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1 JUSTIÇA FEDERAL SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE GOIÁS JUÍZO FEDERAL DA lla VARA PROCESSO Ni° 27070-70.2018.4.01.3500 CLASSE 15202: MEDIDA CAUTELAR DE BUSCA E APREENSÃO REQUERENTE: DELEGADO DA POLÍCIA FEDERAUGO REQUERIDOS : SIGILOSO DECISÃO I — RELATÓRIO 1. O Delegado de Polícia Federal, Dr. CHARLES GONÇALVES LEMES, representa: a) pela expedição de mandado de busca e apreensão, a ser cumprido nos endereços indicados às fls. 23/24 (itens 1 a 7); b) pela prisão preventiva e/ou temporária dos Representados JÚLIO CÉSAR VAZ DE MELO, MÁRCIO GOMES BORGES e MEIRE CRISTINA RODRIGUES BORGES; c) além de outros pedidos complementares (fls. 03/27). A Representação veio acompanhada do correlato Inquérito Policial n° 1041/2018-SR/PF/G0 (Processo n° 27069-85.2018.4.01.3500). A Autoridade Representante aduz, em síntese, que o IPL n° 1041/2018- SR/PF/G0 — denominado de Operação "Confraria", foi instaurado com o fito de apurar possível prática de crime de "Lavagem de Dinheiro" e crimes antecedentes, praticados, supostamente, pelo Gerente Geral dos Distritos da CODEGO — Companhia de Desenvolvimento Econômico do Estado de Goiás, MÁRCIO GOMES BORGES e seus comparsas, a serem definidos no transcorrer das investigações; que, após a deflagração da Operação "Cash Delivery", ocorrida no dia 28/09/2018 (investigação destinada a apurar crimes de corrupção,

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JUSTIÇA FEDERAL SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE GOIÁS

JUÍZO FEDERAL DA lla VARA

PROCESSO Ni° 27070-70.2018.4.01.3500

CLASSE 15202: MEDIDA CAUTELAR DE BUSCA E APREENSÃO

REQUERENTE: DELEGADO DA POLÍCIA FEDERAUGO

REQUERIDOS : SIGILOSO

DECISÃO

I — RELATÓRIO

1. O Delegado de Polícia Federal, Dr. CHARLES GONÇALVES LEMES,

representa: a) pela expedição de mandado de busca e apreensão, a ser cumprido

nos endereços indicados às fls. 23/24 (itens 1 a 7); b) pela prisão preventiva e/ou

temporária dos Representados JÚLIO CÉSAR VAZ DE MELO, MÁRCIO GOMES

BORGES e MEIRE CRISTINA RODRIGUES BORGES; c) além de outros pedidos

complementares (fls. 03/27).

A Representação veio acompanhada do correlato Inquérito Policial n°

1041/2018-SR/PF/G0 (Processo n° 27069-85.2018.4.01.3500).

A Autoridade Representante aduz, em síntese, que o IPL n° 1041/2018-

SR/PF/G0 — denominado de Operação "Confraria", foi instaurado com o fito de

apurar possível prática de crime de "Lavagem de Dinheiro" e crimes

antecedentes, praticados, supostamente, pelo Gerente Geral dos Distritos da

CODEGO — Companhia de Desenvolvimento Econômico do Estado de Goiás,

MÁRCIO GOMES BORGES e seus comparsas, a serem definidos no transcorrer

das investigações; que, após a deflagração da Operação "Cash Delivery",

ocorrida no dia 28/09/2018 (investigação destinada a apurar crimes de corrupção,

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associação criminosa e lavagem de capitais, atribuídos ao ex-governador do

Estado de Goiás, MARCONI PERILLO, o qual também é alvo de acusações em

colaborações premiadas de executivos da ODEBRECHT na Operação "Lava

Jato"), a Polícia Federal recebeu denúncia anônima sobre o Gerente Geral dos

Distritos da CODEGO — Companhia de Desenvolvimento Econômico do Estado

de Goiás, MARCIO GOMES BORGES, de que estaria guardando em imóveis de

sua propriedade valores recebidos a titulo de propina na CODEGO, no mesmo

esquema de valores apreendidos na casa do policial militar Marcio Garcia de

Moura; durante a execução de mandados de buscas e apreensões na Operação

"CASH DELIVERY".

Ainda, de acordo com o denunciante, MARCIO GOMES BORGES é

pessoa diretamente ligada a JAYME RINCON, ex-diretor presidente da AGETOP

e então coordenador de campanha do sucessor de MARCONI PERILLO, José

Eliton Figueiredo Júnior, e que MARCIO GOMES BORGES seria também

coordenador de logística do Comitê de Campanha do candidato e atual

Governador José Eliton; que a propina da CODEGO seria resultado do

adiantamento repentino do pagamento a fornecedores supostamente

participantes do esquema de corrupção e desvio de recursos públicos de

contratos firmados pela CODEGO; que MARCIO GOMES BORGES possui salário

de aproximadamente R$ 12.000,00 (doze mil reais) e sua esposa MEIRE

CRISTINA RODRIGUES BORGES recebe salário de, aproximadamente, R$

3.000,00 (três mil reais), fato este incompatível com a vida de luxo ostentada pelo

casal que possuiria diverso[sic] veículos importados e imóveis de luxo, etc- que a

célula criminosa existente na CODEGO é composta por JULIO CEZAR VAZ DE

MELO — atual presidente da CODEGO e ex-presidente da SANEAGO MARCU

ANTÔNIO DE SOUZA BELLINI — chefe de Gabinete da CODEGO JAYME

RINCON e MARCIO GOMES BORGES. (Grifei).

A Autoridade Policial ressalta que a denúncia anônima foi registrada pelo

Núcleo de Inteligência Policial da Policia Federal em Goiás, e, posteriormente,

submetida a diligências preliminares para averiguar a veracidade dos fatos

denunciados.

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As diligências iniciais realizadas pela Polícia Federal indicam que, de fato,

MARCIO GOMES BORGES e sua esposa MEIRE CRISTINA RODRIGUES

BORGES, a qual exerce o cargo de assessora especial da Governadoria do

Estado de Goiás, desfrutam de estilo de vida incompatível com os rendimentos

lícitos auferidos com suas atividades laborais. Constataram, também, que os

veículos de luxo do casal se encontram na posse de terceiros, igualmente

abrangidos pela presente representação - JULIO CEZAR VAZ DE MELO — atual

presidente da CODEGO e ex-presidente da SANEAGO e MARCU ANTÔNIO DE

SOUZA BELLINI — chefe de Gabinete da CODEGO.

O Representante informa que com o compartilhamento de provas colhidas

na Operação "Cash Delivery" (IPL n° 448/2018-SR/PF/G0 e cautelares conexas)

deferido por este Juízo nos autos n° 27075-92.2018.4.01.35600, verificou-se um

liame existente, desde os pagamentos efetuados para a campanha governo do

Estado de 2014, entre MARCIO GOMES BORGES, JULIO CEZAR VAZ DE

MELO e JAIME RYNCON. Igualmente, MARCIO GOMES BORGES manteve

(realizou/recebeu) contato telefônico com os alvos da Operação "CASH

DELIVERY", MARCIO GARCIA MOURA e SERGIO RODRIGUES DE SOUZA -

policiais militares encarregados de receber a propina da ODEBRECHT em SÃO

PAULO, justamente no dia em que comprovadamente a propina fora recolhida.

Ao analisar o aparelho celular apreendido em posse de JAYME RINCON

na referida Operação "CASH DELIVERY", constatou-se que os assuntos

registrados nas conversas pelo whatsApp entre JAYME EDUARDO RINCON e

JÚLIO CEZAR VAZ DE MELO (presidente da CODEGO e ex-presidente da

SANEAGO) ultrapassam "a simples relação de amizade", revelando fortes indícios

de que são sócios ocultos de imóveis de luxo, constituídos de uma casa de

veraneio em Búzios/RJ, posta à venda, e de uma casa de veraneio, ainda em fase

de construção, em Aruanã/GO.

O Ministério Público Federal, encampando e aditando a representação,

oficiou pelo deferimento, parcial, dos pedidos formulados pelo Representante,

opondo-se quanto à busca e apreensão em relação a LEANDRO RIBEIRO DA

SILVA; requereu seja decretado o sequestro de bens dos investigados; a prisão

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preventiva e/ou temporária, afastamento cautelar dos cargos ocupados por

MEIRE CRISTINA RODRIGUES BORGES, JÚLIO CEZAR VAZ DE MELO,

MÁRCIO GOMES BORGES e MARCU ANTONIO DE SOUZA BELLINI, além de

outros pedidos complementares (fls. 29/43).

Em adendo aos pedidos, o MPF solicitou autorização para buscar e

apreender o smartphone de JAYME RINCON (Rua Ália, qd D1, It. 08 Alphaville

Flamboyant, Goiânia/GO), bem como acessar os dados contidos na memória do

equipamento, inclusive aplicativos de mensagens.

É o relatório.

II— FUNDAMENTAÇÃO

2. Da Competência da Justiça Federal.

Nos termos do Art. 109, inciso IV, da CF, compete aos juizes federais

"processar e julgar os crimes políticos e as infrações penais praticadas em

detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades

autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a

competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoraf'.

O STF tem entendido, na interpretação desse dispositivo, que a

"competência da Justiça Federal, em matéria penal, só ocorre quando a infração

penal é praticada em detrimento de bens, serviços ou interesses da União como

tal, ou seja, de bens ou serviços que possua, ou de seu interesse direto e

especifico." (STF, RE 166943/PR, Rel. Min. MOREIRA ALVES, Primeira Turma,

julgado em 03/03/1995, DJ 09/09/1995, P. 22514. Grifei.) No mesmo sentido:

STF, RE 349184/TO, Rel. Min. MOREIRA ALVES, Primeira Turma, julgado em

03/12/2002, DJ 07-03-2003 P. 2; RE 348714/RS, Rel. Min. MOREIRA ALVES,

Primeira Turma, julgado em 25/02/2003, DJ 30-05-2003 P. 31; RE 502915/SP,

Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Primeira Turma, julgado em 13/02/2007,

DJe-004 27-04-2007.

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Contudo, extrai-se da Representação que, embora "a Companhia de

Desenvolvimento Econômico do Estado de Goiás — CODEGO seja um

empresa pública estadual", a denúncia anônima em apuração nos presentes

autos, a qual versa sobre pagamento e recebimento de propina, cujos agentes

estariam se utilizando da estrutura da Estatal, surgiu no contexto fático da

Operação "Cash Delivery", constituindo-se, na verdade, em desdobramento

daquela, e, consequentemente, da Operação "Lavajato", todas em tramitação

perante a Justiça Federal. Portanto, à luz do quanto decidido na exceção de

incompetência 24262-92.2018.4.01.3500, que firmou a competência deste

juizo, a investigação em seus primórdios demonstrava a existência de interesse

da União no feito, sendo que o desdobramento dos fatos, com indícios de tratar-

se da mesma Organização Criminosa atuando no cometimento de crimes

análogos, utilizando de um mesmo modus operandi, são elementos suficientes a

atrair a competência deste Juízo para as medidas ora pleiteadas.

A propósito, são relevantes as razões da Autoridade Policial: "Reforça tal

entendimento, o fato de que a presente investigação progrediu mediante acesso a dados

telefônicos compartilhados pela Operação "CASH DELIVERY" no sentido de apontar de

forma categórica e técnica que de fato MARCIO GOMES BORGES manteve contato

telefônico com os responsáveis pelo recebimento de propina em favor do ex-governador

MARCONI PERILLO investigados na Operação "CASH DELIVERY"(Grifei).

Assim sendo, incide, na espécie, a regra prevista no Art. 109, inciso IV, da

CF. Dessa forma, não há dúvidas quanto à competência da Justiça Federal.

3. Do pedido de prisão preventiva.

Nos termos do art. 311 do CPP, em qualquer fase da investigação policial

ou do processo penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, de oficio, se

no curso da ação penal, ou a requerimento do Ministério Público, do querelante

ou do assistente, ou por representação da autoridade policial.

Conforme disposto no artigo 312 do Código de Processo Penal, "[a] prisão

preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica,

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por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal,

quando houver prova da existência do crime e indicio suficiente de autoria. Parágrafo

único. A prisão preventiva também poderá ser decretada em caso de descumprimento

de qualquer das obrigações impostas por força de medidas cautelares (art. 282, § 42)."

Portanto, a segregação preventiva, como medida cautelar de exceção, será

decretada quando houver prova da existência de crime e de indícios razoáveis da

autoria (fumus boni iuris ou pressupostos), e desde que esteja em risco a ordem

pública, a instrução criminal ou a aplicação da lei penal (penou/um in mora ou

requisitos).

Como é sabido a investigação em apreço foi iniciada no Inquérito Policial

1180/2017/DF, autuado perante STJ em 09/06/2017, sob número

01372269720173000000, e posteriormente retombado sob o n° 445/2018

SRPFGO, para verificar, a princípio, a prática dos crimes previstos nos artigos

317, do CP (corrupção passiva) e lavagem de capitais (art. 1°, da Lei 9.613),

tendo evoluído para verificar a existência de suposta associação/organização

criminosa.

Apontavam as investigações que o ex-Governador MARCONI PERILLO,

por intermédio de JAYME RINCON, teria recebido ilicitamente recursos para suas

campanhas eleitorais ao Governo do Estado de Goiás nos anos de 2010 e 2014

(cerca de 13 milhões de reais), em troca de patrocinar os interesses da Odebrecht

no Estado.

O recebimento era operacionalizado por JAYME EDUARDO RINCON

(preposto), braço direito de MARCONI PERILLO, responsável pela realização de

operações de recebimento de valores solicitados por aquele, sendo que as

pessoas de SERGIO RODRIGUES DE SOUZA e MARCIO GARCIA DE MOURA,

policiais militares em GOIÁS, realizaram serviços de transporte físico de

numerário em espécie nas entregas de valores.

Na mesma esteira, a partir de denúncia anônima, que se confirmou por

diligências preliminares, instalou-se o IPL n° 1041/2018-SR/PF/G0 — Operação

"Confraria", com o fito de apurar possível prática de crime de "Lavagem de

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Dinheiro" e crimes antecedentes, praticados pelo Gerente Geral dos Distritos da

CODEGO — Companhia de Desenvolvimento Econômico do Estado de Goiás,

MÁRCIO GOMES BORGES e outros.

MARCIO GOMES BORGES estaria guardando em imóveis de sua

propriedade valores de propina da CODEGO, da mesma forma que era realizado

no esquema que envolveu a apreensão de quase 1 milhão de reais na casa do

policial militar Mareio Garcia de Moura, quando da deflagração da Operação

"CASH DELIVERY'.

A Autoridade Policial requereu a prisão preventiva dos Representados

JÚLIO CÉSAR VAZ DE MELO, MÁRCIO GOMES BORGES e MEIRE CRISTINA

RODRIGUES BORGES, para garantia da ordem pública, conveniência da

instrução criminal e para assegurar a aplicação da lei penal, ressaltando que "os

investigados continuam a exercer função pública na cúpula do Governo", e por

isso, podem interferir nas investigações, desconstituir provas, alinhar declarações

de outros envolvidos a serem investigados, bem como se desfazer do patrimônio

adquirido ilicitamente com as condutas perpetradas. Alternativamente, requereu a

prisão temporária, forte no artigo 1°, incisos 1 e 111, combinado com alínea "I",

da Lei 7.960/89.

Para corroborar o pedido, a Autoridade Policial demonstra a necessidade

da medida, individualizando a conduta dos representados:

"1) JULIO CESAR VAZ DE MELO é atual presidente da CODEGO e detém a administração da CODEGO em suas mãos, possuindo trânsito irrestrito e, portanto, e livre acesso a todas as divisões da CODEGO, bem como influência sobre todas aqueles que atuam na CODEGO e prestadores de serviço da CODEGO. ALERTE-SE que em um movimento praticamente uniforme o atual governo que retira do comando do Estado de Goiás vem estabelecendo aceleração de pagamentos de contratos de forma frenética com intuito de se locupletar com urgência dos recursos públicos desviados, fato este que justifica a URGÊNCIA de atendimento ao presente pleito, posto que é cediço que uma vez que os recursos deixam os cofres públicos dificilmente são completamente rastreados e restituídos ao erário;

MARCIO GOMES BORGES e sua esposa 3) MEIRE CRISTINA RODRIGUES BORGES ocupam funções públicas estratégicas no

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governo do Estado de Goiás e visível e notoriamente experimentara, evolução patrimonial não condizente com servidores públicos,"

Especificamente quanto a MARCIO GOMES BORGES e sua esposa,

MEIRE CRISTINA RODRIGUES BORGES, consta, ainda, rumores de que, após

Marconi Perillo ter interrompido sua vida pública, estariam de partida para

Portugal, com o objetivo de se desfazerem de seus bens (fl. 27).

Pelo que foi colhido até o momento, de acordo com a autoridade policial,

pesa sobre os Representados a fundada suspeita da prática dos crimes de fraude

em licitação, peculato, corrupção ativa e passiva, associação criminosa, sendo

estes crimes de ação penal pública, sem prejuízo da análise do crime de

"lavagem de dinheiro".

A Autoridade Policial afirma a existência dos crimes em comento e indícios

suficientes de autoria, consubstanciado no inteiro teor da denúncia anônima,

devidamente submetida à investigação e, ainda, com base nas Informações

Policiais n° 38/2018-NIP/SR/PF/GO, fls. 05/16, Informação n° 46/2018, fls. 55/58 e

Informação n° 50/2018-NIP/SR/PF/GO, fls. 61/79, todas do IPL n° 1041/2018-

SR/PF/GO), além do conjunto de provas colhidas na Operação "CASH

DELIVERY".

Prossegue o Representante salientando que, dos elementos coletados nos

autos do IPL n° 1041/2018-SR/PF/GO, depreende-se a "existência de requisitos

autorizadores da segregação cautelar dos representados, pois a investigação

procedida converge à prática odiosa do desvio de recursos públicos, sendo tal

conduta-crime extremamente nociva à sociedade, pois é notório que a corrupção

face a órgão[sic] públicos possui consequências mediata e imediatas, lesando

num primeiro momento a saúde financeira de uma empresa pública; num

segundo momento atinge o consumidor final que paga o preço da corrupção

impune e recebe a má prestação de serviço; registrando num terceiro momento

o engessamento da capacidade do Estado de ofertar reais condições de

desenvolvimento econômico social ao Estado de Goiás e num quarto momento o

sentimento de impunidade, descontentamento e descrédito nas instituições

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públicas como um todo e notadamente o descrédito da própria justiça,

merecendo, portanto, repreensão pronta e impetuosa."

Da mesma forma, o Ministério Público Federal requer a prisão preventiva

e/ou temporária dos Representados acima mencionados, bem como de JAYME

RINCON.

Para tanto, afirma o parquet que JAYME seria sócio-oculto de JÚLIO

CÉSAR VAZ DE MELO em alguns empreendimentos, que estariam em nome de

terceiros ("laranjas"), sendo necessária sua prisão preventiva "para garantia da

ordem pública, como forma de desarticular esse tentáculo da organização

criminosa e fazer cessar os atos de lavagem de dinheiro." (fl. 42/verso - grifei).

Para demonstrar o envolvimento de JAYME RINCON no caso, o MPF

destaca trecho de seu interrogatório realizado na Policia Federal na Operação

Cash Delivery, donde se extrai: "(...). QUE, parte dos valores era oficializada com

a ajuda de empresas parceiras. QUE, todo o montante destinado a campanha de

MARCONI PERILLO foi legalizado." (f 1. 32/verso - Grifei).

O MPF também salienta que as diligências realizadas pela Polícia Federal

denotam que o grupo criminoso continua "em plena atividade de coleta de propina

e de lavagem de dinheiro, não se limitando à ODEBRECHT, mas a outras fontes

de recursos ilícitos (possivelmente junto às tais "empresas parceiras" a que se

referiu JAYME RINCOM, em seu interrogatório), envolvendo, além da AGETOP,

também a CODEGO e a SANEAGO (Operação Decantação)." (Grifei).

Consubstanciado nas informações carreadas aos autos pela Autoridade

Policial, o MPF requereu a prisão preventiva e/ou temporária de JAYME RINCON,

porquanto se encontra interligado aos demais investigados, pois, a célula

criminosa existente na CODEGO é composta por JÚLIO CEZAR VAZ DE MELO

(atual presidente da CODEGO e ex-presidente da SANEAGO), MARCU

ANTÔNIO DE SOUZA BELLINI (chefe de Gabinete da CODEGO), JAYME

RINCON e MARCIO GOMES BORGES.

O elo entre os investigados JAYME RINCON, JÚLIO CEZAR VAZ DE

MELO, MARCIO GOMES BORGES e MARCU ANTÔNIO DE SOUZA BELLINI,

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restou extremamente claro nos autos, uma vez que se utilizam de bens uns dos

outros e possuem imóveis em comum.

Dentre os liames entre os representados destacam-se:

JAYME RYNCON E JÚLIO CEZAR VAZ DE MELO são sócios-ocultos

de uma luxuosa casa em Búzios/RJ;

JAYME RYNCON E JÚLIO CEZAR VAZ DE MELO são sócios-ocultos

de uma casa em construção em Aruanã/GO;

JÚLIO CEZAR VAZ DE MELO e MARCU ANTÔNIO DE SOUZA

BELLINI têm a posse de dois veículos de luxo, Toyota Hilux e Nissan

Frontier, respectivamente, ambos pertencentes a MARCIO GOMES

BORGES, veículos esses avaliados em R$171.200,00 e R$168.700,00

(respectivamente).

Os terminais telefônicos de MARCIO GOMES BORGES e JÚLIO

CEZAR VAZ DE MELO estão cadastrados em nome da esposa de

MARCIO BORGES, MEIRE CRISTINA RODRIGES BORGES.

A análise de vínculos contida na informação 046/2018 (fls. 55/58 do IPL

1041/2018), dá conta do liame entre JAYME RINCON, JULIO CEZAR

VAZ DE MELO, MARCIO BORGES e os "buscadores de valores"

MARCIO MOURA e SERGIO RODRIGUES.

O liame existente entre os representados e que ligam os fatos aqui

documentados à suposta Associação Criminosa inicialmente investigada, restou

demonstrado a partir do compartilhamento de provas colhidas na Operação "Cash

Delivery" (IPL n° 448/2018-SR/PF/G0), deferido por este Juízo nos autos n°

27075-92.2018.4.01.35600, chegando-se as seguintes conclusões (fls. 55/58):

"MARCIO GOMES BORGES e JULIO CEZAR VAZ DE MELO mantiveram contato telefônico com o alvo da Operação "CASH DELIVERr JAIME RYNCON, justamente no dia/nos dias em que compro vadamente a propina fora recolhida em São Paulo, conforme extrai-se de fluxograma de fls. 55/58;

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MARCIO GOMES BORGES manteve (realizou/recebeu) contato telefônico com os alvos da Operação "CASH DELIVERY; MARCIO GARCIA MOURA e SER 310 RODRIGUES DE SOUZA - policiais militares encarregados de receber a propina da ODEBRECHT em SÃO PAULO -, justamente no dia em que comprovadamente a propina fora recolhida por estes em São Paulo, conforme extrai-se de fluxograma de fls. 55/58;

Verificou-se que os terminais telefônicos de MARCIO GOMES BORGES e JULIO CEZAR VAZ DE MELO estão cadastrado em nome da esposa de MARCIO BORGES, MEIRE CRISTINA RODRIGES BORGES, conforme extrai-se de fluxograma de fls. 55/58;"

Assim, e conforme já delineado com a evolução das investigações acerca

da associação criminosa, a empresa ODEBRECHT era apenas uma das fontes de

pagamento de propina.

Com a análise do aparelho celular de JAYME RINCON na Operação

"CASH DELIVERY", constatou-se da análise dos diálogos realizados pelo

whatsApp entre JAYME EDUARDO RINCON e JÚLIO CEZAR VAZ DE MELO

(presidente da CODEGO e ex-presidente da SANEAGO), fortes indícios de que

são sócios ocultos de imóveis de luxo, constituídos de uma casa de veraneio em

Búzios/RJ, posta à venda, e de uma casa de veraneio, ainda em fase de

construção, em Aruaná/GO (Informação de Polícia Judiciária n° 38/2018-

NIP/SR/PF/GO - fls. 61/79 do IPL n° 50/2018-SR/PF/G0).

Além da discussão acerca do modo como se realizariam as construções

(tamanho, localização de piscina, tipo de material a ser utilizado, etc) em diversas

passagens JAYME RINCON deixa claro em seus diálogos com terceiros de que é

proprietário de uma casa em Búzios (fl. 65/66 do IPL 1041/2018), bem como que

possuía um sócio no imóvel. Mais claro ainda quando refere em diálogo exposto à

fl. 78 que: "ARUANA é gasto. Lá (Búzios) é receita"

Igualmente, nas conversas travadas com JULIO VAZ, discutem em várias

ocasiões acerca da construção em Aruanã/GO (fls. 71/77). Assim, são inúmeros

os indícios acerca da ocultação dos referidos imóveis.

Ademais, conforme informação policial n°50/2018 — NIP/SR/PF/GO, a casa

de Búzios/RJ, encontra-se em nome de MAURO FARIA DUTRA "laranja".

Ademais, afirmou-se que "MAURO FARIAS DUTRA é dono de diversas empresas

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que tem contratos com o Estado de Goiás, dentre elas a INNOV Serviços E

Computadores S/A, a NOVADATA Serviços E Computadores S/A e a

NOVA TECH Serviços E Sistemas S.A, é figura conhecida, conforme dados de

fontes abertas, pelo envolvimento em fraudes envolvendo o poder público e

agentes públicos."

Tais fatos demonstram indícios, corroborados pelas declarações de JAYME

RINCON dadas quando da deflagração da operação Cash Delivery, acerca de

existência de "empresas parceiras", que reforçam a hipótese levantada de

existência de esquemas de pagamento de propina semelhante ao inicialmente

investigado, relativamente à ODEBRECHT, nas mais diversas empresas estatais

do Governo de Goiás (AGETOP, SANEAGO, CODEGO), e portanto conexos à

atividade da associação investigada. É dizer, a associação criminosa mostra-se

cada vez com atuação mais ampla do que inicialmente se esperava, sendo que

parte desses valores pagos a título de propina estariam sendo ocultados na

aquisição dos referidos imóveis.

De outra banda, no que concerne ao vultoso patrimônio e luxuoso estilo de

vida ostentado pelos investigados MARCIO GOMES BORGES e MEIRE

CRISTINA RODRIGUES BORGES, o MPF entende ser resultado dos crimes

cometidos pela Associação/Organização Criminosa, que tem como chefe maior

MARCONI PERILLO (fl. 35/verso).

As diligências realizadas pela Polícia Federal indicam que: de fato,

MARCIO GOMES BORGES e sua esposa MEIRE CRISTINA RODRIGUES

BORGES, a qual exerce o cargo de assessora especial da Governadoria do

Estado de Goiás, onde percebe um salário de R$ 3.040,00 (três mil e quarenta

reais), desfrutam de estilo de vida incompatível com os rendimentos lícitos

auferidos com suas atividades laborais. MÁRCIO GOMES BORGES possui

salário em torno de R$ 18.900,00 (dezoito mil e novecentos reais) (fls. 07/08 do

IPL 1041/2018).

A denúncia inicial dava conta que o casal possuía 12 (doze) veículos (no

valor total, aproximadamente, de R$ 500.000,00), e pelo menos 03 (três) imóveis

de luxo, além de ostentar viagens incompatíveis com o seus rendimentos.

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Verificou-se uma situação um tanto mais impactante por ocasião da

informação 38-2018 NIP/SR/DPF/GO, apresentando veículos como BMW M240I

2016/2017 (R$265.000,00); EVOQUE SE DYNAMIC 2015/2016 (R$162.000,00);

AUDI TT COUPE 2015; e até mesmo uma BMW X5M (R$300.000,00) que teria

sido comprada este ano, mas ainda não transferida, estando na posse do casal.

Igualmente, se confirmou a existência dos imóveis de luxo referidos, sendo

um deles um apartamento no bairro Jardim Goiás no valor de R$1.100.000,00.

Acresça-se ao já mencionado as fotos de viagens, muitas delas internacionais,

constantes das fls. 15/16 dos autos.

Em reforço ao liame entre os representados, constatou-se também que

alguns dos veículos do casal se encontram na posse de terceiros, a saber:

o veículo Toyota Hilux, placa: PKR-4550 de propriedade de MARCIO

GOMES se encontra na posse de JULIO CEZAR VAZ DE MELO — atual

presidente da CODEGO e ex-presidente da SANEAGO, avaliado em

R$171.200,00;

o veículo Nissan Frontier, placa: PRN 1775, está sendo utilizado por

MARCU ANTÔNIO DE SOUZA BELLINI — chefe de Gabinete da

CODEGO, avaliado em R$168.700,00.

Ademais, os terminais telefônicos de MARCIO GOMES BORGES e JÚLIO

CEZAR VAZ DE MELO estão cadastrados em nome da esposa de MARCIO

BORGES, MEIRE CRISTINA RODRIGUES BORGES.

Por fim, e em acréscimo, as redes sociais noticiam que MARCIO GOMES

BORGES e sua esposa MEIRE CRISTINA RODRIGUES BORGES foram

agraciados pelo ex-governador Marconi Perillo com a honraria de "Comenda de

Ordem do Mérito Anhanguera", uma das mais altas honrarias conferidas pelo

Governo do Estado de Goiás.

Os elementos até então carreados aos autos demonstram, ao menos, a

existência do fumus commissi delicti dos crimes de lavagem de dinheiro (art.

1°, da Lei 9.613/98), organização/ associação criminosa (art. 2°, da Lei

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12.850/2013 ou art. 288, do CP) e indicam a existência de corrupção passiva

(art. 317, do CP).

Ainda que devidamente delineados os indícios razoáveis de autoria, por

ora, não há elementos para a custódia preventiva dos Representados. A prisão

preventiva, como medida extrema, deve ser adotada somente quando não

houver outra alternativa no ordenamento jurídico para se obter o resultado

prático almejado.

In casu, entendo não perfeitamente delineado o penou/um libertatis a

ensejar a custódia cautelar, podendo ser utilizadas das cautelares do art. 319,

do CPP como medidas obstativas da reiteração delitiva.

Nessa esteira, indefiro os pedidos de prisão preventiva.

4. Do Pedido de Prisões Temporárias.

Por outro lado, a Lei n. 7.960/1989 previu que caberá a prisão temporária

quando imprescindível para as investigações e houver fundadas razões de autoria

participação do investigado em uma série de crimes, previstos nas alíneas do

inciso III, dentre os quais a quadrilha, atual associação criminosa (art.1°, incisos 1

III, alínea '1').

Infere-se dos autos que as informações que o instruem, sobretudo o

inquérito policial n° 1041/2018-SR/PF/G0 e o relatório de informação 38/2018

NIP/SR/PF/GO, demonstram, de forma clara e segura, a existência, em tese, dos

delitos noticiados.

Não há dúvida, conforme largamente apontado nos autos, acerca da

necessidade da paralisação das atividades criminosas por parte dos investigados

devido esclarecimento dos fatos noticiados.

Entretanto, entendo mais adequada ao caso a prisão temporária prevista

na Lei n° 7.960/1989. Isto porque há uma série de diligências ainda necessárias

para se permitir a formação da opinio delicti, com a análise do material porventura

apreendido, além de outras diligências.

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A Lei n° 7.960/1989 dispõe em seu artigo 1°, inciso I, que caberá a prisão

temporária quando imprescindível para as investigações e houver fundadas

razões de autoria e participação do investigado em uma série de crimes, dentre

os quais, quadrilha — atualmente, associação criminosa (art.1°, incisos 1 e 111,

alínea '1').

Trata-se de medida acautelatória que possibilita o recolhimento do acusado

antes do trânsito em julgado da sentença condenatória e, por isso mesmo, é uma

exceção ao princípio da presunção de inocência, só devendo ter sede nas

investigações quando imprescindíveis para a correta instrução do inquérito policial

(art. 1°, inc. I), ou quando o indiciado não tiver residência fixa ou não fornecer

elementos necessários ao esclarecimento de sua identidade. A ocorrência de um

destes requisitos deve, necessariamente, ser conjugada com a hipótese de

prática de um dos crimes elencados exaustivamente no inciso'''.

Nessa linha, dispõe o art. 1° da Lei n°7.960/89:

"Art. 1° Caberá prisão temporária: I - quando imprescindível para as investigações do inquérito policial; (- ) III - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do indiciado nos seguintes crimes: (...) I) quadrilha ou bando (art. 288), todos do Código Penal". (Grifei).

Por imprescindível deve-se entender a existência de entraves que impeçam

a autoridade policial de esclarecer devidamente o fato criminoso e suas

circunstâncias, bem como sua autoria. Nessa hipótese, sem a prisão provisória, é

improvável que se leve a bom termo as investigações, com o consequente

esclarecimento dos fatos.

Observe-se que, de acordo com o representante, "MARCIO GOMES

BORGES é pessoa diretamente ligada a JAYME RINCON, ex-diretor presidente

da AGETOP e então coordenador de campanha do sucessor de MARCONI

PERILLO, José Eliton Figueiredo Júnior, e que MARCIO GOMES BORGES seria

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ry

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também coordenador de logística do Comitê de Campanha do candidato e atual

Governador José Eliton; que a propina da CODEGO seria resultado do

adiantamento repentino do pagamento a fornecedores supostamente

participantes do esquema de corrupção e desvio de recursos públicos de

contratos firmados pela CODEGO."

Tendo em conta a sua característica de exceção, a prisão temporária,

assim como a preventiva, possui caráter de medida cautelar penal, exigindo para

o seu decreto os requisitos do periculum in mora e fummus boni iuris, amplamente

demonstrados acima.

Segundo Antônio Scarance Fernandes, a prisão temporária decretada com

fulcro no inciso I do Art. 1° da Lei 7.960 se faz "ante o risco de não serem colhidos

elementos importantes para a demonstração do crime ou autoria." Na espécie, a

prisão temporária dos representados é necessária para se obter maiores

informações e esclarecimentos sobre a participação deles, bem como para

identificar outras pessoas, porventura, envolvidas nos crimes em apuração.

Ademais, conforme referido, também tem escopo de cessar eventuais

adiantamentos repentinos de pagamentos a fornecedores participantes do

esquema de corrupção.

Na representação pela custódia dos investigados, a Autoridade Policial

alega ser evidente que eles continuam atuando em associação criminosa e, uma

vez "em liberdade poderão interferir e comprometer as investigações a serem

concretizadas no período pós-operatório com deflagração de buscas e

apreensões", sendo, portanto, extremamente necessário que os Representados

permaneçam custodiados, ainda que, temporariamente, até que sejam analisados

os materiais apreendidos e o interrogatório dos envolvidos devidamente

confrontados com os demais, para fins de reinquirições e oitivas de terceiros.

De fato, a coleta de provas por meio de busca e apreensão, conforme

requerido, pode ser prejudicada, caso os investigados estejam em liberdade.

Some-se a isso, conforme consta dos autos, o fato de serem os

Representados pessoas que gozam de influência no alto escalão do Governo do

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Estado, especialmente quando patente a reiteração continuada e em larga escala

no cometimento de vários crimes, especialmente, recebimento de propina e de

lavagem de dinheiro.

Na fase atual dos trabalhos investigativos, pode-se concluir, com alto grau

de probabilidade, que as atividades penalmente ilícitas revelam a existência de

uma associação criminosa antiga, voltada para o cometimento dos delitos

relativos a recebimento de propina e de lavagem de dinheiro, supostamente

praticados pelos Representados, conforme bem demonstrado pela Autoridade

Policial.

Nesse ponto, bem ressaltou o MPF, "Tais fatos reforçam os indícios até

então existentes de que a OrCRim, além de longeva (opera pelo menos desde

2010, havendo indícios de que atue desde até mesmo antes, em 2006),

permanece atualmente em franca atividade de coleta de propina e de lavagem de

dinheiro."

Portanto, verificam-se presentes os pressupostos para o decreto da prisão

temporária dos Representados, com arrimo no artigo 1°, incisos I e III, c/c

alínea "I", da Lei 7.960/89.

In casu, tal medida, associada ao pedido de afastamento cautelar das

funções de MEIRE CRISTINA RODRIGUES BORGES, JÚLIO CEZAR VAZ DE

MELO, MÁRCIO GOMES BORGES e MARCU ANTÔNIO DE SOUZA BELLINI

dos respectivos cargos por eles ocupados na Administração Pública do Estado de

Goiás, mostra-se como medida suficiente à prevenção de eventual reiteração

delitiva.

Dessa forma, determino o afastamento cautelar de suas funções das

pessoas referidas, com fulcro no art. 319, VI, do CPP. Acrescento que os

referidos representados ficam proibidos de frequentar as repartições públicas com

as quais têm vinculo funcional até ulterior ordem deste Juízo.

5. Busca e Apreensão.

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Requisitos para a expedição do mandado de busca domiciliar.

Nos termos do Art. 5°, inciso XI, da Constituição Federal (CF), "a casa é o

asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento

do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar

socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial".

Nossa lei processual penal distingue as "fundadas razões", necessárias à

realização de busca domiciliar, CPP, Art. 240, § 1°, da "fundada suspeita",

imprescindível à efetivação da busca pessoal, CPP, Art. 240, § 2°.

A expressão "casa", contida no Art. 5°, inciso XI, da CF, compreende, de

acordo com o Art. 150, § 4°, do CP, "I - qualquer compartimento habitado; II -

aposento ocupado de habitação coletiva; III - compartimento não aberto ao

público, onde alguém exerce profissão ou atividade." Assim sendo, a garantia

constitucional estende-se aos escritórios.

Nos termos do Art. 240, § 1°, alíneas a a h, do CPP, proceder-se-á à busca

domiciliar, quando fundadas razões a autorizarem para prender criminosos;

apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos; apreender instrumentos

de falsificação ou de contrafação e objetos falsificados ou contrafeitos; apreender

armas e munições, instrumentos utilizados na prática de crime ou destinados a fim

delituoso; descobrir objetos necessários à prova da infração ou à defesa do réu;

apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu poder, quando

haja suspeita de que o conhecimento do seu conteúdo possa ser útil à elucidação

do fato; apreender pessoas vítimas de crimes; colher qualquer elemento de

convicção.

O Representante requer a expedição de mandado de busca e apreensão

nos locais abaixo indicados, visando "lançar mão de buscas física[s] dos

processos de licitação porventura fraudados/superfaturados, assim como ter

acesso a anotações físicas e acesso em mídias (computadores e "smartphones')

utilizados pelo investigados", além de outros elementos que permitam à Polícia

Federal nortear a investigação de forma "eficiente, célere e apta não só a

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descortinar as propinas resultantes das corrupção, mas sobretudo perseguir o

dinheiro desviado ("folow the money')", e, assim, responsabilizar os investigados.

Para cumprimento dos mandados de busca e apreensão, o Representante

informou os seguintes locais e respectivas finalidades:

CODEGO — Companhia de Desenvolvimento Econômico do Estado de Goiás: as buscas serão direcionadas no Gabinete da Presidência (JULIO CESAR VAZ DE MELO), Chefia de Gabinete da Presidência (MARCU ANTÔNIO DE SOUSA BELLINI) e Gerência Geral de Distritos (MARCIO GOMES BORGES), bem como comobsicl Diretoria Financeira, com intuito de apreender valores em espécie, mídias (computadores e celulares), anotações físicas, com o escopo de apurar a denúncia de guarda de valores e recebimento de propina, aceleração de pagamentos para fins de recebimento de propina e fraude em licitações e contratos;

Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Cientifico e Tecnológico e de Agricultura, Pecuária e lrrigacão — SED: as buscas serão direcionadas no Gabinete do Secretário Leandro Ribeiro da Silva, pois a CODEGO é subordinada à SED motivo pelo qual impossível não cogitar que as irregularidades cometidas na CODEGO sejam desconhecidas pelo chefe da pasta, sendo assim, mesmo que a denúncia e as investigações não recaiam sobre Leandro Ribeiro da Silva, é necessária que sejam realizadas buscas ao menos no gabinete do secretário, pois além do Secretário ser a pessoa imediatamente ligada ao Governador, são nestes locais onde os esquemas de corrupção ordinariamente são arquitetados;

Residências e/ou imóveis de propriedade de MARCIO GOMES BORGES e JULIO CESAR VAZ DE MELO: com intuito de apreender valores em espécie, mídias (computadores e celulares), anotações físicas, com o escopo de apurar a denúncia de guarda de valores e recebimento de propina, aceleração de pagamentos para fins de recebimento de propina e fraude em licitações e contratos;

Govemadoria do Estado de Goiás: Gabinete da Assessora Especial MEIRE CRISTINA RODRIGUES BORGES, com intuito de apreender valores em espécie, mídias (computadores e celulares), anotações físicas, com o escopo de apurar a denúncia de guarda de valores e recebimento de propina, aceleração de pagamentos para fins de recebimento de propina, tendo em vista que trata-se de esposa de MARCIO BORGES e se não participa diretamente de todas o esquema de corrupção investigado, usufrui de todo o proveito do crime. Atente-se que é assessora especial do Governador e sua aproximação com tal é inquestionável."

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O Ministério Público Federal se manifestou favorável à medida de busca e

apreensão, com exceção do mandado a ser cumprido na Secretaria de

Desenvolvimento Econômico, Científico e Tecnológico e de Agricultura, Pecuária e

Irrigação — SED, por entender que a representação "não apontou nenhuma razão

fundada de que se possam localizar elementos de convicção ou de prova úteis à prova

do crime ou à elucidação dos fatos'; limitando-se a dizer que a CODEGO é

subordinada à SED, sendo impossível imaginar que o chefe da pasta

desconhecesse as irregularidades cometidas na CODEGO.

Ainda, segundo o MPF, "o simples fato de haver (ou ter havido) essa relação de

subordinação entre LEANDRO RIBEIRO DA SILVA e JÚLIO CEZAR VAZ DE MELO não

é causa provável (mas mera conjectura) de que se possa localizar e apreender provas

dos crimes investigados na Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de

Goiás", pois LEANDRO poderia desconhecer as práticas ilícitas perpetradas pelos

investigados.

Por outro lado, o MPF representa pela expedição de mandado de busca e

apreensão na residência de MAURO FARIAS DUTRA - em nome de quem se

encontra registrada a mansão de Buzios/RJ, pertencente a Jayme Rincon e a

Júlio Cezar Vaz de Melo -, e, ainda, MARCU ANTONIO DE SOUZA BELLINI —

chefe de gabinete, comparsa de Júlio Cezar Vaz de Melo, e que está utilizando o

veículo Nissan Frontier preta, ano 2018/2018, placa PRN 1775, registrada em

nome de MÁRCIO GOMES BORGES, a fim de sejam localizados e apreendidos

provas e elementos de convicção referentes aos delitos ora investigados.

O MPF acrescenta que há necessidade também de realizar busca e

apreensão na residência de CARLOS RICARDO BARRETO XAVIER, vizinho de

MÁRCIO GOMES BORGES, e que estaria escondendo dinheiro de propina

proveniente da Organização Criminosa (fls. 38/38-verso).

No tocante as medidas pleiteadas nos itens "a" e "c" supra, inquestionável

a sua necessidade, haja vista que se referem aos locais de trabalho e imóveis dos

principais investigados.

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Por outro lado, com razão o MPF quanto à oposição à busca e apreensão a

ser realizada na Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Científico e

Tecnológico e de Agricultura, Pecuária e Irrigação — SED, porquanto, meramente

conjecturais as razões da Autoridade Policial, sem qualquer embasamento fático

no até então apurado.

Quanto a MAURO FARIAS DUTRA, de fato, conforme consta da

Informação 50/2018-NIP/SR/PF/G0 do inquérito policial correlato, a casa de praia

localizada em Búzios/RJ, está registrada em nome de MAURO FARIAS DUTRA,

porém, o imóvel pertence a JAYME RINCON e JÚLIO CEZAR VAZ DE MELO

(fls. 61 e 70). A respeito de MAURO FARIAS DUTRA, o referido expediente,

informa que é proprietário de várias empresas no ramo de tecnologia da

informação, as quais têm contrato com o Governo do Estado de Goiás, dentre

elas, a INNOV — Serviços e Computadores S/A, a NOVADATA - Serviços e

Computadores S/A e a NOVATECH — Serviços e Sistemas S/A. E mais, trata-se

de pessoa conhecida, implicada em fraudes envolvendo o poder público e

agentes públicos, conforme "fontes abertas" (fl. 62 do IPL correlato).

Pertinente também é o pedido de expedição de mandado de busca e

apreensão na residência de MARCU ANTONIO DE SOUZA BELLINI (chefe de

Gabinete da CODEGO), pelas informações constantes nos autos relativas ao

Representado, que além da subordinação a um dos principais investigados, utiliza

veículo que está em nome de MARCIO GOMES BORGES (veículo Frontier,

placa: PRN 1775).

Concernente a CARLOS RICARDO BARRETO XAVIER, a medida de

busca e apreensão em sua residência também se mostra apropriada, eis que nos

autos consta que ele, supostamente, estaria ocultando em seu apartamento

valores oriundos da OrCrim. Pelo contexto fático delineado na representação

policial, associado ao modus operandi da associação criminosa investigada, a

medida se mostra imprescindível.

Conforme demonstrado, tanto pelo DPF quanto pelo MPF, existem nos

autos fundadas suspeitas das práticas delitivas investigadas nestes autos, e de

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que outros elementos probatórios, objetos, documentos, celulares e

computadores relacionados aos delitos acima especificados sejam encontrados

na residência dos Representados.

Em tese, o que se procura investigar é fato alegadamente tido como

infração penal, tendo a Autoridade Policial a obrigação de "apreender os objetos

que tiverem relação com o fato" (CPP, art. 6°, II) e "colher todas as provas

que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias" (inciso III),

cabendo ao Juiz proporcionar o êxito da pretensão legal, eis que a Constituição

Federal estipulou a regra prevista no art. 5°, XI, última parte, c/c art. 150, § 4° do

Código Penal.

Observa-se, assim, a presença dos pressupostos jurídicos autorizadores

da medida de busca e apreensão, haja vista a existência de indícios de

materialidade dos crimes, sendo que a referida ordem afigura-se como medida

necessária para descobrir e apreender elementos relacionados com os delitos em

comento.

Impõe-se reconhecer o deferimento da medida pleiteada.

Assim sendo, a autoridade policial está autorizada a apreender quaisquer

das coisas relacionadas no Art. 240, § 1°, alíneas a a h, do CPP, devendo observar

as restrições contidas no Art. 245 do CPP e no Art. 5°, inciso XI, da CF. Poderão

ser apreendidos computadores e celulares, bem como todo e qualquer documento

relativo aos fatos, além de mídias em geral (CD-ROMs, DVDs, pen drives,

disquetes, memory cards, chips, ou qualquer outro meio de armazenamento de

dados). Além disso, e, invocando o parecer do MPF, autorizo a Autoridade Policial

o acesso "aos dados e conteúdos das mídias e dispositivos eletrônicos que

venham a ser apreendidos, para serem usados como prova", porventura, obtidos

e encontrados durante a execução dos mandados de busca e apreensão (fl. 43,

Por fim, na mesma esteira do já autorizado, complementando a

necessidade de colheita de provas pleiteada pelo parquet, autorizo a busca e

apreensão do smartphone de JAYME RINCON (Rua Alia, qd Dl, It. 08 Alphaville

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Flamboyant, Goiânia/GO), bem como o acesso aos dados contidos na memória

do equipamento, inclusive aplicativos de mensagens.

6. Requisito para a constrição de Bens.

O artigo 4° da Lei 9.613/1998, na redação da Lei 12.683/2012 admite a

decretação de medidas assecuratórias de bens, direitos ou valores do investigado

ou acusado, ou existentes em nome de interpostas pessoas, que sejam

instrumento, produto ou proveito dos crimes previstos nesta Lei ou das infrações

penais antecedentes. O uso das expressões investigado e acusado demonstra

que essas medidas podem ser adotadas tanto na fase de investigação quanto na

fase processual.

No tocante ao fumus boni iuris, o artigo 4° exige a presença de "indícios

suficientes de infração penal". Por sua vez, o § 4° do citado dispositivo dispõe que

iploderão ser decretadas medidas assecuratórias sobre bens, direitos ou valores

para reparação do dano decorrente da infração penal antecedente ou da prevista

nesta Lei ou para pagamento de prestação pecuniária, multa e custas." Dessa

forma, o periculum in mora consiste na presença de uma justa probabilidade de

que o suspeito possa dissipar ou ocultar o patrimônio amealhado lícita ou

ilicitamente, e, assim, afastar a utilização dos recursos nas finalidades previstas

no § 4° do artigo 4°. A justa probabilidade da dissipação ou ocultação do

patrimônio amealhado lícita ou ilicitamente implica a "possibilidade de lesão grave

ao direito do requerente". (TRF-1a Região, AC 1998.01.00.005145-2/MG, supra.)

(Grifei).

Como bem exposto pelo MPF, "A inexistência de fontes lícitas de recursos

em volume suficiente para justificar a aquisição do portentoso patrimônio por parte

dos investigados, são indícios suficientes de que o patrimônio em questão,

proveio, ainda que indiretamente, dos referidos crimes antecedentes investigados

na Operação Cash Delivery, em especial o de Organização Criminosa."

A Informação n° 38/2018-NIP/SR/PF/G0 relaciona, detalhadamente, os

bens dos investigados (fls. 05/16 do IPL 1041/2018), cujo sequestro requer o

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MPF.

Acrescente-se que os imóveis relativos aos possíveis sócios JAYME

RINCON e JULIO CEZAR VAZ DE MELO, estão mantidos em nome de terceiros,

embora os diálogos de fls. 65/78 do IPL 1041/2018 indiquem que são os

verdadeiros proprietários dos imóveis, configurando prima facie o delito de

branqueamento de capitais.

Quanto aos bens relativos ao casal MARCIO GOMES BORGES e MEIRE

CRISTINA RODRIGUES BORGES, a ausência de lastro financeiro, associada aos

elementos que demonstram sua ligação com a associação investigada também

dão suporte a decretação da medida quanto aos bens indicados, tanto os que

estão em seus nomes e em posse de terceiros, como os que estão em sua posse,

mas ainda não realizada a transferência (e.g. veiculo referido as fls. 10 do IPL

1041/2018).

O crime de lavagem de dinheiro consiste em "ocultar ou dissimular a

natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens,

direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal." Lei

9.613, Art. 1°.

"A precípua finalidade das medidas acautelatórias que se decretam em

procedimentos penais pela suposta prática dos crimes de lavagem de capitais

está em inibir a própria continuidade da conduta delitiva, tendo em vista que o

crime de lavagem de dinheiro consiste em introduzir na economia formal valores,

bens ou direitos que provenham, direta ou indiretamente, de crimes

antecedentes". (STF, Inq 2248 QO, Rel. Min. CARLOS BRITTO, Tribunal Pleno,

julgado em 25/05/2006, DJ 20-10-2006 P. 49.)

De tal modo, estão presentes, nos termos acima enunciados, os requisitos

necessários ao deferimento da medida assecuratória requerida pelo

Representante.

Finalmente, incorporo à presente Decisão os demais fundamentos

expostos na Representação Policial e na manifestação do MPF.

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III — DISPOSITIVO

7. À vista do exposto:

acolho, em parte, as representações da Autoridade Policial (fls. 03/27),

bem como do Ministério Público Federal (fls. 29/43), pelo que:

defiro a expedição de mandados de busca e apreensão a serem

cumpridos na CODEGO — Companhia de Desenvolvimento Econômico do

Estado de Goiás (endereço funcional de Marcu Bellini, Márcio Gomes e Julio

Cezar Vaz de Melo), nos endereços dos Representados JÚLIO CEZAR VAZ DE

MELO, MÁRCIO GOMES BORGES, CARLOS RICARDO BARRETO XAVIER,

MARCU ANTONIO DE SOUZA BELLINI, informados na representação; na

residência e no endereço funcional de MEIRE CRISTINA RODRIGUES BORGES

(Governadoria do Estado de Goiás, Gabinete da Assessora Especial) e MAURO

FARIAS DUTRA (fls. 23/24 e 42/42-verso);

fica a Polícia Federal autorizada a apreender, quaisquer das coisas

relacionadas no Art. 240, § 1°, alíneas a a h, do CPP, devendo observar as

restrições contidas no Art. 245 do CPP e no Art. 50, inciso XI, da CF. Poderão ser

apreendidos computadores e celulares, bem como todo e qualquer documento

relativo aos fatos em apuração, além de mídias em geral (CD-ROMs, DVDs, pen

drives, disquetes, memory cards, chips, ou qualquer outro meio de

armazenamento de dados); poderão ser apreendidos também, passaportes,

contratos sociais, extratos bancários e quaisquer outros elementos probatórios

relacionados ao crime referido nesta Decisão;

invocando o parecer do MPF, defiro à Autoridade Policial o "acesso aos

dados e conteúdos das mídias e dispositivos eletrônicos que venham a ser

apreendidos, para serem usados como prova", bem assim, dos equipamentos

eletro-eletrônicos e aos dados de informática e telemática neles presentes,

obtidos e encontrados durante a execução dos mandados de busca e apreensão;

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investigados), determinando-se a expedição de ofício ao DETRAN/GO e aos

respectivos Cartórios de Registro de Imóveis das cidades de Goiânia/GO, Caldas

Novas/GO, Aruanã/G0 e Buzios/RJ, para o devido registro;

j) determino ainda a busca e apreensão de quaisquer outros bens

móveis que sejam encontrados em poder dos Representados acima (item "j"),

inclusive valores monetários, veículos e jóias de grande valor.

I) autorizo a busca e apreensão do smartphone de JAYME RINCON

(Rua Alia, qd D1, It. 08 Alphaville Flamboyant, Goiânia/GO), bem como o acesso

aos dados contidos na memória do equipamento, inclusive aplicativos de

mensagens;

autorizo o compartilhamento de toda prova produzida na presente

investigação, permitindo sua utilização nas demais esferas de responsabilidade,

na forma autorizada pela 'jurisprudência do STF n° 3683 QO/MG; órgão

julgador: Tribunal Pleno; relator: Ministro Cezar ,Peluso; julgamento: 13/08/2008;

publicação: DJE-035, de 20/02/2009);

decreto o sigilo da presente medida cautelar, até sua execução,

quando, então os atos passarão ser públicos;

Expeçam-se os competentes mandados de busca e apreensão e de prisão

temporária, com registro no Banco Nacional de Mandados de Prisão do Conselho

Nacional de Justiça.

Oficiem-se.

Quanto à Busca e Apreensão, a Autoridade Policial providenciará o

cumprimento das normas legais e constitucionais pertinentes, inclusive, em

relação à destinação do material obtido pela diligência, lavrando Auto

Circunstanciado e fazendo comunicação imediata do resultado da diligência a

este Juízo Federal.

Determino à autoridade policial que observe o disposto no artigo 245 do

CPP e no inciso XI do artigo 5° da Constituição.

Observe-se a tramitação sigilosa dos presentes autos.

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Notifiquem-se o DPF representante e o MP

Goiânia, 05 de dezembro de 2018

AFAELÂ Ï LO SLOMP Juiz Fedeul Substituto

dag rescehtestes autos em Se,/ etaria.

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Diretora de Secretaria a 11•Vara

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