O Pensamento Sociológico e as Formas de Aprender-Ensinar-Aprender

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    1 OBJETIVOS DA APRENDIZAGEM

    INSTITUTO FEDERAL DEEDUCAO, CINCIA E TECNOLOGIAPARABA

    Leandro Jos dos SantosJosali Amaral

    Sociologia da Educao AULA 1

    O pensamento sociolgicoe as formas de aprender-ensinar-aprender

    Conhecer a Sociologia da Educao;

    Problematizar o conceito de educao;

    Analisar a importncia da Sociologia nacompreenso dos processos de socializao.

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    O pensamento sociolgico e as formas de aprender-ensinar-aprender

    2 COMEANDO A HISTRIA

    Disponvel em: http://gestaoeducativa.blogspot.com.br/

    Caro aluno,

    Voc partilha as preocupaes do nosso amigo Calvin, no mesmo? Desde

    pequenos somos estimulados a pensar sobre para que a escola nos prepara. Mas

    pensemos na resposta da professora: o que levamos para a escola? Que relao

    temos com ela? Se a escola deve nos preparar para nos inserir na sociedade, ela

    , em si mesma, um resultado do que fazemos em sociedade.

    J vimos, em outras disciplinas, que a educao no est restrita escola. Ela

    um processo social, que nos modela de acordo com os valores cultivados pela

    comunidade a que pertencemos.

    Nesta aula, vamos refletir sobre educao e sociedade sob a tica da Sociologia,

    pensar sobre a complexidade das relaes em que estamos envolvidos e como

    Figura 1

    http://gestaoeducativa.blogspot.com.br/http://gestaoeducativa.blogspot.com.br/
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    AULA 1

    a educao perpassa as prticas cotidianas, bem como se apresenta sob a forma

    elaborada que a escola nos fornece. Assim, quem sabe consigamos obter algumas

    das respostas que nosso amiguinho Calvin persegue.

    Ademais, nesta disciplina vamos realizar um conjunto de reflexes com o fito

    de compreendermos como se realizam os processos de troca e transmisso

    de conhecimentos nas sociedades contemporneas em suas mais diversas

    dimenses. Mais especificamente, estudaremos os mecanismos a partir dos

    quais uma sociedade compartilha e transmite aos seus membros as formas de

    ser, pensar, agir e fazer, mecanismos esses necessrios manuteno, reproduo

    e transformao desses membros.

    Apresentaremos tambm algumas definies de educao e discutiremos a funo

    da educao escolar. Abordaremos ainda o papel da educao na reproduo

    das desigualdades sociais e como ela pode ser utilizada para identificar oselementos que fazem parte do nosso cotidiano e de nossa cultura. Em nossa

    jornada, tambm poderemos observar o contraste advindo da comparao das

    nossas formas de vida com as prticas culturais realizadas por outras pessoas,

    em outras sociedades. Assim, esperamos que, ao trmino do nosso percurso,

    voc, prezado estudante, possa descortinar os desafios que as geraes atuais

    enfrentam diante das prticas educativas.

    3 TECENDO CONHECIMENTO

    Vamos comear definindo o objeto de nossas reflexes: a educao e a Sociologia

    da Educao. Antes disso, porm, cabe aqui uma problematizao preliminar.

    Voc j vem refletindo sobre a educao desde o primeiro perodo deste curso,

    por meio das demais disciplinas que estudou no ciclo pedaggico. Voc recebeu

    informaes histricas, filosficas e didtico-pedaggicas. Mas como a educao

    pensada pela Sociologia?

    O primeiro problema do nosso objeto que cada um de ns, a priori, j possui

    algumas noes bsicas sobre ele, o que nos faz crer tratar-se de algo j conhecido.

    Mesmo antes de ler todo esse material do curso, j tnhamos um entendimento

    do que educao, seja aquela que recebemos dos pais ou da escola, seja o

    conjunto de regras e valores que queremos transmitir aos nossos filhos etc.

    primeira vista, essas pr-noes podem sugerir obstculos ao estudo da

    educao, posto que so concepes aferradas ao universo das convices do

    senso comum. Portanto, muito distantes de um entendimento crtico. Todavia,

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    elas acarretam a vantagem de no iniciarmos a discusso do zero, j que no se

    distanciam daquilo que pensa a Sociologia da Educao.

    Certamente, se fssemos discutir questes relacionadas a temas com os quais

    voc tem menos familiaridade, voc observaria com mais prudncia os conceitos

    aqui utilizados e estaria mais aberto ao dilogo e reflexo crtica. O fato de

    a educao ser um tema que nos familiar transmite a falsa sensao de que

    ela um fenmeno conhecido. Em razo disso, acredita-se que as questes

    relativas educao j tenham sido amplamente debatidas, e isso pode despertar

    desinteresse no aprofundamento de alguns pontos a ela atinentes. Mesmo

    agora, que voc j chegou at aqui e realizou tantas leituras, pode ser que

    muito das opinies que carrega consigo esteja consolidado pelo pensamento

    familiar do senso comum. Tambm possvel pensar que as dificuldades que

    voc encontrou, ao longo do nosso curso, para conceber a educao resultem

    dessas opinies arraigadas. muito difcil distanciar-se dos valores do mundo

    social a que pertencemos.

    Voc deve estar se perguntando: o que pensa a Sociologia sobre a educao?

    Ora, voc j deve saber que uma resposta mais completa a essa pergunta s

    poder ser claramente delineada no final do nosso curso. Mas, at l, podemos

    associar educao ao conceito de socializao. De maneira bem simples, os

    processos de socializao podem ser definidos como as maneiras pelas

    quais determinados grupos apresentam suas regras, prticas e valores s

    novas geraes.Como voc pode ver, o termo faz referncia ao conjunto deprticas pelas quais novos indivduos so transformados em membros efetivos

    de uma sociedade. Desse modo, educao o subconjunto de prticas cuja

    pretenso formar mentalidades (JOHADA, 1996).

    Mas observe que o conhecimento que as pessoas tm sobre educao muito

    diferenciado e, frequentemente, limitado. preciso que saibamos que aquilo

    que conhecemos da vida social no a sua totalidade. Conhecemos os aspectos

    do mundo social de forma desigual, fragmentada e parcial.

    Quando se fala em educao, ningum se encontra totalmente alheio ao tema.

    Contudo, por outro lado, queremos que voc compreenda que uma abordagem

    sociolgica da educao precisa, necessariamente, incorporar todas essas reflexes

    e delas capturar as suas respectivas recorrncias e regularidades, o que requer,

    sem sombra de dvida, uma negociao permanente entre o que se diz luz

    das teorias cientficas e o repertrio social constitudo sobre o assunto.

    Ora, se sassemos s ruas e perguntssemos aos transeuntes o que educao,

    verificaramos que ali h certo consenso: ela pode ser sinnimo de polidez,

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    AULA 1

    cortesia e boas maneiras e, ao mesmo tempo, pode configurar um conjunto de

    prticas e saberes adquiridos na escola.

    As definies do senso comum parecem revelar uma diferena entre aquilo que

    se aprende na escola e aquilo que se aprende em casa. Atribuir esses significados

    ao conceito de educao jamais lhe traria problemas em sua vida cotidiana,

    pois, mesmo sendo concepes demasiadamente restritivas, elas encontram o

    aplauso do entendimento de qualquer um. Portanto, muito tentador utiliz-

    las, haja vista tratar-se de definies partilhadas pela maioria.

    Essas significaes no so necessariamente equivocadas, mas, por serem

    extremamente restringentes, trazem consequncias que vo alm da simples

    ignorncia do termo. Quando nos convencemos de que educao apenas

    aquilo que se aprende na escola ou aquilo que se aprende em casa, podemos

    ser levados a acreditar que discutir os processos socializadores e as estratgiaspedaggicas seja uma tarefa que cabe exclusivamente aos chefes de famlia e

    aos professores.

    Se alargarmos o objeto dessa definio, voc se sentir mais prximo dessa

    discusso e perceber que, quando falamos em educao, no h a possibilidade

    de existir simples observadores de fatos sociais que lhe so externos e distantes.

    A partir do alargamento do conceito de educao, vamos compreender que

    todos ns somos protagonistas do aprender-ensinar-aprender-e-ensinar, afinal,

    os processos socializadores esto em toda parte: em casa, na escola, na internet,na igreja, nas associaes de bairro, numa clnica mdica, nas telas de TV, no

    rdio ou na rua. Conforme nos ensina Brando (2007, p. 7), ningum escapa

    da educao. [...] Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias

    misturamos a vida com a educao.

    3.1 Afinal, o que educao?

    Mais importante do que conhecer uma imperfeita e problemtica definiode Sociologia da Educao, olharmos mais de perto para as questes ligadas

    educao. Conduzindo a discusso dessa maneira, podemos criar subsdios

    para que voc, ao trmino de nossas reflexes, consiga, por si s, problematizar

    a existncia de disciplinas especficas para estudar os processos educativos e,

    certamente, ter uma viso mais apurada sobre a Educao, a Sociologia e as

    Cincias Sociais.

    Assim sendo, neste tpico, vamos delinear o nosso entendimento sobre a

    educao para, ento, mais adiante, apreciarmos alguns contornos da Sociologia

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    O pensamento sociolgico e as formas de aprender-ensinar-aprender

    da Educao. A perspectiva aqui adotada a defendida pelo professor Brando,

    num texto introdutrio e sugestivamente intituladoO que educao, cuja

    primeira edio foi publicada pela editora Brasiliense em 1981.

    Brando responde questo do ttulo do livro contando-nos uma curiosidade

    suscitada aps o trmino de um conflito envolvendo os desbravadores dos

    Estados Unidos e as tradicionais naes indgenas. Revela-nos o autor que, ao

    fim do conflito, os representantes dos atuais Estados da Virgnia e Maryland

    assinaram um acordo de paz com os ndios de Seis Naes. Aps a assinatura

    do tratado, os novos governantes sugeriram aos ndios que enviassem alguns

    de seus jovens para estudarem nas escolas daqueles Estados. Passado algum

    tempo, eis o que os chefes indgenas disseram sobre o sistema escolar norte-

    americano, em carta enviada aos governadores brancos:

    [...] Ns estamos convencidos, portanto, que os senhoresdesejam o bem para ns e agradecemos de todo o corao.

    Mas aqueles que so sbios reconhecem que diferentesnaes tm concepes diferentes das coisas e, sendo assim,

    os senhores no ficaro ofendidos ao saber que a vossa ideia

    de educao no a mesma que a nossa. [...] Muitos dosnossos bravos guerreiros foram formados nas escolas doNorte e aprenderam toda a vossa cincia. Mas, quando eles

    voltavam para ns, eles eram maus corredores, ignorantesda vida da floresta e incapazes de suportarem o frio e afome. No sabiam como caar o veado, matar o inimigo e

    construir uma cabana, e falavam a nossa lngua muito mal.Eles eram, portanto, totalmente inteis. No serviam comoguerreiros, como caadores ou como conselheiros. Ficamos

    extremamente agradecidos pela vossa oferta e, embora no

    possamos aceit-la, para mostrar a nossa gratido oferecemos

    aos nobres senhores de Virgnia que nos enviem alguns dos

    seus jovens, que lhes ensinaremos tudo o que sabemos efaremos, deles, homens. (BRANDO, 2007, p. 8-9).

    Considerando apenas esse trecho da carta, j possvel termos em mente que

    no h uma nica forma de educar e nem um nico modelo de educao. Se

    considerarmos ainda que a maioria das naes indgenas no possui instituies

    escolares como as que ns conhecemos, compreenderemos que no apenas na

    escola ou em casa que a educao se realiza. Do mesmo jeito, percebemos que

    no so apenas os professores, muito menos os detentores do poder familiar,

    os nicos responsveis pela transmisso dos saberes compartilhados pelos

    membros de uma sociedade.

    A carta dos ndios nos mostra que a educao no a mesma em todos os

    lugares. Isso quer dizer que, para alguns grupos, aprender as leis da fsica, dominar

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    AULA 1

    frmulas matemticas complexas ou refletir sobre unidade ou diversidade da

    psique humana no fazem parte dos seus respectivos processos socializadores.

    Numa sociedade de caadores, por exemplo, a educao de uma criana

    certamente pode incluir elementos diferentes daquilo que aprendem as crianas

    educadas nas grandes cidades. A socializao de um caador pode contemplaros componentes relacionados escolha e preparao de stios, construo e

    instalao de armadilhas, estratgias de imobilizao e transporte de presas,

    etc. Noutras sociedades, a educao pode incluir elementos diferentes desses

    encontrados nas sociedades de caadores, que, por sua vez, podem ser diferentes

    daquilo que se ensina em sociedades cujas fontes de prestgio e renda so as

    atividades baseadas na indstria e no comrcio.

    H que se observar, no entanto, que, no interior de cada uma dessas sociedades,

    h uma infinidade de outras atividades, como aquelas relacionadas religio,

    poltica, organizao das famlias, fabricao e utilizao tecnolgica, etc., como

    tambm existem diversas maneiras de enfrentar as questes mais corriqueiras

    da vida cotidiana, tais como a escolha e preparo de alimentos, os cuidados com

    o corpo, a fabricao de utenslios, atividades ldicas, etc. O fundamental que

    se compreenda que, em algumas sociedades, esses conhecimentos no so

    transmitidos em instituies especficas, como as escolas, igrejas ou partidos

    polticos conforme acontece nas sociedades ocidentais , todos so responsveis

    pela educao das crianas, que aprendem observando, questionando e imitando

    os adultos; no h separaes to rgidas entre o saber-pensar, o saber-fazer, osaber-aprender e o saber-ensinar, tudo constitui uma totalidade.

    Igualmente, no podemos esquecer ainda que, no interior de cada sociedade,

    existem diferentes categorias de pessoas, as quais so educadas de modo

    diferente. Numa dada sociedade, aqueles que so preparados para a guerra

    dificilmente recebero os mesmos ensinamentos daqueles que so destinados

    a cuidar dos animais ou cultivar a terra. Do mesmo modo, os indivduos do sexo

    feminino podero ter acesso a um tipo de educao diferente daquela dada aos

    indivduos do sexo masculino. O mesmo raciocnio pode ser estendido anlise

    de diferentes tipos de sociedade, de acordo com a sua forma de organizao

    (proprietrios e no proprietrios; crianas e adultos; industriais e comerciantes;

    produtores e consumidores, e assim por diante). Assim, quando uma sociedade

    necessita de guerreiros ou de burocratas, a educao ser um dos instrumentos

    utilizados para serem criadas, precisamente, essas categorias de pessoas.

    A educao , como outras, uma frao do modo de vidados grupos sociais que a criam e recriam, entre tantasoutras invenes de sua cultura, em sua sociedade. Formasde educao que produzem e praticam, para que elas

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    O pensamento sociolgico e as formas de aprender-ensinar-aprender

    reproduzam, entre todos os que ensinam-e-aprendem, osaber que atravessa as palavras da tribo, os cdigos sociaisde conduta, as regras do trabalho, os segredos da arte ou da

    religio, do artesanato ou da tecnologia que qualquer povo

    precisa para reinventar, todos os dias, a vida do grupo e a de

    cada um de seus sujeitos, atravs de trocas sem fim com anatureza e entre os homens, trocas que existem dentro domundo social onde a prpria educao habita, e desde onde

    ajuda a explicar s vezes a ocultar, s vezes a inculcar de gerao em gerao, a necessidade da existncia de sua

    ordem. (BRANDO, 2007, p. 10-11).

    Falar em educao consiste em refletir sobre a cultura humana: observar as

    maneiras como cada sociedade se cria, se reproduz e se transforma. Por meio

    da educao, so criadas diferentes categorias etrias, as distines de status, e

    cada um desses traos da cultura transmitido de uns para os outros, de modo

    que se possa construir e legitimar a ideia da sociedade em que se vive.

    At agora temos falado sobre processos socializadores e j sabemos que a

    educao um fato social presente em todas as instncias de nossas vidas.

    Sabemos tambm que ela delineia as crenas, os valores, as regras e as maneiras

    de ser, de pensar e de agir de determinados grupos. Em razo disso, j podemos

    compreender que o que rege a vida das pessoas nem sempre aquilo que elas

    aprendem em casa ou na escola, pois h uma infinidade de outros conhecimentos

    que lhes so transmitidos por outras instncias, tais como as redes sociais, a

    TV, os jogos de videogame, os crculos de amigos, os clubes, as academias de

    ginstica, as associaes de bairro, os sindicatos, etc.

    Como podemos avaliar o efeito dos processos socializadores sobre os

    acontecimentos sociais? Para responder a essa questo, vamos ler a reportagem

    a seguir. Trata-se de uma pequena matria jornalstica que noticia o ataque de

    um homem armado a um cinema do estado de Louisiana, nos Estados Unidos.

    Homem abre fogo contra plateia em cinema nos EUA, mata 2 e

    se suicida

    Um homem armado abriu fogo em uma sala de cinema na cidade de

    Lafayettex, na Louisiana, Estados Unidos, na noite desta quinta-feira,

    matando duas pessoas e ferindo outras sete, informou a polcia local.

    Aps o ataque, ele se matou, acrescentaram os policiais. Os disparos

    aconteceram durante uma sesso do filme Descompensada no Grand

    Theatre, por volta das 19 horas.

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    AULA 1

    O chefe de polcia de Lafayette, Jim Craft, confirmou a morte de duas

    pessoas e tambm a do atirador, que teria 58 anos. A identidade do homem

    e das vtimas ainda no foram reveladas.

    Os tiros aconteceram em apenas uma sala do cinema, lotada com 100

    pessoas. O prdio fica na Johnston Street.

    O governador da Louisiana, Bobby Jindall, anunciou em seu perfil no

    Twitter que est indo para Lafayette, uma cidade de cerca de 120.000

    habitantes, situada a 90 km a sudoeste de Baton Rouge.

    Katie Domingue, uma testemunha ouvida pelo site de notcias local The

    Advertiser, disse que o atirador era um homem branco mais velho, que

    comeou a disparar cerca de 20 minutos aps o incio do filme. Ela afirmou

    que o homem no teria dito nada antes de iniciar o ataque. Ele no estava

    dizendo nada. Eu no ouvi ningum gritar tambm, disse. Katie diz ter

    ouvido ao menos seis tiros antes de conseguir fugir da sala.

    Fonte: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/07/homem-atira-contra-plateia-em-cinema-

    nos-eua-e-deixa-feridos.html.

    A partir do episdio mostrado no texto, que reflexes podemos fazer entre

    violncia urbana e educao? O que a violncia urbana, nesse caso, representada

    por um homem armado matando pessoas numa sala de cinema, tem a ver coma socializao nas sociedades contemporneas?

    Se partssemos apenas de nossas convices e do repertrio de conhecimento

    arraigado no senso comum, seramos tentados a responder que isso no tem

    nada a ver com a educao ou, de maneira oposta, que a violncia urbana

    consequncia da falta de uma educao escolar adequada. Mas, a partir do que

    discutimos na seo anterior, voc j tem condies de alar voos mais altos e

    fazer reflexes mais apuradas sobre o objeto noticiado e processos socializadores

    mais amplos.

    Considere a histria de ocupao do territrio dos Estados Unidos pelos ingleses.

    Voc pode analisar a cultura estadunidense por meio de seu posicionamento

    perante as situaes de conflito e guerra. Voc pode, tambm, ponderar sobre

    a cultura de submisso e a alienao em massa consolidadas por uma mdia

    que propaga a violncia por intermdio do cinema e dos games. Pode refletir

    sobre o uso excessivo de armas de fogo e as suas possveis consequncias no

    cotidiano dos norte-americanos. Todos esses traos culturais esto fundados

    em valores que foram transmitidos de gerao a gerao e que se constituem

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    AULA 1

    disciplina nascida na Europa do sculo XIX, no bojo de grandes transformaes

    religiosas, econmicas, polticas e cientficas, provocadas tanto pela Revoluo

    Industrial, quanto pela Revoluo Francesa. Da resulta que a Sociologia uma

    disciplina surgida do caos instaurado por todas essas transformaes (SCAVONE,

    2005). Se voc nunca cursou Sociologia, consulte a nossa bibliografia bsica oufaa uma pesquisa rpida na internet para se situar.

    Mas, em razo das especificidades do que se convencionou chamar de Sociologia

    da Educao ou Sociologia do conhecimento e das caractersticas do nosso

    texto, no vamos lhe apresentar nenhuma histria da gnese da Sociologia, nem

    vamos apresentar uma defesa radical das chamadas sociologias especiais. O

    que faremos neste momento lhe apresentar um mapa de algumas reflexes

    realizadas pela Sociologia da Educao no Brasil. Para tanto, vamos utilizar

    o artigo Uma perspectiva no escolar no estudo sociolgico da escola, da

    professora Marilia Pontes Sposito, da Faculdade de Educao da Universidade

    de So Paulo, datado de 2003.

    Sposito informa que no Brasil foi a escola que, enquanto categoria analtica e

    emprica, ocupou o principal lugar de objeto das reflexes sociolgicas sobre

    a educao. Em seguida, a autora realiza um balano daquilo que produziu a

    disciplina, tendo em vista, inclusive, os referenciais sociolgicos mais amplos.

    Trata-se de um texto importante, por isso recomendamos a sua leitura.

    Retomando a produo acadmica do professor Florestan Fernandes, Spositoargumenta que, do ponto de vista da cincia, um erro admitir a existncia

    de uma disciplina especial para tratar de um fenmeno social particular, como

    acontece com a Sociologia da Educao.

    Partindo dessa perspectiva, a existncia de uma Sociologia da Educao,

    apesar de facilitar a identificao do teor e do campo de atuao de determinada

    subrea da cincia, seria inapropriada, tendo em vista que, como acontece em

    qualquer cincia, os mtodos sociolgicos podem ser aplicados investigao e

    explicao de qualquer fenmeno social particular sem que, por isso, se deva

    admitir uma disciplina especial, com objeto e problemas prprios (FERNANDES,

    1960, p. 30 apud SPOSITO, 2003, p. 211). Essa crtica advm do fato de que o

    estudo dos fenmenos educativos, quando conduzidos sob o ponto de vista

    sociolgico, no deve analisar apenas unidades empricas restritas ao espao

    escolar, mas tambm produzir e refletir sobre as contribuies que os sistemas

    e prticas de ensino oferecem para a compreenso das estruturas das relaes

    de fora e das relaes simblicas engendradas no interior das sociedades.

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    O pensamento sociolgico e as formas de aprender-ensinar-aprender

    Apesar de a Sociologia da Educao, desde o seu nascimento, ter privilegiado

    o exame das maneiras como se organiza, como se ensina e o que se ensina nas

    escolas, o seu leque de atuao poderia recobrir um largo campo conceitual, j

    que os mecanismos por meio dos quais a escola transmite o saber-crer, o saber-

    fazer e o saber-ser, nas sociedades modernas, so inmeros.

    Sob esse ponto de vista, pode-se dizer que os saberes ensinados nas escolas

    atuais podem ser diferentes daqueles ensinados nas escolas do passado. Do

    mesmo modo, o que se aprende e as maneiras como se aprende podem no ser

    as mesmas em escolas pblicas e privadas, como tambm podem no se repetir

    as mesmas prticas no interior de cada uma dessas instncias. Mesmo que essa

    afirmao parea bvia, preciso refletir sobre o porqu e como isso acontece,

    j que,a priori, o sistema de ensino e a cultura so os mesmos.

    A inferncia que se pode formar desse cenrio que, mesmo fazendo umasociologia da escola, a Sociologia da Educao jamais deixou de empreender

    esforos para a compreenso dos fenmenos inerentes reproduo social. Isso

    significa que, a partir dos sistemas escolares forma dominante de socializao

    adotada no sculo XX ,a Sociologia amplia o entendimento sobre o universo

    das relaes sociais.

    preciso que voc, caro estudante, saiba que, em Sociologia, a escola pode ser

    estudada sob dois pontos de vista. A primeira perspectiva o estudo da escola

    enquanto unidade emprica de investigao, o que implica considerar a escolacomo um lugar onde os fenmenos acontecem. Como unidade emprica, a

    escola pode ser vista como um sistema, no qual alguns laos sociais so criados

    e determinadas relaes se desenvolvem. Outra maneira de estudar a escola,

    porm, como categoria analtica. Grosso modo, uma categoria analtica ou, se

    voc preferir, um conceito sociolgico uma unidade de anlise que permite

    ao cientista social estudar determinados conjuntos de fenmenos.

    As unidades analticas s ganham sentido no interior de uma teoria cientfica.

    Porm, mesmo considerando a relevncia analtica da instituio escolar, isso no

    implica que o estudo da educao pressupe, necessariamente, a anlise dessa

    unidade emprica. Com isso, queremos dizer que, apesar de reconhecermos a

    importncia da escola na formao moral, intelectual e poltica de uma sociedade,

    o estudo dos processos socializadores que se praticam no interior dessa sociedade

    no precisa ser obrigatoriamente feito dentro das escolas. Podemos fazer esse

    estudo analisando reportagens de jornal, postagens de redes sociais, festas

    infantis, cerimnias de casamento, etc.

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    AULA 1

    Por outro lado, mesmo considerando a escola como unidade emprica de

    investigao, no se pode deixar de reconhecer que muitos elementos externos ao

    universo escolar frequentemente ultrapassam os seus muros e interferem no seu

    cotidiano e funcionamento, atribuindo-lhes determinados outros contornos.

    O que se pretende aqui que voc entenda que a escola uma instituioimportante e que dentro dela pode ser realizada uma infinidade de pesquisas

    sobre educao, mas tambm queremos que voc saiba que muitas coisas que

    acontecem fora da escola podem afetar a finalidade e o funcionamento dela.

    Para ilustrar o que estamos dizendo, poderamos citar vrios exemplos, mas

    fiquemos com apenas trs: 1) pode-se estudar a dinmica e o funcionamento

    de um ambiente escolar avizinhado de comunidades dominadas por faces

    criminosas e as consequncias das aes ali praticadas no desempenho dos

    professores, no rendimento dos alunos e no cotidiano escolar; 2) pode-se

    analisar como se define o funcionamento das escolas em regies que vivem

    constantemente ameaadas por desastres naturais; e 3) pode-se estudar como

    se exerce o magistrio em escolas que recebem alunos considerados violentos.

    Configuraes como essas certamente obrigam o socilogo a ponderar que todos

    esses elementos tambm faam parte de suas investigaes sobre a educao.

    Para concluir essas reflexes iniciais, resta dizer que, se compete Sociologia

    estudar a escola, no devemos encarar esta como um sistema fechado em si

    mesmo, mas analis-la a partir das imbricaes que estabelece com todas as

    outras instncias da sociedade.

    Exercitando

    Leia o texto a seguir:

    Nova Lei Seca acaba com tolerncia permitida de lcool

    As regras da Lei Seca esto ainda mais rgidas. A partir desta tera-feira,

    o condutor que ingerir qualquer quantidade de bebida alcolica e for

    submetido a fiscalizao de trnsito estar automaticamente sujeito

    a multa de R$ 1.915,40, suspenso do direito de dirigir e ter o veculo

    retido. Agora, o agente de trnsito no precisar apenas do etilmetro

    para confirmar a embriaguez. O condutor que se recusar a fazer o teste

    poder ser autuado se apresentar um conjunto de sinais que configurem

    a ingesto de bebida alcolica.

    De acordo com a resoluo publicada pelo Conselho Nacional de Trnsito

    (Contran) no Dirio Oficial da Unio desta tera-feira, esses indcios devero

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    O pensamento sociolgico e as formas de aprender-ensinar-aprender

    ser descritos na ocorrncia e podem ser sonolncia; vmito; odor de

    lcool no hlito; agressividade; arrogncia; exaltao; ironia; dificuldade

    no equilbrio; fala alterada; entre outros.

    A Lei estabelece o parmetro de 0,05 mg/L apenas porque uma

    recomendao do Inmetro como margem de segurana do etilmetro.

    Na prtica, o condutor no poder ingerir nenhuma quantidade de lcool

    que j ser considerada a infrao de trnsito. Se o indivduo fizer o teste

    e a concentrao for maior do que 0,34 mg/L, tambm ser considerado

    crime de trnsito e o agente o encaminhar autoridade policial.

    No caso do crime, previsto no art. 306 do Cdigo de Trnsito Brasileiro, o

    condutor encaminhado delegacia e a pena deteno de seis meses

    a trs anos, alm da multa, e suspenso do direito de dirigir. De acordocom o ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, o teste do bafmetro e o

    exame de sangue passaro a ser agora aliados dos motoristas. Os testes

    serviro como prova de inocncia daquele motorista que apresentar esse

    conjunto de sinais, mas que sabe que no ingeriu bebida alcolica.

    Os motoristas ainda podem se recusar a realizar o teste do bafmetro e

    os testes de sangue, mas caber ao agente de trnsito decidir se ele est

    ou no alcoolizado. Sempre haver a possibilidade de reparao judicial

    para aqueles que se considerarem injustiados. No entanto, acreditamosno bom senso dos nossos agentes de trnsito, que foram capacitados

    para cumprir a lei.

    Fonte: http://www.cnt.org.br/Paginas/Agencia_Noticia.aspx?n=8741

    A partir da leitura do texto e dos conhecimentos que voc adquiriu nesta aula,

    analise a relao entre os acidentes de trnsito envolvendo motoristas alcoolizados

    no Brasil e os processos socializadores que nos induzem ao consumo desses dois

    artefatos simblicos (o lcool e o carro).

    Sugesto para o desenvolvimento da atividade: imagine que voc esteja escrevendo

    uma carta para um parente prximo e nela voc disserta sobre a dificuldade de

    a sociedade combater esse comportamento (dirigir alcoolizado) apenas sob a

    lgica das sanes financeiras. Em sua argumentao, voc deve considerar

    tanto o papel exercido pelo Estado no combate a essas prticas (seja por meio da

    escola ou outras instituies), quanto os mecanismos utilizados pelos meios de

    comunicao para incentivar o consumo de cerveja e a aquisio de automveis.

    http://www.cnt.org.br/Paginas/Agencia_Noticia.aspx?n=8741http://www.cnt.org.br/Paginas/Agencia_Noticia.aspx?n=8741
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    AULA 1

    4 APROFUNDANDO SEU CONHECIMENTO

    Assista ao filme O enigma de Kaspar Hauser. A

    narrativa nele contida traduz o entendimentosociolgico sobre a educao. O filme,

    produzido por Werner Herzog em 1974, revela

    a multiplicidade de socializaes contida no

    interior de uma sociedade, como tambm

    aborda os seus respectivos papis na formao

    das personalidades e comportamentos

    coletivos e individuais. Conta-se a histria

    de um jovem que, desde o seu nascimento,

    vivera acorrentado em um poro. Liberado do

    aprisionamento, o jovem levado a uma cidade,

    onde tem incio o seu processo de socializao.

    Com muita perspiccia, Herzog revela que

    desde as coisas mais simples do nosso dia a

    dia, tais como falar, andar, portar-se mesa,

    at as mais complexas, como ler, escrever,

    tocar piano ou crer em Deus, no so possveis

    sem a mediao dos respectivos processos

    educativos.

    Figura 2

    5 TROCANDO EM MIDOS

    Nesta primeira aula, refletimos sobre a educao a partir da viso sociolgica.

    Vimos que a educao um fenmeno social que no se restringe escola,

    pois pode ser entendida como uma srie de processos socializadores, os quais

    preparam os indivduos para viver nas sociedades em que esto inseridos.Aprendemos que h diversas formas de educar, cada uma ligada maneira como

    as sociedades esto organizadas. Tambm verificamos que o espao social no

    homogneo, est fragmentado em grupos, os quais tm caractersticas, funes

    e valores diferentes. Cada grupo transmite os conhecimentos com o objetivo

    de integrar e fazer os indivduos interagirem nesses diversos grupos. Isso nos

    autoriza a dizer que a educao estabelece diferenas entre os indivduos, que

    so socializados de acordo com os grupos sociais em que esto inseridos ou a que

    se destinam. Como disciplina especial, a Sociologia da Educao foi consolidada

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    O pensamento sociolgico e as formas de aprender-ensinar-aprender

    no Brasil tomando a escola e os processos escolares como objeto principal. A

    crtica a esse tipo de enfoque demonstra que ainda preciso aperfeioar os

    instrumentos metodolgicos da Sociologia, para que ela possa alargar as anlises

    entre a escola e a sociedade.

    6 AUTOAVALIANDO

    A inteno desta aula foi apresentar um mapa das reflexes realizadas pela

    Sociologia da Educao. Entretanto, o objetivo da aula s se realiza quando o

    seu contedo completamente apreendido pelo aluno. Pensando nisso, tente

    responder s questes abaixo. Se as suas respostas forem positivas para todas

    elas, voc conseguiu atingir a finalidade desta primeira aula.

    Depois de fazer a leitura desta aula, posso dizer que entendi o que Sociologia

    da Educao?

    Sou capaz de problematizar o conceito de educao?

    Por fim, consigo observar a importncia da Sociologia na ampliao da

    minha compreenso sobre os processos de socializao?

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    AULA 1

    REFERNCIAS

    BRANDO, Carlos Rodrigues. O que educao. So Paulo: Brasiliense, 2007.

    JOHADA, Marie. Socializao [verbete]. In: OUTHWAITE, William; BOTTOMORETom (Ed.). Dicionrio do pensamento social do Sculo XX. Rio de Janeiro:

    Zahar, 1996, p. 710-712.

    SCAVONE, Lucila. Dos clssicos aos contemporneos. Cadernos de Campo,

    Araraquara, n. 11, p. 09-16, 2005.

    SPOSITO, Marilia Pontes. Uma perspectiva no escolar no estudo sociolgico da

    escola. Revista USP, So Paulo, v. 57. p. 210-226, 2003.

    TIROS em Columbine. Direo: Michael Moore. Produo: Katheen Glynn e JimCzrnecki. Studio. Aliance Atlantis; United Artists. Estados Unidos e Canad, 2002.

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