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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL NA ARTICULAÇÃO DAS RELAÇÕES DE ENSINO-APRENDIZAGEM PROFESSOR-ALUNO POR: JACQUELINE PIMENTEL DA SILVA POLIDO ORIENTADOR: PROF ª YASMIM MARIA RODRIGUES MADEIRA DA COSTA Rio de Janeiro, RJ, fevereiro/2003

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO A VEZ DO MESTRE

O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL NA ARTICULAÇÃO DAS

RELAÇÕES DE ENSINO-APRENDIZAGEM PROFESSOR-ALUNO

POR: JACQUELINE PIMENTEL DA SILVA POLIDO

ORIENTADOR: PROF ª YASMIM MARIA RODRIGUES MADEIRA DA COSTA

Rio de Janeiro, RJ, fevereiro/2003

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO A VEZ DO MESTRE

O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL NA ARTICULAÇÃO DAS

RELAÇÕES ENSINO-APRENDIZAGEM PROFESSO-ALUNO

JACQUELINE PIMENTEL DA SILVA POLIDO

Trabalho monográfico apresentado como

requisito parcial para obtenção do Grau de

Especialista em Administração Escolar.

Rio de Janeiro, RJ, fevereiro/2003

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AGRADECIMENTO

A Maria José Chicayban e Laís Carlson Seba,

orientadoras educacionais;

À Escola Estadual Leonor Franco Moreira e toda equipe escolar,

que muito contribuíram à minha aprendizagem no estágio de

observação, podendo assim participar de outras vivências em

minha trajetória, dispensando atenção, carinho e

profissionalismo;

A todos,

que de uma forma ou de outra contribuíram para que essa

pesquisa acontecesse pois, não vivemos sozinhos e sendo

assim ninguém produz um trabalho a duas mãos apenas.

“Nenhum homem é uma ilha!”

John Donne

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DEDICATÓRIA

À Deus, aos meus familiares próximos, presentes e in

memorian, à meus pais,

que tornaram possível esta trajetória.

Ao meu marido,

pela paciência e estímulos a mim dados.

A minha Lohanne,

por um dia dizer-me que orgulhava-se de ter uma mãe

pedagoga e “guerreira”, suas palavras impulsionaram-me

adiante.

A aqueles,

que de uma forma ou de outra apoiaram esta caminhada.

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Escola de Vida

O adulto é a escola que a vida mostra aos que iniciam os

seus passos na vida.

O exemplo de quem já cresceu pode ser a escada de subida

para quem está começando a crescer. Como pode, também,

ser a razão da sua queda.

Seja você como for, pai, mãe, irmão, amigo, ou

simplesmente você, tome muito cuidado em viver

dignamente, em dar bons exemplos, porque, sem que você

o perceba, uma criança está tomando a sua vida como

modelo.

“Comece o dia feliz”

J. S. Nobre

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RESUMO

Como várias professoras educadoras das séries iniciais o

que experimentam é uma dissociação de esforços que

seqüência tensões e desânimo quanto ao resultado

produzido em sala de aula. Dessa forma a presente

pesquisa buscou algumas respostas para entender como

se dá a integração entre o Serviço de Orientação

Educacional (SOE), o corpo docente e discente, e a

família no processo ensino aprendizagem.

Especificamente, deseja-se descrever as atribuições do

papel do Orientador Educacional na articulação das

relações de ensino-aprendizagem professor-aluno.

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SUMÁRIO

RESUMO ....................................................................................................... 5

INTRODUÇÃO ............................................................................................... 7

CAPÍTULO I – RECUPERANDO A HISTÓRIA DO SERVIÇO DE

ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DAS ESCOLAS CATÓLICAS E UM

BREVE HISTÓRICO DO MESMO NO BRASIL ............................................ 10

CAPÍTULO II – COMO CAMINHA A RELAÇÃO FAMÍLIA-ESCOLA? ......... 14

CAPÍTULO III – RECONHECIMENTO (OU NÃO) DO TRABALHO DE

SERVIÇO DE ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL (SOE) .................................. 17

CONCLUSÃO ................................................................................................ 18

BIBLIOGRAFIA .............................................................................................. 21

ANEXOS ........................................................................................................ 23

Anexo 1 - Estudo de Caso (Casos Resolvidos) ................................ 24

Anexo 2 - Um Caso em Processo: Interpretação expressa

através de desenhos ........................................................................... 29

Anexo 3 – Dinâmica Observada no Colégio NS da Assunção

(papéis complementares) ................................................................... 41

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INTRODUÇÃO

Não cremos na eficácia da força, para impor, ou exterminar idéias, para impedir que o ensino se efetue na

direção das aspirações, das correntes morais e intelectuais que preponderam em cada época no espírito

humano

Rui Barbosa

Prece do Orientador

Senhor, eu sou aquela Presença necessária à juventude, Capaz de ajudá-la a buscar a plenitude, Fazendo-a conhecer suas limitações e possibilidades. Devo descontinuar-lhe horizontes, até então desconhecidos, Levando-a perceber o ideal que deve ser atingido E a situar-se feliz, na própria realidade. Sou a voz que lhe fala, no momento da indecisão; Sou a mão que se estende, quando há incompreensão; Sou alguém que lhe acena com novas esperanças... Sou, muitas vezes, o elo que a prende à própria vida; Sou como a imagem distante da sua infância querida; Sou a própria recordação do seu riso de criança!... E assim, minha tarefa freqüentemente se me afigura, Como um murmúrio de prece entre mim e a criatura, Desconhecido do mundo, sublime no que pretende. E cada dia que passa, cada vez percebo mais Toda a responsabilidade que esta missão me traz, Buscando junto de Ti o apoio de quem depende: Senhor, possa eu ser luz para outras vidas: iluminar, Tendo a perfeita consciência até onde deve chegar, Sendo presença de Amor em cada coração. Que nunca me falta a Fé, o Ideal, a Coragem, De transformar minha vida, numa perene mensagem Que dê um real sentido à minha orientação

Autor desconhecido (SIQUEIRA, 1995, p 23)

A necessidade de um trabalho mais integrado com a família, a fim de

que se possa realizar plenamente, o ideal educativo, mobiliza os orientadores

educacionais a entender as suas responsabilidades, como professores no

sistema educativo da escola, nas questões sociais dentro do processo de

ensino aprendizagem.

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Sendo assim o SOE, que se destina a um trabalho na linha de

consultoria individual, inserida no coletivo atua no auxilio dos professores, bem

como de toda equipe escolar.

Considera-se de suma importância analisar e compreender como se

organiza o Serviço de Orientação Educacional (SOE), para que a articulação

professor/SOE/família se realize de modo a contribuir para o desenvolvimento

integral do aluno.

A presente pesquisa tem por objetivo investigar como se organiza o

Serviço de Orientação Educacional (SOE) no interior das escolas no processo

ensino/aprendizagem e a sua relevância na atuação ao apoio do corpo docente

e estrutura escolar.

O trabalho de pesquisa se desenvolveu com entrevistas ao Serviço

de Orientação Educacional (SOE) nas escolas católicas: Colégio São Vicente

de Paulo e Colégio Nossa Senhora da Assunção, ambos de Niterói/RJ.

Quanto a análise de casos na primeira escola a orientadora Laís

Clarlson Seba justificou que só poderia repassar dados dos alunos para as

pessoas (famílias e professores da escola) que estão envolvidas no processo,

fora isso o profissional deve manter sigilo para preservar o aluno em questão.

Na segunda escola a orientadora Maria José Chicayban Bastos,

cedeu, alguns casos resolvidos e outros em processo sem identificar os alunos

em questão (Ver anexo 1 e anexo 2).

Foram realizadas leituras, a partir da bibliografia que possibilitou

compreender o Papel do Serviço de Orientação Educacional (SOE) no

processo ensino e aprendizagem.

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As dificuldades encontradas foram inúmeras: tempo e espaço para

encontros; bibliografias atualizadas; disponibilidade das orientadoras e

mudanças no decorrer do processo de pesquisa, que muitas vezes obrigaram a

mudar o rumo e a metodologia adotada.

O relatório final do “Papel do Orientador Educacional na Articulação

do Ensino-Aprendizagem Professor/Aluno“ ficou dividido em três capítulos:

O primeiro capítulo: “Recuperando a história do SOE das escolas

católicas e um breve histórico do mesmo no Brasil”, relata o histórico do

Serviço de Orientação Educacional (SOE) das escolas católicas, sua

introdução no Brasil e a sua atuação no desenvolvimento do processo

ensino/aprendizagem.

O segundo capítulo: “Como caminha a relação família//escola?”,

relata como interage a família no sistema educacional, enfatizando que essa

cumplicidade se torna fundamental na formação do discente.

O terceiro capítulo: “Reconhecimento (ou não) do trabalho do SOE”,

relata como o Serviço de Orientação Educacional (SOE) desenvolve o papel de

integração da família/escola e os resultados obtidos nessa relação.

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CAPÍTULO I

RECUPERANDO A HISTÓRIA DO SERVIÇO DE ORIENTAÇÃO

EDUCACIONAL DAS ESCOLAS CATÓLICAS E UM BREVE HISTÓRICO DO

MESMO NO BRASIL

A orientação educacional, começou no Brasil vinculada a questão do

trabalho. Em São Paulo, por volta de 1931, foi criado o primeiro serviço de

seleção e orientação profissional para alunos de cursos profissionalizantes. Ao

orientador caberia selecionar, orientar, encaminhar aqueles que pretendiam

ingressar em cursos universitários e aqueles que precisavam se profissionalizar

imediatamente.

A primeira tentativa de Orientação Educacional no Brasil deve-se ao notável educador, recentemente desaparecido, Lourenço Filho, quando diretor do Departamento de Educação do Estado de São Paulo, criando o ‘Serviço de Orientação Profissional e Educacional’, em 1931. O referido ‘Serviço’ foi dirigido pela psicóloga Noemy Silveira Rudolfer. Este ‘Serviço’, interrompido em 1932 e reiniciado no mesmo ano por Fernando de Azevedo (NÉRICI, 1974, p. 15-6).

Na oportunidade a orientação educacional foi muito criticada por seu

papel conservador, à medida que sua ação limitava-se a ajustar os indivíduos,

primeiro na escola e, mais tarde, ao mundo do trabalho. Pode-se dizer que o

orientador educacional tenha contribuído para preparar futuros operários

padrão e líderes empresariais.

Sem dúvida, a orientação, como a educação, estão inseridas num

contexto sócio-cultural, político e econômico.

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A orientação educacional chegou ao Brasil através de duas origens:

A linha de orientação educacional proveniente dos Estados Unidos (linha de

aconselhamento) e a linha de orientação recebida da França (linha da

psicologia escolar). Essa última foi a maior responsável pelo aspecto

psicológico que, durante muitas décadas, sublinhou o desenvolvimento da

orientação educacional no Brasil.

As ilustres educadoras Maria Junqueira Schimidt e Aracy Muniz

Freire, foram responsáveis pela segunda tentativa do Serviço de Orientação

Educacional, em 1934, na Escola de Comércio Amaro Cavalcanti, da Prefeitura

do Rio de Janeiro, na época Distrito Federal.

Em 1940, a educadora Aracy Muniz Freire, escreveu a primeira obra

nacional acerca de Orientação Educacional, intitulada “A Orientação

Educacional Secundária”, editora Nacional.

Pode-se afirmar que a educadora Maria Junqueira foi a maior

divulgadora da Orientação Educacional no Brasil, com implantação de cursos,

conferências e escritos a respeito. Teve participação em movimentos da

CADES (Campanha de Aperfeiçoamento do Ensino Secundário), do Ministério

da Educação e Cultura, organizando cursos por todo o país acerca do

respectivo assunto e incentivando a criação de “Serviços de Orientação

Educacional” em todos os estabelecimentos de ensino, bem como estimulando

alguns professores para especializar-se afim de exercerem a função de

Orientador Educacional.

Essa expressão: Orientador Educacional, designada de um serviço

auxiliar da escola, apareceu pela primeira vez, na legislação federal, no

Decreto-lei Nº 4.043, de 30/01/1942 da Lei Orgânica do Ensino Industrial,

seqüencialmente vindo o de Nº 4.424 de 09/04/1942 da Lei Orgânica do Ensino

Secundário e posteriormente o de Nº 6.141 de 18/12/1943. Até os dias atuais

foram implantadas outras leis em torno da mesma matéria.

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O Serviço de Orientação Educacional das escolas católicas

pesquisadas, Colégio São Vicente de Paulo e Colégio Nossa Senhora da

Assunção, de um modo geral, baseiam-se nos valores cristãos de fraternidade,

justiça e igualdade, despertando as potencialidades individuais, buscando o

equilíbrio para a formação e o desenvolvimento do aluno até a sua maturidade,

respeitando o pluralismo das relações e transmitindo valores éticos para

construção da cidadania. Não havendo registros de início deste serviço,

apenas seus objetivos.

Essa equipe técnico-pedagógica tem uma abrangência significativa

no universo escolar, porque ela está sempre interagindo com todas as pessoas

que de certa forma influenciam o processo educativo.

A orientadora educacional procura processar uma ação pedagógica

através de uma metodologia ativa e dinâmica, onde erros e acertos contribuem

para a construção do saber e para formulação de hipóteses.

O favorecimento de uma ação pedagógica permite associar o

aprendizado à vida prática, estimulando a troca de opiniões e a pesquisa como

forma vital de estudo e sistematização da aprendizagem. Todo processo

baseia-se na experiência de cada aluno, mas não se limita a ela, sendo capaz

de levar o jovem a associar sua vivência ao que está aprendendo, mas não

deixa de promover o espaço para estimular a curiosidade e a vontade de

aprender sempre mais.

As sessões em grupo acontecem do ensino fundamental ao ensino

médio. É necessário um planejamento prévio, porque são abordados temas e

projetos de acordo com a faixa etária. E nesse momento que o aluno interage

com seus pares, com a orientadora educacional e com o tema que está sendo

desenvolvido.

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O espaço do orientador educacional precisa ser ocupado por um

profissional habilitado, em conformidade com todos os aspectos legais

implicados. “No Decreto Nº 72.846, de 26/09/1973. Regulamenta a Lei 5.564,

de 21/12/1968, que provê sobre o exercício da profissão de orientador

educacional. D.O.U. (Diário Oficial da União) 27/09/1973” (SIQUEIRA, 1995, p.

29)1. Transferindo para o âmbito da educação, verifica-se que não é mais

possível educar formando consciência critica, onde apenas se dispõe de

informações parciais. Daí a necessidade de caracterizar não só o orientador

educacional, mas qualquer outro educador vinculado à idéia de educação

permanente, informação atualizada e reciclagem contínua.

1 Para maiores levantamentos do Decreto nº 72.846, de 29/09/1973 tem por base o livro da professora Wilma Millan Alves Penteado: “Orientação Educacional: Fundamentos Legais”. São Paulo, Editora Edicon, 1980.

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CAPÍTULO II

COMO CAMINHA A RELAÇÀO FAMÍLIA/ESCOLA?

Os pais e a escola devem ter princípios muito próximos para o benefício do filho/aluno.

Içami Silva, 1996

A família e a escola devem se descobrir com possibilidades de

aprender, ensinar, criar e recriar, crescendo juntas dentro de um contexto de

relacionamento equilibrado.

Pais e/ou professores que tentam conseguir resultados com gritos e

ameaças que não serão cumpridas, são ineficazes, demonstram insegurança e

inabilidade ao lidar com a autoridade. Inserindo-se aqui o papel do orientador

educacional, desenvolvendo o olhar atento, a capacidade de escuta sensível,

não só o que dizem com palavras, como também os sentimentos embutidos

e/ou camuflados.

O orientador experiente, acostumado ao trabalho permanente de

entender o outro, levará ao núcleo da questão o que de melhor existe a fim de

resgatar ou ressignificar situações que poderão gerar prejuízo à aprendizagem

ou provocar uma não promoção à série seguinte.

Aprendizagem e afetividade se entrelaçam, quer seja na família ou

na escola. Faz-se necessário ao orientador educacional desenvolver percepção

aguçada, ou seja, saber ler nas entrelinhas; alimentar a auto-estima do aluno;

dos pais e professores (por que não?); buscar o diálogo; a arte do convívio;

busca do equilíbrio entre falar e ouvir.

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As palavras devem ter força na expressão, para convencer o outro

de que apenas corretas relações humanas nos levam a resolver conflitos, não

só triviais, mas principalmente aqueles capazes de gerar frustrações de

conseqüências imprevisíveis.

A família deverá ser co-participe no processo da maturação do

aluno, deverá estar sempre presente e quando for chamada à escola,

comparecer, porque entende-se que a educação de uma criança é um caminho

de mão dupla com a família, através do diálogo, da compreensão e da

participação.

Há pais, que por pagar uma escola, acham que esta é responsável pela educação dos filhos. Quando a escola reclama de maus comportamentos ou das indisciplinas dos alunos, os pais jogam a responsabilidade sobre a própria escola (TIBA, 1996, p. 169).

A conseqüência mais freqüente encontrada na família, referente ao

trabalho desenvolvido na escola é a transferência das relações que a criança

vivencia com seus parentes mais próximos. Isso ocorre principalmente nos

primeiros anos escolares. A mãe é substituída pela professora aos olhos da

criança, o mesmo ocorrendo em relação ao pai.

A persistência destas relações após algum tempo denota, via de

regra, má adaptação ao quadro escolar, cujas causas precisam ser buscadas

na própria família. A vida escolar é diferente da vida familiar.

Na escola há certo grau de homogeneidade na relação das crianças

com o adulto, sendo esta mais ou menos impregnada de afetividade, que não

pode assumir na relação pais e filhos, sem motivar sentimentos conflitantes

e/ou contraditórios.

O aluno transporta para a escola sua vivência familiar, buscando

adaptar-se à realidade escolar. A sensibilidade do professor em trabalho de

parceria com o orientador educacional, identificará cada caso, lidando com

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compreensão e competência, envolvendo os familiares, sempre que se fizer

necessário.

Família e escola precisam adotar princípios básicos de

comunicação, baseados em afeto, respeito recíproco, funcionando como

comunidades sociais, coexistindo e integrando, necessidades individuais e

coletivas.

Escola e família precisam de cooperação, solidariedade e

responsabilidade mútua.

“Carinho cabe em qualquer lugar e deve estar presente em toda

relação em que existe amor. O carinho faz a ordem chegar ao coração” (TIBA,

1996, p. 198).

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CAPÍTULO III

RECONHECIMENTO (OU NÃO) DO TRABALHO DE SERVIÇO DE

ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL (SOE)

Lutar para nós é um destino... é uma ponte entre a descrença e a certeza de

um mundo novo...

Agostinho Neto

Como professoras atuantes em sala de aula, experimentamos

muitas vezes o dissabor de nos confrontarmos com alunos ditos

“problemáticos” que são alvo de nossas preocupações e reflexões em nossa

prática.

Dessa forma repensando papéis, seja da escola ou da família,

buscamos no Serviço de orientação Educacional (SOE), o fio condutor entre

essas duas realidades, para procurarmos algumas respostas que poderão ou

não serem desalentadoras a nossa questão.

Se temos a ajuda de setores especializados, que tentam, como nós

professores solucionar os problemas dos nossos alunos, por que cada vez

mais se avultam esses problemas?

Não se consegue vislumbrar um ensino mais eficaz e condizente

com as formas de conduta pedagógicas e com a formação profissional de

qualidade que se busca incessantemente.

Para iniciar a busca, investigou-se junto ao Serviço de Orientação

Educacional (SOE) das escolas católicas: Colégio São Vicente de Paulo e

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Colégio Nossa Senhora da Assunção.

As escolas católicas Evangélico Libertadoras particulares, têm por

finalidade o desenvolvimento da capacidade intelectual do aluno, agindo de

forma que educando e educador sejam capazes de sistematizar o

conhecimento produzido por ambos. Trabalhando coletivamente, através do

debate e do diálogo, valorizando o saber formal do professor e a experiência

que o aluno leva consigo para a escola, uma vez que o crescimento pessoal e

grupal surge do confronto das idéias críticas e reflexões com a realidade.

Essencial é a integração entre aprendizagem e afetividade no encadeamento

do processo de “ensinar, aprender, sentir, descobrir e criar”.

Procura-se desta forma perceber como o Serviço de Orientação

Educacional (SOE) desenvolve o papel de articular a relação família/escola.

Faz-se necessário lembrar que toda a referente pesquisa, pretende

recuperar o papel do Serviço de Orientação Educacional (SOE) como parte

integrante no processo educacional, no sentido de auxiliar o professor a

entender o processo da aprendizagem.

As dificuldades para encontrar soluções equilibradas permeiam a

educação como um todo e com certeza nem orientadores educacionais, nem

professores estarão imunes a esses problemas.

O Serviço de Orientação Educacional (SOE) se organiza de forma

participativa no projeto educativo da escola, interagindo com o corpo docente

no sentido de, diagnosticar o problema do aluno, atendendo, realizando

dinâmicas, trabalhando com a família em reuniões e também com a

coordenação pedagógica da escola.

O papel do orientador como agente de mudança é facilitar o desenvolvimento de um estilo de vida coerente com a própria pessoa, muito mais do que o ambiente em que vive. Para tanto, ensina e treina melhores níveis de funcionamento pessoal, e interfira no ambiente com vistas à

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formação de um clima favorável à maturidade do indivíduo (SENA, 1993, p. 28).

No Colégio Nossa Senhora da Assunção, a autora participou, como

observadora, de uma dinâmica com alunos, objetivando um entrosamento nas

relações do grupo, descoberta das emoções e autoconhecimento (Veja anexo

3).

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CONCLUSÃO

Foi percebido que no decorrer do processo da monografia “O Papel

do Orientador Educacional na Articulação das Relações Ensino-Aprendizagem

Professor/Aluno” muitos questionamentos da prática educativa, relacionada ao

Serviço de Orientação Educacional (SOE) que ganharam uma nova dimensão.

A partir da pesquisa (entrevistas, dinâmica, contatos e observações)

o olhar foi diferenciado, quanto ao papel e as responsabilidades do Serviço de

Orientação Educacional, que enfrentam dificuldades e angústias que, muitas

vezes seriam privilégios do professor.

A orientação Educacional percebe o aluno como um ser global que

deve desenvolver-se harmoniosa e equilibradamente em todos os aspectos

fisico, mental, emocional, social, moral, estético, político, educacional e

vocacional.

Com certeza a pesquisa abre mais uma questão: O sistema

educacional precisa ser reformulado?

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BIBLIOGRAFIA

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MUNIZ, Marcos Walmor de Freitas. Elementos de ética profissional do

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NÉRICI, Imédeo Giuseppe. Introdução à orientação educacional. São Paulo:

Atlas, 1974.

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Coleção Universidade Aberta, v. 11. São Paulo: Arte & Cultura, 1995.

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VASCONCELOS, Celso dos Santos. Disciplina: construção da disciplina

consciente e interativa em sala de aula e na escola. São Paulo: Libertad, 1998.

VASCONCELOS, Geni A. Nader (Org.). Como me fiz professora. In: O Sentido

da Escola. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.

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ANEXOS

Anexo 1 - Estudo de caso (casos resolvidos).

Anexo 2 - Um caso em processo: Interpretação expressa através de

desenhos.

Anexo 3 – Dinâmica observada no Colégio NS da Assunção (papéis

complementares)

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ANEXO 1

ESTUDO DE CASO (CASOS RESOLVIDOS)

(a) O Caso R. e T.

Há crianças que se recusam completamente a adaptar-se à escola.

É o caso de R., 15 anos, 5ª série, do Centro Comunitário João Henrique

Raeder.

A freqüência e o trabalho escolar são sinais de maturidade, o que

aspira a criança equilibrada como meio de afirmar-se. Ao contrário, a criança

que deseja a regressão, que se recusa a crescer, que se satisfaz numa

situação infantil, atinge, primeiramente, o trabalho escolar, tornando-se um mau

aluno.

R., aos 8 anos, após o nascimento de uma irmã, começou a praticar

a “anorexia intelectual”, na tentativa de reivindicar a atenção da mãe, antes

somente voltada para ela, agora totalmente envolvida com o bebê. Sentia-se

excluída no ambiente familiar e, apesar de dizer que estudava as lições - o que

realmente fazia, dizia que, na hora das provas, de nada lembrava. Tentava

reivindicar a atenção da mãe, através de seu fracasso escolar.

É um caso típico. As causas desse bloqueio são de ordem afetiva

familiar e o desejo de regressão é quase sempre fruto de um complexo de

desmame ou, de um modo mais geral, de um sentimento de exclusão. A

criança pratica a anorexia intelectual, como poderia praticar a anorexia física ou

enurese, por reivindicação.

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T., 17 anos, está sempre atormentada por sentimentos de

incapacidade. Ainda que busque motivações e estímulos não consegue

interessar-se por qualquer assunto ou atividade pertinente a escola, só a

freqüentando por insistência de seus pais.

Sua lembrança mais remota data dos primeiros anos, períodos da

educação infantil, quando encontrava-se matriculada na mesma escola onde

sua mãe lecionava.

Sem ter participado de uma boa adaptação da filha ao universo

escolar, sua mãe costumava trancar à chave a porta de sua sala para não se

perturbada quando T, sentindo-se sem o amparo necessário, chorava do lado

de fora.

A dor de T., jamais foi aceita por seus pais, que decidiram transferi-

la para outra escola.

A atitude dos pais pode ser a causa, como também o nascimento de

um irmão mais novo. É assim que uma queda de rendimento escolar pode ser

o efeito de um nascimento que, pelo ciúme que faz irromper, reaviva a

lembrança e o gosto da situação infantil em que a mãe estava toda à sua

disposição. O fracasso escolar, que, primitivamente, é o simples efeito de um

desejo mais ou menos consciente de regressão, toma-se bem cedo um meio

consciente de reivindicação.

A maioria dos pais reage ao insucesso escolar, procurando o

professor, falando da criança aos amigos ou levando-a ao médico. A criança

descobre, deslumbrada, que o fracasso escolar pode constituir um meio de

chamar a atenção, de tomar-se, novamente, o centro das preocupações e de

reconquistar a afeição materna. Essa afeição reconquistada, por outro lado, faz

com que o aluno perca, rapidamente, todo o interesse na reivindicação escolar.

(b) O Caso B.

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Os pais de B., eram notadamente críticos, careciam de empatia e

calor humano quando descreviam as experiências familiares vividas. Além de

ignorarem, negarem e banalizarem qualquer fato positivo referente ao filho,

costumavam repreendê-lo, desaprovando-o antes de estarem certos de sua

responsabilidade e envolvimento. Em casa e na escola B., sempre era o

“culpado”, sendo castigado severamente, o que o deixava muito irritado (“esse

menino não tem jeito mesmo!”).

Nestas circunstância tomou-se um adolescente inseguro, instável

(“gordinho, feioso e cheio de espinhas”), aluno “medíocre”, alcançando apenas

o mínimo exigido no rendimento escolar, sempre as voltas com comunicados

que especificavam sua conduta indisciplinada, cada vez mais reforçada pelos

professores, bem como a baixa auto estima experimentada.

Para seus pais e irmãos B., era o “único problema da família”, uma

vez que sempre acontecia algo que tomava praticamente impossível qualquer

tentativa de mudança afinal, “B. não tem jeito mesmo!”.

O sentimento dos pais em relação a B estava tão comprometido com

menos-valia que foi objeto de surpresa quando este apresentou sua melhor

amiga da escola, uma atraente e graciosa adolescente (“como pode uma jovem

tão linda interessar-se por um garoto sem jeito como você?”).

B., trouxe o relato do episódio para a escola, expressando o quanto

havia ficado humilhado, sentindo-se inseguro em manter o mesmo padrão de

amizade e relacionamento com a colega.

Sua professora percebeu a oportunidade de se aproximar do aluno e

ensiná-lo a buscar soluções para seus problemas; estavam dando aí o passo

mais importante para legitimar a rejeição expressa pelos pais e a possibilidade

de reverter o sentimento de menos valia. Pela primeira vez ele foi ouvido com

empatia.

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O que a professora fez foi mais que reunir dados: usou o olhar para

perceber as nuances da emoção expressa pela tristeza, usou a imaginação,

para ver a situação da perspectiva do aluno. Usou palavras cariciosas para

exprimir de forma tranquilizadora e acrítica o que ouvia e nomeava cada uma

das emoções, qualificando-as. Mas o mais importante: usou o coração para

sentir verdadeiramente o que seu aluno relatava.

Decidiram de comum acordo, que os pais seriam convidados a uma

entrevista para que, juntos, pudessem definir objetivos a fim de solucionar os

problemas levantados.

A conversa transcorreu pautada em relatos autênticos da parte dos

pais que, com simplicidade, reconheceram “rejeitar” as características do filho.

Orientados para legitimar os sentimentos experimentados pelo filho, a

reconhecer e valorizar seus pontos positivos e qualidades, e, mais importante,

a demonstrarem sua afeição, não mais o considerando um “problema sem

solução.

Por sua vez, a professora buscou também construir um novo

universo escolar, onde B., era reconhecido e qualificado de forma afetiva,

carinhosa e construtiva, críticas e recriminações foram sendo trocadas por

elogios, afagos, e o resultado não demorou a se revelar. Passados 2 anos B.,

pode, finalmente, levar para casa, ao término do ano letivo, uma avaliação

onde o sucesso de sua transformação ficava assim registrado.

Uma etapa significativa desse trabalho foi a preparação emocional,

ajudando B., a reconhecer e nomear suas emoções, demonstrando carinho e

empatia todas as vezes que trabalharam juntos em sala de aula, quando ele

correspondia na dinâmica do processo educacional, assumindo

responsavelmente o papel que lhe cabia. Reconhecido e valorizado, na escola

e na família. B., venceu uma etapa importante de sua infância e continua

triunfando. É um jovem alegre, comunicativo, de bem com a vida, consciente

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de seu compromisso social, uma vez que já cursa o Ensino Médio e se prepara

para uma escolha de profissão.

À primeira vista, o caso pode parecer tão simples quanto irreal, mas

a prática foi complicada, e perturbadora, muitos sentimentos contraditórios

foram experienciados, dores e feridas antigas precisaram ser tratadas e

curadas, mas alcançou-se o objetivo e o resultado foi amplamente satisfatório.

Acredita-se que, como Rubem Alves, “o único objetivo de tudo que a gente faz

é muito simples: há um dia, que o fruto será colhido”.

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ANEXO 2

UM CASO EM PROCESSO:

INTERPRETAÇÃO EXPRESSA ATRAVÉS DE DESENHOS

· Desenhos: por que não?

As crianças, desde a mais tenra idade, mostram uma tendência ao

que poderíamos chamar compulsão a desenhar, trabalho de traçar o mundo

como o vêem e sentem.

Faço questão de precisar, contudo, que o que me interessa antes de

mais nada não é a representação infantil, remetida a um processo de análise

psicológica mas, essencialmente o sentimento expresso, o vínculo

estabelecido, o prazer do afeto, ou aversão, o desagrado na relação vivida.

Assim, no que concerne aos desenhos elaborados, parece natural

que constituam uma via privilegiada de acesso ao sentimento experimentado

na relação aluno-professor. O que está, com efeito, em questão é o valor para

a criança do tipo de relação que experimentam, o recurso do desenho como

modo de restabelecer a comunicação bloqueada (na infância, criança desenha

mais o que sente, pois demonstrar os sentimentos com palavras é difícil).

O desenho n0 1 feito por M., 11 anos, pode ser considerado como

produção manifesta do que a professora de Português lhe inspira, mostra a

consideração dos sentimentos suscitados, da expressão livre da agressividade

(boca exalando fumaça, olhos vazados, mãos voltadas para dentro, “trama” de

rede no lugar da saia).

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Na escola construtivista, onde há maior liberdade e aproximação

entre professor e aluno, o desenho revela-se agressivo ou irônico, trazendo à

tona sentimentos negativos. O de número 2, por exemplo, retrata à professora

de Matemática. A aluna utilizou o desenho como forma de ataque, criando uma

figura bizarra.

Ato de domínio, ato de desembaralhar o fio que a liga ao outro, ato

complexo de produção enigmáticas, os desenhos 3, 4 e 5, refletem o conflito

experimentado por diferentes crianças em relação a mesma pessoa adulta,

vista ora como figura feminina com traços masculinizantes, ora como figura

absolutamente masculina. Nítida ambivalência sexual, conflito com a figura

autoritária da retratada. Importa aqui o distanciamento afetivo evidenciado, do

professor que resiste a compreender que se relaciona com seres singulares,

estando aprisionado num esquema que reduz seu corpo a representações

dúbias, confirmando o relacionamento frio, ausente de ternura afetividade.

Sem dúvida alguma o cérebro necessita do afeto para seu

desenvolvimento e as mais importantes estruturas cognitivas dependem deste

alimento afetivo para alcançar um adequado nível de competência. Sem matriz

afetiva, o cérebro não poderá alcançar seus mais altos picos na aventura do

conhecimento. Nos desenhos 6, 7, 8, 9 e 10 podemos observar os braços

abertos, atitude acolhedora, grau de espontaneidade de diferentes professoras

desenhadas por diferentes alunos, mas multiplicadas na imagem protetora,

cariciosa, reveladora da reciprocidade de um mesmo código de afeto.

Remontando a Platão, época na qual se subentendia que “a

educação corre paralela a uma certa disciplina erótica que obriga a sublimar a

relação de sedução que se estabelece entre o mestre e o aluno, para levar o

último à identificação apaixonada com o mesmo modelo”.

Assim, reivindica-se a afetividade como componente essencial da

ação pedagógica.

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ANEXO 3

DINÂMICA OBSERVADA NO COLÉGIO NS DA ASSUNÇÃO

(PAPÉIS COMPLEMENTARES)

Preparação:

Espaço onde os alunos possam ficar sentados em círculo. Papel e

lápis para todos os participantes. (Esta dinâmica foi realizada na biblioteca da

escola).

Utilização:

O professor deverá escrever em tiras de papel o nome de um

profissional e, em outra tira de papel, seu complemento ou o nome de um

personagem social e sua complementação. Foi utilizado nessa atividade :

Policial x delinqüente / mãe x filho / juiz x réu / professor x aluno.

Preparar tantas tiras de papel quantas duplas formar. Os alunos

apanham uma tira de papel sem identificar previamente seu conteúdo. Através

de mímica, cada integrante deverá dramatizar o papel sorteado e, após,

procurar seu complemento, formando duplas. Feitas as identificações, é

possível que as duplas criem uma cena para que todo grupo possa identificá-

los.

Concluída essa atividade, a orientadora procedeu com discussões

dos elementos emocionais projetados.