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PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA Nº 451 ANO XL ABRIL 2011 MENSAL 1,50 O PRESIDENTE DA REPÚBLICA O MAR E OS JOVENS

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA O MAR E OS JOVENS...REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2011 5 blica, visitou o sistema ROV “LUSO” que incluiu o veículo, o contentor de comando e controlo

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PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA ● Nº 451 ● ANO XL ABRIL 2011 ● MENSAL ● € 1,50

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA O MAR E OS JOVENS

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LISTAGEM DAS ASSOCIAÇÕES, CLUBES E NÚCLEOS DE “MARINHEIROS”

● NÚCLEO DE MARINHEIROS DA ARMADA DE ÁGUEDA Apartado 3543754 – 909 ÁGUEDA

● NÚCLEO DE RADIOAMADORES DA ARMADA Escola de Tecnologias Navais 2810 – 001 ALFEITE

● CLUBE DO SARGENTO DA ARMADADELEGAÇÃO DO FEIJÓPraceta do Clube do Sargento da Armada, 52810 – 044 ALMADA

● NÚCLEO DE EX-MARINHEIROS DA ARMADA DO CONCELHO DE ALMEIRIMR. Infante D. Henrique, 93Apartado 482080 – 145 ALMEIRIM

● ASSOCIAÇÃO DE MARINHEIROS DE ANADIA 3780 – 476 MoitaANADIA

● NÚCLEO DE MARINHEIROS DO CONCELHO DE ARGANIL 3300 – 014 ARGANIL

● NÚCLEO DE MARINHEIROS DA ARMADA DE AVEIROApartado 117 3800 AVEIRO

● ASSOCIAÇÃO DE MARINHEIROS DA AUSTRÁLIAPortuguese AssociationAUSTRÁLIA

● ASSOCIAÇÃO DE MARINHEIROS DE BARCELOSR. da Igreja, 188 – 3º Frt4750 – 803 BARCELOS

● ASSOCIAÇÃO DE EX-MILITARES DA ARMADA DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO R. Marquês de Pombal 5300 – 197 BRAGANÇA

● ASSOCIAÇÃO DE FUZILEIROS R. Miguel Pais, 25 – 1º E2830 – 356 BARREIRO

● ASSOCIAÇÃO DE MARINHEIROS DA ARMADA DO CANADÁ (AMAPC)1653 Dundas StreetWest Toronto Ontário M4L 1L2CANADÁ

● NÚCLEO DE MARINHEIROS E EX-MARINHEIROS DA BEIRA ALTAAv. Nª Srª das Febres n.º 363430 – 039 CARREGAL DO SAL

● NÚCLEO DE MARINHEIROS DE COIMBRA R. de Angola, 683030 – 037 COIMBRA

● NÚCLEO DE MARINHEIROS DE RIBEIRA DE FRADES Travessa da Serração, 13Casais do Campo3045 – 127 COIMBRA

● CLUBE DE PRAÇAS DA ARMADAR. Manuel José Gomes, 1232805 – 193 ALMADA

● GRUPO AMIZADE MARINHEIROSDO CONCELHO DE ESPOSENDE R. Escola, Fonte Boa4740 – 474 ESPOSENDE

● CLUBE DO MARUJO – ASSOCIAÇÃOEX-MARINHEIROS DO DISTRITODE ÉVORAApartado 2447001 – 001 ÉVORA

● ASSOCIAÇÃO DE MARIHEIROS DAARMADA DE FERREIRA DO ZÊZERE R. Ivone Silva nº. 15 2240 – 336 FERREIRA DO ZÊZERE

● NÚCLEO DE MARINHEIROS DA ARMADA DE AVEIRO Forte da Barra – Casa n.º 13830 – 565 GAFANHA DA NAZARÉ

● ASSOCIAÇÃO DE FUZILEIROS DELEGAÇÃO DE JUROMENHA Rua de Sto. António n.º 27250 – 242 JUROMENHA

● ASSOCIAÇÃO DE FUZILEIROSDELEGAÇÃO DO PORTO Rua Coronel Hélder RibeiroAnexo ao Farol da Boa Hora4450 – 686 LEÇA DA PALMEIRA

● CLUBE MILITAR NAVAL Av. Defensores de Chaves, 261000 – 117 LISBOA

● CLUBE DO SARGENTO DA ARMADA R. das Escolas Gerais, 96 – 2º 1100 – 221 LISBOA

● AORN – ASSOCIAÇÃO DOS OFICIAIS DA RESERVA NAVAL Fábrica Nacional de Cordoaria R. da Junqueira1300 – 342 LISBOA

● ASSOCIAÇÃO DOS MAQUINISTAS NAVAIS Apartado 213821132 – 001 LISBOA

● ASSOCIAÇÃO DE MARINHEIROS DO CONCELHO DE MAFRA Apartado 3 2665 – 799 MAFRA

● NÚCLEO DE MARINHEIROS DA ARMADAApartado 32665 – 999 MALVEIRA

● ASSOCIAÇÃO DE MARINHEIROS DE MÊDAR. D. Manuel I, nº 756430 – 189 MÊDA

● ASSOCIAÇÃO DE EX-MARINHEIROS DA ARMADA DO ALTO MINHOAv. Eng. Sousa Rego, 254910 – 224 MOLEDO DO MINHO

● ASSOCIAÇÃO DE MARINHEIROS DA ARMADA DA REGIÃO MINHOTA Apartado 1Valinha4950 – 120 MONÇÃO

● NÚCLEO DE MARINHEIROS E EX-MARINHEIROS DA BEIRA INTERIORR. das PoçasFreixo3450 – 116 MORTÁGUA

● ASSOCIAÇÃO DE MARINHEIROS E EX-MARINHEIROS DA ARMADA PORTUGUESA DO LITORAL OESTER. Marquês de Pombal, 222520 – 476 PENICHE

● NÚCLEO DE MARINHEIROS E FUZILEIROS DO DISTRITO DA GUARDA Souropires6400 – 651 PINHEL

● “A BRIOSA”BriosamizadeR. Trás-os-Quintais, 28 –1º4490 – 553 PÓVOA DE VARZIM

● CLUBE ESCOLAMIZADE Apartado 822, Vilamoura8125 – 911 QUARTEIRA

● NÚCLEO DE MARINHEIROS DO RIBATEJO NORTE Largo da Misericórdia, 3 2230 – 121 SARDOAL

● ASSOCIAÇÃO DE EX-MARINHEIROS DO DISTRITO DE SETÚBAL “O ALCACHE”Travessa do Seixal, n.º 8 2900 – 638 SETÚBAL

● CLUBE MILITAR DE OFICIAIS DE SETÚBALPraça do Bocage2900 – 276 SETÚBAL

● NÚCLEO DE MARINHEIROS DE SEVER DO VOUGALugar do Ribeiro 3045 – 127 SEVER DO VOUGA

● MARINHEIROS DO CONCELHO DE SOUSEL Bairro Nossa S.ª da Graça, Lote 20Cano7470 – 013 SOUSEL

● ASSOCIAÇÃO DE MARINHEIROS RADICADOS NA SUIÇA Rorshacw SUIÇA

● NÚCLEO DE FUZILEIROS DOS TEMPLÁRIOSCoito, n.º 60S.Pedro2300 – 168 TOMAR

● NÚCLEO DE MARINHEIROSDO CONCELHO DE TONDELA R. Dr. Abel Lacerda, 1883460 – 573 TONDELA

● A.S.P.A. – ASSOCIAÇÃO DE SARGENTOS E PRAÇAS DA ARMADA DA CALIFÓRNIA52 Orchard Soad Orinda – Califórnia 94563 USA

● ASSOCIAÇÃO DE MARINHEIROS DA ARMADA PORTUGUESA Po Box 5403 NewarkNew Jersey 07105 USA

● ASSOCIAÇÃO DE EX-MARINHEIROSDA ARMADA DE VILA DO CONDE Clínica de Ortopedia R. Dr. Pereira Júnior, 784480 – 719 VILA DO CONDE

● ASSOCIAÇÃO DE FUZILEIROSDELEGAÇÃO VILA NOVA DE GAIA Rua da Rechosa, 7684410 – 222 VILA NOVA DE GAIA

LISTAGEM DAS ASSOCIAÇÕES, CLUBES E NÚCLEOS DE “MARINHEIROS”

ABRIL 2011

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3REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2011

Publicação Oficial da Marinha

Periodicidade mensalNº 451 - Ano XL

Abril 2011

DirectorCALM EMQ

Luís Augusto Roque Martins

Chefe de RedacçãoCMG

Joaquim Manuel de S. Vaz Ferreira

Redacção1TEN TSN

Ana Alexandra Gago de Brito

Secretário de RedacçãoSAJ L

Mário Jorge Almeida de Carvalho

Colaboradores PermanentesCFR Jorge Manuel Patrício GorjãoCFR FZ Luís Jorge R. Semedo de MatosCFR SEG Abel Ivo de Melo e Sousa1TEN Dr. Rui M. Ramalho Ortigão Neves

Administração, Redacção e Publicidade

Revista da ArmadaEdifício das Instalações Centrais da

Marinha.1149-001 Lisboa - Portugal

Telef: 213 217 650Fax: 213 473 624

Endereço da Marinha na Internetwww.marinha.pt

E-mail da Revista da [email protected]

Paginação e Produção

Tiragem média mensal6000 exemplares

Preço de venda avulso: € 1,50Revista anotada na ERC

Depósito Legal nº 55737/92ISSN 0870-9343

ANUNCIANTES:MAN FERROSTAAL PORTUGAL, LDA.ROHDE & SCHWARZ, LDA.

Foto:

Luís Filipe Catarino/Presidência da República

SUMÁRIO

LISTAGEM DAS ASSOCIAÇÕES, CLUBES E NÚCLEOS DE MARINHEIROS

2

1617203031

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QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS

NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS

NAVIOS DA REPÚBLICA

33

34

CONTRACAPA

21

18

27

4

A Viagem de Circum-Navegaçãodo Curso D.Lourenço de Almeida.

Alexandre Vasconcelos e SáUm Médico da Marinha na Revolução.

NRP Bérrio, a caminho dos 42.

O Presidente da República o Mar e os Jovens.

O CHEFE DO ESTADO-MAIOR GENERALDAS FORÇAS ARMADAS VISITA A MARINHA / NRP SAGRES – ALMOÇO DE COMANDANTES

A MARINHA DE D. SEBASTIÃO (18) HIERARQUIA DA MARINHA / VIGIA DA HISTÓRIA ACADEMIA DE MARINHA

NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (1)

PRÉMIO MARINHA PORTUGUESA 2010 / NOTÍCIAS

PONTO AO MEIO DIA

CIBER-PRONTIDÃO

CENTRO DE INVESTIGAÇÃO NAVAL (CINAV)VEM ESTAGIAR NA MARINHA

A SEGURANÇA MARÍTIMAGESTÃO DE DOCUMENTOS DA MARINHA

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4 ABRIL 2011 • REVISTA DA ARMADA

No dia 9 de Abril, a Marinha foi palco do arranque do programa do dia de tomada de posse do 2º mandato do Presidente da República Portuguesa, Prof. Doutor

Aníbal Cavaco Silva. Num dia tão simbólico como o de toma-da de posse, o Presidente da República, quis salientar dois ca-minhos para o futuro de Portugal: o Mar e os Jovens.

Participaram neste evento, atracados no cais de Alcântara, os NRP Sagres e NRP Almirante Gago Coutinho. O caminho do Mar foi apontado através de uma visita ao NRP Almirante Gago Coutinho associada à presença a bordo da Estrutura de Missão para os Assuntos do Mar (EMAM), enquanto o caminho dos Jovens foi apontado através de uma cerimónia e almoço, a bor-do do NRP Sagres, com a participação de 50 jovens líderes de diversas associações.

No cais de Alcântara, o Presidente da República e a Primei-ra Dama, Drª Maria Cavaco Silva, foram recebidos pelo Almi-rante Saldanha Lopes, Chefe do Estado-Maior da Armada, e pelo Prof. Doutor Manuel Pinto de Abreu, responsável pela EMAM. A comitiva visitante foi recebida a bordo do NRP Almirante Gago Coutinho pelo VALM Monteiro Montenegro, Comandante Naval, e pelo CFR Bessa Pacheco, comandante do navio. Na ponte do navio, o Presidente da República foi inteirado dos principais tipos de actividades, de capacidades e de operações técnico-científicas que são realizadas nas diver-sas missões. Em exposição na tolda, já no final do percurso da visita, estavam diversos equipamentos do Instituto Hidrográ-fico utilizados na aquisição e conservação de dados técnico--científicos, nomeadamente uma bóia multiparâmetro (mete-reológica, oceanográfica e química), um colhedor de amostras de sedimentos multi-corer, um CTD com rosette e garrafas niskin para amostragem de águas e um contentor frigorífico para armazenamento e conservação de amostras de águas e sedimentos.

Um dos resultados de diversas missões dos dois navios da classe “D. Carlos I” é o que diz respeito à elaboração da recla-mação nacional de extensão da plataforma continental, junto das Nações Unidas (ONU). A Estrutura de Missão para a Ex-tensão da Plataforma Continental e, desde 2011, a EMAM, fo-ram e são os organismos responsáveis pela realização e acom-panhamento da proposta nacional de extensão, que deverá ser analisada pela ONU em 2015. Ainda no centro de aquisição de dados do NRP Almirante Gago Coutinho, o Prof. Doutor Pinto de Abreu esclareceu o Presidente da República sobre o estado e dimensão da reclamação de extensão da plataforma conti-nental nacional que, se aceite tal como proposta, colocará Por-tugal numa das 6 posições cimeiras do ranking mundial com praticamente 4 milhões de km2. Ainda no âmbito da EMAM, foi apresentado ao Presidente da República o projecto M@RBIS (sistema nacional de informação para a biodiversidade marinha) e o projecto “Kit do Mar” destinado à recuperação da identidade marítima nacional, junto dos 2º e 3º ciclos de ensino, através de diversos materiais de trabalho para profes-sores e alunos. Já no exterior do navio, o Presidente da Repú-

A bordo dos navios da Marinha O PRESIDENTE DA REPÚBLICA APONTA O FUTURO PARA O

MAR E OS JOVENS

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5REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2011

blica, visitou o sistema ROV “LUSO” que incluiu o veículo, o contentor de comando e controlo e o contentor oficina. O ROV “LUSO”, sempre operado a partir do NRP Almirante Gago Coutinho teve também um papel fundamental no projecto de extensão da plataforma continental por permitir amostrar, se-lectivamente, as zonas rochosas a grandes profundidades e as-sim utilizar critérios geológicos para a justificação da extensão, onde os hidrográficos não seriam aplicáveis.

As honras militares prestadas ao Presidente da República pelo NRP Sagres foram iniciadas com 3 vivas à sua aproxima-ção e posterior recepção a bordo pelo Almirante CEMA, pelo Vice-almirante Comandante Naval e pelo CMG Proença Men-des, comandante do navio. Após uma breve visita ao navio e assinatura do Livro de Honra, o Presidente da República di-rigiu-se aos 50 jovens convidados dizendo que tinha sido seu desejo marcar o primeiro dia do seu novo mandato com um encontro com jovens de todo o país, com experiência de lide-rança de associações de diversos âmbitos, para reafirmar a sua confiança na juventude de Portugal. Disse ainda, o Presidente, que a escolha do navio-escola Sagres para o desejado encontro se devia ao facto de ser um navio de excelência, um símbolo de ligação de Portugal ao mar, mar esse que no passado tinha impulsionado o país para a descoberta de novos horizontes, havendo agora que explorar as suas enormes potencialidades. O Presidente terminou a sua intervenção evocando o mar e os jovens como factor conjugado de esperança para Portugal.

No decurso do almoço, o Presidente da República mostrou estar muito bem informado sobre a Volta ao Mundo 2010, ten-do comentado o elevado número de visitas recebidas a bordo e a tempestade ocorrida no Mediterrâneo, partilhando ainda com os presentes uma referência à aventura que foi para si um embarque realizado no Vega, no período em que exercera as funções de Primeiro-ministro. O almoço, servido numa mesa colocada no tombadilho, foi confeccionado e servido pela equipa da Sagres, que foi reforçada por pessoal da Messe de Cascais para o serviço de mesa.

Após almoçar a bordo, o Presidente da República dirigiu-se para a Assembleia da República onde decorreu a cerimónia oficial da tomada de posse.

Fotos: Luís Filipe Catarino / Presidência da República

L. Bessa PachecoCFR

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6 ABRIL 2011 • REVISTA DA ARMADA

A Manutenção da Esquadra

PONTO AO MEIO DIA

Portugal tem hoje em desenvolvimen-to na sua Componente Naval do Sistema de Forças, um conjunto de

capacidades que concorrem para o produto operacional da Marinha. A edificação e ma-nutenção dessas capacidades, consubstan-cia um expressivo investimento do Estado, representado pela generalidade dos cida-dãos, a que importa responder com eficácia, reforçando, desde o início, o nosso compro-misso na definição dos respectivos meios. No caso da Marinha, o vector principal será a sua esquadra.

No contexto actual, pensar na manu-tenção da esquadra leva-nos a uma dupla interpretação: manutenção como razão de existência e manutenção como acção de ga-rantir as melhores condições de operação. A primeira não pode estar em causa. A segun-da é consequência da primeira.

O Mar voltou a ter uma dimensão e um potencial de riqueza que temos que apro-veitar sem reservas. No entanto, a manu-tenção da esquadra, em ambos os sentidos que referi, é motivo de grande preocupação. Assim, independentemente de estarmos em ciclo ou em contra-ciclo com um maior desenvolvimento do País, é certo que mui-tos dos navios estão no final da sua vida útil. Mas não é por isso que devem ser substituí-dos. A lógica é a do equilíbrio e da interope-rabilidade no planeamento e na materializa-ção das capacidades, seguindo um modelo de gestão integrada do ciclo de vida.

Em traços gerais, o ciclo de vida con-templa a integração de todas as actividades relativas à definição dos meios adequados ao cumprimento das missões. Começa na identificação da necessidade, que decorre das orientações estratégicas, das ameaças e dos conceitos de emprego e de operações, respondendo a uma vulnerabilidade no Sistema de Forças. Chegando aqui, inicia--se o processo de formulação dos requisitos operacionais, cuja interpretação permite es-tabelecer os correspondentes requisitos téc-nicos ou mesmo apontar soluções adequa-das e sustentáveis, conduzindo à definição da plataforma a desenvolver ou a adquirir. Depois da recepção e integração, segue-se a fase de exploração operacional e … o abate. Em poucas palavras, a abordagem de ciclo de vida inclui as actividades desde a con-cepção ao abate.

Mas para que haja articulação no pro-cesso, todas as vertentes relacionadas com a sustentação têm que estar pensadas e con-

templadas desde o início. Nesse sentido, numa perspectiva de eficiência, deve ser seguido o planeamento por capacidades. Destaco também a necessidade de prever uma matriz de responsabilidades, tendo sempre presente os custos ao longo do ci-clo de vida. Cada uma das capacidades compreende um conjunto de elementos funcionais, correspondendo a uma valência específica, podendo e devendo contemplar as interligações entre as estratégias de de-senvolvimento industrial e I&D de Defesa, no sentido de alargar a base de participação e divulgar o potencial e as oportunidades.

Trazendo este conceito para a área da manutenção, surgem os elementos funcio-nais Material, Infra-estruturas e Pessoal. Na “capacidade” de reparação, a Direcção de Navios, como direcção técnica e a sociedade Arsenal do Alfeite, SA, como executante, as-seguram uma parte substancial deste esfor-ço. Esta parceria é um elemento novo, que não pode deixar de ser analisado e acompa-nhado.

Se pensarmos nas características dos navios da esquadra em edificação e respec-tivos ciclos de manutenção previsíveis, o es-taleiro deve conseguir responder em simul-tâneo a um conjunto de acções de manu-tenção planeada (fragata, submarino, navio patrulha oceânico, lancha de fiscalização, navio-hidrográfico e uma ou duas lanchas), além de uma margem de disponibilidade para responder aos trabalhos eventuais e urgentes. É certo que no presente não tem existido capacidade financeira para assegu-rar as necessidades de manutenção da es-quadra e assim garantir a aquisição de ser-viços ao estaleiro, mas torna-se vital manter as capacidades e as valências identificadas, ou perder-se-á num minuto o que demorou décadas a construir. Exercendo a Arsenal a exclusividade que lhe foi atribuída por con-cessão, tem forçosamente que adaptar a sua organização de trabalho à Marinha, bem como manter práticas e custos regulados pelo mercado e por uma entidade externa.

A abordagem de ciclo de vida, aliada à redução dos recursos disponíveis e a alte-rações organizacionais, obriga também a uma redefinição e adaptação dos processos e ao alinhamento de objectivos entre todos os grupos de interesse. Nesse sentido a Direcção de Navios tem assumido o pro-tagonismo na adopção de ferramentas de planeamento, de gestão estratégica e de uni-formização de requisitos, definindo indica-

dores de gestão e prioridades, e integrando as necessidades e perspectivas das diversas entidades. A definição dos processos inter-nos e o estabelecimento do mapa estratégi-co, aliados à gestão por projectos, são me-didas essenciais para planear e assegurar a sustentabilidade dos meios de acção naval no futuro, com os recursos disponíveis.

Com a decisão de reequipar a Marinha com as fragatas da classe Bartolomeu Dias, com os submarinos da classe Tridente, com os patrulhas da classe Viana do Castelo e LFC, com as Viaturas Blindadas Anfíbias e outros projectos igualmente importantes, está implícito que o país assumiu também o compromisso de assegurar o respectivo ciclo de vida. Sendo um investimento, im-porta que seja rentabilizado e útil. De outra forma ficará em causa a manutenção da es-quadra, no sentido de existência.

A definição, projecto, construção e inte-gração dos meios navais é um processo pro-longado, a que se segue uma vida útil de 35 anos. Assim, a edificação de uma Marinha equilibrada e com capacidade de sustenta-ção tem que adoptar um modelo linear de gestão integrada de ciclo de vida. Depois de contratados, os programas não podem ser postos em causa. Só assim se conseguirá uma redução substantiva nos custos glo-bais.

Abordei agora o tema manutenção da esquadra, sem referir técnicas, sem questio-nar as políticas de manutenção ou a nossa organização e o respectivo sistema de ges-tão. Falar de manutenção sem abordar estes temas, não é falar de manutenção, como não é manter a esquadra aquilo que cada vez mais nos é imposto através das constantes interrupções nos fluxos financeiros e cortes orçamentais. Com certeza que só será pos-sível controlar os efeitos provocados pela insuficiência de verbas durante um período de tempo limitado. De imediato teremos mais períodos de indisponibilidade. A mé-dio prazo haverá menor fiabilidade global, bem como uma redução das capacidades das unidades combatentes caso não sejam modernizadas. A longo prazo, todo o esfor-ço colocado na sua edificação será posto em causa, anulando os ganhos de produtivida-de que temos vindo a conseguir.

Sabemos e queremos fazer melhor.

J. Garcia BeloCALM EMQ

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7REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2011

O Chefe do Estado-Maior General das Forças Arma-das (CEMGFA), General

Luís Evangelista Esteves de Araújo, visitou a Marinha, no passado dia 22 de Fevereiro, tendo esta visita constituído, como é tradição, a pri-meira a um ramo das Forças Arma-das pelo novo CEMGFA.

No Portão Verde, era aguardado pelo Comandante da Base Naval de Lisboa, tendo seguido para a Praça do Comando, onde foi recebido pelo Almirante Chefe do Estado--Maior da Armada (CEMA). Ali, fo-ram-lhe prestadas honras militares por uma força constituída por uma companhia de Fuzileiros e Banda da Armada, tendo a corveta Baptista de Andrade, fundeada na Bacia de Manobra, efectuado as salvas pre-vistas na Ordenança.

A visita iniciou-se a bordo do NRP Corte-Real com uma apresen-tação efectuada pelo SUBCEMA sobre a realidade da Marinha, as missões e os meios afectos à sua execução, as responsabilida-des e a estrutura que lhes corresponde, assim como o caminho percorrido na adaptação às novas circunstâncias do País, refor-çando o carácter expedicionário e de duplo uso, e as ideias-força da transformação da Marinha para permitir a Portugal continu-ar a usar o mar na justa medida dos seus interesses. Nesta oca-sião, o General CEMGFA aproveitou para expressar a sua visão

O CHEFE DO ESTADO-MAIOR GENERAL DAS FORÇAS ARMADAS VISITA A MARINHA

sobre as Forças Armadas do futuro. Após uma breve visita ao navio,

que terminou no convés de voo onde se encontrava o helicóptero, respecti-va tripulação e pessoal do Pelotão de Abordagem, a comitiva dirigiu-se à Esquadrilha de Submarinos.Ali, o co-mandante efectuou uma apresentação sucinta sobre as capacidades dos novos submarinos, com o apoio de um mode-lo à escala, a que se seguiu uma visita aos meios dos Mergulhadores para guerra de minas e inactivação de enge-nhos explosivos, e ao NRP Tridente.

De seguida, a comitiva dirigiu-se à Base de Fuzileiros, tendo durante o per-curso efectuado uma breve passagem pela Escola de Tecnologias Navais. Na Base de Fuzileiros, General CEMGFA percorreu um dispositivo estático onde tomou conhecimento das valências úni-cas do Corpo de Fuzileiros, incluindo o Destacamento de Acções Especiais. Finalmente, visitou uma pequena mos-

tra do Instituto Hidrográfico, onde pode constatar as capacidades científicas e tecnológicas daquele Instituto.

Finda a visita, o General CEMGFA e comitiva dirigiram-se ao Palácio do Alfeite, onde o Almirante CEMA ofereceu um almoço. Por fim, o General CEMGFA assinou o Livro de Honra da Mari-nha e saiu do Palácio ao som dos apitos como é tradição naval.

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NRP SAGRES - ALMOÇO DE COMANDANTES

mandantes Farrajota Rocheta, Fer-reira da Costa e Serradas Duarte. Esta foi uma oportunidade de reen-contro com a barca e com amigos, de recordar viagens passadas e de abordar temas do futuro tais como as celebrações e a modernização do navio.

No final do almoço, o VALM Sil-va Horta, primeiro comandante da Sagres, escreveu no Livro de Honra:

“Voltar à “SAGRES” é recordar belas horas da minha vida passada. Faz doer mas é muito bom. Que todos os que por aqui passarem retenham as mesmas maravilhosas recordações que eu guardo, são os meus votos.”

Colaboração do COMANDO DO NRP SAGRES

com a presença de todos os coman-dantes destes 49 anos na Marinha, com a excepção dos falecidos Co-

Celebraram-se no passa-do dia 8 de Fevereiro os 49 anos da transferência

para Portugal do NRP Sagres. Entrou-se assim na contagem fi-nal para a grande celebração do navio que vai ocorrer ao longo de 2012: 50 anos ao serviço de Portugal e 75 anos de construção. O próximo ano vai trazer a Lis-boa o evento “Tall Ships Lisbon 2012”, um festival de grandes veleiros onde a Sagres e o Creoula serão estrelas por serem navios do porto, por terem um elevado reconhecimento internacional e por ambos comemorarem ambos 75 anos de construção.

Para celebrar a importante data, realizou-se a bordo o tradicional Al-moço de Comandantes que contou

O Comandante Proença Mendes com os antigos Coman-dantes: Miranda Gomes, Castanho Paes, Vale Matos, Homem de Gouveia, Castro Centeno, Silva Horta, Malhão Pereira, Dias Pinheiro, Martins e Silva, Rocha Carrilho, Rodrigues Leite e Lopes Cavalheiro

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8 ABRIL 2011 • REVISTA DA ARMADA

O novo Conceito Estratégico de Lisboa descreve as principais ameaças ao ambiente de segu-

rança, começando, naturalmente, pelas ameaças militares convencionais, que são a razão de ser da NATO. Além des-sas, o documento refere explicitamente um conjunto de ameaças, caracteriza-das por serem difusas, irregulares e im-previsíveis, como a proliferação de ar-mamento, o terrorismo, as traficâncias, os ataques cibernéticos, a disrupção de vias de transporte vi-tais e as ameaças am-bientais.

Analisando essas ameaças, é possível ti-rar três conclusões.

Em primeiro lugar, todas elas requerem uma abordagem ho-lística (“comprehensive approach”), que en-volva a cooperação e a contribuição de todos os actores civis e militares. De facto, nenhum país, nem ne-nhuma organização, nacional ou interna-cional, está em condições de enfrentar as ameaças, actuais e futuras, de forma isolada. Aliás, o Conceito Estratégico reconhece essa necessidade, enfatizan-do a importância do estabelecimento de parcerias abrangentes.

Em segundo lugar, o combate a es-tas ameaças implica uma aproximação centrada no exercício da autoridade e na imposição da lei. Nesse sentido, a resposta dos países aliados tem que respeitar os quadros político-jurídicos existentes na legislação doméstica de cada país.

Em terceiro lugar, exceptuando os ataques cibernéticos (que têm uma natureza diferente), todas as ameaças referidas possuem uma forte dimensão marítima. Assim vejamos.

A proliferação de armamento pro-cura explorar todas as formas de trans-porte possíveis, designadamente por

via marítima, como mostraram, entre outras, as apreensões dos navios “So San”, quando transportava mísseis Scud para o Iémen, e “BBC China”, que levava materiais sensíveis para a Líbia.

Os terroristas que atacaram Bom-baim, em 2008, chegaram à cidade por mar, havendo ainda registos de vários ataques terroristas a navios, nomeada-mente ao destroyer americano “Cole”, ao super-petroleiro francês “Limburg” e ao ferry filipino “SuperFerry 14”.

Os tráficos, nomeadamente de drogas, utilizam cada vez mais rotas marítimas, como forma de colocar os estupefacientes nos seus mercados de destino.

A eventual disrupção de vias de transporte vitais é uma ameaça parti-cularmente séria no ambiente maríti-mo, pois cerca de 90% do comércio e 60% do petróleo mundiais circulam pelos oceanos. Neste âmbito, a pirata-ria marítima ameaça afectar cada vez mais o regular fluxo do transporte por mar, particularmente em zonas como o Corno de África, onde se registaram, em 2010, 219 ataques ou tentativas de ataque a navios (embora a presença das marinhas de guerra na área tenha feito gorar mais de 70% das tentativas de assalto encetadas pelos piratas so-malis).

Finalmente, as ameaças ambientais

que afectam o nosso planeta são muito diversas, mas a protecção dos oceanos e dos mares merece uma atenção es-pecial, pois eles ocupam cerca de 71% da superfície da Terra, estando sujeitos a desastres de consequências incalcu-láveis, como aconteceu na sequência da explosão da plataforma petrolífera “Deepwater Horizon”, no ano passa-do, no Golfo do México.

A dimensão marítima destas amea-ças ganha um peso acrescido, quando

conjugada com a im-portância que o mar desempenha, tanto para a economia glo-balizada dos nossos dias, como para a pró-pria NATO, que deve uma boa parte do seu sucesso à liberdade de utilização dos oce-anos. Nesse sentido, a Estratégia Marítima da Aliança, aprovada em 16 de Março p.p., inclui a segurança ma-rítima no rol de fun-ções do poder naval aliado, reconhecendo

expressamente que a segurança colec-tiva é inalcançável sem a segurança dos mares. Esse documento aponta a necessidade das forças navais aliadas se empenharem, de acordo com o di-reito internacional, na imposição da lei nos espaços oceânicos, no combate à proliferação de armamento por via marítima e na protecção da liberdade de navegação.

A segurança marítima não é uma função nova, pois consiste em algo que as marinhas de todo o mundo vêm desempenhando desde sempre. Toda-via, a assumpção de um maior envol-vimento das forças navais aliadas em tarefas de exercício da autoridade e de imposição da lei no mar é uma clarifi-cação útil, que importa ressaltar.

N. Sardinha MonteiroCFR

A segurança marítima

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9REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2011

A dezanove de Agosto de 2010 foi assinada em Lisboa a Portaria de Gestão de Documentos da Marinha

(PGD), pelo Ministro da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar e pela Ministra da Cultura, Organismos tutelares da Marinha e da Direcção-Geral dos Arquivos Nacionais, respectivamente.

Agora que foi publicado em Diário da República, este diploma legal vai passar a definir os prazos de conservação de todos os documentos produzidos e recebidos pelas U/E/O nas fases activas (arquivo corrente), semi-activas (arquivo in-termédio), bem como o seu destino final (eliminação ou transferência para o arquivo histórico).

De igual modo, a Porta-ria regulamentará os proce-dimentos para a eliminação dos documentos sem valor administrativo ou histórico, bem como os procedimen-tos para a remessa de docu-mentos entre as U/E/O e o Centro de Documentação, Informação e Arquivo Cen-tral da Marinha (CDIACM), e entre este e o Arquivo His-tórico da Biblioteca Central de Marinha.

A publicação da Portaria de Gestão de Documentos vem culminar um longo processo que teve início em 2003, ano em que foi criado através de Despacho do Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada, nº 22/03, de 24 de Fevereiro, um Grupo de Trabalho para a Arquivística da Marinha (GTARM), com a missão de pro-ceder ao desenvolvimento de um sistema de gestão documental, compreendendo um Plano de Classificação e um ante-projecto de um Regulamento de Classificação Ar-quivística (Projecto de Portaria de Gestão de Documentos) com a respectiva Tabela de Selecção.

A concretização destas normas arqui-vísticas decorria da necessidade de se dar cumprimento ao disposto no Decreto-Lei nº447/88, de 10 de Dezembro (sobre Por-tarias de Gestão de Documentos), e da importância de definição de uma política arquivística para a Marinha, consubstancia-da através de um conjunto de medidas que visassem a racionalização e a eficácia na ges-tão de arquivos, dotando os seus órgãos com instrumentos adequados de trabalho, desig-nadamente um plano de classificação e um

regulamento de conservação arquivística. Posteriormente, dada a natureza especializa-da dos trabalhos a desenvolver e a escassez de recursos humanos, foi decidido superior-mente proceder ao outsourcing de serviços de consultoria arquivística e documental, re-correndo a uma empresa especializada para coadjuvar a acção do GTARM.

Em 2007 foi lançado o concurso público para realização do Projecto de PGD, de um Plano de Classificação (antigo “Arquivo de Marinha”) e de um Manual de Gestão de Documentos.

A empresa seleccionada elaborou os re-feridos instrumentos arquivísticos em cerca de 2 anos, com o apoio do Grupo de Ligação adstrito ao GTARM, e a colaboração próxi-ma do ex - Arquivo Central, actual CDIA-CM e da Biblioteca Central da Marinha – Ar-quivo Histórico.

A PGD é constituída por um Regula-mento de Conservação do qual consta uma Tabela de Selecção, um modelo de Auto de Entrega, um modelo de Guia de Remessa de Documentos, e um modelo de Auto de Eliminação.

As vantagens que este diploma trará à Marinha consubstanciam-se na normali-zação dos processos associados ao ciclo de vida da documentação, designadamente na agilização da recuperação de informação, na redução da massa documental com a con-sequente libertação de espaços físicos nos serviços que os produzem e na garantia da conservação dos documentos com interesse histórico-cultural.

A PGD pode ser acedida no Portal da Marinha na Intranet num site sobre o Sis-tema de Arquivos da Marinha onde, para

além da PGD, reside toda a outra informa-ção relativa à doutrina arquivística, nomea-damente o Plano de Classificação de Docu-mentos da Marinha e o Manual de Gestão de Documentos.

No respeitante à aplicação da PGD na Marinha, prevê-se a criação de um Gabi-nete de Apoio aos Arquivos Correntes, no âmbito do CDIACM, que além de esclarecer duvidas, apoiará as U/E/O na elaboração da burocracia inerente à PGD e avaliará as significativas massas documentais existen-tes, produzidas e recebidas anteriormente à

data da entrada em vigor da Portaria. Prevê-se, também, a criação de um curso es-pecífico a ser ministrado no âmbito do SFPM.

Ainda relativamente à aplicação da PGD na Ma-rinha, o sistema de Gestão Documental da Marinha (CLIP) já tem embebido o Plano de Classificação de Documentos, prevendo-se que numa fase evolutiva inclua a Tabela de Selecção de Documentos e um mó-dulo de arquivo intermédio e outro de arquivo histórico, possibilitando a posterior transição de documentos entre arquivos, de acordo

com os prazos e destino final previsto na referida tabela.

Finalmente, e inerente à publicação da PGD, existe a obrigatoriedade de ser criado um Plano de Preservação Digital de infor-mação na Marinha, a ser elaborado a médio prazo, e que deverá garantir a preservação, fidedignidade, integridade, autenticidade, durabilidade e acessibilidade dos docu-mentos em suporte electrónico com valor arquivístico.

Desta forma, com a entrada em vigor da Portaria de Gestão de Documentos da Marinha, estão criadas as condições legais para uma correcta gestão da informação, de acordo com o ciclo de vida dos documentos, estando o CDIACM, na qualidade de Órgão de Direcção Técnica na área da Arquivística, disponível para apoiar e esclarecer qualquer dúvida ou questão levantada.

Gestão de Documentos da Marinha

J. Marques Correia2TEN TSN

Catarina Martins2TEN TSN

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10 ABRIL 2011 • REVISTA DA ARMADA

CIBER PRONTIDÃORequisitos Legais e Estratégicos

A internet e as redes sociais têm permi-tido efectuar o mais variado espectro de situações, desde convocar manifes-

tações (Egipto, Líbia, Bahrein, etc.), à fuga de informação confidencial (Wikileaks) ou mesmo ataque a Nações (Canadá e Inglaterra, só para referir alguns dos casos que se sabem).

Um ciber ataque terrorista, tem pratica-mente os mesmos efeitos de um ataque terrorista tradicional, agora imagine que pode ser feito de um terminal “convencional”, de qualquer ponto do mundo, sem comprome-ter nenhum operacional e que em vez de visar uma só determinada estrutura, é desenvolvido contra cen-tenas, milhares ou mesmo contra o mundo inteiro… . Assustador não?

Ataques no ciberespaço são comuns. Os efeitos de tais ataques podem variar de minimamente incómo-dos, como é o caso da desconfiguração de pági-nas na web ou negação temporária de serviços em sistemas não críticos, a altamente perturban-tes, interrompendo o comércio internacional ou ameaçando desestabilizar uma Nação. Dai a importância do entendimento da ciber pronti-dão, que pode dizer-se possuir três dimensões (E. Tikk and T. Wingfield, “Frameworks for In-ternational Cyber Security: The Cube, the Pyra-mid, and the Screen,” presentation, Int’l Cyber Conflict Legal and Policy Conf., 2009):

•Tecnicamente viável - o possível;•Legal - o admissível;•Política pública - o preferível.De um ponto de vista técnico, ou seja o pos-

sível, um defensor pode usar por exemplo uma ferramenta como o Network Security Planning Architecture (NetSPA) para avaliar as vulnerabi-lidades da sua rede informática e dessa forma desenvolver as contra-medidas apropriadas (K. Ingols et al., “Modeling Modern Network At-tacks and Countermeasures Using Attack Gra-phs,” Proc. Ann. Comp. Security Applications Conf. , IEEE, 2009, pp. 117- 126). No entanto, um defensor, precisa também de um sistema distributivo de Comando, Controle e Gestão de Batalha (C2/GB), para manter a consciência situacional e responder aos ataques em tempo real (N. Howes, M. Mezzino, and J. Sarkesain, “On Cyber Warfare Command and Control Systems,” Proc. 9th Ann. Int’l Command and Control Research and Technology Symp., 2004; www.dodccrp.org/events/9th_ICCRTS/CD/ papers/118.pdf).

Passando ao admissível e ao preferível, os

princípios orientadores do jus in bello, consue-tudinário de "standards" legais para conduzir a Guerra - discriminação, necessidade, pro-porcionalidade e cavalheirismo - também se aplicam à ciber guerra, assim como os do jus ad bellum, lei que rege a transição da Paz para a Guerra (J.B. Michael, “On the Response Policy of Software Decoys: Conducting Software-

-Based Deception in the Cyber Battle space,” Proc. 26th Ann. Int’l Computer Software and Apps. Conf., IEEE, 2002, pp. 957-962). Os ciber ataques podem ter efeitos equivalentes aos dos produzidos por ataques cinéticos (efectuados por armas) e a questão fulcral põe-se em saber se um ataque atingiu o nível de uso de força à luz da Lei Internacional (J.B. Michael, T. Win-gfield, and D. Wijesekera, “Measured Respon-ses to Cyber Attacks Using Schmitt Analysis: A Case Study of Attack Scenarios for a Software--Intensive System,” Proc.. 26th Ann. Int’l Com-puter Software and Applications Conf., IEEE, 2003, pp. 622-627).

Assim, independentemente das medidas técnicas utilizadas, o direito e a política devem estar estrategicamente alinhados, de forma a orientar os defensores nas respostas a ciber ata-ques. Apesar de uma resposta poder ser legal, a política determinará a latitude da aplicação da Lei, levando em consideração factores como o impacto na sociedade, as relações diplomáticas, preocupações com privacidade e o nível de res-posta à intrusão. A actualidade do tema ciber prontidão é evidenciada pelas recentes notícias, discussões legais e jurídicas como por exemplo o ciber ataque, efectuado pelo Departamento de Defesa do Estados Unidos, com o intuito de desmantelar um fórum on-line que planeava um ataque às tropas americanas (E. Nakashi-ma, “For Cyberwarriors Murky Terrain; Dis-mantling of Saudi-CIA Web Site Illustrates need for Clearer Cyberwar Policies,” The Wa-shington Post, 19 March 2010, pp. A1 and A16).

Além disso, as técnicas para condução de

análise de princípios, deverão estar prontas para ajudar a minimizar a incerteza jurídica so-bre ciber incidentes e permitir a mais completa variedade de respostas efectivas. Quer a respos-ta seja conduzida através de armas, ou ciber, tem que acima de tudo, estar dentro da Lei (T. Wingfield, The Law of Information Conflict: National Security Law in Cyberspace, Aegis

Research Corp., 2000).A fusão das três dimen-

sões da ciber prontidão, consegue-se através da adição de um novo tipo de célula virtual, a célula legal. Estas células exis-tem dentro de sistemas, servindo de comunidades virtuais dinâmicas em que ciber operadores podem interagir e serem apoiados na tomada de decisões informadas. Os referidos operadores, englobam pe-ritos em ciber operações, conjuntamente com co-munidades diplomáticas,

políticas, autoridades legais, polícias, economis-tas e responsáveis por manter a infra-estrutura crítica nacional. Os operadores podem criar, associar-se, abandonar e dissolver as referidas células virtuais a todo o momento.

A célula legal proporciona aos ciber ope-radores os meios para obter parecer legal de especialistas em lei das acções de informação. Dentro dos sistemas C2/GB, as células inscre-vem-se para obter informação e o sistema pu-blica-a continuamente num formato digerível o que difere do método information-pull, incorpo-rado na maioria dos sistemas actuais usados na guerra cinética.

Através desta célula, os diversos peritos po-dem manter o panorama situacional do ciber espaço e dessa forma fornecer parecer quando este for solicitado. Esta capacidade é fundamen-tal dado o rápido tempo da ciber batalha e o alto grau de compressão espacial, que se afirma por a distância física ao alvo não ter a mínima im-portância.

Na instanciação da célula legal, o sistema preenche-a com pressupostos e algoritmos. Neste contexto, os pressupostos seguem regras preto ou branco, promulgadas automatica-mente pelos agentes móveis, enquanto os algo-ritmos compreendem dados mais complexos de processamento do que regras de produção, mas processados sem intervenção humana e cujos resultados desencadeiam o curso da ac-ção.

Estes três elementos: a lei, os pressupostos e os algoritmos, são o que Tikk e Wingfield se referem como a pirâmide, representando o

Risco de ciber ataque pelas regiões do Mundo. 1

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11REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2011

processo de tomada decisão, no decurso da velocidade operacional e das limitações dos tipos de problemas que os computadores “ainda” conseguem resolver em apoio à to-mada de decisão.

Dada a imprevisibilidade e a rapidez dos ciber ataques, uma reposta célere é crítica, ne-cessitando de pelo menos de alguns sistemas autónomos. De acordo com um relatório do National Institute of Standar-ds and Technology (NIST), deve ser delineada uma rede inteli-gente, estrategicamente voca-cionada para ciber segurança assim como os seus requisitos (http://csrc.nist. e (http://csrc.nist.gov/publications/drafts/nistir-7628/draft-nistir--7628_2nd-public-draft.pdf).

Ultimamente o líder da ciber operação, de-verá determinar o tipo de resposta automática a um ataque que pretende, particularmente no meio militar, uma vez que um Comandante não pode delegar responsabilidade pelas ac-ções do seu comando (pode no entanto dele-gar autoridade para executar determinadas acções a um subordinado so-bre seu comando mas as con-sequências dessas acções se-rão sempre responsabilidade sua). Alguns sistemas defen-sivos que envolvam o uso de armas cinéticas exigem mais automação, com é o caso dos usados para defesa contra mísseis balísticos, onde o ci-clo de trabalho para funções básicas detectam a chamada “cadeia de matar” - detectar, seguir, atribuir armas, dis-parar e avaliar danos - que não poder ser executada por seres humanos com rapidez suficiente para al-cançar os níveis desejados de funcionamento e eficácia. Exemplo de um pressuposto neste contexto será quando um objecto entra num espaço aéreo restrito, em seguida, uma arma é atribuída e disparada de forma a neutralizar esse objecto. Exemplo de envolvimento huma-no será quando um país intercepta mísseis so-bre outro país, o que é considerado legal, mas as potenciais consequências, se for tomada alguma acção - assim como os restos residuais químicos, nucleares ou biológicos que caírem noutro território - deverão ser pesadas contra o risco de mísseis alcançarem os seus objectivos.

Para se atingir a referida ciber prontidão deverá incorporar-se em sistemas de C2/GB, a capacidade de intermediação (brokering) - para facilitar a difusão controlada de informação entre os ciber operadores de diferentes domí-nios administrativos - entre utilizadores que colaborem, ainda que numa coligação adhoc mas formal, em operações de defesa dos seus

activos através dos recursos da ciber guerra. Por exemplo, se um consultor jurídico neces-sitar de subscrever determinados recursos de dados, para reunir a informação necessária para efectuar uma determinação legal, não

necessita de saber sobre onde os dados são originados e/ou relacionados com a informa-ção. Esta capacidade de intermediação fornece os meios que permitem partilhar informação, protegendo o anonimato das fontes e dos seus métodos de colecta, partilhando apenas o es-tritamente necessário para que os operadores,

a representarem determinados papéis, neces-sitem de ter direito de acesso. Essa capacidade de partilha teria sido útil para o conjunto de empresas privadas e organizações públicas que prestaram ajuda à Estónia em 2007.

Os sistemas tornaram-se cada vez mais interligados, através de determinadas tendên-cias (cloud computing) e da criação de sistemas de sistemas (Systems of Systems). Estas compo-sições proporcionam mais capacidades acres-centadas do que os sistemas independentes podem proporcionar isoladamente. Prontidão para ciber ataques implicará a cooperação en-tre os vários intervenientes destes sistemas, ainda que só através de mecanismos de con-tenção de comportamento entre os mesmos.

Os esforços para atingir a tão desejada ci-ber- prontidão, são os referidos pela NIST no seu relatório sobre as redes inteligentes e são efectivamente a direcção a tomar:

“Some of the responses [to cyber attacks] must be autonomic - timely response is a cri-

tical requirement for grid reliability. However, for a quick response to treat the symptom lo-cally and effectively, the scope and extent of the impact of the failure needs to be quickly determined. Not all responses are autonomic

however. New research is ne-eded to measure and identify the scope of a cyber attack and the dynamic cyber thre-at response options available in a way that can serve as a decision support tool for the human operators.”

A referida ciber prontidão deve incluir a provisão de um espectro de capacidades totais em sistemas de ciber C2/GB, conjuntamente com células virtuais, especializa-das, dinâmicas que permitam a colaboração entre os ciber

operadores proactivamente.Portugal deverá tirar partido da sua situa-

ção geográfica privilegiada, porque de acordo com um relatório da International Cable Com-mittee de 2007 (International Cable Committee Ltd, “Subsea Landslide is Likely cause of SE Asian Communications Failure” ICPC Press Realease –

21 March 2007), mais de 95% do tráfego ciber é efectuado por cabo submarino e o ter-ritório Nacional ocupa uma posição excepcional.

Dessa forma urge deixar de pensar e passar a agir. Tor-na-se necessário definir uma estrutura Nacional para este tipo de defesa, que permita acima de tudo uma resposta legal, mas também alinhada com os objectivos estratégicos. Chega de pequenos e isolados sistemas que se digladiam para tentar proteger a sua

estrutura e que até vão conseguindo alguns resultados uma vez que nunca foram atacados verdadeiramente. É indispensável então um Sistema integrado de C2 populado por células virtuais que permita que determinadas acções efectuadas num ponto, possam servir como soluções efectivas para outros e que possibilite ainda efectuar uma resposta em “tempo real” a este tipo de ameaças fornecendo a informação necessária aos decisores, sobre os ataques imi-nentes, em tempo.

G. Baptista de SousaCTEN ENMEC

Ciber ataque. 2

Cabos Submarinos Inter-Continentais 3

Notas:1 http://mariano.delegadodepolicia.com/wp-con-

tent/uploads/2010/09/AVG-Infografico-de-Riscos-na--internet-por-pa%C3%ADs.jpg

2 http://www.fayerwayer.com.br/wp-content/uploa-ds/2009/05/cyber_guerra.jpg

3 http://matizes.escondidos.zip.netimages/020306ca--blemap_550x300.gif

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12 ABRIL 2011 • REVISTA DA ARMADA

INTRODUÇÃOA expressão “Investigação, Desenvolvi-

mento e Inovação” (IDI) abrange um leque muito vasto de actividades distintas, de natureza fundamentalmente idêntica, mas que exigem competências e mecanismos de gestão substancialmente diferentes. Quando fazemos “desenvolvimento tecnológico”, os objectivos e preocupações centram-se em conceitos como desempenho e fiabilidade do equipamento a desenvolver; quando fazemos “investigação pura”, pelo contrá-rio, a atenção centra-se no poder explicativo e preditivo da teoria desenvolvida. São realidades diferentes. No primeiro caso, o sucesso mede-se em número de produtos e patentes; no segundo, pelo número de publicações em conferências e revistas científicas, e seu impacto na ciência mun-dial. Se a isto juntarmos outras realidades, como “investigação aplicada” ou “inovação organi-zacional”, para citar apenas mais dois exemplos, é fácil perceber a imensidade de coisas diferentes a que nos referimos, quando falamos em IDI.

A Marinha tem responsabilidades em muitas destas áreas de IDI, por duas ordens de razão:

1) Imperativos directos. A obrigatoriedade de produzir investigação aplicada na área das Ciências do Mar (área genérica que, tradi-cionalmente, abrange disciplinas que vão da Oceanografia Física à Geologia Marinha, passando pela Navegação, Hidrografia, Car-tografia e muitas outras), é uma das missões particulares estabelecidas para a Marinha. Encontra-se também explicitamente definida, como missão das Forças Armadas, a procura constante de melhoria dos seus produtos e processos, através da investigação aplicada, experimentação e inovação, nomeadamen-te garantindo a sua evolução e adaptação a

contextos externos em mutação permanente. Por fim, há a considerar a existência da Escola Naval (EN): como instituição universitária, a EN tem a obrigação legal de produzir inves-tigação científica pura, actividade sujeita a avaliações periódicas por parte do Ministé-rio da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES); 2) Imperativos decorrentes da missão. Para além dos imperativos directos, a Marinha tem de fazer IDI por várias outras razões. Uma das funções que decorrem dos seus objectivos de Missão é a contribuição para o desenvol-vimento económico, cultural e científico na-cional; daqui resulta a necessidade de apoio e participação em projectos IDI cooperativos com as Universidades, Institutos, Laboratórios e Centros de Investigação do Sistema Cientí-fico e Tecnológico Nacional (SCTN), e empre-sas da chamada Base Tecnológica e Industrial

Nacional (BTIN). Finalmente, e embora mui-tas outras razões pudessem ser invocadas (afirmação institucional, integração na socie-dade civil, responsabilidades históricas, ne-cessidade de assegurar a evolução e progres-so nas áreas científicas nucleares da Marinha, etc.), realçaremos aqui apenas o papel que os fundos externos disponíveis para activida-des de IDI podem representar, permitindo colmatar, com projectos e desenvolvimentos neste âmbito, carências e lacunas que, num contexto de sérias restrições financeiras, di-ficilmente seriam mitigáveis de outro modo.

A importância da IDI para a Marinha está presentemente reflectida no facto de integrar dois dos objectivos estratégicos definidos pelo Almirante CEMA para os próximos três anos, na recente Directiva de Política Naval – 2011.

AS ORIGENSEm 10 de Fevereiro de 2010, por despacho

do Almirante CEMA, foi criado o Centro de Investigação Naval (CINAV), na dependên-cia do Comandante da Escola Naval, para promover, coordenar e supervisionar as actividades de IDI desenvolvidas na Mari-nha, com excepção das áreas já coordenadas pelo Instituto Hidrográfico (IH). É, pois, no seio do CINAV que deverão ser executados os projectos de IDI dos órgãos e serviços da Marinha, com a já referida excepção das áreas coordenadas pelo IH. Como unidade de IDI que é, o CINAV possui autonomia científica, e uma estrutura orgânica que respeita os re-quisitos legais impostos pelo Regime Jurídico das Instituições de Investigação (Decreto-Lei 125/99).

Foi também cometida ao CINAV, de for-ma explícita, a responsabilidade por promo-

ver e apoiar as actividades de IDI da Escola Naval. Embora esta responsabilidade seja, na-turalmente, derivável da missão genérica de promoção e coorde-nação da IDI da Marinha, a sua explicitação tem a vantagem de fazer realçar e tornar aparente a dupla natureza das actividades e âmbito de actuação do CINAV. A IDI que mais directamente interessa às Direcções Técnicas, Sistema de Forças, e outras es-truturas da Marinha, é de na-tureza marcadamente aplicada e pragmática, obrigando a que os projectos que corram nesse âmbito tenham como objectivo o desenvolvimento de sistemas

e técnicas de elevado TRL (technical readiness level), capazes de conduzir a implementações rápidas de resultados e produtos. Já no que respeita à investigação pura, de carácter uni-versitário, que a Escola Naval tem de produ-zir, os objectivos e indicadores de sucesso são substancialmente diferentes. A utilidade e in-teresse da investigação aí realizada não deve ser aferida pelas implementações a que possa conduzir, mas sim pelo seu efeito nos proces-sos de ensino e aprendizagem, na evolução académica e intelectual de alunos e professo-res, e no impacto da ciência produzida. São, mais uma vez, realidades diferentes, cujo sucesso se mede com indicadores diferentes: número e qualidade de projectos e produtos, num caso; número e qualidade das publica-ções científicas conseguidas, no outro.

O CINAV assume-se, assim, como her-

O CENTRO DE INVESTIGAÇÃO NAVAL (CINAV)

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13REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2011

deiro de duas linhas distintas: O Centro de Estudos Especiais da Armada (CEEA) e o Gabinete Coordenador das Actividades de Investigação e Desenvolvimento da Escola Naval (GCAID). O CEEA, criado em 9 de Dezembro de 1961 (um sábado), tinha por missão “Coordenar e orientar os trabalhos de investigação técnica e científica, relativos às armas e material naval, realizados no âm-bito do Ministério da Marinha”, missão que, tirando a ligeira restrição de âmbito, mapeia perfeitamente o actual CINAV. Durante cer-ca de 25 anos, este organismo serviu como centro de apoio e acolhimento às iniciativas e projectos (individuais ou institucionais) que iam surgindo na Marinha. Foi assim que foi desenvolvido o sistema de libertação de lastro para os torpedos MK44 de exercício; foi também assim que foi desen-volvida a granada-foguete de 90 mm (Armada 90) e o seu lança-dor para os Chaimites da Ma-rinha, ou os foguetes para levar retenidas a navios acidentados, a partir da praia. Noutra arena, o GCAID assegurou e coordenou, desde 1993, as actividades de investigação da EN. Nesse perío-do, a EN produziu e publicou 87 artigos científicos internacionais (25 em revista, e 62 em conferên-cia), 45 artigos em conferências científicas nacionais, para além de quase duas dezenas de livros e capítulos em livro, e quase duas centenas de artigos em re-vistas de divulgação; produziu ainda, como resultado das Memórias de Fim de Curso dos Aspirantes, vários desenvolvimentos que vieram (e continuam) a ter aplicação diária na esquadra e na vida da Marinha, com casos pontuais de projecção e adopção internacio-nal. Embora correspondendo ao período do arranque da investigação científica pura na Marinha (por força da integração da EN no SCTN), foram anos de produção considerá-vel, especialmente considerando o número demasiado reduzido de investigadores com produção efectiva. O balanço entre estas duas realidades - investigação pura da (e para) a EN, e investigação aplicada/desenvolvi-mento de (e para) os restantes sectores da Marinha – é o compromisso assumido pelo CINAV, e a característica mais conspícua da missão que lhe está atribuída.

SITUAÇÃO ACTUALO CINAV está sediado nas instalações

da Escola Naval, e é apoiado pelos órgãos e serviços desta Escola. Presentemente, possui sete linhas de investigação (Estratégia Marí-tima, História Marítima, Gestão da Manu-tenção, Robótica Móvel, Processamento de

Sinal, Sistemas de Apoio à Decisão, e Saúde Naval). Desenvolve ainda actividade noutras áreas (ex: comunicações móveis) que, por não possuírem ainda um corpo de trabalho ou número de investigadores com dimensão adequada, não constituem linhas de investi-gação estabelecidas.

Do pacote estratégico desenvolvido para o CINAV constam vários objectivos estratégi-cos e de suporte, suas medidas e indicadores. Mas se, de todo esse mapa estratégico, apenas pudéssemos eleger os dois vectores que têm orientado a acção do CINAV, teríamos de ele-ger os seguintes: cooperação e internacionalização. É na cooperação que se aprende, que se encon-tram sinergias, e se criam oportunidades. Por outro lado, é no confronto e comparação com os melhores que se encontram as oportunida-

des e motivações para evolução, e é em termos internacionais, portanto, que deve ser aferida a qualidade da investigação produzida.

Um ano após o início de actividade, o portfolio de projectos em que o CINAV está envolvido (uma parte substancial ainda a aguardar aprovação por parte das entidades financiadoras) é muito considerável, forte-mente internacional, e, em todos os casos, co-operativo. Dele constam 7 projectos europeus (três com financiamento da União Europeia – 7º Programa-Quadro, dois com financia-mento da Agência Europeia de Defesa, e dois com financiamento NATO), 7 projectos sub-metidos a fontes de financiamento nacionais externas à Defesa (Fundação para a Ciência e Tecnologia), e 8 projectos que aguardam financiamento por parte do Ministério da De-fesa. No seu conjunto, implicam a cooperação com grande parte das Universidades e Insti-tutos de referência na investigação nacional (UPorto, IST, UAveiro, FC-UL, FCT-UNL, ISEL, UCatólica, ISEGI-UNL, INESC-INOV, INESC-ID, entre outras), e dezenas de insti-tuições congéneres europeias. Encontram-se ainda em preparação projectos adicionais de cooperação, desta vez com instituições fora

da Europa (EUA). No global, estes projectos excedem os quatro milhões de euros, estando a participação do CINAV avaliada em cerca de 600 mil euros. No actual contexto externo fortemente restritivo, estima-se, porém, que não venha a haver financiamento para uma boa parte dos projectos ainda não aprovados.

No que respeita à investigação científica pura, de cariz académico/universitário, no ano de 2010 foram feitas 26 publicações em re-vistas e/ou conferências científicas internacio-nais, 34 em revistas e/ou conferências científi-cas nacionais, publicados 15 livros/capítulos em livro, tutoradas duas teses de Doutora-mento, 24 Teses de Mestrado, publicados 48 artigos em revistas de divulgação, e efectuadas 67 outras divulgações, entre palestras e publi-cações diversas.

Os vectores internacionali-zação e cooperação estão, pois, fortemente representados no actual leque de actividades e resultados do CINAV, e são o corolário natural de um poten-cial de credibilidade, nacional e internacional, que o CINAV tem vindo a conseguir estabe-lecer no ano de vida que já leva.

EPÍLOGOA IDI na Marinha não surgiu

com o CINAV. Pelo contrário, vem de há longa data. A actual solução orgânica poderá permi-tir, porém, um grande desenvol-vimento da área, pela reunião e

concentração de competências que permite, capaz de constituir o necessário capital de massa crítica. Podem ser membros do CI-NAV todos os docentes da Escola Naval, Ofi-ciais da Marinha envolvidos em actividades de IDI, ou, em geral, quaisquer investigado-res que colaborem com o CINAV ou sejam orientados cientificamente por membros do CINAV. As candidaturas devem ser envia-das ao CINAV, para apreciação pelo Conse-lho Científico. Todos juntos, somos poucos. Como espaço de acolhimento para ideias, projectos e percursos de iniciativa individual que também é, o CINAV está disponível e ao alcance de todos nós1, em [email protected]. A iniciativa individual é tão ou mais im-portante do que a iniciativa organizacional. O espaço para o seu apoio e acolhimento existe. Assim o saibamos usar.

Paulo Mónica de OliveiraCMG EMT

Director do CINAV

Notas:1 O CINAV divulga, semanalmente, uma lista das acti-

vidades e eventos IDI em curso. Se pretender ser destinatá-rio desta lista, solicite-o por mail, para [email protected].

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14 ABRIL 2011 • REVISTA DA ARMADA

Fomos encontrá-los na reunião semanal de 5ª feira, que organizam para preparar a semana de trabalho. Os caminhos que percorreram até chegar à Psicologia nem sempre foram os mais direitos, cruzaram-se com Antropologia, Direito, Ciências Sociais, até alguém um dia perguntar: O que é que te interessa saber? A resposta da Filipa sintetiza a opinião de todos, Quero trabalhar com pessoas e para as pessoas.

Só o Heitor e a Sílvia são novatos no serviço, e a integração excedeu as expectativas. Somos tratados como iguais. Há toda uma rede de apoio, não sentimos nunca que vamos cair.

O Hospital é para todos uma instituição de referência, reconhecido pela qualidade dos estágios que proporciona e pela diversidade de actividades, mas o mais importante é a grande dinâmica humana, de companheirismo, reitera a Joana.

A integração dos estagiários no serviço é gradual e progressiva, já que a autonomia leva a uma maior responsabilização. A par desta integração no serviço, há também a institucional, pois é importante para entendermos o contexto onde os militares/pacientes estão inseridos, afirma a Tânia, por isso estivemos a bordo de uma fragata e de uma corveta.

A motivação, o empenhamento, a vontade de aprender e fazer bem estampa-se-lhes nas palavras, no brilho com que falam do que fazem.

Desde 1997 que o HM recebe estagiários, como é o caso da STEN Carolina Rodrigues, que iniciou um estágio curricular no HM e acabou por ingressar nos Quadros.

A 1TEN TSN Sandra Henriques, coordenadora do Serviço de Psicologia no HM, é também responsável por este ambiente onde as relações humanas são privilegiadas, Isto é a nossa casa. Se vamos receber as pessoas de fora, temos de as receber bem afirma. Mas não se confunda este ambiente de uma certa familiaridade com facilitismo. Analisado o curriculum e passada a entrevista de selecção, tudo é partilhado. Nós vamos dar e eles têm de dar. Somos apologistas de investir na formação e tirar partido dela.

É este o repto lançado pela Marinha Portuguesa aos estagiários. Basta clicar em www.marinha.pt ou googlar em “estágios na Marinha” e tomar conhecimento das ”Normas Orientadoras para a realização de Estágios na Marinha” através do Despacho do Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada nº 63/05, de 26 de Outubro. Deste modo, a Marinha abre as suas portas à sociedade civil,

recebendo candidaturas a estágios curriculares e profissionais. As solicitações são dirigidas ao ALM CEMA e analisadas pela SSP/DSF, mas, às vezes, tudo começa num e-mail, onde em poucas palavras se tenta saber da nossa disponibilidade em recebê-los.

Consciente da importância da cooperação institucional e da valia formativa resultante da colaboração entre as instituições académicas e as profissionais, a Marinha tem acompanhado a realidade nacional no sentido de proporcionar a alunos do secundário e do ensino superior a possibilidade de realizarem estágios, no âmbito dos respectivos cursos, contribuindo, deste modo, não só para a melhoria contínua dos seus níveis de qualificação em contextos reais de trabalho, mediante o desenvolvimento de experiências formativas e profissionais, mas também para a divulgação das regras, das boas práticas e do sentido de serviço público da Marinha no exterior.

Em 2010, a Marinha recebeu 108 estagiários, distribuídos por áreas de conhecimento tão diferentes como Enfermagem, Psicologia, Relações Internacionais, Design e Multimédia, Informática, entre outras.

Mas quem são os nossos estagiários? Fomos ao seu encontro para conhecê-los. Numa época, em que já, ironicamente, se fala do estatuto de estagiário e da profissão de estagiário, quisemos ultrapassar os aspectos burocráticos, ver quem estava do lado de lá de uma carta de apresentação, de um CV…

Afinal, como se encaixa um aluno do secundário/estudante universitário num meio militar?

Estudar o poder é terrivelmente delicioso!, quem o diz é a Catarina. A ideia de que os jovens estão cada vez mais desencantados e afastados da política não encontra eco nestas quatro jovens, que também têm em comum o voluntariado e a experiência associativa.

Estivemos com elas no dia da apresentação dos seus projectos. Nervosas, claro, mas com ideias muito precisas quanto aos seus trabalhos e o seu contributo para a instituição onde se encontram a estagiar. Apesar de ser o seu primeiro estágio, têm noção de que se trata de um trabalho que permite evolução, como é o caso do projecto da Mariana “A Comunicação Estratégica da Marinha Portuguesa”, que visa uma melhor gestão estratégica da imagem da instituição, e o da Teresa, que analisa “O Alto Custo do Baixo Investimento Militar”, num dado período histórico, e suas repercussões.

Já se fala há muito tempo da Marinha nos corredores do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas: para além da tradição histórica, existe um protocolo entre as duas instituições dada a natureza dos cursos. Mas se antes existia a ideia de que uma instituição militar era uma organização rígida, impessoal, aquela depressa se desvaneceu, A postura é diferente, mas não é tão distante como aparenta, afirma a Joana.

Desde 2005 que existem estagiários no EMA. Para o Contra-almirante Silva Ribeiro, a presença de estagiários foi uma das interpretações da Directiva de Política Naval do ALM CEMA de abertura da Marinha à sociedade civil. Como deixou claro, Numa sociedade democrática, as instituições têm responsabilidade civil. Os jovens precisam de experiência para saírem mais valorizados para o mercado de trabalho. A sua passagem pela Marinha é uma forma de os valorizarmos e fomentar neles o conhecimento relativo às Forças Armadas.

VEM ESTAGIAR NA MARINHAVEM ESTAGIAR NA MARINHA

Mariana Santos, Catarina Martins,Teresa Lobo, Joana Guerreiro, 21 anos,Licenciatura em Ciência PolíticaEstágio no Estado-Maior da Armada (EMA)

Sílvia Neves, 23 anos, Filipa Henriques, Joana Firmo, Heitor Cardoso, 24 anos,Tânia Rosa, 33 anosMestrado Integrado em Psicologia ClínicaEstágio Profissional/Curricular no Serviço de Psicologia do Hospital de Marinha (HM)

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15REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2011

Ruben Rechena, 21 anos,Licenciatura em Gestão e Sistemas de InformaçãoRaquel Ferreira, Mariana Facada, 22 anos,Licenciatura em Design de ComunicaçãoEstágio Curricular na Direcção de Análise e Gestão de Informação (DAGI)

Cátia Nobre, Sub ten TSN, 28 anos,Licenciatura em Ciências da EducaçãoEstágio Curricular, âmbito Mestrado “Formação de Adultos”, na Direcção do Serviço de Formação (DSF), Observatório da Qualidade da Formação (OQF)

Carla Oliveira, 24 anos, Cátia Barreiros, 21 anos,Licenciatura em Análises Clínicas e Saúde PúblicaAnniina Laitinen, 23 anos, Tuulia Nuuhkarinen, 24 anos,Programa Europeu Erasmus - FinlândiaLicenciatura Biomedical Laboratory SciencesEstágio Curricular no Laboratório de Análises Fármaco-toxicológicas da Marinha (LAFTM)

Quando falam dos seus estágios é a expressão ganhar experiência que sobressai. Numa sociedade que tem como um dos requisitos de admissão no mercado de trabalho a experiência profissional, nem sempre é fácil encontrar quem a proporcione. Por isso, como diz a Raquel, resolvi oferecer o meu trabalho e ganhar com isso.

A Licenciatura em Gestão e Sistemas de Informação tem a ver com o bichinho da informática que sempre tentou o Ruben, mas uma informática mais direccionada para as pessoas, não tão virada para os computadores, mas mais para a arquitectura de uma organização institucional. Deste modo, na DAGI, a sua matéria de investigação é o “Levantamento de Processos”.

Já a Mariana e a Raquel estão mais ligadas à vertente da publicidade e dos “media”. Temos neste momento dois projectos: a visita virtual da exposição “A Marinha na República” e “O Sistema Solar em 3D” para o Planetário.

Porquê a Marinha? Amigos, familiares, várias foram as fontes, mas o que pretendiam era um local sério, de trabalho, com ambiente bom, palavras da Raquel, mas que todos perfilham, e encontrámos exactamente isto.

Na DAGI, o CTEN Pinheiro da Gama, actual coordenador dos estágios, não tem dúvidas de que uma Marinha que se quer inovadora, dinâmica e criadora deve apostar na abertura à sociedade civil. É bom para ambas as partes, reitera. Por um lado, as organizações recebem uma “lufada de ar fresco” do que se ensina lá fora, por outro damos a conhecer a estrutura militar, desmistificamos a ideia de rigidez, de fechamento ao exterior.

Tinha um sonho desde miúda que era ser professora de Francês, mas acabei nas Ciências da Educação, confidencia-nos. Em 2005, terminada a licenciatura, tentou candidatar-se a um estágio curricular na Marinha, mas as vagas estavam já ocupadas. Em 2008, abre concurso para Técnico Superior Naval, na área das Ciências da Educação, e entrei na Marinha para o OQF, onde estou directamente envolvida na área da Avaliação da Formação, domínio onde actualmente a DSF se encontra certificada pelo Ministério da Defesa Nacional.

Embora a sua “onda” seja o surf e a adrenalina lhe corra nas veias, tem os pés bem assentes na terra e com o Processo de Bolonha em marcha, decidiu que não devia ficar para trás porque os novos cursos já têm Mestrado integrado, por isso optou por fazer um mestrado em “Lean Management” ou “Magreza de Procedimentos”, um novo paradigma de liderança e de gestão. Estando na instituição, tenho consciência das verdadeiras necessidades. Resumindo, a simplificação de procedimentos implica menos recursos, menos tempo e menor investimento. Centramo-nos no objectivo e não no processo.

A 1TEN TSN, Otília Pereira, coordenadora de estágio, apoia este projecto, vamos ganhar independentemente do resultado! Por vezes, não temos tempo para parar e pensar nos procedimentos instituídos, tão absorvidos estamos nas nossas rotinas. A STEN Cátia vai dispor de mais uma fonte de informação que sustente o ajustamento de procedimentos inerentes à monitorização da qualidade da formação do sistema de formação.

Numa mistura de línguas, português, inglês e finlandês, procuramo-nos entender. A presença da Anniina e da Tuulia, que elegeram Portugal como 1ª escolha para fazerem Erasmus, transformou esta conversa informal num exercício a 5 vozes de descoberta de significados; não obstante, proveitosa e divertida!

A Marinha surge na vida académica destas estagiárias um pouco por influência da faculdade, pois é frequente a vinda de estudantes da Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa para estagiar no LAFTM. Para a Cátia e para a Carla a opção recaiu na área da Toxicologia usada na Marinha, o que constituía uma mais-valia a par das boas referências que tínhamos de colegas que já cá tinham estado e tinham gostado muito do ambiente. Já a Anniina e a Tuulia se consideram umas felizardas, porque é uma oportunidade muito diferente do que teríamos na Finlândia, lá só podemos estagiar em hospitais.

No LAFTM, fazem o que qualquer elemento efectivo faz: recepção, entrada e verificação de amostras provenientes de diferentes locais militares; análises quantitativas das drogas, como canabinóides, cocaína, anftaminas e opiáceos em amostras de urina.

Quando a experiência se une à vontade de aprender, o impacto é duplo. Talvez, por isso, o Tenente TSN Mendes Flores, o responsável pelos estágios no LAFTM, não hesita quando diz que é uma mais-valia para ambas as partes. A actual falta de recursos humanos é colmatada com a presença de estagiários, pois a Toxicologia é uma área em desenvolvimento, em que a inovação é constante. Constitui uma forma de divulgação para o meio civil da excelência profissional desta valência que é a Toxicologia. Não basta sermos reconhecidos internamente, interessa-nos também o reconhecimento externo.

No final, alguns ainda poderão duvidar da finalidade dos estagiários na Marinha. Deixamos aqui um excerto de uma das cartas que nos foi dirigida por um Orientador do Curso Professional de Técnico de Design da Escola Secundária Daniel Sampaio:

Nos tempos inquietos em que as organizações são obrigadas a actuar hoje em dia, existe a noção de dificuldade em abrir espaço para a responsabilidade social e contribuir para a formação dos jovens. No entanto, fazê-lo contribui para a acumulação do mais reprodutivo de todos os tipos de capital – o capital humano – condição indispensável para o tão desejado aumento de produtividade e competitividade. Encontrar quem compreenda tal relação nem sempre tem sido fácil mas felizmente, na Marinha Portuguesa, encontrámos essa dimensão.

Ana Paula Duarte e SilvaAdjunta da Repartição de Tecnologias da Formação

Direcção do Serviço de Formação

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16 ABRIL 2011 • REVISTA DA ARMADA

A cidade do Rio de JaneiroA cidade do Rio de Janeiro

Na Marinha de D. João III (24) falou-se da retomada da baía de Guanabara ou do Rio de Janeiro, por parte de

Mem de Sá, no ano de 1561. E estamos recor-dados que os franceses tinham ocupado uma das ilhas da Baía e, numa aliança com os ín-dios locais, ali se estabeleceram com um pro-jecto político a que chamaram de França An-tárctida, cujos objectivos sociais – para além da colonização de um território que se adivi-nhava promissor – tinham um fundo religioso e moral utópi-co calvinista, como referi na al-tura. À frente da expedição es-tava o vice-almirante Nicolas de Villegagnon, que construiu um forte na ilha onde hoje está instalada a Escola Naval brasi-leira, e ali se alojou com cerca de seiscentos franceses, prote-gidos contra qualquer investi-da portuguesa pelas condições da própria baía.

O centro do governo por-tuguês no Brasil estava, nessa altura, na cidade da Baía, e a escolha tinha a ver com as condições físicas do Atlântico Sul e dos ventos dominantes. Dali, o acesso ao sul faz-se sem-pre em boas condições e, ao norte, apesar de difícil, também é possível com uma volta rela-tivamente curta entre os meses de Novembro e Janeiro ou Fevereiro. Quer isto dizer que uma posição inimiga em Guanabara, com a possibilidade de ali estabelecerem uma coló-nia próspera, era uma ameaça terrível para os interesses portugueses nas terras brasileiras. Basicamente, significava a ocupação de um ponto importante, onde os navios inimigos tinham condições para receber informações e sair para o combate em vantagem táctica sem-pre que quisessem. A relação entre a sede do governo e as capitanias do sul, em franco de-senvolvimento, estava profundamente com-prometida e, com ela, a ligação e a união de todo o espaço de soberania portuguesa. Aliás, a posição francesa só tinha sido possível pela escassez de meios navais na costa brasileira e pela incúria do governador Duarte Costa, como foi dito na altura.

Mem de Sá foi nomeado governador ain-da no tempo de D. João III, e teve alguma di-ficuldade em reunir as condições necessárias para desalojar os franceses. Para o fazer ne-cessitava de reforços vindos de Lisboa e lan-çar uma acção concertada com as capitanias do sul, reunindo todos os esforços para entrar na posição fortificada e quase inexpugnável.

No final do ano de 1559, chegou uma Armada comandada por Bartolomeu de Vasconcelos, de forma que, em Janeiro do ano seguinte par-tiu para o sul e deu ordens para concentrar as forças disponíveis em Guanabara.

Villegagnon tinha vindo à Europa e a co-lónia tinha problemas graves de governo que dificultavam um comando organizado e faci-

litavam a acção dos portugueses. Mem de Sá decidiu entrar e atacar o forte Coligny, como fora denominado em homenagem ao almi-rante de França e líder protestante (Gaspar de Coligny) que patrocinara superiormente a empresa da França Antárctica. Os navios foram recebidos pela artilharia francesa, mas ripostaram com energia e foi possível lançar um ataque de surpresa, com um desembar-que nocturno na parte sul da ilha, que conse-guiu desalojar os inimigos. Apesar de tudo, os sobreviventes franceses retiraram-se para o continente com os seus aliados tamoios, fixan-do-se no local onde hoje é o morro da Glória, internando-se na selva e construindo, mais tarde, uma pequena tranqueira de protecção. Apesar de tudo, não ficavam lá navios ini-migos e a possibilidade de se reforçarem em pouco tempo não era fácil, mas urgia voltar aquele local e criar as condições para formar uma colónia portuguesa.

Mem de Sá rumou ao sul, em direcção a S. Vicente, onde a comunidade portuguesa crescera muito e precisava de ser reorgani-zada. Foi um ano de intensa acção adminis-trativa em todo o território brasileiro, com o governador a passar quase todo o tempo no mar viajando entre capitanias. Mas continua-va pendente a limpeza de Guanabara, que só seria possível com o estabelecimento de uma colónia portuguesa sólida, que impedisse a re-

organização francesa e fosse espalhando a sua influência nas comunidades índias. Mas para isso era indispensável a intervenção da coroa que, no final desse ano conseguiu enviar uma outra armada, sob o comando de Estácio de Sá (sobrinho do governador), com o objectivo de colonizar o local onde ainda estavam vários grupos de franceses. Os navios concentraram-

-se na Baía de Todos os San-tos e, mais uma vez, partiram para o sul, procurando levar a cabo nova acção concertada que não permitisse qualquer resistência. De facto, em finais de Fevereiro foi possível en-trar na baía, onde, logo após o desembarque começaram os trabalhos para construir a pequena cidade que receberia o nome de S. Sebastião (do Rio de Janeiro), em homenagem ao santo protector do jovem monarca português.

Estácio de Sá esteve à fren-te daquela pequena colónia durante quase dois anos e con-seguiu repelir vários ataques vindos de terra, levados a cabo

pelos tamoios e por alguns naturais franceses que por ali se mantinham. Bem provido de artilharia e meios navais, manteve afastados os navios que de França ali se deslocavam, na esperança de surpreenderem a colónia, ou de obterem algum comércio com os índios, mas a situação não era segura. Com o conselho de José de Anchieta, um dos padres jesuítas que vivia no Brasil há bastante tempo, voltou a pedir auxílio a Lisboa e organizou nova expe-dição a Guanabara. Desta vez desembarcou junto ao rio Carioca e conseguiu destruir a tranqueira inimiga, desalojando os franceses da região continental e da ilha de Paranapecu (hoje ilha do Governador). Os combates fo-ram particularmente difíceis e custaram a vida ao próprio Estácio de Sá, mas a colónia por-tuguesa teve, finalmente, condições para se desenvolver com segurança e consistência. O domínio do território permitiu-lhe melhorar a posição do pequeno núcleo de S. Sebastião, deslocando-o para o morro de S. Januário ou do Castelo (terraplanado no século XX) onde hoje é o centro nevrálgico do Rio de Janeiro. Na mesma altura em que decaía progressiva-mente o poder português no Oriente, ganha-va expressão o domínio do Atlântico sul e a presença no Brasil.

J. Semedo de MatosCFR FZ

A MARINHA DE D. SEBASTIÃO (18)

Rio de Janeiro – Baía de Guanabara, nos dias de hoje.

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17REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2011

HIERARQUIA DA MARINHA 4

ASPIRANTE

O posto de aspirante foi criado no reinado de D. Maria I, por decreto-lei de 14 de Dezembro

de 1782, e destinou-se a ser atribuído aos alunos da Academia Real de Mari-nha, criada em 5 de Agosto de 1779 e ex-tinta em 11 de Janeiro de 1837. Os jovens que frequentavam os estudos teóricos ti-nham em vista ingressar na Companhia dos Guarda-Marinhas.

A Academia Real de Guarda-Ma-rinhas foi criada em 1796 e extinta por carta de lei, de 23 de Abril de 1845. Este diploma, que constituiu a Escola Naval, estabeleceu três classes de aspirantes a guarda-marinha. Dois anos depois, pelo decreto de 18 de Março de 1847, os alunos da Escola Naval compuseram a Companhia dos Guarda-Marinhas, cujos membros foram divididos nas classes de guarda-marinhas e dos aspi-rantes. Estes, conforme o aproveitamen-to nos estudos e na aptidão marítima, classificar-se-iam em três classes. A 29

de Novembro de 1887 foi extinta a Com-panhia dos Guarda-Marinhas e criado o Corpo de Alunos Militares da Escola Naval que, a 14 de Agosto de 1892, pas-sou a denominar-se Corpo de Alunos da Armada.

Pelo decreto-lei n.º 27146, de 27 de Outubro de 1936, regulamentado pelo decreto n.º 27568, de 13 de Março, os alu-nos da Escola Naval, nos dois primeiros anos tomaram a designação de cadetes, no terceiro eram considerados aspiran-tes e no quarto ano obtinham a designa-ção de guarda-marinha. Os aspirantes, tal como os cadetes, eram considerados alunos, sem direito a quaisquer honras estabelecidas para oficiais no cerimonial marítimo.

O Decreto-lei n.º 489/70, de 21 de Outubro, manteve a duração de quatro períodos lectivos, mas só os alunos do primeiro ano passam a ser designados por cadetes. Eram promovidos a aspi-rantes a oficial no início da frequência

do segundo ano do curso e permane-ciam nesse posto até concluírem a Esco-la Naval.

Em 1978, pela Portaria nº 313-A/78, de 9 de Junho, foi alargado para quatro anos o período em que os alunos eram designados por cadetes. Os cursos fo-ram aumentados para cinco períodos lectivos, sendo os alunos promovidos ao posto de aspirante a oficial no último ano.

Através da Portaria nº 471/86, de 28 de Agosto, foi aprovado um novo Re-gulamento da Escola Naval. A partir de 2005 este regulamento foi submetido a algumas alterações ligadas à adaptação ao Processo de Bolonha. Neste âmbito, em 2007 a promoção ao posto de aspi-rante passou a ocorrer quando o aluno conclui o quarto ano do curso.

António Silva RibeiroCALM

Em carta para o Rei começa por afirmar que o único prejuízo provocado pelas salvas era o da interrupção da sesta dos oficiais da Câmara que acusa de inúteis e contrários ao bem público. Após apresen-tar as razões pelas quais entendia que se deveria manter a prática seguida termina afirmando que não aplicará a determina-ção régia enquanto não receber resposta à argumentação que apresentava.

Desconheço se a proposta da Câmara do Rio de Janeiro logrou ser então nova-mente aceite ao tempo o que sei é que, cerca de 250 anos depois, aquando da en-trada do NRP "Sagres" no Rio de Janeiro a retribuição das salvas foi efectuada por um forte à entrada daquele porto.

Com. E. Gomes

Fonte : Arquivo Histórico Ultramarino doc. 1999 Rio de Janeiro

VIGIA DA HISTÓRIA 31

SALVAS

Ainda hoje para celebrar qualquer facto relevante se usam as salvas de artilharia.

Os navios, como é natural, não estão afastados de tal prática se bem que, con-trariamente ao que sucedia em séculos passados, tal esteja restringido aos navios de guerra.

Em pleno século XVIII os navios efectuavam salvas de artilharia, quando dentro dos portos, nos dias dos santos que tinham por invocação, nos dias das principais festas religiosas e nas datas de aniversário dos membros da família real, por vezes 3 séries de salvas por cada um destes acontecimentos. Dado que a gran-de maioria dos navios tinha, ao tempo, a invocação de 3 santos no nome fácil é imaginar o que seria um porto onde es-tivessem, por exemplo, 20 a 30 navios ao mesmo tempo.

Em Agosto de 1727 a Câmara do Rio de Janeiro oficiou ao Rei no sentido de regulamentar, naquela cidade, a prática das salvas quer pelos navios, quer pela fortaleza de S. Sebastião que, nos dias do padroeiro e no de Corpo de Deus, efec-tuava salvas reais repetidas por 3 vezes durante o decurso das procissões. Ar-gumentavam os oficiais da Câmara que, para além dos prejuízos causados e que já assumiam valores significativos, tal prática constituia um grande incómodo para as populações. Propunham entre outras que as salvas fossem restritas e unicamente efectuadas no forte à entrada da baía.

A argumentação apresentada deveria ter sido convincente já que o requerido obteve a aprovação real que foi comuni-cada ao Governador o qual não se con-formando reagiu de forma intempestiva.

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18 ABRIL 2011 • REVISTA DA ARMADA

De entre as forças organiza-das com papel relevante na implantação da República

em Portugal, é do conhecimento ge-ral a importância da Marinha, dos seus navios, guarnições e a acção de-cisiva de alguns dos seus membros.

A ironia da História faz com que certos nomes perdurem, designando Avenidas, Praças e Ruas dispersas pelo País, não sabendo, infelizmente, muitos portugueses, quem foi o indi-víduo que lhes completa o domicílio.

Outros houve que entraram no oblívio, só sendo do conhecimento de historiadores ou eruditos, não obstante terem também eles sido actores de primeiro plano no acto revolucionário, para além de per-cursos de vida exemplares na defesa dos seus ideais e dedicação à causa pública.

Vamos muito sumariamente abordar um destes esquecidos: o Dr. Vasconcelos e Sá.

Alexandre José Botelho de Vasconce-los e Sá, nasceu no Porto em 28 de No-vembro de 1872, na freguesia de Santo Ildefonso, em classe média alta.

Assentou praça na Marinha como aspi-rante de 1ª classe MN, em 22 de Novembro de 1894, preste a atingir os 22 anos frequentando ainda o 2º Ano do Cur-so da Escola Médico Cirúrgica de Lisboa.

Licenciado em Medicina e Cirurgia em Julho de 1897, é promovido a Médico Naval de 2ª classe em Abril de 1898, tendo entrado para o Hospi-tal da Marinha como Guarda Marinha ainda em 97.

É ainda com este posto que segue em co-missão para a Divisão Naval do Índico, onde presta serviço a bordo da corveta “Afonso de Albuquerque”, no navio depósito “Índia” e na Esquadrilha do Zambeze até 1900.

De regresso a Lisboa volta ao Hos-pital, sendo colocado em Setembro de 1901 na Escola de Torpedos em Paço de Arcos, ao mesmo tempo que inicia a sua diferenciação médica no campo da Cirurgia, nos Hospitais Civis de Lisboa.

Interrompe para nova comissão em Moçambique, onde, entre outras colo-cações e já promovido a Médico de 1ª classe organiza e chefia todo o apoio sanitário à Campanha do Barué, sob o

Comando de João Coutinho.Regressa à Europa em Outubro

de 1903. Foi louvado e condecora-do individualmente pelo soberano.

Depois do gozo de licença reto-ma o seu lugar no Hospital da Ma-rinha e nos H.C.L.

Já diferenciado como Cirurgião, com prestígio no meio médico nacional, membro de várias socie-dades científicas, assume em 1908 o encargo do Depósito de Instru-mentos Cirúrgicos e da Casa de Operações do Hospital da Mari-nha, o que corresponderá nos dias de hoje a Chefe do serviço de Ci-rurgia.

Tem um papel notável na reno-vação e modernização do serviço.

Nesta altura é já um simpatizan-te dos ideais republicanos, conheci-do nos seus círculos, não se saben-

do seguramente se terá tido algum papel atribuído na prevista e abortada tentativa revolucionária de 1909.

O que se sabe é da sua participação activa nos preparativos do 5 de Outu-bro, com a missão atribuída de mobili-zar meios sanitários e gente preparada

no Hospital da Mari-nha, iniciando acções logo na madrugada de 4.

Vale a pena trans-crever excertos do “Relatório” do 1º Ten. Ladislau Parreira, en-tão em Alcântara no Quartel do Corpo: “Ainda debaixo do fogo das metralhadoras [das forças que defendiam as Necessidades] tive-mos a alegria de vermos entrar no quartel o médi-co Vasconcelos e Sá, cujo papel distribuído não era ir para o corpo de mari-nheiros à uma hora da noite, mas sim esperar

com automóveis o desembarque da gente dos navios na Rocha do Conde de Óbidos às duas da manhã, desembarque que não se fez. Este oficial, a quem não mandaram automóveis ao Hospital da Marinha e que já tinha feito

ALEXANDRE JOSÉ BOTELHO DE VASCONCELOS E SÁ

Vasconcelos e Sá – Médico de 2ª Classe.

O Dr. Vasconcelos e Sá com o Presidente António José de Almeida numa visita ao Hospital da Marinha.

UM MÉDICO DA MARINHA NA REVOLUÇÃO

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19REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2011

seguir antes da uma hora da noite os quatro enfermeiros com as ambulâncias portáteis para o Aterro, e que se apresentaram depois no corpo, apenas ouviu no hospital os tiros de peça, tentou seguir por sua vez com um enfermeiro, deixando as ambulâncias no Hospital da Marinha e enfermeiros com or-dem para as levarem para onde fosse preciso” “...... não conseguindo passar em virtude das descargas das forças que a essa hora guarneciam o Museu de Artilharia, voltou ao Hospital da Marinha, onde começou a fazer opera-ções e os curativos precisos aos feridos que vinham chegando” “..... finalmen-te já cheio de impaciência, conseguiu arranjar um automóvel que conduziu ambulâncias, quatro enfermeiros e ele médico, e seguindo pelo Aterro atra-vessou as forças da municipal que es-tavam no Terreiro do Paço e chegando ao quartel de marinheiros, entrou logo no exercício das suas funções”.

Mais adiante, no mesmo “Re-latório”, damos conta da presença do Dr. Vasconcelos e Sá a bordo do “S. Rafael” [para onde seguira embarcando com civis e militares em Alcântara] e preparado para comandar uma força de desem-barque.

Diz Ladislau Parreira: “... e de-pois efectuar o desembarque de uma forte companhia de guerra, [no Ter-reiro do Paço] constituída pelo má-ximo das forças de desembarque dos três cruzadores sob o comando dos tenentes Parreira, Sousa Dias, Maia e do médico Vasconcelos e Sá, que logo se ofereceu para também comandar um pe-lotão”.

Implantado o novo regime, Vascon-celos e Sá é graduado em Médico Naval Chefe em 18 de Novembro de 1910 e assume a Direcção do Hospital da Ma-rinha.

Mas em 1914, a seu pedido, é exo-nerado das funções e da graduação, e como subalterno é voluntário para in-tegrar o Destacamento Expedicionário à Província de Angola, como Chefe do Serviço de Saúde.

Participa no combate de Naulila em 18 de Dezembro de 1914 e em 16 de Ja-neiro de 1916, quando em marcha de Cuangar para o Caiundo, acompanhan-do o Destacamento do Cuanhama, toma parte na carga e é ferido no joelho es-querdo com “um tiro de bala”.

O seu desempenho global na campa-nha valeu-lhe uma Medalha de Ouro de Valor Militar.

Entretanto e paralelamente à sua car-reira militar e de distinto Cirurgião dos Hospitais Civis tem um percurso políti-co que deve ser realçado.

Em Junho de 1911 é eleito Deputado à Assembleia Constituinte pelo Círculo de Elvas.

Em Agosto de 1911 é eleito Deputado ao Congresso da República Portuguesa.

Em Maio de 1918 é nomeado Secre-tário de Estado das Colónias, cujo cargo exerce até 23 de Dezembro do mesmo ano.

Durante um mês, já no período agó-nico da Primeira República ainda é Mi-nistro ... da Agricultura!

Teve um último papel de relevo polí-tico em Junho de 1928 em que por porta-ria do Ministério das Colónias é nome-ado para integrar uma comissão para “inquirir e definir responsabilidades assumidas pelos Administradores da Companhia de Moçambique e da Com-panhia do Porto da Beira na aprovação e assinatura de contratos”.

Enquanto oficial da Armada, além das condecorações já referidas, foi Co-mendador e Grande Oficial da Ordem Militar de Avis,. Comendador da Or-dem Militar da Tôrre e Espada e Cruz

de Guerra de 3ª classe. Por despacho mi-nisterial de 30 de Setembro de 1926 foi autorizado a usar a Medalha criada pela Câmara Municipal de Lisboa destinada a galardoar os sobreviventes que mais se haviam distinguido na Revolução de 5 de Outubro.

Como cirurgião no meio civil passa por ter sido o primeiro a re-alizar em Portugal uma operação de Halsted. (1)

Uma faceta curiosa: nos pri-meiros tempos de República ain-da eram socialmente aceitáveis os duelos, para resolver pendên-cias de honra, com direito a notí-cia na imprensa.

Em pelo menos dois, Vas-concelos e Sá foi testemunha do ofensôr, com um nome ilustre: o Dr. António Caetano d’Abreu Freire Egas Moniz – o nosso No-bel de Medicina.

Os outros intervenientes tam-bém deixaram nome na história: o ofendido em 1912 era o então Major José Ribeiro Norton de Matos. No duelo de 1919, o ofen-dido era o CMG Jaime Daniel Le-ote do Rego ...

As pendências foram sempre resultado de questões políticas levantadas na Câmara.

Alexandre José Botelho de Vasconcelos e Sá viria a falecer em 1 de Outubro de 1929. Era então Capitão de Mar e Guerra

Médico Naval.Desde Setembro de 1914 que se

encontrava em comissão no Ministério das Colónias.

Rui AbreuCALM MN

Bibliografia:1.Documentação avulsa do Arquivo Histórico

Caixas 800 e 1448Livros Mestres II/59; IV 1/3; IV /96.

2. Relatório do 1º Tenente Ladislau Parreira, publicado em “A Capital” Nº 126 (03/11/1910) e nº 127 de 04/11/1910” em “05 de Outubro Por Quem o Viveu”, organizado por António Ventura – Livros Horizonte, 2010.

3. “Subsídios para a História dos Hospitais Civis de Lisboa e da Medicina Portuguesa (1948-1990)” – José Leone. Edição do V Centenário da Fundação do Hospital Real de Todos-os-Santos, 1993.

Notas:1 Operação de Halsted: Cirurgia radical da mama

com esvaziamento axilar, exigindo grande perícia técnica, que recebeu o nome do seu “inventor” nos anos 90 do séc. XIX. Só caiu em desuso nos anos 80 do séc. XX ...

Alexandre Vasconcelos e Sá Capitão-de-mar-e-guerra Médico Naval

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baseado na confiança mútua, na transpa-rência e na previsibilidade.

Depois desta apresentação detalhada do conteúdo do novo Conceito Estratégi-co, o orador evidenciou os seus aspectos inovadores, tanto na forma como na dou-trina.

Quanto à forma, realçou que o texto é muito mais abreviado que o das versões de 1991 e 1999 e que “isso foi conse-guido, focalizando o objec-to do conceito estratégico nos princípios fundamen-tais e duradouros, deixan-do as orientações e as me-didas de operacionalização para o texto da declaração da Cimeira de Lisboa”. Ou-tra razão apontada para a reduzida dimensão do do-cumento foi “a necessidade de estabelecer princípios claros para que os actores interessados e a opinião

pública em geral não tenham dificuldades na sua compreensão”.

Quanto ao conteúdo, o CALM Silva Ri-beiro defendeu que este Conceito Estraté-gico estabeleceu as bases da NATO como “organização político militar global, atra-vés de um bem concebido e subtil conjunto de tarefas e de linhas de acção prioritárias, que na realidade, criam um novo racional doutrinário, centrado na essencialidade da Aliança para a segurança global”. Após apresentar outras inovações de âmbito doutrinário, o palestrante referiu a neces-sidade, manifestada pela NATO, de tornar as estruturas de comando mais flexíveis, eficientes e eficazes, tendo apresentado a sua visão pessoal sobre essas reformas.

O CALM Silva Ribeiro concluiu a sua comunicação referindo que “a NATO está num momento de viragem para um futu-ro onde deixará de ser uma aliança euro--atlântica, para ser uma aliança global, se não nos membros, pelo menos na acção”.

A Revista da Armada felicita a Acade-mia de Marinha pela oportunidade desta iniciativa e o CALM Silva Ribeiro pela ele-vada qualidade da sua comunicação, que constituiu o mote para um interessante e participado período de debate e de refle-xão sobre o presente e o futuro da NATO.

estrutura de comandos que, privilegiando a funcionalidade à geografia, estabeleceu o Allied Command Operations (ACO), sedeado na Europa, e o Allied Command Transforma-tion (ACT), localizado nos EUA.

O CALM Silva Ribeiro efectuou, então, uma análise detalhada do novo Conceito Estratégico, tendo apresentado – sucessi-

vamente e segundo a caracterização con-tida no documento – os princípios estrutu-rantes da Aliança, as tarefas fundamentais e as principais ameaças, bem como as li-nhas de acção prioritárias e as capacidades necessárias. De seguida, aprofundou cada uma das tarefas identificadas no docu-mento, a saber: defesa colectiva, gestão de crises e segurança cooperativa. No campo das parcerias com organizações, foram real-çadas as relativas à ONU e à União Euro-peia, e no campo das parcerias com países, foi enfatizada a referente à Rússia, con-siderada essencial para criar um espaço comum de paz, estabilidade e segurança,

No passado dia 11 de Janeiro, a Aca-demia de Marinha foi palco de uma oportuna comunicação do

CALM António Silva Ribeiro sobre o novo Conceito Estratégico da NATO. Recorde-se que este documento foi recentemente apro-vado na cimeira da Aliança Atlântica, reali-zada em Lisboa nos dias 19 e 20 de Novem-bro de 2010, o que atesta a enorme actualidade desta sessão, que se espelhou no elevado interesse suscitado na numerosa assistência.

O palestrante começou por recordar a missão da NATO, estabelecida no Tratado fundador, em 1949: «salvaguardar a liberdade e segurança de todos os membros por meios polí-ticos e militares». Explicou seguidamente que, entre 1949 e 1991, a NATO apro-vou três conceitos estraté-gicos muito simples, para cumprir essa missão, privilegiando, como tarefas prioritárias, a dissuasão e a defesa relativamente ao Pacto de Varsóvia. Esses documentos eram confidenciais, mas com o desmantelamento do Pacto de Varsóvia, em 1989, passaram a ser documentos públicos. Foi já com esse cariz, que a NATO adoptou os Conceitos Estratégicos de 1991 (Roma), de 1999 (Washington) e, finalmente, de 2010 (Lisboa).

Seguidamente, o CALM Silva Ribeiro recordou os traços gerais do Conceito Estra-tégico de 1991, bastante marcado pelo epí-logo da guerra fria. Foram apresentadas as tarefas fundamentais então adoptadas, bem como as linhas de acção prioritárias para o seu desempenho e as novas estruturas de forças e de comandos, aprovadas após a adopção do documento, que privilegiaram comandos conjuntos, com carácter marca-damente regional e encarregues de áreas geográficas específicas.

Seguiu-se uma breve abordagem ao Conceito Estratégico de 1999, marcado pelo aparecimento de novas ameaças, pela al-teração da configuração política europeia, pelo alargamento da NATO para leste e pela crescente tendência da União Europeia para assumir maiores responsabilidades de segurança e defesa. Foram elencadas as tarefas adoptadas e as linhas de acção prioritárias e foi, também, descrita a nova

O NOVO CONCEITO ESTRATÉGICO DA NATO

ACADEMIA DE MARINHA

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A VIAGEM DE CIRCUM-NAVEGAÇÃODO CURSO D. LOURENÇO DE ALMEIDA

Conferência realizada na Academia de Marinha em 14 de Dezembro de 2010 por ocasião da evocação das Comemorações Henriquinas

Não vou relatar mais por-menores do que se passou neste período, mas em 18 de Março, com o navio fundeado frente ao Terreiro do Paço, embarcaram o Ministro da Marinha, Almirante Quintanilha Mendonça Dias, o Comandante da Escola Naval, Almirante Sarmento Rodrigues, e muitos oficiais para se despedirem da guarnição e dos 48 cadetes do LA, acompanhados do CTEN Eu-génio Gameiro e dos Tenentes Oli-veira Lemos e António Jonet, que constituíam a equipa de instrução.

Das palavras do Ministro retivemos o objectivo da viagem – Divulgação da figu-ra do Infante D. Henrique e dos Descobri-mentos Portugueses, aproveitando para praticar o treino de mar e o conhecimento da vida de bordo e contactar terras longín-quas, civilizações diferentes e outros povos e levar um abraço fraternal a todos os por-tugueses e seus descendentes que por todo o lado nos iriam procurar.

E assim nos fizemos ao mar tendo como primeiro porto Ponta Delgada, na Ilha de S. Miguel, numa estadia curta, onde visitá-mos os pontos mais importantes da ilha e onde nos foi oferecido um almoço oficial no Hotel das Furnas.

A partir daí atravessámos o Atlântico, a caminho das Caraíbas, e nestes percursos maiores foi-se procedendo ao conheci-mento do navio e acompanhando a vida de bordo, como adjuntos dos elementos da guarnição nos diversos postos. Esta viagem constituía, por assim dizer, a pri-meira grande experiência de mar do nos-so curso. Alojados em espaço apertado, 24 cadetes ocupavam a câmara dos Guarda--Marinhas, 12 em beliches e os outros 12 a riscar, os restantes 24 estavam instalados em ½ coberta em situação semelhante, 12 em beliche e os restantes a riscar.

Para além dos quartos que fazíamos, tínhamos aulas de instrução, educação física e participávamos na baldeação ao navio.

O primeiro porto estrangeiro que vi-sitámos foi S. Juan de Porto Rico. Burgo antigo em que se destacava a fortaleza de S. Felipe. Um contraste enorme com a zona dos hotéis de grande luxo, onde os americanos passavam férias e que eu tive oportunidade de visitar.

Aquele ano de 1960 tinha começado normalmen-te. Os cadetes do Curso

D. Lourenço de Almeida prepa-ravam-se para concluir o 3º se-mestre do seu curso, o que deveria acontecer até ao fim de Fevereiro. Todos nós sabíamos que no pro-grama de ensino da Escola Naval, o 4º semestre correspondia a uma viagem de instrução. No entanto, apesar de nos aproximarmos rapi-damente de Março, confesso que não notei que houvesse grande dramatismo com o caso, correndo às vezes notícias desencontradas a que se não dava grande importância.

Até que numa tarde, quase no fim de Fevereiro, encontrando-nos a jogar futebol no campo da Base Naval, vejo descer a cor-rer pela rampa do topo sul o meu primo, 1TEN Martins Salvador, nosso professor na Escola Naval, gritando “Luís, Luís-vocês vão dar a volta ao Mundo!” Não sei nesta altura descrever exactamente o que aconte-ceu, mas o treino terminou imediatamente, e entre um misto de espanto, admiração e uma certa incredibilidade corremos para a Escola para tentar confirmar a notícia. Era verdade, e uma onda de grande alegria perpassou por todos nós, excepto para aqueles cadetes que ainda não tinham aca-bado os exames e que se agarraram aos li-vros desesperadamente.

Efectivamente, aproveitando as Co-memorações do V Centenário da Morte do Infante D. Henrique que ocorriam em 1960, era proporcionado aos cadetes do curso D. Lourenço de Almeida uma viagem de circum-navegação.

As três semanas que faltavam para a largada foram consumidas na preparação da viagem, nomeadamente na aquisição/execução de mais duas fardas brancas.

O aviso de 1ª classe “Afonso de Albu-querque”, a terminar fabricos no Arsenal do Alfeite, para seguir para uma longa co-missão de serviço na Índia, foi o navio de-signado para efectuar a 1ª parte da viagem e também nele a vida não foi fácil: terminar as provas finais, embarcar uma guarnição praticamente nova para uma comissão superior a 24 meses e abastecer o navio de todo o material necessário, não esquecen-do as cartas de navegação, que neste caso eram bastantes...

NRP "Afonso de Albuquerque"

Lisboa 18 de Março de 1960

Ponta Delgada

Baldeação

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Tomámos aqui contacto com a primei-ra Base Naval americana, e visitámos a fragata “Dewey” da última geração da US Navy. Sempre bem recebidos pela popula-ção, estivemos numa recepção onde, pela primeira vez, observámos um conjunto musical com bidons. O que é certo é que os sons agradavam a todos! Uma espécie de pandemónio. Foi ali que tomámos contac-to com o ritmo merengue.

Partimos depois para o Canal de Pana-má, com curtas estadias, tanto em Balboa--Panamá City à entrada, como em Colon à saída.

O Canal, obra gigantesca, impressiona sempre. Não só pela dimensão das 6 com-portas e do lago artificial, como também toda a maquinaria adjacente para a movi-mentação dos navios. Enfim, 51 milhas de-baixo de um calor sufocante, vencendo um desnível de 26 metros.

Quando chegámos ao Pacífico – o mar justificava o nome – , começámos a bordejar a Costa do México e da Califórnia. Acapul-co só vimos no radar, até que nos aproxi-mámos de San Diego, e logo à entrada fo-mos fotografados por um fotógrafo, numa pequena embarcação, com uma máquina fotográfica do tipo “à la minute”. A foto, vendida depois a toda a guarnição, ficou para a história.

Da entrada em San Diego até à atraca-ção no centro da cidade, fomos observan-do espantados a imensa Base Aeronaval, a maior do Pacífico e no cais uma Banda da Marinha Americana dava-nos as boas vindas.

Começava aqui a outra faceta da via-gem, o encontro com os portugueses e seus descendentes. Em San Diego, como depois em S. Francisco e Honolulu, o con-tacto com estes portugueses excedeu tudo o que se possa imaginar.

A colónia portuguesa nestas cidades decidiu efectuar as suas próprias Co-memorações Henriquinas e aproveitou a estadia do navio para as inaugurar.

Assim, em San Diego, para além da homenagem a Cabrilho, o português que descobriu a Califórnia ao serviço do Rei de Espanha, participámos numa recepção com imenso nível no Valley Country Club com oradores categorizados, oriundos das Universidades locais, dissertando sobre a obra do Infante D. Henrique e os Descobri-mentos Portugueses, mostrando um conhe-cimento apreciável da nossa história.

Em San Diego, para além de uma de-morada visita à Base Naval, estivemos no Observatório Astronómico do Monte Pallomar, um dos maiores do mundo e que nos deixou maravilhados e constituiu um dos pontos altos sob o ponto de vista

científico da viagem.Aproveitámos ainda a estada em San

Diego para dar um salto a Tijuana, uma ter-ra mexicana junto à fronteira que vive es-sencialmente para os turistas americanos.

Depois foi a entrada na Baía de S. Fran-cisco, a vista sobre a Golden Gate Bridge, uma antevisão do que seria a Ponte sobre o Tejo, seis anos depois, e um conjunto de cidades praticamente coladas, Treasure Is-land e a célebre prisão de Alcatraz. Falava--se que estaria ali o Caryl Chessman, mas este, já na altura condenado à morte, en-contrava-se numa prisão de alta segurança a norte de S. Francisco, por onde também passámos.

S. Francisco é uma cidade muito bonita, um tanto ou quanto acidentada, e que deixa uma impressão muito agradável a quem a visita. Percorremos a China Town, o Tele-graph Hill, o Embarcadero e empurrámos o célebre eléctrico no términus, para inver-termos o sentido de marcha.

Aqui, tivémos novamente uma excelente recepção oferecida pelas Sociedades Frater-nais Portuguesas da Califórnia, no magnífi-co Hotel Sheraton Palace onde os discursos patrióticos e as homenagens ao Infante D. Henrique foram temas marcantes.

Não posso esquecer a passagem pelo City Hall de Oakland, onde o Mayor nos recebeu no Salão Nobre. Aqui, acabados de entrar, o Mayor, Senhor Clifford Rishell, perguntou para espanto de todos onde es-tava o Artur Sarmento. O nosso camarada apanhado de surpresa apresentou-se, ao que o Mayor o mandou sentar na cadeira do Presidente, perante o ar estupefacto do comandante do navio, CMG Pedro Se-queira Zilhão. Mas o Mayor explicou – É que tendo naufragado durante a 2ª Guerra Mundial no Mar dos Açores, quem o sal-vou tinha sido o Comandante Sarmento Rodrigues, pai do Artur, que era na altura o comandante do contratorpedeiro “Lima”. Uma salva de palmas encerrou o acto, ce-dendo então o Artur a cadeira ao Coman-dante Zilhão.

Começou então a travessia do Pacífico a caminho do Arquipélago do Hawai. Estes períodos de mar mais longos eram apro-veitados para intensificar a instrução, des-tacando-se nesta matéria o tenente Oliveira Lemos pelo profissionalismo que incutia nas aulas e nos aspectos culturais com que as adornava. Nos dias que antecederam a chegada ao Hawai, e apesar de sermos no-vatos na matéria, o ataque a Pearl Harbour durante a 2ª Guerra Mundial era assunto recorrente.

Assim, a chegada ao Arquipélago do Hawai era aguardada com imensa curiosi-dade por todos. Estávamos a meio do Pací-

Educação Física a Bordo

Saída de Porto Rico

Canal de Panamá

San Diego

S. Francisco

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fico e aquilo que conhecíamos dos livros e dos filmes ia ser agora confirmado.

O “Afonso de Albuquerque” atracou em Pearl Harbour, depois de passar Ho-nolulu. A paisagem, a cor e um urbanismo não agressivo eram realmente fascinantes e as flores abundavam em todos os lados.

A Base Naval, de grande dimensão, foi por nós visitada e todos nós perante o que restava do couraçado “Arizona” evocámos os 2000 marinheiros americanos mortos no ataque, naquele Domingo 7 de Dezembro de 1941.

Na estadia em Honolulu não posso dei-xar de mencionar o espectáculo que nos foi oferecido, num anfiteatro ao ar livre, na festa do 1º de Maio, o May Day, com danças e canções hawaianas, com as típicas guitarras e em que as esculturais bailarinas envergavam aquelas típicas saias franja-das, tão características. Os colares de flores oferecidos a todos nós faziam parte já do nosso uniforme...

Outro ponto que não pode ser esqueci-do foi a ida a “Waikiki Beach”. Uma praia maravilhosa, varrida por ondas não muito altas, e onde vimos e ensaiámos pela pri-meira vez as hoje muito conhecidas pran-chas de surf. É claro que, principiantes, entrávamos por um bordo e saíamos logo pelo outro...

É altura de voltar a falar dos nossos emigrantes, presença assídua e maciça em S. Diego, S. Francisco e Honolulu como já dissemos. Para além das recepções oficiais em que a sua presença era uma constante, o navio estava sempre a ser “invadido” por um número de emigrantes elevadíssimo, que nos procuravam, não só os cadetes, mas também todos os elementos da guar-nição e connosco conversavam. Para além do gosto de ouvirem falar a sua língua na-tal, tinham a enorme preocupação de mos-trar que se encontravam bem integrados na sociedade local, onde eram respeitados e que possuíam bens, fruto do seu trabalho, o que constituía um imenso orgulho como era natural e nesse sentido propunham que os acompanhássemos para ver as suas ca-sas e propriedades. Em Honolulu, a certa altura fomos convidados a visitar o Hospi-tal Principal da cidade, tudo porque o Di-rector era um luso-descendente!

Depois do Hawai, nova grande tirada, a maior da viagem, para o Japão, em que atravessávamos a linha de mudança de data, devidamente comemorada com uma pequena festa.

Os dias que antecederam a chegada ao Japão foram talvez aqueles que mereceram uma maior reflexão. Estávamos perante uma nova civilização, onde os costumes di-feriam bastante dos nossos. Efectivamente,

o pouco espaço de tempo que tivemos em Lisboa para preparação da viagem, aliada à nossa pouca idade, não nos permitiu fa-zer praticamente nada, nem arranjar um dos livros de Wenceslau de Morais sobre a história do Japão.

Assim, numa manhã chuvosa, chegá-mos à baía de Tóquio, onde um navio da Marinha de Guerra Japonesa executou as salvas da Ordenança, a que respondeu prontamente o “Afonso de Albuquerque”.

Atracámos em Yokohama, cidade ligada a Tóquio, recebendo os cumprimentos das autoridades locais e da interessantíssima Miss Yokohama, trajando a rigor.

Entre visitas oficiais e passeios, não posso esquecer a recepção oferecida pela Marinha Japonesa, num parque lindíssimo no Centro de Tóquio, em que fomos rece-bidos pelos almirantes acompanhados das esposas, estas envergando os seus riquís-simos e lindíssimos Kimonos. No recinto, um relvado de grandes dimensões, num canto, um pouco afastado, actuava a Ban-da da Marinha. Depois das apresentações e de um período de conversa, os presentes dirigiram-se em cortejo para um alpendre, no meio do relvado, onde nos esperava uma panóplia de iguarias que íamos pro-vando. Porém, a maior parte dos produtos eram crus, designadamente os mariscos e os peixes, e aqui só se safaram os cadetes originários do sul e das ilhas. Os outros fi-caram a dieta!

A recepção oficial no Ginza Tóquio Ho-tel foi também um acontecimento marcan-te, assim como a visita à Escola Naval e o encontro com os cadetes japoneses, num jardim oriental, onde almoçámos.

Uma das coisas que constatámos entre muitas, foi o grande número de pessoas nas ruas de Tóquio e entre estas, as crian-ças das escolas, todas uniformizadas, com boné e máquina fotográfica, lá seguiam em enormes filas acompanhadas pelos seus professores.

Mas Tóquio, em 1960, tinha já muitos sinais de ocidentalização, que foram apa-recendo após a Guerra, patentes na forma como era apresentada a publicidade e no vestir de algumas mulheres e também no comércio, onde produtos ocidentais eram mostrados com frequência.

Visitámos templos religiosos, estivemos junto do grande Buda de KamaKura, uma escultura com 12 metros de altura e assisti-mos a um espectáculo no Kokusai Theatre de Tóquio onde cenas dramáticas de teatro japonês alternavam com números de “mu-sical” nitidamente ocidentais.

Saímos do Japão rumo a Hong-Kong pelo estreito da Formosa. A visita a este ter-ritório, grande centro comercial e também

Oakland

Tijuana

Honolulu

Waikiki Beach

Yokohama

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cinematográfico, mostrou-nos um lugar cosmopolita com imensa população, com um centro da cidade onde predominavam os grandes bancos e grandes empresas.

Daí a Macau foi um pequeno passeio entre ilhas. Em Macau, foi pena termos de ficar no Porto Exterior a 4 milhas de terra. A ligação era feita por um rebocador que ia lançando fagulhas que, com o tempo chu-voso que apanhámos, nos sujava as fardas permanentemente.

Estivemos pouco tempo em Macau, mesmo assim deu para visitar os pontos mais importantes da cidade, desde o Farol da Guia até à Porta do Cerco, às ruínas da Igreja de S. Paulo e à gruta de Camões e às instalações da Marinha. Circulámos no Centro e tivemos uma recepção no Leal Se-nado e uma pequena festa no Clube Militar e ainda tivemos tempo de ir uma noite ao velho Casino Central, experimentar aque-le ambiente de fumos e odores exóticos. Macau, em 1960, tinha casas relativamente baixas e não havia nenhuma construção moderna, como as que vieram a ser cons-truídas no último quartel do século XX.

Ficámos um pouco surpreendidos com a reduzida percentagem da população que falava português. Tirando o pessoal dos correios, da polícia e das funções oficiais, poucos mais falavam a nossa língua.

Navegámos a seguir para Singapura, a Cidade Estado que dava os primeiros pas-sos para a indústrialização que viria a ter. Aqui, visitámos missões católicas dirigidas por missionários portugueses e houve uma excursão a Malaca, onde foi muito agradá-vel contactar a colónia piscatória que se or-gulha da sua ascendência portuguesa e se esforça por não perder, dentro do possível, o seu linguajar português.

Estávamos no ponto mais sul da nossa viagem e tivemos a sensação, porventura errada, de que tínhamos dobrado a metade da viagem. Agora era sempre a subir.

Também na organização de bordo os cadetes começaram a ter uma participação mais activa, tanto nos quartos como nos serviços.

Aproximávamo-nos de Goa e esse facto pesava, mesmo inconscientemente, sobre nós. Na véspera da chegada a Mormu-gão, mais precisamente em 15 de Junho, o 1TEN Oliveira Lemos, nosso instrutor e que já tinha feito uma comissão na Índia, fez uma conferência para os cadetes e para toda a guarnição sobre Goa, destacando o seu significado histórico cultural, peça de grande qualidade, que nos fez reflectir imenso e nos preparou para o que íamos ver nos dias seguintes.

Na chegada a Mormugão foi com sur-presa que vimos mais de vinte navios

fundeados à espera de cais para carregar minério de ferro. Fundeados também esta-vam os avisos “Bartolomeu Dias” e “João de Lisboa”.

Como já era do conhecimento de todos, o Aviso “Afonso de Albuquerque” ficava na Índia e nós passávamos para o Aviso “Bartolomeu Dias” que regressava a Lis-boa. O que não adivinhávamos era que o “Afonso de Albuquerque” jamais voltaria a Lisboa, pois em Dezembro de 1961, dan-do heróico combate à Esquadra Indiana, acabou por se perder encalhado perto de Dona Paula.

Mas em 1960 a nossa estada em Goa foi aproveitada para visitar Pangim, Velha Goa e ainda as cidades Mapuçá e Bardez. Destas, ressaltou pela sua im-portância histórico cultural, Velha Goa. Aqui tivemos o privilégio de ser guiados pelo Dr. Panduronga Sinai Pissurlencar, Director dos Arquivos de Goa, que nos mostrou minuciosamente a Sé Catedral, o Arco dos Vice-Reis, a Igreja do Bom Jesus com incidência no túmulo de S. Francisco de Xavier, alguns templos hindus e outras preciosidades daquela histórica cidade.

Em Pangim, fomos ao Palácio do Cabo, ao Hotel Mandovi e circulámos pe-las ruas acompanhados pelo Comandan-te Abel de Oliveira, Capitão dos Portos do Estado da Índia, que enquanto nos expli-cava pormenorizadamente o que íamos vendo, cruzava-se com grupos de goeses e com eles falava em concanim, o que nos deixou verdadeiramente deslumbrados.

Não podemos esquecer ainda a visita ao Forte da Aguada, onde estava uma unidade militar e um almoço oferecido pela Câmara de Mapuçá que incluía só ... 5 caris, cada qual o mais picante!

A transferência para o “Bartolomeu Dias” ocupou-nos, praticamente, um dia inteiro, com as bagagens a ser transpor-tadas por uma barcaça, não esquecendo que éramos 48 cadetes com bagagens, mais sacos, macas e envelopes com uni-formes, etc., etc.

Ficámos com pena do “Afonso de Al-buquerque”, nomeadamente dos seus oficiais, a que já estávamos habituados, mas a vida não pára e rapidamente nos integrámos no “Bartolomeu Dias”, dois navios praticamente iguais.

Ainda em Goa, fomos ao aeroporto e embarcámos no Skymaster dos TAIP para irmos a Damão e Diu. No entanto,o tempo não permitiu, já tinha começado a Monção e naquele dia as condições atmosféricas eram más.

Em face disto o “Bartolomeu Dias” saiu para Norte, com a intenção de visi-tarmos aqueles territórios por mar.

Buda de Kamakura

Kokusai Theatre

Gruta de Camões Macau

Malaca

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25REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2011

No trajecto, passámos em Chaul, local onde em 1508 morreu em comba-te com os mamelucos, D. Lourenço de Almeida, o patrono do nosso curso. Na ocasião, o cadete chefe do curso, leu um texto evocativo do acontecimento, que marcou a nossa homenagem ao insigne filho de D. Francisco de Almeida, que exercia o lugar de capitão-mor-do-mar.

O Índico, naquelas bandas, não esta-va bom e assim passámos por Damão e fundeámos durante 24 horas frente a Diu, sem hipótese de desembarcar. As auto-ridades de Diu, numa atitude simpática iluminaram as vetustas muralhas duran-te a noite, o que fez levar o nosso pensa-mento para D. João de Castro e para to-dos os heróis que ali defenderam o nome de Portugal.

Com forte calema, devido à Monção, cruzámos o Índico até Aden, melhorando o mar só na proximidade deste porto.

Naquele tempo, Aden era um protec-torado inglês. Atracámos na Base inglesa. A cidade não era muito grande, com ca-sas tipicamente árabes.

No “briefing” que os oficiais ingleses nos fizeram à chegada, afirmaram que a situação era perigosa e só se responsabili-zavam pelo que acontecia dentro da Base. Aconselharam que, se quiséssemos sair para o exterior, devíamos fazê-lo em gru-pos de 4 e de táxi. Por todo o lado havia cartazes com o retrato de Nasser e propa-ganda da coca-cola.

Para andar de camelo e fazer compras era preciso ir às montanhas que ficavam por trás da cidade. Escusado será dizer que foi aí que fomos. Depois da fotografia oficial de camelo, a maior parte dos cade-tes foi até àquelas “cantinas” no intuito de adquirir alguns “souvenirs” com o pou-co dinheiro que ainda restava. Julgo que foi aí que comprámos um transistor para oferecer ao João Rocha, o nosso treinador de remo na Escola Naval.

Eu, como não queria comprar nada e já tinha tirado a foto no camelo, fiquei cá fora. Aconteceu então um caso que vou contar. Aproximou-se de mim um beduíno, rapaz de vinte e tal anos, de pé descalço, falando uma língua mesclada, de que se entendia alguma coisa e come-çou por avançar com palavras tentando identificar a minha nacionalidade e en-tão ia dizendo Marrocos, Itália, Grécia, Turquia, etc, etc, ao que eu ia dizendo não com a cabeça. Mas atendendo ao avi-so dos ingleses, achei por bem avançar com a minha nacionalidade, antes que a conversa tomasse outro caminho e disse Portugal. Nesta altura o rapaz abriu mui-to os olhos e repetiu Portugal e depois

– Portugal, Albuquerque e fazendo um gesto da mão sobre o pescoço, como uma espada, desatou a correr, não parando mais ... Estávamos em 1960, 450 anos de-pois do grande Governador da Índia ter andado por ali!...

Depois, bom depois, foi navegar no Mar Vermelho a caminho de Suez à en-trada do Canal e percorrer as suas oitenta milhas para atingirmos Port Said. Aqui já não vimos a estátua do seu construtor, Ferdinand de Lesseps, pois esta tinha sido destruída e lançada para o fundo do mar em Dezembro de 1956.

Alguns cadetes foram em excursão ao Cairo, que incluiu uma passagem pelo Museu, uma ida a um grande Bazar no meio de ruelas estreitas e mal cheirosas e a deslocação às Pirâmides de Gizeh.

A entrada no Mediterrâneo trouxe-nos à mente a ideia de que Portugal era já ali. O Mar calmo deu para reflectir sobre toda a viagem e a imensidade das coisas que vi-mos, as dificuldades ultrapassadas, a con-firmação de situações que tínhamos ou-vido falar mas que depois de observadas tinham outro peso e acima de tudo, sentir como os portugueses estão espalhados por todo o mundo e dos testemunhos que os nossos antepassados deixaram, perpe-tuando o nome de Portugal para sempre.

Na nossa frente tínhamos agora a ilha de Malta. Fundeámos em La Valleta, jun-to à fortaleza de Sto Angelo, que visitámos, assim como os Palácios dos Grão-Mestres da Ordem de Malta. Até deu para ver uma ópera numa esplanada ao ar livre.

Chegámos a Sagres a 19 de Julho, 120 dias depois de termos largado de Lisboa, tendo percorrido 25.000 milhas.

A alegria do regresso, o encontro com os cadetes dos outros cursos da Escola Naval e a participação nas cerimónias de homenagem ao Infante D. Henrique, pre-sididas pelo Ministro da Marinha com a presença do Comandante e Professores da Escola Naval e ainda a entrega a cada ca-dete de um exemplar dos Lusíadas, numa edição muito cuidada da Marinha, ficarão para sempre na nossa memória.

Cinquenta anos passados, pode afir-mar-se que a Volta ao Mundo constituiu, para os cadetes do Curso D. Lourenço de Almeida, uma enorme referência e o elemento aglutinador da união que tem caracterizado o nosso curso, sintetizado na fotografia do Aviso “Afonso de Albu-querque” à entrada de San Diego com as assinaturas dos 48 cadetes do LA.

LUÍS ROQUE MARTINSCALM EMQ

Arco dos Vice-Reis

Velha Goa

NRP "Bartolomeu Dias"

Aden

Pirâmides de Gizeh

Enseada de Sagres 19 Julho de 1960

Sagres

BNL

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26 ABRIL 2011 • REVISTA DA ARMADA

MAN Ferrostaal Portugal, Lda. Rua do Campo, 16 – S.Pedro de Sintra 2710-476 SINTRA/PORTUGAL Phone: +351 21 9248223 Fax: +351 21 9248225 [email protected] www.manferrostaal.com

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27REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2011

INTRODUÇÃONa história da Marinha Portuguesa não há

muitos navios combatentes que tenham atingi-do os 40 anos de vida activa. O NRP Bérrio já vai a caminho dos 42 e tem uma história difícil de igualar, merecendo, por isso, esta referência es-pecial na Revista da Armada, numa altura em que está a comemorar os 18 anos ao serviço da Marinha Portuguesa (31 de Março).

A CLASSE “ROVER”O NRP Bérrio foi adquirido em 1993, já com

quase 23 anos de vida ao serviço do Reino Uni-do. Na sua juventude estava armado com o nome RFA Blue Rover.

A classe “Rover” foi pensada no início dos anos 60 para ser uma classe de reabastecedores ligeiros para apoio da esquadra, para servirem na Royal Fleet Auxiliary (RFA). Deveriam ser ca-pazes de operações RAS (Replenishment At Sea – Reabastecimento no Mar) e teriam um grande parque de helicópteros para operações VER-TREP (vertical replenishment, with helicopters) de reabastecimento através de helicópteros.

Só em 1967 se iniciou o processo de cons-trução. O primeiro navio foi lançado à água em 19 de Dezembro de 1968, recebeu o nome RFA Green Rover e foi armado em 15 de Agosto de 1969. Seguiu-se o RFA Grey Rover em 10 de Abril de 1970 e o RFA Blue Rover em 15 de Julho de 1970. Só quatro anos depois, em 1974, esta-vam prontos para serem armados o RFA Gold Rover e o RFA Black Rover. Foram apenas cons-truídos cinco navios e diferem ligeiramente em alguns aspectos. Os três primeiros, devido ao desempenho pouco satisfatório dos seus mo-tores originais, receberam novos motores em 1974. Diferiam ainda dos dois últimos no que dizia respeito à configuração dos alojamentos e dos ferros de popa.

Dos cinco irmãos dois foram vendidos. O RFA Green Rover foi vendido à Indonésia em Setembro de 1992, tendo recebido o nome de “Arun” e, para além de desempenhar as fun-ções de navio reabastecedor, também se tornou

o navio-chefe dos exercícios da força naval da Indonésia. O RFA Blue Rover foi vendido a Portugal menos de seis meses mais tarde, em Março de 1993, e foi baptizado de NRP Bérrio. O RFA Grey Rover já foi retirado do activo e ape-nas os dois irmãos mais novos ainda estão ao serviço, sendo os reabastecedores mais antigos ao serviço da RFA.

A construção do RFA Blue Rover iniciou-se em 18 de Janeiro de 1969 no estaleiro da Swan Hunter Shipbuilders Ltd, em Hebburn. Foi lançado à água em 11 de Novembro do mes-mo ano. A Madrinha foi Mrs. Mary Haynes, mulher do contra-almirante William Haynes, Director of Naval Ships Prodution. Terminada a sua construção, entrou ao serviço da RFA no dia 15 de Julho de 1970, com o nome “Blue Ro-ver” (A270).

AS MISSÕES DO RFA BLUE ROVEREm 1971 o RFA Blue Rover navegou no Oce-

ano Pacífico em apoio ao Iate Real HMS Bri-tannia. Meses depois estava no Oceano Índico a apoiar logisticamente os navios destacados para o bloqueio naval ao porto da Beira, em Moçambique, decretado pela ONU entre 1966-1979, para impedir o fornecimento de petróleo à Rodésia (Zimbabwé), na sequência da sua declaração de independência unilateral.

Em Agosto de 1972 já estava a abastecer os depósitos de abastecimento da RAF (Royal Air Force) da Estação de Stornoway, na Escócia, que necessitavam de 1500 toneladas de Avtur (combustível para helicópteros) para um im-portante exercício da NATO. O navio fundeou ao largo e efectuou a trasfega do combustível através de um pipeline construído para esse fim, com duas milhas e meia de comprimento, numa operação que durou 22 horas e meia.

Em 1973, entre 22 de Maio e 13 de Outubro, o navio foi enviado por três vezes, para pres-tar apoio logístico às unidades da Royal Navy ao largo da Islândia, durante a “2ª Guerra do Bacalhau” (decorrente da decisão da Islândia, de Setembro de 1972, de aumentar a sua Zona

Económica Exclusiva (ZEE) das 12 para as 50 milhas). A Islândia pretendia proteger os seus pescadores dos vários arrastões ingleses e ale-mães que pescavam nessas águas. Os arrastões do Reino Unido continuaram a pescar no inte-rior do limite destas águas até a Guarda Cos-teira Islandesa começar a intervir, cortando as redes a 18 arrastões. Duas fragatas foram então enviadas para o local, dando início a uma série de atritos entre a Royal Navy e a Guarda Costei-ra Islandesa.

Em Novembro de 1973, no Oceano Pacífico, o RFA Blue Rover sofreu um grande incêndio na casa das máquinas, tendo sido necessário ser rebocado pelo HMS Britannia, que devia apoiar. O navio foi reparado provisoriamente na ilha do Tahiti (Polinésia Francesa) para po-der regressar ao Reino Unido.

A Islândia viria a ampliar para 200 milhas náuticas a sua ZEE em 1975 dando origem à “3ª Guerra do Bacalhau”. Por isso, em 1976, o na-vio estaria de novo no Oceano Atlântico Norte a apoiar os navios da Royal Navy.

Depois de várias outras missões, o navio foi escolhido para, em 1982, participar no es-forço de guerra para a recuperação das ilhas Falkland. A sua missão era, naturalmente, o apoio logístico dos navios de guerra da Royal Navy. Para o efeito, iniciou a viagem de Ports-mouth para as ilhas Falkland a 16 de Abril de 1982. No dia 2 de Maio entrou na TEZ (Total Exclusion Zone), uma área com cerca de 200 mi-lhas em torno das Ilhas Falkland e da Geórgia do Sul, juntando-se, dois dias depois, ao RFA Tidespring e ao RFA Appleleaf, que eram escol-tados pelo Destroyer HMS Antrim e pela fragata HMS Plymouth. A 5 de Maio, juntamente com o RFA Appleleaf, dirigiu-se para a Geórgia do Sul escoltado pela fragata HMS Plymouth, tendo chegado à Baía de Cumberland, quatro dias depois, para assegurar as operações de reabas-tecimento. Efectuou diversas entradas e saídas da baía de San Carlos e aí permaneceu até ser rendido pelo RFA Pearleaf. Numa das suas en-tradas foi atacado por aeronaves argentinas, o

NRP Bérrio, a caminho dos 42

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28 ABRIL 2011 • REVISTA DA ARMADA

que justificou, para a sua defesa anti-aérea, a posterior montagem de duas peças Oerlikon MK7 de 20mm.

No dia 28 de Junho de 1982, terminada a sua missão, iniciou a viagem de regresso ao Reino Unido, onde chegou a 17 de Julho. No dia 18 de Novembro do ano seguinte, o navio foi empe-nhado na Operação “OFFCUT”, que tinha por objectivo dar apoio naval às tropas britânicas na força multinacional no Líbano, juntamente com o seu irmão RFA Grey Rover e com o RFA Brambleleaf, e mais tarde o RFA Reliant.

Pela sua participação no conflito das Falkland recebeu, a 17 de Agosto de 1984, em Faslane, a medalha de Honra.

Em 1991, sob o comando do seu último comandante inglês, Pat Thompson, foi objecto de uma modernização. No dia 9 de Fevereiro de 1993, já com 23 anos de vida, chegou a De-vonport para ser desarmado. No mês seguinte, seria adquirido por Portugal, para prestar ser-viço na Marinha. Terá custado cerca de cinco milhões e meio de libras.

O NRP BÉRRIOO NRP Bérrio (A5210) veio substituir o

já “velho” (mas saudoso) navio reabaste-cedor NRP S. Gabriel (1963-1995), que, no início da década de 90, teve uma grave avaria no sistema propulsor. Na altura foi ponderada uma intervenção de fundo no NRP S. Gabriel e até mesmo uma constru-ção de raiz. A decisão tomada acabou por ser adquirir um navio da classe “Rover”, porque tinha a melhor relação de custo--eficácia. Teve também grande peso na de-cisão o facto de a Marinha querer manter uma presença naval credível no mar e, por isso, não podia estar muito tempo à espera de um reabastecedor de esquadra.

O nome “Bérrio” deve-se a D. Manuel de Bérrio que foi armador de uma caravela portuguesa, com o mesmo nome, que, no século XIV, foi vendida ao rei D. Manuel I. Esta caravela latina, sob o comando de Ni-colau Coelho, integrou a Armada de Vasco da Gama que, em 1498, descobriu o cami-nho marítimo para a Índia.

O nome “Bérrio” viria a ser honrado, entre 1897 e 1947, por um navio que serviu primeiro como rebocador armado e depois como navio hidrográfico.

No dia 31 de Março de 1993, em Ports-mouth, perante diversas autoridades por-tuguesas e inglesas, renascia de novo o nome “Bérrio” agora atribuído a um navio reabastecedor de esquadra.

O navio entrou no porto de Lisboa no dia 25 de Maio de 1993. Durante o seu percurso no rio foi acompanhado por uma lancha de fiscalização rápida e duas corvetas. Fun-deou em frente à Doca da Marinha para re-ceber o Chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante Fuzeta da Ponte, e o Secretário de Estado do Equipamento e Tecnologias

de Defesa, Dr. Eugénio Ramos. Atracou, pe-las 1800, no Cais de Honra da BNL.

AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICASO navio tem um comprimento de 140,6

metros, uma boca de 19,2 metros, um calado de 7,3 metros e um deslocamento de 11 500 to-neladas. O “S. Gabriel” tinha mais seis metros de comprimento e um deslocamento de 14 200 toneladas.

Dispõe de 2 Motores Diesel de 15360 HP que, engrenados ao veio propulsor, já levaram o navio a velocidades de 19,5 nós. O navio pos-

sui ainda um hélice de proa que é fundamental para manobrar em águas restritas.

Quando foi adquirido, o navio possuía 12 estações de reabastecimento, sendo 6 de RAS líquidos e 6 de RAS sólidos. Entretanto foi desactivada a estação de reabastecimento de líquidos à proa e foi retirada uma das estações de reabastecimento de sólidos pesados.

A sua capacidade actual de carga para rea-bastecimento é de 2800 CUM’s (1CUM = 1m3) de diesel (F76 ou Marine Gasoil). Possui ainda uma grande capacidade logística em combus-tível para helicópteros (F44), água, óleo lubrifi-cante, carga sólida e munições. A capacidade própria é 1200 CUM’s de diesel (F76 ou Mari-ne Gasoil). Juntando este ao combustível para reabastecimento (2800 + 1200 = 4000 CUM’s) o “Bérrio”, com apenas um motor e a uma velocidade de 10 nós, seria capaz de dar duas voltas ao mundo, cumprindo o mesmo plane-amento efectuado pelo NRP Sagres no ano pas-sado (40 000 milhas náuticas, sem passar pelo Panamá).

Depois de um período avançado de trei-no o navio consegue reabastecer líquidos ou sólidos a dois navios em simultâneo, um em cada bordo.

Por questões de estabilidade, manutenção

da qualidade do combustível e cumprimento, do ponto de vista prático, das directivas comu-nitárias, já que se trata de um navio petroleiro de casco simples, têm-se utilizado apenas os tanques centrais para transporte de combustí-vel de carga.

A guarnição actual é de 9 oficiais, 13 sargen-tos e 49 praças, o que perfaz um total de 71 ele-mentos. Destes, 12 são do sexo feminino, tendo sido este o primeiro navio da Armada Portu-guesa a receber militares do sexo feminino na sua guarnição.

AS MISSÕES DO NRP BÉRRIOO navio já participou em inúmeras mis-

sões, sendo as mais marcantes as que a se-guir se mencionam. Sob o comando do seu primeiro comandante português, o capitão--de-fragata Mário Ceríaco Dores Sousa, o navio dirigiu-se, em 1994, até Portland para participar na missão “SAFETY TRAINING”, onde teve a oportunidade de realizar os mais diversos tipos de reabastecimentos.

Em 1995 participou na Operação “SHARP--GUARD” da UEO/NATO no Mar Adriático. A sua missão era prestar apoio logístico aos navios que efectuavam operações de vigilância marítima.

O primeiro “OST” (Operational Sea Training) realizado pelo navio decorreu em Plymouth entre os meses de Julho e Agosto de 1997.Em boa hora adquiriu a certificação porque, pouco depois, viria a ser empenhado na missão mais conhecida ao serviço do país. No dia 8 de Junho de 1998, o general Espírito Santo, então CE-MGFA, promulgou uma directiva operacional para a execução de uma operação de evacua-ção dos cidadãos portugueses e estrangeiros que desejassem ser retirados da Guiné-Bissau, face à situação de instabilidade e de insegurança criada por um golpe militar. Foi assim activada a Operação Falcão, como foi então designada no âmbito do Plano Crocodilo. Os meios navais atribuídos foram a fragata “Vasco da Gama”, as corvetas “Honório Barreto” e “João Coutinho” e o “Bérrio”. O reabastecedor levou um grupo médico-cirúrgico (1 cirurgião, 1 anestesista, 3 enfermeiros e 2 auxiliares socorristas), um gru-po de Mergulhadores Sapadores, um grupo de morteiros e um grupo de apoio de serviços do Corpo de Fuzileiros.

O “Bérrio”, sob o comando do capitão-de--fragata João José Ferreira Rodrigues Cancela, assegurou a sustentação logística da força en-volvida na evacuação de civis e militares na-cionais e ainda reabasteceu a fragata “Drogu” da Marinha de Guerra Francesa, que se encon-trava naquele espaço geomarítimo.

Na altura foi bem reconhecida a importân-cia do navio como a “unidade valiosa da força”, “providenciando apoio médico, combustíveis para os navios e para os helicópteros e motores dos botes dos fuzileiros, mantimentos, sobressalentes, água, armamento e munições. Dispunha ainda de uma boa capacidade de transporte de pessoal e carga e

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29REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2011

de um convés de voo aprovado para operações de helicópteros, o que veio a revelar-se de enorme im-portância quando o navio-chefe tinha de operar dois helicópteros simultaneamente e precisava de convés livre para imprevistos ou emergências”1.

Em 2001, durante a participação no exercí-cio “SWORDFISH”, foi instalado a bordo um simulador de guerra electrónica da NATO que permitiu a realização de exercícios de guerra electrónica (EW).

Em 2004, de 24 de Junho a 28 de Julho, o na-vio viria, de novo, a ser submetido ao OST e a corresponder com sucesso ao exigente progra-ma de treino e avaliação da Royal Navy.

O ano de 2005 foi um ano com bastante ac-tividade. Em Abril o navio participou no exercí-cio de contra proliferação de Armamento com Efeitos de Massa “NINFA”, simulando ser um navio suspeito. Cinco meses depois, devido à actividade sismológica registada nos Açores, foi destacado para o arquipélago, a fim de apoiar as populações, transportando um grupo de 60 Fuzileiros, 1 médico, 1 enfermeiro, bem como um carregamento extra de medicamentos e material de apoio. Em Novembro participou no exercício “LUSÍADA”, apoiando o COMFRI (Comandante da Força de Reacção Imediata) no trânsito para o espaço do exercício. Em Se-tembro de 2006, no decurso do exercício “INS-TREX” simulou um navio mercante sequestra-do por emigrantes clandestinos, sendo por isso alvo de assalto por um grupo do PELBOARD (Pelotão de Abordagem dos Fuzileiros).

Após dois anos novamente parado, prati-camente sem missões atribuídas, iniciou o ano de 2009 com o exercício “INSTREX 01”, segui-do de um PTO (Plano de Treino Operacional). Em Abril realizou, pela 1.ª vez, uma viagem de instrução com 45 cadetes da Escola Naval. Para o efeito foi necessária a adaptação, para fins de alojamento, de uma área de 120 m² do paiol de carga seca. Nesta missão os cadetes participa-

ram no exercício da Marinha Francesa “EURO-PEAN CADET TRAINING 09”, realizando di-versos exercícios ASW, AAW, ASUW, MCM, BOARDING e de guerra assimétrica, com uni-dades navais estrangeiras. Em Julho participou no exercício de Segurança Energética organiza-do para SEXA o Presidente da República. Para o efeito simulou um navio tomado por piratas e foi por isso posteriormente assaltado pelos fu-zileiros do PELBOARD fazendo uso da técnica de FAST-ROPE de um Lynx MK95.

Além dos exercícios citados, o navio participa regularmente nos exercícios “SWORDFISH”, “AÇOR”, “CONTEX”, “PHIBEX” e “ZARCO”.

Este ano já participou no exercício “PRON-TEX 01-11”, onde realizou operações de reabas-tecimento a fragatas e corvetas.

CONSIDERAÇÕES FINAISA chegada do NRP Bérrio permitiu à Mari-

nha garantir o apoio logístico de que necessitava a sua Força Naval para realizar missões de defe-sa militar e apoio à política externa, de forma au-tónoma, no vasto espaço estratégico de interesse nacional. Permitiu-lhe também disponibilizar este meio para o esforço colectivo requerido pela NATO e pela União Europeia.

A capacidade de fornecimento de combus-tível a outros navios no mar, não condicionan-do os movimentos da força, é absolutamente fundamental para qualquer missão no mar que se prolongue por vários dias. Um navio com estas características é fundamental para a liberdade de acção de um país que vai ter uma plataforma continental quase do tamanho da União Europeia.

Este navio também é e será fundamental para missões de apoio humanitário, em espe-cial numa época da História em que este tipo de eventos é cada vez mais comum, devido às alterações climáticas, às crises humanitárias, aos

conflitos identitários e outros provocados pela escassez de recursos. Por exemplo, no combate à pirataria a presença de navios reabastecedores é fundamental para a sustentação da força em patrulha no mar.

O NRP Bérrio já conheceu todos os oceanos do mundo e até já foi empenhado em situações de guerra e de crise, em vários teatros de ope-rações. No dia 11 de Novembro de 2011 irá co-memorar os 42 anos do seu lançamento à água. Que futuro o espera?

OS COMANDANTES DO NAVIORelação dos oficiais que comandaram o NRP Bérrio :

CFR Dores Sousa

CFR Jorge Guerra

CFR Febo Vargas de Matos

CFR Rodrigues Cancela

CFR Oliveira Silva

CFR Saldanha Junceiro

CFR Neves Correia

CFR Arrifana Horta

31MAR93

08AGO94

17OUT00

21NOV96

30ABR04

29JUN99

06JUL06

12DEZ07

08AGO94

21NOV96

30ABR04

29JUN99

06JUL06

17OUT00

12DEZ07

04NOV10

NOME INÍCIO FIM

Desde 4 de Novembro de 2010, o navio encon-tra-se sobre o comando do capitão-de-fragata Armando José Dias Correia.

Notas:1 Alexandre Reis Rodrigues e Américo Silva Santos,

Bissau em chamas, Cruz Quebrada, Casa das Letras, 2007, p. 53.

Colaboração do COMANDO DO NRP BÉRRIO

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30 ABRIL 2011 • REVISTA DA ARMADA

NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (1)

Hoje a informação corre livre. Po-demos discutir se é correcta se é ou não dirigida na direcção cer-

ta. Podemos mesmo decidir se é ou não completamente livre? O que se afirma ver-dadeiro é que para muitos, felizmente, a verdade ainda conta e é um bem a perseguir. Também é verdade, que, ao contrário de outros tempos, todos têm o direito a formar a sua opinião. Todos acreditam na sua ra-zão e os médicos (por mister de profissão), são frequentemente os primeiros a ouvi-la…Assim foi com o jovem Marinheiro, que por razões que serão claras chamarei o Marinheiro Esclarecido.

Dizia-me aquele Marinheiro, em con-versa formal, mas sol-ta, corrida, como só a consulta empática permite:- A tensão está alta. Como não haveria de estar? – Afirmou conclusivamente o nosso Mari-nheiro. E continuou:-Tenho três filhos, a minha mulher trabalhava numa pequena empresa de brinquedos e minia-turas, que vai fechar. Dizem-me que aquilo que mesmo o que ganho vai obrigar a suspender o abono de família dos meus filhos, tudo vai ficar mais caro e, aqui, aqui não vão haver aumentos durante muito tempo…

Continuou após algum silêncio, pesa-do:-Parece, sabe Doutor, que Portugal passou de repente a ser um país em que todos são ricos. Em que todos esbanjavam e ninguém trabalha-va. Daí o castigo…Novo silêncio.-”Toma–e–Embrulha”(…sorriu delicadamen-te…), quem já fazia um esforço para fazer com que as pontas de um lençol fino tapassem as

necessidades, vê-se agora nu, de repente e ao frio…Concluiu triste.

Lembrei-me então que, tinha apenas 10 anos, quando me tomei de razões com um rapagão de 14 anos por causa de uma bola. Ele preparava-se para me

fazer sentir o peso da sua idade, quando a minha avó o lembrou de uma certeza que carrega o peso da humanidade:-Ouve lá, não sabes que bater nos mais pe-quenos é uma vergonha?!

Esta frase salvou-me de uma monu-mental “coça”, pois o matulão teve mes-mo a bendita “vergonha” e libertou-me do amplexo em que me continha. De-pois, como todos nós, cresci. Cresci num tempo em que um pequeno televisor, a preto e branco, emitia séries antigas, em que determinado herói se revoltou con-tra a injustiça. Afrontava, com risco de vida, os tiranos. Roubava dos ricos para dar aos pobres. Trata-se, é claro, do mí-tico Robim dos Bosques. As duas ideias: a vergonha que era fazer mal aos mais fracos e a necessidade de afrontar os po-derosos em defesa dos fracos ecoaram

durante anos na minha mente infantil, associadas à noção de justiça e à luta que alguns empreendem para a defender…Em verdade, estas certezas ainda ecoam, com força renovada, neste nosso país.

Assim, não é compreensível – por mais argumentos que se esgrimam – a pre-texto de um período de escassez, que se retire a quem já tem pouco, a quem vive do seu trabalho, man-tendo, sabemos bem, muitas vezes intac-tos os privilégios a quem deles não quer prescindir. As “mas-sas” humildes, que se chamam João, Maria e têm filhos chama-dos Joana, Manuel e Isabel somos nós, ou a maioria dos nossos amigos, têm, no país presente, muito pouca confiança. Expressam

frequentemente o desalento, para não dizer desespero, que o nosso Marinheiro Esclarecido tão bem exemplifica…Muitos acrescentam (e eu tenho forte tendência a concordar com eles…), que será bem mais difícil afrontar os poderosos, que, como outro ilustre marinheiro bem pôs, normalmente “servem o país, servindo os seus próprios interesses” (muitas vezes absolutamente obscuros), numa simbiose perversa com empresas de “grande inte-resse estratégico nacional”…

Portugal nunca deixou de ser um país eminentemente pobre – mesmo que a vasta rede de supermercados, hipermer-cados e centros comerciais gigantescos possa desorientar o menos atento – mar-cado por uma profunda desigualdade so-cial, bem visível na prática médica, prin-cipalmente urbana (sim, a maior parte

Voltei. Provavelmente cedo de mais? Cruzei-me com um amigo. Ele sorriu e perguntou se afinal eu estava zangado com a Revista da Armada (RA). Disse-lhe que não, que nunca estive zangado com a RA. Pareceu-me aliás uma reputada injustiça, essa suposição…afinal por várias vezes afirmei que na RA só encontrei amigos – presentes vezes sem conta, em dias de vento Norte, frio e duro. São os mesmos amigos que sempre, sempre me louvaram em dias quentes de Verão sereno…no meu coração…

Esse mesmo amigo, em conversa séria, afirmou a necessidade duma escrita assim, tão próxima, tão pessoal…certamente um exagero! Contudo, nunca antes o país pareceu estar em tal crise e a Marinha não foi poupada…E quem sabe, talvez a Marinha, no seu todo, goste mais desta escrita lamechas do que eu próprio supunha…

O Marinheiro Esclarecido e os tempos difíceisO Marinheiro Esclarecido e os tempos difíceis

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31REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2011

Na segunda semana de Março esteve patente numa das salas do Clube Militar Na-val uma exposição de pintura do Comandante Jorge Forte.

A exposição era constituída por oito quadros, pintura a óleo sobre tela, que ilustram uma das actividades a que o CMG J. Forte se tem dedicado na situação de Reforma.

trocinado pela Marinha, criado no âmbito do protocolo ISCSP - Mari-nha, e destinado galardoar o aluno de um dos cursos de mestrado do ISCSP que apresente a melhor tese cujo tema tenha relação com o mar. O júri é presidido por um professor catedrático do ISCSP e inclui outros representantes do ISCSP e da Ma-rinha. O comandante Dias Correia foi distinguido pela oportunidade e interesse da sua tese “Portugal e os desafios marítimos do século XXI”.

Marinha. Pois a Marinha, como todas as instituições, é tanto melhor, quanto me-lhor for o seu servidor mais humilde. A esperança deve ser propagada, particu-larmente em tempos de sacrifício – afinal é em todas as circunstâncias sempre essa a obrigação primeira de um médico.

Quem me dera ter aqui outra vez a minha avó e outros antigos portugueses, para nos livrarem deste outro aperto. Que viessem e nos falassem de justiça e da força intrínseca que foi necessária para vencer outros momentos difíceis da nossa história. Que viessem e nos fizes-sem sentir naquilo que deveríamos ser sempre: orgulhosos portugueses…

Finalmente, apeteceu-me dar um abraço ao nosso Marinheiro. Não o fiz, mas espero que este escrito, sem arte, cumpra esse objectivo…

Doc

dos genuinamente pobres vive agora na periferia das grandes cidades, à maneira de outros continentes como a América do Sul, do qual não nos aproximamos só pela latinidade, mas também pela gran-de desigualdade social, que não é visível nos países do Norte…).

Se já estávamos pobres, vamos ficar ainda um pouco mais. Esquecemo-nos, no apertar do cinto, de que em períodos de carestia é preciso ter especial atenção à distribuição dos sacrifícios e fomenta-mos o sofrimento. Hoje ninguém, nem o mais humilde marinheiro aceita as verdades de plástico, que lhes querem veicular – todos têm opinião. Admito que precisamos de exemplos (vindos do topo), não de falsidade, atrás de menti-ra, num círculo vicioso interminável, que nos trouxe exactamente ao local inóspito em que nos encontramos. Só assim con-seguirá verdadeira motivação pública e

reconhecimento, quem se empenhar a favor da contenção e do apertar do cinto dos mais pobres.

A estes e a outros marinheiros, respon-do muitas vezes que não seria aceitável, à ética militar, o abandono do país no mo-mento em que lhe são exigidos sacrifícios – isentando-os desta austeridade. Bem vê o leitor paciente e também esclarecido, os militares não estão sujeitos às leis de mercado que tanto atormentam determi-nadas empresas públicas e “obrigam” à sua protecção por “enquadramentos es-peciais”. Aos marinheiros, por juramen-to, é-lhes solicitado patriotismo e, como provaram ao longo da história, o sacrifí-cio pessoal e dos seus entes queridos…

Normalmente, acabo estas conversas com uma palavra de esperança, porque eu confio na bondade e na força deste e dos muitos marinheiros anónimos, que estão nas fileiras por genuíno amor à

PRÉMIO MARINHA PORTUGUESA 2010

UNIVERSIDADE CATÓLICAPROGRAMA AVANÇADO EM ESTUDOS DO MAR

CLUBE MILITAR NAVAL EXPOSIÇÃO

No dia 18 de Janeiro, no Ins-tituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), o

CFR Armando José Dias Correia re-cebeu o “Prémio Marinha Portugue-sa 2010”. O prémio foi entregue pelo Almirante CEMA durante a cerimó-nia de abertura do ano lectivo, presi-dida pelo magnífico reitor da Univer-sidade Técnica de Lisboa, Professor Doutor Fernando Ramôa Ribeiro, e perante vários ilustres convidados, o corpo docente e os alunos do ISCSP.

Trata-se de um prémio anual pa-

O Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa irá realizar, de Abril a Junho de 2011, a 1ª edição do Programa Avançado em Estudos do Mar.

Trata-se de um projecto de formação, sob a direcção científica do Prof. Doutor Adriano Moreira e do Almirante Vieira Matias, que tem por objectivo estudar os desafios que se colocam a Portu-gal na sua relação com o mar. Terá uma perspectiva de futuro, re-lativamente à ocupação dos espaços marítimos sob soberania ou jurisdição nacional, bem como à rentabilização das suas riquezas.

Visará um objectivo consubstanciado no tratamento concep-tual das várias dimensões do tema, com o aprofundamento sec-torial das matérias a cargo dos mais conceituados especialistas das nossas universidades e da Marinha, num total de vinte.

O Programa constitui um projecto académico vocacionado para licenciados, empresários e profissionais que desempenhem funções em actividades marítimas, com vista ao aprofundamen-to de conhecimentos nas áreas de ciência política e economia.

As informações detalhadas, nomeadamente para as inscrições já a decorrer, podem ser obtidas no site IEP.Lisboa.UCP.Pt, ou através do Email [email protected] .

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32 ABRIL 2011 • REVISTA DA ARMADA

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33REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2011

QUARTO DE FOLGA

Norte (N)♠ ♥ ♦ ♣

A A V R 6 10 9 6 5 7 5 4 6 Este (E)

♠ ♥ ♦ ♣ D D 8 3 10 V 4 3 5 2 4 3 2

Oeste (W)♠ ♥ ♦ ♣R 9 R A

V 7 D 2 9 6 3 8 7 Sul (S)

♠ ♥ ♦ ♣ - R A D 8 10 V 5 10 2 9 8 7 4

JOGUEMOS O BRIDGEProblema nº139

PALAVRAS CRUZADASProblema nº422

SOLUÇÕES: PROBLEMA Nº139SOLUÇÕES: PALAVRAS CRUZADAS Nº 422

W – E vuln. W abriu em 1♠, N passou, E deu 2♠, S interveio em 3♣, W pas-sou e N fechou em 5♣, talvez um pouco agressivamente, mas face ao seu apoio e os 2 Ases. Como deverá S jogar para tentar cumprir o seu contrato com a saída a ♠7, eliminando portanto uma das 3 perdentes (2♦+1♣)?.

Tendo em conta a abertura de W, S deve jogar para a hipótese das 2 figuras de ♦ se encontrarem à sua esquerda, e não para uma repartição com seria mais provável sem qualquer informação. Vejamos pois qual o desenvolvimento a seguir: joga A e balda um ♦ da mão; outra ♠ que corta de 7; ♥ a terminar no morto para eliminar o naipe e joga outra ♠ para cortar de 8 seguindo a linha de eliminação do naipe; V de trunfo entrando no morto com o R caso W se distraia e não jogue o A, o que lhe facilitaria a vida, pois permitia-lhe jogar a última ♠ para cortar, eliminando igualmente este naipe; trunfo para o A de W que ficará sem defesa, pois qualquer carta que jogue vai permitir que S só dê um ♦. Caso W esteja atento e entre de A jogando certamente outro trunfo, S fica no morto, por isso nunca cortou de 4, corta a última ♠ e joga um ♦ para o V, colocando W na mesma posição.

Horizontais: : 1 – Membrana que reveste as cartilagens. 2 – Preposição; tornar me-lodioso. 3 – Rapara; no meio de osga. 4 – Iliria na confusão; flor da roseira. 5 – No princípio de magnésio; falta uma para ser marina. 6 – No princípio de ignoto; falta uma para ser riba. 7 – Competição automóvel ou de motociclos (pl); no princípio de Letícia. 8 – Parte de um vegetal que contém um dos órgãos reprodutores ou ambos; no início de calosidade. 9 – Partícula que no dialecto provençal, significa sim; borrais (a pintura) na confusão. 10 – Acetinado (poet); falta uma para ser teia (inv). 11 – Óxido de estrôncio, empregado na refinação do açúcar.

Horizontais: 1 – Pericondrio. 2 – Em; Melodiar. 3 –Raspara; Sg. 4 – Iliira; Rosa. 5 – Magne; Marin. 6 – Ign; Iba. 7 – Ralis; Letic. 8 – Flor; Calosi. 9 – Oc; Iarorbs. 10 – Sericeo; Iet. 11 – Estronciana.

Verticais: 1 – Perimorfose. 2 – Emala; Alces. 3 – Sigilo; Rt. 4 – Impingir; Ir. 5 – Cearens; Iço. 6 – Orla; Caen. 7 – Noa; Milaroc. 8 – Dd; Rabelo. 9 – Ri; Oratória. 10 – Iassi; Isben. 11 – Organicista.

Verticais: : 1 – Transformação de uma larva em crisálida. 2 – Coloca em mala; es-pécie de veados de grande porte, que habitam o Norte da Europa e da América (pl). 3 – Guarda segredo; duas de orto. 4 – Fazer acreditar iludindo; andar. 5 – Falta uma para ser cearense; planta caparidácea do Brasil. 6 – Rola na confusão; cidade da França. 7 – Hora canónica; espécie de serpente do Brasil (inv). 8 – Consoante dobrada; barco do rio Douro, de leme comprido e grosso em forma de pá ou remo. 9 – Graceja; arte de orar ou falar em público. 10 – Cidade da Roménia, antiga capital da Moldávia; ibsen na confusão. 11 – Pessoa partidária do organicismo.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 111 2 3 4 5 6 7 8 9

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Nunes MarquesCALM AN

Carmo Pinto1 TEN REF

CONVÍVIOS

TAPE OS JOGOS DE E-W PARA TENTAR CUMPRIR A 2 MÃOS

ASSOCIAÇÃO DE EX-MARINHEIROS DO DISTRITO DE SETÚBAL " O ALCACHE "

NÚCLEO DE FUZILEIROS DOS TEMPLÁRIOS DE TOMAR

● Realiza-se no próximo dia 21 de Maio, em Setú-bal, o 34º encontro nacional de marinheiros e ex--marinheiros do distrito de Setúbal.As inscrições devem ser feitas até dia 8 de Maio.

Para mais informações sobre o programa do en-contro, os interessados devem contactar:Guerreiro TM 967 792 133, Cabral TM 919 258 512, Chainho TM 933 264 379, Melo TM 914 423 477, Abílio TM 914 624 579, Humberto TM 965 327 354, Terlim TM 965 092 057, Alonso TM 961 843 865. [email protected] [email protected]

● Realiza-se no próximo dia 15 de Maio, na Quinta da Gracinda Mateus, Valdonas, Tomar, um almoço-convívio dos Fuzileiros dos Templários.Para mais informações contactar: Carlos Corte Real-TM 917879765-TL 249324906; Aurélio Oliveira-TM 962513452; Manuel Marques-TM 964175325-TL 249301362; José João Narciso TM-917481484; TL 249345382.

VI CONFRATERNIZAÇÃO DE RADARISTAS / CLASSE DE OPERAÇÕES DA ARMADA

● No dia 30 Abril, pelas 13h, terá lugar mais uma confraternização de Radaristas (de todos os tempos) / Classe de Operações, no Restaurante “Sabor Mineiro”, Avenida Elias Garcia Nº 992 – Palhais, Charneca de Caparica.Para mais informações contactar: SMOR R Fontes, Telef. 213 255 625 (dias úteis), SCH R Leitão TM 934 451 336Email: [email protected]

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34 ABRIL 2011 • REVISTA DA ARMADA

NOTÍCIAS PESSOAISCOMANDOS E CARGOS

RESERVA

REFORMA

FALECIDOS

NOMEAÇÕES● VALM José Domingos Pereira da Cunha nomeado Chefe do Estado Maior Conjunto ● VALM Álvaro José da Cunha Lopes nomeado Director-Geral da Autoridade Marítima e por inerência Comandante-Geral da Polícia Marítima ● CMG MN José Manuel de Jesus Silva nomeado Director do Centro de Me-dicina Naval ● CMG Fernando Contreiras Braz de Oliveira nomeado Chefe da Divisão das Relações Externas do Estado-Maior da Armada ● CMG Jorge Manuel Novo Palma nomeado Comandante da Esquadrilha de Escoltas Oceânicos ● CTEN SEU Nuno Galhardo Leitão nomeado Director do Núcleo de Formação de Socorros a Náufragos.

● SMOR ETC José Pedro Fernandes Mourato ● SMOR L Francisco Beato Car-doso ● SMOR H Luís Filipe dos Santos Parente ● SMOR ETC João Domingos de Matos Pais ● SMOR FZ João Alves Carvalho ● SMOR MQ Luís Manuel Correia da Silva ● 1SAR V Arsénio Ferreira Ribeiro ● CAB CCT Leontino José Alves dos Santos Grilo ● CAB M José Fernando Moreira Branco ● CAB FZ António Firmino Gaspar.

● CALM Luís Carlos Calceteiro Serafim ● CMG António José da Costa Martins ● CMG Fausto José Tomás Coelho ● CMG José Manuel Guerreiro Brou ● CMG João Manuel de Andrade Monteiro ● CMG António Manuel da Cruz Tavares Meyrelles ● CMG Carlos Fernando Guimarães Bandarra Branco ● CMG Ani-ceto Garcia Esteves ● CMG José Joaquim Peralta da Costa Centeno ● CMG AN Rafael Sardinha Mendes Calado ● CMG Raul Bernardo Mourato Ramos Gou-veia ● CMG FZ José Manuel de Oliveira Dias Coelho da Silva ● CMG Simão Neves de Almeida ● CMG José Soares Rodrigues de Figueiredo ● CMG EMQ Luís Filipe da Silva Chagas ● CMG FZ José Manuel de Carvalho Passeira ● CMG Justo Manuel Tavares ● CMG EMQ António José da Silva Trabuco ● CFR EMQ Francisco José da Costa Pereira ● CFR OT José Luís Queiroz dos Santos ● CFR AN João Augusto de Jesus Parada ● CFR Amílcar José São Miguel de Oliveira ● CFR João Paulo Maria Freire Cardoso ● CFR Jorge Manuel Vieira Amândio ● CTEN OT Rui da Conceição dos Mártires Carepa ● CTEN Paulo Jorge Gamboa Calado Lopes ● CTEN OT Joaquim Silva Batista ● CTEN OT Arlindo Rodrigues Certal ● CTEN José Luís de Oliveira Santos ● CTEN Jerónimo Maria Bugalho ● CTEN AN Miguel Romão Mestre Martins ● 1TEN OT António Manuel Pin-to Freitas ● SMOR L Romão Caçador Durão ● SMOR SE Eliseu dos Santos ● SMOR TRC Jorge Duarte Ferreira ● SMOR V António Manuel Fernandes ● SCH MQ João Maria Pinheiro do Carmo ● SCH V António José Alves Gomes ● 1SAR M Joaquim José Cardim Palhinhas ● 1SAR M Humberto António Guerreiro de Almeida ● 1SAR A João Alberto Ferreira Cardoso ● 1SAR A Victor Manuel Pinto de Almeida ● 1SAR A António Francisco Guerreiro Marciano ● 1SAR A Fran-cisco Alves Godinho ● 1SAR C José Ventura Lourenço Dias ● 1SAR C Leonardo Feleciano Cascalheira da Luz ● 1SAR CM Simão Eduardo Seabra Peixe ● 1SAR CM José Marto dos Santos ● 1SAR CM José Alberto Reis da Silva ● 1SAR CM Carlos Alberto Cerqueira Costa ● 1SAR FZ Alberto Fernando Vieira de Andrade ● 1SAR FZ Mário Pereira da Silva ● 1SAR FZ Carlos Alberto Guilherme Rodri-

● CMG REF José Faustino Ferreira Júnior ● CMG REF José Howell Santos Hei-tor ● CMG SEM REF Fernando de Azevedo Abreu ● 1TEN OTT REF António Augusto Vicente ● SMOR FZ REF DFA João Custódio Anania ● SMOR ET Júlio Mateus ● SCH R REF Adélio Carlos Borges Alves ● SCH R REF João Barata ● SAJ A REF Francisco Baião Letras ● SAJ E REF Vasco da Silva João ● 1SAR MQ REF Victor Manuel João Bordeira da Casinha ● 1SAR T REF Carlos Pinhal.

gues ● 1SAR FZ Abílio Manuel Mendes dos Santos ● 1SAR FZ José dos Anjos Batista ● 1SAR FZ Carlos Manuel Gomes de Almeida Santos ● 1SAR V José Ma-nuel da Silva Marques ● 1SAR V Joaquim António Oliveira da Silva ● 1SAR R José Carlos Figueiredo Ladeiro ● 1SAR R João Ilídio Boto Sardinha ● 1SAR US Fernando Heitor Marques ● 1SAR US Silvio Ângelo da Silva Mesquita ● 1SAR US José Alexandre Gomes de Jesus ● 1SAR L António Manuel Santos de Oliveira ● 1SAR T Manuel Joaquim Piado ● CAB CM José Manuel Parente Sora ● CAB CM Custódio Manuel Paquete Salvador ● CAB CM Victor Manuel Fernandes Costa ● CAB FZ António José Abrunhosa Cardoso ● CAB FZ Carlos Alberto Dias Ferreira ● CAB FZ Ricardo Alves Jorge ● CAB T Carlos Manuel Martins Gonçalves ● CAB T Francisco Manuel Correia de Almeida ● CAB T José Alberto Duarte dos Santos ● CAB A António José Esteves Costa ● CAB E António José Quadrado Dias ● CAB E Carlos José Meneses Ales ● CAB M Victor Hugo Vieira Rocha Rodeia ● CAB V José António Pinho Regueira ● CAB FZ João Valério Batista ● CAB FZ Diamantino Henriques Marques ● CAB T António Joaquim Silva Santos ● CAB T Cláudio Jorge dos Santos Garcês ● CAB R Egídio Timóteo Liboi Santana ● CAB L António José Pedro ● CAB FZ Eduardo José da Graça Tiago ● CAB FZ José Carlos Gomes da Costa e Silva ● CAB TFH Jorge Manuel de Jesus Oliveira Lourenço ● CAB TFD António Manuel Marques Cabo ● CAB B João Manuel Pelica Dorropio ● CAB TFD Jorge Manuel Martins Brito ● CAB A Luís Filipe Lourenço da Silva Pina ● CAB A Eduardo Jorge de Almeida Firmino ● CAB A Aníbal Manuel Lourenço Saldanha ● CAB A Manuel João Trindade Jacinto ● CAB E Eugénio António Gonçalves ● CAB E João José Rolim Ribeiro ● CAB E Paulo Alexandre dos Santos Loureiro ● CAB E Gabriel Marques da Quin-ta Matilde ● CAB FZ Júlio da Silva Coelho Correia ● CAB FZ Fernando Teixeira Marques ● CAB FZ Mário Rui Salgueiro Pinta do Pateo ● CAB FZ Carlos José Figueira Palma ● CAB FZ António Joaquim da Silva ● CAB FZ António José Ribeiro Moço ● CAB FZ Rui dos Santos Nogueira ● CAB FZ José Carlos Crisós-tomo dos Santos ● CAB FZ Rui António Mendes Rovisco ● CAB M Carlos Jorge Martins Oeiras ● CAB M Domingos Fernando Pereira de Azevedo Fernandes ● CAB M António Manuel de Freitas Pires ● CAB M José Lima da Silva ● CAB M José Mário Gonçalves Torres Afonso ● CAB M Victor Manuel Rabuge Mendes ● CAB M Paulo Alexandre Rocha Leitão ● CAB M António dos Santos Rodrigues Cordeiro ● CAB M Carlos Manuel Rojão Almeida ● CAB M Luís Filipe Arsénio Santos ● CAB CM Rui Manuel Brites Gabriel ● CAB CM José Maria Pinto Catela ● CAB CM Gilberto da Rocha Filipe ● CAB CM Gerardo Manuel de Oliveira Pereira ● CAB CM Rui Manuel Ferreira de Elvas Martins ● CAB CM José Carlos da Cruz Marques ● CAB CM José Manuel Chinchinim Candeias ● CAB CM Paulo Jorge Porto Morais ● CAB CM Carlos Manuel Pinheiro Pereira ● CAB CM Domingos Manuel Gonçalves Pereira ● CAB V João José Martins Dias ● CAB TFH António Manuel Pinto Martins ● CAB TFH Joaquim de Melo Machado ● CAB TFH Paulo Alexandre Casaca da Silva Ramos ● CAB TFH Carlos Manuel Matias Mendes ● CAB TFH Carlos Albeto Botha Silva ● CAB L António Manuel Fernandes Pereira.

CONVÍVIOS“FILHOS DA ESCOLA”

RECRUTAMENTO DE MARÇO/ABRIL 1963

1ª GUARNIÇÃO DO NRP “COMANDANTE SACADURA CABRAL”

● Realiza-se no próximo dia 28 de Maio, no Complexo Turís-tico e Hoteleiro “Pôr do Sol 2”, na Estrada Nacional n.º 366 (saída da A1 – Aveiras km 2), em Aveiras de Cima – Azam-buja, o almoço de confraternização dos “Filhos da Escola” do recrutamento de Março/Abril de 1963. As inscrições devem ser dirigidas a: António do Rosário Rodrigues, CFR SEB REF – Rua Cesário Verde, n.º 1, Vale de Milhaços, 2855 – 423 Cor-roios. Para mais informações contactar: CMG SEA REF P. Carvalho – das 10h00 às 22h00 pelo Telef. 21 0875262; CFR SEB REF Rodrigues – das 10h00 às 22H00, Telef. 21 2541205 ou TM 96 5758536; 1TEN OT REF Pegacho - das 10h00 às 22H00, Telef. 21 2961153 ou TM 93 4254392; SMOR SE REF António - das 10h00 às 22H00, Telef. 21 2250238 ou TM 96 7541011.

● Vai realizar-se no próximo dia 18 de Junho, no Restaurante “O Fadango” em Benavente, um almoço de confraternização dos Marinheiros que formaram a primeira guarnição da fragata”Comandante Sacadura Cabral”, recebida em Lorient.Para mais informações os interessados deverão contactar: Joaquim Ferreira-TM 965718510 Email: [email protected]; António Serrão-TM 919068793.

"FILHOS DA ESCOLA" DE 1956● Vai realizar-se no dia 28 de Maio, no Restaurante “Os Queridos”, nas Caldas da Rainha, o almoço de confraternização dos “Filhos da Escola” de 1956 para comemorar o 55º aniversário da incorporação.As inscrições deverão ser dirigidas a: José Vieira Soares-TL 212751752-TM 919395719; Agostinho Patrício TL 219411605-TM 919508247; Adelino Afonso TL 212241839-TM 939510239.

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Navios da República

15. O CRUZADOR “REPÚBLICA”O primeiro navio de casco metálico construído no Arsenal da Marinha,

de Lisboa e simultaneamente o único cruzador feito em estaleiros nacionais, foi lançado à água em Abril de 1899 e aumentado ao efectivo a 23 de Maio de 1901 com o nome de “Raínha D. Amélia”. O Engº francês Croneau, que se fez acompanhar de uma equipa técnica, foi contratado para superior-mente orientar a construção do cruzador, dando início, com a utilização do aço, a uma nova fase da construção naval em Portugal.As suas características principais eram as seguintes:Deslocamento .................................................................................1.863 toneladasComprimento (entre perpendiculares) ..........................................75 metrosBoca ....................................................................................................11,80 “Calado ..................................................................................................4,47 “Velocidade máxima ...........................................................................18 nós

Dispunha de duas máquinas verticais de tríplice expansão, for-necendo uma potência de 5.000 cavalos, com oito caldeiras aqui-tubulares, sendo utilizado o carvão como combustível. As máquinas e caldeiras foram construídas nos estaleiros fran-ceses “Forges et Chantiers de la Mediterranée”. Estava armado com quatro peças Schneider Canet de 150 mm e duas de 100 mm, duas peças Ho-tchkiss de 47 mm e duas de 37 mm, duas metralhadoras Nor-denfelt de 6,5 mm instaladas nas gáveas, uma em cada mas-tro e dois tubos lança-torpedos Whithead de 355 mm.

A sua guarnição inicial compreendia 273 homens (22 oficiais, 23 sar-gentos e 228 praças).Em Junho de 1901 largou de Lisboa integrado numa divisão naval que con-duziu o Rei D. Carlos e a Raínha D. Amélia na visita aos arquipélagos da Madeira e dos Açores. Escalou Porto Santo, Funchal, Santa Maria, Horta, Angra e Ponta Delgada, tendo demandado a barra do Tejo em Julho. Durante o mês de Agosto, fazendo parte da Divisão Naval de Instrução, participou em exercícios ao longo da costa tendo fundeado em Leixões, Cascais e Lagos.

Em Junho de 1902, levando a bordo o Princípe Real D. Luís Filipe, lar-gou para Inglaterra a fim de participar, representando Portugal, na Revista Naval em Spithead, comemorativa da coroação do rei Eduardo VII.As habituais manobras de Verão realizaram-se em Setembro e Outubro, tendo além de tiros de artilharia o cruzador efectuado o lançamento de um torpedo de exercício.

Em 3 de Outubro de 1902 fundeou em Belém para participar na inaugu-ração da estátua de Afonso de Albuquerque. Depois de no mês de Janeiro de 1903, ter ido a Tânger e a Gibraltar, em Abril, conjuntamente com os cruzadores “D. Carlos I” e “Adamastor”, pres-tou honras, frente a Cascais, ao iate real inglês onde se encontrava embar-cado o Rei Eduardo VII. Ainda no mês de Abril transportou para Porto Santo uma centena de elementos do Exército que se tinham revoltado e em Junho rumou para o Porto a fim de auxiliar as autoridades na repressão de uma greve que tinha ocorrido naquela cidade.

Anualmente fundeava em Cascais a fim de prestar honras ao Rei D. Car-los, quando do seu aniversário natalício a 28 de Setembro.

Iniciou as comissões no Ultramar em Agosto de 1904, mês em que lar-gou rumo a Angola integrando a Divisão Naval do Atlântico Sul. Durante a permanência em águas angolanas apoiou, de Setembro a Janeiro de 1905, a Campanha do Cuamato que tinha como objectivo tornar efectivo o do-mínio português entre os rios Cunene e Cubango. O navio, fundeado em Moçâmedes, disponibilizou praças para, numa coluna militar, guarnecer duas metralhadoras Nordenfelt. A coluna, em 25 de Setembro, foi violen-tamente atacada tendo sofrido avultadas baixas entre as quais se contou a do 2º tenente João Roby. As praças do cruzador foram, após as operações em terra, cooperar na defesa do forte “D. Amélia” nas Ganguelas. O navio deslocou-se a Benguela em Março de 1905 tendo no mês seguinte retor-nado a Lisboa.

Durante três anos esteve em fabricos após o que, em Julho de 1908, levando a bordo aspirantes de Marinha do 1º e 2º cursos da Escola Naval, largou para o Rio de Janeiro a fim de representar Portugal nas festas do cen-

tenário da abertura dos portos do Brasil ao comércio internacional. Escalou Baía, Pernambuco e o Pará e regressou em Outubro.

Deixou o porto de Lisboa em Novembro com destino ao Extre-mo-Oriente, via Suez, sendo em Setembro de 1909 aumentado ao efectivo da Estação Naval de Macau. Visitou o Japão de Abril a Maio de 1910, praticando os portos de Yokohama, Kobe, Obe Wau e Nagasaqui. A fim de neu-tralizar piratas que, instalados na ilha de Coloane, tinham raptado

crianças chinesas e igualmente afirmar a soberania portuguesa naquela ilha fronteira a Macau, em Julho e Agosto o cruzador, numa operação em que também participaram a lancha canhoneira “Macau” e a canhoneira “Pátria”, desembarcou 150 homens da sua guarnição, sendo conseguida a captura dos piratas e o resgate das crianças.

O cruzador “Raínha D. Amélia” encontrava-se em fabricos em Hong Kong quando da implantação da República em Portugal, passando em 5 de Dezembro de 1910 a denominar-se “República”. Saíu de Macau em Abril de 1911 e entrou no rio Tejo em Junho. Nesse mês de Junho e em Julho co-operou na repressão ao movimento revolucionário monárquico do Norte, tendo fundeado no Porto.

Largou em Novembro rumo aos Estados Unidos da América para tomar parte nas cerimónias de inauguração da ponte de Key-West, na Flórida. Es-calou à ida Las Palmas, S. Vicente de Cabo Verde, o porto brasileiro de Pará e Port of Spain, na ilha Trinidá e no regresso, Nova York, Horta, Boston, Brest e Havre onde reparou a artilharia. Regressou a Lisboa em Abril de 1912.

Sofreu fabricos de Maio de 1912 a Junho de 15, mês em que foi in-tegrado na Divisão Naval de Defesa e Instrução. Vindo de Lagos e rumo ao Norte, em 5 de Agosto de 1915, pelas 1915, debaixo de um intenso nevoeiro encalhou na Consolação perto de Peniche. Apesar de várias ten-tativas de desencalhe, em que se destacou o vapor “Bérrio”, o salvamento não foi conseguido, tendo por esse facto o cruzador “República”, em 20 de Agosto de 1915, sido abatido ao efectivo.

J.L. Leiria PintoCALM

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Navios da República

15. O CRUZADOR “REPÚBLICA”