Upload
others
View
0
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
1
O Processo de Reestruturação Urbana da Indústria de Mineração de
Brita na Região Metropolitana do Rio de Janeiro
Resumo
O presente trabalho busca articular a atuação da indústria de mineração de rocha para
britagem com a dinâmica da produção do espaço urbano metropolitano. O adensamento
populacional é um problema e ao mesmo tempo uma vantagem para essa indústria, que
tem nas proximidades da sua área de extração o seu principal mercado consumidor. O
baixo valor unitário do produto (rocha britada) e seu emprego imediato na construção
civil inviabilizam ou oneram a obra quando há uma grande distância entre o local de
retirada da matéria-prima e o seu centro consumidor, sendo necessária a sua produção
próxima às áreas de consumo. O objetivo principal é relacionar sua dinâmica com o
complexo processo de produção capitalista do espaço, observando sua reestruturação
para áreas periféricas, especialmente aquelas consideradas de expansão metropolitana.
Introdução
A mineração de Agregados para a construção civil é uma atividade que demanda um
arranjo espacial e uma logística de funcionamento. Esse fato está ligado a obtenção do
material agregado para obras em geral (areia, pedra britada e saibro) nas proximidades
das áreas de empreendimentos, pois tais materiais são a base de qualquer construção,
seja um prédio, uma rua a ser asfaltada, ou uma simples casa localizada em uma área
periférica da cidade. Face a essa conjuntura, colocam-se várias indagações em torno de
uma questão central: É possível mostrar uma evolução histórica da indústria de
mineração de brita, fazendo o contraponto com a expansão urbana verificada na área
de estudo?
A cidade cresce se reestrutura e cria novas funções, sendo estas ligadas ao papel que
o lugar exerce dentro do cotidiano do espaço urbano. Nesse sentido, uma área de
2
mineração como uma pedreira, que fornece rocha britada para construção tem seu papel
estreitamente ligado a essa função, pois a brita é um componente indispensável à
edificação das construções. Sendo assim, quanto mais próxima a pedreira estiver da
obra em questão mais viável se torna, devido o alto custo que seria transportá-la de
áreas mais distantes.
O arranjo espacial da mineração de brita se dá de acordo com a existência da jazida,
juntamente com a viabilidade de sua exploração, sendo esta condicionada as leis que
regem o funcionamento dessa atividade no espaço urbano ou em áreas periféricas.
Podemos acrescentar, também, que está diretamente ligada ao adensamento urbano
verificado nas proximidades da área de extração. Contudo, este mesmo fator, na maioria
das vezes, a médio e longo prazo, pode inviabilizar a continuidade do funcionamento da
mineração naquele local, provocando o deslocamento para áreas mais distantes. Tendo
em vista que o custo de transporte é um dos principais componentes do preço final da
brita e uma das principais estratégias da indústria de mineração é manter-se próxima ao
mercado consumidor de seus produtos, se faz necessário investigar como este fato afeta
a viabilidade econômica da exploração e sua reestruturação no espaço metropolitano.
O Estado do Rio de Janeiro apresenta um padrão de crescimento populacional e de
adensamento da sua região metropolitana, que também se reflete na área de entorno das
pedreiras, o que dificulta a coexistência entre a atividade extrativa e a população local,
causando, na maioria das vezes, o deslocamento dessa atividade para áreas periféricas
não tão distantes dos centros consumidores, porém que não apresentam no momento
problemas de convívio com o entorno.
Em Calaes (2005), o que se verifica é que devido à abundância de rocha dura na
região, as unidades produtoras procuraram sempre se localizar o mais próximo ao
mercado. No entanto, problemas relacionados às políticas de uso e ocupação do solo
vêm provocando sucessivos conflitos de localização, que podem se dar em relação ao
zoneamento proposto pelos município nos planos diretores, os chamados conflitos de
uso do solo, à medida que ocorre o “sufocamento” das unidades produtoras, pelo avanço
da urbanização. Neste contexto, o setor convive com uma série de impasses de ordem
3
locacional e ambiental, com decorrentes impactos negativos, quer seja sob o âmbito
privado quer sob a ótica social.
A localização das áreas de mineração de brita dentro de áreas metropolitanas na
atualidade tem aparentemente efeitos paradoxais. De um lado estão os impactos
negativos gerados nas diversas etapas da atividade, desde a explosão da rocha até seu
beneficiamento, que afastam as populações no entorno, sem mencionar os danos
ambientais. De outro, existe uma inequívoca vantagem da proximidade da indústria em
relação ao seu mercado consumidor. A proximidade da mineração de brita em relação
aos adensamentos populacionais garante o baixo valor unitário do produto e seu
emprego imediato na construção civil, viabilizam a obra.
As políticas de uso do solo e a tecnologia empregada na exploração da brita também
são de grande relevância, visto que é imprescindível a minimização dos impactos
negativos gerados pelas diversas etapas da mineração de brita nos centros urbanos ou
em suas proximidades, intensificando a gestão, o planejamento e a fiscalização dessa
atividade pelos órgãos competentes, exigindo a utilização de técnicas mais avançadas de
exploração e beneficiamento.
Devido ao adensamento populacional no entorno da área de pedreiras e os impactos
causados por estas, novas áreas de mineração surgem nas proximidades das áreas de
expansão da metrópole, sendo que essa expansão é a principal causa da necessidade de
obtenção dos minerais agregados para a construção civil em locais próximos. Dessa
maneira, é importante compreender essa lógica de crescimento da cidade e da
permanência dessa atividade, bem como a busca por uma adequação da mineração e sua
existência nas adjacências de seus centros consumidores.
Existem vários impactos ambientais que podem ser gerados nas diferentes fases da
mineração. Tais impactos são reflexos das modificações que ocorrem no meio ambiente,
especialmente em relação ao solo, ao ar, a água, a fauna e a flora. Existem os impactos
considerados de ordem socioeconômica, como os decorrentes da implantação,
desenvolvimento e desativação de grandes minas, tanto em regiões de baixa como de
alta densidade populacional.
4
Por ser uma atividade que gera impactos no meio onde ocorre, demanda um regime
de licenciamento específico e fiscalização mais intensa. Atualmente cabe ao
Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM), promover o planejamento e o
fomento da exploração mineral, o aproveitamento dos recursos e superintender
pesquisas geológicas, além de fiscalizar as atividades de mineração em todo o território
nacional.
No plano estadual o Departamento de Recursos Minerais do Rio de Janeiro (DRM-
RJ), gerencia a mineração e o seu uso sustentável, atuando junto as empresas produtoras
e consumidoras de bens minerais, além de assessorar órgão públicos, municípios e
sociedade em geral. A concessão dessa atividade é dada pelo município no qual a
mesma se instalará, sendo submetida as leis que regem a mineração a nível estadual e
federal. O Plano Diretor Municipal é o documento oficial através do qual o município
orienta e disciplina o uso do solo bem como as leis e órgãos nos quais as inúmeras
atividades serão submetidas.
O município de Niterói, possui um histórico importante sobre a mineração de brita,
visto que apresenta inúmeras pedreiras inativas localizadas próximo ao Centro da
Cidade e algumas pedreiras em atividade atualmente. A área compreendida como
anteriormente como "Grande Niterói", com destaque para os municípios que a
compunham como São Gonçalo e Maricá, também são relevantes para avaliar o
processo de mobilidade da industria mineradora, por abrigarem várias pedreiras de
grande porte em atividade. Esta área também é chamada de Região Metropolitana II do
Rio de Janeiro ou Leste Metropolitano do Rio de Janeiro, ou simplesmente Leste
Metropolitano.
A mineração, por deixar marcas na paisagem, verificada pelas "cicatrizes" deixadas
nas rochas na área de extração, é facilmente identificável. A reutilização das áreas de
antigas pedreiras é feita para fins diversos, mas todas com algum destino que acaba
evidenciando uma mudança do padrão de ocupação do solo urbano.
Desenvolvimento
5
Para apresentar algumas interpretações sobre a espacialidade das mineradoras de
brita, estão sendo associados alguns conceitos chave da geografia como Espaço e
Reestruturação espacial, com a Teoria Marxista, levando em conta a leitura crítica feita
por autores como Edward Soja, David Harvey, Ruy Moreira, Roberto Lobato Corrêa e
Milton Santos. Ainda nesse viés, procura-se entender tais aplicações de acordo com o
pensamento complexo de Edgar Morin, procurando encontrar nessa análise uma base
para o entendimento da organização complexa do espaço. Através dessa leitura crítica,
objetivando relacionar as particularidades entre o papel do Estado capitalista na
produção do Espaço, no que se refere a indústria da mineração de brita. Dessa maneira,
é importante relacionar o que Santos (2008, p. 28), coloca ao falar sobre a relação entre
a sociedade e o espaço e suas inúmeras interações:
O espaço deve ser considerado como um conjunto indissociável, de que
participam, de um lado, certo arranjo de objetos geográficos, objetos naturais
e objetos sociais, e, de outro, a vida que o preenche e os anima, ou seja, a
sociedade em movimento. O conteúdo (da sociedade) não é independente da
forma (os objetos geográficos), e cada forma encerra uma fração do conteúdo.
O espaço, por conseguinte, é isto: um conjunto de formas, pois, têm um papel
na realização social.
Buscando uma releitura da dinâmica espacial da indústria mineradora de brita,
evidencia-se a atuação do capital no espaço urbano nas últimas décadas, para tender a
necessidades diversas, como em obras infraestruturais e edificações em geral para a
expansão da cidade. Soja (1983, p. 38) ao falar sobre uma concepção materialista da
espacialidade evidencia que "a espacialidade é o terreno historicamente constituído da
acumulação capitalista" [...] "a estrutura material dinâmica para a existência e
reprodução dos modos de produção". Corrêa (2005, p. 11), reforça que o espaço urbano
é produzido por agentes sociais que possuem uma ação complexa, derivando da
dinâmica de acumulação de capital e das necessidades mutáveis das relações de
produção. Dentre esses agentes complexos é destacada a ação do Estado capitalista na
produção e na reorganização do Espaço urbano. Corrêa destaca ainda que:
6
A complexidade dos agentes sociais inclui práticas que levam a um constante
processo de reorganização espacial que se faz via incorporação de novas áreas
ao espaço urbano, densificação do uso do solo, deterioração de certas áreas,
renovação urbana, relocação diferenciada da infra-estrutura e mudança,
coercitiva ou não do conteúdo social e econômico de determinadas áreas da
cidade.
A indústria da mineração de brita, produz a pedra britada, utilizada em larga
escala na construção civil, está inserida no contexto urbano como fornecedora de um
material para edificações diversas. A pedra britada é obtida através da extração a céu
aberto, e beneficiada geralmente no mesmo local de extração. Reúne em seu pátio
extrativo o beneficiamento e, em algumas é identificado também a produção de
concreto, tijolos, entre outros produtos destinados a construção civil. Sendo uma
atividade que produz materiais de baixo valor agregado quando vendido em pequenas
quantidades, geralmente é comercializado em grandes volumes, junto a um fornecedor
que repassa o produto através de casas de materiais de construção. Atende desde
pequenas obras, realizadas nas periferias das grandes cidades, até grandes projetos de
infraestrutura localizados na região metropolitana. Sendo assim, é indispensável e
depende diretamente da demanda existente para movimentar seu parque extrativo. Tal
material, é sensível ao deslocamento de grandes distâncias, visto que seu valor é baixo
ao ser extraído, porém o custo do transporte aumenta significativamente seu preço final.
Em virtude da presença de reservas do gnaisse lenticular na porção oriental da Baía da
Guanabara, em especial nos municípios de Niterói, São Gonçalo e Maricá, observa-se
nesses municípios a presença de inúmeras pedreiras ativas e inativas que marcaram
historicamente essa área como fornecedora da "pedra britada".
Observa-se, porém, que a mineração do gnaisse lenticular, afim de produzir a
pedra britada, é uma atividade que marca inicialmente o desenvolvimento dos
municípios em questão em diferentes etapas, que podem ser marcadas através da própria
edificação, crescimento e adensamento das cidades e da própria expansão da região
metropolitana. Inicialmente, a partir da década de 1940, as pedreiras passaram a se
localizar na parte central do município de Niterói, como citado por Lamego (2007,
p.101):
A maior riqueza desta zona, abrangida na carta geológica, são porém as suas
pedreiras, de longa data intensamente exploradas. No morro da Armação há
várias importantes, e, de Santa Rosa a São Gonçalo, por toda parte se notam
7
as abas de morros trabalhadas. A rocha extraída é em geral o gnaisse
lenticular, denominado "pedra de galho" e, nas poucas explorações de gnaisse
cinzento e laminado, chamam a essa rocha de "pedra lousada".
A extração de brita, como outras atividades que ocorrem no espaço urbano, está
associada a lógica capitalista de produção do espaço, a medida que esta oferece insumos
para a edificação da cidade como espaço concreto. Está próxima ao centro de consumo
dos seus produtos e seguindo tal caminho, fica diretamente ligada as necessidades de
expansão da metrópole notadamente através das novas áreas de extração que surgem
próximas aos grandes empreendimentos, podendo ser citada as extrações existentes em
São Gonçalo, que fornecem material para a construção do Comperj, as mineradoras
instaladas a margem do Arco Metropolitano em Seropédica e Itaguaí, bem como a
grande pedreira em expansão localizada em Inoã, fornecedora de material a grande
demanda do capital imobiliário atuante na construção de residências em Maricá.
A mineração de brita é uma atividade industrial primária, que fornece materiais
que, agregados a outros minerais, serão utilizados na construção civil, que juntos
produzirão a base de sustentação das edificações urbanas de forma geral. Como toda
atividade industrial moderna, insere-se numa lógica econômica, que visa atender, de um
lado, os interesses dos grupos empresariais e, do outro, os interesses da sociedade e de
sua produção ou reprodução no espaço.
A mineração de brita para a construção civil se insere no espaço de acordo com a
disponibilidade do recurso a ser explorado (jazida) e da possibilidade de sua extração,
ou seja, concessão para sua exploração. Contudo, está associada às áreas onde o
consumo dessa produção é maior. Soja, 1993 destaca que:
A reestruturação, em seu sentido mais amplo, transmite a noção de uma
"freada", senão de uma ruptura nas tendências seculares, e de uma mudança
em direção a uma ordem e uma configuração significativamente diferentes da
vida social, econômica e política. Evoca, pois, uma combinação sequencial de
desmoronamento e reconstrução, de desconstrução e tentativa de
reconstituição, proveniente de algumas deficiências ou perturbações nos
sistemas de pensamento e ação aceitos.
Há uma organização dessa produção industrial no território, dentro de uma
escala de espaço-tempo, de acordo com a evolução e crescimento da própria cidade, que
8
é a principal consumidora dos materiais vindos dessa atividade. Quando a cidade se
expande a indústria acompanha esse movimento, procurando se localizar próximo ao
novo centro de consumo, ou seja, segue uma nova lógica de produção no espaço e
reestruturação. Dentro dessa lógica, Moreira define:
A reestruturação é uma expressão que se refere ao estabelecimento de novas
formas e escalas de espaço-tempo, com o fito de configurar um novo modo de
organização do espaço para as sociedades modernas, mudando-as na forma
como até então haviam se ordenado (MOREIRA, 2003, p.7).
É possível observar na atualidade um rearranjo espacial, que se mostra
principalmente na forma de organização das atividades industriais que se movimentam
em direção a um “novo” lugar dentro da metrópole, que se apresenta mais dinâmico
para atender as necessidades da reprodução de sua atividade. Determinados segmentos e
setores industriais, deslocam-se do núcleo para outros municípios da metrópole
fluminense, desde que estes apresentem uma dinâmica maior para a sustentação de suas
atividades:
A atual configuração espacial da Região Metropolitana do Rio de Janeiro
parece obedecer a um duplo movimento - de consolidação do espaço
metropolitano e de mudanças na periferia da região metropolitana. Tanto o
movimento interno na metrópole quanto a nova dinâmica da economia no
interior podem ser considerados impulsionadores da dinamização da economia
metropolitana, uma vez que utiliza o aporte técnico e científico instalado na
metrópole e estimula a reestruturação de segmentos industriais metropolitanos
(MACHADO, 2013, p.44).
O crescimento da metrópole fluminense remete a uma nova logística das
atividades econômicas ligadas a mineração, pois o adensamento populacional é um fator
que gera risco para a coexistência dessa atividade nas áreas centrais da cidade. Tal eixo
produtivo procura novas áreas potenciais de extração, que apresente um mercado
consumidor abrangente e local adequado para a sua atuação. A Região Metropolitana do
Rio de Janeiro se expande, refuncionaliza os lugares produtivos, dando nova
territorialidade aos mesmos. Dessa maneira, estimula a reestruturação de espaços
metropolitanos:
O reordenamento espacial da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, agora
mais próxima de uma definição clássica que expressa o adensamento urbano
na formação de um aglomerado metropolitano, e o esgotamento do modelo de
industrialização centralizado na cidade do Rio de Janeiro, face à contínua
9
redução de sua capacidade de geração de emprego industrial – que
consideramos importantes para discutir as mudanças na dinâmica territorial
fluminense, orientada pela maior regionalização de sua economia
(OLIVEIRA, 2006, p.94).
O espaço pode ser visto como algo que pode ser resgatado e ao mesmo tempo
construído através do tempo, de acordo com o avanço das técnicas de produção e
reprodução do mesmo. A história de um lugar se materializa a medida que esta deixa
marcas no mesmo. O Espaço, de acordo com MOREIRA (2009), é a relação metabólica
do homem com a natureza, vista na escala da sua expressão social, sendo assim:
A chamada crise ambiental é o momento de virada desta troca de sinais entre
as categorias do espaço e do tempo. Menos que um evento datado, o problema
ambiental é um acontecimento localizado, e decorrente do modo de
localização. [...] No que interagem desde o berço comum espaço e meio
ambiente. Alterar um é alterar o outro, reinventar um é reinventar o outro,
desequilibrado um está desequilibrado o outro, por força dessa imbricação
solidária (MOREIRA, 2009, p. 59-60).
O Espaço urbano é determinado pelas relações econômicas e sociais que nele se
estabelecem, de acordo com o sistema de acumulação vigente. Um dado arranjo espacial
urbano, reflete as necessidades da sociedade e das atividades econômicas que são
praticadas em um dado momento histórico. Assim sendo, se pode reforçar que:
Em um primeiro lugar não existe uma economia descolada do espaço, nem um
espaço que não expresse as atividades e relações econômicas sobre ele. Em
segundo lugar é na cidade que essa relação se manifesta de maneira mais
evidente. Desse modo podemos afirmar que as cidades são as manifestações
mais evidentes da relação entre a economia e o espaço ao longo da história.
Assim, a história do desenvolvimento econômico pode ser analisada através
dos processos de constituição das cidades em cada contexto temporal e
espacial (SIMÕES, 2011, p.73).
Quando não mais vantajosas ou adequadas as relações econômicas e os arranjos
espaciais delas resultantes, ocorrem mudanças ou reestruturações, buscando assim
atender novas dinâmicas, criando uma nova configuração espacial. Tal processo pode
ser exemplificado através da expansão da ocupação urbana e de algumas atividades em
direção a áreas ou municípios mais distantes. Para (Santos, 2003), a partir da década de
10
1980 houve uma mudança na dinâmica especial, influenciada por uma perspectiva
macroespacial, onde:
Os fatores que contribuem para essa reestruturação espacial, podem ser
observados de uma perspectiva macroespacial --- os efeitos da "globalização"
--- e de uma outra, microespacial --- organização empresarial estruturada em
rede, não mais verticalmente ---, ao mesmo tempo em que é observado o
fenômeno da crescente urbanização da população.
A mineração de brita obedece a essa lógica, que não pode ser reduzida algo simples e
pontual, pois faz parte de um contexto maior, que é a acumulação e reprodução do
capital, visto que se trata de uma atividade industrial que possui sua dinâmica atrelada
ao processo de crescimento da cidade. Ao falar sobre as relações de transporte, a
integração e a "anulação do espaço pelo tempo", Harvey, 2005: 47, coloca que:
O custo do transporte "é importante à medida que a expansão do
mercado e a trocabilidade do produto se conectam a isso" (Marx, 1973: 534).
Os preços, tanto das matérias-primas como dos bens acabados, são sensíveis
ao custo do transporte, e a capacidade de coletar as matérias-primas em
lugares distantes é, evidentemente, afetada por esses custos. Os custos de
circulação "podem ser reduzidos pelo transporte aperfeiçoado, mais barato e
mais rápido" (Marx, 1967, vol. 2: 142). Um subproduto disso é o
barateamento de muitos elementos do capital constante (insumos de matérias-
primas) e a expansão do mercado geográfico. Do ponto de vista da produção
enquanto totalidade, "a redução dos custos da circulação real (no espaço) faz
parte do desenvolvimento das forças de produção pelo capital" (Marx, 1973:
533-4).
A necessidade de obtenção da matéria-prima mais próxima ao centro de
consumo facilita a acumulação do capital, como destaca Harvey, 2005, p.48:
Os mercados mais distantes atam o capital, em processo de circulação, por
períodos de tempo mais longos e, assim, tem o efeito de reduzir a realização
da mais-valia para determinado capital. Justamente por isso, qualquer redução
no tempo de circulação aumenta a produção do excedente e intensifica o
processo de acumulação.
Há uma tendência de aglomeração de certas atividades próximas ou dentro dos
centros urbanos, pois são essencialmente dependentes do consumo local, como é o
caso das pedreiras, que fornecem o material básico, que agregado a outros será
utilizado para construção da cidade, suas casas e obras infraestruturais. Harvey, 2005,
ao falar sobre a criação de novos espaços produtivos destaca que:
11
[...] a redução dos custos de realização e circulação ajuda a criar espaço novo
para a acumulação de capital. Reciprocamente, a acumulação de capital se
destina a ser geograficamente expansível, e faz isso pela progressiva redução
do custo de comunicação e transporte.
A consolidação das áreas centrais da cidade, que em um primeiro momento
criam condições favoráveis a manutenção de certas atividades como a mineração, por
ser consumidora de seus materiais para sua edificação, em um segundo momento,
quando ocorre um adensamento urbano, se torna um empecilho ou um entrave para o
seu pleno desenvolvimento. Desse modo, assim como a cidade se expande, cria novos
espaços, a indústria da mineração segue esse fluxo de expansão, para atender a essa
nova dinâmica, sendo assim "empurrada” para áreas mais distantes da cidade onde sua
presença se faz necessária e o entorno não se apresenta como um empecilho a sua
atividade.
Tais áreas mais distantes, sem a mesma infraestrutura das áreas centrais, tornam-
se residência também das classes mais populares, onde o acesso aos materiais agregados
(brita, areia e saibro), que serão utilizados diretamente na construção civil, se torna um
item essencial para sua edificação. Quanto mais próximo desse consumidor estiver a
produção desse material, mais barato e fácil o acesso das classes mais populares. Sendo
assim, é possível relacionar tal fato ao processo de expansão da mancha urbana do Rio
de Janeiro e outros municípios da Região metropolitana, assim como ocorreu na
Baixada Fluminense no século XX:
Os raquíticos núcleos urbanos do século XIX, se transformaram em sedes de
municípios com populações que ultrapassam as centenas de milhares,
ganhando novas funções urbanas que consolidaram uma divisão regional do
trabalho que envolve e articula toda a metrópole, embora o centro de comando
e das decisões continue a ser o núcleo metropolitano (SIMÕES, 2011, p. 108).
Este mesmo processo se repetiu na região a leste da Baía de Guanabara em
municípios como São Gonçalo e, mais recentemente, Maricá, territórios privilegiados
para a nossa análise, onde são criadas estruturas espaciais que agem para favorecer a
acumulação do capital, estruturas essas que podem ser visíveis na paisagem, como a
instalação de uma indústria, por exemplo.
12
A expansão da urbanização para áreas mais distantes, periféricas a núcleo
urbano central pode trazer luz ao que se chama de desenvolvimento do capital, já que
tais áreas crescem e se expandem atendendo a uma lógica de um mercado imobiliário
que cria novos espaços de moradia, utilizando áreas onde os terrenos são relativamente
mais baratos e com maior possibilidade de lucro após sua incorporação e edificação. Em
Harvey, 2005, observa-se nesse sentido que:
[...] o capital passa a ser representado na forma de uma paisagem física, criada
à sua própria imagem, criada como valor de uso, acentuando a acumulação
progressiva do capital numa escala expansível. A paisagem geográfica,
abrangida pelo capital fixo e imobilizado, é tanto uma glória coroada do
desenvolvimento do capital passado, como uma prisão inibidora do progresso
adicional da acumulação.
Há uma grande atenção dada a reestruturação espacial das atividades industriais
em geral, principalmente quando se fala em Espaço Urbano, visto que tal movimento
está intimamente relacionado aos impostos arrecadados, as possíveis mudança de
padrão de ocupação e zoneamento municipal, a reutilização do espaço deixado pela
indústria, entre outros fatores inerentes a dinâmica urbana. Cabe ainda ressaltar a
questão do valor do produto, do valor do trabalho (mão de obra) utilizado nas diferentes
etapas produtivas, que se põem como fator significativo a ser analisado. Em relação a
mineração de brita, há um padrão que vem se repetindo nos últimos anos, de acordo
com a sua atuação nas áreas urbanas em geral. A mineradora começa atuar dentro das
cidades, em locais próximos aos centros consumidores, ocorre em seguida um
adensamento populacional no entorno da mesma, e logo em seguida ocorre o conflito
provocado pela ocorrência das explosões constantes para a desagregação da rocha, pela
poeira e barulho gerado pelo seu beneficiamento, pela constante circulação de
caminhões de grande porte que transportam o material pela cidade, enfim, o que antes
não era um transtorno acaba se tornando pela própria aglutinação de pessoas nas
proximidades. Harvey, 2005 ao relacionar o processo de acumulação do capital a
necessidade de habitação e a demanda por materiais de construção destaca que:
13
[...] A organização do consumo, para que se torne "racional" em relação ao
processo de acumulação (por exemplo, a demanda da classe trabalhadora por
boa moradia talvez seja cooptada por um programa público de habitação, que
serve para estabilizar a economia e para aumentar a demanda por materiais de
construção de determinado tipo) (Harvey, 2005, p.46).
O valor de uso do solo urbano também é relevante, a partir do momento que se
torna muito mais lucrativo abrigar outros empreendimentos naquele espaço, que seja
mais rentável do ponto de vista econômico do que uma indústria que pode ser deslocada
para um local onde os "transtornos" sejam menores, assim como os impostos pagos pela
mesma para se localizar numa área mais central da cidade. Ao tratar da teoria da
localização produtiva, Neil Smith destaca que:
Os capitalistas individuais são perpetuamente levados a escolher as
localizações mais vantajosas. Na medida em que os produtores mudam de
lugar continuamente, seu "lucro excedente" é puramente efêmero; onde
permanecem por um longo período, ele é consumido pela renda do solo.
Presumindo igual acesso à tecnologia e à competição espacial, a "taxa de lucro
para os produtores capitalistas tenderão a se igualar nos diferentes lugares,
seja através da apropriação da renda ou através da mobilidade geográfica do
capital de produção" (Smith, 1988, p.191).
A medida que a infraestrutura de transporte se amplia, outras áreas, antes
consideradas periféricas, começam a ser vislumbradas como potenciais para que o
processo de acumulação se reinicie. Não se chega a evidenciar uma crise produtiva
nesse caso, mas sim uma necessidade de readaptação da indústria da mineração ao
processo de produção da cidade, visto que esta oferece a matéria-prima para a
edificação das diversas obras de infraestrutura, bem como para a construção e reparo
das habitações.
14
A Rocha Britada e sua relevância econômica
Os minerais agregados como a brita, a areia e a argila não são exportados e nem
importados, pois no Brasil existem inúmeras reservas que atendem a demanda interna,
como se observa na tabela 1:
Tabela 1
15
De acordo com o Ministério de Minas e Energia, 2011, a produção de brita, ou
rochas britadas, adquire maior viabilidade econômica quando é praticada em locais
próximos aos centros consumidores, por causa dos custos de transporte, porém aumenta
as possibilidades de conflito com outras formas de uso e ocupação do território. O
número de empresas que produzem a pedra britada é da ordem de 600. A produção de
brita em 2008, foi de 217 Mt, com a seguinte distribuição do consumo regional:
Sudeste, 46%; Sul, 13%; Centro-Oeste, 9%; Nordeste, 8%, e Norte, 5%. (Plano
Nacional de Mineração 2030, p. 45).
No Plano Nacional de Mineração 2030, as rochas ou bens minerais que são
comumente utilizados para produzir rocha britada apresentam a seguinte importância:
em oitavo lugar, o Granito, com valor (R$ milhões) de 16, 4, com participação de 2% na
arrecadação em 2009; o Gnaisse, com valor (R$ milhões) de 8,4, com participação de
1%. Tais substâncias estão enquadradas como as que possuem maior relevância, de
16
acordo com a Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais
(CEFEM), observada na tabela 2:
Tabela 2:
Harvey, 2005, p. 43, ao falar sobre a oferta dos meios de produção e da infra-estrutura e
das estruturas de demanda produzida pelo modo capitalista de produção cita:
A produção não é apenas imediatamente consumo e o
consumo não é apenas imediatamente produção, a
produção não é apenas meio para o consumo e o consumo
não é apenas o objetivo da produção [...] mas também,
tanto a produção quanto o consumo [...] criam o outro,
completando-se e criando-se enquanto outro (Marx,
1973:93).
Ao falar sobre as relações de transporte, a integração e a "anulação do espaço
pelo tempo", Harvey, 2005: 47, coloca que o custo do transporte "é importante à
medida que a expansão do mercado e a trocabilidade do produto se conectam a isso"
(Marx, 1973: 534). Os preços, tanto das matérias-primas como dos bens acabados, são
17
sensíveis ao custo do transporte, e a capacidade de coletar as matérias-primas em
lugares distantes é, evidentemente, afetada por esses custos. Os custos de circulação
"podem ser reduzidos pelo transporte aperfeiçoado, mais barato e mais rápido" (Marx,
1967, vol. 2: 142). Um subproduto disso é o barateamento de muitos elementos do
capital constante (insumos de matérias-primas) e a expansão do mercado geográfico.
Do ponto de vista da produção enquanto totalidade, "a redução dos custos da
circulação real (no espaço) faz parte do desenvolvimento das forças de produção pelo
capital" (Marx, 1973: 533-4). Harvey, 2005, ao falar sobre a criação de novos espaços
produtivos destaca que:
[...] a redução dos custos de realização e circulação ajuda a criar espaço novo
para a acumulação de capital. Reciprocamente, a acumulação de capital se
destina a ser geograficamente expansível, e faz isso pela progressiva redução
do custo de comunicação e transporte (Harvey, 2005, p. 48).
A necessidade de obtenção da matéria-prima mais próxima ao centro de
consumo facilita a acumulação do capital, como destaca Harvey, 2005, p.48:
Os mercados mais distantes atam o capital, em processo de circulação, por
períodos de tempo mais longos e, assim, tem o efeito de reduzir a realização
da mais-valia para determinado capital. Justamente por isso, qualquer redução
no tempo de circulação aumenta a produção do excedente e intensifica o
processo de acumulação.
Há uma tendência de aglomeração de certas atividades próximas ou dentro dos
centros urbanos, pois são essencialmente dependentes do consumo local, como é o
caso das pedreiras, que fornecem o material básico, que agregado a outros será
utilizado para construção da cidade, suas casas e obras infraestruturais. Tal processo
produtivo da indústria da brita fica espacialmente dependente do consumo favorecido
pela cidade e suas obras. Dessa forma, Harvey destaca que:
A racionalização geográfica do processo produtivo depende, em parte, da
estrutura mutável dos recursos de transporte, das matérias-primas e das
demandas do mercado em relação à indústria, e da tendência inerente à
aglomeração e à concentração da parte do próprio capital (Harvey, 2005: 50).
18
São criadas estruturas espaciais que agem para favorecer a acumulação do
capital, estruturas essas que podem ser visíveis na paisagem, como a instalação de uma
indústria, por exemplo. A expansão da urbanização para áreas mais distantes,
periféricas a núcleo urbano central pode trazer luz ao que se chama de
desenvolvimento do capital, já que tais áreas crescem e se expandem atendendo a uma
lógica de um mercado imobiliário que cria novos espaços de moradia, utilizando áreas
onde os terrenos são relativamente mais baratos e com maior possibilidade de lucro
após sua incorporação e edificação. Em Harvey, 2005, observa-se nesse sentido
que:[...] o capital passa a ser representado na forma de uma paisagem física, criada à
sua própria imagem, criada como valor de uso, acentuando a acumulação progressiva
do capital numa escala expansível. A paisagem geográfica, abrangida pelo capital fixo
e imobilizado, é tanto uma glória coroada do desenvolvimento do capital passado,
como uma prisão inibidora do progresso adicional da acumulação [...] (Harvey, 2005:
51). Dessa maneira se observa que:
A paisagem criada pelo capitalismo também é vista como lugar da contradição
e da tensão, e não como expressão do equilíbrio harmonioso. Além disso, as
crises nos investimentos do capital fixo são consideradas como sinônimo, em
muitos aspectos, da transformação dialética do espaço geográfico. O contraste
entre as duas posturas teóricas é importante, pois sugere que as duas teorias
estão, de fato, preocupadas com coisas diferentes. A análise burguesa da
localização é apropriada apenas como expressão de configurações ideais sob
condições predeterminadas.
No espaço urbano, também se deve levar em conta o valor de uso do mesmo
pelas inúmeras atividades que nele ocorrem. O que se realiza na cidade é rentável a
medida que gera um lucro referente ao "valor" de uso do solo. O preço da brita
também está relacionado a esse "valor". Dessa maneira, a indústria de mineração de
brita é condicionada a existência da jazida a ser explorada, mas também ao valor de
uso do local dentro da cidade. De forma que muitas das vezes, torna-se mais lucrativo
obter daquele espaço em questão outras formas de utilização, do que necessariamente
a retirada da matéria-prima para construção. A construção em si de um condomínio, de
um centro empresarial ou de qualquer outro empreendimento na área onde se instalaria
uma mineradora em potencial, se dá de acordo com essa realidade de reprodução
19
social dentro da lógica capitalista de produção ou reprodução do espaço. Nesse
contexto, ao falar sobre a produção do espaço Carlos (2011, p.100) aponta:
No momento, os termos de reprodução da sociedade se elucidam na produção
de um espaço mundializado como realização do capitalismo, no sentido em
que o capitalismo necessita superar os momentos de crise da acumulação,
realizando-se em direção a novas produções e revelando um novo papel para o
espaço. Nessa direção, indica o movimento de passagem que vai do espaço
enquanto condição e meio do processo de reprodução econômica ao momento
em que, aliado a esse processo, o espaço, ele próprio, é o elemento central da
reprodução do capital.
A Complexidade da Organização Espacial
Pensar na complexidade da organização espacial das indústrias de brita, ou seja,
das mineradoras, é um exercício que leva em consideração pensar na lógica local, mas
também na global, visto que tal processo está ligado ás condições econômicas maiores
que produzem o espaço. Relacionando também a uma ótica organizacional, pontual e
locacional, pois depende da presença da rocha em si, para ser extraída e beneficiada,
mas ao mesmo tempo das organizações que se dão no entorno, como habitacional, de
infraestrutura (estradas, mão de obra, energia, entre outras), política e planejamento
(onde se destacam as leis de zoneamento municipal, por exemplo). Dessa maneira, são
inúmeras variáveis que podem nos conduzir a pensar essa "localização ou
organização" de forma complexa e não somente simplificadora.
O que em um dado momento pode nos conduzir a uma lógica organizacional da
indústria da mineração (como por exemplo as concessões de exploração para extração
e mesmo a criação de leis que a tornam regulamentar) em outro pode criar uma
desestruturação, no momento em que seus benefícios tornam-se menores do que os
impactos negativos no entorno, bem como os lucros gerados são menores diante dos
transtornos provocados pela mesma. Daí, os mesmos instrumentos que antes a
regulavam são novamente acionados, face a essa mudança de contexto, para que esta
se reorganize. Neste momento, cria-se uma ideia recursiva, que de acordo com Morin
20
(2007, p.74) é um dos princípios que nos ajuda a pensar a complexidade. Nesses
termos ele coloca que:
A ideia recursiva é, pois, uma ideia em ruptura com a ideia linear de
causa/efeito, de produto/produtor, de uma estrutura/superestrutura, já que tudo
o que é produzido volta-se sobre o que produz num ciclo ele mesmo
autoconstrutivo, auto-organizador e autoprodutor.
Portanto surge uma ideia de ciclo, que também é condicional e organizacional. A
ponto de criar e recriar condições para tal atividade no Espaço, de acordo com
interesses dos atores em questão, que pode ser o capital através dos agentes
incorporadores imobiliários, que precisam da matéria-prima para a edificação, ou da
própria Prefeitura local, que precisa elaborar obras infraestruturais no município onde
se localiza uma determinada mineradora, ou até mesmo obras estaduais de construção
de grandes vias de transportes, como o Arco Metropolitano do Rio de Janeiro, que
para sua edificação retirou das pedreiras do seu entorno o material necessário a sua
construção, sendo visível às margens dessas rodovias localizadas em Itaguaí e
Seropédica uma grande quantidade de mineradoras que iniciaram suas atividades de
exploração para atender a demanda local da brita, material indispensável na pré
colocação asfáltica, bem como na produção de calhas de escoamento das águas
pluviais, paralelepípedos e calçadas, todos confeccionados com concreto, onde a
matéria-prima essencial é a pedra britada.
Não obstante a discussão mestra desse artigo, que é a produção do Espaço a
partir da atuação das indústrias mineradoras como objeto de estudo, se soma o esforço
pela busca por um método complexo de reflexão, que não seja baseado somente na
relação direta de causa e efeito como era feito de forma simplificadora na ciência
clássica, como destaca Morin (1994, p.257):
Na perspectiva clássica, o método não é mais do que um corpus de receitas, de
aplicações quase mecânicas, que visa excluir todo o sujeito do seu exercício
[...] na teoria complexa, a teoria é engrama, e o método para ser estabelecido,
precisa de estratégia, iniciativa, invenção, arte.
21
Sendo assim, articular "agentes produtores" do Espaço nas variadas
condicionantes tanto do ponto de vista ambiental, da política, do planejamento, da
economia, das condicionantes locais e globais, em uma lógica de múltiplas escalas
pode ser observado como um exercício e um método complexo de se observar o real.
Considerações Finais
As construções urbanas utilizam a brita como material essencial para sua
edificação. Ela está inserida nas mais variadas formas e tamanhos em diferentes
projetos de construção em alvenaria, como calçadas, asfaltos, prédios, casas, sejam
eles localizados nas áreas centrais ou nas periferias. O acesso a esse material se dá
através das casas de material de construção, ou é feito diretamente nas pedreiras, que
localizam-se nas áreas próximas ao centro de consumo. A problemática evidenciada
no presente artigo relata que a proximidade das pedreiras é essencial, pois o valor
unitário do produto que ela oferece é muito baixo e o custo do transporte a grandes
distâncias tornaria inviável o preço do produto, podendo ser comercializado a grandes
quantidades somente para grandes empreendimentos. As áreas periféricas, por
exemplo, existem populações com menor poder aquisitivo que também precisam ter
acesso a brita para edificar suas casas, sendo assim, será muito melhor que o
fornecedora matéria prima esteja próximo ao consumidor, visto que esta é uma das
estratégias do capital. Aliada a necessidade de expansão imobiliária urbana, verificada
também pela apropriação espacial feita pelo capital, que usa como instrumento sua
presença e poder de articulação nas mais variadas formas e, nesse caso, a indústria da
mineração tem o seu papel como fornecedora de itens essenciais a reprodução física
do capital, enquanto um bem a ser construído. Observa-se uma reestruturação espacial
da indústria de mineração, que acompanha o crescimento da cidade, pois esta procura
um local mais distante, saindo das áreas mais centrais e indo em direção a periferia da
cidade, quando sua presença se torna inadequada ao padrão de adensamento urbano.
Coincidentemente, ou não, sua nova localização passa a atender as áreas centrais, mas
também serve como provedora de recursos para novas obras que demarcam uma nova
22
fronteira de expansão urbana. Ela segue uma demanda, que é evidentemente gerada
por novas construções que surgem nas áreas periféricas da cidade. Dessa maneira é
sempre um ciclo renovador e complexo de instalação, produção, crescimento,
adensamento, reestruturação e expansão, que mostra o processo de articulação entre a
industria mineradora e a produção capitalista do espaço.
Referências Bibliográficas
CALAES, G . O Planejamento estratégico do desenvolvimento mineral sustentável e
competitivo - dois casos de não metálicos no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro:
Departamento de Geologia do Instituto de Geociências da UFRJ, 2005. 298f. (Tese de
Doutorado).
CARLOS, Ana Fani Alessandri. A Condição Espacial. São Paulo: Contexto, 2011.
HARVEY, David. A produção capitalista do Espaço. São Paulo: Annablume, 2005.
LAMEGO, Alberto Ribeiro. Setores da Evolução Fluminense - volume 3. O Homem e a
Guanabara. Edição fac-similar. IBGE. Rio de Janeiro, 2007.
MACHADO, Felipe da Silva. Agricultura e Reestruturação Espacial na Interface Rural-
Urbana: o exemplo do Município de Cachoeira de Macacu (RJ). Dissertação
apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do
Rio de Janeiro como requisito parcial à obtenção do título de mestre em Geografia
(Organização e Gestão do Território). Rio de janeiro, 2013, 114 p.
MOREIRA, Ruy. Os Quatro Modelos de Espaço-Tempo e a Reestruturação Espacial
Brasileira. In: A Reestruturação Espacial Do Estado do Rio de Janeiro. Ruy Moreira
Org. Geografia - GERET/NEGT/GECEL - Niterói./2003
MOREIRA, Ruy. Velhos Temas, Novas Formas. In: Elementos de Epistemologia da
Geografia contemporânea/ Francisco Mendonça, Salete Kozel, Organizadores. Editora
da UFPR. 1ª Ed. Rev. 2009.
MORIN, E. Introdução ao Pensamento Complexo. 3. ed. Porto Alegre: Sulina, 2007.
MORIN, Edgard. Vivência com Consciência. Biblioteca Universitária de Lisboa. 1994.
OLIVEIRA, Floriano José Godinho. Mudanças no espaço metropolitano: novas
centralidades e dinâmicas espaciais na metrópole fluminense. In: SILVA, Catia
23
Antonia, FREIRE, Désirée Guichard, OLIVEIRA, Floriano José Godinho (Org.)
Metrópole: governo, sociedade e território. Rio de Janeiro: DP&A/Faperj, 2006, p. 79-
97.
SANTOS, Angela Moulin S. Penalva. O desempenho recente da economia fluminense:
reversão da estagnação. In: Economia, Espaço e Sociedade no Rio de Janeiro. Editora
FGV, 2003.
SANTOS, Milton. Metamorfoses do Espaço Habitado: Fundamentos Teóricos e
Metodológicos da Geografia - Milton Santos; em colaboração com Denise Elias. - 6. ed.
- São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008.
SIMÕES, Manoel Ricardo. Ambiente e Sociedade na Baixada Fluminense. Mesquita:
Editora Entorno, 2011.
SMITH, Neil. Desenvolvimento Desigual. Editora Bertrand Brasil. Rio de Janeiro,
1988.
SOJA, Edward W. Uma interpretação Materialista da Espacialidade. In: Abordagens
políticas da espacialidade. Organizadores: Becker, Bertha K., Costa, Rogério Haesbaert
da, Silveira, Carmen Beatriz. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Departamento de
Geociências - Programa de Pós-Graduação. Rio de Janeiro, abril de 1983.
SOJA, Edward W. Geografias pós-modernas: a reafirmação do espaço na teoria Social
crítica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1993.