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EDITORIAL Estelionato eleitoral e avanço da crise: é hora de formar a Frente de Lutas Anticapitalistas e Anti-imperialistas PÁG.02 JORNAL Um jornal comunista a serviço da imprensa popular. Edição 01 Janeiro 2015 \ Ano 01 pcb.org.br [email protected] Acesse o conteúdo através do seu aparelho móvel.

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o Poder Popular primeira edição

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    ITO

    RIA

    L Estelionato eleitoral e avano da crise: hora de formar a Frente de LutasAnticapitalistas e Anti-imperialistas

    PG.02

    JORNAL

    Um jornal comunista a servio da imprensa popular.

    Edio 01

    Janeiro 2015\

    Ano 01

    [email protected]

    Acesse o contedo atravsdo seu aparelho mvel.

  • O Poder Popular se apresenta aos trabalhadores brasileiros como um jornal a servio da crtica impiedosa ao capitalismo e em defesa dos direitos e interesses da classe que produz a riqueza no mundo. Vivemos um cenrio internacional de aprofunda-mento da crise de acumulao do capital, em que os governos e os grupos econmicos dominantes tudo fazem para manter os lucros das grandes empresas, atacando ainda mais os direitos duramente conquistados pelos trabalhadores ao longo da histria, tornando os empregos mais descartve-is e a fora de trabalho mais barata. No Brasil, a posse do novo governo petista foi marcada pelas duras crticas ao esquema de corrupo envolvendo o PT e seus aliados, diretores da Petrobras, lobistas no Congresso, empreiteiras e fornecedo-res de servios e materiais, revelador da promiscuidade das relaes entre empresrios, autoridades e partidos governistas, dilapidadores do patrim-nio pblico em favor de interesses inescrupulosos. Disso se valeram setores de direita, que se apresentam como campees da moralidade, quando fazem parte da corrupo sistmica do capitalismo. Tudo fazem ainda para fragilizar a Petrobras, cuja nica soluo sua total estatizao, sob controle dos trabalhadores. A vitria apertada de Dilma

    aconteceu em meio ao crescimento da crise econmica, marcada pela desacelerao da produo industrial, com fortes indcios de recesso em diversos setores. Os ataques da mdia burguesa e a composio de um Congresso mais conservador e fisiolgico que saiu das urnas de outubro de 2014 contribuem para a tendncia j verificada de um governo muito subserviente aos patres e ainda menos confivel aos trabalhadores e aos movimentos populares. A nomeao de um ministrio em que despontam Ktia Abreu, lder do agronegcio, na Agricultura, Joaquim Levy, homem de confiana do Bradesco na Fazenda, grandes empre-srios e outras figuras comprometidas apenas com o tradicional toma-l-d-c da velha politicagem comprovam a opo feita pelo PT para garantir a governabilidade a qualquer preo. O PT chantageou o eleitorado com as ameaas de fim das polticas pblicas de combate misria e endureceu o discurso contra as privatizaes e outras propostas neoliberais dos programas de Marina e Acio. Aps o resultado eleitoral, revelou-se o estelionato ideolgico do bloco governista, que deu sequncia ao projeto de conciliao de classes, em nome da governabilidade e a pretexto de inverossmeis ameaas de golpe de direita, que s atingem governos que

    contrariam os interesses do capital, o que no o caso dos governos petistas. Para os trabalhadores e as populaes mais pobres, foram anunciados cortes nos programas sociais e mudanas perversas no seguro desemprego e em benefcios trabalhistas, alm da manuteno do fator previdencirio. O ataque aos direitos dos trabalhadores uma exigncia dos grupos financeiros e grandes capitalistas, que necessitam tornar ainda mais desprotegida a fora de trabalho brasileira, amplamente disponvel no mercado. Paralelamente a isso, ser mantida a poltica de represso aos movimentos populares, dando sequncia ao Decreto da Lei e da Ordem que criminaliza as manifesta-es e os ativistas sociais. O P a r t i d o C o m u n i s t a Brasileiro (PCB), entende que 2015 aponta para ser um ano mais difcil para os trabalhadores. O momento exige a unidade de todas as organizaes polticas e sociais que desejam a plena emancipao da classe trabalhadora em torno da formao de uma Frente de Lu ta s An t i cap i t a l i s t a s e An t i -imperialistas, capaz de organizar grandes manifestaes populares em defesa dos direitos e das conquistas histricas dos trabalhadores, apontan-do para a construo do Poder Popular no rumo do Socialismo, nica forma de superao das desigualdades e da explorao capitalista.

    Estelionato eleitoral e avano da crise: hora de formar a Frente de LutasAnticapitalistas e Anti-imperialistas

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    EDITORIAL

    O Poder Popular, um jornal a servio da Imprensa Popular.

    rgo oficial do Partido Comunista Brasileiro (PCB).

    Comisso Nacional de Comunicao: Ricardo Costa, Ivan Pinheiro, Edmlson Costa, Otvio Dutra, Roberto

    Arrais (jornalista responsvel - 985/DRT - FENAJ). Diagramao: Mauricio Souza.

    Endereo eletrnico: www.pcb.org.br. Contato: [email protected].

    Sede Nacional do PCB: Rua da Lapa, 180, Gr. 801 - Centro - Rio de Janeiro - RJ - CEP.: 20.021-180.

    Telefax.: (21) 2262-0855 e (21) 2509-3843.

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    No Congresso Nacional alguns

    temas de interesse da classe trabalhado-

    ra esto pendentes para a legislatura

    que se instala em 2015. Dentre eles,

    destacam-se o PL 4330/04, que amplia

    a terceirizao at para as atividades

    fins das empresas, e a MSC 59/08, que

    submete ao Congresso o texto da Con-

    veno 158 da OIT.

    O PL da terceirizao representa

    uma iniciativa de interesse do empresa-

    riado, no sentido de aprofundar o ata-

    que aos direitos dos trabalhadores,

    reduzir seus salrios e enfraquecer sua

    organizao travs da fragmentao

    das categorias sindicais. J a aprovao

    da Conveno 158 da OIT tem aspectos

    favorveis nossa classe, porque inibe

    a demisso imotivada, criando dificul-

    dades para a prtica indiscriminada da

    rotatividade no emprego.

    Se depender apenas da vontade

    poltica dos deputados e senadores

    eleitos em 2014, o resultado dessa par-

    tida j estaria decidido: dois a zero a

    favor do empresariado. Isso porque

    todas as anlises apontam para um avan-

    o das posies conservadoras entre os

    novos congressistas. A presidente Dil-

    ma, reeleita com margem apertada,

    demonstrou no seu primeiro mandato

    no ter iniciativas ou propostas no sen-

    tido de garantir os direitos dos trabalha-

    dores, muito menos no sentido de

    ampliar esses direitos. A sua base de

    apoio no Congresso tambm majori-

    tariamente conservadora e os sucessi-

    vos escndalos de corrupo apontam,

    neste segundo mandato, para um gover-

    no mais frgil em termos de sustentao

    poltica, portanto, ainda mais dcil aos

    interesses dos grandes empresrios. Por outro lado, as consequncias da crise capitalista deflagrada em 2008 continuam a fazer estragos mundo afo-ra. O crescimento do desemprego e a piora nas condies sociais de forma geral so a marca desses ltimos anos nos pases que antes eram tidos como a vanguarda no desenvolvimento da

    economia capitalista internacional. Em perodos assim, a sada da crise, do ponto de vista patronal, ocorre sempre pela via do aumento da explorao da classe trabalhadora, dos ataques contra suas conquistas histricas e de polticas de cortes nos investimentos sociais. O fator que pode alterar o rumo desse jogo a entrada em cena de uma forte mobilizao da classe trabalhado-ra e dos seus aliados na sociedade. Tanto na resistncia contra mais um ataque, como no caso do PL que amplia a terceirizao, como na luta para redu-zir a rotatividade atravs da aprovao da Conveno 158 da OIT, necessrio e urgente construirmos uma efetiva unidade de ao de todas as correntes sindicais em torno desses dois pontos. Ns, da Unidade Classista, apostamos nessa alternativa e faremos todo o esforo possvel para que ela se concre-tize.

    Em 2015, fortalecer a defesa e partirpara o ataque!

    Unidade Classista conclama os trabalhadores:

    Acesse o contedo atravsdo seu aparelho mvel. csunidadeclassista.blogspot.com.br

  • O chamado fator previdenci-rio uma frmula para calcular as apo-sentadorias, criado em 1999, no gover-no FHC, com o objetivo de equiparar a contribuio do segurado ao valor da aposentadoria e desestimular as apo-sentadorias consideradas precoces. So levados em conta o percentual da con-tribuio, a idade, o tempo de contribui-o Previdncia e a expectativa de sobrevida do trabalhador. A implantao do FP traz diversos prejuzos aos trabalhadores. Aqueles que comeam sua vida profis-sional aos 18 anos, por exemplo, como o caso de milhes de homens e mulhe-res, no tm direito aposentadoria integral aos 53 anos, mesmo tendo con-tribudo por 35 anos, porque no atingi-ram a idade mnima de 60 anos exigida para os homens e de 55 para as mulhe-res. Ou seja, aqueles que quiserem se aposentar nestes casos, recebero menos do que recebem hoje. Essa situa-o tem provocado grande insatisfao entre os trabalhadores, gerando protes-tos e presses por parte de sindicatos, centrais sindicais e partidos de esquer-da. H projetos sobre o assunto em dis-

    cusso na Cmara Federal. A medida foi adotada sob a alegao de que a Previdncia estava apresentando dficits crescentes, cau-sados, principalmente, pelo aumento da expectativa de vida dos brasileiros. Esta tese sustenta que o aumento dos gastos com as aposentadorias ultrapas-saria a arrecadao (para 2014, o gover-no manteve a previso de um dficit de R$ 40,1 bilhes - 0,85% do PIB -, infe-rior ao resultado negativo de R$ 49,9 bilhes em 2013). A presidente reeleita, Dilma Roussef, no se comprometeu, durante a campanha, com a extino do fator o que, segundo ela, seria dema-ggico. Triste situao da classe traba-lhadora: quando se fala em defender suas necessidades, vira demagogia! Na realidade, a questo da Pre-vidncia gira em torno de um falso dile-ma, calcado em falsas premissas, quan-do est em jogo favorecer o trabalhador e no o capital. Uma bvia soluo garantir maior arrecadao para a Pre-vidncia taxando mais os lucros e as propriedades, no lugar dos salrios: o Brasil arrecada pouco em tributos, que incidem, em sua maior parte, sobre o

    consumo, prejudicando os 80% da populao que recebem menos do que 10 salrios mnimos. O Imposto de Renda tambm incide mais sobre os assalariados dessa faixa. Os lucros, em geral, so pouco taxados, e o setor financeiro praticamente no paga impostos. Mais de 32% do oramento federal so gastos com o pagamento de juros de uma dvida pblica que, certa-mente, j foi paga. Este quadro reflete a estrutura do Esta-do brasileiro, um Estado como todos os Estados capitalistas comprometido em garantir os interesses dos grandes empresrios, banqueiros, agroexporta-dores, das empresas multinacionais. A aposentadoria integral deve ser um direito inquestionvel do trabalhador, assim como os salrios dignos, a educa-o e a sade pblicas, gratuitas e de qualidade e outros direitos bsicos. H que lutar por uma transformao pro-funda na natureza do Estado, em favor da classe trabalhadora, uma luta que, hoje, no que se refere Previdncia, converge para a imediata derrubada do fator previdencirio.

    Fator Previdencirio:O que e quem vai pagar o pato?

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    Por um Sistema de SadePblico e 100% estatal! O capitalismo existe como siste-ma graas explorao dos trabalhado-res, que faz crescer as desigualdades sociais, pois a acumulao de riqueza por uns poucos promove a ampliao da pobreza de milhes. Na sociedade capi-talista, todos os aspectos da vida humana so transformados em mercadoria. assim tambm com a educao, a cultu-ra, a moradia, necessidades humanas que o capitalismo transforma em fonte de lucros para sua expanso. Com a sade isso no diferen-te! o que vem acontecendo com o Sis-tema nico de Sade (SUS) desde sua criao, em 1988. Fruto de uma ampla mobilizao da sociedade e considerado como integrante de uma das legislaes mais avanadas no campo da sade do mundo, o SUS carrega desde o seu nasci-mento as contradies que podem expli-car os problemas responsveis pela crise que se agrava cada vez mais. Pela falta de uma estrutura que pudesse garantir um atendimento de qualidade para toda a populao, foi prevista a participao da iniciativa privada na complementao dos servios no disponveis pelo SUS, o que deveria ser gradualmente substitu-do por servios prprios, na medida em que o sistema fosse se organizando. O problema que o modelo de desenvolvimento econmico adotado pelos diversos governos, de Fernando Collor de Mello a Dilma Rousseff, nunca priorizou um amplo investimento em polticas sociais voltadas s reais neces-sidades dos trabalhadores. Pelo contr-rio, sempre prevaleceram os interesses capitalistas. Segundo dados apresenta-dos pela Auditoria Cidad da Dvida, do oramento da Unio previsto para 2014 (R$ 2,383 trilhes), somente 4,11% (cer-ca de R$ 98 bilhes) seriam destinados sade; para o pagamento de juros e amor-tizao da dvida, garantindo o to falado supervit primrio, foram reservados 42,04% do oramento. O que vem avanando no Brasil o projeto de privatizao da Sade! Segundo a Frente Nacional contra a pri-vatizao da Sade, este processo se expressa na renncia fiscal e no subsdio expanso desordenada dos planos e seguros privados de sade; na iseno de

    impostos aos grandes hospitais priva-dos; nas desoneraes fiscais para a importao e produo interna de equi-pamentos e insumos biomdicos, inclu-sive medicamentos; na alocao pro-gressiva de recursos pblicos do SUS junto ao setor privado, atravs de conv-nios e contratos e na adoo de mudan-as de carter privatizante na legislao que trata da sade pblica, criando con-dies para a atuao de novos modelos de gesto junto ao SUS (Organizaes Sociais, Organizaes da Sociedade Civil de Interesse Pblico, Fundaes Estatais de Direito Privado, etc.). Em todas estas modalidades de gesto aprofundam-se a precarizao do trabalho e o desrespeito para com o con-trole social. So formas mascaradas de privatizao que ameaam o direito sade, pois entregam a gesto das unida-des de sade, patrimnio, equipamentos, servios, trabalhadores e recursos pbli-cos para entidades privadas. Essas trs modalidades de mercantilizao da sade constituem um grave e intenso ataque contra o SUS, ameaando o seu presente e inviabilizando o seu futuro. Um exemplo o da Empresa Brasileira de Servios Hospitalares (EBSERH). Por iniciativa dos governos Lula e Dilma, a maior rede pblica de ateno sade especializada do pas, contando com 47 hospitais universitri-os, est sendo transformada em um con-junto de empresas submetidas lgica do mercado e no mais aos interesses da populao. Isso no toa: a ateno especializada a que mais permite lucra-tividade. O capital no quer que ela fique restrita esfera pblica. Cada vez mais o SUS se trans-forma num sistema dependente do setor privado, transferindo lucros enormes aos grupos econmicos que fazem da doena um grande negcio. Enquanto isso, as aes pblicas estatais se restringem a um assistencialismo de baixa qualidade voltado a pessoas e regies menos favo-recidas e sem a garantia de acesso a todos a nveis de assistncia. urgente avanar na luta pela Sade 100% pblica e esta-tal, nica forma de ver o direito sade garantido a toda a populao.

    1 Do total de internaes realizadas no setor privado, na primeira dcada dos anos 2000, 74,5% foram custeadas pelo SUS. Do total dos recursos pblicos destinados aos procedimentos hospitalares de mdia e alta complexidade, 57% foram destinados rede privada/filantrpica contratada e apenas 43% rede pblica, no perodo de 2008 a 2012.

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    Dados ainda inconclusos (uma vez que as investigaes continuam em andamento) informam que, durante a ditadura militar, foram realizadas ope-raes repressivas especificamente voltadas contra o PCB em 11 estados da federao (SP, RJ, SC, BA, GO, SE, RS, MG, DF, PE), resultando em cerca de 1500 presos e processados, 38 mor-tos e desaparecidos, dez, entre estes, membros de seu Comit Central. O PCB no participou direta-mente da luta armada contra o ltimo regime militar, porm o aspecto mais curioso, e para alguns surpreendente, que o esforo concentrado de persegui-o e aniquilamento do Partido se deu quando j haviam sido desbaratadas praticamente todas as organizaes da guerrilha urbana, e as sobreviventes (ALN, PCBR, MR-8) j tinham aban-donado as aes armadas. Pior ainda, a ofensiva contra o Partido Comunista Brasileiro se deu, em grande parte, durante a implementao da poltica de distenso poltica e abertura lenta, gra-dual e segura do general Ernesto Gei-sel. Como explicar este fato? Em nenhum momento anterior ao regime de 1964 se praticou no Brasil uma poltica voltada para o aniquila-mento das direes comunistas e o

    extermnio de parte de sua militncia. No Estado Novo, por exemplo, o PCB quase desapareceu, mas no foi s ele. Todos os demais partidos, previamente existentes, perderam a legalidade e foram reprimidos (inclusive a Ao Integralista Brasileira, que apoiou o golpe de 1937). Os dirigentes comunis-tas detectados e alcanados pela polcia poltica foram presos e processados, muitos deles torturados, mas no houve execues e desaparecimentos. Hostilizado pelos rgos de segurana e pelas classes dirigentes da sociedade brasileira, o Partido Comu-nista Brasileiro (PCB) foi objeto de represso poltica desde a fundao, em 1922. Tendo passado a maior parte de sua existncia na clandestinidade e recorrido a mtodos de atuao clan-destinos, sua perseguio e desbarata-mento estiveram entre os principais objetivos do aparato de segurana pblica do Estado brasileiro por vrias dcadas. Dois momentos histricos, no entanto, so singulares pela prioriza-o, manifestada pelos repressores, na interrupo da atividade comunista atravs do desmantelamento de suas estruturas partidrias: o perodo imedi-atamente posterior ao Levante Nacio-nal-Libertador de 1935 (desdobrado

    nos anos do regime estadonovista) e os anos de 1974-1976, durante a vigncia da ditadura militar instaurada atravs do golpe de estado de 1964. O diferencial fundamental entre as duas situaes decorreu do fato de que o regime militar brasileiro (1964-1985) consistiu em uma ditadura de segurana nacional. A exemplo de suas congneres nos demais pases do Cone Sul, se inspirava e legitimava em uma doutrina poltico-militar, cujas matrizes tericas e conceituais foram elaboradas no War College dos Estados Unidos, imediatamente aps a Segunda Guerra Mundial. Esta ideologia consti-tua, por sua vez, o corolrio intelectual do sistema de segurana continental adotado pelo comando militar estadu-nidense e consagrado na Conferncia do Rio de Janeiro e na criao do Trata-do Interamericano de Assistncia Rec-proca (TIAR), celebrado em 1947. De acordo com o programa pactuado, caberia s foras militares estadunidenses a responsabilidade primordial pela defesa do hemisfrio frente s ameaas externas, nomeada-mente as provenientes do chamado bloco comunista. Aos exrcitos naci-onais latino-americanos caberia o enfrentamento ao chamado inimigo

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    interno, ou seja, as foras de subver-so poltico-social localizadas no interior das sociedades da regio, parti-dos de esquerda, movimentos popula-res, intelectualidade progressista, etc.. Segundo esta doutrina, as foras sub-versivas pautavam suas aes pela ado-o de mtodos dissimulados e furtivos enquanto acumulavam foras para o desencadeamento de uma ofensiva revolucionria em todas as frentes. Estas aes, por mais inofensivas e pacficas que pudessem parecer primeira vista, se enquadravam num processo geral de solapamento a mdio e/ou longo prazo do status quo econ-mico e social das naes latino-americanas atravs da desestabilizao gradual dos sistemas polticos e enfra-quecimento sistemtico das institui-es estatais. Por este motivo, ainda quando no se apresentassem clara-mente sob a forma de movimentos revo-lucionrios e/ou insurrecionais, deveri-am ser percebidos/as como elementos constitutivos de uma guerra revoluci-onria comunista, expresso regional do conflito global entre as foras do ocidente livre e o comunismo mundi-al. Enfocadas por este ngulo, tanto as polticas soviticas de coexis-tncia e emulao pacficas com os

    estados ocidentais quanto a aposta nas possibilidades da transio pacfica ao socialismo enunciada pelo Movimento Comunista Internacional (MCI) no passariam, como j foi dito, de maqui-naes ardilosas e dissimuladas dos agentes de Moscou em seu esforo para a concretizao da revoluo mun-dial. Ora, sendo o Partido Comunis-ta Brasileiro (PCB) a expresso organi-zativa por excelncia do MCI no Brasil, sua identificao pela alta hierarquia militar adepta daquelas concepes como o inimigo principal a ser enfren-tado seria uma consequncia lgica. Desta forma, se o inimigo principal encontrava-se, no obstante as aparn-cias de suas supostas preferncias pa-cifistas, comprometido com o desen-volvimento de processos de luta contra o regime, tendo a transformao revo-lucionria da sociedade brasileira como perspectiva de longo prazo, um comba-te militar contra tal inimigo deveria e poderia ser travado com o recurso s prticas de perseguio e aniquilamen-to (search and destroy). Considerados tais elementos, conclumos que a ofensiva das foras militares brasileiras contra o PCB em uma conjuntura de distenso poltica e desbaratamento da guerrilha urbana

    encontrou sua fonte de inspirao alm da dinmica conjuntural da processua-lidade poltica dos anos 1974 e 1975. Tratava-se, portanto, da materializao de uma premissa fundamental da Dou-trina de Segurana Nacional, legitima-dora da misso de que se imbuam os chefes militares brasileiros, fator de unificao ideolgica e poltica de uma corporao, a qual, em sua condio de brao armado das classes dirigentes brasileiras e fora auxiliar dos exrcitos imperialistas na Amrica do Sul, come-ava a se deparar com as incertezas de um processo ainda inicial de transio em meio a um mundo ento assombra-do pelo fantasma da revoluo.

    1 Ver, entre outras obras: Miranda, Nilm-rio e Tiburcio, Carlos. Dos filhos deste solo Mortos e desaparecidos polticos duran-te a ditadura militar: a responsabilidade do Estado. So Paulo, Boitempo/Fundao Perseu Abramo, 1999. Arquidiocese de So Paulo. BRASIL NUNCA MAIS. So Pau-lo, Editora Vozes, 1985. Perfil dos Atingi-dos. Editora Vozes, 1988. Dossi dos Mor-tos e Desaparecidos Polticos a partir de 1964. Comisso de Familiares de Mortos e Desaparecidos Polticos, Instituto de Estu-do da Violncia do Estado / Grupo Tortura Nunca Mais (SP, RJ e PE), Companhia Editora de Pernambuco, 1995.

    SEARCH AND DESTROY: A Represso Militar contra o PCB nos anos 1974-1975

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    Muniz Ferreira (historiador e membro do Comit Central do PCB)

  • Jayme de Amorim Miranda (1926-1975) foi um dos mais abnega-dos e dedicados militantes do PCB (Partido Comunista Brasileiro), tendo atuado entre a segunda metade dos anos 1940 e 1975, quando foi assassinado pelos rgos de represso da ditadura implantada em 1964. Militou nas ins-tncias partidrias de base, na imprensa comunista, no CR-AL (Comit Regio-nal de Alagoas), no CC (Comit Cen-tral) e na Comisso Executiva Nacio-nal, alm de ter cumprido vrias tarefas partidrias na Amrica Latina, na Euro-pa e na sia. Entrou em contato com o programa do PCB ainda na adolescn-cia, na cidade em que nasceu, Macei, no contexto da Segunda Guerra Mundi-al, por meio dos jornais do partido, da UJC (Unio da Juventude Comunista) e de um familiar membro do PCB. Participou do movimento estu-dantil da Faculdade de Direito de Ala-goas nos anos de 1944 a 1946. Neste ltimo ano, trancou matrcula para ingressar na ESA (Escola de Sargento das Armas), no municpio de Realengo-RJ. No se adaptou vida da caserna e, acatando determinao do Partido,

    abandonou a carreira militar em 1948. Ao voltar a Alagoas, passou a atuar no jornalismo e na direo partidria, assu-mindo com muito sucesso, a partir de 1950, a editoria do semanrio A Voz do Povo, rgo da seo alagoana do PCB de grande influncia na opinio pblica estadual entre 1946 e 1964. O governo do udenista Arnon de Mello (1951-55) aprofundou a represso aos comunistas. Jayme foi preso em 1951 apenas por organizar um comcio do Movimento dos Alagoanos Partidrios da Paz, integrado na Cam-panha Internacional pela Paz, de inspi-rao sovitica. Nesse mesmo ano, aos 25 anos de idade, durante sua formatura na Faculdade de Direito, soube que seria detido novamente, tendo conse-guindo permanecer na cerimnia aca-dmica pela interveno dos colegas e de personalidades da sociedade civil. Posto em liberdade, passou a atuar em Recife-PE como professor dos cursos de formao organizados pelo CC. Em 1953, foi preso e torturado pelo DOPS-PE. Em 1962, foi candidato por legenda no comunista, devido clan-

    destinidade imposta ao PCB, obteve tima votao e foi eleito suplente de deputado estadual por Alagoas, cargo cassado em abril de 1964. Durante a ditadura, participou de importantes aes internacionais e da rearticulao do Partido. Nos anos 1970, foi escolhi-do para a Comisso Nacional Executi-va, ao lado de nomes j lendrios, como Luiz Carlos Prestes e Giocondo Dias. Mas a ditadura entendeu que era preci-so destruir o PCB, e o ano de 1975 figu-ra como do extermnio em srie da dire-o comunista. A exemplo do que sofreram outros dirigentes nacionais, Jayme Miranda foi preso, torturado e assassinado, tendo desaparecido em 26 de fevereiro. Homem de ampla cultura, gran-de carisma e generosidade proverbial, Jayme adquiriu a perene admirao da classe trabalhadora e da sociedade civil alagoanas, no imaginrio das quais ainda hoje considerado um heri ina-tacvel. Seu exemplo poltico e tico tornou-se uma das inspiraes decisi-vas no processo de Reconstruo Revo-lucionria do PCB.

    Jayme Miranda: generosidade eabnegao em nome da revoluo

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  • Janeiro 2015 - Ano 01

    O PNE, a expanso da privatizaoe a mercantilizao da Educao.Basta de favorecer o capital!

    No dia 25 de junho de 2014 foi sancionado, sem vetos pela Presidente Dilma Rousseff, o Plano Nacional de Educao (PNE). Palco de grandes embates e disputas, o Plano tramitou por quatro anos no Congresso Nacional e agora se transforma na Lei n 13005/2014. Com vigncia de 2014 a 2024, est organizado sob a forma de metas, para as quais so estabelecidos prazos para seu cumprimento. Aparen-temente, a aprovao gradual dos 10% do PIB para Educao seria uma razo de grande comemorao para os movi-mentos populares da classe trabalhado-ra. No entanto, o que est em curso no pas a intensificao do processo de mercantilizao da educao nas suas distintas esferas. O forte lobby de diversas orga-nizaes do empresariado, tendo como grande expresso a dita ONG Todos pela Educao, conseguiu fazer preva-lecer a no diferenciao entre o inves-timento pblico e privado na educao. E consolidou a diretriz segundo a qual o investimento no setor privado mais eficiente que o pblico. Os prprios ex-ministros petistas, Tarso Genro e Fer-nando Haddad, desde 2004, defendiam que esta dicotomia entre pblico e pri-vado estaria ultrapassada. Na prtica, o fortalecimento de programas como o

    Fundo de Financiamento Estudantil (FIES), o Programa Universidade para Todos (PROUNI), o Programa Nacio-nal de Acesso ao Ensino Tcnico e Emprego (PRONATEC) e, mais espe-cificamente na educao bsica, a compra de materiais pedaggicos de corporaes como as do Grupo Pearson sero a tnica das polticas educaciona-is dos governos no prximo perodo. O direcionamento do PNE est claro: favorecer o grande empresariado em busca de novas atividades lucrati-vas e garantir a sua viso poltico-pedaggica nestas polticas. Lamenta-velmente, antigos setores combativos do movimento social, hoje encastela-dos na direo da UNE e da CUT, con-triburam para este projeto ao se furta-rem de realizar crticas e lutas, em nome da estabilidade do governo. Num contexto no qual sero sentidos de forma mais dura os efeitos da crise do capitalismo no Brasil, mar-cado pelo alto grau de organizao da burguesia brasileira, em paralelo ao desarme da classe trabalhadora, fruto da ao deletria dos governos petistas, a privatizao e toda lgica mercantil na rea educacional se intensificaro ainda mais. Cada vez mais teremos uma educao de baixa qualidade, tecnicis-ta, ligeira, superficial e, em muitos

    casos, precria. Neste sentido, a luta em defesa da educao pblica deve estar atrelada construo de um projeto nacional de educao de alta qualidade, universal, laica e pautada nas reais necessidades da classe trabalhadora. Esta uma luta que deve extrapolar o terreno formal das instituies, envol-vendo, portanto, no apenas professo-res, estudantes e funcionrios. Se a burguesia possui seus aparelhos e poder de lobby, os trabalha-dores devem construir e fortalecer os seus instrumentos de mobilizao para defender um projeto prprio de educa-o. O papel dos comunistas de ajudar neste processo de organizao e luta. Durante 2014, o Encontro Nacional de Educao, organizado pelo comit dos 10 % do PIB J, e o Encontro Nacional de Movimentos em luta por uma Uni-versidade Popular foram aes impor-tantes em defesa da educao pblica para os trabalhadores. Conclamemos os diversos movimentos populares em luta, pais de alunos, sindicatos comba-tivos e todos os setores indignados com o atual cenrio das escolas e universida-des brasileiras para esta luta. A mercan-tilizao e privatizao no resolvero nossos problemas!

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  • Dificilmente o tema aborto aparece de forma racional nos debates polticos. Os movimentos feministas o retomam constantemente, mas o assun-to ou desprezado ou vira polmica com excessiva carga de preconceitos morais e religiosos. Polarizar em torno do feto (do direito vida, como dito) um subterfgio para no encarar a reali-dade das mulheres, que tm seus corpos vigiados e controlados pelo Estado, pelas igrejas e pela sociedade. Quando no so mortas, sofrem as mais cruis sequelas decorrentes da prtica clan-destina do aborto.

    O machismo estruturado ideo-lgica, econmica e politicamente na sociedade capitalista naturaliza prti-cas como a represso sexual, a explora-o fsica e psicolgica da mulher, a dupla moral no processo educacional e na formao sexual de adolescentes e jovens. Essa postura obriga a mulher a ter a maternidade como destino, no possibilitando ou reconhecendo seus outros desejos e vontades. Numa socie-dade de classes, criminalizar o aborto criminalizar a pobreza, condenando as mulheres trabalhadoras e pobres ao desespero de buscar clnicas clandesti-nas, ao uso de remdios agressivos ou a uma gravidez indesejada, com todas as suas consequncias e sequelas, inclusi-ve para a vida da criana que se diz pro-teger e que poder crescer sem ser ama-da, pois no desejada. Muitas vezes

    ocorre a priso ou mesmo a morte da mulher (um paradoxo para quem diz defender tanto a vida).

    O aborto no mata! O que mata a clandestinidade, a violao dos dire-itos humanos e reprodutivos das mulheres e a legitimao\legalizao do estupro (expresso, por exemplo, no discurso fascista de Bolsonaro, apoiado por parte da sociedade brasileira)! Nenhuma mulher deseja o aborto. No estado burgus h quase que uma impossibilidade social de controle da prpria sexualidade, na medida em que a gravidez indesejada resultante de situaes sociais comuns no sistema capitalista: violncia sexual; recusa de uso de mtodos contraceptivos por parte dos homens; limites aos acessos informao e aos mtodos, especial-mente para as mulheres jovens; sexua-lidade reprimida e repressora; bloquei-os laqueadura de trompas, entre outras questes que precisam ser deba-tidas. No se encontra terreno frtil para a liberdade das mulheres diante do machismo incutido nesta capitalista.

    Aqueles que defendem o pro-cesso de criminalizao, por acredita-rem que h humanidade em um orga-nismo vivo que o feto, so os mesmos que impedem as iniciativas de educa-o sexual para adolescentes, que lutam contra a distribuio e venda de contra-ceptivos de emergncia, que impedem as mulheres de terem acesso s infor-

    maes seguras sobre mtodos que evitem a gravidez, sem contar os limita-dos servios pblicos na oferta de con-traceptivos. So eles que impem mulher apenas a funo reprodutiva e impedem a maternidade desejada e verdadeiramente humana como mais um espao de realizao histrica da mulher.

    A luta pelo direito ao aborto e sua legalizao no a finalidade da luta das mulheres. Como consta no Manifesto das 343, ao contrrio, cor-responde exigncia mais elementar, sem o qual a luta poltica no pode sequer comear. vital que as mulheres retomem e recuperem seus corpos. As mulheres esto em uma situao nica na histria: so seres humanos que, nas sociedades modernas, no tm direito a dispor livremente de seus corpos. Alm delas, apenas os escravos conheceram essa situao. A libertao humana passa necessariamente pela libertao da mulher e somente quando elas toma-rem as rdeas de seu destino e isso passa pelo domnio de seu corpo avan-aremos na construo justa de uma nova sociedade.

    1 Manifesto escrito em 5 de abril de 1971 e assinado por 343 mulheres francesas, dentre as quais Simone de Beauvoir, Marguerite Duras, Franoise Sagan, Catherine Deneuve e Jeanne Moreau, admin-do que realizaram aborto e exigindo do governo o direito ao aborto.

    Legalizao do aborto:uma luta de todos

    Janeiro 2015 - Ano 01

    ColetivoFeminista-ClassistaAna Montenegro

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    A luta contra o Racismo umaluta Anticapitalista

    O Coletivo Minervino de Oli-veira (CMO), sob coordenao do Par-tido Comunista Brasileiro (PCB), atua junto populao afrobrasileira e aos movimentos de luta contra o racismo e a discriminao racial e tem como ele-mento definidor de sua identidade poltica a convico de que a vitria definitiva sobre o racismo e a discrimi-nao racial e a conquista de uma socie-dade caracterizada por uma igualdade substancial nas chamadas relaes raciais so impossveis sob as condi-es do capitalismo e da ordem burgue-sa. A explorao dos trabalhado-res negros, primeiro escravizados e depois assalariados, tem sido a base econmica e social fundamental da existncia da sociedade de classes e do processo de reproduo ampliada do capital em nosso pas, desde a poca colonial. Desta relao fundamental

    decorre no apenas a subalternizao econmica e social da populao negra brasileira, como tambm todas as dema-is relaes de dominao e explorao existentes em nossa sociedade. Logo, no se pode suprimir tal situao sem alterar qualitativamente a dinmica das relaes sociais em vigor. Inversamen-te, a eliminao desta modalidade basi-lar de desigualdade de classe e domina-o social desestruturaria todo o siste-ma econmico e social baseado na explorao da fora de trabalho e na subordinao social das grandes mas-sas da populao trabalhadora, que tem no povo negro seu contingente mais numeroso. Partimos da constatao de que a maioria esmagadora da populao negra brasileira integra o universo da classe trabalhadora. Seja como operri-os urbanos, assalariados rurais, traba-lhadores domsticos, empregados do

    setor de servio, subempregados ou desempregados, a quase totalidade dos afrodescendentes integra o mundo do trabalho. Todas as estatsticas revelam que esta populao ocupa, em propor-o majoritria, a base da pirmide salarial brasileira. Seus indicadores sociais so os piores nos mbitos do acesso aos servios de sade, educao, emprego e oportunidades de ascenso profissional. Submetida dura realida-de da explorao capitalista e da domi-nao da burguesia, a populao traba-lhadora negra conecta organicamente suas possibilidades de emancipao ao triunfo da luta geral pela libertao do conjunto dos trabalhadores brasileiros. Partindo desta perspectiva, ns do Coletivo Minervino de Oliveira vimos a pblico afirmar: a luta contra o racismo deve ser parte integrante da luta contra o capitalismo!

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    O reconhecimento, por parte dos EUA, de que fracassou sua poltica de provocaes e isolamento imposta a Cuba h cinco dcadas uma vitria da resistncia do povo cubano, que nunca se rendeu ao imperialismo e resistiu a todas as dificuldades, inclusive ao duro perodo especial, que se seguiu contrarrevoluo na Unio Sovitica e nos pases do Leste Europeu.

    Esta extraordinria capacidade de resistncia da cinquentenria Revo-luo Cubana s foi possvel pelo valor que os cubanos atribuem s significati-vas conquistas de carter socialista e pela intensa participao popular nas decises sobre os destinos de seu pas.

    Mas no nos iludamos, achan-do que a libertao dos Heris Cubanos e o restabelecimento das relaes diplomticas signifiquem uma inflexo humanista e pacifista do imperia-lismo norte-americano. Valendo-se da recente flexibilizao dos investimen-tos estrangeiros e do conceito de propri-edade na ilha, as empresas estaduniden-ses se habilitam agora a promover gran-des empreendimentos em Cuba, para concorrer, em condies vantajosas, com a crescente ofensiva do capital brasileiro, chins e russo, no marco do acirramento das contradies interim-perialistas.

    Nesse mesmo contexto, com a distenso das relaes com Cuba, os EUA se habilitam a recuperar sua influncia na Amrica Latina, mitigar o sentimento anti-imperialista, cooptar governos tidos como progressistas e retomar o protagonismo da OEA at ento constrangida pelo mal estar que a ausncia de Cuba causava com o obje-tivo de diminuir a importncia da CELAC e da UNASUL.

    Alm de todos esses objetivos, est o de fomentar e financiar a contrar-revoluo em Cuba, com novas formas de penetrao ideolgica na sociedade cubano, como a invaso cultural, turs-tica e econmica, a explorao dos descontentamentos, em especial com a limitao da oferta de produtos de con-sumo. Some-se a isso o ritual do fim do bloqueio econmico, que depender do Congresso americano e ser objeto de muitas chantagens, condicionando o processo adoo, por parte de Cuba, do que chamam de clusulas democr-ticas, na verdade os fundamentos da democracia burguesa em que prevale-cem os interesses do capital e que come-am pela liberdade de imprensa.

    Ainda cedo para antever a repercusso dessa distenso das rela-es EUA-Cuba na Amrica Latina, mas algumas evidncias so preocu-

    pantes. A principal delas a tentativa de estrangular o processo de mudanas na Venezuela. Exatamente no dia seguinte ao anncio do reatamento das relaes diplomticas com Cuba, Obama tornou pblicas mais medidas de retaliao ao governo venezuelano, por suposto des-cumprimento das tais clusulas demo-crticas, o que foi um claro recado a todos os pases, especialmente a Cuba.

    Outra consequncia que s o tempo dir o impacto da reabertura em breve da embaixada estadunidense em Havana (que abrigar muitos agen-tes da CIA, como em todos os pases) em relao aos dilogos por uma solu-o poltica para o conflito colombiano que protagonizam o maior aliado (Co-lmbia) e o maior inimigo (FARC-EP) dos EUA na Amrica Latina.

    O povo cubano est diante de um novo desafio para manter as extra-ordinrias conquistas sociais de sua Revoluo e seu acentuado esprito socialista e internacionalista. preciso no abrir a guarda para o inimigo impe-rialista e, mais do que nunca, reforar a solidariedade militante aos povos da Amrica Latina, em especial, nesta quadra, aos cubanos, venezuelanos e colombianos.

    O lobo em pele de cordeiro!

    A guinada dos Estados Unidos em relao a Cuba:

    Ivan Pinheiro Secretrio Geral do PCB