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Número de ISBN: 978-85-61693-03-9 1 O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO TURÍSTICA EM PONTA NEGRA (NATAL- RN) NA PERSPECTIVA DO RESIDENTE Jussara Danielle Martins Aires 1 Lore Fortes 2 RESUMO Divulgado internacionalmente como principal destino turístico da cidade do Natal, Ponta Negra desponta como bairro melhor estruturado dessa cidade no que se referem à qualidade e variedade de opções de meios de hospedagem e atrativos destinados aos turistas nacionais e estrangeiros. Sabe-se que a atividade turística que ali se inseriu desde a década de 90, trouxe uma série de benefícios, principalmente a geração de empregos e aumento de renda. Em contrapartida, tem sido responsável por causar diversos problemas e mudanças nos hábitos, na cultura e economia da população do bairro. Conforme salienta Brunt e Courtney (1999), estudar as percepções dos residentes quanto aos impactos do turismo é de suma importância para se obter o êxito no desenvolvimento de políticas públicas, no marketing e no funcionamento de projetos presentes e futuros dessa atividade. Assim, constitui o objetivo principal deste artigo mostrar a percepção do residente de Ponta Negra (que abrange a Vila de Ponta Negra, o Conjunto de mesmo nome e a orla marítima, para efeitos da pesquisa) a respeito do processo de urbanização turística daquela área, com base num banco de dados coletados por Aires em junho de 2009, junto aos brasileiros com no mínimo três anos de residência no local. Concluiu-se que a urbanização provocada pelo crescimento turístico trouxe uma série de problemas principalmente a insegurança, aumento da criminalidade e prostituição e isso tem contribuído para a insatisfação da maioria dos que ali residem. Palavras-chave: Urbanização turística. Mudanças. Percepções. Residentes. Ponta Negra 1 Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN. E-mail: [email protected] 2 Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN. E-mail: [email protected]

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O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO TURÍSTICA EM PONTA NEGRA (NATAL- RN)

NA PERSPECTIVA DO RESIDENTE

Jussara Danielle Martins Aires1

Lore Fortes2

RESUMO

Divulgado internacionalmente como principal destino turístico da cidade do Natal,

Ponta Negra desponta como bairro melhor estruturado dessa cidade no que se referem à

qualidade e variedade de opções de meios de hospedagem e atrativos destinados aos turistas

nacionais e estrangeiros. Sabe-se que a atividade turística que ali se inseriu desde a década de

90, trouxe uma série de benefícios, principalmente a geração de empregos e aumento de

renda. Em contrapartida, tem sido responsável por causar diversos problemas e mudanças nos

hábitos, na cultura e economia da população do bairro. Conforme salienta Brunt e Courtney

(1999), estudar as percepções dos residentes quanto aos impactos do turismo é de suma

importância para se obter o êxito no desenvolvimento de políticas públicas, no marketing e no

funcionamento de projetos presentes e futuros dessa atividade. Assim, constitui o objetivo

principal deste artigo mostrar a percepção do residente de Ponta Negra (que abrange a Vila de

Ponta Negra, o Conjunto de mesmo nome e a orla marítima, para efeitos da pesquisa) a

respeito do processo de urbanização turística daquela área, com base num banco de dados

coletados por Aires em junho de 2009, junto aos brasileiros com no mínimo três anos de

residência no local. Concluiu-se que a urbanização provocada pelo crescimento turístico

trouxe uma série de problemas principalmente a insegurança, aumento da criminalidade e

prostituição e isso tem contribuído para a insatisfação da maioria dos que ali residem.

Palavras-chave: Urbanização turística. Mudanças. Percepções. Residentes. Ponta Negra

1 Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. E-mail: [email protected]

2 Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. E-mail: [email protected]

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1 INTRODUÇÃO

O turismo de sol e mar constitui o grande trunfo utilizado na promoção da

imagem de Ponta Negra como ponto turístico internacionalmente conhecido, atraindo

milhares de turistas estrangeiros e brasileiros durante o ano. Essa localidade se mantém,

atualmente, como o bairro melhor estruturado de Natal no que se referem à qualidade e

variedade de opções de meios de hospedagem, desde simples pousadas até luxuosos hotéis e

resorts e concentra o maior fluxo de estrangeiros que visitam a cidade3. Destaca-se, ainda, na

considerável oferta de opções de lazer, especialmente noturnas. No bairro, existem diversos

tipos de restaurantes e bares, dentre outros equipamentos turísticos bastante frequentados pela

população turística internacional.

Não restam dúvidas que o crescimento turístico é uma constante na localidade e

gera benefícios, trazendo infra-estrutura e modernização para aquela área, mas age, também,

como atividade intensamente modificadora da paisagem, cultura, economia e meio-ambiente.

Em Ponta Negra, por exemplo, onde estão localizados dois dos mais famosos cartões postais

do estado, a Praia de Ponta Negra e o Morro do Careca (Vila de Ponta Negra), pode-se

observar uma crescente especulação imobiliária que promove a "verticalização" do bairro, em

função de investimentos na construção de grandes edifícios, modificando o aspecto praiano

local. Dentre outros impactos negativos trazidos pela atividade turística nessa localidade,

pode-se destacar a mudança de costumes da população local, provocada pela presença maciça

de turistas no bairro e falta de tranqüilidade frente à insegurança causada pela criminalidade,

em forma de tráfico e uso de drogas, assaltos, prostituição e outros problemas

comportamentais trazidos pelo turismo, mesmo que involuntariamente.

Diante do exposto, o presente artigo tem como proposta principal mostrar a

percepção do residente de Ponta Negra a respeito do processo de urbanização turística daquela

área. Num primeiro momento, julgou-se necessário tecer considerações acerca da relação

entre turismo, participação social, cidadania, e desenvolvimento, posteriormente elucidar de

3 Informações mencionadas pelo Secretário de Turismo de Natal, Francisco Soares de Lima Júnior, em palestra

realizada no dia 10 de junho de 2009, no auditório do NEPSA - Núcleo de Estudos e Pesquisas Sociais Aplicadas

da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN.

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forma breve, como se deu o processo de transformação/urbanização daquela área, reunindo

idéias de diversos autores expertos no assunto. Por fim, traçam-se algumas considerações

acerca de como os moradores do bairro em questão percebem esse processo de mudanças

advindo da atividade turística, com base num banco de dados que compõe a Monografia de

Graduação do Curso de Turismo apresentado à Universidade Federal do Rio Grande do Norte

por Aires, autora deste artigo. A pesquisa analisou a atitude da população residente em Ponta

Negra (Natal-RN) com relação aos turistas, à luz do Modelo Irridex de Doxey.

Esses dados foram coletados durante o mês de junho de 2009, junto aos

moradores brasileiros residentes no bairro há pelo menos três anos. Para apreciá-los, foi

adotada uma metodologia com base na explicação técnica, que possibilitou a concretização de

uma análise quali-quantitativa do conjunto de dados obtidos a partir da aplicação dos

formulários de entrevistas.

Brunt e Courtney (1999) afirmam que é de suma importância estudar as

percepções dos residentes no tocante aos impactos do turismo, já que o êxito de um destino

turístico vai depender, em grande parte, de que a população valorize positivamente o papel

que desempenha o turismo em sua localidade. Os autores assinalam que essas percepções

constituem considerações importantes nas planificações e políticas turísticas, para obter o

êxito no desenvolvimento, no marketing e no funcionamento de projetos presentes e futuros.

2 TURISMO, PARTICIPAÇÃO SOCIAL, CIDADANIA, E DESENVOLVIMENTO

Assevera Agnol (2008) que as comunidades nas quais o turismo se insere, tendem

a ver a atividade com desconfiança e maus olhos, porque em geral não têm a oportunidade de

expor suas opiniões e de participar das tomadas de decisões sobre a questão nessa área.

Sentem-se, com isso, excluídas e acabam não desejando a presença de turistas na sua

localidade. Pior, em muitos casos o turista chega antes do planejamento turístico e

organização da localidade, fundamentais, para recebê-lo. Conforme Krippendorf explana:

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Os habitantes das regiões visitadas começam a sentir também um certo rancor em

relação aos efeitos negativos do êxodo das massas turísticas. Essas populações têm

cada vez mais a impressão de que são invadidas por esse desenvolvimento e, ao

mesmo tempo, dele excluídas (KRIPPENDORF, 2000, p.19)

Por esse motivo, a opinião dos moradores locais acerca do turismo se faz tão

importante e a satisfação da comunidade reflete na hospitalidade e também na experiência do

turista. A participação da comunidade local no processo de planejamento e implantação de

projetos turísticos locais, além de incluí-la como mão-de-obra trabalhadora efetiva nesta

atividade, pode ser imprescindível para o engrandecimento e desenvolvimento sustentável do

turismo. A partir do momento que a própria comunidade se conscientiza sobre como o

turismo será capaz de fazer sua cidade, bairro ou vila crescer e desenvolver-se, o turismo

poderá expandir-se de forma plena e mais segura, garantindo um maior bem-estar social.

Swarbrooke (2000, p.59) descreve bem a importância dessa participação:

A maioria dos analistas parece concordar que o aspecto mais importante da política

do turismo é a “proteção” da comunidade local e do seu meio ambiente. Uma das

pedras fundamentais do turismo sustentável é a idéia de que a comunidade local

deve participar ativamente no planejamento do turismo e talvez controlar a indústria

do turismo local e suas atividades.

Complementando, Irving (2002 apud BARRETO, 2006, p. 53) afirma que “as

necessidades de um povo não se restringem às necessidades de ordem econômica. [...] A

participação é pré-requisito essencial, pois é a própria sociedade que deve identificar suas

necessidades.” O turismo origina-se de uma longa evolução que acompanha as mudanças das

sociedades humanas, e junto com o Estado e a sociedade civil, contribui para a construção da

democracia, da cidadania e dos direitos sociais, na medida em que pode oferecer uma

participação social ativa no processo de gestão, das políticas, e “dos aspectos simbólicos e

éticos que conferem um sentido de identidade e de pertença a uma coletividade, um sentido de

comunidade.” (JELIN, 1994 apud BARRETO, 2006, p. 50).

A atividade turística pode, de fato, contribuir para o resgate, estímulo, vivência e

prática da cidadania. Corroborando esse raciocínio, a Constituição Brasileira de 1988, em seu

artigo 180, dispõe que “a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios promoverão e

incentivarão o turismo como fator de desenvolvimento social e econômico”. Reconhecendo a

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atividade turística como contribuidora para o alcance das metas de desenvolvimento sócio-

econômico, devendo por isto ser promovida e incentivada pelos demais setores, quer público

ou privado (BRANDÃO, 2006).

O turismo e a cidadania estão entrelaçados nas diversas ações que são levadas a

efeito por essa atividade (CORAL, 2003). Exibindo possibilidades de inclusão, na perspectiva

de que as pessoas envolvidas na atividade incumbam-se das suas próprias responsabilidades

de cidadãos na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

No tocante às principais vantagens evidenciadas no turismo, merecem destaque a

capacidade e o interesse de contribuir para a efetivação da cidadania, na disposição de meios

que ajudam a garantir direitos individuais que são essenciais e indispensáveis para o homem,

pela oportunidade de melhorar a qualidade de vida frente à participação da sociedade nos seus

processos, assim incentivando os cidadãos a exercerem o inerente papel que lhe é conferido, o

de participar. Para tanto, a indicação das vantagens de um novo sistema turístico, de seu

aporte para a cidadania, devem ocupar posição de evidência nos direcionamentos de trabalhos

e ações.

Desta forma, a atividade turística não se deve conceber sem que haja a tentativa

de proteção aos direitos individuais e sociais da comunidade local, e só será justa na medida

em que as liberdades forem defendidas, mesmo diante aos resultados indesejados, conforme

defende DANTAS (2005, p.154):

O turismo só será justo quando a sociedade for justa [...] Nenhuma atividade

econômica pode ter um fim em si mesma; logo, o turismo não tem valia enquanto

não promover a equalização social e a expansão das oportunidades e capacidades

humanas, tanto dos visitantes como dos visitados.

Para que a atividade turística alcance um livre e pleno desenvolvimento é

indispensável possuir o apoio da população local de um destino turístico, ultrapassando os

limites de uma atividade econômica e favorecendo a igualdade de benefícios, na interligação

da economia, do ambiente e da sociedade (BRANDÃO, 2006). Todos os envolvidos no setor

turístico – governo, empresários e população local – possuem uma relação de

interdependência entre si. O sucesso de um depende do sucesso do outro, e o fracasso de um

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compromete, se não a priori, ao menos em longo prazo, o desempenho do outro, como afirma

Dantas (2005).

O termo cidadania no turismo se reveste de um sentido amplo e torna-se sinônimo

de sustentabilidade, na atenção aos direitos e obrigações para com a sociedade, de forma a

garantir o uso de seus recursos, materiais ou imateriais, no presente e no futuro, e acima de

tudo, no respeito à dignidade humana e a necessidade de participação.

3 O CRESCIMENTO TURÍSTICO E SEUS EFEITOS EM PONTA NEGRA

O bairro de Ponta Negra situa-se administrativamente na Região Sul do Município

de Natal a 15 quilômetros do Centro dessa cidade. Localiza-se entre o bairro de Capim Macio

e Parque das Dunas ao norte, a base da Aeronáutica, conhecida como Barreira do Inferno, no

Município de Parnamirim, ao sul, o Oceano Atlântico a leste e a oeste, o bairro de Neópolis.

A localidade é composta pelo Conjunto Ponta Negra, Vila de mesmo nome, Conjunto

Alagamar e orla marítima. Com uma população de 23.600 habitantes, constitui um dos

maiores bairros da cidade (SEMURB, 2005).

A Vila de Ponta Negra, também chamada de Vila dos Pescadores, é parte e núcleo

original do bairro e abriga atualmente remanescentes de ex-escravos trazidos da África e dos

índios que compuseram a primeira realidade socioespacial da área (CAVALCANTE, 2006).

Algumas das antigas características desse núcleo são citadas no trecho seguinte,

extraído de uma reportagem publicada pela Tribuna do Norte (2006):

A Vila de Ponta Negra teve início no começo do século XVIII. Na época, sua

população era constituída apenas de pescadores que construíram as suas casas de

palha de coqueiro à beira-mar e depois se deslocaram para cima da colina, onde se

originou o núcleo da vila. Além da pesca, os homens começaram a cultivar roçados

e fazer carvão. As mulheres faziam a renda de bilro, atividade realizada até os dias

de hoje. Durante muito tempo, esse povoado manteve um grande isolamento em

relação ao centro da cidade, devido à distância e ao fato de as pessoas terem seus

meios de subsistência no próprio lugar.

Complementando a idéia, Silva (2003, p. 108) pondera que as transformações que

se opuseram naquele espaço nas últimas décadas não foram insignificantes:

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“[...] a velha cabana de palha e as antigas edificações feitas de barro batido, como

fora a primeira capela, cederam vez às novas formas de moradia, projetos

arquitetônicos e empreendimentos imobiliários, elementos que constituem fatores

estruturantes e substitutivos da antiga démarche local” (SILVA, 2003, p. 108).

Essa constitui uma referência direta ao processo iniciado nos anos 1980 e que

começou desde então a modificar a vida dos moradores locais. Ainda na década de 1980, a

cidade do Natal já contava com uma maior área ocupada devido ao crescimento das atividades

urbanas, da infra-estrutura rodoviária, do comércio e dos novos serviços que começavam a ser

oferecidos. Com a construção dos conjuntos Ponta Negra (1837 casas) e Alagamar (com 158

casas), um novo impulso foi percebido na Zona Sul de Natal, em face da quantidade

considerável de pessoas que passou a residir na área, até então quase não ocupada, delineando

uma redefinição espacial (SILVA, et. al., 2001)

As ações do Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste –

PRODETUR-NE I, na década de 1990, serviram como agente impulsionador da urbanização

da Zona Sul de Natal, em função da união de interesses públicos e privados caminhando na

mesma direção. É que a partir dessa década, muitos grupos imobiliários nacionais e

principalmente, estrangeiros passaram a investir em Ponta Negra.

A pavimentação de avenidas, os ajardinamentos, a expansão do espaço construído

e a política de incentivos ao turismo têm atraído a construção de novos empreendimentos,

como pousadas e hotéis, restaurantes e uma série de outros serviços voltados para essa

atividade, determinando mudanças significativas na configuração urbana da Zona Sul de

Natal, mais notadamente em Ponta Negra. O vizinho bairro de Capim Macio também passou,

em pouco tempo, a se transformar em função dessa nova dinâmica, tornando-se alvo de

interesses de grandes grupos imobiliários. Todo o bairro de Ponta Negra tornou-se um dos

metros quadrados mais caros da cidade (CAVALCANTE, 2006).

Com isso, áreas que antes eram de uso coletivo dos moradores nativos da Vila de

Ponta Negra tornaram-se valorizadas e passaram a fazer parte dos interesses dos diferentes

capitais. Atingidos por essas transformações, esses moradores passaram então a utilizar, de

uma nova maneira, a praia de Ponta Negra, trabalhando no início do processo, como caseiros,

vendedores ambulantes ou em barracas para atender aos veranistas, e posteriormente, aos

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turistas em demanda crescente a cada ano. Esse comércio iniciou uma competição com a

atividade pesqueira e de coleta, que eram as principais atividades desenvolvidas na Vila

originalmente, além da atividade das rendeiras nativas (SILVA et. al., 2001). O lugar passou a

ser destinado quase que completamente ao turismo, de tal sorte que hoje praticamente não há

mais espaço para a prática dessas atividades primárias, o que tem dificultado bastante a vida

dos moradores locais.

Segundo Coriolano (2005), na produção espacial onde pescadores, comunidades

tradicionais e indígenas (os chamados “povos do mar”) são expropriados para dar lugar a

equipamentos turísticos, faz-se necessário

Considerar a luta dos diferentes atores locais, os incluídos e os excluídos; os nativos

usuários do espaço litorâneo que tentam defender suas propriedades, ou bens de

usos, contrapondo-se aos interesses dos empresários, dos agentes imobiliários e do

próprio Estado, estes que se interessam pelo valor de troca do espaço, pois o

transformaram em mercadoria. (CORIOLANO, 2005).

Transformar um espaço em “produto” implica diretamente em mudanças no

cotidiano da população que vive no local. Os antigos pescadores de Ponta Negra, por

exemplo, sofreram uma abrupta mudança no seu modo de vida, a partir do momento em que

sua maior fonte de subsistência, a pesca, passou a ser dificultada. Alguns tentaram achar

outros caminhos para manter seu sustento, procurando diversos setores no mercado de

trabalho informal, como a venda de produtos em barracas instaladas na praia de Ponta Negra.

Não restam dúvidas de que todo esse processo de reconstrução territorial também

contribuiu decisivamente para a formação de espaços de elites no bairro. Em contrapartida, as

intervenções de capitais estrangeiros e mesmo nacionais também têm gerado territórios

segregados, na medida em que nem todos aqueles que se encontram residindo nas áreas

focalizadas têm acesso ou se beneficiam do crescimento urbano verificado. Ao contrário

disso, as famílias de baixo poder aquisitivo que permanecem no local sofrem com as

implicações negativas desse crescimento, pois a valorização dos terrenos significa aumento

nos impostos e no custo de vida (FURTADO, 2005).

De fato, a Vila atualmente situa-se bastante isolada do restante da cidade, apesar

da existência de transporte urbano para o local. Infelizmente, a falta de um planejamento

turístico bem organizado não proporcionou uma situação tão positiva para o local. É na Vila

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de Ponta Negra, de forma bastante diferente do conjunto de nome idêntico e das proximidades

da orla, que a heterogeneidade social da população local pode ser claramente percebida, ao

serem notadas, por exemplo, casas e prédios de construções bem elaboradas, contrastando

com residências simples e rústicas, pertencentes aos antigos moradores da Vila. Sobre isso,

assevera Ferrigatto (2008, p.28-29):

O conjunto abriga moradores idosos, militares aposentados e trabalhadores de alto

poder aquisitivo. Quase todas as casas possuem carros sofisticados, cerca elétrica,

portões fechados e depois das nove da noite não há movimento de pedestres em suas

ruas. [...] Já na vila de Ponta Negra, de toda sua extensão, pude encontrar pessoas

com baixa qualidade de vida, dependentes de serviços públicos, como o de

transporte e saúde. Abriga grande parte da mão de obra e também de prostitutas, que

se reúnem e alugam as melhores casas do local. Assim, é visto pelos moradores do

conjunto como uma periferia, havendo marginalidade e drogas, que sustentam os

vícios e se beneficiam diretamente do dinheiro das classes altas e estrangeiras

freqüentadoras da noite de Ponta Negra, moradores ou turistas.

Independente das condições sociais, os moradores de todas as partes do referido

bairro e mesmo os que aquele visitam convivem diariamente com a violência urbana

caracterizada pelo uso e tráfico de drogas, roubos e assaltos, assassinatos e prostituição. Isso

pode ser evidenciado no trecho de uma reportagem do Jornal Tribuna do Norte (2010):

A existência de pontos para venda de drogas e o tráfico de crack é um dos maiores

problemas apontados pela polícia em relação à segurança e violência no bairro de

Ponta Negra. Levantamento feito pela Delegacia de Narcóticos (Denarc) sobre a

venda de drogas, na capital, mostra o bairro com a segunda maior concentração de

“bocas de fumo”.

4 OS EFEITOS DA URBANIZAÇÃO TURÍSTICA NA PERCEPÇÃO DOS

RESIDENTES DE PONTA NEGRA

Diante da pesquisa realizada por Aires (2009) junto à população residente no

bairro de Ponta Negra, pôde-se extrair como a população residente em Ponta Negra4 percebe

os impactos/ mudanças decorrentes dessa atividade naquela área.

4 Leia-se população entrevistada, que foi composta por 78 (setenta e oito) residentes maiores de 18 anos de idade

e com moradia fixa a partir de 03 (três) anos de permanência no bairro de Ponta Negra - Natal/RN, distribuídos

em proporções iguais entre as suas dependências, a saber, o Conjunto, a Praia e a Vila de Ponta Negra. Foi

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A percepção dos residentes no tocante à atividade turística reflete na sua

satisfação com a atividade e o seu nível de envolvimento e participação, sendo esta de suma

importância para o desenvolvimento do turismo. Contudo, através da pesquisa, verificou-se

que 75% dos residentes de Ponta Negra não participam ou nunca participaram de algum

programa ou treinamento para o turismo, mesmo 42% tendo demonstrado o interesse de

participar.

Quanto à sua participação na elaboração de alguma política pública do turismo, a

porcentagem aumentou, atingindo 95% dos entrevistados que afirmaram que, além de não

participar, nunca tiveram a oportunidade oferecida. Os 5% dos entrevistados, apesar de

afirmarem que já tinham participado da elaboração de uma política pública, não souberam

responder qual tinha sido esta política e como tinha sido o processo. Esse resultado nos induz

a refletir que as autoridades locais despreocupam-se em incluir a população local do bairro

nos processos políticos e que visem à melhoria de sua qualidade de vida.

Buscou-se saber a percepção dos entrevistados quanto aos impactos positivos do

turismo, todos os entrevistados concordaram que o processo de urbanização turística em

Ponta Negra foi (e é) capaz de promover a geração de renda; 94,5% deles acreditam que o

turismo gera emprego; 90,4% vêem no turismo uma atividade que contribui tanto para

aumentar a arrecadação municipal quanto para a dinamização do comércio local e, até mesmo

alguns que não trabalham com a atividade o defenderam. Dos entrevistados, 68,5% disseram

concordar que o processo de urbanização turística do bairro promoveu a melhoria da infra-

estrutura, mesmo muitos deles estando ainda insatisfeitos com essa infra-estrutura e 89% dos

entrevistados concordaram que o turismo pode promover o intercâmbio cultural, a partir do

contato entre pessoas com diferentes culturas.

A partir desses resultados, pode-se inferir que em Ponta Negra os residentes vêem

no turismo uma atividade importante e vantajosa principalmente porque através da qual eles

podem ser, direta ou indiretamente, beneficiados, seja no tocante à geração de emprego e

renda, seja na oportunidade de ter contato com outras culturas. Obviamente, também o fazem

selecionada através de uma amostra probabilística aleatória simples, com erro amostral tolerável de 5%. (AIRES,

2009).

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em relação aos turistas, imprescindíveis para a concretização desses benefícios. Essas

características remetem-se tanto à hospitalidade comercial (bem acolher por interesse

econômico) quanto à doméstica (bem acolher por prazer e sinceridade) (CAMARGO, 2004).

Quanto à percepção dos impactos negativos, quase todos os entrevistados

apontaram como impactos negativos do mesmo processo de urbanização turística, o aumento

de preços e custo de vida (98,6%), dependência econômica do capital estrangeiro (98%),

seguidos de aumento do consumo de drogas e especulação imobiliária, que obtiveram o

mesmo percentual (cerca de 96%), aumento da prostituição (94,5%), poluição e degradação

ambiental (90,4%),e mudanças de valores culturais (79,5%).

Todos os entrevistados afirmaram que do mesmo jeito que o turismo contribui

para a geração de renda, também contribui para o aumento de preços e consequentemente do

custo de vida, mas não apresentaram expressão de irritação, revolta ou saturação em relação

aos turistas, visto que na maioria das vezes, eles parecem ser mais desejáveis ao destino do

que o contrário.

Perguntou-se aos entrevistados acerca da sua satisfação com o turismo em Ponta

Negra: 71% deles afirmaram estar insatisfeitos com o turismo na localidade (sendo 44%

parcialmente satisfeitos e 27% insatisfeitos). A fim de saber mais detalhes da insatisfação

pediu-se aos entrevistados que justificassem sua resposta. Os principais motivos mencionados

são mostrados na tabela 1.

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TABELA 01: Motivo de insatisfação dos entrevistados com o turismo em Ponta Negra

Motivo da insatisfação Freqüência % de Respostas % de casos

Aumento da prostituição 31 16,6 57,4

Aumento da violência e criminalidade 30 16,0 55,6

Desorganização 22 11,8 40,7

Aumento do consumo e tráfico de drogas 14 7,5 25,9

O turismo não está bom quanto antes 13 7,0 24,1

Infra-estrutura inadequada 12 6,4 22,2

Aumento de preços e do custo de vida 11 5,9 20,4

Queda no fluxo turístico 10 5,3 18,5

Descaso do Poder Público 9 4,8 16,7

Falta de segurança 8 4,3 14,8

Diminuição da arrecadação municipal e da renda 5 2,7 9,3

Falta de incentivo 4 2,1 7,4

Prioridade do turista em detrimento dos moradores

locais 4 2,1 7,4

Falta de uma política de conscientização 3 1,6 5,6

Pouca divulgação no exterior 2 1,1 3,7

Fonte: Dados de Pesquisa (AIRES, 2009).

Logo, aumento da prostituição, violência e criminalidade, preços abusivos,

desorganização e descaso do Poder Público, aumento do consumo e tráfico de drogas, falta de

segurança e de incentivos e o fato do turismo não estar bom como antes, em virtude da queda

do fluxo turístico e conseqüentemente da renda, foram os principais motivos da insatisfação

apontados. Desse resultado, mais uma consideração a ser feita: os residentes se queixam de

alguns problemas que segundo eles decorrem do processo de urbanização turística, mas

sentem-se insatisfeitos em contrapartida com a queda do fluxo de turistas.

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Um proprietário dos quiosques da avenida Erivan França e morador do Conjunto

Ponta Negra há 12 anos afirmou: “Sou conhecedor das várias transformações que a orla da

praia sofreu durante os últimos dez anos. Hoje, o movimento está fraco principalmente

porque Ponta Negra não consegue mais atrair os natalenses. Quando só dava turistas

internacionais, o natalense também se afastou. Hoje, esse turismo internacional também caiu

e nós sobrevivemos do turismo nacional mesmo. Mas o natalense não voltou a frequentar a

noite de Ponta Negra. Essa praia vivia tão lotada que não tinha nem local para

estacionamento. Com pouco tempo de sucesso, ficou manchada pela prostituição e

criminalidade. Agora, se conta a dedo os frequentadores. Isso é péssimo pra quem vive do

turismo”. (AIRES, 2009 - Entrevistado nº11)

Em complemento ao comentário anterior disse um garçom de um dos restaurantes

da orla, residente na Vila de Ponta Negra há pouco mais cinco anos:

“Esse calçadão virou ponto de prostituição e criminalidade. Passeando por aqui

não é muito fácil ver pessoas consumindo drogas, travestis e prostitutas a espera de turistas

pra fazer programas. Ladrão é outra coisa que aqui tem de sobra. Ninguem invente de

desfilar com objetos de valor como se estivesse dentro de casa que vem o dono e leva (risos).

E isso tudo não acontece só aqui na praia não, é no bairro todo. Quem mora na Vila sofre

mais ainda com esses problemas. A situação lá é crítica mesmo: drogas, prostituição,

assassinatos e todo tipo de criminalidade que voce imaginar parte de lá. Mas claro nem todo

mundo que mora lá é errado, tem muita gente de bem que paga o pato” (AIRES, 2009 -

Entrevistado nº19).

O presidente do CCPN - Conselho Comunitário do bairro de Ponta Negra, Manoel

Damasceno de Medeiros, residente também na Vila há mais de dez anos, afirmou: “O turismo

tem muita importância não só para Ponta Negra, mas para o município, principalmente em

termos de geração de receita, emprego e renda. É uma das nossas principais atividades

econômicas, mas ainda não me sinto totalmente satisfeito pelo fato de muitos moradores do

bairro, estarem excluídos dos benefícios econômicos que o turismo pode oferecer. Até

pretendo futuramente, promover cursos de qualificação e capacitação profissional para

facilitar o ingresso dessas pessoas, principalmente moradores da Vila que se encontram

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desfavorecidos, excluídos do mercado de trabalho cada vez mais exigente” (AIRES, 2009 -

Entrevistado nº73)

Perguntou-se aos entrevistados: em sua opinião quem são os principais

responsáveis por esses problemas acarretados pelo turismo aqui em Ponta Negra? Dos 73

respondentes, apenas nove (9) não citaram o governo, que apareceu com maior percentual de

menção (87,7%). Essas pessoas queixavam-se do descaso dessa esfera do poder com as

questões estruturais da praia, mais precisamente a infra-estrutura inadequada e a falta de

banheiros públicos no calçadão e também com a qualidade de vida dos moradores, pela falta

de segurança e de barreiras protecionistas, aumento de preços e custo de vida. Nas palavras de

um entrevistado aposentado e morador do Conjunto Ponta Negra, que resume a opinião da

maioria: “O governo e a prefeitura têm a culpa sim, eles poderiam solucionar boa parte

desses problemas, destinando verbas para implantação de obras de saneamento, construção

de banheiros na praia, já que até mesmo os turistas reclamam tanto, aumento do

policiamento e vigilância no bairro” (AIRES, 2009 - Entrevistado nº26).

Um estudante universitário, residente na Vila há quase 15 anos, completou

dizendo: “Está cada vez mais complicado pra gente porque os preços tão subindo demais,

são voltados pro bolso do turista estrangeiro e tá difícil manter nossa sobrevivência. Ao meu

ver, deveria existir uma política de diferenciação de preços para turistas e moradores, já que

se trata de pessoas com rendas bem diferentes e isso é responsabilidade maior do governo e

da prefeitura” (AIRES, 2009 - Entrevistado nº31).

De fato, os problemas estruturais mencionados são responsabilidade do governo e

da prefeitura e passíveis de solução a curto prazo. O problema referente à política de

diferenciação de preços para turistas e residentes, embora pareça também passível de solução

a curto prazo, exigiria talvez uma análise criteriosa dos estabelecimentos para possíveis

negociações e acordos com esses órgãos. Quanto às barreiras protecionistas, os entrevistados

explicaram melhor relacionando-as ao comportamento dos turistas, sobretudo estrangeiros,

que não são impedidos de praticar atos, muitas vezes ilícitos, aos olhos dos residentes.

Os turistas foram definidos como culpados por alguns efeitos negativos do

turismo por cinquenta entrevistados (68,5%). Procurando justificar essa acusação, alguns

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mencionaram principalmente problemas como o aumento da prostituição e do consumo de

drogas e a especulação imobiliária, problemas estes que já foram apontados como os

principais impactos negativos do turismo em Ponta Negra, na percepção dos que residem ali.

O que se pode perceber na fala de um dos entrevistados, que resume o discurso proferido pela

grande maioria dos respondentes no tocante a este aspecto: “Sim. Os turistas são culpados

também, mas muitas vezes só pecam porque não há barreiras que os impeçam. Praticamente

não existem meios de conscientização desses impactos para sensibilizá-los, muitos não

conhecem os nossos hábitos, não sabem o que é legal ou não. Eles desconhecem as

conseqüências de seus erros” (AIRES, 2009 - Entrevistado nº33).

“Eles simplesmente fazem o que querem seja por inocência, seja por ignorância,

o que é muito difícil. Na maioria das vezes, é por egoísmo e insensibilidade mesmo” (AIRES,

2009 - Entrevistado nº40).

Também ouviu-se o seguinte comentário: “Muitos estrangeiros vêm para cá,

exploram sexualmente as meninas daqui porque sabem que nada de mal pode acontecer com

eles. Eles pagam, se divertem, sentem prazer e isso é o que mais importa para eles. Não estão

nem aí pra nada, ficam com menores e tudo” (AIRES, 2009 - Entrevistado nº42).

Vendedores ambulantes, moradores locais, hotéis e restaurantes e imobiliárias

também foram vistos como principais culpados pelos efeitos negativos do crescimento

turístico na localidade, sendo mencionados por 43%, 41%, 37% e 9% respectivamente.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio desse trabalho pôde-se inferir que no tocante à percepção dos impactos

decorrentes do processo de urbanização turística no bairro de Ponta Negra, os residentes da

localidade não se mostraram indiferentes, saturados ou intolerantes. Para eles, a atividade, da

mesma forma que causa impactos positivos, também acarreta diversos problemas que refletem

na qualidade de vida das pessoas, e embora os problemas turísticos causem insatisfação e se

sobressaiam frente aos impactos positivos naquele bairro, os seus residentes não apresentaram

expressão de irritação, revolta ou saturação em relação aos turistas, visto que na maioria das

vezes, eles parecem ser mais desejáveis ao destino do que o contrário. Turistas têm uma

parcela de culpa em relação aos principais problemas percebidos na localidade, mas eles não

são vistos pelos moradores como principais culpados. Essa taxação foi direcionada ao

governo pela maioria dos entrevistados.

Se por um lado, a população local vê o turismo como uma atividade econômica

vantajosa, principalmente no tocante à geração de renda (isso foi dito por todos os

entrevistados) e deseja a vinda de turistas, por outro, problemas como o aumento da

prostituição e criminalidade e o descaso do Poder Público com as questões ligadas à

segurança e à qualidade de vida dos moradores do bairro já começam a apresentar indícios de

insatisfação desses residentes com o turismo na localidade e futuramente isso poderá

comprometer o tipo de hospitalidade predominante (mais doméstica do que comercial),

fazendo com que o contato entre visitados e visitantes se torne-se menos pessoal (interesses

puramente comerciais).

Diante do exposto, deixa-se uma recomendação: que o Poder Público, tendo em

mãos estas informações, permita a intervenção imediata no planejamento da localidade,

tomando medidas que venham combater ou solucionar parte dos problemas, pelo menos, os

mais críticos e que interferem mais intensamente na qualidade de vida dos cidadãos.

A criação de meios e espaços nos quais a população local possa expor suas

opiniões, críticas e sugestões se faz fundamental. Aliás, esse tipo de participação constitui-se

premissa imprescindível para o desenvolvimento turístico sustentável.

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