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O Problema das Armas de Fogo no Brasil Nos últimos vinte anos o número de brasileiros assassinados aumentou 273%, sete vezes mais do que o crescimento populacional. Só no ano de 1998 quase 50.000 pessoas foram mortas, sendo que cerca de 45.000 vítimas do uso de armas de fogo. Estes tristes dados fizeram com que a ONU desse ao Brasil o título de país que mais mata com armas de fogo no mundo. Para se ter uma idéia, a chance de um brasileiro morrer por arma de fogo é 3 a 4 vezes maior do que a média mundial. O que torna nossa realidade ainda mais assustadora é saber que são os jovens as maiores vítimas da violência que nos assola. Só em 1998, 6.876 jovens, entre 10 e 19 anos, foram assassinados no Brasil. Apensas no Rio de Janeiro, 8 pessoas entre 15 e 24 anos perdem a vida todos os dias, vitimadas por armas de fogo. Nesta faixa etária, a chance de uma pessoa ser morta com arma de fogo é 4,5 vezes maior do que o restante da população. Estes são apenas alguns dos números que retratam de forma fria os milhares de rostos de vítimas e a tristeza de familiares inconsolados diante da violência causada por revólveres e pistolas em todo o país. Não devemos assistir inertes que mais e mais vidas se percam todos os dias até que se proíba, de uma vez por todas, a venda de armas em nosso país. O que é mito e o que é realidade na relação entre armas e violência Mito: "Quem mata no Brasil é bandido e bandidos não seguem as leis." Realidade: Cerca de metade dos assassinatos são cometidos por pessoas sem antecedentes criminais! Ao contrário do que muitos pensam, cerca de metade dos homicídios não são cometidos por bandidos em assaltos ou chacinas. Centenas de pessoas morrem todas as semanas assassinadas por indivíduos sem antecedentes criminais e que se conhecem. São aquelas que perdem a vida em situações banais: brigas de trânsito, em bares ou ainda assassinadas dentro de casa pelos familiares. É muito difícil evitar que estes conflitos ocorram, mas, se conseguirmos reduzir o número de armas, o que poderia ser agressão não se tornará mais um assassinato.

O Problema das Armas de Fogo

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Descrição de problemáticas acerca das armas de fogo

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Page 1: O Problema das Armas de Fogo

O Problema das Armas de Fogo no Brasil

Nos últimos vinte anos o número de brasileiros assassinados aumentou 273%, sete vezes mais do que o

crescimento populacional. Só no ano de 1998 quase 50.000 pessoas foram mortas, sendo que cerca de 45.000 vítimas

do uso de armas de fogo.

Estes tristes dados fizeram com que a ONU desse ao Brasil o título de país que mais mata com armas de fogo

no mundo. Para se ter uma idéia, a chance de um brasileiro morrer por arma de fogo é 3 a 4 vezes maior do que a

média mundial.

O que torna nossa realidade ainda mais assustadora é saber que são os jovens as maiores vítimas da violência

que nos assola. Só em 1998, 6.876 jovens, entre 10 e 19 anos, foram assassinados no Brasil. Apensas no Rio de

Janeiro, 8 pessoas entre 15 e 24 anos perdem a vida todos os dias, vitimadas por armas de fogo. Nesta faixa etária, a

chance de uma pessoa ser morta com arma de fogo é 4,5 vezes maior do que o restante da população.

Estes são apenas alguns dos números que retratam de forma fria os milhares de rostos de vítimas e a tristeza

de familiares inconsolados diante da violência causada por revólveres e pistolas em todo o país.

Não devemos assistir inertes que mais e mais vidas se percam todos os dias até que se proíba, de uma vez por

todas, a venda de armas em nosso país.

O que é mito e o que é realidade na relação entre armas e violência

Mito: "Quem mata no Brasil é bandido e bandidos não seguem as leis."

Realidade: Cerca de metade dos assassinatos são cometidos por pessoas sem antecedentes criminais!

Ao contrário do que muitos pensam, cerca de metade dos homicídios não são cometidos por bandidos em

assaltos ou chacinas. Centenas de pessoas morrem todas as semanas assassinadas por indivíduos sem antecedentes

criminais e que se conhecem. São aquelas que perdem a vida em situações banais: brigas de trânsito, em bares ou

ainda assassinadas dentro de casa pelos familiares. É muito difícil evitar que estes conflitos ocorram, mas, se

conseguirmos reduzir o número de armas, o que poderia ser agressão não se tornará mais um assassinato.

É o que comprova a pesquisa realizada em São Paulo que alerta para a queda das lesões corporais e o

aumento dos homicídios na capital e situação inversa no interior. Percebe-se que a maior facilidade na obtenção e no

uso de armas nas grandes cidades tem transformado brigas em assassinatos, feridos em mortos, discussões em

tragédias, todos os dias. Já no interior, onde a presença de armas de fogo é menor, o aumento da violência se reflete

em um crescimento das lesões corporais, ou seja, agressões que são graves, mas não causam a morte.

Mesmo que a lei só consiga reduzir estes homicídios, já terá prestado um grande serviço à nação, podendo

salvar milhares de vidas anualmente. Poucos atos do Congresso Nacional podem ter tanto efeito prático em tão pouco

tempo.

Mito: "O que mata no Brasil é arma ilegal."

Realidade: A imensa maioria dos crimes é cometida com armas brasileiras e de calibre permitido!

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Das armas apreendidas pela polícia no Rio de Janeiro, mais de 80% eram brasileiras e 90% de calibre

permitido, ou seja, mesmo que o bandido não compre armas em uma loja, são armas que entram de forma legal as

mais utilizadas para roubar e matar em nosso país. A figura do traficante usando um fuzil ou metralhadora é

assustadora, mas representa um número ínfimo de mortes se comparado às vítimas dos tradicionais revólveres calibre

38.

Estas armas chegam nas mãos dos bandidos depois de roubadas de pessoas que as compram achando que

vão se defender, ou então são desviadas por empresas de segurança ou até pela polícia. Só em São Paulo, em cinco

anos, mais de 70.000 armas registradas foram roubadas. Proibir a venda de armas no país teria, portanto, efeito

significativo na queda do número de armas nas mãos dos criminosos.

Não se pode esquecer também, que quase metade dos homicídios são cometidos por pessoas que não são ligadas ao

crime e que não têm porque terem armas ilegais.

Mito: "Eu só me sinto seguro com uma arma na mão".

Realidade: As armas representam muito mais risco do que segurança para quem as porta.

Muitos acreditam que possuir uma arma é o melhor caminho para se defender dos criminosos. Esta falsa sensação não

se confirma quando confrontada com a prática. Pesquisa realizada pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo

no ano de 1999 mostra que um cidadão que possui arma de fogo tem 57% mais chance de morrer em um assalto do

que os cidadãos desarmados. Conclusão semelhante foi atingida por um estudo americano que indica que a chance de

alguém morrer em um assalto à residência onde existam armas é três vezes maior do que em residências sem nenhum

tipo de armamento. Para se ter uma idéia, mesmo nos Estados Unidos, onde a cultura da arma é muito mais difundida,

para cada vez que um cidadão usou uma arma para matar alguém em legítima defesa, houve 131 casos de

assassinatos, suicídios ou acidentes fatais. Isto significa que apesar do cidadão comprar a arma para se defender, ela

acaba sendo usada contra ele na maioria dos casos.

Segundo a ONU, a cada 7 horas, uma pessoa morre vítima de acidente com arma de fogo no Brasil. E grande parte

das vítimas são crianças. Os números são contundentes, mas bastaria recorrer ao senso comum para perceber que o

ladrão tem chance de sucesso muito maior que as o cidadão comum, desacostumado a usar armas e desfavorecido

pelo efeito surpresa.

Defender uma sociedade menos armada é muito mais do que uma visão ideológica ou romântica, mas

definitivamente uma opção por uma sociedade mais pacífica e onde todos nós possamos estar de fato mais seguros.

Entrega de armas

A legislação atual permite a entrega de armas, mesmo que em situação irregular ou ilegal, em unidades

específicas da Polícia Civil. Deve-se explicar a situação e solicitar a “autorização para trânsito de armas", uma licença

temporária de três dias que permite o proprietário ou portador levar a arma consigo diretamente à unidade da polícia

sem incorrer em crime de porte ilegal.

Para fins de registro da entrega, a Polícia Civil emitirá um “auto de recebimento de armas", não havendo

maiores questionamentos sobre a procedência da arma ou mesmo penalização ao portador. Apenas no caso de a arma

estar relacionada a algum registro de roubo ou outro crime é que o entregador terá que prestar maiores

esclarecimentos.

Sou da Paz participou da Conferência de Armas da ONU

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O Instituto Sou da Paz foi um dos representantes do Brasil na "Conferência das Nações Unidas sobre o tráfico

ilícito de pequenas armas e armas leves em todos os seus aspectos", que aconteceu em Nova York entre 9 e 20 de

julho de 2001.

Foi à primeira vez que a ONU aborda o tema das armas leves, o que demonstra o reconhecimento da gravidade

do problema. Até então, a ONU realizou encontros para discutir o problema das armas nucleares.

Segundo dados deste órgão, 500 mil pessoas morrem vítimas de armas leves em todo o mundo. Dessas

mortes, cerca de mais de 40 mil ocorrem no Brasil.

Além de representantes de todos os países, participaram da Conferência mais de 177 ONGs. "A participação

dessas organizações na Conferência da ONU sinaliza a importância do papel da sociedade civil na redução da

circulação de armas de fogo no mundo, fundamental para se criar uma sociedade mais pacífica", comenta Denis Mizne,

coordenador executivo do Instituto Sou da Paz.