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O produtor pergunta, a Embrapa responde · 2019-02-12 · O produtor pergunta, a Embrapa responde ... 1

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    O produtor pergunta, a Embrapa responde

  • Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

    Embrapa Hortaliças

    Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

    O produtor pergunta, a Embrapa responde

    Embrapa Informação Tecnológica

    Brasília, DF

    2007

    Gilmar Paulo HenzFlávia Aparecida de Alcântara

    Francisco Vilela Resende

    Editores Técnicos

  • Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na:

    Embrapa Informação TecnológicaParque Estação Biológica (PqEB), Av. W3 Norte (final)70770-901 Brasília, DFFone: (61) 3340-9999Fax: (61) [email protected]

    Embrapa HortaliçasBR 060 Rodovia Brasília–Anápolis, Km 9Caixa Postal 21870359-970 Brasília, DFFone: (61) 3385-9009Fax (61) [email protected]

    Produção editorial: Embrapa Informação TecnológicaCoordenação editorial: Fernando do Amaral Pereira

    Mayara Rosa CarneiroLucilene Maria de Andrade

    Revisão de texto: Raquel Siqueira de LemosNormalização bibliográfica: Rosane Mendes Parmagnani

    Celina Tomaz de CarvalhoProjeto gráfico da coleção: Mayara Rosa CarneiroEditoração eletrônica e arte-final da capa: Mário César Moura de AguiarIlustrações do texto: Rogério Mendonça de AlmeidaFoto da capa: Arnaldo de Carvalho Júnior

    1ª edição1ª impressão (2007): 1.000 exemplares

    Todos os direitos reservadosA reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em

    parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei no 9.610).

    CDD 635

    Embrapa 2007©

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)Embrapa Informação Tecnológica

    Produção orgânica de hortaliças: o produtor pergunta, a Embrapa responde / editores técnicos,Gilmar Paulo Henz, Flávia Aparecida de Alcântara, Francisco Vilela Resende. – Brasília, DF :Embrapa Informação Tecnológica, 2007.

    308 p. : il. – (Coleção 500 perguntas, 500 respostas)

    ISBN 978-85-7383-385-0

    1. Cultivo. 2. Hortaliça. 3. Horticultura. 4. Mercado. 5. Produção orgânica. 6. Qualidade I.Henz, Gilmar Paulo. II. Alcântara, Flávia Aparecida. III. Resende, Francisco Vilela. IV. EmbrapaHortaliças. V. Coleção.

  • Autores

    Aelson Silva de AlmeidaEngenheiro agrônomo, mestre em Sociologia Rural, pró-reitorde Extensão da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB),Cruz das Almas, BA

    Assis Marinho CarvalhoEngenheiro agrônomo, mestre em Fitotecnia, analista daEmbrapa Hortaliças, Brasília, DF

    Celso L. MorettiEngenheiro agrônomo, doutor em Produção Vegetal, pesquisador daEmbrapa Hortaliças, Brasília, DF

    Dejair Lopes de AlmeidaEngenheiro agrônomo, doutor em Agronomia, pesquisador daEmbrapa Agrobiologia, Seropédica, RJ

    Dione Melo SilvaEngenheira agrônoma, mestre em Extensão Rural, pesquisadora daEmbrapa Hortaliças, Brasília, DF

    Edson Guiducci FilhoEngenheiro agrônomo, mestre em Extensão Rural, pesquisador daEmbrapa Hortaliças, Brasília, DF

    Fabiana Góes de Almeida NobreZootecnista, fiscal federal agropecuário do Ministério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento (Mapa), Brasília, DF

    Flávia Aparecida de AlcântaraEngenheira agrônoma, doutora em Ciência do Solo, pesquisadora daEmbrapa Hortaliças, Brasília, DF

    Francisco Vilela ResendeEngenheiro agrônomo,doutor em Produção Vegetal, pesquisador daEmbrapa Hortaliças, Brasília, DF

  • Francisco R. CaporalEngenheiro agrônomo, doutor em Agroecologia, coordenador-geral do Departamentode Assistência Técnica e Extensão Rural do Ministério do Desenvolvimento Agrário(MDA), Brasília, DF

    Geni Litvin Villas BôasEngenheira agrônoma, doutora em Entomologia, pesquisadora da EmbrapaHortaliças, Brasília, DF

    Gilmar Paulo HenzEngenheiro agrônomo, doutor em Fitopatologia, pesquisador da Embrapa Hortaliças,Brasília, DF

    Henoque R. da SilvaEngenheiro agrônomo, doutor em Engenharia Agrícola e Irrigação, pesquisador daEmbrapa Hortaliças, Brasília, DF

    Jacimar Luis de SouzaEngenheiro agrônomo, doutor em Fitotecnia, pesquisador do Instituto Capixaba dePesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Venda Nova do Imigrante, ES

    Joe Carlo Viana ValleEngenheiro florestal, presidente do Sindicato dos Produtores Orgânicos do DistritoFederal (SindiOrgânicos), Brasília, DF

    Jorge Ricardo de Almeida GoncalvesEngenheiro agrônomo, mestre em Administração Rural, fiscal federal agropecuário doMinistério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Brasília, DF

    José Antonio Azevedo EspíndolaEngenheiro agrônomo, doutor em Ciência do Solo, pesquisador da EmbrapaAgrobiologia, Seropédica, RJ

    José Guilherme Marinho GuerraEngenheiro agrônomo, doutor em Ciência do Solo, pesquisador da EmbrapaAgrobiologia, Seropédica, RJ

    Marcelo A. B. MorandiEngenheiro agrônomo, doutor em Fitopatologia, pesquisador da Embrapa MeioAmbiente, Jaguariúna, SP

  • Maria Alice de MedeirosBióloga, doutora em Ecologia, pesquisadora da Embrapa Hortaliças, Brasília, DF

    Mariane Carvalho VidalBióloga, mestre em Agronomia, pesquisadora da Embrapa Hortaliças, Brasília, DF

    Marina Castelo BrancoEngenheira agrônoma, doutora em Entomologia, pesquisadora da EmbrapaHortaliças, Brasília, DF

    Mírian Josefina BaptistaBióloga, doutora em Fitopatologia, pesquisadora da Embrapa Hortaliças, Brasília, DF

    Moacir R. DaroltEngenheiro agrônomo, doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento, pesquisadordo Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), Curitiba, PR

    Neide Botrel GonçalvesEngenheira agrônoma, doutora em Ciências dos Alimentos, pesquisadora da EmbrapaHortaliças, Brasília, DF

    Nirlene Junqueira VilelaEconomista, mestre em Economia Rural, pesquisadora da Embrapa Hortaliças,Brasília, DF

    Nuno R. MadeiraEngenheiro agrônomo, doutor em Produção Vegetal, pesquisador da EmbrapaHortaliças, Brasília, DF

    Paulo Eduardo de MeloEngenheiro agrônomo, doutor em Genética e Melhoramento de Plantas, pesquisadorda Embrapa Hortaliças, Brasília, DF

    Raquel Alves de FreitasEngenheira agrônoma, doutora em Fitotecnia, analista da Embrapa Hortaliças,Brasília, DF

  • Ricardo H. Silva SantosEngenheiro agrônomo, doutor em Fitotecnia, professor associadoda Universidade Federal de Viçosa (UFV), Viçosa, MG

    Roberto Guimarães CarneiroEngenheiro agrônomo, mestre em Extensão Rural, coordenadorde Agroecologia da Empresa de Assistência Técnica e ExtensãoRural do Distrito Federal (Emater/DF), Brasília, DF

    Roberto Guimarães Habib MattarEngenheiro agrônomo, fiscal federal agropecuário do Ministérioda Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Brasília, DF

    Rogério Pereira DiasEngenheiro agrônomo, fiscal federal agropecuário do Ministérioda Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Brasília, DF

    Ronessa Bartolomeu de SouzaEngenheira agrônoma, doutora em Solos e Nutrição de Plantas,pesquisadora da Embrapa Hortaliças, Brasília, DF

    Rosane Mendes ParmagnaniBibliotecária, mestre em Ciência da Informação,analista da Embrapa Hortaliças, Brasília, DF

    Rosileyde G. SiqueiraEngenheira agrônoma, doutoranda em Fitotecnia pela UniversidadeFederal de Viçosa (UFV), Viçosa, MG

    Tatiana Pires BarellaEngenheira agrônoma, mestre em Fitotecnia, professora do Centro Federalde Educação Tecnológica de Rio Pomba (Cefet), Rio Pomba, MG

    Tereza Cristina de Oliveira SaminêzEngenheira agrônoma, Mestre em Ciências Agrárias, coordenadora de Agroecologiado Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Brasília, DF

  • Wagner BettiolEngenheiro agrônomo, doutor em Fitopatologia, pesquisadorda Embrapa Meio Ambiente, Jaguariúna, SP

    Waldir A. MarouelliEngenheiro agrônomo, doutor em Engenharia Agrícola e Biossistemas,pesquisador da Embrapa Hortaliças, Brasília, DF

    Warley Marcos NascimentoEngenheiro agrônomo, doutor em Horticultura, pesquisador da Embrapa Hortaliças,Brasília, DF

    Welington PereiraEngenheiro agrônomo, doutor em Plantas Daninhas, secretário executivo do CTPda Embrapa Café, Brasília, DF

  • Apresentação

    É com satisfação que a Embrapa Hortaliças disponibiliza paraa sociedade brasileira o livro Produção Orgânica de Hortaliças.Este é o primeiro volume produzido por nossa Unidade para a Co-leção 500 Perguntas 500 Respostas, um grande sucesso editorialda Embrapa Informação Tecnológica. A produção orgânica de hor-taliças é um tema da mais alta relevância para o Brasil, principal-mente considerando-se a enorme carência de informações sobreesse tema e também de tecnologias apropriadas para esse sistemade produção. Por essa razão, foram convidados pesquisadores, pro-fessores e extensionistas, com experiência nos diferentes assuntos,para responder aos questionamentos que os produtores orgânicosde hortaliças enfrentam em seu cotidiano.

    Um importante diferencial deste livro é a colaboração emparceria com técnicos e pesquisadores de outros centros da Empre-sa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) (EmbrapaAgrobiologia, Embrapa Meio Ambiente e Embrapa Café) e outrasinstituições, como o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), o Ins-tituto de Pesquisa do Espírito Santo (Incaper), a Universidade Fede-ral de Viçosa (UFV), a Empresa de Assistência Técnica e ExtensãoRural do Distrito Federal (Emater/DF), o Sindicato dos ProdutoresOrgânicos do Distrito Federal (SindiOrgânicos), o Ministério doDesenvolvimento Agrário (MDA) e o Ministério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento (Mapa).

    Dessa maneira, cumprimento os editores, pela iniciativa, eos autores por terem aceito tamanho desafio. A dedicação de to-dos culmina com a publicação do presente livro, seguramente umagrande contribuição para o crescimento e desenvolvimento da pro-dução orgânica de hortaliças no Brasil.

    José Amauri Buso

    Chefe-Geral da Embrapa Hortaliças

  • Sumário

    Introdução ..................................................................... 15

    1 Princípios Norteadores .................................................. 17

    2 Legislação e Certificação ............................................... 29

    3 Organização da Propriedade ......................................... 43

    4 Propagação de Plantas................................................... 61

    5 Manejo do Solo ............................................................. 79

    6 Adubação Verde ............................................................ 99

    7 Adubação Orgânica .................................................... 113

    8 Manejo da Água .......................................................... 129

    9 Manejo de Insetos-Praga e Artrópodes ......................... 145

    10 Manejo de Doenças .................................................... 159

    11 Plantas Espontâneas e Solarização ............................... 179

    12 Pós-Colheita ................................................................ 199

    13 Qualidade ................................................................... 213

    14 Mercado e Comercialização ........................................ 227

    15 Custos de Produção ..................................................... 237

    16 Melhoramento Genético.............................................. 247

    17 Produção de Sementes ................................................ 263

    18 Assistência Técnica ..................................................... 275

    19 Extensão Rural ............................................................. 285

    20 Fontes de Informação .................................................. 295

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    Introdução

    A produção orgânica de hortaliças é um dos temas maisdemandados atualmente pela sociedade brasileira. Esse interessecrescente é uma conseqüência direta da exigência por parte dosconsumidores por alimentos mais saudáveis, produzidos em umsistema que respeite o meio ambiente e que seja socialmente justo.Até bem pouco tempo atrás, hortaliças produzidas no sistemaorgânico eram uma raridade no mercado, oferecidas em pequenasfeiras ou comercializadas nas sedes de associações de agriculturaorgânica, por preços bem mais elevados em relação às hortaliçasproduzidas no sistema convencional.

    Hoje em dia, as hortaliças produzidas no sistema orgânicosão facilmente encontradas nas gôndolas dos supermercados e emoutros pontos de venda do varejo das médias e grandes cidadesbrasileiras e correspondem a 60 % do volume de produtos orgânicos,um mercado que movimenta anualmente US$ 300 milhões em nossopaís.

    O livro Produção Orgânica de Hortaliças é uma resposta daEmbrapa à grande demanda por informações, palestras e cursosnessa área pelos diferentes segmentos dessa cadeia produtiva. Estelivro é a obra mais atualizada sobre o tema publicado no Brasil, eincorpora a experiência da equipe de pesquisadores de váriasUnidades da Embrapa e de outras importantes instituições brasileiras.A obra pretende ser uma fonte constante de consulta para todos osinteressados no tema, principalmente os produtores de hortaliçasbrasileiros. Os distintos temas relativos ao sistema orgânico deprodução de hortaliças foram divididos em 20 capítulos, seguindo-se o modelo de perguntas e respostas, que tornam o tema mais fácilde ser compreendido pelos leitores. As dúvidas mais freqüentesdos produtores sobre aspectos básicos de produção, comopropagação de plantas, manejo do solo, adubação verde e orgânica,manejo da água, doenças, insetos-praga e artrópodes, são abordadas

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    de forma objetiva, com as informações disponíveis atualmente.Como a agricultura orgânica de hortaliças é um assunto diferenciadonesta série de livros, também foram abordados outros temas, comoprincípios norteadores, legislação e certificação, assistência técnica,extensão rural e fontes de informação, entre outros, que são defundamental importância para aqueles que pretendem conhecercom mais profundidade esse importante ramo.

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    Tereza Cristina de Oliveira SaminêzRogério Pereira Dias

    Fabiana Góes de Almeida NobreJorge Ricardo de Almeida Gonçalves

    Roberto Guimarães Habib Mattar

    1 Princípios Norteadores

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    O que é agroecologia?

    Agroecologia é a ciência que apresenta uma série deprincípios e metodologias para estudar, analisar, dirigir, desenhar eavaliar sistemas de produção de base ecológica (agroecossistemas),mas não é uma prática agrícola ou um sistema de produção. É umanova abordagem que integra os conhecimentos científicos(agronômicos, veterinários, zootécnicos, ecológicos, sociais,econômicos e antropológicos) aos conhecimentos populares paraa compreensão, avaliação e implementação de sistemas agrícolascom vista à sustentabilidade.

    Qual a relação entre agroecologia e agricultura orgânica?

    Em termos simples, agroecologia é a ciência que norteia ossistemas orgânicos de produção, ao passo que a agricultura orgânicaé a aplicação prática dos conhecimentos gerados pela agroecologiae abrange todas as linhas de base ecológica, como biodinâmica,natural, conservacionistas.

    Como se pode definir a agricultura orgânica?

    A agricultura orgânica surgiu de 1925 a 1930 com os trabalhosdo inglês Albert Howard, que ressaltam a importância da matériaorgânica nos processos produtivos e mostram que o solo não deveser entendido apenas como um conjunto de substâncias, tendênciaproveniente da química analítica, pois nele ocorre uma série deprocessos vivos e dinâmicos essenciais à saúde das plantas (“solovivo”). Em 1940, Jerome Irving Rodale difundiu a agriculturaorgânica nos EUA. A base da agricultura orgânica é o manejo dosolo com o uso da compostagem em pilhas, de plantas de raízesprofundas, capazes de explorar as reservas minerais do subsolo, eda atuação de micorrizas na produtividade e “saúde das culturas”.

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    Como surgiu o termo ‘agricultura orgânica’ usado hoje ?

    Na década de 1920 surgiram, quase que simultaneamente,alguns movimentos contrários à adubação química, que valorizavamo uso da matéria orgânica e de outras práticas culturais favoráveisaos processos biológicos. Esses movimentos podem ser agrupadosem quatro grandes vertentes: a agricultura biodinâmica, a orgânica,a biológica e a natural. Com o passar do tempo surgiram outrasdesignações de uso restrito para as quatro vertentes citadas, comométodo Lemaire-Boucher, permacultura, ecológica, ecologicamenteapropriada, regenerativa, agricultura poupadora de insumos,renovável. Na década de 1970, o conjunto dessas vertentes passariaa ser chamado de agricultura alternativa e, logo depois, o termoagricultura orgânica passou a ser comumente usado com o sentidode agricultura alternativa.

    Como a legislação brasileira define a agricultura orgânica?

    O texto da Lei no 10.831, de 23/12/03, considera como sistemaorgânico de produção agropecuária todo aquele em que se adotamtécnicas específicas, mediante a otimização do uso dos recursosnaturais e socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridadecultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a susten-tabilidade econômica e ecológica, a maximização dos benefíciossociais, a minimização da dependência de energia não-renovável,empregando, sempre que possível, métodos culturais, biológicos emecânicos, em contraposição ao uso de materiais sintéticos, aeliminação do uso de organismos geneticamente modificados eradiações ionizantes, em qualquer fase do processo de produção,processamento, armazenamento, distribuição e comercialização,e a proteção do meio ambiente. O conceito de sistema orgânico deprodução agropecuária e industrial abrange, portanto, osdenominados: ecológico, biodinâmico, natural, regenerativo,biológico, agroecológico, permacultura e outros que atendam osprincípios estabelecidos na Lei no 10.831.

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    O que é agricultura biodinâmica?

    A agricultura biodinâmica é fruto da antroposofia(“conhecimento do ser humano”), uma filosofia baseada nas idéiasda “ciência espiritual”, fundada em 1924 pelo filósofo austríacoRudolf Steiner. Embora fundamentada nos mesmos princípios etécnicas da agricultura orgânica, a biodinâmica apresentapeculiaridades, como:

    • As questões espirituais ligadas à antroposofia.• O uso de preparados biodinâmicos.• Os calendários astrológicos.• Os testes de cristalização sensitiva e cromatrografia de solos

    e de plantas.• As marcas registradas universais Demeter e Biodyn.• O equilíbrio e harmonia entre cinco elementos básicos:

    terra, plantas, animais, influências cósmicas e o homem.

    O que é agricultura biológica?

    A agricultura biológica surgiu em 1941 com os trabalhos dosuíço Hans Peter Muller. Em 1960, o médico alemão Hans PeterRush sistematizou e difundiu as propostas de Muller. A compostagemna superfície do solo e o teste microbiológico de Rush para aavaliação da fertilidade do solo são particularidades desse método,cujo princípio fundamental é o ciclo das bactérias formadoras deácido lático e de nucleoproteínas. A partir de 1960, as atividadesda agricultura biológica foram introduzidas na França pelo mé-todo Lemaire-Boucher, também chamado de agrobiológico. A pe-cualiridade desse método é o uso do pó de uma alga marinha,Lithothamne calcareum, rica em micronutrientes, necessários àsculturas.

    O que é agricultura natural?

    Em 1935, o japonês Mokiti Okada criou uma religião que

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    tinha como um dos seus alicerces a agricultura natural, cujoprincípio é o respeito das leis da natureza pelas atividades agrícolas.Praticamente na mesma época, em 1938, Masanobu Fukuokachegava a conclusões muito semelhantes às de Okada. As práticasagrícolas mais recomendadas são a rotação de culturas e o uso deadubos verdes, compostos e cobertura morta sobre o solo.A agricultura natural é bastante reticente em relação ao uso dematéria orgânica de origem animal.

    O que é agricultura regenerativa?

    É o nome pelo qual a agricultura orgânica ficou conhecidanos EUA, na década de 1930. Esse modelo reforça a busca daindependência do agricultor pela maximização do uso dos recursosencontrados e criados na própria unidade de produção agrícolaem oposição à busca de recursos externos.

    O que é permacultura?

    Permacultura é um método surgido na Austrália, no final dadécada de 1970, desenvolvido por Bill Mollison, que visa criaragroecossistemas sustentáveis mediante a simulação dosecossistemas naturais e coloca as culturas perenes como elementocentral de sua proposta. É um sistema evolutivo integrado deespécies animais e vegetais perenes, em que se destacam as árvoresúteis ao homem. A principal técnica aplicada é o cultivo alternadode gramíneas e leguminosas, e a manutenção de palha comocobertura do solo.

    Quais os princípios dos sistemasorgânicos de produção?

    Os princípios dos sistemas orgânicos de produção são:• Contribuição da rede de produção orgânica ao

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    desenvolvimento local, social e econômico sustentável.• Manutenção de esforços contínuos da rede de produção

    orgânica no cumprimento da legislação ambiental etrabalhista pertinentes na unidade de produção, consideradaem sua totalidade.

    • Relações de trabalho baseadas no tratamento com justiça,dignidade e eqüidade, independentemente das formas decontrato de trabalho.

    • Incentivo à integração da rede de produção orgânica e àregionalização da produção e comércio dos produtos,estimulando a relação direta entre o produtor e o con-sumidor final.

    • Produção e consumo responsáveis, comércio justo esolidário baseados em procedimentos éticos.

    • Desenvolvimento de sistemas agropecuários baseados emrecursos renováveis e organizados localmente.

    • Inclusão de práticas sustentáveis em todo o seu processo,desde a escolha do produto a ser cultivado até sua colocaçãono mercado, incluindo o manejo dos sistemas de produçãoe dos resíduos gerados.

    • Oferta de produtos saudáveis, isentos de contaminantesoriundos do emprego intencional de produtos e processosque possam gerá-los e que ponham em risco a saúde doprodutor, do trabalhador ou do consumidor, e o meioambiente.

    • Preservação da diversidade biológica dos ecossistemasnaturais, a recomposição ou incremento da diversidadebiológica dos ecossistemas modificados em que se insere osistema de produção, com especial atenção às espéciesameaçadas de extinção, à diversificação da paisagem e àprodução vegetal.

    • Uso de boas práticas de manuseio e de processamento como propósito de manter a integridade orgânica e as qualidadesvitais do produto em todas as etapas.

    • Adoção de práticas na unidade de produção que con-

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    templem o uso saudável do solo, da água e do ar de modoa reduzir ao mínimo todas as formas de contaminação edesperdício desses elementos.

    • Utilização de práticas de manejo produtivo que preservemas condições de bem-estar dos animais. O manejo produtivodeve assegurar condições que permitam aos animais viverlivres de dor, sofrimento, angústia, em um ambiente emque possam comportar-se como se estivessem em seu hábitatoriginal, compreendendo movimentação, territorialidade,descanso e ritual reprodutivo. A nutrição dos animais deveassegurar alimentação balanceada, correspondente à fisi-ologia e comportamento de cada raça.

    • Incremento dos meios necessários ao desenvolvimento eequilíbrio da atividade biológica do solo.

    • Emprego de produtos e processos que mantenham ouincrementem a fertilidade do solo em longo prazo.

    • Reciclagem de resíduos de origem orgânica, reduzindo aomínimo o emprego de recursos não-renováveis.

    • Manutenção do equilíbrio no balanço energético doprocesso produtivo.

    • Conversão progressiva de toda a unidade de produção parao sistema orgânico.

    O que é a teoria da trofobiose?

    De acordo com ateoria da trofobiose, asplantas desequilibradasficam mais suscetíveisao ataque de pragas(fungos, bactérias, in-

    setos, nematóides e outros). Esse desequilíbrio pode ser provocadopor alterações fisiológicas, principalmente na composição da seivavegetal, em decorrência de excesso ou falta de fatores nutricionais,de intoxicações químicas, do uso exagerado de produtos químicos

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    sintéticos e de estresse hídrico, provocado por excesso ou falta deágua. As pragas não possuem a capacidade de decompor eaproveitar substâncias complexas e insolúveis, mas são capazesde formá-las a partir de substâncias simples e solúveis. Assim, oestado bioquímico das plantas e a presença ou ausência desubstâncias simples e solúveis essenciais à sobrevivência das pragasé que determinam seu estabelecimento ou não e o aparecimentodos sintomas de ataque. Como as moléculas simples e solúveisestão presentes nas plantas desequilibradas, as desordens fisiológicastornam-nas mais suscetíveis ao ataque das pragas. Como exemplospodem-se citar o uso de agrotóxicos, que leva à inibição da for-mação de substâncias complexas e à carência de micronutrientesnas plantas, que inibe a formação de substâncias complexas, e ouso exagerado de adubos nitrogenados solúveis, que leva à pro-dução de substâncias mais simples, como os aminoácidos.

    O que é equilíbrio ecológico?

    Equilíbrio ecológico é o estado ou condição de um ambientenatural, ou manejado pelo homem, em que ocorrem relaçõesharmoniosas entre os organismos vivos e entre estes e o meioambiente, ao longo do tempo. É uma condição fundamental para asustentabilidade dos sistemas orgânicos de produção, no tempo eno espaço.

    O que é diversidade biológica ou biodiversidade?

    A diversidade biológica, ou biodiversidade, compreende todasas formas de vida do planeta (animais, plantas e microorganismos),suas diferentes relações e funções e os diversos ambientes formadospor eles. É responsável pela manutenção e recuperação do equilíbrioe da estabilidade dos ambientes naturais e manejados pelo homem.Proporciona o aumento da freqüência de reprodução, da taxa decrescimento, do tamanho e da diversidade de organismos vivosnum dado espaço e o conseqüente surgimento e manutenção de

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    espécies que sustentam outras formas de vida e modificam oambiente, tornando-o apropriado e seguro para a vida.

    Qual a relação e a importância da biodiversidadepara a agricultura orgânica?

    Um dos princípios da produção orgânica é a preservação eampliação da biodiversidade. A restituição da biodiversidade vegetalpermite o restabelecimento de inúmeras interações entre solo,plantas e animais, resultando em efeitos benéficos para o agroe-cossistema. Entre esses efeitos podem-se citar:

    • A variedade na dieta alimentar e de produtos para omercado.

    • O uso eficaz e a conservação do solo e da água, com aproteção da cobertura vegetal contínua, do manejo damatéria orgânica e implantação de quebra-ventos.

    • A otimização na utilização de recursos locais.• O controle biológico natural.

    Como são tratados os aspectos sociais e econômicosda produção na agricultura orgânica?

    A agricultura orgânica visa ao desenvolvimento de sistemasagropecuários sustentáveis organizados localmente, levando emconsideração os contextos culturais, sociais e econômicos. É ummodelo de produção ambientalmente correto, socialmente justo eeconomicamente viável em pequena, média e grande escala, quevisa otimizar o processo produtivo em vez de maximizar a pro-dutividade. A agricultura orgânica incentiva a integração da cadeiaprodutiva, a regionalização da produção e do comércio de produtos,a relação direta entre produtor e consumidor final, o consumoresponsável, o comércio justo e solidário, e relações de trabalhobaseadas no tratamento com justiça, dignidade e eqüidade,independentemente das formas de contrato de trabalho.

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    O que são as boas práticas daprodução orgânica vegetal?

    As boas práticas da produção orgânica vegetal sãoprocedimentos orientadores, não obrigatórios, a serem adotadosno manejo dos agroecossistemas, e elaborados com a finalidade deserem incorporados, em médio e longo prazos, nos regulamentostécnicos da produção orgânica.

    Quais as boas práticas na diversificaçãoda paisagem e na produção vegetal?

    Os sistemas orgânicos deprodução agropecuária devemassegurar a preservação da di-versidade biológica dos ecossis-temas naturais e modificados emque se insere o sistema de produ-ção. As práticas recomendadassão:

    • Adoção de rotação de culturas diversas e versáteis queincluam adubos verdes, leguminosas e plantas de raízesprofundas, ou outras práticas promotoras de diversidade.

    • Diversificação entre e dentro das espécies cultivadas.• Utilização de cordões de contorno.• Promoção da biodiversidade vegetal e animal em áreas em

    que esteja cultivada uma só espécie vegetal, com o plantiode várias espécies de plantas, preferencialmente árvoresnativas, ou da implantação de faixas de vegetaçãointercaladas à cultura principal, criando corredoresecológicos.

    • Cobertura apropriada do solo com espécies diversas pelomaior período possível.

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    Quais as boas práticas no manejo orgânicoe na conservação do solo e água?

    A unidade produtora deve destinar áreas apropriadas cujomanejo respeite o hábitat de espécies silvestres, preserve a qualidadedas águas e a saúde do solo. As práticas recomendadas são:

    • Adoção de medidas para prevenir a erosão, a compactação,a salinização e outras formas de degradação do solo.

    • Minimização das perdas de solo.• Utilização de matéria orgânica.• Planejamento de sistemas que utilizem os recursos hídricos

    de forma responsável e apropriada ao clima e à geografialocal.

    • Planejamento e manejo de sistemas de irrigação con-siderando as especificidades de cada cultura.

    • Manutenção e preservação de nascentes e mananciaishídricos.

    • Utilização de quebra-ventos.• Integração da produção animal e vegetal.• Implantação de sistemas agroflorestais.

    Quais as boas práticas para a fertilidadedo solo e a fertilização?

    A nutrição de plantas deve fundamentar-se nos recursos dosolo, e a base para o programa de adubação deve ser o materialbiodegradável produzido nas unidades de produção orgânicas.O manejo da adubação deve minimizar as perdas de nutrientes,assim como o acúmulo de metais pesados e outros poluentes.Os insumos, em seu processo de obtenção, utilização e arma-zenamento, não devem comprometer a estabilidade do hábitatnatural, a manutenção de quaisquer espécies presentes na área decultivo ou não representar ameaça ao meio ambiente ou à saúdehumana.

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    Quais as boas práticas no manejo de insetos-praga?

    Os sistemas orgânicos de produção devem promover aestruturação das culturas em ecossistemas equilibrados visando àmaior resistência a pragas e à promoção da saúde do organismoagrícola. O uso de produtos e processos para controle de organismospotencialmente danosos às culturas deve preservar o desen-volvimento natural das plantas, a sustentabilidade ambiental, asaúde do agricultor e do consumidor final, inclusive em sua fase dearmazenamento.

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    Tereza Cristina de Oliveira SaminêzRogério Pereira Dias

    Roberto Guimarães Habib MattarFabiana Góes de Almeida Nobre

    Jorge Ricardo de Almeida Gonçalves

    2 Legislação e Certificação

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    Por que é importante uma legislaçãosobre a agricultura orgânica?

    Porque a legislação estabelece um conjunto de normas eprocedimentos a serem cumpridos e observados por todos queintegram a rede de produção orgânica. Além disso, estabelecelegalmente conceitos, definições e princípios relacionados àagricultura orgânica.

    Qual a legislação brasileira vigentesobre agricultura orgânica?

    A Lei no 10.831 de 23/12/03, as Instruções Normativas no 007e no 016, do Ministério da Agricultura, publicadas em 17/5/99 e16/6/04, respectivamente, e a Portaria no 158, do Ministério daAgricultura, publicada em 8/7/04. A Lei no 10.831 encontra-se emfase de regulamentação. A regulamentação ocorrerá na forma deDecreto e de atos normativos complementares, e, no ato dapublicação da regulamentação e dos atos complementares, asInstruções Normativas no 007 e no 016 e a Portaria no 158 perderãoa validade. O acesso a essa legislação está disponível no sítio no link do Sistema de Legislação AgrícolaFederal (Sislegis) ou no link Agricultura Orgânica, na parte delegislação.

    A Instrução Normativa no 007, do Ministério daAgricultura, publicada em 17/5/99, dispõe sobre quê?

    A Instrução Normativa no 007 (IN007) foi o primeiro regu-lamento técnico brasileiro e estabelece as normas de produção,tipificação, processamento, embalagem, distribuição, identificaçãoe de certificação da qualidade para os produtos orgânicos de origemvegetal e animal. Abrange tanto os produtos denominados orgânicoscomo os ecológicos, biodinâmicos, naturais, sustentáveis, rege-nerativos, biológicos, agroecológicos e da permacultura. Estará emvigor até que a regulamentação da Lei no 10.831 seja publicada.

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    A Lei no 10.831, do Ministério da Agricultura,publicada em 23/12/03, dispõe sobre quê?

    A Lei no 10.831 é o principal marco legal da agricultura or-gânica brasileira, que estabelece critérios para a comercializaçãode produtos, define responsabilidades pela qualidade orgânica,pelos procedimentos relativos à fiscalização, à aplicação de san-ções, ao registro de insumos e à adoção de medidas sanitárias efitossanitárias que não comprometam a qualidade orgânica dosprodutos.

    A Instrução Normativa no 016, do Ministério daAgricultura, publicada em 11/6/04, dispõe sobre quê?

    Estabelece os procedimentos a serem adotados até que seconcluam os trabalhos de regulamentação da Lei no 10.831, pararegistro e renovação de registro de matérias-primas e de produtosorgânicos de origem animal e vegetal, no Ministério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento (Mapa), com base na declaração dofornecedor quanto ao cumprimento dos requisitos legais esta-belecidos para produção orgânica. Os registros efetuados pela IN016terão validade até o prazo que vier a ser estabelecido pela regula-mentação da Lei no 10.831.

    A Portaria no 158, do Ministério da Agricultura,publicada em 8/7/04, dispõe sobre quê?

    Determina que o Programa de Desenvolvimento da AgriculturaOrgânica (Pro-Orgânico), nos assuntos relativos à sua execução,seja assessorado pela Comissão Nacional da Produção Orgânica(CNPOrg) e pelas Comissões da Produção Orgânica nas Unidadesda Federação (CPOrg-UF). Essa portaria define a composição e ascompetências dessas comissões e vigorará até a publicação daregulamentação da Lei no 10.831, que contará com uma Instrução

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    Normativa exclusiva para regulamentar sua estrutura, composiçãoe suas atribuições.

    A lei brasileira sobre a produção orgânica e suaregulamentação são parecidas com as de outros países?

    Como vários países do mundo começaram a criar legislaçõesespecíficas para os produtos orgânicos e como isso poderia resultarem barreiras para o comércio internacional, foi aprovada umaDiretriz Internacional voltada a orientar os países em seus processosde regulamentação. Por essa razão, a legislação brasileira se parececom a de vários países, uma vez que foi feita com base nessesregulamentos, porém sem deixar de levar em conta as parti-cularidades brasileiras.

    Qual a diferença entre normas eregulamentos da produção orgânica?

    As normas são procedimentos exigidos pelas entidadesprivadas, de livre e voluntária adesão por parte do produtor, aopasso que os regulamentos são próprios dos órgãos públicos e devemser cumpridos obrigatoriamente. Ambos definem regras para usode produtos e processos em atividades técnicas, socioeconômicase ambientais ligadas aos sistemas orgânicos de produção, previstospela Lei no 10.831. Os procedimentos descritos nas normas devemobrigatoriamente atender às exigências contidas nos regulamentos,podendo ser mais restritivos em determinados aspectos consideradosrelevantes, ou para atenderem a mercados específicos.

    O que é a avaliação da conformidade orgânica?

    A avaliação da conformidade orgânica é o procedimento queinspeciona, avalia, garante e informa se um produto ou processoestá adequado às exigências específicas da produção orgânica.

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    A avaliação da conformidade orgânica é feita pela certificação porauditoria e pelos mecanismos de organização com controle social.

    Quais os mecanismos de organização com controlesocial utilizados na avaliação, garantia e informaçãoda qualidade orgânica?

    Os mecanismos de organização com controle social são ospróprios produtores organizados localmente, garantindo e in-formando diretamente aos consumidores a qualidade orgânica deseus produtos, e os sistemas participativos de avaliação daconformidade orgânica.

    Como ocorre a verificação, garantia e informação daqualidade orgânica no processo de relação direta entreprodutores e consumidores?

    A garantia está na relação direta entre produtores econsumidores, que permite a estes últimos conhecerem e confiaremnos produtores e nos processos produtivos, tendo os produtores omecanismo de organização com controle social, formalizado ounão. Na organização social há co-responsabilidade entre osprodutores envolvidos no processo, podendo a veracidade daqualidade da produção de um produtor ser verificada e garantidapor outro produtor, e ocorrer, também, a reafirmação da idoneidadequando do envolvimento de empresas de assistência técnica decaráter público ou privado.

    Como ocorre a verificação, garantia e informaçãoda qualidade orgânica nos sistemas participativosde avaliação da conformidade orgânica?

    São sistemas socioparticipativos de organização com controlesocial, normalmente em forma de rede, de abrangência regional,

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    com o envolvimento de produtores, técnicos e consumidores.A rede é organizada em núcleos que reúnem grupos de produtores,consumidores e entidades de uma região com característicassemelhantes, projetos e propostas afins, o que facilita a troca deinformações e a participação. Assim, há a participação efetiva detodos os envolvidos no processo e, na maioria das vezes, osconsumidores também fazem visitas de inspeção às propriedades,onde todos assumem a co-responsabilidade pela qualidade dosprodutos da rede, ou seja, responsabilidade social. Portanto, é umsistema solidário de geração de credibilidade. Como exemplos,podem-se citar a pioneira Rede Ecovida de Agroecologia, comabrangência de atuação na Região Sul do País, a Associação deCertificação Sócio-Participativa (ACS), na Região Norte, aCertificação Participativa da Rede Cerrado, na Região Centro-Oeste,e a Rede Xique-Xique de Certificação Participativa, na RegiãoNordeste.

    A Lei n.o 10.831 reconhece os mecanismosde organização com controle social utilizadosna avaliação da conformidade orgânica?

    Os mecanismos de organização com controles sociaisutilizados na avaliação da conformidade orgânica foram reco-nhecidos e garantidos no texto da Lei no 10.831, que garante aisenção de certificação para a comercialização direta de produtosorgânicos por produtores familiares, inseridos em processo deorganização com controle social e cadastrados em órgão fiscalizadorconveniado. Para produtos comercializados de forma indireta oupor produtores não familiares, os produtores terão que certificarseu processo produtivo, pelo sistema participativo de avaliação daconformidade ou pela certificação por auditoria. A regulamentaçãoda Lei no 10.831 prevê também a fiscalização pelos órgãoscompetentes dos mecanismos de organização com controle socialutilizados para a avaliação da conformidade orgânica.

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    O que é certificação por auditoria?

    É a avaliação da conformidade orgânica pela qual a garantiada qualidade orgânica do produto, obtida em determinada unidadede produção, é dada por uma terceira parte, a certificadora, nãoenvolvida no processo produtivo, que é uma instituição queinspeciona as condições técnicas, sociais e ambientais e verifica seestão de acordo com as exigências dos regulamentos específicosda produção orgânica. A certificação é concretizada com aassinatura de contrato entre certificadora e representante legal daunidade de produção, com conseqüente autorização para utilizaçãoda marca da certificadora. A unidade certificada passa a receberinspeções no mínimo duas vezes ao ano, para verificação daconformidade, e o inspetor produz um relatório onde os critériosde conformidade são listados e avaliados. As certificadoras possuemnormas próprias, mas todas seguem o regulamento oficial. A Lei no

    10.831 prevê que as certificadoras devem se credenciar noMinistério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

    O que é um produto orgânico certificado?

    É o produto que possui as características de conformidadeorgânica, podendo usar um selo de qualidade, autorizado pelacertificadora ou pelo sistema socioparticipativo de avaliação daconformidade orgânica.

    O que é o selo de qualidade orgânicade um produto certificado?

    É um selo que identifica os produtos e insumos orgânicos comessa qualidade específica. Após passar por todas as etapas deavaliação da conformidade orgânica, uma unidade de produçãoestá apta a usar esse selo em seus produtos. Cada organismo deavaliação da qualidade orgânica e/ou certificadora possui selopróprio. A Lei no 10.831 prevê a criação de um selo para o sistema

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    brasileiro de avaliação da conformidade orgânica, que será o selooficial do governo brasileiro para os produtos avaliados porentidades (certificadoras e outros organismos de avaliação daconformidade orgânica) credenciadas nos órgão competentes.O produtor pode usar os dois tipos de selo, tanto o da entidadequanto o oficial, sendo este último de uso obrigatório.

    Como solicitar a certificação de produtos orgânicos?

    Depois de adotar as práticas de manejo exigidas pelosregulamentos da produção orgânica, a unidade de produção estáapta a solicitar a certificação, feita por uma entidade que avalia aconformidade orgânica, isto é, que analise todo o processo produtivoe socioambiental da área. É aconselhado solicitar que a certificadoraescolhida faça uma visita de pré-certificação, quando será definidoo período de conversão da unidade produtiva, com base num planode manejo com a forma de implantação das exigências específicasda produção orgânica.

    O que as certificadoras exigem?

    As certificadoras e os demais organismos de avaliação daconformidade orgânica exigem que os processos e produtos uti-lizados no sistema de produção orgânico estejam de acordo comas normas específicas da produção orgânica. O sistema de controleda produção orgânica exige ainda que haja rastreabilidade, isto é,o produto, ao ser comprado no mercado, tem que ser identificadode maneira que se possa chegar à sua origem.

    Todas as certificadoras usam os mesmos critériospara certificar a produção orgânica?

    Não. As certificadoras e os organismos de avaliação daconformidade orgânica podem exigir particularidades no sistemade produção da unidade, de acordo com suas normas específicas.

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    Ao assinar um contrato ou termo de compromisso com determinadaentidade, o produtor deve cumprir as exigências previstas, mas asnormas devem obrigatoriamente atender às exigências contidas nosregulamentos oficiais. Por exemplo: algumas entidades não per-mitem uso de estercos animais na adubação, ao passo que outrasexigem o uso de insumos específicos para que o produto recebauma classificação diferenciada. As normas podem ser solicitadasdiretamente às certificadoras, ou acessadas pela Internet, em seusrespectivos sítios.

    Pode-se mudar de certificadora a qualquer tempo?

    A adesão aos métodos orgânicos de produção é voluntária,mas para que o produto tenha os atributos de qualidade orgânica,o cumprimento das normas específicas de produção é obrigatório.Isso significa que é obrigatória a adesão a um mecanismo deavaliação da conformidade orgânica. O produtor é livre paraescolher o mecanismo de avaliação mais adequado às suas con-dições, portanto a mudança de certificadora é livre, devendo oprodutor ficar alerta para os prazos de vigência dos contratos e/outermos de compromisso com as entidades.

    Outro aspecto a considerar são as exigências específicas decada entidade, cabendo ao produtor decidir pela que melhor seaplica ao seu sistema produtivo e ao mercado. O produtor deveobservar se as entidades certificadoras e/ou outros organismos deavaliação da conformidade orgânica são credenciados pelo Mapa,o que se dará somente após aregulamentação da Lei no 10.831,prevista para o ano de 2007.

    Quanto custa o serviçode certificação?

    A certificação pode ter custodiferente entre as entidades que

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    prestam esse serviço. Na certificação por auditoria, o valor écomposto pela taxa de adesão, pelo custo do serviço de inspeção(semestral ou anual), resultante de diárias e passagens do inspetor edo respectivo relatório de visita. Pode haver variação de custo entrea certificação solicitada, individual ou coletivamente. No caso daavaliação da conformidade orgânica realizada pelo sistemasocioparticipativo, previsto na Lei no 10.831, os custos são assumidospela comunidade de produtores interessada (associação,cooperativa, etc.).

    Quais as vantagens de se ter umproduto orgânico certificado?

    Ao colocar no mercado um produto com selo orgânico, oprodutor pode obter vantagens em relação ao produto convencional,pois cada vez mais o consumidor tende a dar preferência a umproduto cuja qualidade envolva atributos relacionados à saúde, àjustiça social, à conservação e preservação ambientais, como é ocaso do produto orgânico, especialmente quando há preçoscompetitivos. Outra vantagem para o produtor é o aumento dapreferência pela aquisição do produto orgânico pelos mercadosinstitucionais, como as escolas, os hospitais e o programa deAquisições do Governo Federal (AGF), em que o produto orgânicoalcança valorização de cerca de 30 % em relação ao convencional.

    O que é conversão?

    Conversão é o período de tempo mínimo necessário para umaunidade de produção ser considerada apta a receber a classificaçãode “orgânica”, após ter cumprido todas as exigências específicaspara a produção orgânica.

    Como fazer a conversão da área?

    Para fazer a conversão, a unidade de produção deve adotar

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    as técnicas agropecuárias preconizadas nos regulamentos oficiaispara a produção orgânica e procurar se adequar às especificidadesdas normas de produção da certificadora que pretende contratar.Na conversão, não são considerados apenas os aspectos normativos,mas também os biológicos e educativos.

    Quais os aspectos educativos da conversão?

    Os aspectos educativos da conversão correspondem aoaprendizado, por parte dos agricultores e trabalhadores, dosconceitos e técnicas de manejo que viabilizam a agricultura or-gânica. Esse aprendizado compreende etapas que precisam sertrilhadas sucessivamente, para evitar prejuízos no resultado final.

    Quais os aspectos biológicos da conversão?

    É a parte mais técnica da conversão, porque envolve aspectosagronômicos, veterinários, zootécnicos e biológicos, incluindo oreequilíbrio das populações de insetos e das condições do solo, adiferenciação da paisagem e a necessidade de reorganização doconhecimento técnico pelo enfoque da ecologia.

    Qual o tempo necessário para fazera conversão da área pelas leis atuais?

    O período de conversão, previsto na regulamentação da Lei no

    10.831, será variável de acordo com o tipo de exploração e autilização anterior da unidade de produção. Para a produção vegetal,esses períodos serão definidos de acordo com as seguintescondições:

    • Mínimo de 12 meses de manejo orgânico na produçãovegetal de culturas anuais, para que a produção do ciclosubseqüente seja considerada orgânica.

    • Mínimo de 18 meses de manejo orgânico na produçãovegetal de culturas perenes, para que a colheita subseqüente

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    seja considerada orgânica.• Mínimo de 12 meses de manejo orgânico ou pousio na

    produção vegetal de pastagens perenes.

    Qual o tempo necessário para fazer aconversão da área pelas certificadoras?

    As normas de produção da certificadora ou de outrosorganismos de avaliação da conformidade orgânica prevêemperíodos diferentes para o tempo de conversão, dependendo dealguns fatores, como uso anterior da área, produtos químicossintéticos utilizados no sistema convencional antes da conversão,a situação ecológica e social atual (adequação às exigênciasambientais e cumprimento da legislação trabalhista) e o temponecessário para o treinamento dos colaboradores nas práticasecológicas.

    Como saber se a área já podeser considerada orgânica?

    Após implementar o plano de manejo da unidade deprodução, cumprir os prazos exigidos para o período de conversão,receber a visita do organismo de avaliação da conformidadeorgânica, a certificadora ou outro organismo de avaliação daconformidade orgânica avaliará o pedido de certificação com baseno relatório de inspeção (visita à unidade produtiva). A avaliaçãoda solicitação de certificação é realizada por um conselho decertificação, que aprova as condições técnicas, ambientais e sociaisda unidade de produção.

    Quais as principais dificuldadesno período de conversão?

    Com base nas dimensões da sustentabilidade (econômica,social, técnica, política e ecológica), pode-se considerar que as

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    unidades de produção no período de conversão apresentamdesequilíbrios, principalmente nas dimensões econômica e técnica.

    Em relação à dimensão técnica, a menor produtividadeacontece no período de conversão para algumas situações e culturas,em que o manejo de pragas, doenças e invasoras é mais difícil,havendo uma tendência de equilíbrio ecológico e crescimento daprodutividade orgânica com o passar dos anos.

    De modo inverso, em projetos de agricultores pobres e emregiões marginais, onde se pratica agricultura tradicional, observa-se que a conversão pode ser conduzida com ganhos no rendimentodas culturas. Trata-se, nesse caso, da intensificação do uso de práticasorgânicas. Contudo, em sistemas intensivos no uso de insumosquímicos e com rendimentos físicos muito elevados, pode-se esperaruma baixa na produção. De modo geral, a agricultura orgânica émenos eficiente em termos de produtividade, mas cabe salientarque os agricultores orgânicos não estão preocupados com aprodutividade em si, mas com o rendimento do sistema em seuconjunto. Por isso, uma produção por área menor do que a dosistema convencional não significa um menor desempenho globalda unidade de produção.

    Quais os impactos do período de conversão nosaspectos econômicos e ecológicos da propriedade?

    Na dimensão econômica, os maiores riscos de abandonar aatividade, em curto prazo, ocorrem na fase de conversão, daí anecessidade de financiamento e incentivos específicos a esseperíodo, para que os produtores permaneçam na atividade, até quea fase de conversão termine e haja condições de o agricultorcomercializar sua produção como orgânica. No período deconversão também ocorrem deficiências na integração de atividadescomo lavoura, pecuária e floresta, acarretando maior dependênciade insumos externos, o que dificulta o equilíbrio dos fatoreseconômicos por causa do aumento de custos com insumos.

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    Na dimensão ecológica, analisando os aspectos internos dosistema, percebe-se que as unidades com maior dificuldade noprocesso de conversão são as que apresentam os recursos naturaismais degradados, pouca diversificação e falta de integração dasatividades. Diversos estudos têm demonstrado que a agriculturaorgânica é uma alternativa sustentável, demonstrando que, à medidaque ocorre a consolidação do sistema orgânico de produção, existea tendência de equilíbrio entre as diferentes dimensões da susten-tabilidade. Além disso, a conversão da agricultura convencionalpara a agricultura orgânica, apesar de ser uma etapa delicada nosprimeiros 2 anos, proporciona com o passar do tempo um impactofavorável ao agricultor, ao consumidor e ao meio ambiente.

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    3Organizaçãoda Propriedade

    Francisco Vilela ResendeMariane Carvalho Vidal

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    Por que na agricultura orgânica a propriedadeé considerada como um todo, ao contrário dosistema convencional?

    Na agricultura orgânica, a propriedade rural é consideradaum agroecossistema, que se traduz num sistema agrícola baseadona biodiversidade do local. Depende das interações e dos ciclosbiológicos das espécies vegetais e animais e da atividade biológicado solo, do uso mínimo de produtos externos à propriedade e domanejo de práticas que restauram, mantêm e promovem a harmoniaecológica do sistema. Portanto, o sucesso e a sustentabilidade dossistemas orgânicos dependem da integração de todos os recursosinternos da propriedade, buscando-se o equilíbrio entre os recursosnaturais, as plantas cultivadas, a criação de animais e o própriohomem. Ao passo que no sistema convencional uma lavoura étratada de forma individualizada e com a maioria dos insumos dealto custo energético vindos de fora da propriedade, no sistemaorgânico procura-se explorar ao máximo os fatores inerentes aoambiente e os recursos internos à propriedade.

    Por que a propriedade orgânica éconsiderada um “organismo agrícola”?

    O termo agricultura orgânica está associado mais ao conceitode organismo agrícola do que ao uso de adubação orgânica, comoacreditam muitas pessoas pouco familiarizadas com o tema. Nesseorganismo modificado pela ação do homem, ocorrem complexasinterações entre os seres vivos e os elementos naturais (solo,nutrientes, ar, temperatura, água, etc.), e a obtenção do produto(colheita) depende da manutenção do equilíbrio desse sistema que,por sua vez, depende do papel individual de cada um desseselementos e de suas relações. Esse organismo também deve sersaudável, além do ponto de vista agronômico, nos aspectoseconômico, social e ecológico. Muitas correntes da agriculturaorgânica advogam que devem ser estabelecidas ligações entre todasas formas de matéria e de energia presentes na propriedade para se

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    aproximar do equilíbrio do ambiente natural. Prioriza-se a utilizaçãodos elementos orgânicos produzidos na propriedade agrícola, poisnela todas as atividades devem estar de alguma forma integradas.Esse modelo de conservação apoiou-se nos movimentos depreservação da natureza associados ao modelo de exploraçãoagrícola inglesa e no conceito de exaustão do solo preconizadopelos cientistas.

    Por que o sistema orgânico de produçãose contrapõe à monocultura?

    O uso crescente dos adubos químicos e agrotóxicos pos-sibilitou a simplificação dos sistemas agrícolas, de forma que apenasuma cultura pudesse ser cultivada em determinada região paraatender as necessidades locais ou as exigências de mercado. Essemodelo permitiu o aparecimento de pragas, doenças, plantas in-vasoras especializadas e uma série de outros problemas peculiarespara essas culturas. A manutenção da fertilidade do solo e a sanidadedos cultivos depende de rotações de culturas, da reciclagem debiomassa e, principalmente, da diversidade biológica. Essadiversidade é o principal pilar da agricultura orgânica a contribuirpara a manutenção do equilíbrio do sistema e, conseqüentemente,do solo e da cultura. Portanto, o equilíbrio biológico e ambiental,bem como a fertilidade do solo, não podem ser mantidos commonoculturas.

    Nos cultivos especializados, onde prevalece apenas umacultura de interesse econômico, deve-se estabelecer algum grau dediversificação, que é conseguido com a inserção de áreas de refúgioe/ou cordões de contorno com espécies variadas, consórcios comadubos verdes e/ou plantas repelentes/atrativas e com o manejodas plantas espontâneas.

    Como é feita a diversificação do sistema?

    O produtor orgânico deve se preocupar prioritariamente com

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    a diversificação da paisagem geral de sua propriedade de forma arestabelecer o equilíbrio entre todos os seres vivos da cadeiaalimentar, desde microrganismos até pequenos animais, pássaros eoutros predadores. A introdução de espécies vegetais com múltiplasfunções no sistema produtivo é a base do (re)estabelecimento doequilíbrio da propriedade. Nesse contexto, incluem-se espécies deinteresse econômico, arbóreas, atrativas e ornamentais. Deve-seatentar também para o papel fundamental das espécies espontâneasno processo de diversificação. Dessa forma, procura-se atingir asustentabilidade da unidade produtiva no tempo e no espaço pelaincorporação de características de ecossistemas naturais, como:

    • Reciclagem de nutrientes.• Uso de fontes renováveis de energia.• Manutenção das relações biológicas que ocorrem

    naturalmente.• Uso de materiais de origem natural, evitando os oriundos

    de fora do sistema.• Estabelecimento de padrões de cultivos apropriados com

    espécies de plantas agrícolas e animais adaptados àscondições ecológicas da propriedade.

    • Ênfase na conservação do solo, água, energia e recursosbiológicos.

    Como se deve planejar um sistemaorgânico de produção de hortaliças?

    O planejamento do sistema orgânico exige que a propriedadeseja considerada no todo, com uma visão integrada do manejo eestruturas do ecossistema rompendo as barreiras disciplinares, umavez que a propriedade é entendida como um organismo vivo,dinâmico e sistêmico. O ideal é que o número máximo de aspectosdo funcionamento seja previsto nesse planejamento. É importanteconsiderar dois aspectos fundamentais: a fonte de biomassa paraalimentação do sistema e a fonte de água de qualidade parairrigação.

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    A fonte de biomassa determinará o tipo de infra-estrutura dearmazenagem e o método de processamento e de aplicação domaterial fertilizante. A localização dessa infra-estrutura, bem comodas áreas de compostagem, deve facilitar a distribuição dos fer-tilizantes nas áreas de cultivo. Deve-se considerar que, no sistemaorgânico, a exigência de mão-de-obra para preparo e distribuiçãode adubo é alta, assim como a quantidade de fertilizante necessáriapor área também é muito maior que no sistema convencional.

    Com relação à água de irrigação, os contaminantes químicosou biológicos não podem estar acima dos limites de segurança.Caso a água disponível não se enquadre nas normas de qualidade,o que é freqüente, será necessário tratá-la ou encontrar uma fontealternativa.

    O calendário de plantio também deveser feito durante o planejamento?

    Sim. A horta é um espaçode produção intensiva detrabalho. Por isso, é indis-pensável planejar as atividadesde acordo com a mão-de-obradisponível. É muito freqüenteque, por falhas de planeja-mento, falte mão-de-obra parase atingir as metas previstas.A inclusão dos trabalhadoresno planejamento do calendário

    contribui para seu sucesso, pois proporciona uma visão global dahorta.

    O calendário de semeadura e a seqüência de culturas emcada talhão da horta e/ou canteiro precisa ser bem compreendido.A identificação dos talhões e faixas de cultivo é fundamental parao gerenciamento dos cultivos, facilitando a implantação deesquemas de rotação de culturas, cultivos seqüenciais, consórcios

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    e estabelecimento de áreas de pousio ou para adubação verde.Cartazes e lousa para anotações das tarefas a serem executadaspodem ajudar. A finalidade desses procedimentos é criar uma rotinaque facilite o andamento da produção. O êxito na produçãoorgânica de hortaliças depende de um controle de todos oscomponentes do sistema de produção ainda mais eficiente que naprodução convencional. Por esses motivos, observa-se que ossistemas orgânicos estão avançando bastante no componenteadministrativo das propriedades.

    Como deve ser dividida a área de cultivo emum sistema orgânico de produção de hortaliças?

    A produção orgânica de hortaliças exige a reformulação daorganização da propriedade, que diverge bastante da disposiçãoadotada no sistema convencional. O aspecto mais importante é asubdivisão da propriedade em talhões que, preferencialmente, nãoultrapassem 1.000 m2, com elementos que promovam ocondicionamento climático das culturas e a preservação dabiodiversidade.

    O uso intensivo das áreas associado a ciclos sucessivos decultivo exige maior atenção dos produtores de hortaliças naconstrução e proteção dos talhões. O talhão possui papel fun-damental na administração da propriedade e gerenciamento dasatividades de produção. A disposição dos talhões e da infra-estruturana propriedade deve reduzir as necessidades de transporte e demão-de-obra para execução dos trabalhos, pois na produção dehortaliças há grande movimentação de mão de obra e insumos, oque exige eficiência no funcionamento do sistema, visando facilitara administração e reduzir os custos da atividade.

    A delimitação dos espaços físicos da horta é feita porcarreadores principais e secundários. O dimensionamento doscarreadores deve ser realizado de forma a perder o mínimo possívelde área produtiva. Os caminhos secundários devem apresentardimensões de 30 cm de largura, no máximo, para permitir apenas

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    o trânsito de pessoas e carrinhos de mão. Os carreadores principaisdevem ser dimensionados com 1,5 m a 2 m, permitindo a entradade máquinas e equipamentos para transporte de insumos eescoamento da produção.

    O que é condicionamento microclimático?

    As condições climáticas interferem de maneira decisiva naprodução de hortaliças. Extremos de temperatura, umidade eexcesso de ventos podem comprometer a produção da maioria dashortaliças. O condicionamento climático é conseguido com adelimitação dos talhões de cultivo por cordões de contorno oucercas vivas, uso de cobertura morta de solo com restos de gramínease/ou leguminosas, plantio direto sobre palhadas e plantiosconsorciados. O uso de coberturas vivas com algumas espécies degrama e leguminosas rasteiras, como amendoim forrageiro, tem sidotestado para o cultivo de hortaliças, contribuindo para melhorar oambiente de cultivo e outros benefícios.

    O principal mecanismo utilizado pelo produtor orgânico comofator de controle climático é a cerca viva, que funciona como umquebra-vento, reduzindo o impacto dos ventos frios ou quentes e amovimentação de algumas pragas e doenças, criando umaseqüência de microclimas, com maior ou menor sombreamento,umidade e temperatura, garantindo eficiência na fotossíntese.A cerca viva funciona também como um tampão fitossanitário,dificultando a livre circulação de pragas e inóculos de doençasdentro da propriedade.

    O que são cordões de contorno?

    São faixas de vegetação que circundam a propriedade,permitindo isolamento das áreas de cultivo convencionalcircunvizinhas, e utilizados também para divisão dos talhões decultivo. É um componente fundamental na organização de umapropriedade orgânica voltada para a produção de hortaliças.

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    Apresentam múltiplas finalidades como o funcionamento comobarreiras fitossanitárias, dificultando a livre circulação de pragas edoenças entre propriedades vizinhas e entre os talhões de cultivo;a criação de microclimas mais propícios ao cultivo de hortaliças; aformação de áreas de refúgio e abrigo para inimigos naturais depragas e outros pequenos animais úteis. Resumindo, a instalaçãodessas faixas de vegetação permite a criação de condições climáticasfavoráveis à redução do estresse sofrido pelas plantas e é fun-damental para o manejo fitossanitário da propriedade orgânica.

    Como são formados e que espécies podemser usadas nos cordões de contorno?

    Essas faixas podem ser formadas por uma ou várias espécies,incluindo a própria vegetação natural. Espécies que podem servircomo fontes de biomassa e nutrientes, como capins, leucena,hibiscos, flor do mel (girassol mexicano), espécies fixadoras denitrogênio, como os adubos verdes, espécies atrativas para insetose pequenos animais, e plantas de interesse econômico, visando àcomplementação de renda da atividade principal também podemser utilizadas. É importante preocupar-se com a diversidade doscordões de contorno para garantir que se tornem abrigos debiodiversidade, procurando combinar espécies que atendam aosrequisitos descritos.

    Podem-se usar espécies de interesseeconômico nos cordões de contorno?

    Alguns produtores orgânicos não aceitam ou não podem dispordentro da propriedade de áreas de cultivo com espécies que nãotenham interesse econômico. Dessa forma, aproveitam as áreas doscordões para a introdução de espécies que, além de formaremcordões, possam prover-lhes algum retorno econômico e nãocausem prejuízos à cultura ou às culturas principais. Podem-sedestacar, como exemplo, a banana, o café, o mamão, outras espécies

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    frutíferas, plantas melíferas, condimentares, medicinais eornamentais ou uma combinação dessas espécies.

    Existem outras atividades de interesse para o produtorque podem ser associadas aos cordões de contorno?

    Como a composição do cordão de contorno pode ser variada,o produtor pode utilizar espécies para produzir biomassa visandoà obtenção de compostos orgânicos, espécies com boa capacidadede extração de nutrientes e/ou fixação de nitrogênio que podemser incorporadas como adubo verde nas áreas de cultivo.

    Em propriedades integradas com produção animal, essas áreaspodem contribuir para a produção de alimentos para os animais.Formar os cordões de contorno com espécies com boa capacidadede florescimento, além de funcionar como excelentes áreas derefúgio para predadores e inimigos naturais, atraem abelhas paraprodução de mel. A flor do mel ou girassol mexicano é uma espéciede florescimento constante e abundante praticamente o ano todo eque tem sido bastante associada ao cultivo orgânico de hortaliçascomo cordão de contorno, principalmente nas regiões Centro-Oestee Nordeste do País. Pode-se obter uma associação bastanteinteressante entre essa espécie com apicultura e horticultura. Alémda renda extra proporcionada pela produção de mel, as abelhassão importantes agentes polinizadores de algumas hortaliças.

    Como devem ser os cordões decontorno em regiões de muito vento?

    Dependendo do objetivo do produtor, a composição doscordões de contorno pode variar de acordo com os extratos devegetação possíveis: arbóreo, arbustivo e herbáceo. Em regiões devento forte, o produtor deve optar por extratos mais altos,introduzindo uma faixa de quebra-ventos nos cordões de contornoda propriedade, com vegetação arbórea mais robusta de espéciescomo leucena, grevilia, gliricidia e sansão do campo, por exemplo.

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    Uma vez estabelecido o quebra-vento, associam-se a ele extratosmais baixos com plantas arbustivas e herbáceas, completando-se ocordão de contorno.

    O que são áreas de refúgio?

    São áreas de vegetaçãopara preservação e atração deinimigos naturais de pragas epequenos predadores que au-xiliam no controle de pragas.Essas áreas servem de refúgiopara diversos insetos benéficosque se alimentam de fungos oupara organismos que, sem seus

    inimigos naturais, poderiam aniquilar a plantação. Esses nichos sãoformados pelas reservas de vegetação nativa, pelas faixas de cercasvivas ou cordões de contorno que circundam as áreas de cultivos eas comunidades de plantas invasoras ou espontâneas. As áreas derefúgio garantem a preservação da fauna silvestre e a diversidade éessencial para o equilíbrio de várias espécies, contribuindo muitopara o equilíbrio do sistema como um todo.

    O que são áreas de pousio?

    Como o próprio nome sugere, são áreas que garantem o‘descanso’ do solo, após cultivo intensivo, para reconstituir econservar suas propriedades químicas, físicas e biológicas. As áreasem pousio devem permanecer cobertas com alguma vegetação,que pode ser adubos verdes ou a vegetação natural da área. Essasáreas são muito importantes para garantir a manutenção da vidano solo. O agricultor deve prever esse período no planejamento dahorta, pois para produção de hortaliças, que utiliza intensamenteos recursos do solo, essa prática é fundamental.

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    Qual a importância da rotação de culturas parasistemas orgânicos de produção de hortaliças?

    Um dos aspectos mais importantes do manejo em sistemasorgânicos de produção é a exploração equilibrada do solo, pormeio do emprego de práticas como a alternância de culturas e asucessão vegetal, levando à prática da rotação de culturas nasdiversas unidades de solo de uma propriedade agrícola.

    Deve-se estabelecer uma escala de exigência em adubação emanter o terreno permanentemente coberto. Essas práticas con-jugadas permitem explorar os nutrientes do solo de maneira maisracional, evitando seu esgotamento. Deve-se alternar culturas maisexigentes com culturas menos exigentes em nutrientes (rústicas),que exploram profundidades diferentes do solo pela diferença naestrutura radicular.

    Outro aspecto igualmente importante da rotação, e tambémdo consórcio de hortaliças, é evitar a proliferação e acúmulo dedoenças e pragas, que em um sistema intensivo de cultivo podeocorrer de forma bastante acelerada. Portanto, a rotação de culturasé uma necessidade para a economia de nutrientes da horta e ocontrole de pragas e doenças.

    Como deve ser o manejo das rotações dentrodos talhões ou das áreas de produção de hortaliças?

    A divisão dos talhões em faixas de cultivo auxilia na im-plantação de esquemas de rotação. Nessas faixas, alterna-se o cultivode adubos verdes com diferentes famílias de hortaliças. Nesseesquema, é importante evitar o plantio de espécies da mesma famíliaem sucessão ou nas faixas adjacentes. No caso das hortaliças quese adaptam melhor aos cultivos de inverno, época em que oolericultor obtém maiores rendimentos, deve-se evitar a prática derotação com adubos verdes, permitindo que a área fique in-tegralmente ocupada pelas culturas de interesse econômico. Noverão, reserva-se uma área maior para o plantio de espécies de

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    adubo verde que se adaptam bem ao cultivo nessa estação. Dessaforma, pratica-se a recuperação anual das áreas de produção.

    Outra estratégia importante de manejo é evitar o acúmulo deinóculos de organismos patogênicos, uma vez que as sucessõesprovocam uma quebra do ciclo biológico desses organismos pelaalternância de espécies. Exemplificando, o plantio sucessivo deespécies de solanáceas (tomate, batata, pimentão, etc.) na mesmaárea pode elevar a incidência de patógenos foliares e de solo nessasculturas.

    Qual a regra geral para a boa rotação de culturas?

    Na rotação, o produtor pode utilizar um esquema seguindoas diferentes características de cada grupo de hortaliças: folhosas,raízes/tubérculos e flores/frutos. Como cada espécie se desenvolvede uma forma e tem um sistema radicular próprio e diferenciado,também explora o solo e retira os nutrientes de forma diferenciada.Logo após o preparo e a adubação inicial do solo, deve-se cultivarhortaliças mais exigentes, seguindo-se com espécies cada vez menosexigentes. Assim, o produtor pode planejar o plantio utilizando oesquema de alternar entre esses grupos e deixando sempre umintervalo entre um ciclo para descanso e recuperação do solo(pousio). Durante o pousio, o produtor pode explorar a utilizaçãodos adubos verdes para recomposição e manutenção do solo.

    O que é consorciação/associação de culturas?

    O sistema de consórciocaracteriza-se pelo plantio si-multâneo de duas ou mais cul-turas na mesma área. É uma daspráticas mais importantes para ocultivo de hortaliças no sistemaorgânico, pois abrange aspectostanto ambientais quanto eco-nômicos.

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    A consorciação permite otimizar a produção pelo melhoraproveitamento da área explorando a combinação de espécieseficientes na utilização dos recursos de produção como espaço,nutrientes, água e luz. O consórcio entre espécies de hortaliças estásendo adotado amplamente em áreas de cultivo orgânico em todo oPaís, principalmente por pequenos agricultores orgânicos que buscamnessa técnica uma forma de otimizar o aproveitamento de seusescassos recursos de produção. Assim, procuram maximizar seuslucros, aproveitando melhor a área, os insumos e a mão-de-obra.

    Quais as vantagens da consorciação de culturas?

    A eficiência e as vantagens de um sistema consorciado estãona complementariedade entre as culturas envolvidas. Essa com-plementariedade é maior à medida que se consegue minimizar osefeitos negativos de uma cultura sobre a outra. O consórcio, alémde permitir o uso mais intensivo da área de plantio, confere maiordiversidade biológica e produção por unidade de área, garante rendaextra ao agricultor e proporciona menor impacto ambiental emrelação à monocultura. Para evitar a manutenção de áreas complantio de espécies que não tragam retorno econômico, os produ-tores podem utilizar o consórcio entre a cultura de interesse comer-cial e outra espécie que apresente funções importantes, comoatração de inimigos naturais, repelente de insetos, adubos verdes,etc. Um exemplo clássico dessa associação ocorre entre milho emucuna. O plantio sincronizado dessas espécies permite que afloração da leguminosa coincida com a seca da planta de milho,originando uma palhada bastante rica em nutrientes que pode serutilizada no cultivo de várias hortaliças. O olericultor obtém aindaretorno econômico com a comercialização das espigas de milhoainda verdes.

    Que tipos de consórcio podemser utilizados para hortaliças?

    Embora existam muitas possibilidades de combinação de

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    hortaliças em consórcio, são mais comuns os consórcios em faixase em linhas.

    No consórcio em linha, são intercaladas linhas de cultivo deuma ou mais espécies com a cultura principal. Pode-se consorciaralface e cebolinha, couve e cebola, tomate e coentro, pimentão efeijão guandu anão, tomate e crotalária, entre outras.

    No consórcio em faixas, são intercaladas faixas de cultivo deuma ou mais espécies com a cultura principal. Em alguns casos,essas faixas podem se confundir com os próprios canteiros. Pode-se agrupar as hortaliças companheiras, como cenoura e tomate,batata e repolho, tomate e cebola, cebola e pepino, alface e rúcula,abóbora e chicória, repolho e arruda, entre outras.

    Todas as hortaliças podem ser consorciadas entre si?

    Não. É preciso considerar aspectos como tolerância asombreamento, profundidade do sistema radicular, hábito decrescimento e potencial como hospedeira de pragas e doenças.Deve-se observar também a afinidade entre as culturas, ou seja,observar que espécies se desenvolvem melhor quando associadas.Assim, as plantas são divididas em companheiras e antagonistas.

    Alguns exemplos de plantas antagonistas: abóbora e batata,alface e salsa, cebola e ervilha, tomate e batata, batata e pepino,entre outras. Deve-se evitar a utilização dessas culturas ao mesmotempo no campo, pois uma pode servir de fonte de inóculo (pragase doenças) para a outra cultura e assim desencadear um grandeprejuízo para o produtor. O cultivo associado entre hortaliças eadubos verdes tem sido muito difundido entre os produtoresorgânicos. Os plantios devem ser sincronizados de forma que oadubo verde seja incorporado no momento em que a hortaliçacomeça a produzir. Tem-se observado experiências de sucesso comtomate x guandu, crotalária x berinjela e crotalária x taro (inhame).

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    Qual o objetivo de se associar plantas repelentes e/ouatrativas à cultura principal no sistema orgânico?

    As plantas com sabor e cheiro forte são chamadas atrativasou repelentes, pois possuem substâncias que afastam ou inibem aação de insetos. O cultivo dessas plantas junto com as culturaspode proteger contra o ataque de insetos. Como qualquer estratégiade manejo agroecológico, o uso de tais plantas não deve ser feitoisoladamente, e sim, em conjunto com outras técnicas de controle,sempre buscando a promoção do equilibro ecológico em toda apropriedade agrícola.

    Quais as plantas atrativas e repelentesmais comuns e para que servem?

    As plantas atrativas e repelentes mais comuns são:• Cravo-de-defunto (Tagetes minuta) e/ou cravorana silvestre

    (Tagetes sp.) – Repelente de insetos e nematóides, prin-cipalmente no florescimento. Atua tanto por ação diretacontra as pragas quanto por “disfarce” das culturas por seuforte odor.

    • Cinamomo (Melia azedorach L.) – Ação inseticida. Os frutosdevem ser moídos e seu pó pode ser usado na conservaçãode grãos armazenados.

    • Saboneteira (Sapindus saponaria L.) – Ação inseticida. Parase ter uma idéia de seu poder de ação, apenas seis frutosbastam para preservar 60 kg de grãos armazenados.

    • Quássia ou pau-amargo (Quassia amara) – Ação inseticida,especialmente contra moscas e mosquitos, pelo alto teorde substâncias amargas na casca e na madeira.

    • Mucuna (Mucuna spp.) e crotalária (Crotalaria spp.) – Açãonematicida.

    • Coentro (Coriandrum sativum) – Ação repelente. Tem-seobservado redução significativa de frutos de tomateiroperfurados por insetos quando seu plantio é associado aode coentro.

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    • Arruda (Ruta graveolens) – Ação repelente. Evita a lagartaem folhosas, como o repolho.

    • Manjericão (Oncimum basilicum) – Por causa do forte odore compostos que exala, é um repelente de insetos.

    • Gergelim (Sesamum indicum) – Cordões de contorno comgergelim oferecem excelente proteção contra saúvas e outrasformigas cortadeiras.

    • Purungo ou cabaça (Lagenaria vulgaris) – Atrativo para obesourinho ou vaquinha-verde-amarela (Diabroticaspeciosa). Pode ser plantado como cerca viva ou pode-seutilizar seus frutos cortados e espalhados na lavoura.

    • Tajujá (Cayaponia tayuya) – Atrativa para as vaquinhas.Geralmente, plantas aromáticas, medicinais e condimentares

    são menos atacadas por pragas, constituindo, dessa forma, umaboa opção para compor canteiros na horta, próximo às culturas.Outros exemplos dessas plantas são artemísia, alecrim, menta,tomilho, losna, funcho, hortelã, etc.

    As plantas espontâneas podem contribuir para o manejodo sistema orgânico ou devem ser sempre eliminadas?

    As plantas que crescem junto com as espécies cultivadas sãoconsideradas invasoras ou espontâneas e não plantas daninhas.Assim, como outros vegetais, as plantas invasoras contribuem para:

    • Cobertura e proteção do solo.• Reciclagem mais eficiente de nutrientes.• Melhoria das condições físicas do solo pelo aumento dos

    teores de matéria orgânica.• Rompimento de camadas compactadas.• Diversificação do ambiente.Essas espécies devem ser manejadas adequadamente para que

    permitam o convívio sem prejuízos para a cultura de interesseeconômico. Recomenda-se a capina em faixas, de forma a evitar apresença das ervas próximo à cultura de interesse comercial,deixando-se uma estreita faixa de vegetação nas entrelinhas de

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    plantio. Em culturas como berinjela, jiló, abóbora, quiabo e outras,deve-se fazer apenas o coroamento das plantas e roçadas leves norestante da área.

    No caso de hortaliças de canteiro, recomendam-se capinasnos momentos críticos apenas nos leitos de semeadura, preservando-se a vegetação dos carreadores ou apenas roçando-a quando estiverdificultando os tratos culturais. O controle de invasoras tem sidofeito com o emprego de práticas mecânicas, como aração,gradagem, cultivos, roçadas, amontoas e capinas manuais, conformea necessidade de redução das invasoras e, ainda, com o uso deplantas com efeitos alelopáticos, adubação verde, cobertura morta,cobertura viva, rotação e a consorciação de culturas.

    Existe alguma forma de se plantar hortaliças semcanteiros, evitando o revolvimento excessivo do solo?

    Para algumas hortaliças é possível evitar o uso de canteirosfazendo o plantio em covas ou sulcos e até mesmo o plantio diretosobre palhadas. Sabe-se que nos solos tropicais e subtropicais adecomposição da matéria orgânica pode ser acelerada com oexcesso de revolvimento, reduzindo seu teor. Assim, o preparo dosolo deve ser evitado ou minimizado sempre que possível.Recomenda-se o uso de canteiros semidefinitivos, restringindo aomáximo a entrada de máquinas nas áreas de cultivo. Dessa forma,seguindo os princípios já mencionados da rotação de culturas, apóso preparo, e da adubação inicial do solo, cultiva-se uma sucessãode hortaliças progressivamente menos exigentes em nutrientes, semque haja necessidade de refazer os canteiros. Quando necessário,pode-se complementar a adubação inicial com aplicações emcobertura, fazendo-se apenas uma leve incorporação superficial.

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  • 4 Propagação de Plantas

    Jacimar Luis de SouzaTatiana Pires BarrellaRosileyde G. Siqueira

    Ricardo H. Silva SantosMariane Carvalho Vidal

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    Quais os cuidados necessários na instalaçãode um sistema de produção de mudas?

    O planejamento dos plantios deve permitir o melhor apro-veitamento dos recursos naturais, procurando evitar excessos oufrustrações de produção ou épocas de preços muito baixos. Deve-se ainda procurar ajustar as áreas ao maquinário utilizado e aosistema de irrigação disponível. Os locais de produção, o ambientede formação das mudas (estufa ou céu aberto) e os tratos culturaisdevem ser criteriosamente definidos e minuciosamente executados.O substrato para produção de mudas deve estar livre de sementesde ervas invasoras e de microrganismos causadores de doenças,ter boa retenção de água e bom arejamento, permitindo assim umperfeito crescimento das raízes. Deve também suprir as necessidadesnutricionais das plantas no início de seu desenvolvimento. Naagricultura orgânica, deve-se atentar para o cultivo de espécies ecultivares bem adaptadas às condições ecológicas locais, o queresulta em maior sanidade para as culturas e, conseqüentemente,em menor necessidade de intervenção humana.

    É melhor comprar o substrato prontoou prepará-lo na propriedade?

    Atualmente, já existem no mercado brasileiro diversos tiposde substrato orgânico, apropriados para a formação de mudas emsistemas orgânicos de produção de hortaliças. O agricultor deveavaliar para que espécies de hortaliça o substrato é mais adequado,principalmente em relação aos custos.

    Muitas vezes, porém, é possível produzir seu próprio substratoa custos muito baixos, a partir de processos fermentativos em altatemperatura, como na compostagem, sendo a desinfecçãodispensada. A avaliação de diferentes proporções de compostoorgânico e terra, como substrato para formação de mudas de tomate,indica que as melhores mudas são obtidas usando-se compostopuro peneirado ou em mistura com terra na proporção de 1:1.

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    Menores quantidades de composto comprometem significa-tivamente a qualidade e o padrão das mudas.

    Qualquer material pode ser utilizado naprodução de substrato para mudas orgânicas?

    Muitas vezes pode-se produzir o substrato na própriapropriedade a custos muito mais baixos, porém é preciso ter umcerto cuidado ao se combinar materiais. Materiais disponíveis napropriedade, como cascas de árvores, restos de culturas como cafée palha de arroz, etc., podem ser misturados a outros materiais,como húmus e fibra de coco verde, constituindo excelentes al-ternativas de substratos. O importante é que o substrato tenha oscomponentes físicos e químicos em equilíbrio para garantir ascaracterísticas de porosidade, retenção de água, pH, entre outras,ideais para as plantas, e que seja livre de contaminantes e patógenos.

    Que outros métodos de desinfecção dosubstrato podem ser usados além da compostagem?

    O substrato orgânico próprio, que não se origina de processosde fermentação a altas temperaturas como ocorre na compostagem,pode exigir algum método de desinfecção de patógenos e sementesde ervas invasoras. A inundação e a solarização estão sendo es-tudadas e empregadas em escala cada vez maior por pesquisadorese produtores de mudas como alternativa à compostagem.

    Como funciona a inundação dosolo como método de desinfecção?

    A inundação do solo por determinado período, por ciclossucessivos, é uma das medidas mais eficientes para erradicarpatógenos do solo. Essa prática tem sido empregada em pequenasáreas, viveiros e casas de vegetação. Durante o encharcamento do

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  • 64

    solo, desenvolvem-se microrganismos anaeróbicos e a produçãode ácidos e gases tóxicos, que vão atuar sobre os microrganismosfitopatogênicos. A falta de oxigênio e nutrientes e a dessecação dosolo também contribuem para eliminação de patógenos, comonematóides e fungos.

    E a solarização?

    A solarização pode serfeita em piso de cimento limpo,espalhando-se uma camada desubstrato umedecido (mínimode 50 % de umidade para gerarmais calor), com 10