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O posicionamento estratégico de Macaé no desenvolvimento do estado do Rio de Janeiro

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O posicionamento estratégico de Macaé no desenvolvimento do estado do Rio de Janeiro

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Glauco Lopes Nader

O posicionamento estratégico de Macaé no desenvolvimento do estado do Rio de Janeiro

Tese apresentada ao Curso de Doutorado do

Programa de Pós-Graduação em Planejamento

Urbano e Regional da Universidade Federal do

Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do grau de Doutor em

Planejamento Urbano e Regional.

Orientador: Prof. Dr. Frederico Guilherme Bandeira de Araujo

Doutor em Engenharia de Produção/UFRJ

Rio de Janeiro 2009

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N135p Nader, Glauco Lopes. O posicionamento estratégico de Macaé no desenvolvi- mento do estado do Rio de Janeiro / Glauco Lopes Nader. – 2009. 274 f. : il. color. ; 30 cm. Orientador: Frederico Guilherme Bandeira de Araujo. Tese (doutorado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, 2009. Bibliografia: f. 239-249. 1. Desenvolvimento econômico. 2. Indústria petrolífera. 3. Macaé (RJ). 4. Campos, Bacia de (RJ e ES). I. Araujo, Frederico Guilherme Bandeira de. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional. III. Título. CDD: 338.9

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Glauco Lopes Nader

O posicionamento estratégico de Macaé no desenvolvimento do estado do Rio de Janeiro

Tese submetida ao corpo docente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da

Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do

grau de Doutor.

Aprovado por:

__________________________________ Prof. Frederico Guilherme Bandeira de Araujo – Orientador

(Doutor em Engenharia de Produção/UFRJ)

__________________________________ Prof. Hermes Tavares

(Doutor em Economia/UNICAMP)

__________________________________ Profa. Rosélia Périssé da Silva Piquet (Livre Docente em Economia/UFRJ)

__________________________________

Prof. Jorge Luiz Natal (Doutor em Economia/UNICAMP)

__________________________________

Prof. Alberto de Oliveira (Doutor em Planejamento Urbano e Regional/UFRRJ)

Rio de Janeiro 2009

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS 07 RESUMO 08 ABSTRACT 09 INTRODUÇÃO 10 CAPÍTULO 1 – A EXIGÊNCIA DE UMA ESPACIALIDADE PRÓPRIA DO CAPITALISMO 16 CAPÍTULO 2 – HISTÓRIA E CARACTERÍSTICAS DA INDÚSTRIA DE PETRÓLEO E GÁS NATURAL 32

2.1. A AVIDEZ DO CAPITALISMO POR ENERGIA 32 2.2. ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DA INDÚSTRIA DE PETRÓLEO E GÁS

NATURAL 35 2.3. PETRÓLEO E GÁS NATURAL COMO RECURSO 41 2.4. BREVE HISTÓRICO DA INDÚSTRIA PETROLÍFERA 44 2.5. BREVE HISTÓRICO DA INDÚSTRIA PETROLÍFERA NO BRASIL 59

CAPÍTULO 3 – A CRISE E A RETOMADA DO CRESCIMENTO ECONÔMICO DO RIO DE JANEIRO (1960-2005) 74

3.1.“RIO DE TODAS AS CRISES” 74 3.2. O INÍCIO DA INFLEXÃO ECONÔMICA (1995-2005) 92 3.3.A IMPORTÂNCIA DA INDÚSTRIA DE P&G NO PROCESSO DE

INFLEXÃO ECONÔMICA (1995-200) 100 3.4.A CONSOLIDAÇÃO DA INFLEXÃO ECONÔMICA ATRAVÉS DA

PERSPECTIVA DE INVESTIMENTOS PARA 2008-2012 114 3.4.1 Plano Estratégico do Governo do Rio de Janeiro (2007-2010) 114 3.4.2 Mapa do Desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro (2006-2015) 118 3.4.3 Decisão Rio – Investimentos 2008-2010 121 3.4.4 Análise crítica dos planos e mapeamentos 126

CAPÍTULO 4 – O DESENVOLVIMENTO DA BACIA DE CAMPOS 129 4.1. DELIMITAÇÃO METODOLÓGICA DA BACIA DE CAMPOS PARA

ESTE TRABALHO 130 4.2. DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA INDÚSTRIA PETROLÍFERA NA

BACIA DE CAMPOS 135 4.3. CENÁRIO ATUAL DE DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES NA

BACIA DE CAMPOS 140 4.4. ALGUNS PROBLEMAS DO DESENVOLVIMENTO DA BACIA DE CAMPOS 155

4.4.1 A formação do cluster da indústria de petróleo e gás natural em Macaé 157 4.4.2 A mudança da centralidade regional 161 4.4.3 Distribuição desigual das rendas petrolíferas e dos investimentos 164 4.4.4 O transbordamento de Macaé para a AIZPP-BC 167 4.4.5 Mudanças espaçodemográficas 170 4.4.6 A reorganização da malha municipal 173

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4.4.7 Os falsos indicadores dos “eldorados” 175 4.4.8 Ricos e pobres 176 4.4.9 A dependência financeira dos municípios “petrorrentistas” 177

CAPÍTULO 5 – AS PERSPECTIVAS PARA O EIXO DE INVESTIMENTOS 181

5.1.A PERSPECTIVA DE INVESTIMENTOS NO BRASIL ANTES DA CRISE INTERNACIONAL 183

5.2.A PERSPECTIVA DE INVESTIMENTOS NO BRASIL PÓS CRISE INTERNACIONAL 188

5.3.A IMPORTÂNCIA DOS INVESTIMENTOS NO SETOR DE PETRÓLEO E GÁS NO BRASIL 192

5.4.A PERSPECTIVA DE INVESTIMENTOS DA PETROBRAS NO BRASIL 196 5.4.1 O status da Petrobras no cenário internacional 196 5.4.2 Petrobras – Plano de Negócios 2009-2013 199

5.5.A FORMAÇÃO DO NOVO EIXO DE INVESTIMENTOS 205 5.5.1 Bacia de Santos – uma nova fronteira exploratória 207 5.5.2 Angra dos Reis e Niterói – polos navais offshore 212 5.5.3 Itaguaí/Santa Cruz – um novo complexo siderúrgico 215 5.5.4 Rio de Janeiro – centro decisório da indústria do petróleo 217 5.5.5 Comperj e Reduc – Rio no cenário petroquímico 219 5.5.6 Macaé – reconfiguração da centralidade 224 5.5.7 Complexo Portuário do Açu – nova centralidade na Bacia de Campos 226 5.5.8 Bacia do Espírito Santo – gás para o Brasil 228 5.5.9 Outros investimentos da indústria petrolífera 231

CONCLUSÃO 234 BIBLIOGRAFIA 239 ANEXOS I - O DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DE MACAÉ – DE PRINCESINHA DO ATLÂNTICO À CAPITAL DO PETRÓLEO 250 1.BREVE HISTÓRICO 251 2.DE PRINCESINHA DO ATLÂNTICO À CAPITAL DO PETRÓLEO 254 II – LISTA DE TABELAS 270 III – LISTA DE FIGURAS 273 IV – ORGANOGRAMA DE PARTICIPAÇÕES DA PETROBRAS 274

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AGRADECIMENTOS

Neste momento a injustiça é sempre tônica. Aos injustiçados, minhas sinceras desculpas. Aos

justamente lembrados, minha eterna gratidão e meu sincero carinho:

- aos meus pais, Elias e Iria, e à minha irmã, que sempre demonstraram e concretizaram carinho e

disponibilidade inimagináveis;

- às minha tias Maria, Mariza e Therezinha, e aos meus tios João e Wagner pelo carinho e por terem construído

possibilidades para que eu alcançasse meus objetivos;

- ao Sebrae e aos amigos Max, Anna, Renato, Bruno, Vinicius, Batista, Marquini, Uelinton, Juliana e Denise

pelo agradável convívio e aprendizado;

Alguns vivenciaram e/ou tiveram importância fundamental nesses longos anos de trabalho:

- ao meu professor-orientador pela confiança, disponibilidade, dedicação, paciência e pela amizade que se

anuncia e se fortalece a cada momento;

- à amiga Regina Petrus, que no momento de fraqueza e de desistência revigorou as forças e a vontade de

concluir o trabalho com uma pequena frase pronunciada;

- ao meu amigo Gilberto Soares, que sempre esteve interessado em discutir, propor e recolher material para o

desenvolvimento do trabalho. Seu envolvimento era contagiante;

- à minha eterna namorada, que ao longo do trabalho transformou-se em esposa, pelo amor, carinho e dedicação.

Principalmente pela paciência nos anos de presença-ausente para os estudos.

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RESUMO

Este trabalho propõe-se a analisar um processo e tentar antecipar alguns aspectos

sociais, econômicos e espaciais do desdobramento de um novo eixo de investimentos que

surge ao longo do litoral do Estado do Rio de Janeiro. Sendo assim, é um trabalho convidativo

à discussão e à reflexão.

Nos últimos 30 anos, a região da AIZPP recebeu investimentos para o

desenvolvimento das atividades do elo de exploração e produção offshore da cadeia produtiva

de petróleo e gás natural. Vislumbra-se uma tendência de crescimento dos investimentos

anunciados para os próximos anos, tanto no território da AIZPP quanto em outros territórios

do ERJ e das bacias do Espírito Santo e de Santos. Nesse sentido, percebemos que há dois

movimentos concomitantes acontecendo em relação à permanência ou não da centralidade

econômica de Macaé para a economia fluminense e para a região da AIZPP: um refere-se aos

investimentos previstos para o ERJ, particularmente os ligados à indústria de petrolífera, que

traz a questão do deslocamento da centralidade de Macaé da importância que exerceu no

processo de retomada do crescimento econômico e, ainda, exerce para o conjunto da

economia fluminense; o segundo ocorre no interior da própria AIZPP, onde começa haver um

transbordamento para os municípios circunvizinhos com a instalação de empresas ligadas ao

fornecimento de bens e serviços para a indústria petrolífera, antes instalada somente nesse

município.

Dessa forma, é preemente que esse município desenvolva mecanismos que

contribuam para a construção de um novo significado para a centralidade exercida por Macaé

na AIZPP e no ERJ. Significado, este, que poderá ser construído com a diversificação da

economia para além das especialidades da prestação de serviços à produção offshore e pelo

desenvolvimento tecnológico das atividades ligadas à cadeia petrolífera na região.

Palavras-chave: Desenvolvimento, Centralidade, Petróleo, Macaé, Bacia de Campos

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ABSTRACT

The objective of this paper is to analyze a process and try to anticipate some social, economic and space

aspects of the deployment of a new axis of investments wich has taken place over the coast of Rio de Janeiro.

Therefore it is a work inviting to discussion and reflection.

In the last 30 years, the region of AIZPP has received investments for the development of the offshore

exploration and production activities of the productive chain of oil and natural gas. We can see a growing trend

of investments announced to the coming years, both within the AIZPP and in other areas of the ERJ and the

Espírito Santo and Santos Basis. In such a way, we realize that there are two simultaneous movements occurring

in relation to the presence or not of the economic centrality of Macae to the economy of Rio de Janeiro and the

region of AIZPP: one refers to the investments planned for the ERJ, particularly those related to the oil industry

which brings the discussion about the displacement of the centrality of Macae from the importance it has had for

the recovering process of economic growth and still performs for the entire economy of Rio de Janeiro; the

second occurs inside the AIZPP itself, where a process of overflow to surrounding municipalities begins with the

installation of companies related to the supply of goods and services to the oil industry, which were installed

only in this city before.

Thus, it is urgent that this city develops mechanisms that contribute to the construction of a new

meaning to the centrality prosecuted by Macaé in the AIZPP and in the ERJ. That meaning can be built with the

diversification of the economy beyond the expertise of providing services to the offshore production and

technological development of the activities related to the oil chain in the region.

Key words: development, centrality, oil, Macae, Basin Campos.

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INTRODUÇÃO

O desenvolvimento do Modo de Produção Capitalista acontece de forma diferente

nos diversos momentos históricos e nos diversos territórios onde põe em movimento suas

forças produtivas e relações de produção. Cada lugar é impactado diferentemente de acordo

com suas características e peculiaridades históricas, sociais, econômicas, políticas e

territoriais. Nesse sentido, alguns territórios ocupam importância e sofrem consequências

singulares devido à dinâmica própria do avanço do capitalismo. O estado do Rio de Janeiro e,

particularmente, a região conhecida como Bacia de Campos atualmente são palcos de algumas

transformações concernentes ao movimento das relações de produção e das forças produtivas

desse modo de produção vibrante e em constante transformação.

O estado do Rio de Janeiro (ERJ) é um desses territórios em que a dinâmica

capitalista ocorreu de forma peculiar. Ele possui importância histórica, política e econômica

própria para todo o Brasil, pois abrigou a capital do Império e da República por

aproximadamente 200 anos, sendo palco de alguns dos principais eventos da história

brasileira, configurando-se do século XVII ao XIX como uma das províncias mais

importantes política e economicamente. No final do século XIX e início do século XX, torna-

se a segunda principal economia do país, quando a economia cafeeira com seu arcabouço

capitalista constrói as condições necessárias para que o estado de São Paulo a ultrapassasse,

tornando-se, assim, a principal economia do país no último século.

A crise que se abateu sobre o estado do Rio de Janeiro na segunda metade do

século passado foi forte, provocando consequências longevas. Ela ainda está por ser vencida e

consolidada sua possível inflexão em direção a um crescimento de mais longo prazo, sem os

famosos “voos de galinha”. Contribuíram para esse quadro alguns fenômenos a serem

observados, como: a perda da condição de capital do país (1960) para Brasília, a fusão dos

estados da Guanabara e do antigo Rio de Janeiro (1975), a histórica concentração econômica e

demográfica na Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ) em relação ao interior do

ERJ, e a dificuldade de as elites capitalista e política fluminenses compreenderem

profundamente os aspectos histórico-estruturais que contribuíram para o desencadeamento

deste processo de arrefecimento do dinamismo econômico, bem como a consequente

diminuição da sua importância econômica e política em relação às outras unidades da

Federação.

Entretanto, vários autores (Lessa, 2005; Natal, 2005; verificam que, desde os anos

90, inicia-se um processo de inflexão da curva descendente de crescimento da economia

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fluminense a partir de alguns elementos que chamam a atenção. Na Região do Médio Paraíba,

há a concretização de um polo metal-mecânico que ultrapassa os históricos limites de Volta

Redonda e Barra Mansa em direção a Resende e Porto Real. Nessa região, há também as

instalações da fábrica de caminhões da Volkswagen e da fábrica de automóveis da

Peugeot/Citroën. Paralelamente, quebra-se a tradição de a capital ser o único destino turístico

do estado do Rio de Janeiro, pois outras regiões passam a ser frequentadas mais intensamente

por turistas nacionais e estrangeiros, como Búzios, Cabo Frio, Angra dos Reis, Paraty e Nova

Friburgo.

Devido ao papel estratégico desempenhado pelo setor energético na dinâmica

capitalista e pelo expressivo volume de investimentos na região produtora da Bacia de

Campos, ocorre o fenômeno mais importante desta retomada do desenvolvimento econômico

fluminense através da consolidação do elo de exploração e produção (E&P) da cadeia

produtiva de petróleo e gás natural na plataforma marítima (offshore) da Bacia de Campos, no

Norte do estado.

Segundo Angela Penalva Santos (2005: 11-12), os indicadores econômicos mais

atualizados vêm sugerindo que há uma disseminação maior do crescimento da economia

fluminense desde que a economia do petróleo tornou-se o novo eixo dinâmico do Estado do

Rio de Janeiro. Ela ainda reforça que os benefícios dessa economia transbordam a partir de

Macaé para outros municípios da Bacia de Campos e para a Baixada Litorânea, chegando até

mesmo às economias dos municípios da Região Metropolitana (RMRJ). Hoje, ousamos dizer

que os benefícios do crescimento das atividades petrolíferas atingem quase todas as regiões do

ERJ, pois há um grande volume de repasses diretos e indiretos de recursos oriundos da

distribuição dos royalties e das participações especiais em percentuais diferenciados para

praticamente todos os 92 municípios fluminenses e, também, a correlata arrecadação tributária

gerada pela atividade de produção de petróleo e gás natural ao estado. Além da área fiscal, o

volume de contratações de bens e serviços pela Petrobras e pelas empresas do setor no ERJ

contribui grandiosamente para a dinâmica da economia fluminense com a mobilização de

diversos segmentos comerciais e industriais (Figura 8).

Praticamente até 2005, esses investimentos concentravam-se no elo de Exploração

e Produção Offshore (E&P) na Bacia de Campos com seu tradicional epicentro em Macaé.

Hoje, vislumbra-se a intensificação das atividades nos outros elos dessa cadeia produtiva

através das perspectivas de investimento: a expansão do Centro de Pesquisa e

Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello da Petrobras (Cenpes), na Ilha do

Fundão, na cidade do Rio de Janeiro; a ampliação da Refinaria de Duque de Caxias (Reduc),

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na Baixada Fluminense; a retomada e a expectativa de crescimento da indústria naval em

Niterói e Angra dos Reis; o forte incremento das atividades de exploração e produção na

própria Bacia de Campos da Petrobras e de outras operadoras que iniciaram e/ou iniciarão a

fase de produção e o início da construção do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro

(Comperj), em Itaboraí, o que configura o maior investimento em um único projeto nos mais

de 50 anos de história da Petrobras. Além desses, estima-se o aporte de recursos para a

construção do polo siderúrgico formado pela CSA, Gerdau e CSN em Itaguaí e Santa Cruz, a

construção do Complexo Portuário do Açu no Norte do estado, e do estaleiro em Barra do

Furado, na fronteira dos municípios de Campos dos Goytacazes e Quissamã.

Nesse contexto de transformação da economia fluminense para um novo patamar

de crescimento econômico, de geração de empregos e para a interiorização da dinâmica

econômica (tão desejada por décadas), o objetivo deste trabalho é investigar o conteúdo e o

significado da nova centralidade econômica e territorial do município de Macaé, que se

configura na região compreendida como Bacia de Campos e no estado do Rio de Janeiro

como um todo.

Desde a década de 80 e, principalmente, a partir dos anos 90, Macaé exerce um

papel importante no contexto da dinâmica econômica fluminense, particularmente no

processo de retomada do desenvolvimento econômico do estado do Rio de Janeiro nas últimas

duas décadas (de 1990 em diante). Investigaremos o processo de constituição e consolidação

do elo de Exploração e Produção da indústria de petróleo e gás natural na Bacia de Campos

(BC) e sua consequente contribuição para a centralidade econômica desse município no

processo de retomada do desenvolvimento do ERJ, visto que as atividades de Exploração e

Produção na região da BC apresentam perspectivas de investimentos consideráveis para os

próximos anos e, principalmente, por constituir o centro dinamizador do eixo de

investimentos que se estabelecerá entre a Bacia de Santos e a Bacia do Espírito Santo (Figura

1) devido ao valor agregado do seu produto e da capacidade de alavancagem de diversos

setores econômico.

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FIGURA 1

BACIAS MARÍTIMAS PRODUTORAS DE PETRÓLEO E GÁS DO SUDESTE

Fonte: Petrobras.

Com esse cenário, pesquisaremos as características de uma possível nova

centralidade de Macaé diante da identificação de dois movimentos, a saber:

1) um de âmbito estadual, sugerindo um eixo de investimento que se vislumbra através dos

aportes previstos na cadeia produtiva de petróleo e gás natural (P&G), que se estenderia

da Bacia de Santos à Bacia do Espírito Santo, perpassando toda a Bacia de Campos e o

litoral do ERJ; e

2) outro de âmbito regional configurando um movimento interno na própria BC de

“transbordamento” da dinâmica econômica dessa indústria para além das fronteiras

macaenses em direção a outros municípios, como Rio das Ostras e Campos dos

Goytacazes, em maior grau, e Carapebus, Casimiro de Abreu, Cabo Frio, Armação dos

Búzios e Quissamã, em menor proporção, e de formas completamente diferentes somente

após 30 anos de início das atividades petrolíferas na região.

Para compreender de forma mais profunda e austera os fenômenos, os processos e

as contradições do desenvolvimento das forças produtivas capitalistas no território da Bacia

de Campos, recoremos à Teoria Social do Materialismo Histórico. Construída por Karl Marx

e Friedrich Engels no século XIX, essa singular teoria social continua a ser um preponderante

instrumento de análise da sociedade contemporânea enquanto a sociedade for dividida em

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classes e dotada de algum aparato estatal. Diferentemente de outras leituras do processo de

desenvolvimento do mundo contemporâneo, propõe-se aqui a denúncia e o descortinamento

de como as relações sociais se constituem como forma de opressão através do domínio do

território no capitalismo. Especificamente, investigaremos como o Modo de Produção

Capitalista desenvolveu sua característica de construção de uma espacialidade própria a partir

do desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção na região da Bacia de

Campos.

De forma mais concreta, investigaremos o significado da centralidade exercida

por Macaé em relação ao conjunto da economia do ERJ, como locus do desenvolvimento da

indústria de petróleo e gás no Brasil, em dois momentos particulares:

1) o período de 1980-1995, considerado o mais agudo da crise econômica enfrentada por

esse estado;

2) a partir da segunda metade dos anos 90, diante de um momento de grandes perspectivas

de investimentos e retomada do desenvolvimento econômico. Tudo isso a partir do

desenvolvimento do maior polo de produção da indústria de petróleo e gás natural no

Brasil.

Particularmente, no tocante à relevância do trabalho, destacamos algumas

questões:

1) a importância de realizar um trabalho sobre o desenvolvimento da indústria de petróleo e

gás natural devido à preponderância que possui para a economia dos municípios produtores

da BC e para toda a economia fluminense, que responde por aproximadamente 84% da

produção nacional de petróleo e 45% da produção de gás natural;

2) no final do século XIX e durante o século XX, o petróleo como fonte energética exerce

papel estratégico e fundamental para o desenvolvimento das forças produtivas do

capitalismo, tanto a nível nacional quanto mundial. Além disso, essa fonte energética

historicamente ocupa espaço relevante nas disputas geopolíticas mundiais (Introdução);

3) as perspectivas de investimentos na indústria de petróleo e gás natural para os próximos

cinco anos no Brasil são de aproximadamente US$ 174 bilhões por parte da Petrobras e de

outros US$ 30 bilhões das outras empresas de petróleo (Oil Companies), consolidando essa

indústria como forte impulsionadora da dinâmica econômica da região produtora da Bacia

de Campos, do ERJ e do Brasil (Capítulo 4);

4) historicamente, as características inerentes do desenvolvimento da atividade petrolífera

tornam seus impactos extremamente relevantes para as dinâmicas econômica e social dos

territórios em que se instala, bem como para o conjunto da população já residente nessas

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regiões e para o elevado número de trabalhadores que emigram em busca dos empregos

diretos e indiretos gerados pelos investimentos das empresas; e

5) apesar dos esforços desempenhados por alguns autores que atuam em universidades na

região da Bacia de Campos e mesmo fora dela, ainda perdura a percepção de escassez de

literatura sobre os impactos econômicos, sociais, políticos e espaciais provocados pela

instalação da indústria de petróleo e gás nessa região, no ERJ e no Brasil.

A estrutura metodológica do trabalho permite uma inserção mais qualificada do

leitor no setor de petróleo e gás natural e na região da Área de Impacto Socioeconômico da

Zona de Produção Principal da Bacia de Campos (AIZPP-BC). Para isso, o trabalho é

organizado da seguinte forma:

1) uma introdução do trabalho sobre a estrutura, o objetivo e os principais temas a serem

tratados;

2) o capítulo 1 destaca o referencial teórico sobre a espacialidade exigida pelo

desenvolvimento das forças produtivas do capitalismo;

3)o capítulo 2 aborda algumas características do desenvolvimento da indústria de petróleo e

gás natural e um breve histórico deste desenvolvimento no mundo e no Brasil;

4) o Capítulo 3 aborda a crise experimentada pelas economias carioca e fluminense a partir

dos anos 1960 e o início da retomada do crescimento com a inflexão econômica ocorrida a

partir de 1995;

5) o desenvolvimento das atividades de exploração e produção de petróleo e gás natural na

Bacia de Campos é analisado no Capítulo 4. Neste, há também uma delimitação metodológica

da Área de Impacto Socioeconômico da Zona de Produção Principal da Bacia de Campos

(AIZPP-BC) e a análise de alguns impactos sociais, políticos e espaciais do aprofundamento

dessas atividades nos próximos anos;

6) o último capítulo apresenta as condições para a configuração do NOVO EIXO DE

INVESTIMENTOS DO CAPITALISMO BRASILEIRO ancorado nas inversões na economia

brasileira e particularmente ao longo do litoral fluminense;

7) há ainda um breve histórico do desenvolvimento do município de Macaé é apresentado

como anexo; e

8) a conclusão do trabalho aponta a necessidade de reconfiguração estratégica de alguns

municípios da AIZPP-BC, particularmente de Macaé, diante das opções de investimentos ao

longo do novo eixo de investimentos e da centralidade de Macaé para a indústria petrolífera

nacional.

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CAPÍTULO 1

A EXIGÊNCIA DE UMA ESPACIALIDADE PRÓPRIA DO CAPITALISMO

A robutez teórica do Materialismo Histórico permite compreender profundamente

as facetas e as nuances do desenvolvimento do Modo de Produção Capitalista. Diversos

autores dessa corrente ao longo do século XX contribuíram para a compreensão de sua

dinâmica espacial.

Neste trabalho, usaremos como referência alguns conceitos e trabalhos

desenvolvidos por diversos autores que construíram solidamente suas ponderações sobre a

dinâmica espacial e a exigência de uma espacialidade própria para a dinâmica capitalista a

partir da matriz teórica do Materialismo Histórico. Entretanto, dois autores destacam-se pela

singularidade de suas contribuições. São eles os marxistas franceses Henry Lefèbvre e Alain

Lipietz.

O Modo de Produção Capitalista (MPC) é caracterizado por revolucionar

constantemente os meios de produção, as relações de produção e, por conseguinte, todas as

relações sociais. Verifica-se um processo de transformação contínua em todas as esferas da

vida1. Há uma necessidade crescente pela valorização do capital através da aquisição de

novos mercados e do aumento da produtividade do trabalho. Possui como dimensão essencial

a centralidade nas relações econômicas e na dinâmica marcada pelo conflito e pela divisão.

Ele

não é somente caracterizado pela ‘separação dos produtores de seus meios de produção, monopolizados pela classe capitalista’. É, antes de tudo, um modo de produção onde ‘o trabalho social se apresenta como soma de trabalhos privados, efetuados independentemente uns dos outros’, e onde a alocação do trabalho e a realocação do produto entre as unidades independentes se efetuam por relações mercantis. Marx consagrou a primeira seção de O Capital a esta primeira característica (LIPIETZ, 1988: 27).

1 Nas palavras de Marx & Engels (1998: 11): “Tudo o que era sólido desmancha no ar, tudo que era sagrado é profanado [...]”.

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O aspecto fundamental do Materialismo Histórico de Marx e Engels2 é o

reconhecimento da centralidade da forma material da produção e da reprodução das relações

sociais. O trabalho torna-se condição sine qua non da existência da vida social através da

apropriação da natureza pelos homens. Sendo assim, o trabalho e a apropriação de parte de

seu resultado por uma classe que não o realiza é a garantia fundamental da lógica de

reprodução dessa sociedade. Assim, esta é a fundamentação marxista do mundo capitalista,

concepção materialista, na medida em que constata e extrai daí os significados devidos, a

centralidade da produção e do trabalho, como as mediações fundantes da sociedade

(PAULA, 2001: 28)3. Porém, essa centralidade do trabalho e da produção material na história

dos homens não esgota em si as possibilidades de desenvolvimento da humanidade.

Dessa forma, o desenvolvimento histórico do capitalismo ocorre através de pelo

menos duas estratégias fundamentais, a saber: a expansão espacial do sistema – que contribui

para o prolongamento dos ciclos de prosperidade entre um e outro período de crises

recorrentes – e a produção de bens radicalmente novos – a partir da inovação tecnológica no

seio do processo produtivo. Na atual fase do seu desenvolvimento, esse modo de produção

agrega a estas estratégias uma dinâmica pujante.

Além das questões referentes às transformações no tempo, há aquelas sobre o

espaço e a espacialidade do processo de desenvolvimento das contradições inerentes ao

capitalismo. Assim, 2 Essa seção se baseia principalmente em A Ideologia alemã de Marx e Engels (1999: 7). “Escrita em 1845 e 1846 pelos dois pensadores em conjunto, A Ideologia alemã foi dividida em dois volumes: o primeiro voltado para a elaboração das teses fundamentais do Materialismo Histórico e para as críticas dos princípios filosóficos de Feuerbach, Bruno Bauer e Max Stirner, filosófos neo-hegelianos alemães; e o segundo dedicado à crítica dos pontos de vista de alguns representantes do ‘verdadeiro’ socialismo, corrente filosófica e política então existente na Alemanha” (esclarecimento dos tradutores José Carlos Bruni e Marco Aurélio Nogueira). Não descartamos as obras de Marx anteriores a A Ideologia alemã, porque não a compreendemos como impregnadas de ecos humanistas e hegelianos, como proposto pelo filósofo marxista francês Louis Althusser. Segundo Bottomore, “a problemática [para Althusser] – isto é, o quadro ou sistema teórico que determina a significação de cada conceito específico, as questões suscitadas, as proposições centrais e as omissões – dos primeiros escritos e da produção madura de Marx são fundamentalmente diferentes. O jovem Marx nos propõe um drama ideológico da alienação e da autorrealização humanas, tendo a condição humana como autora do seu destino que se desdobra e se realiza, aproximadamente como o espírito do mundo em Hegel. No outro Marx [o velho], porém, temos uma ciência, o Materialismo Histórico, a teoria das formações sociais e de sua história, os conceitos de sua explicação estrutural: as forças produtivas e as relações de produção, a determinação pela economia, a superestrutura, o Estado, a ideologia. Os dois sistemas de pensamento estão separados por corte ou cesura epistemológica [...]” (1988: 9). Para Althusser, portanto, a teoria do jovem Marx estava focada em preocupações tidas como antropológicas e humanistas, enquanto o Marx maduro preocupava-se com as leis do desenvolvimento do capitalismo. 3 “[...] é preciso registrar que, se a produção e o trabalho são dados essenciais da garantia da existência social, isto não significa afirmar a fixidez, a supressão da diferença das diversas formas como as várias sociedades humanas, ao longo do tempo, vivenciaram o contingenciamento das necessidades e as formas de superá-las por meio da produção e do trabalho. Este registro é particularmente importante quando se consideram as objeções de certa corrente antropológica contemporânea, que tem apontado a existência de sociedades primitivas onde a

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diferentemente de Edward Soja, que compreende a temporalidade como uma simples presença do tempo e a espacialidade como a simples presença do espaço nas análises históricas, compreendo espacialidade como potencialidade de transformações espaciais dos processos sociais. Da mesma maneira, entendo a sociabilidade como a potencialidade transformadora das relações sociais concernente ao caráter coletivo dos processos. A suposição do homem enquanto sujeito da história e, portanto, dotado de uma capacidade transformadora sobre ela concerne à nossa compreensão de historicidade (NADER, 2002: 4).

Mais especificamente, compreendo essa espacialidade como potencialidade de

transformações espaciais dos processos sociais, tendo por base uma espacialidade própria do

capitalismo, sendo o espaço uma relação social ligada às configurações mais abstratas

produzidas pelo desenvolvimento conjugado das forças produtivas e das relações de produção

através de especificações materiais e simbólicas. No caso deste trabalho, tentaremos

compreender alguns elementos do desenvolvimento espacial capitalista em uma parcela do

território do estado do Rio de Janeiro conhecida como a região da Bacia de Campos.

O desenvolvimento do capitalismo através da transformação das relações sociais

de produção no âmbito da modernização4 é exemplificado por Marshal Berman nos processos

que demonstram seu caráter revolucionário, como: a emergência e expansão de um mercado

mundial; o surgimento, a absorção e destruição de mercados locais e regionais; o caráter

cosmopolita da produção e do consumo; o colapso das indústrias locais pela concorrência

internacional; a escala mundial das comunicações; a maior concentração do capital; a

expulsão pela força ou pela concorrência dos camponeses e artesãos de seus estabelecimentos;

a centralização e a racionalização da produção em fábricas altamente automatizadas e as

migrações de trabalhadores.

Araujo (1997) ainda aponta outros processos, como a Revolução Científica, a

transformação do conhecimento científico em conhecimento tecnológico, etc. Para que essas

mudanças ocorram em determinada “ordem” é preciso um processo de centralização legal,

fiscal e administrativa; uma forte concentração de poder nas mãos de Estados nacionais

(BERMAN, 1986: 89-90). Resumidamente, concordamos com a concepção do Materialismo

Histórico de que a Modernidade configura-se sobre os processos que se desenvolveram sobre

a égide da ascensão e do desenvolvimento do capitalismo, não havendo separação entre a

Modernidade e a sociedade fundada pela classe burguesa.

produção, o trabalho, a economia encontram-se sob controle, isto é, não se transformaram em fins em si mesmos” (PAULA, 2001: 28). 4 “Apropriamo-nos da definição de Marshall Berman (1996), na qual a Modernidade, enquanto conceito de época histórica, é compreendida como a relação entre a modernização e o modernismo; este entendido como a esfera dos processos sociais no campo da cultura e aquela compreendida como o âmbito dos processos sociais na esfera da acumulação, das relações de produção e das forças produtivas” (NADER, 2002: 3).

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Além disso, percebemos o mesmo paralelo entre as noções de modernização e

modernismo de Berman na metáfora do edifício – infraestrutura (base) e superestrutura –

utilizada por Marx e Engels para apresentar a ideia de que a estrutura econômica da sociedade

(base ou infraestrutura) condiciona – não determina – as formas de existência da consciência

social e da representação que os homens fazem sobre si próprios (superestrutura).

O próprio nascimento do capitalismo engendrou a contradição capital e trabalho, e

foi seu desenvolvimento, mediante a instituição dos mercados nacionais e, posteriormente, do

mundial, que criou as condições para o acirramento da concorrência entre os vários capitais

nacionais e internacionais. Portanto, é a própria natureza do capitalismo que determina a

existência de crises econômicas e sociais, de guerras de conquista e de partilha do mercado

mundial inerentes à sua história.

O processo de desenvolvimento dessas crises capitalistas e o seu eterno retorno

cada vez mais recorrente põem em questão os alicerces desse modo de produção de forma

cada vez mais radical. É nessas crises que grande parte das forças produtivas é

sistematicamente destruída, logo após dando lugar a outras que aperfeiçoam a exploração

sobre o trabalho; novos mercados são conquistados e outros são explorados de maneira mais

aperfeiçoada. Em alguns momentos históricos, essas crises constituem-se como uma

importante fonte de rejuvenescimento e força do sistema capitalista através do expurgo dos

capitalistas tidos como incompetentes pelo mercado.

É através do processo de desenvolvimento das contradições inerentes ao

capitalismo que Marx melhor desenvolve as questões sobre o espaço e a espacialidade de sua

teoria ao dissecar os imbróglios ideológicos da divisão social do trabalho em A Ideologia

alemã. As características do espaço fabril – espaço físico determinado, finito e fechado –

possibilitam que a divisão do trabalho e o processo de acumulação do capital ocorram de

forma mais austera e eficiente, incrementando a extração de mais-valia. Em contrapartida,

permite aos operários que construam uma relação de identidade que enseje uma luta a partir

das experiências de opressão, exploração e resistência vividas coletivamente.

Do mesmo modo, o espaço urbano, com seu correlato crescimento e sua

concentração de atividades econômicas e de trabalhadores, incrementa o desenvolvimento das

relações capitalistas, uma maior circulação de mercadorias, uma maior rotatividade do ciclo

do capital e uma aglomeração de atividades e trabalhadores que são fundamentais para o

processo de acumulação, como as atividades comercial e financeira, entre outras. Para Marx, a

cidade desempenha um papel primordial enquanto espaço único de produção e de

comercialização para o desenvolvimento do capitalismo.

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Segundo Gottdiener (1997: 78), ao constituir o Materialismo Histórico como

ferramenta de análise, Marx desenvolveu a noção de que os quatro estágios de organização da

vida social em modos de produção poderiam ser associados a uma determinada análise das

cidades. A história clássica antiga é a história das cidades baseadas na propriedade da terra e

na agricultura; a história da Ásia é associada a uma unidade não diferenciada de cidade e

campo; no modo feudal, o campo é o centro do processo histórico, e a história moderna é

associada à urbanização.

A análise do processo de acumulação primitiva e da teoria moderna da

colonização – respectivamente nos capítulos 24 e 25 de O Capital – evidencia a importância

que a questão espacial possui. É notório que as descobertas marítimas e a extração de metais

preciosos contribuíram para o financiamento do desenvolvimento industrial europeu,

principalmente da Revolução Industrial Inglesa.

Nesse ritmo, também destacam-se as análises realizadas sobre a contradição

campo/cidade no que diz respeito ao fornecimento de força de trabalho do campo para a

cidade providenciado pelo processo de cercamento dos campos, o que permitiu a constituição

de um exército industrial de reserva. Além disso, o aumento da produtividade incrementado

pelo desenvolvimento tecnológico e das técnicas agrícolas propicia o barateamento da cesta

de produtos dos trabalhadores. Assim sendo, a constituição de um exército industrial de

reserva e o rebaixamento do valor da cesta de produtos consumida pelos trabalhadores leva a

uma respectiva diminuição do valor da força de trabalho. A simples análise desses aspectos

estruturais evidencia a importância das questões espaciais e da espacialidade para a teoria de

Marx.

O MPC possui como força propulsora a acumulação de capital. Devido a esse

caráter intrínseco, o processo de acumulação de capital necessita expandir a produção de

mais-valia, os meios de produção, a massa assalariada, a circulação de mercadorias e o

controle da classe capitalista. Para isso, o desenvolvimento das forças produtivas capitalistas

necessita instituir uma territorialização própria modificando os territórios preexistentes a

partir de uma espacialidade própria. Essa espacialidade constitui sua peculiaridade não

somente através da concretude visível de seus elementos, mas também dos seus processos

políticos e ideológicos que contribuem para sua formatação.

O geográfo norte-americano Edward Soja enxerga no filósofo francês Henry

Lefèbvre um ato inaugural no debate sobre essa típica espacialidade do MPC. Ele afirma

ainda que

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a própria sobrevivência do capitalismo, [como] afirmou Lefèbvre, estava baseada na criação de uma espacialidade cada vez mais abrangente, instrumental, e também socialmente mistificada, escondida da visão crítica sob véus espessos de ilusão e ideologia. O que distinguia o gratuito véu espacial do capitalismo das espacialidades de outros modos de produção eram sua produção e reprodução peculiares de um desenvolvimento geograficamente desigual, através de tendências simultâneas para a homogeneização, a fragmentação e a hierarquização [...] [E, agora, nas palavras do próprio Lefèbvre], ‘esse espaço conflitivo dialetizado é onde se realiza a reprodução das relações de produção. É esse espaço que produz a reprodução [das relações de produção], introduzindo nela suas contradições múltiplas’ – contradições que deveriam ser analítica e dialeticamente ‘reveladas’, para nos permitir ver o que se esconde por trás do véu espacial (1993: 65).

Conforme o conceito de espacialidade explicitado acima, assumimos o conceito

de espaço como uma relação social que expressa sincronia entre os corpos, objetivada de

diversas formas – como “espaço geográfico”, “território” e “região”, etc. – através de

especificações materiais e simbólicas. Nesse sentido, o espaço geográfico é produto,

condição e meio para a reprodução das relações sociais no sentido amplo da reprodução da

sociedade (CARLOS, 1999: 63) e o território é o produto dos atores sociais. São esses atores

que produzem o território, partindo da realidade inicial dada, que é o espaço (RAFFESTIN,

1993: 7)5. Nesse sentido, território é um espaço onde se projetou um trabalho, seja energia e

informação, e que, por consequência, revela relações marcadas pelo poder. O espaço é a

‘prisão original’, o território é a prisão que os homens constroem para si (RAFFESTIN,

1993: 144). Ao mesmo tempo é objeto de consumo, instrumento político e elemento

integrante da luta de classes e das forças produtivas como “design espacial”6 que pode ser

convertido em mercadoria. Desse modo, a teoria do espaço consiste em uma determinada

especificação de uma teoria mais ampla da organização da sociedade e de sua forma espacial

de existência.

A proposta de Lefèbvre consiste em desvelar a produção atual do espaço através

da concepção de várias formas e modalidades de gênese espaciais, enfeixadas dentro de uma

tríade teórica-conceitual: os espaços vividos, concebidos e percebidos (vide adiante). A 5 “Há portanto um ‘processo’ do território, quando se manifestam todas as espécies de relações de poder, que se traduzem por malhas, redes e centralidades cuja permanência é variável mas que constituem invariáveis na qualidade de categorias obrigatórias. O território é também um produto ‘consumido’ ou um produto vivenciado por aqueles mesmos personagens que, sem haverem participado de sua elaboração, o utilizam como meio. É então todo o problema da territorialidade que intervém permitindo verificar o caráter simétrico ou dissimétrico das relações de poder. A territorialidade reflete o poder que se dá ao consumo por intermédio de seus ‘produtos’” (RAFFESTIN, 1993: 7-8). 6 Gottdiener (1997: 130) afirma que, para Lefèbvre, o “design espacial é um instrumento político de controle social que o Estado usa para promover interesses administrativos [...] As relações espaciais figuram,

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análise que realiza tem em conta que o espaço não é simplesmente um elemento cultural que

faz parte da superestrutura da sociedade e, de modo corolário, que a urbanização não é um

simples somatório de elementos. Nas palavras de Limonad, para Lefèbvre o espaço não se

resumiria a um reflexo das relações sociais de produção e a urbanização [...] deveria ser

entendida enquanto expressão das relações sociais ao mesmo tempo em que incidiria sobre

elas (1999: 72)7. Ele não reduz o espaço a um mero meio de produção, pois considera-o digno

de fazer parte das forças produtivas. Sua propriedade confere uma posição privilegiada na

estrutura econômica, bem como seu controle pode gerar ganho econômico ao ser preenchido

com algo produtivo ou ao ser atravessado por produtos.

A afirmativa lefèbvriana de que as relações sociais se concretizam enquanto

relações espaciais fundamenta uma forma peculiar de compreensão do espaço social na

qualidade de condição e produto das relações sociais enquanto necessidade e condição prévia

de toda atividade social, isto é, como uma força produtiva de que o capital se apodera para

criar as condições de sua reprodutibilidade. Além disso, os homens, ao produzirem os meios

de vida e os meios indispensáveis à sua reprodução como espécie, produzem um determinado

espaço geográfico. Porém, o espaço assim produzido depende do momento histórico

específico do desenvolvimento das forças produtivas, ou seja, o espaço é produzido na busca

de uma funcionalidade que procura maximizar o processo produtivo da sociedade de forma

geral. Esse cenário de imbricação entre o espaço geográfico, entendido como produto,

condição e meio para a reprodução das relações sociais, e a sociedade é o foco de análise para

Lefèbvre. Assim, as relações espaciais impregnam o MPC simultaneamente como produto e

produtor, relação e objeto de forma dialética.

Em uma sociedade fundada em relações de produção capitalistas, o processo de

acumulação produz e reproduz espaços fragmentados que são apropriados na forma de

mercadoria8. Como não poderia deixar de ser nesse modo de produção, o valor de troca desses

proeminentemente, na reprodução das formações sociais existentes e nas práticas administrativas, hierarquicamente estruturadas, da nação-Estado”. 7 No entender de Lefèbvre, a “urbanização seria uma condensação de processos sociais e espaciais que haviam permitido ao capitalismo se manter e reproduzir suas relações essenciais de produção e a própria sobrevivência do capitalismo estaria baseada na criação de um espaço social crescentemente abrangente, instrumental e mistificado” (LIMONAD, 1999: 72). 8 “Tendencialmente o espaço produzido enquanto mercadoria entra no circuito da troca, atrai capitais que migram de um setor da economia para o outro de modo a viabilizar a reprodução. Neste contexto, o espaço é banalizado, explorado, e as possibilidades de ocupá-los são sempre crescentes, o que explica a emergência de uma nova lógica associada a uma nova forma de dominação do espaço que se reproduz ordenando e direcionando a ocupação, fragmentando o espaço vendido em pedaços e, com isso, tornando os espaços trocáveis a partir de operações que se realizam através e no mercado. Deste modo, o espaço é produzido e reproduzido enquanto mercadoria reprodutível” (CARLOS, 1999: 66).

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espaços exerce uma “vitória” sobre o valor de uso, engendrando uma contradição entre os

espaços público e privado. Traduzindo em termos espaciais

isso significaria um conflito entre interesses organizados em torno do espaço social, enquanto local dos valores sociais de uso e do desdobramento das relações comunais no espaço, e interesses, em torno do espaço abstrato, enquanto espaço de desenvolvimento imobiliário e administração governamental – articulação combinada entre o modo político e modo econômico de dominação (GOTTDIENER, 1997: 164).

O espaço, desse modo constituído, articula duas dimensões: uma que se refere à

localização geográfica em si e uma outra que se refere ao conteúdo específico dessa

localização. Esse conteúdo é determinado pelas relações sociais que se estabelecem nesse

espaço e, portanto, confere a ele a característica de produto social e histórico.

Lefèbvre aponta que o capitalismo sobreviveu como sistema ao produzir seu

próprio espaço. Assim, a apropriação, o controle e o domínio dos espaços impõe

comportamentos, gestos e modelos de construção que contribuem para o processo de

acumulação capitalista através da especialização dos lugares que são direcionados a

determinados fluxos e usos, produzindo sempre “novas centralidades”9. Para Lefèbvre, a

cidade é o lugar mais especializado para o desenvolvimento do processo de acumulação

capitalista, desempenhando uma centralidade de natureza específica. Entretanto, essa

centralidade não é indiferente ao que ela reúne, ao contrário, pois ela exige um conteúdo

(LEFÈBVRE, 1999: 110), e a cidade, por reunir em um mesmo espaço os principais

elementos necessários ao desenvolvimento das forças produtivas e das relações sociais de

produção capitalistas, é o seu locus privilegiado10.

Harvey (1982: 6-7) também aponta nesse sentido dizendo que

a sociedade capitalista precisa, por necessidade, criar uma paisagem física – uma massa de recursos físicos construídos pelo homem à sua própria imagem, apropriada, em linhas gerais, às finalidades da produção e do consumo. Mas também argumentarei que esse processo de criação do espaço é cheio de contradições e tensões e que as relações de classes nas sociedades capitalistas geram inevitavelmente fortes conflitos e correntes cruzadas.

Lefèbvre aprofunda a análise dessa espacialidade própria do capitalismo ao

acrescentar que, nesse modo de produção, o papel da cidade é o de contribuir para o

desenvolvimento das forças produtivas, da produtividade do trabalho e do incremento das

técnicas. Nesse sentido, a cidade se constitui como uma forma de socialização das forças 9 Por exemplo, “o espaço turístico [que] se liga, diretamente, ao plano do consumo do espaço enquanto lugar da acumulação, articulando as necessidades de reprodução da sociedade” (CARLOS, 1999: 70).

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produtivas que concentra as condições gerais da reprodução capitalista – da produção e

circulação do capital, e da reprodução da força de trabalho – como o suporte dos objetos

materiais incorporados ao solo11. Também seguindo esse raciocínio, Santos (1992) aponta que

quanto maior o desenvolvimento das forças produtivas, maior deverá ser o nível de

especialização do território onde elas se desenvolvem. Essa especialização segue as bases da

divisão territorial do trabalho e desenha uma nova geografia regional, além de ter sua

complexidade ligada à diversidade e às exigências do processo de produção. No caso aqui

investigado, claramente, a região formada pelos municípios da Bacia de Campos configuram

uma geografia regional própria, apesar dos impactos oriundos da atividade petrolífera ocorrer

de forma díspare entre esses municípios.

Além da construção de uma espacialidade própria para perpetuar a sobrevivência

do capitalismo, este domina o trabalho não somente no local de sua realização, mas também

no espaço de viver da classe trabalhadora, através da definição da qualidade e dos padrões de

vida da força de trabalho, em parte pela criação de ambientes construídos que se adaptem às

exigências da acumulação e da produção de mercadorias (HARVEY, 1982: 20).

Seguindo esse percurso teórico, procuraremos compreender como o

desenvolvimento das atividades de Exploração e Produção da Petrobras engendrou uma

determinada lógica de espacialização e especialização capitalista, em que o município de

Macaé assumiu posição polar e, por conseguinte, configurou-se em uma importante

centralidade econômica e territorial no processo de retomada do desenvolvimento econômico

do ERJ a partir da segunda metade dos anos 90 do século passado.

Soja considera que Lefèbvre propõe um modo de abordagem da dimensão

espacial diferente daquele do marxismo tradicional. Entretanto, concorda com Manuel

Castells e David Harvey, que consideram que, apesar do brilhantismo e da astúcia de

Lefèbvre ao tratar da organização do espaço urbano capitalista e do seu conteúdo ideológico,

ele teria ido longe demais, colocando a questão espacial no cerne das relações sociais

capitalistas e aparentemente de forma autônoma, dando a entender que substitui o conflito de

classes pelo conflito espacial/territorial como força motivadora da transformação social 10 No caso específico deste trabalho, Macaé exerce uma centralidade importante no que tange à indústria de petróleo e gás natural, porque reúne os principais elementos para seu desenvolvimento. 11 “La noción de sistema espacial o, más precisamente, de la consideración de la ciudad como sistema diferente y no resultado de la sumatorio de los valores de uso de cada uno de los elementos que la componen, como si de su articulación, es decir, que la ciudad es una forma de socialización capitalista de las fuerzas productivas. Pero si los elementos – valores de uso producidos como mercancías por el capital y como no-mercancías por el Estado – son considerados como procesos autónomos y los elementos inmobiliarios en que se soportan pueden circular de manera independiente, los valores de uso complejo se forman por la búsqueda de la ganancia de

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radical (SOJA, 1993: 98), ao invés de simplesmente fazer emergir a luta pelo espaço como

uma das modalidades da luta de classes. Lefèbvre teria contemplado a produção e a

reprodução do espaço com o mesmo grau de importância que a exploração da força de

trabalho e a produção de mais-valia possuem na dinâmica de reprodução do capitalismo.

Essa interpretação é questionada por alguns autores. Araujo (1997) considera que

a crítica indicada ao pensamento de Lefèbvre, se antes tinha embasamento, perdeu sentido

após a publicação da principal obra do autor, A Produção do espaço. Por sua vez, Limonad

(1999) entende que há uma confusão na interpretação da tentativa feita pelo filósofo de alocar

em um mesmo plano o espaço social e as relações sociais de produção. Segundo ela, o que

Lefèbvre faz é conferir um papel condicionador e regulador ao espaço, mas nunca um papel

transformador por si, como certas leituras consideram. A autora destaca a seguinte passagem

de Lefèbvre para reforçar o seu entendimento de que o espaço social assume um papel

interativo com as relações sociais de produção:

As práticas espaciais regulam a vida – não a criam. O espaço não tem um poder em ‘si mesmo’, nem o espaço enquanto tal determina as contradições espaciais. Estas são contradições da sociedade – contradições entre uma coisa e outra dentro da sociedade, como por exemplo entre as forças e as relações de produção – que simplesmente emergem no espaço, ao nível do espaço, e assim engendram as contradições do espaço (LEFÈBVRE apud LIMONAD, 1999: 72-73).

Desdobrando esse raciocínio, Limonad afirma ainda que

para Lefèbvre a reprodução ampliada e as novas condições materiais do capitalismo estariam intimamente relacionadas aos processos pelos quais o sistema capitalista como um todo consegue ampliar sua existência através da manutenção e disseminação socioespacial de suas estruturas. Tanto a nível da reprodução do cotidiano, da reprodução da força de trabalho e dos meios de produção quanto a nível da reprodução das condições gerais e das relações gerais sociais de produção, onde a organização do espaço passa a desempenhar um papel fundamental. Seria no espaço socialmente produzido, o espaço urbano do capitalismo mesmo no campo, onde se reproduziriam as relações dominantes de produção através de um espaço social concretizado, criado, ocupado e fragmentado conforme as necessidades da produção e do capitalismo (LIMONAD, 1999: 73).

No conjunto do pensamento marxista, há uma relação dialética entre a produção

do espaço, que contribuiria para a exploração da força de trabalho, e a configuração de um

ambiente construído12 a partir dessa relação exploratória. A produção social do espaço é uma

cada fracción del capital, de manera que: la urbanización capitalista es, ante todo, una multitud de procesos privados de apropiación del espacio” (ALFONSO R., 2004: 4). 12 Apropriamo-nos das definições de ambiente construído sintetizadas por Giddens e Harvey. Giddens afirma que, “na maior parte das culturas pré-modernas, mesmo nas grandes civilizações, os seres humanos se viam em continuidade com a natureza. Suas vidas estavam atadas aos movimentos e disposições da natureza – a

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das constituintes das relações de produção que permitem a criação e a expropriação da mais-

valia, que, por sua vez, constitui o cerne da produção social do espaço. O espaço deste modo

constituído se torna uma das formas de opressão de uma classe sobre outra. Assim sendo, a

luta por um espaço que contribua para a emancipação do homem se configura como uma das

modalidades significativas de enfrentamento para as classes que atuam na perspectiva da

superação das relações de dominação.

Lefèbvre considera que a transformação do capitalismo está diretamente

relacionada a uma luta socioespacial que requer a expropriação do espaço, a liberdade de usar

o espaço e o direito existencial ao espaço. Uma luta de caráter dialético em que se pressupõem

relações dialéticas inseparáveis, interdependentes e contraditórias13 entre as duas esferas

disponibilidade das fontes naturais de sustento, a prosperidade das plantações e dos animais de pasto, e o impacto dos desastres naturais. A indústria moderna modelada pela aliança da ciência com a tecnologia transforma o mundo da natureza de maneiras inimagináveis às gerações anteriores. Nos setores industrializados do globo – e, crescentemente, por toda parte – os seres humanos vivem num ambiente criado, um ambiente de ação que, é claro, é físico, mas não mais apenas natural. Não somente o ambiente construído das áreas urbanas mas a maioria das outras paisagens também se torna sujeita à coordenação e controle humanos” (1991: 66). Harvey completa essa conceituação afirmando que “distingue dois tipos de ambientes contidos no que denomina circuito secundário do capital. São eles: o ambiente construído para a produção (built environment for production) e o ambiente construído destinado ao consumo (built environment for consumption). Neste último, Harvey inclui não somente os bens e mercadorias de consumo direto, ou seja, a estrutura física destinada a viabilizar o consumo tais como casas, ruas, entre outros” (apud BIENENSTEIN, 1998: 1). 13 Lefèbvre aponta que as contradições inerentes da produção e reprodução do espaço evidenciam que - “a contradição principal se situa entre o espaço globalmente produzido, em escala mundial, e suas

fragmentações e pulverizações que resultam das relações de produção capitalistas (da propriedade privada dos meios de produção e da terra, isto é, do próprio espaço). O espaço se esmigalha, trocado (vendido) aos pedaços, conhecido de forma fragmentada pelas ciências parcializadas, enquanto ele se forma como totalidade mundial e mesmo interplanetária;

- o modo de produção capitalista impõe uma unidade repressiva (estática) a uma separação (segregação) generalizada dos grupos, das funções, dos lugares. E isto no espaço dito urbano;

- esse espaço é, portanto, a sede de uma contradição específica. A cidade se estende desmensuradamente; ela explode [...] As extensões urbanas (subúrbios, periferias próximas ou longínquas) são submetidas à propriedade da terra, às suas consequências: renda fundiária, especulação, rarefação espontânea ou provocada etc.;

- o controle da natureza, ligado às tendências e ao crescimento das forças produtivas, submetido unicamente às exigências do lucro (da mais-valia) conduz a destruição da natureza;

- nenhuma das ultrapassagens visadas no projeto marxista se realizou, nem a da oposição ‘cidade-campo’, nem a da divisão do trabalho, nem a da oposição ‘obra-produto’. O que se segue? Uma deterioração recíproca dos termos não superados, degradação particularmente perceptível e significante no que concerne à cidade e ao campo;

- a dispersão nas periferias, à segregação que ameaça as relações sociais se opõe uma centralidade que acentua suas formas, enquanto centralidade de decisões;

- a produção do espaço leva somente em conta o tempo para sujeitá-lo às exigências e pressões da produtividade;

- a automatização, tornando possível o não trabalho, a burguesia dirigente capta essa possibilidade para seu uso. Ela estende os lazeres, subordinando-os exclusivamente à mais-valia, pelo viés da industrialização e da comercialização dos lazeres e dos espaços de lazer;

- o indivíduo se encontra, portanto, ao mesmo tempo ‘socializado’, integrado, submetido a pressões e limites pretensamente naturais que o dominam (principalmente no seu quadro espacial, da cidade e suas extensões) – e separado, isolado, desintegrado. Contradição que se traduz em angústia, frustração, revolta; e

- a comunidade se apresenta de duas maneiras: de um lado, o ‘público’, o ‘coletivo’, o estatal, o social. De outro, a associação marginal, mesmo aberrante das vontades” (LEFÈBVRE, 1999: 177-179).

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referidas que supõem a substituição das relações sociais de produção por relações sociais

liberatórias que favoreçam a capacidade de apropriar o espaço para usos sociais

liberatórios (GOTTDIENER, 1997: 132).

Nesse sentido, as relações sociais de produção se processam em espaços

determinados e, portanto, assumem um caráter também espacial. As relações espaciais de

produção são preenchidas e qualificadas pelas relações sociais de produção.

Assim, quando o MPC põe-se a mover-se sobre determinado território na sua

busca constante de valorização do capital, ele destrói e constrói uma nova ordem, não se

preocupando com o que havia nem com o que restará. Esse MPC é vibrante, ágil e mutante,

sempre à procura de novas formas de valorização do capital e de energia para mover suas

máquinas, que, ao se instalarem, transformam o território de forma profunda e substancial

através de um processo de territorialização-desterritorialização-reterritorialização14. Nas

palavras de Lipietz (1988: 11): [...] a perpétua subversão das forças produtivas que a

acumulação capitalista impõe tem uma dimensão espacial. O domínio do espaço torna-se o

objetivo de seu incessante desenvolvimento [...]. De maneira mais concreta na direção deste

trabalho, também investigaremos as transformações territoriais desiguais provocadas pelo

desenvolvimento das forças produtivas do capitalismo – através do elo de Exploração e

Produção (E&P) Offshore da cadeia produtiva de petróleo e gás natural – ao se instalarem nos

municípios da chamada Bacia de Campos.

No que tange ao processo de territorialização-desterritorialização-

reterritorialização, Haesbaert (2001: 1770) aponta que o território15 envolve uma dimensão

simbólica estabelecida por uma identidade territorial atribuída por grupos sociais através de

um “controle simbólico” sobre determinado espaço. Além dessa, envolve uma dimensão mais

concreta de caráter político e econômico de apropriação e ordenação do espaço como forma

14 “O que em nível escalar é percebido como processo desterritorializador, em um outro nível pode ser visto como reterritorializador. Daí a pertinência do uso do termo sempre hifenizado: des-territorialização, demonstrando a indissociabilidade das duas faces” (HAESBAERT, 2001: 1773). Utilizamos a mesma ideia para ‘reterritorializador’. 15 Haesbaert (2001: 1769-1770) aponta que as noções de des-territorialização estão embebidas do conceito particular de território que possuem, pois não há des-territorialização sem haver território. Este agrupa estas diversas concepções de território em quatro vertentes básicas: - “Jurídico-política: a mais difundida, onde o território é visto como um espaço delimitado e controlado,

através do qual se exerce um determinado poder, na maioria das vezes visto como um poder político do Estado;

- Cultural(ista): prioriza a dimensão simbólica-cultural, mais subjetiva, em que o território é visto sobretudo como o produto da apropriação/valorização simbólica de um grupo sobre seu espaço;

- Econômica (muitas vezes economicista): bem menos difundida, enfatiza a dimensão espacial das relações econômicas, no embate entre classes sociais e na relação capital-trabalho; e

- Natural(ista): mais antiga e pouco vinculada hoje, em que se utiliza uma noção de território, especialmente no que se refere ao controle e usufruto dos recursos naturais”.

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de domínio e disciplinarização dos indivíduos. Assim, inspira-se na ideia de Lefèbvre de

apropriação e domínio do espaço, e de Raffestin (1993) de que o espaço é produto das

relações sociais e, por isso, é utilizado como recurso e instrumento de poder no processo de

busca da valorização do capital16.

Essa concepção de território que congrega ao mesmo tempo a ideia de apropriação

e de reprodução concreta e simbólica do espaço permite uma “experiência total” das relações

sociais em um mesmo lugar, apesar da hierarquização e ordenação do(s) território(s) a partir

da importância dada pelos atores dessas relações sociais. Salientamos a relevância de destacar

a relação entre des-territorialização e desigualdade social sendo mais do que uma

consequência intrínseca do desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção

capitalistas, mas como um processo de destruição e remodelação dos territórios, como as que

ocorrem nos municípios que compõem a Bacia de Campos, tendo sua forma mais perversa em

Macaé, onde se formam aglomerados humanos de exclusão (HAESBAERT, 2001: 1775).

A espacialização das forças produtivas possibilita que a divisão do trabalho e o

processo de acumulação do capital ocorram de forma mais austera e eficiente, incrementando

a extração de mais-valia.

A inovação teórica introduzida por Lefèbvre17 trata das complexas imbricações

que estão por detrás da conceituação de espaço social. Este é especificado como uma

construção histórica, e, portanto, como criação social de três dimensões interdependentes que

se relacionam construindo uma tríade conceitual através da qual pode ser abordada a história

das práticas sociais: espaço vivido, espaço concebido e espaço percebido. Essas três

dimensões são caracterizadas do seguinte modo:

A) a do espaço vivido como a das práticas espaciais materiais que acontecem ao longo e no

espaço garantindo a produção e reprodução das relações sociais;

B) a do espaço concebido como as representações do espaço que compreendem os códigos e

conhecimentos que tratam das práticas materiais e as compreendem; e,

C) a do espaço percebido como a da primeira leitura que privilegia a materialidade física da

sociedade.

16 “O território [...] é o produto dos atores sociais. São estes atores que produzem o território, partindo da realidade inicial dada, que é o espaço. Há portanto um ‘processo’ de território, quando se manifestam todas as espécies de relações de poder, que se traduzem por malhas, redes e centralidades cuja permanência é variável mas que constituem invariáveis na qualidade de categorias obrigatórias. O território é também um produto ‘consumido’ ou um produto vivenciado por aqueles mesmos personagens que, sem haverem participado de sua elaboração, o utilizam como meio. É então todo o problema da territorialidade que intervém permitindo verificar o caráter simétrico ou dissimétrico das relações de poder. A territorialidade reflete o poder que se dá ao consumo por intermédio de seus produtos” (RAFFESTIN, 1993: 7-8). 17 Essa inovação é descrita na principal obra deste autor: A Produção do espaço.

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O desenvolvimento das relações capitalistas de produção permitem a constituição

de um exército industrial de reserva, ao mesmo tempo que possibilita uma intensa circulação

de mercadorias, uma maior rotatividade do ciclo do capital e uma aglomeração de atividades

fundamentais para o processo de acumulação, como as atividades comercial e financeira,

entre outras. A cidade desempenha um papel primordial enquanto espaço privilegiado de

produção e comercialização para o desenvolvimento do capitalismo, bem como o mercado de

força de trabalho, que, através da sua quase ilimitada disponibilidade, contribui para a redução

do seu preço.

O espaço social é uma das dimensões da existência material da reprodução social,

aparecendo ora como um efeito das relações sociais, ora como um determinante destas. Sua

concretização no território ocorre através da produção de uma estrutura espacial desigual e

diferenciada a partir das condições que cada lugar oferece para a valorização do capital, por

exemplo, a hiperconcentração de capitais em alguns lugares, o desenvolvimento desigual

entre as regiões, a migração de trabalhadores tidos como qualificados e desqualificados, a

consequente urbanização periférica em outros, a desconcentração demográfica, econômica e

da densidade de atividades sociais para fora de regiões consideradas tradicionais, etc.

Nesse sentido, as transformações ocorridas no território da Bacia de Campos e,

particularmente, de Macaé com a chegada da PETROBRAS e das empresas prestadoras de

serviços para a atividade de E&P de petróleo e gás natural na plataforma continental

constituem excelentes fenômenos para a análise da construção e das contradições de um

espaço social pelas relações sociais de produção capitalista, no caso em questão, o

desenvolvimento e a expansão das atividades da indústria de petróleo e gás natural18.

Transformações, essas, decorrentes da qualificação desse espaço (BC) aos interesses da

principal empresa operadora dessa bacia sedimentar provocando um processo de

desterritorialização/re-territorizalizaçaõ através de uma verdadeira modernização do território

ou corporatização do território (SANTOS, 1999: 201).

Atento a essas transformações socioespaciais, o objetivo deste trabalho é

pesquisar as características de uma possível nova centralidade desse município diante da

identificação de dois movimentos, a saber:

18 Seguindo a conceituação de Milton Santos (1999: 83), as plataformas de petróleo não fazem parte da paisagem – “porção da configuração espacial que se pode abarcar com a visão” macaense ou da Bacia de Campos, pois estão a muitos quilômetros do litoral. Apesar disso, são elas que mais contribuem para a configuração territorial desse espaço com as necessidades de fornecimento de bens e serviços para manutenção das operações em alto-mar. Estão mais visíveis nos estaleiros da Baía de Guanabara do que na própria Bacia de Campos.

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1) a retomada do desenvolvimento econômico do estado do Rio de Janeiro, que tem como

principal vetor o surgimento de um eixo de investimento que se vislumbra através dos

investimentos previstos na cadeia produtiva de petróleo e gás natural, que se estende da

Bacia de Santos à Bacia do Espírito Santo, perpassando toda a Bacia de Campos e o litoral

desse estado; e

2) após 30 anos do início da produção de petróleo e gás natural na Bacia de Campos,

verifica-se um movimento interno nesse próprio território de “transbordamento” da

atividade industrial e da dinâmica econômica dessa indústria para além das fronteiras

macaenses em direção a alguns municípios circunvizinhos, como Campos dos Goytacazes

e Rio das Ostras.

Resumidamente, pretenderemos evidenciar que, para o capital, há a necessidade

de um novo posicionamento e/ou de uma nova centralidade econômica e territorial de Macaé

em relação ao conjunto do ERJ e da própria BC. Essa nova centralidade deverá ser construída

a partir das características de um novo momento histórico vivenciado pelo país, pelo ERJ e

pela própria indústria de P&G. Essa construção dar-se-á a partir de uma espacialidade própria,

que considera alguns aspectos:

1) o novo momento econômico vivenciado pela economia brasileira com projeção de

investimentos de aproximadamente R$ 1 trilhão de 2008 a 2012;

2) a superação dos anos de crise profunda experimentados pelo ERJ no que tange à dinâmica

econômica e aos investimentos que se anunciam para o estado, tornando-o o maior

beneficiário desses;

3) o grande volume de investimentos projetados para a indústria de P&G no Brasil,

alcançando cerca de US$ 200 bilhões da Petrobras e das outras operadoras chamadas de

Oil Companies – grandes empresas que exploram e produzem petróleo e gás natural,

podendo ser privadas, estatais ou de economia mista;

4) o posicionamento mais agressivo e competitivo dos municípios circunvizinhos de Macaé

na busca por investimentos e pela atração de novas empresas que pretendam se instalar na

região da Bacia de Campos19. Esse novo posicionamento busca especializar o território

desses municípios na tentativa de criar complementariedades regionais em relação à forte

presença de Macaé, ou seja, perfazendo uma verdadeira divisão territorial do trabalho

(SANTOS, 1992: 14); e

19 “Na medida em que as possibilidades dos lugares são hoje mais facilmente conhecidas à escala do mundo, sua escolha para o exercício dessa ou daquela atividade torna-se mais precisa. Disso, aliás, depende o sucesso dos empresários. É desse modo que os lugares tornam-se competitivos. O dogma da competitividade não se impõe apenas à economia, mas, também, à geografia” (SANTOS, 1999: 199).

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5) a eliminação da obrigação contratual da Petrobras para alguns contratos de fornecimento

de serviços que obrigava as empresas ganhadoras de licitações a executarem os referidos

serviços em um raio de até 30km da base de Imbetiba. Com isso, atualmente as empresas

contratadas para prestação de alguns desses serviços podem se estabelecer em um raio de

até 650km dessa base para desenvolver suas atividades.

Para melhor compreender a construção de uma espacialidade própria do

capitalismo na região da Bacia de Campos, tentaremos elucidar no próximo capítulo a

importância da indústria de P&G para a superação da crise econômica que se abateu sobre o

ERJ nos últimos 50 anos do século passado e sua correlata contribuição para a retormada do

crescimento econômico deste estado.

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CAPÍTULO 2

HISTÓRICO E CARACTERÍSTICAS DA INDÚSTRIA DE PETRÓLEO E GÁS

NATURAL

2.1. A AVIDEZ DO CAPITALISMO POR ENERGIA

A capacidade desenvolvida pelo homem de extrair, descobrir e utilizar a energia

como força produtiva somente foi possível através do desenvolvimento da tecnologia e da

ciência. O tipo de energia e a sua potência contribuem para determinar o grau de

desenvolvimento das forças produtivas que, por ventura, caracteriza as diversas épocas da

história da humanidade, ou seja, os Modos de Produção, como visto na Introdução deste

trabalho.

Há aproximadamente 2 milhões de anos atrás, o homem começou a utilizar a

primeira forma de energia natural dominada por ele, ou seja, entendida como a energia que

não é produzida pelo corpo humano, o fogo.

Entretanto, somente entre os séculos IX e XV, a utilização do cavalo como tração

animal na agricultura dobrou sua produtividade. Em seguida, o movimento das águas para

moverem os moinhos hidraúlicos que chegavam a alcançar a potência máxima de 5.000 watts,

utilizada primeiramente em grande escala pela França. Até o século XVIII, a madeira também

serviu como “alimento” dos fornos na atividade de fundição.

Durante algum tempo, a localização das atividades manufatureiras era orientada

pelo custo do transporte e pela proximidade com os insumos energéticos, e, por isso, até a

Revolução Industrial essas atividades estavam próximas aos cursos d´água e das florestas, isto

é, sua localização não primava pela imediação dos centros de consumo.

Em 1759, o surgimento da máquina a vapor de Watt ofereceu enorme vantagem

no comércio mundial para as nações que possuíssem reservas carboníferas. Essa máquina

introduziu o carvão como fonte energética principal e inaugurou a época da exploração das

fontes energéticas fósseis. Mas ainda permaneciam dois obstáculos: a divisibilidade da

energia, que por enquanto era transmitida às máquinas-ferramentas por um sistema de correias

sem permitir alocá-la proporcionalmente em quantidades e potências diferenciadas; e o

transporte para longas distâncias. Esse último limite tecnológico permitiu a continuidade do

uso da energia animal na agricultura e no transporte em pequenas distâncias. O sucesso da

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energia a vapor para o aumento da produtividade das indústrias manufatureiras impulsionou o

desenvolvimento da tecnologia para superar esses obstáculos.

O advento da eletricidade permitiu superar grande parte daqueles limites da

máquina a vapor. Não sendo uma fonte de energia primária, ou seja, não se encontra

disponível na natureza, mas sim em um vetor de energia através do qual múltiplas outras

formas de energia – fósseis, hidraúlica, térmica, eólica, nuclear, etc. – podem ser

transportadas por longas distâncias e na quantidade desejada, inclusive em escala

infinitesimal. A eletricidade modificou as relações entre o espaço e o tempo, ou seja, o

surgimento da lâmpada possibilitou retirar uma extensão maior do dia tanto para o trabalho

quanto para o lazer e também para sua aplicação direta em vários usos na indústria.

Assim como o desenvolvimento capitalista, a produção de energia entre os países

também apresentou grandes disparidades, conforme visto na Tabela 1. Verifica-se que os

países asiáticos apresentaram os maiores crescimentos no período 1971-2000: a Indonésia,

com mais de 30 vezes da sua produção de energia elétrica, e a Coreia do Sul, 27 vezes maior

do que as respectivas participações na produção de energia mundial; antagonicamente, os

países desenvolvidos apresentaram baixo crescimento na produção de energia elétrica

comparado aos asiáticos: os EUA aumentaram sua produção em 2,3 vezes, por sua vez, o

Japão 2,8 vezes, a Alemanha 1,7 vez, a França 3,4 com grande investimento na geração

nuclear, e a Grã-Bretanha somente 1,5 vez.

TABELA 1

PRODUÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA (1971-2000) (Bilhões KWs)

Distribuição (%) Países

1971

2000

Aumento “x” vezes

1971 2000 Variação na participação

EUA 1.703,8 4.003,4 2,3 32,5 26,0 -6,5 China 138,4 1.355,6 9,8 2,6 8,8 +6,2 Ex-URSS 800,4 1.270,0 1,6 15,2 8,3 -6,9 Japão 392,9 1.081,9 2,8 7,5 7,0 -0,5 Alemanha 327,4 567,1 1,7 6,2 3,7 -2,5 Índia 66,4 542,3 8,2 1,3 3,5 +2,2 França 155,8 535,8 3,4 3,0 3,5 +0,5 Grã-Bretanha 255,7 372,2 1,5 4,9 2,4 -2,5 Brasil 51,6 349,1 6,8 1,0 2,3 +1,3 Coreia do Sul 10,5 292,5 27,9 0,2 1,9 +1,7 Itália 123,9 269,9 2,2 2,4 1,8 -0,6 África do Sul 54,6 207,8 3,8 1,0 1,4 +0,4 México 31,0 204,4 6,6 0,6 1,3 +0,7

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Taiwan 15,8 193,0 12,2 0,3 1,3 +1,0 Tailândia 5,1 96,0 18,8 0,1 0,6 +0,5 Indonésia 3,0 92,6 30,9 0,1 0,6 +0,5 Argentina 23,6 89,0 3,8 0,4 0,6 +0,2 Egito 8,0 75,2 9,4 0,2 0,5 +0,3 Malásia 3,8 69,2 18,2 0,1 0,4 +0,3 Paquistão 7,6 68,1 9,0 0,1 0,4 +0,3 Mundo 5.247,6 15.379,0 2,9 100,0 100,0 - Fonte: ONU e International Energy Agency apud Intervenção Comunista (número 7, março/2004: 10).

Entre 1890 e 1910, uma outra inovação tecnológica propiciou uma amplitude das

possibilidades de alocação das atividades capitalistas e o próprio equilíbrio de poder político

entre as nações: o motor de explosão. A primeira permitiu a difusão das atividades industriais

para mais distante das reservas de carvão, pois seu transporte tinha baixo custo. Por outro

lado, desde 1900, o motor de explosão propiciou um aumento no uso do petróleo através dos

seus derivados como fonte energética através do automóvel, do avião, do trator, do navio e do

caminhão para transporte. A produção de petróleo cresceu enormemente, passando de 800 mil

toneladas em 1870 para 20 milhões em 1900, para 519 milhões em 1950, e para 3,3 bilhões

em 2000, mesmo ocorrendo uma diminuição da participação no consumo de energia mundial

a partir dos choques do petróleo na década de 1970, pois decresceu de 45% em 1970 para

34,5% em 1997. A participação do carvão diminuiu de 32,9% para 29,5%, a do gás natural

subiu de 19,5% para 25,9%, a da energia nuclear de 0,1% para 7,15% e as outras fontes

energéticas subiram de 2,2% para 3,2%. Apesar da diminuição dessa participação, entre 1970

e 1997 a produção mundial de petróleo aumentou em 40%, a do carvão 64% e a do gás natural

144% (International Energy Agency apud Intervenção Comunista, número 7, março/2004:

10).

Entretanto, apesar de sua importância, a energia não determina a dinâmica

econômica dos modos de produção – particularmente do capitalismo –, mas, sem dúvida, é

um fator preponderante a ser considerado no conjunto dos elementos de uma análise do

desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção de qualquer modo de

produção.

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2.2. ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DA INDÚSTRIA DE PETRÓLEO E GÁS

NATURAL

A necessidade crescente de energia para o desenvolvimento do Modo de Produção

Capitalista tornou o petróleo e seus derivados indispensáveis às sociedades modernas,

propiciando que se desdobrassem em mais de 6 mil produtos de utilidades diversas, como

fonte energética e/ou insumo para outras indústrias.

Por isso, o estudo do desenvolvimento histórico da indústria do petróleo entrelaça

com diversas áreas do saber e, portanto, apresenta elementos atrativos que estimulam uma

análise mais substancial de seus respectivos desdobramentos. Minadeo (2002: xv e xvi)

aponta alguns desses benefícios complementados por outros autores:

- importância para o desenvolvimento da economia mundial ao longo do século XX, pois

tornou-se a principal fonte de energia utilizada pelas forças produtivas do capitalismo em

todo o mundo;

- conexão com diversos temas das áreas da Ciência Política, da Sociologia, da Geografia, da

Estratégia Empresarial, das Relações Internacionais20, das lutas imperialistas entre as

nações, etc.;

- atualidade do tema em função do volume de recursos que mobiliza;

- ainda hoje, empresas centenárias estão em atuação (Exxon, Mobil, Chevron, Conoco,

Shell, etc.), bem como, apesar das barreiras à entrada, possibilita perspectivas para o

ingresso de novas companhias no mercado;

- apresentou empreendedores históricos que povoam o imaginário popular, como

Rockefeller, os Nobel, Getty, Monteiro Lobato, etc.;

- apresentação de excelente cenário para estudo das estratégias empresariais;

- a internacionalização é uma prática histórica do segmento, pois foi praticamente a

primeira indústria a nascer já globalizada devido à necessidade de escoamento de grandes

volumes de produção e da minimização dos riscos políticos em várias regiões;

- a integração vertical das diversas fases da cadeia produtiva (exploração, produção,

transporte, refino e distribuição) nos processos produtivos e no fornecimento de materiais

é estratégia eficiente para diminuir a vulnerabilidade das companhias às oscilações do

mercado;

20 “O resultado da Primeira Guerra Mundial mostrou o valor estratégico do petróleo. A mobilidade das tropas aliadas [decorrentes da utilização do petróleo como combustível] enfrentou com sucesso os inimigos baseados na tração animal. Desse modo, a partilha causada pela Primeira Guerra é inegavelmente norteada pelo desejo das potências aliadas de terem acesso às fontes de óleo” (MINADEO, 2002: 17).

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- ao mesmo tempo que a integração da cadeia produtiva é uma das características das

empresas consolidadas, a especialização em determinado elo produtivo é geralmente a

estratégia seguida para os que ingressam no negócio, pois simplesmente não há

disponibilidade de capital e tecnologia para ingressar simultaneamente em todos os pontos

da cadeia produtiva;

- a estratégia de associação e/ou aquisição de empresas com objetivo de dividir know how,

infraestrutura, custos e riscos é uma das características mais marcantes dessa indústria. No

que tange às aquisições e fusões entre empresas do setor, o objetivo é dar um salto

quantitativo no crescimento da produção através de custos e riscos mais baixos, pois

talvez seja mais oneroso investir em exploração e produção de forma inicial do que

adquirir outra empresa que possibilite agregar produção, infraestrutura e reservas de forma

mais rápida e sem riscos elevados. Exemplo mais contundente de associação ainda é a

fusão da Shell e da Royal-Dutch, em 1907. Por outro lado, a maior aquisição da história

dessa indústria foi a compra da Gulf pela Chevron; e

- por último, a questão de minimização dos efeitos do aquecimento global passa pela

diminuição da utilização dos principais produtos dessa indústria e/ou por um

deslocamento do uso como combustível para outros mais nobres.

Como vimos acima, as características econômicas e institucionais do

desenvolvimento da indústria de petróleo e gás natural na história do capitalismo do século

XX são amplamente conhecidas. Porém, Leal & Serra (2003) apontam que essas funcionam

como barreiras à entrada e também como garantidoras de uma tendência à cartelização pelos

grupos que já operam nesse setor. Além disso, propiciam a aferição de rendas extraordinárias

por suas principais operadoras devido ao grande volume de produção e valor agregado dos

produtos comercializados. O desenvolvimento da indústria do petróleo ainda apresenta outras

características:

- necessidade de investimentos elevados devido à grande infraestrutura necessária e ao

constante desenvolvimento tecnológico requerido;

- permissividade à maturação de longo prazo nos investimentos, por exemplo, na

produção offshore do início da fase de exploração até o começo da fase de produção

estimam-se entre 7 a 15 anos;

- altos riscos associados às atividades de exploração, pois não há certeza de sucesso em

encontrar jazidas comercialmente viáveis;

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- historicamente apresentam altos riscos políticos, pois as principais reservas

encontram-se em regiões e países instáveis politicamente, além das barreiras

institucionais e políticas, como nacionalismos e monopólios;

- indivisibilidade dos investimentos físicos e da capacidade ociosa até alcançar o pico

de produção, apesar de ser comum a divisão dos riscos entre empresas na fase de

exploração e produção através de cotas de participação;

- rendas de posição oriundas do volume e da qualidade da jazida mineral. Ao adquirir a

concessão de um campo, ainda não se conhece a qualidade do óleo a ser extraído –

quando este é de boa qualidade (“leve”), há a possibilidade de um ganho comercial

maior devido ao alto valor comercial.

Outros autores, como Padrão (2008), apontam outras características dessa

indústria que merecem ser destacadas:

- trata-se de uma indústria intensiva em capital, e não em força de trabalho, gerando

poucos empregos em relação ao grande volume de investimentos que emprega e à

riqueza que proporciona;

- opera através do fornecimento de suprimentos de bens e serviços indiretos com alto

valor agregado provenientes de diversos outros segmentos industriais, como metal-

mecânico, têxtil, eletroeletrônico, automação, químico, tecnologia da informação,

transporte, etc.;

- para as empresas que atuam no mercado, exige-se um elevado desenvolvimento de

competências e capacitações em diversas áreas da gestão da empresa, principalmente

as ligadas ao desenvolvimento tecnológico;

- os grandes fornecedores diretos são contratantes de bens e serviços locais (vide Figura

8);

- a cadeia de fornecimento se estende ao longo dos diversos segmentos que apoiam as

atividades, utilizando-se demasiadamente da substituição de atividades industriais por

tarefas complementares à produção (Ribeiro, 2006), ou seja, por um processo de

terceirização e subcontratação com objetivo de diminuir os custos de produção e

aumentar a especialização da atividade de cada empresa subcontratada.

No que tange aos trabalhadores, a principal função do trabalho operário é manter

continuamente e sem sobressaltos os fluxos de produção, através da integração das diversas

fases do processo de extração do óleo e gás natural, para evitarem “paradas” involuntárias na

produção. Crespo (2003: 250) destaca dois aspectos interligados nas relações de trabalho

nessa indústria:

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- o papel crucial exercido por um grande contingente de trabalhadores considerados

estratégicos devido ao alto grau de especialização profissional que a cadeia produtiva

demanda;

- a busca de flexibilidade no processo produtivo para aumentar o grau de confiança em

todo processo de produção através da inserção crescente de mecanismos de

automação.

Por isso tudo, a indústria de petróleo e gás natural é peculiar e abrangente em

relação aos diversos segmentos que mobiliza, além de envolver aspectos geopolíticos,

empresas centenárias e personagens empreendedores que povoam o imaginário capitalista até

hoje.

Essa diversidade pode ser verificada nos principais segmentos divididos em dois

grandes subsegmentos que, por sua vez, subdividem-se em diversos outros subsegmentos:

1) Upstream – esse segmento é conhecido como Exploração e Produção (E&P), sendo

responsável pela pesquisa, descoberta, avaliação e produção dos campos petrolíferos.

Subdivide-se em:

- Exploração – possui o objetivo de explorar a jazida mineral maximizando o fator de

recuperação através de um conjunto de processos, metódica e cientificamente encadeados,

para as descobertas de reservas de petróleo e de gás natural em condições de

competitividade e atratividade econômica (SCHIFFER, 2008: 94). Essa definição é

importante, pois nem toda reserva de petróleo possui viabilidade econômica, e, para

atingir esse objetivo, realizam-se as seguintes atividades: locação e seleção dos blocos,

levantamento e processamento de dados exploratórios, interpretação exploratória de

dados, sondagem (perfuração) exploratória e a delimitação dos campos;

- Produção – responsável pelas atividades de estudo e avaliação dos reservatórios,

desenvolvimento da produção e sua operação propriamente dita.

A atividade de E&P requer uma estrutura considerável para suas operações,

caracterizada pela localização de seu parque industrial próximo às jazidas minerais. Daí

Macaé, no caso aqui estudado, ter-se configurado como um polo de excelência na prestação

de serviços para as atividades de exploração e produção na plataforma marítima da Bacia de

Campos. Outra peculiaridade é o alto custo que exige para o desenvolvimento das atividades

de sondagem, isto é, a perfuração dos poços21. Geralmente, a divisão dos custos relativos à

atividade de exploração são os seguintes:

21 Conhecida também como drilliers.

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TABELA 2

EXPLORAÇÃO – CUSTOS RELATIVOS (%)

ATIVIDADE TERRA MAR Concessão e prospecção 5 3

Geofísica 15 10 Perfuração 70 80 Avaliação 10 7

Total 100 100 Fonte: SCHIFFER (2008).

Na tabela acima, percebe-se que a atividade de perfuração de poços é a mais

onerosa para a indústria petrolífera no que tange à exploração. Nas atividades offshore, chega

a alcançar aproximadamente 80% dos custos. No município de Macaé, o segmento de

perfuração é responsável pelos maiores contratos em cifras que alcançam milhões de doláres.

Além disso, as empresas desse segmento são importantes demandantes para encadeamento

das encomendas para outros segmentos da cadeia produtiva. Atualmente, somente algumas

empresas no mundo detêm a tecnologia para desenvolver essa atividade no mar, ocasionando

uma grande demanda pelos serviços que se encontram altamente inflacionados22. Como

exemplos dessas empresas, podemos citar: Pride, Nobel, Transocean, SBM, Petroserv, etc.

Nas fases de concessão e prospecção são desenvolvidas as atividades de análise

dos dados preliminares que ocorrem antes da licitação dos blocos, no caso do Brasil, antes das

rodadas de licitação da ANP.

Na licitação, os blocos são arrematados pelas empresas operadoras (Oil

Companies), e, a partir daí, são realizadas as aquisições dos dados já existentes.

Consecutivamente, ocorre a contratação de empresas especializadas nas atividades de sísmica

(marítima, terrestre e aerofotogrametria23), o processamento dos dados para prepará-los para

análise e a interpretação, que consiste na etapa final.

22 Em 2002, o aluguel diário de uma sonda de perfuração era de aproximadamente US$ 80 mil. Em 2008, esse aluguel chegou a alcançar US$ 300 mil para contratos de até 15 anos. 23 Medições precisas utilizando fotografias métricas aéreas.

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TABELA 3

DESENVOLVIMENTO DA PRODUÇÃO – CUSTOS RELATIVOS (%)

ATIVIDADE TERRA MAR Base (terra) e Plataformas (mar) 10 30

Facilidades 10 10 Poços 80 60 Total 100 100

Fonte: SCHIFFER (2008).

Na Tabela 3, a atividade de desenvolvimento da produção evidencia, através dos

custos relativos, o cuidado necessário com a manutenção dos poços, que, por isso, também

requerem contratos de alto valor coerentes com os custos relativos da atividade de perfuração.

Nas atividades offshore, esse valor é relativizado pela contratação de grandes estruturas

metálicas – as plataformas –, que obrigam grande disponibilidade de capital para sua

construção. As encomendas dessas plataformas e dos barcos de apoio às atividades offshore

na Bacia de Campos contribuíram, e ainda contribuem, para a dinamização dos polos de

construção naval das cidades fluminenses de Niterói e Angra dos Reis, e inclusive das regiões

de Rio Grande/RS e Itajaí/SC.

O segundo segmento da indústria do petróleo e gás natural é conhecido como

Downstream.

2) Downstream – é responsável pelas atividades de transporte, refino e distribuição,

englobando também a indústria petroquímica, que se constituiu em um dos pilares da

indústria capitalista moderna.

É impossível imaginar as possibilidades de utilização do petróleo no mundo

moderno. De acordo com sua versatilidade aparentemente infinita, as matérias-primas

extraídas do seu refino moldaram a industrialização do século XX. É na sua complexa

estrutura química que residem as possibilidades de combinação do carbono com outros

elementos químicos, como o oxigênio, o nitrogênio e o enxofre, para a estruturação das

moléculas que formam as cadeias longas dos respectivos derivados.

O desenvolvimento tecnológico no processo de refino foi incentivado pela

demanda de produtos de qualidade superior através do aproveitamento das frações residuais

dos hidrocarbonetos originados desse processo, dando origem à chamada indústria

petroquímica.

É assim que nasce e se desenvolve o segmento de Downstream com as seguintes

subdivisões:

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- Transporte – responsável pelo deslocamento do óleo e do gás natural das jazidas

produtoras para plantas de refino e de compressão de gás;

- Refino – responsável pela destilação do petróleo para produção dos seus derivados que

são utilizados como combustíveis e matéria-prima na indústria petroquímica;

- Distribuição – esse segmento é responsável pela distribuição dos produtos finais aos

consumidores, principalmente no que tange aos derivados utilizados como combustíveis.

A indústria petroquímica assumiu papel fundamental no desenvolvimento

econômico das economias capitalistas no século XX, pois a aplicação e a utilização dos seus

produtos atingem quase a totalidade dos ramos da indústria moderna. Esses produtos

alcançam aproximadamente 6 mil aplicações e são produzidos em três “gerações”:

- Primeira Geração – constitui os chamados produtos petroquímicos básicos, como eteno,

propeno, butadieno, benzeno, tolueno, xilenos, metanol e a amônia, sintetizados a partir

de matérias-primas obtidas diretamente das refinarias de petróleo – naftas, gasóleos e

resíduos gasosos e líquidos do processamento de petróleo cru;

- Segunda Geração – fabricam matérias-primas intermediárias, entre elas o estireno,

básico para a indústria de plásticos, e alguns produtos, como o poliestireno, polietilenos

de alta e baixa densidade, borrachas sintéticas e um dos mais versáteis entre os plásticos

de uso industrial, o policloreto de vinila, mais conhecido pela sigla PVC; e

- Terceira Geração – são produzidos os próprios bens de consumo – desde os mais antigos

e simples, como plásticos e tecidos, até os mais modernos e sofisticados, como

componentes para o setor de microeletrônica (Scientific American, 2003: 46).

Esse segmento receberá grande impulso no estado do Rio de Janeiro com a

construção do Comperj, que pretende se tornar um importante polo petroquímico,

contribuindo para dinamizar a economia fluminense com o volume de investimentos e o

número de empresas de Segunda e Terceira Gerações que atrairá para seu entorno, bem como

para a balança comercial brasileira, pois, ainda hoje, o Brasil é importador de diversas

matérias-primas petroquímicas que possuem alto valor agregado.

2.3. PETRÓLEO E GÁS NATURAL COMO RECURSO

Diversos autores, com maior ou menor importância, apontaram a questão

energética como fundamental para o desenvolvimento dos modos de produção ao longo da

história. No que tange ao Modo de Produção Capitalista, essa questão tornou-se essencial

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devido ao crescente dinamismo da produção e do consumo e à sua necessidade permanente de

valorização do capital.

O marxista belga Ernest Mandel24, na caracterização daquilo que denomina de

capitalismo tardio, recorta o capitalismo em duas grandes fases: o capitalismo mercantil

(concorrencial) – subdividido em duas subfases – e o capitalismo monopolista ou imperialista,

por sua vez também subdividido em uma subfase “clássica” e na atual, caracterizada como

“tardia”. Essa periodização acompanha a distinção da Revolução Industrial original, em fins

do século XVIII, e as outras rupturas tecnológicas que se seguiram. A ocorrida em 1848

proporcionou a produção de motores a vapor; a segunda, iniciada em 1896, desenvolveu o

motor elétrico e à explosão, e a terceira, nos anos 40 do século passado, proporcionou a

regulagem das máquinas por meio eletrônico e a utilização da energia nuclear. Na construção

dessa periodização, Mandel assinala que os ciclos de revolucionamento tecnológico durariam

em média 50 anos. O primeiro teria começado em fins do século XVIII e chegado até a crise

de 1847 e as revoluções de 1848; o segundo, desse final até a última década do século

passado; o terceiro, dos anos 1890 até a Segunda Guerra Mundial, e o último, desse momento

até os nossos dias.

Esse autor resguarda ao desenvolvimento tecnológico um papel muito ativo na

definição dos ciclos do capitalismo, conforme explicado anteriormente. Entretanto, destaca-se

que, apesar de haver historicamente uma forte relação entre os revolucionamentos

tecnológicos e o surgimento de novas fontes energéticas, não é somente o surgimento destas

que determinam as mudanças de ciclos. Além da mudança do padrão energético, a análise

histórica de Mandel se baseia em outros numerosos fatores, tais como: a produtividade do

trabalho, a repartição da renda entre capitalistas e trabalhadores que depende tanto do

tamanho do exército industrial de reserva como das vicissitudes sociais e políticas da luta de

classes, e o imperialismo capaz de disponibilizar às economias industrializadas matérias-

primas e um mercado sempre em expansão. Apesar de a energia nuclear ser a última

revolução tecnológica apontada por ele, o petróleo continua sendo a principal fonte energética

na matriz mundial com participação de 35% em 2005, enquanto o carvão mineral contribui

com 25,3%, o gás natural com 20,7%, as chamadas fontes renováveis com 10%, a energia

nuclear com 6,3%, a hidráulica com 2,2% e as outras fontes com 0,5% (Ministério de Minas e

Energia – Brasil).

Para melhor compreender um esquema teórico como o de Mandel ou a importância

do petróleo como fonte energética para o desenvolvimento das forças produtivas capitalistas,

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antes é necessário entender como se transforma matéria (substância) em recurso, no sentido

que um recurso não é uma coisa, é uma relação cuja conquista faz emergir propriedades

necessárias à satisfação de necessidades. Mas não é uma relação estável, visto que aparece e

desaparece. Todo recurso é potencial e também uma peça dinâmica (RAFFESTIN, 1993: 8).

A matéria é assimilável como um dado (inerte), pois sua existência independe da

ação humana. Ela resulta da ação de diversas forças ao longo da formação do planeta, sem

nenhuma participação do homem. Toda matéria é caracterizada por propriedades (latentes)

cuja valorização dependerá da relação que os homens estabelecem com elas ao longo da

história. Como dito antes na Introdução desta tese, o trabalho é a condição sine qua non da

existência da vida social através da apropriação da natureza e/ou da matéria pelos homens.

Sendo assim, o trabalho é o instrumento pelo qual o homem “cria” as propriedades da matéria,

mas não cria a matéria em si.

As referências sobre matéria são sempre caracterizadas por um olhar determinado

que integre substâncias em práticas especificas25. Por definição, esse olhar é sempre limitado

– as possibilidades de propriedades da matéria nunca são exauridas pelo homem, e sim por

uma determinada prática sob ela. Com isso, podemos dizer que as mudanças dessas práticas

ao longo do tempo constituirão a probabilidade de novas relações do homem com a matéria,

daí resultando a utilização de novas ou velhas propriedades. Por exemplo, não podemos

afirmar que a matéria petróleo é conhecida em todas as suas propriedades, pois atualmente o

homem estabelece algumas práticas com suas propriedades, mas não esgota suas

possibilidades, havendo quase certeza de mudança das práticas com essa matéria ao longo dos

anos. Esta poderá produzir nova ou extinguir alguns atributos conhecidos do petróleo hoje. De

forma conclusiva, sem a prática, a matéria não é desvendada como campo de possibilidades:

sem prática, nenhuma relação, nenhuma relação com a matéria e, portanto, nenhuma

produção (RAFFESTIN, 1993: 224).

O homem estabelece com a matéria através de suas propriedades uma relação

social, pois esta é constituída como produto coletivo e como relação de poder. Sendo assim, o

conteúdo e a forma dessa relação interessam a um determinado grupo que se apropria do

24 Economista belga, líder da corrente trotskista Secretariado Unificado da IV Internacional. 25 “O tipo de petróleo gerado depende da natureza da matéria orgânica aprisionada na rocha. Restos de vegetais superiores tendem a gerar gás. Já o material remanescente do zooplâncton e do fitoplâncton, marinho ou lacustre, em geral produz óleo. O tipo de óleo também é determinado pela temperatura da rocha. O material orgânico, cozido lentamente, numa escala de tempo geológica, começa a virar óleo a partir de 60º C. O pico de geração se dá ao redor de 90º C, quando as rochas passam a expulsar grandes quantidades de petróleo e gás. A 150º C, as rochas geram só gás” (Scientifc American, 2003: 18).

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trabalho e de parte de seu resultado para garantir a lógica fundamental de reprodução do

Modo de Produção Capitalista.

Em consonância com a concepção histórica do Materialismo Histórico, podemos

afirmar que a relação do homem com a matéria é uma relação de caráter social, político e

econômico. Assim, podemos derivar que a noção de recurso é um produto dessa relação. Mais

especificamente, podemos afirmar que não há recursos naturais, somente matérias naturais

[...] os recursos não são naturais; nunca foram, e nunca serão! (RAFFESTIN, 1993: 225).

O desenvolvimento do contexto técnico-econômico (não somente no MPC) impõe

o desaparecimento de algumas propriedades que não mais possuem valor de uso ou não mais

interessam ao processo de valorização do capital. Aqui podemos citar como exemplos o

sílex26 e o óleo de baleia, que era utilizado até o final do século XIX como combustível para

iluminação de casas e ruas. Ou o contrário: no século XIX, a gasolina era um subproduto do

refino rudimentar do petróleo e, no século XX, com o motor de explosão, “descobre-se” seu

valor de uso e de troca.

A capacidade de alguns recursos de satisfazer necessidades coletivas consideradas

fundamentais e a concepção de que é produto de uma relação constituinte do modo de

produção em análise permitem afirmar que os recursos podem ser utilizados como

instrumentos de poder. Historicamente, o petróleo é um excelente exemplo da utilização de

um recurso como instrumento de poder. A criação da OPEP – em oposição ao cartel das

grandes empresas – pelos principais países produtores tornou agudo o confronto entre países

produtores e consumidores. O poder do recurso petróleo é concretizado pelos países

produtores através do jogo de preços e do controle da quantidade produzida, mas sem

desencadear reações excessivas. Segundo Raffestin (1993: 259), o trunfo petrolífero é, sem

contestação, o mais espetacular de todos.

2.4. BREVE HISTÓRICO DA INDÚSTRIA PETROLÍFERA

Esta parte do trabalho baseou-se na literatura sobre a história do petróleo,

principalmente na publicação do jornal Intervenção Comunista, publicado pela editora de

mesmo nome.

A utilização do petróleo para diversos fins pelo homem é antiga, sendo chamado

de vários nomes: betume, asfalto, alcatrão, lama, resina, azeite, nafta da Pérsia e até de “Óleo

26 Rocha sedimentar muito dura e muito utilizada no período neolítico (chamado também de Idade da Pedra Polida, com início em 8.000 a.C.) para confecção de armas e utensílios de corte.

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de São Quirino”. Por volta de 4.000 a.C. já era utilizado para calafetagem, aquecimento,

embalsamento de mortos e iluminação no Antigo Egito e como argamassa na Mesopotâmia e

na Pérsia. A própria Bíblia fala do petróleo na saga de Noé (Gênesis, Cap. 6, Vers. 14): Faze

para ti uma arca da madeira de gofer; farás compartimentos na arca e a betumarás por

dentro e por fora com betume. Acredita-se que o betume serviu também como poderoso

armamento de guerra, já que relatos de Homero na Ilíada falam de ataques a embarcações

com bolas de fogo que não podiam ser apagadas.

Em 256 a.C. na China, havia perfuração rudimentar de poços de gás, água e sal.

Entretanto, há vários séculos encontrava-se petróleo na perfuração desses poços. Somente em

1806 os irmãos Ruffersin introduzem um método semelhante ao chinês para perfurar poços de

sal na Vírginia (EUA).

Porém, somente em 1821 ocorreria o primeiro uso comercial de gás natural nos

EUA, em Nova York. Em 1853, George Bissell, um professor e advogado em Nova York, de

volta à sua terra natal, quando estava no caminho para visitar sua mãe, passava pelo oeste do

estado da Pensilvânia e viu, pela primeira vez naquela região isolada dos Estados Unidos, o

“óleo de pedra” borbulhando nos mananciais ou evazando nas minas de sal das florestas da

região. Alguns poucos barris eram obtidos por métodos bem primitivos, escumando o óleo

que ficava na superfície dos mananciais e dos córregos ou embebendo-o em trapos e

cobertores. Era conhecido como “Óleo de Sêneca”, em homenagem aos índios da localidade,

que transmitiram aos brancos o conhecimento de sua utilidade como remédio tanto para os

homens como para os animais.

George Bissell contata o professor de química da Universade de Yale, Benjamim

Silliman, e lhe solicita que analise uma amostra de petróleo de Titusville (Pensilvânia/EUA).

A destilação dessa amostra produz óleo e gás para iluminação e lubrificantes, e também um

líquido claro que posterioremente seria chamado de gasolina. Após a percepção do potencial

econômico inexplorado dessa fonte energética, em 1853, Bissell organiza a primeira

companhia de petróleo do mundo, a Pennsylvania Rock Oil Co.

Em 1859, após ser contratado para organizar e introduzir na produção de petróleo

diversas inovações e melhorias tecnológicas no método até então empregado na perfuração

dos poços, o coronel Edward Laurentine Drake encontrou um poço após 20 meses de

trabalho, na cidade de Titusville, no oeste do estado da Pensilvânia, dando início à chamada

“primeira corrida de petróleo no mundo”, assim tornando essa cidade o berço da era do

petróleo (LeVine, 2007). Esse petróleo foi encontrado a 22 metros de profundidade com

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produção de 20 barris diários, sendo considerado o marco inicial da indústria petrolífera

moderna.

Além do território norte-americano, desde Marco Polo, em 1271, em sua viagem

pelo norte da Pérsia, há relatos sobre indícios de petróleo e gás na região de Baku, no Mar

Cáspio – atual Azerbaijão. Em 1872, o Czar russo flexibilizou as leis sobre a propriedade de

terras nessa região, provocando um grande boom do petróleo em Baku. O petróleo russo de

Baku torna-se o primeiro concorrente do petróleo norte-americano com uma produção, por

volta de 1890, de 80% da produção americana, sem conseguir dar o mesmo impulso à

economia russa como ocorreu na americana. Na virada do século XIX, em 1901, Baku supria

mais da metade (51%) da demanda mundial de petróleo, tornando-se a primeira grande capital

mundial do petróleo, com produção de 11,5 milhões de barris, enquanto os Estados Unidos

produziam 9,5 milhões e o resto do mundo somente 1,7 milhão.

Em 1890, a indústria petrolífera era comandada pelo grupo de Rockfeller nos

Estados Unidos e pelos irmãos suecos Nobel27, no Mar Cáspio, em uma proporção de 70-30.

Entretanto, a guerra civil após a Revolução Russa de 1917 provocou uma grande queda da

produção, que somente retornou ao nível anterior da virada do século em 1928. Ainda nos

anos 90 surge o terceiro polo petrolífero, nas antigas Índias Holandesas, comandadas pela

inglesa Shell em Bornéu, e pelo grupo holandês Royal Dutch Company em Sumatra. Para

aumentar seu poder e presença no mercado, esses grupos se fundiram em 1907, com maioria

holandesa – 60% de participação.

O folclórico empresário John Davidson Rockfeller (1839-1937), oriundo de

Cleveland, monopolizou os mercados norte-americano e europeu, ganhando a primeira grande

fortuna no mundo advinda do petróleo. Esse monopólio deu-se através da empresa Standard

Oil28, que até hoje é reconhecida como a principal empresa petrolífera da história. Seu

tamanho e sua influência alcançaram tal patamar que, em 1911, o governo norte-americano

ordenou sua dissolução em 34 empresas. Essa dissolução originou algumas das principais

empresas atuantes ainda hoje, tais como: Exxon, Mobil, Chevron, Arco, Conoco, Amoco e

Pennzoil. Esse processo tornou-se uma paradigma em termos de legislação antitruste no

mundo.

Já no século XX, afirmaram-se três novas fontes energéticas diferentes do carvão,

largamente utilizado no século XIX: o petróleo, o gás natural e a energia nuclear através de

27 Os mesmos que patrocinaram e dão nome ao reconhecido Prêmio. 28 Em 1870, a Standard Oil já se preocupava em produzir bons produtos, em racionalizar a produção e na manutenção de baixos custos. O próprio nome da empresa passou a refletir essa preocupação.

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duas novas formas de utilização, o motor à combustão e a eletricidade. Entre essas,

certamente o petróleo foi mais preponderante.

A Primeira Guerra Mundial evidencia a importância estratégica do petróleo

através da decisão de utilizá-lo para a mobilização das tropas terrestres, bem como a

transformação da Armada Britânica para o uso do óleo combustível como energia (com o

primeiro submarino com motor diesel) e o avião tornando-se uma arma letal. Essas medidas,

proporcionaram maior mobilidade às tropas aliadas29; e, nesse período, a indústria

automobilística ganhou seu impulso definitivo. A guerra começou com trens e cavalos e

terminou

com mais de 150.000 veículos de transporte motorizados ingleses e americanos operando no front francês. O conflito tornou definitiva a decolagem da aeronaútica: em quatro anos, a Grã-Bretanha produziu 55.000 aviões, a França 68.000, a Itália 20.000, a Alemanha 48.000, os Estados Unidos 15.000 em dezoito meses somente (Intervenção Comunista, 2003: 6).

Esses fatos tornaram a partilha do mapa mundial norteada pela importância das

regiões produtoras30 de óleo com o incentivo do governo americano para que as empresas

petrolíferas se lançassem em atividades pelo mundo, tornando a geopolítica do século XX

extremamente influenciada pela indústria do petróleo, e a “era do petróleo”, definitivamente,

sendo a era da industrialização da guerra.

Apesar de a questão energética não ser suficiente para explicar toda a dinâmica

econômica capitalista e as relações entre as nações, ficou claro ao longo do tempo que a

passagem da utilização do carvão para o petróleo como matéria-prima energética contribuiu

para o declínio do Império Britânico e para a ascensão dos EUA como maior potência

mundial. Estes últimos foram durante longo tempo os maiores produtores mundiais, mas

perderam participação ao longo do século XX na produção mundial de petróleo, passando de

91% em 1870 para 60% em 1900, 52% em 1950, 18% em 1970 e somente 10% em 2000.

Diante da necessidade de descobrirem crescentes reservas para responder à

demanda crescente, o Golfo Pérsico surge como o quarto polo petrolífero após meio século do

início do ciclo americano do petróleo. Nesse período, dois movimentos aconteceram

simultâneamente: 1) o baricentro de potência financeira começa a se deslocar da Europa para

29 Em 20/05/1914, “o almirantado inglês adquire a Anglo-Persian, pois estava em curso a transformação da Armada para uso do óleo combustível em lugar do carvão, e Churchill não confiava suficientemente na Shell, devido ao fato de ter 60% do seu capital na Holanda, nem nas empresas controladas pelos Nobel ou pelos Rotchilds [...] é a base da primeira estatal do mundo: Anglo-Persian, depois Anglo-Iranian, e, finalmente, British Petroleum, privatizada no governo Margareth Thatcher” (MINADEO, 2002: 365). 30 “A França fica com influência sobre a Síria e o Líbano; a Inglaterra se mantém predominante no restante dos territórios árabes do Oriente Médio. EUA e Itália ficam de fora” (MINADEO, 2002: 17).

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os Estados Unidos; e 2) o baricentro petrolífero começa a fazer o caminho inverso com o

primeiro concessionário inglês no Oriente Médio, William Knox D´Arcy. Assim, a resultante

dos dois movimentos não podia ser indolor, mesmo tendo os americanos mantido a primazia

absoluta da produção e a plena autossuficiência petrolífera para as quatro décadas seguintes

(Intervenção Comunista, 2003: 5).

A intervenção do governo inglês em favor de D´Arcy através de empréstimos, da

garantia de fornecimento à esquadra britânica – Royal Navy – e ao mercado indiano, e a

aliança com a empresa escocesa Burmah Oil foram fundamentais para a primeira extração de

petróleo em 1908 e para o início da história da empresa Anglo-Persian Oil Company, que

logo depois se tornou a British Petroleum (BP).

No penúltimo ano da Primeira Guerra Mundial, em 1917, a Revolução

Bolchevique subtraiu o petróleo russo das nações aliadas. A partir desse momento, os Estados

Unidos passam a fornecer 80% do petróleo aos aliados. A distribuição desse petróleo na

Europa ficou sob responsabilidade do National Petroleum War Service Committee sob a

direção do presidente da Standard Oil de Nova Jersey (hoje Exxon). Ou seja, a guerra criava

as condições para a reconciliação do governo americano com a Standard Oil após seis anos de

seu desmembramento sob acusação de monopólio. Essa escassez petrolífera fez com que as

potências aliadas inserissem o petróleo entre os objetivos da guerra.

A questão petrolífera foi um dos ingredientes para o contorno de três guerras

paralelas que se desenrolavam simultaneamente:

1) a guerra entre a Grã-Bretanha e os Estados Unidos pela sucessão à liderança inglesa no

mundo;

2) entre a Grã-Bretanha e a França por posições estratégicas na nova divisão da Europa e das

colônias; e

3) no seio do próprio Império Inglês entre os Departamentos Árabe e Indiano pelo controle do

Oriente Médio.

Nos anos seguintes à Primeira Guerra Mundial, havia um clima de esgotamento

do petróleo muito difuso nos Estados Unidos. Entre 1918 e 1920, o preço do petróleo

aumentou em torno de 50%, e a previsão governamental era de que em apenas cinco anos

iniciaria o declínio da indústria petrolífera americana com os campos em produção

alcançando o pico de produção. Nesse período, a Grã-Bretanha controlava apenas 4,5% da

produção mundial e os Estados Unidos 80%; porém, este último somente detinha 1/12 das

reservas petrolíferas mundiais e, consequentemente, sofria a maior diferença entre demanda e

oferta. Essa “escassez” foi reduzida com as descobertas de 1923 em Los Angeles, na

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Califórnia, e na segunda metade dessa década nos estados de Oklahoma, Texas e Novo

México, principalmente com o excepcional campo Black Giant, de 340 mil barris por dia no

Texas. Outro fator importante foi a autorização para os pequenos produtores explorarem

petróleo sem limites nos seus próprios poços, mesmo sendo um campo compartilhado com

outros produtores – eles teriam que fazer o mesmo para se defender. Também nesse período,

entre 1920 e 1929, a demanda por gasolina cresce extraordinariamente com a quadruplicação

da demanda advinda do crescimento da frota de automóveis, que, em 1929 nos Estados

Unidos, já era de um carro para cinco habitantes; na Grã-Bretanha e na França era de um para

30 habitantes; na Alemanha de um para 100 e no Japão de um para 700.

Ainda nesse período, novos atores-produtores mundiais entram em cena. Após a

primeira descoberta em 1910, o México torna-se um fornecedor essencial para os Estados

Unidos, atingindo 11% da produção mundial em 1925 e tornando-se o segundo produtor

mundial. Apesar disso, em 1935, sua cota havia caído para 2,5%. Mais ao Sul, em 1932, a

Venezuela torna-se a principal fornecedora da Shell e da Grã-Bretanha, e, ainda na década de

30, a terceira produtora mundial, atrás somente dos Estados Unidos e da União Soviética.

Durante a Segunda Guerra Mundial, sua importância cresce com o declínio da produção

soviética, conquistando o segundo lugar com 12% da produção mundial. Apenas seis dias

após a Alemanha anexar a Áustria, o México nacionaliza as companhias petrolíferas e cria a

Pemex (Petróleos Mexicanos) – como a primeira grande empresa petrolífera nacional –, que

serve de exemplo para futuras nacionalizações.

Nos anos de 1932-33, países produtores importantes atualmente entram

definitivamente no jogo do petróleo: inicia-se o ingresso da Arábia Saudita e do Kwait, e, em

1932, descobre-se petróleo no reino do Bahrein.

Entre dezembro de 1941 e agosto de 1945, os aliados consomem

aproximadamente sete bilhões de barris de petróleo, dos quais os EUA produziram seis

bilhões. Essa produção americana correspondeu a um quarto de toda produção estadunidense

precedente à guerra, ou seja, do primeiro poço em 1859 até 1941. O possível esgotamento das

jazidas em território norte-americano fez com que o Oriente Médio entrasse na zona de

interesse dos EUA como uma questão de Estado, e não somente no âmbito dos negócios.

Com a aproximação do fim da Segunda Guerra Mundial31, iniciaram-se as

discussões sobre o espólio que as nações aliadas teriam direito. Na verdade, estoura uma

31 “Os marcos miliários na estrada para a guerra foram a invasão da Manchúria pelo Japão em 1931; a invasão da Etiópia pelos italianos em 1935; a intervenção alemã e italiana na Guerra Civil Espanhola em 1936-9; a invasão alemã da Áustria no início de 1938; o estropiamento posterior da Tchecoslováquia pela Alemanha no mesmo ano; a ocupação alemã do que restava da Tchecoslováquia em março de 1939 (seguida pela ocupação italiana da

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“guerra subterrânea” entre ingleses e norte-americanos pelas possessões e participações nos

campos petrolíferos do Oriente Médio, em especial na Arábia Saudita.

Em contrapartida, as nações produtoras começam um processo de nacionalização

e negociação dos termos contratuais com as empresas petrolíferas. Nesse caminho, a

Venezuela, em 1943, consegue os famosos acordos “fifty-fifty”, que previam os dividendos

para as companhias petrolíferas e as receitas com taxas e royalties para os governos dos países

produtores. Esse acordo serve de modelo para negociações em outros países, e, em 1950, esse

mesmo tipo é aplicado na Arábia Saudita, em 1951 no Kwait e em 1952 no Iraque. Em 1951,

o Xá da Pérsia nacionaliza a Anglo-Iranian Oil Company – primeira companhia de petróleo

criada no Oriente Médio em 1908 –, acabando com o monopólio inglês sobre o Irã. Seguindo

a onda de nacionalizações, o presidente Nasser, do Egito, decreta a nacionalização do Canal

de Suez em 26 de julho de 1956 com argumento de destinar a renda proveniente do uso desse

canal para a construção da barragem de Assuã. Nesse momento, dois terços do petróleo

consumido na Europa provinham do Oriente Médio e dois terços desse total transitavam pela

“artéria” do Suez. Apesar de o carvão ainda ser predominante na economia europeia com 70%

de participação, alguns setores dinâmicos, como os mecanizados e a petroquímica, eram

completamente movidos a petróleo. Além disso, a possibilidade de contornar o Cabo da Boa

Esperança (11.000 milhas) quase dobrava o percurso em relação ao Canal de Suez (6.500

milhas), e os navios-petroleiro já estavam todos sendo utilizados. Essa situação leva a uma

declaração de guerra da França e da Inglaterra contra o Egito.

Após a Segunda Guerra Mundial, em 1947, surge o cartel das “Sete Irmãs”

quando as cinco maiores companhias petrolíferas americanas (Socal-Chevron, Jersey-Exxon,

Socony-Mobil, Gulf e Texaco) se associam com as duas maiores companhias petrolíferas

europeias (Anglo-Iranian e Shell) em três acordos distintos de exploração e produção na

Arábia Saudita, no Kwait e no Irã.

As empresas que estavam fora do Cartel das Sete Irmãs eram consideradas

“independentes” e começaram a chegar no Oriente Médio com os contratos do sistema fifty-

fifty, que repartia os lucros da produção entre as companhias e as burguesias nacionais em

Albânia); e as exigências alemãs à Polônia que levaram de fato ao início da guerra. Alternativamente, podemos contar esses marcos miliários de um modo negativo: a não ação da Liga contra o Japão; a não tomada de medidas efetivas contra a Itália em 1935; a não reação de Grã-Bretanha e França à denúncia unilateral alemã do Tratado de Versalhes, e notadamente à reocupação alemã da Renânia em 1936; a recusa de Grã-Bretanha e França a intervir na Guerra Civil Espanhola (‘não intervenção’); a não reação destas à ocupação da Áustria; o recuo delas diante da chantagem alemã sobre a Tchecoslováquia (o ‘Acordo de Munique’ de 1938); e a recusa da URSS a continuar opondo-se a Hitler em 1939 (o pacto Hitler-Stalin de agosto de 1939)” (HOBSBAWM, 1995: 44-45). Esse autor chama o período que abrange do ano da eclosão da Primeira Guerra Mundial até o término da Segunda Guerra Mundial de “Guerra dos 31 anos” por entender que, em termos históricos, esse período foi uno.

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50% para cada. Nesse período, aportaram nessa região a Aminoil, a Philips, a Ashland, a

Sinclair, a Pacific Western e a Aramco.

Em 1954, o Cartel das Sete Irmãs32 é oficializado com a formação de um

consórcio para explorar jazidas no Irã juntamente com a entrada da francesa CFP. Isso foi o

estopim para o governo estadunidense de Eisenhower impor às cinco empresas norte-

americanas desse cartel a cessão de 5% desse consórcio a nove empresas independentes:

Aminoil, Sohio, Atlantic e Richfield (que depois se fundiram), Signal e Hancock (que depois

se fundiram também), San Jacinto (depois comprada pela Continental), a Pacific Western e a

Tidewater (que depois se fundiram e foram anexadas pela Texaco). Essas fusões e aquisições

evidenciam a tendência da indústria petrolífera e do desenvolvimento do capitalismo de

concentração do capital através das parcerias entre grandes empresas e da aquisição de

pequenas e médias empresas por outras maiores. Nesse contexto, surge a ENI do lendário

empresário italiano Enrico Mattei, que após a exclusão do consórcio para explorar o Irã

rompeu com o sistema fifty-fifty e ofereceu 75% na repartição dos lucros da produção ao Xá.

Diante da necessidade de contraporem-se ao cartel das grandes empresas

operadoras, as burguesias nacionalistas dos países exportadores do Oriente Médio

substituíram, em 1960, o cartel das empresas privadas pela Organização dos Países

Exportadores de Petróleo (Opep), em Bagdá. Os historiadores apontam o Congresso do

Petróleo Árabe no Cairo, em 1959, com a presença na figura de observador do Ministro das

Minas e dos Hidrocarbonetos venezuelano Juan Pablo Perez Alfonso, como sendo o ato de

criação da Opep. Nesse Congresso, o ministro venezuelano Juan Pablo e o ministro do

petróleo saudita, Abdullah Tariki, realizaram um encontro secreto com representantes de Irã,

Iraque, Kwait e Egito e assinaram um gentlemen´s agreement (acordo de cavalheiros) que

recomendava os seguintes pontos aos seus governos:

- para defender uma estrutura dos preços deveria criar-se um comissão petrolífera

consultiva entre esses países;

- a constituição de companhias petrolíferas nacionais;

- a substituição dos acordos fifty-fifty pela repartição dos lucros com a divisão 60-40 em

favor dos países produtores; e

32 As Sete Irmãs se transformaram em cinco devido aos processos de fusões e aquisições da década de 1990. Atualmente, controlam apenas 3% das reservas mundiais de petróleo e gás e são responsáveis por 10% da produção mundial, enquanto, as “Novas Sete Irmãs” (Aramco, Petrochina, Gazprom, NIOC iraniana, Petrobras, PDVSA venezuelana e a Petronas malaia) controlam aproximadamente 1/3 das reservas e da produção mundial.

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- para garantir um volume maior de receitas e uma estabilidade mais duradoura dos

mercados, os países produtores deveriam construir uma capacidade de refino nacional

(Intervenção Comunista, número 10).

Oficialmente, em 14 de setembro de 1960, em Bagdá, os cinco países produtores

responsáveis por 80% das exportações mundiais – Arábia Saudita, Irã, Iraque, Kwait e

Venezuela – fundam a Opep com o objetivo principal de restabelecer os preços de tabela e

mais três objetivos secundários:

- serem consultados sobre os preços através da comissão petrolífera consultiva;

- introduzir um modelo de regulação da produção; e

- caso sofressem qualquer sanção por parte das empresas operadoras, reagirem em conjunto.

Em 1962, esse cartel alcança oito membros com as adesões da Líbia, da Indonésia

e do Catar. Mesmo com o crescimento do número de associados, a Opep desempenhou um

papel secundário durante a década de 1960, pois os objetivos de sua fundação não eram

perseguidos devido à rivalidade entre Irã e Arábia Saudita, que aumentavam suas produções

para maximizar os seus lucros.

Por isso, essa organização precisou de mais de 10 anos para inverter a correlação

de força entre os países produtores e as grandes empresas do setor. Mas, no quinquênio 1965-

70, o consumo mundial de petróleo cresceu 48%, fazendo aumentar a pressão sobre os preços

energéticos. Um outro fator relevante foi o vácuo causado pela saída da Grã-Bretanha do

Oriente Médio e que os EUA não puderam ocupar devido à guerra do Vietnã. Nesse espaço, a

Opep se articula e emerge nos anos 1970 como uma “nova potência”, o que ficou mais claro

com um acidente em um oleoduto na Arábia Saudita que diminuiu a oferta em 5 milhões

barris/dia, fez o preço subir e levou a Opep a perceber que realmente poderia controlá-lo via a

oferta do produto no mercado mundial.

Assim, as nacionalizações voltaram à pauta do dia nos países arábes com o Iraque

terminando esse processo em 1975. As grandes empresas petrolíferas criaram uma situação

jurídica chamada de “contratos de partilha de produção” para se associarem à produção e

comercializarem por conta própria a parte que lhes cabia da produção da jazida.

Na década de 1970, o mapa da produção mundial de petróleo era radicalmente

diferente do período posterior à guerra. Em 1972, os EUA possuíam uma cota da produção

mundial de 22% diante de 64% em 1948, enquanto o Oriente Médio pulou de 13% para 43%

da produção e de 45% para 70% das reservas mundiais no mesmo período. A produção no

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Oriente Médio ainda possuía a vantagem de uma margem de lucro 17 vezes superior à do

petróleo do Texas33.

TABELA 4

DEPENDÊNCIA ENERGÉTICA DAS IMPORTAÇÕES (1971-2000) (peso em % das importações sobre o fornecimento interno)

Total da Energia Petróleo Países 1971 2000 Variação 1971 2000 Variação

EUA 9,9 27,1 17,2 24,6 58,8 34,2 Europa dos 1534 59,3 47,5 -11,8 97,4 72,3 -25,1 Alemanha 43,2 60,6 17,4 94,4 97,0 2,6 França 74,2 49,0 -25,2 97,1 97,7 0,6 Itália 83,3 84,3 1,0 98,9 94,3 -4,6 Grã-Bretanha 47,9 0,0 -47,9 100,0 0,0 -100,0 Japão 86,7 79,8 -6,9 99,5 99,6 0,1 Fonte: ONU e International Energy Agency apud Intervenção Comunista (2004, número 11). Obs.: as colunas das variações indicam a variação da dependência energética (o sinal negativo indica menor dependência).

Com o fim da “Era de Ouro” do capitalismo após a Segunda Guerra Mundial, a

economia mundial arrefece devido à diminuição da produtividade e ao aumento da inflação

nos principais países desenvolvidos. Em outubro de 1973, quando os países integrantes da

Opep quadruplicam os preços do barril ocasionando a Primeira Crise do Petróleo, a economia

mundial dependia em quase 50% do petróleo. Diversas consequências para a economia

mundial foram sentidas:

- grandes países consumidores iniciam diversos programas de redução de consumo com

alguns efeitos práticos, como o aumento da demanda por automóveis menores e mais

econômicos (leia-se automóveis japoneses);

- diversificação de investimento em outros setores e em outros tipos de energia por

algumas empresas de petróleo devido ao maior risco das atividades petrolíferas;

- intensificação das atividades de exploração e viabilização de projetos mais ousados na

área offshore, como: Mar do Norte e Bacia de Campos;

33 “A condição objetiva era o forte aumento da demanda de petróleo do pós-guerra, que alimentava a alta dos preços. Yergin ilustra as cifras da renda petrolífera médio-oriental: no final dos anos 40, o preço mundial do petróleo bruto era de US$ 2,50 por barril. No Oriente Médio, o seu custo de produção e transporte era de US$ 0,75: a margem de lucro era de US$ 1,75, enquanto no Texas era só de US$ 0,10. A renda diferencial de US$ 1,65 por barril era o terreno de batalha entre as companhias, assim como entre elas e as burguesias nacionais” (Intervenção Comunista, número 9: 5). 34 Expressão utilizada para designar a União Europeia quando ela possuía apenas 15 membros (Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Países Baixos, Portugal, Reino Unido e Suécia). Atualmente, a União Europeia possui 27 sócios, a Europa dos 27.

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- Brasil, Índia e diversos países tradicionalmente não produtores intensificam seus

investimentos no setor;

- surgimento de programas governamentais na busca de outras fontes energéticas: Pró-

Álcool, no Brasil; Sasol, na África do Sul, que transforma carvão em gasolina;

Syncrude, no Canadá, através da utilização de areia de betume para produção de

petróleo; e

- a energia nuclear toma um grande impulso para diminuir a dependência dos países

europeus à importação de energia como um todo, mais particularmente de petróleo.

Devido às intempéries no Oriente Médio entre os dois choques petrolíferos, os

investimentos em novas explorações migraram para a América do Norte (Golfo do México) e

para o Mar do Norte. Nesse período, o setor de produção offshore se consagra com dois fatos

relevantes: em 1974, com a descoberta da Bacia de Campos, e com a primeira produção

comercial de petróleo no Mar do Norte em 1975, considerada um verdadeiro milagre

tecnológico devido às condições ambientais e climáticas. Além dessas realizações na

produção offshore, o oleoduto do Alasca é completado em 1977 a um custo de US$ 10 bilhões

e chegou a operar 1/4 da produção petrolífera norte-americana.

O corte na produção dos países árabes que originou o primeiro choque do petróleo

afetou frontalmente alguns países industrializados. Em 1971, o Japão importava 86,7% da

energia consumida e praticamente todo o petróleo que necessitava. Os 15 países da União

Europeia importavam 59,3% da energia e quase 100% do petróleo (97,4%), e os EUA

encontravam-se em posição confortável, pois importavam apenas 9,9% da energia e 24,6% do

petróleo consumidos internamente (ONU apud Intervenção Comunista, número 7: 10). Por

outro lado, a dependência das importações do petróleo tenderiam a aumentar devido à

diminuição da produção nos estados produtores que já haviam alcançado ou estavam

alcançando 100 anos de produção.

Entre os países europeus, a Alemanha e a Grã-Bretanha, por possuírem grandes

reservas carboníferas, dependiam menos da importação de energia do que a França e a Itália,

apesar dos altos custos de extração devido às grandes profundidades. A reação dos países

desenvolvidos ao embargo petrolífero foi distinta. Entre 1971 e 2000, a França reduz o

consumo de petróleo para 1/3 do seu consumo energético, e a dependência da importação de

energia de 3/4 para a metade das suas provisões energéticas com investimento pesado na

energia nuclear. Apesar de possuir reservas carboníferas, a Alemanha optou pelo

desenvolvimento nuclear e reduziu as importações de petróleo do Golfo Pérsico e aumentou

as importações de petróleo e gás natural da ex-URSS, da Noruega e do Mar do Norte. A Itália

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e a França também aumentaram o consumo de gás natural e a Grã-Bretanha desenvolveu a

produção no Mar do Norte e a energia nuclear.

Por outro lado, os EUA, que tinham uma posição privilegiada em 1971 comparada

aos europeus, viram sua posição se enfraquecer ao longo dos 30 anos analisados. Em 1971, os

EUA importavam somente 1/10 da energia que consumiam, atualmente importam 1/4 e, da

mesma forma, importavam 1/4 do petróleo que consumiam e atualmente importam mais de

50%.

No caso específico da Grã-Bretanha, ela foi imensamente favorecida pelas

descobertas no Mar do Norte35. Os investimentos nessa nova fronteira petrolífera começaram

após a crise do Canal de Suez em 1956. Em 1959, em parceria, a Exxon e a Shell descobriram

até então o campo mais extenso de gás fora da URSS em Groningen, na Holanda. Somente

em 1969 a empresa de fora do Cartel das “Sete Irmãs”, a americana Philips, descobriu o

primeiro campo no setor norueguês, seguido pelas descobertas no Norte da cidade escocesa de

Aberdeen pelo British Petroleum em 1970, e em 1971 pela descoberta da jazida de Brent por

parte da Shell-Exxon. Não fosse o aumento generalizado dos preços mundiais, as jazidas do

Mar do Norte teriam tornado a Grã-Bretanha praticamente imune ao segundo choque

petrolífero, pois em 1980 já produzia todo o petróleo que consumia e em 1981 iniciou as suas

exportações, tornando-se a única potência europeia nuclear e petrolífera do ponto de vista

energético.

Assim, a primeira crise do petróleo provoca impactos diferenciados entre as

potências mundiais ocasionando uma mudança na correlação de forças entre os EUA e a

Europa dos 15 durante a “longa guerra energética mundial”, pois, em 2000, a importação

energética dos EUA foi quase a mesma da Europa dos 15, enquanto em 1971 as importações

energéticas europeias somavam quatro vezes as dos EUA.

Em termos globais, uma consequência da crise petrolífera de 1973 foi a

diversificação das fontes primárias de energia pelos países importadores. Entre 1971 e 2000, a

dependência relativa da economia mundial em relação ao petróleo diminuiu oito pontos

percentuais, passando de 42,9% para 34,8%, apesar do aumento do consumo absoluto. Por

outro lado, a energia nuclear passou sua participação de 0,5% para 6,8%, e o gás natural de

35 “A primeira crise petrolífera desencadeou no Mar do Norte um extraordinário afluxo de investimentos. Daniel Yergin [The Prize] compara essa corrida, sob o aspecto tecnológico, ao feito da conquista estadunidense da Lua: as plataformas permanentes no meio do mar deviam resistir às ondas de trinta metros e ventos de 130 milhas por hora, enquanto as torres de perfuração, que já operavam em águas profundas, tinham que perfurar o fundo do mar por mais quatro milhas” (Intervenção Comunista, 2005, número 20: 5).

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16,4% para 21,1%. Isso mostra que o gás natural e a energia nuclear são as principais

respostas energéticas à chantagem do cartel da Opep.

Essa crise petrolífera e a que se seguiu em 1979 fizeram emergir um sentimento

de vulnerabilidade nas burguesias dos países industrializados e em desenvolvimento em

relação à chantagem direta dos países do Golfo Pérsico e indireta dos EUA e da URSS, que

também eram grandes produtores. O período entre as duas crises petrolíferas foi um momento

de “ouro”, com o poder das burguesias árabes alcançando o seu cume.

A segunda crise petrolífera (1979) eclode a partir da Revolução Iraniana em

janeiro de 1979 quando é retirada do mercado toda a exportação iraniana, ou seja,

aproximadamente 4,5 milhões de barris por dia:

Foi suficiente aquela queda na produção de apenas 3-4% para provocar um salto dos preços em 150%, passando de 13 dólares por barril antes da crise para 34. O ‘grande pânico’ – diz [Daniel] Yergin [em The Prize] – induziu uma frenética procura para aumentar as reservas [estoques], levando a uma demanda adicional de 3 milhões de barris que, associada a não produção, fez subir o saldo negativo diário em 5 milhões de barris, isto é, quase 10% dos consumos (Intervenção Comunista, 2004, número16: 4).

O segundo choque petrolífero alcançou dois ápices consecutivos em pouco tempo

devido aos seguintes fatos:

- a “crise dos réfens” através do sequestro de 63 norte-americanos que trabalhavam na

embaixada dos EUA em Teerã;

- a eclosão da guerra entre o Irã e o Iraque em setembro de 1980, que retirou do

mercado 4 milhões de barris diários e elevou os preços para a faixa de 42-45 doláres

por barril.

Como consequência das duas crises petrolíferas, nos primeiros anos da década de

1980 experimentou-se uma redução da centralidade do Oriente Médio, e consequentemente da

Opep, na produção mundial de petróleo, reduzindo, entre 1977 e 1985, de 36% para 18% com

uma diminuição de 12 milhões de barris por dia, e a Opep viu sua participação cair de 50%

para 30% com uma perda de 15 milhões de barris por dia. Essa diminuição das participações

do Oriente Médio e da Opep na produção mundial deve-se ao afastamento da demanda

energética do petróleo concretizado por alguns fatores, tais como:

- aumento da eficiência energética dos motores, automóveis e aparelhos elétricos nos

EUA, Japão e na Europa Ocidental;

- o preço do barril alcançou US$ 35, iniciando um processo de fusões e aquisições na

indústria petrolífera;

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- esse preço apreciado viabilizou a exploração de jazidas de carvão, petróleo e gás que

antes eram consideradas inviáveis economicamente.

Em 1998, a moeda tailandesa Bath e outras moedas dos “Tigres Asiáticos”

entraram em colapso na Indonésia, na Malásia, nas Filipinas e na Coreia do Sul com o

resultado na diminuição da atividade econômica e uma queda brusca do preço do barril de

petróleo com a perspectiva de diminuição da demanda, pois esses países eram grandes

consumidores. Em novembro de 1998, o preço do petróleo cru brent alcança US$ 10,90,

abaixo do ponto de equilíbrio de algumas regiões produtoras do globo.

O Breve Século XX (1914-1991)36 foi marcado pela guerra, e isso contribuiu

enormemente para a ampliação da utilização dos combustíveis fósseis – particularmente o

petróleo – na matriz energética mundial com as duas grandes guerras mundiais. Na segunda

metade do século XX, as guerras migram do espaço europeu para a Ásia e para a principal

região produtora do mundo – o Oriente Médio –, que sofre com guerras sucessivas mais ou

menos a cada 10 anos, embaralhando as cartas políticas e aumentando os custos de produção

para a indústria petrolífera, como segue abaixo:

1) em 1956 ocorre a Guerra do Canal de Suez entre o Egito e as aliadas França e Grã-

Bretanha, que saem derrotadas. O estopim dessa guerra foi a nacionalização desse Canal por

parte do Egito e o seu posterior fechamento para o fluxo de petroleiros em direção à Europa;

2) a “Guerra dos Seis Dias” entre Israel e uma coalização de países árabes explode em 1967,

sendo um desastre para estes últimos e o início da política expansionista do Estado judeu

sobre os territórios da Faixa de Gaza, da Cisjordânia, das Colinas de Golã e da região do

Sinai. No final dessa guerra, o Estado de Israel tem certeza de sua supremacia militar na

região;

3) no início da década de 80, o Iraque, já sob o domínio de Saddam Hussein, invade o Irã

querendo aproveitar-se da “Revolução dos Aiatolás” em 1979 para conquistar ricos campos

de petróleo. A chamada primeira guerra do Golfo Pérsico acontece devido à invasão da região

iraniana de Khuzistão, rica em petróleo, pelo Iraque e dura aproximadamente oito anos, com

saldo de aproximadamente 1 milhão de mortos;

36 Denominação construída pelo historiador Eric Hobsbawm (1995) para denominar o século XX de breve, pois sua duração histórica teria sido de 1914, com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, até 1991, com o colapso da URSS. Descreve, ainda, que esse século “foi marcado pela guerra. Viveu e pensou em termos de guerra mundial, mesmo quando os canhões se calavam e as bombas não explodiam. Sua história e, mais especificamente, a história de sua era inicial de colapso e catástrofe devem começar com a da guerra mundial de 31 anos [Primeira e Segunda Guerras Mundiais]” (HOBSBAWN, 1995: 30).

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4) em 1990, a segunda guerra do Golfo explode como consequência da invasão do Kwait pelo

Iraque e da coalizão de países liderada pelos EUA contra este37. Nesse momento, o objetivo

do Iraque era controlar mais de 30% das reservas petrolíferas mundiais. Particularmente, essa

guerra destrói grande parte da infraestrutura produtora de óleo no Kwait;

5) as guerras não cessam, mesmo com a chegada do novo milênio. Em 2003, ocorre a terceira

guerra do Golfo com a chamada “Política Preventiva” do governo Bush Jr. através da invasão

do Iraque pelos EUA, Grã-Bretanha e outros países. Alguns autores dizem que o objetivo

dessa guerra seria terminar o trabalho de Bush pai na guerra de 1990.

Como consequência dessa terceira guerra do Golfo e do aquecimento da economia

mundial, o preço do barril do petróleo alcançou patamares nunca vistos, ultrapassando US$

140, mas retornando, em 2008/2009 devido à crise financeira mundial, ao valor

historicamente praticado. Espera-se que o preço do barril estacione entre 60 e 80 doláres nos

próximos anos.

Nos últimos 30 anos, com a introdução da energia nuclear, com o aumento do

consumo de carvão e da larga utilização dos recursos hídricos e do gás natural, reduziu-se

drasticamente o uso do petróleo na geração de energia elétrica no mundo. Para a calefação das

residências, o petróleo foi substituído pelo gás natural ou pela energia elétrica, e com o

aumento da eficiência dos processos produtivos, a indústria também diminuiu o seu consumo.

Porém, a natureza tecnológica do motor à combustão dificulta a inserção de outra fonte

energética e atenua a dependência do petróleo através dos seus principais derivados: gasolina

e diesel.

Após a Segunda Guerra Mundial, a demanda energética cresce exponencialmente

com a mecanização das habitações, dos escritórios e do transporte individual. Desde esse

período, as casas transformaram-se em verdadeiras “oficinas”, com diversos aparelhos de

baixo custo (televisores, máquinas de lavar, computadores, lava-louças, geladeiras,

aspiradores de pó, etc.) e, nos países desenvolvidos, quase todas com pelo menos um

automóvel na garagem. Nos países em desenvolvimento com grandes contingentes

populacionais, este último item de consumo torna-se cada vez mais possível para uma parcela

expressiva da população.

A Agência Internacional de Energia (IEA), no World Economic Outlook (2008),

aponta que o pico de produção da indústria petrolífera mundial será em torno de 2030, caso

todos os investimentos necessários ocorram, ou seja, aproximadamente US$ 5,4 trilhões para

alcançar uma produção de 116 milhões de barris diários ante os 86 milhões de hoje. Mesmo 37 Em 1961, o Iraque já havia tentado sem sucesso invadir o Kwait.

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com esse nível de investimentos, há dúvidas que a indústria petrolífera consiga alcançar a

produção de 100 milhões de barris por dia. Apesar de o petróleo nunca ter ultrapassado a

metade da participação no consumo de energia, sem dúvidas essa fonte energética foi

soberana no século XX. A pergunta a ser respondida é se continuará sendo pelo século XXI.

Mesmo com sua notável importância estratégica e geopolítica para as principais

nações desenvolvidas, o petróleo entra numa multiplicidade de relações econômicas e

políticas, mas, embora tenha um valor elevado, seja como prêmio ou carta política, é

enganador atribuir-lhe o papel determinante nas relações internacionais (Intervenção

Comunista, 2005, número 25: 6)38.

2.5. BREVE HISTÓRICO DA INDÚSTRIA PETROLÍFERA NO BRASIL

No Brasil, a história da indústria do petróleo e a da Petrobras confundem-se, por

isso a primeira pode ser dividida entre antes e depois da criação desta empresa em 1953.

Apropriamos a nomenclatura de Farias (2006: 17), que chama o primeiro período

de pré-história do petróleo no Brasil. Ele e outros autores apontam alguns marcos da trajetória

da indústria do petróleo nesse momento:

- em 1858, o Marquês de Olinda assinou o decreto 2.266 concedendo a José de Barros

Pimentel o direito de extrair betume e com ele fazer querosene para utilizar na

iluminação de sua fazenda na Bahia;

- logo após, o belga Auguste Colon tornou-se pioneiro nas pesquisas de campo para

localização de jazidas petrolíferas no Brasil e indicou a localidade de Bofete, no

estado de São Paulo39, como um dos locais promissores para descoberta de petróleo

onde somente foram encontrados dois barris de petróleo;

38 “Aqui está o DNA do nosso método político, que nos levou sempre a recusar a banalização das guerras e das tragédias na área do Oriente Médio como guerras pelo petróleo. Colocamos os recursos energéticos no interior da ‘balança global’ das relações imperialistas e da sua dupla natureza de relações de apropriação e partilha de cotas de capital social mundial – incluída a renda minerária e petrolífera – e de relações de potência, em que o controle do acesso aos recursos – direto, indireto ou potencial – significa condicionamento ou ameaça para as potências rivais e as emergentes, oferta ou pedido de direitos de parceria ou de condomínio, alavanca geopolítica de negociação ou de chantagem. É sob esse duplo aspecto que o petróleo, o gás, o carvão, o átomo são ‘armas econômicas’ e ‘armas politicas’ na dinâmica multipolar do imperialismo” (Intervenção Comunista, dezembro, 2006: 4). 39 “Depois da promulgação da primeira constituição republicana, que dava aos donos de terras a propriedade das riquezas minerais do subsolo, ocorreu a primeira sondagem mais profunda com o objetivo de pesquisar petróleo, realizada no morro do Bofete, onde foi perfurado um poço que chegou à profundidade de 488 metros.

Hoje quando se fala em petróleo, a palavra Bofete pode não significar nada para a maioria das pessoas. Mas Bofete foi o local da perfuração do primeiro poço profundo de petróleo brasileiro, entre os anos de 1892 e 1896. Um rico fazendeiro de Campinas, Eugênio Ferreira de Camargo, realiza seu projeto de exploração de petróleo

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- a primeira notícia de alguma atividade de sondagem no Brasil data de 1891 por uma

companhia inglesa no litoral de Alagoas. Porém, a perfuração desse poço não chegou

ao final e não há registro dos resultados alcançados;

- já no século XX, em 1919, o governo de Epitácio Pessoa cria o Serviço Geológico e

Mineralógico do Brasil, que inicialmente operou dois poços em Garça Torta/Alagoas,

um poço em Cururipe/Bahia e dois poços em Marechal Mallet/Paraná. Esse órgão foi

extinto em 1933;

- na década de 1930, especificamente em 21/01/39, o engenheiro agrônomo Manoel

Inácio Bastos aponta a presença de petróleo em Lobato, Bahia. A sonda 614 alcançou

213 metros de profundidade e jorrou óleo, que causou euforia pela descoberta. Anos

depois, percebeu-se que esse poço não possuía viabilidade comercial e somente serviu

de instrumento de propaganda para o Estado Novo de Vargas;

- dados estatísticos de 1919 a 1933 indicam que o Serviço Geológico do Brasil perfurou

63 poços: 10 no Pará; seis em Alagoas, seis na Bahia; 21 em São Paulo; 12 no Paraná;

seis em Santa Catarina e dois no Rio Grande do Sul. Assim, obteve evidências de

petróleo e gás natural no Pará, Alagoas, Paraná e Santa Catarina, mas nenhuma

acumulação com expressão comercial foi localizada;

- em 1938, surgiu o Conselho Nacional do Petróleo (CNP), que estabeleceu o

abastecimento de petróleo como de ‘utilidade nacional’, atribuindo-lhe o controle

sobre a produção, refino e distribuição;

- em 1939, devido às atividades encomendadas pelo CNP, efetivamente jorra óleo de

um dos poços do campo de Lobato/BA, o poço de número 163, tornando-se a primeira

acumulação comercial do Brasil. Em abril, nos períodos de governo de Getúlio Vargas

(1930-1945 e 1951-1954), ampliaram-se as atribuições do Conselho Nacional do

Petróleo (CNP) com objetivo de organizar, regulamentar e fiscalizar o setor40;

em nossa região. Para dar asas ao seu sonho, Camargo importa uma sonda e uma equipe de técnicos dos EUA para perfurar um poço de 488 metros de profundidade, de onde retira apenas água sulfurosa e dois barris de óleo.

Sua frustração, entretanto, não foi em vão. Daí em diante, o Brasil desperta definitivamente para a busca do petróleo e movimentos são feitos para profissionalizar a atividade. A iniciativa se tornou num dos marcos da exploração petrolífera no país, nos registros da Petrobras, embora pouco se saiba sobre o responsável pela empreitada, o fazendeiro Eugênio Ferreira de Camargo, mas foi o pioneiro na exploração do mineral”.

A cidade localiza-se próxima a Botucatu e a 190km da capital do estado (Prefeitura Municipal de Bofete/SP). 40 “Foram atribuídas ao CNP 7 incumbências: - autorizar, regular e controlar a importação em todo território nacional; - organizar e manter serviço estatístico de todas as operações relativas ao abastecimento nacional do petróleo; - sugerir ao governo medidas necessárias ao barateamento dos hidrocarbonetos fluidos, quer de produção nacional, quer importados; - determinar os subprodutos que, na destilação do petróleo, deveriam ser incluídos no abastecimento nacional; - verificar o consumo e os estoques nas diversas zonas do país, e fixar quotas de importação;

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- em 06 de dezembro de 1951, Vargas apresentou ao Congresso um projeto propondo a

criação da sociedade de ações Petróleo Brasileiro S.A., empresa de economia mista em

que o estado asseguraria 51% das ações;

- em 03 de outubro de 1953 é criada a Petrobras por meio da Lei nº 2.004.

Essa lei instituiu que o estado, por meio da Petrobras, possuísse competência

exclusiva em todos os elos da cadeia produtiva: exploração, produção, importação, refino,

transporte, distribuição e comercialização. Em 10 de maio de 1954 iniciaram as atividades da

Petrobras.

Dados históricos indicam que, até meados da década de 40, o quadro apresentado

era a falta de iniciativa do empresariado nacional, por considerar os custos de investimentos

altíssimos no setor e a forte intervenção estatal dos militares e técnicos do governo do Estado

Novo, que se incumbiam tendenciosamente de uma missão modernizadora do país. Assim, a

forma de atuação do empresariado nacional no setor seguiu as seguintes etapas:

- obter concessão de uma área para exploração junto ao Governo através de favores políticos;

- abrir uma empresa tornando-se capitalista majoritário sem aplicar recursos financeiros

próprios, somente com os direitos de concessão;

- buscar recursos através da entrada de outros acionistas na empresa;

- esgotar os recursos obtidos com a abertura de capital aos novos acionistas; e

- implorar apoio ao governo para continuar nessas atividades exploratórias (Minadeo, 2002).

A Constituição de 1946 aprovou o “Estatuto do Petróleo”, que designava o

subsolo brasileiro aos domínios da União e, por isso, sua exploração dependeria de prévia

autorização governamental. Por outro lado, as empresas de capital internacional puderam

explorar o território nacional desde que se estabelecessem como sociedades organizadas no

país.

O presidente General Dutra (1945-1950) recusou o nacionalismo econômico do

período varguista como princípio básico de política econômica, adotando uma vertente liberal

para a condução da economia brasileira inspirada nas teses do grupo liderado pelo economista

Eugênio Gudin. Nesse governo

passou-se de uma política de desenvolvimento econômico e intervenção estatal na economia para uma política de redução das funções econômicas do poder público e descompromisso com o desenvolvimento econômico em

- estabelecer os estoques mínimos de hidrocarbonetos fluidos a serem mantidos pelos importadores ou refinadores nas diferentes áreas do país; e - propor alteração dos impostos e taxas de qualquer natureza que gravassem o comércio desses produtos, ou a criação de novos impostos” (MINADEO, 2002: 101).

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nome do liberalismo econômico e da democracia representativa (IANNI, 1971: 93).

Em 1947, acirra-se o debate entre o General Juarez Távora41, então subchefe do

Estado-Maior do Exército, e o General Horta Barbosa. O primeiro defendia a aproximação

com as empresas estrangeiras que atuavam na exploração e produção de petróleo em outras

regiões do mundo, acreditando que o país não possuía condições tecnológicas e financeiras

para desenvolver a indústria petrolífera. Por sua vez, o General Horta Barbosa42 encarava a

questão petrolífera como questão de segurança nacional e soberania e, por isso, defendia o

monopólio das atividades petrolíferas para ser executado por uma empresa estatal brasileira a

ser criada. A dedicação e as conferências que ministrava em todo país, particularmente as

conferências em julho de 1947, foram consideradas como estopim da Campanha O Petróleo é

nosso, transformando-se no maior movimento popular até então.

A questão energética no Brasil foi elevada ao patamar de prioridade com o Plano

Salte no governo Dutra, que previa investimentos no período de 1949-1953 para quatro

segmentos econômicos e sociais: saúde, alimentação, transporte e energia. Devido à falta de

coordenação das atividades, foi abandonado em 1952.

Nesse período ocorreram as recomendações da Comissão Abbink43. Em relação

ao petróleo,

41 Militar e político brasileiro. Foi Ministro da Agrigultura do primeiro governo Vargas e candidato à presidência da República pela UDN em 1955, mas foi derrotado por Juscelino Kubitschek. Defendia a posição que ficou conhecida como “entreguista” em relação à exploração de petróleo no Brasil – posição que defendia a associação com empresas estrangeiras, tornando-se o principal líder da corrente que se opunha à criação da Petrobras. 42 O General Júlio Caetano Horta Barbosa foi o primeiro presidente do CNP. Defendia uma posição nacionalista a favor do monopólio do petróleo, pois apontava que os interesses nacionais divergiam dos trustes internacionais. Como em outros países latino-americanos (Argentina, México), uma empresa estatal brasileira teria condições de assumir as operações de exploração e prospecção de novos campos de petróleo. Em 30 de julho de 1943, “o general Horta Barbosa se afastou magoado da presidência do conselho, conforme explicou mais tarde, em conferência realizada no Instituto de Engenharia de São Paulo em 16 de outubro de 1947: ‘A guerra, pareceres de órgãos não especializados, a falta de uma política nacional de energia, a campanha de zombaria contra o órgão oficial, às vezes inconscientemente feita por brasileiros altamente colocados na administração pública, as solertes investidas dos trustes, e, sobretudo, uma opinião pública não preparada impediram que o conselho, até 1943, quando o deixei para ter a honra de comandar a Região Militar de São Paulo, visse realizada a sua ideia [o monopólio de estado]’” (FGV, 2009). 43 A Comissão Mista Brasileiro-Americana, Missão Abbink, constituída em 1948 pelos governos dos EUA e do Brasil. Foram presidentes da comissão: John Abbink e Octavio Gouvêa de Bulhões. Os estudos realizados orientaram-se no sentido de conhecer os principais “pontos de estrangulamento” da economia brasileira. Dentre esses pontos destacaram-se: tendência especulativa; inconveniente ao verdadeiro capital industrial; forte atração da propriedade imobiliária; estado rudimentar de organização do mercado brasileiro de capitais; taxas e tarifas irreais nos serviços de utilidade pública, tais como transportes coletivos, luz e energia elétrica.

Além desses pontos de estrangulamento, apontam-se a seguintes limitações: o excessivo protecionismo alfandegário para favorecer o crescimento da indústria; a política salarial, pelos seus efeitos inflacionários; e o desequilíbrio entre o desenvolvimento agrícola e o da indústria, já que a insuficiente oferta de gêneros alimentícios nas concentrações urbanas exercia efeitos inflacionários (IANNI, 1971: 105-106).

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reconheceu que o Brasil não poderia continuar a depender de importações, pelos seus efeitos na balança de pagamento e devido à importação estratégica da indústria petrolífera. E recomendou que se aproveitasse o capital externo, já que o governo e a iniciativa privada, no Brasil, não poderiam mobilizar os recursos necessários à criação desse setor (IANNI, 1971: 106)

No contexto da Guerra Fria, logo após a Segunda Guerra Mundial e intensa

atuação do General Horta Barbosa, eclodiu a campanha O Petróleo é nosso, que possuía o

objetivo de confrontar-se à participação do capital internacional no setor. Muito dessa ânsia

de contraposição vinha da história da indústria no mundo mover-se por interesse de grandes

empresas tradicionais e de seus respectivos países sedes. Nesse período,

no caso de ‘O petróleo é nosso’, a ideia em jogo, embora imbricada na questão econômica, tinha profundas raízes políticas e se revelava na noção de que era preciso ‘defender’ o país de uma ingerência externa – ou seja, tratava-se de definir quem éramos, a partir do que possuíamos, e também no mesmo movimento, quem eram ‘eles’ (FARIAS, 2003: 15-16).

Essa disputa pelo petróleo aparece como viés de um projeto de desenvolvimento

da nação. Entretanto, havia o dilema de como caminhar em direção à autossuficiência: através

de uma efetiva participação estatal ou com participação do capital privado internacional e,

além disso, em quê grau de participação.

Segundo Farias (2003), a possibilidade de o país se tornar autossuficiente em um

produto que já havia se consolidado como a principal fonte energética das principais

economias capitalistas era uma necessidade não somente econômica, mas também uma

afirmação de sua nacionalidade a partir da ideia de uma nação forte e soberana dos seus

desígnios, condição que passava pela independência energética.

No que tange ao parque de refino nacional, a história começa em 1936, quando

empresários brasileiros, uruguaios e argentinos constituíram a Ipiranga S.A. – Companhia

Brasileira de Petróleos. No ano seguinte, entrou em operação a Refinaria Riograndense de

Petróleo no Rio Grande do Sul e, em 1953, no Rio de Janeiro, a Refinaria de Manguinhos foi

inaugurada.

Em 03 de outubro de 1953, a Petrobras é criada através da Lei nº 2.004 e inicia

suas operações com o acervo recebido do antigo Conselho Nacional do Petróleo (CNP). Nesse

momento, o acervo era composto de campos de petróleo com capacidade para produzir 2.700

barris por dia (bpd); bens da Comissão de Industrialização do Xisto Betuminoso44; Refinaria

44 É uma rocha sedimentar com óleo na sua constituição. Ao aquecê-la, o betume (óleo) se separa e adquire características semelhantes às do petróleo, mas precisa ser fragmentado e refinado como petróleo.

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de Mataripe (BA) processando 5.000 bpd; refinaria em fase de construção e fábrica de

fertilizantes, ambas em Cubatão (SP); vinte navios petroleiros com capacidade para

transportar 221.295 toneladas; reservas recuperáveis de 15 milhões de barris e consumo de

derivados na ordem de 137 mil bpd (Ianni, 1971).

Ianni (1971) aponta que a criação da Petrobras foi importante por diversas razões:

- criou-se uma indústria básica para o funcionamento, a expansão e a diversificação do

sistema econômico brasileiro como um todo;

- devido à importância do petróleo e de seus derivados nas relações entre o subsistema

econômico brasileiro, as empresas e os governos dos países dominantes;

- a criação dessa empresa foi uma manifestação significativa da maneira como funcionava a

tecnoestrutura estatal através da convergência de vários componentes essenciais do sistema

político e econômico brasileiro, tais como: defesa nacional, nacionalismo econômico,

emancipação do país, ideologia desenvolvimentista, crescimento da função econômica do

Estado.

Logo após a criação da Petrobras, o governo Kubitschek (1956-1960) alavanca o

processo desenvolvimentista do país com pelo menos quatro realizações importantes: o

Programa de Metas, a criação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste

(Sudene)45, a Operação Pan-Americana (OPA)46 e a construção de Brasília.

No que tange a este trabalho de pesquisa, o mais relevante é o Plano de Metas. Ele

visava transformar a estrutura econômica do país através da criação de uma indústria de base

forte e da reformulação das condições reais de interdependência com o capitalismo mundial.

Os objetivos mais gerais desse plano foram:

- abolir os pontos de estrangulamento da economia por meio de investimentos em

infraestrutura sob responsabilidade do Estado, pois esses investimentos não atrairiam o setor

privado devido ao volume necessário de recursos e o longo prazo de maturação;

- expandir a indústria de base, a automobilística, a indústria pesada e a de material elétrico

pesado, estimulando investimentos privados nacionais e estrangeiros.

45 A Sudene foi criada no seguinte contexto político, expresso pelo texto: “A crescente pressão demográfica que se constata no Nordeste e a deficiência estrutural de sua economia – que se baseia substancialmente em agricultura de subsistência praticada em maior parte em zonas de solos pobres e sujeitos a secas periódicas – para absorver os novos contingentes demográficos tem suscitado problemas sociais e políticos de suma gravidade, que podem ser sintetizados nos seguintes fatos: a) clima geral de insatisfação; b) criação de ressentimentos em relação a áreas mais desenvolvidas do país; c) aparecimentos de associações camponesas com vistas a resolver o problema imediato de acesso à terra; d) expansão do contingente de desempregados; e e) redução do prestígio do poder público nas camadas maiores da população” (IANNI, 1971: 161). 46 A Operação Pan-Americana teria sido uma manobra político-diplomática destinada a redefinir as relações entre o Brasil e os países da América Latina, por um lado, e as relações entre Brasil e os EUA, por outro (IANNI, 1971: 160).

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Como no Plano Salte, a preocupação com a produção de energia surge no Plano

de Metas de JK como uma das quatro prioridades da economia: energia, transportes,

alimentação e indústria de base. Esse plano obteve sucesso com a eliminação de pontos de

estrangulamento da economia brasileira, com o desenvolvimento acelerado e relativamente

integrado do setor industrial e, principalmente, pelo sucesso político. Mas é inegável que a

instalação da indústria automobilística foi a ação que sobrepujou todas as outras pelo

significado econômico e político.

Em 1961, foi publicado o Relatório Link, estudo realizado pelo geólogo

americano Walter Link na segunda metade dos anos 50, que havia ocupado um cargo na

Standard Oil. Esse trabalho causou grande polêmica, pois era absolutamente pessimista diante

da possibilidade de descoberta de petróleo no Brasil. Vários críticos apontaram que o relatório

era mais político do que científico, pois visava seu futuro proveito pelas empresas

internacionais.

Em 1965, a Petrobras cria seu Centro de Pesquisas – o Cenpes – e o Departamento

de Exploração e Produção – o Dexpro. Esse centro promove um grande salto qualitativo e

quantitativo nas suas atividades em 1992, quando a empresa decidiu investir 1% do seu

faturamento bruto em atividades de desenvolvimento tecnológico. Tratando-se dessa empresa,

os recursos formavam um valor apreciável para aplicação em Pesquisa e Desenvolvimento.

Também nesse ano, os esforços da Petrobras na exploração e produção de petróleo em águas

cada vez mais profundas foram reconhecidos internacionalmente através do prêmio da

Offshore Tecnology Conference (OTC) – sediada em Houston/EUA – como a empresa que

mais contribuiu para o desenvolvimento tecnológico da indústria petrolífera no mar em todo o

mundo.

Ainda em 1961 ocorre a inauguração da Refinaria de Duque de Caxias – Reduc –

e somente em 1968 iniciam-se os trabalhos de levantamento geofísico na Bacia de Campos. A

Bacia do Espírito Santo entrou em produção apenas em 1973, e, um ano depois, com o poço

1-RJS-9-A, a Petrobras descobriu o Campo de Garoupa, o primeiro campo de petróleo na

Bacia de Campos.

Em 1976, a Braspetro, subsidiária internacional da Petrobras, descobre o campo

gigante de Majnoon, no Iraque – considerada a maior descoberta desde os anos 60, com

reservas de 20 bilhões de barris. Por diversos motivos a Petrobras não operou o campo e foi

indenizada em 1979.

Três anos após a descoberta de acúmulo de óleo no Campo de Garoupa e a

superação de alguns desafios tecnológicos em relação à produção marítima, em 13/08/77 entra

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em produção a 124 metros de profundidade o poço 3-EM-1-RJS com vazão superior a 10 mil

barris diários através do Sistema de Produção Antecipada (SPA)47, no Campo de Enchova,

descoberto depois de Garoupa e do Campo de Namorado. Este último foi descoberto logo

depois de Enchova.

A Bacia de Santos entrou em produção comercial em 1981 e contribuiu para que a

produção offshore brasileira superasse a onshore no ano seguinte. Tendência que foi

confirmada e consolidada nos anos subsequentes.

Em 1988, a nova Constituição Federal consagrou no seu Artigo 177 o monopólio

da União para a lavra de jazidas de hidrocarbonetos, para o refino de petróleo tanto nacional

quanto importado, para a importação e exportação de petróleo e seus derivados, bem como

para o transporte marítimo e dutoviários de petróleo e derivados. Esse artigo não modificou a

Lei nº 2.004/53, que permanece como instrumento regulatório do setor e consolida a Petrobras

como única empresa executora desse monopólio.

Entre 1954 e 1994, esse monopólio prossibilitou que a Petrobras investisse

aproximadamente US$ 85 bilhões nas atividades de exploração, produção, transporte e refino

de petróleo e derivados no país, dos quais cerca de US$ 74 bilhões foram realizados com

recursos próprios e somente US$ 600 milhões através da inversão direta de recursos oriundos

do orçamento da União.

Em 09/11/95, já no primeiro governo Fernando Henrique Cardoso, o Congresso

Nacional aprovou a quebra do monopólio do petróleo através de sanção da Emenda

Constitucional nº 9. Essa emenda manteve o monopólio da União sobre a exploração e

produção de hidrocarbonetos, mas, por outro lado, permitiu que outras empresas públicas ou

privadas, nacionais ou estrangeiras, além da Petrobras, executassem esse monopólio sob

concessão da União.

Dois anos depois, no dia 06/08/97, o governo regulamentou a Emenda

Constitucional instituindo a Lei do Petróleo (Lei nº 9.478), que passou a ser o marco

regulatório para o setor ao substituir a Lei nº 2.004/53. Criaram-se a Agência Nacional de

Petróleo (ANP)48, encarregada de normatizar, contratar e fiscalizar as atividades do setor, e o

47 “O Sistema de Produção Antecipada (SPA) representou para a Petrobras o primeiro marco tecnológico da produção de petróleo em mar, num trabalho em direção a águas cada vez mais profundas. Ao tornar possível o início da produção de óleo enquanto eram construídas as plataformas fixas, que depois seriam instaladas constituindo os sistemas definitivos, o SPA representou grande agilidade, flexibilidade operacional e economia para as operações no mar, já que reduziu o tempo gasto entre a descoberta de petróleo e o início da produção comercial” (O Debate, 13/08/07: 17). 48 Hoje chamada de Agência Nacional do Petróleo e Biocombustíveis (ANP).

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Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), que tornou-se o órgão formulador de

políticas públicas de energia para todo o território nacional.

Em 1996, foi assinado um contrato de compra e venda de gás natural entre a

estatal boliviana YPFB e a Petrobras. Em julho de 1999, começou a operar o Gasbol –

gasoduto Brasil-Bolívia – entre Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, e Campinas/SP, com

1.900km de extensão para abastecimento do parque industrial paulista e do Sul do Brasil, com

vistas à diminuição do custo de produção e do risco de colapso energético, já que há tempos

os investimentos na área energética estavam praticamente contingenciados em virtude da

política econômica em vigor. Esse projeto foi considerado a mais importante ação de

integração entre os países andinos e os países do Mercosul. Esse trecho foi inaugurado em

09/02/99, tornando-se fundamental para suprir o aumento da demanda de gás natural

proveniente dos novos projetos industriais do país, principalmente do Sudeste, de modo a

torná-los mais competitivos através do menor custo da energia.

Em 1999 acontece a Rodada Zero da ANP, que promove o leilão para concessão

de blocos exploratórios nas bacias sedimentares brasileiras, permitindo o ingresso de

companhias privadas nacionais e estrangeiras para atuarem na exploração e produção de

petróleo. A organização de uma Rodada de Licitações inclui as seguintes etapas (ANP, 2009):

- definição de quais blocos serão licitados;

- divulgação da rodada de licitação no Brasil e nas principais áreas produtoras do mundo;

- publicação do pré-edital e da minuta do contrato de concessão;

- realização de audiência pública;

- recolhimento das taxas de participação e das garantias de oferta;

- disponibilização do pacote de dados sísmicos;

- seminário técnico-ambiental sobre a legislação pertinente às áreas a serem licitadas;

- seminário jurídico-fiscal também sobre a legislação e o conteúdo nacional dos projetos;

- publicação do edital e do contrato de concessão;

- abertura do prazo para a habilitação das empresas concorrentes;

- realização do leilão para apresentação das ofertas;

- assinatura dos contratos de concessão.

No ano seguinte, a Bacia de Campos, em franca expansão de suas atividades,

atinge a marca histórica de produção de 1 milhão de barris de petróleo por dia. Também nesse

ano, em 25/01/99, a Petrobras bate o recorde mundial de produção de petróleo em águas

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68

profundas no Campo de Roncador, localizado na Bacia de Campos, ao produzir petróleo a

1.853 metros de profundidade em lâmina d´água49.

As rodadas de licitações de blocos exploratórios no Brasil sempre atraíram

diversas empresas estrangeiras tradicionais no setor, que enxergaram uma oportunidade ímpar

de valorização do capital em um país que apresenta baixos riscos políticos e enorme potencial

de produção, como confirmado principalmente pelas bacias de Campos, Espírito Santo e

Santos. Já na Rodada Zero, atraiu os principais players internacionais do setor: El Paso,

Texaco, Shell, TotalFinaElf, Amerada Hess, Unocal, Respsol, Esso, British Petroleum,

Devon, Tecpetrol, Kerr-McGee, Agip, Sipetrol e Perez Companc. Do ponto de vista do

grande capital nacional, algumas empresas tradicionais do setor de construção pesada

vislumbraram boas oportunidades de negócios no setor, como a Queiroz Galvão, que logo na

primeira rodada arrematou alguns blocos. A Tabela 5 mostra um resumo das oito primeiras

rodadas de licitações de blocos para exploração e produção de petróleo e gás na Bacia de

Campos:

TABELA 5

RODADAS DE LICITAÇÕES DE BLOCOS EXPLORATÓRIOS

BACIA DE CAMPOS RODADA MÊS BACIAS BLOCOS EMPRESAS BLOCOS EMPRESAS

0 Agosto/98 23 125 17 26 Petrobras + 6

1 Junho/99 6 12 22 4 Petrobras + 8

2 Junho/00 8 21 27 3 Petrobras + 123 Junho/01 10 33 22 4 Petrobras + 6 4 Junho/02 9 21 14 2 Petrobras + 2 5 Agosto/03 8 101 6 19 Petrobras 6 Agosto/04 12 154 19 5 Petrobras + 5 7 Outubro/05 5 246 28 6 Petrobras + 4 8 Outubro/06 2 28 20 - - 9 Outubro/07 Embargada judicialmente 10 Dezembro/08 7 130 17 - -

Fonte: IBP (2009).

Desde o início das rodadas de licitação até a última rodada (10ª) em dezembro de

2008 foram ofertados 871 blocos exploratórios no mar e em terra para empresas nacionais e 49 A Petrobras possui outros recordes na atividade de exploração e produção no mar: ancoragem de plataforma a 1.420 metros, instalação de monoboia a 903 metros, operação de dutos submarinos a 886 metros, perfuração de poços horizontais a 903 metros, poço produtor com maior lâmina d´água do mundo – o RO-21 – no Campo de

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69

estrangeiras. A Petrobras é a empresa que detém o maior número de blocos exploratórios, mas

é crescente o número de empresas nacionais e internacionais que aportam no país para investir

no setor de exploração e produção. Grandes empresas nacionais também ingressaram nesse

mercado, por exemplo, na atividade offshore houve a entrada de empresas nacionais

tradicionais no setor de construção civil e pesada (Queiroz Galvão e Odebrecht), e na

atividade onshore surgiram diversas empresas de menor porte, principalmente em busca de

oportunidades nos campos marginais que demandam menor volume de recursos para

investimento.

Por questões jurídicas, a 9ª rodada de licitações não foi concluída devido à

retirada pouco antes da data marcada da licitação de novos blocos importantes da chamada

camada do Pré-sal na Bacia de Santos. O objetivo da ANP com a retirada desses blocos foi a

construção de um novo marco regulatório para as atividades nessa região devido ao alto grau

de sucesso nas descobertas de campos gigantes, como os de Tupi, Iara, Carioca, etc. Porém, a

10ª rodada de licitação foi realizada em 18 de dezembro de 2008 com a oferta de 130 blocos e

o arremate de somente 54, pois todos estão localizados em bacias terrestres com a intenção de

atrair empresas de pequeno e médio porte ao setor e, assim, impulsionar o desenvolvimento

dessas áreas, estimulando a interiorização geográfica dos investimentos da indústria de

petróleo e gás natural. Quarenta empresas foram habilitadas para participar (23 nacionais) e

somente 17 foram vencedoras no arremate dos blocos – 11 brasileiras e seis estrangeiras – nas

sete bacias oferecidas. Foram 54 blocos arrematados com uma movimentação de R$ 700

milhões, sendo R$ 89,9 milhões em arrecadação de bônus de assinaturas e R$ 611 milhões em

investimentos mínimos previstos para a exploração. Assim, até a 10ª rodada, 77 grupos

econômicos operadores (sendo 40 nacionais) decidiram investir na atividade de exploração e

produção offshore e onshore no Brasil. A assinatura dos respectivos contratos de concessão

das áreas arrematadas nessa última rodada está prevista para 30 de junho de 2009.

Na Bacia de Campos foram licitados 69 blocos exploratórios até a 7ª rodada, pois

outras áreas dela foram excluídas das últimas três rodadas (8ª, 9ª e 10ª). Nessa bacia

prevalecem os grandes players mundiais, pois a atividade offshore em águas profundas e

ultraprofundas exige grande volume de recursos para investimentos e desenvolvimento

tecnológico que são divididos entre as empresas através da estruturação de consórcios de

empresas que operam os campos. Apenas 28 empresas se aventuraram no mar da Bacia de

Campos entre os litorais dos estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo: Petrobras, El Paso,

Roncador a 1.886 metros, poço exploratório perfurado no Brasil a 2.777 metros de profundidade de lâmina d´água.

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70

Texaco, Queiroz Galvão, Shell, TotalFinaElf, Amerada Hess, Unocal, Repsol YFP, Devon

Energy, Kerr-McGee, Agip, Mobil, British Borneo, Enterprise Oil, Pan Canadian, Petrogal,

Chevron, Philips, Santa Fé, SK, Odebrecht, Maersk, Wintershall, Ocean Energy, Statoil, BHP

Billinton e EnCana.

Atualmente, a carteira de empresas da Petrobras é composta por 151 empresas

controladas, 62 controladas em conjunto com outras empresas e 35 empresas coligadas,

totalizando 248 empresas. Além disso, possui participação em 21 Sociedades de Propósitos

Específicos (SPEs)50 e uma empresa em processo de liquidação (vide Anexo V). Esse

organograma evidencia a grandiosidade da Petrobras em termos de negócios, bem como seu

estágio atual de internacionalização51.

O Mercosul apresenta um cenário favorável ao desenvolvimento da indústria

petrolífera. Apesar de suas tradicionais fragilidades econômicas, políticas e sociais, o bloco

encontra-se bastante confortável em relação à matriz energética derivada dos combustíveis

fósseis com reservas substanciais de petróleo no Brasil e de gás natural na Bolívia. Além

disso, há uma perspectiva de crescimento das atividades exploratórias no Uruguai e na

Argentina na foz do Rio Prata. Enquanto na maioria dos países desenvolvidos há dependência

crescente das importações, os países do Mercosul promovem um aumento favorável da

relação reservas/consumo com novas descobertas.

50 “Cabe esclarecer que a Petrobras não tem participação acionária em Sociedades de Propósito Específico – SPE –, razão pela qual as mesmas não integram o Sistema. Entretanto, como suas atividades operacionais são controladas direta ou indiretamente pela Petrobras, fazem parte das demonstrações contábeis consolidadas em Br e US GAAP, conforme determinam, respectivamente, a instrução CVM nº 408 e a interpretação FIN 46 do Fasb” (Petrobras, 12/10/08). 51 Com objetivo de aproveitar essa grande inserção internacional da Petrobras, o Sebrae e a Onip lançaram um Programa de Internacionalização de Micro e Pequenas Empresas com objetivo de utilizar a petroleira como âncora nos países latino-americanos e africanos em que possui operação.

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71

FIGURA 2

RESERVAS PROVADAS X RESERVAS TOTAIS – BRASIL

-

5.000,0

10.000,0

15.000,0

20.000,0

25.000,019

93

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

Reservas Provadas de PetróleoReservas Totais de Petróleo

Fonte: IBP (2009).

As reservas brasileiras passaram de 6,2 bilhões de barris em 1995 para 12,638

bilhões em 2008, ainda sem contabilizar as reservas do Pré-sal. Nos últimos anos, as reservas

totais obtiveram um crescimento mais do que proporcional às reservas provadas, trazendo

perspectivas de produção para longo período. A Argentina possui reservas de

aproximadamente 2,6 bilhões de barris e 764 bilhões de metros cúbicos de gás. Em 2004, sua

produção atingiu 193 mil barris boe por dia com atuação de duas grandes empresas âncoras do

setor: a Petrobras e a espanhola Repsol YPF. Paraguai e Uruguai não possuem grandes

reservas de petróleo e gás natural, apesar de o atual governo uruguaio ter aberto uma licitação

de exploração.

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TABELA 6

RESERVAS PROVADAS DE PETRÓLEO (1995-2007) – BILHÕES DE BARRIS

PAÍSES 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Argentina 2,4

2,6

2,6

2,8

3,1

3,0

2,9

2,8

2,7

2,5

2,2

2,6

2,6

Brasil 6,2

6,7

7,1

7,4

8,2

8,5

8,5

9,8

10,6

11,2

11,8

12,2

12,6

Colômbia 3,0

2,8

2,6

2,5

2,3

2,0

1,8

1,6

1,5

1,5

1,5

1,5

1,5

Equador 3,4

3,5

3,7

4,1

4,4

4,6

4,6

5,1

5,1

5,1

4,9

4,5

4,3

Peru 0,7

0,8

0,8

0,9

0,9

0,9

1,0

1,0

0,9

1,1

1,1

1,1

1,1

Trinidad e Tobago

0,6

0,7

0,5

0,7

0,8

0,9

1,0

1,1

0,9

0,8

0,8

0,8

0,8

Venezuela 66,3

72,7

74,9

76,1

76,8

76,8

77,7

77,3

77,2

79,7

80,0

87,0

87,0

Outros 1,1

1,1

1,1

1,1

1,3

1,3

1,4

1,4

1,3

1,3

1,3

1,3

1,3

Fonte: IBP (2009).

A produção argentina é quase o dobro de suas necessidades atuais de consumo,

apesar de elas terem diminuído nos últimos 10 anos de 758 mil barris diários em 1995 para

698 mil em 2007. O Brasil, apesar de incrementar fortemente sua produção, ainda é

importador de petróleo leve para misturar ao petróleo pesado da Bacia de Campos, mas há

cenário de redução constante da quantidade importada. O Uruguai e o Paraguai somente

possuem atividades de refino e distribuição, que comportam plenamente o consumo diário de

50 mil e 22 mil barris de petróleo respectivamente. O grande destaque do continente é a

Venezuela por ser o nono maior produtor mundial e possuir a sexta maior reserva provada do

planeta.

Particularmente no Brasil, a indústria petrolífera ainda possui muito espaço para

seu desenvolvimento, principalmente no que tange ao conhecimento dos subsolos terrestre e

marinho das suas 29 bacias sedimentares. Essas bacias correspondem a 7,22 milhões de km²,

sendo a maior parte terrestre, isto é, 4,65 milhões km² e os restantes 2,57 milhões de km² no

Atlântico. Apenas oito delas são produtoras de petróleo e gás natural hoje.

A maior bacia produtora no Brasil, a Bacia de Campos, possui reservas provadas

de 11,392 bilhões de barris de petróleo e 162,796 bilhões de m³ de gás natural, sendo 10,215

bilhões de barris de petróleo (80,83%) e 144,833 bilhões de m³ de gás natural (43,66%) no

litoral do estado do Rio de Janeiro. O restante fica localizado na porção norte dessa bacia no

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litoral do estado do Espírito Santo. Segundo a metodologia de definição das reservas totais, a

BC possui 17,604 bilhões de barris de petróleo e 257,075 bilhões de m³ de gás natural, e dessa

quantidade o litoral do ERJ possui aproximadamente 15,5 bilhões de barris de petróleo e 216

bilhões de m³ de gás natural52. Como ainda há 19 campos em fase de desenvolvimento da

produção (Tabela 23) e 36 blocos exploratórios (Tabela 22) na BC, o seu potencial de

produção e de agregação de reservas ainda é crescente.

Enquanto nos principais países do sistema capitalista há uma necessidade

crescente de importações de petróleo e gás natural para suprir suas próprias necessidades, o

Mercosul e, principalmente o Brasil caminham para o aumento constante de suas reservas

com as novas fronteiras exploratórias no Oceano Atlântico. Assim, percebe-se que esse setor

constitui-se como peça fundamental para a indústria nacional desses países e apresenta

importância estratégica na dinâmica econômica dos países que compõem esse bloco, pois o

desenvolvimento dessa indústria exigirá pesados investimentos em equipamentos de

exploração, produção, transporte e refino, transformando diversos territórios através do

desenvolvimento de forças produtivas em busca da valorização do capital.

No que tange ao desenvolvimento das forças produtivas, a região compreendida

entre a cidade de Santos/SP – com o desenvolvimento das operações na bacia sedimentar de

mesmo nome – e a cidade de Vitória/ES – com a base das operações da Bacia do Espírito

Santo – será o principal palco de concretização dos investimentos e das atividades dessa

indústria no País, constituindo um eixo de investimentos que transpassará todo o litoral do

estado do Rio de Janeiro, como veremos no capítulo seguinte.

52 No litoral do ERJ ainda há reservas totais na Bacia de Santos de 195,39 milhões de barris de petróleo e 24,716 milhões de m³m³ de gás natural.

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74

CAPÍTULO 3

A CRISE E A RETOMADA DO CRESCIMENTO ECONÔMICO

DO RIO DE JANEIRO (1960-2005)

3.1. “RIO DE TODAS AS CRISES”53

Desde 1995, o estado do Rio de Janeiro (ERJ) apresenta o início de um importante

processo de inflexão econômica positiva, ou seja, a reversão de um processo de esvaziamento

econômico que há décadas (principalmente no período 1980-95) persistia em afetar a

economia carioca e fluminense. Segundo Urani (2008), essa reversão pode ser exemplificada

no mercado de trabalho quando somente de 2005 a 2008 foram criados mais de 200 mil

empregos, contribuindo para uma diminuição da taxa de desemprego e para os aumentos das

rendas média do trabalhador principal da família e domiciliar per capita.

Esse esvaziamento econômico contribuiu para a contração do PIB estadual em

15% entre 1989 e 1992, sendo que em 1996 ainda não havia recuperado o nível absoluto de

1989 (LESSA, 2005: 14), e afetou todo o território do ERJ, mas, devido ao peso da economia

da capital e da RMRJ na economia desse estado, seus efeitos tornaram-se mais agudos na

metrópole carioca.

Segundo alguns autores, como Dain (1990) e Natal (2004), o estado do Rio de

Janeiro apresenta algumas características bastante peculiares na sua formação histórico-social

que são fundamentais para aprofundar a compreensão dessa crise. Dentre eles, destaca-se o

fato de o Rio de Janeiro ter sido, por algum tempo, a província mais importante do Brasil

Colônia, além de ter sido a capital do Império e continuado como capital da República,

somando aproximadamente 200 anos (1763-1960).

Desde o período colonial, a cidade se conformou como um entreposto mercantil,

desempenhando uma importante função geoeconômica e geopolítica específica, pois foi

considerada, desde cedo, o melhor local militar para o estabelecimento das atividades

portuguesas com

a Baía de Guanabara foi [sendo] o excepcional lugar militar na costa atlântica da América Portuguesa: perfeito para fundar uma feitoria mercantil [...] o Rio detinha uma posição geográfica privilegiada para acessar o ‘monte de prata’ da coroa espanhola, o Potosí; por sua porta traseira, o estuário do

53 Título do Seminário “Rio de Todas as Crises”, realizado nos dias 16 e 17 de agosto de 1990 sob a responsabilidade do IUPERJ/Universidade Candido Mendes e com apoio do Ibam.

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75

Rio da Prata [...] permitiu a primeira função geoeconômica e geopolítica: praça de fornecimento de escravos e contrabando para as minas peru-bolivianas, e local e vigilância e suporte da presença portuguesa no Sul (LESSA, 2005: 19-20).

A função militar do Rio de Janeiro foi desde cedo uma marca do seu

desenvolvimento com a configuração de um cofre-forte militar-naval (LESSA, 2005: 22). A

disputa de hegemonia com o Império espanhol e as excelentes características da Baía de

Guanabara54 propiciaram que se conformasse como fortificação militar, porto e principal eixo

da logística nacional e consolidada como centro de articulação nacional do ponto de vista

político, cultural, econômico e social desde a chegada da Família Real [1808] (OSORIO,

2005: 19).

Ainda no período colonial, o Rio de Janeiro possuía duas rotas comerciais

importantes para o comércio luso da época. Uma ligava o Rio diretamente à Ásia, à Europa e

à África; e a outra, voltada para o Sul, ligava o Rio ao estuário do Rio da Prata com objetivo

de suprir um fluxo intenso de escravos para reposição dos contingentes que trabalhavam nas

minas de prata de Potosí, na Bolívia. Esse contingente exigia uma reposição numerosa e

rápida, pois a vida de um escravo nas minas durava em média 10 meses devido à altitude, à

insalubridade e aos gases que emanavam das escavações. Apesar de modesta

demograficamente, a cidade foi se consolidando como entreposto colonial importante no

Atlântico55, principalmente pela sua ligação com o tráfico de escravos.

Do ponto de vista político, o Rio já era sede definitiva do Vice-Reinado desde

1763, dando início ao que Lessa (2005) chama de capitalidade. O aprofundamento dessa

característica de capitalidade dar-se-á com a chegada e a instalação de D. João VI, da Família

Real e da Corte Portuguesa, com aproximadamente 15 mil pessoas, na cidade em 1808. Em

1815, o Brasil é elevado à categoria de Reino Unido, e nesse período joanino estabelecem-se

os signos e símbolos dessa característica. A formalização do Município Neutro em

12/08/1834 marca definitivamente o Rio como “cidade/capital do Brasil”, dando maior

54 “A Baía de Guanabara guardava excelentes características estratégicas para a tecnologia militar da época [colonial]: fortificações e observatórios naturais em seus morros. Foi perfeita para a atividade de construção de embarcações e operação naútica. Sua barra de entrada estreita e profunda favoreceu a observação, a instalação de fogos de artilharia, além da renovação das águas da própria baía. Possui uma frente, por sua barra e costões, protegida do oceano e protetora da cidade, além de costas defendidas pelo quaternário, cujo sistema de morros erodidos criou lagoas e pantânos por todos os lados” (LESSA, 2005: 22-23). 55 “No século XVIII, entrou, de 1736 a 1810 pelo porto do Rio de Janeiro, a multidão de 580 mil escravos. Embora a cidade, pelos idos de 1730, tivesse apenas cerca de 30 mil habitantes” (LESSA, 2005: 44).

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76

significado à capitalidade, do qual é impossível compreender esse território sem compreender

esse significado para a cidade56.

A chegada da Família Real e seus mais de 15 mil acompanhantes provocou um

grande impacto demográfico, pois a cidade possuía aproximadamente entre 43 mil e 50 mil

habitantes. Houve um grande incremento nos gastos públicos, na renda, no emprego, na

diversificação e na intensidade da atividade econômica como um todo e nos costumes. Lessa

(2005: 85) aponta que o período joanino alavancou decisivamente o desenvolvimento do Rio.

Foi inegável o choque expansionista a partir de 1808, com a chegada da Corte. Este Rio foi

uma Brasília ‘avant la lettre’. Assim, o Rio incorporou a função de epicentro econômico e

político do Império.

A característica de capitalidade da cidade do Rio de Janeiro é fundamental para a

compreensão do modus operandi da inserção dessa cidade e do estado do Rio de Janeiro na

economia nacional. Como exposto anteriormente, a partir de 1763, quando o Brasil ainda era

um Vice-Reinado, o Rio foi designado como sede definitiva do poder. Aproximadamente 50

anos depois, a cidade torna-se a sede de todo o decadente Império Português, sendo que, em

12 de agosto de 1834, essa capitalidade se consolida com a criação do Município Neutro, ou

seja, inicia aqui a separação da cidade do Rio de Janeiro do restante da província fluminense.

Essa separação somente foi extinta em 1975 com a fusão do estado da Guanabara com o

antigo estado do Rio de Janeiro, como veremos mais à frente. Como capital do Vice-Reinado,

do Império Português e da nascente República, a cidade desenvolve traços peculiares que se

enraizaram definitivamente nas suas características sociais, espaciais e econômicas.

Na segunda metade do século XVIII, após servir como polo de intermediação

comercial com o Rio da Prata, com a abertura do Caminho Novo (Ouro Preto a Magé) e a

efusão dos metais e das pedras preciosas nas Minas Gerais, o Rio de Janeiro torna-se ponto de

controle das finanças da Coroa e suporte logístico de abastecimento pela costa da saga dos

mineiros. Dessa forma, foi consolidando-se a importância estratégica mercantil da cidade.

56 O processo de transformação do Rio de Janeiro em “viés centralizador da organização institucional da capital [...] apresenta uma momento extremamente importante, na separação da capital da província fluminense, com a criação do Município Neutro em 1834, e o entendimento de que a capital deveria manter-se politicamente neutralizada [...] O processo de criação do Município Neutro e a transformação de seu nome para Distrito Federal são apresentados por Herculano Mathias da seguinte forma: ‘Após a abdicação de D.Pedro I, em 1º de abril de 1831, foi votada uma lei, em 12 de agosto de 1834 (período das regências), com o nome de Ato Adicional. O Ato ordenou que fossem separados da província a cidade do Rio de Janeiro e terras mais próximas. Criou-se, então, o Município Neutro’. Em 15 de novembro de 1889, com a Proclamação da República, o Município Neutro, onde estava localizada a cidade do Rio de Janeiro, teve seu nome mudado para Distrito Federal, mantendo-se separado da Velha Província” (OSORIO, 2005: 82). Esse ato marca a separação da cidade do Rio de Janeiro da Província Fluminense.

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77

Criou-se uma economia urbana diversificada, entrentanto, não se construiram

articulações sólidas com o restante da economia regional. Nessa cidade concentraram-se as

atividades de abrangência nacional, como bancos, seguros, prestação de serviços, comércio

atacadista e alguma indústria voltada para o mercado interno, etc. O interior da província

fluminense não acompanhou o desenvolvimento da capitalidade com a constituição de

núcleos comerciais diversificados, pois a pioneira cafeicultura fluminense, que era importante

atividade econômica para a capital e alguns lugares do interior nos séculos XVIII e XIX,

gerou somente lugares sem dinamismo econômico após sua “morte”, tornando o interior

fluminense um grande vazio econômico e demográfico – ao contrário da cafeicultura paulista.

Na crise enfrentada pelo ERJ nas últimas décadas do século XX, o grande vazio demográfico

e o fraco dinamismo econômico do interior foram cruciais para seu aprofundamento.

Na segunda metade do século XIX, o Rio de Janeiro configura-se como centro

dinâmico do Império, sendo o principal porto exportador e polo distribuidor de mercadorias

importadas. Desde 1850, a população aumentava significativamente com a importação de

escravos do Nordeste e a chegada de imigrantes estrangeiros. A cidade cresce de 137 mil

habitantes em 1838 para 235 mil em 1870, 522 mil em 1890 e 811 mil em 1906 (Pechman,

1992). Esse rápido crescimento deu-se sobre uma core area57 com estrutura urbana herdada

dos tempos coloniais e que não se estendia além do Campo do Santana58, no Centro da cidade

do Rio de Janeiro.

Já neste período, mostrava-se inadequada para ser porta de entrada dos cânones da

Modernidade no país, pois a estrutura urbana, as condições sanitárias e de transporte coletivo

eram deficitárias e levavam a uma rápida deterioração das condições de vida da população.

Devido a essa precária infraestrutura existente e como o perfil da fração da classe dominante

que chegava ao poder fazendo negócios com o café era nitidamente urbano, esta enxergava a

cidade como um empecilho ao crescimento de suas atividades econômicas. Assim, era

necessário, no imaginário da burguesia cafeeira, construir-se uma nova cidade, à imagem e

semelhança da imagem que esta classe fazia de si mesma (PECHMAN, 1992: 80). Era

necessário permitir que a Modernidade chegasse primeiro no Rio de Janeiro para depois

57 “Core area é a célula a partir da qual o estado ter-se-ia desenvolvido. A core area nem sempre existe [...] Pode-se dizer que as capitais são pontos chave e as core areas são regiões chave [...] os negros americanos possuem core areas no Estado americano: são os corações de muitas cidades, de onde partem ações políticas, reivindicações, revoltas, etc. ” (RAFFESTIN, 1993: 25-26). 58 Nos tempos coloniais, era um grande pântano quando começaram os primeiros aterramentos. O “Campo da Cidade” ou “Campo de São Domingos”, como também era conhecido, tornou-se no marco divisório entre a cidade e a sua zona rural. Até hoje separa o Centro (“cidade velha”) do bairro Cidada Nova.

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invadir o restante do país. Na verdade, eram necessárias mudanças que permitissem a

expansão das relações sociais capitalistas no seio da sociedade carioca.

Entretanto, já no último quarto do século XIX, percebe-se alguns elementos que

contribuiriam para um crescimento econômico menor em relação à cidade São Paulo.

Enquanto a cafeicultura fluminense experimentava sua extinção quase total nas imediações da

capital do Império e sua migração em direção ao Vale do Paraíba, o estabelecimento de

relações sociais de produção verdadeiramente capitalistas (trabalho assalariado),

originariamente na cafeicultura com a “nova” relação assalariada que se estabelecia com os

imigrantes, trazia consigo todos os seus entrelaçamentos sociais e econômicos, como a

acumulação de capital originária nessa atividade que propiciou a possibilidade de

alavancagem da atividade industrial urbana. Na primeira metade do século XX59,

particularmente em

1939 a economia da região fluminense ainda detinha 22% da produção industrial nacional, a do Estado de São Paulo já alcançava quase 46%. Foi assim que de principal centro industrial do país nos anos 20, a região fluminense em meados de duas décadas passou à condição de segundo lugar, mas distanciando-se crescentemente de São Paulo (NATAL, 2005: 30).

Apesar de o Rio de Janeiro possuir até o primeiro quarto do século XX o mais

importante parque fabril do País, isso não foi suficiente para gerar uma integração que

promovesse um processo de industrialização, o que certamente acarretou uma perda de

hegemonia industrial progressiva. Desde a Primeira Guerra Mundial, São Paulo assume a

liderança da produção industrial e, consequentemente, da dinâmica econômica. Nesse

momento, o Rio concentra serviços sofisticados – o banco, o seguro, o mercado de valores, o

comércio atacadista, a advocacia administrativa de alto nível e, posteriormente, as sedes de

grandes empresas estatais (LESSA, 2005: 273) – e alimenta-se de crescentes injeções de

capitais a partir da elevação do gasto público. Nesse sentido, a capitalidade proporcionou as

condições necessárias para a alavancagem do desenvolvimento regional.

Como pode-se ver na Tabela 7, em 1907, o antigo Distrito Federal (atual

município do Rio de Janeiro) possuía 652 estabelecimentos da indústria manufatureira e

35.104 operários ligados a essa indústria. Em São Paulo, havia 314 e 22.355 respectivamente.

59 “A tese que [alguns economistas do antigo Departamento de Economia e Planejamento Econômico da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)] propugnaram foi a seguinte: as condições para o nascimento da industrialização brasileira teriam sido gestadas ao final do século retrasado no âmbito da chamada economia cafeeira paulista. De outra maneira: nessa estrutura socioeconômica, nucleada pela atividade cafeeira, teriam sido criadas as condições propícias para o ‘nascimento’ da indústria, ainda que de início incipiente, e para a viabilização, no tempo do desenvolvimento de um processo que se poderia com rigor denominar industrialização [no sentido marxiano do termo]” (NATAL, 2005: 33).

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Já em 1920, São Paulo supera o antigo Distrito Federal (DF) com 4.145 estabelecimentos e

83.998 operários, ou seja, um aumento de 1.320% diante do aumento de 236% em número de

estabelecimentos da indústria manufatureira no antigo Distrito Federal. Salienta-se, ainda,

que, dos estados selecionados nessa tabela, somente Minas Gerais apresentou um aumento

equivalente ao do antigo DF (235%). Os outros estados apresentaram uma performance

relativa bem melhor do que essas duas unidades da Federação: Rio Grande do Sul (564%),

antiga província fluminense (360%), Bahia (701%) e Pernambuco (613%).

TABELA 7

INDÚSTRIA MANUFATUREIRA – ESTADOS SELECIONADOS (1907-1920)

1907 1920

Estados Estabelecimentos

Valor da produção (mil contos)

Nº de operários

Estabelecimentos

Valor da produção (mil contos)

Nº de operários

Aumento no Nº de

estabelecimentos (%)

Distrito Federal

652 222 35.104 1.541 666 56.229 236

São Paulo 314 111 22.355 4.145 986 83.998 1.320 Minas Gerais 528 32 9.307 1.243 172 18.522 235 Rio Grande do Sul

314 100 15.426 1.773 354 24.661 564

Rio de Janeiro (província)

126 45 11.900 454 184 16.794 360

Bahia 70 22 8.753 491 72 14.784 701 Pernambuco 72 27 7.155 442 136 15.761 613 Fonte: Recenseamento do Brasil, 1920 (apud TAVARES, 2000).

Já nos anos 20, a indústria do Rio de Janeiro passa a sofrer forte concorrência da

indústria paulista através do aumento da produção de alimentos e do crescimento do parque

fabril de tecelagem, impacto que se aprofundará na década de 1950 com o processo de

industrialização através da lógica de substituição de importações de bens de consumo

duráveis (Tavares, 2000).

Nas décadas de 40 e 50, havia uma tendência à contraposição à hegemonia

econômica paulista no governo federal que concretizou-se através do estabelecimento de

diversos investimentos federais no ERJ, como a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a

Fábrica Nacional de Motores (FNM), a Companhia Nacional de Álcalis (CNA) e a Refinaria

de Duque de Caxias (Reduc)60. Nesse período, as maiores empresas estatais foram instaladas

no Rio de Janeiro e em Minas Gerais com objetivo de organizar um espaço de

“complementariedades industriais” através do fornecimento de matéria-prima de origem

60 A CSN e a CNA foram privatizadas em 02 de abril de 1993 e 15 de julho de 1992 respectivamente.

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mineral por Minas Gerais e da transformação dessa matéria-prima em insumos básicos pelo

Rio de Janeiro (metalúrgica pesada e química de base) para a produção de bens finais por São

Paulo. Provavelmente, esses investimentos e a postergação da sobrevivência do Rio de

Janeiro como capital federal possibilitaram uma diminuição da visibilidade de sua crise que já

se anunciava pela desaceleração industrial vigente até então.

Apesar da instalação de importantes investimentos e empresas estatais tanto no

então Distrito Federal como no território do antigo estado do Rio de Janeiro nas décadas de 40

e 50 do século passado, pelo menos desde os anos 20 ocorre uma diminuição gradativa de

participação das economias carioca e fluminense na economia nacional. Particularmente,

desde 1949 até 1980, há um decréscimo acentuado dessa participação de 19,5% para 13,2%

respectivamente. Nesse período, outros estados e regiões também diminuíram suas

participações no PIB nacional: Sudeste passou de 67,5% para 62,2%, Minas Gerais e Espírito

Santo juntos passaram de 11,6% para 11,1%, a região Nordeste passou de 13,9% para 12,2%.

Por outro lado, o estado de São Paulo viu sua participação aumentar muito pouco, de 36,4%

para 37,8%; a região Sul passou de 15,2% para 17,3%, e os grandes saltos foram dados pelas

regiões Norte e Centro-Oeste, que passaram ambas de 1,7% cada para 3,3% e 5%

respectivamente.

A singularidade da capitalidade tornava a cidade do Rio de Janeiro o principal

centro dinâmico do país e proporcionava certo dinamismo econômico devido à localização em

seu território de diversos serviços federais, da centralização do sistema financeiro nacional, da

sede das grandes empresas públicas e privadas e de ser a principal porta de entrada de

estrangeiros no Brasil. Em certa medida, esse dinamismo transbordava para a região do antigo

estado do Rio de Janeiro.

Os episódios da mudança da capital para Brasília (1960) e da fusão dos estados da

Guanabara e do Rio de Janeiro (1975)61 provocam uma verdadeira fratura em sua [da cidade

do Rio de Janeiro] lógica e dinâmica institucional a partir da transferência da capital.

Particularmente, a mudança da capital faz com que essa metrópole nacional perca a

capacidade de representar simbólicamente o País no auge do período desenvolvimentista.

Além disso, a partir dos anos 60, a Cidade do Rio de Janeiro passa a ser vista como mais uma

unidade da Federação. Essa “fratura” teria acontecido mesmo com a previsão desse processo

61 “É mister levar em conta que havia clima favorável para fusão nos anos 70, especialmente por parte do empresariado. Em que sentido? Ele a vislumbrava promovendo articulação da base técnica e financeira do antigo estado da Guanabara (1960-1975) com as potencialidades produtivas do também antigo estado do Rio de Janeiro” (NATAL, 2004: 36).

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de transferência da Capital ter ocorrido desde a primeira Constituição da República (1891) e

ratificada na Constituição de 194662.

Esses processos de mudança da capital e da fusão ocorreram através de decisões

na esfera federal e alteraram profundamente o destino dessa metrópole, que ficou circunscrita

aos limites políticos de uma municipalidade. Segundo Ribeiro (2000: 16), transforma-se,

nesse período, a antiga capital federal em capital de um Estado com a qual mantém fragéis

vínculos econômicos. Ao contrário do que ocorre na cidade de São Paulo, que, além de manter

fortes vínculos com os municípios de seu entorno, se articula intensamente com a pujante

economia do interior do seu estado.

Quando o primeiro processo ocorreu – mudança da capital –, já estava

consolidada a dianteira de São Paulo no que tange à industrialização em relação ao Rio de

Janeiro. Na verdade, durante os anos dourados da década de 50, São Paulo somente ampliou a

distância relativa em relação ao Rio com a instalação dos complexos automobilístico, metal-

mecânico e eletroeletrônico na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), consolidando o

ABC Paulista como epicentro da industrialização brasileira e a hegemonia paulista

verdadeiramente capitalista.

Entretanto, o nível de renda do estado da Guanabara permeneceu elevado devido

aos resquícios da capitalidade que ainda não haviam migrado em grande parte para Brasília.

Esse processo de migração de estamentos burocráticos para a nova capital federal foi

acelerado pelos governos militares pós-64, pois evadiam-se de pressões sociais mais intensas

em suas portas dirigindo-se ao “vazio” do Brasil Central.

A mudança da capital propiciou o descortinamento de que a economia carioca

estava em processo de desaceleração ou mesmo degradação. O diagnóstico elaborado pelas

elites políticas e empresariais do estado da Guanabara foi que a instalação de distritos

industriais com a oferta de terrenos baratos para estancar o processo de instalação de

empresas no antigo ERJ e direcioná-las ao território do estado da Guanabara seria suficiente

para a retomada do desenvolvimento industrial daquela unidade federativa. Nesses distritos,

prevaleceu a ocupação de empresas que já estavam instaladas no estado da Guanabara, não

havendo, assim, internalização de nenhum sistema industrial virtuoso e integrado.

62 “Na verdade, esse debate ganha espaço social a partir de 1958, quando cariocas e fluminenses se dão conta de que dessa vez, após a previsão desde a Constituição de 1891, a transferência da capital, com a construção de Brasília iniciada em 1957, seria para valer, ganhando corpo na mídia [...] A descrença da opinião pública quanto à efetividade da construção de Brasília pode até [...] ter facilitado a aprovação da citada Lei 2.874, porque a UDN teria acreditado que, votando a legislação que viabilizaria Brasília e não vindo Juscelino Kubitschek a efetivá-la, isso poderia desmoralizá-lo” (OSORIO, 2005: 105-106).

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A dinâmica econômica dos anos 70, particularmente no “Milagre Econômico”

(1968-1973), ocultou algumas das mazelas da economia da cidade do Rio de Janeiro, que

foram aprofundadas com a perda da capitalidade. Ao exaurir-se, o modelo de

desenvolvimento econômico e social desse período fez aflorar ainda mais as deficiências das

economias fluminense e carioca.

Como exposto, essa crise que se arrastava pelo século XX é aguçada pela

transferência da capital para Brasília e aprofundada como o processo de fusão (1975) do

estado da Guanabara com o antigo estado do Rio de Janeiro. A institucionalidade da

Guanabara durou apenas 15 anos, na qual foi necessário construir um novo arcabouço

institucional para o estado nascente que, desde 1835, possuía o território da atual cidade do

Rio de Janeiro separado do restante da província fluminense. A forma violenta como ocorreu

esse processo de fusão faz com que Urani (2008) chame-o de “estupro”.

Nos anos 80, instala-se uma verdadeira “economia de guerra” com a moratória

mexicana e os defaults da dívida externa tornando

visível o fracasso da retomada da industrialização do Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo, patenteou-se o efeito corrosivo da transferência da capital. A expressão ‘esvaziamento’ do Rio tornou-se lugar-comum. Inspirou uma espécie de contabilidade das perdas [...] (LESSA, 2005: 351).

Ainda nos anos 80, a estratégia do governo federal de gerar superavits comerciais

para melhorar os parâmetros de negociação da dívida externa incluía diminuição dos gastos

sociais e investimentos produtivos em contraposição ao aumento das exportações de produtos

agrícolas. Claramente, devido à configuração da economia fluminense, o ERJ foi altamente

impactado pela pouca expressão do setor agrícola no PIB estadual e por sua agricultura ser

voltada ao mercado interno.

Alguns elementos contribuíram para o aprofundamento da degradação econômica

do ERJ nos anos 80, como a proeminente concentração populacional existente na Região

Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ), onde esta última chegou a alcançar

aproximadamente 78% da população do estado no censo de 1980, o que provocou o

surgimento de uma capital sem estado, como dizia-se no ERJ. Em relação ao econômico,

também verificou-se um processo de desconcentração econômica ao longo das últimas

décadas, mas a participação da RMRJ no PIB estadual ainda continuava extremamente

relevante ao atingir 64,96% em 2000, segundo dados do Ipeadata.

Particularmente, sob o aspecto econômico na RMRJ, destacam-se alguns fatores

importantes que contribuíram para aprofundar a concentração econômica nessa parte do

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território fluminense, como a grande quantidade de aposentados e pensionistas, bem como de

funcionários públicos da ativa, oriundos da característica de ter sido capital do Império e da

República por 197 anos, e por ainda conter a sede de algumas das principais estatais,

autarquias e órgãos da administração federal em seu território (Petrobras, Furnas, BNDES,

Banco do Brasil, Eletrobrás, Banco Central, Biblioteca Nacional, Agências Nacionais

Reguladoras, etc.).

Além disso, o peso do setor terciário na economia carioca – que em 1949 já

respondia por 52,7% da PEA – é tradicionalmente relevante e traz consigo a característica de

ocupações instáveis e de baixa remuneração. Diante disso, a imposição de um ajuste fiscal e

econômico na década de 80 e a transferência e/ou extinção de alguns órgãos federais na

década de 90 retiraram segmentos importantes que compunham rendas médias e altas do

mercado do Rio de Janeiro, tornando sua economia ainda mais sensível às medidas

econômicas que afetassem a massa salarial.

A indústria paulista, ao longo do século XX, além de construir estreita vinculação

da produção com o mercado interno e o consumo de massas, diversificou sua base produtiva

também para os bens duráveis e às exportações. No ERJ ocorre o movimento contrário:

somente ocorre o vínculo da produção com o mercado interno sem direcionamento para a

produção de bens duráveis e para as exportações. Isso se deveu à peculiar estrutura industrial

do ERJ, na qual os setores que iniciaram o processo de industrialização – siderurgia, têxtil e

construção naval, por exemplo – não conseguiram se apropriar da indústria de bens de

consumo que se dirigiu praticamente toda para São Paulo. Assim, a economia da cidade do

Rio de Janeiro é um mercado que opera para o próprio [cidade] Rio de Janeiro, sem

conseguir ganhar dimensão de mercado nacional (Dain, 1990). Além disso, apesar de o ERJ

possuir um complexo metal-mecânico e um complexo químico, faltava o encadeamento das

respectivas cadeias produtivas, ou seja, faltavam a indústria automobilística e o setor

petroquímico para promover os famosos efeitos “para frente” e “para trás” do dinamismo

econômico. Porém, a partir da metade da década de 90, há a instalação da fábrica de

caminhões da Volkswagen e da fábrica conjunta da Peugeot/Citroën no Sul fluminense, que

demandou investimentos da ordem de US$ 600 milhões, bem como em 2008 o início das

obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) em Itaboraí63.

Soma-se aos fatores enunciados acima a reconhecida incompetência da classe

capitalista e dos políticos locais de compreenderem os fenômenos históricos-econômicos e

63 A previsão antes da crise econômica mundial de conclusão das obras do Comperj é o ano de 2012.

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dos novos desafios que surgiam64 com a mudança da capital e com o processo de fusão, como

a necessidade de formular políticas locais e regionais que promovessem o desenvolvimento

econômico. Assim, continuaram a imaginar que a capital de fato continuaria sendo a Cidade

Maravilhosa65.

Natal (2007: 37-38) aponta que na segunda metade da década de 90 do século

passado há pelos menos três elementos que propõem mudanças no debate sobre a dinâmica

regional fluminense:

1) o Plano Real (1994) possibilita que a sociedade brasileira volte a pensar em estratégias de

desenvolvimento econômico, já que o fantasma da inflação começa a ser aniquilado;

64 “A história recente posicionou 4 notórias teses escapistas [no sentido de fuga da aceitação da crise] acerca da complexa crise societária fluminense: (i) a primeira seria a das vocações naturais do estado, em especial para o centro financeiro. Nestes termos, os empresários fluminenses [...] ‘entendiam’ que a saída da sede de grandes bancos do seu espaço para o paulista, além do esvaziamento crescente da Bolsa de Valores do Rio, poderia ser revertido com ações políticas governamentais estaduais de convencimento junto aos banqueiros acoplados a outras iniciativas de soerguimento da economia fluminense; (ii) a segunda, também referida às chamadas vocações naturais, seria a de polo turístico. Sobre este aspecto o que dizia o empresariado fluminense? Invocava a violência urbana pela perda de dinamismo desta ‘indústria’; e, em consequência, clamava por ações energéticas do poder público estadual; (iii) a terceira diz respeito às perdas/compromissos do governo federal [...] E aqui talvez mais do que a transferência da capital para Brasília, a fusão tenha sido o golpe fatal na autoestima da população do município sede; afinal, como assumir uma identidade que não correspondia aos fatos, a de passar a ser fluminense quando historicamente se foi carioca. De tudo isso, implicava na negação do presente e em idealização do passado [aqui podemos fazer uma analogia ao futebol, pois o campeonato estadual chama-se carioca e não fluminense, diferentemente como em todos os outros estados da federação]; (iv) a quarta, enquanto desdobramento da anterior, diz respeito à incompetência política dos governos e lideranças políticas estaduais que não saberiam como se mover no terreno movediço da guerra por recursos fiscais de natureza federal e/ou, pior, pela obtusidade político-ideológica que jogaria o poder central contra os ‘interesses do Rio’...” (NATAL, 2004: 40-41). 65 “Acredito que o foco quase exclusivo da política econômica da Guanabara recém-criada no setor secundário, fundado na ideia de que o problema central seria a falta de terrenos e infraestrutura, possa ser sintetizado no seguinte conjunto de fatores: - estávamos no auge da segunda revolução industrial e das políticas de substituição de importação pregadas

pela Cepal; - o setor industrial tinha forte presença nos debates sobre os rumos econômicos, não só da cidade do Rio de

Janeiro mas, também, do antigo ERJ [...]; - os efeitos de encadeamento nos setores terciário e primário propiciados pelo setor industrial e sua

potencialidade exportadora, gerando efeitos de renda para a região [...]; - a expressiva aceleração da perda de participação relativa da indústria instalada na cidade do Rio de Janeiro

relativamente à brasileira, nos anos 1950, mais notadamente na segunda metade dessa década; - o equívoco ao se analisar que a aceleração da perda de participação relativa da indústria carioca nos anos

1950, com o aprofundamento da industrialização brasileira, seria causada principalmente pela falta de terrenos e infraestrutura, apontando, para tanto, o fato de que a indústria no antigo ERJ viria crescendo acima da média nacional e estariam ocorrendo transferências de indústrias do estado da Guanabara para lá;

- a crença de que, apesar da mudança da capital, o Rio de Janeiro iria manter-se como centro político, econômico e cultural, e, portanto, continuaria a sediar empresas privadas, e mesmo públicas, tanto as já existentes como as que viessem a ser criadas;

- o peso atribuído às possibilidades de uma política pública regional de fomento ao setor industrial sem se levar em consideração o processo histórico em curso e as vantagens locacionais existentes em cada região do território; e

- o contraponto que, entendo, Lacerda quer realizar ao desenvolvimento industrial estabelecido centralmente em São Paulo, como também às políticas desenvolvidas por JK não só na Presidência da República mas principalmente, quando governador de Minas [...]” (OSORIO, 2005: 157-159).

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2) o centro da política nacional consolida-se em São Paulo com os dois governos FHC e

posteriormente com os dois governo Lula; e

3) o menos importante no meu ponto de vista, mas o fato do governo do ERJ ser assumido

por Anthony Garotinho que não apenas se põe em oposição ao Presidente da República,

FHC, como brande discurso consoante com o ideário mais geral e tradicional de

correntes progressistas brasileiras [...] que articulam o binômio Estado-Projeto Nacional

de Desenvolvimento.

A Tabela 8 ilustra a distribuição relativa do PIB de alguns estados e regiões

selecionados entre 1949 e 1980. A participação da soma dos PIBs do extinto estado da

Guanabara e do antigo estado do Rio de Janeiro no PIB nacional já apresentava declínio pelo

menos desde 1949. Entretanto, todos esperavam que com a fusão dessas duas unidades

territoriais houvesse uma reversão dessa tendência, porém a queda somente começou a

reverter-se apartir de 1995 quando a participação do PIB do atual estado do Rio de Janeiro

alcançou 13,2%, pois em 1985 e 1990 ainda continuava forte a tendência de queda, com

participação de 12,8% e 10,9%, respectivamente, no momento mais agudo. Nesse último

período, o ERJ passava a ser a terceira economia do país, sendo ultrapassada por Minas

Gerais e reassumido o segundo lugar a partir de 1995.

TABELA 8

DISTRIBUIÇÃO RELATIVA DO PIB – ESTADOS SELECIONADOS E REGIÕES

(1949-1980)

Regiões e Estados

1949 1959 1970 1975 1980

Sudeste 67,5 65 65,2 64,5 62,2 São Paulo 36,4 37,8 39,5 40,2 37,8 MG e ES 11,6 8,7 9,6 9,8 11,1 Rio de Janeiro* 19,5 18,5 16,1 14,5 13,2 Sul 15,2 16,2 17 18,1 17,3 Nordeste 13,9 14,4 11,9 11,3 12,2 Norte 1,7 2 2,2 2,2 3,3 Centro-Oeste 1,7 2,4 3,6 4 5 Brasil 100 100 100 100 100 Fonte: PIMES (1984), apud TAVARES (2000). * Até 1975, os dados referem-se à soma dos PIBs do extinto estado da Guanabara e do antigo estado do Rio de Janeiro.

Além da indústria, Natal (2005) aponta que todos os segmentos econômicos dos

antigos Distrito Federal e estado do Rio de Janeiro somados perderam importância em relação

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à participação nacional entre 1939 e 1980, com a agricultura passando de 5,40% para 1,20%;

a indústria de 26,93% para 9,30%; o setor terciário de 20,28% para 12,60%; o setor

governamental de 35,44% para 20,70%; a intermediação financeira de 38,43% para 13,25% e

os outros serviços de 27,18% para 17,60%, estes dois últimos segmentos referindo-se ao

período de 1939-75, portanto, antes do processo de fusão dessas antigas unidades da

Federação. No que tange à participação na renda nacional, em 1930 os antigos Distrito

Federal e estado do Rio de Janeiro juntos detinham 21,69% ante 11,70% em 1980. Apesar

disso, essa economia regional sempre apresentou uma taxa de crescimento muito próxima da

taxa de crescimento da economia brasileira. Isso também pode ter causado uma dificuldade na

percepção deste processo de degradação econômica e da fratura histórico-estrutural nas suas

dinâmicas econômica e institucional provocadas pela mudança da capital federal e da fusão

dos antigos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro, que somente na década de 1980, com a

eclosão da crise econômica e fiscal da economia brasileira, tornou-se aparente para todos.

Por último, além das classes dirigentes manterem o olhar histórico para as

questões nacionais, mantinham uma visão localista, estritamente clientelista e, portanto,

igualmente despreocupada com a formulação de grande e eficiente estratégia de

desenvolvimento para a economia fluminense (OSORIO, 2005: 12). Essa visão clientelista foi

facilitada pela cassação de políticos de caráter oposicionista ao governo militar desde a

década de 60, propiciando a chegada ao poder da lógica fragmentária e clientelista do governo

Chagas Freitas, que governou o antigo estado da Guanabara de 1971 a 1975 e o atual ERJ de

1979 a 1983. Cunha (1990) aponta, ainda, que a principal característica dos sucessivos

governos estaduais após a fusão é a completa ausência de um “projeto de governo” com

objetivo de criar uma base econômica sólida.

Nota-se que essa crise da Cidade e do estado do Rio de Janeiro possui elementos

contraditórios, pois, em certos momentos, algumas dessas características contribuíram para o

aprofundamento da crise e, em outros, lograram retardar o processo de degradação econômica

iniciado em princípios do século passado. Podemos citar, como exemplo, certa capacidade de

resistir às grandes oscilações da economia nacional pela “manutenção” de um determinado

nível de renda devido ao grande número de aposentados e pensionistas66, bem como de

funcionários públicos da ativa. Também contribuíram para isso os investimentos, a grande

infraestrutura e a dinâmica econômica herdadas do período de 200 anos como capital do

Império e da República. Pela sua característica de capitalidade, a proximidade ao poder fez

66 Segundo Natal (2005: 28), nos anos 80, 25% do funcionalismo público federal e 25% dos aposentados e pensionistas federais residiam no ERJ, principalmente na cidade do Rio de Janeiro.

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com que o Rio de Janeiro desfrutasse das elevadas taxas de crescimento da economia

brasileira até a década de 1970 e continuasse a ser um polo concentrador de serviços

sofisticados, locus central do sistema financeiro nacional, principal sede das grandes

empresas instaladas em território nacional e porta de entrada privilegiada para a expressiva

maioria dos visitantes do País (OSORIO, 2005: 94). Além disso, pelo menos três outros

fatores podem também ter contribuído para o retardamento efetivo de sua eclosão, bem como

de sua percepção. São eles

(1) os investimentos federais realizados na cidade nos anos 1960, com a criação de organizações como a Petrobras e o Banco Nacional de Habitação (BNH); (2) a demora da efetiva transferência da capital para Brasília; e (3) o dinamismo da economia brasileira nesse período, sobretudo durante o chamado ‘Milagre Econômico’ (OSORIO, 2005: 95).

Apesar dessas características talvez retardarem a percepção da crise, vê-se a

emergência de suas fragilidades histórico-estruturais. Estas ficaram mais visíveis

principalmente após a contenção salarial imposta pela crise econômica da década de 80 e

pelos sucessivos governos de caráter mais liberal nos anos 90, que com certeza alvejaram o

Rio como nenhuma outra unidade federativa.

Natal (2005) aponta que a crise mais aguda compreendida entre o período de 15

anos (1982-94) foi somente a chegada de um caminho iniciado com a industrialização paulista

– a partir da acumulação primitiva provocada pela economia cafeeira naquele estado. Pois,

desde 1880, o antigo ERJ já perdia sua centralidade econômica e, desde 1919, o antigo

Distrito Federal sua centralidade industrial. A mudança da capital para Brasília e o processo

de fusão foram somente os elementos culminantes e mais aparentes do todo. Essa foi tão

complexa e profunda que transcendeu seus impactos para todo o território do ERJ, não

restringindo-se somente à capital e à RMRJ67. Ele afirma, ainda, que essa crise não pode ser

apreendida somente a partir de fenômenos recentes das histórias carioca e fluminense, mas

deve-se retornar algumas décadas para compreender melhor os fenômenos que impulsionaram

esse processo. Além disso, acrescenta que não se pode compreender a crise do ERJ descolada

da crise da capital carioca. Nesse sentido, destacam-se alguns enunciados sobre essa crise, a

saber:

1) a evidente decadência e a falta de competitividade da indústria fluminense, principalmente

frente à indústria paulista, que se beneficiou de uma “acumulação primitiva” da economia

67 Pois, como exposto anteriormente, assim como os benefícios provocados pela localização dos serviços federais em seu território transbordavam para outras regiões, essa crise também transborda seus efeitos perturbadores para essas outras regiões.

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cafeeira para seu financiamento. Contribuiu para isso o fenômeno da reestruturação

produtiva e da obsolescência de setores tradicionais da indústria do estado, como

siderurgia, têxtil e construção naval; a falta de capacidade de apropriação da indústria

tecnológica, bem como a apropriação da indústria de bens de consumo duráveis que se

instalou em terras paulistas. Além disso, a economia do ERJ era praticamente toda voltada

para o mercado interno, sendo assim mais suscetível às oscilações da conjuntura

nacional68. Este último elemento possibilita o acirramento da concorrência da indústria

paulista – iniciado no início do século – em relação ao Rio de Janeiro durante o

aprofundamento do processo de substituição de importações da década de 50;

2) a crise das economias latino-americanas dos anos 80 provocou uma efetiva redução dos

gastos do governo federal – a chamada crise econômico-fiscal brasileira – e atingiu mais

fortemente o ERJ devido às suas características históricas, como o peso na economia

fluminense da indústria voltada para o mercado interno e a expressiva presença dos

serviços públicos, bem como a diminuição das expectativas futuras do empresariado

quando do anúncio da redução dos investimentos nessa região e nas próprias empresas

estatais federais. Paralelamente, a própria política de contenção salarial para o

funcionalismo público afetou diretamente as entranhas da economia carioca, pois herdava

do seu momento de capital do país 25% do funcionalismo público da ativa devido ao fato

de permanecerem algumas estatais e órgãos federais em seu território, como a Eletrobrás,

o BNDES, a Petrobras, a Vale do Rio Doce (hoje somente Vale), Furnas, Banco Central,

Casa da Moeda, etc.; e outros 25% de aposentados e pensionistas que tiveram seus

rendimentos e o poder de compra afetados diretamente por essa política através da

contenção de suas remunerações;

3) o agravamento da questão social marcada pela deteriorização dos postos de trabalho

criados, queda do emprego formal, aumento da informalidade, concentração de renda e

aumento das desigualdades sociais e da violência urbana. Isso em parte devido ao setor

terciário ser responsável por aproximadamente 75% do pessoal ocupado, pois sabe-se que

68 Osorio (2005: 33) aponta como instrumento de compreensão desse processo a hipótese de João Manuel Cardoso de Mello [professor da Unicamp e autor de O Capitalismo tardio]: “Segundo Cardoso de Mello, para compreender o capitalismo latino-americano, e sobretudo o brasileiro, seria necessário observar a ‘forma peculiar de constituição de suas relações sociais básicas’. Cardoso de Mello defende que a gênese da constituição do MPC no Brasil estaria na crise do sistema colonial e deveria ser analisada com base na identificação de três momentos fundamentais da história brasileira: a economia colonial, a economia mercantil-escravista cafeeira nacional e a economia exportadora capitalista-retardatária, esta, por sua vez, dividida em três fases: nascimento e consolidação da grande indústria, industrialização restringida e industrialização pesada. Nos dois primeiros momentos, a região onde hoje se localiza o ERJ seria economicamente hegemônica, enquanto, no último, a hegemonia seria paulista.”

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este apresenta, ao longo da história, menor cobertura social e menor remuneração aos seus

trabalhadores;

4) o conflito entre os sucessivos governos estaduais e federais. Desde 1982, com a primeira

eleição de Leonel Brizola para o governo do estado, até 2007, com a eleição de Sérgio

Cabral Filho, não houve alinhamento político substancial que permitisse o aporte

significativo de recursos do governo federal no estado. Vale destacar que, nesse período,

ocorreram algumas aproximações entre os governos federal e estadual, mas que não foram

fortes ou duradouras o suficiente para contribuir com as transformações necessárias para a

retomada do desenvolvimento econômico do estado. Podemos citar, nesse caso: a relação

Fernando Collor e Leonel Brizola (1990), os períodos dos governos Moreira Franco

(1987-1990) e Marcello Alencar (1995-98) respectivamente com os governos de José

Sarney e Fernando Henrique Cardoso;

5) a crescente importância dos complexos metal-mecânico, eletroeletrônico e químico na

estrutura industrial brasileira, que, porventura, não estavam instalados no ERJ, mas em

São Paulo e, posteriormente, em Minas Gerais;

6) e, concernente a tudo isso, a consolidação do processo de transferência da Capital para

Brasília, somada ao sentimento de “perda” da capital federal e do processo de “fusão”

com a consequente diminuição da importância política e econômica no cenário nacional.

Acrescenta-se, ainda, a

falta de estratégias regionais adequadas de desenvolvimento econômico-social e que possam servir como elemento de resistência, em períodos de estagnação, ou de alavancagem, em períodos de crescimento no cenário macroeconômico nacional – inicialmente para o território da Guanabara e depois para o ERJ (OSORIO, 2005: 24).

Conforme a Tabela 9, Mesentier (1993) aponta que esse processo de esvaziamento

econômico possui dois momentos diferenciados. No primeiro período, compreendido entre

1939-1968, o antigo ERJ apresentou somente 0,72% de aumento da participação na renda

nacional, enquanto o também antigo estado da Guanabara perdeu 5,31% de participação; a

participação conjunta desses antigos estados somadas perdem 4,59%, São Paulo apresenta

elevação de 4,12% e as outras unidades da Federação (UFs) ganham juntas 0,47%. Nesse

período, percebe-se claramente um movimento de concentração econômica em direção a São

Paulo.

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TABELA 9

EVOLUÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DO RIO DE JANEIRO (RJ), DA GUANABARA

(GB), DE SÃO PAULO (SP) E DAS DEMAIS UNIDADES DA FEDERAÇÃO (UFs) NA

RENDA NACIONAL (1939-1968)

UF 1939 1949 1954 1959 1964 1968 1968-1939RJ 4,13 4,64 4,31 4,84 4,62 4,85 +0,72

GB* 16,80 14,65 13,77 12,40 12,17 11,49 -5,31 RJ + GB 20,93 19,29 18,08 17,24 16,79 16,34 -4,59

SP 31,10 34,38 36,49 34,95 34,00 35,22 +4,12 UFs 47,97 46,33 45,43 47,61 49,21 48,44 +0,47

Fonte: MESENTIER (1993: 35) a partir de dados da FGV69. * De 1939 a 1959 refere-se ao antigo Distrito Federal e após 1960 refere-se ao antigo estado da Guanabara.

Entretanto, para o período 1970-1985 (Tabela 10) ocorre uma inversão da

tendência de concentração em São Paulo. Pois, tanto a economia do antigo estado do Rio de

Janeiro (-4,47%) quanto a de São Paulo (-5,03%) perderam participação no PIB nacional. Por

outro lado, Minas Gerais aumentou sua participação em 1,15% e as outras unidades da

Federação em 8,35%.

TABELA 10

PARTICIPAÇÃO RELATIVA DE SÃO PAULO (SP), RIO DE JANEIRO (RJ),

MINAS GERAIS (MG) E DEMAIS UNIDADES DA FEDERAÇÃO (UFs) NO PIB

NACIONAL (1970-1985)

UF 1970 1975 1980 1985 1985-1975 SP 39,42 40,08 37,61 34,39 -5,03 RJ 16,66 15,30 13,74 12,19 -4,47

MG 8,27 8,43 9,43 9,42 +1,15 UFs 35,65 36,19 39,22 44,00 +8,35

Fonte: MESENTIER (1993: 36) a partir de dados da FGV (idem para nota 38).

Segundo Mesentier (1993), esta reversão da tendência de concentração ocorreu

devido a alguns fatores. O primeiro deles foi a mudança na estrutura produtiva do País

induzida pela política econômica do Governo Geisel e pelo II Plano Nacional de

Desenvolvimento (II PND). O outro seria uma mudança no padrão de desenvolvimento global

da economia diante das transformações a partir da inserção de novas tecnologias no processo

produtivo iniciada nos anos 70. 69 Segundo Mesentier (1993: 47), o “cálculo [foi] feito com base em dados da publicação: Instituto Brasileiro de Economia / Centro de Contas Nacionais do Brasil – Volume II – Quadros Estatísticos, Rio de Janeiro: FGV, 1972. A série que vai de 1939 a 1968 foi calculada com metodologia distinta da série que vai de 1970 a 1985.”

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Podemos aprofundar essa análise apontando alguns dados propostos por Osorio

(2005) para os últimos 30 anos do século passado, quando o ERJ apresentou uma diminuição

da sua participação relativa no valor adicionado bruto no Brasil a preço básico de -23,76%,

passando de 16,67% para 12,71% no período70. Entretanto, entre 1970 e 1992, mesmo com o

crescimento de 143,1% do valor da produção industrial fluminense, houve uma diminuição da

participação da economia flumimense na economia nacional, pois São Paulo, Minas Gerais e

o Brasil como um todo apresentam crescimento de 253,56%, 405,02% e 300,73%

respectivamente. Segundo dados de emprego, o autor destaca que, a partir da Rais para o

período de 1985 a 2002, o ERJ apresentou o pior desempenho entre todos os estados (-

41,19%) para o emprego total da indústria de transformação e extrativa mineral. Para seguir

as lamúrias do mesmo período, também apresentou a mais baixa taxa de crescimento

relativamente ao total de emprego, para os setores primário, secundário e terciário, com uma

variação positiva de apenas 9,30%, contra uma variação de 39,98% em todo o Brasil71

(OSORIO, 2005: 26).

Durante a década de 80 e mais fortemente na primeira metade dos anos 90, a

atividade extrativa mineral de petróleo e gás natural na Bacia de Campos contribuiu para

amenizar os impactos da longa crise que se abateu sobre as economias carioca e fluminense.

Especialmente a partir da segunda metade da década de 90, as participações dos setores de

telecomunicações e de P&G foram fundamentais para o início do processo de inflexão

econômica do ERJ. Conforme a Tabela 5, particularmente a crescente produção de petróleo e

gás natural na Bacia de Campos propiciou um grande volume de investimentos da Petrobras e

a instalação de um parque de fornecedores de apoio à atividade offshore em Macaé, que

propiciaram o aumento da demanda por matérias-primas, equipamentos e serviços que o

desenvolvimento do exponencial crescimento da produção requisitava.

Em resumo, podemos concluir que a crise do ERJ foi longa, profunda e ampla,

além de possuir uma grande história com início na industrialização paulista no final do século

XIX e início do século XX, com aprofundamento vertiginoso na mudança da capital para

Brasília (1960) e com o processo de fusão (1975) dos antigos estados do Rio de Janeiro e da

Guanabara. Essa alcançou seu auge na crise nacional dos padrões fiscal e financeiro devido à

70 Os estados que apresentaram o maior crescimento de participação relativa no valor adicionado bruto do Brasil a preço básico para o período foram: Rondônia (400%), Roraima (233%), Amazonas (146%), Distrito Federal (135%) e Amapá (63%). Ao contrário, as unidades da federação que viram sua participação diminuir de forma mais acentuada, depois do ERJ, foram: São Paulo (-15,44%), Rio Grande do Sul (-9,22%), Pernambuco (-8,98%) e Alagoas (-5,86%). 71 As segundas e terceiras menores taxas eram Rio Grande do Sul (25,90%) e São Paulo (27,42%) respectivamente.

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sua característica de maior dependência de recursos da União solapando-a com maior

intensidade que outras unidades federativas. Mas, como exposto anteriormente, essa apenas

evidenciou suas fragilidades histórico-estruturais.

3.2. INÍCIO DA INFLEXÃO ECONÔMICA (1995-2005)

Do final do século XX em diante, o ERJ passa a experimentar uma euforia devido

a algumas evidências de início de um processo de inflexão econômica positiva, mas não

necessariamente uma fase espetacular de crescimento econômico, isto é, somente uma

mudança da trajetória de declínio. A partir de 2000, essa mudança tenderia a consolidar um

momento de forte dinamismo econômico com os investimentos anunciados e a característica

destes buscarem espaços interioranos do território fluminense, promovendo, como exposto

anteriormente, um processo de desconcentração concentrada.

Esse processo de inflexão apresenta reflexos no PIB fluminense que superam os

R$ 300 bilhões, representando 13% da produção nacional em 2006 – em 1990, era um pouco

inferior a 11%. Destaca-se que esse valor é superior ao de países como Chile, Colômbia e

Peru. Também em 2006, graças à extração de petróleo e gás natural na Bacia de Campos, as

exportações fluminenses ultrapassaram os R$ 11 bilhões com aumento de 500% desde 2000 e

participação de 56% do total exportado desse setor. Outros dados merecem menção, como em

2006 a arrecadação fiscal de R$ 34 bilhões72 e a participação da indústria no PIB fluminense

saltar de 32% em 1997 para 47% a partir de 2004 (Firjan, 2006).

Porém, no final do século passado, já se observavam algumas tendências de

reversão do declínio da atividade econômica no ERJ. Segundo dados do IBGE (apud

MESENTIER, 1993: 43) da Tabela 11, para o período entre 1984 e 1989, o índice de

transformação física da indústria de transformação do ERJ apresenta o maior crescimento

(26,43%) em comparação com São Paulo (18,23%), Nordeste (11,35%), Sul (20,85%) e

Minas Gerais (18,94%), e para a própria média da economia brasileira (24,31%)73. Porém,

nota-se que, somente em 1989, o Nordeste e o ERJ conseguem alcançar o patamar de 1980,

enquanto Minas Gerais em 1985, Brasil como um todo, São Paulo e a região Sul somente

alcançaram em 1986.

72 Superior às receitas totais de Uruguai, Bolívia e Paraguai. 73 “Foi utilizada a taxa média de câmbio de R$ 2,11 (dólar médio do período 2008-2010) para a conversão dos investimentos em dólar para a moeda nacional” (Firjan, 2008: 15).

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TABELA 11

ÍNDICE DA PRODUÇÃO FÍSICA DA INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO

(1981 a 1989/1980=100)

Ano Brasil Minas Gerais

Nordeste Rio de Janeiro

São Paulo Sul

1981 89,62 - - - - - 1982 89,63 93,74 93,04 92,62 88,47 87,73 1983 83,91 88,81 88,79 80,96 82,77 84,52 1984 89,02 97,87 90,07 79,33 88,48 90,76 1985 96,41 105,25 100,32 82,76 96,25 96,82 1986 109,79 110,38 105,53 95,89 105,93 107,19 1987 110,58 113,52 109,68 96,05 106,20 108,33 1988 107,51 115,52 101,01 96,16 102,55 105,59 1989 110,89 116,41 100,30 100,30 104,61 109,70

Fonte: MESENTIER (1993: 43) a partir de dados da FGV.

Entre 2000 e 2004, a taxa de desempenho da produção física da indústria geral do

ERJ (17,06%) continua apresentando um ligeiro aumento em relação à média nacional

(15,66%), e é bem superior às taxas de Minas Gerais (8,26%) e um pouco inferior à de São

Paulo (18,56%).

O desempenho industrial da economia fluminense contribuiu muito para que o

estado do Rio de Janeiro voltasse a ocupar o lugar de segunda economia do país. Conforme a

Tabela 12, em 1990 o estado de Minas Gerais passou a ocupar esse posto, que foi retomado já

em 1995, possivelmente através do processo de reversão da curva descendente dessa

economia e início da dita inflexão econômica. Destaca-se, ainda, que em 1995 os estados do

Sudeste (SP, RJ e MG) aumentaram sua participação no PIB nacional, enquanto os estados do

Rio Grande do Sul, Paraná, Bahia e Santa Catarina diminuíram sua participação. Entretanto,

não houve mudança no ranking dos estados em relação ao ano de 1985.

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TABELA 12

PARTICIPAÇÃO RELATIVA DE ALGUNS ESTADOS DA FEDERAÇÃO NO PIB

REAL – BRASIL (1985-1995)

1985 1990 1995 Estados % Ranque % Ranque % Ranque Brasil 100 - 100 - 100 - São Paulo 34,7 1 35,7 1 37,4 1 Rio de Janeiro 12,8 2 10,9 3 13,2 2 Minas Gerais 9,7 3 12,5 2 13,1 3 Rio Grande do Sul 8,0 4 7,0 4 6,6 4 Paraná 6,2 5 6,3 5 5,9 5 Bahia 5,0 6 4,8 6 4,5 6 Santa Catarina 3,5 7 3,3 7 3,4 7 Fonte: CNI (apud TAVARES, 2000).

A partir da segunda metade da década de 1990, apesar de o ERJ não apresentar

um aumento significativo do seu PIB, esse cresceu na maioria das vezes a taxas superiores ao

PIB nacional: em 1997, cresceu 1,8% diante de 3,3% do PIB brasileiro; em 1998, -2,7% em

relação a 0,1%; em 1999, -1,1% em relação a 0,8%; em 2000, -6,1% diante de 4,4% e,

finalmente, em 2001, -3,3% diante de 1,5% do crescimento nacional. Natal (2000: 96)

apresenta outros dois elementos que apontam a consolidação desse processo de inflexão

econômica fluminense:

1) o aumento da renda per capita fluminense de aproximadamente US$ 3.600 em 1990 para

quase US$ 7.000;

2) para o triênio 1997-99, em termos comparativos, o ERJ estaria recebendo em dólares,

portanto mais do que 1/3 do total dos investimentos diretos efetuados no ano próximo

passado [1999] no conjunto do país (US$ 22 bilhões).

Essa retomada do crescimento econômico do ERJ foi corroborada por diversos

fatores que contribuíram direta ou indiretamente para seu deslanchar:

1) a profusão de programas urbanísticos no município sede; particularmente contribuíram

para o ingresso de recursos na economia as obras do Favela-Bairro e do Rio Cidade;

2) a decisão do município sede de sediar diversas agências nacionais reguladoras de serviços

públicos e privados, atraindo investimentos nacionais e internacionais;

3) a realização de investimentos pelas concessionárias privadas que passaram a explorar

algumas das principais rodovias do estado;

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4) a instalação do parque automotivo no Sul Fluminense com a fábrica de caminhões da

Volkswagen e a fábrica de automóveis da PSA Peugeot-Citroën, além da fábrica de vidros

da Guardian;

5) a onda de privatizações que varreu o mundo durante a segunda metade da década de 80 e

os anos 90 não foi suficiente para eliminar por completo o “peso” das estatais federais na

economia fluminense. Elas ainda “contam”, e muito, para a dinâmica econômica desse

estado, pois, na sua maioria, estão ligadas diretamente aos segmentos de infraestrutura,

como o Setor Elétrico (Eletrobrás, Eletronuclear, Cepel, Furnas), Setor de Petróleo

(Petrobras), Setor de Transportes (Infraero) e no Setor Financeiro (BNDES e Finep). Com

isso, movimentam imensas quantidades de capitais para suas operações e agregam salários

diretos e indiretos de melhor qualidade, atraindo contingente considerável de diretores e

técnicos especializados, principalmente para a cidade do Rio de Janeiro;

6) após a privatização, os investimentos em telecomunicações foram bastante relevantes para

aumentar a infraestrutura do segmento e a base de usuários;

7) a extração mineral de petróleo e gás natural, que teve seu valor adicionado multiplicado

por quase oito vezes durante o período 1996-2004, tornando-se responsável por 1/5 do

PIB fluminense; e

8) como veremos com mais detalhes no Capítulo 2 deste trabalho, o grande volume de

recursos oriundos dos royalties de 1998 a 2007 de R$ 17.267.365.000 e das participações

especiais de 2000 a 2007 de R$ 18.816.136.618, totalizando mais de R$ 36 bilhões

destinados aos municípios e ao ERJ; bem como as encomendas provenientes das

atividades de exploração e produção de petróleo na Bacia de Campos, conforme tabela

abaixo. Nesse item, destacam-se os recursos recebidos pelos municípios da zona principal

de produção das regiões da Baixada Litorânea e Norte Fluminense: Armação dos Búzios,

Cabo Frio, Campos dos Goytacazes, Carapebus, Casimiro de Abreu, Macaé, Quissamã,

Rio das Ostras e São João da Barra.

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TABELA 13

ROYALTIES E PARTICIPAÇÕES ESPECIAIS – ERJ E MUNICÍPIOS DO ERJ

(1998-2007)

ROYALTIES (R$ mil) PARTICIPAÇÕES ESPECIAIS (R$ mil) ANO ERJ Municípios ERJ Municípios 1998 55.942 60.652 - - 1999 190.041 206.708 - - 2000 367.806 397.059 415.495 103.873 2001 461.458 497.353 682.945 170.736 2002 671.656 740.207 995.630 248.907 2003 907.744 997.787 1.961.442 490.356 2004 1.041.661 1.138.917 2.044.674 511.168 2005 1.318.598 1.446.811 2.700.240 675.060 2006 1.646.732 1.821.494 3.453.866 863.466 2007 1.563.534 1.735.205 2.798.866 699.654

Fonte: ANP (2008).

No que tange ao emprego, segundo dados da PNAD/IBGE (apud NATAL, 2005:

98-99), entre setembro de 1992 e setembro de 2001 na RMRJ74 houve variações positivas de

9,4% no número de trabalhadores ocupados e de 20,4% nos empregados sem carteira

assinada. Os empregados formais (inclusive funcionários públicos não celetistas) diminuíram

2,6%. Quando verificamos os dados para o interior do ERJ, apontamos um crescimento

espantoso de 118,5% no número de ocupados, de 25,8% nos empregados sem carteira

assinada e de 13,7% no número de trabalhadores formais. Com essas informações, podemos

afirmar que houve um desempenho favorável do mercado de trabalho do interior do ERJ, que,

de certa forma, compensou a perda de postos de trabalho na RMRJ.

O ERJ apresenta algumas vantagens econômicas comparativas que podem ter

contribuído para esse processo de inflexão econômica, dentre elas destacam-se: o fato de 65%

do Produto Interno Bruto (PIB) nacional estar em um raio de aproximadamente 500km da

cidade do Rio de Janeiro; possui a quarta metrópole em tamanho da América Latina (somente

atrás da Cidade do México, Buenos Aires e São Paulo); o PIB do estado ser igual ao de todo o

Nordeste brasileiro (em 2006, foi R$ 305.804.852,00); os 8,5% da população brasileira

estimada residente no estado em 2007 ser de 15,7 milhões de habitantes em menos de 1% do

território nacional, desses sendo 80% na Região Metropolitana; a 2ª renda média do país, com

74 Atualmente, a Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ) é formada pelos municípios de Belford Roxo, Duque de Caxias, Guapimirim, Itaboraí, Japeri, Magé, Mesquita, Nilopólis, Niterói, Nova Iguaçu, Paracambi, Queimados, Rio de Janeiro, São Gonçalo, São João de Meriti, Seropédica e Tanguá. Porém, para fins estatísticos (PIB e dados demográficos), o IBGE continua a incluir os municípios de Itaguaí, Mangaratiba e Maricá, pois faziam parte de sua composição original.

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grande concentração de consumidores da terceira idade; 90% das reservas nacionais de

petróleo; 50% das reservas nacionais de gás natural; 1,5 milhão de barris/dia de petróleo

produzidos; R$ 5,1 bilhões em royalties75 e participações especiais76 em 2006. Além disso, a

cidade do Rio de Janeiro possui em seu território a sede das 5 maiores empresas brasileiras:

Petrobras, Petrobras Distribuidora, Ipiranga, Vale e Shell (VIDOR, 2006).

Além dessas vantagens, o II Plano Nacional de Desenvolvimento do Governo

Geisel (1974-1979) conferiu ao Rio de Janeiro a condição de motor do desenvolvimento

científico e tecnológico do Brasil com a instalação da Nuclebras, com o fortalecimento da

Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e com a criação da Companhia Brasileira de

Computadores (Cobra), tornando a Região Metropolitana do Rio de Janeiro o segundo centro

de ensino e pesquisa do país, além de ser sede de importantes universidades e centros de

pesquisas federais: Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal

Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade do

Rio de Janeiro (Uni-Rio), Centro Federal de Tecnologia (Cefet), Instituto Militar de

Engenharia (IME), Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), Centro Brasileiro de

Pesquisas Físicas (CBPF), Observatório Nacional (ON), Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE). Há ainda as instituições de ensino e pesquisa ligadas ao governo do

estado, que são a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e a Fundação de Amparo à

Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).

Essa característica desenvolveu-se e ainda se encontram na metrópole carioca

alguns centros de pesquisa ligados às empresas privadas e estatais: Centro de Pesquisa da

Petrobras (Cenpes), Centro de Pesquisa da Eletrobrás (Cepel), os centros de pesquisa e

desenvolvimento do Exército e da Marinha, além da Companhia de Pesquisa de Recursos

Minerais (CPRM). Em relação às instituições privadas e independentes estão na cidade do Rio

de Janeiro, por exemplo: a Pontifícia Universidade Católica (PUC), a Universidade Estácio de

Sá, a Fundação Getulio Vargas (FGV) e o Instituto Brasileiro de Administração Municipal

(Ibam).

75 “A expressão royalty usualmente designa o fluxo de pagamentos ao proprietário de um ativo não renovável (material ou imaterial) que o cede para ser explorado, usado ou comercializado por outras empresas ou indivíduos” (LEAL & SERRA, 2003: 164). Segundo a Lei nº 9.478/97, art. 47 – “Os royalties serão pagos mensalmente, em moeda nacional, a partir da data de início da produção comercial de cada campo em montante correspondente a dez por cento da produção de petróleo ou gás natural.” 76 Decreto nº 2.705/98, art. 22: “Para efeito de apuração da participação especial sobre a produção de petróleo e de gás natural, serão aplicadas alíquotas progressivas sobre a receita líquida da produção trimestral de cada campo, de acordo com a lavra, o número de anos de produção e o respectivo volume de produção fiscalizado trimestralmente.”

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98

No que tange à indústria de petróleo e gás natural, a importância dessa estrutura

científica concretiza-se nos diversos projetos e convênios realizados pela Petrobras com o

Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (antiga

Coppe/UFRJ), que contribuiu para o grande avanço tecnológico alcançado por esta empresa.

Pelo menos dois grandes feitos ligados ao segmento de Exploração e Produção foram

atingidos com a implantação dessa parceria: produzir petróleo e gás natural em quantidades

comercialmente viáveis na selva amazônica (Urucu/Bacia de Solimões) e explorar reservas

em águas profundas e ultraprofundas da Bacia de Campos, o que contribuiu para que o ERJ se

tornasse a maior província petrolífera do país. Esses elementos permitem constatar que a

metrópole carioca possui importância fundamental no sistema técnico-científico brasileiro ao

constituir-se como polo científico e tecnológico de grande envergadura.

Ainda em relação à RMRJ, ela confere ao ERJ uma singularidade em relação aos

demais estados da Federação, pois em nenhuma outra unidade federativa a Região

Metropolitana possui uma importância como no ERJ em termos populacionais, econômicos e

políticos pelo fato de o ERJ ser, de longe, o estado mais metropolizado da Federação; nada

menos do que ¾ dos fluminenses vivem na região metropolitana77 (URANI, 2008: 16).

Para Natal (2005), esse processo de inflexão econômica é salutar, pois promove a

retomada do dinamismo econômico das economias carioca e fluminense, tão importantes para

o crescimento da economia brasileira como um todo. Além disso, logrou avançar na

composição de uma rede urbana – maior integração entre os diversos espaços fluminenses –

do estado que evidencia certo recuo da centralidade do município sede e da melhoria das

instalações de infraestrutura. Essa maior integração evidencia-se através da maior presença de

alguns municípios do interior na vida econômica, política, social e cultural do ERJ, como os

exemplos de Macaé e Resende. Esse autor aponta, ainda, que, concomitantemente ao processo

de inflexão econômica que provocou mudanças substanciais, houve também uma melhora da

infraestrutura rodoviária, de telefonias móvel e fixa, e de energia elétrica que contribuíram

para esse processo e também foram incentivadas por ele através da perspectiva de ganhos pelo

capital privado.

Especificamente sobre Macaé, podemos afirmar que na década de 60 exercia a

função de um centro local fraco na sua região circunvizinha. No início dos anos 90, já como 77 Urani (2008) faz a proposta de construção de uma instucionalidade chamada de M´bras (Megalópole Brasileira) com participação de 232 municípios dos estados do RJ, SP e MG, que se estenderia das duas maiores regiões metropolitanas do país (RMSP e RMRJ) em direção a Campos dos Goytacazes/RJ, a Campinas/SP e a Juiz de Fora/MG. Essa região equivale a 0,97% do território brasileiro, onde viviam 41,7 milhões de pessoas ou

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base das instalações de operação da exploração e produção de P&G na Bacia de Campos,

transforma-se em um centro local médio, ou seja, aumentando sua influência em relação aos

municípios do seu entorno. Na região Norte Fluminense, o município de Campos dos

Goytacazes continua a exercer a função de centro regional, entretanto vislumbramos uma

tendência de crescimento da importância regional de Macaé em detrimento desse município.

Há um processo vigente nessa região que torna o município de Macaé cada vez mais

importante politicamente, pois acompanha o processo de aumento da centralidade econômica

desse em relação à cidade de Campos.

O processo de crescimento econômico da economia fluminense e esse

concomitante processo de inflexão foram intensificados desde que a economia do petróleo

tornou-se um novo eixo dinâmico do ERJ, tornando a região onde se encontram os municípios

da Bacia de Campos um novo “vetor espacial” de desenvolvimento no território fluminense,

com epicentro Macaé.

Por outro lado, mesmo a Cidade do Rio de Janeiro e sua RMRJ ainda abarcando

grande parte dos investimentos que se dirigem para o ERJ, esste processo provocou uma

desconcentração concentrada, com algumas ilhas de crescimento econômico no território

fluminense fora do município sede e da RMRJ. Citamos como exemplo o polo automotivo do

Sul Fluminense, com a fábrica de caminhões da Volkswagen e a fábrica da PSA Peugeot-

Citroën em Resende e Porto Real78 respectivamente; e o polo petrolífero de apoio à

Exploração e Produção da Bacia de Campos em Macaé, no Norte Fluminense. Faz-se

necessário mencionar que ocorre um “crescimento econômico nucleado” da riqueza

fluminense, consequentemente este ainda não alcançou todo o território, pois, apesar de

mostrar-se forte nas regiões mencionadas acima e na região da Baixada Litorânea devido aos

royalties e às participações especiais da produção de petróleo e gás natural na Bacia de

Campos, atingiu marginalmente algumas regiões (Serrana) e ainda não alcançou outras

(Noroeste).

Assim, essas regiões podem ser consideradas verdadeiras ilhas de excelência no

território do ERJ e concluímos que, até o final do século passado, esse processo de inflexão

econômica mencionado acima ainda não possuía a capacidade de encadeamento que

23% da população total em 2007, com 96% de taxa de urbanização. É responsável por 35% do PIB e de abrigar 8,4 milhões de pobres (14,2% do total) e quatro milhões de indigentes (15,9%). 78 “Esse município foi desmembrado de Resende para fins específicos, qual seja o de atrair empresas através da concessão de recursos fiscais, posto que – como os outros dois [Volta Redonda e Resende] – fica a meio caminho entre as duas principais economias do país, a do estado do Rio de Janeiro e a do estado de São Paulo, e no eixo rodoviário que as interliga” (NATAL, 2000: 99).

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100

promovesse uma diminuição das desigualdades espaciais tão tradicionais e históricas do

território fluminense.

3.3. A IMPORTÂNCIA DA INDÚSTRIA DE P&G NO PROCESSO DE INFLEXÃO

ECONÔMICA (1995-2000)

Desde a segunda metade dos anos 90 do século passado, o estado do Rio de

Janeiro apresenta taxas de crescimento econômico superiores à média da economia nacional.

Entre os diversos elementos que contribuíram para esse desempenho favorável, podemos

destacar a abertura de mercado e a quebra do monopólio do petróleo pelo governo Fernando

Henrique Cardoso (FHC), que propiciou a atração de investimentos e de grandes players da

indústria petrolífera mundial para o ERJ devido à Bacia de Campos e o grande volume de

produção e reservas dessa bacia sedimentar. A concentração da produção de P&G nessa

região, a localização corporativa da sede da Petrobras e a posterior decisão de instalação da

sede da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) propiciaram a

escolha da cidade do Rio de Janeiro como sede das operações no Brasil das principais

empresas de petróleo do mundo, como: Shell, Chevron, Maersk, Repsol, YPF, Anadarko,

Devon Energy, etc.79

A Tabela 14 evidencia que desde a segunda metade da década de 1990, com

exceção do ano de 1997, a taxa de crescimento do PIB do ERJ foi quase sempre superior à

brasileira. Para o período analisado (1995-2007), essa taxa de crescimento foi de 58,70% para

o ERJ e 44,75% para o conjunto da economia nacional. Deve-se ressaltar, ainda, que apesar

de o período do segundo mandato de FHC (1998-2002) ter sido de retração econômica, a

economia fluminense continuou a mostrar variações positivas superiores às variações

nacionais.

79 Podemos destacar, também, que a cidade do Rio de Janeiro tornou-se sede das principais empresas de telecomunicações do país a partir do processo de privatização do setor.

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101

TABELA 14

VARIAÇÃO PERCENTUAL DO PIB – BRASIL E ERJ (1995-2007)

TAXA DE VARIAÇÃO (%) ANO RIO DE JANEIRO BRASIL 1995 5,08 4,22 1996 7,17 2,2 1997 1,71 3,4 1998 2,78 -0,12 1999 3,20 0,03 2000 4,71 4,3 2001 3,26 1,3 2002 4,4 2,7 2003 -0,7 1,1 2004 4,3 5,7 2005 4,1 3,2 2006 3,9 4,0 2007 3,3 5,7

Fonte: Economia – ERJ (Fundação Cide).

Esse processo de inflexão econômica apresenta a característica de ter sido

sustentado pelas taxas de crescimento dos setores de petróleo e de telecomunicações, e não

pelos setores até então tradicionais da economia fluminense. Assim, mostra-se principalmente

impactado pelo crescimento acelerado da produção de petróleo e gás natural na Bacia de

Campos, provocando um verdadeiro salto quantitativo na taxa de participação da indústria

extrativa mineral do ERJ em relação à nacional. Além disso, para o período 2000-2004, essa

mesma produção de petróleo contribuiu para a crescente evolução física da indústria extrativa

mineral do ERJ (27,49%) diante da indústria de transformação 5,07%, contribuindo

intensamente para a evolução da produção física da indústria geral (17,06%) (OSORIO, 2005:

272).

Na Tabela 15, percebe-se um grande crescimento acelerado das atividades ligadas

ao setor de petróleo, pois apresentaram as mais elevadas taxas de participação, como mostra a

Indústria Extrativa e de Transformação, que saltou de 18,7% em 1996 para 28,7% em 2000, e

a Extração de Petróleo, que passou de 3,4% para 16% respectivamente. Esta última

apresentou um aumento de 470% de participação na composição do PIB do estado do Rio de

Janeiro em cinco anos. É evidente que a simultaneidade do crescimento da participação do

setor de petróleo na economia do ERJ com o processo de inflexão econômica não é mera

coincidência, pois está cada vez mais evidente a importância desse setor para a retomada do

crescimento da economia fluminense.

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TABELA 15

COMPOSIÇÃO DO PIB POR ATIVIDADE – ERJ (1996-2000) (%)

Atividade 1996 1997 1998 1999 2000 Agropecuária 0,5 0,4 0,4 0,4 0,4 Indústria Extrativa e de Transformação 18,7 19,6 18,5 22,9 28,7 Extração de Petróleo 3,4 3,7 4,6 9,2 16,0 Demais 15,3 15,8 13,9 13,7 12,7 Construção Civil 7,8 7,6 7,5 7,1 6,2 Serviços de Utilidade Pública 2,6 2,8 2,7 2,7 2,7 Comércio 8,3 8,0 7,6 7,3 7,4 Transportes e Comunicações 7,2 8,0 8,6 10,5 10,2 Instituições Financeiras 4,3 5,0 4,5 4,3 3,6 Aluguel de Imóveis 14,8 15,2 15,2 14,4 12,5 Administração Pública 11,0 9,4 9,0 7,9 7,1 Prestação de Serviços 24,9 23,8 25,9 22,5 21,2 TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 Fonte: Dieese (apud NATAL, 2000: 53).

Assim, atualmente a participação da indústria de P&G no PIB fluminense80 já

alcança 20%, sendo que em 1997 era de apenas 3%. Lessa (2000) salienta que a dinâmica do

ERJ poderia ser redinamizada pela articulação dos efeitos alavancadores de uma política

industrial sobre o Porto de Sepetiba, sobre a vocação carioca para o setor de serviços e pela

grande potencialidade do setor de petróleo e gás natural na Bacia de Campos. Assim, as

atividades da cadeia produtiva de petróleo e gás natural na BC tornam-se um verdadeiro

“dínamo”, com efeitos a montante e a jusante para toda economia fluminense e outras regiões

do ERJ, como a indústria naval e o setor petroquímico.

Em 1977, com o início da produção na Bacia de Campos (BC), a Petrobras

produzia diariamente cerca de 160 mil barris de petróleo, sendo 120.011 (75,2%) no mar e

39.553 (24,8%) em terra. Nesse momento inicial da produção, a BC respondia por 2.792

barris diários, ou seja, apenas 1,7% da produção nacional. Em 1979, na segunda crise do

80 “Poderíamos estar na Opep, lembrando que o estado concentra 90% das reservas de petróleo e 50% das de gás natural do país, produz 1,5 milhão de barris/dia; abriga as principais empresas petrolíferas mundiais, como Petrobras, Shell, Repsol, Chevron, BG [British Gas] e Petrogal, além de 40 novas empresas do setor [...] George Vidor citou os outros carros-chefe da economia fluminense, como as montadoras do sul do estado, a construção de plataformas de petróleo e embarcações de apoio, o porto de Sepetiba e o polo petroquímico de Itaguaí: ‘Se todos os projetos em torno de Itaguaí forem executados como previsto, vamos ter um canteiro de obras semelhante a meia hidrelétrica de Itaipu’. Os projetos incluem a siderúrgica da ThyssenKrupp e da Vale do Rio Doce [agora somente Vale], que exigirá investimentos de US$ 3 bilhões, e a nova usina da CSN [...] O jornalista destacou a instalação do novo polo petroquímico Itaboraí/São Gonçalo pelo impacto que terá em toda a Região Metropolitana [...] Ele fez uma comparação para mostrar a importância do projeto: enquanto uma tonelada de petróleo custa em média US$ 100, a mesma quantidade de matéria-prima da petroquímica custa US$ 1 mil e o produto final por US$ 10 mil [...]” (Jornal do Sindicado das Seguradoras do Estado do Rio de Janeiro, novembro de 2006:2).

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103

petróleo, a BC já havia aumentado sua produção em 300% (16.021 barris diários) e sua

participação em aproximadamente 10%. Em 1985, a participação dessa bacia na produção

nacional alcançou mais de 60% com a produção aumentando mais de 21 vezes em relação a

1979, atingindo 337.171 barris diários. Entre 1985 e 1995, a produção dessa bacia cresce a

taxas menores, alcançando 475 mil barris diários e mais de 66% de participação na produção

brasileira de quase 700 mil barris diários, conforme Tabela 16.

Entre 1995 e 2007, a produção diária da BC continua crescendo. Em 2001, atinge

a marca história de 1 milhão de barris/dia, e atualmente alcança a produção de

aproximadamente 1,5 milhão de barris/dia, sendo mais de 82% de participação no total da

produção nacional de petróleo.

TABELA 16

PRODUÇÃO DE PETRÓLEO – PETROBRAS (1977-2007)

Ano Terra Mar Bacia de Campos Quantidade % Quantidade %

Quantidade Total Quantidade %

1977 120.011,0 75,2 39.553,1 24,8 159.564,1 2.792,0 1,7 1978 115.992,8 72,4 44.192,1 27,6 160.184,9 8.504,0 5,3 1979 108.002,0 65,3 57.399,2 34,7 165.401,2 16.021,0 9,7 1980 106.330,9 58,7 74.694,9 41,3 181.025,8 28.575,0 15,8 1981 113.003,8 53,0 100.083,3 47,0 213.087,1 53.935,0 25,3 1982 118.242,4 45,6 141.106,6 54,4 259.349,0 92.557,0 35,7 1983 132.141,7 40,2 196.655,7 59,8 328.797,5 145.441,0 44,2 1984 148.080,7 32,2 312.258,9 67,8 460.339,5 251.651,0 53,8 1985 154.362,8 28,3 391.618,5 71,7 545.981,3 337.171,0 60,6 1986 167.048,2 29,2 405.869,8 70,8 572.918,0 354.908,0 60,2 1987 169.656,6 29,9 396.809,9 70,1 566.466,5 351.838,0 59,8 1988 180.029,2 32,4 374.866,8 67,6 554.896,0 331.046,0 57,4 1989 195.193,6 32,7 400.886,7 67,3 596.080,3 356.370,0 57,8 1990 188.657,0 29,9 442.599,0 70,1 631.255,9 405.568,0 62,0 1991 178.950,6 28,7 444.671,7 71,3 623.622,2 411.804,0 63,7 1992 186.598,9 29,7 441.421,1 70,3 628.020,0 407.030,0 62,3 1993 182.544,7 28,4 460.729,0 71,6 643.273,8 426.108,0 63,8 1994 179.609,7 26,9 488.413,9 73,1 668.023,6 448.924,0 64,8 1995 180.758,7 26,1 512.265,1 73,9 693.023,8 474.501,0 66,3 1996 198.053,0 25,3 585.690,9 74,7 809.051,6 545.624,0 67,4 1997 199.459,4 23,7 642.028,4 76,3 869.308,1 607.626,0 69,9 1998 211.770,6 21,7 763.346,3 78,3 1.004.280,4 728.586,0 72,5 1999 211.364,8 19,2 890.126,5 80,8 1.131.837,8 857.580,0 75,8 2000 211.537,1 17,1 1.022.917,1 82,9 1.270.724,7 992.147,6 78,1 2001 214.331,6 16,5 1.081.008,6 83,5 1.335.988,5 1.052.524,3 78,8 2002 218.889,0 15,0 1.235.912,0 85,0 1.500.054,1 1.217.499,8 81,2 2003 220.683,55 14,9 1.262.767,2 85,1 1.540.122,4 1.252.373,3 81,3 2004 220.416,8 15,4 1.210.421,8 84,6 1.492.629,8 1.203.621,3 80,6 2005 211.006,7 13,2 1.393.406,05 86,8 1.684.054,4 1.404.741,5 83,4 2006 199.289,8 11,8 1.491.637,7 88,2 1.777.691,1 1.468.344,4 82,6 2007 196.038,7 11,5 1.510.962,4 88,5 1.792.081,3 1.475.348,2 82,3

Fonte: Petrobras (2008).

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Piquet (2000) aponta que, apesar do reconhecido grau de concentração econômica

da RMRJ em relação ao estado, alguns municípios extra-RMRJ apresentam significativa

importância em relação ao número de postos de trabalho, por exemplo, nos setores: Extrativo

Mineral, devido à presença da Petrobras em Macaé; de Metalurgia, com a atividade da CSN

em Volta Redonda; e Minerais não Metálicos, com a presença das empresas Votorantim,

Lafarge e Holderbank no município de Cantagalo. Há um destaque para a importância da

atividade de Exploração e Produção de P&G na Bacia de Campos para o número de postos de

trabalho gerados na atividade Extrativa Mineral.

Para Barral Neto & Silva Neto (2008), a partir dos anos 90, há um processo de

desconcentração industrial do ERJ que acompanha a tendência nacional de buscar

externalidades favoráveis à instalação de plantas industriais em locais com incentivo fiscal,

força de trabalho mais barata e menos organizada, bem como buscar locais que também

apresentem menos deseconomias que as regiões metropolitanas, tais como: poluição,

sobrecarga das redes de comunicação, especulação imobiliária, violência urbana, trânsito

intenso, serviços e equipamentos públicos deteriorados, etc.

No caso particular do ERJ, apesar do visível esgotamento produtivo da RMRJ, o

processo de interiorização das indústrias ocorre mais pelo surgimento de novas bases

produtivas do que pela instalação e/ou migração de empresas para regiões marginalizadas do

interior.

Devido à sua característica de possuir pouca mobilidade espacial e, por isso, não

conseguir estar muito afastada das jazidas minerais e exercendo enorme poder de atração de

empresas de outros segmentos, permitiu que uma das maiores contribuições do setor

extrativista fosse arrefecer as históricas desigualdades espaciais presentes no território

fluminense devido a grande parte de sua estrutura produtiva estar localizada na até então

inexpressiva região Norte Fluminense, permitindo uma maior inserção dos municípios dessa

região na dinâmica econômica estadual.

Por outro lado, Urani (2008) aponta que a elevada participação da indústria do

petróleo no crescimento da economia fluminense estaria provocando um desenvolvimento

“torto”, pois contribuiria para um processo de fragmentação socioespacial devido à

concentração de seus benefícios somente em alguns pontos do território fluminense, à

semelhança de outros locais do Brasil e do mundo. Esses pontos de bonança são os

municípios considerados produtores de petróleo e gás natural do Norte Fluminense, que são

beneficiados com grande quantidade de recursos provenientes do pagamento de royalties e

participações especiais. Mais adiante, veremos que atualmente há um processo de

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disseminação desses frutos ao longo do litoral fluminense em virtude dos investimentos nos

diversos elos da cadeia produtiva de P&G, e não somente nas atividades de E&P, o que

chamo do Novo Eixo de Investimento, que se estende ao longo do litoral do ERJ entre as

promissoras atividades de E&P nas bacias de Santos e do Espírito Santo.

É mister ressaltar a possibilidade sempre presente da mudança da legislação sobre

os royalties e as participações especiais sobre a produção de petróleo e gás natural, e,

consequentemente, a mudança no volume de recursos que aportam nos municípios

confrontantes com a Bacia de Campos e no estado do Rio de Janeiro, que encontram-se

visceralmente dependentes das rendas petrolíferas, visto que esses recursos funcionam como

uma renda diferenciada através de uma grande diferença entre o preço de custo do barril e o

preço de venda de cada barril de petróleo. Ainda nesse ponto, não acreditamos na

possibilidade de esgotamento das reservas de óleo e gás natural nos próximos 30 anos, ainda

mais com as possibilidades surgidas com o chamado Pré-sal na Bacia de Campos e com o

desenvolvimento tecnológico para aumentar a quantidade retirada de óleo dos campos

maduros da BC.

Entretanto, isso não significa que a dinâmica da economia petrolífera não esteja

contribuindo até decisivamente para a diminuição de parcela das enormes e históricas

desigualdades socioespaciais existentes ao nível do território fluminense (NATAL, 2005: 59).

Essa beneficia a região produtora – vista até então como uma das mais pobres e atrasadas do

ERJ –, mas também a cidade do Rio de Janeiro81.

Natal (2004) aponta que, no início do novo milênio, o ERJ vivenciava importantes

mudanças até então em curso: investimentos realizados nos últimos anos, diferentemente dos

anos de forte degradação econômica, e com isso a própria superação dessa fase de degração

econômica; um forte aproveitamento das potencialidades e dos recursos naturais, bem como

de tradicionalmente possuir expertise no setor de serviços; e, consequentemente, uma

modificação da configuração espacial devido à chamada interiorização do desenvolvimento e

do crescimento da atividade econômica em áreas antes esvaziadas econômicamente (Norte

Fluminense), e uma “remodernização” da área central do município do Rio de Janeiro com a

instalação das sedes operacionais de empresas dos setores de telecomunicações e de petróleo e

gás. 81 “Um fato que chama a atenção no mercado de trabalho fluminense e se deve aos sucessivos recordes da produção industrial de petróleo e gás natural, segundo a notícia ‘Mercado do Rio volta a atrair executivos’, publicada na Gazeta Mercantil de 16/07/02, é a contratação de executivos no Rio, que cresceu 50% desde 2000. Depois da onda de contratações em São Paulo, a tendência está se revertendo. O motivo é a instalação de grandes

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O interior do ERJ passa por um processo que Santos (1992) chamou de Nova

Urbanização, no qual as cidades de porte médio se especializam e se diferenciam de acordo

com a divisão territorial do trabalho do ponto de vista da materialidade e do ponto de vista do

simbólico, por exemplo, quando Macaé intitula-se a capital nacional do petróleo. Entretanto,

como exposto anteriormente, o desenvolvimento das regiões fluminenses é desigual nesse

processo de inflexão econômica, pois algumas regiões “ganham” mais do que outras. Na

tabela abaixo, em 1998, havia quatro municípios da Bacia de Campos82 (Macaé, Casimiro de

Abreu, Campos dos Goytacazes e Cabo Frio) e dois municípios da Região Noroeste

Fluminense (Santo Antônio de Pádua e Bom Jesus do Itabapoana) entre os 20 primeiros do

Índice de Qualidade Municipal83; em 2005, a Bacia de Campos incluiu mais dois municípios

entre os 20 primeiros (Rio das Ostras e Armação dos Búzios), e a Região Noroeste

Fluminense deixou de contar com os dois representantes entre os 20 primeiros.

Esse Índice de Qualidade dos Municípios do estado do Rio de Janeiro é

construído pela Fundação Cide com base em sete critérios: centralidade e vantagem

locacional (CEN), qualificação da mão de obra (QMA), riqueza potencial de consumo (RIQ),

facilidades para negócios (FAC), infraestrutura para grandes empreendimentos (IGE),

dinamismo (DIN) e cidadania (CID)84.

empresas no estado (multinacionais de telecomunicações, empresas de serviços e, principalmente, de energia e petróleo)” (NATAL, 2004: 244). 82 Conforme definição geográfica dos municípios da Bacia de Campos no Capítulo 2 deste trabalho. 83 O Índice de Qualidade Municipal tem o objetivo de construir um indicador que permita avaliar e comparar o potencial de desenvolvimento sustentável dos municípios do estado do Rio de Janeiro. A Fundação Cide é a instituição responsável pela construção do índice, que se encontra na sua segunda versão. A versão aferida com dados referentes a 2005 é a utilizada neste trabalho. 84 O conceito desses critérios são: - Centralidade e vantagem locacional (CEN) – representa, nesse caso, a capacidade que possui o município de

estabelecer vínculos com os mercados vizinhos, seja pela sua importância regional, seja pela sua localização geograficamente privilegiada. Tem peso 10;

- Qualificação da mão de obra (QMA) – representa o padrão de formação educacional da população do ponto de vista da especialização e da profissionalização. Consideram-se o atual estágio e as condições apresentadas para sua evolução. Tem peso 9;

- Riqueza potencial de consumo (RIQ) – demonstra a riqueza existente no município, representada pela sua produção e pelo nível de rendimento de seus habitantes. Tem peso 9;

- Facilidades para negócios (FAC) – demonstra as facilidades existentes para a operação das empresas e seus funcionários. Tem peso 8;

- Infraestrutura para grandes empreendimentos (IGE) – demonstra a presença, no município, de condições favoráveis à implantação e à operação de empresas de grande porte. Tem peso 8;

- Dinamismo (DIN) – demonstra o dinamismo da economia local, representada pela existência de alguns serviços especializados e pelo nível de suas atividades. Tem peso 7; e

- Cidadania (CID) – representa as condições de atendimento às necessidades básicas da população do município (saúde, educação, segurança, justiça e lazer). Tem peso 6 (Cide, 2006).

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TABELA 17

OS 20 PRIMEIROS MUNICÍPIOS NO IQM (1998-2005)

1998 2005 MUNICÍPIOS IQM MUNICÍPIOS IQM

1- Rio de Janeiro 1,0000 1- Rio de Janeiro 1,0000 2- Niterói 0,7090 2- Niterói 0,8129 3- Resende 0,6022 3- Macaé 0,6386 4- Volta Redonda 0,4980 4- Volta Redonda 0,5619 5- Macaé 0,4784 5- Resende 0,5464 6- Casimiro de Abreu 0,4705 6- Rio das Ostras 0,5189 7- Petrópolis 0,4666 7- Porto Real 0,4664 8- Três Rios 0,4324 8- Casimiro de Abreu 0,4618 9- Campos dos Goytacazes 0,4245 9- Campos dos Goytacazes 0,4585 10- Santo Antônio de Pádua 0,3931 10- Duque de Caxias 0,4528 11- Cabo Frio 0,3919 11- Piraí 0,4358 12- Barra Mansa 0,3876 12- Petrópolis 0,4323 13- Piraí 0,3759 13- Cabo Frio 0,4308 14- Miguel Pereira 0,3702 14- Barra Mansa 0,4164 15- Itatiaia 0,3693 15- Vassouras 0,4101 16- Teresópolis 0,3635 16- Nova Iguaçu 0,4053 17- Bom Jesus do Itabapoana 0,3514 17- Três Rios 0,4044 18- Araruama 0,3508 18- Armação dos Búzios 0,3818 19- Duque de Caxias 0,3505 19- São Gonçalo 0,3748 20 - Itaguaí85 0,3504 20 - Itaguaí 0,3735 Fonte: Cide – IQM 2005.

Os municípios da Bacia de Campos que apresentaram crescimento em 2005 na

posição do IQM experimentaram um incremento demográfico de migrantes qualificados da

classe média indispensáveis ao processo de produção da indústria do petróleo e, também, de

migrantes com pouca qualificação que ocupam empregos com remuneração e condições

inferiores. Assim, experimentaram o fenômeno aparentemente contraditório de criação de

riqueza através dos altos salários dos profissionais qualificados com o correlato surgimento da

pobreza no mesmo território com o crescimento da favelização e da ocupação irregular.

85 Em 1998, o município de Itaguaí pertencia à RMRJ.

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TABELA 18

POSIÇÃO DO MUNICÍPIO NO IQM (1998-2005)

IQM DIN CEN RIQ QMA FAC IGE CID Municípios 1998 2005 1998 2005 1998 2005 1998 2005 1998 2005 1998 2005 1998 2005 1998 2005

Arraial do Cabo 67 45 91 35 67 68 29 37 32 30 72 59 62 27 38 67

Armação dos Búzios 40 18 4 4 88 70 7 4 57 34 16 23 64 86 62 69

Cabo Frio 11 13 35 7 18 8 17 19 31 18 25 21 41 28 15 66Campos dos Goytacazes 9 9 43 36 17 14 35 27 20 17 27 12 6 1 14 50

Carapebus 74 69 50 41 30 41 60 32 82 71 88 86 36 52 78 81Casimiro de Abreu 6 8 17 10 9 5 15 22 43 58 10 9 9 12 8 7Macaé 5 3 5 2 6 4 13 6 17 13 37 33 7 8 18 39Quissamã 45 24 63 18 69 45 18 13 75 79 67 36 37 37 53 77

Rio das Ostras 23 6 3 3 22 23 12 9 40 21 41 16 35 20 77 71São Francisco de Itabapoana 91 92 86 75 76 75 91 91 91 92 84 80 72 68 90 90São João da Barra 73 62 25 46 70 67 54 31 72 67 76 47 70 83 35 23São Pedro da Aldeia 63 33 13 14 48 44 36 38 33 41 63 61 85 24 55 42

Fonte: elaboração própria a partir da Fundação Cide – IQM (2005).

TABELA 19

VARIAÇÃO DA POSIÇÃO DO MUNICÍPIO NO IQM (1998-2005)

Municípios IQM DIN CEN RIQ QMA FAC IGE CID

Arraial do Cabo 22 56 -1 -8 2 13 35 -29

Armação dos Búzios 22 0 18 3 23 -7 -22 -7 Cabo Frio -2 28 10 -2 13 4 13 -51 Campos dos Goytacazes 0 7 3 8 3 15 5 -36

Carapebus 5 9 -11 28 11 2 -16 -3

Casimiro de Abreu -2 7 4 -7 -15 1 -3 1 Macaé 2 3 2 7 4 4 -1 -21 Quissamã 21 45 24 5 -4 31 0 -24

Rio das Ostras 17 0 -1 3 19 25 15 6

São Francisco de Itabapoana -1 11 1 0 -1 4 4 0

São João da Barra 11 -21 3 23 5 29 -13 12

São Pedro da Aldeia 30 -1 4 -2 -8 2 61 13 Fonte: elaboração própria a partir da Fundação Cide – IQM (2005).

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A Tabela 18 mostra a variação das posições dos municípios da Bacia de Campos

no IQM de 2005 e nos indicadores que o compõe em relação ao ano de 1998, e a Tabela 19

apresenta a variação absoluta das mudanças de posição dos municípios. Os municípios que

apresentaram elevado aumento das suas posições foram São Pedro da Aldeia, que passou da

63º para a 33ª posição, ou seja, uma subida de 30 posições. Os outros municípios que

apresentaram elevado aumento foram Arraial do Cabo (67º para 45º) e Armação dos Búzios

(40º para 18º) – ambos saltaram 22 posições –, enquanto Quissamã (45º para 24º) e Rio das

Ostras (23º para 6º) saltaram 21 e 17 posições respectivamente.

Ainda no grupo dos municípios que melhoraram suas colocações no ranking do

IQM estão São João da Barra, que passou de 73º para 62º, e Carapebus, que passou de 74º

para 69º. Apesar desses municípios apresentarem melhoras nas suas posições, estas não foram

substanciais como as dos municípios indicados anterioremente. Nesse grupo destaca-se o

município de Macaé, que apresentou a menor variação positiva da sua posição, entretanto, não

se pode deixar de ressaltar que saltou da 5ª para a 3ª, ou seja, somente ficando atrás dos

municípios “inalcançáveis” do Rio de Janeiro e de Niterói.

Apesar de toda a riqueza gerada com a produção de petróleo e gás natural na

Bacia de Campos e os imensos repasses de recursos relacionados aos royalties e às

participações especiais, alguns municípios apresentaram variação negativa da posição no

IQM. São eles: Cabo Frio, que caiu da 11ª para a 13ª, e Casimiro de Abreu, que caiu da 6ª

para a 8ª. Apesar dessa variação, entendemos que esses municípios melhoraram seus

indicadores do IQM, ocorrendo que outros municípios apresentaram melhoras substanciais de

suas posições e, por isso, foram ultrapassados no ranking do IQM. O município de São

Francisco de Itabapoana caiu da 91ª para a 92ª, mas na verdade não apresentou uma queda,

pois houve a criação do município de Mesquita, que se emancipou de Nova Iguaçu, fazendo

com que aquele caísse uma posição e continuasse a se posicionar na última posição do estado

do Rio de Janeiro.

Chama a atenção o município de Campos dos Goytacazes, que se manteve na 9ª

posição nas avaliações de 1998 e 2005, pois é o município que recebe o maior volume de

recursos oriundos da produção petrolífera, mas não refletindo na melhora da posição relativa

do município em relação aos outros do estado do Rio de Janeiro.

Apesar de a maioria dos municípios da Bacia de Campos apresentarem variação

positiva no ranking do IQM, alguns indicadores mostram a vulnerabilidade desses

municípios. Vejamos algumas observações sobre a avaliação dos indicadores que compõem

esse índice:

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1) DINAMISMO (DIN) – destacam-se os municípios de Arraial do Cabo, Quissamã e Cabo

Frio, que subiram 56, 45 e 28 posições respectivamente. Macaé apresentou pequena

melhora de três posições e Rio das Ostras manteve a 3ª posição. Nesse critério, ressalta-se

a 2ª posição de Macaé, a 3ª de Rio das Ostras e a 7ª de Cabo Frio, mostrando o impacto no

dinamismo econômico provocado pela indústria petrolífera na BC;

2) CENTRALIDADE E VANTAGEM LOCACIONAL (CEN) – com exceções dos

municípios de Carapebus, que perdeu 11 posições, e Arraial do Cabo e Rio das Ostras, que

perderam uma cada, todos os municípios da BC obtiveram variação positiva nesse critério,

com destaque para Quissamã (24 posições), Armação dos Búzios (18) e Cabo Frio (10).

Macaé melhorou duas posições. Destacam-se as posições ocupadas por Macaé (4ª),

Casimiro de Abreu (5ª) e Cabo Frio (8ª);

3) RIQUEZA POTENCIAL DE CONSUMO (RIQ) – nesse critério, destacam-se os

municípios de Carapebus e São João da Barra, com aumento de 28 e 23 posições

respectivamente. Diversos outros municípios da BC apresentaram melhora nesse ranking,

como Armação dos Búzios (três posições), Campos dos Goytacazes (oito posições), Macaé

(sete posições), Quissamã (cinco posições) e Rio das Ostras (três posições). Podemos aferir

que os municípios mais próximos de Macaé obtiveram variação positiva nesse ranking,

como Rio das Ostras, Quissamã, Carapebus e Campos, provavelmente devido ao

transbordamento do crescimento econômico propiciado pelas instalações petrolíferas em

Macaé, tais como: a instalação de empresas fornecedoras da cadeia produtiva de petróleo e

gás em seus territórios que fogem das deseconomias de aglomeração experimentadas nesse

município (especulação imobilária, infraestrutura precária, maior valor da força de

trabalho, etc.) e, também, o aumento de renda propiciada pela migração diária de

trabalhadores desses municípios para trabalharem nas empresas em Macaé. Ressaltam-se,

ainda, as posições ocupadas por Armação dos Búzios (4ª), Macaé (6ª) e Rio das Ostras (9ª)

no ranking;

4) QUALIFICAÇÃO DA MÃO DE OBRA (QMA) – nesse critério, que representa o padrão

de formação educacional do ponto de vista da profissionalização, os municípios da BC que

apresentaram melhorias foram: Armação dos Búzios (23 posições), Rio das Ostras (19

posições), Cabo Frio (13 posições), Carapebus (11 posições), São João da Barra (cinco

posições), Macaé (quatro posições), Campos dos Goytacazes (três posições) e Arraial do

Cabo (duas posições). Esse melhor posicionamento dos diversos municípios é

provavelmente decorrente da mobilização individual dos trabalhadores na busca de melhor

inserção no mercado de trabalho da cadeia petrolífera, bem como de ações governamentais,

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111

institucionais e privadas no oferecimento de cursos e treinamentos de qualificação

profissional nesses municípios. Apesar da carência e da necessidade de profissionais

qualificados na região, nenhum dos municípios da BC encontra-se entre os 10 primeiros no

ranking desse critério – Macaé ocupa somente a 13ª posição. Talvez daí venha a

necessidade de as empresas buscarem profissionais fora da região para suprirem suas

carências;

5) FACILIDADES PARA NEGÓCIOS (FAC) – juntamente com o critério de Dinamismo,

esse foi o que mais avançou na região, pois, com exceção de Armação dos Búzios – que

perdeu 7 posições –, todos os outros melhoraram suas colocações, com destaque para

Quissamã (31 posições), São João da Barra (29 posições), Rio das Ostras (25 posições),

Campos dos Goytacazes (15 posições) e Arraial do Cabo (13 posições). Somente Casimiro

de Abreu encontra-se entre os 10 primeiros do estado do Rio de Janeiro nesse critério;

enquanto Macaé, que deveria ter uma facilidade de negócios muito grande devido ao seu

grande dinamismo e geração de renda, encontra-se somente na 33ª posição;

6) INFRAESTRUTURA PARA GRANDES EMPREENDIMENTOS (IGE) – esperava-se

um avanço grande da posição dos municípios da BC nesse critério, pois há grande

possibilidade de investimentos com os recursos oriundos dos royalties e as participações

especiais da produção de petróleo e gás natural. Somente alguns municípios apresentaram

melhoras: São Pedro da Aldeia (61 posições), Arraial do Cabo (35 posições), Rio das

Ostras (15 posições), Cabo Frio (13 posições), Campos dos Goytacazes (cinco posições) e

São Francisco de Itabapoana (quatro posições). O destaque negativo fica para Armação dos

Búzios, que perdeu 22 posições, e para Macaé, que perdeu quatro posições, mesmo

havendo grande necessidade de investimentos em infraestrutura para a atração de

investimentos. Nesse critério, há grande destaque para Campos dos Goytacazes, que ocupa

a primeira posição estadual, provavelmente devido às suas grandes áreas planas

disponíveis e devido ao Fundo de Desenvolvimento de Campos (Fundecam), que oferece

financiamento para investimentos com condições mais favoráveis que o mercado de

crédito dos grandes bancos;

7) CIDADANIA (CID) – esse critério representa as condições de atendimento às

necessidades básicas da população de cada município. É surpresa que, apesar do

dinamismo econômico da região e da disponibilidade de recursos para investimentos, tenha

sido o critério que apresentou o pior desempenho do conjunto dos municípios, pois sete

apresentaram variação negativa de suas posições, enquanto quatro apresentaram variação

positiva e um manteve inalterado seu posicionamento. Vejamos com mais detalhes. Os

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municípios que apresentaram variação negativa foram: Cabo Frio (51 posições), Campos

dos Goytacazes (36 posições), Arraial do Cabo (29 posições), Quissamã (24 posições),

Macaé (21 posições), Armação dos Búzios (sete posições) e Carapebus (três posições). Os

municípios que apresentaram melhora no ranking foram: São Pedro da Aldeia (13

posições), São João da Barra (12 posições), Rio das Ostras (seis posições) e Casimiro de

Abreu (uma posição). São Francisco de Itabapoana manteve invariável seu

posicionamento. Podemos deduzir desses dados que o crescimento econômico que assola a

região não se converte em melhores condições de atendimento do poder público à

população dos seus municípios. Isso torna-se mais claro quando observamos as posições

absolutas dos municípios, pois oito municípios da região encontram-se após a posição de

número 46 no ranking estadual, ou seja, na segunda metade dos municípios que melhor

satisfazem as necessidades básicas de saúde, segurança, educação, justiça e lazer. Somente

Casimiro de Abreu está entre os 10 primeiros do ERJ, mais especificamente na 7ª posição.

Salienta-se que o dinamismo experimentado por essa região deverá ser

incrementado com outros investimentos previstos, como a construção das quatro fábricas de

tubos da alemã Schulz, em Campos dos Goytacazes; a construção do Complexo Portuário do

Açu, pela MMX do Grupo EBX, em São João da Barra86; do Estaleiro STX, em Barra do

Furado, entre Quissamã e Campos; da revitalização do setor sucroalcooleiro, e a ampliação

dos investimentos para a exploração e produção de petróleo e gás natural na Bacia de

Campos.

Além dos investimentos previstos nos municípios da Bacia de Campos, outros

investimentos em outras regiões do ERJ contribuirão para a consolidação da inflexão

econômica experimentada pela economia flumiense nos últimos 15 anos. Entretanto, Natal

(2005) aponta alguns problemas oriundos dessa inflexão positiva da economia fluminense.

Em primeiro lugar, chama a atenção pelo histórico nada salutar da indústria do petróleo

desempenhar o papel de “carro-chefe” do processo de crescimento econômico em outros

lugares. Geralmente, esse processo não é sustentável a longo prazo, com o abandono das áreas

produtoras após o esgotamento das jazidas de óleo e gás natural comum à atividade extrativa

mineral.

86 “Quem tem não, vende. Quem não tem, está doido para comprar. Esta é a nova realidade do mercado imobiliário de São João da Barra, município que já começa a sentir os reflexos da implantação do complexo portuário da MMX e dos diversos empreendimentos que virão a reboque, como três usinas termelétricas e uma siderúrgica. Com preços inflacionados em até 300%, terrenos e áreas rurais do município agora têm ´peso´ de ouro. Hoje, a área mais valorizada é aquela que até pouco tempo era considerada o primo pobre da região: o distrito do Açu, onde as grandes áreas que não serviam nem para a agricultura hoje já custam até R$ 50 mil o alqueire” (Economia & Negócios, Ano 1, Número 1, Março/2008).

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113

Nas últimas duas décadas, o desenvolvimento da indústria extrativa de petróleo e

gás natural no Norte Fluminense mostra-se extremamente relevante para este processo de

retomada do crescimento da economia fluminense. Sua participação no PIB estadual e a

produção nacional de 82% de petróleo e 45% de gás natural contribuiu intensamente para a

chamada “autossuficiência87”. Esse volume de produção credencia o ERJ como um dos

maiores produtores de P&G do mundo, pois supera a produção de alguns países pertencentes

à Opep88, como Argélia e Nigéria.

A região da Bacia de Campos89, particularmente os municípios como Macaé,

Campos dos Goytacazes e Rio das Ostras, apresenta um crescimento econômico vigoroso

devido à intensa dinâmica da indústria petrolífera sediada em Macaé, que somente após 30

anos de produção de petróleo e gás natural iniciou seu processo de transbordamento para

municípios vizinhos com o aporte de recursos através de investimentos produtivos. Além

disso, os recursos oriundos dos royalties e das participações especiais tornam a região uma

das poucas do país com oportunidade de acompanhar as necessidades criadas por essa

efervescência econômica e do grande número de migrantes qualificados e com pouca

qualificação que aportam diariamente na região.

Assim, as possibilidades de crescimento da receita governamental do estado e dos

municípios da Bacia de Campos, a necessidade de manutenção e de crescimento da produção

petrolífera que gera forte encadeamento nesse território e as perspectivas de investimentos

que foram anunciadas para a Região Norte Fluminense possuem papel fundamental na

consolidação da inflexão positiva da economia fluminense desde a segunda metade da última

década.

87 Simbolicamente, considera-se que o Brasil atingiu a autossuficiência em 21/04/06 quando o presidente Lula acionou os motores da plataforma FPSO P-50. Devido às características do óleo produzido e do parque de refino brasileiro, essa autossuficiência não é correspondida em relação aos derivados de petróleo (nafta, querosene de aviação, gasolina e diesel). 88 A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep – em inglês Opec) é uma organização composta por países que detêm as maiores reservas de petróleo do mundo, além de serem exportadores líquidos de petróleo. O objetivo é unificar a administração das decisões, o que inclui controle de preços e do volume de produção, para estabelecer pressões no mercado. Fundada em 17 de setembro de 1960, atua na forma de cartel e sua sede é na cidade de Viena, na Áustria. Os países membros com suas respectivas datas de associação por continente são: África – Nigéria (julho/1971), Líbia (dezembro/1962), Argélia (julho/1969), Angola (janeiro/2007 – último país a ingressar na associação); América do Sul – Venezuela (setembro/1960) e Equador de 1973 a 1992, retornou como membro em dezembro/2007); Sudeste Asiático – Indonésia (dezembro/1962 – o status de associado encontra-se em revisão devido à Opep não considerá-la mais um país exportador líquido de petróleo); Oriente Médio – Arábia Saudita (setembro/1960), Emirados Arábes Unidos (novembro/1967), Irã (setembro/1960), Iraque (setembro/1960), Kwait (setembro/1960) e Catar (dezembro/1961). 89 No capítulo seguinte, definimos para fins metodológicos deste trabalho os seguintes municípios como pertencentes à Bacia de Campos: Arraial do Cabo, Armação dos Búzios, Cabo Frio, Campos dos Goytacazes,

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114

3.4. A CONSOLIDAÇÃO DA INFLEXÃO ECONÔMICA ATRAVÉS DA

PERSPECTIVA DE INVESTIMENTOS PARA 2008-2012

Segundo estimativas da Firjan (2008), o ERJ é a unidade federativa com maiores

perspectivas de investimentos para o quinquênio 2008-2012. Com isso, surge uma grande

oportunidade de consolidar o processo de inflexão econômica experimentado pelo estado do

Rio de Janeiro a partir da segunda metade da década de 1990.

Os bons indicadores econômicos (nacional e estadual) e a eleição do governador

Sérgio Cabral Filho renovaram o ânimo da classe capitalista fluminense. Com objetivo de

atrair investimentos externos e aumentar a carteira de projetos próprios no território do ERJ,

inicia-se um processo de conformação institucional entre o Governo Estadual e as instituições

patronais através de estudos de potencialidades e mapeamentos de perspectivas de

investimentos.

Diversos estudos e mapeamentos foram produzidos como instrumentos e

ferramentas de orientação a empreendedores e com objetivo de influenciar as políticas

públicas estaduais de desenvolvimento econômico. Pela primeira vez, o Governo do Estado

publicou um planejamento estratégico para um período de governo: o Plano Estratégico do

Governo do Rio de Janeiro (2007-2010) – a Firjan aglutinou diversas lideranças empresariais

e institucionais e construiu o Mapa do Desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro (2006-

2015) e também elaborou uma espécie de mapa dos investimentos previstos chamado Decisão

Rio – Investimentos 2008-2010. Este último documento já vem sendo elaborado a alguns anos

na tentativa de atrair investimentos para o ERJ.

3.4.1. Plano Estratégico do Governo do Rio de Janeiro (2007-2010)

A construção desse plano foi realizada sob a orientação metodológica da empresa

Macroplan, especializada em desenvolver metodologias de planejamento estratégico e

organizar workshops de aplicação para estados e municípios.

O estudo inicia com uma breve análise histórica da situação econômica e social do

ERJ a partir da mudança da capital federal para Brasília (1960). Projetam-se quatro cenários

diferentes com objetivos de alcançar uma visão de futuro para os próximos 30 anos: Em 2027,

o Rio de Janeiro é um lugar único para se viver e investir: próspero, seguro, ambientalmente

Carapebus, Casimiro de Abreu, Macaé, Quissamã, Rio das Ostras, São Francisco de Itabapoana, São João da Barra e São Pedro da Aldeia.

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sustentável, onde educação e cultura são valores inquestionáveis e transformadores (Governo

do Estado do Rio de Janeiro, 2007: 34). Assim, o chamado ambiente fluminense seria visto

como eficiente, competitivo, educado, inovador, próspero, seguro, saudável, sustentável e

diferenciado.

Dessa forma, aponta os principais gargalos ao desenvolvimento do estado

relacionados ao contexto social atual: violência; desigualdade social e pobreza; ocupação

territorial desordenada e favelização; informalidade excessiva; disponibilidade limitada de

recursos hídricos; baixa articulação dos atores sociais, econômicos e políticos; gestão

ineficiente, desarticulação institucional, baixa qualidade do gasto público e desequilíbrio

fiscal. Nota-se, aqui, o grande desafio a ser superado para a construção desse ambiente devido

aos históricos problemas enfrentados pelo ERJ – principalmente a capital – ao longo dos anos.

Após diagnosticar os entraves ao desenvolvimento, o plano apresenta as

potencialidades do ERJ a serem trabalhadas: imensas reservas de petróleo e gás natural;

capital intelectual e sistema de ciência, tecnologia e inovação; posição geográfica estratégica;

belezas e riquezas naturais, vocação cosmopolita e cultura vibrante; extensão das áreas de

preservação de ecossistemas e marca internacional reconhecida.

O plano permite uma análise mais profunda dos problemas do que das

potencialidades. Nota-se a forte presença da capital no imaginário dos “planejadores”, pois as

potencialidades quase exclusivamente resumiram-se nas vocações e nas intangibilidades dos

simbolismos da Cidade Maravilhosa (cultura cosmopolita, cultura vibrante e marca

internacional reconhecida). Apesar de apontarem na análise de cenário atual a diversidade da

economia fluminense, o potencial industrial e o recente processo de interiorização econômica,

nada disso não foi considerado como uma potencialidade que merecesse maiores comentários.

Essa análise de cenário permite inferir algumas ideias que não muda[m], muda[m]

pouco ou é[são] muito previsível[previsíveis] até 2027. Particularmente, no que interessa mais

diretamente a este trabalho nas tendências consolidadas e invariantes nacionais com impacto

sobre o futuro do ERJ está a certeza de uma reconfiguração espacial e econômica através da

interiorização do desenvolvimento, da ampliação do agronegócio, da desconcentração

industrial e a criação de novos polos de dinamismo econômico. Em relação direta com as

tendências consolidadas e invariantes do ERJ no que tange à região da Bacia de Campos,

temos:

1) o crescimento populacional e a intensificação da pressão de demanda sobre as cidades da

Baixada Litorânea (Rio das Ostras, inclusive, pois sua população aumentou quase 100%

de 2000 a 2007) e Costa Verde;

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2) desenvolvimento da indústria estadual ancorada basicamente na cadeia produtiva de

petróleo e gás natural nos setores de E&P, químico, metal-mecânico e naval;

3) aumento da relevância da Bacia de Campos para a geração de renda;

4) aumento da inserção externa da economia fluminense através da ampliação dos fluxos de

comércio das principais cadeias produtivas (petrolífera, metal-mecânica e química);

5) ampliação da demanda por mão de obra qualificada, com intensificação da competição

intraestadual (entre setores econômicos) e interestadual;

6) ampliação das pressões sobre o meio ambiente decorrentes das atividades industriais e

concentração urbana (Governo do Rio de Janeiro, 2007: 21).

Para alcançar a Visão 2027, as estratégias prioritárias a serem buscadas são:

reconstrução da gestão estadual, reconquista da segurança pública e da cidadania, e

articulação e promoção de investimentos. Dessas três estratégias prioritárias derivam nove

áreas de resultado com suas respectivas ações. Essas nove áreas são: reconquista da

segurança; ampliação das ações preventivas e modernização do sistema de saúde;

desenvolvimento do capital humano; desenvolvimento econômico, atração de investimentos e

inovação tecnológica; desenvolvimento social, inclusão produtiva e cidadania; promoção da

cultura e integração pelo esporte; sustentabilidade ambiental; expansão e melhoria da

infraestrutura urbana e logística de transportes; e renovação e fortalecimento da gestão

pública.

Em relação à promoção de investimentos, elaboraram-se três pilares com objetivo

de construir um ambiente favorável à geração e à competitividade dos negócios. O primeiro é

o mapeamento e o apoio a setores com potencial estratégico de impulsionar com ações

estruturantes as potencialidades regionais obedecendo aos seguintes critérios: potencial de

crescimento sustentável; aderência às vocações e competências existentes e mobilizáveis na

região; geração de externalidades favoráveis (economia, social, meio ambiente, tecnologia e

fiscal); capacidade de transformação e melhoria da realidade socioeconômica regional; e risco

de implantação.

O segundo pilar é a priorização de fatores estruturais que seguem os seguintes

princípios: expansão e melhoria da logística e da infraestrutura econômica; melhoria

substancial da segurança pública; qualificação de mão de obra para os empreendimentos;

garantia da sustentabilidade ambiental; apoio à inovação e à oferta de serviços tecnológicos;

apoio financeiro, com investimento em capital de risco e com produtos diferenciados e

inovadores; políticas diferenciadas de apoio à região-setor; oferta seletiva de benefícios

fiscais; apoio aos Arranjos Produtivos Locais (APLs) e polos industriais; apoio diferenciado a

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micro e pequenas empresas; equidade de tratamento fiscal; e regulação e combate à

informalidade.

O último atua na pré-decisão do investidor com objetivo de promover a

competitividade para a atração e a retenção de investimentos produtivos privados e públicos.

Seus principais pontos possuem os seguintes objetivos: manter bom relacionamento com

empreendimentos já localizados no estado; realizar e disponibilizar estudos para potenciais

investidores; promover road shows para atrair investidores; mapear potenciais interferências e

entraves do Governo a setores estratégicos ao estado, com consequente plano de ação para

minimizar impactos; disponibilizar informações importantes para o investidor; identificar

potenciais investidores e ofertar planos de negócios para investimentos no estado nos setores

prioritários; e ofertar incentivos fiscais e financeiros em função da estratégia de promoção de

investimentos para setores e/ou regiões prioritários.

O suporte organizacional e gerencial para apoiar essa estratégia de promoção de

investimentos ocorrerá através do foco em algumas ações, a saber: profissionalizar gestores

públicos com orientação para o desenvolvimento econômico e para a promoção de

investimentos; formar estrutura profissional para promover investimentos; elaborar e

disseminar informações estratégicas através de cenários e planos de desenvolvimento e

estudos setoriais e/ou regionais; modelagem de negócios, pré-avaliação de viabilidade e

negociação com potenciais investidores; projetos de apoio e projetos gêmeos90; forte

articulação e integração entre as secretarias do Governo; concessão seletiva de incentivos

fiscais e financeiros com exigência de contrapartidas; e avaliação e monitoramento

sistemáticos de impactos.

Essa estrutura metodológica de estratégias e ações tem como objetivo apoiar a

execução de 43 projetos com o propósito de alcançar os resultados qualitativos na melhoria do

ambiente de negócios e contribuir para o alcance da Visão 2027. Desses 43 projetos, 13 são

chamados de projetos estratégicos estruturantes com foco em obras de saneamento,

urbanização e transportes; 30 são projetos estratégicos prioritários direcionados às melhorias

sociais, econômicas e da própria gestão pública.

Todo esse arcabouço de estratégias, ações e projetos pretende viabilizar algumas

entregas (deliverables) à sociedade fluminense em 2010:

90 “Esse novo instrumento estratégico tem foco na atuação pós-decisão do investimento e se direciona para a sua sustentabilidade e garantia de competitividade de negócios. Eles funcionarão de maneira paralela a um projeto empresarial estruturante, apoiando-o com: garantia das entregas do Governo pactuadas com o investidor; superação de entraves, com articulação e atuação em rede; e adequação de infraestrutura e qualificação de mão de obra envolvidas” (Governo do Rio de Janeiro, 2007: 74).

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1) substancial desenvolvimento do ambiente de negócios e promoção da liderança do setor

de Ciência, Tecnologia e inovação nas vocações econômicas do estado;

2) expressivo aumento da qualidade da educação pública, intensificação da qualificação

profissional orientada para o mercado e aumento da inclusão social;

3) acesso à atenção básica, pré-hospitalar 24 horas e hospitalar em rede integrada, de

qualidade e humanizada;

4) expansão e melhoria da infraestrutura e da logística de transportes, com destaque para a

implantação do Arco Metropolitano. Essa será uma rodovia que ligará a BR-101, em

Itaboraí, ao Porto de Itaguaí, passando por Magé, Duque de Caxias, Nova Iguaçu, Japeri e

Seropédica – sem que o trânsito entre pela Avenida Brasil ou suba a Ponte Rio-Niterói;

5) reorientação das políticas de urbanização, incluindo a integração de favelas ao tecido

urbano e a integração modal e intermodal do transporte de massa;

6) recuperação dos grandes passivos ambientais do estado;

7) significativa expansão do sistema de saneamento, incluindo a área de competência direta

do Estado e a articulação com os municípios, além da implantação dos projetos da Região

Metropolitana e da Baixada Fluminense; e

8) crescimento econômico diversificado e geograficamente equilibrado (Governo do Rio de

Janeiro, 2007: 119).

3.4.2. Mapa do Desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro (2006-2015)

O Mapa do Desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro é uma iniciativa do

Sistema Firjan de identificar os principais objetivos e estabelecer relações causais com intuito

de promover o chamado desenvolvimento sustentável (econômico, social e ambiental) do

estado através de dois resultados esperados: o aumento da qualidade de vida e o crescimento

econômico. Sua construção deu-se no período de novembro de 2005 a junho de 2006 através

de diversas reuniões e workshops com a mobilização de mais de mil empresários e

representantes de organizações públicas e privadas.

A estrutura metodológica desse trabalho divide-se em quatro perspectivas, que

contemplam 13 temas centrais compostos por 31 objetivos estratégicos, que serão atingidos

com 119 ações propostas. As quatro perspectivas com seus respectivos temas centrais são:

1) Bases do Desenvolvimento – essa perspectiva congrega 17 objetivos estratégicos com

ênfase no protagonismo governamental e refere-se aos seguintes temas centrais: liderança

empresarial e política; gestão pública eficiente; ambientes institucional e regulatório;

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educação e saúde; segurança e combate à criminalidade; infraestrutura e logística; e

financiamento;

2) Foco de Atuação – congrega nove temas com protagonismo empresarial. Os temas

centrais são: competitividade empresarial, interiorização e APLs, exportação de produtos

e serviços, segmentos âncoras;

3) Posicionamento em 2015 – o posicionamento proposto para o ERJ diante dos agentes

nacionais e internacionais é ter produtos e serviços de alto valor agregado e qualidade

reconhecida; e

4) Resultados – como exposto acima, os resultados esperados são a aumento da qualidade de

vida da população fluminense e a sustentabilidade do crescimento econômico.

Alguns dos objetivos propostos têm relação direta com a região produtora de

petróleo e gás natural do ERJ, a saber:

1) Tema 1: Gestão Pública Eficiente – Objetivo 2.1 (garantir a transparência, a ética e a

eficiência na utilização dos recursos públicos) – esse objetivo reflete a intenção de

diminuir a dependência dos municípios considerados petrolíferos das receitas auferidas

com royalties e participações especiais. Além disso, garantir que esses recursos sejam

utilizados no fortalecimento e na diversificação da base produtiva desses municípios. Esse

objetivo possui nove ações a serem implementadas, mas duas delas dizem respeito

diretamente a esses municípios. A ação 8 pretende criar um fundo de desenvolvimento

sustentável das regiões produtoras de petróleo do estado do Rio de Janeiro e a ação 9

pretende estimular novas atividades produtivas nessas regiões;

2) Tema 3: Ambiente Institucional e Regulatório – Objetivo 3.1 (garantir marcos regulatórios

estáveis e sistemas regulatórios bem-definidos) – a ação 30 propõe mecanismos de

desoneração do ICMS através do Repetro com objetivo de baratear os investimentos. O

Repetro é um regime aduaneiro especial que favorece à exportação e importação de bens

destinados às atividades de pesquisa e lavra das jazidas de petróleo e gás natural;

3) Tema 6: Infraestrutura e Logística – Objetivo 6.2 (melhorar a infraestrutura de transportes

e logística no estado) – a ação 59 pretende promover a melhoria da acessibilidade aos

portos do ERJ. Assim, pretende implementar projetos de construção dos novos acessos ao

porto de Barra do Furado, entre Campos e Quissamã, e elaborar um estudo que identifique

uma alternativa de negócio para o porto de Arraial do Cabo, pois está localizado dentro da

cidade e próximo a uma reserva extrativista do Ibama;

4) Tema 9: Interiorização e Arranjos Produtivos Locais – Objetivo 9.1 (fortalecer os

arranjos produtivos locais) – a ideia é aumentar a qualificação da estrutura produtiva para

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ampliar as oportunidades de negócios e a geração de emprego e renda, bem como a

competitividade e a dinamização do conjunto da economia fluminense. Na Bacia de

Campos, já se considera que há um Arranjo Produtivo de Petróleo, Gás e Energia (APL

PGE-BC) com seus aspectos de governança91 (Rede Petro – Bacia de Campos)92 e atuação

do poder público e instituições públicas e privadas. Caso a ação 95 (Mapeamento da

Demanda de Mercado para Arranjos Produtivos Locais) realmente aconteça, ela

impulsionará a identificação de novos mercados e de canais de comercialização para as

empresas que atuam nessa região. Para articular essas iniciativas com outras de âmbito

federal e municipal, a ação 96 (Criação de um Fórum de Discussão de APLs) somente

busca estabelecer um espaço de discussão e experiências sobre APLs fluminenses que já

vem sendo realizado pela chamada Câmara Estadual de APLs93;

5) Tema 11: Segmentos Âncoras – Objetivo 11.1 (fortalecer a cadeia produtiva de petróleo,

gás e segmentos adjacentes) – pretende-se aproveitar a característica intrínseca dessa

cadeia de possuir um enorme efeito multiplicador para frente e para trás através da

demanda de diversos bens e serviços a outros setores econômicos. Conta-se, aqui, com a

expectativa de investimentos no setor naval, no Comperj, no Polo Gás-Químico e nos

próprios investimentos para aumento da produção na BC. Destaca-se, ainda, o grande

valor adicionado que gera à produção industrial e às receitas fiscais do estado e dos

municípios, bem como à geração de empregos diretos e indiretos. As ações previstas para

esse objetivo são: ação 106 – acompanhamento da demanda por formação profissional;

ação 107 – acompanhamento dos investimentos setoriais; ação 108 – monitoramento dos

impactos da instalação do Comperj; ação 109 – elaboração de estatísticas para

acompanhamento do setor naval; e ação 110 – incentivo ao aumento do conteúdo

fluminense nos projetos de investimentos da cadeia produtiva de petróleo, gás e

segmentos adjacentes.

91 “Gouvernance é termo inglês. Trata-se de formas de conduta de uma organização humana, no sentido mais amplo que gouvernment (de uma estrutura política territorial). A tradução desse termo coloca problemas. ‘Regulação’ parece o mais adequado, mas, como ‘governança’ visa mais particularmente à regulação de relações de poder e de coordenação do que mercantis, estamos perto da ‘regulação política’. Todavia, a palavra política remete, muito especificamente, à forma estatal. É necessário reviver a velha acepção francesa do vocábulo gouvernement (recuperado por Michel Foucault). É que, desde Montesquieu, a expressão 'forma de governo' diz respeito ao Estado, e não é disso que se trata. A boa escolha, segundo parece, é retomar um termo caído em desuso (governança: espécie de jurisdição em Flandres), em vez de forjar um neologismo ou reanimar o velho governo” (BENKO, 1996: 62). 92 Mais adiante trataremos sobre a Rede Petro – Bacia de Campos. 93 “Definir e implementar estratégias de dinamização e integração dos APLs e Concentrações Econômicas (efetivas e potenciais), com foco na eficiência produtiva, na estabilidade social, na formalidade, na geração de emprego, trabalho e renda do estado do Rio de Janeiro.” [Há fonte para esta citação?]

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Diferentemente do Planejamento Estratégico do Governo do Estado, que possui

como horizonte 2027, esse Mapa do Desenvolvimento pretende enxergar somente até 2015

com o objetivo de tornar o ERJ:

1) Estado-destaque na exportação de produtos e serviços – saltar da 5ª posição no ranking

dos estados para a posição ocupada atualmente pelo estado de Minas Gerais (2ª);

2) Referência internacional de turismo – passar dos atuais 1,7 milhão de turistas estrangeiros

para o equivalente a Nova York (6,2 milhões);

3) Referência nacional em produção do conhecimento – aumentar o dispêndio em pesquisa e

desenvolvimento (P&D) em relação ao PIB (%) de 0,60 (2003) e aumentar a participação

do setor produtivo no dispêndio de P&D.

Os resultados esperados quanto à realização dessas ações para 2015 são:

1) Elevação da qualidade de vida – aumentar o IDH de 0,807 para o equivalente ao do Chile

(0,854);

2) Crescimento econômico – levando-se em conta o ranking mundial do PIB per capita, o

ERJ está na 45ª posição (2004), e espera-se alcançar a 33ª posição.

Para alcançar esses resultados, os empresários fluminenses terão que contar com

um esplendoroso cenário nacional e internacional, bem como se tornarem mais competitivos.

Além disso, o Governo do ERJ terá que contribuir fortemente destinando parcelas importantes

dos seus recursos para apoiar o grande capital no desenvolvimento da infraestrutura e de um

ambiente favorável à atração de investimentos.

3.4.3. Decisão Rio – Investimentos 2008-2010

O Sistema Firjan também elaborou o documento Decisão Rio – Investimentos

2008-2010. Esse é um mapeamento dos principais investimentos produtivos previstos para o

ERJ com objetivo de orientar as indústrias fluminenses e do exterior na tomada de decisão de

ampliação e instalação dos negócios no território do estado.

Apesar do processo de interiorização da economia fluminense enunciado nos

planos apresentados acima, os dados do mapeamento Decisão Rio (2008-2010) apontam que

as perspectivas de investimentos para o período 2008-2010 para o município do Rio de

Janeiro e sua Região Metropolitana são de aproximadamente R$ 13,7 bilhões, ou seja, 12,77%

dos investimentos previstos para todo o ERJ. Esses ocorrerão principalmente através dos

investimentos na capital com a CSA ThyssenKrupp (R$ 7.174 milhões), da Light (R$ 1.100

milhões), da Eisa (R$ 779,5 milhões), do Consórcio Rio Naval (R$ 735 milhões), do Estaleiro

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Aliança (R$ 211 milhões), da Rio de Janeiro Refrescos (R$ 224 milhões) e dos investimentos

da Prefeitura do Rio de Janeiro na rede de transportes de massa (R$ 577 milhões). Outros

investimentos estarão próximos da capital, porém com expectativa de concretização em outros

municípios da RMRJ (mas fora do município sede): CSN em Itaguaí (R$ 7.596 milhões),

Comperj (R$ 6.330 milhões) em Itaboraí, Companhia de Coque Calcinado de Petróleo S.A.

(R$ 337,6 milhões) em Seropédica (próximo ao porto de Itaguaí), Trem Bala RJ/SP (R$ 2.321

milhões), os dois projetos da Michelin – um para implantação e outro para expansão e

modernização – na cidade do Rio de Janeiro (R$ 628,8 milhões), e o Arco Rodoviário (R$

802 milhões).

Para o restante do território fluminense, a expectativa é de aprofundamento da

desconcentração concentrada, ou seja, a interiorização do crescimento acontece em

verdadeiras ilhas através da concentração em algumas regiões do ERJ:

• no Sul Fluminense, com as siderúrgicas do Grupo Votorantim em Resende (R$ 1 bilhão) e

Barra Mansa (R$ 253,2 milhões), com a Usina de Angra 3 (R$ 7,2 bilhões), com a Usina

Hidrelétrica de Simplício (R$ 1,2 bilhão) entre os municípios de Três Rios e Sapucaia, da

Atar do Brasil Defensivos Agrícolas (R$ 100 milhões) também no município de Resende, e

da CSN em Volta Redonda (R$ 238,43 milhões);

• no Leste Fluminense, com os estaleiros niteroienses do Consórcio Mauá-Jurong (R$ 235

milhões), do estaleiro Aker Promar94 (R$ 354,5 milhões), do estaleiro Renave (R$ 40

milhões), do Comperj (R$ 6,3 bilhões) e com o empreendimento turístico Fazenda São

Bento da Lagoa (R$ 8 bilhões) em Maricá;

• na região das Baixadas Litorâneas, com a Reserva do Peró (R$ 600 milhões) em Cabo

Frio, e o Superclubs Breezes (R$ 120 milhões) em Armação dos Búzios;

• no Norte Fluminense, com o Complexo Logístico e Industrial de Barra do Furado (R$ 110

milhões) entre Campos dos Goytacazes e Quissamã, controlado hoje pelo Estaleiro STX,

com o Complexo Portuário do Açu (R$ 4,9 bilhões) e com a Usina Termelétrica Porto do

Açu (R$ 4,1 bilhões) em São João da Barra, com os investimentos esperados para as Zonas

Especiais de Negócios de Rio das Ostras (R$ 65 milhões) e Carapebus (R$ 2,2 milhões), e

dos investimentos em biocombustíveis das usinas Elcana Agroenergética (R$ 180 milhões)

e da Alcana Agroenergia (R$ 300 milhões) em Campos dos Goytacazes.

94 Em 29 de agosto de 2008, o estaleiro sul-coreano STX Shipbuilding passou a controlar 88,37% do grupo norueguês de construção naval Aker Yards, que possuía o controle acionário do Aker Promar. Esse controle ocorreu a partir da duplicação da participação do estaleiro sul-coreano no grupo norueguês com a aquisição de 48% do capital.

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Entretanto, percebe-se que as outras regiões do ERJ – Serrana, Centro-Sul e

Noroeste95 – continuam sem apresentar grandes perspectivas de investimentos para os

próximos anos. Portanto, essa perspectiva de concentração dos investimentos, por um lado,

levanta a preocupação com os desequilíbrios regionais e, por outro, reitera a preocupação com

os tradicionais problemas sociais em áreas que apresentam forte dinâmica econômica e que

tendem a se intensificar, aprofundando os desequilíbrios regionais.

Somente a Petrobras será responsável por aproximadamente 42,87% (R$ 39,7

bilhões das áreas de E&P e transporte mais os R$ 6,3 bilhões do Comperj) dos investimentos

previstos para o período 2008-2010 no ERJ. Esse território será o grande privilegiado dos

investimentos dessa companhia no âmbito nacional devido ao grande volume de recursos

destinados às atividades de Exploração e Produção e à atual necessidade de expansão dessas

atividades na BC. Além disso, é o único estado da Federação que possui todos os elos da

cadeia produtiva de petróleo e gás, a saber: Exploração e Produção na Bacia de Campos,

Refino e Abastecimento em Duque de Caxias, a administração de todo o processo no edifício

sede (Edise) da Petrobras, a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico no Centro de Pesquisa

(Cenpes) na Ilha do Fundão, e o transporte e o apoio à produção com a indústria naval em

Angra dos Reis e Niterói. A Petroquímica será contemplada com a instalação do Comperj.

Nesse contexto, veremos na segunda parte deste trabalho que, apesar de todos os

outros investimentos previstos para o ERJ descritos acima, apontamos que os investimentos

da Petrobras e alguns outros ancorarão um novo eixo de investimento do capitalismo

brasileiro, que se estenderá da Baixada Santista, com a instalação da nova base operacional da

Petrobras que operará a produção de petróleo e gás natural da Bacia de Santos, e com o

terminal de tratamento de gás de Caraguatatuba até o Espírito Santo, com as operações de

95 Particularmente, a região Noroeste Fluminense apresenta os piores indicadores sociais e econômicos do ERJ e torna-se uma preocupação constante por não vislumbrar nenhuma perspectiva de superação dos seus entraves ao desenvolvimento. Seus 13 municípios (Itaperuna, Bom Jesus do Itabapoana, Italva, Laje do Muriaé, Natividade, Varre-Sai, Porciúncula, Santo Antônio de Pádua, Cambuci, Miracema, Itaocara, Aperibé e São José de Ubá) possuem uma pecuária leiteira de baixa produtividade e rentabilidade, alguma produção de café e um polo de produção de rochas ornamentais em Santo Antônio de Pádua, um dos seus polos microrregionais junto com Itaperuna que possui uma estrutura industrial de laticínios importante. Por possuírem a configuração de polos microrregionais, esses dois municípios apresentam significativa dinâmica nos segmentos de comércio e serviços. Tradicionalmente, essa região sofre impactos oriundos da dinâmica econômica da região Norte Fluminense devido à proximidade e de sua ligação histórica com Campos dos Goytacazes, do qual “emancipou-se” em 1987. Cruz (2007: 44) assinala algumas questões sobre essa região, que “sofre, desde os anos 60, uma séria crise de emprego, pela ausência de reconversão produtiva, pela baixa rentabilidade da sua pecuária, pela desertificação de suas terras, exauridas pelas formas de produção do café e pelo manejo da pecuária; e, desde os anos 80, pela decadência da agroindústria sucroalcooleira polarizada por Campos, mas que possui plantações e unidades industriais em alguns municípios da região [...] A estagnação econômica, os níveis de pobreza e a falta de perspectiva de emprego dominam o cenário socioeconômico regional”.

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exploração e produção onshore e offshore. Assim, esse eixo perpassará todo o litoral do ERJ,

passando por todos os seus elos dessa cadeia produtiva.

O senso comum prevê o fim do ciclo do petróleo para as próximas décadas. Mas

os dados e as notícias sobre as atividades de exploração das empresas operadoras vislumbram

um grande horizonte de produção para as três principais bacias produtoras do país (Espírito

Santo, Campos e Santos). Conforme notícia, a Petrobras aponta a viabilidade dessa

possibilidade96:

A Petrobras anunciou que 19 descobertas realizadas pela companhia são economicamente viáveis e têm potencial de acrescentar 2,1 bilhões de barris de petróleo e gás às suas reservas de petróleo. Atualmente, os reservatórios provados da companhia somam 15 bilhões de barris. Ou seja, essas novas áreas que estão aptas a produzir óleo e gás no futuro equivalem a 12,7% das reservas de óleo e gás da Petrobras. São 16 em mar e 3 em terra nas bacias de Santos (litorais de SP e RJ), Campos (litoral norte fluminense) e Espírito Santo (Folha de São Paulo, 30/12/06: B3).

Nesse contexto de grandes descobertas e, consequentemente, de perspectivas de

investimentos, destacamos a importância da centralidade econômica exercida pela “ilha” de

crescimento econômico no território da Bacia de Campos, o município de Macaé. Além disso,

decorrente da tendência de desenvolvimento das forças produtivas no ERJ, a partir da

primazia da concretização dos investimentos anunciados nesse território, investigaremos com

que caráter e contéudo essa centralidade permanece nesse território em relação ao ERJ e aos

outros municípios da Bacia de Campos.

Além dos investimentos do segmento de P&G e dos enunciados mais acima,

outras oportunidades de investimentos anunciadas para o estado reforçam esse processo de

inflexão. De acordo com o Governo do ERJ, são investimentos públicos e privados superiores

a R$ 107 bilhões de 2008-2010 com potencial de criação de 310 mil empregos diretos e

indiretos. Segundo a Firjan (2008), o objetivo desses investimentos é a implantação de novos

negócios (R$ 54 bilhões – 51%), expansão e modernização (R$ 50,2 bilhões – 47%) e

construção de embarcações (R$ 2,4 bilhões – 2%). De acordo com os setores de atividade,

esses investimentos previstos estão divididos da seguinte forma: somente a Petrobras no ERJ

prevê investir R$ 39,7 bilhões (37%), a indústria de transformação R$ 29,2 bilhões (27%), a

de infraestrutura pretende R$ 28,4 bilhões (27%), a indústria de turismo participaria com R$ 9

bilhões (8%) e outros segmentos com aproximadamente R$ 1 bilhão (1%). Na Tabela 20, há a

apresentação dos 20 maiores projetos de investimentos para esse período.

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125

TABELA 20

VINTE MAIORES INVESTIMENTOS PREVISTOS NO RIO DE JANEIRO (2008-2010) EMPRESA SEGMENTO LOCALIZAÇÃO PRINCIPAIS

EMPREENDEDORES INVESTIMENTOS

(R$ MILHÕES) Fazenda São Bento da

Lagoa

Turismo

Marica Investidores espanhóis e

portugueses

8.000 Companhia Siderúrgica

Nacional (CSN)

Siderurgia

Itaguaí

CSN

7.596 Companhia Siderúrgica

do Atlântico (CSA ThyssenKrupp)

Siderurgia

Rio de Janeiro

ThyssenKrupp (90%) e Vale (10%)

7.174

Comperj Petroquímica Itaboraí e São Gonçalo

Petrobras, Grupo Ultra e BNDES

6.330

Complexo Portuário do Açu

Infraestrutura Logística (porto)

São João da Barra

LLX Logística S.A.

4.958,5

Usina Angra 3

Infraestrutura (energia elétrica)

Angra dos Reis

Eletronuclear

4.800

Usina Termelétrica Porto do Açu

Infraestrutura (energia elétrica)

São João da Barra

MPX Mineração e Energia S.A. e quotistas

4.100

Trem-Bala RJ/SP

Infraestrutura (transporte de passageiro)

Rio-São Paulo

Iniciativa privada através de concessão organizada

pela Valec S.A.

2.321

Light S.A.

Infraestrutura (energia elétrica)

1.100

Votorantim Siderurgia Resende Grupo Votorantim 1.012,8 Usina Hidrelétrica de

Simplício Infraestrutura

(energia elétrica)

Três Rio e Sapucaia

Furnas

960

MRS Logística

Infraestrutura (ferrovia)

Toda a extensão da malha ferroviária

da MRS

MRS Logística

958,4

Gerdau Siderurgia Grupo Gerdau 930 Wal-Mart Varejo Abertura de lojas

em todo ERJ Wal-Mart

900 Arco Metropolitano Infraestrutura

(rodovia) Alguns municípios

da RMRJ Governo Federal e Governo Estadual

802

Estaleiro Ilha (Eisa) Construção naval

Rio de Janeiro

Eisa, Log-In e Laurin do Brasil

779,5

Consórcio Rio Naval Construção naval

Rio de Janeiro

MPE, Sermetal e Transpetro

735

Companhia Estadual de

Gás

Todo ERJ (exceto Noroeste

Fluminense)

CEG

720,6

Reserva do Peró

Turismo Cabo Frio Peró Empreendimentos Imobiliários, Agenco Engenharia e Lakpar

600

Prefeitura do Rio de Janeiro

Transporte de massa

Rio de Janeiro Governo Municipal 577

Fonte: Firjan (2008).

96 Em 10/09/07, a Petrobras anunciou a comercialidade do campo de Xererete. Com reservas de 1,4 bilhão de barris, configura-se como gigante, aumentando as reservas do país em cerca de 10%. Em 2008, houve diversos anúncios de descobertas na chamada camada de Pré-sal na Bacia de Santos.

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Em agosto/2009, a Firjan lançou o Decisão Rio 2010-2012 para atualizar as

expectativas de investimentos para o ERJ no próximo triênio. Entretanto, não há um estudo

comparativo entre o mapeamento atual e os anteriores que reflita sobre os investimentos

concluídos, os permanecentes e os que foram cancelados, ou seja, na verdade não há

acompanhamento, somente um levantamento de informações.

3.4.4. Análise crítica dos planos e mapeamentos

No que tange à infraestrutura, o Sistema Firjan prevê que o ERJ receberá, entre

2008 e 2010, o montante de R$ 28,4 bilhões, ou seja, 27% do total previsto dos investimentos

desse setor para o país. Esses investimentos dividem-se nas áreas de energia, com R$ 12,1

bilhões (43%); transporte e logística, com R$ 11,8 bilhões (41%); desenvolvimento urbano,

com R$ 3,9 bilhões (14%); e outras áreas, com R$ 567 milhões (2%).

Em relação às regiões do ERJ, os investimentos previstos estão divididos da

seguinte forma: Leste Fluminense (R$ 16,1 bilhões – 15%), município do Rio de Janeiro (R$

13,7 bilhões – 13%), Norte Fluminense (R$ 9,6 bilhões – 9%), Baixada Fluminense (R$ 8,9

bilhões – 8%), Sul Fluminense (R$ 7,5 bilhões – 7%). As regiões Centro-Norte, Serrana,

Baixada II e Noroeste preveem receber juntas R$ 2,1 bilhões (2%), e os investimentos que

não se restringem a uma única região serão da ordem de R$ 49,4 bilhões (46%).

Esses investimentos se concretizariam através de alguns projetos, tais como: na

indústria de transformação com a Companhia Siderúrgica do Atlântico, a ampliação da CSN e

a implantação do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj); na infraestrutura com

a revitalização do porto de Sepetiba, o porto do Açu da MMX, o Arco Rodoviário

Metropolitano, a construção da usina nuclear de Angra 3 e a modernização do Aeroporto

Internacional Tom Jobim. Ligados diretamente à indústria de petróleo e gás temos a

ressurreição da indústria naval em Angra dos Reis e Niterói e o aprofundamento do

desenvolvimento do polo petrolífero de Macaé (Bacia de Campos); e no segmento turístico

estão previstos investimentos em todo o ERJ, principalmente nas regiões da Costa do Sol e

Leste Fluminense, particularmente em Búzios, Maricá e Cabo Frio recebendo grandes

empreendimentos. Esses elementos apresentam uma consolidação do processo de inflexão

econômica bastante positiva em relação ao cenário anterior da economia fluminense nas

últimas décadas.

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127

Nos próximos cinco anos, a expectativa de desenvolvimento das forças produtivas

do capitalismo é bastante relevante para o estado do Rio de Janeiro. Essa será a unidade da

Federação que receberá maior volume de recursos para investimentos e o governo estadual

anseia que os recursos consolidem o processo de inflexão econômica através da dinamização

de sua economia, ao mesmo tempo que prepare o ERJ para alçar um patamar superior de

desenvolvimento econômico e social.

No nosso ponto de vista, esses três mapeamentos evidenciam a intenção do poder

público e da classe capitalista fluminense de avançar no desenvolvimento das forças

produtivas capitalistas em seu território. Para isso, desenvolvem suas articulações para a

histórica “parceria” de intervenção social do estado para provimento da infraestrutura e por

serviços públicos com objetivo de diminuir os custos de produção da classe capitalista.

Podemos citar como exemplo a proposta da Firjan (2008: 6) de manutenção do pagamento

dos royalties às áreas que produzem petróleo e a melhoria do uso desses recursos pelas

prefeituras, com a criação de Fundos de Desenvolvimento Sustentável das Regiões

Produtoras de Petróleo, ou seja, como se a criação dos respectivos fundos fosse garantia de

melhor utilização desses recursos.

Já podemos observar a lógica de reprodução do capital movendo-se com mais

intensidade através do processo de desenvolvimento do capitalismo. Intrinsecamente ao seu

cerne, esse processo é anárquico e conduz a persistentes resultados que não são planejados e

nem pretendidos. Esse processo produz

custos externos que toda a comunidade tem de suportar. Alguns deles – como poluição, congestionamento de tráfego, degradação e crise – afetam qualquer área que esteja passando por um crescimento rápido e desordenado. Esses efeitos colaterais são intrínsecos à própria essência do capitalismo. Já que, nos planos existentes de política pública, os interesses privados que são responsáveis pelos custos externos do crescimento nunca são chamados a remediá-los [...] Invariavelmente, o público é onerado pelos custos do crescimento (GOTTDIENER, 1997: 203).

O atual ciclo de investimentos da economia brasileira mostra-se tão sólido que

mesmo a crise econômica contemporânea diminuiu pouco a ânsia capitalista pela valorização

do capital. Como veremos mais detalhadamente no Capítulo 4 desse trabalho, o BNDES

realizou um mapeamento dos investimentos previstos para a economia brasileira no período

2007-2010 (Torres Filho & Puga, 2007) e, desde então, vem realizando diversos

acompanhamentos dessas perspectivas e da taxa de investimento brasileira.

Apesar da profundidade da atual crise econômica, o BNDES (TEIXEIRA FILHO

et al., 2009) apontou em artigo de dezembro de 2008 que a perspectiva de projetos firmes de

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investimento era de R$ 1.305 bilhões, diante do levantamento realizado em agosto de 2008 na

ordem de R$ 1.460,6 bilhões.

Em publicação recente de junho de 2009 (Puga & Borça Júnior, 2009), esse banco

projeta a taxa de investimento brasileira para 19% em 2009, 19,5% em 2010, 20% em 2011 e

20,8% em 2012 diante da média de 16,4% para o período de 2001 e 2007, e 19% em 2008.

Esses números corroboram que, apesar da forte crise internacional, a economia brasileira

continuará sendo um forte ambiente de atração de investimentos e valorização do capital nos

próximos anos.

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129

CAPÍTULO 4

O DESENVOLVIMENTO DA BACIA DE CAMPOS

Alguns podem imaginar o contrário, mas a natureza não privilegiou o Brasil com

relação às jazidas petrolíferas como fez em outros lugares do globo, como a Venezuela e o

Oriente Médio. Aqui, as dificuldades e os obstáculos de extrair petróleo necessitam de

grandes investimentos e profundo desenvolvimento tecnológico para perfurar a grandes

profundidades no oceano. Entretanto, esses obstáculos estão sendo transpostos ao longo dos

anos trazendo benesses e os seus correlatos impactos econômicos, sociais, políticos e

ambientais, pois somente algumas bacias apresentam potencial exploratório acima da média

mundial, e a Bacia de Campos é uma delas.

Ao longo do desenvolvimento deste trabalho, percebemos que há diversas

definições para Bacia de Campos, pois, tanto instituições públicas e privadas como empresas

possuem definições diversificadas para esse termo. Alguns apontam que a Bacia de Campos é

formada pelos municípios da Zona de Produção Principal de Petróleo (Armação dos Búzios,

Cabo Frio, Campos dos Goytacazes, Carapebus, Casimiro de Abreu, Macaé, Quissamã, Rio

das Ostras e São João da Barra) – definida pela Agência Nacional de Petróleo e

Biocombustíveis (ANP) –, outros acham que se estende do município de Arraial do Cabo até

São João da Barra, no ERJ. Há ainda aqueles que incluem até municípios que não possuem

litoral, como Conceição de Macabu, cuja abrangência estaria na zona de influência da Bacia

de Campos. Enfim, a Petrobras designa-a como uma formação geológica, ou seja, uma bacia

sedimentar localizada no subsolo marinho que se estende entre os municípios de Arraial do

Cabo/RJ até praticamente a cidade de Vitória, no Espírito Santo.

Para melhor a compreensão do nosso trabalho, propusemos uma delimitação

metodológica própria para a Bacia de Campos construída a partir da definição da Zona

Principal de Produção, extendendo-se através da uma configuração de uma área contínua

somente pelo litoral do ERJ. Para diferenciar o conceito que adotamos da “Bacia de Campos”

dos outros, a chamaremos de Área de Impacto Socioeconômico da Zona de Produção

Principal da Bacia de Campos (AIZPP-BC). Quando nos referirmos à nossa delimitação da

BC, usaremos esta sigla.

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130

4.1. DELIMITAÇÃO METODOLÓGICA DA BACIA DE CAMPOS PARA ESTE

TRABALHO

A Bacia de Campos (BC) é uma formação geológica formada há 100 milhões de

anos com o processo de separação dos continentes africano e sul-americano. Essa região

tornou-se um verdadeiro “aterro natural” formado pelo depósito de sedimentos do Rio Paraíba

do Sul no Oceano Atlântico. Esses sedimentos entraram em processo de decomposição devido

à incidência de diversos níveis de pressão e temperatura, originando as reservas de petróleo e

gás natural entre as rochas porosas no subsolo marinho. Sua denominação é proveniente da

proximidade com a cidade de Campos dos Goytacazes97, e possui uma área sedimentar de

aproximadamente 100 mil km² e áreas submersas a distâncias de até 200km do litoral em uma

formação denominada de Calcário Macaé.

Entretanto, a atual Lei do Petróleo define a metodologia de repartição dos recursos

provenientes dos royalties e das participações especiais da produção de petróleo e gás natural

através da utilização de critérios percentuais e geográficos, como as linhas ortogonais98 e

paralelas elaboradas pelo IBGE.

97 “Tal procedimento de adotar para uma bacia o nome de uma cidade próxima ou acidente geográfico é internacionalmente seguido e regido pelo Código de Nomenclatura Estratigráfica” (CAETANO FILHO, 2003: 47-48). 98 A repartição dos royalties e das participações especiais respeitam dois critérios: um percentual que rege a divisão a ser recebida por alguns entes federativos (exemplo, 22,5% para estados produtores e 15% para o Ministério da Marinha); e outro geográfico, no qual as chamadas Linhas Ortogonais contribuem para a definição do que será arrecadado em função da posição geográfica em relação ao local de produção de petróleo ou gás natural (DOURADO, s.d.).

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FIGURA 3

MAPA DAS LINHAS DIVISÓRIAS ENTRE MUNICÍPIOS USANDO AS LINHAS

ORTOGONAIS – ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Fonte: Cipeg (DOURADO et al., s.d.).

Como exposto acima, há uma dificuldade em definir conceitualmente a região

“Bacia de Campos”. Na verdade, é uma formação geológica que não respeita limites e

fronteiras administrativos impostos pela sociedade e, por isso, não é uma região definida

oficialmente pelos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo, bem como pela União. Na

tentativa de definir conceitualmente essa região, buscou-se informações e dados da Petrobras,

da Fundação Cide, da ANP e do Governo do Estado do Espírito Santo.

A Fundação Cide aponta que as regiões Norte Fluminense e Baixadas Litorâneas

são compostas pelos municípios apresentados na Tabela 21.

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TABELA 21

REGIÕES NORTE FLUMINENSE E BAIXADAS LITORÂNEAS – ERJ

NORTE FLUMINENSE BAIXADAS LITORÂNEAS Campos dos Goytacazes Araruama Carapebus Armação dos Búzios Cardoso Moreira Arraial do Cabo Conceição de Macabu Cabo Frio Macaé Cachoeiras de Macacu Quissamã Casimiro de Abreu São Francisco de Itabapoana Iguaba Grande São Fidélis Marica São João da Barra Rio Bonito

- Rio das Ostras - São Pedro da Aldeia - Saquarema - Silva Jardim

Fonte: Cide.

Por outro lado, a ANP considera os municípios pertencentes à “Zona de Produção

Principal”99 de petróleo e gás natural da Bacia de Campos os seguintes municípios que estão

nessas duas regiões: Armação dos Búzios, Cabo Frio, Campos dos Goytacazes, Carapebus,

99 Segundo a ANP, “as Áreas Geoeconômicas são definidas por legislação específica seguindo o artigo 20 do Decreto nº 1/91, que regulamenta a Lei nº 7.990/89, que estabelece que os municípios que integram a área geoeconômica de um Município confrontante são divididos em três zonas, a saber: → Zona de produção principal – A zona de produção principal de uma dada área de produção petrolífera marítima é o conjunto formado pelos municípios confrontantes com os poços produtores e os municípios onde estiverem localizadas três ou mais instalações dos seguintes tipos: • Instalações industriais para processamento, tratamento, armazenamento e escoamento de petróleo e gás natural, excluídos os dutos. Estas instalações industriais devem atender, exclusivamente, à produção petrolífera marítima; • Instalações relacionadas às atividades de apoio à exploração, produção e ao escoamento do petróleo e gás natural, tais como: portos, aeroportos, oficinas de manutenção e fabricação, almoxarifados, armazéns e escritórios. → Zona de produção secundária – Por zona de produção secundária entende-se o conjunto dos municípios atravessados por oleodutos ou gasodutos, incluindo as respectivas estações de compressão e bombeio, destinados, exclusivamente, ao escoamento da produção de uma dada área de produção petrolífera marítima. Os trechos dos oleodutos ou gasodutos que não atendam exclusivamente ao escoamento da produção petrolífera marítima foram excluídos, da mesma forma que os ramais de distribuição secundários, feitos com outras finalidades. → Zona limítrofe à zona de produção principal – Por zona limítrofe entende-se o conjunto dos municípios contíguos àqueles que integram a zona de produção principal, bem como municípios que, embora não atendendo ao critério da contiguidade, possam ser social ou economicamente atingidos pela produção ou exploração do petróleo ou do gás natural, segundo critérios adotados pelo IBGE.

Para cada município integrante da zona de produção principal – por ser confrontante com um poço produtor marítimo ou porque nele estão localizadas três ou mais instalações industriais ou de apoio à produção – torna-se necessário identificar os municípios a ele contíguos, bem como os demais municípios que façam parte de sua área geoeconômica, pois estes passarão a fazer parte da zona limítrofe à zona de produção principal.

O IBGE, desde 1986, identifica e classifica as unidades territoriais beneficiadas com relação à produção marítima de petróleo e gás natural” (ANP, 2008).

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Casimiro de Abreu, Macaé, Quissamã, Rio das Ostras e São João da Barra. Assim, não são

considerados pertencentes à Zona de Produção Principal os seguintes municípios:

- Região Norte – Cardoso Moreira, Conceição de Macabu, São Francisco de Itabapoana e

São Fidélis; e

- Região das Baixadas Litorâneas – Araruama, Arraial do Cabo, Iguaba Grande, Maricá,

Rio Bonito, São Pedro da Aldeia, Saquarema, Silva Jardim e Cachoeiras de Macacu.

No Espírito Santo, a ANP considera como municípios pertencentes à Zona de

Produção Principal da Bacia de Campos: Presidente Kennedy, Itapemirim e Anchieta.

Seguindo parte desse raciocínio, compreendemos os municípios da Área de

Impacto Socioeconômico da Zona de Produção Principal da Bacia de Campos (AIZPP-BC)

como os confrontantes com os campos e poços produtores de petróleo, com campos em fase

de desenvolvimento da produção ou em fase de exploração dessa bacia sedimentar. Assim,

mesmo que ainda não estejam incluídos na Zona de Produção Principal por não estarem

confrontantes com algum campo ou poço em fase de produção, há a possibilidade de inclusão

no futuro devido ao desenvolvimento das atividades petrolíferas na região e às novas

descobertas. Ainda assim, também incluíremos os municípios que são confrontantes com o

mar territorial da Bacia de Campos, mesmo não havendo ainda produção e/ou descobertas em

confrontação com seus respectivos territórios. Essa escolha tem o objetivo de facilitar a

delimitação do território a ser investigado, compreendendo uma área contínua ao longo do

litoral fluminense.

O mapa (Figura 4) do estado do Rio de Janeiro abaixo ilustra as regiões Norte

Fluminense e Baixadas Litorâneas e os municípios, que por nossa definição pertencem à

AIZPP-BC, que se encontram hachurados:

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FIGURA 4

MUNICÍPIOS DA BACIA DE CAMPOS

Fonte: elaboração própria a partir da Fundação Cide e da ANP.

Assim, para fins metodológicos deste trabalho, compreendemos a AIZPP-BC

considerada pelo critério de configurar uma área contínua no território fluminense a ser

impactada de diferentes formas e intensidade pela indústria do petróleo e gás natural

estabelecida principalmente em Macaé. Sendo assim, é formada pelos seguintes municípios:

Arraial do Cabo, Armação dos Búzios, Cabo Frio, Campos dos Goytacazes, Carapebus,

Casimiro de Abreu, Macaé, Quissamã, Rio das Ostras, São Francisco de Itabapoana, São João

da Barra e São Pedro da Aldeia. Resumindo, compreende-se a AIZPP-BC composta pelos

municípios considerados “produtores” de petróleo, pelos municípios confrontantes com

descobertas em fase de exploração e desenvolvimento da fase de produção que estão diante do

mar territorial da BC no estado do Rio de Janeiro100.

Com o advento da indústria petrolífera, a região Norte Fluminense deixa de ser o

“patinho feio” e passa a ser a “menina dos olhos” do ERJ devido aos volumosos recursos

100 No território do Espírito Santo, os municípios que podem ser considerados da Bacia de Campos seguindo os critérios acima descritos são: Presidente Kennedy, Marataízes, Itapemirim, Piúma e Anchieta.

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135

oriundos dos royalties e das participações especiais e pela grande infraestrutura que suporta a

imensa quantidade de óleo e gás produzidos diariamente. Posteriormente, contribuem para a

mudança dessa visão a perspectiva de investimentos da Petrobras e de outras empresas

operadoras e os outros investimentos previstos para a região, como o complexo portuário em

Açu, o estaleiro STX em Quissamã, a ampliação do Terminal de Cabiúnas em Macaé e a

produção de tubos revestidos em Campos.

4.2. DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA INDÚSTRIA PETROLÍFERA NA

BACIA DE CAMPOS

Nesta parte do capítulo abordaremos o desenvolvimento histórico das atividades

petrólíferas na AIZPP-BC.

A indústria petrolífera na Bacia de Campos possui uma história reconhecida de

sucesso pelas constantes descobertas de jazidas de hidrocarbonetos, pelos saltos qualitativos

no desenvolvimento de novas tecnologias para produção em águas profundas (até 1.000

metros) e ultraprodundas (acima de 1.000 metros de profundidade), e pelos saltos

quantitativos no volume de produção de petróleo e gás natural. Ainda assim, houve momentos

de dificuldades, incertezas e percalços que trouxeram grandes desafios que precisaram ser

vencidos.

A história da exploração e produção de petróleo e gás na Bacia de Campos não é

marcada somente de sucesso. O geólogo e pioneiro na exploração em águas profundas, Carlos

Walter Marinho Campos, Chefe da Divisão de Exploração e Produção da Petrobras na época

da descoberta de acumulação de petróleo e gás natural na BC, chegou a negar solicitação de

interromper os trabalhos de exploração nessa bacia devido aos custos e a demora no

surgimento de alguma reserva petrolífera comercialmente viável. Hoje, seu nome é

emprestado ao auditório da principal base da Petrobras em Macaé, a base de Imbetiba.

Os trabalhos exploratórios na BC não são recentes e nem coincidem com a

descoberta de acumulação de óleo na década de 1970. Na década de 20 do século passado, já

havia um estudo publicado no Brazilian Business, de setembro de 1921, de autoria de Horace

E. Williams, geólogo estrangeiro contratado [...] e de título The Pharahyba do Sul

embayment as possible oil field (CAETANO FILHO, 2006: 50), que procurava identificar

potencialidades para a produção terrestre de óleo. Em 1938, o Departamento Nacional de

Pesquisa Mineral (DNPM) classificou a BC como uma das potenciais bacias sedimentares

para a produção terrestre de petróleo.

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136

Somente no final da década de 1950 a Petrobras começa os trabalhos

exploratórios em terra, e em 1968 é perfurado o primeiro poço na plataforma continental

brasileira, em Sergipe, onde o campo recebe o nome de peixe, o Guaricema. Em 1971,

começam as perfurações de poços na BC, e, em 1973, com a primeira crise do petróleo, há um

grande impulso nas atividades devido ao preço do barril subir de US$ 3 para US$ 15 e de

75% do petróleo consumido no Brasil ser importado. Nesse mesmo ano, o poço RJS-7

perfurado a 110 metros revela petróleo na BC. Em novembro de 1974 é descoberto o primeiro

campo da BC, o Campo de Garoupa, sucedido pela descoberta do Campo de Namorado em

1975.

Com a necessidade de intensificar as atividades exploratórias devido ao elevado

preço do petróleo no mercado internacional proveniente do primeiro choque do petróleo em

1973, o Brasil adota a política de contratos de risco e abre a atividade de exploração para

outras empresas além da Petrobras. Assim, em 1976 é descoberto o Campo de Enchova e, em

13 de agosto de 1977, a 124 metros de profundidade em lâmina d´água, entra em produção o

Sistema de Produção Antecipada no Campo de Enchova, que inaugura a produção comercial

na Bacia de Campos. Devido a esse Sistema de Produção Antecipada, o Campo de Enchova

entrou em produção comercial antes do Campo de Garoupa, que foi o primeiro campo

descoberto na BC.

Nesse último ano, a Petrobras começa a intensificar a pesquisa e a implantação de

tecnologias para alcançar reservas petrolíferas a profundidades cada vez maiores. Assim,

alcança sucessivos recordes de perfuração no mar com 174 metros no Campo de Enchova e,

no ano seguinte, em 1978, começa a utilizar a sísmica tridimensional101. Em 1979, a Petrobras

instala a primeira árvore de natal molhada (conjunto de acessórios e válvulas em um

revestimento final para controlar a velocidade de produção de petróleo) do mundo no Campo

de Enchova a 189 metros de profundidade e inicia a produção do Campo de Garoupa.

No primeiro ano da década de 1980, há a instalação de plataformas fixas102 dos

campos de Garoupa, Enchova, Namorado e Cherne, e em 1984 ocorre a descoberta do

101 A sísmica é a principal ferramenta geofísica utilizada na exploração de petróleo e gás. A sísmica tridimensional (ou 3D) possibilita maior detalhamento das informações coletadas. Segundo a empresa Brain Tecnologia, a “aquisição 3D acontece normalmente na fase mais adiantada da exploração, capaz de fornecer uma quantidade de informações muitas vezes maior do que a 2D, possibilita uma análise quantitativa das possíveis acumulações de hidrocarbonetos, além de uma melhor locação para a perfuração de poços exploratórios. Para estudo de reservatórios é um tipo de aquisição sísmica 3D parametrizada de forma a extrair o máximo de informações dos níveis onde se encontram os reservatórios possibilitando, entre outras coisas, um aumento da recuperação do campo” (www.braintecnologia.com.br).[Não precisa colocar a data de acesso?] 102 Foram as primeiras unidades utilizadas devido à preferência de serem empregadas nos campos localizados em lâminas d´água de até 300 metros. Geralmente, são constituídas em estruturas modulares de aço, instaladas no local de operação com estacas cravadas no fundo do mar.

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137

primeiro campo gigante em águas profundas do país, o Campo de Albacora. Ainda nesse ano,

inicia-se a perfuração do poço RJS-219A no Campo de Marlim, a 853 metros de

profundidade. Em 1985, a Petrobras estabelece a meta de 500 mil barris/dia para produção na

BC. Essa meta começa a ser alcançada com as descobertas do Campo de Marimbá e do campo

gigantesco de Marlim103 e com a tecnologia de completação submarina (refere-se à instalação

de equipamento permanente para a produção de petróleo ou gás) utilizada no poço RJS-284 –

primeira do mundo sem utilização de mergulhadores. Em 1986, com objetivo de incrementar

o desenvolvimento tecnológico para alcançar reservas mais distantes e profundas, a Petrobras

lança o Procap – Programa de Capacitação Tecnológica e Desenvolvimento Avançado em

Águas Profundas e Ultraprofundas.

A partir de 1987, começam a entrar em produção alguns campos e também

intensifica-se a construção de plataformas para operar as diversas descobertas de campos

gigantes dessa década. Assim, o Campo de Albacora entra em produção a 293 metros de

profundidade, e também entram em produção seis plataformas para o Polo Nordeste de

produção da BC: Pargo, Carapeba 1 e 2, e Vermelho 1, 2 e 3. Além disso, as descobertas de

novas reservas continuam com os campos de Barracuda e Caratinga em 1988. A década de

1980 termina com a implementação do Procap 2000, com o objetivo de viabilizar a produção

de lâmina d´água com até 2 mil metros de profundidade em 1989.

A década de 1990 trouxe grandes perspectivas para a BC, pois ela já havia se

consolidado há algum tempo como principal província petrolífera do país, e restava somente

aumentar as atividades de exploração e produção.

Em 1992, a Petrobras recebe o primeiro Distinguished Achievement Award –

Offshore Technology Conference (OTC), em Houston. Esse prêmio reconhece a empresa

como a maior contribuidora do desenvolvimento tecnológico na exploração em águas

profundas no mundo. Em 1994, com essa tecnologia singular de produção em águas

profundas, a Petrobras coloca em operação a P-18, simplesmente a maior unidade flutuante de

produção de petróleo em operação no mundo na época, ancorada em lâmina d´água de 910

metros de profundidade. Além disso, nesse ano atinge a profundidade de 1.027 metros no

Campo de Marlim.

Em 1996, com domínio da tecnologia de exploração e produção em águas

profundas e ultraprofundas, ocorre a descoberta do campo gigante de Roncador, em lâmina

d´água de 1.500 a 1.900 metros de profundidade. Apenas três anos depois esse campo já entra

103 O Campo de Marlim era tão grandioso que precisou ser dividido em Marlim Leste e Marlim Sul para ser melhor gerenciado.

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138

em produção. No ano seguinte, entra em produção a P-34, primeira plataforma do tipo

FPSO104 para a produção em águas profundas, e, em 1998, há a entrada em produção de cinco

novas plataformas. Em 1999, a BC vivencia o momento histórico de alcançar a produção de 1

milhão de barris/dia, e, para continuar na fronteira do desenvolvimento tecnológico para

produção em plataforma continental, a Petrobras cria o Procap 3000 para viabilizar a

produção em lâmina d´água de até 3 mil metros de profundidade.

O novo milênio começa com a Petrobras consolidando-se como referência

internacional na exploração de petróleo em águas profundas e tornando-se líder mundial no

setor. Em março de 2001, essa companhia recebe novamente o prêmio Distinguished

Achievement Award – OTC 2001 com o Projeto Roncador. Nesse ano, acontece também a

maior tragédia da história petrolífera brasileira com o afundamento da até então maior

plataforma do mundo, a P-36, que teve como pior consequência a morte de vários

trabalhadores. Esse acidente consolidou com bastante força no Brasil a temática da

Segurança, do Meio Ambiente e da Saúde Ocupacional – o conhecido SMS –, atualmente

exigida fortemente por diversas empresas aos seus fornecedores.

A Figura 5 mostra os sucessivos recordes de produção em águas profundas que

continuaram a ser alcançados e possuem grande expectativa de continuarem sendo superados

com as exigências tecnológicas demandas pelas descobertas da camada do “Pré-sal” da Bacia

de Santos. Em 2003, o poço RO-21, do Campo de Roncador, bate recorde mundial de

produção em águas profundas, e, em 23 de julho de 2005, ocorre o novo recorde de produção

com 1.536.487 barris/dia.

No dia 21 de abril de 2006, o FPSO P-50 entra em produção no campo de

Albacora Leste e garante mais 180 mil barris/dia à produção nacional. Depois de mais de 50

anos de desenvolvimento da indústria petrolífera nacional e da criação da Petrobras, alcança-

se a tão propalada autossuficiência brasileira na produção de petróleo105.

104 PLATAFORMA TIPO FPSO (floating, production, storage and offloading) – são navios com capacidade para processar e armazenar o petróleo e prover a transferência do petróleo e do gás natural. No convés é instalada uma planta de processo para separar e tratar os fluídos produzidos pelos poços. Depois de separado da água e do gás, o petróleo é armazenado nos tanques do próprio navio, sendo transferido para um petroleiro que recebe o óleo em seus tanques para armazenamento e transporte para terra – um navio aliviador. 105 Destacamos que essa autossuficiência ocorre somente na produção de petróleo, e não na produção de derivados. O processo de refino de petróleo e as características físico-químicas do óleo da Bacia de Campos não permitem a extração de todos os derivados para suprir a demanda nacional.

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139

FIGURA 5

RECORDES DE PRODUÇÃO DA PETROBRAS

[Fonte da imagem]

No ano de 2007, o FPSO Cidade do Rio de Janeiro entra em operação no Campo

de Espadarte, e a plataforma P-52 entra em operação no Campo de Roncador, garantindo a

sustentabilidade da autossuficiência em petróleo. Em 2009, com a entrada em operação da P-

54 e o alcance do seu pico de produção, a Petrobras anuncia novo recorde histórico de

produção diária: dois milhões e 238 mil barris. Desse número, a BC contribuirá com uma

produção diária de 1,49 milhão de barris de óleo e 22 milhões de metros cúbicos de gás. Além

disso, espera-se que o ano de 2009 seja mais promissor, pois a Petrobras anuncia a instalação

de mais cinco plataformas nos campos de Roncador, Marlim Leste e Marlim Sul, o que

elevaria a produção de óleo para 1,75 milhão de barris/dia na Bacia de Campos.

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140

4.3. CENÁRIO ATUAL DE DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES NA BACIA

DE CAMPOS

Decorridos quase 30 anos de produção de petróleo e gás natural, a Bacia de

Campos ainda apresenta um grande vigor da atividade petrolífera e uma grande perspectiva de

aumento da produção devido ao seu grande potencial ainda inexplorado, principalmente

através dos 36 blocos em fase exploratória (Tabela 22), dos 19 campos em fase de

desenvolvimento (Tabela 23), do alcance de óleo em águas cada vez mais profundas, da

revitalização dos campos que já ultrapassaram o pico de produção com o Programa de

Recuperação de Campos com Alto Grau de Explotação (Recage) 106 e o Desafio 2010 da

Unidade de Negócios (UN-BC) da Petrobras, que pretende aumentar a produção dos campos

maduros de 850 mil barris/dia (46% da produção nacional de 1,8 milhão de barris) para 1

milhão de barris dia em 2010, quando a produção total da Petrobras deverá atingir 2,3 bilhões

de barris diários107.

Ainda hoje, apesar do longo tempo de atividade, a Bacia de Campos abriga 80%

das reservas de petróleo e 45% das reservas de gás natural no Brasil. As expectativas para

2010 são de que atinja uma produção de aproximadamente 1,8 milhão de barris de óleo por

dia e 34,6 milhões de metros cúbicos de gás.

106 “O Programa Recage, direcionado a reverter o declínio de produção de campos maduros, e a experiência acumulada pelos engenheiros da companhia com esse tipo de trabalho vêm sendo fundamentais para aumentar a sobrevida dos campos em declínio na Bacia de Campos [...]” (Revista Petro & Química, 2006: 51). Até junho de 2007, o fator de recuperação dos campos da BC havia aumentado em 4,5%, saltando de 29,5% em média para uma margem de 30% a 35%, dependendo das características do campo (Revista Macaé Offshore, 2007: 40). 107 “O método mais usado para reduzir o declínio da produção de campos maduros é a injeção de água no reservatório. Ao ser introduzido, o líquido empurra o óleo e faz com que este chegue com maior velocidade até os poços, aumentando a produtividade.

Apesar de garantir bons resultados, essa técnica não é totalmente eficiente. O motivo é que a água é menos viscosa que o óleo. Com o tempo, em vez de empurrá-lo, tende a seguir os caminhos que já foram ‘lavados’ e, portanto, oferecem menos resistência. Dessa forma, no longo prazo, os poços passam a produzir muito mais água do que óleo.

Para contornar esse problema, foram e estão sendo desenvolvidas várias técnicas com o objetivo de melhorar a eficiência da injeção de água e aumentar a recuperação de óleo. Conheça algumas: - Polímeros – usados como aditivo na água. Ao serem misturados, aumentam a viscosidade do líquido, tornando-o mais próximo do óleo. A água passa a funcionar como um pistão. Não é indicado, porém, para campos com óleo pesado [como os da Bacia de Campos]; - Vapor – muito utizado em campos de óleo pesado. A alta temperatura do vapor ‘esquenta’ o óleo e o deixa menos viscoso e mais fácil de ser ‘empurrado’ pela água; - Gás Natural – método também aplicado pela Petrobras. Atua de forma semelhante à da água, mas só é usado em reservatórios com óleo de baixa viscosidade. Nesse caso, pode ser mais eficiente do que a água; - CO2 – age como a água e o gás natural, mas, dependendo das condições do reservatório, pode funcionar como solvente. Dessa forma, em vez de apenas empurrar, se mistura ao óleo, o que garante eficiência maior. Com a vantagem adicional de reduzir as emissões do principal causador do efeito estufa; - Bactérias – funcionam como uma fábrica de produtos químicos dentro do reservatório. As bactérias produzem polímeros, CO2 e outras substâncias que contribuem para aumentar a recuperação de óleo” (Petrobras, 2007; 5).

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141

Atualmente, a BC possui 55 campos em operação, e, desses, 30 são considerados

maduros porque já atingiram seus respectivos picos de produção. Esses são operados

principalmente pela Petrobras, mas também por outras operadoras, como Encana, Devon,

Repsol, Shell e StatoilHydro. Na próxima década, a BC ainda será a protagonista de um

cenário promissor de investimentos e aumento constante da produção que se desenha no

futuro, mas com participação crescente de outras operadoras além da Petrobras.

O especialista e geólogo Giuseppe Bococcoli defende que a BC ainda possui um

grande potencial inexplorado. Principalmente na camada do Pré-sal, onde os reservatórios

carboníticos estão menos profundos do que na Bacia de Santos e, por isso, com tendência de

encontrar óleo de melhor qualidade por estaream mais soterrados e mais bem preservados.

Seu argumento está baseado no que chama de “Princípio Gerador”108:

‘Do ponto de vista geológico, o que chama a atenção na Bacia de Campos é o principal [princípio] gerador – as rochas que geraram todo aquele petróleo – estar abaixo do sal. E para o petróleo subir, tem que passar através de buracos na camada do sal, ou então através de falhas que ligam os reservatórios superiores. Então, supostamente deve ter grande quantidade de óleo armazenada’ (Revista Petro & Química, 2006: 50).

Porém, há elementos que pesam contra a BC no que tange à exploração e

produção. Os novos grandes campos descobertos fora da camada do Pré-sal estão localizados

em águas profundas e ultraprofundas com grande possibilidade de possuírem ocorrência de

óleo mais pesado, isto é, de menor qualidade e valor no mercado mundial.

A Figura 6 mostra os períodos das descobertas dos principais campos nas três

principais bacias sedimentares em plataforma continental no Brasil (Campos, Espírito Santo e

Santos), os limites entre elas (linhas pontilhadas em vermelho) e os limites estaduais (linhas

pontilhadas em preto) projetados sobre o Oceano Atlântico. Chama atenção a imensa área

ainda em processo de exploração e/ou em fase de desenvolvimento da produção que são os

campos descobertos entre 2002 e 2005, os campos definidos em 2006 e as descobertas em

avaliação.

108 “Rochas Geradoras – rochas sedimentares de granulação fina ricas em matéria orgânica (1%) submetidas à condições adequadas para a geração de hidrocarbonetos” (SCHIFFER, 2008: 48).

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142

FIGURA 6

MAPA DE DESCOBERTAS – BACIA DE CAMPOS

Fonte: Petrobras.

Segundo dados da ANP, atualizados em novembro/2008, a BC possui 36 campos

na fase de exploração. Essa fase contempla a análise dos dados exploratórios preliminares, a

licitação dos blocos, a aquisição, o processamento e a interpretação dos dados em que inclui

as atividades de sísmica. Nessa fase, também ocorrem perfurações dos primeiros poços para

avaliação da qualidade e da quantidade de óleo, bem como o dimensionamento do próprio

campo.

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143

TABELA 22

BLOCOS EXPLORATÓRIOS SOB CONCESSÃO – BACIA DE CAMPOS CONCESSIONÁRIOS

BLOCOS NOME PARTIC.DATA DA

ASSINATURA PROGRAMA EXPLORATÓRIO

MÍNIMO (ANOS) Petrobras 50 BM-C-14

Total E&P 50 29/08/2001 8

Petrobras 57 BM-C-25 Shell Brasil 43

02/08/2002 8

Anadarko Petróleo 30 Devon Energy 25 EnCana Brasil 25

C-M-101 SK do Brasil 20

24/11/2004

6

Inpex Petróleo 20 Petrobras 60

C-M-103

Shell Brasil 20

24/11/2004

6

C-M-119 Petrobras 100 26/11/2003 5 C-M-120 Petrobras 100 26/11/2003 5 C-M-122 Petrobras 100 26/11/2003 5 C-M-145 Petrobras 100 26/11/2003 5 C-M-146 Petrobras 100 26/11/2003 5

Petrobras 60 Inpex Petróleo 20

C-M-151

Shell Brasil 20

24/11/2004

6

C-M-202 Anadarko Petróleo 100 24/11/2004 6 C-M-299 Petrobras 100 28/11/2003 5 C-M-333 Petrobras 100 26/11/2003 5 C-M-401 Petrobras 100 12/01/2006 6 C-M-403 Petrobras 100 12/01/2006 6 C-M-466 OGX 100 12/03/2008 5

Devon Energy 50 C-M-471 Petrobras 50

12/01/2006

6

Devon Energy 50 C-M-473 Petrobras 100

12/01/2006 6

Sonangol 30 C-M-498 Starfish 70

31/03/2008 5

C-M-499 OGX 100 12/03/2008 5 Anadarko Petróleo 50

C-M-529 Hydro Brasil 50

12/03/2008

5

Anadarko Petróleo 50 C-M-530 Hydro Brasil 50

12/03/2008 5

Devon Energy 35 C-M-535 Petrobras 65

12/01/2006 6

Repsol 50 C-M-539 Statoil 50

12/01/2006 6

Maersk 50 C-M-560 OGX 50

12/03/2008 5

C-M-591 Maersk 50 12/03/2008 5

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144

OGX 50 C-M-592 OGX 100 12/03/2008 5

Ecopetrol 15 Petrogal 37,5

C-M-593

Petrobras 47,5

12/03/2008

5

Anadarko Petróleo 33 Devon Energy 40

C-M-61

SK do Brasil 27

24/11/2004

6

C-M-620 OGX 100 12/03/2008 5 C-M-621 OGX 100 12/03/2008 5

Sonangol 30 C-M-622 Starfish 70

31/03/2008 5

C-M-78 Petrobras 100 26/11/2003 7 C-M-95 Petrobras 100 26/11/2003 5 C-M-96 Petrobras 100 26/11/2003 5 C-M-98 Petrobras 100 26/11/2003 7

Fonte: ANP/SDP.

Nesses campos109 em fase de exploração operam e/ou investem 16 empresas

diferentes de diversos países com Programa Exploratório Mínimo de pesquisas entre cinco e

sete anos. Isso mostra o potencial de desenvolvimento e produção dessa bacia, pois todos

esses campos entrarão em produção nos próximos anos, gerando demanda por trabalhadores,

plataformas, barcos de apoio e por toda a infraestrutura necessária para a manutenção da

produção, bem como um ambiente construído em terra que ofereça todo tipo de suporte a

essas atividades.

Conforme a Tabela 23, a Petrobras está presente como operadora ou investidora

em 21 campos (58%), sendo que em 13 deles (36%) atua sozinha como operadora e

investidora, e em oito campos (22%) atua em parceria com outras Oil Companies.

109 “É no mar que a Petrobras concentra seus maiores êxitos na exploração de petróleo e, foi em 1968, com a perfuração do primeiro poço na costa do Sergipe, que surgiu o primeiro campo de petróleo com nome de peixe: o Guaricema. A escolha do nome foi do geólogo José Carlos Braga, que se inspirou no livro Os peixes do Brasil. A partir dessa data, todos os campos da plataforma continental passavam a ser batizados com nomes de peixes. As descobertas continuaram e, no final de 1969, foi a vez de Cioba. Logo vieram Dourado, Camorim, Tigre, Arraia e Robalo, este último em 1973. As descobertas ainda eram modestas e os nomes eram escolhidos sem muito critério.

Somente a partir de 1973 foram desenvolvidas normas para a escolha dos nomes dos campos. Deveria ser de um peixe brasileiro comum na região da descoberta. Outra determinação era evitar peixes com nomes vulgares. Tantas descobertas de campos de petróleo geraram escassez de nomes de peixes, o que levou a Petrobras a escolher seres marinhos para batizar seus campos. Assim nasceram Estrela do Mar, Caravela, Coral, Tartaruga, Cachalote, Jubarte, Baleia Franca, entre outros” (Petrobras, 2008).

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145

TABELA 23

CAMPOS EM DESENVOLVIMENTO DA FASE DE PRODUÇÃO

BACIA DE CAMPOS

Campo Concessionários Participação (%) Shell 35 Petrobras 35

Abalone

Esso Campos 30 Shell 35 Petrobras 35

Argonauta

Esso Campos 30 Baleia Anã Petrobras 100 Baleia Azul Petrobras 100 Baleia Franca Petrobras 100 Cachalote Petrobras 100 Carapicu Petrobras 100 Carataí Petrobras 100 Catuá Petrobras 100 Caxaréu Petrobras 100

Petrobras 30 Chevron Brasil 51,7

Frade

Frade Japão110 18,3 Petrobras 62,5 Maromba Chevron Overseas 37,5

Mangangá Petrobras 100 Shell 35 Petrobras 35

Nautilus

Esso Campos 30 Shell 35 Petrobras 35

Ostra

Esso Campos 30 Petrobras 62,5 Papa-Terra Chevron Overseas 37,5 Norsk Hydro 50 Peregrino Anadarko 50

Pirambu Petrobras 100 Petrobras 41,2 Devon Energy 17,6

Xerelete

Total E&P do Brasil 41,2 Fonte: ANP/SDP.

A Shell foi a primeira companhia privada a produzir petróleo no Brasil nos

campos de Bijupirá e Salema em parceria com a Petrobras. Sua declaração de comercialidade

ocorreu em dezembro de 2005, e a perfuração de 13 poços no antigo bloco BC-10 anunciou 110 Sociedade de propósito específico formada pelas japonesas Sojitsu e Inpex (Revista Petro & Química, nº 284: 53).

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146

seis descobertas que originaram os campos de Abalone, Ostra, Nautilus e Argonauta

(conhecidos como Parque das Conchas). Essa empresa pretende iniciar a operação desses

campos no final de 2010 com o desenvolvimento de três reservatórios em uma primeira fase e

um outro posteriormente.

Com investimentos de aproximadamente US$ 2,4 bilhões, a norte-americana

Chevron opera o campo de Frade em parceria com a Petrobras e o grupo japonês Frade Japão.

Pretende começar a produção no início de 2009 e atingir o pico de produção de 90 mil barris

diários em 2011. A norueguesa Hydro, em parceria com a também norte-americana Anadarko,

prevê investimento de US$ 2 bilhões no desenvolvimento do campo de Peregrino com

estimativa de reservas de 300 a 600 milhões de barris e previsão de início da produção para o

segundo semestre de 2010.

A texana Devon Energy já iniciou a produção no campo de Polvo com

investimentos iniciais de US$ 300 milhões na fase de desenvolvimento e previsão de atingir o

pico de produção de 50 mil barris diários em 2010. Esse campo é um exemplo do potencial de

encadeamento que a indústria petrolífera nacional poderia alcançar no território brasileiro,

pois a jaqueta111 e o deck112 da plataforma estão sendo construídos pela empresa Kiewit nos

EUA, as estacas113 estão sendo fabricadas pela EBSE Engenharia de Soluções e os

manifolds114 pela Enaval Engenharia Naval e Offshore. O FPSO com capacidade de

armazenamento de 1,6 milhão de barris a ser utilizado será arrendado da empresa Prosafe

(Revista Petro&Química, 284: 54).

Após a fase de exploração, caso haja sucesso na descoberta de acumulação de

hidrocarbonetos em determinado bloco, é declarada a sua comercialidade com a confirmação

de descoberta viável comercial e tecnicamente. Assim, o bloco, que é uma pequena parte de

uma bacia sedimentar onde são desenvolvidas atividades de exploração e produção de

petróleo e gás natural, passa a ser chamado de campo de petróleo, ou seja, uma área produtora

de petróleo ou gás natural a partir de um reservatório contínuo ou de mais de um reservatório

a profundidades variáveis, abrangendo instalações e equipamentos destinados à produção. A

partir desse momento, as companhias começam a perfurar os poços com os navios-sonda de

111 Estrutura de suporte de uma plataforma fixa que vai desde a fundação até pouco acima do nível do mar e sobre a qual são instalados o convés e/ou módulos. 112 Maior parte da plataforma ou equivalente ao piso onde são colocadas as partes superiores da plataforma (topside). 113 Estruturas cravadas no fundo do mar, ancorando a jaqueta, e que juntamente com ela devem ser projetadas para resistir aos esforços provenientes das ondas, ventos, marés, etc.; 114 Conjunto de válvulas submersas que servem para direcionamento da produção dos vários poços.

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147

perfuração115 e iniciam os processos de encomendas de plataformas e equipamentos, pois,

somente agora, conhecem as características dos campos e, assim, podem determinar com mais

precisão os tipos de plataformas116, equipamentos e infraestrutura adequados às características

de cada campo.

Atualmente, 19 campos de petróleo estão nessa fase de desenvolvimento na Bacia

de Campos e alguns encontram-se com a instalação das plataformas e equipamentos

avançadas para início da produção. Nesses campos operam e/ou investem nove empresas

diferentes que trarão grande impulso à produção de petróleo e gás natural no curto prazo. A

participação da Petrobras é imensa, pois somente não atua no campo de Peregrino117, atuando

em 10 campos de forma isolada e em outros oito em parceria com outras empresas.

Na maioria dos casos, as descobertas desses campos são anteriores aos campos em

fase de exploração, não havendo necessariamente correlação com o período de descoberta e o

tempo necessário para o campo entrar na fase de produção.

Essa fase de desenvolvimento dos campos é especial para a dinâmica econômica

de Macaé, dos municípios da AIZPP-BC e de outras regiões do estado do Rio de Janeiro, pois

inicia-se um processo de encomenda das plataformas, barcos de apoio e equipamentos, bem

como todas as atividades de compra de bens e equipamentos necessários às atividades de

prestação de serviços de apoio e de manutenção que suportarão essa fase.

115 Navio-sonda é um navio projetado para perfuração de poços submarinos. Sua torre de perfuração localiza-se no centro do navio, onde uma abertura no casco permite a passagem da coluna de perfuração. 116 Basicamente os tipos de plataformas de exploração e produção offshore são: - PLATAFORMAS AUTOELEVÁVEIS (PAS) – constituídas basicamente por uma balsa equipada com estrutura de apoio ou apenas acionadas mecanicamente ou hidraulicamente, movimentando-se para baixo até atingir o fundo do mar. Em seguida, inicia-se a elevação da plataforma acima do nível da água, a uma altura segura e fora da ação das ondas. São móveis, sendo transportadas por rebocadores ou por propulsão própria. Destinam-se a perfuração de poços exploratórios na plataforma continental, em lâminas d´água que variam de 5 a 130 metros de profundidade; - PLATAFORMAS DE PERNAS ATIRANTADAS (TENSION-LEG PLATAFORM – TLP) – ancoradas por estruturas tubulares com os tendões fixos ao fundo do mar por estacas mantidas esticadas pelo excesso de flutuação da plataforma, o que reduz severamente os movimentos; - PLATAFORMAS SEMISSUBMERSÍVEIS – compostas de uma estrutura de um ou mais conveses, apoiadas por colunas em flutuadores submersos. Dois tipos de sistemas são responsáveis pelo posicionamento da unidade flutuante: a) o sistema de ancoragem é constituído de oito a 12 âncoras e cabos e/ou correntes, atuando como molas que produzem esforços capazes de restaurar a posição do flutuante quando modificada pela ação dos ventos, das ondas e das correntes; e b) o sistema de posicionamento dinâmico onde não existe ligação física da plataforma com o fundo do mar, exceto a dos equipamentos de perfuração. Sensores acústicos determinam a deriva, e propulsores nos cascos acionados por computador restauram a posição da plataforma. Apresentam grande mobilidade e, por isso, são preferidas para a perfuração em poços exploratórios (ClickMacaé, 2009). 117 A proposta de compra de todos os direitos sobre esse campo pela norueguesa Norsk Hydro à Anadarko está em processo de análise pela ANP.

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TABELA 24

CAMPOS EM FASE DE PRODUÇÃO – BACIA DE CAMPOS

Campo Concessionários Participação (%) Albacora Petrobras 100

Petrobras 90 Albacora Leste Repsol 10

Anequim Petrobras 100 Badejo Petrobras 100 Bagre Petrobras 100 Barracuda Petrobras 100 Bicudo Petrobras 100

Shell 80 Bijupirá Petrobras 20

Bonito Petrobras 100 Carapeba Petrobras 100 Caratinga Petrobras 100 Cherne Petrobras 100 Congro Petrobras 100 Corvina Petrobras 100 Enchova Petrobras 100 Enchova Oeste Petrobras 100 Espadarte Petrobras 100 Garoupa Petrobras 100 Garoupinha Petrobras 100 Jubarte Petrobras 100 Linguado Petrobras 100 Malhado Petrobras 100 Marimba Petrobras 100 Marlim Petrobras 100 Marlim Leste Petrobras 100 Marlim Sul Petrobras 100 Moréia Petrobras 100 Namorado Petrobras 100 Nordeste de Namorado Petrobras 100 Pampo Petrobras 100 Parati Petrobras 100 Pargo Petrobras 100 Piraúna Petrobras 100

Devon Energy 60 Polvo SK do Brasil 40

Roncador Petrobras 100 Shell 80 Salema Petrobras 20

Trilha Petrobras 100 Vermelho Petrobras 100 Viola Petrobras 100 Voador Petrobras 100 Fonte: ANP/SDP.

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Os campos em fase de produção são os mais antigos em termos de descobertas.

Daí origina-se a forte presença da Petrobras nas atividades de produção considerada

isoladamente, pois a maioria dessas descobertas foram anteriores à atual Lei do Petroléo (Lei

nº 9.478/96).

Ao todo são 40 campos em fase de produção, e somente o Campo de Polvo não é

operado ou possui alguma participação da Petrobras. Ele é operado pela Devon Energy com

participação da SK do Brasil. Em 36 campos, a Petrobras é a empresa operadora e possui os

direitos isoladamente, e em três campos (Albacora Leste, Bijupirá e Salema) é operadora em

parceria com as empresas Repsol e Shell. Por isso, até o momento, além da Petrobras,

somente as empresas Shell e Devon Energy conseguiram produzir petróleo na BC.

Para corresponder às necessidades impostas pelo volume das atividades de

exploração e produção offshore, pela dimensão da área marítima de exploração da BC (100

mil km²) e pelos desafios tecnológicos oriundos desse tipo de produção – particularmente com

óleo pesado e em grande profunidade –, a Petrobras opera na Bacia de Campos através de

uma estrutura gigantesca dividida em várias gerências e Unidades de Negócios (UNs).

Atualmente, essa estrutura demanda um exército de aproximadamente 10 mil trabalhadores da

própria Petrobras e 50 mil trabalhadores terceirizados que trabalham em suas instalações. A

Figura 7 mostra o organograma dessa estrutura.

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FIGURA 7

ORGANOGRAMA OPERACIONAL DA PETROBRAS – BACIA DE CAMPOS

Fonte: Revista Negócios Offshore (2007).

A área de Exploração e Produção dessa companhia na Bacia de Campos atua

através de três Unidades de Negócios (UNs):

a) a Unidade de Negócios Rio de Janeiro (UN-Rio) é responsável pelo gerenciamento dos

campos descobertos mais recentemente confrontantes com o ERJ, como: Marlim Sul,

Albacora Leste e Roncador entre outros. Nesses campos estão localizadas algumas das

plataformas mais novas: P-50, P-38 e P-40;

b) coube à Unidade de Negócios Bacia de Campos (UN-BC) o gerenciamento dos campos

chamados de maduros, ou seja, que já alcançaram o pico de produção e também são

confrontantes com o território fluminense, como Enchova, Garoupa e Namorado. Além

desses campos, possui em sua carteira outros projetos recentes, como Papa-Terra e

Maromba, que ainda encontram-se em fase de desenvolvimento mais ao sul da BC.

Devido a essa incumbência de gerenciamento dos campos maduros, um dos seus objetivos

é o rejuvenescimento desses campos para prolongar sua vida útil, e o outro é a descoberta

de novas jazidas com a meta de alcançar um milhão de barris diários até 2010. Até o

momento, a UN-BC é a maior e mais importante Unidade de Negócios de E&P da

Petrobras no Brasil; e

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c) a última é a Unidade de Negócios Espírito Santo (UN-ES), responsável pelo

gerenciamento dos campos mais ao norte da BC, que se projetam no litoral capixaba,

como os campos de Jubarte, Cachalote e Baleia Branca, chamados de Complexo das

Baleias.

Além dessas Unidades de Negócios de E&P, a Petrobras opera na Bacia de

Campos com outras seis Unidades de Serviços (USs) de Exploração e Produção (E&P

SERV), que oferecem suporte às principais demandas de equipamentos e serviços dessas UNs

(Bacia de Campos, Rio de Janeiro e Espírito Santo). Cada uma desenvolve serviços

especializados com suas expertises para as operações das UNs e, com exceção da UN-ES,

todas estão localizadas no município de Macaé. São elas:

a) a US-SUB (equipamentos submarinos) – Engenharia Submarina – é a unidade que visa

prestar serviços submarinos e soluções de engenharia às Unidades de Negócios, de acordo

com as políticas e metas da área de Exploração e Produção da Petrobras, atuando com

excelência operacional e responsabilidade social e ambiental. Essa US é responsável pela

contratação dos serviços de subsea, ou seja, realizados no fundo do mar, como a

instalação e manutenção de equipamentos submarinos como árvores de natal molhadas

(conjunto de acessórios e válvulas em um revestimento final para controlar a velocidade

de produção de petróleo), manifolds, BOP (Blowout Preventer – sistema de prevenção

específico para operações de perfuração), etc.;

b) a US-PO (poço) – unidade responsável pelo processo que visa fornecer serviços

especializados de poços, contribuindo para a viabilização da carteira de projetos de

exploração, desenvolvimento e manutenção da produção. Responsável pelos serviços de

perfuração de poços, fluidos químicos que contribuem no processo de perfuração e

limpeza de rochas, completação do poço118 para deixá-lo preparado para a produção,

testemunho de análise das características do poço, pescaria de equipamentos e/ou partes

que caem no poço, revestimento, etc.;

c) a US-SS (sondas submersíveis) – Sondagem Semissubmersível – é a unidade que visa

prestar serviços de sondagem para a perfuração, completação, intervenção e outras

118 Completação de poços – “Ao completar o poço para a produção, é preciso revesti-lo com tubos de aço. Coloca-se em torno dele uma camada de cimento para impedir a penetração de fluidos indesejáveis e o desmoronamento de suas paredes. A operação seguinte é o canhoneio: um canhão especial desce pelo interior do revestimento e, acionado da superfície, provoca perfurações no aço e no cimento, abrindo furos nas zonas portadoras de óleo ou gás, permitindo o escoamento desses fluidos para o interior do poço. Outra tubulação, de menor diâmetro (coluna de produção), é introduzida no poço para conduzir os fluidos até a superfície. Instala-se na boca do poço um conjunto de válvulas conhecido como ‘árvore de natal’ para controlar a produção” (Click Macaé, 2009).

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operações pertinentes em poços na área de abrangência da Exploração e Produção,

mediante o uso de unidades marítimas flutuantes próprias e contratadas. Essa unidade é

responsável pela contratação, manutenção e especificação dos serviços ligados às sondas

de perfuração;

d) a US-TA (transporte e armazenamento) – responsável pela gestão dos serviços de

transporte e movimentação de cargas para o porto e outras áreas;

e) a US-AP (apoio) – visa assegurar serviços especializados de manutenção de

equipamentos, análise laboratorial, disponibilização de água potável e produtos químicos,

disposição de resíduos e apoio ao controle de derramamento de óleo às unidades; e

f) a US-CONT (contratação) – responsável pela contratação de bens e serviços para os

grandes projetos de E&P, formulando estratégias de longo prazo para itens críticos e

atuando de forma centralizada com objetivo de garantir ganho de escala.

Essas USs estão localizadas na área limítrofe com o município de Rio das Ostras,

na base de Parque de Tubos, no bairro de Imboassica, sendo a segunda base de operações da

Petrobras em Macaé. Essa proximidade foi um dos instrumentos que possibilitou a Rio das

Ostras atrair e posteriormente instalar diversas empresas fornecedoras da cadeia produtiva de

petróleo e gás natural nesse município, principalmente para o seu distrito industrial

denominado Zona Especial de Negócios.

O Terminal de Cabiúnas (Tecab) operado pela Transpetro – subsidiária da

Petrobras – é responsável pelo recebimento e tratamento do gás natural extraído pelas

plataformas da BC, que depois é enviado através de dois gasodutos para a Reduc. Atualmente,

o Consórcio Odetech, formado pelas empresas Odebrecht e Techint, está construindo o

terceiro gasoduto entre o Tecab e a Reduc ao longo da Rodovia BR-101.

Essa estrutura da indústria petrolífera ainda contempla duas unidades termelétricas

que aproveitam o abundante gás natural produzido na BC para geração de energia elétrica

para Macaé e municípios da região. A Termelétrica Mário Lago foi adquirida pela Petrobras à

americana El Paso por US$ 357,5 milhões em 2006. Há, também, a Usina Termelétrica Norte

Fluminense – ambas estão localizadas em Macaé, às margens da rodovia BR-101119.

Para dar suporte às Unidades de Negócios, às Unidades de Serviços, às

termelétricas e ao Terminal de Cabiúnas é necessário uma grande infraestrutura de apoio

119 Além da Termelétrica Mario Lago, em Macaé (RJ), a Petrobras controla as seguintes termelétricas: Aureliano Chaves, em Ibirité (MG); Governador Leonel Brizola, Duque de Caxias (RJ); Barbosa Lima Sobrinho, Seropédica (RJ); Luís Carlos Prestes, Três Lagoas (MS); Fernando Gasparian, em São Paulo; Celso Furtado, em São Francisco do Conde (BA); Rômulo Almeida e Bahia I, ambas em Camaçari (BA); e Sepé Tiajaru, em Canoas (RS).

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originada pelas atividades administrativas, de tecnologia da informação e de comunicação no

cotidiano das operações. Para isso, foram criadas três outras gerências que se tornaram

importantíssimas pela necessidade que essa estrutura demanda cotidianamente. Apesar de

serem somente atividades de apoio à operação, essas gerências são responsáveis por áreas

imprescindíveis à operação das unidades acima. São elas:

a) a Gerência de Telecomunicações – responsável pela transmissão de dados tanto em terra

quanto no mar e no suporte às atividades de comunicação;

b) a Gerência de Serviços de Tecnologia da Informação – responsável pela manutenção da

infraestrutura de hardware e software; e

c) o chamado Serviços Compartilhados (RBC) – responsável pela contratação de diversos

serviços de apoio administrativo.

A Figura 8 mostra as plataformas e navios que formam a estrutura operacional

marítima da Petrobras na Bacia de Campos.

FIGURA 8

ESTRUTURA OPERACIONAL MARÍTIMA – BACIA DE CAMPOS

Fonte: Petrobras.

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Segundo a Petrobras (2008), na atividade de exploração, o índice de sucesso com

a perfuração de poços exploratórios na BC alcança o recorde mundial de 50%, ou seja, em

cada dois poços perfurados, em um encontra-se indício de hidrocarbonetos. Por isso, e entre

outros motivos, a estrutura montada por ela nessa bacia é a maior já construída por uma única

empresa para uma mesma bacia sedimentar em toda a história da indústria do petróleo. São

números que impressionam pelo gigantismo do volume de equipamentos e trabalhadores que

mobiliza simultaneamente:

- poços perfurados – 2.350;

- campos em produção – 45 operados exclusivamente pela Petrobras, dois operados pela

Petrobras em parceria com outras empresas (Bijupirá e Salema), e um operado sem a

parceria da Petrobras (Polvo, operado pela Devon Energy);

- sondas de perfuração e completação – 27;

- sistemas de produção – 15 plataformas fixas, 13 sistemas flutuantes, 14 FPSO e um FSO;

- linhas submarinas – 3.789km flexíveis e 1.925km umbilicais para transporte através de

ligação entre os poços e as plataformas;

- equipamentos – 621 árvores de natal molhadas, 66 manifolds, duas monoboias;

- produção média diária (junho 2007) – 1,5 milhão de barris/dia de óleo e 22,05 milhões de

m³/dia de gás natural; e

- carga movimentada em operações offshore – 220 mil toneladas/mês.

As necessidades de suporte para essa estrutura demandam inúmeras contratações

constantes de serviços e bens para a manutenção das atividades. Na maioria dos casos, os bens

necessários às atividades podem ser ofertados por empresas que estejam fora do município de

Macaé, nos municípios do seu entorno e em outras regiões do ERJ, do Brasil e do mundo. No

caso dos serviços, ocorre exatamente o contrário: a necessidade de usufruir de uma vantagem

locacional de proximidade das bases de operações é inerente à atividade exploratória. Além

disso, é importante devido aos custos logísticos de transporte de equipamentos, das vistorias e

auditorias sobre os contratos e equipamentos, do tempo dispendido nas viagens e pelo próprio

risco de perda de equipamentos com alto valor agregado por roubo e/ou algum acidente. Essas

características de fornecimento da cadeia petrolífera na Bacia de Campos provocaram uma

migração de empresas e de seus respectivos trabalhadores para Macaé e, posteriormente, para

outros municípios da AIZPP-BC, principalmente Rio das Ostras e Campos.

É nesse sentido que apontamos Macaé como um polo por excelência na prestação

de serviços à Exploração e Produção de Petróleo Offshore com aproximadamente 2.000

empresas ligadas diretamente à cadeia produtiva de petróleo e gás natural. Porém, poucas

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indústrias migraram para a região, mesmo com a grande demanda por bens e serviços

aumentando constantemente. O grande fluxo de empresas foi composto por empresas

prestadoras de serviços para a cadeia petrolífera em Macaé que classificamos como

pertencentes ao segmento de serviços industriais. Essa aparente contradição entre a forte

migração de empresas prestadoras de serviços industriais e a fraca migração de indústrias

ocorre por vários motivos. Dentre estes, destacamos: a especificidade da cadeia produtiva em

realizar as compras através de contratos que priorizam a locação de máquinas e equipamentos,

pois as plataformas e as sondas são produzidas em outras regiões e chegam completas para

operarem na BC. Assim, somente sendo necessária a realização dos serviços de manutenção

com locação de equipamentos e pouco movimento de substituição. Outro motivo é o alto

custo para instalação em Macaé devido aos salários mais altos, aos aluguéis de áreas e galpões

e aos preços mais elevados dos insumos para produção.

A atração de milhares de empresas, a grande migração de trabalhadores, a

consequente saturação da infraestrutura urbana, a favelização, a mudança da dinâmica

econômica, a necessidade de novos equipamentos urbanos, o início de um processo de

mudança da centralidade regional, a afluência dos recursos provenientes dos royalties e das

participações especiais são algumas consequências da aglomeração industrial do setor de

petróleo e gás natural em Macaé que veremos mais detalhadamente abaixo.

4.4. ALGUNS PROBLEMAS DO DESENVOLVIMENTO DA BACIA DE CAMPOS

No ano de 1958, a partir de trabalhos exploratórios, foi perfurado o primeiro poço

de petróleo na bacia sedimentar que seria denominada Bacia de Campos, porém o nível

tecnológico ainda era incipiente para o desenvolvimento das atividades de produção que as

características geológicas e de produção no mar exigiam. A partir de 1968, novas técnicas e

equipamentos para exploração e produção em plataformas continentais foram desenvolvidos,

principalmente na região do Mar do Norte, na Europa. Assim, em 1972, as atividades nessa

bacia foram intensificadas e a descoberta do primeiro óleo ocorreu em 1974 com a perfuração

do poço 1RJS-9A120, no Campo de Garoupa.

Na década de 1970, as atividades de exploração da Petrobas na BC eram

vinculadas administrativamente à Região de Produção da Bahia. Com o primeiro choque do

120 A nomenclatura para os poços de petróleo seguem uma longa metodologia determinada pela ANP. No caso desse poço, o número “1” significa que é um poço descobridor de campo, o “RJ” porque está confrontante com o litoral do estado do Rio de Janeiro, o “S” porque é um poço submarino e o “9 A” significa a sequência de perfuração dos poços.

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preço do petróleo (1974) e a avaliação do potencial da nova área, houve uma intensificação

dos trabalhos para a instalação de um terminal marítimo de apoio, pois para a área de E&P de

operações offshore da cadeia produtiva de petróleo e gás natural é fundamental possuir um

terminal marítimo que permita atracamentos, embarques e desembarques de equipamentos e

trabalhadores com rapidez e segurança para aumento da produtividade e diminuição dos

custos logísticos.

Entretanto, já existia em São Mateus, no Norte do Espírito Santo, uma estrutura

razoável de exploração e produção de petróleo em terra (onshore). Devido à grande extensão

da BC – de aproximadamente 100 mil km² –, a cidade de Vitória apresenta relativa

proximidade com essa bacia ao norte, por isso, houve uma escolha quase natural para abrigar

essa nova Base Operacional que surgia imposta pelas necessidades operacionais e logísticas.

Algumas exigências foram feitas pelo poder público local, pois

para um apoio efetivo de operações offshore há a necessidade de um porto, juntamente com toda a [sua] estrutura de retroporto. Chegou-se a elaborar um projeto para a construção de um porto exclusivo, anexo ao de Vitória. Porém, o projeto foi paralizado uma vez que a administração local exigiu da Petrobras a construção de um novo porto, que seria administrado pela prefeitura, tendo inclusive a Petrobras que pagar as taxas de uso do mesmo (NASCIMENTO, 1998: 15).

Nesse contexto de dificuldades com o poder público local, a Petrobras constituiu

uma comissão para buscar um outro local apropriado que pudesse abrigar a construção de um

novo porto nas condições desejadas pela companhia. Foi realizada uma análise de diversos

locais, desde Vitória/ES até Angra dos Reis/RJ, sendo a enseada de Imbetiba, em Macaé, o

local escolhido por diversos fatores que se constituíram como cruciais para sediar a nova base

de operações da Petrobras na Bacia de Campos:

- já possuía um pequeno porto estabelecido;

- havia um vazio urbano próximo ao porto formado pelos velhos galpões da Rede

Ferroviária Federal (RFFSA) que poderiam ser utilizados como retroárea;

- possuía condições de mar favoráveis;

- havia proximidade com a Bacia de Campos;

- havia espaço para construção de anexos voltados às atividades administrativas; e

- também estava relativamente próxima da cidade do Rio de Janeiro.

Além desses fatores, podemos deduzir que a escolha de um local tão pequeno e

sem grande importância econômica e política na época talvez fosse parte da estratégia de

evitar conflitos com o poder público e algumas frações da sociedade local sobre os impactos

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oriundos da instalação da base operacional. Depois da malsucedida tentativa de instalação em

um centro mais dinâmico econômica e politicamente, como Vitória/ES, talvez a ideia fosse

instalar-se onde não pudesse haver grandes resistências políticas e sociais para a chegada

dessa companhia.

No momento da escolha do local para sede das operações da Petrobras na Bacia

de Campos, Macaé não apresentava infraestrutura urbana que o diferenciasse do seu entorno,

ou seja, não sendo a infraestrutura urbana um critério para a escolha de Macaé. A literaura

cita, ainda, um outro fator considerado “técnico” na época, o que não necessariamente o

tornava imune às questões políticas e sociais: a distância da cidade do Rio de Janeiro até

Macaé corresponde a 200km, enquanto a localidade de Farol de São Tomé, em Campos dos

Goytacazes, uma outra opção pensada, dista 350km. Uma diferença considerada substancial

de 150km para transporte de equipamentos, insumos e pessoas.

Dessa forma, em 1979, a pequena cidade de aproximadamente 35 mil habitantes

no litoral norte do ERJ foi escolhida para apoiar, o que seria no futuro, uma das maiores

estruturas produtivas de petróleo e gás natural do mundo. Vale a pena ressaltar que, nesse

momento, a Petrobras não conhecia todo o potencial da BC e, principalmente, não

vislumbrava o que se tornaria com toda sua necessidade de infraestrutura, trabalhadores e da

cadeia de suprimentos no seu entorno.

O desenvolvimento das forças produtivas em um território praticamente

inexplorado provocou fenômenos até então desconhecidos na AIZPP-BC e que atualmente

possuem intensidade e grandiosidade de difícil tratamento. Esses fenômenos provocam

consequências que se entrelaçam nas suas causas e efeitos, como veremos abaixo:

4.4.1. A formação do cluster da indústria de petróleo e gás natural em Macaé

A instalação da base operacional da Petrobras em Macaé (1979), a consequente

instalação de um parque de fornecedores de prestação de serviços para suprir as necessidades

de apoio à produção offshore da cadeia petrolífera da Bacia de Campos, o aumento

vertiginoso da produção de petróleo e gás natural e do volume de recursos provenientes dos

royalties e das participações especiais provocaram diversas transformações e mudanças no

cotidiano das cidades da AIZPP-BC.

Após a instalação da referida base operacional da Petrobras e do desenvolvimento

de suas atividades, a AIZPP-BC passou por um processo de profunda transformação, oriundo

da instalação de um tecido de serviços industriais especializado no suporte às operações de

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serviços offshore dessa base operacional e/ou pelo derrame dos recursos dos royalties e das

participações especiais aos governos municipais. Na verdade, há um amplo e complexo

conjunto de deslocamentos de pessoas, mercadorias, capital e informação sobre [esse] o

espaço geográfico (CRESPO, 2003: 245), provocando uma assimetria entre os municípios da

AIZPP-BC. Esse processo propiciou um grande aumento da densidade empresarial em Macaé,

tornando-a uma cidade com elevado número de empresas, enquanto os outros municípios

mantiveram suas características tradicionais de balneários turísticos e/ou de municípios

voltados para a pesca e a agropecuária. Somente após quase 30 anos de produção na BC essa

atividade econômica inicia um processo de transbordamento para outros municípios do

entorno de Macaé, principalmente para Rio das Ostras e Campos dos Goytacazes. Neste

trabalho, é essa AIZPP-BC transbordada e impactada que nos interessa.

Esse tecido econômico é formado por uma estrutura de segmentos produtivos que

suportam diretamente as atividades offshore de exploração e produção de petróleo e gás

natural, conforme vizualizado na Figura 9. Nessa figura, no primeiro nível estão as cinco

grandes famílias de suprimentos com as quais as oil companies estabelecem contratos de

grande valor e de longo prazo com grandes empresas fornecedoras (chamados Contratões).

No segundo nível estão os diversos setores da cadeia produtiva que são contratados direta ou

indiretamente pelas empresas operadoras. As empresas pertencentes a esses segmentos (níveis

1 e 2), ao instalarem-se em Macaé e depois em Rio das Ostras, propiciaram a constituição do

referido cluster petrolífero.

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FIGURA 9

ESTRUTURA SIMPLIFICADA DA CADEIA DE EXPLORAÇÃO E PRODUÇÃO DE

PETRÓLEO E GÁS NATURAL NA BACIA DE CAMPOS

Fonte: RIBEIRO NETO (2006).

A Figura 10 mostra o mapa da cidade de Macaé com as concentrações

empresariais dos principais segmentos econômicos. As instalações operacionais da Petrobras

estão em amarelo e localizam a base de Imbetiba com o porto de operações de embarque e

desembarque de suprimentos e equipamentos para as plataformas, e o chamado Parque de

Tubos na fronteira com o município de Rio das Ostras. Ao redor dessa última base estão

localizadas as empresas de serviços de Subsea (azul), ou seja, aqueles realizados através da

instalação de equipamentos no fundo do mar, em que podemos destacar as seguintes

empresas: Aker Solutions, Cameron, National Varco, Weatherford, etc.

As empresas do segmento de Construção e Montagem são aquelas responsáveis

pela manutenção das plataformas de produção. Esse segmento é importante para a

dinamização do restante da cadeia produtiva, pois os valores dos contratos realizados com a

Petrobras aproximam-se dos bilhões de reais. O fato a ser destacado desse segmento é o

interesse por tradicionais empresas de construção civil e pesada participarem desse segmento.

EXPLORAÇÃO & PRODUÇÃO

CONSTRUÇÃO E MONTAGEM

ENGENHARIA MANUTENÇÃO HOTELARIA GUINDASTE

METAL-MECÂNICA

ELETRO-ELETRÔNICA

CONSTRUÇÃO CIVIL

MANUTENÇÃO INDUSTRIAL

SERVIÇOS GERAIS

FABRICAÇÃO DE EQUIPAMENTOS E

FERRAMENTAS

CALDERARIA SERVIÇOS DE USINAGEM

FABRICAÇÃO DECOMPONENTES

CATERING(HOTELARIA OFFSHORE)

DRILLING (PERFURAÇÃO)

AUTOMAÇÃO SERVIÇOS SUBSEA

APOIO MARÍTIMO

TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO

SERVIÇOS DE PINTURA

TRANSPORTEE LOGÍSTICA

CONSTRUÇÃO E MONTAGEM

COMÉRCIO E MATERIAL

INSTRUMENTAÇÃO

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160

As empresas integrantes desse segmento com seus respectivos bairros: UTC (Lagomar),

Mendes Júnior (Ajuda), Odebrecht (Virgem Santa), Techint (Lagomar), Consórcio PCP

Engevix (Parque de Tubos) e Vetco Aibel (Virgem Santa).

Em 2004, a modalidade de contratação dessas empresas inaugurou o sistema de

gerenciamento através dos chamados EPCistas121, no qual a Petrobras terceirizou as

atividades de manutenção de plataformas para essas grandes empresas, fazendo com que

grande parte das micro e pequenas empresas passassem a ser quarteirizadas, e não mais

terceirizadas em relação às demandas da Petrobras. Essa foi uma modificação no aspecto de

gestão da Petrobras que provocou profundas transformações na estrutura produtiva em Macaé,

pois um número considerável de empresas deixou de possuir relação direta com a Petrobras.

Esses contratos possuem a vigência de cinco anos e no segundo semestre de 2009

retornaram ao mercado através de novo processo licitatório. Informações não oficiais apontam

que três empresas foram vencedoras de lotes de plataformas (PCP, Engevix e Imetame), o que

traz grande ansiedade ao mercado, pois, geralmente quando uma nova empresa ganha um

desses contratos, carrega consigo alguns fornecedores de sua confiança para se instalarem ao

seu redor.

O segmento de Drilling responde pelas atividades de aluguel de sondas e

contratação de serviços de perfuração. Integram esse segmento grandes empresas

internacionais que desenvolvem alta tecnologia demandada pelas características das

atividades. Grande parte das empresas está localizada no bairro de Novo Cavaleiros (Pride,

Transocean, BJ Services, Halliburton, Schumberger, Brasdrill). Além dessas, a Baker Hughes

construiu uma nova base no bairro Lagomar e a SBM está localizada perto do centro da

cidade.

Por último, as empresas de Catering, que são responsáveis pelos serviços de

hotelaria marítima nas plataformas – alimentação, limpeza, arrumação, etc. –, estão

localizadas no bairro de Novo Cavaleiros e possuem participação de grupos nacionais (Puras)

e estrangeiros (CIS Brasil). Esse é um setor problemático na cadeia produtiva, pois emprega a

força de trabalho menos qualificada, tem grande histórico de rotatividade e de falências.

121 Engeneering, Procuremente and Contractors – metodologia de contratação de grandes empresas que organizam e executam a construção e a montagem de grandes estruturas através da subcontratação de fornecedores.

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161

FIGURA 10

LOCALIZAÇÃO DOS PRINCIPAIS SEGMENTOS PRODUTIVOS DE

EXPLORAÇÃO E PRODUÇÃO DE PETRÓLEO E GÁS NATURAL EM MACAÉ

Fonte: elaboração própria.

4.4.2. A mudança da centralidade regional

A região Norte Fluminense sempre foi polarizada política e economicamente pelo

município de Campos dos Goytacazes. Esse município possui o maior território, a maior

população e, até o declínio da atividade canavieira, a maior dinâmica econômica do interior

fluminense. Assim, toda a estrutura pública formada por estabelecimentos das burocracias

federal e estadual na região sempre estiveram nessa cidade.

Silva Neto, Dias & Barral Neto (2008) apontam que, ao longo do tempo, o

município de Campos dos Goytacazes consolidou sua centralidade como tradiconal centro

regional do interior do ERJ através da concentração de grande parte da riqueza e da prestação

de serviços do Norte e Noroeste Fluminenses. Essa riqueza foi consequência do crescimento

econômico promovido pelo Setor Sucroalcooleiro quando este era um dos principais

produtores do país. Entretanto, apesar desse setor entrar em decadência a partir da década de

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162

1950, continua a se manter como principal polo regional devido ao exercício dessa

centralidade por muito tempo. Centralidade que também pode ser atribuída à quase ausência

de crescimento, importância econômica e política dos municípios circunvizinhos, formados

em sua maioria por pequenas cidades com agropecuária extensiva e de baixa produtividade,

gerando pouco dinamismo econômico.

Entretanto, o início das atividades de E&P na Bacia de Campos e a instalação da

base operacional da Petrobras em Macaé desencadearam um processo de descentralização de

algumas atividades e funções que antes somente eram exercidos em Campos. Em termos de

dinâmica econômica, os trunfos do jogo estão na pujança econômica de Macaé, fazendo com

que a centralidade deste se fortaleça em detrimento da daquele município.

Devido a essa pujante economia de Macaé, há um claro processo de divisão da

centralidade regional em direção a Macaé em detrimento da histórica centralidade

desempenhada por aquele município ao longo de algumas centenas de anos. Essa mudança

ocorre a partir do que Raffestin (1993) conceitua como nodosidade, que reúne atores

paradigmáticos e que possívelmente constituíram uma nova centralidade.

Claude Raffestin (1993: 188) aponta algumas considerações sobre a relação entre

centralidade e marginalidade:

Centralidade e marginalidade se definem uma em relação à outra e são especificamente relacionais, ou seja, podem se inverter no território, sem que o mecanismo seja questionado: a centralidade pode se tornar marginalidade e vice-versa, num dado lugar.

Nesse sentido, entendemos que a consolidação de Macaé, através da singularidade

de praticamente ser o único município que concentra as atividades da cadeia petrolífera na

AIZPP-BC, inicia um processo de desterritorialização através de um esvaziamento político do

município de Campos dos Goytacazes, que possuiu historicamente maior importância política

e econômica na região Norte Fluminense. Assim, este exercia uma influência como centro

gravitacional (centralidade) por sediar algumas instituições e departamentos das burocracias

estadual e federal. Há alguns anos, ocorre um processo de reterriorialização em torno de

Macaé devido à sua dinâmica econômica pela instalação da Petrobras e das empresas

fornecedoras da cadeia petrolífera, à grande migração diária de trabalhadores para as

empresas ali instaladas e ao crescimento maior dos seus municípios circunvizinhos em relação

aos municípios do entorno de Campos dos Goytacazes, que parecem ter se adaptado melhor

ao novo contexto regional oriundo das rendas petrolíferas.

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163

Devido às necessidades das dinâmicas capitalista e empresarial, alguns aparatos

dessas burocracias instalaram-se em Macaé (Receita Federal, Secretaria Estadual de Fazenda,

Delegacia do Ministério do Trabalho, Polícia Federal), perfazendo com que esse município

começasse a ter importância singular nas regiões Norte Fluminense e Baixadas Litorâneas. A

partir disso, Macaé começou a rivalizar com Campos em termos de importância política e

econômica nessas regiões, não tendo ainda sobrepujado a primazia campista, mas talvez

iniciado o processo de inversão da relação centralidade-marginalidade apontado por Raffestin.

O processo em andamento da relação de centralidade e marginalidade entre os

municípios de Campos e Macaé aponta algumas questões aparentemente contraditórias a

serem observadas:

1) esse processo de inversão da centralidade entre Campos e Macaé pode aumentar as

disparidades intrarregionais, pois alguns municípios – por exemplo, do entorno de Macaé

– se adaptam melhor ao novo contexto econômico, político e social da região e do ERJ;

2) o processo de transbordamento dos impactos positivos e negativos da instalação da cadeia

produtiva petrolífera em direção a outros municípios além de Macaé pode contribuir para

reduzir e/ou aprofundar as desigualdades entre municípios ou no interior de cada um;

3) esse processo também evitaria a constituição de uma “centralidade pura” em Macaé, o que

é salutar para a região e para o próprio município de Macaé, pois diminuiria os impactos

provenientes da situação de “eldorado”, como grande afluxo de empresas e migrantes,

aumento das mazelas sociais e de desgaste da infraestrutura e dos equipamentos urbanos,

etc.

Aparentemente contraditório é o fenômeno que ocorre atualmente em Macaé, que,

apesar de vivenciar uma intensificação de sua centralidade regional a partir do seu dinamismo

econômico, experimenta um processo de falta de centralidade decisória devido à força

econômica e política das presenças físicas da Petrobras, das multinacionais do setor

(Halliburton, Pride, Transocean, Schumberger, Baker Hugues, General Eletric, Techint, etc.) e

de grandes empresas brasileiras (UTC, Mendes Júnior, Odebrecht, Schain, etc.). Essa falta de

centralidade decisória é proveniente da ausência das matrizes dessas empresas no território de

Macaé, pois suas matrizes estão fora da cidade e mesmo do país em cidades que exercem o

papel de centro de comando do processo de valorização do capital no que tange à indústria do

petróleo (Houston/EUA, Aberdeen/Escócia, Dubai/EAU, Stavanger/Noruega,

Londres/Inglaterra e, no caso da Petrobras, Rio de Janeiro e Brasília), havendo, com isso, uma

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164

falta de autonomia em relação às principais decisões de investimento dessas empresas no

município122.

No entanto, a perspectiva de investimento na região Norte Fluminense e nos

municípios circunvizinhos para os próximos anos poderá contrabalançar esse processo de

“mudança de eixo” econômico. Pois, apesar de grande parte desses investimentos serem

ligados à extração petrolífera, muitos acontecerão no entorno de Campos, rompendo a

tradição dos investimentos ligados à produção de petróleo serem implantados em Macaé.

Esses investimentos são: o Complexo Portuário do Açu, em São João da Barra; a extensão do

plantio de eucalipto pela Aracruz Celulose S.A. e os estaleiros STX (antigo Aker Promar) e

Edson Chouest, em Barra do Furado, em Quissamã na divisa com Campos.

Hoje, as centralidades política e cultural ainda são exercidas pelo município de

Campos dos Goytacazes, e a centralidade econômica pelo município de Macaé. Porém, os

investimentos que possuem expectativa de aportar na região provavelmente contribuirão para

a consolidação desse processo de descentralização regional, constituindo duas centralidades: a

exercida pelo município de Campos dos Goytacazes e outra por Macaé. Entretanto, a

tendência é de que no entorno desses municípios desenvolvam-se as cidades devido ao

desenvolvimento das atividades econômicas provenientes dos novos investimentos e da

própria dinâmica das inversões da cadeia produtiva de petróleo e gás natural. Assim, espera-se

que essa onda de investimentos aprofunde o processo de transbordamento da dinâmica

econômica em direção a outros municípios que não somente Rio das Ostras e Campos dos

Goytacazes, ou seja, se expanda pela AIZPP-BC.

Somente no futuro veremos como se consolidará essa relação centralidade-

marginalidade entre os dois municípios e como será o posicionamento dos municípios dos

seus respectivos entornos em relação ao contexto de investimentos que se anunciam para a

AIZPP-BC nos próximos cinco anos.

4.4.3. Distribuição desigual das rendas petrolíferas e dos investimentos

Historicamente, a região Norte Fluminense sempre apresentou profunda

desigualdade entre os municípios através da geração de riqueza com a atividade canavieira em

122 “Os pontos nevrálgicos do sistema capitalista urbanos são os centros de comando, espacialmente bem ancorados, de controles da produção e dos processos de valorização que estão cada vez mais organizados e estruturados sobre uma base transnacional. À proporção que os processos de valorização do capital se internacionalizam, o desenvolvimento dessas cidades está mais do que nunca ligado a decisões tomadas em outros lugares, quase sempre distantes” (BENKO, 1996: 74).

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165

Campos dos Goytacazes e depois com a atividade petrolífera em Macaé. Porém, percebe-se

que os municípios da porção inferior da região Norte Fluminense se adaptaram melhor ao

contexto produzido pela Lei do Petróleo (Lei nº 9.478/97) e pela possibilidade de auferirem

rendas com os royalties e as participações especiais da produção de petróleo e gás natural.

Assim, podemos apontar maior dificuldade dos municípios da porção superior

dessa região – Campos do Goytacazes, São Francisco de Itabapoana e São João da Barra – de

se adaptarem às novas condições impostas pelo desenvolvimento das forças produtivas do que

outros municípios da região, como Rio das Ostras e Quissamã. Apesar de Campos dos

Goytacazes desenvolver um importante instrumento de atração de investimentos – o Fundo de

Desenvolvimento de Campos (Fundecam) – com recursos provenientes das rendas

petrolíferas, somente nos últimos anos começou a atrair investimentos ligados à indústria do

petróleo, como o caso emblemático da alemã Schulz, que está construindo sua terceira fábrica

de tubos revestidos no município e tendo anunciado a construção futura da quarta unidade

fabril. Em relação a São Francisco de Itabapoana, até o momento não há notícias de atração

de investimentos que possam contribuir efetivamente para a mudança da dinâmica econômica

local e, no caso de São João da Barra, a grande aposta é no Complexo Portuário do Açu e na

Usina Termelétrica do Porto do Açu, com investimentos previstos de R$ 4,9 bilhões e R$ 4,1

bilhões, respectivamente, pelas empresas LLX Logística S.A e MPX Mineração e Energia

S.A, ambas do grupo EBX123. Além dessas inversões, em julho de 2009 a siderúrgica chinesa

Wisco anunciou a construção de uma usina que exigirá aporte de US$ 4 bilhões e previsão de

geração de 20 mil empregos.

Além dos investimentos privados, os próprios recursos dos royalties e das

participações especiais recebidos pelos municípios tornam-se um grande potencial de

aprofundamento das desigualdades regionais entre as regiões do ERJ e no próprio interior da

AIZPP-BC, pois os municipíos dessas regiões recebem volumes extremamente heterogêneos,

como podemos verificar na tabela abaixo.

123 Devido a atual crise financeira mundial, estes investimentos foram adiados, porém não cancelados.

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166

TABELA 25

MUNICÍPIOS PRODUTORES – ZONA DE PRODUÇÃO PRINCIPAL

ROYALTIES E PARTICIPAÇÕES ESPECIAIS (2008) – R$

Municípios Royalties PE Total % Armação dos Búzios 56.152.666,04 7.607.165,44 63.759.831,48 2,38% Cabo Frio 144.061.810,98 45.622.535,94 189.684.346,92 7,08% Campos dos Goytacazes 559.055.735,28 609.563.593,62 1.168.619.328,90 43,62% Carapebus 33.748.927,55 1.577.797,41 35.326.724,96 1,32% Casimiro de Abreu 56.882.713,01 23.333.766,57 80.216.479,58 2,99% Macaé 406.961.370,68 94.629.552,14 501.590.922,82 18,72% Quissamã 101.086.492,98 45.537.645,85 146.624.138,83 5,47% Rio das Ostras 162.045.037,06 169.502.714,81 331.547.751,87 12,38% São João da Barra 79.193.445,45 82.233.351,85 161.426.797,30 6,03% Total dos Municípios Produtores

1.599.188.199,03 1.079.608.123,63 2.678.796.322,66 100,00%

Fonte: elaboração própria a partir da ANP.

Essa discrepância na contemplação desses recursos fica mais evidente quando

verifica-se que somente o município de Campos dos Goytacazes recebe 43,62% do total

distribuído aos municípios considerados produtores de petróleo da BC, seguido dos

municípios de Macaé (18,72%) e de Rio das Ostras (12,38%). No ano de 2008, os três

maiores contemplados perfizeram um total de quase 75% dos recursos oriundos dos royalties

e das participações especiais, ou seja, mais de R$ 2 bilhões recebidos em 2008, enquanto

Carapebus e Armação dos Búzios receberam “somente” 1,32% (R$ 63 milhões) e 2,38% (R$

35 milhões) respectivamente.

Nos municípios das AIZPP-BC essa diferença fica gritante, pois, observando os

volumes de recursos que aportaram no município de Arraial do Cabo em 2008, o único que

recebe participações especiais fora da Zona de Produção Principal, são praticamente rídiculos

comparados aos dos municípios acima: royalties – R$ 7 milhões e participações especiais –

R$ 812 mil, totalizando quase R$ 8 milhões, ou seja, apenas 21,89% do que recebe o

município de Carapebus – a menor receita da Zona de Produção Principal.

Devido à crise financeira mundial e à vertiginosa queda do preço do barril do

petróleo no mercado internacional, que variou de US$ 140 para US$ 40, nota-se a queda de

aproximadamente 1/3 nas receitas auferidas com royalties e participações especiais da

produção de petróleo e gás natural pelos municípios a partir do último trimestre de 2008.

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167

4.4.4. O transbordamento de Macaé para a AIZPP-BC

Após 30 anos de início da produção de petróleo em águas da BC, começa um

processo de transbordamento da aglomeração produtiva em direção a outros municípios que

se mostram mais agressivos e eficazes na atração de investimentos e de algumas

oportunidades trazidas pela proximidade à economia do petróleo estabelecida em Macaé. Isso

também acontece pelo agravamento das consequências das chamadas deseconomias de

aglomeração que começaram a se intensificar em Macaé nos últimos cinco anos. Essa cidade

possui infraestrutura precária no que tange ao fornecimento de água, energia elétrica e

telefonia fixa. Além disso, suas ruas não suportam o trânsito pesado de caminhões e carretas

carregados de equipamentos e peças entre as empresas e os principais pontos de apoio

logístico da cadeia produtiva de petróleo e gás natural – o porto de Imbetiba, o Parque dos

Tubos e o aeroporto de Macaé –, ocasionando constante degradação da malha rodoviária

urbana. Além disso, o aumento da violência urbana, da mendicância, da favelização e dos

congestionamentos são outros efeitos da aglomeração de pessoas e empresas e da migração

proveniente da imagem de “eldorado” que atraiu e ainda atrai inúmeros migrantes.

Com objetivo de não ficarem à margem do crescimento econômico promovido

pela dinâmica da indústria petrolífera, alguns municípios procuram desenvolver algumas

vantagens comparativas com o objetivo de atrair investimentos para seus territórios. Em

escala e escopo diferenciados, os municípios de Rio das Ostras, Quissamã e Carapebus124

oferecem distritos industriais conhecidos como Zonas Especiais de Negócios com benefícios

fiscais e infraestrutura para empresas ligadas ou não a essa cadeia produtiva para se

instalarem em seus respectivos territórios.

Dessa forma, municípios como Quissamã e Rio das Ostras demonstram maior

adaptabilidade à dinâmica e às exigências da cadeia petrolífera. Quissamã aproveita os

royalties na tentativa de dinamizar a economia local, melhorar a qualidade de vida da

população e atrair investimentos que possam suportar um custo logístico de 50km de distância

de Macaé com o programa Quissamã Empreendedor. Esse programa objetiva atrair

investimentos através da cessão em comodato de áreas para construção de unidades fabris,

financiamento subsidiado e isenção fiscal por período determinado.

Por outro lado, o município de Rio das Ostras possui a melhor experiência na

atração de investimentos da AIZPP-BC através da Zona Especial de Negócios (ZEN) – criada

124 A Zona Especial de Negócios de Carapebus ainda se encontra em fase de implantação pelo poder público municipal e, por isso, não é objeto de análise deste trabalho.

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168

pela Lei Municipal nº 691/2002 – e, com investimentos de aproximadamente R$ 20 milhões,

constituiu uma área de 1 milhão de metros quadrados com fornecimento de infraestrutura –

terreno com baixíssimo custo, terraplanagem, energia elétrica, água e saneamento básico,

pavimentação, gás natural, telefonia por fibra ótica, internet em banda larga e centro de

qualificação profissional – adequada à instalação das empresas e redução de 2,5% para 2,0%

das alíquotas do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN). Os lotes estão

estrategicamente localizados junto ao limite do município de Macaé e da base Parque de

Tubos da Petrobras, no qual são concedidos às empresas por 15 anos com possibilidade de

renovação e isentos da cobrança do IPTU. A contrapartida das empresas é a contratação de até

80% da sua força de trabalho no município, quando houver disponibilidade de trabalhadores

qualificados para as funções requeridas pelas empresas. Com isso, já foram gerados 4 mil

empregos diretos e indiretos. Muitas das empresas estão em fase de implantação, mas

começa-se a verificar uma profusão de empresas125.

A empresa Aker Solutions (grupo norueguês AKER) é o maior caso de sucesso da

ZEN de Rio das Ostras, pois trata-se da primeira empresa eminentemente ligada ao setor de

P&G que se instalou. Ela acabou de ampliar suas instalaçãoes com a construção da primeira

fábrica de risers de perfuração do país com investimentos de R$ 22 milhões para atender ao

mercado de sondas de perfuração marinha. A expectativa é a construção da ZEN 2, que conta

125 As empresas instaladas e/ou em fase de instalação na ZEN de Rio das Ostras são: Aeroporto Cabo Frio Logística e Transporte Multimodal Ltda.; Água & Seco Lavanderia Ltda.; Aker Solutions do Brasil; Aliminas Alimentação Industrial Ltda.; Alkeila Empreiteira Ltda.; Artsul – Indústria e Comércio Pré-moldados Cruz Sul Ltda.; Blockfire Equipamentos e Sistemas Ltda. – EPP; Brastech Seatech Serviços Técnicos de Petróleo Ltda.; Campanati Materiais de Construção Ltda. ME; Clima Climatização Ar Condicionado Ltda.; CNEC – Campanha Nacional de Escolas da Comunidade; Confab Industrial S.A; Contil Serviços de Contêineres Ltda.; Coopunião de Rio das Ostras Ltda.; CSE – Mecânica e Instrumentação Ltda.; Fênix Logística – M.C. Logística e Serviços Ltda.; Flowctv Instrumentação e Controle de Fluidos Ltda.; Fornecedora Estrela do Mar de Rio das Ostras; Fugro Oceanstapeg S.A; Giusti & Cia Ltda; Hayasa Comércio Serviços Automotores; Hydra Alphard Manutenção Industrial Ltda., Indústria Fap do Brasil Ltda.; Itaipava – Leiroz de Caxias Indústria, Comércio & Logística Ltda.; Gasoil Serviços Ltda. – K&S; K.Lund do Brasil Equipamentos Petrolíferos Ltda.; Ladder Serviços de Contentores e Serviços Ltda.; Locon Locações de Contentores e Serviços Ltda.; Macseal Service; Madeirostras; Mariner Serviços Subaquáticos Ltda.; Multitek Serviços de Engenharia Ltda.; New Temper Noroeste Indústria e Comércio de Vidros Ltda.; Novo H. Jacarepaguá Importação Exportação Ltda.; Núcleo Vídeo – F.E. Bessa Nogueira; Ostra Rio Locação e Serviços Ltda.; Petroenge – Petróleo Engenharia; Petrometal Engenharia Ltda.; PHE Indústria e Comércio de Equipamentos Ltda.; Plimsoll Serviços Ltda.; Queiroz Galvão Óleo & Gás SA; Tiger Rentank do Brasil Equipamentos Industriais Ltda.; Restaurante do Dudu – A.P. Mello Júnior Restaurante ME; Revestblast – Serviços Técnicos e Locação de Equipamentos Ltda.; Ridow Tecnologia Ltda.; Samplin Planejamento Assessoria de Segurança Industrial; Sanber Indústria Mecânica Ltda.; Santmac – Manutenção Técnica Ltda.; Sellix Ambiental – Camaral Construções e Reformas Ltda.; Sibras – Sistema de Alimentação do Brasil Ltda.; Sonardyne Brasil Ltda.; Subsea 7 do Brasil Ltda.; Tere Lonas Promoção de Eventos; Terrapleno Terraplenagem; Total Union do Brasil Indústria, Comércio e Serviços de Manutenção Ltda.; Transuiça Locação e Prestação de Serviços Ltda.; Usipetro Macaé Indústria e Mecânica Ltda.; Vallourec & Mannesmann Tubes.; Vicel Comércio Importação e Exportação.; Vicel Comércio e Serviços de Importação e Exportação; Villa Are Comércio de Movéis Planejados Ltda ME; Vomtur Transporte e Turismo Ltda.

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169

com uma área de tamanho equivalente ao da primeira e está em processo de liberação

ambiental para oferta às empresas.

A principal estratégia de atração de investimentos realizada pelo município de

Campos dos Goytacazes é o Fundo de Desenvolvimento de Campos (Fundecam) criado pela

Lei nº 7.084, de 02 de julho de 2001, e regulamentado pelo Decreto nº 147, de 22 de março de

2002. Esse fundo promove linha de financiamento público para investimentos com taxa de

6% ao ano com um ano de carência mais cinco anos para pagamento. Quem pagar o

financiamento em dia recebe os juros de volta no final do período, e quem atrasar pagará

multa e o dobro dos juros cobrados. Isso somente tornou-se possível pelo recebimento de

recursos provenientes dos royalties e dasparticipações especiais (Amcham, 2008a).

Segundo Passos & Silva Neto (2008), foram financiados 58 projetos de 13 ramos

diferentes126 que acumularam investimentos totais de R$ 302 milhões, sendo R$ 157 milhões

recursos dos próprios investidores e R$ 155 milhões financiados pelo Fundecam. Até 2007,

esses investimentos geraram 4.740 empregos diretos e 14.272 indiretos.

Para o ex-presidente do Fundecam, Luiz Mário Concebíadas, esse fundo é

considerado um programa de desenvolvimento, e não uma simples linha de crédito, tendo

apoiado projetos em indústrias frigoríficas, pescados, laticínios, lavoura de cana-de-açúcar,

biotecnologia, medicamentos e de transformação, como o Complexo Schulz. Afirma ainda

que, devido à grande estrutura de comércio e serviços do município, o Fundo não atua nessa

área.

Podemos afirmar que a economia campista apresenta uma tendência de

diversificação de sua base produtiva por dois motivos. O primeiro pela atração de

investimentos financiados pelo Fundecam, que constitui instrumento de diversificação da

economia podendo ter um efeito importante de encadeamento econômico. Além disso, os

investimentos do grupo EBX na construção do Complexo do Açu (porto, termelétrica e

siderurgia) transbordarão seus efeitos para Campos, pois os municípios de São João da Barra

(sede do empreendimento) e São Francisco de Itabapoana não conseguirão suportar a

demanda por fornecimentos contínuos e em quantidades crescentes desse empreendimento.

Especificamente sobre o transbordamento da dinâmica econômica petrolífera,

apontamos os investimentos da alemã Schulz. Esses empreendimentos possuem um reflexo

mais simbólico do que de dinamismo econômico na economia campista, isso porque são

126 Os ramos contemplados com financiamento do Fundecam e o número de empresas atendidas foram: Confecção (6), Agroindústria (3), Petróleo & Gás (3), Piscicultura/Agricultura (4), Biotecnologia (4), Saúde/Medicina (5), Alimentos (9), Metalurgia (5), Embalagens (3), Serviços (4), Indústrias de Transformação (7), Cosméticos (1) e Produtos para Construção Civil (4) (PASSOS & SILVA NETO, 2008: 134).

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170

considerados os primeiros empreendimentos de grande porte realizados na AIZPP-BC, mas

fora do território de Macaé.

4.4.5. Mudanças espaçodemográficas

Antes do grande boom da indústria petrolífera no Norte Fluminense, a vizinha

região das Baixadas Litorâneas já apresentava um crescimento demográfico superior ao do

ERJ. Segundo Penalva Santos referido por Dias & Silva Neto (2008), grande parte desse

crescimento foi provocado pela saturação da RMRJ, que incentivou um movimento de

aposentados e trabalhadores da classe média em busca de tranquilidade e melhor qualidade de

vida. Porém, a aceleração da crescente oferta de empregos com salários mais elevados que a

média estadual em Macaé foi forte fator de atração migratória proveniente de diversas regiões

do ERJ e do Brasil.

TABELA 26

POPULAÇÃO E CRESCIMENTO GEOMÉTRICO

MACAÉ, REGIÃO NORTE FLUMINENSE E ERJ (1970-2007)

ANO MACAÉ % NORTE FLUMINENSE % ERJ % 1970 47.221 - 471.038 - 8.994.802 - 1980 59.397 25,79 514.644 9,26 11.291.520 25,53 1991 93.657 57,68 611.576 18,83 12.807.706 13,43 2000 132.468 17,26 698.783 14,26 14.391.282 12,36 2007 169.513 27,97 766.320127 9,67 15.420.450 7,15 Fonte: Cide (2009) e IBGE – Contagem Populacional (2007).

No município de Macaé, percebe-se que desde a década de 80 e apartir da

instalação da base operacional da Petrobras houve um forte crescimento demográfico em

comparação à região Norte Fluminense e ao ERJ. Grande parte desse incremento populacional

é oriundo da migração de trabalhadores da área rural de Macaé e de outras regiões do ERJ e

do Brasil.

A Tabela 26 evidencia que o período de maior crescimento demográfico de Macaé

ocorreu na década seguinte à instalação da Petrobras, com um incremento de mais de 50% em

apenas 10 anos. Para o decênio de 1991/2000, Macaé (17,26%) manteve um ritmo de

crescimento maior do que o da região Norte Fluminense (14,26%) e o do ERJ (12,36%),

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171

porém percebe-se que a indústria de petróleo e gás natural inicia o processo de

transbordamento populacional para municípios do entorno de Macaé. A Contagem

Populacional realizada em 2007 pelo IBGE nos municípios com menos de 170 mil habitantes

corroborou essa tendência de aumento da população de Macaé e da região Norte Fluminense

em relação ao ERJ, pois a população deste último cresceu 7,15% no período 2000-2007,

enquanto a população da região citada aumentou em 9,67% e a de Macaé continuou a

apresentar forte incremento, com 27,97%.

Podemos concluir que, após a instalação da Petrobras em Macaé (1979), a

população macaense sofreu um espetacular incremento de 185,39% no período de 1980/2007,

enquanto a região Norte Fluminense e o ERJ somente cresceram 48,90% e 36,57%

respectivamente.

TABELA 27

POPULAÇÃO E CRESCIMENTO GEOMÉTRICO

RIO DAS OSTRAS, QUISSAMÃ E CASIMIRO DE ABREU (1970-2007)

ANO RIO DAS OSTRAS % QUISSAMÃ % CASIMIRO DE ABREU

%

1970 6.667 - 9.933 - 10.132 - 1980 10.235 53,51 9.620 - 3,15 11.936 17,801991 18.195 77,77 10.467 8,80 15.650 31,122000 36.419 100,16 13.674 30,64 22.152 41,552007 74.570 104,76 17.376 27,07 27.086 22,27Fonte: Cide (2009) e IBGE – Contagem Populacional (2007).

A instalação de uma estrutura produtiva de grande porte para a exploração e

produção de petróleo na plataforma marítima da Bacia de Campos provocou ao longo dos

seus 30 anos de produção uma forte atração migratória para Macaé e para alguns municípios

vizinhos. Nesse aspecto, o citado transbordamento da dinâmica econômica petrolífera para

além das fronteiras macaenses acontece de forma diferenciada nos municípios mais próximos,

como Rio das Ostras, Quissamã e Casimiro de Abreu.

Conforme Tabela 27, o caso de Rio das Ostras é emblemático, pois esse balneário

turístico experimentou um crescimento populacional de 1.018% nos últimos 30 anos, ou seja,

bem maior do que os 185% do município base das instalações petrolíferas. No período

indicado, a sua população residente deu saltos de crescimento: 1980/1070 – 53,51%;

1991/1980 – 77,77%; 2000/1991 – 100,16% e 2007/2000 – 104,76%. Outros municípios, 127 A Contagem Populacional realizada pelo IBGE ocorreu em municípios de até 170 mil habitantes, assim, os

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172

como Casimiro de Abreu e Quissamã, viveram histórias parecidas, porém não tão dramáticas.

Para o período 2007/1991, esses municípios cresceram 73% e 66% respectivamente. Mesmo o

município de Carapebus, fronteiriço de Macaé, que é um dos municípios que ainda não se

adaptaram ao contexto petrolífero da região, viu nesse período sua população crescer em

47,51%.

A tendência para os próximos anos é a de que o incremento populacional continue

devido aos investimentos esperados para o aumento da produção de petróleo e gás natural na

Bacia de Campos, a outros investimentos regionais (Estaleiro STX em Quissamã) e à

consolidação da política de atração de investimentos de alguns desses municípios. Por outro

lado, espera-se que haja uma perda de fôlego no processo migratório devido aos

investimentos que estão ocorrendo e/ou ocorrerão no eixo de investimentos analisado neste

trabalho (Bacia de Santos, Comperj, Porto do Açu, etc.).

Devido ao forte crescimento populacional verificado em Rio das Ostras,

vislumbra-se um processo de urbanização acelerado que poderá produzir uma conurbação

entre os municípios de Cabo Frio e Macaé, perpassando os municípios de Casimiro de Abreu

(principalmente o distrito de Barra de São João) e Rio das Ostras ao longo da estrada RJ-124

(Rodovia Amaral Peixoto), que segue o litoral.

Sabe-se, ainda, que o desenvolvimento do Modo de Produção Capitalista produz

riqueza e suas correlatas mazelas. Nesse sentido, as mudanças na organização dos espaços

sociais e territoriais, quando ocorrem através da polarização do crescimento demográfico

pelas novas regiões industriais, literalmente drenam mais trabalhadores do que os necessários

ao processo de valorização do capital daquela indústria nessa região. No caso da indústria

petrolífera, quase sempre esse descompasso gera “hordas” de trabalhadores de baixa

qualificação excluídos das benesses diretas dessa indústria. Monié (2003: 259) chama essas

territorialidades de enclaves de modernidade conectados à sociedade local pela exploração

de uma mão de obra numerosa e barata, que atua, por exemplo, nos serviços domésticos.

Apesar da grande quantidade de recursos oriundos dos royalties e das

participações especiais nos municípios da AIZPP-BC, particularmente os pertencentes à Zona

de Produção Principal, o poder público de alguns municípios, que possuem uma política mais

eficaz de utilização dos recursos, não conseguem acompanhar a demanda por equipamentos

públicos urbanos para prover as condições necessárias de bem-estar para a população local.

dados referentes ao município de Campos dos Goytacazes são uma estimativa populacional.

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173

4.4.6. A reorganização da malha municipal

A Constituição de 1988 sabidamente seguiu princípios da descentralização

adminstrativa favorecendo os processos de municipalização de diversas áreas. Desde então,

vários municípios foram criados no território brasileiro.

As Figuras 11 e 12 mostram as regiões Norte Flumiense e das Baixadas

Litorâneas antes e depois da Constituição de 1988.

FIGURA 11

REGIÕES NORTE FLUMINENSE E BAIXADAS LITORÂNEAS – ANTES DE 1988

Fonte: elaboração própria.

A partir da facilidade criada pela Constituição de 1988 para criação de

municípios, as burguesias locais da AIZPP-BC incentivaram os processos de emancipação de

diversos municípios. Assim, Quissamã emancipou-se de Macaé em 1989 e São Francisco de

Itabapoana de Campos em 1985. Porém, com a perspectiva de promulgação da Lei do

Petróleo e o consequente afluxo de receitas provenientes dos royalties e dasparticipações

especiais, os processos de emancipação multiplicaram-se e diversos outros municípios foram

criados: Rio das Ostras (1992), Armação dos Búzios (1995) e Carapebus (1995).

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174

Nesse sentido, há um nítido processo de fragmentação da malha municipal pelas

burguesias locais e pelas articulações políticas regionais com objetivo de apropriarem as

rendas petrolíferas que aportam abundantes aos cofres municipais com a atual Lei do

Petróleo. Ainda assim, percebe-se uma dificuldade desses poderes públicos locais de

formularem políticas públicas condizentes com a quantidade de recursos provenientes dos

royalties e das participações especiais.

FIGURA 12

REGIÕES NORTE FLUMINENSE E BAIXADAS LITORÂNEAS – 2008

Fonte: elaboração própria.

Em alguns municípios já havia movimentações pela emancipação político-

administrativa antes da questão dos royalties e das participações especiais, mas elas tomaram

mais força e organização com a possibilidade de recursos mais abundantes dirigindo-se aos

novos municípios. Ainda hoje, distritos como Barra de São João, pertencente ao município de

Casimiro de Abreu, tentam intensificar novamente esse processo de mobilização.

Raffestin (1993) aponta que as mudanças de “tessituras” territorias – como a

emancipação de alguns municípios – possibilitam mudanças de poder entre as burguesias

locais e regionais, desorganizando uma territorialidade própria de cada lugar, no caso da

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175

AIZPP-BC, configurada antes das descobertas dos campos petrolíferos. Além disso, pode-se

inferir que, no caso do território marinho dessa bacia sedimentar (BC)128, a divisão

administrativa dos municípios e principalmente dos estados – Rio de Janeiro e do Espírito

Santo – traz algumas dificuldades ao desenvolvimento pleno das forças produtivas, por

exemplo, no que tange à cobrança dos tributos sobre circulação de mercadorias e serviços.

4.4.7. Os falsos indicadores dos “eldorados”

A intensa atividade de serviços industriais ligados à exploração e produção de

óleo e gás natural em Macaé e a afluência de royalties e das participações especiais nos

municípios da AIZPP-BC provocaram uma súbita melhora nos indicadores socioeconômicos

desses territórios.

Segundo dados oficiais do IBGE, dos 10 maiores PIBs per capita municipais do

país, quatro encontram-se na zona petrolífera fluminense: Quissamã, Carapebus, Rio das

Ostras e Macaé. Os exemplos dos pequenos municípios de Quissamã e Carapebus são

ilustrativos do potencial de transformação oriundo da indústria petrolífera. Quando exclui-se a

renda dos royalties e das participações especiais da produção de petróleo e gás natural, o PIB

per capita municipal do maior recebedor per capita de royalties e participações especiais do

país, Quissamã, seria R$ 8.686 em 2004, diante dos R$ 231.213 contabilizados nesse ano. Da

mesma forma, Carapebus teria um PIB per capita municipal 34 vezes menor do que o atual,

ou seja, R$ 4.947 em relação aos R$ 167.391 no mesmo ano. Atualmente, Quissamã e

Carapebus possuem o terceiro e quinto maiores PIBs per capita do país respectivamente.

Apontamos, aqui, uma querela contábil em concordância com Rodrigo Serra,

professor da Universidade Candido Mendes (Ucam), em Campos129. O valor proveniente da

produção de petróleo nas plataformas marítimas “incham” contabilmente os PIBs municipais

da AIZPP-BC. Pela dificuldade do IBGE em alocar os valores provenientes da riqueza gerada

com a extração de petróleo e gás natural offshore na BC, decidiu-se alocá-los no cálculo dos

PIBs municipais referentes aos municípios confrontantes com os campos produtores.

Entretanto, esses valores não apresentam total correspondência com a dinâmica econômica

dos municípios, ou seja, apresentam um PIB municipal elevadíssimo que não corresponde à

geração de renda, emprego e bem-estar para as populações locais – situação semelhante

ocorrida em alguns países produtores de petróleo do Oriente Médio. Somente uma pequena e

128 Lembramos que essa bacia sedimentar estende-se de Arraial do Cabo até o sul do Espírito Santo. 129 Apresentado no Exame de Qualificação deste trabalho em setembro de 2007, no IPPUR/UFRJ..

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176

significativa parcela do valor da produção petrolífera influencia o mundo real da economia,

exatamente a parcela dos royalties e das participações especiais que cabem às

municipalidades, ou seja, somente uma parte dos 10% do total produzido referente aos

royalties que compõem os orçamentos municipais.

Essa questão deve ser tratada de forma homogênea em relação a todos os

municípios da AIZPP-BC que compõem a Zona de Produção Principal definida pela ANP.

Porém, em Macaé, a relação do PIB com a dinâmica econômica local está mais próxima do

real do que em qualquer outro município da AIZPP-BC, exatamente porque abriga a maior

parte das empresas fornecedoras da Petrobras e das outras empresas ligadas diretamente à

exploração e produção de petróleo e gás natural, que geram emprego e renda.

Desse modo, o citado processo de transbordamento dos investimentos, dos

impactos e das consequências da indústria de petróleo e gás natural para outros municípios da

AIZPP-BC, isto é, para além da fronteira de Macaé, possibilita que a diferença em relação ao

dinamismo econômico diminua, pois há uma crescente geração de renda e trabalho

proveniente do subfornecimento pelas empresas às camadas inferiores da cadeia produtiva da

indústria de petróleo e gás, e a própria renda gerada pela massa salarial dos migrantes dos

municípios vizinhos, que dirigem-se diariamente ao trabalho nas empresas em Macaé ao

retornarem para os municípios de origem, contribuindo para a dinamização das economias

locais através de seus gastos pessoais.

4.4.8. Ricos e pobres

Cruz (2007: 45) aponta que o grande aumento da produção de petróleo e gás

natural, a duplicação do percentual dos royalties a partir de 1998 e o acréscimo das

participações especiais em alguns orçamentos municipais – particularmente nos nove

municípios considerados produtores de petróleo, ou seja, integrantes da zona principal de

produção (ANP) – possibilitam a esses uma enorme capacidade própria de investimento e de

atração de novos empreendimentos privados. Assim, há a emergência de

um enclave territorial dinâmico, composto pelos municípios que usufruem de milionárias rendas [petrolíferas] orçamentárias e de volumoso investimentos em capital fixo, cercado por um conjunto de municípios pobres, sem recursos.

A principal consequência dessa diferenciação entre os municípios é uma dupla

penalização dos considerados “pobres”:

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177

a) pela decadência das atividades econômicas históricas, ligadas às culturas da cana e do

café, sem que tenha ocorrido sua substituição por qualquer outra atividade econômica

capaz de atender à demanda por emprego; e

b) pela capacidade de polarização dos municípios ricos, que torna desinteressante os

investimentos fora deles (CRUZ, 2007: 45).

Assim, devido às rendas petrolíferas, alguns municípios da região da Bacia de

Campos possuem grande capacidade de realização e atração de investimentos através de

instrumentos, como fundos próprios de fomento e financiamento (Fundecam, no caso de

Campos dos Goytacazes, e Quissamã Empreendedor, de Quissamã), e oferta de terrenos com

infraestrutura e isenção e/ou redução de alíquotas de impostos (Zonas Especiais de Negócios,

no caso de Rio das Ostras). Por outro lado, os municípios considerados “pobres” por esse

critério não possuem as mesmas condições e, consequentemente, não conseguem entrar no

jogo de oferecer ao capital condições propícias para sua valorização, como fazem os

municípios “ricos”.

As diferenças econômicas e sociais entre municípios de uma mesma região –

como a AIZPP-BC adotada nesse trabalho – têm a capacidade de potencializar alguns dos

impactos gerados pela instalação de grandes e novos empreendimentos nos municípios “ricos”

da região, como: migração permanente e/ou diária de trabalhadores dos municípios “pobres”

para os “ricos”, impactos sobre a distribuição da renda regional, transformação da estrutura

fundiária, esgotamento da infraestrutura urbana dos municípios “ricos” e sobre o meio

ambiente de uma forma geral.

4.4.9. A dependência financeira dos municípios “petrorrentistas”

Os municípios considerados petrolíferos da AIZPP-BC detêm extraordinários

volumes de recursos oriundos dos royalties e das participações especiais pela produção de

petróleo e gás natural no mar confrontante com seus respectivos territórios. Além disso,

possibilitam maiores investimentos em infraestrutura nos municípios contemplados, bem

como fornecem os recursos necessários para suprir melhor a crescente demanda por serviços e

equipamentos públicos.

Entretanto, mesmo havendo uma grande quantidade de campos (19) e blocos (36)

para entrarem em fase de produção na BC, e ainda contando com outras descobertas que serão

anunciadas devido ao potencial ainda em desenvolvimento dessa bacia e pelo

desenvolvimento tecnológico para o aumento do fator de recuperação dos campos que já

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178

alcançaram o pico de produção, é salutar que a região deva constantemente se preparar para a

finitude das jazidas minerais de hidrocarbonetos. Não obstante, isso não significa que não

deva aproveitar melhor as oportunidades criadas pela própria cadeia produtiva de petróleo e

gás natural, mas deve-se, seriamente, pensar em alternativas para um futuro, mesmo que ainda

distante.

Sendo assim, a atual dependência financeira dos orçamentos públicos municipais

dessa região em relação aos royalties e às participações especiais torna-se cada vez mais

preocupante, pois além da ameaça constante da finitude, há a ameaça constante de frações

políticas de outras unidades da Federação para mudança do arcabouço legal que garanta às

municipalidades consideradas produtoras esses recursos, visto que, apesar da retórica de

direito “natural” por essas compensações – muito difundida pelas burguesias locais e

regionais –, há um verdadeiro “determinismo geográfico” na definição da divisão desses

recursos. Determinismo que não leva em conta os impactos relevantes da cadeia petrolífera

nos diferentes territórios da AIZPP-BC, pois os municípios de Campso dos Goytacazes,

Carapebus, Casimiro de Abreu, Cabo Frio e Armação dos Búzios se beneficiam da extração

sem sofrerem grandes consequências da extração de petróleo e gás natural. Por outro lado,

Macaé e Rio das Ostras sofrem consequências consideráveis pela demanda de bens e serviços

públicos e pela especulação de alguns mercados, por exemplo, o imobiliário, originados do

extraordinário crescimento populacional dos últimos 20 anos. É coincidência que esses

municípios sejam o 2º e 3º beneficiários dos royalties, pois o impacto é maior em Macaé

seguido de Rio das Ostras, enquanto Campos dos Goytacazes é o maior beneficiário.

Um caso emblemático dessa dependência foi a queda expressiva na arrecadação

de São João da Barra em 2002 devido ao acidente com a plataforma P-36, até então a maior

plataforma petrolífera do mundo, que trouxe alguns transtornos ao poder público para

“enxugar” a máquina administrativa municipal. Como citado acima, outro exemplo é a intensa

queda atual do preço do barril do petróleo, que alcançou US$ 140 e chegou ao menor preço

histórico de US$ 37 em 2008, provocando uma redução de aproximadamente 1/3 na

arrecadação com royalties e participações especiais, afetando diretamente as ações do poder

público nos municípios da Zona de Produção Principal (ANP). A preocupação com a

diminuição do volume desses recursos é tão pertinente na região que a prefeitura de Macaé

reduziu de 41 para 17 as suas secretarias municipais, apesar de ter havido reeleição em 2009.

Apesar de haver uma verdadeira acomodação do poder público dos municípios

contemplados para garantir receita própria crescente, sabe-se que o município de Macaé está

conseguindo diminuir a dependência em relação às rendas petrolíferas com políticas fiscais e

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179

intensificação da fiscalização de forma eficiente, tais como: elaboração e revisão do Código

Tributário, implantação do sistema de gestão unificada dos tributos municipais, sistema de

controle de arrecadação bancária, recadastramento imobiliário, assinaturas de convênios com

Petrobras, Receita Federal, Crea, Tribunal de Justiça, Jucerja, etc., implementação da nota

fiscal eletrônica, acompanhamento das Declans – IPM130, etc.

Essas ações cumpriram o objetivo de diminuir a dependência de Macaé das rendas

petrolíferas, pois propiciaram o aumento da arrecadação municipal através dos tributos

próprios de 2003 em comparação com 2007: ISS – +180,65%; IPTU – +183,13%; ITBI –

+145,24; e ICMS – +55,52%. A evolução na arredação total com recursos próprios saltou de

R$ 198.220.205,02 em 2003 para R$ 477.737.261,23 em 2008, ou seja, um incremento de

141% em relação a 2003, conforme tabela abaixo.

TABELA 28

EVOLUÇÃO DA ARRECADAÇÃO – MACAÉ (2003-2008)

ANO RECURSOS PRÓPRIOS

% ROYALTIES + PE

% TOTAL

2003 198.220.205,02 43,23 260.277.705,31 56,97 458.497.910,33 2004 225.347.214,99 43,79 289.284.274,00 56,21 514.631.488,99 2005 257.101.995,45 41,41 349.125.375,92 57,59 606.227.371,37 2006 306.634.620,87 42,58 413.421.114,27 57,42 720.055.735,14 2007 445.917.698,00 56,07 349.398.830,23 43,93 795.316.528,23 2008 477.737.261,23 54,00 406.961.370,68 46,00 884.698.631,91

Fonte: elaboração própria a partir de TAVARES (2008).

Essa estratégia de diminuição da dependência das rendas petrolíferas provocou

uma inversão da participação da arrecadação com recursos próprios (43,23%) em relação à

arrecadação com royalties e participações especiais (56,97%) em 2003 diante do resultado de

54% de participação dos recursos próprios e 46% das rendas petrolíferas em 2007, que

alcançaram somados o impressionante orçamento municipal de aproximadamente R$ 900

milhões para 2008.

O grande número de campos petrolíferos em operação (36) somado ao de campos

em desenvolvimento (19), às gigantescas áreas da BC que ainda precisam ser licitadas nas

rodadas da ANP, aos programas de aumento do fator de recuperação dos campos que já

alcançaram o pico de produção, às perspectivas para a produção no Pré-sal na própria bacia

sedimentar (BC) e a toda infraestrutura já existente são fatores mais do que dignos de 130 Declaração referente aos empreendimentos privados realizada pelos escritórios contábeis que subsidiam o

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180

acreditarmos que a AIZPP-BC, particularmente Macaé, continuarão a ser por muito tempo o

centro da indústria petrolífera no país com suas atividades se estendendo pelo menos até a

segunda metade deste século.

Entretanto, o grande desafio da AIZPP-BC é promover seu distanciamento da

chamada Maldição Mineral ou dos Recursos Naturais. Fenômeno não raro que ocorre em

países com grandes jazidas e produção petrolíferas que se tornam preguiçosos com a

enxurrada de recursos financeiros advindos da exploração dos recursos naturais em grande

quantidade. Além disso, não alocam de forma eficiente esses recursos e terminam em situação

econômica pior do que a de antes da possibilidade de usufruirem desses recursos.

cálculo de repasse de ICMS dos estados para os municípios.

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181

CAPÍTULO 5

AS PERSPECTIVAS PARA O EIXO DE INVESTIMENTOS

Nas duas últimas décadas do século passado (1982-2001), a economia brasileira

viveu um longo processo de desaceleração do crescimento. Este foi parte integrante de um

movimento mais amplo de freada da economia mundial, com os EUA e a China sendo as

exceções mais relevantes. Essa redução do ritmo de crescimento da economia mundial deveu-

se às mudanças nas relações entre a economia norte-americana e a internacional devido ao

surgimento de deficits crescentes nas transações correntes dos EUA, que provocaram grande

instabilidade nas taxas de juros, nas taxas de câmbio e nos fluxos de capital ao redor do

mundo.

Nesse período, a economia brasileira experimentou a primeira recessão em

aproximadamente quatro décadas. Um dos principais motivos para o baixo crescimento de

2,4% ao ano da economia brasileira para o período de 1982 a 2001, em relação aos 6,6% ao

ano entre 1951 e 1981, deveu-se ao baixo grau de investimento em formação bruta de capital

fixo (FBKF), que passou de 24,3% do PIB em 1981 para 17,6% em 2003.

Porém, desde 2000, a economia brasileira vem apresentando taxas de crescimento

superiores à média da economia mundial. Particularmente, a indústria brasileira teve um

crescimento médio maior do que o desempenho da indústria mundial, de 3,1% e 2,3% a.a.,

respectivamente, entre 2000 e 2005. Para esse período, a indústria brasileira cresceu 17%

diante do crescimento de 12% da produção industrial mundial.

Na economia mundial, esse período foi marcado pelo forte crescimento industrial

da Ásia – exceto o Japão, que patina desde os anos 90 – de 10,3% e com excepcional destaque

para o aumento da produção industrial chinesa de 14,2% a.a., seguido por 6% na Índia e na

Coreia do Sul. O avanço asiático foi seguido pelos países do Leste Europeu que pertencem à

União Europeia, com crescimento de 5,9%, puxados pelos investimentos externos diretos

(IEDs) através do efeito do deslocamento de bases indústrias em busca de menores custos de

produção, com destaque individual para Rússia (5,5%), Polônia (5,4%) e República Tcheca

(6,0%). Chama atenção nessa análise uma quase estagnação dos países desenvolvidos –

Austrália (1,4% a.a.), Canadá (1,1% a.a.), EUA (0,87% a.a.), Japão (0,36% a.a.) e União

Europeia (0,37% a.a.) –, com crescimento de 0,6% a.a. (Puga, 2006).

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182

Puga (2006) conclui que o

crescimento da indústria brasileira ficou bem acima da performance de países desenvolvidos, mas também da média da América Latina [2% a.a. sem o Brasil]. Cabe o contraste com a estagnação da indústria mexicana [0,32% a.a.] no período. No entanto, o desempenho da produção industrial brasileira ficou bastante aquém do registrado na Ásia, principalmente na China, e no Leste Europeu; e, no âmbito da América Latina, um pouco abaixo da performance do Chile [4% a.a.] (PUGA, 2006: 7).

Para Torres Filho et al. (2009), esse ciclo de ampliação dos investimentos ocorreu

em dois momentos:

1) o primeiro nas indústrias extrativas e produtoras de insumos básicos que foram

estimuladas pela crescente demanda mundial por commodities e pelas reconhecidas

vantagens competitivas do Brasil nesses setores; e

2) o segundo foi constituído pelos crescentes investimentos em infraestrutura, principalmente

na construção residencial, e na indústria de bens de consumo duráveis – favorecidos pela

diminuição das taxas de juros, pela elevação da renda, pela maior oferta de crédito e pelas

facilidades regulatórias sobre garantias.

Assim, a generalização desse ciclo de investimentos proveu maior solidez ao

processo analisado através do aumento da competitividade sistêmica da economia com

investimentos em infraestrutura e da capacidade de alavancagem de investimentos privados

em outros segmentos (conhecido como efeito de arraste). A resultante desse processo foi um

incremento no dinamismo interno da economia brasileira, que passou a ser relevante para a

tomada de decisão dos investidores externos.

A atual crise financeira internacional, iniciada em agosto de 2008 no segmento de

hipotecas residenciais norte-americano, agravou-se ferozmente a partir de meados de 2009

com a falência do maior banco de investimentos dos EUA, o Lehman Brothers, sendo o

considerado o seu propulsor, pois provocou

uma profunda deterioriação nas expectativas dos investidores em escala global, chegando mesmo, em certo sentido, a instaurar momentos de pânico generalizado nos mercados. Bancos e empresas, mesmo aqueles que possuíam, até então, condições saudáveis do ponto de vista financeiro, passaram a ter dificuldades na obtenção de novos recursos e linhas de crédito de curto prazo. Cresceram, também, as preocupações e desconfianças com relação à solvência do sistema bancário norte-americano e seus impactos recessivos sobre o lado real da economia (BORÇA JÚNIOR, 2008: 1-2).

É notório que a intensidade dessa crise comprometeu as decisões de investimento

e, consequentemente, o ciclo virtuoso da economia brasileira. Principalmente porque a forte

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183

queda dos preços internacionais das commodities impactou alguns setores que lideravam o

crescimento do investimento na indústria, tais como: extração de petróleo, minério de ferro,

siderurgia e papel e celulose.

Os efeitos dessa crise sobre as decisões de investimentos serão analisados neste

trabalho a partir de levantamentos que o BNDES realiza desde 2006 com o objetivo de

responder de forma mais eficiente à demanda por financiamentos para grandes investimentos.

As pesquisas realizadas nos anos 2006 e 2007 apontaram um novo patamar de investimentos

para a economia brasileira, publicado em Torres Filho & Puga (2007)131. O agravamento da

crise econômica exigiu uma revisão dessas perspectivas com base em dados de

dezembro/2008 a fim de estimar os impactos dessa crise sobre os investimentos para o

período 2009/2012 (Torres Filho et al., 2009).

5.1 A PERSPECTIVA DE INVESTIMENTOS NO BRASIL ANTES DA CRISE

INTERNACIONAL

A partir dos levantamentos realizados, havia uma clara percepção de que alguns

setores da indústria brasileira estavam próximos de realizar um salto quantitativo e qualitativo

no nível de investimentos programados para o período 2007/2010 – ao contrário de períodos

anteriores, em que o investimento estava voltado praticamente para modernização com vistas

à obtenção de ganhos de produtividade nas plantas já instaladas. Nesse momento, a

perspectiva era a promoção do aumento da taxa de FBKF para o conjunto da economia

brasileira. Portanto, como o nível de investimentos e o crescimento econômico são duas

variáveis com forte correlação, esperava-se que o primeiro impulsionasse o segundo de forma

vertiginosa.

Esperava-se que a taxa de crescimento do investimento deveria ser maior na

indústria, alcançando aproximadamente 10,4% a.a., devido principalmente ao incremento nos

setores de petróleo e gás, extrativo mineral, siderurgia, papel e celulose, e petroquímico.

Geralmente, como as empresas desses segmentos atuam e se capitalizam no mercado

internacional na busca de taxas de juros mais favoráveis, surge uma característica peculiar de

seus investimentos no que tange à autonomia diante dos fatores macroeconômicos 131 Os setores analisados nessa pesquisa foram: - Indústria – petróleo e gás, sucroalcooleiro, extrativa mineral, siderurgia, petroquímica, fármacos, papel e

celulose, eletroeletrônico e automotivo; - Infraestrutura – energia elétrica, comunicações, portos, ferrovias e saneamento; e - Construção Civil – construção residencial; e

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184

domésticos, ou seja, a pouca relevância das taxas de juros internas, de câmbio e de

crescimento para implantação dos projetos mais importantes. No caso dos segmentos de

petróleo e extração mineral, os investimentos eram provenientes da crescente demanda interna

e da possibilidade de aproveitamento da onda crescente dos preços internacionais das

commodities nos últimos anos. Assim, até o agravamento da atual crise, o objetivo era

aumentar a produção na tentativa de maximizar as receitas aproveitando a alta dos preços.

Além disso, particularmente, as empresas desses dois setores são qualificadas como

investment grade (baixo risco para investimento) e, por isso, possuem acesso ao mercado

financeiro internacional e relativa autonomia diante das condicionantes da conjuntura

macroeconômica doméstica, como renda, juros e câmbio.

Conforme a Tabela 29, o BNDES apontava mais de R$ 1 trilhão de investimentos

previstos para o quadriênio 2007-2010. Somente o setor industrial seria responsável por

36,2% dos investimentos, a infraestrutura por 18,8% e a habitação, principalmente através da

construção de moradias, por 44,7%.

TABELA 29

INVESTIMENTOS PREVISTOS NO BRASIL (2007-2010)

SETORES VALORES (R$ BILHÕES) PARTICIPAÇÃO (%) INDÚSTRIA 380,2 36,2

INFRAESTRUTURA 197,9 18,8 CONSTRUÇÃO RESIDENCIAL 470,0 44,7

TOTAL 1.050,6 100,0 Fonte: TORRES FILHO & PUGA (2007).

Conforme a Tabela 30, a previsão de investimento para o período 2007-2010 foi

quase o dobro do investido entre 2002 e 2005, com crescimento médio no setor industrial de

14% e 13% a.a. em relação ao segundo período indicado (2002-2005). Nessa previsão, o setor

de P&G seria responsável pelo maior volume de investimentos da indústria com R$ 183,6

bilhões, através de uma previsão de crescimento de 13,1% ao ano. O setor extrativo mineral

seguiria em terceiro lugar com R$ 52,7 bilhões de investimentos e previsão de crescimento de

12,1% ao ano, seguido pela siderurgia, que suplantou o automotivo da terceira posição com

R$ 37,1 bilhões e previsão de crescimento de 20,8% ao ano, ou seja, a maior previsão de

avanço anual entre os setores analisados. Apesar de cair para a quarta colocação, o setor

automotivo previa investir aproximadamente R$ 28,5 bilhões com avanço anual de 6,4%.

- Seviços – software.

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185

TABELA 30

INVESTIMENTOS PREVISTOS NA INDÚSTRIA BRASILEIRA (R$ BILHÕES)

SETOR REALIZADO2002-2005

PREVISTO 2007-2010

PREVISÃO DE CRESCIMENTO (% ANO)

PETRÓLEO & GÁS 99,2 183,6 13,1 EXTRATIVO MINERAL 29,8 52,7 12,1

SIDERURGIA 14,4 37,1 20,8 PAPEL & CELULOSE 9,2 20,0 16,8

PETROQUÍMICA 8,8 17,6 14,9 AUTOMOTIVO 20,9 28,5 6,4

ELETROELETRÔNICA 8,2 15,6 13,7 FÁRMACOS 3,9 4,6 3,4

SUCROALCOOLEIRO 12,5 20,5 10,4 TOTAL 197,5 380,2 14,0

Fonte: TORRES FILHO & PUGA (2007).

Até o momento de agravamento da crise internacional, alguns fatores eram

apontados por Torres Filho & Puga (2007) como determinantes para o aumento do nível de

inversões na indústria:

- a expansão do mercado internacional para aumento dos investimentos dos segmentos

de petróleo e gás e extração mineral;

- no caso dos segmentos de siderurgia e papel e celulose, o deslocamento de bases

produtivas para os países emergentes ainda é o principal elemento apontado, visto que

são indústrias altamente produtoras de resíduos; e,

- no setor petroquímico, permanece a necessidade de encadeamento ao longo da cadeia

produtiva petrolífera para aumento de valor agregado, isto é, a produção de derivados

de petróleo a partir do óleo de baixa qualidade produzido na Bacia de Campos e

comercializado com desconto no mercado internacional. Particularmente, nesse setor,

a Petrobras manteve os investimentos para a construção do Comperj.

Os investimentos previstos nos setores mapeados elevariam o crescimento do PIB

em aproximadamente 3,2% a.a.. Somente o segmento de P&G contribuiria com uma taxa de

0,6% de crescimento do PIB, enquanto toda a indústria de transformação com 0,7%, e o

segmento de construção residencial com 1,2% (Tabela 31).

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186

TABELA 31

PREVISÃO DA TAXA DE INVESTIMENTOS NOS SETORES MAPEADOS

(% DO PIB)

SETORES 2005 2010 CRESCIMENTO INDÚSTRIA 3,0 4,4 1,4 • Petróleo & Gás 1,4 2,0 0,6 • Indústria Extrativa Mineral 0,5 0,6 0,1 • Indústria de Transformação 1,1 1,8 0,7 INFRAESTRUTURA 1,6 2,2 0,6 • Energia Elétrica 0,5 1,0 0,5 • Demais 1,1 1,2 0,1 CONSTRUÇÃO RESIDENCIAL 4,3 5,5 1,2 TOTAL 9,0 12,2 3,2 Fonte: TORRES FILHO & PUGA (2007).

Esse novo ciclo de investimentos se refletiria no próprio desempenho do BNDES

através de aprovações de solicitações de financiamento que superariam os desembolsos em

cerca de R$ 30 bilhões (para dados até julho de 2007), sendo o nível mais elevado desde

meados dos anos 80.

Na primeira década do novo século, a grande novidade em termos de crescimento

relativo e, consequentemente, de aumento da importância dos investimentos são as inversões

no segmento de P&G. Segundo Torres Filho & Puga (2007), nos anos 1970 e 1980, a

participação desse segmento no investimento total da economia foi de 4,5%. Nos anos 1990,

devido à queda dos preços do petróleo, essa chegou a apenas 2%. No novo milênio ocorre

uma verdadeira reversão desse cenário com o aumento da produção, as novas descobertas, o

maior desenvolvimento dos campos em produção e com o fim do monopólio da Petrobras,

quando o setor experimenta uma participação no investimento total de 7% entre 2003 e 2005.

Para o período 2007-2010, esperava-se uma participação no investimento total da economia

brasileira de aproximadamente 17,5%.

Com o objetivo de atualizar as expectativas, o BNDES realizou novo

levantamento publicado em novembro/2007 (Puga & Borça Júnior, 2007), portanto antes do

agravamento da crise internacional. A perspectiva de investimentos para os setores industriais

mapeados havia saltado de R$ 380,2 bilhões no período 2007-2010 para R$ 447 bilhões em

2008-2011 (Tabela 32), e estimava-se um crescimento médio real do investimento de 12,4%

ao ano. Novamente destaca-se o volume de recursos destinados aos investimentos dos setores

de P&G (45,4%) e extrativo mineral (18,2%), que respondem juntos por 63,5%, totalizando

aproximadamente R$ 284 bilhões para o período 2008-2011. As inversões no setor P&G

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187

atingiriam 2% do PIB e representariam quase 10% da FBKF do país. Somente a Petrobras em

seu planejamento estratégico de 2008-2012 previa um incremento de US$ 97,4 bilhões, dos

quais US$ 54,6 bilhões nas atividades de exploração e produção com reflexos diretos na

economia do estado do Rio de Janeiro, principalmente para Macaé e todos os municípios que

pertencem à Bacia de Campos.

TABELA 32

INVESTIMENTOS REALIZADOS E PREVISTOS DA INDÚSTRIA NO BRASIL

(R$ BILHÕES)

SETOR REALIZADO2003-2006

PREVISTO 2007-2010

PREVISTO 2008-2011**

% 2008-2011

PETRÓLEO & GÁS 126,3 183,6 202,8 45,4 EXTRATIVO MINERAL 38,0 52,7 81,3 18,2

SIDERURGIA 17,6 37,1 31,2 7,0 PAPEL & CELULOSE 10,9 20,0 27,4 6,1

PETROQUÍMICA 5,7 17,6 26,4 5,9 AUTOMOTIVO 22,3 28,5 35,0 7,8

ELETROELETRÔNICA 9,5 15,6 14,0 3,1 FÁRMACOS 3,9 4,6 5,1 1,1

SUCROALCOOLEIRO 13,3 20,5 20,5 4,6 SOFTWARE* 2,0 - 3,3 0,7

TOTAL DA INDÚSTRIA 249,4 380,2 447,0 100,0 Fonte: elaboração prória a partir de PUGA & BORÇA JÚNIOR (2007). * Desmembrado do eletroeletrônico. ** Valores de 2006.

Na Tabela 32, verifica-se a grande participação do setor de P&G no total do

investimento realizado no período 2003-2006, alcançando um pouco mais de 50% dos

investimentos dos setores mapeados pelo BNDES e evidenciando sua importância já naquele

período.

Até o levantamento citado acima em novembro/2007, as perspectivas de

investimento para a economia brasileira mapeadas pelo BNDES aumentavam o volume das

inversões. Puga & Borça Júnior (2007) destacam três elementos do levantamento no período

2008-2011 em relação ao de 2007-2010:

- a previsão da significativa aceleração dos investimentos no setor extrativo mineral com

mais de R$ 80 bilhões com participação relevante da Vale;

- a taxa média de crescimento dos investimentos previstos para o setor petroquímico de 37%

ao ano com grande destaque para a construção do Comperj; e

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- o aumento da perspectiva de investimento no setor automotivo devido à grande demanda

que emergia com a facilidade do crédito ao consumo em virtude da diminuição das taxas

de juros e do crescimento contínuo da renda dos trabalhadores.

Veremos, adiante, as perspectivas de investimento no momento posterior ao

agravamento da crise internacional, ou seja, após a quebra do banco Lehman Brothers em

setembro/2008.

5.2 A PERSPECTIVA DE INVESTIMENTOS NO BRASIL PÓS CRISE

INTERNACIONAL

Conforme exposto na Introdução deste trabalho, as contradições do processo de

desenvolvimento do capitalismo engendram crises recorrentes no seio desse modo de

produção. Nessas crises, parte das forças produtivas é destruída e logo dá lugar a outras que

aperfeiçoam as formas de extração da mais-valia e de valorização do capital. Na crise

financeira atual não é diferente. Parte considerável da riqueza fictícia evaporou-se devido ao

alto patamar de alavancagem destruindo uma parcela das forças produtivas. Mas essa crise –

como outras – constituíu-se como fonte de rejuvenescimento do sistema capitalista.

Apesar do papel rejuvenescedor das crises no Modo de Produção Capitalista, há a

certeza de que essa crise financeira afetou as decisões de investimento na economia brasileira.

Entretanto, o levantamento realizado pelo BNDES em dezembro/2008 (TORRES FILHO et

al., 2009) que englobou 16 setores132, sendo nove da indústria (P&G, extrativo mineral,

siderurgia, papel e celulose, química/petroquímica, automotivo, eletroeletrônico,

sucroalcooleiro e o complexo industrial de saúde – fármacos, equipamentos médico-

hospitares, hemoderivados, vacinas e reagentes para diagnósticos), seis da infraestrutura

(energia elétrica, telecomunicações, transportes rodoviário, ferroviário e portos, saneamento)

e o setor de construção residencial133, mostra que o impacto da crise em relação ao

crescimento nacional não foi – pelo menos ainda – desestimulante para o empresariado.

132 “A escolha dos setores deveu-se não somente à sua relevância para a formação da taxa de investimento da economia, mas também à existência de um conhecimento atualizado no Banco sobre os mesmos” (TORRES FILHO ET AL., 2009). 133 Diferentemente dos demais setores, os investimentos do setor de construção residencial foram obtidos através de estimação econométrica (TORRES FILHO et al., 2009).

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189

TABELA 33

TAXA DE CRESCIMENTO DOS INVESTIMENTOS (% A A.) – R$ BILHÕES

AGOSTO/2008

SETOR 2004-2007 2009-2012 TAXA DE CRESCIMENTO

INDÚSTRIA 281,5 551,7 14,4 INFRAESTRUTURA 185,3 338,5 12,8 CONSTRUÇÃO RESIDENCIAL 357,0 570,4 9,8 TOTAL 823,9 1.460,6 12,1 Fonte: BNDES apud TORRES FILHO et al (2009).

Segundo o BNDES (TORRES FILHO et al., 2009), em agosto/2008 a perspectiva

de investimentos dos setores mapeados aproximou-se de R$ 1,5 trilhão entre o período de

2009 e 2012 (Tabela 33), representando um valor médio de crescimento anual do

investimento de 12,1%. A Tabela 34 mostra os levantamentos das perspectivas de

investimentos realizados pelo BNDES em agosto de 2008 – portanto, antes do agravamento

da crise – e em dezembro de 2008, que ilustram uma redução pouco significativa da posição

dos investimentos de R$ 1,46 trilhão para R$ 1,3 trilhão, ou seja, uma redução aproximada de

11%. Diante da gravidade da crise internacional, essa pequena redução surpreende e, por isso,

exige maior detalhamento.

TABELA 34

INVESTIMENTOS MAPEADOS NO BRASIL (2009-2012) – R$ BILHÕES

SETORES AGOSTO/2008 DEZEMBRO/2008(FIRMES)

1. INDÚSTRIA E INFRAESTRUTURA 890,2 769,2 INVESTIMENTOS MANTIDOS 624,5 620,4 Petróleo & Gás 269,7 269,7 Energia Elétrica 141,1 141,7 Telecomunicações 77,8 77,8 Saneamento 49,4 49,4 Rodovias 27,8 26,7 Eletroeletrônica (inclui software) 27,0 24,0 Petroquímica 23,7 23,7 Indústria da Saúde 8,0 8,0 INVESTIMENTOS REDUZIDOS PELA CRISE 194,7 104,9 Extrativa Mineral 72,3 48,0 Siderurgia 60,5 24,5 Automotivo 35,3 23,5 Papel e Celulose 26,7 9,0 INVESTIMENTOS REDUZIDOS POR OUTROS FATORES

71,0 43,9

Sucroalcooleiro 28,5 19,7

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190

Ferrovias 28,9 17,0 Portos 13,6 7,2 2. CONSTRUÇÃO 570,4 535,7 INVESTIMENTOS REDUZIDOS PELA CRISE 570,4 535,7 Construção Residencial 570,4 535,7 TOTAL 1.460,6 1.305,0 Fonte: BNDES apud TEIXEIRA FILHO et al. (2009).

De acordo com o critério de maior capacidade de reação à crise internacional, o

trabalho do BNDES dividiu os setores mapeados em três grupos distintos:

1) no primeiro estão os setores em que os investimentos continuam programados apesar do

agravamento da crise internacional (P&G, eletroeletrônica, indústria da saúde, energia

elétrica, telecomunicações, saneamento e rodovias). Em agosto/2008, esse grupo

representava quase 43% do investimento previsto; já em dezembro/2008 representava

59% dos investimentos firmes. Em particular, nesse grupo, destacam-se os investimentos

previstos da Petrobras, que aumentaram consideravelmente (35%) para o quinquênio

2009-2013, como veremos adiante;

2) o segundo grupo é constituído pelos setores que tendem a ser mais afetados pela crise

internacional, pois estão mais suscetíveis às quedas dos preços e da demanda por

commodities e à diminuição do crédito no mercado interno. No primeiro levantamento,

esse grupo possuía 52,4% de participação no conjunto dos investimentos e, no segundo

levantamento, houve uma leve redução para 49%. Individualmente esse grupo apresentou

reduções díspares: extrativo mineral (-33%), siderurgia (-60%), automotivo (-33%), papel

e celulose (-66%) e construção residencial, que foi menos afetada, (-6%).

As justificativas apontadas pelo BNDES para a redução significativa da

perspectiva de investimentos desses setores são:

- indústria extrativa mineral – queda na atividade de construção civil na China aponta para

um cenário de redução da demanda por minerais metálicos. O montante de investimentos

que continua firme se deve aos projetos ligados nos contratos de concessões públicas que

representam elevado custo para as empresas que desestimulam a paralisação das obras;

- siderurgia e papel e celulose – esses setores apresentavam crescimento acima da média da

indústria e reviram suas previsões de investimento devido à forte queda dos preços do aço

e da celulose no mercado internacional, permitindo que somente 1/3 dos investimentos

previstos continuassem firmes. Isso não significa que os investimentos previstos

anteriormente foram cancelados, por enquanto estão suspensos até o desenvolvimento do

cenário atual da economia mundial;

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191

- automotivo – até os nove primeiros meses de 2008, o setor operava acima da sua

capacidade instalada com até três turnos de trabalho durante sete dias por semana. Por isso,

as empresas decidiram ampliar os investimentos em novas plantas industriais. Agora, sob o

efeito da crise econômica, há uma forte redução da demanda em todo o mundo (no Brasil

esse efeito foi atenuado com a redução da alíquota do IPI) e um adiamento da perspectiva

de investimentos no médio prazo. Mas, ainda assim, o setor prevê investimentos de R$

23,5 bilhões para o período 2009-2012, bem acima dos R$ 15 bilhões investidos no

período 2004-2007; e

- construção residencial – o elevado montante de projetos já contratados e/ou em fase inicial

de obras minimiza os impactos da crise, que tendem ao aprofundamento no segundo

semestre de 2009, quando esses projetos estiverem concluídos.

3) O último grupo é formado pelos setores com elevado grau de investimento que diminuíram

suas perspectivas por motivos não diretamente ligados à crise internacional. Esses setores

são: sucroalcooleiro, ferrovias e portos.

TABELA 35

CRESCIMENTO DOS INVESTIMENTOS (2009-2012) – R$ BILHÕES

PROJETOS FIRMES

SETORES 2004-2007 2009-2012 TAXA DE CRESCIMENTO MÉDIA AA (%)

INDÚSTRIA 281,5 450,1 9,8 INFRAESTRUTURA 185,3 319,1 11,5 CONSTRUÇÃO RESIDENCIAL 357,0 535,7 8,5 TOTAL 823,9 1.305,0 9,6 Fonte: Fonte: BNDES apud TEIXEIRA FILHO et al. (2009).

O mapeamento realizado em agosto/2008 apontou uma taxa de crescimento médio

do investimento na economia brasileira de 12,1% entre o verificado no período 2004-2007 e a

previsão para 2009-2012. Porém, o agravamento da crise internacional reduziu essa taxa para

9,6%. Por isso, o BNDES concluiu que a

análise dos setores afetados pela crise internacional mostra que a indústria sofrerá a maior reavaliação nas perspectivas de investimentos [dentre todos os setores]. Ainda assim, por conta principalmente da solidez das inversões em petróleo & gás, a indústria continua a apresentar uma significativa taxa de crescimento dos investimentos – de 9,6% aa. A rigidez dos projetos de infraestrutura implica em uma expansão anual real de 11,5%. Na construção residencial, a redução da taxa de crescimento das inversões é moderada, atingindo 8,5% aa (TEIXEIRA FILHO et al., 2009: 8) [grifo nosso].

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192

Em suma, a crise financeira internacional impactou e impactará as perspectivas de

investimentos para a economia brasileira. Entretanto, esse impacto será de intensidade inferior

da que ocorrerá em outros países, basicamente devido à continuidade do maior ciclo de

investimentos que o país experimentou nos últimos 30 anos, porém, em um ritmo menos

intenso.

Conforme a Tabela 35, o ciclo de investimentos previstos para o período 2009-

2012 será 58% maior do que os investimentos realizados no período 2004-2007, ou seja, R$

1.305,0 bilhões ante R$ 823,9 bilhões com aumento do volume de inversões nos setores

mapeados: indústria (+60%), infraestrutura (+72%) e construção residencial (+50).

Vimos que o setor de P&G, antes ou depois da crise, continua sendo relevante

para a dinâmica da economia brasileira. Adiante, veremos sua importância de forma mais

detalhada.

5.3 A IMPORTÂNCIA DOS INVESTIMENTOS NO SETOR DE PETRÓLEO E

GÁS NO BRASIL

Nos últimos 10 anos, o forte desenvolvimento do setor de E&P na Bacia de

Campos e as condições favoráveis proporcionadas pela nova Lei do Petróleo (Lei nº 9.478, de

06/08/1997) propiciaram uma aceleração das atividades petrolíferas no Brasil. Somando-se a

possibilidade de valorização do capital em uma nova fronteira quase intacta com o excelente

potencial exploratório devido às diversas bacias sedimentares e ao baixo risco político,

possibilitaram que o país atraísse as principais empresas internacionais de petróleo. Na

maioria dos casos foram instalados seus escritórios administrativos na cidade do Rio de

Janeiro e suas bases de operações em Macaé/RJ.

Segundo dados da ANP, entre 1997 e 2005, a indústria de petróleo e gás natural

no Brasil apresentou um crescimento de 318%, enquanto a economia nacional experimentou

crescimento de 23% no mesmo período. Esse crescimento ocorreu devido às novas

descobertas na Bacia de Campos possibilitadas pelo desenvolvimento tecnológico alcançado

na exploração em águas profundas e ultraprofundas, e pela tendência de sustentação dos

preços elevados do petróleo no mercado internacional – quando o preço do barril atingiu US$

147 – até o agravamento da crise internacional em meados de 2008.

Diante desse cenário favorável à indústria petrolífera, no período 2002-2005, o

setor de P&G liderou o investimento industrial com aproximadamente R$ 100 bilhões. Este

foi seguido pelos setores extrativo mineral (R$ 29,8 bilhões) e automotivo (R$ 20,9 bilhões).

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193

Para 2007-2011, o volume esperado de inversões na indústria de P&G era de US$

100 bilhões, sendo US$ 75 bilhões por parte da Petrobras e os US$ 25 bilhões restantes

seriam realizados por outras empresas operadoras. Nessa perspectiva, o E&P já responderia

por 53% dos investimentos previstos (US$ 53 bilhões) e, desse montante, US$ 12 bilhões

(22,7%) seriam oriundos dos novos operadores no Brasil134, e os outros US$ 41 bilhões

(77,3%) da própria Petrobras (IBP, 2006).

A indústria de P&G há tempo exibe sua pujança em termos de crescimento e

aumento de participação no PIB brasileiro. Segundo o BNDES (apud TEIXEIRA FILHO et

al., 2009), sua participação aumentou de 2,5% em 1997 para 9,8% em 2006. Além disso, as

perspectivas são de elevação dessa participação devido ao montante de investimentos que

continuam sendo anunciados (mesmo, como já visto, com o agravamento da crise

internacional). Segundo as companhias e instituições do setor, as ameaças para a

concretização desses investimentos encontram-se no plano da mobilização de força de

trabalho qualificada e dos recursos ligados à infraestrutura e aos aspectos técnicos e

competitivos da engenharia brasileira, isto é, pelo lado da disponibilidade dos recursos por

parte do próprio setor.

A crise internacional não arrefeceu a intenção das grandes empresas petrolíferas

em aumentarem suas participações no Brasil. Nos próximos cinco anos (2009-2013), a

previsão de investimentos dessas empresas no Brasil alcançará US$ 193 bilhões ou

aproximadamente R$ 440 bilhões, correspondentes a 15% do PIB brasileiro de 2008 (R$ 2,9

trilhões). Desse total, caberão às companhias privadas realizarem investimentos de US$ 34

bilhões (16,5%), sendo parte deles em parceria com a Petrobras135 (IBP, 2009). Esta pretende

investir no país US$ 161 bilhões (83,5%) projetados no seu Plano de Negócios 2009-2013. A

média anual de investimentos será de US$ 39 bilhões, isto é, 52% maior do que a média

prevista para 2008-2012, com 60% desses investimentos sendo realizados nas atividades de

E&P, em particular na Bacia de Campos, para aumento da produção com vistas a alcançar a

meta de produção de 2,7 milhões de barris diários, trazendo impactos relevantes para Macaé e

a região do seu entorno. 134 Investimentos previstos pelas novas operadoras em exploração são estimados com base nos programas exploratórios mínimos; cinco projetos de desenvolvimento da produção operados por empresas privadas em andamento e investimentos em parceria, em projetos operados pela Petrobras (IBP, 2006). 135 “A Petrobras ganhou grande destaque na Fortune – espécie de bíblia dos setores empresariais e financeiros: foi a única empresa brasileira e sul-americana incluída na carteira de ações ‘Fortune 40’, criada pela publicação, que, em seu ranking anual das 500 maiores empresas do mundo elevou a Petrobras em 19 posições [...] A Carteira da Fortune elege as 40 companhias cujas ações têm hoje o maior potencial de valorização no longo prazo: a Petrobras foi incluída entre as oito empresas não americanas no seleto grupo de 40, junto com

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194

Com isso, o segmento de P&G responderá por mais de 43% dos investimentos

mapeados e aproximadamente 21% do total da economia brasileira. Algumas características

desses investimentos dão solidez às suas perspectivas, pois possuem relativa independência

em relação à taxa de câmbio e às conjunturas econômicas e políticas. No próprio Programa de

Aceleração do Crescimento (PAC), lançado em janeiro de 2007 pelo Governo Federal,

verificou-se a importância do setor de P&G com a responsabilidade de implementar 36% (R$

179 bilhões) dos investimentos de todo o programa (R$ 503,9 bilhões).

Além da elevada participação do setor no dinamismo da economia brasileira, a

maior mudança apresentada pela pauta de exportações brasileiras foi proveniente dele. Sua

participação saltou de 2,3% em 1996 para 6,7% em 2002, alcançando 10,6% em 2006, o que

evidencia a importância do setor para a balança de pagamento. A expectativa é de que o Brasil

se torne exportador líquido de petróleo nos próximos 20 anos. Espera-se um crescimento no

consumo e um provável arrefecimento da produção136 que promoverá um equilíbrio entre

produção e consumo internos. Por conseguinte, entre 2001-2006, a taxa de crescimento média

do consumo de petróleo – barris/dia – foi de 0,3% no Brasil e 1,6% mundial, enquanto em

outros países e regiões essa taxa é muito mais elevada: China (7,7%), Oriente Médio (3,8%),

Ásia Pacífica (2,8%), Índia (2,2%), América do Norte (0,9%), Europa e Eurásia (0,8%).

companhias do quilate de Matsushita Electronics, Total, Unilever e Vodafone [...]” (TnPetróleo, nº 43, 2005a: 43). 136 Salientamos que todas as previsões quanto à duração das reservas brasileiras levam em conta o atual estágio do desenvolvimento tecnológico e as reservas provadas. O provável desenvolvimento tecnológico – intrínseco ao desenvolvimento das forças produtivas do capitalismo – e o aumento da atividade de exploração com certeza prolongarão os anos de produção das atuais reservas brasileiras.

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195

FIGURA 13

CONSUMO TOTAL DE ÓLEO POR PAÍS – MMD/B (2007)

20,7

7,9

5,1

2,7 2,7 2,4 2,4 2,3 2,2 2,2 2 1,9 1,7 1,7

0

5

10

15

20

25

1

EUAChinaJapãoÍndiaRússiaAlemanhaC. do SulCanadáBrasilA. SauditaMéxicoFrançaItáliaR. Unido

Fonte: BP Statistical Review 2008, PFC Energye apud Petrobras (2009).

Conforme a Figura 13, os maiores consumidores mundiais de óleo em 2007

(MMb) foram: EUA – 20,7 milhões de b/d, seguidos da China e do Japão com 7,9 e 5,1

milhões de b/d respectivamente. O Brasil é o nono mercado consumidor de petróleo do

mundo com 2,2 milhões de barris diários.

Podemos concluir que a importância das atividades petrolíferas para a dinâmica da

economia brasileira nos próximos anos será singular devido ao impacto na renda e no

investimento provocado pelas suas atividades, ao efeito de encadeamento com o restante da

economia, ao aumento do coeficiente de exportação, à configuração de um centro

dinamizador das ações de Ciência e Tecnologia, à importância na arrecadação fiscal com o

pagamento de royalties e participações especiais aos entes federal, estadual e municipal, à

importância da política de compras nacionais que implica em encomendas crescentes para a

indústria nacional, e aos investimentos em E&P que propiciarão um aumento da produção de

óleo para 2,7 milhões de barris/dia em 2013.

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196

5.4 A PERSPECTIVA DE INVESTIMENTOS DA PETROBRAS NO BRASIL

Como visto anteriormente, a perspectiva de investimentos da indústria brasileira é

notável para os próximos anos. Particularmente, o setor de P&G terá um papel fundamental

como um dos principais alavancadores da FBKF na economia brasileira, e, como não poderia

deixar de ser, a Petrobras será a empresa responsável por grande parte dos investimentos

desse setor no Brasil, consolidando-se como uma das principais companhias integradas de

energia do mundo.

Isso ocorre através do posicionamento estratégico e competitivo com anúncios de

novas descobertas e o aumento constante de produção. Desde o anúncio do plano de negócios

2008-2012, em agosto de 2007, até o anúncio do novo plano para o período 2009-2013 em 23

de janeiro de 2009, a Petrobras anunciou os seguintes números:

- mais de 10 bilhões de barris em volume recuperável com as descobertas e delimitações dos

blocos do Pré-sal da Bacia de Santos (Campos de Tupi, Iara e Carioca), e do ring fence137 de

Golfinho, localizado no centro-sul da Bacia do Espírito Santo;

- aumento de um milhão de barris por dia na capacidade instalada de produção;

- aumento de 7% na produção total de óleo e gás ao atingir 2,436 milhões de barris/dia;

- 54% de aumento da receita líquida; e

- 56% de aumento do lucro líquido.

5.4.1 O status da Petrobras no cenário internacional

A Petrobras é uma empresa respeitada no cenário internacional devido a diversos

fatores que corroboram sua credibilidade e refletem no preço de suas ações nos mercados

financeiros doméstico e internacional:

- possui papel relevante no processo de integração energética e econômica da América do Sul;

- há crescente presença internacional com operações em diversos países, principalmente

Angola, Argentina, Bolívia, Colômbia, Equador, Estados Unidos, Venezuela, Japão,

Nigéria, Turquia, etc.;

- desenvolvimento do maior know-how em tecnologias de exploração e produção em águas

profundas e ultraprofundas com tendência de intensificação do desenvolvimento tecnológico

nessa área, pois possui o segundo maior investimento em Pesquisa e Desenvolvimento entre

as empresas de energia, com desembolso de aproximadamente US$ 1 bilhão; e

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197

- grande expectativa de aumento da produção que o Pré-sal vislumbra para os próximos anos.

TABELA 36

POSIÇÃO DA PETROBRAS EM RELAÇÃO ÀS OUTRAS OPERADORAS

COMPANHIAS RESERVAS PROVADAS 2007 (SEC) –

BILHÃO BOE

PRODUÇÃO DE OLÉO & GÁS –

9M08 – MILHÃO BOE/DIA

CAPACIDADE DE REFINO – 200E (l) – MIL

BOE/DIA

VALOR DE MERCADO EM 31/12/2008 – US$

BILHÃO EXXON 22,5 3,9 5.675 406,1 BRITISH PETROLEUM

17,6 3,8 3.119 143,6

REPSOL 11,7 3,1 3.905 161,1 PETROBRAS 11,7 2,4 2.164 96,8 CHEVRON 11,2 2,5 2.083 150,3 CONOCO PHILIPS

10,8 2,2 2.917 77,2

TOTAL 10,1 2,3 2.600 128,7 ENI 6,5 1,7 828 93,6 STATOIL 6,8 1,7 299 52,2 Fonte: Relatórios das empresas, Bloomberg, PFC Energy WRMS apud Petrobras (2009). OBS: O grupo das companhias selecionado possui a maioria do capital negociado em mercados abertos.

Além dos fatores citados na Tabela 36 e em relação às empresas citadas, a

Petrobras possui relevância estratégica no que tange a algumas variáveis importantes

relacionadas ao setor de P&G:

- possui o quarto maior volume de reservas provadas com 11,7 bilhões de barris equivalentes

em 2007, atrás somente da Exxon, da British Petroleum e da Repsol. O histórico do índice

de reposição de reservas da Petrobras é superior a 100%, tendo, em 2008, alcançado o índice

de 123% de reposição com reservas totais de 14,09 bilhões de barris. Essa companhia ainda

possui como objetivo manter um horizonte de 15 anos na relação reservas/produção;

- quinta empresa com maior produção entre as selecionadas, com 2,4 milhões de barris diários

operando a maior produção em águas profundas com 23% da produção mundial;

- possui a sexta maior capacidade de refino entre as empresas acima, com 2,164 bilhões de

barris diários, mas com perspectiva de aumento dessa capacidade com a construção da

Refinaria Abreu Lima em Pernambuco, do Complexto Petroquímico do Rio de Janeiro e das

refinarias Premium 1 e 2 no Ceará e no Maranhão respectivamente;

- em 31/12/2008 possuía o sexto valor de mercado entre as operadoras selecionadas com valor

de aproximadamente US$ 100 bilhões (Petrobras, 2009).

137 Demarcação do campo.

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198

TABELA 37

PRODUÇÃO INTERNACIONAL DIÁRIA – MÉDIA ANUAL – PETROBRAS

PAÍS 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Angola 27.048 22.739 19.805 17.560 13.823 12.284 10.427 8.291 5.367 3.609 2.537 Argentina 2.415 4.844 9.943 10.142 9.417 120.927 114.476 104.060 107.853 102.012 100.037 Bolívia 126 208 568 6.866 10.489 31.427 45.502 54.100 57.040 60.499 54.493 Colômbia 8.363 19.930 18.463 18.062 16.603 15.504 16.844 16.582 16.880 16.566 15.488 Equador 997 1.336 - - - 3.675 6.198 9.908 11.897 10.432 11.357 EUA 7.378 15.244 14.154 10.833 7.836 6.389 5.089 4.618 4.010 11.489 4.552 Nigéria - - - - - - - - - - 5.335 Peru - - - - - 12.875 12.834 14.356 14.558 15.129 16.123 Reino Unido 8.064 10.387 10.608 4.929 - - - - - - - Venezuela (consolidada)

- - - - - 42.800 51.296 47.632 11.196 - -

Venezuela (não consolidada)138

-

-

-

-

-

-

-

-

14.491

15.867

14.103

Média Anual 54.391 74.688 73.541 68.395 58.170 245.879 262.639 258.737 243.292 235.603 224.062 Fonte: Petrobras (2009).

No que tange ao volume de produção em áreas localizadas fora do território e das

bacias sedimentares brasileiras, essa companhia teve uma produção anual média diária de

224.062 de barris de óleo, LGN e gás natural (boed) ao longo de 2008 (Tabela 37). Destacam-

se a produção da Petrobras na Argentina com mais de 100 mil barris de produção média diária

e da Bolívia com mais de 50 mil barris em 2008. Ressalta-se o ingresso da Nigéria no

portfólio de ativos com produção média diária de 5 mil barris em 2008.

Em relação às reservas provadas internacionais139 (Tabela 38), a Petrobras possuía

quase um bilhão de barris boe em 2008 em diversos países, com destaque para as reservas

provadas de Óleo e Condensado na Argentina (199 milhões de barris), na Nigéria (158

milhões de barris), com grande potencial de crescimento da produção devido ao seu início ter

ocorrido em 2008, no Peru (98 milhões de barris) e na Venezuela (60 milhões de barris). Para

as reservas provadas internacionais de gás natural, destacam-se as reservas na Argentina e na

Bolívia com mais de um bilhão de m³, nos EUA (146 milhões de m³), no Peru (76 milhões de

m³) e na Venezuela (67 milhões de m³).

138 Produção Não Consolidada refere-se à produção proveniente de empresas nas quais a Petrobras detém participação, mas não as controla. 139 O cálculo das reservas provadas internacionais já leva em consideração a legislação do setor petrolífero em cada país.

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199

TABELA 38

RESERVAS PROVADAS INTERNACIONAIS – ÓLEO, LGN E GÁS NATURAL

PETROBRAS

ANO MAR TERRA TOTAL (Milhões Boe) 1989 0,2 51,1 51,3 1990 0,4 53,1 53,5 1991 9,9 54,8 64,7 1992 54,1 78,8 133 1993 58,1 99,6 157,7 1994 42,3 97,4 139,8 1995 77,8 96,6 174,5 1996 107 126,8 233,9 1997 123,6 128 251,6 1998 196,9 115,1 312 1999 486,3 88,3 574,5 2000 615,4 101,8 717,2 2001 848,4 130,8 979,2 2002 927,6 195,1 1122,7 2003 1246,4 657,2 1903,6 2004 273,3 1598,8 1872 2005 296,7 1384,3 1681 2006 232 1038,1 1270 2007 204 886 1090,2 2008 187,6 804,4 992

Fonte: Petrobras (2009).

A posição estratégica da Petrobras no cenário internacional consolida-se devido à

perspectiva de investimentos que planeja para os próximos cinco anos (2009-2013), pois

enquanto as principais companhias petrolíferas do mundo reduziram suas estimativas de

investimentos, ela aumentou em 55% sobre o período anterior (2008-2012), como veremos

mais detalhadamente a seguir.

5.4.2 Petrobras – Plano de Negócios 2009-2013

No Plano Estratégico 2020 (Petrobras, 2007), a Petrobras estabeleceu como visão

ser uma das 5 maiores empresas integradas de energia do mundo e a preferida pelos nossos

[seus] públicos de interesse140. Para atingir esse patamar, planeja produzir aproximadamente

5,729 milhões de barris diários e possuir reservas provadas de 25 bilhões de barris. Essa

140 “Atributos da Visão 2020 – forte presença internacional; referência mundial em biocombustíveis; excelência operacional em gestão, recursos humanos e tecnologia; rentabilidade; referência em responsabilidade social e ambiental; e comprometimento com o desenvolvimento sustentável” (Petrobras, 2007).

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200

produção diária seria proveniente de 3,920 milhões de barris de óleo no Brasil, de 1,177

milhões de barris equilaventes de gás natural e de 632 milhões de barris de óleo e gás em

bacias internacionais. Com vistas a esse objetivo, a empresa desenvolve sucessivos planos de

negócios quinquenais, e no último (Plano de Negócios 2009-2013) apontou as seguintes

orientações: gerar resultados econômicos e financeiros, crescer sustentável, ampliar o

portfólio de oportunidades e ser uma companhia integrada de classe mundial. Para isso,

aumenta a previsão de investimentos continuamente.

Na Tabela 39 verfica-se o forte incremento de valores para o investimento nos

últimos cinco períodos anunciados pela empresa, sendo que, no Plano de Negócios 2006-2010

(antigo)141, a previsão de investimentos foi de US$ 34,5 bilhões; no 2006-2010 (novo) era de

US$ 56,4 bilhões (+63%); no 2007-2011, passou para US$ 87,1 bilhões – aumento de 54%

sobre o período anterior; para o quinquênio 2008-2012 foi de US$ 112,4 bilhões (+29% sobre

o período anterior), isto é, um aumento de 325% em relação ao primeiro período avaliado –

2006-2010 (antigo).

141 Houve uma versão nova lançada ainda em 2006 que chamaremos Plano Estratégico 2006-2010 novo.

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201

TABELA 39

PLANOS DE NEGÓCIOS – PETROBRAS (2006-2013) – US$ BILHÕES

PERÍODO142 2006-2010 (ANTIGO)

2006-2010 (NOVO)

2007-2011 2008-2012 2009-2013

E&P 20,3 34,1 49,3 65,1 104,6 GÁS & ENERGIA 2,9 6,7 7,5 6,7 11,8 DISTRIBUIÇÃO 0,8 1 2,3 2,6 3,0

ABASTECIMENTO* 9,1 11,4 23 29,6 43,4 PETROQUÍMICA 0,6 2,1 3,3 4,3 5,6 CORPORATIVO 0,7 1,1 1,8 2,6 3,2

BIOCOMBUSTÍVEL - - - 1,5 2,8 TOTAL 34,5 56,4 87,1 112,4 174,4

Fonte: Elaboração própria a partir da Petrobras. *Para 2008-2012, desmembraram-se os investimentos em Biocombustível com a criação de uma diretoria específica, que passou a se chamar Refino e Transporte de Combustível (RTC).

A Figura 14 mostra a evolução dos investimentos nas áreas de negócios da

empresa ao longo do período analisado (2006-2013). Há um forte incremento do montante

previsto de US$ 140 bilhões, com destaque para o segmento de E&P e com crescimento

absoluto de US$ 84,3 bilhões e relativo de 515%, seguido da área do Abastecimento de US$

34,3 bilhões e aumento de 477% respectivamente. As outras áreas também apresentaram forte

crescimento relativo: Gás e Energia (+407%), Distribuição (+375%), Petroquímica – que

apresentou o maior crescimento relativo – (+933%), Corporativo (+457%) e o

Biocombustível, que, entre um período e outro, cresceu 86%.

142 Segundo a Petrobras (2007), esses segmentos de negócios possuem as seguintes características: Pesquisa ou Exploração – Conjunto de operações ou atividades destinadas a avaliar áreas, objetivando a descoberta e a identificação de jazidas de petróleo ou gás natural. Lei nº 9.478, de 06/08/1997; Produção – Conjunto de operações coordenadas de extração de petróleo ou gás natural de uma jazida e de preparo para sua movimentação. Portaria ANP nº 90, de 31/05/2000; RTC – Segmento da Petrobras responsável pelas atividades de refino, transporte e logística, e comercialização; Gás e Energia – Segmento da empresa responsável pelos setores de geração de Gás Natural Liquefeito (GNL), usinas eólicas e usinas termelétricas; Indústria Petroquímica – Indústria de produtos químicos derivados do petróleo. Os produtos da indústria petroquímica incluem parafinas, olefinas, nafteno e hidrocarbonetos aromáticos (metano, etano, propano, etileno, propileno, butenos, ciclohexanos, benzeno, tolueno, naftaleno, etc.) e seus derivados; Distribuição – Atividade de comercialização por atacado com a rede varejista ou com grandes consumidores de combustíveis, lubrificantes, asfaltos e gás liquefeito envasado, exercida por empresas especializadas, na forma das leis e regulamentos aplicáveis. Lei nº 9.478, de 06/08/1997; Biocombustível – Combustível derivado de biomassa renovável para uso em motores à combustão interna ou, conforme regulamento, para outro tipo de geração de energia que possa substituir parcial ou totalmente combustíveis de origem fóssil. Lei nº 9.478, de 06/08/1997; Corporativo – Unidade de desenvolvimento pessoal da empresa que também abrange os setores de SMS – Saúde, Meio Ambiente e Segurança –, SER – Responsabilidade Social e Ambiental –, e Recursos Humanos.

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202

FIGURA 14

PLANO DE NEGÓCIOS – PETROBRAS (2006-2013) – US$ BILHÕES Fonte: Elaboração própria a partir da Petrobras.

Devido ao agravamento da crise internacional, desde o último trimestre de 2008

houve ansiedade pelo anúncio do novo Plano de Negócios da Petrobras. Foram três

adiamentos consecutivos até fevereiro/2009, quando ela surpreendeu com um forte

incremento de recursos previstos para investimento. Ao contrário do que muitos analistas

apontavam, a empresa argumentou que a redução da demanda e dos investimentos neste

período de desaquecimento postergarão o desequilíbrio entre oferta e demanda, mas não [o]

eliminarão no longo prazo (Petrobras, 2009: 18). Assim, promoveu 55% de aumento (US$ 62

bilhões) do investimento para o período 2009-2013 em relação ao Plano anterior (2008-2012),

ou seja, apresentando o volume de recursos de US$ 174,4 bilhões.

Dos US$ 174,4 bilhões previstos para investimento, US$ 158,2 bilhões (91%)

serão realizados no Brasil e os US$ 16,2 bilhões (9%) restantes nas atividades no exterior. O

segmento de Exploração e Produção terá a maior parcela, ou seja, US$ 104,6 bilhões (59%),

com US$ 87 bilhões somente para a atividade de produção, enquanto o segmento de Refino e

Transporte de Combustível (RTC) terá US$ 43,4 bilhões (25%), o de Gás e Energia US$ 11,8

bilhões (7%), a Petroquímica terá US$ 5,6 bilhões (3%), a Distribuição US$ 3 bilhões (2%), o

Corporativo terá US$ 3,2 bilhões (2%) e, finalmente, o segmento de Biocombustíveis com

cerca de US$ 2,8 bilhões (2%). Esse grande volume de investimento em E&P sugere uma

prioridade na busca do aumento da produção e das reservas provadas, e evidencia a

020406080

100120140160180200

2006-2010

(ANTIGO)

2006-2010

(NOVO)

2007-2011

2008-2012

2009-2013

US

$ B

ILH

ÕES

E&P

GÁS & ENERGIA

DISTRIBUIÇÃO

ABASTECIMENTO*

PETROQUÍMICA

CORPORATIVO

BIOCOMBUSTÍVEL

TOTAL

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203

importância que a Bacia de Campos tem para a Petrobras, pois, como bacia sedimentar mais

conhecida em termos geofísicos, apresenta as melhores condições para alcançar esse objetivo.

A inserção de novos projetos no portfólio dela foi responsável pelo aumento dos

recursos destinados ao novo Plano de Negócios. São aproximadamente US$ 47,9 bilhões que

se pretende investir nas áreas de E&P (76,4%), RTC (6,5%), Gás e Energia (11,8%),

Biocombustíveis (4,4%), e nas áreas de Distribuição e Corporativa, com 0,8% dos recursos

destinados aos novos projetos. Dos novos projetos da área de E&P, US$ 28 bilhões serão

destinados ao desenvolvimento das atividades no Pré-sal.

A Lei do Petróleo (Lei nº 9.478, de 06 de agosto de 1997), como instrumento

regulatório do Estado brasileiro para o segmento de petróleo e gás, prevê que uma parcela

desses recursos seja realizada em território nacional como estratégia de desenvolvimento da

indústria nacional. Por isso, a Agência Nacional de Petróleo e Biocombustíveis (ANP) exige

um conteúdo nacional – aquisição de bens e contratação de serviços em território nacional –

às empresas operadoras no momento da concessão para as fases de exploração,

desenvolvimento e produção nos campos petrolíferos.

Pela perspectiva da Petrobras, o aumento do conteúdo nacional fortalece o

negócio da companhia no longo prazo com a promoção do aumento da capacidade produtiva

nacional e da instalação de empresas estrangeiras em território nacional, fortalecendo e

dinamizando o fornecimento interno. O objetivo é promover maior competitividade nos

preços ao longo da cadeia produtiva, acarretando diminuição dos custos, maior flexibilidade,

opções e disponibilidade de recursos para serem contratados através do maior número de

fornecedores.

A Tabela 40 mostra a previsão do conteúdo nacional do investimento da Petrobras

para o período 2008-2012, ou seja, uma alocação de US$ 12,6 bilhões anuais entre 2008-2012

no território nacional143. Para o Plano anterior (2007-2011), a estimativa dessa alocação era de

US$ 10 bilhões. A área com maior participação de conteúdo nacional nas suas compras é a

Distribuição, devido à simplicidade dos aspectos tecnológicos e à longa experiência de

desenvolvimento dessa atividade no Brasil. Por outro lado, o segmento de E&P é o que possui

o menor percentual de conteúdo nacional, basicamente em virtude de duas características,

entre outras:

143 “Sozinha, Petrobras investe mais que a União em 2009 – só no primeiro bimestre, a estatal investiu R$ 8,1 bilhões, contra R$ 6,8 bilhões do Tesouro até maio. Grupo prevê gastos de R$ 66 bilhões até final do ano; valor supera a previsão de investimentos da União para o período de R$ 16,8 bilhões” (Folha de São Paulo, 24/05/2008: A4).

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- ser grande demandante de serviços de alta complexidade tecnológica nos contratos de

serviços de perfuração (drilling), dominado por multinacionais estrangeiras; e

- grande parte da produção brasileira ser de origem offshore, acarretando maiores custos de

produção.

De acordo com o Plano de Negócios 2008-2012, a dinamização desse volume de

investimentos da Petrobras na economia brasileira produziria valor adicionado de US$ 246

bilhões, ou seja, aproximadamente 10% do PIB nacional. Esse valor estaria dividido em US$

141 bilhões gerados pela própria empresa, US$ 50 bilhões pela própria cadeia produtiva a

partir desses investimentos, e US$ 55 bilhões pela cadeia produtiva a partir dos gastos

operacionais. No que tange ao emprego, seriam criados 228 mil postos de trabalho diretos,

350 mil indiretos via alavancagem na cadeia produtiva, e 338 mil indiretos via efeito renda da

dinâmica econômica, totalizando 997 mil empregos.

TABELA 40

INVESTIMENTO DOMÉSTICO X CONTEÚDO NACIONAL – PETROBRAS (2008-

2012) – US$ BILHÕES

Área de Negócio

Investimento Doméstico

Colocação no Mercado Nacional

Conteúdo Nacional (%)

E&P 54,6 29,5 54 Abastecimento 31,4 24,3 77 Gás & Energia 6,6 5,0 76 Distribuição 2,5 2,4 100 Áreas Corporativas 2,3 1,9 80 Total 97,4 63,1 65 Fonte: Petrobras (2007).

Além da possibilidade de dinamização da economia brasileira promovida pelo

investimento da Petrobras no Brasil, o crescimento das atividades de E&P no Brasil apresenta

futuro promissor com o início da produção das outras operadoras na Bacia de Campos (Shell,

Chevron, StatoilHydro e Devon Energy), com intensificação das atividades de exploração em

bacias praticamente inexploradas, com maior consolidação do marco legal que regulamenta o

setor (ex.: marco regulatório do Pré-sal), com contínua chegada de novas empresas a partir

das rodadas de licitações da ANP, e o encurtamento constante da curva de aprendizado do

parque fornecedor nacional.

De imediato, esse volume de investimento previsto na indústria de petróleo e gás

provocará duas consequências:

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1) o efeito macroeconômico através do valor adicionado de cerca de R$ 141 bilhões no país,

acrescido do valor adicional de R$ 50 bilhões do impacto na cadeia produtiva e de R$ 55

bilhões dos gastos operacionais. Esse efeito será de aproximadamente R$ 246 bilhões e

representará cerca de 10% do PIB brasileiro;

2) o segundo será a crescente demanda por força de trabalho alcançando a estimativa de 917

mil postos de trabalho, sendo diretos 228 mil e indiretos na cadeia produtiva 350 mil, e

mais os indiretos gerados pelo efeito renda dos investimentos de 338 mil.

Aproximadamente um milhão de novos postos de trabalho serão necessários para

a concretização desses valores. Certamente, alguns impactos importantes serão percebidos nos

territórios onde essa indústria instalará suas operações. As regiões altamente impactadas –

como os municípios da Bacia de Campos – verão o aprofundamento desses impactos através

do aumento da migração, da degradação ambiental e da infraestrutura, das deseconomias

provocadas pelo saturamento das atividades industriais, da crescente inflação local e da

especulação imobiliária, etc. Enquanto regiões ainda pouco impactadas por essa indústria –

como as confrontantes com as bacias do Espírito Santo e de Santos – experimentarão

intensificação do desenvolvimento das forças produtivas dessa indústria.

5.5 A FORMAÇÃO DO NOVO EIXO DE INVESTIMENTOS

Desde que a economia do petróleo tornou-se um “eixo dinâmico” da economia

fluminense, ocorre uma aceleração e disseminação do crescimento econômico do ERJ.

Atualmente, a economia do petróleo contribui com aproximadamente 24% do PIB estadual e

10% do PIB nacional. A manutenção da perspectiva de investimentos da economia brasileira

para os próximos anos e, notoriamente, os investimentos anunciados pela Petrobras e outras

oil companies serão relevantes para a sustentação da dinâmica econômica em todo o território

nacional. Particularmente, segundo levantamento realizado pela Firjan (Decisão Rio – 2010-

2012), o ERJ receberá inversões nos próximos três anos na ordem de R$ 126,3 bilhões,

consolidando a inflexão econômica que se iniciou na segunda metade da década de 1990.

Desse total de investimentos previstos, a Petrobras é responsável por 61% (R$ 77,1 bilhões),

restando R$ 28,1 bilhões para infraestrutura, R$ 20,3 bilhões para a indústria de

transformação, e R$ 300 milhões para outras áreas.

Apontamos que parte dos investimentos que possuem expectativas de aportarem

no território fluminense é motivada pelo crescimento da produção petrolífera nos próximos

anos. Com isso, realizamos um mapeamento desses investimentos para uma faixa do território

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nacional que se estende de Santos/SP a Vitória/ES e, além disso, tentaremos apontar as

consequências políticas, sociais e econômicas para o município de Macaé e para a chamada

região da Bacia de Campos no que tangem à perda de uma centralidade econômica vivenciada

ao longo das últimas duas décadas.

Os recursos destinados e a dinâmica consequente da concretização dos

investimentos nos setores de petróleo e gás, siderúrgico, naval, portuário e petroquímico,

entre outros, no estado do Rio de Janeiro constituem o que chamamos de um NOVO EIXO

DE INVESTIMENTOS de Santos a Vitória.

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5.5.1 Bacia de Santos – uma nova fronteira exploratória144

No dia primeiro de maio deste ano, o mercado petrolífero acompanhou um dos

marcos da exploração de petróleo no Brasil, a extração do chamado primeiro óleo da camada

144 “Cronologia da Bacia de Santos: 1975 – a atividade de exploração de petróleo no território nacional é aberta à iniciativa privada, por meio dos contratos de risco; 1985 – a Pecten, subsidiária da Shell, faz a única descoberta offshore sob contrato de risco: é o GN do campo de Merluza, na Bacia de Santos; 1990 – consórcio liderado pela Petrobras, Queiroz Galvão, Starfish Oil e Coplex Oil descobre o Campo de Coral, em setembro, a cerca de 170km da costa do estado de Santa Catarina e em lâmina d’água de 150 metros; 1993 – Merluza entra em produção. Em dezembro, a Petrobras anuncia a abertura do poço 1-BSS-64 no campo de Caravela, a 180km de Itajaí, no litoral catarinense; 2002 – em dezembro é descoberto petróleo no BM-S-3 da Bacia de Santos, no litoral de Santa Catarina; 2003 – encontrado óleo levíssimo no BS-500, localizado em águas ultraprofundas (a quase 6 mil metros), na Bacia de Santos. O poço descobridor 1-RJS-582 começou a ser perfurado em agosto de 2002. Descoberta em abril a maior jazida de GN na plataforma continental brasileira na Bacia de Santos: poço perfurado no BS-400 indica reservas potenciais de 70 bilhões de m³m³ ou cerca de 440 milhões de barris de óleo equivalente (Boe), aumentando em cerca de 30% as reservas provadas nacionais de GN, então no patamar de 231 bilhões de m³m³. O novo campo é batizado de Mexilhão. O Campo de Coral começa a produzir, em maio de 2003, superando as expectativas do consórcio: o poço tem uma vazão diária de 10 mil barris de óleo do tipo leve e de ótima qualidade (41º API). Em setembro, a Petrobras comunica um fato relevante, confirmando descobertas na Bacia de Santos, as quais somam 435 milhões de barris de óleo leve de excelente qualidade (ainda sob avaliação exploratória para futura declaração de comercialidade) e 419 bilhões de m³m³ de GN (2,6 bilhões de boe), dos quais 70 bilhões já haviam sido anunciados como reservas potenciais em abril; 2005 – a Petrobras anuncia, em março, nova descoberta de óleo leve (33º API) no antigo bloco BS-500, na Bacia de Santos, a cerca de 160km da cidade do Rio de Janeiro. O poço 3-RJS-621 foi perfurado em lâmina d’água de 1.332 metros. Além de descobrir uma nova jazida de óleo, o poço comprovou as descobertas de gás antes realizadas pelo poço 1-RJS-587. Em maio, a Petrobras confirma a descoberta de uma nova acumulação de gás natural a apenas 10km de distância do Campo de Mexilhão. Trata-se do Campo de Cedro, que terá seu desenvolvimento atrelado à infraestrutura que será montada para Mexilhão, cujo início da operação está previsto para 2008. O consórcio BM-S-10, formado pela Petrobras (operadora), BG e Partex, perfura poços exploratórios em águas ultraprofundas da Bacia de Santos, no BMS-10, na área conhecida informalmente como cluster. Com a perfuração, a Petrobras bate o recorde brasileiro de profundidade, com um poço inclinado que chegou a 6.915 metros de substrato (além da lâmina). Em dezembro, a Petrobras declara a comercialidade de três novos campos de petróleo e gás operados por ela com exclusividade, entre os quais Uruguá e Tambaú. Situados em frente à cidade do Rio de Janeiro, a 160km da costa, em lâmina d’água entre 1.000 e 1.4000 metros, os dois campos são resultantes dos planos de avaliação do antigo Bloco BS-500. O Campo de Uruguá é constituído por uma acumulação de óleo leve (volume estimado de 250 milhões de barris de 33º API) e outra de gás (volume estimado de 34,4 bilhões de m³m³, equivalente a 217 milhões de boe). O volume total de petróleo e gás do campo está estimado em 467 milhões de boe. O Campo de Tambaú é formado por uma acumulação de gás com volume estimado de 48,5 bilhões de m³m³ (305 milhões de boe); 2006 – em janeiro, a estatal (Petrobras) aprova o Plano Diretor para Desenvolvimento da Produção de Gás Natural e Petróleo da Bacia de Santos e a instalação de sua mais nova unidade de exploração e produção, a UM-BS, na cidade de Santos (SP); em julho, o consórcio formado pela Petrobras (operadora), BG e Petrogal encontra óleo leve em águas ultraprofundas no bloco BM-S-11, distante cerca de 250km da costa Sul da cidade do Rio de Janeiro, em nova fronteira exploratória. O poço descobridor 1-RJS-628A é o primeiro, no Brasil, a ultrapassar uma camada de sal de 2.000 metros de espessura (‘Pré-sal’). Em outubro é confirmada a descoberta de óleo leve de 30º API no BM-S-11 (Tupi): teste realizado no poço vertical revela uma vazão de 4.900 barris de óleo por dia e 150.000 m³m³ de GN por dia. O reservatório de alta produtividade está situado abaixo do Pré-sal; 2007 – em setembro – encontrada uma jazida de óleo leve (27º API) no bloco BM-S-9 (Carioca) sob concessão do consórcio formado pela Petrobras (45% – operadora), BG (30%) e Repsol YPF (25%); em novembro – conclusão das análises indicam volumes recuperáveis entre 5 e 8 bilhões de barris de petróleo e gás natural no campo de Tupi; em dezembro – consórcio formado pela Petrobras (80% – operadora) e Galp (20%) anuncia descoberta do Campo de Caramba; 2008 – em janeiro, consórcio também formado pela Petrobras (80% – operadora) e Galp (20%) anuncia descoberta do Campo de Júpiter; em abril – a Petrobras cria a Gerência Executiva do Pré-sal; em maio – consórcio formado pela Petrobras (66% – operadora), pela Shell (20%) e pela Galp (14%) anuncia a descoberta do Campo de Bem-Te-Vi; em junho – o Campo de Guará é descoberto; em agosto – descoberto o Campo de Iara” (TnPetróleo, nº 50, 2006, e nº 61, 2008).

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do Pré-sal no campo de Tupi, na Bacia de Santos. Essa data é considera importante, pois os

conservadores apontam que as reservas do Pré-sal na Bacia de Santos são de 50 bilhões de

barris, e os ufanistas chegam a afirmar que há potencial de alcançar 340 bilhões (a Arábia

Saudita possui 230 bilhões de barris de reservas). Por enquanto, a estimativa oficial está entre

cinco e oito bilhões de barris, que já foi considerada uma marco da indústria petrolífera

mundial.

A euforia sobre as reservas de petróleo na chamada “camada do Pré-sal” é tão

intensa que alguns acreditam que o Brasil entrará em um novo ciclo econômico. Depois do

pau-brasil, do ouro, da cana-de-açúcar e do café, o país estaria adentrando no ciclo do Pré-sal

devido às possibilidades abertas pela dimensão das reservas, da qualidade do óleo e do índice

de sucesso exploratório de quase 100% nos poços perfurados. Caso os testes do Campo de

Tupi confirmem as expectativas sobre sua dimensão, as reservas brasileiras serão

acrescentadas em oito bilhões de barris de petróleo, ou seja, aproximadamente 60% do total

de suas atuais reservas (14 bilhões de barris).

FIGURA 15

MAPA DAS PRINCIPAIS DESCOBERTAS DA BACIA DE SANTOS

Fonte: Petrobras (2009).

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A camada do Pré-sal estende-se pelo litoral do Espírito Santo até Santa Catarina,

com 800km de extensão e 200km de largura, configurando 112 mil km² como a nova fronteira

de exploração petrolífera do país. Porém, a área geológica da Bacia de Santos é de

aproximadamente 352 mil km² e se estende do litoral sul do estado do Rio de Janeiro,

perpassa toda a costa de São Paulo e do Paraná até o norte de Santa Catarina, ou seja, possui o

triplo do tamanho da Bacia de Campos. No Polo Pré-sal da Bacia de Santos, até julho de 2008

foram perfurados 20 poços com investimentos de US$ 1 bilhão, e estima-se a necessidade de

mais US$ 600 bilhões para seu desenvolvimento com perspectiva de 100 bilhões de barris

com valor de aproximadamente US$ 5 a US$ 9 trilhões.

TABELA 41

CAMPOS EM DESENVOLVIMENTO DA FASE DE PRODUÇÃO

BACIA DE SANTOS

Campo Estado Concessionários145 Participação (%) Shell 40 Petrobras 40

Atlanta

Rio de Janeiro

Chevron Brasil 20 Petrobras 35 Norse 50

Cavalo-Marinho

Santa Catarina

Brasoil 15 Carapiá Rio de Janeiro Petrobras 100 Lagosta São Paulo Petrobras 100 Mexilhão São Paulo Petrobras 100 Pirapitinga Rio de Janeiro Petrobras 100 Tambaú Rio de Janeiro Petrobras 100 Tambuatá Rio de Janeiro Petrobras 100 Tubarão Santa Catarina Petrobras 100 Uruguá Rio de Janeiro Petrobras 100

Shell 40 Chevron Brasil 20

Oliva

Rio de Janeiro

Perobras 40 Petrobras 35 Estrela-do-Mar Paraná Norse 65

Fonte: ANP/SDP.

145 Nesse caso, a operadora do campo é a petroleira citada em primeiro lugar.

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TABELA 42

CAMPOS NA ETAPA DE PRODUÇÃO – BACIA DE SANTOS

Campo Estado Concessionários146 Participação (%) Petrobras 35 Norse 7,5 Coplex 27,5 BS-3 15

Coral

Paraná

Brasoil Coral 15 Caravela Paraná Petrobras 100 Merluza São Paulo Petrobras 100 Fonte: ANP/SDP.

Atualmente, a intensa atividade exploratória e o início da atividade de produção,

principalmente de gás natural, colocaram o Brasil no centro das atenções de investidores do

setor e da indústria mundial petrolífera147. Em julho de 2009, havia 70 blocos em fase de

exploração – os campos na fase de desenvolvimento da produção onde se encontrou

quantidade e qualidade de óleo com viabilidade de explotação compercial eram 12 (Tabela

41) e os poucos campos que se encontravam em fase de produção (Tabela 42) ainda eram

apenas três.

Diversos campos foram descobertos recentemente e perfazem verdadeiras

promessas de grande vazão de produção de óleo por longo período. A Petrobras prepara-se

para realizar salto quantitativo e qualitativo nas reservas brasileiras. Para desenvolver as

atividades foi necessário aumentar o montante de investimentos no segmento de E&P em 71%

(Plano de Negócios 2009-2013) em relação à previsão anterior. Agora, os recursos alocados

pela Petrobras serão de US$ 91 bilhões ou 53% do total dos investimentos previstos (US$

174,4 bilhões). Desse total, US$ 28 bilhões relacionam-se ao desenvolvimento das atividades

no Pré-sal, com perspectiva de produzir 219 mil barris diários em 2013, 582 mil em 2015 e

1.815 mil em 2020, e a produção de gás natural deverá atingir sete milhões de m³ por dia em

2013 e 40 milhões de m³ em 2020. Para o horizonte de 2020, essa companhia planeja investir

US$ 98,8 bilhões nesse polo e alcançar o primeiro milhão de barris por dia de produção em 12

anos.

Esses investimentos ocorrerão não somente na camada Pré-sal, mas também na

chamada camada Pós-sal, com destaque para os projetos dos campos de Lagosta, Mexilhão,

146 Nesse caso, a operadora do campo é a petroleira citada em primeiro lugar. 147 Em junho de 2008, devido às descobertas no Pré-sal, o Brasil foi convidado a participar da reunião da Opep com seus 33 associados e os países do G8 (TnPetróleo, 2009: 28).

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Uruguá-Tambaú, Tiro e Sidon, além da Unidade de Tratamento de Gás Monteiro Lobato, em

Caraguatatuba, representando investimentos de cerca de US$ 6 bilhões.

Durante a vigência do atual Plano de Negócios (2009-2013), espera-se que entrem

em operação o Sistema Piloto de Tupi em 2010 (capacidade de 100 mil barris de óleo e cerca

de 3,5 milhões de m³ de gás natural por dia) e os sistemas de produção de Tupi 1 e Guará 1

em 2012, e Iara 1 em 2013, contribuindo para alcançar a meta da companhia de 3.310 mil

barris de petróleo equivalente por dia em 2013. Para horizonte mais recente (2º semestre de

2009), a meta da Petrobras na Bacia de Santos é desenvolver a maior reserva de gás natural do

país – o Campo de Mexilhão – com objetivo de diminuir a dependência do gás boliviano. O

objetivo é explorar o potencial de produção de 15 milhões de m³ de gás por dia com

perspectiva de alcançar os 30 milhões de m³, ou seja, a produção equivalente do gasoduto

Bolívia-Brasil (Gasbol) (Revista TnPetróleo, 2006).

Além da produção de petróleo e gás natural no mar, será necessário construir

infraestrutura de suporte e tratamento dessa produção. Por isso, a Petrobras contratou o

consórcio formado pelas empresas Queiroz Galvão, Iesa e Camargo Corrêa para construir a

Unidade de Tratamento de Gás Monteiro Lobato, em Caraguatatuba (UTGCA) com previsão

orçamentária de US$ 1,4 bilhão, que ocupará uma área de 500 mil m² (Revista Negócios

Offshore, 2007: 9).

A intensificação das atividades exploratórias na Bacia de Santos começa a

impactar a cadeia produtiva de petróleo e gás na Bacia de Campos, especialmente o município

de Macaé. Esses impactos são de diversas ordens e magnitudes:

- percebe-se uma migração de trabalhadores qualificados, principalmente técnicos e

engenheiros da Petrobras e de algumas empresas que operam na Bacia de Santos oriundos

de Macaé. Essa migração era esperada, pois somente a Petrobras e as empresas instaladas na

Bacia de Campos possuem o know-how necessário ao desenvolvimento da cadeia petrolífera

nessa fronteira exploratória;

- a Bacia de Campos continuará por muitos anos a ser a principal produtora de petróleo do

país, mas o prestígio e as centralidades política, econômica e tecnológica do segmento no

Brasil que Macaé possui hoje tenderão a se enfraquecer proporcionalmente ao aumento dos

investimentos e da produção em outras bacias sedimentares, principalmente na Bacia de

Santos;

- com a diminuição do teor dessas centralidades, haverá mudanças nas decisões locacionais

das empresas nacionais e estrangeiras. Se antes não havia dúvida em se estabelecerem em

Macaé e depois ao seu redor, agora talvez necessitem se localizar entre esses dois polos

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produtores ou em outra posição que surgir, como próxima ao porto de apoio às operações da

Bacia de Santos148, e também em virtude da possibilidade de fornecimento ao complexo

siderúrgico que se ergue no sul do ERJ; e

- parte dos investimentos da Petrobras e das outras Oil Companies continuará vinculado ao

aumento da exploração e da produção na Bacia de Campos, porém parte considerável dos

recursos que poderiam ser destinados a ela serão encaminhados para o desenvolvimento das

atividades na Bacia de Santos.

Nesse caminho, surge a necessidade de posicionamento estratégico dos governos

municipais da Bacia de Campos – principalmente de Macaé – e das empresas locais para

dirimir esses impactos no seio do seu território.

5.5.2 Angra dos Reis e Niterói – polos navais offshore

As recentes descobertas na camada do Pré-sal da Bacia de Santos e a perspectiva

de aumento da produção nas Bacias de Campos e do Espírito Santo exigirão da indústria naval

brasileira um amplo esforço para atender à crescente demanda por barcos de apoio, navios

aliviadores, plataformas e sondas de perfuração. Simultaneamente, essa indústria deverá

aproveitar a oportunidade de se tornar novamente competitiva no cenário internacional, como

era quando o Brasil chegou a ser o segundo maior fabricante do mundo. Para os próximos

anos, a previsão somente da Petrobras é de que as encomendas alcancem 146 unidades de

apoio às atividades de exploração e produção marítimas de petróleo ao custo de US$ 5

bilhões. Além disso, há intenção de contratação de 40 navios-sonda, plataformas de

perfuração semissubmersíveis e FPSOs (navios que produzem, estocam e preocessam óleo)

(Revista TnPetróleo, 2008).

Como exemplo, podemos estimar que, se o Campo de Marlim na Bacia de

Campos possui 10 plataformas de produção para reservas provadas de três bilhões de barris de

óleo equivalente, o campo de Tupi, onde estimam-se reservas entre cinco e nove bilhões de

barris de óleo equivalente, necessitará de número maior dessas unidades dependendo dos

projetos de produção e das especificidades do reservatório. Nesse contexto, essa indústria será

grande beneficiada pelos investimentos em E&P da Petrobras e de outras empresas nas bacias

sedimentares brasileiras.

148 Até o momento, a Petrobras não decidiu a localização da base de operações para a Bacia de Santos. Há forte pressão do governo paulista, mas os principais campos em fase de desenvolvimento da produção estão mais próximos e confrontantes com o estado do Rio de Janeiro (Tabela 45).

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213

O ERJ responde por 40% da produção nacional e 55% da geração de empregos do

setor no país. Atualmente, possui 55 encomendas equivalentes a US$ 8 bilhões em

investimentos, configurando uma oportunidade preemente para os polos fluminenses de

Angra dos Reis149 e Niterói, pois os estaleiros asiáticos estão superlotados de encomendas

pelos próximos anos, por isso a chance de viabilizar novamente a indústria naval nacional

pela modernização, garantia de encomendas e pela diminuição dos custos pelo aumento da

escala da produção. Os grandes concorrentes dessa indústria nacional são o Japão, a China e a

Coreia do Sul – quando, em 2008, a carteira atual dos estaleiros era de 9.750 navios no

mundo, 88% eram produzidos nesses três países. Outros países destacam-se, como Cingapura,

que ganha importância crescente, os EUA, que direcionaram sua produção para a área militar,

e os principais construtores europeus, que direcionaram o esforço produtivo para nichos de

mercados mais tecnológicos, como os barcos de apoio offshore e os de pesquisa sísmica

(TnPetróleo, 2005: 18-19).

A construção dessas 146 embarcações nos próximos seis anos configura o mais

ambicioso programa do setor naval da história do país. Através de sua subsidária, a

Transpetro, a Petrobras desenvolve o Programa de Modernização e Expansão da Frota

(Promef), que entrou na segunda fase com encomenda de 23 navios-petroleiros e gaseiros que

se somam às 26 embarcações encomendadas na primeira fase. A segunda fase começou em

2009, e as primeiras unidades serão entregues em 2011 com previsão de mais sete licitações

até 2014 com contratação inicial de 24 embarcações. Essa política de contratações iniciou-se

em 2000 com a encomenda de 18 embarcações de apoio e teve continuidade em 2004 com a

contratação de 38 unidades e a reforma de 20 embarcações nesse período.

Com os dois programas em andamento, a indústria naval aguarda a encomenda

dessas 146 novas unidades de apoio, que estão divididas nas seguintes funções:

- 54 unidades para manuseio de âncoras de grande porte nas plataformas;

- 10 para reboque de outras embarcações ou manobras de petroleiros;

- 64 para transporte de mantimentos, cargas e equipamentos para navios e plataformas; e

- 18 para atender às exigências do Ibama de retirada de pessoal, controle de vazamentos e

recolhimento de óleo (Petrobras, setembro/2008).

A primeira fase do Promef encomendou 23 navios dos seguites estaleiros:

149 Para o município de Angra dos Reis, ainda há a expectativa de construção da Usina Nuclear de Angra 3, com previsão de início da operação em junho de 2014, e a perspectiva de investimentos de aproximadamente US$ 7,32 bilhões (Jornal Energia & Negócios, 2008: 17).

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214

• Estaleiro Atlântico Sul (PE): 10 navios Suezmax. Preço global: US$ 1,2 bilhão com

assinatura dos contratos: 31 de janeiro de 2007, em Pernambuco;

• Estaleiro Atlântico Sul (PE): cinco navios Aframax. Preço global: US$ 693 milhões com

assinatura dos contratos: 7 de novembro de 2008, no Rio de Janeiro;

• Estaleiro Ilha S.A. – Eisa (RJ): quatro navios Panamax. Preço global: US$ 468 milhões com

assinatura dos contratos: 4 de dezembro de 2008, no Rio de Janeiro; e

• Estaleiro Mauá (RJ): quatro navios de produtos. Preço global: US$ 277 milhões com

assinatura dos contratos: 30 de novembro de 2007, em Niterói (RJ) (MACHADO, 2009).

O edital de licitação da encomenda dos 26 navios da segunda fase do Promef

ocorreu no dia 05 de julho de 2008. Foi considerado produtivo para os estaleiros do ERJ, pois

o consórcio Rio Naval (grupos MPE e Sermetal) ganhou a construção de nove navios e o

estaleiro Mauá de mais quatro unidades. A terceira fase deverá ocorrer entre 2010 e 2012

quando os estaleiros poderão absorver novas encomendas.

O município de Niterói consolida-se no segmento de construção naval através das

encomendas de quatro navios aos estaleiros Eisa e Mauá e investimentos na ordem de US$

745 milhões. Esse municípo é sede de pelo menos 10 grandes estaleiros (STX – antigo Aker

Promar, Aliança, Renavi/Enavi, Estaleiro Mauá III – Caximbau, Cassinú, UTC, Mac Laren

Oil, Estaleiro Mauá – Ponta D´Areia, Estaleiro Mauá II – Ilha do Caju, Keppel Fels) dos 21

que se estabeleceram no ERJ nos últimos anos (na cidade do Rio de Janeiro estão os estaleiros

Transnave, Eisa, Superpesa, Rio Naval, Sermetal, Arsenal da Marinha, Setal), tornando-se o

município com maior concentração da atividade no Brasi. Houve, ainda, a revitalização do

porto para atrair operações de empresas do segmento de perfuração que necessitam embarcar

equipamentos e suprimentos para suas sondas de perfuração que operam nas bacias de

Campos e Santos, como Baker Hughes, New Park, etc. Isso também ocorre devido à

localização estratégica desse porto, que está entre essas bacias.

Além da construção de embarcações de apoio à atividade petrolífera, ainda há a

possibilidade de a indústria naval fluminense construir e reformar plataformas e sondas de

perfuração.

Por isso, surge oportunidade para consolidação de outro polo de construção naval

offshore do ERJ em Angra dos Reis com os estaleiros SRD, Brasfels e Nuclep. O estaleiro

Brasfels especializou-se na reforma e na construção de plataformas de produção. A primeira

plataforma FPSO totalmente construída e integrada no Brasil (P-53)150 foi inaugurada em

150 A P-53 é uma plataforma tipo FPSO (floating, production, storage and offloading), que são navios adaptados para produzir, processar, armazenar e prover a transferência de petróleo e/ou gás natural. Ela tem 346 metros de

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215

2009 dirigindo-se ao Campo de Marlim Leste, na Bacia de Campos. Com o aumento das

atividades de exploração e produção no Brasil, espera-se que os estaleiros localizados nesse

município participem ativamente das licitações da estatal brasileira.

Por isso, podemos afirmar que o encadeamento da indústria petrolífera favorece a

dinamização econômica de territórios que não estão interligados diretamente às áreas

produtoras.

5.5.3 Itaguaí/Santa Cruz – um novo complexo siderúrgico

Em 2007, o ERJ era o segundo produtor nacional de aço bruto, com 6,9 milhões

de toneladas ou 20,4% da produção brasileira. Somente estava atrás de Minas Gerais (35,3%),

enquanto São Paulo respondia por 19,9% e o Espírito Santo por 18,4% (Jornal Energia &

Negócios, 2008). Segundo o Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), no primeiro semestre de

2009, o ERJ passou a ocupar a quarta posição, com 15,7% da produção nacional de aço bruto

(Tabela 43).

TABELA 43

DISTRIBUIÇÃO REGIONAL DA PRODUÇÃO DE AÇO – JANEIRO/JULHO – 2009

(MILHÕES DE TONELADAS)

ESTADO AÇO BRUTO % LAMINADOS E SEMIACABADOS PARA

VENDAS

%

MINAS GERAIS 4.318,7 33,1 4.316,7 33,6 SÃO PAULO 3.143,7 24,1 2.811,6 21,9 ESPÍRITO SANTO 2.760,9 21,1 2.524,4 19,6 RIO DE JANEIRO 2.051,6 15,7 1.976,7 15,4 OUTROS 786,4 6,0 1.229,8 9,6 TOTAL 13.061,3 100,0 12.859,2 100,0Fonte: IBS (2009).

O setor siderúrgico fluminense ingressou em uma fase de expansão inédita desde

as privatizações da década de 1990. Há um processo virtuoso de modernização e expansão das

atividades que alçará o ERJ para um novo patamar produtivo, revertendo a perda de

participação relativa em relação à produção nacional e com possibilidade real de se

transformar no maior polo siderúrgico da América Latina.

comprimento, 56 metros de largura e 76 metros de altura em relação à lâmina d´água – o equivalente ao tamanho de um prédio de 25 andares (Revista TnPetróleo, 2008).

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216

O polo siderúrgico do ERJ é considerado estratégico para o desenvolvimento

econômico nacional, pois garante o suprimento da matéria-prima fundamental para os

investimentos produtivos e para alguns setores, como Petróleo e Gás, automobilístico,

construção civil, entre outros. Ele envolverá siderúrgicas nas proximidades do porto de

Sepetiba, entre as bacias produtoras de Campos e Santos, entre as metrópoles do Rio e de São

Paulo, e próximo ao polo automotivo de Resende/Porto Real. Atualmente, o ERJ possui três

grandes usinas produtoras de aço: a CSN, em Volta Redonda; a Siderúrgica Barra Mansa,

também no Médio Paraíba, e a Gerdau-Cosipa, no bairro de Santa Cruz, na Zona Oeste

carioca.

Segundo o Decisão Rio 2010-2012, elabordo pela Firjan, a perspectiva para os

próximos anos é da entrada em operação de diversos empreendimentos que estão em fase de

implantação:

1) Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA) – consórcio formado pela Vale

(26,87%) e pelo grupo alemão ThyssenKrupp Steel (73,13%) para a construção de um

complexo siderúrgico que englobe uma usina, uma termelétrica, uma coqueria e um terminal

portuário (embarque do produtos e chegada do carvão mineral) que alcance a produção de 5,4

milhões de toneldas de placas de aço e 1,4 milhão de toneladas de coque por ano. Serão R$

8,1 bilhões em investimentos no distrito industrial de Santa Cruz, e há estimativa de geração

de 18 mil empregos durante a obra e 3,5 mil empregos diretos e 15 mil indiretos na fase de

operação.

O destino da produção será o mercado externo, sendo dois milhões de toneladas

exportadas para as instalações da ThyssenKrupp na Alemanha e em outros países europeus, e

os outros três milhões para o mercado norte-americano. Essa produção será capaz de elevar as

exportações brasileiras de aço em aproximadamente 40%. A previsão de finalização das obras

é o primeiro semestre de 2010;

2) CSN – construirá uma usina com área de 900 mil m² no município de Itaguaí. Os

investimentos serão de R$ 6 bilhões para implantar capacidade produtiva para cinco milhões

de toneladas de aço/ano. Além disso, realiza investimentos constantes na modernização de

suas instalações e nos dois terminais que controla no porto de Itaguaí. Recentemente,

divulgou a construção da “Plataforma Logística CSN” com investimentos de US$ 2,23

bilhões para os próximos cinco anos em melhorias e expansões de seus terminais, na criação

de um porto privado chamado Lago da Pedra e de um Polo Logístico Multimodal que

demandarão pelo menos US$ 1,029 e US$ 1,1 bilhão em recursos respectivamente. Esses

investimentos serão acompanhados da dragagem de acesso ao porto, da duplicação da estrada

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217

Rio-Santos e da construção do Arco Rodoviário Metropolitano e da duplicação das linhas

ferroviárias da MRS (Revista Brazilian Business, 2008).

3) Grupo Votorantim Metais – possui a Usina Siderúrgia Barra Mansa e está construindo

outra unidade em Resende, com investimentos previstos de R$ 1,2 bilhão para produção de

um milhão de toneladas de fio-máquina e vergalhão por ano em terreno de 4,3 milhões de m²,

sendo sua principal matéria-prima o aço reciclado. A previsão é de que as operações sejam

iniciadas ainda em 2009, gerando 4,3 mil empregos diretos e indiretos.

Esse polo siderúrgico fará com que o ERJ emerja como local privilegiado das

decisões sobre a indústria siderúrgica nacional. Também propiciará maior equilíbrio entre os

extremos Norte-Sul fluminenses no que tange à atração de investimentos e de migrantes

qualificados e com pouca qualificação.

5.5.4 Rio de Janeiro – centro decisório da indústria do petróleo

A cidade do Rio de Janeiro abriga as principais empresas e instituições que

determinam os rumos estratégicos da indústria de petróleo e gás no Brasil. Dois fatores

corroboraram essa configuração: 1) a permanência da sede da Petrobras mesmo após a perda

da capitalidade nacional; e 2) a volumosa produção emergente da Bacia de Campos desde as

décadas de 1980 e 1990.

Na segunda metade da década de 1990, a nova legislação impôs a criação da

Agência Nacional de Petróleo e Biocombustíveis, que, devido aos fatores mencionados,

também foi alocada nessa cidade. Essa agência é uma estrutura legal determinada pela Lei do

Petróleo, que concede a ela o poder de regular e fiscalizar todas as atividades da cadeia

produtiva de petróleo e gás, desde a definição e o leilão dos blocos a serem explorados na

forma de concessão até a fiscalização da distribuição dos derivados petrolíferos, como os

postos de gasolina.

Além dos órgãos estatais, a cidade do Rio de Janeiro abriga as organizações de

representação do setor privado. O Instituto Brasileiro do Petróleo e Biocombustíveis (IBP) é

uma organização privada sem fins econômicos com 51 anos151 de atuação e 194 empresas

associadas com os seguintes objetivos: melhoria do ambiente regulatório; representação da

indústria; disseminação de informações da indústria; promoção do desenvolvimento técnico;

defesa do meio ambiente, segurança e responsabilidade social (IBP, 2009).

151 No momento de sua fundação, possuía a denominação de Instituto Brasileiro do Petróleo.

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218

Após a Lei do Petróleo, as instituições representativas da indústria nacional

sentiram a necessidade da criação de uma instituição que buscasse a ampliação do

fornecimento nacional para a cadeia petrolífera, pois todos esperavam a chegada dos

principais players mundiais do setor em pouco tempo. É nesse cenário que a Organização

Nacional da Indústria do Petróleo (Onip)152 é criada. Uma instituição de âmbito nacional

que tem por finalidade principal atuar como fórum de articulação e cooperação entre as companhias de exploração, produção, refino, processamento, transporte e distribuição de petróleo e derivados, empresas fornecedoras de bens e serviços do setor petrolífero, organismos governamentais e agências de fomento, de forma a contribuir para o aumento da competitividade global do setor (Onip, 2009).

Como exposto anteriormente, a sede da Petrobras (corporativa) propiciou à cidade

do Rio de Janeiro o estabelecimento de diversos técnicos e engenheiros, bem como as

parcerias realizadas no desenvolvimento tecnológico com a UFRJ e a PUC/Rio. Atualmente,

o edifício sede (Edise) dessa companhia é o símbolo da indústria do petróleo no país.

Entretanto, com o crescimento das atividades do setor e do número de trabalhadores, foi

necessário ampliar as instalações através do aluguel de edifícios nas imediações da Avenida

Chile.

A Petrobras obrigou-se a desenvolver tecnologias que se adaptassem às condições

da exploração e produção no Brasil. Além disso, necessitava tornar-se independente das

empresas estrangeiras para traçar um caminho próprio. Por isso, logo após a sua criação em

1954, criou o Centro de Aperfeiçoamento e Pesquisas de Petróleo (Cenap) com o objetivo de

formar quadros técnicos especializados através de cursos de formação, treinamento e

aperfeiçoamento nos diversos elos da cadeia petrolífera, e adaptar as tecnologias estrangeiras

às condições geológicas, ambientais, mercadológicas e das matérias-primas da atividade no

Brasil.

152 “Missão da ONIP – Maximizar o conteúdo local no fornecimento de bens e serviços, com base em uma cooperação competitiva, garantindo ampla igualdade de oportunidades para o fornecedor nacional, ampliando a geração de renda e emprego no País. Objetivo – Maximizar o conteúdo local no fornecimento de bens e serviços, garantindo ampla igualdade de oportunidades para o fornecedor nacional. Focos de atuação estratégica – Orientação para redução de custos em toda a cadeia produtiva do setor de petróleo; aumento da competitividade dos fornecedores nacionais de bens e serviços; contribuição para a definição de políticas industriais orientadas para o setor de óleo e gás. Modos de atuação – Promover a interação de fornecedores locais com as companhias petrolíferas; manter e participar de fóruns de debates sobre temas impactantes para o desenvolvimento da indústria petrolífera brasileira; promover a realização de parcerias entre fornecedores nacionais e estrangeiros; contribuir para a eliminação de barreiras ao pleno desenvolvimento da indústria local de bens e serviços. Fatores críticos de sucesso – Reconhecimento da Onip como a instituição mobilizadora do setor de óleo e gás; controle da apuração e certificação do conteúdo nacional” (ONIP, 2009).

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219

Em 1966, o Cenap virou o Cenpes, e em 1973 foi instalado na Ilha do Fundão, em

terreno cedido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Hoje, a cada US$ 1

investido em pesquisas no Cenpes, a Petrobras tem o retorno entre US$ 5 e US$ 8.

Em abril de 2006, a Petrobras iniciou a triplicação das instalações do Cenpes. Ele

se tornará o maior centro de pesquisa da América Latina, ocupando uma área de 183 mil m²

na qual abrigará escritórios e 66 laboratórios para 1.500 trabalhadores. Abrigará, ainda, o

Centro de Realidade Virtual (CRV) para o desenvolvimento de pesquisas e projetos com

simulação tridimensional e o Centro Integrado de Processamento de Dados (CIPD), que

concentrará os cinco CPDs da companhia espalhados pela cidade do Rio de Janeiro (Revista

Petrobras, 2008).

A ampliação do Cenpes e a intensificação das parcerias realizadas com a UFRJ

atraíram a instalação do centro de pesquisas das empresas Baker Hugues e Schlumberger

também para a Ilha do Fundão. Essas empresas atuam no segmento de serviços de perfuração,

por isso pretendem desenvolver tecnologia para as atividades na camada do Pré-sal. Assim, a

cidade do Rio de Janeiro consolida cada vez mais sua posição de vanguarda na pesquisa

tecnológica para o desenvolvimento da indústria de petróleo e gás natural.

Outro elemento importante é o fato de ser sede das principais instituições, da

Petrobras, das universidades e dos centros de pesquisa que atuam no setor, o que fez com que

essa cidade fosse escolhida por quase todas as empresas petrolíferas com operações no Brasil

para instalação de suas sedes no País. Consequentemente, como também não poderia deixar

de ser, no Centro de Exposições Rio Centro realiza-se de dois em dois anos a principal feira

de petróleo da América Latina, a Rio Oil & Gas.

5.5.5 Comperj e Reduc – Rio no cenário petroquímico

Atualmente, a indústria mundial de refino de petróleo enfrenta diferentes desafios

em termos de qualidade e quantidade dos insumos e produtos. Dois deles se destacam: o

primeiro é a integração do refino com a petroquímica para agregar valor ao óleo cru e garantir

mercado para os produtos nobres do refino; o segundo é o aumento da complexidade

tecnológica das refinarias para dar resposta às exigências de produtos menos impactantes ao

meio ambiente (BRANCO; SZKLO & GOMES, 2008).

A Petrobras passou quase três décadas sem construir nenhuma refinaria no Brasil.

Isso ocorreu porque havia uma capacidade excedente de refino no mundo que empurrou a

rentabilidade das refinarias para baixo. Desde a inauguração da Refinaria Henrique Lage, em

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São José dos Campos/SP (1983), essa companhia investiu somente em ampliação e

modernização das unidades existentes para aumentar a capacidade instalada de processamento

de 1,1 milhão de barris por dia para 1,9 milhão153.

Esse cenário começou a se transformar com os primeiros sinais de

estrangulamento da oferta de diesel e petroquímicos com o aquecimento da economia

nacional nos últimos anos e as recentes descobertas da camada do Pré-sal. Agora, prepara a

construção de quatro unidades de refino, a transformação de um polo de tratamento de óleo

em refinaria (Rio Grande do Norte) e a continuação do processo de modernização das

refinarias instaladas. Prevê-se que em 2014 a capacidade instalada aumente em 1,25 milhão

de barris de petróleo por dia com investimentos de aproximadamente US$ 40 bilhões. O

principal objetivo desses investimentos é aumentar o valor agregado das exportações através

do embarque de produtos petroquímicos em vez do óleo cru.

As quatro novas unidades de refino e a adptação do polo de tratamento de óleo

que configuram os principais investimentos são:

1) Refinaria Premium I – Maranhão – refinaria voltada à exportação com previsão de

operação em 2013 e capacidade de processar 600 mil barris/dia. O valor do seu investimento

ainda não foi definido;

2) Refinaria Premium II – Ceará – refinaria também voltada à exportação com investimento

de US$ 14 bilhões e previsão de operação em 2014 para processar 300 mil barris/dia;

3) Polo de Tratamento de Óleo – Rio Grande do Norte – adaptação da planta de tratamento

para refinaria com previsão de início das operações em 2010 para processar 300 mil barris/dia

e investimento de US$ 190 milhões;

4) Refinaria Abreu e Lima – Pernambuco – refinaria voltada à produção de diesel para

abastecer o mercado interno com previsão de investimentos de US$ 4,05 bilhões em parceria

com a estatal venezuelana PDVSA, capacidade de processamento de 200 mil barris/dia e

previsão para iniciar as operações em 2010; e

5) Comperj – Rio de Janeiro – refinaria petroquímica com previsão de iniciar as operações em

2013, investimentos de US$ 8,4 bilhões e capacidade de processar 150 mil barris/dia do óleo

pesado da Bacia de Campos.

153 Atualmente, o parque nacional de refino é formado pelas seguintes refinarias: Refinaria Isaac Sabbá (Reman) – Manaus/AM; Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar) – Araucária/PR; Refinaria Gabriel Passos (Regap) – Betim/MG; Refinaria Alberto Pasqualini (Refap) – Canoas/RS; Refinaria Henrique Lage (São José dos Campos/SP); Refinaria de Paulínia (Replan) – Paulínia/SP; Refinaria de Duque de Caxias (Reduc) – Duque de Caxias/RJ; Refinaria Presidente Bernardes (RPBC) – Cubatão/SP; Fábrica de Lubrificantes e Derivados do Nordeste (Lubnor) – Fortaleza/CE; Refinaria Landulpho Alves (RLAM) – São Francisco do Conde/BA; Refinaria de Capuava (Recap) – Mauá/SP.

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221

Devido aos objetivos deste trabalho, falaremos mais detalhadamente dos

investimentos no Comperj e na Reduc.

O Comperj se constituirá em uma unidade petroquímica de refino de primeira

geração denominada de Unidade de Petroquímicos Básicos (UPB), capaz de processar 150

mil barris de petróleo pesado oriundos do Campo de Marlim na Bacia de Campos para a

produção de eteno, benzeno, p-xileno e propeno, com perspectiva de comercialização de 40%

para o mercado externo. Também haverá um conjunto de unidades de segunda geração que

funcionarão de forma integrada denominada de Unidade de Petroquímicos Associados (UPA),

uma Central de Utilidades (Util), que será responsável pelo fornecimento de água, vapor e

energia elétrica, uma Central de Escoamento de Produtos Líquidos (CEPL) localizada em

Itaboraí, e um Centro de Integração, sendo os dois últimos localizados no muncípio de São

Gonçalo. Os investimentos previstos são de US$ 8,4 bilhões com o horizonte de início da

produção para 2015 e estimativa de faturamento de US$ 5,8 bilhões anuais (Firjan, 2008c).

Segundo o estudo “Comperj – Potencial de Desenvolvimento Produtivo”

elaborado pela Firjan,

as atividades passíveis de serem induzidas compõem uma gama variada, dentre as quais destacam-se a implantação de indústrias consumidoras de insumos petroquímicos básicos produzidos pela UPB, indústrias consumidoras de resinas termoplásticas produzidas pelas UPAs, indústrias consumidoras intermediárias de produtos de material plástico, atividades de apoio ao Comperj e às indústrias criadas a jusante na cadeia produtiva e atividades associadas aos efeitos induzidos pela renda (salários, lucros, impostos, etc.) gerada pelos empreendimentos (efeito-renda) (Firjan, 2008c: 3).

Esse empreendimento ocupará uma área de 45 milhões de m² nos municípios de

Itaboraí e São Gonçalo. Para a escolha desses municípios, contribuíram: o posicionamento

estratégico em relação ao aspecto logístico devido à proximidade com o porto de Itaguaí, com

os terminais de Angra dos Reis, com as ilhas D´Água e Redonda, na Baía da Guanabara, e

com o Arco Metropolitano. Além disso, há possibilidade de sinergias com a Reduc, com as

plantas da Rio Polímeros e com o Cenpes.

O referido estudo elaborou uma estimativa a partir de dois cenários. O mais

conservador sinaliza o potencial de instalação de 362 novas indústrias do setor de material

plástico no ERJ com geração de 15 mil empregos diretos, investimentos de aproximadamente

R$ 900 milhões e faturamento anual de R$ 2,4 bilhões, sendo gerado por 90% de micro e

pequenas empresas. No cenário otimista, todos esses números dobram. Em termos de

distribuição geográfica, aplicou-se modelo próprio no qual se definiram a Região de

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222

Influência Direta, que congrega sete municípios (Cachoeira de Macacu, Guapimirim, Itaboraí,

Magé, Rio Bonito, São Gonçalo e Tanguá) e a Região de Influência Ampliada, formada

também por sete municípios (Casimiro de Abreu, Duque de Caxias, Maricá, Niterói, Nova

Friburgo, Petrópolis, Rio de Janeiro, Saquarema, Silva Jardim, Teresópolis, Belford Roxo,

Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu, Queimados e São João de Meriti)154.

FIGURA 16

COMPERJ – ÁREAS DE INFLUÊNCIA

Fonte: elaboração própria a partir da FGV.

O estudo aponta, também, os prováveis impactos econômicos nas fases de

implantação e operação do empreendimento e das indústrias que serão atraídas por ele. Para o

triênio 2010-2012, portanto na fase de implantação, calcula-se que o valor adicionado gerado

para a economia brasileira seja de R$ 1,6 bilhão anuais, sendo 44% desse total realizado no

ERJ. Na fase de operação, estima-se pelo cenário conservador da pesquisa uma geração de R$

154 “O modelo utilizado para gerar a distribuição geográfica considera como fatores de sinalização na decisão locacional das indústrias as seguintes variáveis: (i) infraestrutura disponível em cada município, mensurada nas categorias de logística de suprimento e escoamento (custos logísticos de transporte e integração ao Arco Metropolitano), disponibilidade de energia elétrica e de telecomunicações; (ii) recursos físicos e humanos disponíveis (disponibilidade de áreas, restrições ambientais e disponibilidade de mão de obra – mensurada a partir do nível educacional e da cultura industrial de cada município); e (iii) importância estratégica do Comperj para o município. Os resultados do modelo apontam que 46% das novas indústrias do setor de plásticos deverão se instalar na Região de Influência Direta, indicando também grande potencial de concentração nos municípios de Duque de Caxias (13,5%), Nova Iguaçu (9,0%) e Queimados (8,8%), os quais fazem parte da Região Ampliada” (Firjan, 2008c: 3-4).

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223

11,6 bilhões do valor adicionado, sendo 84% gerado no ERJ, especificamente 54% desse total

na Região de Influência Ampliada e 42% na Região de Influência Direta.

Em relação à geração de empregos durante a fase de implantação, espera-se um

pico no término da etapa da construção civil em 2011 próximo de 173 mil trabalhadores

considerando os postos de trabalho diretos, indiretos e os decorrentes do efeito-renda. Durante

a fase de operação (pós-2015), espera-se a geração de 117 mil empregos sustentados pelas

empresas do setor plástico (terceira geração) que se estabelecerão ao redor do

empreendimento, sendo 41 mil na Região de Influência Direta. Porém, ressalta-se que, ao

término da etapa de construção civil da fase de implantação (2012-2014), ocorrerá uma queda

significativa no número de postos de trabalho, pois as indústrias de material plástico ainda

estariam iniciando seu processo de implantação. O segmento de construção civil

tradicionalmente potencializa a criação de áreas empobrecidas, porque atrai trabalhadores de

baixa qualificação que, ao término da etapa de implantação, são dispensados, gerando áreas

degradadas com habitações precárias.

O estudo aponta, ainda, a necessidade de realizar ações que mitiguem os impactos

gerados pelo desenvolvimento das forças produtivas que se acelerará no território de Itaboraí

e no seu entorno. A indicação é aprofundar a competitividade do ERJ na atração de

investimentos, nesse caso as indústrias do setor de plásticos. Nessa direção, recomenda-se,

ainda, adensar a cadeia produtiva, melhorar a infraestrutura e a política de incentivos,

capacitar a força de trabalho, disseminar o empreendedorismo e promover a desconcentração

industrial.

No que tange aos principais impactos sobre Macaé e os municípios no seu entorno

está a saturação da BR-101, que possui perspectiva de duplicação somente em 2022, e a

disputa por investimentos relacionados às atividades da cadeia produtiva de petróleo e gás

natural e por profissionais mais qualificados.

Outro importante investimento do setor de refino no ERJ é a ampliação das

instalações da Reduc155. Atualmente, ela processa aproximadamente 242 mil barris diários de

petróleo, configurando-se em uma das maiores e mais complexas refinarias do país. Desde

2008, passa por processo de ampliação e modernização com investimento da ordem de US$ 1

155 “Resumo histórico: a mais completa refinaria do sistema Petrobras foi inaugurada, em 1961, com apenas seis unidades, além da casa de força. No início da década de 70, recebeu a primeira planta de lubrificantes. Em 1979, já estava em funcionamento o segundo conjunto de lubrificantes e parafinas, com seis novas unidades. A década de 80 marcou a chegada do gás natural. Já na última década do século passado, foram instaladas as unidades com foco na qualidade e diversificação dos produtos e de proteção ao meio ambiente, como a unidade de hidrotratamento de QAV e diesel e outra para a recuperação de enxofre. O processo de modernização contínua é que permite que a Reduc comercialize hoje uma linha de 52 produtos” (Petrobras, 2009).

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bilhão e contribuição de R$ 1,2 bilhão anual em impostos, ampliando sua importância na

economia do ERJ.

Esse processo de ampliação está previsto para terminar em 2012, o que elevará a

Reduc a um novo patamar de rentabilidade e tecnologia no grupo Petrobras. Nessa ampliação

estão previstos: o aumento da carga da Unidade de Craqueamento Catalítico – unidade

produtora de gasolina e GLP; adaptação metalúrgica da Unidade de Destilação para Produção

de Derivados Combustíveis que permitirá o processamento de mais carga do petróleo mais

pesado da Bacia de Campos; a instalação de uma nova caldeira para ampliar a produção de

vapor e as obras de implantação do Plangás (Plano de Antecipação da Produção de Gás).

Na cidade do Rio de Janeiro ainda há a planta da Refinaria de Manguinhos, que

foi inviabilizada pelo alto preço do barril do Petróleo nos últimos anos. Os proprietários

chegaram a arrendar parte da planta para a produção de biocombustíveis, mas o negócio não

prosperou. A queda no preço do barril reanimou as expectativas em relação à refinaria, e em

dezembro/2008 a empresa Grandflorum a adquiriu do grupo Peixoto de Castro e da Repsol

com promessa de realizar os primeiros investimentos na recuperação das instalações.

5.5.6 Macaé – reconfiguração da centralidade

Ainda que as atenções dos investidores e da indústria petrolífera estejam voltadas

para as descobertas da camada do Pré-sal na Bacia de Santos, a Bacia de Campos continuará

sendo o coração da atividade no Brasil com aproximadamente 84% da produção nacional. Ela

caminha forte para 32 anos de produção pujante.

O Plano de Negócios (2009-2013) da Petrobras destinará US$ 39,4 bilhões para as

atividades na BC, sendo US$ 37,4 bilhões para o desenvolvimento da produção, visto que há

19 campos nessa fase, e US$ 2 bilhões em projetos exploratórios. Esses recursos serão

destinados aos projetos de produção implantados e a implantar em 2009. Dos cinco grandes

projetos de produção no Brasil, dois pertencem ao Campo de Marlim Sul, um ao Campo de

Frade e outro no Parque das Conchas, ou seja, quatro pertencem à BC. Até 2013, mais oito

grandes projetos serão instalados: três no Parque das Baleias, mais um em Marlim Sul, dois

em Roncador e outros dois no Campo de Papa-Terra. Esses projetos contribuirão para a

manutenção da primazia produtiva da BC em relação às outras bacias, pois até 2013

responderão em média por 80% da produção de petróleo e 38% da produção de gás natural do

país. Para 2009, a estimativa é alcançar a produção de 1,75 milhão de barris e 34,4 milhões de

m³ de gás natural por dia. O objetivo é chegar em 2013 com 2,067 milhões de barris e 35,2

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milhões de m³ de gás, agregando uma média anual de 50 poços produtores aos 450 atuais

(Macaé Offshore, 2009).

O Capítulo 4 deste trabalho detalhou aspectos relacionados ao desenvolvimento

da produção de petróleo e gás natural na BC. Interessa discutir, aqui, a permanência da

centralidade exercida por Macaé a partir das operações de apoio à atividade de exploração e

produção offshore, mas agora reconfigurada por dois movimentos: o primeiro diz respeito aos

diversos investimentos anunciados e em andamento ligados à indústria de P&G ao longo do

litoral do ERJ; o segundo, o chamado “transbordamento da bacia”, através de investimentos

ligados à cadeia produtiva de P&G que se estabelecem fora do município de Macaé, por

exemplo, em Rio das Ostras, Campos e São João da Barra, mas ainda no território da BC.

Em relação à centralidade de Macaé construída a partir das instalações da

principal base de operações da indústria offshore no Brasil, apontamos sua permanência, mas

indicamos uma reconfiguração em andamento dessa centralidade, como indicamos acima.

Para alcançar a meta de produção de 3,655 milhões de barris em 2013 e 5,729 milhões em

2020, será necessário ampliar os investimentos em exploração e produção para atingir um

crescimento médio anual da produção de 8,8%. Assim, do total dos investimentos anunciados

(US$ 174,4 bilhões), 59% (US$ 104,4 bilhões) serão direcionados a essas atividades divididos

em US$ 17 bilhões para a exploração e US$ 87,6 bilhões para a produção. Para confirmar a

prioridade em relação às atividades de E&P, foram anunciados US$ 47,9 bilhões em novos

projetos, sendo 76,4% ou US$ 36,6 bilhões para o E&P.

Alem dos 55 campos em produção na BC, a Petrobras e as outras empresas têm o

desafio de desenvolver a produção dos 19 campos que ainda estão em fase de

desenvolvimento. Para isso, em 2008 entraram em operação a plataforma P-53156, no Campo

de Marlim Leste, e o projeto de Siri 1; em 2009 entrarão em produção a P-51157, também em

Marlim Leste, e os projetos dos campos de Frade e Parque das Conchas; em 2010 será a vez

dos campos de Cachalote, Baleia Branca e Baleia Anã; em 2011 as plataformas P-57158 e P-56

entrarão em operação nos campos de Jubarte e Marlim Sul respectivamente; e em 2013 as

156 Sua construção terminou em 28 de agosto de 2008 quando deslocou-se para a Bacia de Campos. Sua propriedade é do banco ABN AMRO Real, que arrendou a plataforma por 25 anos para a Petrobras. 157 A P-51 foi construída pelo consórcio FSTP (KeppelFells e Tecnhip) nas cidades de Niterói, Rio de Janeiro, Itaguaí e Angra dos Reis. Em abril/2008 houve a integração dos módulos com o casco (deck mating). Essa é a primeira plataforma submersível totalmente construída no Brasil, com capacidade de processar 180 mil barris de petróleo e seis milhões de m³ de gás por dia. 158 Em fevereiro/2008, a Petrobras assinou contrato com a empresa SBM para construção dessa plataforma no prazo de três anos com valor de contrato para US$ 1,195 bilhão. A construção de parte dos módulos e a integração deles ao casco acontecerá no estaleiro Brasfels, em Angra dos Reis.

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226

plataformas P-62159 e P-55160, no Campo de Roncador, e P-61 e P-63 no Campo de Papa

Terra.

O atual número de plataformas operando na BC (45) crescerá muito nos próximos

anos para atender à expectativa de aumento da produção. Sendo assim, a demanda por bens e

serviços ofertados pela cadeia de suprimentos em Macaé e no entorno receberá novo input,

pois, como visto anteriormente, o parque de fornecedores instalado especializou-se na

prestação de serviços de apoio à exploração e produção no mar, ou seja, quanto maior o

número de plataformas, maior a demanda por serviços oferecidos a partir de Macaé.

Nesse sentido, apontamos que a BC continuará sendo o coração da produção

petrolífera nacional e, por isso, exercendo a centralidade característica dessa posição.

Entretanto, vislumbramos a necessidade de reposicionamento estratégico dos municípios da

BC, principalmente de Macaé, pois vemos a diminuição da intensidade dessa centralidade

devido aos investimentos que ocorrerão em outras regiões do ERJ.

5.5.7 Complexo Portuário do Açu – nova centralidade na Bacia de Campos

A região mais ao norte da BC começa a ser impactada pelo que denominamos de

“transbordamento da bacia” devido à implantação das duas fábricas de tubos revestidos da

alemã Schulz Gmbh, do início da construção da terceira e do anúncio da quarta fábrica no

município de Campos dos Goytacazes. Além dessas, há a instalação da fábrica de

medicamentos da indiana Celofarm e de outras pequenas indústrias induzidas pelo Fundecam.

O município de São João da Barra, com população de aproximadamente 35 mil

habitantes e tendo como principais atividades econômicas a pesca e a agricultura, foi

escolhido para sediar um dos principais investimentos da iniciativa privada no país, o

Complexo Portuário do Açu – empreendimento do segmento de infraestrutura de logística

portuária da empresa LLX Logística S.A.161 do grupo EBX e da mineradora inglesa Anglo

American. Esse projeto prevê a construção de um terminal portuário, de uma usina de

pelotização de minério de ferro para exportação à China e alguns píeres offshore para

operações de apoio às plataformas na porção norte da BC com capacidade de receber navios 159 A P-62 será cópia da P-54 para diminuir o tempo e o custo da construção. A integração dos módulos ao casco será realizada pelo estaleiro Mauá, em Niterói. Após a integração dos módulos ao casco, a plataforma será instalada no Campo de Roncador, na Bacia de Campos. 160 A etapa de integração dos módulos – última da licitação – terminou em agosto/2008 com a vitória do consórcio Quip, formado pela construtora Queiroz Galvão, UTC Engenharia e o Grupo Iesa, ao custo de US$ 1,882 bilhão e ocorrerá no dique seco da cidade de Rio Grande/RS.

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de grande porte nos berços de atracação. Esse complexo é parte integrante do Projeto Sistema

Minas-Rio, um projeto maior da empresa MMX (também do grupo EBX) que prevê a

construção de uma usina de extração de minério de ferro no município de Alvorada/MG com

capacidade de produção estimada em 26,5 milhões de toneladas ao ano e o maior mineroduto

do mundo para transporte dessa produção de 525km até o terminal portuário do Açu, cortando

32 municípios. Esse sistema também poderá viabilizar um novo corredor de exportação das

regiões Centro-Oeste e Sudeste pelo litoral fluminense.

A partir de 2011, o porto do Açu terá capacidade de movimentar 11,5 milhões de

toneladas de carvão para atender à demanda das empresas siderúrgicas que estima-se que se

estabelecerão na sua área de influência, pois se espera que os navios retornem com carvão

mineral da China. Esse porto terá, ainda, um terminal de carga geral para movimentar

contêineres, granito e produtos siderúrgicos; um terminal de granel líquido para atender às

exportações de etanol (a cultura da cana-de-açúcar ainda é forte na região), derivados de

petróleo e gás natural liquefeito (GNL) com capacidade de quatro milhões de m³ anuais; dois

berços de atracação para apoio à logística offshore com capacidadee de 1,2 mil atracações e

movimentação de 90 mil toneladas anuais por ano, além de área para armazenagem de fluidos

utilizados na perfuração dos poços de petróleo. Poderá, ainda, ser utilizado pela Petrobras

para escoamento da produção de petróleo da BC.

O complexo contará, também, com uma planta termelétrica para abastecimento

energético próprio e uma retroárea de 6,9 mil hectares projetada para abrigar diferentes

segmentos econômicos, tais como: plantas siderúrgicas, termelétrica, unidades de

gaseificação, indústria automotiva, polo metal-mecânico, refinaria, estruturas de

armazenagem e logística, principalmente empresas prestadoras de serviços às atividades

offshore na Bacia de Campos.

A primeira fase do Sistema MMX Minas-Rio consiste nas construções da usina de

pelotização e do terminal portuário, as quais receberão investimentos da ordem de US$ 2,5

bilhões, que gerarão 1,3 mil empregos diretos e 3,8 mil indiretos na fase de construção, e 600

diretos e 1,8 mil indiretos na fase de operação. Segundo o cronograma de implantação, as

obras tiveram início em setembro/2007, e o sistema começará a operar em janeiro de 2012.

Alguns anúncios de investimentos na retroárea do complexo portuário começam a

surgir. No primeiro semestre de 2009, o grupo chinês Wuhan Iron & Steel (Wisco) divulgou a

intenção de construir uma siderúrgica com objetivo de suprir parte da demanda que as

161 Este grupo atua nesse empreendimento através das subsidiárias LLX Porto do Açu Ltda. (LLX Açu) e LLX Minas-Rio Logística Ltda (LLX Minas Rio).

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228

atividades na camada de Pré-sal exigirão no futuro próximo. Somente esse empreendimento

geraria 20 mil empregos em um município com menos de 40 mil habitantes. Também o grupo

indiano Tata Motors já havia demonstrado interesse em instalar uma montadora de

automóveis na área do complexo, e o grupo ítalo-argentino Techint interessou-se em construir

uma siderúrgica para atender à demanda da indústria petrolífera no país162.

Como em todo lugar onde as forças produtivas do capitalismo põem-se em forte

desenvolvimento, algumas questões são colocadas, como o aumento da especulação

imobiliária, a forte migração no período da construção civil do empreendimento, o abandono

de grande contingente de trabalhadores menos qualificados que poderá gerar novos bolsões de

pobreza, degradação urbana e ambiental, forte pressão sobre os serviços públicos, etc.

5.5.8 Bacia do Espírito Santo – gás para o Brasil

A economia capixaba passou por um novo ciclo econômico a partir da década de

1960 quando o estado passou a ser base de exportação de diversas grandes empresas, como a

Companhia Siderúrgica de Tubarão, a Aracruz Celulose, a Vale e a Samarco. Atualmente, o

Espírito Santo vivencia um novo ciclo econômico a partir do desenvolvimento da indústria

petrolífera. Apesar da badalação da produção do Pré-sal na Bacia de Santos, foi na porção

capixaba da Bacia de Campos que houve a primeira produção comercial de óleo dessa

camada.

Em 2006, essa unidade federativa tornou-se a segunda província petrolífera do

país em relação à produção de petróleo, somente atrás do ERJ. As concessões da ANP no

estado estão situadas na porção norte da Bacia de Campos, na Bacia do Espírito Santo, na

Bacia do São Francisco e na Bacia do Mucuri. Especificamente na Bacia do Espírito Santo há

características peculiares em relação à diversidade de sua produção: produz óleo pesado e

leve, gás associado ao óleo e nãoassociado, com produção offshore e onshore – ou seja,

enquanto a produção no mar provém da porção norte da Bacia de Campos, que se estende até

o litoral capixaba, e da própria bacia sedimentar que leva o nome do estado, há também a

produção em terra mais ao norte desse estado.

162 “A partir deste mês as escolas municipais oferecem mandarim – língua falada na China – aos alunos. A estimativa é de que a população da cidade passe dos atuais 33 mil para 250 mil habitantes em 20 anos” (JB Online, 16/08/2009).

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229

A perspectiva de investimentos da Petrobras para os próximos anos (Plano de

Negócios 2009-2013) no estado é de aproximadamente R$ 34,4 bilhões, sendo R$ 6 bilhões

somente em 2009.

Conforme a Tabela 44, percebe-se que a produção offshore é ascendente ao longo

dos anos, enquanto a produção onshore declina com a maioria dos poços já tendo ultrapassado

o pico de produção.

TABELA 44

PRODUÇÃO DE PETRÓLEO – ESPÍRITO SANTO – 2000-2008

PRODUÇÃO MAR TERRA TOTAL 2000 102.836 4.723.790 4.826.625 2001 64.347 7.315.214 7.379.560 2002 1.176.019 9.285.313 10.461.332 2003 6.849.312 9.506.051 16.355.363 2004 4.561.934 7.534.047 12.095.981 2005 6.154.367 6.560.797 12.715.164 2006 17.348.421 6.317.143 23.665.565 2007 37.469.598 6.172.162 43.641.760 2008 38.138.245 5.287.213 43.725.458

Fonte: ANP (2009).

A Bacia do Espírito Santo possui 43 campos terrestres em fase de produção, sendo

41 deles operados pela Petrobras com 100% de participação. Os campos de Rio Ipiranga e

Crejoá são considerados marginais (produção declinante) e também são operados com 100%

de participação pelas empresas Koch Petróleo e Cheim Transportes respectivamente. Os

campos marinhos foram responsáveis por 87% da produção da bacia capixaba, porém, apesar

do grande volume de produção, resumem-se em apenas três: Cação, Golfinho (óleo leve) e

Peroá. Todos são operados pela Petrobras com 100% de participação.

Semelhante à Bacia de Campos, a perspectiva de aumento da produção na Bacia

do Espírito Santo para os próximos anos é promissora, pois há diversos campos em fase de

desenvolvimento da produção, ou seja, em fase de elaboração do projeto de produção e com

comercialidades decretadas. Isso se torna mais animador pela característica da maioria dos

campos dessa fase serem marítimos: Camarupim, Camarupim Norte (operado pela Petrobras

em consórcio com a El Paso com 65% de participação), Canapu, Cagoá e Carapó. Com

exceção de Camarupim Norte, todos são operados pela Petrobras também com 100% de

participação. Nessa fase estão os campos terrestres de Biguá, Jacupemba e Saíra.

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230

No que tange à fase de exploração, essa bacia também apresenta grande potencial

com 29 campos marítimos e 18 terrestres. A maioria dos campos marítimos é operada pela

Petrobras com participação de outras operadoras, e a minoria não tem participação da

Petrobras, sendo operada por outras empresas: Newfield, El Paso, Partex Brasil, Vale, Shell,

Repsol, Perenco Petróleo e Gás, OGX, ONGC Campos, Anadarko, IBV Brasil Petróleo,

Petrogal, StatoilHydro e Hess Brasil. Na exploração terrestre são 18 campos em atividade

com grande participação da Petrobras e de outras pequenas empresas desse segmento.

Mesmo com as atenções voltadas para as descobertas da camada de Pré-sal na

Bacia de Santos, a Bacia do Espírito Santo continua relevante no cenário nacional devido ao

Plano de Antecipação da Produção de Gás (Plangás). O plano da Petrobras prevê para 2012

uma oferta de 72 milhões de m³ por dia, sendo que em 2010 o Espírito Santo se tornará o

maior produtor nacional de gás natural, com produção de cerca de 20 milhões de m³ por dia.

Dentre os investimentos realizados pela Petrobras no Espírito Santo estão as

construções do porto de Ubu, para apoio às atividades offshore, a ampliação da Unidade de

Tratamento de Gás de Cacimba II e a construção da Unidade de Tratamento de Gás (UTG)

Sul Capixaba, que demandará investimentos de R$ 420 milhões, ambos no pequeno

município de Anchieta, a 70km de Vitória.

Para desenvolver mais rapidamente a produção nessa bacia, a Petrobras está

construindo uma nova sede administrativa em Vitória. Será um complexo de edifícios que

ocupará 102 mil m² ao custo aproximado de R$ 486 milhões construído pelo consórcio

Odebrecht, Hochtief do Brasil e Camargo Corrêa.

É na expectativa do rápido crescimento das atividades petrolíferas e da produção

de petróleo no Espírito Santo que traçamos o que denominamos de UM NOVO EIXO DE

INVESTIMENTOS da economia nacional.

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231

FIGURA 17

NOVO EIXO DE INVESTIMENTOS

Fonte: Elaboração própria.

5.5.9 Outros investimentos da indústria petrolífera

A previsão de 19% ao ano de crescimento da demanda por gás natural e as

constantes crises bolivianas163 que envolvem o fornecimento de gás natural para o Brasil

obrigaram a Petrobras a redirecionar seus investimentos criando o Programa de Antecipação

da Produção de Gás – Plangás. Esse programa almeja aumentar a oferta de gás natural na

região Sudeste do país através do aumento da capacidade de produção interna.

Segundo o Plano de Negócios da Petrobras (2009-2013), ela pretende investir

aproximadamente US$ 11,8 bilhões para ampliar a oferta dos atuais 30 milhões de m³/dia para

134 milhões de m³/dia, sendo 73 milhões de m³/dia provenientes do E&P, 31 milhões de

m³/dia da regaseificação do GNL importado e 30 milhões de m³/dia da Bolívia. Em 2009, essa

163 “Em abril de 1997 foi criada a Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil S.A. (TBG), responsável pelo transporte em solo brasileiro (2.593km) do GN originário do Grande Chaco (Bolívia), através do Gasoduto Brasil Bolívia (Gasbol). A Petrobras foi capaz de financiar o GASBOL, investindo cerca de US$ 2 bilhões por ter sido a única companhia em condições de assinar contratos de take-or-pay e ship-or-pay que viabilizaram sua construção. A viabilização dos projetos de financiamento foi possível graças ao pagamento antecipado pela capacidade de transporte no duto de 30 milhões m³/dia, até 2019” (TEIXEIRA & FERREIRA FILHO, 2006: 82).

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companhia espera ampliar a produção para 41 milhões de m³/dia em campos localizados em

três bacias sedimentares da região Sudeste, ou seja, as bacias do Espírito Santo, Campos e

Santos. Somente nessa região serão oito grandes empreendimentos de exploração e produção,

além da ampliação dos polos de processamento de gás natural de Cacimbas/ES, Cabiúnas/RJ

(Macaé) e Cubatão/SP164. Para transporte e distribuição dessa quantidade de gás serão

instalados 180km de gasodutos com a ampliação dos sistemas Campinas-Rio, Duque de

Caxias-Japeri, Cabiúnas-Duque de Caxias, Cacimbas-Vitória e Vitória-Cabiúnas.

A densidade dutoviária – relação entre quilometragem de dutos e área total – no

Brasil ainda é muito baixa quando comparada à de outros países do mundo. Os EUA, com

146 mil km de dutos, possuem uma densidade dutoviária 25 vezes maior do que a brasileira.

Esta última deverá chegar aos 12 mil km com os investimentos previstos de US$ 7 bilhões até

2011. Os principais projetos em andamento para ampliação dessa malha viária estão na

Tabela 45.

TABELA 45

PRINCIPAIS PROJETOS DE GASODUTOS

Projetos/Gasodutos Extensão Km

Investimento US$

Localização Capacidade MM m³/dia

Urucu-Coari-Manaus 725 410 milhões UPGN de Urucu até Reman 10,50 Urucu-Porto Velho 550 325 milhões UPGN de Urucu até Porto

Velho 2,35

Malha Nordeste-Gasfor II 302 154 milhões Mossoró-Pecém 3,00 Malha Nordeste-Nordestão II 554 311 milhões Pilar-Mossoró 8,00 Malha Nordeste-Catu-Pilar 461 306 milhões Catu-Pilar 8,00 Sudeste-Nordeste (Gasene) 1.215 985 milhões Cabiúnas (RJ)-Catú (BA) 20,00 Malha Sudeste (inclui Campinas-Rio)

453 288 milhões UPGN Replan em Campinas até Japeri (RJ)

5,80

Fonte: TEIXEIRA & FERREIRA FILHO, 2006: 83.

O consumo de gás natural no Brasil ainda é incipiente quando comparado a outros

países. Em 2006, os únicos países com consumo relevante na América do Sul são a Argentina

e a Venezuela, com aproximadamente 108 bilhões de m³ por ano. Na Europa, a Alemanha e a

Itália consomem na casa dos 80 bilhões de m³ por ano, apesar de possuírem reservas 164 “Um dos projetos que a empresa espera colocar em operação até o final de 2008 são os campos de Peroá, Golfinho, Canapu e o bloco ESS164, na Bacia do Espírito Santo. Da Bacia de Campos virá mais gás associado ao óleo produzido por novas plataformas nos campos de Roncador e Marlim Sul e na área do ESS-130 [...] Já na Bacia de Santos, a produção de gás natural chegará a 2,5 milhões de m³/dia com a interligação do Campo de Lagosta e da área SPS-25 ao sistema de Merluza. Em 2009, o Campo de Mexilhão, que terá capacidade para produzir até 15 milhões de m³/dia, entrará em produção – e no ano seguinte, será a vez dos campos de Uruguá e Tambaú [...] O projeto de GNL prevê a aquisição de duas plantas de regaseificação instaladas em navios, com capacidades de 14 milhões m³ – para a região Sudeste – e 6 milhões de m³ – na região Nordeste. As duas unidades poderão entrar em operação em janeiro de 2009” (Petro&Química, número 289, 2006: 30).

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233

inferiores às do Brasil. À guisa de comparação, os EUA – primeiro do mundo em consumo –

consomem atualmente 633 billhões de m³ por ano, mesmo suas reservas sendo da ordem das

venezuelanas (OXÍLIA & FAGÁ, 2006: 72).

Uma política de promoção do aumento do consumo de gás natural no Brasil

deverá necessariamente enfrentar alguns fatores. O primeiro é a mudança cultural dos

consumidores, que deverão efetuar um deslocamento de outros energéticos. O segundo é mais

crucial, pois deverá enfrentar a resistência de outros agentes econômicos, que perderão

mercado em virtude da competitividade desse energético.

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234

CONCLUSÃO

Este trabalho é a análise de um processo e da tentativa de antecipar os aspectos

sociais, econômicos e espaciais do seu desdobramento que aguardam verificação de algumas

de suas hipóteses. Sendo assim, é um trabalho convidativo à discussão e à reflexão.

O início das atividades de exploração e produção offshore de petróleo e gás

natural na plataforma continental da Bacia de Campos ocorreu paralelamente ao

aprofundamento da crise econômica da RMRJ e, por conseguinte, de todo o ERJ. As

atividades de perfuração se iniciaram em 1974, e as de produção em 1979, coincidindo com o

início dessa crise econômica (1980-95).

No setor de P&G, a partir da abertura do mercado de petróleo em 1997, a Agência

Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) passou a exigir um “conteúdo

local” nos projetos de investimentos a serem realizados no território nacional. Esse processo

de abertura do setor propiciou a atração de mais de uma dezena de grandes operadoras

internacionais e estimulou a formação de outras duas dezenas de empresas nacionais.

Nos últimos 30 anos, a região da Bacia de Campos recebeu investimentos para o

desenvolvimento das atividades do elo de exploração e produção offshore da cadeia produtiva

de petróleo e gás natural. Como não poderia deixar de ser, o desenvolvimento das forças

produtivas do capitalismo, através dos investimentos dessa indústria, provocaram e ainda

provocam impactos de todas as ordens: ambientais, econômicos, sociais, migratórios,

políticos, urbanos, etc. Vislumbra-se uma tendência de aprofundamento desses impactos

provenientes dos investimentos anunciados para os próximos anos, tanto no território da Bacia

de Campos quanto em outros territórios do ERJ e das Bacias do Espírito Santo e de Santos.

Além desses investimentos, outros elos dessa cadeia produtiva ao longo desse estado serão

beneficiados.

Como dito acima, a concretização desses investimentos dar-se-á ao longo de uma

grande parcela do litoral da região Sudeste. Na Bacia de Santos, ocorrerão grandes

investimentos referentes ao Programa de Antecipação da Produção de Gás (Plangás), além de

entrarem em operação alguns projetos de produção. Ao longo do território do estado do Rio

de Janeiro, diversos elos dessa cadeia serão beneficiados com parcela importante desses

investimentos: Angra dos Reis, com a construção e o reparo de plataformas e embarcações de

apoio à atividade offshore; ao redor da cidade do Rio de Janeiro teremos a expansão da

Reduc, que é segunda maior refinaria do país; a instalação de unidades fabris a partir da Rio

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Polímeros165; a triplicação do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes); e a intensificação

das atividades do Edifício Sede da Petrobras (Edise). Do outro lado da Baía de Guanabara,

consolida-se em Niterói o ressurgimento da construção naval a partir das encomendas de

construção e reparos de plataformas e barcos de apoio; tem o início das obras de instalação do

Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro em Itaboraí e São Gonçalo; Macaé e os municípios

de seu entorno receberão nova onda de impacto com o novo ciclo de investimentos dessa

indústria voltados para o aumento da produção; e o Espírito Santo já se configura como a

segunda província petrolífera do país a partir do direcionamento das atividades de E&P das

Bacias de Campos e do Espírito Santo. São esses investimentos da indústria de petróleo e gás

que se concretizarão da Bacia de Santos à Bacia do Espírito Santo, perpassando todo o litoral

do estado do Rio de Janeiro, que configuram um NOVO EIXO DE INVESTIMENTOS DO

CAPITALISMO BRASILEIRO.

Entretanto, os territórios de alguns municípios da Bacia de Campos já se

encontram bastante impactados pelo desenvolvimento dessa atividade. Espera-se um novo

recrudescimento desses impactos com o novo ciclo de investimentos que se anuncia.

Lembramos que o transbordamento de alguns desses impactos, proveniente da saturação do

território de Macaé, agora começa a atingir outros municípios dessa bacia, como a instalação

de empresas ligadas a essa cadeia fora deste município, que continuará sendo seu epicentro.

Nesse sentido, percebemos que há dois movimentos concomitantes acontecendo

em relação à permanência ou não da centralidade econômica de Macaé para a economia

fluminense e para a região da Bacia de Campos. O primeiro diz respeito aos investimentos

previstos para o ERJ, particularmente os ligados à indústria petrolífera, que trazem a questão

do deslocamento da centralidade de Macaé da importância que exerceu no processo de

retomada do crescimento econômico e, ainda, exerce para o conjunto da economia

fluminense. O segundo movimento ocorre no interior da própria Bacia de Campos, quando, a

partir da tão propalada saturação de Macaé em propiciar condições salutares para o

desenvolvimento das forças produtivas capitalistas em seu território, começa a haver um

transbordamento para os municípios circunvizinhos (principalmente Rio das Ostras,

165 “O dia 23/07/05 marcou oficialmente o início das atividades da Rio Polímeros (Riopol), localizada em Duque de Caxias. Com investimento de US$ 1,08 bilhão, o complexo, que tem capacidade de produção inicial de 540 mil toneladas, já chega ao mercado com uma carteira de 300 clientes – concentrados nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste – e com uma expectativa de faturamento de cerca de US$ 650 milhões por ano[...] Nos primeiros 10 anos de operação, a Riopol também destinará um total de 1,2 bilhão de toneladas de polietilenos para o mercado externo. Garantidas por meio de um contrato de cerca de US$ 1 bilhão com a trading norte-americana Vinmar International Ltda.” (TnPetróleo, nº 43, 2005: 39).

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Quissamã e Campos dos Goytacazes) com a instalação de empresas ligadas ao fornecimento

de bens e serviços para a indústria petrolífera, antes instalada somente nesse município.

Diante de quadro faz-se necessário um aprofundamento da discussão de uma

requalificação da centralidade de Macaé na órbita da AIZPP, do ERJ e do novo eixo de

investimentos. Esse município possui a característica singular de abrigar em seu território as

principais instalações e empresas de apoio às atividades de 80% da produção nacional de

petróleo e gás natural, e de ser uma das únicas regiões do ERJ que apresenta forte crescimento

econômico desde a segunda metade da década de 1990. Agora há, ao longo do EIXO,

diversos investimentos que serão foco de análise de investidores e do próprio poder público

no que tange à concretização de investimentos na busca de valorização do capital. No próprio

interior da AIZPP, há uma nova configuração, na qual o transbordamento propõe ao capital

condições tão ou mais vantajosas de rentabilidade em outros municípios dessa região.

É nesse sentido que apontamos uma necessidade da requalificação da centralidade

de Macaé como coração da indústria petrolífera nacional e como locus privilegiado na atração

de investimentos. Ou seja, agora há a necessidade de um novo posicionamento estratégico em

relação a esses movimentos que contribua para que esse município e a AIZPP continuem por

longo tempo a ter primazia na alocação de investimentos privados e públicos que contribuam

para a promoção do crescimento econômico.

Dessa forma, é preemente que esse município desenvolva mecanismos que

contribuam para a construção de um novo significado para a centralidade exercida por Macaé

na AIZPP e no ERJ. Significado, este, que poderá ser construído com a diversificação da

economia para além das especialidades da prestação de serviços à produção offshore e pelo

desenvolvimento tecnológico das atividades ligadas à cadeia petrolífera na região.

O desenvolvimento das atividades desse novo eixo de investimentos da economia

brasileira ancorado no rápido crescimento das atividades petrolíferas e da produção de

petróleo exigirá uma reconfiguração do posicionamento estratégico dos municípios

pertencententes à AIZPP-BC que delimitamos, principalmente de Macaé. O território deste

município se configurou nos últimos 30 anos a partir da instalação das principais bases de

produção da indústria petrolífera no país e, a partir de agora, começa e/ou começará a sofrer

com a concorrência de outras regiões pela primazia dos investimentos e das atenções do setor.

Nesse sentido, há a necessidade de novo posicionamento estratégico, pois profundos impactos

ocorrerão na dinâmica da economia petrolífera no país, no ERJ e na região da Bacia de

Campos nos próximos anos. Em relação à centralidade de Macaé na dinâmica econômica

fluminense, apontamos alguns deles:

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- perda do poder de atratividade de investimentos devido à pulverização dos investimentos da

indústria de P&G e, principalmente, com a emergência da Bacia de Santos como nova

fronteria exploratória, e a consolidação da Bacia do Espírito Santo como a maior produtora

de gás natural;

- perda da expertise no segmento de E&P, pois, agora, outras regiões começarão a

desenvolver atividades que exigirão maior grau de desenvolvimento tecnológico;

- perda da centralidade política no segmento de P&G de Macaé, pois não será o único

município da AIZPP-BC a concentrar grandes instalações e empresas de E&P;

- perda da centralidade econômica, pois deixará de ser praticamente um dos únicos

municípios com forte dinâmica econômica no ERJ;

- perda de centralidade econômica na região Norte Fluminense devido aos investimentos no

Complexo do Açu, pois deixará de ser praticamente o único motor das regiões das Baixadas

Litorâneas e Norte Fluminense.

Para o ERJ, os investimentos poderão causar os seguintes impactos:

- os investimentos do eixo estão localizados no litoral, principalmente do ERJ, e isso

certamente aumentará o fluxo migratório para essa parte do território fluminense. A

tendência é a de que se intensifique um fenômeno de “volta ao passado”, ou seja, na época

das Capitanias Hereditárias, quando o crescimento econômico estava concentrado na faixa

litorânea. Essa migração provocará degradação da infraestrutura urbana e o aumento da

pressão sobre os serviços públicos nos municípios que recepcionarão grande contingente de

trabalhadores;

- apesar da força preventiva da legislação ambiental, haverá forte impacto ambiental em

sistemas frágeis da costa fluminense, como os mangues da Baía de Guanabara pelas

instalações do Comperj, a Baía de Sepetiba tornar-se-á um novo entreposto portuário da

economia nacional e a região do Açu, em São João da Barra, será atingida por todo um

complexo portuário que prevê a instalação de uma termelétrica movida a carvão mineral

importado da China;

- o aumento do fluxo de transporte pela principal rodovia que perpassa praticamente todos os

investimentos do eixo – a BR-101 – acelerará sua degradação. Mesmo a construção do Arco

Metropolitano, que pretende diminuir o trânsito pela Ponte Rio-Niterói e pela Avenida

Brasil, ainda assim haverá forte impacto, principalmente no trecho Niterói-Campos, pois sua

duplicação está prevista somente para 2022;

- a própria Ponte Rio-Niterói presenciará o aumento do fluxo devido à proximidade das

instalações do Comperj e da ampliação das atividades no polo naval offshore de Niterói.

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Para ir ao Centro da cidade do Rio de Janeiro será necessário atravesar essa ponte, pois não

faz sentido seguir pelo Arco Metropolitano;

- alguns desses investimentos atingirão áreas densamente povoadas do ERJ, que por si só

possuem potencial de agravamento dos impactos;

- aumento dos desequilíbrios regionais devido à concentração dos investimentos na costa

deixando as regiões mais pobres do ERJ sem perspectivas de melhoria, por exemplo, o

Noroeste Fluminense.

Na Bacia de Campos, todos os impactos poderão ser agravados por alguns

elementos da dinâmica política da região:

- não há coordenação entre os municípios da região para refletirem e/ou agirem para tentar

dirimir a anunciada perda da centralidade de Macaé e da região na economia fluminense e

do petróleo;

- também não há coordenação entre os municípios e as outras esferas federativas – estado e

União – para refletirem conjuntamente sobre os impactos futuros;

- o protagonismo da discussão sobre os impactos do principal investimento desse eixo –

Comperj – está na principal investidora de toda a economia brasileira, ou seja, algumas das

diretrizes e dos caminhos que orientam a discussão são ditadas por ela;

- praticamente a Firjan tornou-se o principal órgão provedor de relatórios e estatísticas sobre

investimentos no ERJ. Com isso, há uma euforia sobre a chegada de novos investimentos,

mas pouca discussão sobre os impactos que podem causar, por exemplo, no que tange ao

desequilíbrio regional.

Queremos apontar que, diante do cenário atual, Macaé precisa se requalificar

enquanto território para continuar exercendo uma centralidade positiva para a região e para o

ERJ, mas essa terá que ser a partir de outro conteúdo, e não somente por concentrar as

instalações de apoio à produção offshore de petróleo e gás natural na Bacia de Campos.

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ANEXO I

O DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DE MACAÉ –

DE PRINCESINHA DO ATLÂNTICO À CAPITAL DO PETRÓLEO

Na Apresentação deste trabalho, apontamos que, para Gottdiener (1997), o espaço

articula duas dimensões, uma que se refere à localização geográfica e outra ao conteúdo

específico dessa localização, conteúdo, este, determinado pelas relações sociais que se

estabelecem nesse espaço conferindo-o características históricas e sociais.

Do memo modo, segundo Lefèbvre (1999), o capitalismo sobrevive como sistema

ao produzir seu próprio espaço, ou seja, uma espacialidade própria voltada ao

desenvolvimento de suas forças produtivas e de suas relações de produção. Sendo assim, o

processo de acumulação capitalista através da especialização dos lugares se apropria, controla

e domina os espaços através da imposição de comportamentos e modelos que são

direcionados à determinação de fluxos e usos para produção de novas centralidades. Assim,

para ele, a cidade é o lugar mais apropriado para o desenvolvimento do processo de

acumulação capitalista.

Seguindo esse raciocínio, podemos afirmar que a cidade de Macaé, a partir das

instalações de apoio à exploração e produção offshore de petróleo, constituiu-se como uma

nova centralidade como polo regional econômico dinâmico, articulando uma localização

geográfica devido às instalações de um porto de apoio e da base operacional da Petrobras na

Bacia de Campos, que deram origem à densa aglomeração de empresas especializadas na

prestação de serviços para o setor de Petróleo e Gás. Ou seja, por reunir em um mesmo espaço

os principais elementos necessários ao desenvolvimento das forças produtivas e das relações

sociais de produção específicas desse setor, isto é, um verdadeiro “locus privilegiado”. Por

isso, Macaé exerce uma centralidade no que concerne à indústria de P&G, pois reúne os

principais elementos para seu desenvolvimento, tais como: proximidade com os principais

campos de produção, as instalações operacionais da Petrobras, um parque de fornecedores

qualificados e especializados, um porto de apoio à produção, uma grande receita proveniente

dos royalties e das participações especiais, participação singular na geração de emprego e

renda no estado do Rio de Janeiro, e o elemento simbólico de ser considerada a “Capital do

Petróleo” no Brasil.

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251

1 BREVE HISTÓRICO

Há uma grande dificuldade de encontrar material sistematizado sobre a história

econômica do município de Macaé no século XX até a chegada da Petrobras em 1979. Por

isso, na elaboração desta parte do trabalho, recorremos a diversas fontes secundárias descritas

na bibliografia, algumas delas são destacadas aqui: Lapa (2008), Lessa (2005), Piquet (2003),

Nascimento (1999) e diversos jornais locais e sites, principalmente o da Prefeitura Municipal

de Macaé.

No início do século XVII, o interesse no povoamento de Macaé166 surge a partir

da ameaça de corsários e piratas na região em que se localiza. Com o objetivo de povoá-la e

impedir as constantes atividades de piratas franceses no litoral fluminense, o Governador-

Geral Gaspar de Souza estabeleceu quase 200 índios em uma aldeia sobre o Rio Macaé,

defronte à conhecida Ilha de Santana. Além disso, fundou também um povoamento

semelhante sobre o Rio Leripe (atual Rio das Ostras), onde os piratas e contrabandistas

cortavam a principal mercadoria da região, o pau-brasil. A colonização oficial da região

somente iniciou em 1630 quando os jesuítas ergueram a Capela de Santana, um colégio e um

engenho, que posteriormente ficou conhecido como Fazenda dos Jesuítas de Macaé167.

Apesar desses esforços de colonização, Macaé continuou desprotegida até o fim

do século XVII. Em 1725, piratas franceses instalaram-se na Ilha de Santana e a partir dela

saqueavam boa parte do litoral fluminense. Com a famosa expulsão dos jesuítas pelo Marquês

de Pombal em 1795, a localidade recebeu colonos de Cabo Frio e de Campos para ocupá-la,

sendo elevada à categoria de freguesia.

Os grandes ganhos da atividade econômica do tráfico negreiro na cidade do Rio

de Janeiro como entreposto mercantil do Atlântico Sul, a efervescente circulação mercantil

urbana propiciada pela transferência da capital de Salvador para o Rio de Janeiro e a

decadência da produtividade do açúcar no recôncavo da Guanabara possibilitaram que os

capitais oriundos dessas atividades financiassem tanto a cafeicultura fluminense no Vale do

Paraíba como a expansão da atividade açucareira no norte da província.

De sua arquitetura colonial, Macaé conserva somente a Igreja de Santana e o Forte

de Marechal Hermes, chamado de Fortaleza de Santo Antônio do Morro Feio. Há, inclusive, 166 Vocábulo indígena que significa macaba doce, por extensão, coco doce, originário da palmeira macabaíba, abundante na região até então. 167 “A Companhia de Jesus teve um papel importante na economia do Rio de Janeiro desde o século XVI [...] Em 1577 a prelazia do Rio de Janeiro foi separada da Bahia. Os jesuítas instalaram grande quantidade de engenhos

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252

uma lenda que diz haver um túnel secreto entre as duas construções que ainda hoje esconderia

um grande tesouro.

O desenvolvimento das fazendas e dos engenhos de açúcar propiciou que o

povoado fosse elevado à categoria de vila, através de Alvará de 29 de julho de 1813, sob o

nome de São João de Macaé, cujo território foi desmembrado de Santa Helena de Cabo Frio e

de São Salvador dos Campos, atuais municípios de Cabo Frio e Campos dos Goytacazes. Sua

instalação oficial deu-se em 25 de janeiro de 1814. Em 06 de maio de 1815, a freguesia de

Macaé é criada através de Alvará confirmado pelos Decretos nº 1, de 08 de maio de1892, e

1A, de 03 de junho de 1892.

No período imperial, a atual sede do município evoluiu rapidamente, favorecida

pela posição geográfica de maior acessibilidade ao Norte Fluminense devido a uma enseada,

na qual no futuro (em 1872) instalou-se o porto de Imbetiba, e de estar no meio do caminho

entre o Rio de Janeiro e Campos, passando à categoria de cidade em 15 de abril de 1846 pela

Lei Provincial nº 364. Essa posição de passagem obrigatória entre o Rio de Janeiro e Campos

propiciou que Macaé fosse sede do registro de impostos e de fiscalização de tudo que saía do

rio Paraíba do Sul em direção à capital do Império.

Com o crescimento da produção dos engenhos de açúcar de Campos168, surge a

necessidade de auxiliar o seu escoamento, pois o porto de São João da Barra já ultrapassara

sua capacidade. Inicia-se em 1872 um marco no desenvolvimento da região: a construção do

canal Campos-Macaé, atravessando restingas em um trajeto de 106 quilômetros com largura

média de 15 metros, utilizando como porto marítimo a enseada de Imbetiba169. Nascia um

importante porto para a economia fluminense, que seria palco de intensa agitação comercial

no fim do período imperial. Esse canal teve importância singular no desenvolvimento

histórico e econômico do município, pois ainda hoje é considerado o segundo canal artificial

mais longo do mundo, superado apenas pelo Canal de Suez (163 quilômetros) e superando o

Canal do Panamá (82 quilômetros).

Esse canal foi concebido em 1837 pelo engenheiro inglês John Henry Freese

como uma hidrovia para transporte do açúcar produzido em Carapebus e Quissamã até o porto

açucareiros. Engenho Velho, Engenho Novo, São Cristovão [bairros atuais da cidade do Rio de Janeiro], Macaé, Campos dos Goytacazes, Santa Cruz [idem]” (LESSA, 2005: 53). 168 “O interior fluminense é desocupado até fins do século XVIII. O açúcar fluminense antecede de muito ao surto cafeeiro. Permanece após a morte da cafeicultura e, certamente, é sua notável vitalidade histórica a principal dimensão [ainda] a ser interpretada. As planícies costeiras fluminenses que, a partir do recôncavo da Guanabara, se alargam até a região de Campos, são as zonas de ocupação histórica pelo açúcar” (LESSA, 2005: 104). 169Nessa enseada, a Petrobras instalou o porto de Imbetiba para suas operações na plataforma continental na Bacia de Campos.

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de Imbetiba. De forma complementar, serviria também para sanear e escoar a água da região

pantanosa deste último município. Em 1858, apesar de ainda não estar concluído, já era

intensamente utilizado para transporte de carga e passageiros. Foi aberto completamente à

navegação em 1861 e, em 1872, passou a ser navegado por uma embarcação a vapor chamada

“Vapor Visconde”. Logo após sua conclusão, em 1874, essa hidrovia entrou em declínio com

a inauguração da Estrada de Ferro Macaé-Campos, que oferecia maior rapidez e menor custo

de operação. A criação dessa via férrea trouxe novo impulso à economia da cidade, com as

companhias concessionárias das Estradas de Macaé, do Barão de Araruama, do ramal de

Quissamã e da Urbana de Macaé.

Durante o século XIX, a economia macaense girou em torno de atividades

econômicas primárias provenientes dos extensos canaviais das usinas de Quissamã,

Carapebus e Conceição de Macabu, até então pertencentes à Macaé, e por uma cafeicultura na

região serrana do município. Entretanto, a sede do município possuía uma vocação comercial

e marítima devido à posição geográfica entre Campos e a capital do Império possibilitada pelo

porto de Imbetiba, que chegou a ser o sexto porto mais importante do Império em volume de

exportações.

Até o início do século XX, a economia do município se fundamentava na

produção da cana-de-açúcar, do café, na pecuária e na extração do pescado. Macaé exerceu

alguma importância até esse período, pois chegou a receber diversas visitas do Imperador D.

Pedro II, passando a ser conhecida como “sala de visita do Império”.

Há uma história intrigante sobre a cidade de Macaé que talvez “explique” a

dificuldade de encontrar informações sobre a economia e a política local ao longo do século

XX até a chegada da Petrobras no final da década de 1970:

Em 1852, um lavrador e toda sua família foram barbaramente assassinados. Motta Coqueiro, apontado como culpado pelo crime, foi julgado e legalmente enforcado em praça pública, local onde hoje é o Colégio Luiz Reid. Ele dizia-se inocente e, antes de morrer, [rogou uma praga que] durante cem anos [Macaé] não teria progresso. Isso ocorreu no ano de 1855, sendo este o último enforcamento do Brasil. Muitos acreditam que sua maldição realmente funcionou, pois foi um pouco mais de cem anos depois do ocorrido que a cidade começou a crescer espantosamente, com a vinda da Petrobras para a cidade (O Debate, 13/08/08: 18).

Motta Coqueiro ficou conhecido como a “Fera de Macabu”, pois esse episódio

ocorreu em Conceição de Macabu, na época pertencente a Macaé. Após o enforcamento,

descobriu-se a inocência de Motta Coqueiro. Sabendo isso, o Imperador D.Pedro II aboliu a

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morte por enforcamento, tornando esse enforcamento o último realizado no Brasil

oficialmente.

No início do século XX, em 1910, o governador do estado do Rio de Janeiro,

Alfredo Baker, cria o município de Macaé, que já havia diversificado sua economia para as

lavouras de cana-de-açúcar, laranja, tomate, café, mandioca, banana, feijão, entre outras. A

pecuária também já se apresentava bastante desenvolvida. Durante grande parte do século

XX, a cidade de Macaé tem como principal fonte de emprego a ferrovia e as atividades de

pesca, comércio e agropecuária.

2 DE PRINCESINHA DO ATLÂNTICO À CAPITAL DO PETRÓLEO

Há um espaço da história econômica macaense a ser preenchida por estudos que

concerne ao período do século XX até a chegada da Petrobras em 1979. Não há material

sistematizado sobre esse período histórico.

Na metade da década de 1970, até o início das atividades petrolíferas na Bacia de

Campos, Macaé possuía uma característica predominantemente rural, mas com a maioria de

sua população sendo urbana (61,14%) e quase toda concentrada no distrito sede do município,

com 47,41% do total da população. A economia era baseada na agroindústria açucareira, na

bovinocultura leiteira e em pequenas e médias fábricas têxteis, além do comércio, da pesca

artesanal e de algum turismo espontâneo.

A População Economicamente Ativa (PEA) dividia-se em 78% nas atividades do

setor primário, 7% no setor secundário e 15% no terciário; por outro lado, em relação à renda,

esse posicionamento dos setores se invertia: o setor primário contribuia com 17%, o

secundário com 28% e o terciário com 50%. Nascimento (1998: 7) conclui que a

maior parte da renda é gerada em um setor onde existe pequeno número de empregados. Por outro lado, o setor primário é responsável pelo emprego de 78% da PEA, mas gera uma renda muito pequena. Estes dois pontos indicam a existência de uma grande população de baixa renda, além de desequilíbrios na distribuição da renda.

A Tabela 46 apresenta a população de Macaé dividida entre rural e urbana, e pelos

distritos que compunham o município na época. Chama atenção a presença de Carapebus e

Quissamã, que hoje são municípios emancipados de Macaé e contribuíam para o contingente

populacional170.

170 Nos dados da Tabela 30 são retiradas as populações dos distritos emancipados de Quissamã e Carapebus.

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255

TABELA 46

CENSO DEMOGRÁFICO DO MUNICÍPIO DE MACAÉ (1970)

UNIDADES ADMINISTRATIVAS

(por distritos)

TOTAL % URBANA % RURAL %

Macaé 30.970 47,41 29.293 44,85 1.677 2,57Cabiúnas 4.610 7,06 2.955 4,52 1.655 2,53Cachoeiros 2.164 3,31 468 0,72 1.690 2,59Carapebus 8.164 12,50 2.362 3,62 5.802 8,88Córrego do Ouro 2.267 3,47 749 1,15 1.518 2,32Glicério 5.021 7,69 1.179 1,81 3.842 5,88Quissamã 9.933 15,21 2.796 4,28 7.137 10,93Sana 2.195 3,36 136 0,21 2.059 3,15TOTAL 65.318 100,00 39.938 61,14 25.380 38,86

Fonte: Fundação IBGE – Censo Demográfico – 1970 (apud NASCIMENTO, 1998: 16).

Nesse período anterior à chegada da Petrobras, a indústria macaense era incipiente

e vivia um processo de retração econômica, passando de 81 estabelecimentos industriais em

1950 para 66 em 1970, ou seja, uma redução de 18,5% acompanhada de outras reduções de

31,4% no número de trabalhadores ocupados e de 29% no número de trabalhadores ligados à

produção, conforme a Tabela 47. Deve-se ressaltar que esse período é de forte

industrialização da economia nacional e da capital do ERJ, que, enquanto Distrito Federal e

depois estado da Guanabara, ainda resistia bem ao processo de degradação econômica que

começava a se intensificar com a perda da capitalidade.

TABELA 47

NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS E PESSOAL OCUPADO NO ESTADO DO

RIO E JANEIRO E NO MUNICÍPIO DE MACAÉ (1950-1970) UNIDADES

ADMINISTRATIVAS

Nº DE ESTABELECIMENTOS

VARIAÇÃO (%)

PESSOAL OCUPADO

VARIAÇÃO (%)

1950 1970 1950-70 1950

1970 1950-70

Total Ligado à produção

Total Ligado à produção

Total Ligado à produção

Estado do Rio de Janeiro

9.699 14.097 45,3 295.941 250.094 360.170 299.921 21,7 19,9

Macaé 81 66 -18,5 1.074 898 737 638 -31,4 -29,0 Fonte: Fundação IBGE – Censo Industrial – 1950 e 1970 (apud NASCIMENTO, 1998: 8).

Como exposto anteriormente, Macaé não foi a primeira escolha para a instalação

da Base de Operações da Petrobras na Bacia de Campos, pois era uma pequena cidade do

interior do ERJ com características de balneário e economia voltada para a agropecuária e a

pesca. Assim sendo, houve um desequilíbrio social e uma mudança profunda no cotidiano da

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cidade com a vinda de aproximadamente mil famílias em curto período de tempo, ou seja, as

famílias dos técnicos da Petrobras. A cidade não conseguiu absorver esse contingente e nem

oferecer infraestrutura condizente com as quais estavam habituadas, como: hospitais, escolas,

estrutura básica de saneamento, abastecimento de itens básicos e lazer. Durante a implantação

do projeto, Nascimento (1998: cap.3, ps. 2) aponta dois fatores importantes na época:

1) a rápida elevação dos preços com o aumento da demanda por bens e serviços provenientes

da chegada de grande contingente de pessoal com renda média muito superior a dos

moradores mais antigos. A oferta não conseguiu acompanhar às exigências da demanda,

pois sempre havia novos contingentes que chegavam com as descobertas de novos campos

e com o aumento da produção de petróleo. Até hoje, Macaé apresenta essa característica

de ser uma cidade inflacionada pelo crescimento constante da demanda que ainda não

arrefeceu;

2) como não poderia deixar de ser, houve um processo de segregação urbana com a

“expulsão” pela dinâmica econômica capitalista através da compra de imóveis dos antigos

moradores das áreas mais valorizadas pelos trabalhadores da Petrobras e de outras

empresas que aportavam na cidade com renda superior e muitas da vezes com subsídio

para transferirem-se para a cidade, como até hoje existe. Além disso, a infraestrutura

urbana não acompanhou as necessidades do vertiginoso crescimento populacional oriundo

da migração crescente, acarretando problemas típicos de um aglomerado urbano em

rápido crescimento.

Esse incremento populacional é menos observado no censo de 1980, quando as

atividades petrolíferas ainda estavam nos primeiros anos. Mas, a partir do censo de 1991, os

números mostram um grande crescimento de 118,75% em aproximadamente 25 anos

(1970/1996), conforme Tabela 48. No período de 1970 a 1996, a população do município de

Macaé cresceu em um ritmo muito superior ao crescimento da população do ERJ (49,05%) e

ao da própria região Norte Fluminense (38,81%), na qual está inserido.

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TABELA 48

CENSO DEMOGRÁFICO DE 1970 - 1980 - 1991

E CONTAGEM POPULACIONAL DE 1996

UNIDADES ADMINISTRATIVAS

1970 1980 1991 1996 1996/1970 em (%)

Estado do Rio de Janeiro 8.994.802 11.291.520 12.807.706 13.406.308 49,05

Região Norte Fluminense (inclui Macaé)

471.038 514.824 611.576 653.844 38,81

Município de Macaé 55.358 66.231 100.895 121.095 118,75

Fonte: Fundação IBGE – Censo Demográfico – 1970-1980-1991 e Contagem Populacional de 1996 (apud NASCIMENTO, 1998: cap. 3, ps. 5).

Nascimento (1998: cap 3, ps. 5) aponta ainda que

este crescimento é mais acentuado no período 1980/1991, período este em que o município apresenta uma taxa média geométrica de crescimento anual de 4,84% e uma taxa líquida de migração de 2,38% e uma taxa de crescimento vegetativo de 2,45%, o que nos mostra que a metade do crescimento deste período foi gerado através de migração, o que comprova que o crescimento populacional do Município foi gerado em grande parte pela consolidação do projeto da Base de Operações da Petrobras em Macaé.

Concomitantemente ao extraordinário crescimento populacional oriundo da

migração de trabalhadores qualificados e com pouca qualificação para empregarem-se nas

empresas da cadeia petrolífera em Macaé, ocorreu uma aceleração da urbanização do

município. Em 1970, a sua taxa de urbanização era de 61,1%, e em 1991 já alcançava 88,5%.

Não há dúvidas de que esse acelerado processo de urbanização seja consequência da

instalação do terminal de apoio marítimo às operações nas plataformas de petróleo da Bacia

de Campos e da chegada de diversas empresas.

Decididamente, o desenvolvimento do município e a diminuição de suas mazelas

sociais não faziam parte do escopo de preocupações da Petrobras. Essa companhia imbuiu-se

do que Raffestin (1993: 234-235) chama de visão exploracionista:

Uma vez tomada sua decisão, só tem interesse em produzir o máximo possível, sem nenhuma preocupação com o risco de esgotamento. É um comportamento autocentrado, ‘autista’ de certa forma. As únicas regulações que admite são as do mercado ou a da planificação. Enquanto os sinais de mercado forem favoráveis à exploração num lugar e num momento dados, a exploração prossegue. Os exploracionistas só recorrem praticamente a uma categoria de informação, que se pode qualificar de funcional. A informação funcional é aquela que interessa a todas as técnicas de valorização, em qualquer nível [...] É a lógica econômica clássica que consiste em privilegiar um bem presente em detrimento de um bem futuro. Nessa estratégia o que conta é o presente imediato, o futuro não sendo muito levado em conta.

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Essa empresa assumiu exclusivamente o interesse pelo crescimento da produção e

o desenvolvimento empresarial. Sua instalação e tudo o que ela significa encerram um ciclo

na história de Macaé e da região Norte Fluminense, ao mesmo tempo em que inicia outro com

dinâmica bastante diferente do anterior.

Apesar de ainda pequena até a década de 1990, a instalação da Base de Operações

da Petrobras na Bacia de Campos propiciou que Macaé desenvolvesse algumas características

positivas e negativas comuns em cidades grandes, como: aumento da oferta de empregos,

ampliação da rede bancária, desenvolvimento do comércio, atração de empresas ligadas ou

não à atividade petrolífera, congestionamentos, aumento da violência, aumento do custo de

vida, especulação imobiliária, favelização, etc.

Ao longo do século XX, Macaé teve sua história também ligada à atividade

pesqueira. Ainda hoje, a pesca representa 10% do PIB, empregando 12 mil pessoas direta e

indiretamente (oito mil pescadores são cadastrados na colônia de pesca) com uma produção

de 400 toneladas de pescado mensal. Nos anos 80, essa produção alcançava a média diária de

70 toneladas (Prefeitura de Macaé, 2005b).

Em 2004, a prefeitura de Macaé realizou uma pesquisa sobre o setor agrícola e

contabilizou 1.097 propriedades rurais, sendo 602 dessas propriedades desenvolvendo alguma

atividade agropecuária, principalmente bovinocultura, pois possui o 2º maior rebanho do ERJ,

com cerca de 98 mil cabeças. Há, ainda, uma produção leiteira diária de 50 mil litros.

A descoberta de óleo na Bacia de Campos – e a consequente implantação pela

Petrobras de uma base operacional no final da década de 70 – permitiu que Macaé

experimentasse um crescimento no número de empresas estabelecidas no município:

- de 1970 a 1983 (14 anos) – 361 empresas se estabeleceram no município;

- de 1984 a 1996 (13 anos) – 1.569 empresas; e

- entre 1997 e 2004 (oito anos) – alcançou 3.560.

Hoje, o número aproximado de empresas instaladas no município alcança 6 mil

(Prefeitura de Macaé, 2005a). Diversas dessas empresas são prestadoras de serviços

industriais para a cadeia de petróleo e gás natural, sendo muitas delas as principais empresas

de petróleo que atuam em diversas partes do mundo.

Além dessa estrutura empresarial, Macaé possui instaladas em seu território outras

instituições e estruturas importantes para o desenvolvimento do município:

- o Laboratório Nacional de Tecnologia e Exploração de Petróleo (Lenep) ligado à Uenf

com cursos de graduação, mestrado e doutorado ligados à área de Exploração e Produção

de petróleo, único do gênero da América Latina;

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- o 2º maior centro de convenções do ERJ, o Centro de Convenções Jornalista Roberto

Marinho (Macaé Centro), que abriga entre outros eventos a Feira Brasil Offshore, voltada

para esse seguimento e que recebe a cada dois anos visitantes e empresas de mais de 50

países;

- duas usinas termelétricas: a Usina Termelétrica Mário Lago, com capacidade de produzir

928 megawatts de energia diários, e a Usina Termelétrica Norte Fluminense, com

capacidade de 800 megawatts diários, que utilizam o gás natural proveniente das

plataformas marítimas;

- a Petrobras opera o porto de Imbetiba com o objetivo de apoiar as atividades nas

plataformas e embarcações;

- operado pela Infraero, há um aeroporto de embarque e desembarque de passageiros para

as plataformas e embarcações. Em pousos e decolagens de helicópteros, esse aeroporto é

um dos mais movimentados do país.

Terra (2003) faz uma análise do quociente locacional do emprego171 nos

municípios da Zona de Produção Principal da BC e aponta que, devido à aglomeração de

empresas fornecedoras da cadeia produtiva de petróleo e gás natural, Macaé tornou-se um

distrito industrial172 no segmento de exploração e produção. Aponta, ainda, que essa

aglomeração possui alguns desafios a serem enfrentados, a saber: qualificação da força de

trabalho, intensificação da capacitação das empresas locais para atender à crescente demanda

das empresas do setor e promoção da inovação e do desenvolvimento tecnológico com o

aprofundamento do intercâmbio entre universidades, laboratórios e empresas.

Com essa estrutura de apoio às operações de exploração e produção de petróleo e

gás natural na plataforma continental da Bacia de Campos, o município de Macaé torna-se

171 “Adotando-se como base o total de empregados registrados (EMP) em cada município informado pela Rais, o cálculo do QL é realizado conforme a fórmula a seguir: QL = (EMPij / EMPj) dividido por (EMPiBR / EMPBR), onde EMPij = total de empregados do setor i no município j; EMPj = total de empregados no município j; EMPiBR = total de empregados do setor i no Brasil; EMPBR = total de empregado no Brasil.

A interpretação do valor do indicador QL baseia-se numa comparação entre especializações, podendo resultar em 3 situações distintas: (i) Quando QL = 1, a especialização do município j em atividades do setor i é IDÊNTICA à especialização do

conjunto do Brasil nas atividades desse setor; (ii) Quando QL > 1, a especialização do município j em atividades do setor i é SUPERIOR à especialização do

conjunto do Brasil nas atividades desse setor; (iii) Quando QL < 1, a especialização do município j em atividades do setor i é INFERIOR à especialização do

conjunto do Brasil nas atividades desse setor” (TERRA, 2003: 292-293). 172 “O conceito de distritos industriais foi primeiramente formulado por Alfred Marshall (1842-1924) como um tipo de organização industrial que se diferencia da grande empresa pela sua forma de coordenação, pela divisão do trabalho entre as empresas que se especializavam dentro de um determinado ramo de atividade ou em atividades correlacionadas [...] Marshall ressalta a importância do nível de conhecimento dos trabalhadores para a geração do crescimento da riqueza material de um país” (TERRA, 2003: 290).

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uma verdadeira core area ou “região-chave”. Na definição de Raffestin (1993: 198), essas

áreas possibilitam a construção de centralidade-marginalidade em relação às outras áreas, pois

a marginalidade é constituída pelos municípios que estão no entorno de Macaé que sofrem a

influência de sua centralidade: a possibilidade de exercer o poder está muito ligada à posse

de energia [dinâmica] fornecida por uma região, sob as mais diversas formas, e à posse de

informações que, em todo o caso, depende de 2 fatores: da massa demográfica, que maximiza

as relações sociais, e da circulação, que maximiza as trocas de toda natureza.

O estudo realizado por Britto (2004), encomendado pelo Sebrae/RJ, para

diagnóstico das concentrações e aglomerações econômicas no ERJ parte da identificação das

relações entre firmas, entre as firmas e instituições, entre as firmas e o mercado, e das diversas

articulações entre os diversos agentes que pertencem às cadeias produtivas. O estudo partiu de

uma definição de localização espacial das atividades produtivas a partir de alguns parâmetros:

1) aumento da produtividade através da maximização dos fatores de produção;

2) expansão industrial através da desconcentração espacial da estrutura produtiva; e

3) aumento da competitividade através da introdução de inovações em produtos, processos e

nas formas de gestão.

Seguindo esses parâmetros, o estudo apontou a existência de 61 concentrações de

atividades econômicas presentes no território do ERJ. Porém, de acordo com os critérios

estabelecidos, somente 17 delas poderiam ser consideradas Arranjos Produtivos Locais

(APL)173.

Com objetivo de articular políticas públicas para estruturar e organizar esses

territórios174 específicos, o Governo do ERJ, em parceria com diversas instituições, como

Firjan e Sebrae, estabeleceu uma Câmara Especial de Gestão dos APLs.

De sua parte, o Sebrae atua em diversas regiões do País apoiando a estruturação

de territórios econômicos através da metodologia de APL, que para ele configura-se como

uma aglomeração de empresas, localizadas em um mesmo território, que apresentam especialização produtiva e mantêm algum vínculo de articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre si e com outros atores locais,

173 Os 17 APLs são: Petróleo e Gás (Macaé), Siderurgia (Volta Redonda), Petroquímico, Químico e Plástico (Duque de Caxias), Vestuário Moda Íntima (Nova Friburgo), Serviços Médicos (Campos dos Goytacazes), Vestuário (São Gonçalo), Cerâmica Vermelha (Campos dos Goytacazes) e Turismo (Região dos Lagos, Itatiaia e Resende, Rio de Janeiro e Costa Verde), Rochas Ornamentais, Automotivo, Indústria Naval, Fruticultura, Telecomunicações, Informática e Audiovisual. 174 “Existe uma Câmara Especial de Gestão dos APLs – na prática, um grupo de trabalho eleito pela Comissão Permanente das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (MPEs) do estado do Rio de Janeiro. Essa Câmara detém funções fundamentais para o projeto, como a questão das governanças locais (responsáveis pela administração local dos APLs), a promoção de capacitação de mão de obra e a implantação de novas tecnologias e de modelos de gestão. Ela é composta por diversas entidades e órgãos ligados ao fomento, como Setrab, Secti, InvesteRio, Codin, Firjan, Fecomercio, Sebrae, Banco do Brasil, CEF e Sescon” (RevNeg, nº 3, 2006: 15).

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tais com: governos, associações empresariais, instituições de crédito, ensino e pesquisa (Sebrae, 2003: 12).

Nesse sentido, a sua definição constitutiva é por excelência econômica.

Entretanto, outros elementos permeiam historicamente esses territórios, como as relações

políticas, socioeconômicas e culturais constituídas e constitutivas da sua dinâmica cotidiana.

Um dos territórios identificados como APL foi o do cluster da cadeia produtiva de

petróleo e gás da Bacia de Campos sediado em Macaé, devido à aglomeração de empresas e à

sua respectiva especialização, à importância do setor na geração de emprego e renda da região

e, principalmente, como indutor do processo de desenvolvimento industrial do ERJ através

das indústrias e serviços que contribui para a dinamização175.

Todas as instituições participantes dessa Câmara de APLs, principalmente o

Governo do ERJ, o Sebrae/RJ e a Firjan, consideram que Macaé e Rio das Ostras possuem

todas as configurações de um APL176. Essa caracterização de APL ancorada no território da

Bacia de Campos, e não somente nesses municípios, é proveniente da identidade desses e dos

municípios considerados neste trabalho como pertencentes à BC, ou seja, está ancorada na

possibilidade de construção de uma identidade comum como “municípios petrolíferos”. Como

175 “Basicamente, são eleitos 4 indicadores para caracterização de um aglomerado econômico, com potencial de ser um APL: 2) Quociente Locacional > 1 = especialização QLe = emprego no setor i no município / total de emprego no município dividido total de emprego no setor i no país / total de emprego no país QLr = remunerações do setor i no município / total de remunerações do município dividido total de remunerações do setor i no país / total de remunerações no país; 3) Índice de Relevância Setorial (RS) > 0,1% = especialização RSe = emprego do setor i no município / total de emprego do setor i no país RSr = remunerações do setor i no município / total de remunerações do setor i no país; 4) Índice de Importância Municipal (IM) > 0,1% = especialização IMe = emprego do setor i no município / total de emprego no município IMr = remunerações do setor i no município / total de remunerações no município; 5) Mínimo de Densidade – número de estabelecimentos do setor no município, estabelecido como padrão mínimo em 3.

A partir disso, o estudo pode partir para identificação entre as concentrações ou aglomerados econômicos, aqueles que mais se enquadram no conceito clássico de APL: 1) Presença de especialização (emprego e renda); 2) Nível de emprego e de estabelecimentos; 3) Dotação de recursos físicos, naturais e especializados; 4) Estrutura de governança articulada; e 5) Presença institucional: capacitação, fomento e pesquisa” (FELICÍSSIMO, 2005: 11). 176 O Sebrae/RJ desenvolveu entre 2005 e 2008 um projeto em parceria com a Petrobras denominado Projeto de Estruturação do Arranjo Produtivo Local de Petróleo, Gás e Energia da Bacia de Campos. Esse projeto contava, ainda, com os seguintes parceiros locais: Prefeitura de Macaé, Onip, Firjan, Cefet Campos, Uenf, Grupo de Empresas Prestadoras de Serviços (Geps), Viva Rio, Associação Comercial e Industrial de Macaé (Acim), CDL e a Rede Petro – Bacia de Campos. Detalhes desse projeto podem ser encontrados no site www.sigeor.sebrae.com.br.

Atualmente, o Sebrae/RJ e a Petrobras estão negociando uma renovação desse projeto que será denominado de Projeto de Consolidação do Arranjo Produtivo Local de Petróleo, Gás e Energia da Bacia de Campos.

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dito antes, compreenderemos a região “Bacia de Campos” composta pelos municípios

considerados produtores de petróleo, confrontantes com áreas descobertas e/ou em produção

e confrontantes com o mar territorial da BC no estado do Rio de Janeiro.

Os recursos provenientes dos royalties e das participações especiais, bem como

essa identidade de municípios produtores de petróleo, possibilitam a esses municípios o

desenvolvimento da capacidade de articulação para o desenvolvimento da região que promova

uma integração econômica e social que transcenda suas fronteiras administrativas. Porém,

hoje, a única estratégia de articulação existente é através da Ompetro – Organização dos

Municípios Produtores de Petróleo –, que não responde aos anseios e às necessidades dessas

localidades. Essa organização nasceu após diversas reuniões entre os prefeitos dos municípios

produtores de petróleo da Bacia de Campos e, hoje, incorpora os municípios litorâneos entre

Cabo Frio e São Francisco de Itabapoana. Possui nitidamente um caráter regionalista para

defender os interesses desses municípios em relação ao royalties e às participações especiais,

principalmente na resistência de mudança do arcabouço legal que determina os critérios de

repartição dos royalties do petróleo.

Novamente, segundo Britto (2004), a partir de Macaé e de outros municípios foi

identificado o maior Arranjo Produtivo Local do estado do Rio de Janeiro, segundo os

critérios estabelecidos de participação no emprego e na renda do segmento econômico no

território estabelecido. No que tange à organização desse APL, a Rede Petro – Bacia de

Campos177 surge como locus emblemático e espaço privilegiado de articulação entre

empresas, instituições públicas e privadas, e o poder público de Macaé, Campos dos

Goytacazes, Rio das Ostras e Quissamã, com a participação dessas prefeituras nessa rede.

A expansão dos investimentos realizados pelas empresas operadoras de petróleo

na Bacia de Campos estimulou a entrada de novos fornecedores de diversas regiões do Brasil

e do mundo na cadeia de suprimentos da BC. Esse movimento aprofundou a competição entre

177 Rede de aproximadamente 72 empresas e 20 instituições formada em 15/10/03. Possui a inovação organizacional de não constituir-se como pessoa jurídica e ancorar-se em diversos parceiros: Sebrae/RJ, Petrobras, Prefeituras, Firjan, Onip e Associação Comercial e Industrial de Macaé. As 20 instituições públicas e privadas que participam da Rede Petro-BC desempenham papel importante no provimento de oportunidades de capacitação técnica e gerencial para as empresas associadas. Além disso, contribuíram para que a Rede Petro-BC se tornasse um espaço de articulação entre o poder público, as instituições, a Petrobras e o empresariado local. As instituições que são associadas à Rede atualmente são: Associação Comercial e Industrial de Macaé (Acim), Banco do Brasil, Câmara de Dirigentes Lojistas de Macaé (CDL), Cefet/Campos (Instituto Federal Fluminense), Crea/RJ, Universidade Estácio de Sá, Firjan, Fundação Educacional de Macaé (Funemac), Grupo de Empresas Prestadoras de Serviços (Geps), Instituto Macaé de Metrologia e Tecnologia (IMMT), Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip), Petrobras, Prefeitura de Campos dos Goytacazes, Prefeitura de Macaé, Prefeitura de Quissamã, Prefeitura de Rio das Ostras, Sebrae/RJ, Senac Rio, Uenf e a ONG Viva Rio.

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263

os fornecedores locais e esses novos entrantes, potencializando esforços e iniciativas de

cooperação que promovessem a sobrevivência nesse mercado cada vez mais competitivo.

Concomitantemente, em 2004 a Petrobras passou a utilizar uma nova estratégia de

contratação de serviços para os novos investimentos e para as atividades de operação:

Em muitos projetos a empresa fornecedora é responsável por todas as etapas do projeto: engenharia, construção e montagem; sendo responsável, ainda, pela execução de diferentes atividades de forma coordenada, devendo ser capaz de integrá-las e de negociar preços com outros fornecedores, bem como de controlar a qualidade dos materiais utilizados. Em outro serviços contratados, a Petrobras fazia apenas a auditoria para constatar se os equipamentos utilizados encontravam-se de acordo com os padrões especificados (RIBEIRO NETO, 2006: 87-88).

Com esse objetivo, em outubro de 2003, a Rede Petro –Bacia de Campos (Rede

Petro-BC) surgiu com objetivo de articular iniciativas que desenvolvessem o aumento da

competitividade das empresas locais de Macaé e da região diante das crescentes exigências de

gestão e desenvolvimento tecnológico da cadeia de petróleo e gás natural. Além disso, busca,

também, a promoção de ações que identifiquem oportunidades de negócios na Bacia de

Campos e em outras regiões petrolíferas.

Nos últimos cinco anos, a credibilidade obtida pela Rede Petro-BC diante dos

atores públicos e privados da região da Bacia de Campos, como espaço privilegiado de

discussões sobre algumas questões locais e regionais, foi potencializada quando o Sebrae/RJ e

a Petrobras resolveram eleger essa estrutura de cooperação como espaço de gestão do Projeto

de Estruturação do Arranjo Produtivo Local de Petróleo, Gás e Energia da Bacia de Campos

(APL PGE-BC)178, e também quando a Petrobras a elegeu como Fórum Regional do Prominp

na Bacia de Campos179, funcionando como uma governança do APL.

178 Em 2004, durante a Feira Rio Oil & Gas, no Rio de Janeiro, foi assinado um convênio corporativo de âmbito nacional entre as instituições para desenvolver projetos nos estados da federação com os seguintes focos estratégicos: 1) capacitação para o aumento da competitividade de MPEs; 2) formação e consolidação de redes de cooperação competitiva entre empresas petrolíferas e fornecedores

locais; 3) realização de diagnósticos da cadeia produtiva de petróleo e gás natural; 4) elaboração e implementação de plano de desenvolvimento participativo para os agentes da cadeia produtiva;

e 5) sensibilização e mobilização de grandes fornecedores para possibilitar a inserção de MPEs como

subfornecedores locais. 179 “O Prominp é o Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural, instituído pelo Governo Federal através do Decreto nº 4.925, do dia 19 de dezembro de 2003, com o objetivo de maximizar a participação da indústria nacional de bens e serviços, em bases competitivas e sustentáveis, na implantação de projetos de petróleo e gás natural no Brasil e no exterior. O Programa conta com a coordenação geral do Ministério de Minas e Energia e com a coordenação executiva da Petrobras” (Prominp, 2009).

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264

Hoje, a Rede Petro-BC é exemplo de organização para empresas de todo o Brasil,

principalmente micro e pequenas de atuação competitiva e cooperativa diante de grandes

empresas e instituições que atuam no setor, principalmente para novas experiências de

organização semelhantes a que surgem em outras localidades do ERJ e do país, como as

outras 14 redes petro em funcionamento e/ou em processo de estruturação nos seguintes

locais: Amazonas, Ceará, Rio Grande do Norte, Sergipe, Alagoas, Bahia, Minas Gerais,

Espírito Santo, Rio de Janeiro (cidade – ligada à cadeia de suprimento do Cenpes), Duque de

Caxias, Leste Fluminense, Baixada Santista, Paraná e Rio Grande do Sul.

Ao final de três anos (2005-2008), os principais resultados previstos pelo projeto

de Estruturação do APL PGE-BC foram alcançados, contribuindo para o desenvolvimento do

município de Macaé e da região da Bacia de Campos180. Foram estabelecidos quatro

Resultados Finalísticos para o projeto com suas respectivas metas e indicadores para aferir a

eficiência e a eficácia do projeto em relação ao desenvolvimento de suas atividades. São eles:

1) Aumentar o número de ocupações geradas em 5% até dezembro de 2006 e 8%

(cumulativos) até dezembro de 2007. O aumento do número de postos de trabalho foi de

25,24%;

2) Melhorar a competitividade das empresas do público-alvo e participantes do projeto em

15% até dezembro de 2006 e em 30% (cumulativos) até dezembro 2007. Houve uma redução

de 30,92% no volume de certificações de qualidade em relação à primeira medição, pois

diversas empresas certificadas estavam em processo de renovação e/ou a validade dos

certificados havia vencido no período da pesquisa;

3) Aumentar o número de empresas do público-alvo e participantes do projeto com indicativo

de melhoria no faturamento no período do projeto em 10% até dezembro de 2006 e em 20%

(cumulativos) até dezembro 2007. Resultado: aumento de 26,38% nas empresas com

indicativo de faturamento;

4) Aumentar o volume de aquisições pela Petrobras e por suas subcontratadas com empresas

do público-alvo em até 5% até julho de 2006 e em 8% (cumulativos) até dezembro 2007. Este

último resultado foi muito importante, pois mostra o aumento de 37,89% no volume de

aquisições em relação à primeira medição.

180 “De acordo com a metodologia Geor, os Resultados Finalísticos são os efeitos que devem ser produzidos no público-alvo ou junto a ele com a execução do projeto, compreendendo a situação almejada, seu indicador de mensuração, meta e prazo de execução. E devem estar atrelados diretamente aos objetivos do projeto” (Manual Geor).

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265

Tanto o projeto oriundo do Convênio Sebrae-Petrobras quanto esses resultados

contribuíram para a consolidação da estrutura do APL de Petróleo, Gás e Energia da Bacia de

Campos, que segue abaixo.

FIGURA 18

APL PETRÓLEO, GÁS E ENERGIA DA BACIA DE CAMPOS

Fonte: RIBEIRO NETO (2005).

Nos últimos dez anos, proveniente do desenvolvimento das atividades

petrolíferas, a cidade de Macaé tornou-se o epicentro do processo de retomada do crescimento

econômico do ERJ, exercendo uma centralidade econômica singular. Tornou-se a cidade com

a maior taxa de geração de novos negócios no Brasil e, no que tange à geração de postos de

trabalho, segundo a Fundação Cide, em 2004 tornou-se a maior criadora do interior

fluminense, com 13,2% ao ano e quase cinco vezes maior do que a média nacional. Do ponto

de vista da riqueza global e dos dados oficiais, a cidade experimentou um crescimento de

600% nos últimos oito anos, com o PIB per capita em média 30% maior do que o nacional –

não esquecendo a querela contábil citada anteriormente. Desse grandioso crescimento, uma

ONIP/IBP

LENEP

UENF

IMMT

INMETRO

PREFEITURA (Secretarias)

pesquisa; ensino

políticas e estratégias

Regulamentação medição

apoio tecnológico

SEBRAE/RJ

PRODUÇÃO&

EXPLORAÇÃO

CONSTRUÇÃO

ENGENHARIA

MANUTENÇÃO

HOTELARIA

GUINDASTE

METAL-MECÂNIC

ELETRO-ELETRÔNIC

CONSTRUÇÃO

MANUTENÇÃO

SERVIÇOSGERAIS

FABRICAÇÃO DE

EQUIPAMEN

CALDERARIA

SERVIÇOS DE

FABRICAÇÃO DE

COMPONENT

CATERING

DRILLING (PERFURA

AUTOMAÇÃO

SERVIÇOS SUBSEA

APOIOTECNOLOGIA DA

INFORMAÇÃ

SERVIÇOS DE

TRANSPORTE

CONSTRUÇÃO E

MONTAGEM

COMÉRCIO E MATERIAL

PARA

Instrumentação

REDE PETRO / BC PROMINP

ACIM

PETROBRAS

Agentes Financeiros

Cooperação, capacitação, informação

SENAC

GEPS

CREA/RJ

FIRJAN SENAI

PCF

PQR – Bacia de Campos

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266

parte deve-se ao recebimento de royalties e participações especiais pela produção de petróleo

e gás natural nos poços confrontantes com os limites territoriais macaenses, mas também pela

peculiaridade de ser o único município da Bacia de Campos a possuir instalações para

embarque e desembarque de petróleo e gás natural, o que lhe garante um percentual de 10%

nos primeiros 5% de royalties arrecadados e 7,5% nos últimos 5%181.

A revista Você S/A (julho de 2005) e o jornal O Globo apontam Macaé como 9ª

melhor cidade para se trabalhar depois das principais capitais brasileiras (São Paulo, Rio de

Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Brasília, Porto Alegre, Curitiba e Belém). 181 Segundo a ANP, os “royalties incidem sobre a produção mensal do campo produtor. O valor a ser pago pelos concessionários é obtido multiplicando-se três fatores: (1) alíquota dos royalties do campo produtor, que pode variar de 5% a 10%; (2) a produção mensal de petróleo e gás natural produzidos pelo campo; e (3) o preço de referência desses hidrocarbonetos no mês, como determinam os artigos 7º e 8º do Decreto nº

2.705/98, que regulamentou a Lei nº 9.478/97, conhecida como a Lei do Petróleo. Royalties = Alíquota x Valor da produção

Valor da produção = V petróleo X P petróleo + V gn x P gn Onde: Royalties = valor decorrente da produção do campo no mês de apuração, em R$ Alíquota = percentual previsto no contrato de concessão do campo V petróleo = volume da produção de petróleo do campo no mês de apuração, em m³ P petróleo = é o preço de referência do petróleo produzido no campo no mês de apuração, em R$/m³ P gn = preço de referência do gás natural produzido no campo no mês de apuração, em R$/m³

Além dos royalties, os concessionários estão sujeitos ao pagamento de Participação Especial, compensação financeira extraordinária estabelecida pela Lei do Petróleo para campos de grande volume de produção ou de grande rentabilidade, e ao pagamento pela ocupação ou retenção de área.

As tabelas a seguir apresentam as alíquotas e os beneficiários da distribuição dos royalties, conforme estabelecido na legislação pertinente: Parcela de 5% – Lei nº 7.990/89 e Decreto nº 01/91

70% Estados produtores 20% Municípios produtores Lavra em terra 10% Municípios com instalações de embarque e desembarque de petróleo e gás natural 30% Estados confrontantes com poços 30% Municípios confrontantes com poços e respectivas áreas geoeconômicas 20% Comando da Marinha 10% Fundo Especial (estados e municípios)

Lavra na plataforma continental

10% Municípios com instalações de embarque e desembarque de petróleo e gás natural

Parcela acima de 5% – Lei nº 9.478/97 e Decreto nº 2.705/98

52,5% Estados produtores 25% Ministério da Ciência e Tecnologia 15% Municípios Produtores Lavra em terra 7,5% Municípios afetados por operações nas instalações de embarque e desembarque de petróleo e gás natural 25% Ministério da Ciência e Tecnologia 22,5% Estados confrontantes com campos 22,5% Municípios confrontantes com campos 15% Comando da Marinha 7,5% Fundo Especial (estados e municípios)

Lavra na plataforma continental

7,5% Municípios afetados por operações nas instalações de embarque e desembarque de petróleo e gás natural

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267

Segundo a Contagem Populacional de 2007, Macaé apresenta uma população de

169.513 habitantes. O município apresentou uma taxa geométrica de crescimento no período

de 1991 a 2000 de 3,93% ao ano, contra 1,49% na região Norte Fluminense e 1,3% no ERJ, o

que evidencia a intensidade do fluxo migratório em sua direção.

Em relação ao IDH-M (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal), Macaé

ocupava a 17ª posição em 2000 com 0,790. A decomposição desse índice mostra a força do

aspecto econômico na sua dinâmica. O IDH-M Educação era de 0,889 e ocupava a 18ª

posição, o IDH-M Esperança de Vida ocupava a 66ª posição com 0,719, e o IDH-M Renda

ocupava a 4ª posição com 0,770 de índice. Entre 1991 e 2000, o IDH de Macaé cresceu

8,34%, passando de 0,73 para 0,79.

O aumento do fluxo econômico proveniente das atividades petrolíferas ocorreu ao

mesmo tempo que o crescimento dos problemas sociais, como a formação de bolsões de

pobreza e miséria, e o deslocamento pela especulação imobiliária para a periferia de parcela

significativa da população local em virtude da chegada de trabalhadores mais qualificados,

oriundos de outros municípios, estados e mesmo países com poder aquisitivo maior182.

A cidade de Macaé é festejada como o “Eldorado Fluminense”, a “Capital do

Petróleo” e/ou a “Houston Brasileira” enquanto sede das principais instalações das atividades

de exploração e produção de petróleo no Brasil. Sua economia cresce exponencialmente, e o

PIB per capita anual de R$ 95.625 é o sexto do estado do Rio de Janeiro. Entretanto, como

característica inexorável do desenvolvimento capitalista, a concentração de renda, a

desigualdade social e a miséria andam passo a passo com a exuberante profusão de negócios

que circundam essa cidade. Segundo Erthal (2006: 10),

o paliteiro de guindastes, andaimes e ferragens avança para o alto, tendo como pano de fundo a cor vermelha do tijolo de barro, tom predominante nas 14 grandes favelas que, aos poucos, se fecham em uma só mancha, espremendo os bairros contra o mar. Esse é o contraste que marca o necessário progresso com a desnecessária injustiça.

Nesse contexto, Macaé é a cidade mais afetada pela indústria de exploração e

produção de petróleo e gás natural no Norte Fluminense, apesar de Campos dos Goytacazes

ser o maior beneficiário dos royalties e das participações especiais dessa produção. Os

exemplos da transformação provocada pelo desenvolvimento das forças produtivas no

182 “Como o óleo transformou a vida da pacata Macaé – com o petróleo chegaram as multinacionais e começou a entrar, mais recentemente, o dinheiro dos royalties, especialmente após a abertura do mercado de petróleo, em 1997, mas também chegaram problemas, notadamente o aumento do custo de vida e a desordem urbana (violência, etc.)” (Gazeta Mercantil, 02/09/02 apud NATAL, 2004: 89).

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268

território macaense tornam-se cada vez mais evidentes e marcantes no cotidiano dos

moradores locais e daqueles que lá chegaram para laborar. A população macaense cresceu

velozmente, e ainda se deve considerar aqueles que frequentam a cidade e utilizam sua

infraestrutura somente para o trabalho em alguns dias, não contabilizados como residentes.

Entre 1999 e 2002, os homicídios cresceram 15% na capital e 22% no interior do estado do

Rio de Janeiro – nesse período, Macaé registrou crescimento de 86%. Segundo estudo do

Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), com base no Atlas de Desenvolvimento

Humano, Macaé alcança o 5º lugar no ranking de favelização do estado do Rio de Janeiro,

com 16,3% de sua população nessa situação.

Por outro lado, a riqueza jorra, literalmente, provocando também grandes

transformações nesse território. Para a produção de petróleo e gás natural, a região emprega

aproximadamente 46 mil pessoas. Esse número está em constante crescimento devido aos

novos investimentos na região para apoiar e aumentar a produção.

Essa cidade exemplifica a pujança do capitalismo quando põe em movimento o

desenvolvimento de suas forças produtivas. No período de 1991 a 2000, enquanto a pobreza

no estado do Rio caiu 18,2%, em Macaé a queda foi de 56,4%183, e

graças ao petróleo, Macaé ingressou na lista das 10 maiores economias municipais do Brasil, na 8ª posição, deixando Porto Alegre fora do grupo. O avanço de Macaé foi a passos largos: em 1999, a cidade ocupava o 55º lugar no ranking nacional. Além disso, em Macaé houve um aumento da produção industrial no setor de equipamentos petrolíferos. Macaé foi a cidade que mais ganhou relevância no PIB brasileiro desde 1999 (O Globo, 14/12/06: 35).

Recentemente, com a atual crise financeira mundial, a economia macaense parece

não ter sofrido nenhum revés, pois, entre setembro e dezembro do último ano, a economia

macaense abriu mais 4.589 vagas enquanto o mundo aprofundava a crise com o aumento do

desemprego. A cidade do Rio de Janeiro, com uma população 20 vezes maior, gerou somente

quatro vezes mais vagas, ou seja, 22 mil empregos (FSP, 15/12/09: B5).

Nos últimos dois anos, foram realizadas grandes descobertas no entorno da BC

que provavelmente trarão grande alento para as empresas instaladas no parque de

fornecedores em Macaé e adjacências. Falamos da descoberta gigante dos campos de Papa-

183 Os maiores PIB per capita (R$) do país são: São Francisco do Conde/BA (possui a 2ª maior refinaria do país) – 315.208; Triunfo/RS (polo petroquímico) – 265.448; Quissamã/RJ (recebe royalties do petróleo) – 231.213; Porto Real/RJ (tem a população pequena e indústria automobilística) – 180.499; Paulínia/SP (maior refinaria do país) – 170.161; Carapebus/RJ (recebe royalties do petróleo) – 167.391; Rio das Ostras/RJ (recebe royalties do petróleo) – 162.663; Cascalho Rico/MG (tem uma hidrelétrica) – 135.287; Araporã/MG (tem uma hidrelétrica) – 122.549; Macaé/RJ (recebe royalties do petróleo e tem indústria do petróleo) – 120.602 (O Globo, 14/12/06: 35).

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269

Terra e Xererete, que se estendem ao sul da Bacia de Campos; da descoberta de óleo leve e de

melhor qualidade na Bacia do Espírito Santo (BES), e a descoberta dos campos gigantes de

Mexilhão, Tupi, Júpiter e Carioca na Bacia de Santos, compreendendo parte do território dos

estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina.

Os investimentos da Petrobras e das outras operadoras nas três principais bacias

sedimentares brasileiras (Campos, Espírito Santo e Santos) e os outros investimentos ligados

direta e indiretamente à cadeia produtiva de petróleo e gás natural configurarão um novo

EIXO DE INVESTIMENTO ao longo do litoral do ERJ. Nesse cenário, o objetivo desse

trabalho é discutir quais as consequências sociais, políticas e econômicas que podem ocorrer

em Macaé e nos outros municípios da Bacia de Campos devido à atratividade de outros

investimentos em regiões localizadas entre as cidades de Santos/SP e Vitória/ES.

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270

ANEXO II

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – PRODUÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA (1971-2000) (BILHÕES KWS) 33

TABELA 2 – EXPLORAÇÃO – CUSTOS RELATIVOS (%) 39

TABELA 3 – DESENVOLVIMENTO DA PRODUÇÃO – CUSTOS RELATIVOS (%) 40

TABELA 4 – DEPENDÊNCIA ENERGÉTICA DAS IMPORTAÇÕES (1971-2000)

(peso em % das importações sobre fornecimento interno) 53

TABELA 5 – RODADAS DE LICITAÇÕES DE BLOCOS EXPLORATÓRIOS 68

TABELA 6 – RESERVAS PROVADAS DE PETRÓLEO (1995-2007) –

BILHÕES DE BARRIS 72

TABELA 7 – INDÚSTRIA MANUFATUREIRA – ESTADO SELECIONADOS

(1907-1920) 79

TABELA 8 – DISTRIBUIÇÃO RELATIVA DO PIB – ESTADOS

SELECIONADOS E REGIÕES (1949-1980) 85

TABELA 9 – EVOLUÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DO RIO DE JANEIRO (RJ),

GUANABARA (GB), DE SÃO PAULO (SP) E DAS DEMAIS UNIDADES

DA FEDERAÇÃO (UFS) NA RENDA NACIONAL (1939-1968) 90

TABELA 10 – PARTICIPAÇÃO RELATIVA DE SÃO PAULO (SP), RIO DE

JANEIRO (RJ), MINAS GERAIS (MG) E DEMAIS UNIDADES

DA FEDERAÇÃO (UFS) NO PIB NACIONAL (1970-1985) 90

TABELA 11 – ÍNDICE DA PRODUÇÃO FÍSICA DA INDÚSTRIA DE

TRANSFORMAÇÃO (1981 A 1989/1980 = 100) 93

TABELA 12 – PARTICIPAÇÃO RELATIVA DE ALGUNS ESTADOS DA FEDERAÇÃO

NO PIB REAL – BRASIL (1985-1995) 94

TABELA 13 – ROYALTIES E PARTICIPAÇÕES ESPECIAIS – ERJ E MUNICÍPIOS

DO ERJ (1998-2007) 96

TABELA 14 – VARIAÇÃO PERCENTUAL DO PIB – BRASIL E ERJ (1995-2007) 101

TABELA 15 – COMPOSIÇÃO DO PIB POR ATIVIDADE – ERJ (1996-2000) (%) 102

TABELA 16 – PRODUÇÃO DE PETRÓLEO – PETROBRAS (1977-2007) 103

TABELA 17 – OS 20 PRIMEIROS MUNICÍPIOS NO IQM (1998-2005) 107

TABELA 18 – POSIÇÃO DO MUNICÍPIO NO IQM (1998-2005) 108

TABELA 19 – VARIAÇÃO DA POSIÇÃO DO MUNICÍPIO NO IQM (1998-2005) 108

TABELA 20 – VINTE MAIORES INVESTIMENTOS PREVISTOS NO RIO DE

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271

JANEIRO (2008-2010) 125

TABELA 21 – REGIÕES NORTE FLUMINENSE E BAIXADAS LITORÂNEAS – ERJ 132

TABELA 22 – BLOCOS EXPLORATÓRIOS SOB CONCESSÃO – BACIA DE CAMPOS 143

TABELA 23 – CAMPOS EM DESENVOLVIMENTO DA FASE DE PRODUÇÃO –

BACIA DE CAMPOS 145

TABELA 24 – CAMPOS EM FASE DE PRODUÇÃO – BACIA DE CAMPOS 148

TABELA 25 – MUNICÍPIOS PRODUTORES – ZONAS DE PRODUÇÃO PRINCIPAL

– ROYALTIES E PARTICIPAÇÕES ESPECIAIS (2008) – R$ 166

TABELA 26 – POPULAÇÃO E CRESCIMENTO GEOMÉTRICO – MACAÉ,

REGIÃO NORTE FLUMINENSE E ERJ (1970/2007) 170

TABELA 27 – POPULAÇÃO E CRESCIMENTO GEOMÉTRICO – RIO DAS

OSTRAS, QUISSAMÃ E CASIMIRO DE ABREU (1970-2007) 171

TABELA 28 – EVOLUÇÃO DA ARRECADAÇÃO – MACAÉ (2003-2008) 179

TABELA 29 – INVESTIMENTOS PREVISTOS NO BRASIL (2007-2010) 184

TABELA 30 – INVESTIMENTOS PREVISTOS DA INDÚSTRIA NO BRASIL

(R$ BILHÕES) 185

TABELA 31 – PREVISÃO DA TAXA DE INVESTIMENTOS NOS SETORES

MAPEADOS (% DO PIB) 186

TABELA 32 – INVESTIMENTOS REALIZADOS E PREVISTOS DA INDÚSTRIA DO

BRASIL (R$ BILHÕES) 187

TABELA 33 – TAXA DE CRESCIMENTO DOS INVESTIMENOS (% A A) –

R$ BILHÕES – AGOSTO/2008 189

TABELA 34 – INVESTIMENTOS MAPEADOS NO BRASIL (2009-2012) – R$ BILHÕES 189

TABELA 35 – CRESCIMENTO DOS INVESTIMENTOS (2009/2012)– R$ BILHÕES –

PROJETOS FIRMES 191

TABELA 36 – POSIÇÃO DA PETROBRAS EM RELAÇÃO ÀS OUTRAS OPERADORAS 197

TABELA 37 – PRODUÇÃO INTERNACIONAL DIÁRIA – MÉDIA ANUAL – PETROBRAS 198

TABELA 38 – RESERVAS PROVADAS INTERNACIONAIS – ÓLEO, LGN

E GÁS NATURAL – PETROBRAS 199

TABELA 39 – PLANOS DE NEGÓCIOS – PETROBRAS (2006-2013) – R$ BILHÕES 201

TABELA 40 – INVESTIMENTO DOMÉSTICO X CONTEÚDO NACIONAL –

PETROBRAS (2008-2012) – US$ BILHÕES 204

TABELA 41 – CAMPOS EM DESENVOLVIMENTO DA FASE DE PRODUÇÃO –

BACIA DE SANTOS 209

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272

TABELA 42 – CAMPOS NA ETAPA DE PRODUÇÃO – BACIA DE SANTOS 210

TABELA 43 – DISTRIBUIÇÃO REGIONAL DA PRODUÇÃO DE AÇO –

JANEIRO/JULHO – 2009 (MILHÕES DE TONELADAS) 215

TABELA 44 – PRODUÇÃO DE PETRÓLEO – ESPÍRITO SANTO – 2000-2008 229

TABELA 45 – PRINCIPAIS PROJETOS DE GASODUTOS 232

TABELA 46 – CENSO DEMOGRÁFICO DO MUNICÍPIO DE MACAÉ (1970) 255

TABELA 47 – NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS E PESSOAL OCUPADO NO

ESTADO DO RIO DE JANEIRO E NO MUNICÍPIO DE

MACAÉ (1950-1970) 255

TABELA 48 – CENSO DEMOGRÁFICO DE 1970 - 1980 - 1991 E CONTAGEM

POPULACIONAL DE 1996 257

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273

ANEXO III

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – BACIAS MARÍTIMAS PRODUTORAS DE PETRÓLEO E GÁS

DO SUDESTE 13

FIGURA 2 – RESERVAS PROVADAS X RESERVAS TOTAIS – BRASIL 71

FIGURA 3 – MAPA DAS LINHAS DIVISÓRIAS ENTRE MUNICÍPIOS USANDO AS

LINHAS ORTOGONAIS – ESTADO DO RIO DE JANEIRO 131

FIGURA 4 – MUNICÍPIOS DA BACIA DE CAMPOS 134

FIGURA 5 – RECORDES DE PRODUÇÃO DA PETROBRAS 139

FIGURA 6 – MAPA DE DESCOBERTAS – BACIA DE CAMPOS 142

FIGURA 7 – ORGANOGRAMA OPERACIONAL DA PETROBRAS –

BACIA DE CAMPOS 150

FIGURA 8 – ESTRUTURA OPERACIONAL MARÍTIMA – BACIA DE CAMPOS 153

FIGURA 9 – ESTRUTURA SIMPLIFICADA DA CADEIA DE EXPLORAÇÃO E

PRODUÇÃO DE PETRÓLEO E GÁS NA BACIA DE CAMPOS 159

FIGURA 10 – LOCALIZAÇÃO DOS PRINCIPAIS SEGMENTOS PRODUTIVOS

DE EXPLORAÇÃO E PRODUÇÃO DE PETRÓLEO E GÁS EM MACAÉ 161

FIGURA 11 – REGIÕES NORTE FLUMINENSE E BAIXADAS LITORÂNEAS –

ANTES DE 1988 173

FIGURA 12 – REGIÕES NORTE FLUMINENSE E BAIXADAS LITORÂNEAS – 2008 174

FIGURA 13 – CONSUMO TOTAL DE ÓLEO POR PAÍS– MMD/B (2007) 195

FIGURA 14 – PLANOS DE NEGÓCIOS – PETROBRAS (2006-2013) – R$ BILHÕES 202

FIGURA 15 – MAPA DAS PRINCIPAIS DESCOBERTAS DA BACIA DE SANTOS 208

FIGURA 16 – COMPERJ – ÁREAS DE INFLUÊNCIA 222

FIGURA 17 – NOVO EIXO DE INVESTIMENTOS 231

FIGURA 18 – APL PETRÓLEO, GÁS E ENERGIA DA BACIA DE CAMPOS 265

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274

ANEXO IV

ORGANOGRAMA DE PARTICIPAÇÕES DA PETROBRAS

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