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ESCOLAPORTUGUESA DE MOÇAMBQUE - CENTRO DE ENSINO E LÍNGUA PORTUGUESA | diretora: dina trigo de Mira | Maputo - Moçambique Ano XIII N.º 95 Mar/Abr 2015 Palavras do mundo em português Múltiplas dimensões da palavra animaram a Semana da Leitura O andamento da língua portuguesa em Moçambique

O Pátio - Edição 95

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Edição correspondente aos meses de março e abril de 2015

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ESCOLAPORTUGUESA DE MOÇAMBQUE - CENTRO DE ENSINO E LÍNGUA PORTUGUESA | diretora: dina trigo de Mira | Maputo - Moçambique

Ano

XIII

N.º

95

Mar

/Abr

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Palavras do mundo em português

Múltiplas dimensões da palavra animaram a Semana da Leitura

O andamento

da língua portuguesa

em Moçambique

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editorialPara ler nesta edição

pátio das laranjeiras | Revista bimestral da EPM-CELP | Ano XIII - N.º 95 | Edição Mar/Abr 2015

diretora Dina Trigo de Mira | editor geral António Faria Lopes | editor-executivo Fulgêncio Samo| redação António Faria Lopes, Fulgêncio Samo e Graça Pinto | editores João Pinto (TIC) eAlexandra Melo (Psicologando) editora gráfica Inês George | colaboradores redatoriais nestaedição Ana Paula Relvas, Ana Albasini, Adília Teixeira, Ana Catarina Carvalho, Francisco Carvalho,Antero Ribeiro, Gabriela Canasta, Jorge Gonçalves, Diogo Teixeira, Mércia Macuácua e SandraCosme | grafismo e pré-impressão Inês George, António Faria Lopes e Fulgêncio Samo | fotografiaFilipe Mabjaia, Firmino Mahumane e Ilton Ngoca | revisão Graça Pinto | impressão e produçãoCentro de Recursos Educativos | distribuição Fulgêncio Samo (Coordenador)PROPRIEDADE Escola Portuguesa de Moçambique - Centro de Ensino e Língua Portuguesa, Av.ªdo Palmar, 562 - Caixa Postal 2940 - Maputo - Moçambique. Telefone + 258 21 481 300 - Fax + 25821 481 343

Sítio oficial na Internet: www.epmcelp.edu.mz | E-mail: [email protected]

A crescente diversidadeda língua portuguesa

epm-celp

AEPM-CELP reconheceu e assumiu, desde sempre,o seu papel de divulgação das língua e cultura por-

tuguesas, por estar inserido num país cuja língua ofi-cial é portuguesa e onde a multiculturalidadecaraterística permite e facilita a utilização de outras lín-guas, para além dos idiomas locais. Comunicar em por-tuguês é reforçar a nossa identidade cultural eenaltecer o passado longínquo do povo luso, que, pelomundo fora, vai deixando um pouco de si, numa ati-tude universalista, sobretudo nos países que acolheme acarinham a língua portuguesa.

Convictos de que há várias formas de falar e escre-ver em língua portuguesa, fomos conhecer de maisperto o que faz a “Cátedra de Português - Língua Se-gunda e Estrangeira” da Universidade Eduardo Mon-dlane. Percebemos que, para além da suafuncionalidade oficial, o português é uma língua vivaque inventa e reinventa-se dia a dia no quadro de umemergente dinamismo cultural e social próprio, pau-tado pela liberdade de afirmação e determinação.

Noutro quadrante de valorização das diferençasnão só culturais, mas também individuais, a Sala deEnsino Estruturado da EPM-CELP, que acolhe criançascom necessidades educativas especiais, oferece meiose pessoas dispostas a explorar e respeitar a singulari-dade de cada um. Somos uma escola verdadeiramenteinclusiva e, por isso, fomentamos aprendizagens ati-vas, promotoras da autonomia pessoal e da conscien-cialização do papel que cada cidadão, individualmente,pode desempenhar na sociedade. O ensino especialna EPM-CELP perfilha uma visão marcadamente huma-nista e humanizada do ensino, pelo que todos os seusagentes procuram ajustar-se, diariamente, às carate-rísticas das crianças que acolhemos com o objetivoclaro de contribuir para a sua inclusão.

Concluimos e apresentámos o nosso Plano de Me-lhoria para o triénio 2014-2017, assumindo publica-mente o compromisso de fomentar e implementaratividades e práticas conducentes a mais sucesso es-colar. O ensino de qualidade, de mãos dadas com a ex-celência, continua na mira das nossas inquietações,por isso apostamos num projeto que incide nas áreasque consideramos prioritárias, como sejam a articula-ção e a contextualização curriculares, a avaliação dasaprendizagens, a supervisão pedagógica e a comuni-cação da escola com a comunidade educativa, com aconvicção profunda de que as mudanças farão surgirmelhores resultados.

Assinalámos, também, o 25 de Abril de 1974, cons-cientes de que o nosso presente resulta do passadoque deve ser enaltecido e relembrado, porque há con-quistas que carecem de atualizações por via da sua ce-lebração. Os factos históricos cruzam povos, épocas eideais que permanecem intrinsecamente ligados, comoé o caso das histórias de Moçambique e de Portugal

A dirEçãO.

atividades | A força de atração do ensino experimental nos laboratórios ea imagem cinematográfica ao serviço da aprendizagem ambiental

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efemérides | Os escritores João Paulo Borges Coelho e Calane da Silvafestejaram com a EPM-CELP o 41.º aniversário do 25 de Abril de 1974

semana da leitura | A descoberta e redescoberta da palavra dita, escrita,declamada e ilustrada ao serviço da formação cultural

entrevista | A titular da Cátedra de Português na UEM, PerpétuaGonçalves, fala da evolução da língua de Camões em Moçambique

epm-celp | Plano de Melhoria para o triénio 2014-2017 pretendemelhorar, em primeiro lugar, os resultados escolares

texto | Contribuições literárias de alunos da EPM-CELP dão vida àsecção “Na ponta da língua”

17 teatro | Maningue Teatro começou a despedida da temporada2014/2015 com a peça “As lágrimas são netas do mar”

18 psicologando | O autismo como forma particular e única de percecionaro Mundo - uma abordagem instrumental

8 reportagem | Uma incursão no quotidiano escolar dos alunos comnecessidades educativas especiais que estudam na EPM-CELP

solidariedade | Cidadela das Crianças beneficiou dos resultados doprojeto de turma do 9.º ano no âmbito da Educação para a Cidadania

19 tic | A banda desenhada ao serviço do ensino da língua portuguesa e deconteúdos significativos e relevantes para a formação da criança

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cooperação

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as entidades responsáveis pela imple-mentação do programa da rede de Bi-

bliotecas escolares de Portugal emescolas públicas, comunitárias e profissio-nais do sistema de ensino de Moçambi-que, reunidas em Maputo, a 21 de abril,defenderam a necessidade de se procederà atualização do Protocolo de Cooperaçãonos domínios das bibliotecas escolares eda promoção da leitura, assinado emMarço de 2010 entre os dois países.

em representação do Ministério daeducação e desenvolvimento Humano(MiNedH) de Moçambique participaramno encontro a diretora Nacional do ensinoPrimário, antuia Soverano, a chefe doCentro de documentação do MiNedH,Constância Cuamba, e o responsável pelodepartamento dos Livros escolares e Ma-teriais educativos, remígio rainde. a es-cola Portuguesa de Moçambique – Centrode ensino e Língua Portuguesa (ePM-CeLP) fez-se representar pela diretora,dina trigo de Mira, e pela responsávelpela Área da Cooperação nos domíniosdas bibliotecas escolares, ana albasini.em representação da Fundação PortugalÁfrica (FPa), esteve presente na reunião oresponsável pela Área da Cooperação nosdomínios do ensino profissional e das bi-bliotecas escolares, José Mingocho.

Feito o balanço do trabalho desenvol-vido, desde março de 2010 até à atuali-dade, no âmbito da implementação do

Parceiros das bibliotecas escolaresdefendem atualização dos acordos

referido programa da rede de Bibliotecasescolares de Portugal, os representantesda ePM-CeLP falaram sobre a relevânciada iniciativa internamente impulsionadapela ex-viceministra da educação de Mo-çambique, Leda Florinda Hugo, que assi-nou o citado acordo pelo ladomoçambicano. Foi neste contexto que osparticipantes na reunião realizada nas ins-talações do MiNedH abordaram a neces-sidade de se proceder à atualização doProtocolo de Cooperação nos domíniosdas bibliotecas escolares e da promoçãoda leitura, que já data de 2010.

ao nível da formação contínua de pro-fessores e no seguimento do pedido deaudiência endereçado ao ministro da edu-cação e do desenvolvimento Humano,Jorge Ferrão, a ePM-CeLP deu a conhe-cer à diretora Nacional do ensino Primárioos assuntos que pretende abordar no en-contro solicitado, nomeadamente o ba-lanço do trabalho realizado desde 2009 atéfevereiro de 2015 e a continuidade do Pro-tocolo de Cooperação que rege a área daformação de professores.

a FPa, por seu turno, centrou as inter-venções em torno do Programa de imple-mentação da rede de escolasProfissionais de Moçambique, em execu-ção desde 2001, e sobre a necessidadedaqueles estabelecimentos de ensinoserem dotados de bibliotecas escolaresque apoiem os processos de ensino e de

aprendizagem dos alunos. Mais acrescen-tou a FPa que, para facilitação do pro-cesso, subscreveu também o Protocolo deCooperação nos domínios das bibliotecasescolares e da promoção da leitura. atra-vés deste compromete-se a colaborar nopagamento de contentores para transportede livros, equipamentos diversos e mobi-liário para as bibliotecas das escolas pro-fissionais intervencionadas, bem comopara apoio do projeto que a oNG aidGLo-BaL desenvolve no Chibuto ao nível daformação de professores bibliotecários dasescolas onde foram instaladas bibliotecas.

José Mingocho, representante da FPa,também abordou a questão da colabora-ção com a ePM-CeLP nos trabalhos deconceção de documentos orientadorespara o MiNedH definir as políticas condu-centes à construção de uma rede estrutu-rada de bibliotecas escolares emMoçambique.

Por fim, a diretora Nacional do ensinoPrimário do MiNedH referiu a necessi-dade da criação de instrumentos de ava-liação do impacto das bibliotecas norendimento escolar dos alunos. encerrouo encontro de trabalho lembrando a neces-sidade urgente dos diferentes agentes pro-motores da leitura uniformizaremprocedimentos, sendo fundamental a rea-lização de um encontro entre todos os par-ceiros do MiNedH na área das bibliotecasescolares e da promoção da leitura.

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solidariedade

Educação para a Cidadania promovemelhorias na Cidadela das Crianças

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No final da primeira quinzena de Março teve lugar nas pis-cinas da ePM- CeLP um torneio escolar de Natação,

organizado pelo nosso departamento de educação Física edesporto escolar, no qual participaram, para além dos alu-nos da escola organizadora, os da escola americana de Ma-puto e da escola trichardt.

a ePM-CeLP continua empenhada em desenvolver eacarinhar esta modalidade desportiva, constituída por umgrupo de alunos cuja existência remonta apenas há trêsanos, com sucessos que o têm notabilizado, com aconteceunesta competição. importa, pois, destacar que a ePM-CeLPalcançou 39 lugares de pódio, nas 53 provas em que parti-cipou, logrando 23 primeiros lugares, seis segundas posi-ções, tendo, por 10 vezes, colocado atletas no terceiro lugar.

EPM-CELP conquistou quase 40 lugares de pódio

No âmbito da área curricular da educa-ção para a Cidadania, a turma C do

nono ano da ePM-CeLP organizou, em 18de abril último, uma festa de angariação defundos em prol do orfanato Cidadela dasCrianças, dando, assim, continuidade aum projeto iniciado no ano letivo anterior.

em junho de 2014, os alunos, algunspais, a diretora de turma, que assume aresponsabilidade pela área curricular, osubdiretor para a área administrativa e fi-nanceira da nossa escola e a docente deMatemática visitaram o orfanato, a quemofereceram vários bens e um lanche con-vívio, enquanto os meninos da Cidadelaretribuiram com uma peça de teatro.

durante aquela visita os alunos ficarammuito chocados com as más condições doespaço exterior da Cidadela e das suasinstalações, com a consequente falta desegurança. esta situação motivou os nos-sos alunos a ajudar os meninos da Cida-dela. assim, na altura, foi realizado umlevantamento das necessidades, que in-cluiu a construção de um muro e as recu-perações de sanitários, das camaratas, dacozinha, da horta e dos sistemas de águae de eletricidade, o que resultou num orça-mento muito elevado e algo desmotivador.

Neste ano letivo, os nossos alunosmostraram vontade em prosseguir com oprojeto, que foi acelerado com o conheci-mento da notícia de um possível encerra-mento da Cidadela, iniciando-se a

angariação dos fundos necessários à rea-lização atempada das imprescindíveisobras. Com a ajuda de um grupo de pais,a turma decidiu fazer a festa de obtençãode receitas, o que implicou conseguir pa-trocínios de várias empresas, bem comouma participação empenhada de voluntá-rios, sem os quais não teria havido co-mida, doçaria, bebidas, venda deartesanato, rifas, sorteio e leilão, música eespetáculo. ao dinheiro realizado na festajuntaram-se alguns donativos em géneros,em intervenções diretas nas instalaçõesdo orfanato e em numerário.

Graças a todos os que participaram nafesta, aos que, voluntariamente, trabalha-ram e aos donativos recebidos já foram fei-tas algumas das obras, estando outras adecorrer.

as preocupações e as ações dos alu-nos desta turma tiveram um efeito multipli-cador, já que motivaram outras turmas aparticiparem neste projeto.

oxalá esta generosidade permita quea Cidadela continue a ser a casa dos me-ninos a quem a vida não sorriu.

ANA PAULA RELvAS

Grupo de alunos da turma C do 9.º ano que dinamizou a campanha de angariação de fundos

n ata ç ã o

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atividades

Filme “rio” relembra proteção florestal

No âmbito do estudo dos animais, con-teúdo programático da disciplina de

Ciências Naturais do quinto ano do ensinobásico, esteve patente no Laboratório deCiências Naturais da ePM-CeLP, duranteuma semana de março último, uma expo-sição que proporcionou verdadeiras aulaspráticas de observação e estudo de ani-mais vertebrados e invertebrados. "Nãosabia que o ouriço-do-mar tinha um exoes-quelto!", afirmou a propósito um aluno en-tusiasmado com a iniciativa.

a observação de coleções definitivasdo espólio de Ciências Naturais, nas quaisse visualizam animais invertebrados, taiscomo abelhas, borboletas e escorpiões,contrastou com a apreciação de animaisvivos que rodopiavam em caixas e aquá-rios, tais como cágados, sapos, caracóis elagartixas. Por outro lado, os alunos testa-ram a impermeabilização das penas de al-guns animais e observaram, à lupa,escamas de peixes existentes no labora-tório. oportunidade, ainda, para os alunosdesenharem, com rigor científico, lagos-tins, amêijoas e caranguejos, bem comopara retirarem cartilagens de lulas e toca-rem na pele nua de sapos.

as experiências vividas nos laborató-rios da nossa escola levaram os alunos

experimental

participantes a compreender os diferentestipos de formas, revestimento, locomoção,alimentação e reprodução de alguns ani-mais. o entusiamo foi tal que atraiu o inte-resse de professores e alunos do primeirociclo de escolaridade.

o ensino experimental parece conti-nuar a motivar os alunos para, com olhosde cientista, estudarem os animais, talcomo ilustra a afirmação, no final de umaaula, de um aluno participante: "a melhoraula de sempre!"

Para celebrar o dia internacional dasFlorestas, assinalado a 21 de março,

a ePM-CeLP exibiu para os alunos doquinto ano de escolaridade, no auditórioCarlos Paredes, o filme de animação "rio2", dirigido pelo brasileiro Carlos Saldanha.

No âmbito do estudo dos animais e dasplantas, os docentes da área disciplinar deCiências Naturais sensibilizaram os alunospara a biodiversidade que o filme "trans-borda", uma vez que se desenrola na flo-resta da amazónia, permitindo o estudo einvestigação de vários seres vivos. o pan-fleto distribuído aos alunos incluiu umquestionário de exploração do filme, cen-trado na problemática da desflorestaçãoilegal do “pulmão” do planeta terra.

o filme "rio 2" projeta as riquezas na-turais e culturais do Brasil, frisando o car-naval e o futebol como energiascontagiantes. as cores e as músicas dapelícula fazem o espetador quase sentir ocheiro dos frutos e animais da florestaamazónica, sensibilizando os alunos parao estudo científico de espécies animais.

Animais no laboratório

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semana da leitura

o mote “palavras do mundo”inspirou a semana da leiturada epm-celp, alinhada com ainiciativa do plano nacional deleitura que organizou a nonaedição em toda a rede escolarportuguesa de 16 a 20 de marçoúltimo. a biblioteca escolar josécraveirinha assumiu a organizaçãoe desenvolveu atividades dedescoberta e redescoberta dapalavra dita, escrita, declamada ouaté ilustrada, em homenagem aolivro e à leitura ao serviço dacultura e da formação pessoal esocial.

palavras do mundopalavras do mundo

“ePM a Ler+” marcou o início da Se-mana da Leitura” com um convite a

toda a comunidade escolar para um ato deleitura individual e silencioso durante 20minutos divididos de igual modo pelos tur-nos da manhã e da tarde. Mal soou a cam-painha, o que não é habitual na nossaescola, todos os elementos da comuni-dade educativa, previamente avisadospara este “toque”, pegaram no seu livro oudocumento e dedicaram -se à leitura. du-rante este intervalo de tempo reinou o si-lêncio na escola pois todos tinham sidoavisados da interrupção momentânea dasatividades para dar lugar à leitura genera-lizada.

a leitura é, por norma, um ato individuale de entrega pessoal, por isso a atividadecausou algum impacto ao colocar toda aescola a ler em simultâneo, em dia e horamarcados. atentos ao facto de que asnovas tecnologias da comunicação e da

informação desviam, frequentemente, osolhares e os saberes dos nossos jovenspara um mundo diferente daquele que nosé apresentado pela linguagem verbal,torna-se imperioso alertar para a importân-cia da leitura. Celebrada coletivamente, aleitura é uma forma de recordar que a suaprática deve fazer parte integrante dasnossas vidas, pois ela estimula-nos a ima-ginação e ensina-nos a aprender.

omundo actual é, tendencialmente, icó-nico no qual, por vezes, a linguagem

verbal é secundarizada, por ser menos co-lorida e atrativa, em especial para os jo-vens. Foi sobre esta nova realidade que a

Como os conceitos se materializam empalavras, a Semana da Leitura enalte-

ceu-as como os elementos básicos dopensamento humano, sem as quais os ra-ciocínios não se concretizam. Por sua vez

todos envolve e que possui imensas virtua-lidades que se pronunciou João Pinto, pro-fessor do 1.º ciclo de escolaridade, napalestra que dinamizou sob o tema “Nomundo da internet”, dirigida a alunos dosoitavo e nono anos, bem como aos encar-regados de educação.

do campo do conhecimento científico,que é um tipo de saber mais consensual,objetivo e universal, a Semana da Leituratrouxe “a teimosia de Stephen Hawking”para uma palestra proferida por HelenaCorreia, professora de Físico-Química, edirigida aos alunos do terceiro ciclo do en-sino básico e do ensino secundário.

p u b l i c a ç õ e s

pa l e s t r a s

l e i t u r a

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semana da leitura

aexposição de trabalhos do artesão mo-çambicano orlando Mondlane, que

deu origem às ilustrações do livro “o casa-mento misterioso de Mwidja”, lançado pelaePM-CeLP, despertou a sensibilidade es-tética de todos quantos cruzaram o átrioprincipal da nossa escola no decorrer daSemana da Leitura.

as obras “o casamento misterioso deMwidja” e “armadilhas da Floresta”, esteda autoria de Hélder Faife, foram, por seuturno, dramatizadas por alunos do sextoano da nossa escola em articulação comos colegas das escolas primárias comple-tas Matchik tchik e Unidade 19, por im-pulso do Centro de Formação, no âmbitodo projeto Mabuko Ya Yina. as dramatiza-ções surgiram como resultado do trabalhodesenvolvido em contexto de sala de aula,envolvendo, no âmbito da cooperação, asescolas moçambicanas vinculadas ao pro-jeto Mabuko Ya Hina, que acedem àsobras publicadas pela ePM-CeLP atravésdas maletas de leitura.

o cinema também marcou presençana Semana da Leitura com a exibição dosfilmes “o fabuloso destino de amélie”,“amigos inseparáveis” e “deus das mos-cas”. em paralelo, o concurso de Provér-bios e adivinhas, a atividade PalavrasFaladas e a atuação do coro da ePM-CeLP “Little Singers” marcaram também aedição 2015 da Semana da Leitura.

cada língua usa as suas próprias palavras,organizadas de acordo com um dina-mismo linguístico próprio, que configurauma determinada identidade cultural, aqual é, muitas vezes, refletida em obras li-terárias. desta forma, empenhada em for-talecer e divulgar a língua portuguesa, aePM-CeLP lançou o livro “o casamentomisterioso de Mwidja”, do autor moçambi-cano alexandre dunduro, uma iniciativaenquadrada num projeto mais vasto de pu-blicações, que visa, também, promover jo-vens escritores moçambicanos.

d i v e r s o s

m o m e n t o s

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reportagem

Quando a diferença não faz diferençaa educação inclusiva não é um dilema na epm-celp. alunos com necessidades educativas

especiais (nees) integram a rotina diária da escola, que assume o desafio da integração escolarde crianças animadas, de forma particular, por sonhos de vida e gosto pela aprendizagem.

Já passaram quatro anos desde que aePM-CeLP assumiu, pela primeira vez,

o desafio de incorporar o ensino especialno seu projeto educativo. Para isso criou,em 2011, uma sala de ensino estruturado,para alunos dos vários níveis de ensino,desde o pré-escolar ao “secundário”.

Acomodar crianças do ensino especial,numa turma do ensino regular é uma ex-

periência gratificante, conforme considerouKátia Borges, professora titular de uma turmado quarto ano de escolaridade. Para começarfoi preciso preparar o terreno, apresentandoaos alunos as caraterísticas dos colegas comquem passariam a viajar no mesmo “barco”. Ini-ciada a viagem, promove-se a aceitação e o res-peito pela diferença, as “máximas” presentesem cada dia.

Desta convivência entre a educação inclu-siva e o ensino regular são colhidas vantagenspara todos. Tanto os professores como os alu-nos aprendem a conviver uns com os outros.Como afirmou Kátia Borges: “é enriquecedorcompreender o ensino especial. Fiquei maissensibilizada sobre este mundo, que me desafia,sem constituir um fardo no trabalho. Privilegioa afetividade que se deve ter em relação a uma

Convivênciaentre o especial

e o regularenriquece todos

Pelo menos 13 alunos são, diaria-mente, acolhidos na nossa escola ondesão enquadrados, em regime alternativo,em rotinas e atividades propícias ao seudesenvolvimento e, porque não, ao enri-quecimento dos colegas com quem fre-quentam o ensino regular. São alunos

sinalizados com várias caraterísticas, no-meadamente autismo moderado e severo,deficiência inteletual, multideficiência, sín-drome de dawn, hiperatividade com déficede atenção, mutismo seletivo e surdez se-vera.

criança, procurando fazer um trabalho pedagó-gico à medida do que corresponde aos alunos,sem esquecer que estas crianças valorizam ossentimentos e precisam de ser amadas”.

Alguns alunos da turma não hesitaram emafirmar que “é bom conviver porque, quandofor grande, vou ter que lidar com pessoas dife-rentes. Ser amigo permite descobrir que os ou-tros são boas pessoas e divertidas, quando lhesfalamos calmamente”.

»»»»

Reportagem fulgêncio samo

n a s a l a d e a u l a

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reportagem

A rotina diária na escola a jor-nada escolar começa, por norma, tal comosucede para os demais alunos da escola.recebidos nos portões pelos técnicos dasala do ensino estruturado, os alunos doensino especial são, muitas vezes, os maisexpeditos a desembarcar dos carros queos transportam para a escola, despedindo-se apressadamente dos encarregados deeducação para abraçar o novo dia na es-cola. É visível que se sentem felizes na es-cola. Como testemunharam algunsprofesssores, educadores e técnicos queos acompanham, estes alunos envolvem-se entusiasmadamente nas rotinas diáriase, por vezes, no final do dia, manifestamvontade de prolongar a jornada.

Situar no tempo e no espaçoQuando chegam à sala os alunos encon-tram um ambiente caloroso que funcionacomo uma bússola para o dia. o primeiropasso é consultar a agenda diária e, a se-guir, ouvir ou ler uma história é, frequente-mente, o ponto de partida para exercitar aleitura, a interpretação ou a recriação.Como disse Gabriela Canastra, responsá-vel pelo ensino estruturado na ePM-CeLP, “a rotina de início é uma estratégiaque serve para ajudar as crianças a perce-berem a realidade e nela se orientarem,sendo o acolhimento um momento-chave,um pontapé de saída matinal para a se-quência de afazeres. a principal responsa-bilidade do ensino especial consiste emajudar os alunos a construir o seu projetode vida nas valências profissional, social eescolar”.

a sala de ensino estruturado é a mo-rada de base, onde a sequência diária deações visa, essencialmente, estruturarpensamentos e sentimentos. daí a impor-tância do estabelecimento de um ambienteque transmita ordem e organização, queestes alunos não alcançam de forma intrín-seca. “É uma dinâmica que visa transfor-mar a execução de rotinas emcomportamentos, em modos de ser e deestar”, concluiu Gabriela Canastra.

Como tudo funciona a sala deensino estruturado basea-se no métodoteaCCH (tratamento e educação paraautistas e Crianças com défices relacio-nados com a Comunicação).

este modelo foi adotado por ser com-pleto, conciliando aspetos cognitivos ecomportamentais, correspondendo a umaperspetiva construtivista do ensino, onde otrabalho emocional se alia ao estruturalpara o reajuste de comportamentos. de-senvolve-se, assim, um diversificado pro-grama de atividades, com momentos deaprendizagem, de lazer, de computador,de trabalho de grupo, entre outros.

Aeducação musical, a dança, a ginástica, a na-tação e as artes plásticas têm sido os prin-

cipais canais facilitadores da inclusão dosalunos com NEES.

Como se consegue? Tudo depende daabordagem: primeiro, é importante estabelecerbons afetos e, logo a seguir, ter a ousadia de de-safiar os limites, rompendo alguns preconceitospedagógicos sobre o possível e o impossível.os alunos NEEs devem ser, igualmente, enca-rados como pessoas com direitos e obrigaçõesajustadas à sua medida, testemunhou a leandrareis, professora de Educação Musical que

acompanha os meninos desde a fundação doensino estruturado na EPM-CElP. A realizaçãosemanal de sessões de musicoterapia dá ori-gem a espetáculos “teatromusicais” que, paraalém de explorar as potencialidades dos alu-nos, servem para desmistificar limites, confir-mando a tese de que quanto mais se arriscamais resultados se alcançam.

Por seu turno, o professor de dança, KimSalip, confirmou que os alunos NEEs não per-dem o compasso. rebolam com entusiamo,conseguindo reproduzir os movimentos doprofessor com muito interesse e vontade.

Éagradável notar que, progressivamente, osalunos captam e realizam alguma coisa.

Quando começam a obedecer às rotinas, sen-timos que colhemos os frutos do que plantá-mos. Para estes meninos a escola é umaplataforma de organização. Por isso o seu es-paço de base chama-se Sala de Ensino Estrutu-rado, onde procuramos desenvolver a máximaautonomia possível para a vida destas crianças,dentro e fora da escola. Nalguns casos, chegamcompletamente dependentes. Mas, nós damoso “litro”, ajustando-nos às suas capacidades.

Não é sempre fácil lidar com estes meni-nos. Precisamos de muito “punho” para gerircertas situações. Contudo, nunca desisto por-que gosto deste trabalho e sinto-me em paz.

Sempre foi o meu sonho trabalhar com crian-ças com NEES. Tenho a angústia de não quererver os meninos angustiados, por isso o trabalhoexige uma vigilância permanente. Mas, aomesmo tempo, é preciso guardar distância,confiar e libertar, para que sejam independen-tes. Por vezes é frustrante não conseguir aten-der às necessidades de uma criança: elespercebem o que nós queremos, mas nós nemsempre…há coisas que não conseguimos al-cançar dentro delas. Mas, se não explicamos oque se passa, estas crianças não percebem oque está a acontecer.

ErCílIA MAozE

Técnica Acompanhante

Vigiar com

permanência

é o segredo

»»»» romper limitespara não perder o compasso

e x p r e s s õ e s a r t í s t i c a s

t e s t e m u n h o

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efemérides

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Evocação

da Liberdade

atualiza

cidadania

fraternal

Preservar e difundir a liberdade, refor-çando a consciência da sua atuali-

dade, foi o mote da celebração naePM-CeLP do 41.º aniversário da “revo-lução dos Cravos”, assim designado o mo-vimento militar que, a 25 de abril de 1974,possibilitou a implantação de um regimepolítico democrático em Portu-gal.

À semelhança de anos ante-riores, o Grupo disciplinar dePortuguês tomou a iniciativa dereunir a comunidade educativapara uma comemoração reali-zada no auditório Carlos Pare-des, na véspera da efeméride.

o evento contou com as par-ticipações dos escritores Calaneda Silva e João Paulo Borges Coelho que,em conjunto, animaram o debate dirigidoa uma plateia constituída por professores,alunos e encarregados de educação, entreoutros convidados.

os escritores emprestaram verdadei-ros testemunhos relativamente à formacomo vivenciaram, na altura, este factohistórico, satisfazendo a curiosidade mani-festada por elementos da plateia que pre-tendiam explicações da atualidade a partirdo “25 de abril”.

a reafirmação da democracia, comosistema de uma nação livre e autodetermi-nada, constituiu-se como uma oportuni-dade para relembrar o compromisso dosserviços públicos da educação em formaralunos capazes de exercer uma cidadaniavincada pela compreensão e tolerância.

a sessão comemorativa abriu com a vi-sualização do documentário “Já não sefazem revoluções assim”, a que se seguiuas intervenções de João Paulo BorgesCoelho e Calane da Silva. o programatambém contemplou a declamação dopoema “Poeta Castrado, Não”, de JoséCarlos ary dos Santos, para além de qua-tro momentos musicais relacionados coma revolução dos Cravos, concluindo coma entoação conjunta da "Grândola Vila Mo-rena”, símbolo da fraternidade portuguesa.

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entrevista

O nosso português escapa à normaporque ainda não é língua materna

É titular da Cátedra de “Português Lín-gua Segunda e Estrangeira”. Explique-nos qual é a diferença entre língua“segunda” e língua “estrangeira”?em geral, usa-se o termo “língua segunda”para as línguas não maternas usadas emcomunidades multilingues, como é caso damoçambicana, e que têm um papel institu-

cional e social: são usadas na administra-ção pública, no ensino formal, etc. esteuso das línguas não maternas contrastacom as chamadas “línguas estrangeiras”que são, em geral, aprendidas em am-biente escolar. este é o caso do francêsem Moçambique, por exemplo, que não éuma língua da nossa comunidade.

E o português como língua oficial? depois da independência, o português foiescolhido como língua oficial de Moçambi-

que. a atribuição deste estatuto à línguaportuguesa teve a ver com as suas poten-cialidades como língua de “unidade nacio-nal”, que permite, pelo menos por agora, acomunicação internacional e a transmis-são do conhecimento científico. o meu co-lega Gregório Firmino também chama aatenção para a escolha do portuguêscomo língua oficial estar relacionada como facto de ser a única língua que pode

Entrevista conduzida por fulgêncio samo

perpétua gonçalvesperpétua gonçalvestitular da cátedrade português na uem

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a língua portuguesa permanece em expansão em todo o mundo. ao aumento do número de falantes parececorresponder uma crescente variedade na sua utilização local. o “o pátio” pediu a perpétua gonçalves que

explicasse ao leitor como o português de moçambique está a evoluir.

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considerado “norma” amanhã. tambémme parece importante que sejam alertadospara o facto de que as línguas têm diver-sas componentes e os nossos juízos sobreos erros, em cada uma dessas componen-tes, variam muito. Já há estudos que mos-tram que os falantes moçambicanos sãomuito permissivos em relação à pronúnciae até ao vocabulário, isto é, não lhes pa-rece incorrecto terem um sotaque diferentedo europeu ou usarem palavras inexisten-tes no português europeu. Mas, em geral,acham que se devem considerar erros oscasos de falta de concordância do tipo:“Nós gosta desta comida”. os professoresprecisam de mais apoio teórico para se po-derem situar mais confortavelmente nestedebate sobre a questão das normas.

Em que medida é que as línguas bantuinfluenciam a formação do novo léxicodo português moçambicano?Como é natural, o português europeu nãotem palavras específicas para determina-das realidades, que são próprias do nossopaís. isso passa-se com as áreas da cul-tura (práticas religiosas, pratos típicos,etc.), da fauna, da flora e também das ati-vidades económico-sociais típicas da so-ciedade moçambicana, como é o caso, porexemplo, de palavras como dumbanengue

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agregar falantes – a elite escolarizada – lo-calizados em todas as regiões do país. É,portanto, uma língua com cobertura nacio-nal, diferentemente das línguas bantu quesó são faladas em determinadas regiões.

Que atividade desenvolve a Cátedra emprol da língua portuguesa?Bem, talvez seja importante começar pordizer que a Cátedra foi criada no âmbito deum protocolo de cooperação, assinado em2008, entre o Camões - instituto da Coo-peração e da Língua e a Universidadeeduardo Mondlane. a ideia era criar umum programa de investigação que contri-buísse, de forma ativa, para a difusão epromoção de estudos sobre a língua por-tuguesa. então, o que fizemos foi abrir di-ferentes linhas de trabalho. dou-lhe algunsexemplos: criámos um website onde dis-ponibilizamos vários tipos de produtos deinvestigação, como é o caso das bibliogra-fias sobre diferentes variedades do portu-guês - algo que nunca tinha sido feitoantes. Nesse website também disponibili-zamos um observatório de Neologismosdo Português de Moçambique, que estáem permanente actualização. isso tam-bém nunca tinha sido feito antes. alémdisso, temos investido muito na formaçãocientífica e profissional de jovens investi-gadores e de professores do ensino se-cundário e universitário, ligados à área dalíngua portuguesa.

Fala-se muito do português de Moçam-bique ou português moçambicano…Tanto quanto sabemos, ainda não foi fi-xada uma norma para este português.Confirma esta informação?Quero fazer uma observação preliminar:noto, desde os primeiros anos do pós-in-dependência, que sempre houve umapreocupação, sobretudo por parte dos in-telectuais e de alguns académicos, emtermos uma norma moçambicana do por-tuguês, uma norma nossa. esta é umaquestão polémica. Como linguista, cos-tumo chamar a atenção para alguns pro-blemas que devem ser bem ponderadosantes de se avançar para uma padroniza-ção do “nosso” português. Começo pelofacto de o português ainda ser uma línguanão materna para a maior parte da popu-lação moçambicana. em termos de uso dalíngua, isso significa que muitas estruturase palavras não têm caráter estável e regu-lar. esta é uma caraterística geral das lín-guas não maternas, a sua variabilidade,que é muito maior do que a que se encon-tra nas línguas que falamos como línguasmaternas. Portanto, se quisermos fixaruma norma do português moçambicano,vamos ter de estabelecer as propriedadesestáveis, que são usadas pela maior parteda comunidade de falantes de português.

Nestas questões de padronização, cos-tuma-se usar como referência a chamadavariedade “educada”, aquela que é usadapelos falantes mais escolarizados. É achamada “norma culta”.

E já há algum trabalho feito nesse sen-tido?Muito pouco ainda. a maior parte dos es-tudos realizados nesta perspetiva norma-tiva, e não são muitos, tem sido feita aquino sul e, além disso, não tem orientaçãoexclusiva para os falantes instruídos. Parapodermos estabelecer uma norma queseja realmente moçambicana, teríamos defazer uma recolha de dados a nível de todoo país e, portanto, seria preciso um amplotrabalho de descrição da nossa variedadedo português. os brasileiros já fizeramisso, é uma pesquisa muito cara e que re-quer uma grande equipa. Penso que serádifícil, de momento, reunir condições parao fazer aqui em Moçambique.

A ausência de uma norma do portuguêsmoçambicano é um problema para osprofessores de português?Sim, é um problema. Mas podia não ser…Como sabe, a norma tomada oficialmentecomo referência em Moçambique é o por-tuguês europeu padrão: os livros escolaresseguem essa norma e os documentos ofi-ciais também. a nível da comunicação oral,esse português está pouco presente, amaior parte dos falantes não está expostoà norma europeia, está exposto a um por-tuguês “local”. daqui resulta aquilo a quealguns linguistas chamam “competênciasmúltiplas”: é um termo que pretende darconta do facto de que há falantes que co-nhecem e usam mais do que uma normade uma mesma língua. Por exemplo: os fa-lantes moçambicanos escolarizados co-nhecem mais do que uma norma doportuguês porque estão expostos à normaeuropeia (sobretudo através dos livros es-colares) e também às normas locais doportuguês. isso cria alguns conflitos e an-gústias nos professores porque nãosabem como gerir estas “competênciasmúltiplas” na sala de aulas. têm muitasdúvidas: devem ou não considerar comoerros tudo o que não segue o padrão eu-ropeu? Penso que, se os professores re-cebessem mais formação nesta área,podia-se reduzir o impacto negativo destafase de transição de uma norma europeiapara uma norma moçambicana do portu-guês.

Como?de muitas maneiras, mas talvez o mais im-portante seja apetrechá-los com informa-ções que podem ajudá-los a gerir aquestão dos erros versus normas. Porexemplo: é importante que saibam que ne-nhuma língua é imutável, que o que cha-mamos “erro” hoje pode vir a ser

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c á t e d r a d e p o r t u g u ê s

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perfil

Perpétua GonçalvesInvestigadora em Linguística doPortuguês na UEM

Naturalidade

Moçambique

Idade

68

Habilitações académicas

doutoramento em Linguística Portu-

guesa (Universidade de Lisboa).

Profissão

Professora Catedrática. titular da

Cátedra de Português, Língua Se-

gunda e estrangeira na Universidade

eduardo Mondlane (UeM). docente

nos programas de licenciatura, mes-

trado e doutoramento na Universi-

dade eduardo Mondlane, em

Maputo. Cursos e seminários em ins-

tituições do ensino superior em

África, europa e Brasil.

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ou txopela. Portanto, nessas áreas, no por-tuguês de Moçambique há muitos emprés-timos às línguas bantu.

E como são escritas essas palavras emportuguês?até muito recentemente, havia umagrande dispersão: cada um escrevia comolhe parecia e havia palavras que eram es-critas de diferentes maneiras, pois não ti-nham uma grafia estabilizada:bassela/bacela; xitiqui/xitique; etc. o pro-jecto “Vocabulário ortográfico Comum daLíngua Portuguesa” ou VoN, mais particu-larmente o VoN moçambicano, vem pre-cisamente tentar resolver estascontradições, estabelecendo uma normaortográfica do português de Moçambique.este vocabulário já está disponível na in-ternet em http://voc.cplp.org. Por exemplo,de acordo com o VoN_Moçambique, deveescrever-se bacela e xitique…

A propósito de ortografia: como é queestá a ratificação do Novo Acordo Orto-gráfico da Língua Portuguesa em Mo-çambique?tanto quanto sei, já há um consenso deque Moçambique deve ratificar esteacordo, só faltando a aprovação oficial aonível do Parlamento. a Comissão Nacionalpara a Língua Portuguesa, de que façoparte, realizou um amplo trabalho de ava-liação do impacto económico e socialdesta decisão e, com base nos resultadosdesse estudo, preparou um parecer favo-rável à ratificação do acordo, que foi apre-sentado ao Conselho de Ministros.

O que nos pode dizer sobre o ensino bi-lingue em Moçambique?embora seja defensora deste modelo deensino, não sou a melhor pessoa parafalar desse assunto porque não tenho feitopesquisa nessa área. Portanto, só possodar algumas informações gerais. Porexemplo, talvez seja interessante dizerque a introdução do ensino bilingue emMoçambique não foi um processo pacífico:durante muitos anos, depois da indepen-dência do país, havia uma grande resistên-cia, por parte do Governo, em integrar aslínguas bantu no ensino formal. Final-mente, em 1993, foi autorizada a experi-mentação deste tipo de ensino, em Gazae tete. essa fase experimental teve resul-tados positivos e, em 2003, foi autorizadaa expansão do ensino bilingue para outrasprovíncias, como Maputo, Gaza, Sofala,Niassa, Zambézia, inhambane, Nampula eCabo delgado. atualmente, este tipo deensino já está a ser feito em 16 línguasbantu nacionais.

Qual o modelo de ensino bilingue queestá a ser adotado?

em Moçambique adotou-se o chamado“modelo de transição precoce”, em que alíngua materna dos alunos, uma línguabantu, é usada como meio de ensino nosprimeiros três anos de escolarização dascrianças. Portanto, durante esse período,a comunicação na sala de aula é feita nalíngua materna dos alunos e o portuguêsé ensinado como disciplina para as crian-ças desenvolverem a capacidade de co-municar (ouvir/falar) nesta língua. Só noquarto ano de escolaridade é que o ensinopassa a ser feito em português e as lín-guas bantu passam a ser estudadas comodisciplinas.

Em Moçambique muitas crianças jásabem falar português quando entramna escola.Sim. ainda bem que coloca essa dúvida.Há critérios para introduzir o ensino bilin-gue numa dada escola ou região: de mo-mento, está a ser introduzido nas zonasrurais onde, em geral, as crianças nãofalam português no seu ambiente familiare, portanto, quando entram para a escola,ainda não sabem falar essa língua. dequalquer maneira, é importante recordarque os pais podem optar entre inscreveros seus filhos no ensino bilingue ou no en-sino monolingue em português, que foi oque funcionou desde a independência. Poroutras palavras, não há nenhuma escolaem Moçambique em que a única opçãoseja o ensino bilingue.

Como fica a questão da diversidade delínguas em Moçambique? Numa mesmaturma, pode haver alunos falantes dediferentes línguas bantu como línguasmaternas.essa também é uma questão que muitoscolocam. Como disse atrás, o ensino estáa ser introduzido nas zonas rurais, mas fal-tou acrescentar que são zonas linguistica-mente homogéneas, onde a maior parteda população fala uma única língua bantu.esta é uma situação típica das zonas ru-rais, diferentemente das cidades onde hámaior diversidade linguística.

«a cátedra de “Português Língua Segunda e estrangeira” surge no âmbito deum protocolo de cooperação, assinado em 2008, entre o Camões - instituto da Coo-peração e da Língua e a Universidade eduardo Mondlane.

esta cátedra foi concebida como um programa de investigação que visa contri-buir para a difusão e promoção de estudos sobre a língua portuguesa, assim comode materiais e ferramentas destinados ao seu ensino como língua não materna.

ao perseguir este objectivo principal, espera-se: promover a emergência de in-vestigadores moçambicanos; incentivar a realização de pesquisas sobre o portu-guês em África e em timor Leste, assim como sobre aquisição e ensino doportuguês língua estrangeira.»

(in http://www.catedraportugues.uem.mz)

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aePM-CeLP elaborou um plano de me-lhoria da sua atividade para o triénio

2014-2017 após consulta alargada às di-ferentes estruturas educativas da institui-ção. a iniciativa surgiu no contexto daavaliação externa realizada, no final doano letivo 2013/2014, pela inspeção Geralda educação e Ciência (iGeC) do Ministé-rio da educação de Portugal, que tutela oestabelecimento de ensino.

o Plano de Melhoria 2014-2017 res-ponde não só às sugestões e recomenda-ções apresentadas no relatório da iGeC,em particular nos domínios dos resultadosacadémicos e da qualidade do serviçoprestado à comunidade escolar, mas tam-bém aos próprios anseios da instituição edos seus agentes, identificados atravésdos processos de avaliação interna previa-mente realizados.

Um estabelecimento de ensino fun-ciona como um todo, no qual interfereminúmeras variáveis que se influenciam mu-tuamente e concorrem conjuntamentepara o resultado do trabalho de todos osagentes do sistema, docentes ou discen-tes. Neste quadro, o Plano de Melhoriaelegeu cinco áreas de intervenção priori-tária, a saber: articulação horizontal e ver-tical do currículo, adequação do currículoao contexto local, melhoria dos resultadosacadémicos e análise de resultados, su-pervisão pedagógica e comunicação daescola com a comunidade educativa.

Articulação curriculara articulação curricular é uma área cru-

cial da atividade pedagógica, em relaçãoà qual considera-se que é necessário fazerprogressos com o objetivo de conferir,

cada vez mais, maior unicidade aos currí-culos que, amiúde, se apresentam desco-nexos e dispersos.

desde logo a ePM-CeLP procuroucriar momentos de ação-reflexão conjuntae consequentes, garantindo o contributoefetivo de Maria do Céu roldão, especia-lista em desenvolvimento curricular, paraa dinamização dos processos de articula-ção curricular a ser interpretados pelos do-centes, tal como o “o Pátio” noticiou nasua última edição. esta iniciativa constituiuo ponto de partida para a concretização deações concretas de articulação curricular,previstas aos níveis dos conselhos deturma ou das diversas áreas disciplinarestransversais aos vários graus de ensino.

No Plano de Melhoria 2014-2017 cons-

epm-celp

a epm-celp, comprometida com o seu próprio sucesso como instituição educativa,

prometeu publicamente melhorar, prioritariamente, os resultados escolares dos seus alunos,

apresentando um plano de melhoria para o triénio 2014-2017

Cooperação, empenho e inovaçãoinspiram Plano de Melhoria

2014-17

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epm-celp

tam, por exemplo, ações concretas quevisam uma efetiva articulação curricularentre o pré-escolar e o 1.º ciclo, no con-texto de um trabalho colaborativo em proldo desenvolvimento global da criança, oqual vai ocorrendo sequencial e harmonio-samente entre os ciclos de ensino.

as disciplinas de Português e de Mate-mática merecem, também, atenção espe-cial no que se refere ao processo detransição do quarto para o quinto anos deescolaridade, garantindo uma sequencia-lidade e continuidade de saberes que im-porta consolidar de modo a proporcionaraprendizagens significativas plenamenteconetadas à vida real.

o ensino das ciências, nos diferentesciclos de ensino, reforça as suas práticascom projetos de divulgação científica, dosquais se destaca o “o Céu nas NossasMãos”, que dinamiza sessões no planetá-rio, igualmente abertas às escolas moçam-bicanas, numa perspectiva de estreitacooperação entre diferentes sistemas deensino. os projetos “Mãos na ciência “ e“Física dia a dia” são divulgadores da ciên-cia, explorando as potencialidades datransversalidade horizontal e vertical dosplanos de estudo, despertando nos alunosa curiosidade e o gosto pela descoberta.

o projecto “Filosofia para Crianças”continua a constituir uma oferta de comple-mento curricular dirigida aos alunos dosterceiro e quarto anos de escolaridade doensino básico. a permanência do projetodemonstra a mais valia que constitui napromoção e desenvolvimento do questio-namento e pensamento críticos, que im-porta estimular desde cedo nas crianças.

“educação Financeira” é uma temáticaque vai continuar a ser explorada nasaulas de educação para a Cidadania, emparalelo com outras atividades no âmbitodo voluntariado, visando a adoção de com-portamentos responsáveis e solidários dosalunos, enquanto consumidores e cida-dãos.

o refeitório da ePM-CeLP integra tam-bém o leque das preocupações na área daprestação de serviços, pelo que o Grupodisciplinar de Ciências Naturais continuaempenhado na promoção e adoção de ati-tudes conducentes a um estilo de vidasaudável, envolvendo os alunos em inicia-tivas de defesa da saúde.

Adaptação curricularNa convicção de que o processo de

ensino-aprendizagem não pode ser espar-tilhado por cânones legislativos e curricu-lares emitidos a partir do exterior, semdeixar de os respeitar, a autonomia dequalquer instituição de ensino permite diri-gir um olhar atento ao meio envolvente na

expetativa de facilitar inúmeras experiên-cias de aprendizagem. Nesse sentido, oPlano de Melhoria enfatiza ações quevisam a adequação do currículo ao con-texto local, em particular no âmbito dasdisciplinas de Português, História, Geogra-fia e Ciências Naturais, de modo a incor-porarem as especificidades da culturamoçambicana.

o objetivo final das ações referidas é ode produção de materiais didáticos, sob aforma de brochuras ou outros suportes in-formativos, para utilização na lecionaçãodos conteúdos curriculares abordados nocontexto das especificidades da culturalocal.

Resultados escolaresa qualidade dos resultados escolares

constitui o barómetro de qualquer estabe-lecimento de ensino. Por isso, os olhares,internos e externos, focalizam-se nos re-sultados obtidos pelos alunos, os quais re-fletem, em grande medida, o trabalho dosprofessores.

a melhoria dos resultados académicosestá, naturalmente, na mira do Plano deMelhoria, que integra ações conducentesà promoção do sucesso escolar. Pretende-se, em última instância, implementar ativi-dades e instituir práticas que assegurem

um registo e controlo rigorosos e objetivosdas aprendizagens, tendo em conta asmetas curriculares e os conteúdos de cadadisciplina. trata-se, por conseguinte, deconstruir instrumentos de registo das ava-liações das aprendizagens que permitamuma análise crítica dos resultados, ba-seada no rigor e objetividade, de onde de-correrão tomadas de decisão queprovoquem melhores aprendizagens, nãoesquecendo, naturalmente, a diferencia-ção pedagógica. Neste contexto, importauniformizar procedimentos que permitama monitorização do processo de aprendi-zagem dos alunos, sinalizando as áreasdo saber e respetivas competências aindanão adquiridas, de forma a redefinir estra-tégias e metodologias de trabalho.

as disciplinas de Português e de Mate-mática continuarão a ser alvo de medidaseducativas específicas com a atribuição deaulas de apoio em praticamente todos osciclos de ensino, no sentido de permitir odesenvolvimento de competências trans-versais importantes para a melhoria dasaprendizagens noutras disciplinas.

o ensino especial é uma área em ex-pansão pedagógica na ePM-CeLP, peloque permanece a necessidade de apoiaro seu desenvolvimento, dotando os docen-tes com instrumentos didáticos adequadosàs dificuldades de aprendizagem dos alu-nos envolvidos, apostando numa escolaverdadeiramente inclusiva.

o Serviço de Psicologia e orientaçãovai continuar empenhado no exercício deuma atitude zelosa e cooperante do es-forço dos alunos que desenham os seusprojetos de vida a partir da experiência naescola, onde procuram adquirir as ferra-mentas necessárias para a prossecuçãodos seus planos e objetivos de vida.

Supervisão pedagógicaa integração da supervisão pedagó-

gica no Plano de Melhoria visa a promo-ção, entre os docentes, da troca deexperiências e do trabalho colaborativo, odesenvolvimento profissional e o aperfei-çoamento do serviço educativo prestado.trata-se, portanto, de fomentar o trabalhobaseado numa atitude de partilha de práti-cas pedagógicas, suscetíveis de seremdiscutidas, analisadas e melhoradas emconjunto.

Comunicaçãoa melhoria permanente dos múltiplos

processos de comunicação da escola coma comunidade educativa é, igualmente, umdesafio para o triénio 2014-2017, de modoa garantir, de forma eficaz e em tempo útil,a circulação interna e externa da informa-ção. Nessa medida, a ePM-CeLP estáempenhada em definir um Plano diretor deComunicação que responda a este perma-nente desafio.

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Filosofia para Crianças

Sala de Ensino Estruturado

Projeto “O céu nas nossas mãos”

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texto

Na ponta da língua

Abril trouxe-nos mais uma manhã lumi-

nosa, inundada de sol e preenchida pelos

murmúrios flamejantes da natureza. A luz es-

tendeu-se pelos campos, inundou vales e co-

linas, passeou-se por entre o ventre das

esquinas e abrandou ao pisar o átrio das

cavernas. Um alqueire de pássaros abeirou-

se da minha janela, em voo lento. Estava

ainda de farpela de descanso, pijama de ran-

zal. Joaquim, outro que tal, espreitava pelo

umbigo da fechadura do quarto de Matilde,

que com movimentos de ternura se espre-

guiçava. O cântico harmonioso da passarada

amplificou-se pela aldeia e o sino tocou sete

vezes. O povo encheu-se de vida e as carnes

movimentaram-se fervorosamente pelas ruas.

As mentes nuas de complexidades, que vin-

cam uma gente parca em palavras e pro-

motora de coisas simples, pequenas, sem

alarvidades obscenas, despertaram. É neste

lugarejo recôndito de Portugal que me en-

contro, que me imagino, e crente nessa

minha imagem doente de devaneio, escrevo,

teço juízos e faço descrições. Os aldeões não

sabem que deles falo, que minudeio as suas

destrezas e movimentos. Em bom rigor, não

são passagens muito interessantes estas que

partilho, como não é ideal o crivo que uso

para as filtrar. Se assim é, por aqui me fico,

logo me calo, está expressa a ordem, por

agora, as palavras vão cessar.

Ler é Viver

Espaço literário preenchido com textos livre e espontaneamenteescritos por alunos da EPM-CELP

Hoje em dia, ler é um dos principais saberes que aprendemos na escola e por uma razão isto acontece: a

leitura é uma forma de comunicação imprescindível e já existe desde os primórdios da Terra, mas tem

vindo a ser aperfeiçoada com o tempo.

Em primeiro lugar, a leitura é importantíssima porque é a forma mais antiga de transmitir sabedoria. É

através dela que conseguimos ter toda a informação sobre histórias já há muito esquecidas, mas que per-

manecem nos livros e nos ajudam a compreender os antigos e o Mundo.

Além disso, ler um livro é entrar noutro mundo, onde tudo é possível, desde ser um feiticeiro ou

presidente a marinheiro nos mares e no espaço. A leitura abre as asas da imaginação, deixa-nos ser livres

para sonhar e poder imaginar tudo o que queremos. Por outro lado, ler e escrever é uma forma de comunicar,

quer seja pelo modo mais antigo, como escrever uma carta ou um fax, até aos mais modernos, tal como

enviar mensagens através das redes sociais. O que beneficia em muito a sociedade.

Por último, escrever e ler são formas de nos expressarmos, de mostrarmos ao mundo os nossos problemas,

de pedirmos ajuda ou de podermos criticar livremente o que achamos que está errado.

Contudo, ainda existem pessoas que consideram ler uma perda de tempo, mas será isso verdade? Será

aprender uma perda de tempo? Imaginar será uma perda de tempo? Sonhar será uma perda de tempo? Eu

acho que não e penso que quem não concorda não tem consciência do que perde.

Diogo Teixeira (8.º D)

Écom a leitura que nós enriquecemosas nossas mentes, aperfeiçoamos o

nosso vocabulário e, o melhor de tudo, vi-vemos e sentimos cada letra, cada pala-vra, cada frase…

Assim sendo, ela deve fazer parte dasnossas vidas, pois é graças a ela que po-demos compreender um pouco daquiloque é a sociedade na actualidade, que po-demos tentar compreender o sentido davida e outros valores importantes.

Portanto, sou defensora da tese: “ lerpara aprender”, visto que em todos osmomentos da nossa vida temos uma pa-lavra, uma frase ou mesmo um textopara ler. Do meu ponto de vista, o ser hu-mano que lê está a aprender, por mais queo que leia não tenha a ver com a ciência.

No entanto, os jovens de hoje são os

que demonstram menos gosto pela lei-tura. À medida que a tecnologia vai avan-çando, o vício pela mesma tambémaumenta, tornando-se mais difícil de tra-var. Se pelo menos cada indivíduo lesseum livro (não importa o tamanho) pormês, a sociedade seria mais desenvolvida,a ignorância não a afetaria tanto na atua-lidade.

Em conclusão, a leitura, para mim, éa arte de viver, de criar um mundo sónosso. É bonito ver crianças, adolescen-tes, jovens, adultos e idosos com um livrona mão, fazendo bom uso dele. Ler ajudamuito o ser humano a refletir sobre váriosassuntos.

Mércia Teresa Francisco Macuácua

(8.º E)

Ler para aprender

manhã

jorge gonçalves

Docente

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teatro

ogrupo estudantil Maningue teatro daePM-CeLP encerrou a temporada

2014/2015 com as apresentações daspeças “as lágrimas são netas do mar”, in-terpretada pelos alunos dos quinto e sextoanos do ensino básico, e “o espantalhogeneroso”, pelos alunos dos terceiro equarto anos de escolaridade.

Produzidas e encenadas pelos pró-prios atores, durante as sessões letivas deteatro, a estreia da peça “as lágrimas sãonetas do Mar” destinou-se aos alunos dosexto ano, prioritariamente, e a toda a co-munidade educativa presente, a 29 deabril, no auditório Carlos Paredes, paraonde também está agendada a exibição daobra “o espantalho generoso”, no próximodia 26 de maio.

São pelo menos 32 os alunos que inte-gram o grupo Maningue teatro. reúne-se,semanalmente, no auditório Carlos Pare-des para sessões de trabalho de 90 minu-tos cada, dinamizadas pela professoraSandra Cosme. ao longo do ano letivo ogrupo beneficia de uma dinâmica que pri-vilegia os movimentos do corpo, a mímicae a colocação de voz, explorando aspetosmusicais, os quais incluem as pancadasde molieres, como a cadência para a mar-cação de pancadas de representação.

a narração de histórias, a implementa-ção de jogos dramáticos, bem como a cria-ção e recriação de enredos dramáticos sãoalguns dos recursos metodológicos usual-mente explorados. Como espaço alterna-tivo ao modelo clássico e expositivo doensino, o trabalho no Maningue teatro ins-pira-se num modelo construtivista do co-nhecimento e da experiência. desta forma,a elaboração dramática e a relação entreas personagens são desenhadas com aparticipação de todos os alunos, propi-ciando a improvisação e constante regene-ração ou transformação da própriapersonagem, momentaneamente centrali-zada ou em jogo.

a estruturação e apresentação dos ar-gumentos que compõem as peças traba-lhadas são da responsabilidade dospróprios alunos, resvalando para uma fór-mula que permite criar e recriar as perso-

nagens, numa dinâmica de produçãoconstrutivista. assim sendo, o personagemfinal ajusta-se, em grande medida, ao perfilpessoal de cada interveniente.

a construção e apresentação daspeças de teatro é uma forma de os alunose professores partilharem com os pais eencarregados de educação o trabalho de-senvolvido ao longo do ano. No final, o mé-rito dos alunos é formalmente outorgadopela entrega de diplomas de participação.a iniciativa visa dar a conhecer os proces-sos de organização e produção de umevento cultural do qual os próprios alunossão protagonistas, funcionando numa ló-gica de projeto gerido pelos própriosaprendentes. a avaliação crítica dos pro-cessos e dinâmicas e os resultados atéagora alcançados confirmam a potenciamesta abordagem pedagógica. Como refe-rido pela professora Sandra Cosme, trata-se de uma metodologia alternativa,radicalmente oposta ao sistema reprodu-tivo de um ensino expositivo de conteúdosfeitos. a aposta consiste em criar e valori-zar motivações intrínsecas aos própriosalunos, como intervenientes ativos emtodos processos que conduzem ao desen-volvimento das competências visadas.

a parceria com a disciplina de educa-ção Musical tem permitido valorizar estavertente de linguagem expressiva queapoia a reconstrução de realidades.

As lágrimas do Maningue Teatro

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psicologando

Perceções particulares do mundoa2 de abril último assinalou-se o dia

Mundial da Consciencialização do au-tismo. a data pretende alertar a sociedadeem geral para a existência de mundos, deformas de estar, de caraterísticas huma-nas muito particulares, diferentes e que,por isso mesmo, carecem de um olharatento e sábio. todos temos de aprendera reconhecer mundos que, por se afasta-rem do padrão, do conhecido ou da zonade conforto, são interpretados de formasúnicas e particulares.

o autismo, de acordo com a mais re-cente classificação do Manual de diagnós-tico e estatística das PerturbaçõesMentais - dSM-5 (2013), da american Psy-chiatric association (aPa), integra-se naPerturbação do espetro do autismo (Pea)e é considerado como pertencendo aogrupo das perturbações do neurodesen-volvimento. estas têm início no período dedesenvolvimento que, em muitos casos,corresponde à fase que antecede a en-trada da criança na escola primária. a Peacarateriza-se, basicamente, por um déficenos domínios da comunicação e interaçãosocial e no do comportamento, marcadapela restrição e repetição.

Ser portador de autismo significa teruma forma peculiar de ser e estar na vida,com potencialidades muito próprias quedevem ser conhecidas para poderem servalorizadas e integradas na funcionalidadedas sociedades. Se as peculiaridades doautismo podem dificultar a integração e acomunicação em grupos sociais, o porta-dor de autismo, quando entendido, podeser um excelente colaborador pois apre-senta qualidades que se podem transfor-mar em excelentes capacidades ecompetências para o trabalho.

Na indiscutível visão de que somostodos diferentes no ser, mas obrigatoria-mente iguais no ter quando falamos de di-reitos, partilho a seguir o que seriampedidos de um portador de autismo comsensibilidade suficiente para perceber oquanto é difícil para o mundo regular, semlimitações (?) nem défices (?), entender elidar com as suas diferenças. Num textosobejamente conhecido entre aqueles quetrabalham com autistas, angel rivièremostra-nos o que seria o pedido de um au-tista ao mundo dito “normal”, para que con-seguisse ser entendido, do qual realço osaspetos mais relevantes:

“1 - Ajuda-me a compreender. (…) Dá-me ordem, estrutura e não confusão.

2 - Não te angusties comigo, porque eume angustio. Respeita o meu ritmo.

3 - Não me fales muito, nem depressa. 4 - Como outras crianças e outros adul-

tos, necessito de compartilhar o prazer e ogosto de fazer bem as coisas, ainda quenão o consiga sempre.

5 - Necessito de mais ordens do que tue mais previsibilidade do que tu requeres.

6 - Torna-se difícil compreender o sen-tido de muitas das coisas que me pedemque faça. Ajuda-me a entendê-lo.

7 - Não me invadas excessivamente.Respeita as distâncias que necessito,porém sem me deixares sozinho.

8 - O que faço não é contra ti. Quandofico bravo ou me agrido, se destruo algoou me movimento em excesso, quando meé difícil atender ou fazer o que me pedes,não o faço para te magoar. Já que tenhoum problema de intenções, não me atri-buas más intenções!

9 - O meu desenvolvimento não é ab-surdo, ainda que não seja fácil de enten-der. Faz um esforço para mecompreender.

10 - As outras pessoas são demasia-damente complicadas. Meu mundo não écomplexo e fechado, mas sim simples.

11 - Não me peças sempre as mesmascoisas nem me exijas as mesmas rotinas.Não tens de te fazer autista para me aju-dares. O autista sou eu, não tu!

12 - Não sou só autista, também souuma criança, um adolescente ou umadulto. Compartilho muitas coisas dascrianças, adolescentes e adultos como osque chamas de “normais”.

13 - Vale a pena viver comigo. Possodar-te tantas satisfações como as outraspessoas, ainda que não sejam as mes-mas.

14 - Não me agridas quimicamente. Sete disseram que tenho de tomar medica-

mentos, procura que a medicação seja pe-riodicamente revista por um especialista.

15 - Nem os meus pais nem eu temosculpa do que acontece comigo. Às vezes,as minhas reações e condutas podem serdifíceis de compreender ou de enfrentar,mas não é por culpa de nada.

16 - Não me peças constantementecoisas acima do que eu sou capaz defazer. Dá-me ajuda para ser autónomo,para compreender melhor, porém não medês ajuda demais.

17 - Não tens que mudar completa-mente a tua vida pelo facto de viveres comuma pessoa autista. A mim não me servede nada que tu estejas mal, que te fechese te deprimas. Necessito de estabilidade ebem-estar emocional ao meu redor paraeu estar melhor

18 - Ajuda-me com naturalidade, semconvertê-la numa obsessão Aproxima-tede mim, não te afastes, mas não te sintascomo submetido a um peso insuportável

19 - Aceita-me como sou. Não condi-ciones o teu desejo a que eu deixe de serautista.

20 - Ainda que seja difícil para eu co-municar ou compreender as subtilezas so-ciais, tenho algumas vantagens emcomparação aos que se dizem “normais”.É difícil comunicar-me, porém não consigoenganar. Não compreendo as subtilezassociais, porém tão pouco participo das du-plas intenções ou dos sentimentos perigo-sos tão frequentes na vida social. Serautista é um modo de ser, ainda que nãoseja o normal. Minha vida como autistapode ser tão feliz e satisfatória como a tua“normal”.”

angel rivière (assessor técnico daassociação de Pais de Crianças autistas -Madrid) - www.ama-ba.org.br

edição e texto ALEXANDRA MELO

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durante anos, a banda desenhada foi o“patinho feio” no ensino da Língua

Portuguesa e de outras disciplinas, mas,recentemente, tem sido pela mesma via deensino que esta declinação da narrativatem vindo a ressurgir no quotidiano dosnossos alunos.

as vantagens do ensino da banda de-senhada, tanto no seu formato tradicionalde impressão em papel como na sua novae bem sucedida modalidade digital, comlinguagem própria, são óbvias: permite aoleitor imaginar e conjeturar sobre o quenão é revelado nas vinhetas; as inúmeraspossibilidades de exploração permitem de-senvolver os vários domínios da língua;proporciona diversas situações comunica-cionais, próximas do registo oral; promoveo desenvolvimento da compreensão oralpela abordagem sociocultural que oferece;desperta a motivação nos alunos, fruto daexploração de temáticas geralmenteatuais, contemporâneas e específicas dacultura e do contexto em que este tipo detexto se insere, tornando-a mais próximados alunos.

a banda desenhada tem vindo, gra-dualmente, a perder adeptos, pelo menosno seu formato tradicional de impressãoem papel, mas ressurge, porém, comopower house das vendas na versão digital,na qual os docentes devem incidir a suaatenção. Visto que a promoção e interiori-zação de boas práticas de leitura é uma di-ficuldade transversal nos diversos níveisde ensino, a abordagem a novas formasde conteúdos literários é uma necessidadepremente.

Foi com o intuito de fundir algo tão tra-dicional, como a banda desenhada, comalgo tão contemporâneo, como os conteú-dos literários digitais, procurando, simulta-neamente, promover o gosto pela leiturano meu grupo de trabalho do primeiro ciclo

de escolaridade, que me deparei com acoqueluche dos conteúdos digitais gratui-tos, chamada Bitstrips for Schools.

o Bitstrips for Schools é uma versãoeducacional de uma das aplicações maispopulares do momento, chamada Bitstrips.Podemos encarar este programa comouma ferramenta de “fazer banda dese-nhada”, para aqueles que, tal como eu,são praticamente inaptos para desenha-rem à mão, mas que gostariam de exporas suas ideias, em diferentes formatos,com o objetivo de captarem a atenção dosalunos. a ferramenta não é apenas direcio-nada para os professores, mas, principal-mente, para os alunos.

No sítio oficial do Bitstrips for Schoolsos docentes podem criar uma sala de aulaonline, tal como noutras plataformas edu-cativas do género, na qual os alunos sepoderão registar e criar o seu próprio ava-tar (representação virtual, alter-ego digital).os docentes têm acesso a todas as cria-ções dos alunos, podendo monitorizar oseus progresso e intervir de forma efetivacaso a plataforma esteja a ser utilizadacom um propósito incorreto. os alunos,por seu turno, podem partilhar entre sí assuas criações e imprimi-las no tradicionalpapel, se assim entenderem, tornando oconteúdo digital numa realidade palpávele utilizável no seu dia a dia.

a utilização deste software como ferra-menta educativa parece-me ilimitada. Porexemplo, numa aula de língua estrangeirapodemos pedir aos alunos para criarembandas desenhadas onde revelem conhe-cimentos culturais, situações sociais e in-terações várias típicas e representativasde um determinado país. em salas deaula, onde a ênfase deva ser colocada nodesenvolvimento de capacidade sociais ecumprimento de regras, pode sugerir-se acriação de bitstrips representativos de si-

Bitstrips – abordagem digital à Bdtuações corretas e incorretas, explorando-as em formato oral de “tertúlia”.

exercícios em que o meu grupo de tra-balho tem que desenhar um bit demons-trativo das suas emoções e pensamentos,partindo de uma palavra desconhecidapreviamente ou com sentido abstrato, talcomo alma, amor, paz, têm-me permitidoconhecer, mais pormenorizadamente, avisão dos meus alunos do mundo, aju-dando-me, sobejamente, a adaptar açõese a ser mais incisivo na resolução de pro-blemáticas que me vão surgindo.

Neste momento, as minhas versões fa-voritas de utilização da Bitstrips forSchools centram-se à volta de dois tiposde atividades: num crio situações em for-mato de banda desenhada que explora umconteúdo que desejo abordar e desafio osmeus alunos a conclui-las de acordo comas suas próprias ideias e conhecimentosprévios, seja em contexto de sala de aulacomo de trabalho em casa; noutro osmeus alunos criam, com base num tema,a sua bitstrip que passa a ser o material aser explorado na aula em questão e a fun-cionar como “manual” e fonte de conheci-mento para os restantes colegas.

esta abordagem tem provocado umcrescente desenvolvimento dos meus alu-nos nos âmbitos do pensamento critico, li-teracia visual e capacidade colaborativa,conjugando, ao mesmo tempo, elementosde identidade própria e de “fazer-de-conta”, onde eles demonstram os resulta-dos das suas aprendizagens de formasmuito personalizadas.

Não sei até que ponto o Bitstrips é apli-cável a todos os graus de ensino, mas, noque toca à minha experiência e à dosmeus alunos, tem sido bastante divertido.

joão pinto

Professor do 1.º Ciclo

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“nem me falta na vida honesto estudo/com longaexperiência misturado” - Luís de Camões

Baile de finalistas de 2015 na EPM-CELP