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1 O Processo de Reestruturação Urbana da Indústria de Mineração de Brita na Região Metropolitana do Rio de Janeiro Resumo O presente trabalho busca articular a atuação da indústria de mineração de rocha para britagem com a dinâmica da produção do espaço urbano metropolitano. O adensamento populacional é um problema e ao mesmo tempo uma vantagem para essa indústria, que tem nas proximidades da sua área de extração o seu principal mercado consumidor. O baixo valor unitário do produto (rocha britada) e seu emprego imediato na construção civil inviabilizam ou oneram a obra quando há uma grande distância entre o local de retirada da matéria-prima e o seu centro consumidor, sendo necessária a sua produção próxima às áreas de consumo. O objetivo principal é relacionar sua dinâmica com o complexo processo de produção capitalista do espaço, observando sua reestruturação para áreas periféricas, especialmente aquelas consideradas de expansão metropolitana. Introdução A mineração de Agregados para a construção civil é uma atividade que demanda um arranjo espacial e uma logística de funcionamento. Esse fato está ligado a obtenção do material agregado para obras em geral (areia, pedra britada e saibro) nas proximidades das áreas de empreendimentos, pois tais materiais são a base de qualquer construção, seja um prédio, uma rua a ser asfaltada, ou uma simples casa localizada em uma área periférica da cidade. Face a essa conjuntura, colocam-se várias indagações em torno de uma questão central: É possível mostrar uma evolução histórica da indústria de mineração de brita, fazendo o contraponto com a expansão urbana verificada na área de estudo? A cidade cresce se reestrutura e cria novas funções, sendo estas ligadas ao papel que o lugar exerce dentro do cotidiano do espaço urbano. Nesse sentido, uma área de

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O Processo de Reestruturação Urbana da Indústria de Mineração de

Brita na Região Metropolitana do Rio de Janeiro

Resumo

O presente trabalho busca articular a atuação da indústria de mineração de rocha para

britagem com a dinâmica da produção do espaço urbano metropolitano. O adensamento

populacional é um problema e ao mesmo tempo uma vantagem para essa indústria, que

tem nas proximidades da sua área de extração o seu principal mercado consumidor. O

baixo valor unitário do produto (rocha britada) e seu emprego imediato na construção

civil inviabilizam ou oneram a obra quando há uma grande distância entre o local de

retirada da matéria-prima e o seu centro consumidor, sendo necessária a sua produção

próxima às áreas de consumo. O objetivo principal é relacionar sua dinâmica com o

complexo processo de produção capitalista do espaço, observando sua reestruturação

para áreas periféricas, especialmente aquelas consideradas de expansão metropolitana.

Introdução

A mineração de Agregados para a construção civil é uma atividade que demanda um

arranjo espacial e uma logística de funcionamento. Esse fato está ligado a obtenção do

material agregado para obras em geral (areia, pedra britada e saibro) nas proximidades

das áreas de empreendimentos, pois tais materiais são a base de qualquer construção,

seja um prédio, uma rua a ser asfaltada, ou uma simples casa localizada em uma área

periférica da cidade. Face a essa conjuntura, colocam-se várias indagações em torno de

uma questão central: É possível mostrar uma evolução histórica da indústria de

mineração de brita, fazendo o contraponto com a expansão urbana verificada na área

de estudo?

A cidade cresce se reestrutura e cria novas funções, sendo estas ligadas ao papel que

o lugar exerce dentro do cotidiano do espaço urbano. Nesse sentido, uma área de

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mineração como uma pedreira, que fornece rocha britada para construção tem seu papel

estreitamente ligado a essa função, pois a brita é um componente indispensável à

edificação das construções. Sendo assim, quanto mais próxima a pedreira estiver da

obra em questão mais viável se torna, devido o alto custo que seria transportá-la de

áreas mais distantes.

O arranjo espacial da mineração de brita se dá de acordo com a existência da jazida,

juntamente com a viabilidade de sua exploração, sendo esta condicionada as leis que

regem o funcionamento dessa atividade no espaço urbano ou em áreas periféricas.

Podemos acrescentar, também, que está diretamente ligada ao adensamento urbano

verificado nas proximidades da área de extração. Contudo, este mesmo fator, na maioria

das vezes, a médio e longo prazo, pode inviabilizar a continuidade do funcionamento da

mineração naquele local, provocando o deslocamento para áreas mais distantes. Tendo

em vista que o custo de transporte é um dos principais componentes do preço final da

brita e uma das principais estratégias da indústria de mineração é manter-se próxima ao

mercado consumidor de seus produtos, se faz necessário investigar como este fato afeta

a viabilidade econômica da exploração e sua reestruturação no espaço metropolitano.

O Estado do Rio de Janeiro apresenta um padrão de crescimento populacional e de

adensamento da sua região metropolitana, que também se reflete na área de entorno das

pedreiras, o que dificulta a coexistência entre a atividade extrativa e a população local,

causando, na maioria das vezes, o deslocamento dessa atividade para áreas periféricas

não tão distantes dos centros consumidores, porém que não apresentam no momento

problemas de convívio com o entorno.

Em Calaes (2005), o que se verifica é que devido à abundância de rocha dura na

região, as unidades produtoras procuraram sempre se localizar o mais próximo ao

mercado. No entanto, problemas relacionados às políticas de uso e ocupação do solo

vêm provocando sucessivos conflitos de localização, que podem se dar em relação ao

zoneamento proposto pelos município nos planos diretores, os chamados conflitos de

uso do solo, à medida que ocorre o “sufocamento” das unidades produtoras, pelo avanço

da urbanização. Neste contexto, o setor convive com uma série de impasses de ordem

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locacional e ambiental, com decorrentes impactos negativos, quer seja sob o âmbito

privado quer sob a ótica social.

A localização das áreas de mineração de brita dentro de áreas metropolitanas na

atualidade tem aparentemente efeitos paradoxais. De um lado estão os impactos

negativos gerados nas diversas etapas da atividade, desde a explosão da rocha até seu

beneficiamento, que afastam as populações no entorno, sem mencionar os danos

ambientais. De outro, existe uma inequívoca vantagem da proximidade da indústria em

relação ao seu mercado consumidor. A proximidade da mineração de brita em relação

aos adensamentos populacionais garante o baixo valor unitário do produto e seu

emprego imediato na construção civil, viabilizam a obra.

As políticas de uso do solo e a tecnologia empregada na exploração da brita também

são de grande relevância, visto que é imprescindível a minimização dos impactos

negativos gerados pelas diversas etapas da mineração de brita nos centros urbanos ou

em suas proximidades, intensificando a gestão, o planejamento e a fiscalização dessa

atividade pelos órgãos competentes, exigindo a utilização de técnicas mais avançadas de

exploração e beneficiamento.

Devido ao adensamento populacional no entorno da área de pedreiras e os impactos

causados por estas, novas áreas de mineração surgem nas proximidades das áreas de

expansão da metrópole, sendo que essa expansão é a principal causa da necessidade de

obtenção dos minerais agregados para a construção civil em locais próximos. Dessa

maneira, é importante compreender essa lógica de crescimento da cidade e da

permanência dessa atividade, bem como a busca por uma adequação da mineração e sua

existência nas adjacências de seus centros consumidores.

Existem vários impactos ambientais que podem ser gerados nas diferentes fases da

mineração. Tais impactos são reflexos das modificações que ocorrem no meio ambiente,

especialmente em relação ao solo, ao ar, a água, a fauna e a flora. Existem os impactos

considerados de ordem socioeconômica, como os decorrentes da implantação,

desenvolvimento e desativação de grandes minas, tanto em regiões de baixa como de

alta densidade populacional.

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Por ser uma atividade que gera impactos no meio onde ocorre, demanda um regime

de licenciamento específico e fiscalização mais intensa. Atualmente cabe ao

Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM), promover o planejamento e o

fomento da exploração mineral, o aproveitamento dos recursos e superintender

pesquisas geológicas, além de fiscalizar as atividades de mineração em todo o território

nacional.

No plano estadual o Departamento de Recursos Minerais do Rio de Janeiro (DRM-

RJ), gerencia a mineração e o seu uso sustentável, atuando junto as empresas produtoras

e consumidoras de bens minerais, além de assessorar órgão públicos, municípios e

sociedade em geral. A concessão dessa atividade é dada pelo município no qual a

mesma se instalará, sendo submetida as leis que regem a mineração a nível estadual e

federal. O Plano Diretor Municipal é o documento oficial através do qual o município

orienta e disciplina o uso do solo bem como as leis e órgãos nos quais as inúmeras

atividades serão submetidas.

O município de Niterói, possui um histórico importante sobre a mineração de brita,

visto que apresenta inúmeras pedreiras inativas localizadas próximo ao Centro da

Cidade e algumas pedreiras em atividade atualmente. A área compreendida como

anteriormente como "Grande Niterói", com destaque para os municípios que a

compunham como São Gonçalo e Maricá, também são relevantes para avaliar o

processo de mobilidade da industria mineradora, por abrigarem várias pedreiras de

grande porte em atividade. Esta área também é chamada de Região Metropolitana II do

Rio de Janeiro ou Leste Metropolitano do Rio de Janeiro, ou simplesmente Leste

Metropolitano.

A mineração, por deixar marcas na paisagem, verificada pelas "cicatrizes" deixadas

nas rochas na área de extração, é facilmente identificável. A reutilização das áreas de

antigas pedreiras é feita para fins diversos, mas todas com algum destino que acaba

evidenciando uma mudança do padrão de ocupação do solo urbano.

Desenvolvimento

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Para apresentar algumas interpretações sobre a espacialidade das mineradoras de

brita, estão sendo associados alguns conceitos chave da geografia como Espaço e

Reestruturação espacial, com a Teoria Marxista, levando em conta a leitura crítica feita

por autores como Edward Soja, David Harvey, Ruy Moreira, Roberto Lobato Corrêa e

Milton Santos. Ainda nesse viés, procura-se entender tais aplicações de acordo com o

pensamento complexo de Edgar Morin, procurando encontrar nessa análise uma base

para o entendimento da organização complexa do espaço. Através dessa leitura crítica,

objetivando relacionar as particularidades entre o papel do Estado capitalista na

produção do Espaço, no que se refere a indústria da mineração de brita. Dessa maneira,

é importante relacionar o que Santos (2008, p. 28), coloca ao falar sobre a relação entre

a sociedade e o espaço e suas inúmeras interações:

O espaço deve ser considerado como um conjunto indissociável, de que

participam, de um lado, certo arranjo de objetos geográficos, objetos naturais

e objetos sociais, e, de outro, a vida que o preenche e os anima, ou seja, a

sociedade em movimento. O conteúdo (da sociedade) não é independente da

forma (os objetos geográficos), e cada forma encerra uma fração do conteúdo.

O espaço, por conseguinte, é isto: um conjunto de formas, pois, têm um papel

na realização social.

Buscando uma releitura da dinâmica espacial da indústria mineradora de brita,

evidencia-se a atuação do capital no espaço urbano nas últimas décadas, para tender a

necessidades diversas, como em obras infraestruturais e edificações em geral para a

expansão da cidade. Soja (1983, p. 38) ao falar sobre uma concepção materialista da

espacialidade evidencia que "a espacialidade é o terreno historicamente constituído da

acumulação capitalista" [...] "a estrutura material dinâmica para a existência e

reprodução dos modos de produção". Corrêa (2005, p. 11), reforça que o espaço urbano

é produzido por agentes sociais que possuem uma ação complexa, derivando da

dinâmica de acumulação de capital e das necessidades mutáveis das relações de

produção. Dentre esses agentes complexos é destacada a ação do Estado capitalista na

produção e na reorganização do Espaço urbano. Corrêa destaca ainda que:

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A complexidade dos agentes sociais inclui práticas que levam a um constante

processo de reorganização espacial que se faz via incorporação de novas áreas

ao espaço urbano, densificação do uso do solo, deterioração de certas áreas,

renovação urbana, relocação diferenciada da infra-estrutura e mudança,

coercitiva ou não do conteúdo social e econômico de determinadas áreas da

cidade.

A indústria da mineração de brita, produz a pedra britada, utilizada em larga

escala na construção civil, está inserida no contexto urbano como fornecedora de um

material para edificações diversas. A pedra britada é obtida através da extração a céu

aberto, e beneficiada geralmente no mesmo local de extração. Reúne em seu pátio

extrativo o beneficiamento e, em algumas é identificado também a produção de

concreto, tijolos, entre outros produtos destinados a construção civil. Sendo uma

atividade que produz materiais de baixo valor agregado quando vendido em pequenas

quantidades, geralmente é comercializado em grandes volumes, junto a um fornecedor

que repassa o produto através de casas de materiais de construção. Atende desde

pequenas obras, realizadas nas periferias das grandes cidades, até grandes projetos de

infraestrutura localizados na região metropolitana. Sendo assim, é indispensável e

depende diretamente da demanda existente para movimentar seu parque extrativo. Tal

material, é sensível ao deslocamento de grandes distâncias, visto que seu valor é baixo

ao ser extraído, porém o custo do transporte aumenta significativamente seu preço final.

Em virtude da presença de reservas do gnaisse lenticular na porção oriental da Baía da

Guanabara, em especial nos municípios de Niterói, São Gonçalo e Maricá, observa-se

nesses municípios a presença de inúmeras pedreiras ativas e inativas que marcaram

historicamente essa área como fornecedora da "pedra britada".

Observa-se, porém, que a mineração do gnaisse lenticular, afim de produzir a

pedra britada, é uma atividade que marca inicialmente o desenvolvimento dos

municípios em questão em diferentes etapas, que podem ser marcadas através da própria

edificação, crescimento e adensamento das cidades e da própria expansão da região

metropolitana. Inicialmente, a partir da década de 1940, as pedreiras passaram a se

localizar na parte central do município de Niterói, como citado por Lamego (2007,

p.101):

A maior riqueza desta zona, abrangida na carta geológica, são porém as suas

pedreiras, de longa data intensamente exploradas. No morro da Armação há

várias importantes, e, de Santa Rosa a São Gonçalo, por toda parte se notam

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as abas de morros trabalhadas. A rocha extraída é em geral o gnaisse

lenticular, denominado "pedra de galho" e, nas poucas explorações de gnaisse

cinzento e laminado, chamam a essa rocha de "pedra lousada".

A extração de brita, como outras atividades que ocorrem no espaço urbano, está

associada a lógica capitalista de produção do espaço, a medida que esta oferece insumos

para a edificação da cidade como espaço concreto. Está próxima ao centro de consumo

dos seus produtos e seguindo tal caminho, fica diretamente ligada as necessidades de

expansão da metrópole notadamente através das novas áreas de extração que surgem

próximas aos grandes empreendimentos, podendo ser citada as extrações existentes em

São Gonçalo, que fornecem material para a construção do Comperj, as mineradoras

instaladas a margem do Arco Metropolitano em Seropédica e Itaguaí, bem como a

grande pedreira em expansão localizada em Inoã, fornecedora de material a grande

demanda do capital imobiliário atuante na construção de residências em Maricá.

A mineração de brita é uma atividade industrial primária, que fornece materiais

que, agregados a outros minerais, serão utilizados na construção civil, que juntos

produzirão a base de sustentação das edificações urbanas de forma geral. Como toda

atividade industrial moderna, insere-se numa lógica econômica, que visa atender, de um

lado, os interesses dos grupos empresariais e, do outro, os interesses da sociedade e de

sua produção ou reprodução no espaço.

A mineração de brita para a construção civil se insere no espaço de acordo com a

disponibilidade do recurso a ser explorado (jazida) e da possibilidade de sua extração,

ou seja, concessão para sua exploração. Contudo, está associada às áreas onde o

consumo dessa produção é maior. Soja, 1993 destaca que:

A reestruturação, em seu sentido mais amplo, transmite a noção de uma

"freada", senão de uma ruptura nas tendências seculares, e de uma mudança

em direção a uma ordem e uma configuração significativamente diferentes da

vida social, econômica e política. Evoca, pois, uma combinação sequencial de

desmoronamento e reconstrução, de desconstrução e tentativa de

reconstituição, proveniente de algumas deficiências ou perturbações nos

sistemas de pensamento e ação aceitos.

Há uma organização dessa produção industrial no território, dentro de uma

escala de espaço-tempo, de acordo com a evolução e crescimento da própria cidade, que

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é a principal consumidora dos materiais vindos dessa atividade. Quando a cidade se

expande a indústria acompanha esse movimento, procurando se localizar próximo ao

novo centro de consumo, ou seja, segue uma nova lógica de produção no espaço e

reestruturação. Dentro dessa lógica, Moreira define:

A reestruturação é uma expressão que se refere ao estabelecimento de novas

formas e escalas de espaço-tempo, com o fito de configurar um novo modo de

organização do espaço para as sociedades modernas, mudando-as na forma

como até então haviam se ordenado (MOREIRA, 2003, p.7).

É possível observar na atualidade um rearranjo espacial, que se mostra

principalmente na forma de organização das atividades industriais que se movimentam

em direção a um “novo” lugar dentro da metrópole, que se apresenta mais dinâmico

para atender as necessidades da reprodução de sua atividade. Determinados segmentos e

setores industriais, deslocam-se do núcleo para outros municípios da metrópole

fluminense, desde que estes apresentem uma dinâmica maior para a sustentação de suas

atividades:

A atual configuração espacial da Região Metropolitana do Rio de Janeiro

parece obedecer a um duplo movimento - de consolidação do espaço

metropolitano e de mudanças na periferia da região metropolitana. Tanto o

movimento interno na metrópole quanto a nova dinâmica da economia no

interior podem ser considerados impulsionadores da dinamização da economia

metropolitana, uma vez que utiliza o aporte técnico e científico instalado na

metrópole e estimula a reestruturação de segmentos industriais metropolitanos

(MACHADO, 2013, p.44).

O crescimento da metrópole fluminense remete a uma nova logística das

atividades econômicas ligadas a mineração, pois o adensamento populacional é um fator

que gera risco para a coexistência dessa atividade nas áreas centrais da cidade. Tal eixo

produtivo procura novas áreas potenciais de extração, que apresente um mercado

consumidor abrangente e local adequado para a sua atuação. A Região Metropolitana do

Rio de Janeiro se expande, refuncionaliza os lugares produtivos, dando nova

territorialidade aos mesmos. Dessa maneira, estimula a reestruturação de espaços

metropolitanos:

O reordenamento espacial da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, agora

mais próxima de uma definição clássica que expressa o adensamento urbano

na formação de um aglomerado metropolitano, e o esgotamento do modelo de

industrialização centralizado na cidade do Rio de Janeiro, face à contínua

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redução de sua capacidade de geração de emprego industrial – que

consideramos importantes para discutir as mudanças na dinâmica territorial

fluminense, orientada pela maior regionalização de sua economia

(OLIVEIRA, 2006, p.94).

O espaço pode ser visto como algo que pode ser resgatado e ao mesmo tempo

construído através do tempo, de acordo com o avanço das técnicas de produção e

reprodução do mesmo. A história de um lugar se materializa a medida que esta deixa

marcas no mesmo. O Espaço, de acordo com MOREIRA (2009), é a relação metabólica

do homem com a natureza, vista na escala da sua expressão social, sendo assim:

A chamada crise ambiental é o momento de virada desta troca de sinais entre

as categorias do espaço e do tempo. Menos que um evento datado, o problema

ambiental é um acontecimento localizado, e decorrente do modo de

localização. [...] No que interagem desde o berço comum espaço e meio

ambiente. Alterar um é alterar o outro, reinventar um é reinventar o outro,

desequilibrado um está desequilibrado o outro, por força dessa imbricação

solidária (MOREIRA, 2009, p. 59-60).

O Espaço urbano é determinado pelas relações econômicas e sociais que nele se

estabelecem, de acordo com o sistema de acumulação vigente. Um dado arranjo espacial

urbano, reflete as necessidades da sociedade e das atividades econômicas que são

praticadas em um dado momento histórico. Assim sendo, se pode reforçar que:

Em um primeiro lugar não existe uma economia descolada do espaço, nem um

espaço que não expresse as atividades e relações econômicas sobre ele. Em

segundo lugar é na cidade que essa relação se manifesta de maneira mais

evidente. Desse modo podemos afirmar que as cidades são as manifestações

mais evidentes da relação entre a economia e o espaço ao longo da história.

Assim, a história do desenvolvimento econômico pode ser analisada através

dos processos de constituição das cidades em cada contexto temporal e

espacial (SIMÕES, 2011, p.73).

Quando não mais vantajosas ou adequadas as relações econômicas e os arranjos

espaciais delas resultantes, ocorrem mudanças ou reestruturações, buscando assim

atender novas dinâmicas, criando uma nova configuração espacial. Tal processo pode

ser exemplificado através da expansão da ocupação urbana e de algumas atividades em

direção a áreas ou municípios mais distantes. Para (Santos, 2003), a partir da década de

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1980 houve uma mudança na dinâmica especial, influenciada por uma perspectiva

macroespacial, onde:

Os fatores que contribuem para essa reestruturação espacial, podem ser

observados de uma perspectiva macroespacial --- os efeitos da "globalização"

--- e de uma outra, microespacial --- organização empresarial estruturada em

rede, não mais verticalmente ---, ao mesmo tempo em que é observado o

fenômeno da crescente urbanização da população.

A mineração de brita obedece a essa lógica, que não pode ser reduzida algo simples e

pontual, pois faz parte de um contexto maior, que é a acumulação e reprodução do

capital, visto que se trata de uma atividade industrial que possui sua dinâmica atrelada

ao processo de crescimento da cidade. Ao falar sobre as relações de transporte, a

integração e a "anulação do espaço pelo tempo", Harvey, 2005: 47, coloca que:

O custo do transporte "é importante à medida que a expansão do

mercado e a trocabilidade do produto se conectam a isso" (Marx, 1973: 534).

Os preços, tanto das matérias-primas como dos bens acabados, são sensíveis

ao custo do transporte, e a capacidade de coletar as matérias-primas em

lugares distantes é, evidentemente, afetada por esses custos. Os custos de

circulação "podem ser reduzidos pelo transporte aperfeiçoado, mais barato e

mais rápido" (Marx, 1967, vol. 2: 142). Um subproduto disso é o

barateamento de muitos elementos do capital constante (insumos de matérias-

primas) e a expansão do mercado geográfico. Do ponto de vista da produção

enquanto totalidade, "a redução dos custos da circulação real (no espaço) faz

parte do desenvolvimento das forças de produção pelo capital" (Marx, 1973:

533-4).

A necessidade de obtenção da matéria-prima mais próxima ao centro de

consumo facilita a acumulação do capital, como destaca Harvey, 2005, p.48:

Os mercados mais distantes atam o capital, em processo de circulação, por

períodos de tempo mais longos e, assim, tem o efeito de reduzir a realização

da mais-valia para determinado capital. Justamente por isso, qualquer redução

no tempo de circulação aumenta a produção do excedente e intensifica o

processo de acumulação.

Há uma tendência de aglomeração de certas atividades próximas ou dentro dos

centros urbanos, pois são essencialmente dependentes do consumo local, como é o

caso das pedreiras, que fornecem o material básico, que agregado a outros será

utilizado para construção da cidade, suas casas e obras infraestruturais. Harvey, 2005,

ao falar sobre a criação de novos espaços produtivos destaca que:

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[...] a redução dos custos de realização e circulação ajuda a criar espaço novo

para a acumulação de capital. Reciprocamente, a acumulação de capital se

destina a ser geograficamente expansível, e faz isso pela progressiva redução

do custo de comunicação e transporte.

A consolidação das áreas centrais da cidade, que em um primeiro momento

criam condições favoráveis a manutenção de certas atividades como a mineração, por

ser consumidora de seus materiais para sua edificação, em um segundo momento,

quando ocorre um adensamento urbano, se torna um empecilho ou um entrave para o

seu pleno desenvolvimento. Desse modo, assim como a cidade se expande, cria novos

espaços, a indústria da mineração segue esse fluxo de expansão, para atender a essa

nova dinâmica, sendo assim "empurrada” para áreas mais distantes da cidade onde sua

presença se faz necessária e o entorno não se apresenta como um empecilho a sua

atividade.

Tais áreas mais distantes, sem a mesma infraestrutura das áreas centrais, tornam-

se residência também das classes mais populares, onde o acesso aos materiais agregados

(brita, areia e saibro), que serão utilizados diretamente na construção civil, se torna um

item essencial para sua edificação. Quanto mais próximo desse consumidor estiver a

produção desse material, mais barato e fácil o acesso das classes mais populares. Sendo

assim, é possível relacionar tal fato ao processo de expansão da mancha urbana do Rio

de Janeiro e outros municípios da Região metropolitana, assim como ocorreu na

Baixada Fluminense no século XX:

Os raquíticos núcleos urbanos do século XIX, se transformaram em sedes de

municípios com populações que ultrapassam as centenas de milhares,

ganhando novas funções urbanas que consolidaram uma divisão regional do

trabalho que envolve e articula toda a metrópole, embora o centro de comando

e das decisões continue a ser o núcleo metropolitano (SIMÕES, 2011, p. 108).

Este mesmo processo se repetiu na região a leste da Baía de Guanabara em

municípios como São Gonçalo e, mais recentemente, Maricá, territórios privilegiados

para a nossa análise, onde são criadas estruturas espaciais que agem para favorecer a

acumulação do capital, estruturas essas que podem ser visíveis na paisagem, como a

instalação de uma indústria, por exemplo.

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A expansão da urbanização para áreas mais distantes, periféricas a núcleo

urbano central pode trazer luz ao que se chama de desenvolvimento do capital, já que

tais áreas crescem e se expandem atendendo a uma lógica de um mercado imobiliário

que cria novos espaços de moradia, utilizando áreas onde os terrenos são relativamente

mais baratos e com maior possibilidade de lucro após sua incorporação e edificação. Em

Harvey, 2005, observa-se nesse sentido que:

[...] o capital passa a ser representado na forma de uma paisagem física, criada

à sua própria imagem, criada como valor de uso, acentuando a acumulação

progressiva do capital numa escala expansível. A paisagem geográfica,

abrangida pelo capital fixo e imobilizado, é tanto uma glória coroada do

desenvolvimento do capital passado, como uma prisão inibidora do progresso

adicional da acumulação.

Há uma grande atenção dada a reestruturação espacial das atividades industriais

em geral, principalmente quando se fala em Espaço Urbano, visto que tal movimento

está intimamente relacionado aos impostos arrecadados, as possíveis mudança de

padrão de ocupação e zoneamento municipal, a reutilização do espaço deixado pela

indústria, entre outros fatores inerentes a dinâmica urbana. Cabe ainda ressaltar a

questão do valor do produto, do valor do trabalho (mão de obra) utilizado nas diferentes

etapas produtivas, que se põem como fator significativo a ser analisado. Em relação a

mineração de brita, há um padrão que vem se repetindo nos últimos anos, de acordo

com a sua atuação nas áreas urbanas em geral. A mineradora começa atuar dentro das

cidades, em locais próximos aos centros consumidores, ocorre em seguida um

adensamento populacional no entorno da mesma, e logo em seguida ocorre o conflito

provocado pela ocorrência das explosões constantes para a desagregação da rocha, pela

poeira e barulho gerado pelo seu beneficiamento, pela constante circulação de

caminhões de grande porte que transportam o material pela cidade, enfim, o que antes

não era um transtorno acaba se tornando pela própria aglutinação de pessoas nas

proximidades. Harvey, 2005 ao relacionar o processo de acumulação do capital a

necessidade de habitação e a demanda por materiais de construção destaca que:

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[...] A organização do consumo, para que se torne "racional" em relação ao

processo de acumulação (por exemplo, a demanda da classe trabalhadora por

boa moradia talvez seja cooptada por um programa público de habitação, que

serve para estabilizar a economia e para aumentar a demanda por materiais de

construção de determinado tipo) (Harvey, 2005, p.46).

O valor de uso do solo urbano também é relevante, a partir do momento que se

torna muito mais lucrativo abrigar outros empreendimentos naquele espaço, que seja

mais rentável do ponto de vista econômico do que uma indústria que pode ser deslocada

para um local onde os "transtornos" sejam menores, assim como os impostos pagos pela

mesma para se localizar numa área mais central da cidade. Ao tratar da teoria da

localização produtiva, Neil Smith destaca que:

Os capitalistas individuais são perpetuamente levados a escolher as

localizações mais vantajosas. Na medida em que os produtores mudam de

lugar continuamente, seu "lucro excedente" é puramente efêmero; onde

permanecem por um longo período, ele é consumido pela renda do solo.

Presumindo igual acesso à tecnologia e à competição espacial, a "taxa de lucro

para os produtores capitalistas tenderão a se igualar nos diferentes lugares,

seja através da apropriação da renda ou através da mobilidade geográfica do

capital de produção" (Smith, 1988, p.191).

A medida que a infraestrutura de transporte se amplia, outras áreas, antes

consideradas periféricas, começam a ser vislumbradas como potenciais para que o

processo de acumulação se reinicie. Não se chega a evidenciar uma crise produtiva

nesse caso, mas sim uma necessidade de readaptação da indústria da mineração ao

processo de produção da cidade, visto que esta oferece a matéria-prima para a

edificação das diversas obras de infraestrutura, bem como para a construção e reparo

das habitações.

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A Rocha Britada e sua relevância econômica

Os minerais agregados como a brita, a areia e a argila não são exportados e nem

importados, pois no Brasil existem inúmeras reservas que atendem a demanda interna,

como se observa na tabela 1:

Tabela 1

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De acordo com o Ministério de Minas e Energia, 2011, a produção de brita, ou

rochas britadas, adquire maior viabilidade econômica quando é praticada em locais

próximos aos centros consumidores, por causa dos custos de transporte, porém aumenta

as possibilidades de conflito com outras formas de uso e ocupação do território. O

número de empresas que produzem a pedra britada é da ordem de 600. A produção de

brita em 2008, foi de 217 Mt, com a seguinte distribuição do consumo regional:

Sudeste, 46%; Sul, 13%; Centro-Oeste, 9%; Nordeste, 8%, e Norte, 5%. (Plano

Nacional de Mineração 2030, p. 45).

No Plano Nacional de Mineração 2030, as rochas ou bens minerais que são

comumente utilizados para produzir rocha britada apresentam a seguinte importância:

em oitavo lugar, o Granito, com valor (R$ milhões) de 16, 4, com participação de 2% na

arrecadação em 2009; o Gnaisse, com valor (R$ milhões) de 8,4, com participação de

1%. Tais substâncias estão enquadradas como as que possuem maior relevância, de

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acordo com a Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais

(CEFEM), observada na tabela 2:

Tabela 2:

Harvey, 2005, p. 43, ao falar sobre a oferta dos meios de produção e da infra-estrutura e

das estruturas de demanda produzida pelo modo capitalista de produção cita:

A produção não é apenas imediatamente consumo e o

consumo não é apenas imediatamente produção, a

produção não é apenas meio para o consumo e o consumo

não é apenas o objetivo da produção [...] mas também,

tanto a produção quanto o consumo [...] criam o outro,

completando-se e criando-se enquanto outro (Marx,

1973:93).

Ao falar sobre as relações de transporte, a integração e a "anulação do espaço

pelo tempo", Harvey, 2005: 47, coloca que o custo do transporte "é importante à

medida que a expansão do mercado e a trocabilidade do produto se conectam a isso"

(Marx, 1973: 534). Os preços, tanto das matérias-primas como dos bens acabados, são

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sensíveis ao custo do transporte, e a capacidade de coletar as matérias-primas em

lugares distantes é, evidentemente, afetada por esses custos. Os custos de circulação

"podem ser reduzidos pelo transporte aperfeiçoado, mais barato e mais rápido" (Marx,

1967, vol. 2: 142). Um subproduto disso é o barateamento de muitos elementos do

capital constante (insumos de matérias-primas) e a expansão do mercado geográfico.

Do ponto de vista da produção enquanto totalidade, "a redução dos custos da

circulação real (no espaço) faz parte do desenvolvimento das forças de produção pelo

capital" (Marx, 1973: 533-4). Harvey, 2005, ao falar sobre a criação de novos espaços

produtivos destaca que:

[...] a redução dos custos de realização e circulação ajuda a criar espaço novo

para a acumulação de capital. Reciprocamente, a acumulação de capital se

destina a ser geograficamente expansível, e faz isso pela progressiva redução

do custo de comunicação e transporte (Harvey, 2005, p. 48).

A necessidade de obtenção da matéria-prima mais próxima ao centro de

consumo facilita a acumulação do capital, como destaca Harvey, 2005, p.48:

Os mercados mais distantes atam o capital, em processo de circulação, por

períodos de tempo mais longos e, assim, tem o efeito de reduzir a realização

da mais-valia para determinado capital. Justamente por isso, qualquer redução

no tempo de circulação aumenta a produção do excedente e intensifica o

processo de acumulação.

Há uma tendência de aglomeração de certas atividades próximas ou dentro dos

centros urbanos, pois são essencialmente dependentes do consumo local, como é o

caso das pedreiras, que fornecem o material básico, que agregado a outros será

utilizado para construção da cidade, suas casas e obras infraestruturais. Tal processo

produtivo da indústria da brita fica espacialmente dependente do consumo favorecido

pela cidade e suas obras. Dessa forma, Harvey destaca que:

A racionalização geográfica do processo produtivo depende, em parte, da

estrutura mutável dos recursos de transporte, das matérias-primas e das

demandas do mercado em relação à indústria, e da tendência inerente à

aglomeração e à concentração da parte do próprio capital (Harvey, 2005: 50).

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São criadas estruturas espaciais que agem para favorecer a acumulação do

capital, estruturas essas que podem ser visíveis na paisagem, como a instalação de uma

indústria, por exemplo. A expansão da urbanização para áreas mais distantes,

periféricas a núcleo urbano central pode trazer luz ao que se chama de

desenvolvimento do capital, já que tais áreas crescem e se expandem atendendo a uma

lógica de um mercado imobiliário que cria novos espaços de moradia, utilizando áreas

onde os terrenos são relativamente mais baratos e com maior possibilidade de lucro

após sua incorporação e edificação. Em Harvey, 2005, observa-se nesse sentido

que:[...] o capital passa a ser representado na forma de uma paisagem física, criada à

sua própria imagem, criada como valor de uso, acentuando a acumulação progressiva

do capital numa escala expansível. A paisagem geográfica, abrangida pelo capital fixo

e imobilizado, é tanto uma glória coroada do desenvolvimento do capital passado,

como uma prisão inibidora do progresso adicional da acumulação [...] (Harvey, 2005:

51). Dessa maneira se observa que:

A paisagem criada pelo capitalismo também é vista como lugar da contradição

e da tensão, e não como expressão do equilíbrio harmonioso. Além disso, as

crises nos investimentos do capital fixo são consideradas como sinônimo, em

muitos aspectos, da transformação dialética do espaço geográfico. O contraste

entre as duas posturas teóricas é importante, pois sugere que as duas teorias

estão, de fato, preocupadas com coisas diferentes. A análise burguesa da

localização é apropriada apenas como expressão de configurações ideais sob

condições predeterminadas.

No espaço urbano, também se deve levar em conta o valor de uso do mesmo

pelas inúmeras atividades que nele ocorrem. O que se realiza na cidade é rentável a

medida que gera um lucro referente ao "valor" de uso do solo. O preço da brita

também está relacionado a esse "valor". Dessa maneira, a indústria de mineração de

brita é condicionada a existência da jazida a ser explorada, mas também ao valor de

uso do local dentro da cidade. De forma que muitas das vezes, torna-se mais lucrativo

obter daquele espaço em questão outras formas de utilização, do que necessariamente

a retirada da matéria-prima para construção. A construção em si de um condomínio, de

um centro empresarial ou de qualquer outro empreendimento na área onde se instalaria

uma mineradora em potencial, se dá de acordo com essa realidade de reprodução

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social dentro da lógica capitalista de produção ou reprodução do espaço. Nesse

contexto, ao falar sobre a produção do espaço Carlos (2011, p.100) aponta:

No momento, os termos de reprodução da sociedade se elucidam na produção

de um espaço mundializado como realização do capitalismo, no sentido em

que o capitalismo necessita superar os momentos de crise da acumulação,

realizando-se em direção a novas produções e revelando um novo papel para o

espaço. Nessa direção, indica o movimento de passagem que vai do espaço

enquanto condição e meio do processo de reprodução econômica ao momento

em que, aliado a esse processo, o espaço, ele próprio, é o elemento central da

reprodução do capital.

A Complexidade da Organização Espacial

Pensar na complexidade da organização espacial das indústrias de brita, ou seja,

das mineradoras, é um exercício que leva em consideração pensar na lógica local, mas

também na global, visto que tal processo está ligado ás condições econômicas maiores

que produzem o espaço. Relacionando também a uma ótica organizacional, pontual e

locacional, pois depende da presença da rocha em si, para ser extraída e beneficiada,

mas ao mesmo tempo das organizações que se dão no entorno, como habitacional, de

infraestrutura (estradas, mão de obra, energia, entre outras), política e planejamento

(onde se destacam as leis de zoneamento municipal, por exemplo). Dessa maneira, são

inúmeras variáveis que podem nos conduzir a pensar essa "localização ou

organização" de forma complexa e não somente simplificadora.

O que em um dado momento pode nos conduzir a uma lógica organizacional da

indústria da mineração (como por exemplo as concessões de exploração para extração

e mesmo a criação de leis que a tornam regulamentar) em outro pode criar uma

desestruturação, no momento em que seus benefícios tornam-se menores do que os

impactos negativos no entorno, bem como os lucros gerados são menores diante dos

transtornos provocados pela mesma. Daí, os mesmos instrumentos que antes a

regulavam são novamente acionados, face a essa mudança de contexto, para que esta

se reorganize. Neste momento, cria-se uma ideia recursiva, que de acordo com Morin

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(2007, p.74) é um dos princípios que nos ajuda a pensar a complexidade. Nesses

termos ele coloca que:

A ideia recursiva é, pois, uma ideia em ruptura com a ideia linear de

causa/efeito, de produto/produtor, de uma estrutura/superestrutura, já que tudo

o que é produzido volta-se sobre o que produz num ciclo ele mesmo

autoconstrutivo, auto-organizador e autoprodutor.

Portanto surge uma ideia de ciclo, que também é condicional e organizacional. A

ponto de criar e recriar condições para tal atividade no Espaço, de acordo com

interesses dos atores em questão, que pode ser o capital através dos agentes

incorporadores imobiliários, que precisam da matéria-prima para a edificação, ou da

própria Prefeitura local, que precisa elaborar obras infraestruturais no município onde

se localiza uma determinada mineradora, ou até mesmo obras estaduais de construção

de grandes vias de transportes, como o Arco Metropolitano do Rio de Janeiro, que

para sua edificação retirou das pedreiras do seu entorno o material necessário a sua

construção, sendo visível às margens dessas rodovias localizadas em Itaguaí e

Seropédica uma grande quantidade de mineradoras que iniciaram suas atividades de

exploração para atender a demanda local da brita, material indispensável na pré

colocação asfáltica, bem como na produção de calhas de escoamento das águas

pluviais, paralelepípedos e calçadas, todos confeccionados com concreto, onde a

matéria-prima essencial é a pedra britada.

Não obstante a discussão mestra desse artigo, que é a produção do Espaço a

partir da atuação das indústrias mineradoras como objeto de estudo, se soma o esforço

pela busca por um método complexo de reflexão, que não seja baseado somente na

relação direta de causa e efeito como era feito de forma simplificadora na ciência

clássica, como destaca Morin (1994, p.257):

Na perspectiva clássica, o método não é mais do que um corpus de receitas, de

aplicações quase mecânicas, que visa excluir todo o sujeito do seu exercício

[...] na teoria complexa, a teoria é engrama, e o método para ser estabelecido,

precisa de estratégia, iniciativa, invenção, arte.

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Sendo assim, articular "agentes produtores" do Espaço nas variadas

condicionantes tanto do ponto de vista ambiental, da política, do planejamento, da

economia, das condicionantes locais e globais, em uma lógica de múltiplas escalas

pode ser observado como um exercício e um método complexo de se observar o real.

Considerações Finais

As construções urbanas utilizam a brita como material essencial para sua

edificação. Ela está inserida nas mais variadas formas e tamanhos em diferentes

projetos de construção em alvenaria, como calçadas, asfaltos, prédios, casas, sejam

eles localizados nas áreas centrais ou nas periferias. O acesso a esse material se dá

através das casas de material de construção, ou é feito diretamente nas pedreiras, que

localizam-se nas áreas próximas ao centro de consumo. A problemática evidenciada

no presente artigo relata que a proximidade das pedreiras é essencial, pois o valor

unitário do produto que ela oferece é muito baixo e o custo do transporte a grandes

distâncias tornaria inviável o preço do produto, podendo ser comercializado a grandes

quantidades somente para grandes empreendimentos. As áreas periféricas, por

exemplo, existem populações com menor poder aquisitivo que também precisam ter

acesso a brita para edificar suas casas, sendo assim, será muito melhor que o

fornecedora matéria prima esteja próximo ao consumidor, visto que esta é uma das

estratégias do capital. Aliada a necessidade de expansão imobiliária urbana, verificada

também pela apropriação espacial feita pelo capital, que usa como instrumento sua

presença e poder de articulação nas mais variadas formas e, nesse caso, a indústria da

mineração tem o seu papel como fornecedora de itens essenciais a reprodução física

do capital, enquanto um bem a ser construído. Observa-se uma reestruturação espacial

da indústria de mineração, que acompanha o crescimento da cidade, pois esta procura

um local mais distante, saindo das áreas mais centrais e indo em direção a periferia da

cidade, quando sua presença se torna inadequada ao padrão de adensamento urbano.

Coincidentemente, ou não, sua nova localização passa a atender as áreas centrais, mas

também serve como provedora de recursos para novas obras que demarcam uma nova

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fronteira de expansão urbana. Ela segue uma demanda, que é evidentemente gerada

por novas construções que surgem nas áreas periféricas da cidade. Dessa maneira é

sempre um ciclo renovador e complexo de instalação, produção, crescimento,

adensamento, reestruturação e expansão, que mostra o processo de articulação entre a

industria mineradora e a produção capitalista do espaço.

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