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O PODER DO DISCURSO E DE SUA APROPRIAÇÃO DURANTE O GOVERNO VARGUISTA (1930-1945) Lanna Karen Lima Araujo Rayra Atsley Carvalho Lima Nadiely Aparecida de Sousa Barros 1 RESUMO: Esse artigo tem por objetivo geral propor uma análise sobre o discurso durante a Era Vargas (1930-1945) e como a população brasileira que viveu esse período da história se apropriou desses discursos políticos para adquirir benefícios e mostrar o descontentamento com algumas propostas que eram propagadas pelo regime varguista e não estavam sendo cumpridas. Para além, será abordado a importância dessa prática de discursos, sendo utilizados não só por políticos, como também pela população como um todo. E, ainda, a postura de outros grupos políticos perante a forma que o governo Vargas tinha como ferramenta para manter-se no comando da presidência do Brasil, ganhando cada vez mais número de adeptos. Palavras-chave: Discurso; Trabalhadores; Getúlio Vargas Introdução Esse artigo tem o intuito de aprofundar sobre a importância da utilização do discurso para formar um cidadão político-ideológico, especificamente durante o governo de Getúlio Vargas (1930-1945), período denominado como Era Vargas, época que sucede a queda das oligarquias rurais com a implantação de uma nova forma de política, A República. Sob o comando do então governo provisório Vargas. Abordaremos a importância e dimensão de discursos bastante utilizados pelos diversos partidos políticos da época com o desejo de chegarem ao poder, e principalmente pelo presidente atuante que almejava difundir sua política e mantê-la. Assim, iremos perceber a relevância de discursos políticos que caminharam lado a lado a política do Brasil nos anos de 1930 a 1945, período que estamos analisando, e, que, aliás, para ser mais exatos podemos dizer que perpetuam até os dias atuais. Contudo, opositores ao governo Vargas não perdiam a oportunidade de tentar mostrar à população, também através de discursos, que a sua figura de governo não passava de um homem com idealizações, promessas e perspectivas que não eram mais que formas manipuladoras e que jamais seriam postas em práticas. Porém, como estudamos não é bem assim que a figura de Getúlio foi marcada pela maioria da população, principalmente pelos pobres e trabalhadores, que fazendo parte ou não de um jogo político de Vargas, alcançaram melhorias e direitos, que, antes não eram concebidos, e assim o consideraram um homem bom que se preocupava com os menos favorecidos. Onde se quer essas classes mais baixas 1 Graduandos de Licenciatura em História pela Universidade Federal do Piauí

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O PODER DO DISCURSO E DE SUA APROPRIAÇÃO DURANTE O GOVERNO

VARGUISTA (1930-1945)

Lanna Karen Lima Araujo

Rayra Atsley Carvalho Lima

Nadiely Aparecida de Sousa Barros1

RESUMO: Esse artigo tem por objetivo geral propor uma análise sobre o discurso durante a

Era Vargas (1930-1945) e como a população brasileira que viveu esse período da história se

apropriou desses discursos políticos para adquirir benefícios e mostrar o descontentamento

com algumas propostas que eram propagadas pelo regime varguista e não estavam sendo

cumpridas. Para além, será abordado a importância dessa prática de discursos, sendo

utilizados não só por políticos, como também pela população como um todo. E, ainda, a

postura de outros grupos políticos perante a forma que o governo Vargas tinha como

ferramenta para manter-se no comando da presidência do Brasil, ganhando cada vez mais

número de adeptos.

Palavras-chave: Discurso; Trabalhadores; Getúlio Vargas

Introdução

Esse artigo tem o intuito de aprofundar sobre a importância da utilização do discurso

para formar um cidadão político-ideológico, especificamente durante o governo de Getúlio

Vargas (1930-1945), período denominado como Era Vargas, época que sucede a queda das

oligarquias rurais com a implantação de uma nova forma de política, A República. Sob o

comando do então governo provisório Vargas. Abordaremos a importância e dimensão de

discursos bastante utilizados pelos diversos partidos políticos da época com o desejo de

chegarem ao poder, e principalmente pelo presidente atuante que almejava difundir sua

política e mantê-la. Assim, iremos perceber a relevância de discursos políticos que

caminharam lado a lado a política do Brasil nos anos de 1930 a 1945, período que estamos

analisando, e, que, aliás, para ser mais exatos podemos dizer que perpetuam até os dias atuais.

Contudo, opositores ao governo Vargas não perdiam a oportunidade de tentar mostrar

à população, também através de discursos, que a sua figura de governo não passava de um

homem com idealizações, promessas e perspectivas que não eram mais que formas

manipuladoras e que jamais seriam postas em práticas. Porém, como estudamos não é bem

assim que a figura de Getúlio foi marcada pela maioria da população, principalmente pelos

pobres e trabalhadores, que fazendo parte ou não de um jogo político de Vargas, alcançaram

melhorias e direitos, que, antes não eram concebidos, e assim o consideraram um homem bom

que se preocupava com os menos favorecidos. Onde se quer essas classes mais baixas

1 Graduandos de Licenciatura em História pela Universidade Federal do Piauí

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anteriormente a Era Vargas, eram reconhecidos como seres políticos e sociais, passando a

partir do seu governo com as concessões de garantias e direitos que o mesmo concedeu a

essas pessoas a tornarem-se agentes ativos da política nacional.

A seguir ao longo do desenvolvimento dessa produção, com base nas fontes utilizadas,

faremos toda uma contextualização da forma como esses discursos eram utilizados como

ferramenta de moldar a sociedade a fim de fortalecer e manter um regime político imposto, e

mais ainda como a população do Brasil da época se apropriou desse projeto político para

ascender-se politicamente e socialmente. E, por fim, apresentaremos nossa visão particular,

com base no que for discorrido a seguir, acerca dessa política Varguista e de seus adversários

que tentavam chegar ao poder e sucedê-lo, apresentando assim os aspectos de avanço e

também de consequências desse período da História do Brasil.

As incertezas de 1930

Entre os anos de 1930 a 1937 existia inconstância na política brasileira, diferentes

partidos disputavam o cenário político recém proclamado, A República, assunto que é tratado

pelos autores Jorge Ferreira e Lucília de Almeida Neves Delgado em sua obra O Brasil

Republicano Vol. 02 (1990). Dentre estes partidos tinham os Aliancistas que era composto por

ex governadores, rebeldes tenentes e até ex presidentes que pretendiam derrubar o regime

desde 1889, e inicialmente tinham discursos com uma proposta de governo para todos e que

quando foi proclamada, a realidade não mudou, com a oligarquia, o poder e o privilégio

continuou a ser concebido a poucos.

Esse grupo defendia, ainda, uma educação pública obrigatória; o voto secreto para

extinguir o voto de cabresto, em que as ocasionava um controle de poder político, através do

abuso das autoridades, o que é utilizado ainda hoje, como a compra de votos ou o

comprometimento, por conta de algum benefício de foi dado; além da jornada de trabalho

diminuída para oito horas; salário mínimo; regulamentação do trabalho feminino; dentre

outros. Além desse grupo, o apogeu do Estado Novo culminou no surgimento de projetos

radicais como a Aliança Nacional Libertadora (ANL) e Ação Integralista Brasileira (AIB) que

se pronunciavam com discursos e ideais de mudanças, pois ambos reprovavam as atitudes da

República Velha e da revolução de 30.

A primeira que foi fundada oficialmente em 12 de março de 1935 e lançada no dia 30

do mesmo mês, era um movimento popular constituído por diferentes interesses, como

também partidos políticos e setores sociais, entre estes: militares, sindicatos, intelectuais,

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profissionais liberais e organizações femininas e culturais que se posicionando contra o

fascismo, latifundiário e o imperialismo e o governo de Vargas, defendiam a valorização da

cultura brasileira, principalmente a popular e as melhores condições de trabalho e de vida da

população. É importante ressaltar o jornal A Manhã como um meio de comunicação utilizado

pela ANL que divulgava os movimentos dos proletariados, como as greves e manifestações. A

segunda foi oficialmente fundada no dia 7 de outubro de 1932, legalizada até 1938, pois como

sabemos após o golpe do Estado Novo, Getúlio Vargas constitui a ilegalidade dos partidos

políticos, principalmente este que tinha como ponto crucial a luta contra o comunismo, sendo

a favor de uma ideologia fascista. Esses movimentos não concordavam com o que era

instituído dentro do governo, como a instabilidade do cenário político.

Um dos candidatos nas eleições de 1930 foi Getúlio Vargas, que por sinal, perde as

eleições, e, assim os aliancistas que eram de seu partido decidem planejar alguma forma de

chegar ao poder, ocasionando um movimento revolucionário, fazendo com que Getúlio

assuma o governo provisório dia 3 de novembro, revogando a constituição de 1891 e a partir

de decretos-lei passa a governar. Essa junção por ser constituído por vários grupos, como

tenentes, militares e civis, ex governadores, ocasionou alguns embates, pois os interesses

eram diferentes. Um dos primeiros conflitos foi a divergência pelo tempo de duração do

governo provisório, como também a instalação da democracia. Entre 1931 e 1934 foi

promulgado uma série de leis e decretos, em que protegia e dava direitos aos trabalhadores,

como férias, jornada de trabalho, 2/3 de empregados brasileiros nas indústrias, direitos esses

que são considerados marca registrada do Governo provisório de Getúlio. Essa constituição de

1934 adquiria falhas em seus moldes liberais e no sistema representativo sendo necessário

uma nova constituição para que não ocorresse conflito entre os interesses de seus aliados

apresentando assim, no dia 10 de novembro de 1937 por Getúlio Vargas.

A respeito dos discursos

Michel Foucault, grande filósofo, em uma produção teórica sua denominada

Microfísica do poder (1979) que trata das mais amplas questões como sexualidade, medicina,

psiquiatria entre outras, temáticas essas todas voltadas a discutir um tema central: o poder nas

sociedades modernas, que desrespeita ao que estamos trabalhando nessa produção acadêmica

onde, o poder adquirido através de discursos políticos em determinado período da História do

Brasil leva a continuidade e prestígio atribuído a figura de uma presidente. Sobre o poder,

Foucault (1979) diz:

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Cada sociedade tem seu regime de verdade, sua “política geral” de verdade: Isto é

os tipos de discursos que ela acolhe e faz funcionar como verdadeiros; os

mecanismos e as instâncias que permite distinguir os enunciados verdadeiros dos

falsos. (FOUCAULT, 1979:12)

Nessa citação acima em resposta a um debate com Alexandre Fontana a respeito de

verdade e poder podemos perceber, por exemplo, o posicionamento de Foucault a respeito

dessas políticas de discursos. Ao ler o que esse grande filósofo pensa a respeito dessa

temática, posicionando-se que uma sociedade toma como verdadeiros alguns discursos e faz

disso instrumento de funcionamento para essa determinada sociedade, é inevitável que não

venha a mente um exemplo baseado nessa política de discursos e que a sociedade se apropriou

de tal para beneficiar-se, que foi o período em que o Brasil foi governado pelo então

presidente Getúlio Vargas.

Analisando ainda essa relação de poder baseada em discursos políticos, Foucault

(1979) chega à conclusão de que determinado político, por sua vez, através da difusão de seus

ideais e projetos pode moldar a sociedade de acordo ao que é conveniente para manutenção de

sua influência e autoridade sobre a mesma, isso quando se trata de uma sociedade industrial.

Assim, ele diz:

É o diagrama de um poder que não atua do exterior, mas trabalha o corpo dos

homens, manipula seus elementos, produz seu comportamento, enfim, fabrica o tipo

de homem necessário ao funcionamento e manutenção da sociedade industrial,

capitalista. (FOUCAULT, 1979:139)

Levando a consideração desse teórico ao período de governo provisório de Vargas,

podemos perceber claramente que esse presidente através dos direitos e benefícios alcançados

pelo seu governo, principalmente pela classe dos operários, foi fator crucial para que essa

classe aderisse ao projeto político Varguista, onde cada vez mais Getúlio contava com o apoio

dos trabalhadores para fortificar-se e manter-se no poder, e, assim ambas as partes se

beneficiavam. O presidente ao conceder direitos e regalias antes jamais obtidos pelos

trabalhadores, agradava os mesmos e ainda conseguia que estes os fossem fiéis politicamente.

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Mobilização dos trabalhadores em movimento queremista. Site: http://www.historiadigital.org/

Essa imagem acima é exemplo dessa defesa ao governo de Getúlio que só se

intensificava cada vez mais, por medo dos operários de se Getúlio saísse do poder, e tudo o

que tinha avançado positivamente voltar ao retrocesso, como essa antes da Era Vargas. Nessa

imagem, através das placas que alguns trabalhadores seguram, compreendemos o apoio a

Vargas, afirmando que o mesmo é candidato dos operários e que conseguiram garantias como,

a aposentadoria, por causa do presidente, uma das regalias que ainda perpetua. Assim havia

cada vez mais manifestos de interesse para manter Vargas no poder, principalmente por parte

dessas classes trabalhadoras. Um exemplo bastante representativo da devoção e apoio a

Vargas, principalmente partindo da classe trabalhadora, foi o movimento Queremista, que, em

suma constituiu em manifestações a fim de que Vargas permanecesse no poder. As pessoas

saíram às ruas e frequentaram comícios da oposição a Getúlio com cartazes, gritos de guerras

declarando no geral o interesse de que esses queriam Getúlio Vargas como seu presidente, daí

a denominação do nome Queremismo. No entanto, todo esse apoio ao presidente era um dos

principais motivos dos discursos dos opositores a Vargas o titularem de manipulador e

opressor das massas, dizendo que sua política era baseada em conceder garantias em troca de

apoio político incondicional.

E se o poder fosse somente repressivo, se não fizesse outra coisa a dizer não, você acredita que seria obedecido? O que faz com que o poder se mantenha e que seja

aceito é simplesmente que ele não pesa só como uma força que diz não, mas que de

fato ele permeia, produz coisas, induz ao prazer, forma saber, produz discurso.

Deve-se considera-lo como uma rede produtiva que atravessa todo o corpo social

muito mais do que uma instância negativa que tem por função reprimir.

(FOUCAULT, 1979:07)

Discorda, no entanto, Foucault (1979) como percebemos na citação acima dessa visão

que tem a maioria das pessoas, principalmente os marxistas, que veem essa ideologia do

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poder como repressiva. Para ele, o poder se faz necessário para organização de uma

sociedade, assim o que ele questiona são apenas as esferas do poder: E, com base nessa visão

Foucaultiana, podemos ressaltar que a Era Vargas trouxe, indubitavelmente, através do poder

atribuída a figura de Getúlio avanços bastante notáveis a classe trabalhadora.

Marketing político: Meios difusores dos discursos Varguistas

Como introduzimos no tópico anterior, Vargas, de fato, se beneficiava de toda gratidão

que a população lhe tinha, pelos benefícios adquiridos no seu governo para difundir e

fortalecer seu projeto de política por meio de discursos. É óbvio imaginarmos que mais do

que montar um projeto político se faz necessário que esse projeto seja conhecido

principalmente para quem ele foi destinado, pelo público que pretende atingir. No caso, então,

do projeto de Vargas seu público alvo eram as classes menos favorecidas, a classe de

trabalhadores, sobretudo dos operários. E foi seguindo essa lógica que durante o tempo desse

presidente como governante maior do Brasil foram sendo planejados e implantados meios de

comunicação, que difundiam através de discursos a todas as esferas da sociedade o projeto do

presidente. Através de vários meios de comunicação, que funcionavam como “porta-vozes”

do presidente, como a TV, o cinema e o rádio, esse último com maior destaque, onde

principalmente os programas radiofônicos exaltavam a figura do presidente, bem como

divulgavam seus discursos a respeito da sua intencionalidade com o país, chegando facilmente

ao conhecimento dos brasileiros.

Os discursos de Vargas transmitidos através dos instrumentos radiofônicos para mobilizar os

trabalhadores. http://desconversa.com.br/historia/lista-era-vargas/

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Nessa imagem mostra a família feliz e reunida para escutar o rádio, assim, abordando

a valorização da família que era colocada pelo governo nos discursos de Vargas, o respeito

aos operários, a legislação trabalhista e a importância de Getúlio para toda a sociedade,

principalmente os que haviam sido excluídos até a Era Vargas, sendo estes trabalhadores

principalmente, os pobres. Esses programas radiofônicos que passavam durante o Estado

Novo tinham ainda o intuito de fazer com que a sociedade sentisse mais perto do presidente,

como também tivesse acesso ao que estava ocorrendo no País, sendo um instrumento aliado

politicamente para atingir a maior massa possível, dessa maneira eram postas caixas de som

nas praças das zonas rurais para divulgar, como também controlar as ideias e informações

dadas sobre o governo. A Rádio Mauá, por exemplo, influenciava os ouvintes e noticiava as

transformações advindas com o governo de Vargas, exaltando o mesmo como um importante

presidente que trouxe melhoria para a população que era antes excluída dos avanços trazidos

com partidos políticos anteriores a Era Vargas. Isso é notório na fala de Jorge Ferreira

A revolução é o grande corte na história que nos contam. Primeira República,

Revolução de 30 e governo Vargas fazem parte de um mesmo processo e não podem

ser apreendidos separadamente pela cultura política popular. Mas essa história

tinha um parâmetro para avaliar os períodos anteriores e posterior a 1930: a

justiça. Para os trabalhadores, o regime anterior a Vargas foi marcado fundamentalmente pela inexistência da justiça. A revolução, por sua vez, trouxe, no

seu próprio acontecer, a possibilidade de sua efetivação. O governo chefiado por

Vargas representou, por fim, o coroamento de todo o processo e a consequente

realização da justiça para os pobres e os trabalhadores. (FERREIRA, 1990:40)

Com isso, foi criado o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) que era

responsável por esses meios de comunicação e construía junto aos representantes de Vargas a

boa imagem do presidente e a divulgação da legislação trabalhista do Estado Novo, esse

período foi aonde a utilização do discurso e as manobras para ganhar a confiança da

população foi utilizada pelo governo de Vargas, pois o mesmo via a necessidade de

influenciar os trabalhadores para que nas futuras eleições os mesmos não se esquecessem das

transformações que haviam sido dadas no seu governo. O Estado Novo utilizou de três datas

impostas por Vargas para promover comemorações, atuando como principal figura: o

trabalhador, este que era merecedor de todo conforto e diversão, as datas que foram essenciais

para a aproximação do presidente com o povo foram: 1ª de maio que é o dia do trabalho, 10

de novembro de 1938 o aniversário do Estado Novo e o aniversário de Vargas comemorada

no dia 19 de abril, próximo ao dia do trabalho. Na imagem a baixo podemos perceber

trabalhadores no estádio durante comemoração do dia do trabalho em que o Vargas junto aos

trabalhadores comemorava esse dia.

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Imagem dos trabalhadores no dia 1ª de maio em 1944 no estádio municipal do Pacaembú, data em que essa

classe comemorava o dia destinada à sua profissão. Foto tirada no dia 1ª de maio de 1944.

https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/PrimeiroMaio

A imagem acima trata dos trabalhadores no dia 1ª de maio, ou seja, dia do trabalho,

que tinha como ponto crucial homenagear o trabalhador. Essa foi uma data comemorativa

durante o governo de Vargas em que era festejada a profissão. Nessa imagem os trabalhadores

estão no estádio Pacaembu aonde escutavam discursos de Vargas, este que ia comemorar

junto aos seus eleitores. Em uma das placas tem a frase “trabalhador sindicalizado é

trabalhador disciplinado” tratando a importância de um trabalhador disciplinado, além de

tratar do sindicalismo, que foi posto para o controle da sociedade e de suas manifestações. Os

discursos e propagandas feitas pelo DIP mostravam a imagem de Vargas como um grande

líder, pai dos pobres e um homem que fez grandes feitos, que dignificava o trabalhador e sua

profissão, por isso a importância desses empregados de se unirem e defenderem o seu

presidente contra inimigos que procuravam tirar Vargas do poder. A exemplo disso contava

com a importante ajuda do ministro do trabalho, indústria e comércio, Alexandre Marcondes

Filho que fica nesse cargo de 1942 até 1945, que utilizou-se de programas no rádio como

principal instrumento para exaltar o presidente e difundir os objetivos, além de memorizar a

importância do Vargas para os trabalhadores brasileiros, como também aproximar o Estado do

povo.

Percebemos que os discursos foram tão indispensáveis e influentes no governo

varguista, que ao ser rompido o cerco de censura, estudantes e esquerdas promoveram

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comícios pedindo as pessoas que lutassem por sua liberdade de expressão e uma democracia,

sendo surpreendidos por trabalhadores que foram interceder e enfrentar os opositores,

defendendo a continuação de Vargas no poder. Estes são exemplos da importância da

comunicação e dos discursos utilizados por Vargas nos instrumentos, que fazia com que os

trabalhadores enxergassem em quem deviam confiar para ter uma vida melhor, relembrando

todos os dias as implementações feitas no seu governo e as mudanças acarretadas.

Não foi exclusivamente o presidente e seus defensores que utilizavam discursos ou se

apropriavam destes, pois os partidos políticos que tinham sido extinguidos durante o Estado

Novo e que retornavam com as providências de Vargas, que compreendia a necessidade de

distanciar as características da ditadura do seu projeto político, chegando a acarretar no

aparecimento de diversos partidos políticos que tinham o objetivo de adentrar no governo,

como: A UDN, PSD e futuramente o PTB, sendo opositores ou não a Getúlio Vargas, estes

utilizavam de discursos para penetrar no governo. A UDN (União Democrática Nacional) era

opositora a presidência de Vargas e pretendia assumir em seu posto, sendo um partido

adversário ao PSD (Partido Social Democrático) que inicialmente foi aliado a Vargas.

Estes partidos se apropriavam de discursos de Vargas ou para critica-lo para almejar

seus objetivos ou para usufruir do mesmo, ambos com a intenção de conseguir adeptos. O

PTB, a exemplo, eram constituído principalmente pela classe popular, totalmente opositor a

UDN, está que era deliberada por militares e pela camada média urbana, que lutava contra o

populismo, fazendo com que os mesmos tivessem como adversários os trabalhadores que

viam-se a necessidade de lutar para a continuação de Vargas ao poder, para que não

perdessem seus benefícios adquiridos até o momento, chegando esse partido a ser chamado de

partido golpista.

Apropriação da classe trabalhadora através dos discursos Varguistas

O exercício de dominação através dos discursos políticos é um dos assuntos mais

frequentes quando falamos e estudamos a Era Vargas, porém, o presidente não era o único

que realizava discursos a fim de alcançar objetivos, onde a população que via o direito de

defender seus benefícios recém-concedidos por Vargas, também se apropriava de toda essa

política discursiva para além de manter, conseguir cada vez mais proteção e vantagens por

parte do estado.

Os trabalhadores, então, lutavam das mais diversas formas pela continuação de Vargas

no governo, por medo de perderem os privilégios adquiridos, se chegasse a ocorrer à queda

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desse. O presidente contava como já citamos anteriormente, a essencial ajuda do ministro

Alexandre Marcondes Filho, e utilizou-se bastante de um programa de rádio denominado “A

Hora do Brasil”, programa produzido pelo DIP, como importantíssimo instrumento para

difundir e exaltar os objetivos Varguistas e memorizar a importância dessa figura para os

trabalhadores brasileiros, tendo em alguns desses programas a participação do próprio Vargas

falando diretamente a população, o que transmitia a ideia de aproximação do Estado com o

povo, atitude bastante bem vista pela população, que até então jamais tivera uma aproximação

assim com um governante.

Nesses programas aliados e funcionários do governo Vargas, como Marcondes Filho,

através desses meios de comunicação divulgavam a legislação social, e nesse contexto, a

situação que tentava se disseminar na população era de o estado visto como uma grande

família, onde Getúlio Vargas era o pai de toda a nação, e como pai devia proteger os seus

filhos que incluía toda a população brasileira, principalmente os menos desamparados e que

mais necessitavam, nesse caso trabalhadores, operários.

E, seguindo a lógica desses discursos, o povo não se tinha receio o mínimo que fosse

de recorrer ao presidente sempre que necessitasse de proteção, empregos e regalias como um

todo. Uma vez que, um bom pai de toda a nação como Vargas, tinha o dever de sempre está

atento às necessidades do seu povo. Temos bastantes exemplos recorrentes à época disso que

estamos falando, dentre eles os abaixo ilustrados:

Permitta Va. Excia. que uma pobre e humilde funcionária postal suba diretamente, à

presença de Va. Excia. para solicitar sua decisiva proteção para um acto que é

também de justiça. Aliás, não faço senão cumprir os desejos de Va. Excia que já

declarou que no Estado Novo não existem intermediários entre o governo e o povo.

Tenho dois filhos, casada que sou com Manoel Natalicio Diniz, homem pobre. Este só

agora obteve um emprego em Diamantina, em uma casa de commercio, mas, o seu ordenado, igual ao meu, é quase todo absorvido pela pensão que ali paga. Afim de

obter a nomeação de auxiliar na Diretoria Regional dos Correios e Telegraphos de

Diamantina já me submeti com sacrifícios inauditos a dois concursos, bastando dizer

que estudava com as criancinhas a chorarem em redor de mim venho a pedir a Va.

Excia. por caridade, fazer a minha nomeação para uma das vagas. Tenho concurso,

sou agente postal há 11 annos e mãe de numerosa família, devo ter alguma

preferência. O Estado colocou a família sob sua proteção especial e prometteu o

amparo as família numerosas. Pois bem. Va. Excia. fazendo a minha nomeação estará

protegendo a família pois bem sabe Va. Excia. que é improprio do casamento viverem

os cônjuges separados um do outro. Tal situação só pode concorrer para a

desegragação do lar. E essa situação é por motivo econômico, mas uma razão existe

para Va. Excia. desfazel-a, auxiliando a esta numerosa família, possibilitando-a viver junto do seu chefe e reduzindo dest’arte as suas despesas. (DINIZ apud FERREIRA,

1990:26-27)

A leitura desse depoimento, dentre tantos, podemos perceber nitidamente a forma a

que se recorria ao presidente, já fazendo uso e apropriação do que o seu próprio projeto

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político semeava. Nesse caso, por exemplo, as palavras da senhora Amerida de Mattos Diniz

que envia em 1938 uma carta ao presidente, em que podemos perceber, bastante condizentes

da ideia de o estado como uma grande família, e assim, já que se Getúlio sempre se colocaria

a disposição de seus filhos, nada mais certo, pensava a autora da carta, que recorrê-lo na

esperança de conseguir um emprego. Como afirma Jorge Ferreira(1990) no seu artigo

intitulado de A cultura política dos trabalhadores no primeiro governo Vargas

Ao assumir o discurso dominante, ela o interpreta de acordo com seus interesses e o

relembra em proveito próprio. Atenta à doutrina estado-novista, particularmente no

que se refere a família, a autora sobra coerência da doutrina oficial: a nomeação

para o cargo seria a realização daquilo que o Estado dizia estar acontecendo nas

vivências dos trabalhadores. (FERREIRA, 1990:27)

Já nesse segundo exemplo de apropriação popular dos discursos, a imagem abaixo

trata dos quatro jangadeiros que chamaram a atenção do presidente, por conta da precariedade

de como viviam e o abandonos dos 35 mil pescadores do Ceará.

Jacaré,

Tatá, Mané Preto e mestre Jerônimo em foto de 1942. Site: http://fortalezaantiga.blogspot.com.br

Essa imagem retrata o deslocamento de jangadeiros do Ceará até ao Rio de Janeiro a

levarem consigo de presente uma jangada à esposa do atual presidente Vargas, onde não

pensavam unicamente em presentar a mesma, e sim principalmente em ter oportunidade de

ficarem próximos ao presidente e informa-lo que as leis e direitos divulgados pela legislação

trabalhista implantada no seu governo não estava em vigor naquela região do Brasil. E com

esses dois exemplos pode-se perceber o quão eram as variadas maneiras de beneficiar-se

através do apoderamento desses discursos.

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Considerações finais

Ao chegar ao fim da produção desse trabalho que procurou retratar da maneira mais

clara e objetiva a influência ideológica dos discursos na formação do ser político e social,

compreendendo o período de 1930 a 1945 da História do Brasil, podemos perceber o tamanho

da dimensão que esse recurso do discurso político, sua utilização e apropriação ocuparam

nessa época. Onde a maneira como se conduzia os projetos políticos, a forma que os eleitores

interpretavam essa política a partir desses discursos e uso que se fazia dos mesmos fizeram

uma grande diferença para fortalecer e manter a figura de um presidente, Getúlio Vargas. E,

assim, todo mundo saia beneficiado nessa história, uma vez que houve certa aliança, mesmo

que de forma oculta, do povo com o presidente, os primeiros por sua vez defendiam e eram

responsáveis por sustentar firme Vargas no poder, onde esse cada vez mais os defendia e os

conduzia a avanços significativos.

Logo, como abordamos durante o desenvolvimento do artigo o fato dessa apatia e

cordialidade entre povo e estado, além de fortalecer Getúlio e a Era Varguista cada vez mais

despertou a inquietação dos opositores em tentar reverter à situação, difamando e tentando

convencer a população que a política desse presidente era opressora e que seus discursos eram

manobras para manipular e deter controle cada vez maior sobre as massas populares.

Contudo, com base nas fontes que fizemos uso, concluímos que de fato é inegável o sucesso

da Era Vargas, que tentando manipular ou não os trabalhadores, essa era trouxe avanços antes

jamais imaginados por essas pessoas, e que não é à toa que grande parte dos direitos

disponibilizados por esse presidente ainda fazem parte da legislação trabalhista brasileira até

hoje, e mais ainda que até hoje sua figura de bom presidente seja bastante reverenciada

através de depoimentos de pessoas que viveram esse momento da História brasileira.

Em suma, sabemos o quanto esse presidente também foi beneficiado e honrado em sua

trajetória política através do êxito que teve seu projeto de voltar atenção aos menos

favorecidos em troca, de certa forma, do apoio e amor dessas pessoas a si. E, mais ainda, que

de fato tudo isso fez parte sim de um jogo político, não foi simplesmente por caridade e

amparo aos trabalhadores operários e suas famílias toda essa mobilização do presidente, mas

o que queremos deixar claro como resultado de nossa análise é que, independente das

intencionalidades e estratégias de Getúlio Vargas, foi somente a partir da época em que o

mesmo governou, que alguns brasileiros antes exclusos de todos os âmbitos da sociedade

ganharam vez e voz, capazes de mobilizações e conquistas, e principalmente da formação de

suas identidades políticas e sociais bastante ativas.

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Referências

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FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Organização e tradução de Roberto Machado.

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http://desconversa.com.br/historia/lista-era-vargas/

http://fortalezaantiga.blogspot.com.br

http://www.historiadigital.org/