das instituies participantes num limbo, de consulta fcil e nica, e partir de uma base virgem, no teve qualquer hiptese de vingar. No entanto, alimentar a nova base, segundo critrios rigorosos, a partir da reviso sistemtica das antigas bases e do trabalho desenvolvido quotidianamente pelos servios de terminologia das diferentes instituies, parecia ser a forma mais segura de se ir construindo um verdadeiro banco de terminologia. Este quadro de urgncia permitiu mesmo assim aos diferentes grupos de trabalho definir uma base com caractersticas interessantes e boas potencialidades. Tecnicamente, satisfaz as exigncias de uma grande base de dados, fivel e rpida. A interactividade, que caracterizava apenas uma das bases anteriores (TIS), permite-lhe funcionar com a flexibilidade exigida por uma base dinmica e descentralizada. A arquitectura, apesar de alguma complexidade dispensvel, fruto do compromisso entre vises e sensibilidades muito diversas, de opes discutveis, como a escolha do Eurovoc como sistema de classificao de matrias, e de certas lacunas que tardam a ser corrigidas(2), uma arquitectura que permite um tratamento terminogrfico adequado da informao. Se h problemas, e claro que os h, e graves, eles concernem fundamentalmente os contedos e a gesto. Big is beautiful Muitas vezes a primeira ideia que se faz passar quando se apresenta o IATE a ideia de grandeza: uma base de dados multilingue sem paralelo, com no sei quantos milhes de fichas e de termos e no sei quantas dezenas de lnguas. Sente-se um certo culto da quantidade que condiciona toda a percepo presente e futura da base e impede de ver que esse gigantismo mais um defeito que uma qualidade. Em primeiro lugar o IATE no um verdadeiro banco de terminologia. Como podemos classific-lo como tal quando uma grande maioria dos termos nem sequer so definidos? E esses termos sero mesmo termos? E das definies, tiradas daqui e dacol (as definies originais so uma minoria), quantas tm a qualidade mnima exigida e asseguram a coerncia interna de cada ficha? Mais grave que o problema da multiplicao de fichas para a mesma noo (agravado e no provocado pela fuso das bases anteriores pois ele j existia no interior de cada uma destas bases e em particular do Eurodicautom) e que normalmente referido como o grande problema, se no o nico, este baixo nvel de pertinncia terminolgica. Sem definio e identificao clara dos conceitos torna-se praticamente impossvel garantir a coerncia interna de uma ficha multilingue e o utilizador no poder fazer uma avaliao crtica da adequao do termo noo que supostamente deve nomear.

    (2) Uma dessas lacunas a falta de um campo dedicado, em cada lngua, para a indicao clara das datas de criao e actualizao das fichas.

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    Conjugada esta falta de pertinncia terminolgica(3) com os graves problemas de fiabilidade, as numerosas duplicaes cuja deteco, pela prpria estrutura multilingue dos dados e a falta de indicadores nocionais claros, extremamente complexa e lenta, chegamos a um retrato pouco lisonjeiro do IATE. Mas um retrato realista e reconhec-lo a nica forma de fundar polticas correctas, sendo embora evidente que tal reconhecimento torna a tomada de decises mais complicada. muito mais cmodo ouvir e repetir o discurso do milho e meio de fichas e dos oito ou nove milhes de termos do que aceitar a ideia de que desses milhes apenas uma pequena percentagem (chegar aos 20%?) satisfaz as exigncias mnimas de pertinncia e de fiabilidade. Estes 20% encerram muito trabalho de qualidade mas, problema suplementar, um trabalho que se perde e descredibiliza no meio de toda esta massa. Omelete sem ovos O problema do IATE antes de tudo um problema de concepo do trabalho terminolgico nas instituies europeias, que constituem um universo muito heterogneo, com dimenses, necessidades, polticas e recursos muito diferentes. Neste quadro, o que se vier a passar nas chamadas grandes instituies ser determinante para o futuro da base. Ora, nestas ltimas, aps algumas tentativas de desenvolver servios capazes de tratar terminologicamente a informao, de analisar, investigar, criticar, escolher, organizar, em suma, de produzir terminologia, encaminhamo-nos de novo para a ideia de recolher (bem?) ou comprar (bem?) terminologia. Na melhor das hipteses encaminhamo-nos para a documentao terminolgica. Esquecendo que a actividade terminolgica fundamentalmente um trabalho de definio de conceitos, confunde-se sistematicamente palavras e listas de palavras com termos e parte-se do princpio que a terminologia j existe, j existe na sua forma acabada, e est algures: s ir busc-la. neste paradigma que se insere uma grande parte do IATE e segundo este paradigma que se pretende que todo ele funcione. E como poderia ele funcionar de outra maneira se para tal no existem recursos? Como fazer terminologia sem terminlogos? Das instituies participantes no projecto IATE apenas a Comisso e o Conselho dispem de servios de terminologia especficos e com alguma dimenso. Mas os recursos humanos destes servios so escassos e pouco profissionalizados e a reorganizao em curso dos servios de traduo, em que esto inseridos, aponta mais para o seu desmantelamento progressivo do que para o seu reforo. A necessidade de rever e consolidar a base reconhecida unanimemente mas todos aqueles que trabalham no terreno sabem que os meios que lhe so consagrados, e que absorvem j a maioria dos recursos disponveis, so manifestamente insuficientes face s tarefas a realizar. Durante trinta ou quarenta anos foi-se acumulando o lixo. Para nos livrarmos dele ser preciso outro tanto tempo, e na condio de mudar radicalmente as prticas de alimentao e de investir de forma consequente na limpeza e reviso. Se no se fizer uma coisa nem outra que resultado se pode esperar? deriva? A evoluo do modelo de gesto do IATE uma incgnita. Uma base interactiva e descentralizada s pode funcionar correctamente se todos os intervenientes partilharem da mesma concepo do trabalho e seguirem uma metodologia comum. Como as diferenas nas prticas e nas abordagens so patentes, foi elaborado um Cdigo de Boas Prticas que foi aprovado por todas as instituies participantes em Abril de 2005. O Cdigo constitui um documento fundamental para a referida comunho metodolgica mas tem-se mostrado insuficiente para eliminar as divergncias, at porque muitas vezes mal interpretado e outras pura e simplesmente ignorado.

    (3) No falo aqui da pertinncia de muitos dos termos em relao aos objectivos de uma base comunitria que, apesar de ser igualmente um problema, muito menos grave, nem to-pouco de eventuais problemas jurdicos e ticos ligados propriedade intelectual, que se situam a um outro nvel de anlise.

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    Para completar esta ferramenta, que poderemos chamar de autogesto, foram criadas estruturas permanentes de coordenao entretanto substitudas ou transformadas em instncias definidas por objectivos, os chamados projectos. No entanto as dvidas sobre a transparncia do novo modelo e sobre a possibilidade de assegurar uma adequada gesto dos contedos sem recurso a estruturas estveis no cessam de crescer. Para o trabalho de reviso, limpeza e consolidao, no existem mecanismos adequados que facilitem o trabalho cooperativo, o que significa que o carcter interinstitucional muitas vezes sinal de bloqueio ou de desperdcio de recursos. Neste contexto, comeam a surgir tendncias centrfugas, reforadas pela ausncia de um ncleo comum e evolutivo, que levam a que cada instituio seja tentada a centrar-se na sua base histrica como forma de ultrapassar estas dificuldades. No penso que o IATE possa funcionar plenamente como uma base interinstitucional de terminologia sem a criao de uma estrutura permanente de gesto, uma maior integrao dos servios e o respeito integral e rigoroso do Cdigo de Boas Prticas. Ptria e lngua No quadro atrs descrito a situao do portugus no muito diferente da das outras lnguas antigas do IATE, sofrendo assim dos mesmos males em termos de pertinncia e fiabilidade. No entanto, e pese embora a qualidade deficiente de parte do acervo, incluindo parte importante da terminologia produzida em Portugal no mbito de contratos com o Eurodicautom, h que referir dois pontos positivos: proporcionalmente, h menos lixo do que no conjunto da base e, sobretudo, as fichas pt so seguramente das que incorporam mais trabalho terminolgico, expresso, nomeadamente, por uma percentagem de definies originais claramente superior generalidade das outras lnguas. Mesmo considerando todas as limitaes, o IATE-PT, com mais de 500.000 termos (indicador muito relativo mas que define um quadro de referncia), constitui a mais importante base de dados terminolgicos disponvel para o portugus, com muita informao de qualidade, que merece ser mais conhecida e apoiada. O futuro desta base est logicamente condicionado pela evoluo do IATE no seu conjunto mas, seja qual for o cenrio, esse futuro levanta desafios que pedem respostas. Desses desafios, que interpelam diferentes actores, gostaria de destacar o desafio da cooperao interinstitucional, o da disseminao e o da politizao.

    Cooperao interinstitucional Os elementos activos no campo da terminologia portuguesa nas instituies comunitrias cedo se aperceberam da necessidade e da importncia da cooperao para tratar e resolver problemas comuns. Em 1998, e dando sequncia s aces informais que, sobretudo entre a Comisso e o Conselho, esboavam j uma pequena rede de cooperao, foi criado o GITP (Grupo Interinstitucional de Terminologia Portuguesa). Depois de um perodo inicial particularmente activo, o voluntarismo foi vencido por um quadro estrutural pouco favorvel e o Grupo entrou numa espcie de letargia. O IATE, alm de uma oportunidade, constitui a ferramenta ideal para assentar a cooperao em bases sustentveis e a dinamizao j anunciada com a reactivao do GITP-Bruxelas (Comisso, Conselho , CES/CdR) deveria reconduzir-nos ao figurino original e alargado do Grupo.

    Disseminao O IATE tem uma verso interna que utilizada principalmente por tradutores mas que deveria ser uma ferramenta familiar para todos os que participam na preparao, discusso e redaco dos textos comunitrios, e em particular da legislao: redactores, juristas, tcnicos e especialistas nacionais, etc.. A verso externa, acessvel na Internet desde Maro de 2007(4), est aberta a um pblico alargado e oferece a possibilidade de qualquer utilizador fazer os seus comentrios ou sugestes atravs do correio electrnico (endereo directamente utilizvel a partir de qualquer ecr de visualizao).

    (4) http://iate.europa.eu.

    http://iate.europa.eu/http://iate.europa.eu/

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    Estes dois pblicos podero desempenhar um papel muito importante no processo de disseminao e de aceitao social da terminologia e na reviso, actualizao e aperfeioamento da base. A sua colaborao ser tanto mais preciosa quanto maior for o seu eventual empenhamento na crtica e na discusso das solues propostas.

    Politizao Politizar o IATE introduzi-lo na esfera do poder poltico. Dizer que Portugal no tem uma poltica da lngua um lugar-comum que no deixa de exprimir uma verdade uma poltica coerente e plena que no se fique pelos discursos e pelas declaraes solenes e contemple a terminologia no papel fundamental que desempenha na comunicao, no desenvolvimento do saber e na difuso da informao. Mas uma poltica pode construir-se a partir da base. O IATE-PT, como catalisador da produo de terminologia em portugus, pode ser um instrumento dessa poltica e deve merecer a ateno de quem ocupa o poder. O IATE existe para apoiar a redaco multilingue dos textos comunitrios, ou seja, para apoiar uma comunicao clara e precisa com os cidados na sua prpria lngua. A defesa do portugus, neste quadro, a defesa de um interesse particular que vai de par com a defesa do interesse geral que aqui o multilinguismo. Mas defender o multilinguismo no , simplesmente, reafirmar os princpios do Regulamento n. 1, de 1958(5), agir para que ele se torne realmente efectivo. Duas instituies tm particular responsabilidade nesta matria: o Parlamento Europeu e o Conselho da Unio Europeia. H entre os deputados europeus figuras pblicas no domnio da lngua e quem se mostre particularmente atento (nomeadamente atravs de perguntas parlamentares) qualidade dos textos e da terminologia. Esto eles sensibilizados para o papel do IATE e, por extenso, dos servios de terminologia e de traduo, na defesa do portugus e do multilinguismo? E consideram os representantes portugueses nas diversas instncias do Conselho, nomeadamente no Comit Oramental, que tambm ou sobretudo a esse nvel que se faz a defesa da lngua? Concluso: o possvel e o previsvel Quando h vinte, trinta, quarenta anos se foram criando as bases de dados em que assenta o IATE actual, no existiam as possibilidades de hoje no que diz respeito disponibilizao electrnica da informao (grandes bases textuais, memrias de traduo, Internet, etc.). Isso explica a verdadeira utilidade que lhes era atribuda e explica tambm, embora talvez o no justifique, a aceitabilidade de certas prticas de alimentao. Actualmente, em que a facilidade de acesso s mais variadas fontes de informao no deixa de aumentar, uma base de terminologia bruta deixou de ter qualquer interesse. A utilidade e a mais-valia do IATE futuro s pode vir de uma terminologia elaborada e original. E uma base destas possvel. possvel se tal for definido muito claramente como objectivo e se forem disponibilizados os meios necessrios para alcanar esse objectivo. Mas, aparentemente simples, a questo no o realmente porque tudo isto implica profundas alteraes na prpria concepo do trabalho terminolgico nas instituies comunitrias e mesmo na concepo do trabalho de traduo (que no deveria ser visto como uma operao tcnica autnoma e segregada do processo intelectual de produo de documentos e deveria conceber-se como um componente bem integrado da redaco multilingue). O futuro do IATE est assim intimamente ligado ao futuro e evoluo dos servios de terminologia das instituies. Se estes se mantiverem (ou forem criados), se reforarem e se profissionalizarem, o IATE poder transformar-se, a prazo, numa verdadeira base de terminologia, adaptada s necessidades e verdadeiramente til a um vasto mundo de utilizadores externos. Mas esta a grande interrogao: iro esses servios manter-se, reforar-se e profissionalizar-se? Nada menos seguro!

    [email protected]

    (5) Regulamento n. 1 (CEE e CECA) de 15.04.1958, que estabelece o regime lingustico. Verso consolidada: http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/site/pt/consleg/1958/R/01958R0001-20070101-pt.pdf.

    mailto:[email protected]://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/site/pt/consleg/1958/R/01958R0001-20070101-pt.pdfhttp://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/site/pt/consleg/1958/R/01958R0001-20070101-pt.pdf

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    A digitao dos caracteres chineses

    (Simon - Tang Chi Choi)(1) Regio Administrativa Especial de Macau da RPC

    Na China, at 1949, usava-se apenas os caracteres chineses tradicionais. Contudo com a implantao da Nova China, ou seja, da Repblica Popular da China, os caracteres chineses sofreram grandes alteraes no sentido de uma simplificao. Para o efeito, foi criada uma Comisso de Reforma da Escrita Chinesa com o objectivo simplificar e uniformizar os caracteres, bem como promover a sua utilizao(2). Devido a razes histricas, Taiwan, Macau e Hong Kong continuaram a usar os caracteres chineses tradicionais. Porm, os ltimos dois podero vir a abandonar o uso dos caracteres chineses tradicionais no final dos 50 anos de entrada em vigor das respectivas Leis Bsicas. Para a escrita do chins no computador, ou seja, para a digitao dos milhares de caracteres chineses, a Repblica Popular da China e Taiwan desenvolveram formas diferentes e formas idnticas. Referem-se de seguida trs dos mtodos mais comuns:

    zhuyin fuhao pinyin cangjie

    Mtodos baseados na pronncia Quer a Repblica Popular da China quer Taiwan adoptaram formas de escrita fontica das slabas, como por exemplo: bo, po, mo, fo, etc., tal como no portugus, mas usando smbolos diferentes. Assim, em Taiwan utilizam-se os smbolos fonticos, , , , , etc. (o zhuyin fuhao)(3), enquanto na Repblica Popular da China se utiliza o alfabeto latino, com b, p, m, f, etc. (o pinyin)(4). Quando se conhece o chins, usar a escrita fontica muito fcil. Porm, quando se encontra uma palavra (ou seja um carcter) que nunca se aprendeu, ento no se pode escrev-la foneticamente, sendo a nica soluo consultar o dicionrio para saber a pronncia. um dos defeitos da escrita fontica como mtodo de digitao dos caracteres chineses. Alm disso, h em chins muitas palavras homfonas. Quando se usa a escrita fontica, tem que se escolher de entre a lista de caracteres propostos aquele que se pretende. Em concluso, a escrita fontica uma forma de digitao que segue a pronncia do chins padro. Mtodos baseados na estrutura dos caracteres Por outro lado, em Taiwan, h ainda mltiplas formas de escrever o chins no computador com base na estrutura dos caracteres. Porm basta aprender uma s forma para no as confundir.

    (1) Tradutor. (2) Ver tambm: http://pt.wikipedia.org/wiki/Caracteres_chineses. (3) O zhuyin fuhao (, zhyn fho), tambm chamado bopomofo o nome dado a um alfabeto chins (cdigo ISO 15924), criado para transcrever o mandarim (ver tambm: http://pt.wikipedia.org/wiki/Bopomofo). (4) O pinyin (, pnyn) o sistema de romanizao usado oficialmente na Repblica Popular da China para transcrever, no alfabeto latino, o dialecto mandarim padro da lngua chinesa (ver tambm: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pinyin).

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Caracteres_chineseshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Bopomofohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Pinyinhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Pinyin

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    Uma mais antiga o cangjie(5), que foi inventado, em 1976, por um taiwans nascido na China continental chamado Chu Bong-Foo, ou Chu Banfu em pinyin. Segundo a tradio foi Cangjie, figura lendria, quem criou a escrita chinesa. O invento decompe geometricamente, ou descodifica, o carcter em rasgos, isto em elementos bsicos(6), e engloba-os em 26 teclas (a cada rasgo corresponde uma letra do alfabeto latino). A cada tecla podem corresponder vrios rasgos, sendo preciso memorizar todos, caso contrrio no se pode escrever chins no computador. Esta forma de digitao relativamente difcil mesmo para os prprios chineses. Em concluso, o cangjie uma forma de digitao a partir dos rasgos, ou seja, da prpria estrutura da escrita do chins. Base de caracteres chineses, software e teclados Para escrever os caracteres chineses no computador, alm de se instalar o mtodo de digitao, h ainda que instalar uma base de caracteres chineses. A mesma comporta geralmente 13.865 caracteres mais usados. Contudo, o nmero total dos caracteres chineses pode ser superior a 50 mil ou at 90 mil de acordo com os diferentes dicionrios e regionalismos. Sem a base, no se tem acesso aos caracteres, e se um determinado carcter no existir na base tambm no aparece nada (pode verificar-se esta situao quando se pretende escrever caracteres muito pouco usados no dia-a-dia, tais como termos qumicos, gentlicos, etc.). Esta situao no se assemelha de outras lnguas, como o portugus, ou o ingls, em que se pode escrever, ou inventar, palavras que no se encontram no dicionrio. A Repblica Popular da China e Taiwan desenvolvem o software, respectivamente, em caracteres simplificados e tradicionais. Porm, o pinyin chins e o cangjei de Taiwan so actualmente compatveis. Pode instalar-se o pinyin no software de Taiwan de caracteres tradicionais e vice-versa, sem problema. Por fim, o teclado chins igual ao QWERTY ingls, s que nas teclas, aparecem tambm caracteres ou smbolos. Na Wikipdia podem ser encontradas informaes complementares em:

    http://en.wikipedia.org/wiki/Chinese_input_methods_for_computers

    [email protected]

    Teclado zhuyin fuhao

    (5) Ver tambm: http://en.wikipedia.org/wiki/Cangjie_method. (6) No confundir com os radicais tradicionais Kangxi (em nmero de 214) utilizados, por exemplo, para a indexao das entradas nos dicionrios chineses.

    http://en.wikipedia.org/wiki/Chinese_input_methods_for_computersmailto:[email protected]://en.wikipedia.org/wiki/Cangjie_method

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    Teclado cangjie

    Elementos qumicos lista multilingue

    Lus Costa, Ana Garrido, Paulo Correia Direco-Geral da Traduo Comisso Europeia

    [Com a colaborao de Tang Chi Choi, tradutor] Um recente alerta da Organizao Mundial de Sade para a presena de nveis elevados de arsenic in drinking water apareceu referido em muita comunicao social portuguesa como um problema de contaminao da gua potvel pelo arsnico em vez de contaminao pelo arsnio. Alm do arsnio, tambm, por exemplo, o flor, o silcio, o cloro, o bromo, o iodo ou o astato so frequentemente traduzidos por falsos cognatos ingls-portugus(1). Igualmente preocupante o facto de este tipo de erros aparecer por vezes em contedos alojados em servidores de universidades portuguesas. Curiosamente, a Wikipdia conta-se entre as fontes mais fiveis da Web em lngua portuguesa. Na Wikipdia convivem lado a lado variantes portuguesas e brasileiras correctas da totalidade dos elementos qumicos. Este panorama leva-nos a proceder republicao de uma lista multilingue dos elementos qumicos(2), correspondente ao uso recomendado na Direco-Geral da Traduo da Comisso Europeia, a qual completada com comentrios que chamam a ateno para alguns aspectos que frequentemente suscitam dvidas nas tradues. Em relao anterior edio da lista, com as designaes em portugus, ingls, francs, alemo e espanhol, acrescentaram-se:

    as variantes em portugus do Brasil(3); os termos em chins (caracteres simplificados e clssicos); o nmero das fichas IATE onde podero encontrar-se as designaes dos elementos qumicos

    nas 23 lnguas oficiais da Unio Europeia. Na parte 1 da lista so indicados os smbolos qumicos e designaes dos elementos qumicos com nmero atmico at 111. Para os elementos de nmero atmico entre 104 e 111, que receberam

    (1) De salientar que uma breve pesquisa revelou no haver praticamente qualquer contaminao das memrias de traduo da Comisso Europeia pelo arsnico, cromo ou bromina, havendo uma pequena contaminao residual pelo silicone e uma contaminao grave pela astatina (problema entretanto resolvido!). (2) Anteriormente publicada, em 1994, no n. 6 de a folha. (3) Se se exclurem as diferenas resultantes da pronncia, apenas varia a designao usual dos gases nobres (nenio, argnio, criptnio, xennio, radnio) e do azoto (nitrognio) cf. Wikipdia.

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    entretanto designaes oficiais da IUPAC(4), a lista foi actualizada tendo em conta as propostas da comisso conjunta luso-brasileira para a nomenclatura dos elementos qumicos, publicadas pela Sociedade Portuguesa de Qumica (SPQ)(5). Na parte 2 so apresentadas as designaes provisrias dos elementos de nmero atmico entre 112 e 118.

    [email protected] [email protected]

    [email protected]

    Lista ordenada por nmero atmico Parte 1 Smbolos qumicos e designaes

    pt en fr de es zh IATE

    1 H hidrognio(6) /

    hidrognio hydrogen hydrogne Wasserstoff hidrgeno / 1104609

    2 He hlio helium hlium Helium helio 1104610

    3 Li ltio lithium lithium Lithium litio / 1104611

    4 Be berlio beryllium bryllium Beryllium berilio / 1350430

    5 B boro boron bore Bor boro 1552300

    6 C carbono carbon carbone Kohlenstoff carbono 1104612

    7 N azoto(7) /

    nitrognio nitrogen azote Stickstoff nitrgeno 1104613

    8 O oxignio / oxignio oxygen oxygne Sauerstoff oxgeno 1104614

    9 F flor(8) fluorine fluor Fluor flor 1104615

    10 Ne non(9) / nenio neon non Neon nen 1411342

    11 Na sdio sodium sodium Natrium sodio / 1104616

    12 Mg magnsio magnesium magnsium Magnesium magnesio / 1104617

    13 Al alumnio aluminium aluminium Aluminium aluminio / 953291

    14 Si silcio(10) silicon silicium Silicium silicio 1083691

    15 P fsforo phosphorus phosphore Phosphor fsforo 1555038

    16 S enxofre sulfur soufre Schwefel azufre 1104618

    17 Cl cloro(11) chlorine chlore Chlor cloro 1104619

    18 Ar rgon(12) /

    argnio argon argon Argon argn / 1104620

    19 K potssio potassium potassium Kalium potasio / 1104621

    (4) Cf. http://www.iupac.org/reports/periodic_table/IUPAC_Periodic_Table-22Jun07b.pdf IUPAC, Periodic Table of the Elements, verso de 22 de Junho de 2007. (5) Cf. http://www.spq.pt/docs/NomesSimbolos_Elementos.pdf SPQ, Nomes, smbolos e nmeros atmicos dos elementos. (6) O elemento hidrognio possui trs istopos: o mais comum, o prtio (cujo ncleo atmico constitudo por um proto), o deutrio (cujo ncleo atmico constitudo por um proto e um neutro) e o trtio (cujo ncleo atmico constitudo por um proto e dois neutres). Os dois ltimos so radioactivos. (7) Sinnimo: nitrognio (SPQ); azoto ou nitrognio como raiz das palavras derivadas nitroso, ntrico, nitrato, nitrogenado ou azotado. (8) Falso cognato: fluorine flor (elemento dito halogneo) e no fluorina (sinnimo de fluorite, sal dito halogeneto. Fluoride fluoreto (sal dito halogeneto). (9) Variante: nenio. (10) Falso cognato: silicon silcio e no silicone, que a designao geral de uma famlia de compostos polimricos de silcio. (11) Falso cognato: chlorine cloro (elemento dito halogneo). Chloride cloreto (sal dito halogeneto). (12) Variantes: argnio ou argo.

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]://www.iupac.org/reports/periodic_table/IUPAC_Periodic_Table-22Jun07b.pdfhttp://www.spq.pt/docs/NomesSimbolos_Elementos.pdf

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    pt en fr de es zh IATE 20 Ca clcio calcium calcium Calcium calcio / 1104622

    21 Sc escndio scandium scandium Scandium escandio / 1104623

    22 Ti titnio titanium titane Titan titanio / 1104624

    23 V vandio vanadium vanadium Vanadium vanadio / 1104625

    24 Cr crmio(13) /

    crmio chromium chrome Chrom cromo / 1104626

    25 Mn mangans(14) manganese manganse Mangan manganeso / 1104627

    26 Fe ferro iron fer Eisen hierro / 1104628

    27 Co cobalto cobalt cobalt Kobalt cobalto / 1104629

    28 Ni nquel nickel nickel Nickel nquel / 1104630

    29 Cu cobre copper cuivre Kupfer cobre / 1552743

    30 Zn zinco zinc zinc Zink cinc / 1104631

    31 Ga glio gallium gallium Gallium galio / 1104632

    32 Ge germnio germanium germanium Germanium germanio / 1553795

    33 As arsnio(15) /

    arsnio arsenic arsenic Arsen arsnico 1552113

    34 Se selnio / selnio selenium slnium Selen selenio 1104633

    35 Br bromo(16) bromine brome Brom bromo 1104634

    36 Kr crpton(17) /

    criptnio krypton krypton Krypton kriptn 1104635

    37 Rb rubdio rubidium rubidium Rubidium rubidio / 1104636

    38 Sr estrncio strontium strontium Strontium estroncio / 1104637

    39 Y trio yttrium yttrium Yttrium itrio / 1104638

    40 Zr zircnio / zircnio zirconium zirconium Zirkonium circonio / 1104639

    41 Nb nibio niobium niobium Niob niobio / 1104640

    42 Mo molibdnio / molibdnio molybdenum molybdne Molybdn molibdeno / 1411340

    43 Tc tecncio technetium techntium Technetium tecnecio / 1104641

    44 Ru rutnio / rutnio ruthenium ruthnium Ruthenium rutenio / 1104642

    45 Rh rdio rhodium rhodium Rhodium rodio / 1104643

    46 Pd paldio palladium palladium Palladium paladio / 1104644

    47 Ag prata silver argent Silber plata / 1545601

    48 Cd cdmio cadmium cadmium Cadmium cadmio / 1104645

    49 In ndio indium indium Indium indio / 1554054

    50 Sn estanho tin tain Zinn estao / 1104646

    51 Sb antimnio / antimnio antimony antimoine Antimon antimonio / 1552106

    52 Te telrio tellurium tellure Tellur telurio 1104647

    (13) Variante: cromo. (14) Variante: mangansio (pode causar confuses com magnsio). (15) Falso cognato: arsenic arsnio e no arsnico, designao imprecisa atribuda a alguns compostos de arsnio. (16) Falso cognato: bromine bromo (elemento dito halogneo) e no bromina. Bromide brometo (sal dito halogeneto). (17) Variantes: criptnio ou cripto.

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    pt en fr de es zh IATE 53 I iodo(18) iodine iode Jod yodo 1104648

    54 Xe xnon(19) /

    xennio xenon xnon Xenon xenn 1104649

    55 Cs csio caesium csium Csium cesio / 1104650

    56 Ba brio barium baryum Barium bario / 1104651

    57 La lantnio lanthanum lanthane Lanthan lantano / 1104652

    58 Ce crio cerium crium Cer cerio / 1104653

    59 Pr praseodmio praseodymium prasodyme Praesodym praseodimio / 1104654

    60 Nd neodmio neodymium nodyme Neodym neodimio / 1104655

    61 Pm promcio promethium promthium Promethium prometio / 1104656

    62 Sm samrio samarium samarium Samarium samario / 1104657

    63 Eu eurpio europium europium Europium europio / 1104658

    64 Gd gadolnio gadolinium gadolinium Gadolinium gadolinio / 1104659

    65 Tb trbio terbium terbium Terbium terbio / 1104660

    66 Dy disprsio dysprosium dysprosium Dysprosium disprosio / 1104661

    67 Ho hlmio holmium holmium Holmium holmio / 1104662

    68 Er rbio erbium erbium Erbium erbio / 1104663

    69 Tm tlio thulium thulium Thulium tulio / 1104664

    70 Yb itrbio ytterbium ytterbium Ytterbium iterbio / 1104665

    71 Lu lutcio lutetium luttium Lutetium lutecio / 1104666

    72 Hf hfnio hafnium hafnium Hafnium hafnio / 1104667

    73 Ta tntalo tantalum tantale Tantal tntalo / 1555976

    74 W tungstnio(20) /

    tungstnio tungsten tungstne Wolfram volframio / 1104668

    75 Re rnio / rnio rhenium rhnium Rhenium renio / 1104669

    76 Os smio osmium osmium Osmium osmio / 1104670

    77 Ir irdio iridium iridium Iridium iridio / 1104671

    78 Pt platina platinum platine Platin platino / 1104672

    79 Au ouro gold or Gold oro 1573190

    80 Hg mercrio mercury mercure Quecksilber mercurio 1104673

    81 Tl tlio thallium thallium Thallium talio / 1104674

    82 Pb chumbo lead plomb Blei plomo / 1104675

    83 Bi bismuto bismuth bismuth Wismut bismuto / 1104676

    84 Po polnio / polnio polonium polonium Polonium polonio / 1104677

    85 At astato(21) astatine astate Astat astato 1104678

    86 Rn rdon(22) /

    radnio radon radon Radon radn 1411354

    (18) Falso cognato: iodine iodo (elemento dito halogneo) e no iodina. Iodide iodeto (sal dito halogeneto). (19) Variantes: xennio (xennio) ou xeno. (20) Variante: volfrmio. (21) Variantes: astatnio (SPQ) ou stato. Falso cognato: astatine astato e no astatino ou astatina. (22) Variantes: radnio ou rado.

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    pt en fr de es zh IATE 87 Fr frncio francium francium Francium francio / 1104679

    88 Ra rdio radium radium Radium radio / 1104680

    89 Ac actnio actinium actinium Actinium actinio / 1104681

    90 Th trio thorium thorium Thorium torio / 1104682

    91 Pa protactnio protactinium protoactinium Protactinium protactinio / 1104683

    92 U urnio uranium uranium Uran uranio / 1104684

    93 Np neptnio neptunium neptunium Neptunium neptunio / 1104685

    94 Pu plutnio / plutnio plutonium plutonium Plutonium plutonio / 1104686

    95 Am amercio americium amricium Americium americio / 1104687

    96 Cm crio curium curium Curium curio / 1104688

    97 Bk berqulio berkelium berklium Berkelium berkelio / 1104689

    98 Cf califrnio californium californium Californium californio / 1104690

    99 Es einstnio(23) /

    einstnio einsteinium einsteinium Einsteinium einstenio / 1104691

    100 Fm frmio fermium fermium Fermium fermio / 1104692

    101 Md mendelvio mendelevium mendlvium Mendelevium mendelevio / 1104693

    102 No noblio nobelium noblium Nobelium nobelio / 1104694

    103 Lr laurncio lawrencium lawrencium Lawrencium laurencio / 1104695

    104 Rf rutherfrdio(24) rutherfordium rutherfordium Rutherfordium rutherfordio 1899395 105 Db dbnio(25) dubnium dubnium Dubnium dubnio + 1899396

    106 Sg seabrgio(26) seaborgium seaborgium Seaborgium seaborgio + 1899397

    107 Bh bhrio(27) bohrium bohrium Bohrium bohrio + 1899398

    108 Hs hssio(28) hassium hassium Hassium hassio + 1899399

    109 Mt meitenrio(29) meitnerium meitnrium Meitnerium meitnerio + 1899400

    110 Ds darmstcio(30) darmstadtium darmstadtium Darmstadtium darmstadtio 2244895

    111 Rg roentgnio(31) /

    roentgnio roentgenium roentgenium Roentgenium roentgenio 1265898

    Parte 2 Smbolos qumicos e designaes provisrias

    pt en fr de es zh IATE 112 Uub unmbio ununbium ununbium ununbium ununbio - 1265899 113 Uut unntrio ununtrium ununtrium Ununtrium ununtrio - 2244953 114 Uuq ununqudio ununquadium ununquadium Ununquadium ununquadio - 1265900 115 Uup ununpntio ununpentium ununpentium Ununpentium ununpentio - 2244958 116 Uuh unun-hxio ununhexium ununhexium Ununhexium ununhexio - 1265901 117 Uus ununsptio ununseptium ununseptium Ununseptium ununseptio - 2222720 118 Uuo ununctio ununoctium ununoctium Ununoctium ununoctio - 1899406

    (23) Variante: einstinio (IATE). (24) Derivado de Rutherford; anteriormente, unilqudio. (25) Derivado de Dubna; anteriormente, unilpntio. (26) Derivado de Seaborg; anteriormente, unil-hxio. Variante: seabrguio (IATE). (27) Derivado de Bohr; anteriormente, unilsptio. (28) Derivado de Hessen; anteriormente, unilctio. (29) Derivado de Meitner; anteriormente, unilnio / unilnio. Variante: meitnrio (IATE). (30) Derivado de Darmstadt; anteriormente, ununnlio. Variante: darmstdtio (IATE). (31) Derivado de Roentgen; anteriormente, ununnio.

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    Regies dos 27 Bulgria e Romnia

    Paulo Correia

    Direco-Geral da Traduo Comisso Europeia [Com a colaborao de Totka Kukova e Nazar Vinha, Direco-Geral da Traduo Comisso Europeia] Com o alargamento de 1 de Janeiro de 2007 torna-se necessrio completar a lista das regies dos Estados-Membros com as regies blgaras e romenas correspondentes aos trs nveis mais elevados da classificao NUTS (nomenclatura das unidades territoriais estatsticas) do Eurostat(1). Uma primeira concluso relativa aos dois novos Estados-Membros que poucas regies NUTS dispem de aportuguesamentos consagrados. Nos casos em que no h aportuguesamento, adopta-se a seguinte abordagem:

    utilizando o blgaro o alfabeto cirlico(2), chama-se a ateno para a existncia de uma transliterao para caracteres latinos de acordo com a norma ISO 9/1995 (muito pouco utilizada) e avana-se uma proposta de transcrio para o portugus, que se distingue nalguns casos da transcrio para o ingls, frequentemente confundida com a transliterao oficial(3) do blgaro;

    utilizando o romeno um alfabeto latino(4), prope-se a manuteno dos diacrticos, mesmo

    daqueles que podem ser menos familiares(5), de acordo com o critrio j adoptado na Lista das regies dos Quinze do Cdigo de Redaco Interinstitucional, por exemplo, no caso de diacrticos especficos das lnguas escandinavas(6).

    Esta lista uma proposta para o uso nas instituies europeias instituies vincadamente multilingues , no tendo qualquer carcter normativo. A lista foi apresentada ao grupo de trabalho de toponmia do Grupo Interinstitucional de Terminologia Portuguesa (GITP). Na lista, as entradas NUTS1 so assinaladas a negrito, seguidas das entradas NUTS2 e NUTS3 nelas compreendidas. As regies NUTS dos diferentes Estados-Membros sofrem regularmente alteraes. A lista actualizada das regies NUTS pode ser consultada, na(s) lngua(s) oficiais de cada pas, em: http://ec.europa.eu/eurostat/ramon/nuts/codelist_en.cfm?list=nuts

    (1) As listas correspondentes aos pases do alargamento de 1 de Maio de 2004 foram publicadas em anteriores nmeros de a folha: n. 19 (Chipre, Repblica Checa, Estnia, Hungria e Litunia e n. 20 (Letnia, Malta, Polnia, Eslovnia e Eslovquia: http://ec.europa.eu/translation/portuguese/magazine/documents/folha19_pt.pdf http://ec.europa.eu/translation/portuguese/magazine/documents/folha20_pt.pdf (2) Cf. Wikipdia, http://pt.wikipedia.org/wiki/Alfabeto_cir%C3%ADlico (3) No stio http://transliteration.mdaar.government.bg do governo blgaro, possvel obter transliteraes de caracteres latinos para cirlicos e vice-versa. Na realidade trata-se de transcries de e para o ingls e no de transliteraes. (4) Cf. Wikipdia, http://pt.wikipedia.org/wiki/Alfabeto_romeno (5) Regressar-se- num prximo nmero de a folha questo do valor dos diacrticos das diferentes lnguas dos pases dos alargamentos de 2004 e 2007 da UE. (6) http://publications.europa.eu/code/pt/pt-5000900.htm

    http://ec.europa.eu/eurostat/ramon/nuts/codelist_en.cfm?list=nutshttp://ec.europa.eu/translation/portuguese/magazine/documents/folha19_pt.pdfhttp://ec.europa.eu/translation/portuguese/magazine/documents/folha20_pt.pdfhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Alfabeto_cir%C3%ADlicohttp://transliteration.mdaar.government.bg/http://pt.wikipedia.org/wiki/Alfabeto_romenohttp://publications.europa.eu/code/pt/pt-5000900.htmhttp://publications.europa.eu/code/pt/pt-5000900.htm

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    BULGRIA (BG)

    Cdigo bg bg (transliterao ISO 9/1995)

    pt (tradues e transcries

    para portugus)

    BG3

    Severna Iztona B"lgari Bulgria do Norte e Oriental

    BG31 BG311 BG312 BG313 BG314 BG315

    :

    Severozapaden: Vidin Montana Vraca Pleven Love

    Noroeste: Vidin Montana Vratsa Pleven Lovetch(7)

    BG32 BG321 BG322 BG323 BG324 BG325

    :

    Severen centralen: Veliko T"rnovo Gabrovo Ruse Razgrad Silistra

    Norte Central: Grande Tarnovo Gabrovo Russe(8) Razgrad Silistra

    BG33 BG331 BG332 BG333 BG334

    Severoiztoen: Varna Dobri umen T"rgovie

    Nordeste: Varna Dobritch(9) Chumen(10) Targovichte(11)

    BG34 BG341 BG342 BG343 BG344

    :

    goiztoen: Burgas Sliven mbol Stara Zagora

    Sudeste: Burgas Sliven Iambol(12) Velha Zagora

    BG4

    gozapadna i na centralna B"lgari

    Bulgria do Sudoeste e do Sul Central

    BG41 BG411 BG412 BG413 BG414 BG415

    : ()

    gozapaden: Sofi (stolica) Sofi Blagoevgrad Pernik Kstendil

    Sudoeste: Sfia (capital) Sfia Blagoevgrad Pernik Kiustendil(13)

    BG42 BG421 BG422 BG423 BG424 BG425

    :

    zhen centralen: Plovdiv Haskovo Pazardik Smoln K"rdali

    Sul Central: Plovdiv Haskovo Pazardjik(14) Smolian(15) Kardjali(16)

    (7) Lovech em ingls. (8) Ruse em ingls. (9) Dobrich em ingls. (10) Shumen em ingls. (11) Targovishte em ingls. (12) Yambol em ingls. (13) Kyustendil em ingls. (14) Pazardzhik em ingls. (15) Smolyan em ingls.

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    ROMNIA (RO)

    Cdigo

    ro pt

    RO1 Macroregiunea unu Macrorregio um

    RO11 RO111 RO112 RO113 RO114 RO115 RO116

    Nord-Vest: Bihor Bistria-Nsud Cluj Maramure Satu Mare Slaj

    Noroeste: Bihor Bistria-Nsud Cluj Maramure Satu Mare Slaj

    RO12 RO121 RO122 RO123 RO124 RO125 RO126

    Centru: Alba Braov Covasna Harghita Mure Sibiu

    Centro: Alba Braov Covasna Harghita Mure Sibiu

    RO2 Macroregiunea doi Macrorregio dois

    RO21 RO211 RO212 RO213 RO214 RO215 RO216

    Nord-Est: Bacu Botoani Iai Neam Suceava Vaslui

    Nordeste: Bacu Botoani Iai Neam Suceava Vaslui

    RO22 RO221 RO222 RO223 RO224 RO225 RO226

    Sud-Est: Brila Buzu Constana Galai Tulcea Vrancea

    Sudeste: Brila Buzu Constana Galatz Tulcea Vrancea

    RO3 Macroregiunea trei Macrorregio trs

    RO31 RO311 RO312 RO313 RO314 RO315 RO316 RO317

    Sud - Muntenia: Arge Clrai Dmbovia Giurgiu Ialomia Prahova Teleorman

    Sul-Muntnia: Arge Clrai Dmbovia Giurgiu Ialomia Prahova Teleorman

    RO32 RO321 RO322

    Bucureti - Ilfov: Bucureti Ilfov

    Bucareste - Ilfov: Bucareste Ilfov

    RO4 Macroregiunea patru Macrorregio quatro

    (16) Kardzhali em ingls.

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    RO41 RO411 RO412 RO413 RO414 RO415

    Sud-Vest Oltenia: Dolj Gorj Mehedini Olt Vlcea

    Sudoeste Oltnia: Dolj Gorj Mehedini Olt Vlcea

    RO42 RO421 RO422 RO423 RO424

    Vest: Arad Cara-Severin Hunedoara Timi

    Oeste: Arad Cara-Severin Hunedoara Timi

    [email protected]

    Portugus para Estrangeiros Idiossincrasias curiosas da lngua portuguesa

    Augusto Mrias

    Parlamento Europeu Arquitectura e Expressividade (II)(1) Este ttulo no incide sobre o clich to em voga arquitectura institucional, que, afinal, dificilmente se distingue de engenharia institucional. Incide, sim, sobre um manancial, necessariamente incompleto, de expresses e vocbulos que, inspirando-se na arquitectura, conferem ao discurso a sua singular expressividade. Obra de fachada interveno na aparncia, muito superficial, num registo coloquial, remetendo para ingls ver(2). O seguinte exemplo tal como os demais retirado da Internet ilustra bem a contaminao entre a acepo literal e figurada desta expresso:

    Milhares, dezenas de milhares de famlias lisboetas vivem em casas degradadas e a necessitar de reabilitao. Ora esta foi mais uma das bandeiras da actual maioria. Aces de propaganda, alis, no faltam neste sector. Responsveis da Cmara enchem a boca com a reabilitao urbana. Mas a realidade bem mais dura. As reabilitaes so s de fachada: atrs das telas no h reabilitao, mas sim operaes de propaganda. Que dizer de uma chamada reabilitao urbana que deixa as casas por dentro tal e qual, inabitveis, mas pinta as fachadas? Assim fcil apresentar nmeros, mas atrs de muitos dos panos e telas que dizem Aqui vamos restaurar, no h mesmo nada. de facto s fachada.

    Vem aqui a propsito referir que a base de dados interinstitucional Euramis regista os termos sociedades/empresas de fachada (en: brass plate firms/companies) e sociedade de fachada (en: front company).

    (1) Continuao do artigo do n. 24 desta publicao: http://ec.europa.eu/translation/portuguese/magazine/documents/folha24_pt.pdf. (2) Em francs fala-se, numa acepo que prxima, em opration de fassade; it: operazione de facciata.

    mailto:[email protected]://ec.europa.eu/translation/bulletins/folha/folha24.pdf

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    Mamarracho construo de propores grandes e desagradveis(3):

    Todos os habitantes pensavam que junto lendria fonte das trs bicas ficaria um jardim, o que se passou porm que vemos com enorme surpresa crescer mais um mamarracho que tapa toda a vista a tudo e a todos.

    Esta construo desenquadra-se por conseguinte do seu meio arquitectnico e paisagstico:

    O nico crime urbanstico constitui o Hotel Navigator (sic!), um mamarracho de beto plantado no ponto mais alto de Sagres, mesmo ao lado da Pousada do Infante. Outra brutalidade a sumptuosa vivenda mandada construir por um cidado holands, mesmo em cima da falsia a leste da Praia do Martinhal. Choca sobretudo pela sua gigantesca varanda que parece uma rampa espacial.

    As edificaes no residenciais, atendendo s suas desmesuradas propores, tambm podem ser mamarrachos, assim como qualquer objecto que o tempo colocou fora de uso. Veja-se ainda os exemplos que se seguem:

    A Esttua da Liberdade um mamarracho.

    Comearam os despejos e a destruio das janelas e portas de um prdio, no Poo do Borratm, para a construo de um elevador-mamarracho de acesso ao Castelo de S. Jorge.

    Betonismo(4), poltica do beto este neologismo denomina a proliferao generalizada de edificaes na paisagem:

    Digam o que disserem, ns vivemos numa zona que podia ser mantida com alguma beleza natural, no fossem as vistas curtas de quem se deixa seduzir pelo que o nosso leitor apelida, e bem, de betonismo. Infelizmente, em muitos casos, a poltica do beto mais forte que o interesse comum.

    Porm, o conceito poltica do beto no encerra uma conotao obrigatoriamente negativa:

    A sociedade portuguesa, sua maneira, encontra-se perante um dilema de natureza semelhante. Portugal tem aplicado nas ltimas dcadas um modelo de liberalizao econmica, no mbito da integrao europeia e apoiado pelas ajudas comunitrias, que se tem traduzido na elevao do nosso nvel de rendimento per capita e na modernizao da infra-estrutura fsica do pas, atravs da denominada poltica do beto.

    Por portas travessas Nesta expresso, a palavra "travessas" adjectivo: significa laterais. As portas travessas so as portas secundrias. A expresso por portas travessas significa de modo pouco claro, sinuosamente(5); obter o que se pretende, eliminando demoradas formalidades, por meios ocultos, indirectos, ou mesmo ilcitos. Porta do cavalo obter o que se pretende de forma sorrateira (porta das traseiras), ou de forma irregular, atravs de cunha:

    A simplificao no pode fundamentalmente ser entendida como meio de obter uma diminuio da regulamentao pela porta do cavalo. A simplificao administrativa no

    (3) Esta palavra tambm existe em espanhol, mas tem uma acepo principal distinta (pessoa que se veste e que diz coisas ridculas). Porm, ao significar coisa feia por ser mal feita aproxima-se da acepo aqui em apreo; it: ecomostro (4) fr: tout-bton, it: sementificazione, es: ladrillazo (5) in: http://ciberduvidas.sapo.pt; it: per vie traverse; fr: (col) par la bande.

    http://ciberduvidas.sapo.pt/http://ciberduvidas.sapo.pt/

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    pode minar ou erodir normas sociais existentes (in base Eur-Lex, Parecer 52006AE0952; as aspas marcam, claro, o valor expressivo).

    Levar com a porta na cara no ser atendido, levar uma resposta negativa por vontade deliberada:

    Era evidente que arriscaria tudo para conseguir o que queria em relao ao caso. Basil encolheu os ombros. Muito bem, fao-o. Ser um prazer v-lo levar com a porta na cara.

    Cf. dar com a porta na cara(6) recusar-se a atender ou a receber algum. Telhados de vidro cf. o ditado Atire a primeira pedra quem no tenha telhados de vidro. Esta expresso significa que, apesar de um indivduo se considerar protegido, essa proteco , na verdade, demasiado frgil. Fazer ponte esta curiosa expresso num pas que j viu ruir pontes com sacrifcio de vidas humanas existe tambm noutras lnguas com sentido coincidente: fim-de-semana prolongado, sem trabalhar um dia til entre um feriado e um fim-de-semana:

    es: hacer puente; fr: faire le pont; it: fare il ponte Visitar as capelinhas andar a beber em todas as tabernas:

    Bem a gente bebe, no ? Respondia o senhor Leonel, dando por comeada a tarde de visita s capelinhas, que nos levaria naquela tarde a beber, aqui e acol, mais de uma dezena de pequenos copos de vinho, que para o fim eram traados ou mesmo s de gasosa.

    (Arrastar algum/arrastar-se) pelas ruas da amargura(7) submeter algum a situaes vexatrias e humilhantes; impor-lhe sofrimentos tais, que, em portugus(8), so capazes de fazer chorar as pedras da calada:

    A Justia est pelas ruas da amargura, est profundamente descredibilizada, sublinhou, lembrando as duas nicas preocupaes que o Governo teve at agora relativamente a este sector: a reduo das frias judiciais e a obstinada preocupao em substituir o Procurador-Geral da Repblica.

    [email protected]

    (6) it: sbattere la porta in faccia; fr: claquer/fermer la porte au nez; es: dar con la puerta en las narices; cf. em portugus dar com o nariz na porta, o que significa que ningum abre a porta, sem que isso seja necessariamente deliberado. (7) es: traer por la calle de la amargura (8) it: fare piangere anche i sassi.

    mailto:[email protected]

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    a folha ISSN 1830 780 9

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