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Universidade Católica Portuguesa
Faculdade de Direito
Direito da Cultura
“ O Papel das Fundações Privadas no Domínio da Cultura ”
Docente: Professor Doutor Vasco Pereira da Silva
Discentes: Magda Alexandra Cardoso Rodrigues nº 140108057
Susana Gonçalves Albino Martins Mourão nº 140108063
Marli Cristina Barata Esteves nº 140108070
Lisboa, 2011
1
Índice
Introdução……………………………………………………….…….………. 3
Enquadramento Geral: ………………………………….……….…....… 4
O que é uma fundação
As Fundações Portuguesas
O Centro Português de Fundações…………….……………..….….. 6
A Fundação Oriente…………………………………………..….……... 7
Museu Oriente………………………………………………………. 11
Convento da Arrábida……………………………….……..….. 17
Considerações Finais………………………………………….………... 19
Bibliografia………………………………………………………….…….. 21
Anexos………………………………………………………………….…….. 22
Introdução
2
O presente trabalho foi elaborado no âmbito da cadeira de Direito da Cultura,
por solicitação do Professor Doutor Vasco Pereira da Silva. Como objectivo primordial
procurámos analisar o Papel das Fundações Privadas no Domínio da Cultura,
nomeadamente o papel da Fundação Oriente, que constituiu o âmago do nosso estudo.
Antes de proceder ao desenvolvimento do tema, cabe explicitar o porquê da sua
escolha e da preferência pela fundação em causa. No momento de ponderação e
discussão que antecede a escolha, considerámos ser este um tema bastante interessante
atendendo ao plano pedagógico da disciplina, capaz de trazer um válido contributo no
conhecimento de novas realidades. O facto de não ser uma das fundações mais
conhecidas facilita-nos a tarefa de dar a conhecer algo novo, de forma a tornar o
trabalho interessante e enriquecedor do ponto de vista cultural, tanto para nós como para
os colegas, acabando por cativar a atenção de todos no momento da apresentação.
Assim sendo, escolhemos uma fundação que, além de ter grande relevo no
domínio da cultura, tem contribuído, ao longo do tempo, para o desenvolvimento
cultural do nosso país.
Neste trabalho, começaremos por fazer um enquadramento geral do tema,
abordando em seguida a Fundação Oriente em si e, com especial relevância, o Museu
Oriente e o Convento da Arrábida. Concluiremos o nosso trabalho com as considerações
finais e dedicaremos uns parágrafos ao debate suscitado aquando da apresentação do
presente estudo.
Gostaríamos, contudo, de frisar que, e atendendo às sugestões do Senhor
Professor, procurámos não nos alongar muito sobre o tema e expor apenas o mais
relevante, da forma mais sintética possível.
O que é uma Fundação
As Fundações Portuguesas
3
Sob a mesma designação de "fundação" surgem instituições muito diversas.
Temos, desde logo, que distinguir as fundações públicas das fundações privadas e,
dentro de cada um destes dois grandes grupos, diversas tipologias de fundações a que
correspondem, muitas vezes, regimes jurídicos diferentes.
As fundações de direito público são criadas por uma pessoa colectiva de direito
público, regem a sua actividade pelo Direito Administrativo e prosseguem com
autonomia fins da pessoa colectiva pública que as cria. Trata-se de uma forma de
administração indirecta do Estado e é doutrina dominante integrá-las na categoria
genérica dos institutos públicos. Nem todas as fundações criadas por um organismo
público são fundações que se regem pelo Direito Público, existindo fundações de
origem pública que regem a sua actividade pelo Direito Privado - são as designadas
"fundações privadas de origem pública" ou "fundações públicas de direito privado".
Nesta categoria, integram-se todas as fundações que, tendo sido constituídas e
regendo a sua actividade pelo Direito Privado (nos termos do Código Civil), têm
património de origem exclusiva ou predominantemente pública.
O regime geral das fundações privadas encontra-se regulado no Código Civil, na
parte relativa às pessoas colectivas sem fins lucrativos. O Código Civil não definiu
directamente a realidade social que pretende abranger quando fala de fundação, no
entanto, podemos defini-la como sendo uma instituição ou organização criada para levar
a cabo uma determinada tarefa e dotada dos meios necessários para o seu cumprimento:
um património e uma administração própria.
A estas pessoas colectivas, a personalidade jurídica é atribuída a partir do
momento do seu reconhecimento pela autoridade pública (art.158º C.C.)1. O art. 188º n.
2 do C.C.2 refere, a propósito, que a fundação não será reconhecida quando os bens
destinados à fundação se mostrem insuficientes para a prossecução do fim visado e não
haja fundadas expectativas de suprimento dessa insuficiência. A fundação é, assim, um
sujeito de direito autónomo, porque não se identifica nem com a pessoa do seu fundador
(ou instituidor), nem com a dos seus administradores, e com um património próprio
1 Ver anexo I2 Ver anexo II
4
(dotação inicial e/ ou outros fundos previsíveis), constituído pela totalidade dos bens
afectos à prossecução das suas actividades estatutárias.
O que é realmente essencial no momento da instituição da fundação é a
indicação do fim da fundação e a especificação dos bens que lhe são destinados.
Ao longo dos anos, o Centro Português de Fundações (CPF) tem procurado
manter um registo actualizado do universo das fundações portuguesas. Durante o ano
2000, o CPF realizou um inquérito onde foram enviados questionários a todas as
instituições registadas como fundações no Registo Nacional de Pessoas Colectivas, num
total de 703. Até 31 de Março de 2002, os dados de que dispomos permitem-nos dizer
que o número de fundações em efectividade de funções deverá rondar, actualmente, as
450 instituições. Este é, sem dúvida, um número muito significativo num país com a
dimensão de Portugal e com apenas 10 milhões de habitantes.
O Centro Português de Fundações
Centro Português de Fundações.
O Centro Português de Fundações nasceu da vontade e da necessidade que as
fundações portuguesas sentiam de, em conjunto, defenderem os seus interesses comuns
e, simultaneamente, organizarem-se em torno de uma instituição representativa do
5
sector.
Reveste a forma jurídica de associação e, de acordo com os seus Estatutos, visa a
cooperação e solidariedade entre os seus Membros e a defesa dos seus interesses
comuns. Actualmente o Centro Português de Fundações conta com mais de cem
fundações associadas.
No âmbito das suas relações internacionais, o CPF mantém contactos com
associações de fundações na Europa e no resto do Mundo, salientando-se, pela sua
especial importância, o protocolo de cooperação estabelecido com a Associación
Española de Fundaciones (AEF) e o relacionamento próximo com o European
Foundation Center (EFC) – fomentado pela Fundação Oriente -, o Donors and
Foundations’ Networks in Europe (DAFNE) e o Worldwide Initiatives for Grantmaker
Support (WINGS).
Nos dias que correm, o CPF é sem dúvida uma mais-valia na defesa de interesses
comuns e na representação das fundações em geral.
A Fundação Oriente
A Fundação Oriente, fundação privada portuguesa, foi constituída a 18 de Março
de 1988, e instituída pela Sociedade de Turismo e Diversões de Macau, como
contrapartida à concessão, pela Administração de Macau, de um regime exclusivo de
6
exploração do jogo em território Macaense até ao final do ano de 2001, nascendo assim
uma ligação particular com Macau, como se verá adiante.
No ano de 1989, viu reconhecida a sua utilidade pública, passando a gozar
desse estatuto, quer em território Português, pela Declaração publicada no Suplemento
do Diário da República, nr. 54, II Série, de 6 de Março de 1989, quer em território
Macaense, pelo Decreto-Lei nr. 16/89/M de 6 de Março3.
Integra orgulhosamente o grupo das vinte maiores fundações europeias e é
membro fundador do European Foundation Center (EFC), associação que congrega
cerca de duas centenas das mais importantes fundações da Europa e colabora com uma
série de organizações não lucrativas de trinta e cinco países.
A nível nacional, liderou, em parceria com mais duas fundações portuguesas, o
processo de criação do já referido Centro Português de Fundações (CPF).
Para finalizar, importa ainda referir que a fundação engloba o recente Museu
Oriente e o Convento da Arrábida, aspectos que merecem uma abordagem autónoma no
seio deste trabalho.
Estatuto 4
Sendo o Estatuto de qualquer Fundação um instrumento fundamental para o seu
conhecimento, releva agora proceder a uma breve exposição sobre o estatuto da
Fundação Oriente.
De acordo com seus artigos 1º e 2º, a Fundação Oriente é uma pessoa colectiva
de direito privado, de duração indeterminada, dotada de personalidade jurídica e sem
fins lucrativos. Tem sede em Lisboa, e pode criar delegações ou outras formas de
representação onde for considerado necessário ou conveniente para a prossecução dos
seus fins.
Actualmente, a Fundação tem três delegações: uma na Região Administrativa
Especial de Macau, uma em Timor-Leste e outra na Índia.
3 Ver anexo III4 Ver anexo IV
7
Quais os fins visados pela Fundação Oriente? A Fundação visa a “prossecução
de acções de carácter cultural, educativo, artístico, científico, social e filantrópico ,
a desenvolver, designadamente, em Portugal e em Macau, e que visem a valorização e a
continuidade das relações históricas e culturais entre Portugal e o Oriente,
nomeadamente com a China” (artigo 3º).
No capítulo do financiamento, cumpre dizer que foi instituída com um fundo
próprio de 212 milhões de patacas5 e goza de plena autonomia financeira, como
constatamos nos artigos 4º e 5º.
A Fundação goza ainda de uma série de benefícios fiscais, por ter sido declarada
de utilidade pública. Com efeito, os actos notariais e de registo relativos a imóveis
objecto de aquisição pela Fundação encontram-se isentos de quaisquer taxas e
emolumentos (Portaria nº 74/89/M de 15 de Maio)6 e a Fundação aproveita da isenção
prevista no artigo 10º do Código do Imposto sobre Pessoas Colectivas7, segundo o qual
estão isentos deste imposto os rendimentos directamente derivados do exercício de
actividades culturais, recreativas e desportivas. Também os donativos dos mecenas são
contemplados com benefícios fiscais.
Para a sua administração, a Fundação Oriente conta com quatro órgãos: o
Conselho de Curadores, o Conselho de Administração, o Conselho Consultivo e o
Conselho Fiscal (artigo 6º e ss.). Destes, o primeiro Conselho é claramente o mais
importante, sendo que é de notar que os seus membros são designados de entre
personalidades de reconhecido mérito, integridade moral e competência em qualquer
dos campos de actividade da Fundação.
Actividade da Fundação Oriente
As áreas de actividade da Fundação são extremamente extensas. É na República
Popular da China, Timor-Leste, Japão, Coreia, Tailândia e Malásia que se encontram os
principais focos da sua actuação. Por outro lado, é também grande o envolvimento desta
5 Pataca - moeda oficial de Macau. Encontra-se oficialmente indexada ao dólar de Hong Kong que, por sua vez, se encontra indexado ao dólar americano. Treze patacas correspondem, aproximadamente a €1 (dados de 2008).6 Ver anexo V7 Ver anexo VI
8
Fundação nas comunidades de emigrantes macaenses radicadas no Brasil, EUA, Canadá
e Austrália.
“Se do ponto de vista geográfico, a acção da Fundação Oriente se estende da
Europa à Ásia”, a nível do âmbito de actividade há que destacar, essencialmente, a
Educação e Ciência, a Filantropia e a Cultura, que é o que por ora nos interessa.
No âmbito cultural, a Fundação procura fomentar o intercâmbio artístico entre
Portugal e o Oriente. Com efeito, no domínio da Música, podemos destacar o
desenvolvimento de um programa de divulgação da música portuguesa no Oriente e
também em território nacional; no Teatro e na Dança, encontramos a promoção de
espectáculos e festivais; nas Obras Literárias, verifica-se um interessse crescente na
publicação de obras tematicamente relacionadas com a presença dos portugueses no
Oriente; e no domínio do Património Cultural, são várias as acções para a recuperação
do património, em especial, em Macau e na Índia.
Ainda neste âmbito, um dos instrumentos fundamentais da actuação da
Fundação é, sem dúvida, as bolsas de estudo disponibilizadas - apoio decisivo na
formação e intercâmbio de estudantes, contributo imenso para a divulgação da cultura
dos povos.
Com efeito, procura-se através das mais variadas bolsas, de curta duração ou
anuais, incentivar a investigação, em temas relacionados com o Oriente, em especial na
área das Ciências Sociais e Humanas, promover o conhecimento e o aperfeiçoamento
artístico, o intercâmbio entre universidades e comunidades científicas portuguesas e
orientais, e proporcionar o acesso à formação média e superior ou profissionalizante a
estudantes orientais de menores recursos económicos.
De momento, existem bolsas para a frequência de três tipos de cursos:
Aperfeiçoamento da Língua e Cultura Portuguesas e Línguas Culturais Orientais,
Aperfeiçoamento Artístico e Investigação e Doutoramento.
As três delegações da Fundação Oriente
Com sede na cidade de Díli, a delegação da Fundação Oriente em Timor-Leste
teve um papel particularmente preponderante no conturbado período político que o país
viveu no final do século XX. Têm-se registado numerosas concessões de bolsas de
estudo e apoios, da mais variada ordem , em termos literários e artísticos.
9
Em Macau, o destaque merece ser feito para o variado plano de actividades aí
desenvolvido por esta delegação da Fundação.
É de referir uma decisiva contribuição em dois importantes institutos que visam
garantir a ligação entre Macau e Portugal: o Instituto Português do Oriente (IPOR) e a
Escola Portuguesa de Macau. Ambos procuram promover a difusão da Língua
Portuguesa, sendo que o IPOR garante, desde 1989, o ensino do português como língua
estrangeira e desenvolve uma série de actividades nesse âmbito, e a Escola Portuguesa
de Macau, assegura, por sua vez, desde 1998, o ensino curricular em língua portuguesa
aos níveis primário, básico e secundário, disponibilizando uma ferramenta importante
para a permanência das comunidades portuguesa e macaense.
Como centro das suas actividades, a delegação da Fundação Oriente em Macau
dispõe da Casa Garden, um edifício classificado, onde encontramos uma galeria de
exposições temporárias e um grande auditório, utilizado para fins culturais.
Por fim, a delegação da Fundação na Índia tem sede em Goa, e desenvolve as
suas actividades em coordenação com diferentes instituições indianas. O plano anual de
actividades é elaborado tendo em conta as diferentes áreas onde se inserem os seus
projectos de intervenção – desde o apoio ao ensino da Língua Portuguesa, nas escolas
secundárias de Goa e Damão, à animação cultural, nomeadamente através do
intercâmbio de artistas, à investigação histórica e à conservação do património, entre
outros.
Museu oriente
O Museu Oriente foi inaugurado a 8 de Maio de 2008 e consiste numa unidade
museológica permanente, tutelada pela Fundação Oriente, que tem como objectivo a
valorização dos testemunhos e da presença portuguesa na Ásia, quer das diferentes
culturas asiáticas. Importa, também, referir que tem um âmbito territorial internacional e
10
de carácter interdisciplinar, uma vez que procura através da História, da Arte e da
Antropologia proporcionar aos seus visitantes um panorama das culturas asiáticas e da
relação secular que foi estabelecida entre o Ocidente e o Oriente, principalmente através
de Portugal.
Este museu foi considerado o “Melhor Museu Português” em 2008, sendo este
prémio entregue em mãos pelo presidente da Associação Portuguesa de Museologia
(APOM), João Neto, ao presidente da Fundação Oriente, Carlos Monjardino, no ano de
2009.
Não menos importante é a menção ao edifício. O Edifício Pedro Álvares
Cabral, é uma construção portuária do início dos anos quarenta da autoria do arquitecto
João Simões Antunes. Na maior parte da sua existência foi destinado à armazenagem de
bacalhau, pelo que o odor predominante revelou-se um problema, na fase inicial da obra
de remodelação.
O objectivo da remodelação, levada a cabo por Rui Francisco e por João Luís
Carrilho da Graça, consistia em acolher uma valiosa colecção privada centrada numa
temática comum, o Oriente, nas suas vertentes histórica, social, etnológica,
antropológica, arqueológica e artística.
Este edifício, foi classificado, em 15 de Junho de 2010, como Monumento de
Interesse Público (MIP)8 pelo IGESPAR (Instituto de Gestão do Património
Arquitectónico e Arqueológico)9.
Exposições10
Quanto às exposições, o museu apresenta, em simultâneo com as exposições
permanentes (que constitui o património do museu), um quadro de exposições
temporárias vocacionado para a divulgação das artes da Ásia.
8 Um bem considera-se de interesse público quando a respectiva protecção e valorização represente ainda um valor cultural de importância nacional, mas para o qual o regime de protecção inerente à classificação como de interesse nacional se mostre desproporcionado. Dos bens móveis pertencentes a particulares só são passíveis de classificação como de interesse público os que sejam de elevado apreço e cuja exportação definitiva do território nacional possa constituir dano grave para o património cultural (classificação sob a forma de portaria).9 Ver anexo VII10 Ver anexo VIII
11
Para o presente trabalho vamo-nos cingir apenas às duas colecções permanentes,
que são a “Colecção Presença Portuguesa na Ásia” e “Deuses da Ásia”, também
designada por Colecção Kwok On.
No que toca à Colecção Presença Portuguesa na Ásia, pode-se dizer, de uma
forma muito genérica, que reflecte as relações económicas e sociais que Portugal
estabeleceu com os países asiáticos, principalmente, com a Índia, China e Japão.
Esta colecção é constituída por mais de um milhar de objectos artísticos e
documentais, adquiridos pela Fundação Oriente desde que constituída e através de
mercados de arte nacionais e internacionais. Ao longo dos tempos, também tem vindo a
ser enriquecida pelo recurso a depósitos de peças pontuais ou a colecções de outras
entidades, públicas ou privadas. Temos, a título de exemplo, as importantes colecções
do poeta Camilo Pessanha, relacionada com a arte chinesa, ou do escritor e político
Manuel Teixeira Gomes, que é alusiva à arte decorativa da China e do Japão.
Ainda no que diz respeito à colecção, esta é composta por peças de grande valor,
nomeadamente, no espaço dedicado a Macau, território outrora sob administração
portuguesa, onde foi fundada a Fundação Oriente, em 1988. Contém quatro biombos
chineses, dos quais o mais antigo representa uma nau portuguesa nos mares da China, e
encontra-se acompanhado por outros dois meramente decorativos. O quarto é um
raríssimo exemplar decorado com as representações das cidades de Cantão e de Macau,
exemplares que remontam aos séculos XVII e XVIII e se estendem pelo século XIX. O
papel de Macau no comércio internacional está amplamente documentado,
evidenciando-se a colecção de porcelana brasonada, formando, através da disposição de
pratos, travessas, terrinas ou jarras, um dragão. Não menos importantes são as séries de
guaches “China Trade” que retratam o fabrico e o comércio do chá e da porcelana,
assim como os leques chineses que são muito apreciados no Ocidente.
Numa outra divisão da mesma colecção, procura-se documentar a partir de um
critério de selecção de objectos como mobiliário, têxteis, ourivesaria, pintura e marfins,
e complementada por mapas e maquetas, o estabelecimento e a construção do Império
Português do Oriente, centrado em Goa. Pode-se ainda destacar um exemplar
setecentista de um tratado escrito por um goês sobre o gentilismo hindu, assim como as
aguarelas de um álbum que espelha tipos populares, profissões e autoridades militares
da Índia.
12
É de salientar, também , dois biombos e lacas de nambam (das mais relevantes
peças da colecção) que ilustram muito bem o proveitoso encontro dos portugueses com
o Japão nos séculos XVI e XVII, que se reconduz à descoberta pelos portugueses da
cultura do Império do meio e do comércio lucrativo de produtos de luxo que com ele
poderiam realizar.
Dentro destas peças de grande valor, encontramos ainda uma grande quantidade
de peças relacionadas com as culturas e povos de Timor-Leste. Estas relacionam-se quer
com convivências quotidianas e tradições, quer com o sagrado, assim como com os
estreitos laços que esses povos souberam manter com Portugal.
Por último, dentro desta temos a colecção de arte do Extremo Oriente, formada
pela colecção de terracotas e de outras antiguidades chinesas, japonesas e coreanas que
foi adquirida pela Fundação Oriente. Foi acrescentado património em depósito, oriundo
do Museu Nacional de Machado de Castro, em Coimbra, em que se destacam os legados
do poeta Camilo Pessanha e do político e escritor Manuel Teixeira Gomes.
No que concerne à colecção Deuses da Ásia, esta teve origem em 1971 através
de uma doação feita pelo Sr. Kwok On a Jacques Pimpaneau. Esta doação consistia num
conjunto de marionetas cantonenses, instrumentos musicais, livros e outros objectos, e
viria a ser o ponto de partida para um museu fundado em Paris, Museu Kwok On,
criado por Jacques Pimpaneau. A origem destes objectos vai de um espaço geográfico
que se estende da Turquia ao Japão e que incluía mais de dez mil peças em 1999, ano
em que foi doada a colecção ao Museu Oriente.
Hoje, esta colecção tem mais de treze mil objectos e é considerada uma das mais
importantes do género à escala europeia.
Agora quanto à exposição em si, esta procura tornar conhecidos certos aspectos
da arte religiosa na Ásia, sobretudo ao nível popular, e introduzir a mitologia ainda viva
que está subentendida, por exemplo, nos trajes, máscaras, instrumentos musicais,
acessórios, teatros de marionetas (por vezes de carácter sagrado), pinturas e gravuras
(que ilustram mitos, divindades, estátuas, etc.). Daí estarem representadas as grandes
religiões do continente: o hinduísmo, o budismo, o taoísmo e o shintô.
Para terminar, ambas as exposições aqui referidas podem ser complementadas
por uma mediateca que inclui livros, revistas, registos sonoros e visuais, com vista a
13
colmatar o fosso existente entre os especialistas e o público em geral, como os
estudantes e meros curiosos, fornecendo uma perspectiva da Ásia. Por isso, na nossa
opinião, estas colecções podem ser consideradas educativas.
Heranças do Museu Oriente
Em 2008, o Museu Oriente recebeu três doações. Lacerda Benigno doou um
conjunto de trinta e cinco artefactos timorenses (espadas, peças de joalheira e panos)
recolhidos nos anos 60 e 70 do século XX e ainda alguma documentação. Outra doação
foi a de Sebastião de Lencastre que consistiu numa moldura de talha dourada, com o
monograma da Companhia de Jesus na base, envolvido numa coroa de espinhos e de
armas coroadas, sobrepostas a uma âncora ladeada por delfins do século XVIII – XIX, e
um prato raso de porcelana chinesa do século XVIII, decorado a azul-cobalto sob o
vidrado com a representação de uma cena de crucificação de Cristo. A última doação foi
a de Luísa Maria Salema Cordeiro de Carvalho e Maria do Rosário Salema Cordeiro
Correia de Carvalho e consistiu num conjunto de adornos de seda bordada, em cinco
tons litúrgicos e um anel de ouro cinzelado embutido de diamantes, que pertenceu ao
segundo Patriarca da Índia, D. Mateus de Oliveira Xavier (início século XX).
Serviço Educativo
O serviço educativo do Museu tem vindo a desempenhar um papel cada vez
mais importante na dinâmica do mesmo. Aos fins-de-semana dedica os sábados às
crianças e os domingos às famílias. Aos sábados, as crianças que visitarem o museu
podem escolher entre algumas dezenas de oficinas especialmente concebidas para elas.
Aos domingos, as famílias começam com uma visita ao museu seguida de oficinas em
que todos podem pôr os seus dotes artísticos à prova.
14
Dispõem ainda de oficinas de longa duração dirigidas aos mais novos, tendo
como objectivo ocupá-los durante as férias de Verão e do Natal.
Podem, ainda, fazer no museu festas de aniversário para crianças dos cinco aos
doze anos, sendo proposto um dia diferente com rostos mascarados, pinturas exóticas,
teatro de sombras e contos de mil e uma noites ou até mesmo uma viagem pela Ásia aos
quadradinhos.
Cursos e conferências
O Museu Oriente faz questão de ter na sua programação a organização de
cursos, conferências e workshops.
Centro de documentação
A função do Centro de Documentação da Fundação Oriente reside na promoção
do conhecimento sobre a Ásia Oriental, a Ásia do Sul e do Sudeste, em especial nas
suas relações com Portugal, no âmbito das ciências sociais e humanas, através da
disponibilização e divulgação de recursos informativos. Em Março de 2008, o Centro de
documentação levou a cabo a transferência de todos os documentos e serviços para o
edifício do Museu Oriente.
Publicações
A inauguração do Museu do Oriente determinou a publicação de obras
relacionadas com as exposições permanentes (Presença portuguesa na Ásia, Deuses da
Ásia) e temporárias (Máscaras da Ásia) assim como a adaptação do edifício (De
armazém frigorifico a espaço museológico) e ainda a obra Museu do Oriente.
15
Centro de reuniões e outros serviços
O Museu contém um centro de reuniões que é um espaço apto a realizar
encontros, congressos, seminários, lançamento de produtos e outros eventos de carácter
cultural, científico, empresarial, comercial ou social. O Centro permite, ainda, aos seus
clientes conjugar as suas iniciativas com a oferta cultural do Museu do Oriente.
Mecenas e patrocinadores
Por último, o Museu Oriente conta com o mecenato do Banco Espírito Santo
(mecenato principal), da Nestlé Portugal (para o serviço educativo), da Central Cervejas
e Bebidas (para os espectáculos), da Sagres, da Sony (para o núcleo do Japão da
exposição Presença portuguesa na Ásia), da Hovione (para o núcleo de Macau da
exposição Presença portuguesa na Ásia), do Grupo Portucel Soporcel (para o jardim),
entre outros.
Para além dos mecenas que aqui foram referidos, o Museu conta ainda com o
apoio da Carris, da CP e da TVI.
Convento da Arrábida
16
O Convento da Arrábida, construído no século XVI, abrange, ao longo dos seus
25 hectares, o Convento Velho, situado na parte mais elevada da serra, o Convento
Novo, localizado a meia encosta, o Jardim e o Santuário do Bom Jesus.
No alto da serra, as quatro capelas, o conjunto de guaritas de veneração dos mistérios da
Paixão e algumas celas escavadas nas rochas formam aquilo a que se convencionou
chamar o Convento Velho.
O convento foi fundado em 1542, por Frei Martinho de Santa Maria,
franciscano castelhano a quem D. João de Lencastre (1501-1571), primeiro duque de
Aveiro, cedeu as terras da encosta da serra. Foi sendo reestruturado ao longo dos tempos
e a última edificação remonta ao ano de 1650, quando D. António de Lencastre mandou
edificar o Santuário do Bom Jesus.
Com a extinção das ordens religiosas em 1834, o convento, as celas e as capelas
dispersas pela serrania sofreram várias pilhagens e enormes estragos causados pelo
abandono.
Em 1863, a Casa de Palmela adquiriu o convento mas as obras só começaram
nas décadas de 40 e 50 do século seguinte. No ano de 1990, o seu então proprietário,
Manuel de Souza Holstein Beck, vendeu o convento e a área envolvente, num total de
25 hectares, à Fundação Oriente, a única instituição que, em seu entender, dava
garantias de manter os mesmos valores com que, no século XVI, os seus antepassados o
entregaram aos arrábidos.
Actualmente, foi visitado por cerca de 2.500 pessoas, número que poderia ser
mais elevado se a acessibilidade fosse melhor e se o período de encerramento não fosse
tão longo, critica feita em sede de debate com a qual concordamos inteiramente. Trata-
se de um óptimo local de visita e de um espaço cujas potencialidades poderiam ser
melhor aproveitadas.
17
Considerações Finais
Com a elaboração deste trabalho procurámos demonstrar como uma fundação
privada pode ter especial relevo na cultura.
Através da Fundação Oriente apercebemo-nos do vínculo existente entre
Portugal e o Oriente, onde existe uma grande preocupação no sentido do não
perecimento no tempo desta ligação cultural.
Apresentado o tema, abre-se espaço ao debate.
A pergunta formulada para iniciar a discussão foi a seguinte “Qual é, na vossa
opinião, o contributo das fundações no incremento da cultura?”
Numa primeira abordagem ao tema, louvores foram dados à metodologia que o
Museu Oriente utiliza para cativar visitantes, acabando por se destacar, num segundo
momento, as particularidades estéticas do museu, que reforçam traços característicos do
arquitecto Carrilho da Graça.
Passando depois para a questão formulada em si, acabámos por dar ênfase às
bolsas de estudo atribuídas pela Fundação, aspecto que a nosso ver tem especial
18
importância para o incremento da cultura pois é, sem dúvida, uma forma de
desenvolvimento cultural. Através da capacidade financeira para atribuir este tipo de
bolsas, as fundações privadas em geral, e esta em particular, contribuem enormemente
para o fomento da interligação cultural, estabelecendo-se um encontro de culturas ao
mesmo tempo que se preserva cada uma delas.
No final, acabámos por conjugar o nosso trabalho com outro apresentado no
mesmo dia por colegas da turma, o qual versava sobre o “Património Cultural”.
Estabelecendo uma ponte de contacto entre os dois temas, reflectimos sobre as
formas de protecção do património, e tentámos inserir o Museu e o Convento da
Arrábida numa das categorias de bens culturais referidas no artigo 15º da Lei do
Património Cultural (Lei n.º 107/2001 de 8 de Setembro) – Monumento, Conjunto ou
Sítio de Interesse Público? A grande dúvida surgiu sobre a qualificação do Convento da
Arrábida pois se anteriormente era concedida protecção apenas a Monumentos de
Interesse Público, nos dias de hoje, estendeu-se essa possibilidade e criaram-se as
categorias de Sítio e Conjunto de Interesse Público. Do que depreendemos da aula, e
fazendo uma breve síntese da exposição, podemos concluir que a protecção do
património pode ser concedida a um Edifício, a um Sítio ou a um Conjunto de Interesse
Público. Se estivermos a falar de uma protecção cedida a um Edifício falamos de um
Monumento de Interesse Público e para ser atribuída a um Sítio este tem de ser um local
que, pela sua dimensão cultural, necessite de protecção. Se falamos de um Conjunto que
mereça protecção, então trata-se de uma realidade coerente e com uma determinada
dimensão histórica, como é o caso do nosso bem conhecido Bairro Alto de Lisboa.
Depois de algum tempo de reflexão e discussão na aula chegámos, então, à conclusão
que o Convento da Arrábida seria considerado um Sítio de Interesse Público.
Relativamente ao Museu as dúvidas não foram muitas pois, em Junho de 2010, foi
classificado pelo IGESPAR como Monumento de Interesse Público.
Finalmente, há que salientar a celebração de um Protocolo entre a Fundação
Oriente e a Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP)11, em Abril de
2010. Este protocolo, num esforço da Fundação Oriente em fomentar o turismo cultural
e a divulgação da sua actividade, prevê a criação de condições especiais para os
munícipes das autarquias locais que a ele aderiam, nomeadamente no que concerne ao
11 Ver anexo IX.
19
valor dos bilhetes para acesso ao Museu Oriente, desde que as visitas sejam organizadas
para um grupo de mais de 20 munícipes. É, assim, mais um esforço de louvar.
Bibliografia
- Revista on-line canela e hortelã
http://canelaehortela.com
- Decreto-Lei n.º 16/89/M de 6 de Março
- Jornal “Diário de Noticias”
- Estatuto da Fundação Oriente
- Jornal “Expresso”
- Portaria n.º 74/89/M de 15 de Maio
- Portaria n.º 401/2010 D.R. n.º 114, Série II de 2010-06-15
http://dre.pt
- Jornal “ Público”
- Site oficial do Centro Português de Fundações
http://www.cpf.org.pt
20
- Site oficial da Fundação Oriente
http://www.foriente.pt
- Vasco Pereira da Silva, “A Cultura a que tenho Direito”
- Revista “Visão”
- http://diariodigital.sapo.pt
- http://www.amigos-museu-oriente.pt
Anexos
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ANEXO I
CÓDIGO CIVIL PORTUGUÊSCAPÍTULO II
Pessoas colectivas SECÇÃO I
Disposições gerais
ARTIGO 158.º(Aquisição da personalidade)
1. As associações constituídas por escritura pública ou por outro meio legalmente admitido, que contenham as especificações referidas no n.º 1 do artigo 167.º, gozam de personalidade jurídica.2. As fundações adquirem personalidade jurídica pelo reconhecimento, o qual é individual e da competência da autoridade administrativa.(Redacção da Lei n.º 40/2007, de 24-8)
ANEXO II
ARTIGO 188.º
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(Reconhecimento)1. Não será reconhecida a fundação cujo fim não for considerado de interesse social pela entidade competente.2. Será igualmente negado o reconhecimento, quando os bens afectados à fundação se mostrem insuficientes para a prossecução do fim visado e não haja fundadas expectativas de suprimento da insuficiência.3. Negado o reconhecimento por insuficiência do património, fica a instituição sem efeito, se o institutidor for vivo; mas, se já houver falecido, serão os bens entregues a uma associação ou fundação de fins análogos, que a entidade competente designar, salvo disposição do instituidor em contrário.
ANEXO III
BOLETIM OFICIAL
Diploma:
Decreto-Lei n.º 16/89/M
BO N.º: 10/1989
Publicado em: 1989.3.8
Página: 1135
Declara de utilidade pública administrativa a “Fundação Oriente”
Diplomas relacionados : Diploma Legislativo n.º 1678 - Define o regime de isenções fiscais aplicável às instituições de utilidade pública administrativa, como tal reconhecidas ou declaradas nos termos do artigo 568.º da Reforma Administrativa Ultramarina.
Lei n.º 11/96/M - Declara de utilidade pública administrativa as associações ou fundações privadas que prossigam fins de interesse geral da comunidade, cooperando com a Administração do Território. — Revoga o Diploma Legislativo n.º 1678, de 10 de Agosto de 1965.
23
Despacho n.º 74/GM/99 - Determinando a publicação, em língua chinesa, do Decreto-Lei n.º 16/89/M, de 8 de Março.
Categorias relacionadas : ENTIDADES PRIVADAS -
Ent. Privadas relacionadas : FUNDAÇÃO ORIENTE -
Decreto-Lei n.º 16/89/M de 6 de Março
A «Fundação Oriente» foi instituída pela Sociedade de Turismo e Diversões de Macau, S.A.R.L., em 18 de Março de 1988, e posteriormente reconhecida pelo Governo da República Portuguesa por portaria do Ministro da Administração Interna, de 14 de Junho do mesmo ano, publicada na II série do Diário da República, de 13 de Julho.
Devendo a referida Fundação, nos respectivos termos estatutários, manter em Macau uma delegação, veio a mesma requerer lhe seja concedida pelo Governador de Macau declaração de utilidade pública administrativa.
A atribuição de utilidade pública administrativa é matéria regulada no ordenamento jurídico de Macau pelo Decreto-Lei n.º 23 229, de 25 de Novembro de 1933, (Reforma Administrativa Ultramarina), o qual determina no seu artigo 568.º que as entidades de iniciativa particular só possam beneficiar de tal atribuição quando durante cinco anos consecutivos hajam realizado os fins de interesse geral dos seus estatutos.
Na República, a concessão da declaração de utilidade pública é regulada pelo Decreto-Lei n.º 460/77, de 7 de Novembro, que não vigora em Macau, e que, especificamente no que toca ao requisito de ordem temporal acima referido, permite a sua dispensa quando circunstâncias excepcionais se verifiquem.
Considerando que o diploma que no Território rege a matéria de declaração de utilidade pública administrativa pode, em determinados aspectos do seu regime, encontrar-se desajustado da realidade actual, mas julgando-se, no entanto, não ser este o momento oportuno para a sua revisão global;
Considerando, por outro lado, que, no caso da «Fundação Oriente», atentos o circunstancialismo próprio que acompanhou a sua criação e os relevantes fins de interesse geral que se propõe prosseguir, parece justificar-se o imediato reconhecimento da sua utilidade pública administrativa;
Ouvido o Conselho Consultivo;
O Governador de Macau decreta, nos termos do n.º 1 do artigo 13.º do Estatuto Orgânico de Macau, para valer como lei no território de Macau, o seguinte:
24
Artigo 1.º
(Declaração de utilidade pública administrativa)
É declarada a utilidade pública administrativa da «Fundação Oriente», para todos os efeitos legais, neles se incluindo os de natureza fiscal, designadamente os constantes do Diploma Legislativo n.º 1 678, de 10 de Agosto de 1965.
Artigo 2.º
(Deveres)
Constituem deveres da «Fundação Oriente», enquanto pessoa colectiva de utilidade pública administrativa, sem prejuízo de outros que constem da lei ou dos respectivos estatutos:
a) Enviar anualmente ao Governador de Macau o relatório e as contas dos exercícios findos;
b) Comunicar ao Governador de Macau qualquer alteração dos seus estatutos;
c) Prestar as informações que lhe sejam solicitadas por entidades oficiais para tanto competentes;
d) Colaborar com o Território e com a administração local na prestação de serviços ao seu alcance.
Artigo 3.º
(Cessação dos efeitos da declaração)
A declaração de utilidade pública administrativa e os inerentes benefícios cessam:
a) Com a extinção da Fundação;
b) Por despacho do Governador, se a Fundação deixar de prosseguir fins de interesse geral ou de cooperar com a administração em termos que tornem injustificada a declaração de utilidade pública administrativa.
Aprovado em 7 de Março de 1989.
Publique-se.
O Governador, Carlos Montez Melancia.
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ANEXO IV
Estatuto da Fundação Oriente
CAPÍTULO I
Natureza e Fins
ARTIGO 1º
Natureza
A Fundação Oriente, adiante designada simplesmente por Fundação, é uma pessoa colectiva de direito privado dotada de personalidade jurídica, que se regerá pelos presentes estatutos e, em tudo o que neles for omisso, pelas leis portuguesas aplicáveis.
ARTIGO 2º
Duração e Sede
1. A Fundação é portuguesa, de duração indeterminada e tem a sua sede em Lisboa, na Rua do Salitre, números 66 e 68, podendo criar delegações ou quaisquer formas de representação onde for considerado necessário ou conveniente para a prossecução dos seus fins.
2. A Fundação manterá uma delegação em Macau.
ARTIGO 3º
Fins
1. A Fundação tem por fim a prossecução de acções de carácter cultural, educativo, artístico, científico, social e filantrópico, a desenvolver designadamente em Portugal e em Macau, e que visem a valorização e a continuidade das relações históricas e culturais entre Portugal e o Oriente, nomeadamente com a China.
2. A Fundação promoverá, de modo especial em Macau, todas as acções que visem a valorização do seu património cultural e artístico, bem como o desenvolvimento científico e educativo do Território.
26
CAPÍTULO II
Regime Patrimonial e Financiamento
ARTIGO 4º
Património
1. A Fundação é instituída pela STDM (Sociedade de Turismo e Diversões de Macau, SARL.) com um fundo inicial próprio de 212 milhões de patacas, acrescido de uma contribuição, de proveniência idêntica, de 100 milhões de patacas, a ser repartida por três prestações anuais:
a) A primeira, de 15 milhões de patacas, a ser entregue até 30 de Junho de 1988;
b) A segunda, de 25 milhões de patacas, a ser entregue até 30 de Junho de 1989;
c) A terceira, de 60 milhões de patacas, a ser entregue até 30 de Junho de 1990;
2. Constituem ainda património da Fundação os rendimentos de proveniência idêntica à referida no número anterior que lhe venham a ser atribuídos numa base regular, nos termos da cláusula 21ª, nº 1, alínea d), do aditamento ao contrato para a concessão do exclusivo da exploração de jogos de fortuna ou azar, celebrado em 31 de Dezembro de 1986, entre o Governo de Macau e a STDM, SARL.
3. O fundo, a contribuição e os rendimentos a que se referem os números anteriores, bem como os bens ou valores previstos no nº 4, alínea a), deste artigo, poderão ser convertidos em escudos portugueses ou qualquer outra divisa aquando da sua afectação à Fundação.
4. Além dos fundos e rendimentos referidos nos números anteriores, o património da Fundação é constituído por:
a) Quaisquer subsídios, donativos, heranças, legados ou doações de entidades públicas ou privadas, portuguesas ou estrangeiras, e todos os bens que à Fundação advierem a título gratuito ou oneroso, devendo, nestes casos, a aceitação depender da compatibilização da condição e do encargo com os fins da Fundação;
b) Todos os bens, móveis e imóveis, adquiridos para o seu funcionamento e instalação ou pelos rendimentos provenientes da alienação ou locação daqueles mesmos bens ou ainda pelos rendimentos provenientes do investimento dos seus bens próprios.
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ARTIGO 5º
Autonomia Financeira
1. A Fundação goza de plena autonomia financeira.
2. Na prossecução dos seus fins, a Fundação pode:
a) Adquirir, alienar ou onerar, a qualquer título, bens móveis ou imóveis;
b) Aceitar quaisquer doações, heranças ou legados, sem prejuízo do disposto no artigo 4º, nº 4, alínea a);
c) Contratar empréstimos e conceder garantias, no quadro de optimização da valorização do seu património e da concretização dos seus fins;
d) Realizar investimentos em Portugal ou em Macau ou em países estrangeiros, bem como dispor de fundos em bancos estrangeiros.
CAPÍTULO III
Administração e Fiscalização
ARTIGO 6º
Órgãos da Fundação
São órgãos da Fundação:
a) O Conselho de Curadores;
b) O Conselho de Administração;
c) O Conselho Consultivo;
d) O Conselho Fiscal.
ARTIGO 7º
Conselho de Curadores
1. O Conselho de Curadores é composto por um número mínimo de cinco e máximo de sete membros designados de entre personalidades de reconhecido mérito, integridade moral e competência em qualquer dos campos de actividade da Fundação.
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2. O mandato dos membros do Conselho de Curadores não tem duração definida mas cessa automaticamente no fim do ano em que completem setenta anos de idade, sem prejuízo do disposto no número 13 deste artigo. A exclusão de qualquer membro só pode efectuar-se mediante deliberação do Conselho tomada por escrutínio secreto pelo menos por dois terços dos votos favoráveis, com fundamento em indignidade, falta grave ou desinteresse manifesto no exercício das suas funções.
3. O Conselho de Curadores designará de entre os seus membros um Presidente.
4. As vagas que ocorram no Conselho de Curadores, por morte, impedimento, suspensão de mandato, exclusão ou renúncia de um dos seus membros, serão preenchidas por personalidades consensuais de reconhecido mérito, integridade moral e competência em qualquer dos campos de actividade da Fundação, a eleger mediante deliberação, por maioria, em reunião dos restantes membros do Conselho de Curadores e do Presidente do Conselho de Administração quando originário do Conselho de Curadores.
5. Quando qualquer membro do Conselho de Curadores se encontrar impedido de exercer as suas funções por exercício de cargo político ou por qualquer outro motivo, o seu mandato será suspenso até que cesse a situação de incompatibilidade ou impedimento.
6. As vagas que ocorram no Conselho de Curadores, em virtude de suspensão de mandato, poderão ser preenchidas temporariamente por personalidade designada para exercer funções em regime de substituição até que cesse a situação que deu origem à suspensão, mediante deliberação tomada nos termos do n.º 4 do presente artigo.
7. Os membros do Conselho de Curadores designados em regime de substituição exercem as suas funções nos termos e com as limitações previstas nos presentes estatutos, não podendo participar nas deliberações relativas a actos previstos nos n.ºs 4 e 6 do presente artigo e no artigo 16º.
8. O Conselho de Curadores reunirá ordinariamente uma vez por semestre e extraordinariamente sempre que convocado pelo seu Presidente, de sua iniciativa, ou a pedido de dois dos seus membros ou do Conselho de
Administração.
9. Os membros do Conselho de Curadores poderão fazer-se representar por outro membro, mediante comunicação escrita dirigida ao Presidente.
10. As funções de membro do Conselho de Curadores não são remuneradas, podendo, no entanto, ser-lhe atribuídas subvenções de presença e ajudas de custo, de montante a fixar pelo Conselho.
11. As deliberações do Conselho de Curadores são tomadas por maioria, tendo o seu Presidente voto de qualidade.
29
12. O Conselho de Curadores poderá solicitar a presença de membros do Conselho de Administração às suas reuniões, os quais, no entanto, não terão direito de voto.
13. A primeira composição do Conselho de Curadores (curadores fundadores) é a constante do artigo 17º, sendo o mandato destes membros temporalmente indefinido, mas se qualquer deles optar renunciar ao mandato após os 70 anos de idade poderá integrar o Conselho Consultivo como curador fundador jubilado.
ARTIGO 8º
Competência do Conselho de Curadores
Compete ao Conselho de Curadores:
a) Garantir a manutenção dos princípios inspiradores da Fundação e definir orientações gerais sobre o seu funcionamento, política de investimentos e concretização dos fins da Fundação;
b) Designar os membros do Conselho de Administração;
c) Designar os membros do Conselho Consultivo;
d) Designar os membros do Conselho Fiscal;
e) Emitir orientações gerais sobre o Projecto de Plano de Actividades e Orçamento para o ano seguinte, elaborados pelo Conselho de Administração;
f) Aprovar conjuntamente com o Conselho de Administração o Relatório, Balanço e Contas do exercício, elaborados pelo Conselho de Administração e submetidos à sua apreciação em conjunto com o parecer do Conselho Fiscal;
g) Aprovar investimentos ou outras operações e iniciativas relevantes, propostas pelo Conselho de Administração e que não constem do Plano de Actividades e Orçamento aprovado para o respectivo ano;
h) Aprovar a criação de delegações da Fundação, sob proposta do Conselho de Administração;
i) Deliberar sobre a modificação dos estatutos e extinção da Fundação, nos termos dos Artigo 16º.
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ARTIGO 9º
Conselho de Administração
1. O Conselho de Administração é composto por três membros designados pelo Conselho de Curadores (ou por este e pelo Presidente do Conselho de Administração se este for originário do Conselho de Curadores), de entre individualidades consensuais que dêem garantias de realizar os objectivos da Fundação. O seu mandato é de quatros anos, sucessivamente renovável, salvo o disposto no número seguinte.
2. O Presidente do Conselho de Administração pode ser designado de entre os membros do Conselho de Curadores. Nesse caso, são igualmente aplicáveis ao Presidente do Conselho de Administração as disposições relativas à duração do mandato do Conselho de Curadores, referidas no número 2 do Artigo 7º, atendendo às competências pressupostas pelo Artigo 10º.
3. Se o Presidente do Conselho de Administração, designado nos termos do número anterior, for membro do Conselho de Curadores com mandato temporalmente indefinido, suspende o respectivo mandato enquanto exercer essas funções.
4. Os membros do Conselho de Administração exercerão as suas funções em regime de exclusividade e mediante remuneração a estabelecer pelo Conselho de Curadores, podendo no entanto o Conselho de Curadores autorizar o exercício de funções em outras instituições quando tal seja considerado de interesse para a Fundação, definindo os termos e condições do respectivo exercício.
5. O mandato dos membros do Conselho de Administração caduca automaticamente no final do exercício do ano em que perfaçam sessenta e cinco anos de idade.
6. As deliberações do Conselho de Administração são tomadas por maioria, tendo o Presidente voto de qualidade.
7. O Conselho de Administração reúne mensalmente e sempre que convocado pelo seu Presidente.
ARTIGO 10º
Competência do Conselho de Administração
Compete ao Conselho de Administração gerir a Fundação e, em especial:
a) Definir a organização interna da Fundação, aprovando os regulamentos e criando os órgãos que entender necessários e preenchendo os respectivos cargos;
b) Administrar o património da Fundação, praticando todos os actos necessários a esse objectivo e tendo os mais amplos poderes para o efeito;
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c) Aprovar o Plano de Actividades e o Orçamento, tendo em conta as orientações gerais do Conselho de Curadores;
d) Elaborar e aprovar, em conjunto com o Conselho de Curadores nos termos previstos no artigo 8º alínea f), o Relatório, Balanço e Contas do exercício;
e) Representar a Fundação quer em juízo, activa e passivamente, quer perante terceiros;
f) Contratar, despedir e dirigir o pessoal;
g) Negociar e contratar empréstimos e emitir garantias, nos termos da alínea c) do artigo 5º;
h) Instituir e manter sistemas internos de controlo contabilístico, de forma a reflectirem, precisa e totalmente em cada momento, a situação patrimonial e financeira da Fundação;
i) Promover, pelo menos uma vez por ano, uma auditoria pormenorizada dos livros e registos, por empresa independente de auditoria de reputação internacional.
ARTIGO 11º
Vinculação da Fundação
1. A Fundação obriga-se pela assinatura conjunta de dois membros do Conselho de Administração, um dos quais será obrigatoriamente o Presidente.
2. O Conselho de Administração poderá constituir mandatários, delegandolhes competência, podendo, nesse caso, a Fundação ficar obrigada pela assinatura conjunta de um membro do Conselho de Administração e de um mandatário.
3. O Conselho de Administração poderá, em casos devidamente justificados, constituir mandatários atribuindo-lhes competência para actos específicos previamente aprovados pelo Conselho de Administração, podendo, nesse caso, a Fundação ficar obrigada pela assinatura conjunta de dois mandatários.
ARTIGO 12º
Conselho Consultivo
1. O Conselho Consultivo é composto por um número máximo de oito membros designados pelo Conselho de Curadores de entre personalidades de reconhecido mérito e competência em qualquer dos campos de actividade da Fundação, sem prejuízo do disposto no nº 13 do artigo 7º.
2. O mandato dos membros do Conselho Consultivo é de três anos.
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3. As funções dos membros do Conselho Consultivo não serão remuneradas, podendo, no entanto, ser estabelecidas subvenções de presença e ajudas de custo, cujo montante será fixado pelo Conselho de Administração.
4. O Conselho Consultivo reunirá a pedido do Presidente do Conselho de Administração ou do Presidente do Conselho de Curadores, sendo presidido pela pessoa que o tiver convocado.
ARTIGO 13º
Competência do Conselho Consultivo
Compete ao Conselho Consultivo:
a) Sempre que solicitado pelo Conselho de Administração ou pelo Conselho de Curadores, apresentar sugestões e recomendações quanto ao melhor cumprimento dos fins da Fundação;
b) Sempre que solicitado pelo Conselho de Administração ou pelo Conselho de Curadores, emitir pareceres sobre as actividades e projectos da Fundação.
ARTIGO 14º
Conselho Fiscal
1. O Conselho Fiscal é composto por três membros designados pelo Conselho de Curadores, com o mandato de quatro anos.
2. O Conselho Fiscal designará de entre os seus membros o Presidente, que terá voto de qualidade.
ARTIGO 15º
Competência do Conselho Fiscal
Compete ao Conselho Fiscal:
a) Examinar e emitir parecer, anualmente, sobre o balanço e contas do exercício a submeter à aprovação do Conselho de Administração e do Conselho de Curadores;
b) Verificar periodicamente a regularidade da escrituração da Fundação, tendo em conta os relatórios da auditoria prevista no artigo 10º, alínea i).
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CAPÍTULO IV
Modificação dos estatutos e extinção da Fundação
ARTIGO 16º
Modificação dos estatutos e extinção da Fundação
1. A modificação dos presentes estatutos só pode ser deliberada, sem prejuízo das disposições legais em vigor sobre a matéria, mediante aprovação em reunião conjunta do Conselho de Curadores e do President do Conselho de Administração, quando originário do Conselho de Curadores, tomada :
a) Por unanimidade nos primeiros cinco anos da entrada em vigor da presente alteração aos estatutos;
b) Por 4/5 de votos favoráveis a partir do fim do prazo previsto na alínea a).
2. A extinção da Fundação só pode ser deliberada, sem prejuízo das disposições legais em vigor sobre a matéria, mediante deliberação por unanimidade do Conselho de Curadores e do Presidente do Conselho de Administração se for originário do Conselho de Curadores, devendo ser fixado para o respectivo património o destino que for julgado mais conveniente para a prossecução dos fins para que foi instituída.
CAPÍTULO V
Disposições finais e transitórias
ARTIGO 17º
Disposições finais e transitórias
1. O Conselho de Curadores da Fundação fica desde já constituído pelas seguintes sete individualidades, que serão consideradas curadores fundadores: Prof. Doutor João José Fraústo da Silva, Prof. Doutor Adriano José Alves Moreira, Engenheiro Pedro José Rodrigues Pires de Miranda, Engenheiro Eduardo Ribeiro Pereira, Dr. Carlos Augusto Pulido Valente Monjardino, Dr. Stanley Ho e Sr. Edmund Ho, que também usa Ho Hau Wa.
2. No prazo de trinta dias, contados do reconhecimento da Fundação, o Conselho de Curadores deverá designar os membros do Conselho de Administração, do Conselho Consultivo e do Conselho Fiscal.
3. Até à entrada em funções dos membros do Conselho de Administração, a que se refere o número 2 deste artigo, a Fundação é dirigida pelo Conselho de Curadores.
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ANEXO V
BOLETIM OFICIAL
Diploma:
Portaria n.º 74/89/M
BO N.º: 20/1989
Publicado em: 1989.5.15
Página: 2562
Isenta de taxas e emolumentos os actos notariais e de registo, relativos a imóveis objecto de aquisição pela Fundação Oriente.
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Ent. Privadas relacionadas : FUNDAÇÃO ORIENTE -
Portaria n.º 74/89/M de 15 de Maio
Artigo 1.º Ficam isentos de quaisquer taxas e emolumentos os actos notariais e de registo relativos a imóveis objecto de aquisição pela Fundação Oriente, pessoa colectiva de utilidade pública administrativa.
Art. 2.º A presente portaria entra imediatamente em vigor.
Governo de Macau, aos 9 de Maio de 1989.
Publique-se.
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ANEXO VI
Código do IRC
Artigo 10º - Actividades culturais , recreativas e desportivas
1 - Estão isentos de IRC os rendimentos directamente derivados do exercício de actividades culturais, recreativas e desportivas.
2 - A isenção prevista no número anterior só pode beneficiar associações legalmente constituídas para o exercício dessas actividades e desde que se verifiquem cumulativamente as seguintes condições:
a) Em caso algum distribuam resultados e os membros dos seus órgãos sociais não tenham, por si ou interposta pessoa, algum interesse directo ou indirecto nos resultados de exploração das actividades prosseguidas;
b) Disponham de contabilidade ou escrituração que abranja todas as suas actividades e a ponham à disposição dos serviços fiscais, designadamente para comprovação do referido nas alíneas anteriores.
(Redacção da Lei nº 10-B/96, de 23 de Março)
3 - Não se consideram rendimentos directamente derivados do exercício das actividades indicadas no nº 1, para efeitos da isenção aí prevista, os provenientes de qualquer actividade comercial, industrial ou agrícola exercida, ainda que a título acessório, em ligação com essas actividades e, nomeadamente, os provenientes de publicidade, direitos respeitantes a qualquer forma de transmissão, bens imóveis, aplicações financeiras e jogo do bingo.
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ANEXO VII
Diário da República, 2.ª série — N.º 114 — 15 de Junho de 2010 32651
Portaria n.º 401/2010
Na linha programática de Duarte Pacheco, com o seu Plano de Urbanização de Lisboa, a Administração do Porto de Lisboa começa a intervir racionalmente na nova frente portuária do rio Tejo.
A todo este novo cenário ribeirinho não seria estranho também o impulso dado e o papel que o País desempenhou (ou foi naturalmente obrigado a desempenhar) como porto de abrigo e entreposto de reabastecimentos para refugiados, beligerantes e «neutrais», a partir de meados da década de 30. Nesse sentido, e numa perspectiva de um modernismo «monumental» e funcionalista, inicia -se nos finais dos anos 30 a construção dos armazéns frigoríficos de Alcântara, projecto do arquitecto João Simões, antecedidos e prosseguidos por outras facilidades portuárias do arquitecto Jorge Segurado e outros, e, durante a primeira metade dos anos 40, as carismáticas Gares Marítimas, primeiro de Alcântara, depois da Rocha do Conde de Óbidos, ambas de Porfírio Pardal Monteiro, tudo isto de acordo com o seu projecto de urbanização do Porto de Lisboa -doca de Alcântara, de 1936.
Construído para funcionar como armazém frigorífico para conservação de bacalhau seco e frutas frescas, a sua estrutura funcional compreendia: câmaras frigoríficas diferenciadas (bacalhau e frutas) — 8 antecâmaras e 50 câmaras frigoríficas; zonas para recepção, preparação e expedição (piso térreo) e distintos armazéns para as embalagens usadas (no piso situado sob a laje da cobertura); dois núcleos de acessos verticais situados em extremos opostos do volume (com escada e ascensores); casa das máquinas e um ginásio, no piso superior, com ringues de patinagem, balneário e terraço para jogos. Toda a construção do edifício, nomeadamente a distribuição e o dimensionamento do sistema de lajes, pilares e vigas de betão armado que constituem a estrutura portante do edifício foram concebidos tendo em conta o peso excepcional dos produtos a armazenar.
O «Museu do Oriente», obra nova e reinterpretação da obra antiga, adquire novo simbolismo enquanto equipamento cultural capaz de reintegrar a ordem social e económica contemporânea, ou seja, reintegrar de forma criativa e inspiradora um edifício abandonado na história da cidade. O Museu, testemunho das relações históricas entre Portugal e o Oriente, alberga colecções de interesse nacional e internacional, com uma temática comum: o Oriente, nas suas vertentes histórica, social, etnológica, antropológica, arqueológica e artística. Tendo como critério estrutural o interesse estratégico nacional do próprio Museu na preservação das relações culturais entre Portugal e os países do Oriente e do Extremo Oriente.
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A classificação do edifício dos antigos Armazéns Frigoríficos de Alcântara, actual Museu do Oriente, é o reconhecimento legal da capacidade que o edifício adquiriu de se (re)inserir no tecido urbano (de Lisboa) e cultural de Portugal. Considerando, assim, que a «monumentalização cultural» deste edifício poderá iniciar o descongelamento funcional da parte da cidade em que o edifício se encontra implantado.
A sua relevância para compreensão do património arquitectónico do século XX português justifica a sua classificação como monumento de interesse público (MIP).
Foram cumpridos os procedimentos de audição de todos os interessados previstos no artigo 27.º da Lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro, bem como nos artigos 100.º e seguintes do Código do Procedimento Administrativo:
Assim:Ao abrigo do disposto no n.º 5 do artigo 15.º, no artigo 18.º, no
n.º 2 do artigo 28.º e no n.º 2 do artigo 43.º, todos da Lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro, manda o Governo, pela Ministra da Cultura, o seguinte:
Artigo 1.ºÉ classificado como monumento de interesse público (MIP) o Edifício Pedro Álvares Cabral, antigos armazéns frigoríficos do bacalhau, actual Museu do Oriente, na Avenida de Brasília, Doca de Alcântara Norte, freguesia dos Prazeres, concelho e distrito de Lisboa.
Artigo 2.ºÉ fixada a respectiva zona especial de protecção do monumento de interesse público identificado no artigo anterior, conforme planta de delimitação constante do anexo à presente portaria, da qual faz parte integrante.
2 de Junho de 2010. — Pela Ministra da Cultura, Elísio Costa Santos Summavielle, Secretário de Estado da Cultura.
ANEXO
38
203352309
ANEXO VIII
Presença Portuguesa na Ásia
39
Porcelana brasonada
Biombo
Deuses da Ásia
40
ANEXO IX
41
42
43
44
45