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 Aluno: Alefsander Ribeiro Nascimento Administraçã o O Problema da Sociedade Georg Simmel  A sociedade existe onde quer que vários indivíduos entram em interação. Esta ação recíproca se produz sempre por determin ados instintos ou para determinados fins. Instintos eróticos, religiosos ou simplesmente sociais; fins de devesa ou ataque, de jogo ou ganho, de ajuda ou instrução, estes e infinitos outros fazem com que o homem se encontre num estado de convivência com outros homens, com ações a favor deles, em conjunto com eles, contra eles, em correlação de circunstâncias com eles. Numa palavra, que exerça influência sobre eles e por sua vez as receba deles. Essas interações significam que os indivíduos, nos quais se encontram aqueles instintos e fins, foram por eles levados a unir-se, convertendo-se numa unidade, numa sociedade . Pois unidade em sentido empírico nada mais é do que interação de elementos. Um corpo orgânico é uma unidade, porque seus órgãos se encontram numa troca mútua de suas energias, muito mais íntima do que com nenhum ser exterior. Um estado é uma unidade, porque entre seus cidadãos existe a correspondente relação de ações mútuas. Mas ainda, o mundo não poderia ser chamado de uno, se cada parte não influísse de algum modo sobre as demais, ou se em algum ponto se interrompesse a reciprocidade das influências.  A sociação começa a existir quando a coexistência isolada dos indivíduos adota formas determinadas de cooperação e de colaboração, que caem sob o conceito geral da interação. A sociação é, assim, a forma realizada de diversas maneiras, na qual os indivíduos constituem uma unidade dentro da qual se realizam seus interesses. E é na base desses interesses   tangíveis ou ideais, momentâneos ou duradouros, conscientes ou inconsciente s, impulsionados causalmente ou induzidos teologicamente- que os indivíduos constituem tais unidades. Quando se fala em ciências sociais naquela primeira significação, seu objeto é tudo o que acontece na e com a sociedade. A ciência social, no segundo sentido, tem por objeto as forças, relações e formas, por meio das quais os homens se sociam. Em todas as sociedades que conhecemos, atua um grande número de tais formas de ligação, isto é, de sociação. Ainda que ficasse somente uma delas, sempre permaneceria ainda sociedade, de maneira que todas podem parecer agregadas a uma sociedade já pronta, ou nascidas em seu seio. Mas se imaginamos desaparecidas todas essas formas singulares, não resta mais nenhuma sociedade. Somente quando atuam estas relações mútuas, produzidas por certos motivos e interesses, surge a sociedade. Um número dado de indivíduos podem constituir uma sociedade, em maior ou menor grau. A cada novo aumento de formações sintéticas, a cada formação de partidos, a cada união para uma obra comum ou num comum sentimento ou modo de pensar, a cada distribuição mais precisa da submissão e da dominação, a cada refeição em comum, a cada adorno que alguém use para os demais, o mesmo grupo vai-se tornando cada vez mais sociedade do que antes. Não há uma sociedade absoluta, no sentido de que deveria existir como condição prévia para que surjam esses diversos fenômenos de união. Mas em quase toda sociação humana, é encontrada a submissão e a dominação. Em geral, a Sociologia se tem limitado a estudar aqueles fenômenos sociais nos quais as forças recíprocas dos seus portadores imediatos já se cristalizaram em unidades, ideais pelo menos. Estados e associações sindicais, sacerdócio e formas de família, constituições econômicas e organizações militares, grêmios e municípios, formação de classes e divisão industrial do trabalho   estes e outros grande órgãos e sistemas pareciam constituir a sociedade preenchendo o círculo de sua ciência. É evidente que quanto maior, quanto mais importante e dominante for uma província social de interesses ou uma direção da ação, tanto mais facilmente ocorrerá a transformação da vida imediata, interindividual, em organizações objetivas, surgindo assim uma existência abstrata, situada mais além dos processos individuais e primários. Tudo quanto acontece no campo dos contínuos contatos físicos e espirituais, as mútuas excitações ao prazer e à dor, as conversações e os silêncios, os interesses comuns e antagônicos, é o que faz com que a sociedade seja irrompível; de tudo isso dependem as flutuações de sua vida, mediante as quais seus elementos ganham, perdem, se transformam incessantemente.

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Resumo O problema da Sociedade

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  • Aluno: Alefsander Ribeiro Nascimento Administrao

    O Problema da Sociedade

    Georg Simmel

    A sociedade existe onde quer que vrios indivduos entram em interao. Esta ao recproca se produz sempre por determinados instintos ou para determinados fins. Instintos erticos, religiosos ou

    simplesmente sociais; fins de devesa ou ataque, de jogo ou ganho, de ajuda ou instruo, estes e

    infinitos outros fazem com que o homem se encontre num estado de convivncia com outros homens,

    com aes a favor deles, em conjunto com eles, contra eles, em correlao de circunstncias com eles.

    Numa palavra, que exera influncia sobre eles e por sua vez as receba deles. Essas interaes

    significam que os indivduos, nos quais se encontram aqueles instintos e fins, foram por eles levados a

    unir-se, convertendo-se numa unidade, numa sociedade. Pois unidade em sentido emprico nada mais

    do que interao de elementos. Um corpo orgnico uma unidade, porque seus rgos se encontram

    numa troca mtua de suas energias, muito mais ntima do que com nenhum ser exterior. Um estado

    uma unidade, porque entre seus cidados existe a correspondente relao de aes mtuas. Mas ainda,

    o mundo no poderia ser chamado de uno, se cada parte no influsse de algum modo sobre as demais,

    ou se em algum ponto se interrompesse a reciprocidade das influncias.

    A sociao s comea a existir quando a coexistncia isolada dos indivduos adota formas

    determinadas de cooperao e de colaborao, que caem sob o conceito geral da interao. A sociao

    , assim, a forma realizada de diversas maneiras, na qual os indivduos constituem uma unidade dentro

    da qual se realizam seus interesses. E na base desses interesses tangveis ou ideais, momentneos

    ou duradouros, conscientes ou inconscientes, impulsionados causalmente ou induzidos teologicamente-

    que os indivduos constituem tais unidades.

    Quando se fala em cincias sociais naquela primeira significao, seu objeto tudo o que

    acontece na e com a sociedade. A cincia social, no segundo sentido, tem por objeto as foras, relaes

    e formas, por meio das quais os homens se sociam. Em todas as sociedades que conhecemos, atua um

    grande nmero de tais formas de ligao, isto , de sociao. Ainda que ficasse somente uma delas,

    sempre permaneceria ainda sociedade, de maneira que todas podem parecer agregadas a uma

    sociedade j pronta, ou nascidas em seu seio. Mas se imaginamos desaparecidas todas essas formas

    singulares, no resta mais nenhuma sociedade. Somente quando atuam estas relaes mtuas,

    produzidas por certos motivos e interesses, surge a sociedade. Um nmero dado de indivduos podem

    constituir uma sociedade, em maior ou menor grau. A cada novo aumento de formaes sintticas, a

    cada formao de partidos, a cada unio para uma obra comum ou num comum sentimento ou modo de

    pensar, a cada distribuio mais precisa da submisso e da dominao, a cada refeio em comum, a

    cada adorno que algum use para os demais, o mesmo grupo vai-se tornando cada vez mais sociedade

    do que antes. No h uma sociedade absoluta, no sentido de que deveria existir como condio prvia

    para que surjam esses diversos fenmenos de unio. Mas em quase toda sociao humana,

    encontrada a submisso e a dominao.

    Em geral, a Sociologia se tem limitado a estudar aqueles fenmenos sociais nos quais as foras

    recprocas dos seus portadores imediatos j se cristalizaram em unidades, ideais pelo menos. Estados

    e associaes sindicais, sacerdcio e formas de famlia, constituies econmicas e organizaes

    militares, grmios e municpios, formao de classes e diviso industrial do trabalho estes e outros

    grande rgos e sistemas pareciam constituir a sociedade preenchendo o crculo de sua cincia.

    evidente que quanto maior, quanto mais importante e dominante for uma provncia social de interesses

    ou uma direo da ao, tanto mais facilmente ocorrer a transformao da vida imediata, interindividual,

    em organizaes objetivas, surgindo assim uma existncia abstrata, situada mais alm dos processos

    individuais e primrios.

    Tudo quanto acontece no campo dos contnuos contatos fsicos e espirituais, as mtuas

    excitaes ao prazer e dor, as conversaes e os silncios, os interesses comuns e antagnicos, o

    que faz com que a sociedade seja irrompvel; de tudo isso dependem as flutuaes de sua vida, mediante

    as quais seus elementos ganham, perdem, se transformam incessantemente.