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Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Educação e Humanidades
Faculdade de Educação
Carolina Emilia da Silva
O PROEJA na Rede de Ensino FAETEC - Um estudo sobre a
implementação e organização curricular na ETE Ferreira Viana -
caminhos e descaminhos
Rio de Janeiro
2015
Carolina Emilia da Silva
O PROEJA na Rede de Ensino FAETEC - Um estudo sobre a implementação e
organização curricular na ETE Ferreira Viana - caminhos e descaminhos
Dissertação apresentada, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre, ao Programa de Políticas Públicas e Formação Humana, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Área de Concentração: Formação Humana
Orientador: Prof. Dr. Luiz Antonio Saléh Amado
Rio de Janeiro
2015
CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ / REDE SIRIUS / BIBLIOTECA CEH/A
Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta dissertação, desde que citada a fonte. ___________________________________ _______________ Assinatura Data
S586 Silva, Carolina Emilia da. O PROEJA na Rede de Ensino FAETEC: um estudo sobre a
implementação e organização curricular na ETE Ferreira Viana - caminhos e descaminhos / Carolina Emilia da Silva. – 2015.
103 f. Orientador: Luiz Antonio Saléh Amado. Dissertação (Mestrado) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Faculdade de Educação. 1. Educação – Brasil – Teses. 2. Educação de adultos – Brasil –
Teses. 3. Currículos – Teses. 4. Escola Técnica Estadual Ferreira Viana – Teses. I. Amado, Luiz Antonio Saléh. II. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Faculdade de Educação. III. Título.
es CDU 374.7(815.3)
Carolina Emilia da Silva
O PROEJA na Rede de Ensino FAETEC - Um estudo sobre a implementação e
organização curricular na ETE Ferreira Viana - caminhos e descaminhos
Dissertação apresentada, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre, ao Programa de Políticas Públicas e Formação Humana, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Área de Concentração: Formação Humana
Aprovada em 09 de junho de 2015.
Banca Examinadora:
______________________________________________
Dr. Luiz Antonio Saléh Amado
Faculdade de Educação da Baixada Fluminense da UERJ
______________________________________________
Dra. Jaqueline Pereira Ventura
Universidade Federal Fluminense - UFF
______________________________________________
Dra. Sonia Maria Schneider
Faculdade de Educação da UERJ
Rio de Janeiro
2015
DEDICATÓRIA
Aos amores que não estão mais comigo...
Meu pai, que ao encapar meus cadernos e livros com capricho me ensinou o
valor do estudar e aprender.
Vó Emilia, de quem a escolarização não deu conta, mas que com o saber da
vida me ensinou o valor de trabalhar, amar e existir.
AGRADECIMENTOS
Sabe àquela hora em que o espaço e palavras ficam pequenos e
insuficientes?
Ao grande Deus, que nos concede a possibilidade do existir e de entender
que ninguém “dobra o cabo da boa esperança” por acaso.
Ao meu orientador, Luiz Antonio Saléh Amado, cujo sobrenome bem expressa
sua pessoa. Com toda sua paciência e competência fez a diferença nos momentos
certos e incertos desta pesquisa.
Ao meu querido grupo de pesquisa do PPFH/UERJ, “Os Salesianos”, amigos
sem os quais minha argumentação não teria eco nem consistência.
Às professoras Jaqueline Ventura e Sonia Schneider pela gentileza em
compor a banca e enriquecimento com suas contribuições.
A equipe de direção da ETE Ferreira Viana, companheiros de trabalho e lutas,
neste árduo caminho da Educação Profissional de Jovens e Adultos em nosso
Estado.
A minha equipe de atuação pedagógica, colegas supervisoras e orientadoras,
com as quais trocamos as inquietações e sonhamos com o possível e impossível no
campo educacional.
A equipe do Centro de Memória, José Bonifácio da ETE Ferreira Viana, que
carinhosamente auxiliou com as imagens históricas.
Aos meus filhos, mãe e irmãos, minha família e grande herança, que com
amor e respeito abriram mão de diversos momentos juntos para que fosse possível
me dedicar aos estudos.
Ao meu companheiro de todas as horas. A você Marcos, meu amor e
gratidão pelo incentivo e apoio incondicionais, sem os quais não conseguiria
sonhar, realizar e prosseguir.
Por fim, aos meus alunos do PROEJA ETEFEV, sem os quais nada do que foi
falado faria sentido.
Quando se é jovem, não se deve hesitar em filosofar e, quando se é velho,
não se deve deixar de filosofar. Nunca é demasiado cedo nem demasiado tarde para
ter cuidados com a própria alma. Quem disser que não é ainda ou não é mais tempo
de filosofar assemelha-se a quem diz que não é ainda ou não é mais tempo de
alcançar a felicidade.
EPICURO 300 a.C. - Trecho da Carta a Meneceu in: FOUCAULT, 2006, p. 108
RESUMO
SILVA, Carolina Emilia. O PROEJA na Rede de Ensino FAETEC: um estudo sobre a implementação e organização curricular na ETE Ferreira Viana - caminhos e descaminhos. 2015. 102 f. Dissertação. (Mestrado em Políticas Públicas e Formação Humana) – Faculdade de Educação, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015.
Esta pesquisa tem por objetivo analisar a organização curricular do PROEJA na Escola Técnica Estadual Ferreira Viana, uma das unidades da rede de ensino FAETEC, suas implicações no processo da formação humana e nos processos de subjetivação balizados em Foucault. Desta forma, buscou–se descrever o desenvolvimento das políticas públicas implementadas pelo governo federal no período de 2009 a 2014, para a Educação Profissional de Jovens e Adultos, bem como discutir os efeitos desta implementação nesta rede de ensino. Adotou–se a utilização de procedimentos metodológicos inicialmente através de uma análise documental e levantamento de dados estatísticos sobre entrada, retenção e saída de alunos. Após esta identificação foi realizado um registro de campo e entrevistas semi-estruturadas com os agentes envolvidos neste processo, no sentido de maior aproximação com o cotidiano de ensino desta unidade escolar. Por último e como foco principal, foi desenvolvido uma análise sobre a organização curricular do PROEJA na Escola Técnica Estadual Ferreira Viana da Rede de Ensino FAETEC, com o intuito de melhor compreender como se estabelecem as relações neste processo de sistematização curricular, tendo em vista a análise de sua estrutura, as ações estabelecidas pelos docentes na aplicação do ensino, a realidade vivida no processo de aprendizagem dos alunos, e os desafios da integração curricular e suas possíveis reformulações, frente às exigências da educação profissional no contexto atual da educação brasileira.
Palavras–chave: EJA. PROEJA. Currículo. Ensino Integrado. EPT.
ABSTRACT
SILVA, Carolina Emilia. The PROEJA in FAETEC Education Network: a study on
the implementation and curriculum organization in ETE Ferreira Viana - paths and detours. 2015. 102 f. Dissertação. (Mestrado em Políticas Públicas e Formação Humana) – Faculdade de Educação, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015.
THIS RESEARCH aims at analyzing the curricular organization of PROEJA at
the State Technical School Ferreira Viana, one of the units of FAETEC school
system, its implications in the process of human formation and subjective processes
marked in Foucault. Thus, we attempted to describe the development of public
policies implemented by the federal government from 2009 to 2014, for Vocational
Education for Youth and Adults, as well as discussing the effects of implementing this
type of school. The use of methodological procedures was adopted initially through a
document analysis and survey of statistical data on input, output and retention of
students. After this identification was carried out a field record and semi-structured
interviews with those involved in this process in order to closest approach to teaching
everyday this school unit. Lastly, as a primary focus, an analysis of the curricular
organization of the School PROEJA State Technical Ferreira Viana of FAETEC
Education Network, in order to better understand how to establish relations in this
curriculum systematization process was developed with a view to analysis of its
structure, the actions established by the teachers in the implementation of teaching,
the reality experienced in the learning process of students, and the challenges of
curricular integration and possible reformulations, facing the demands of education in
the current context of Brazilian education.
Keywords: adult education. PROEJA. Curriculum. Integrated Education. EPT
LISTA DE SIGLAS
CEE Conselho Estadual de Educação
CEFET Centro Federal de Educação Tecnológica
CNCT Catálogo Nacional de Cursos Técnicos
EAF Escolas Agrotécnicas Federais
EJA Educação de Jovens e Adultos
EMI Ensino Médio Integrado
EPT Educação Profissional e Tecnológica
ETE Escola Técnica Estadual
ETEFEV Escola Técnica Estadual Ferreira Viana
ETEVM Escola Técnica Estadual Visconde de Mauá
FAETEC Fundação de Apoio às Escolas Técnicas
IF Instituto Federal
IFRJ Instituto Federal do Rio de Janeiro
IFET Instituto Federal de Educação Tecnológica
LDB Lei de Diretrizes e Bases
MEC Ministério da Educação e Cultura
PROEJA Programa de Educação Profissional para Jovens e Adultos
PRONATEC Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego
SEEDUC Secretaria Estadual de Educação
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Estrutura Quantitativa da ETEFEV ............................................ 49
Quadro 2 - Matrículas no Concomitante Noturno ........................................ 52
Quadro 3 - Entrantes PROEJA 2012............................................................ 56
Quadro 4 - Matriz do Curso Técnico em Edificações – PROEJA-ETEFEV........... 59
Quadro 5 - Organização Temática do PROEJA – Eletrônica ...................... 63
Quadro 6 - Componentes curriculares por períodos letivos – Curso
Técnico em Eletrônica ...............................................................
65
Quadro 7 - Matriz Curricular do Curso Técnico em Eletrônica –
PROEJA/ETEFEV .....................................................................
66
Quadro 8 - Progressão da 1ª turma PROEJA/ETEFEV ............................... 69
Quadro 9 - Distribuição das Disciplinas (Proposta 1) .................................. 74
Quadro 10 - Distribuição das Disciplinas (Proposta 2) .................................. 75
Quadro 11 - Distribuição das Disciplinas (Proposta 3) .................................. 76
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Casa de São José – Asilo de órfãos e abandonados................... 47
Figura 2 - Oficinas de tornearia mecânica e fundição do “Ferreira Viana”... 48
Figura 3 - Internos do Instituto Ferreira Viana .............................................. 51
Gráfico 1 - Alunos Proeja – Faixa Etária ........................................................ 79
Gráfico 2 - Alunos Proeja – Faixa Etária 18 à 25 anos .................................. 80
Gráfico 3 - Alunos Proeja – Faixa Etária acima de 35 anos .......................... 81
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO........................................................................................... 13
1 FORMAÇÃO HUMANA E A ORGANIZAÇÃO CURRICULAR NA
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE JOVENS E ADULTOS......................
17
1.1 Educação e produção de subjetividades............................................. 17
1.2 As relações de poder no cotidiano escolar - noções de poder em
Foucault, o poder disciplinar.................................................................
21
1.3 O currículo na organização escolar e a formação humana................. 29
2 OS RUMOS DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E A EJA/PROEJA......... 33
2.1 O marco inicial - trajetória da Educação Profissional ......................... 34
2.2 Uma análise das políticas públicas da educação profissional de
jovens e adultos do Governo Federal no período de 2005 a 2014......
38
3 O PROEJA NA ESCOLA TÉCNICA ESTADUAL FERREIRA VIANA –
FAETEC- SEU PERCURSO E ORGANIZAÇÃO CURRICULAR.............
45
3.1 O campo da pesquisa – Escola Técnica Estadual Ferreira Viana –
ETEFEV/FAETEC .....................................................................................
46
3.2 Os rumos do PROEJA na FAETEC/ETEFEV - embates e entraves..... 50
3.3 Os desafios de um currículo integrado no PROEJA -
ETEFEV/FAETEC .....................................................................................
56
3.3.1 Organização Curricular Aprovada pelo CEE.............................................. 62
3.3.2 Os Efeitos da Organização Curricular na Trajetória do PROEJA.............. 68
3.4 As propostas de reformulação curricular e suas implicações no
cotidiano do PROEJA/FAETEC...............................................................
70
3.5 Realidades dos Sujeitos PROEJA na ETEFEV.................................... 77
3.5.1 Seus rostos e vozes.................................................................................. 78
3.5.2 Suas imagens e ressonâncias................................................................... 84
3.6 Os rumos do PROEJA e as novas políticas públicas para a
Educação de Jovens e Adultos ............................................................
88
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................... 89
REFERÊNCIAS ........................................................................................ 94
ANEXO - Projeto de implantação do proeja na ETE Ferreira
Viana/FAETEC .........................................................................................
99
13
INTRODUÇÃO
No ano de 1987 a participação no projeto de alfabetização de adultos no
então Centro Comunitário da Amizade1, localizado no bairro de Lins de Vasconcelos,
Rio de Janeiro, apresentou a este pesquisador a seguinte inquietação: onde estava
a escola quando dela “eles” precisaram? Tal inquietação foi provocada através da
experiência na aula de alfabetização com a senhora Maria José, aluna neste projeto.
Dona Zezé, como carinhosamente a chamávamos, após conseguir escrever seu
nome e ler as primeiras palavras, com os olhos cansados e as mãos enrijecidas pelo
trabalho de lavadeira, de forma veemente falou: “professora, eu agora enxergo as
letras diferente” (neste momento ela deu uma pausa e esfregou os olhos
lacrimejados). Ainda continuando falou: “as letras parecem que falam comigo e
lavam os meus olhos (novamente esfregou os olhos). Por fim, secando os olhos em
alto som disse: “Agora ninguém mais me engana!”. Parece muito poético, mas se
considerarmos que poesia é vida este foi um fato de vida, como muitos dos que se
repetem no chão das escolas brasileiras. A escola, na experiência desta aluna,
representaria a partir daquele momento um descortinar de direitos e possibilidades.
Uma expectativa e necessidade de liberdade, embora, ainda repleta de
atravessamentos e devires, onde “o ser do devir não se dá na identidade, pois isso
excluiria a possibilidade de passagem, mas no retorno, no eterno retorno...”
(DELEUZE, 1987).
A passagem de jovens e adultos pelo sistema educacional brasileiro, não
vem sendo um processo simples, pois esta trajetória ainda continua apresentando
um caráter repleto de exclusões, e somente alguns têm acesso a uma formação de
qualidade e podem permanecer nela. Resta, portanto às classes populares, uma
escolarização precária e aligeirada, como vem sendo no Brasil os programas
governamentais apresentados à educação de jovens e adultos ao longo dos últimos
anos.
A partir então da imersão nesta realidade, motivada pela realização do curso
de Especialização em PROEJA no IFRJ, pelo pesquisador, e com base nas
intenções apresentadas pelo Programa de Integração da Educação Profissional ao
1Casa Batista da Amizade - Hoje Projeto Educacional e Social Casa da Amizade é uma ONG que trabalha com educação e atividades sociais, esportivas, recreativas e religiosas.
14
Ensino Médio na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA)2, esta
pesquisa, se propõe a entender as ações e movimentos que ocorrem na
organização curricular do PROEJA e suas implicações na formação profissional e
educacional destes jovens e adultos.
O Documento Base do PROEJA de 2006, assim como o texto do Decreto
5.840, do mesmo ano, instituem como imprescindível a oferta da Educação
Profissional Técnica de Nível Médio aos jovens e adultos que não tiveram na idade
regular oportunidade à escolarização. Arroyo (2004), afirma que além de trajetórias
escolares descontínuas esses jovens e adultos têm trajetórias perversas de vida e
de exclusão social e,
vivenciam trajetórias de negação dos direitos mais básicos à vida, ao afeto, à alimentação, à moradia, ao trabalho e à sobrevivência. As trajetórias escolares descontínuas se tornam mais perversas porque se misturam com essas trajetórias humanas. (ARROYO, 2004, p. 24)
Com base então nas provocações e discussões que vêm ocorrendo tanto em
nível federal quanto estadual de ensino, em particular na Fundação de Apoio às
Escolas Técnicas – FAETEC, acerca da descontinuidade de estudos nas trajetórias
destes jovens adulto-trabalhador, esta pesquisa se propôs a analisar a organização
curricular do PROEJA da Escola Técnica Estadual Ferreira Viana, uma das unidades
desta Fundação, no intuito de especificamente descrever as políticas públicas
implementadas pelo governo federal nos últimos anos para a Educação
Profissional de Jovens e Adultos (PROEJA e PRONATEC), relatar e discutir o
histórico e efeitos desta implementação na rede de ensino FAETEC; analisar a
organização curricular e suas implicações no cotidiano escolar da Escola Técnica
Estadual Ferreira Viana e discorrer sobre as implicações de continuidade do
PROEJA, na rede de ensino FAETEC, frente às políticas públicas implementadas
nos últimos anos pelo governo federal e estadual para a educação profissional de
jovens e adultos.
A Unidade Escolar escolhida para a pesquisa de campo foi a Escola Técnica
Estadual Ferreira Viana, pelo fato desta unidade da rede FAETEC ser articuladora
das discussões sobre a organização e reestruturação curricular do PROEJA,
2 Programa lançado no ano de 2005, pelo Ministério da Educação (MEC), via Decreto nº 5.478, de 24 de junho de 2005, e instituído em 2006 com o Decreto 5.840, no âmbito da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica, que se propõe a oferecer oportunidade de estudos àqueles que não tiveram acesso ao ensino médio na idade regular.
15
balizadas pelos altos índices de evasão e repetência que a modalidade de
concomitância da educação profissional ao ensino médio, com a duração de quatro
anos, vinha apresentando; e pelas possibilidades de acesso às informações,
particularmente, por ser a doze anos, unidade de trabalho deste pesquisador, e por
fim por seu próprio histórico ligado à educação profissional.
A metodologia utilizada constou de uma análise documental e levantamento
de dados estatísticos sobre entrada, retenção e saída de alunos oriundos do curso
concomitante noturno que existia até 2011 na ETE Ferreira Viana e das turmas
iniciais do PROEJA a partir de 2012 até 2015. Após esta identificação inicial foram
realizadas entrevistas semi-estruturadas com a equipe gestora, coordenadores de
curso, alunos e professores, no intuito de uma maior aproximação dos agentes que
vivenciam o cotidiano de ensino desta escola e, assim, conhecer sua visão acerca
deste processo. Por último, foi feita uma análise sobre a elaboração do currículo
proposto pela unidade escolar e a aprovada pelo CEE, com vistas a se compreender
a organização e aplicação das matrizes curriculares do PROEJA.
Esta pesquisa se desenvolveu a partir da discussão sobre a formação
humana, trabalho e a organização curricular no contexto da escola. Neste sentido,
procurou-se entender os processos de subjetivação (GUATTARRI, 1986, DELEUZE,
1991, FOUCAULT, 2004; VEIGA-NETO, 2011) que atravessam os agentes inseridos
nesta organização, bem como as implicações educacionais e sociais advindas
deste processo. Ainda, fez parte desta discussão, compreender a relação que se
faz de currículo com a organização prévia ou não de experiências e situações de
aprendizagem vivenciadas por docentes e discentes no processo educativo (LOPES,
2011, FERRAÇO; CARVALHO, 2013), abordando as ideias de currículo na prática
docente, no processo ensino aprendizagem e na ação integrada do ensino de jovens
e adultos.
Em segunda análise foi apresentado um breve histórico sobre as políticas
públicas implementadas nos últimos nove anos pelo governo federal, acerca da
educação profissional de nível médio (PROEJA), com base nos documentos oficiais
apresentados pelo Ministério de Educação (MEC) e as iniciativas tomadas por
alguns estados brasileiros na implementação do PROEJA, com vistas a melhor
entender as bases que motivaram a implementação do PROEJA na rede de ensino
FAETEC, no Rio de Janeiro.
16
Por último e como foco principal, procurou-se desenvolver uma análise sobre
a organização curricular do PROEJA na Escola Técnica Estadual Ferreira Viana da
Rede de Ensino FAETEC, com o intuito de melhor compreender como se
estabelecem as relações entres os agentes envolvidos neste processo de
sistematização curricular, através da análise de sua estrutura, das ações
estabelecidas pelos docentes na aplicação do ensino, da realidade vivida no
processo de aprendizagem dos alunos, e dos desafios da integração curricular e
suas possíveis reformulações, frente às exigências da educação profissional no
contexto atual da educação brasileira.
17
1 FORMAÇÃO HUMANA E A ORGANIZAÇÃO CURRICULAR NA EDUCAÇÃO
PROFISSIONAL DE JOVENS E ADULTOS
De que valeria a obstinação do saber se ele assegurasse
apenas a aquisição dos conhecimentos e não, de certa
maneira, e quanto possível, o descaminho daquele que
conhece?
Foucault
Quando pensamos em escola, no saber e a relação deste saber com a
formação humana, uma das questões que surgem é saber efetivamente o quê?
Saber algo que tenha significado? Algo que tenha utilidade para o dia a dia? São
algumas das possibilidades nesta jornada do saber. No entanto outra questão que
nos intriga, inquieta, seria de se refletir sobre de que forma sabemos e
compreendemos? Ou seja, o que de fato queremos e querem que saibamos e como
este saber implica no que somos, vivenciamos e produzimos como sujeitos.
1.1 Educação e produção de subjetividade
A escola, enquanto organização e instituição social tem uma função social
que a distingue das outras, e é parte fundamental, na formação das sociedades
humanas. A distinção está na sistematização, no processo formativo que visa
inculcar valores, ensinamentos e normas da sociedade, fazendo a mediação entre
os conteúdos historicamente produzidos pela humanidade e o aluno, procurando
formas para que esses conhecimentos sejam apropriados pelos indivíduos,
contribuindo para a formação de novas gerações de seres humanos (SAVIANI,
2003). Nesta perspectiva, costuma-se dizer que a educação deve formar o homem
integral, ou seja, indivíduos capazes de pensar com lógica e autonomia; indivíduos
que se tornem cidadãos capazes de contribuir para as transformações sociais,
culturais, científicas e tecnológicas.
18
Ao olharmos para as concepções históricas dos objetivos da educação,
vemos que a educação grega era centrada na formação integral, ou seja, o corpo e
o espírito. Neste sentido, o ideal educativo grego aparece como paideia3, formação
geral que tem por tarefa construir o homem como homem e como cidadão com o
propósito de desenvolver o homem em todas as suas potencialidades, de tal
maneira que pudesse ser um melhor cidadão, ou quem sabe em nossos dias, ser
um aluno pleno e atuante na sociedade. Mas o que efetivamente se entende sobre
“ser aluno”?
O dicionário latino de Ernesto Faria (2001, p.14), define alumnus como
“criança de peito, pupilo, e daí, aluno”. Aluno seria formado por a – prefixo de
negação (normalmente usado em palavras gregas), mais/e luminis ou lumina –
Luz, do Latim. Se encararmos "luno" como Luminis, a decomposição da palavra
aluno seria sim "sem-luz" ou "ausente de luz". No entanto a palavra aluno tem
origem em outro termo e que se pode dizer, tem grande significado simbólico com
os sujeitos que recebem tal designação (alunos). A origem do termo vem
de Alumnus, o que transforma totalmente seu sentido e lhe confere uma importante
característica simbólica. O uso da palavra aluno no sentido referente à "sem-luz",
difusão de uma idéia copiada, e re-copiada, sendo transmitida por verdadeira, torna-
se um mito etimológico a partir do momento em que a simplificação da palavra a
torna de fácil assimilação e condizente com a realidade da educação em muitas
escolas e instituições. Instituições estas que se organizam e se estabelecem
fundamentadas em critérios e normas estabelecidas pelas sociedades em que estão
inseridas.
A escola, assim como as demais instituições sociais, contribui sobremaneira
na construção de vida deste que intitulamos de “aluno-sujeito” e de suas
subjetividades. Cabe-nos então, tentar compreender, inicialmente, o que constitui a
noção de sujeito.
A noção de sujeito surge com a filosofia moderna. Trata-se de uma das
noções fundadoras do humanismo e de alguns dos principais valores do mundo
ocidental. Ela aparece inicialmente com o filósofo francês René Descartes4 (1596-
3 a palavra paideia (de paidos - criança) significava simplesmente "criação de meninos". Mas este significado inicial da palavra está muito longe do elevado sentido que mais tarde adquiriu.
4 Descartes é o autor da famosa frase penso, logo existo, "je pense, donc je suis". Apesar de Descartes ter usado o vocábulo "logo" (donc), e portanto um raciocínio semelhante
19
1650) que concebe o sujeito como um ser dotado de consciência e razão,
instrumentos que lhe permitem conhecer o mundo e a si mesmo. Nesta concepção,
o sujeito funda o conhecimento a partir da faculdade que lhe é superior: o
pensamento. O pensamento ou o uso da razão destina-se não apenas a fazer o
sujeito chegar ao conhecimento, mas também impede que ele seja dominado por
suas paixões e desejos. Para esta corrente de pensamento, o sujeito existe
primeiramente como um ser dotado de pensamento e sua existência decorre do fato
de ele pensar.
Com o passar da história do homem e das sociedades, essa noção será
enriquecida pela ideia de que o sujeito não apenas pensa, mas também tem sua
existência determinada por sentimentos e emoções. Cada um de nós será então
definido pelo modo como sente, pensa, decide, escolhe, imagina e percebe as
coisas e situações que fazem parte da sua vida. Mas esta consciência não se define
apenas a partir de sua relação com o mundo. Ela também está situada em um
espaço onde existem outras consciências. Estando assim, o sujeito relacionado ao
outro sujeito.
Um sujeito é fruto de seu tempo histórico, das relações sociais em que está
inserido, mas é, também, um ser singular, que atua no mundo a partir do modo
como o compreende e como dele lhe é possível participar. Desta forma, há uma teia
de relações que forma o que entendemos por subjetividade e que
consequentemente constitui este sujeito.
Para Foucault (1995), o sujeito é apanhado nas relações de produção e nas
relações de sentido, assim como também nas relações de poder. Assim
compreendido, podemos afirmar que a teia de relações que constituem esse sujeito
transcende a concepção de sujeito com a qual a escola trabalha e se organiza.
Marcada pela objetividade de sua organização ou pelo que se entende por currículo,
a escola acaba por contrapor-se ao sujeito em si enfatizando o individual e o
isolamento, rompendo com os avanços das questões coletivas, negando o outro,
suas possibilidades e limitações, ao mesmo tempo em que acaba por dificultar que o
próprio sujeito se perceba enquanto tal.
Entendemos que a noção de sujeito, evidentemente, passa pela noção do ser
biológico, individual, inserido num determinado grupo sócio-econômico, com
ao silogismo aristotélico a ideia de Descartes era anunciar a verdade primeira "eu existo" de onde surge todo o desejo pelo conhecimento.
20
determinadas características. Mas o que queremos entender é no que se constitui
de fato a formação desse sujeito no interior da escola, ou melhor, como a
subjetividade está sendo construída neste espaço educativo. Para tal entendimento,
é necessário refletirmos nas palavras de Foucault (1995), que:
Há dois sentidos para a palavra ‘sujeito’: sujeito submetido a outro pelo controle e a dependência e sujeito ligado à sua própria identidade pela consciência ou pelo conhecimento de si. Nos dois casos a palavra sugere uma forma de poder que subjuga e submete. (FOUCAULT, 1995, p. 237).
Nesta direção, Candiotto (2008) defende que nas suas relações com o
mundo, com os outros e consigo, o sujeito precisa privilegiar a modalidade de
conhecimento que ajude na modificação de sua maneira de ser e a ação educativa
deveria, então, proporcionar o acesso a conhecimentos que permitissem essa
transformação.
O que temos visto, no entanto é que a escola não está sabendo distinguir,
talvez, o que é necessário saber para a transformação e a própria construção da
subjetividade de seus alunos. Quem sabe aí resida o embate travado entre seus
muros e paredes. Parece-nos evidente que os conhecimentos ensinados na escola
não estão sendo eficientes para atingir (ou ser atingida) a realidade destes sujeitos.
Seria necessário, como nas palavras de Guiraud e Corrêa (2009) que houvesse
então a (...) revisão de formas de exercício de poder pela escola, pelos professores,
a fim de poderem lidar com os saberes de modo a poder entendê-los para interpretá-
los em relação às suas causas e consequente nos significados para os alunos.
Outra questão estaria nos modos de lidar com saberes tradicionalmente
veiculado pela escola por meio das diferentes disciplinas. Seria importante que além
dos professores, todos os agentes deste processo, discutissem modos de
responsabilizar e envolver os alunos no processo de apreensão de saberes.
Provavelmente, neste aspecto, precisemos recuperar a compreensão de que as
relações que os alunos e professores travam entre si são sumamente mediadas por
saberes e conhecimentos. Estes põem os sujeitos em permanente interação entre
eles e estes com os saberes. Por ser ele prático, social, deve assim ser traduzido
para os alunos (GUIRAUD; CORRÊA, 2009).
Neste aspecto, compreendemos que subjetividade é um processo que varia
no tempo e no espaço, espaço este permeado de forças, resistências e buscas.
Nesta direção Deleuze (1991, p. 113), argumentou que,
21
a luta por uma subjetividade moderna passa por uma resistência às duas formas atuais de sujeição, uma que consiste em nos individualizar de acordo com as exigências do poder, outra que consiste em ligar cada indivíduo a uma identidade sabida e conhecida, bem-determinada de uma vez por todas. A luta pela subjetividade se apresenta então como direito à diferença e direito à variação, à metamorfose.
É necessário, então entender a constituição moderna da subjetividade e
consequentemente a constituição de nós mesmos. Conforme argumenta Gallo, o
conceito de subjetivação pressupõe que “o sujeito é algo produzido, fabricado, de
acordo com determinadas categorias históricas e culturais” (GALLO, in: FERRAÇO,
2013). Considerando, pois, que os processos de subjetivação passam por
assujeitamentos5 e por resistências, compreender as relações de forças que se
estabelecem no âmbito da escola é um exercício necessário para se compreender a
própria constituição e formação do indivíduo.
1.2 As relações de poder no cotidiano escolar - noções de poder em Foucault,
o poder disciplinar
O cotidiano escolar vem se tornando a cada dia alvo de amplas discussões,
estudos e divergências. Sejam estas de ordem estrutural, política, legal ou
ideológica.
Aspectos políticos, econômicos, culturais e educacionais nos apontam para
uma nova ordem social contemporânea onde, contudo, as transformações não têm
se dado de forma direta e/ou sem conflitos. Para Santos (1995, p.8) um momento
de transição se caracteriza pela perda da confiança epistemológica - “uma sensação
de perda irreparável, tanto mais estranha quanto não sabemos ao certo o que
estamos em vias de perder”.
Porém, as inovações para a escola, entre essas, sua organização curricular,
têm sido dirigidas a partir de quem decide sobre ela - os organismos centralizadores
do sistema educacional oficial e suas políticas, e/ou a partir de quem pensa a escola
5 Deleuze (1992) nos aponta que os direitos humanos - desde sua formação – têm servido para levar aos pobres em geral a ilusão de participação, de que os bons cidadãos preocupam-se com o seu bem-estar, de que o humanismo dentro do capitalismo é uma realidade e veio para ficar (Coimbra, Lobo e Nascimento, 2008). Entretanto, sempre estiveram fora desses direitos à vida e à dignidade os segmentos despossuídos, percebidos como ‘marginais’: os ‘deficientes’ de todos os tipos, os ‘desviantes’, os miseráveis, dentre muitos outros.
22
- os intelectuais - tendo como referência, portanto, concepções alheias ao seu
processo (ARROYO, 1999). As transformações necessárias só se efetivarão a partir
da valorização das ações tomadas por aqueles que fazem a escola; trata-se de
valorizar seus sujeitos como autores das propostas de inovações.
Ao se discutir, portanto a organização escolar uma das necessidades sentida
foi de clarificar o que entendemos por poder e como este se constitui no âmbito das
ações do cotidiano escolar.
O termo poder tem múltiplas definições e acepções. A palavra é usada para
fazer referência à faculdade, facilidade ou potência para fazer algo. O poder também
implica ter mais força do que outra pessoa e vencê-la numa luta física ou numa
discussão.
É preciso, antes de qualquer coisa, conhecer a etimologia da palavra poder,
que vem do latim vulgar potere, substituído ao latim clássico posse, que vem a ser a
contração de potis esse, “ser capaz”; “autoridade”. Dessa forma, na prática, a
etimologia da palavra poder torna sempre uma palavra ou ação que exprime força,
persuasão, controle, regulação etc.
Já de acordo com o dicionário de filosofia, a palavra poder, na esfera social,
seja pelo indivíduo ou instituição, se define como “a capacidade de este conseguir
algo, quer seja por direito, por controle ou por influência. O poder é a capacidade de
se mobilizar forças econômicas, sociais ou políticas para obter certo resultado (...)”
(BLACKBURN, 1997). Muito embora, de acordo com o autor, esse poder possa ser
exercido de forma consciente ou não, e/ou, freqüentemente, exercido de forma
deliberada.
Ao analisarmos a definição no dicionário de política, encontramos uma visão
de poder mais elástica. Ainda que exista a preocupação de colocá-lo em esferas
distintas: poder social, poder político, poder constituinte, poder moderador, poder
potencial, poder coordenador, entre outros. Ainda assim, o que se vê é a palavra
poder associada ao cerne da autoridade. Podem-se encontrar definições do tipo: “É
poder social a capacidade que um pai tem para dar ordens a seus filhos ou a
capacidade de um governo de dar ordens aos cidadãos” (BOBBIO, 2000). E ainda,
“o poder evoca a idéia de força, capacidade de governar e de se fazer obedecer,
império” (SOUZA; GARCIA; CARVALHO, 1998).
Por fim, em um dicionário comum da língua portuguesa o significado de poder
descreve que poder é a capacidade ou possibilidade de fazer uma coisa. Direito de
23
agir, de decidir, de mandar. Autoridade, governo de um país. Mandato, procuração.
Poder espiritual, o que pertence à Igreja. Poder temporal, o que é atribuído ao Papa
como soberano territorial (por opôs. ao poder espiritual); autoridade civil. Conjunto
de atribuições que alguém pode exercer em função do seu cargo: os poderes de um
embaixador. Poderes públicos, conjunto de autoridades governamentais que detêm
o poder num país. Poderes da República, os três poderes que compõem o governo
de uma república: legislativo, executivo e judiciário, (FERREIRA, 2001).
O uso mais habitual do termo refere-se ao domínio, império, faculdade e
jurisdição que alguém tem para executar algo ou mandar. Desta forma, o poder está
relacionado com o governo de um país ou com o instrumento onde consta a
faculdade de um homem outorgar a outro para que, no seu lugar e em sua
representação, possa executar algo. O poder é, além do mais, uma posse, como por
exemplo, ter algo em seu poder. Este conceito, quando utilizado em combinação
com outras palavras, permite designar diferentes situações. Como tal, o poder
absoluto refere-se ao despotismo; o poder aquisitivo (ou de compra), à capacidade
econômica para adquirir bens e serviços; o poder constituinte, àquilo que
corresponde à soberania popular para se organizar através das suas Constituições;
o poder executivo, àquele (a) que tem a seu cargo o governo do Estado e a
observação das leis; o poder legislativo, àquele (a) que conta com a potestade para
fazer e reformar as leis; e o poder judiciário, ao que exerce a administração da
justiça, entre outros.
Ao seguir nesta compreensão, verificamos que em qualquer sociedade,
existem relações de poder múltiplas que atravessam, caracterizam e constituem o
corpo social e que estas relações de poder não podem se dissociar, se estabelecer
nem funcionar sem uma produção, uma acumulação, uma circulação e um
funcionamento do discurso (FOUCAULT, 2003, p. 179).
Entendemos assim, que ter o poder, buscar o poder são expressões que o
“coisificam”, que se tira ou se dá, que se conquista ou se perde. Nesta direção,
compreendemos que poder é composto por relações dispersas em toda sociedade,
todos são sujeitos e objetos de poder. Desta forma, (...) o poder não deve ser
encarado exclusivamente como algo que atua sobre nós, como se nos limitássemos
a ser objeto de sua ação. Ele também é exercido por nós, o que nos coloca
simultaneamente na condição de sujeitos e objeto do exercício do poder
(PARANHOS, 2000, p.56).
24
Entender o poder como algo palpável, como uma coisa que se adquire ou se
compra, consiste em um grande engano, pois através de Foucault, compreendemos
que o poder não se dá não se troca nem se retoma, mas se exerce, só existe em
ação, como também da afirmação que o poder não é principalmente manutenção e
reprodução das relações econômicas, mas acima de tudo uma relação de força
(FOUCAULT, 2003, p. 175).
Nesta abordagem, portanto, as relações de poder são entendidas como
constitutivas da vida social concebendo os indivíduos como transmissores que o
poder perpassa sendo, assim, entendido que o poder deve ser analisado como algo
que circula, ou melhor dizendo, como algo que só funciona em cadeia. Nunca está
localizado aqui ou ali, nunca está nas mãos de alguns, nunca é apropriado como
uma riqueza ou um bem. O poder funciona e se exerce em rede. Nas suas malhas
os indivíduos só circulam e, estão sempre em posição de exercer este poder, são
sempre centros de sua transmissão (FOUCAULT, 2003, p. 183).
Foucault ainda defende que o poder penetra na vida cotidiana não se fixando
nas relações estatais, essa característica denominada “micro-poder”, e caminha
analisando também que esses “micro-poderes” possuem uma história específica e
se relacionam com o poder presente no aparelho do Estado, onde essas duas
modalidades de poder se articulam e não são subordinados ao poder estatal.
Entendendo assim, que elas se intercruzam, mas não são interdependentes nos
diversos níveis das relações sociais.
Nesta perspectiva, Foucault acrescenta uma concepção positiva do poder,
que justamente tem por objetivo compreender o poder livre de termos como
dominação e repressão. Em Vigiar e Punir, o autor afirma que:
“É preciso parar de sempre descrever os efeitos do poder em termos negativos: ‘ele exclui’, ele ‘reprime’ ele ‘recalca’, ele ‘censura’, ele ‘abstrai’, ele ‘mascara’, ele ‘esconde’. De fato, o poder produz; ele produz real; produz domínios de objetos e rituais de verdade. O indivíduo e o conhecimento que dele se pode ter se originam nessa produção” (FOUCAULT, 1977, p. 172)
Foucault mostra então claramente, na citação anterior, que não se explica o
poder quando se procura caracterizá-lo como essencialmente repressivo. Ao
contrário das tradições que afirmam que só pode haver saber em locais livres de
relações de poder, ele deixa claro que:
25
Temos que admitir que o poder produz saber (e não simplesmente favorecendo-o porque o serve ou aplicando-o porque é útil); que poder e saber estão diretamente implicados; que não há relação de poder sem a constituição correlata de um campo de saber, nem saber que não suponha e não constitua ao mesmo tempo relações de poder. Essas relações de “poder-saber” não devem ser analisadas a partir de um sujeito de conhecimento que seria ou não livre em relação ao sistema de poder; mas é preciso considerar ao contrário que o sujeito que conhece, os objetos a conhecer e as modalidades de conhecimento são outros tantos efeitos dessas implicações fundamentais do poder-saber e de suas transformações históricas. Resumindo, não é a atividade do conhecimento que produziria um saber, útil ou arredio ao poder, mas o poder-saber, os processos e as lutas que o atravessam e o constituem, que determinam as formas e os campos possíveis do conhecimento. (FOUCAULT, 1975, p.30)
Ainda nesta direção, Foucault, entende que a mecânica do poder é concreta,
particular, permeia toda a sociedade e suas instituições, existe no próprio corpo do
indivíduo de tal sorte que não se encontra acima da sociedade, mas nos fazeres
cotidiano e por isso, caracterizado por micropoder. Assim, esse micropoder não é
criação do Estado, estando, ou não, integrado a ele. É, portanto, do conhecimento
do poder e de sua produção que se formam os saberes e o próprio indivíduo. O
poder é independente do Estado e não será o controle deste que o fará desaparecer
ou transformar essa rede de micropoderes.
O poder se exerce por estratégias, por manobras. Foucault utiliza o método
descritivo numa preocupação constante de como o poder alcança por táticas,
estratégias e subjetividades a constituição do corpo social, onde vale ressaltar ainda
[...] que para a genealogia que ele tem realizado é a dos mecanismos e técnicas infinitesimais de poder que estão intimamente relacionados com a produção de determinados saberes – sobre o criminoso, a sexualidade, a doença, a loucura etc. – e analisar como esses micro-poderes, que possuem tecnologia e história específicas, se relacionam com o nível mais geral do poder constituído pelo aparelho de Estado (FOULCAULT, 2010 p.12).
O poder é exercido e não possuído por classes como um bem, como objeto
de propriedade. O poder não passa necessariamente para o campo do direito, nem
é manifestamente repressivo. Assim, no sistema baseado em determinada
racionalidade (capitalista), mesmo contribuindo para a opressão, repressão e
controle da sociedade, as relações de poder não se manifestam, não se
desenvolvem dentro dessa lógica racionalizante.
Em muitas situações, o poder é associado à dominação, aqueles que
possuem poder dominam outros indivíduos que, por sua vez, são destituídos de
26
qualquer forma poder. Identificar poder e dominação é muito comum, porém nem
toda relação de poder envolve dominação. Não é correto considerar que “(...) toda
relação política envolve necessariamente uma relação de dominação” (PARANHOS,
2000, p.59).
Segundo Foucault então, o poder não é apenas dominação, mas também
produção, e é a partir dessas relações que a realidade se configura. As relações de
poder estão presentes em toda vida social, na igreja, na família, no namoro, na
escola, no Estado, na indústria, nos hospitais, etc. E a escola está diretamente
implicada nestas relações, pois tendo e sendo composta por sujeitos, são nestas
relações que a mesma se configura e se identifica como Instituição e agenciadora
destas relações.
Conforme argumenta Negri,
ao lado do poder, há sempre a potência. Ao lado da dominação, há sempre a insubordinação. E trata-se de cavar, de continuar a cavar, a partir do ponto mais baixo: este ponto... é simplesmente lá onde as pessoas sofrem, ali onde elas são as mais pobres e as mais exploradas; ali onde as linguagens e os sentidos estão mais separados de qualquer poder de ação e onde, no entanto, ele existe; pois tudo isso é a vida e não a morte (NEGRI, 2001).
Sobre esse poder disciplinador direcionado especificamente para a escola,
pode-se constatar a predominância de mecanismos de vigilância (disciplinadores)
sobre a questão qualitativa da construção do saber educacional.
Foucault (1977, p. 126) descreve que esses mecanismos que (...) permitem o
controle minucioso de operações do corpo, que realizam a sujeição constante de
suas forças e lhes impõem uma relação de docilidade - utilidade são o que podemos
chamar as ‘disciplinas’, que aumentam as forças do corpo (em termos econômicos
de utilidade) e diminuem essas mesmas forças (em termos políticos de obediência).
A disciplina exige um espaço específico para seu exercício, um espaço no
qual os indivíduos possam ser vigiados nos seus atos, que tenham seu lugar
específico para visualizar seu comportamento, para poder sancioná-lo ou medir suas
qualidades. O espaço assim, que deve ser visto como algo útil e funcional, onde a
escola deve ser dividida através de séries e classes, e as mesmas individualizarem
os alunos, se estrutura através da disposição em filas o que facilita a vigilância e o
controle. Nesta organização de espaço, o professor visualiza os alunos, pois cada
um se define pela sua posição na classe, nesse sentido “(...) a sala de aula formaria
27
um grande quadro único, com entradas múltiplas, sob o olhar cuidadosamente
‘classificador’ do professor” (FOUCAULT, 1977, p. 135).
A exigência da distribuição das classes em fileiras, com alunos em ordem e
uniformizados tem como objetivo garantir a obediência dos alunos, e uma melhor
utilização do tempo. Cria espaços funcionais e hierárquicos, “(...) trata-se de
organizar o múltiplo, de se obter um instrumento para percorrê-lo e dominá-lo, trata-
se de lhe impor uma ‘ordem’” (FOUCAULT, 1977, p. 135).
A escola torna-se “(...) um espaço fechado, recortado, vigiado em todos os
seus pontos, onde os indivíduos estão inseridos num lugar físico onde os menores
movimentos são controlados onde todos os acontecimentos são registrados (...)”
(FOUCAULT, 1977, p. 174). Esse tipo de vigilância permite a equipe gestora um
controle sobre todas as movimentações na escola: quem está no corredor, quem vai
ao banheiro, a classe “indisciplinada” e outros mais.
Como especifica Foucault (1977, p. 155-156), o “(...) edifício da Escola devia
ser um aparelho de vigiar (...)”, mas esse aparelho necessita para a eficácia da
disciplina de uma vigilância hierárquica, “(...) o olhar disciplinar teve de fato,
necessidade de escala (...). É preciso decompor suas instâncias, mas para aumentar
sua função produtora. Especificar a vigilância e torná-la funcional.”
Nessa perspectiva a vigilância se efetiva na escola com a presença do diretor
e sua equipe, da supervisão pedagógica, da orientação educacional, dos
professores e finalmente dos alunos. Essa hierarquia fundamenta um controle, “(...)
um poder que, em vez de se apropriar e de retirar, tem como função maior ‘adestrar’;
ou sem dúvida adestrar para retirar e se apropriar ainda mais e melhor”
(FOUCAULT, 1977, p. 153).
O poder disciplinar usa como forma de coerção uma relação que compara os
melhores e piores alunos, construindo essencialmente, uma relação hierárquica de
qualidades. Essa hierarquização não remete somente aos alunos dentro de uma
classe, ela existe entre as classes. Na escola existem classes “boas” e classes
“ruins”, ou seja, as classes são classificadas dessa forma porque os alunos que a
integram possuem essas qualificações. A mudança de classe, de sair de uma
posição inferior para uma posição de destaque reforça ainda mais o poder disciplinar
da instituição escolar.
De maneira geral pode-se afirmar que na escola o poder disciplinar torna-se
natural e legítimo. A construção de um saber qualitativo na educação, de ações e
28
projetos pedagógicos é sobreposta pelo caráter disciplinar do sistema educacional.
Onde as relações de poder que se desenrolam na escola, às vezes são
inconscientes e subliminares, sob a forma de poder simbólico (BOURDIEU, 1989),
outras vezes explícitas, (WEBER, 2002). Nesse contexto, algumas circunstâncias
designam a dominação de uns sobre outros, o que pressupõe a probabilidade de
que um mandado seja obedecido . Assim, o poder pode ser compreendido como
“(...) a possibilidade de que um homem, ou um grupo de homens, realize sua
vontade própria numa ação comunitária, até mesmo contra a resistência de outros
que participam da ação” (WEBER, 2002, p. 211).
Neste sentido, entendemos que a prática educativa é permeada por múltiplas
interpretações e intenções e ao observá-la sob diferentes pontos de vista e fazer
análises sob diversos enfoques, permitimos teorizá-la, precisando seus possíveis
sentidos, no que diz respeito à percepção, orientação e valor. Assim, a explicitação
de outros modos entenderem esta prática nos possibilita avaliá-la diferentemente e
assumir opções, propiciando estabelecer relações mais consistentes com as
pessoas e com o mundo a nossa volta.
Compreende-se então, que a organização escolar é estruturada por relações
de poder, e dominação, refletidas em sua cultura e nos saberes que a constituem
saberes ambíguos e distantes da vida cotidiana, que dependem quase que
exclusivamente da comunicação escrita e se adaptam mais comumente a
procedimentos de avaliação e estruturação formal, (VALLE, 2008).
Assim entendido, destacamos que os critérios de legitimação e hierarquização
presentes na sociedade prevalecem na organização escolar, indicando um sistema
educacional enraizado numa sociedade estruturada por relações sociais desiguais,
com consequências profundas na avaliação escolar e nas manifestações que a partir
daí se desvelam e efetivam.
A organização escolar, portanto, se constitui dentro de um espaço
disciplinar mutável, seja a disciplina escolar, acadêmica ou científica, num terreno de
lutas por prestígio e autoridade em torno do conhecimento ou conforme defende
Foucault, “em torno de regimes de verdade”. Mas não se trata apenas de lutas
entre sujeitos que estão no espaço discursivo, e que disputam diferentes formas de
conhecimento e noções de verdade. Pois entendendo a organização escolar como
espaço de luta cultural, por construção deste conhecimento e significados, é
necessário questionar sempre de que modo estes saberes são produzidos, e que
29
significados existem nestas experiências de construção. Estando portanto, a
organização curricular, estreitamente ligada a estes campos de lutas, onde é
necessário compreender efetivamente que educação se quer organizar e a que
sujeitos ela se presta e interessa.
Como argumenta Corazza (2008) é “necessário configurar um novo modelo
social de educação”, modelo este que enfatize a natureza processual do indivíduo e
do conhecimento entendidos como agentes e agenciados desta e nesta organização
escolar, sendo este um dos grandes desafios da sistematização curricular no
contexto das escolas brasileiras, em particular na Educação de Jovens e Adultos,
objeto central de nosso estudo.
Assim, há de se questionar as práticas educativas realizadas nas escolas, os
discursos ali empreendidos, sua organização curricular e a intencionalidade real das
ações nela executadas, na intenção de entender que há conhecimentos que na
escola são veiculados com a discursiva de alicerce às possíveis transformações,
onde se deve questionar essa possibilidade diante de práticas que veem muito
mais o aluno como produto do meio do que seu agente transformador.
1.3 O currículo na organização escolar e a formação humana
Desde a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases, nº 9.394/1996, a
educação é destacada como fator estratégico do desenvolvimento e como
instrumento de cidadania e que “tem por finalidade o pleno desenvolvimento do
educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho”. Foram redefinidas as leis para os níveis de ensino; reformulam-se os
currículos e implementaram programas de diversas ordens, justificando sua
necessidade para a conquista de uma educação igualitária e de qualidade.
Entre tantos aspectos que merecem atenção, ao se tratar da organização
escolar, um que vem especificamente tomando a cena de vários espaços de
discussão tem a ver com as concepções e ações sobre o currículo.
Neste sentido, então captar de uma forma abrangente todo o movimento, que
o currículo, entendido como proposta de organização escolar, fez desde que foi
concebido como tal, é uma tarefa difícil, especialmente pela variedade de teorias e
30
ou discursos sobre ele produzidos no último século, em especial na segunda metade
do século XX.
Tendo como entendimento que é através do currículo que a escola se
estrutura e se estabelece, a dificuldade desta discussão inicia pela própria
conceituação do currículo frente às diferentes concepções acerca desta temática.
Recorrendo à etimologia da palavra “currículo”, que vem do latim “curriculum”,
ou seja, “pista de corrida”, poderíamos, segundo aborda Silva, (2010), dizer que no
curso desta “corrida”, que é o currículo, acabamos por nos tornar o que somos.
Partindo desta concepção, então, o autor destaca que,
O currículo tem significados que vão muito além daqueles aos quais as teorias tradicionais nos confinaram. O currículo é lugar, espaço, território. O currículo é relação de poder. O currículo é trajetória, viagem, percurso. O currículo é autobiografia, nossa vida, curriculum vitae: no currículo se forja nossa identidade. O currículo é texto, discurso, documento. O currículo é documento de identidade (SILVA, 2010, p. 150).
O currículo é constituído de múltiplas narrativas, pois conta histórias sobre
nós, e sobre o mundo que nos auxilia a dar sentido aos nossos rumos e própria
existência. O poder de narrar está estritamente ligado à produção de nossas
identidades sociais. As narrativas além de ajudarem a dar sentido ao mundo,
contribuem para constituí-lo e a constituir a nós mesmos. Entendemos assim, que é
através de histórias sobre o passado que podemos dar sentido ao presente,
construí-lo, e recriar outro futuro.
Nesta direção e de acordo com Lopes (2006), entendemos que,
[...] o currículo se tece em cada escola com a carga de seus participantes, que trazem para cada ação pedagógica de sua cultura e de sua memória de outras escolas e de outros cotidianos nos quais vive. É nessa grande rede cotidiana, formada de múltiplas redes de subjetividade, que cada um de nós traçamos nossas histórias de aluno/aluna e de professor/professora. O grande tapete que é o currículo de cada escola, também sabemos todos, nos enreda com os outros formando tramas diferentes e mais belas ou menos belas, de acordo com as relações culturais que mantemos e do tipo de memória que nós temos de escola [...] .
Tal afirmativa se alinha com a de Silva (2010), onde destaca que, o currículo
é sempre resultado de uma seleção, de um universo mais amplo de conhecimentos
e saberes, onde seleciona-se aquela parte que vai constituir precisamente o
currículo.
31
A instituição escolar, portanto, com toda a sua estrutura e organização faz
parte desse movimento de seleção, uma vez que, se por um lado ela é um lugar
fundamental na constituição da subjetividade, por outro ela também está inserida
num amplo contexto de situações. Assim é necessário compreender como se dá a
construção da subjetividade na escola, identificando as relações de poder contidas
neste ambiente, cujos mecanismos são responsáveis por um sistema punitivo, que
move a engrenagem que ali se estabelece, vinculado a uma corrente de
pensamento, com características padronizadas, que intencionalizam condutas,
apropriação de determinadas áreas do conhecimento e de produção humana
(FOUCAULT, 2010).
Nesse sentido, a organização da escola é atravessada e marcada pela
configuração social, mas também tem o papel de definir o sujeito, seja por meio das
relações de poder entre professores e alunos, seja na forma pela qual se concebe a
aprendizagem e transmite o saber (PRATA, 2005). Podemos supor, ainda, que é a
própria configuração social que está se modificando, e essa modificação está ligada
à produção de outro sujeito, que se fará presente também nas relações entre
professores e alunos, causando, muitas vezes, um estranhamento em ambas as
partes.
Nesse quadro então, situa-se a escola, cujo ambiente se caracteriza por uma
correlação de forças inseridas em determinado contexto, o que favorece a
hierarquização e sujeição nas relações da instituição, disciplinar em sua essência. A
escola, assim estabelecida, define espaços, subdivide e recompõe atividades,
capitaliza o tempo e as energias dos indivíduos pela disciplina, de maneira que
sejam susceptíveis de utilização e controle, articula os indivíduos que se
movimentam e se articulam com os outros, ajusta a série cronológica de uns ao
tempo dos outros, de modo a aproveitar combinar ao máximo as forças individuais,
em suma, com toda sua concepção, a escola se organiza e se estabelece.
Assim, a escola atual, com desafios e dificuldades expressas pelas relações
que se manifestam, cuja produção e veiculação do saber que ali circula, segue
trajetórias controversas e por vezes até desorganizadas, num processo de lutas de
diversas dimensões, sendo marcada por um amplo e complexo conjunto de
prescrições e realizações. Onde o currículo, imbuído do caráter de processo, em
âmbitos diversos e com relações e implicações das mais variadas, acaba por não
dar conta do caráter multicultural das sociedades contemporâneas, nem responde
32
às contradições e às demandas provocadas pelos processos de globalização
econômica e de mundialização da cultura (ORTIZ, 1994). Estando assim,
responsáveis pelo fortalecimento da separação do mundo em ricos e pobres,
civilizados e selvagens, nós e eles, incluídos e excluídos, (MOREIRA; CANDAU,
2003).
A escola assim então, inserida nesta sociedade, age consciente e
inconscientemente de modo a silenciar e sufocar tudo o que lhe parecer estranho e
diferente. E os embates são travados em seu interior, pois a resistência toma vulto e,
na lógica das batalhas, a parte que se julga poderosa, através de uma força, de uma
dominação, de um ato de violência, apaga os sentidos que o componente
aparentemente derrotado possui (FOUCAULT, 2010).
Ainda neste panorama, entendemos que as reformulações curriculares atuais
promovem discussões entre posições diferentes, onde há os que defendem os
currículos por competências, os científicos, os que enfatizam a cultura, a
diversidade, os mais críticos à ciência moderna, enfim, teorias tradicionais, críticas e
pós-críticas disputam esse espaço cheio de conflitos, como afirma Silva, (2010), o
currículo é um território político contestado e porque não dizer de extensas
contestações. Contestações estas que nos provocarão refletir, a partir da
compreensão que o currículo é este grande articulador de contestações e embates,
sobre os processos de subjetivação da construção curricular, especificamente da
educação profissional proposta para os sujeitos jovens e adultos, no panorama da
educação brasileira, com a implementação do Programa de Educação Profissional
para Jovens e Adultos, o PROEJA, na ETE Ferreira Viana.
33
2 OS RUMOS DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E A EJA/PROEJA
O discurso veicula e produz poder; reforça-o, mas
também o mina, expõe, debilita e permite barrá-lo
Foucault, 2003
Um dos principais dilemas da educação contemporânea é aquele que gira em
torno da permanência dos alunos do ensino médio nos bancos escolares e da
adequação desta educação à formação profissional. Atraídos pelo número de
estímulos e pela velocidade da sociedade, a escola lhes parece enfadonha e sem
significado gerando um clima de desinteresse pela vida escolar.
Nessa perspectiva, o desafio dos sistemas de ensino nos últimos anos
envolve a capacidade de organizar um programa curricular que consiga, ao mesmo
tempo, capacitar os jovens para continuar os estudos no ensino superior e prepará-
los para o mercado de trabalho diante muitas vezes de uma organização escolar
excludente e burocrática e no caso dos adultos há ainda outros motivos que podem
afastar este grupo da escola: necessidade de trabalho, urgências familiares e as
próprias expectativas de vida não atendidas.
A promulgação do Decreto nº 5.840, de 13 de julho de 2006, trouxe alguns
aspectos para a educação básica oferecida aos jovens e adultos no panorama da
educação brasileira que merecem nossa análise. Entre elas, a ampliação da
abrangência, no que concerne ao nível de ensino pela inclusão do ensino
fundamental, e, em relação à origem das instituições que podem ser proponentes,
pela admissão dos sistemas de ensino estaduais e municipais e entidades privadas
nacionais de serviço social, aprendizagem e formação profissional, passando a
denominação destas mudanças para Programa Nacional de Integração da Educação
Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e
Adultos, ou seja, PROEJA.
Desta forma, este capítulo fará uma breve análise das políticas públicas
aplicadas ao ensino de jovens e adultos no período de 2005 a 2014, pelo governo
federal, bem como as iniciativas tomadas pelos governos estaduais, em particular o
governo do Estado do Rio de Janeiro, para a educação de jovens e adultos, com
34
vistas a entender o processo de implementação do PROEJA na rede de ensino
FAETEC.
2.1 O marco inicial - trajetória da Educação Profissional
No que diz respeito à educação básica de jovens e adultos no Brasil, pode-se
afirmar que predominam iniciativas individuais ou de grupos isolados, acarretando
descontinuidades, contradições e descaso dos órgãos responsáveis, onde afirma
Arroyo (2009), que além de trajetórias escolares descontínuas, esses jovens e
adultos têm trajetórias perversas de vida e de exclusão social e que estes
experimentam trajetórias de negação de todas as ordens.
A cada dia, aumenta a demanda social por políticas públicas duradouras
nesta fase de ensino, pois como descreve Cabello (1998), tais políticas devem
pautar o desenvolvimento de ações baseadas em princípios epistemológicos que
resultem em um corpo teórico bem estabelecido e que respeite as dimensões
sociais, econômicas, culturais, cognitivas e afetivas do adulto em situação de
aprendizagem escolar.
No outro lado deste panorama, nas instituições que atuam na educação
profissional e tecnológica - EPT, tanto na Rede Federal de Educação Profissional e
Tecnológica formada pelos Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFET),
Escolas Técnicas Federais (ETF), hoje Institutos Federais de Educação Tecnológica
(IF), Escolas Agrotécnicas Federais (EAF) e escolas técnicas vinculadas às
universidades federais, como nos sistemas estaduais e nas redes nacionais de
formação profissional que integram o denominado Sistema “S”6, não existia uma
linha de ação especificamente voltada para a modalidade Educação de Jovens e
Adultos (EJA), embora algumas delas tenham muitos jovens e adultos como alunos.
6 Termo que define o conjunto de organizações das entidades corporativas voltadas para o treinamento profissional, assistência social, consultoria, pesquisa e assistência técnica, que além de terem seu nome iniciado com a letra S, têm raízes comuns e características organizacionais similares. Fazem parte do sistema S: Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai); Serviço Social do Comércio (Sesc); Serviço Social da Indústria (Sesi); e Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio (Senac). Existem ainda os seguintes: Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar); Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop); e Serviço Social de Transporte (Sest).
35
Nesse contexto, a partir da vigência da Lei n0 3.552/19597, que descreve os
objetivos do ensino industrial, para aquela época, as instituições que deram origem
aos atuais CEFETs e IFs passaram a atuar na parte final da educação básica –
atual Ensino Médio – e nos Cursos Técnicos de Nível Médio. Em alguns períodos
históricos, essa atuação ocorreu de forma integrada, mesmo que essa integração
não tenha ocorrido em toda a plenitude de seu significado. Em outros momentos, de
forma separada, ou seja, ensino médio por um lado e cursos técnicos de nível médio
por outro.
A primeira tentativa de integrar o ensino médio regular e o técnico foi a
reforma da Educação Básica promovida durante a regime militar, pela Lei de
Diretrizes e Bases 5.692, de 1971. Por esse modelo, a educação profissional passou
a ser compulsória para alunos do segundo grau da rede pública.
A LDB 5.692/71 buscou modificar toda a estrutura de ensino de 1º e 2º graus,
do ensino profissionalizante e do ensino técnico. Instituiu a obrigatoriedade da
profissionalização para o 2º grau, com o objetivo de conter a demanda crescente do
ensino superior, que não encontrava vagas nas universidades, e de aumentar o
número de profissionais habilitados para o mercado de trabalho, através da intenção
de se constituir uma rede única de ensino que eliminasse o caráter elitista de acesso
à educação. Neste sentido, o técnico industrial enquanto formação profissional foi
retirado da legislação e acoplado ao ensino médio, para continuar existindo.
Para Kuenzer (1988), a LDB/71 tentou resolver através da escola o problema
da dualidade estrutural do ensino e da divisão de classes, que está posto nas
sociedades capitalistas. No entanto, o sistema capitalista de produção, gera
necessariamente a apropriação dos meios de produção por uma classe em
detrimento de outra, menos favorecida, que sem estes meios, encontra na venda de
sua força de trabalho, a única condição de sobrevivência e de reprodução. Esta é a
condição primeira das desigualdades e das contradições, que não se resolvem,
apenas, na formulação de leis.
Desta forma, a realidade não foi modificada pela lei, ficando as escolas de 2º
Grau com as mesmas características anteriores, as escolas técnicas com o ensino
profissionalizante para a classe trabalhadora e as escolas de 2º grau preparando
para o vestibular. Entretanto, as escolas de 2º grau estaduais, da rede pública,
7 Dispõe sobre nova organização escolar e administrativa dos estabelecimentos de ensino industrial do Ministério da Educação e Cultura, e dá outras providências. Vide Lei 8.731, de 1993.
36
decaíram na qualidade, por não conseguirem ministrar as duas funções do ensino
ao mesmo tempo e por não terem sido alcançadas pelo Estado com o incremento de
verbas. Ao contrário, o Estado se afasta do ensino fundamental e do ensino de 2º
grau quanto ao seu financiamento e melhoria de suas condições gerais de
funcionamento ao direcionar-se para o sistema privado, visando evidenciá-lo e de
forma sutil, reforçá-lo, sendo este o panorama brasileiro ao longo de 25 anos.
Apesar do fracasso da profissionalização do 2º. Grau, a polêmica em torno de
sua necessidade ainda perdurou por mais de uma década nos bastidores da política
educacional, sendo revista por vários pareceres como 45/72 e 76/75 e só acabou
legalmente em 1982 com a lei 7044/82, que formalizou o fim da obrigatoriedade da
profissionalização do ensino.
Somente a partir de 1996, com a promulgação da nova lei da educação, a Lei
9.394/96, foram desencadeadas mudanças expressivas na educação, tanto em seus
fins quanto em seu direito e acesso, que mudaram os rumos da concepção de
educação básica, sendo composta e formada pela educação infantil, ensino
fundamental e ensino médio. Esta, por finalidade deveria desenvolver o educando,
assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e
fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores.
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é instituída pela Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDB), como uma modalidade educacional, integrante
da Educação Básica. Esta modalidade se destinaria ao atendimento de jovens e
adultos que não tiveram, na idade própria, acesso ao ensino fundamental ou médio
ou ainda, a possibilidade de continuar os estudos nesses níveis de ensino. A partir
deste momento então, o termo “educação de jovens e adultos” substitui a
modalidade de ensino conhecida como “ensino supletivo”, mas ainda repleta de
fragmentações em relação à sua aplicabilidade e financiamentos.
Conforme argumenta Ventura (2011),
a identidade da EJA na década de 1990 passa a apresentar-se de forma ampliada, fragmentada, heterogênea e complexa, orientada pelo princípio de empregabilidade onde ser “educado é ser empregável” (VENTURA, 2011, p.82).
Assim, percebe-se que por mais que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional tenha definido a educação de jovens e adultos como uma modalidade de
37
ensino, suas diretrizes trazem explícito o caráter da suplência, aliado a uma
preparação rápida para o trabalho, por meio de cursos de qualificação profissional
de curta duração, para atender aos interesses econômicos e políticos, em
detrimento a uma formação que efetivamente inclua jovens e adultos no processo de
escolarização.
No ano de 1997, no tocante às políticas públicas para a Educação
Profissional, a expansão e a reforma, de fato implementadas, tinham o objetivo de
reorganizá-la, priorizando aqueles trabalhadores que necessitassem encurtar o
caminho entre a escola e o mercado do trabalho. Nessa ótica, específica, pode-se
falar em mercado de trabalho por meio de uma formação rápida de nível básico,
voltada para o setor de serviços que incentivou a capacidade competitiva do país na
economia mundial, e esteve pautada na racionalidade econômica. Ainda neste ano,
a instituição do Decreto nº. 2.208, para regulamentar a Educação Profissional,
acentuou ainda mais a divisão entre formação geral e a formação especifica, pois
possibilitou que a Educação Profissional de nível técnico tivesse um currículo próprio
e fosse independente do Ensino Médio, podendo ser concomitante ou sequencial a
este e conforme descreve OLIVEIRA,
foi no transcorrer do ano de 1997 que, de fato, o governo federal, utilizando-se de medidas provisórias, decretos-leis e de outras medidas não muito democráticas, mas típicas do governo FHC, foi, aos poucos, dando uma organicidade, pelo menos no âmbito legal, à nova institucionalidade da educação profissional nas ETFs, CEFETs e EAFs (OLIVEIRA, 2006, p.107).
Mas esse decreto foi revogado, em 2004, pelo Decreto n. 5.154, que
anunciava a articulação entre o ensino médio e a educação profissional, como se
pode ver no parágrafo 1º, do artigo 4º, que descreve como poderá ocorrer esta
integração:
I - integrada, oferecida somente a quem já tenha concluído o ensino fundamental, sendo o curso planejado de modo a conduzir o aluno à habilitação profissional técnica de nível médio, na mesma instituição de ensino, contando com matrícula única para cada aluno; II – concomitante, oferecida somente a quem tenha concluído o ensino fundamental ou esteja cursando o ensino médio, na qual a complementaridade entre a educação profissional técnica de nível médio e o ensino médio pressupõe a existência de matrículas distintas para cada curso, [...] III – subsequente, oferecida somente a quem já tenha concluído o ensino médio. (BRASIL. Decreto 5.154, 2004)
38
Ao se iniciar um novo mandato do Governo Federal, em 2003, e mesmo
antes, já no período de transição, há o aumento da discussão acerca do Decreto
2.208/978, principalmente no que se refere à separação obrigatória entre o ensino
médio e a educação profissional.
Esse processo resultou em uma significativa mobilização dos setores
educacionais vinculados ao campo da educação profissional, principalmente no
âmbito dos sindicatos e dos pesquisadores da área trabalho e educação. Desse
modo, durante o ano de 2003 até julho de 2004, houve grande efervescência nos
debates relativos à relação entre o ensino médio e a educação profissional.
Esta trajetória histórica fornece subsídios que deixam em evidência que a
valorização da educação tomou maior impulso a partir do ano de 2004, em que a
EJA passa a ter maior importância. Neste período foi constituído o Departamento de
Políticas de Educação de Jovens e Adultos, na SECAD9, e este fato só foi possível
por intermédio de uma ação conjunta entre a SETEC10 e a SECAD, onde através de
encontros e debates se originou o projeto do PROEJA.
Assim, as Instituições Federais de Educação Profissional tiveram suas
iniciativas pautadas em instrumentos legais, que colocaram o ensino médio
tecnológico, em sintonia com os preceitos legais da Reforma do Estado, o que
posteriormente também influenciou estado e municípios.
2.2 Uma análise sobre as políticas públicas aplicadas pelo governo federal ao
ensino de jovens e adultos no período de 2005 a 2014
Somente nove anos depois da promulgação da Lei de Diretrizes e Bases, em
2005, o Governo Federal institui o “Programa de Integração da Educação
8 Revogado pelo decreto nº 5.154 de 23 de julho 2004, que regulamenta o § 2º do art. 36 e os art. 39 a 41 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, e dá outras providências.
9 SECAD: Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Criada no ano de 2004. Sua principal função é articular junto às três secretarias do MEC responsáveis por gerir a educação formal (SEB – Secretaria de Educação Básica, Setec – Secretaria de Educação Tecnológica e Secretaria do Ensino Superior – SESU) políticas públicas voltadas a ampliação do acesso a educação a todos os cidadãos, levando-se em conta especificidades de gênero, idade, raça e etnia, etc.
10
SETEC: Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica.
39
Profissional ao Ensino Médio na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos”
(PROEJA), por meio do qual passam a ser ofertados cursos técnicos integrados ao
ensino médio na modalidade EJA (Decreto n. 5.478, de 24/06/2005). Contudo, já no
ano seguinte, esse Programa é extinto, sendo criado outro, o “Programa Nacional de
Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de
Educação de Jovens e Adultos” (PROEJA) (Decreto n. 5.840, de 13/07/2006),
mantendo-se a sigla PROEJA (BRASIL, 2007d).
De acordo com documento da Secretaria de Educação Técnica do Ministério
da Educação (BRASIL, 2007), a extinção do “Programa de Integração da Educação
Profissional ao Ensino Médio na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos” e
sua substituição pelo “Programa Nacional de Integração da Educação Profissional
com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos”
(PROEJA) foi promovida tendo em vista atender reivindicações de profissionais da
educação da Rede Federal de Ensino, de estudiosos do assunto e de gestores
educacionais. Esses setores da educação solicitaram ampliar a abrangência dos
vínculos entre a EJA e a educação profissional, que diz respeito à oferta de cursos,
bem como aos locais onde seriam oferecidos.
O tratamento que vem sendo dado à educação profissional, anunciado pelo
Ministério da Educação ao início do Governo Lula, seria de reconstruí-la como
política pública no sentido de,
corrigir distorções de conceitos e de práticas decorrentes de medidas adotadas pelo governo anterior, que de maneira explícita dissociaram a educação profissional da educação básica, aligeiraram a formação técnica em módulos dissociados e estanques, dando um cunho de treinamento superficial à formação profissional e tecnológica de jovens e adultos trabalhadores. (Brasil, MEC, 2005, p. 2)
Entre essas correções, uma das mais relevantes, em razão do seu
fundamento político e por se tratar de um compromisso assumido com a sociedade
na proposta de governo, foi a revogação do Decreto n. 2.208/97, restabelecendo-se
a possibilidade de integração curricular dos ensinos médio e técnico, de acordo com
o que dispõe o artigo n. 36 da LDB, onde determina que,
A educação profissional técnica de nível médio articulada, prevista no inciso I do caput do art. 36-B desta Lei, será desenvolvida de forma: I - integrada, oferecida somente a quem já tenha concluído o ensino fundamental, sendo o curso planejado de modo a conduzir o aluno à
40
habilitação profissional técnica de nível médio, na mesma instituição de ensino, efetuando-se matrícula única para cada aluno; II - concomitante, oferecida a quem ingresse no ensino médio ou já o esteja cursando, efetuando-se matrículas distintas para cada curso, e podendo ocorrer: a) na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as oportunidades educacionais disponíveis; b) em instituições de ensino distintas, aproveitando-se as oportunidades educacionais disponíveis; c) em instituições de ensino distintas, mediante convênios de intercomplementaridade, visando ao planejamento e ao desenvolvimento de projeto pedagógico unificado. (BRASIL, 2008)
O objetivo do PROEJA então, seria o de oferecer oportunidades educacionais
que integrem a última etapa da educação básica a uma formação profissional aos
jovens e adultos que já concluíram o ensino fundamental, mas que ainda não têm
nem o ensino médio nem uma profissão técnica de nível médio.
As intenções explicitadas no PROEJA, são coerentes com as políticas
públicas para a educação profissional e tecnológica definidas pelo atual governo
federal (MEC, 2004), as quais apontam para a necessidade da Educação
Profissional Tecnológica, articular-se com a educação básica e com o mundo do
trabalho, e interagir com outras políticas públicas, com o fim de contribuir para a
garantia do direito de acesso à educação básica, para o desenvolvimento
socioeconômico e para a redução das desigualdades sociais. Igualmente, são
coerentes com o mais importante instrumento legal, nesta área, produzido durante o
governo Lula no campo da Educação Profissional – o Decreto n0 5.154/04, que
revogou o Decreto n0 2.208/97 do governo FHC11. Esse último Decreto (nº 2.208/97)
determinava a separação entre o ensino médio e a educação profissional técnica de
nível médio. Enquanto isso, o primeiro, nº 5.154, volta a permitir a integração entre o
ensino médio e a educação profissional técnica de nível médio, aspecto fundamental
para a implementação de uma política pública de EPT, voltada para a formação
integral dos cidadãos, pois conforme a lei de diretrizes e bases estabelece, a
educação profissional e tecnológica, no cumprimento dos objetivos da educação
nacional, integra-se aos diferentes níveis e modalidades de educação e às
dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia.
Apesar dessas intenções, explícitas no Programa, e das potencialidades
estruturais da Rede Federal de EPT para contribuir com seu êxito, alguns equívocos
11
O Governo Fernando Henrique, também chamado Governo FHC, teve início com a posse da presidência por Fernando Henrique Cardoso, em 1 de Janeiro de 1995, e terminado em 1 de janeiro de 2003, quando assumiu Luiz Inácio Lula da Silva.
41
importantes marcam esta iniciativa governamental, que são significativos serem
apresentados. Foi a Portaria MEC, nº. 2.080/05 que inaugurou esse tema.
Entretanto, tal dispositivo não poderia ferir o Decreto nº. 5.224/04, de maior
hierarquia, e determinar que todas as instituições federais de EPT - IFET
oferecessem a partir de 2006 cursos técnicos integrados ao ensino médio na
modalidade EJA, estipulando, inclusive, um percentual mínimo de vagas dessas
instituições que deveriam ser destinadas ao PROEJA. Essa Portaria carece de
legalidade, pois o Decreto nº. 5.224/04, que dispõe sobre a organização dos CEFET,
estabelece, em seu artigo primeiro, que “os Centros Federais de Educação
Tecnológica – CEFET –, criados mediante transformação das Escolas Técnicas
Federais e Escolas Agrotécnicas Federais, [...] constituem-se em autarquias
federais, vinculadas ao Ministério da Educação, detentoras de autonomia
administrativa, patrimonial, financeira, didático-pedagógica e disciplinar.” (Decreto nº.
5.224/04).
Após poucos dias de vigência, o conteúdo da Portaria nº. 2.080/05 foi
ratificado, quase integralmente, pelo Decreto nº. 5.478/05, que instituiu, no âmbito da
Rede Federal de EPT, o PROEJA. Essa parece ter sido uma tentativa de resolver o
problema de hierarquia das normas, mas o objetivo não foi alcançado, pois o
Decreto nº. 5.224/04 ainda permanece em vigor.
Na esfera político-pedagógica, as poucas IFET’s que ofereciam EJA, à época
da publicação do mencionado Decreto, não o faziam na forma integrada à educação
profissional. Dentre as experiências registradas na Rede, se destacam as dos
CEFET de Pelotas/RS, Santa Catarina, Espírito Santo, Campos/RJ e Roraima.
Entretanto, em nenhum dos casos havia oferta integrada entre o ensino médio e a
educação profissional. A maioria delas diz respeito apenas à educação básica,
enquanto algumas relacionam educação básica e profissional na forma
concomitante12, ou seja, ensino médio junto à educação profissional, contudo com
objetivos específicos.
Nos anos de 2006, 2007, 2009 e 2010 alguns Institutos Federais ofertaram
cursos de pós-graduação lato sensu em PROEJA para professores da rede pública
de ensino e para seus próprios professores. Este curso tinha o objetivo de
12
Concomitante significa simultâneo, que se manifesta no mesmo tempo que o outro, que acompanha. Pode ocorrer concomitância externa ou interna. Interna na própria unidade escolar; externa em outra unidade escolar.
42
possibilitar a formação continuada dos profissionais que atuam na Educação de
Jovens e Adultos. Hoje identificamos mudança no foco deste curso para formação
de professores para a EJA e não especificamente para o PROEJA. Diante desse
quadro, é fácil constatar que ainda existe na Rede Federal de EPT, carência de um
corpo de professores formado para atuar no campo específico da Educação de
Jovens e Adultos.
Ainda destacamos que alguns CEFETs oriundos de EAF, reduziram
substancialmente o quadro docente do ensino médio nos últimos anos, em função
do Decreto nº. 2.208/97. Nessas instituições, simplesmente, não há corpo docente
suficiente sequer para oferecer cursos técnicos integrados ao ensino médio para os
adolescentes egressos do Ensino Fundamental, quanto mais para a educação de
jovens e adultos.
Portanto, não é preciso grande esforço de análise dos fatos para constatar
que essa matéria deveria ter sido estudada, aprofundada, discutida e avaliada em
espaços mais amplos antes de vir à tona, sob pena de má utilização de recursos
públicos e da não consecução dos objetivos explicitados.
Além disso, a Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica -
SETEC/MEC realizou, durante o segundo semestre de 2005, um conjunto de
oficinas pedagógicas distribuídas pelo país, cujo fim era promover a capacitação dos
gestores acadêmicos das instituições federais de educação profissional e
tecnológica (IFET) com vistas à atuação no PROEJA. Na verdade, essa ação, ao
invés de concretizar a capacitação esperada, resultou em uma série de análises,
reflexões e duras críticas relativas ao conteúdo e, principalmente, à forma de
implantação o Programa.
Machado; Alves; Oliveira (2008) destacam, que no ano de 2006, foi publicado
pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) um Edital PROEJA/CAPES6/SETEC
Nº 003/2006, para a implementação do Programa de Apoio ao Ensino e a Pesquisa
Científica e Tecnológica em Educação Profissional Integrada à Educação de Jovens
e Adultos (PROEJA). Com este documento, constituiu-se um grupo de
pesquisadores em várias instâncias do Brasil, com a preocupação de produzir
conhecimento no campo do PROEJA.
Todo esse contexto aliado à mudança na equipe dirigente da SETEC no
último trimestre de 2005, cuja nova equipe mostrou-se sensível às críticas
generalizadas provenientes do meio acadêmico e da Rede, implicou em uma
43
mudança de rumos no caminho da implantação do PROEJA, no sentido de construir
uma base sólida para a sua fundamentação. O primeiro passo, nessa nova fase, foi
a constituição de um grupo de trabalho plural (MEC/SETEC, 2005), que teve como
tarefa elaborar um documento base (MEC, 2006)13 de concepções e princípios do
Programa, até então inexistente, e cujo resultado aponta para a perspectiva de
transformar esse Programa em política pública educacional.
O PROEJA surge então, na rede federal de ensino, com a dupla finalidade de
enfrentar as descontinuidades que marcam a modalidade EJA no Brasil, no âmbito
do ensino médio e, além disso, integrar à educação básica uma formação
profissional que contribua para a integração socioeconômica de qualidade desses
coletivos.
Conforme determina o documento base, fica instituído, no âmbito federal, o
Programa Nacional de Integração da Educação Profissional à Educação Básica na
Modalidade de Educação de Jovens e Adultos - PROEJA, e conforme as diretrizes
estabelecidas neste Decreto,
§ 1o O PROEJA abrangerá os seguintes cursos e programas de educação
profissional: I - formação inicial e continuada de trabalhadores; e II - educação profissional técnica de nível médio. § 2
o Os cursos e programas do PROEJA deverão considerar as
características dos jovens e adultos atendidos, e poderão ser articulados: I - ao ensino fundamental ou ao ensino médio, objetivando a elevação do nível de escolaridade do trabalhador, no caso da formação inicial e continuada de trabalhadores, nos termos do art. 3
o, § 2
o, do Decreto n
o
5.154, de 23 de julho de 2004; e II - ao ensino médio, de forma integrada ou concomitante, nos termos do art. 4
o, § 1
o, incisos I e II, do Decreto n
o 5.154, de 2004. (BRASIL, 2006)
O documento-base do PROEJA indica alguns princípios fundamentais, entre
eles, o compromisso de entidades públicas integrantes dos sistemas educacionais
com a inclusão da população em suas ofertas educacionais; o segundo princípio
propõe a inserção orgânica da modalidade EJA integrada à educação profissional
nos sistemas educacionais públicos; o terceiro princípio ressalta a ampliação do
direito a educação básica pela a universalização do ensino médio; o quarto princípio
13
No Documento Base do PROEJA, consta uma retrospectiva histórica sobre a educação de jovens e adultos no Brasil; uma análise dos problemas de acesso, permanência e qualidade da educação básica no País, tanto para o público denominado “regular” como na EJA. A partir daí, apresentam-se e discutem-se as concepções e os princípios do Programa. Nele, também são discutidos os principios dos projetos político-pedagógicos que podem fundamentar as ofertas decorrentes do Programa, além de diretrizes gerais para a sua operacionalização.
44
compreende o trabalho como princípio educativo a partir da vinculação da escola
média com perspectiva do trabalho; o quinto princípio define a pesquisa como
fundamento da formação do sujeito; e o sexto princípio considera as condições
geracionais, de gênero, de relações étnicas — raciais como construtores da
formação humana e dos modos como se produzem as identidades sociais.
Ainda conforme o documento base aborda, um dos grandes desafios deste
Programa seria, portanto, integrar três campos da educação que historicamente não
estão muito próximos: o ensino médio, a formação profissional técnica de nível
médio e a educação de jovens e adultos pois,
a educação dos trabalhadores, seja no processo de escolarização, seja na formação profissional inicial e continuada, historicamente, vem sendo realizada de forma desarticulada. De um lado, ocorre uma escolarização propedêutica voltada apenas para os conhecimentos gerais e do outro uma formação profissional de caráter instrumental para o trabalho (BRASIL, 2006).
Igualmente desafiante é conseguir fazer com que as ofertas resultantes do
Programa efetivamente contribuam para a melhoria das condições de participação
social, política, cultural e no mundo do trabalho desses coletivos, ao invés de
produzir mais uma ação de contenção social. Coloca-se ainda outro desafio em um
plano mais elevado: a transformação desse Programa em uma verdadeira política
educacional pública do Estado brasileiro para o público da EJA.
A educação profissionalizante surge como um mecanismo de inserção e
reinserção no mercado de trabalho, e se preocupa com as competências dos
indivíduos para possibilitar-lhes melhores condições de empregabilidade, no sentido
de oferecer aos discentes os saberes e conhecimentos científicos e tecnológicos
que complementam uma formação cidadã.
É necessário, portanto, que haja essa aproximação entre os distintos
sistemas educacionais, estados e municípios, para que se desenvolvam as ações
estruturantes necessárias à materialização das intenções previstas no Documento
Base do PROEJA (BRASIL, 2006), onde exista não somente programas aligeirados
de governo, mas sobretudo uma política educacional que mude o panorama da
educação brasileira, especificamente no que diz respeito ao ensino médio/educação
profissional, ou seja a educação de jovens e adultos.
45
3 O PROEJA NA ESCOLA TÉCNICA ESTADUAL FERREIRA VIANA – FAETEC-
SEU PERCURSO E ORGANIZAÇÃO CURRICULAR
Transitar por onde não há modelos a imitar senão novas
formas de vida a construir é o desafio a que nos convoca o
filósofo: participar em devires-minoritários para inventar novas
forças ou novas armas
Gilles Deleuze
A organização escolar não é uma tarefa tão fácil quando se deseja lutar por
um processo de ensino participativo, coletivo e próximo à realidade do aluno. Desta
forma os campos de força que existem nesta organização apontam para as
implicações de cada um dos agentes envolvidos com a construção de educação,
noção de formação humana e etc.
A instituição escolar fez e faz parte dessa construção, uma vez que, se por
um lado ela é um lugar fundamental na constituição da subjetividade, por outro ela
também está inserida num amplo contexto. Nesse sentido, a organização da escola
é atravessada e marcada pela configuração social, mas também tem o papel de
definir o sujeito, seja por meio das relações de poder entre professores e alunos,
seja na forma pela qual concebe a aprendizagem e transmite o saber. (PRATA,
2005)
Com base, então, na compreensão que o currículo se tece em cada escola
com a carga de seus participantes, que trazem para cada ação pedagógica sua
cultura, sua memória e suas subjetividades, este capítulo procurará, com base nas
observações de campo registradas e vivenciadas na Escola Técnica Estadual
Ferreira Viana, unidade da Rede de Ensino FAETEC, colocar em análise o processo
de organização curricular do PROEJA, nesta unidade de ensino, tendo em vista sua
estrutura, as ações estabelecidas pelos docentes na aplicação do ensino, a
realidade vivida no processo de aprendizagem dos alunos, e os desafios da
integração curricular e suas possíveis reformulações, frente às exigências da
educação profissional no contexto atual da educação brasileira.
46
3.1 O campo da pesquisa – Escola Técnica Estadual Ferreira Viana –
ETEFEV/FAETEC
A unidade educacional da rede FAETEC escolhida como campo de
investigação para esta pesquisa é a Escola Técnica Estadual Ferreira Viana,
especificamente por sua trajetória na educação profissional, por ser a Unidade da
rede que iniciou as discussões relativas a necessidade de um novo projeto
educacional para a educação profissional nos cursos concomitantes noturnos e em
particular por ser o campo de atuação da pesquisadora.
No sentido de observar esta escola como um espaço atravessado de lutas,
conflitos, negociações, intenções e apropriações dos sujeitos, procurou-se, mesmo
atuando profissionalmente nesta realidade, buscar o exercício do “olhar de fora” e
“olhar o todo”, no exercício ainda, de entender que os documentos históricos não
falam por si; eles têm historicidade e a “cada momento, este mundo é o que é: que
suas práticas e seus objetos sejam raros, que haja vazio em volta deles, isso não
quer dizer que haja em derredor, verdades que os homens ainda não apreenderam”
(VEYNE,1998, p.274).
Responsável pela implementação da política de Educação Profissional e
Tecnológica no Estado do Rio de Janeiro, a Fundação de Apoio à Escola Técnica
(FAETEC), vinculada à Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia, deu seus
primeiros passos em 10 de junho de 1997. Atualmente, a Rede atende cerca de 300
mil alunos por ano em mais de 130 unidades de ensino, que somam a oferta no
Ensino Técnico de Nível Médio, na Formação Inicial e Continuada / Qualificação
Profissional e na Educação Superior. Criada pela Lei nº 2.735/97 e alterada pela Lei
nº 3.808/02, é uma entidade sem fins lucrativos, com personalidade jurídica de
Direito Público, de duração indeterminada. Sua sede administrativa está localizada
na capital do Rio de Janeiro, no bairro de Quintino Bocaiúva, Zona Norte da cidade.
A Escola Técnica Estadual Ferreira Viana, ETEFEV, uma das Unidades
Escolares subordinadas à rede FAETEC, foi inaugurada em 09 de agosto de 1888,
com a denominação de Casa de São José, graças aos esforços do então
conselheiro do Império, Ministro da Justiça, Antônio Ferreira Viana. Ele foi o
responsável por organizar uma comissão de caridade que angariou fundos, através
de doações em dinheiro, objetos (roupa de cama, vestuário, alimentos e remédios,
47
móveis e utensílios domésticos, material escolar), e de um imóvel, localizado na rua
Barão de Itapagipe, n. 33, no bairro da Tijuca, para prestar socorro à infância
desvalida. Além disso, professores, médicos, dentistas e engenheiros, dentre outros
profissionais, ofereceram voluntariamente seus serviços. Criava-se assim um asilo
destinado a abrigar e educar crianças sem recursos, sendo a maioria delas órfãs ou
abandonadas.
Figura 1 – Casa de São José – Asilo de órfãos e abandonados
Fonte: Centro de Memória da ETE Ferreira Viana – José do Patrocínio
A Casa de São José era um internato destinado a receber, manter e educar
meninos desvalidos do sexo masculino, órfãos ou abandonados, de seis a doze
anos de idade, oferecendo-lhes o ensino primário elementar, além de oficinas de
trabalhos manuais. Em 1916 a instituição deixou de se chamar Casa de São José e
passou a chamar-se Instituto Ferreira Viana, tornando-se uma escola primária mista
que abrigava a partir de então, duzentos e trinta meninos e setenta meninas em
regime de internato, experiência encerrada em 1933.
Em 30/01/1942, Getúlio Vargas estabelece a Lei Orgânica do Ensino
Industrial e uma nova denominação: Escola Artesanal Ferreira Viana. Após sofrer
algumas alterações, foi criado, em 1948, o curso ginasial secundário e, na década
seguinte (1954) o ensino industrial em regime de semi-internato. O estabelecimento
recebeu então o nome de Escola Industrial Ferreira Viana e nela foram ministrados
48
cursos de pintura, marcenaria, fundição, serralheria, mecânica e de máquinas e
instalações elétricas, exemplificado na ilustração a seguir.
Figura 2 – Oficinas de tornearia mecânica e de fundição do “Ferreira Viana”
Fonte: Centro de Memória da ETE Ferreira Viana – José do Patrocínio
Na década de sessenta transformou-se em Colégio Estadual e passou a
oferecer o ensino colegial (científico) sendo as séries remanescentes do ginásio
extintas gradativamente. Na década de setenta (1972) transformou-se num Centro
Interescolar, passando a funcionar como escola profissionalizante de Segundo Grau
em regime de complementaridade com outras instituições de ensino, públicas e
privadas, onde os alunos cursavam as disciplinas de formação geral. O Centro
Interescolar oferecia os cursos de Edificações, Eletricidade, Mecânica e de Desenho
Mecânico, além de Auxiliar de Escritório. Em 1982, volta a denominar-se Colégio
49
Estadual Ferreira Viana, retomando a antiga denominação do período de 1966 a
1972. Nessa época, são oferecidos cursos de: Processamento de Dados e cursos
básicos em Mecânica, Construção Civil e Eletricidade.
Finalmente, recebe a denominação atual: Escola Técnica Estadual Ferreira
Viana, a partir de 1988. Ao longo de sua história, desde a sua fundação, em 1888, a
instituição recebeu várias denominações e esteve subordinada ao governo federal, à
municipalidade e ao governo estadual, mantendo sempre a intenção de formar
cidadãos para o mundo do trabalho, inicialmente em oficinas, e, depois, em cursos
ligados ao setor industrial.
Desde 1996 faz parte da Fundação de Apoio às Escolas Técnicas – FAETEC,
órgão da Secretaria de Ciência e Tecnologia, do Estado do Rio de Janeiro, onde
atualmente oferece cursos técnicos profissionalizantes de nível médio nas áreas de
Edificações, Eletrônica, Eletrotécnica, Mecânica e Telecomunicações, nas
modalidades de Ensino Médio Integrado à Educação Profissional (diurno), Ensino
Médio Integrado à Educação Profissional de Jovens e Adultos – PROEJA (noturno)
e Educação Profissional Subsequente.
Atualmente a ETEFEV, com seus 127 anos, apresenta a seguinte estrutura e
distribuição quantitativa:
Quadro 1 - Estrutura Quantitativa da ETEFEV
CURSOS
Técnicos
Oferecidos
Edificações - Eletrotécnica - Mecânica
Telecomunicações - Eletrônica
Total de Turmas 83
Total de alunos 1.539
Distribuição por
Séries
Modalidade
INTEGRADO DIURNO NOTURNO
1 2 3 PROEJA SUBSEQUENTE
389 297 330 223 300
Servidores 465
Docentes 257
Instrutores 15
Téc. Pedagógico 8
Administrativos 43
Contratos 91
Terceirizados 41
Fonte: Informações do Banco de dados da Secretaria Escolar e Núcleo de Pessoal - 2014
50
3.2 Os rumos do PROEJA na FAETEC/ETEFEV - embates e entraves
A escola, enquanto máquina de governamentalidade, constitui-se em um
espaço de governo da alma dos sujeitos, operando a partir de sua subjetividade,
fazendo uso do poder que a sustenta. As teorias psicológicas e educacionais,
fortemente presentes na escola, administram e governam a alma de forma
aparentemente livre, mas que não a separa das mais profundas relações de poder.
Dessa forma, a escola foi inventada para disciplinar e governar os sujeitos
modernos, dispensando o uso da violência, valendo-se de métodos sutis de
persuasão que agem de forma indireta sobre suas escolhas, seus desejos e sua
conduta, deixando o sujeito “livre para escolher”, mesmo que constantemente
envolvido por normas que o aprisionam à sua própria consciência. Assim:
a escola moderna é o locus em que se dá de forma mais coesa, mais profunda e mais duradoura a conexão entre poder e saber na Modernidade. [...] funcionando, assim, como uma máquina de governamentalização que consegue ser mais poderosa e ampla do que a prisão, o manicômio, o quartel, o hospital (VEIGA-NETO, 2001, p. 109).
Percebe-se então, que no decorrer da história, os modos de subjetivação
sofrem as mais variadas transformações. Interessado em compreender a
problemática da produção do sujeito nos dias atuais, Foucault comenta as lutas
políticas que se fazem necessárias em nosso tempo. São lutas
(. . .) contra as formas de dominação (étnica, social e religiosa); contra as formas de exploração que separam os indivíduos daquilo que eles produzem; ou contra aquilo que liga o indivíduo a si mesmo e o submete, deste modo, aos outros (lutas contra a sujeição, contra as formas de subjetivação e submissão). (FOUCAULT, in: DREYFUS; RABINOW, 1995, p. 235)
Toda e qualquer mudança na organização escolar é acompanhada, na
maioria das vezes, de embates e entraves, movimentos estes que se revelam lutas
contra as formas de subjetivação e submissão sob quais estão os sujeitos que
compõem a Instituição Escola.
As instituições escolares, portanto, enquanto práticas pedagógicas são da
ordem da disciplina, do poder disciplinar, funcionando como “técnicas que
constituem uma ‘profunda’ estratégia para dividir as pessoas em grupos
51
disciplinados, individualizados, controláveis – como num desfile militar”
(RAJCHMAN, 1987, p. 63).
Dessa forma, a escola age como dispositivo para dizer o que pode ser dito,
feito ou pensado. Segundo Foucault, resulta também das disposições disciplinares
que “o sujeito é dividido no seu interior e em relação aos outros” (FOUCAULT, 1995,
p. 231). Nesta perspectiva, o processo de disciplinarização transmitido pelas escolas
objetiva “assegurar a ordenação das multiplicidades humanas” (FOUCAULT, 1987,
p. 181). Observa-se na figura a seguir, um exemplo de tal disposição, onde alunos
do então Instituto Ferreira Viana, hoje ETE Ferreira Viana, vivenciavam uma
educação com moldes de militarização e disciplinarização, bem comum à época de
sua fundação.
Figura 3 – Internos do Instituto Ferreira Viana
Fonte: Centro de Memória da ETE Ferreira Viana – José do Patrocínio
E não seria diferente o processo de discussões acerca da organização do
PROEJA na ETE Ferreira Viana, pois enquanto organização disciplinar e estruturada
em áreas de conhecimento, muitas vezes dissociadas e fragmentadas, o exercício
de troca e entendimento do que seria esta nova modalidade de ensino, o PROEJA e
como se estruturaria, não seria tarefa fácil e desprovida de embates e entraves.
A partir então do processo de participação da equipe escolar e com base na
preocupação com os altos índices de evasão e repetência dos alunos do ensino
médio concomitante à educação profissional nos cursos noturnos, duas escolas
técnicas da rede FAETEC, A ETE Ferreira Viana e ETE Visconde de Mauá,
52
iniciaram em suas reuniões pedagógicas, discussões acerca desta modalidade de
ensino e seus rumos na Instituição.
A insatisfação com a organização curricular e os resultados obtidos pelos
alunos do concomitante noturno já chamavam a atenção, há tempos, da equipe
pedagógica e gestora, pois o alto índice de evasão e repetência ao longo dos quatro
anos no curso técnico ocasionavam esvaziamento e críticas tanto na ETE Ferreira
Viana, quanto na ETE Visconde de Mauá.
Entre 2003 e 2005 era observado no Concomitante Noturno a evasão dos
alunos ao longo do curso, devido ao tempo de duração do curso (4 anos) e alto
índice de reprovação e evasão.
Com isso existia a época, sugestões para redução do curso de 4 para 3 anos
no seguinte formato:
1 ano e meio fazendo o Ensino Médio na modalidade EJA.
1 ano e meio fazendo o a Educação Profissional (Subsequente).
Esta sugestão não foi aprovada pelos coordenadores técnicos, pois poderia
elevar a evasão escolar dos alunos ao ingressar no Subsequente e não mudaria a
condição de um ensino desarticulado como o que já existia no concomitante noturno.
Entre os anos 2006 e 2007 com o Decreto 5.840/2006 e com a implantação
do PROEJA nas redes federais de ensino as discussões na ETEFEV começaram a
tomar maior dimensão, e a possibilidade da existência do PROEJA na rede de
ensino começou a ser encarada como um caminho para minimizar o problema da
evasão escolar nos cursos concomitantes noturnos.
Somente a partir de 2008 que o PROEJA efetivamente começou a tomar
espaço mais contundente nas discussões e reuniões de planejamento da
coordenação pedagógica da Unidade Escolar o que gerou um pré-projeto para
submissão à Diretoria de Ensino da FAETEC - DDE, para devida apreciação e
aprovação. Tais discussões tomaram maior vulto a partir da constatação da seguinte
realidade no número de matrículas e evasão nos cursos noturnos:
Quadro 2 – Matrículas no Concomitante Noturno
Ano Série
2008 2009 2010 2011 2012
1 82 44 0 0 0
2 37 22 23 2 0
3 38 38 18 17 2
4 32 37 24 10 10 Fonte: Dados da base de dados da secretaria escolar ETEFEV
53
Tais demonstrativos estatísticos deram respaldo para a elaboração em 2008
do Projeto PROEJA/ETEFEV14 que seria apreciado pela DDE/FAETEC para futura
aprovação e deliberação, cuja estrutura básica apresentava as seguintes ideias:
Curso dividido em seis semestres, com carga horária total de 3600 h/a
(1800 h/a Ensino Médio e 1800 h/a Ensino Técnico), na modalidade
Integrada com o Ensino Médio.
No 1.º semestre haveria uma carga horária maior de Matemática,
Língua Portuguesa e Física.
A partir do 2.º semestre, haveria 12 tempos de Ensino Médio e 18
tempos de Ensino Técnico.
Melhor distribuição dos componentes curriculares do Curso Técnico.
Divisão das competências seria por Eixo Temático e não por etapas
Em 2010, após consulta à diretoria de ensino e presidência da Instituição foi
autorizado a interrupção de ofertas de vagas para os Cursos Concomitantes Noturno
e, com esta decisão, iniciaram-se reuniões com coordenadores dos cursos técnicos
e das disciplinas do ensino médio para organização e estruturação do programa de
curso do PROEJA e posterior encaminhamento ao Conselho Estadual de
Educação15 - CEE, para devida regulamentação.
Tendo por base o parecer do CEE16, as disciplinas de Filosofia e Sociologia
foram distribuídas em todas as etapas, reduzindo a carga horária das demais do
Ensino Médio fato este que provocou uma grande discussão entre as áreas de
coordenação do ensino médio e técnico.
Ainda em 2010 começou a se discutir o Ensino Médio Integrado (EMI) para o
Curso Diurno, tanto na unidade escolar em estudo, quanto nas outras unidades
14
ANEXO 1 - Apresentação do Projeto de Implantação do proeja na ETE Ferreira Viana/Faetec: uma proposta de inclusão social e Integradora da aprendizagem e NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL CONCOMITANTE AO ENSINO MÉDIO NOTURNO
15
A partir de 31.05.2010 os processos relativos a credenciamento e/ou autorização de cursos, destinados a este Conselho devem ser protocolados na Coordenadoria Regional da Secretaria de Estado de Educação mais próxima do interessado.
16
DELIBERAÇÃO CEE Nº 312, DE 09 DE DEZEMBRO DE 2008, o Conselho Estadual de Educação do Rio de Janeiro – CEE/RJ, no uso de suas atribuições legais, vem estabelecer as normas complementares para o que dispõe a Lei Federal nº 11.684, de 02 de junho de 2008, que modifica a Lei de Diretrizes e Bases Nacionais (Lei 9.394/1996), no seu artigo 36, incluindo a Filosofia e a Sociologia como componentes curriculares obrigatórios em todas as séries do ensino médio.
54
escolares da rede de ensino FAETEC. Discussões estas que provocaram uma nova
forma de se entender a organização curricular na unidade escolar.
A outra Unidade Escolar da rede que seguiu o rumo para a organização do
PROEJA foi a Escola Técnica Estadual Visconde de Mauá que também reconhecia
que a modalidade oferecida nos cursos noturnos não vinha atendendo às
expectativas dos alunos e consequentemente da Instituição.
Inspirados então no projeto de PROEJA apresentado pelo MEC para as
Escolas Federais, a ETE Ferreira Viana e ETE Visconde de Mauá procuraram
dialogar no sentido de apresentar uma proposta de Plano de Curso para a diretoria
de ensino, DDE/FAETEC, para futura implementação do programa também na rede
estadual.
O diálogo entre as unidades, contudo, pouco se efetivou e em fevereiro de
2010, a ETEFEV toma conhecimento da proposta do PROEJA da ETEVM para os
Cursos Técnicos de Mecânica, Eletrotécnica, Eletrônica e Eletromecânica e em
março de 2010, a DDE encaminha ao CEE o Processo n.º E-03/100.108/2010, sobre
o PROEJA da ETEVM.
Diante deste fato, na ETEFEV, aceleram-se então as discussões entre os
docentes e coordenadores do Ensino Médio e Técnico analisando
comparativamente as propostas de ambas as unidades escolares e organizando a
integração entre o Ensino Médio e o Ensino Técnico. A organização de material
didático e conteúdos mínimos para a primeira etapa do curso também foram
discutido entre os pares envolvidos e grupos de trabalho foram organizados para
apresentação de propostas de organização curricular.
Embora estivessem buscando diálogo conjuntamente à ETEFEV com a
diretoria de ensino sobre a organização do PROEJA, a ETE Visconde de Mauá
conseguiu encaminhar isoladamente os Planos de Curso à DDE e, em 31/08/2010, o
CEE autoriza o funcionamento do PROEJA da ETEVM.
Devido a encaminhamentos administrativos distintos a DDE/FAETEC
transmitiu o comunicado do CEE informando que os cursos técnicos em Mecânica,
Eletrotécnica e Eletrônica deveriam seguir a Matriz da ETEVM, decisão esta que
provocou a necessidade de uma redefinição dos Eixos Temáticos dos cursos de
Mecânica, Eletrotécnica e Eletrônica. Já os outros cursos técnicos da Unidade, ou
seja, Edificações e Telecomunicações seguiriam os planos de curso estruturados
pela unidade Ferreira Viana.
55
Em maio de 2011, a UE encaminhou as matrizes reformuladas à DDE e em
julho de 2011, a DDE encaminha à SEEDUC o Processo n.º E-03/202.546/2011 para
devida aprovação e liberação para funcionamento. Em outubro de 2011, a UE toma
conhecimento da oferta de vagas para o PROEJA na UE para o ano de 2012 já
iniciando a primeira turma.
Após então todos estes entraves administrativos, a SEEDUC autorizou o
funcionamento do PROEJA da ETEFEV através da Portaria SEEDUC/SUGEN/AUT
Nº 466, de 27/03/2013, publicado no DOERJ de 02/04/2013.
Neste contexto o PROEJA iniciou na rede FAETEC em 2011 na ETEVM e em
2012 na ETEFEV com uma estrutura e plano de estudos aprovados pelo
CEE/SEEDUC, fundamentado nas bases legais e nos princípios norteadores
explicitados na LDB Nº 9.394/96 seção: IV-A – “Da Educação Profissional Técnica
de Nível Médio” – incluída pela Lei nº 11.741, de 2008, nas Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Profissional de Nível Técnico (Resolução CNE/CEB nº
4/1999), nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (Resolução
CNE/CEB nº 3/1998), nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de
Jovens e Adultos (Resolução CNE/CEB nº 1/2000) e no Decreto 5.840/2006 que
institui o PROEJA e nos demais pareceres que o regulamentam.
Segundo o Plano de Curso que regulamenta o PROEJA na FAETEC, a
matrícula de alunos para Educação Profissional Técnica de Nível Médio, na
modalidade PROEJA, obedecerão aos critérios fixados pela FAETEC e a legislação
vigente sendo atendidos os seguintes requisitos:
A matrícula não sujeita a pagamento de qualquer natureza.
O aluno deverá ter 18 anos completos.
A matrícula de alunos portadores de necessidades especiais assegurada, em
regime de inclusão, os recursos e serviços educacionais especiais são
organizados e implementados institucionalmente, conforme edital /FAETEC e
legislação própria.
A matrícula condicionada à apresentação da documentação exigida em edital,
sem a qual a vaga ficará automaticamente disponível para outro candidato.
Será assegurado a todos os alunos aprovados no 9º ano do ensino
fundamental da rede, com idade mínima de 18 (dezoito) anos completos, o ingresso
56
automático na educação profissional técnica de nível médio, em regime integrado ao
ensino médio nos termos do Programa Nacional de Integração da Educação
Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e
Adultos (PROEJA) realizado nas Instituições de Ensino da FAETEC.
O processo de entrada no PROEJA/FAETEC se dá através de sorteio público,
e em 2012, 92 candidatos se inscreveram e as turmas na ETE Ferreira Viana
iniciaram com a seguinte distribuição inicial:
Quadro 3 – Entrantes PROEJA 2012
Curso Matriculados
Edificações 24
Eletrônica 6
Eletrotécnica 22
Mecânica 20
Telecomunicações 20
TOTAL 92
Fonte: Base de dados da secretaria escolar ETEFEV/FAETEC
Observa-se a ocorrência de uma demanda menor de inscritos no curso
técnico em eletrônica e nos demais cursos as turmas inicialmente começaram com
um quantitativo mais equilibrado. Tal situação de menor procura, ainda ocorre nos
cursos de Telecomunicações e Eletrônica que será demonstrado nos levantamentos
dos capítulos posteriores.
Assim, portanto, se dá o início do PROEJA na unidade escolar, contudo,
repleto de desafios a serem vivenciados em uma proposta de ensino integrado e
integrador de jovens e adultos na educação profissional.
3.3 Os desafios de um currículo integrado no PROEJA - ETEFEV/FAETEC
O Documento Base, que também serviu de norteador para a organização do
proeja na rede estadual de ensino, FAETEC, destaca que o Programa tem como
prioridade a formação profissional, o que constitui um elemento inovador, e que seria
importante pensá-la à luz de outros aspectos considerando que os jovens e adultos
que constituem o público-alvo do PROEJA por muitos motivos só concluíram o
ensino fundamental, seja na modalidade EJA, ou não. Além disso, se estaria diante
57
do desafio de tentar não repetir a marca da história no Brasil no que se refere à
educação de jovens e adultos, caracterizada por políticas descontínuas e de
formação precarizada.
A EJA na perspectiva do ensino médio integrado à educação profissional
deve pautar-se, segundo o Documento Base, em fundamentos político-pedagógicos
estabelecidos como norteadores de uma organização curricular integrada, “visando
à qualificação social e profissional articulada à elevação da escolaridade” (BRASIL,
2007, p. 53).
Uma organização curricular na educação de jovens e adultos integrada com
educação profissional configura-se em um desafio; pois, historicamente a educação
propedêutica e profissional quase sempre esteve, quando muito, justapostas e
raramente integradas, pois conforme defende Ciavatta (2005), a concepção de
formação integrada sugere superar o ser humano dividido historicamente pela
divisão social do trabalho entre a ação de executar e a ação de pensar, dirigir ou
planejar. Trata-se de superar a redução da preparação para o trabalho ao seu
aspecto operacional, simplificado, escoimado dos conhecimentos que estão na sua
gênese científico-tecnológica e na sua apropriação histórico-social.
Busca-se então, na experiência de organização curricular da ETE Ferreira
Viana uma discussão do currículo integrado que possa romper com o dualismo que
tem sido uma marca histórica no Brasil, pois repensar o currículo e a sua
expressividade em uma sociedade das aprendizagens significa, acima de tudo,
repensar alguns pressupostos que norteiam a sociedade da informação, do
conhecimento e das aprendizagens.
Uma das questões iniciais levantadas durante a reorganização curricular para
a Educação de Jovens e Adultos nos cursos noturnos da ETE Ferreira Viana, girou
em torno de como o currículo era entendido pela comunidade escolar. Outra
questão discutida foi a compreensão sobre "a escola que queremos", uma vez que
muitos dos docentes e técnicos envolvidos nestas discussões se remetiam somente
a questão da organização das disciplinas a serem ensinadas, aos conteúdos a
serem priorizados, sobre o perfil necessário ao aluno, sem uma reflexão maior a
respeito da identidade da escola e como o currículo representaria esta identidade
institucional.
Nesta direção, a concepção apresentada e defendida por (SANTOMÉ, 1998),
traz no seu interior uma intervenção educativa mais aberta, dialógica, que propicia o
58
exercício do protagonismo, tanto no ato de aprender como no ato de ensinar, uma
maior abertura do canal de comunicação entre os atores sociais que constroem o
cenário curricular, maior possibilidade de trabalho, análise e interpretação dos
conteúdos culturais.
Nesse contexto, na elaboração de um currículo integrado impõe-se romper
com a concepção do currículo isolado, descontextualizado, fragmentado que não
propicia a construção e a compressão de nexos que permitam a sua estruturação
com base na realidade. E na experiência de elaboração de um currículo integrado
para o PROEJA na ETE Ferreira Viana um dos enfrentamentos vivenciados foi a
respeito de que os cursos da Educação Profissional na FAETEC, bem como as
demais instituições de educação profissional do Brasil, são estruturados tendo como
norteador o Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos - MEC17, que desde 2008
agrupa os cursos técnicos em formato e linguagem de acordo com as características
científicas e tecnológicas de cada um. Para cada perfil de formação, o catálogo
apresenta uma descrição do curso e as informações do perfil profissional e as
possibilidades de atuação e estrutura mínima recomendadas pelo MEC e
organizados por 13 eixos tecnológicos.
Segundo a organização do CNCT, os cursos do PROEJA da ETE Ferreira
Viana são organizados através dos eixos: Controles e Processos Industriais,
Informação e Comunicação e Infraestrutura.
O MEC descreve em seu documento oficial, que acolheu no período de 2009
a 2011, solicitações de atualização do CNCT, provenientes de diversos setores
envolvidos com a oferta de cursos técnicos de nível médio em todos os sistemas de
ensino. Estudantes, professores, gestores escolares, entidades de classe, sindicatos
e associações, entre outros, encaminharam suas demandas ao MEC, que organizou
e analisou todas as solicitações recebidas, contudo percebe-se que construir ou
buscar uma atitude que rompa ou saia dessa perspectiva de currículo fragmentado,
do tipo coleção (BERNSTEIN, 1996) implica não somente um desejo, mas uma
vontade política que vá além do discurso, redimensionando velhos paradigmas ou
concepções que muitas vezes estão arraigados em nossa formação, acreditando no
novo, porque na construção de uma proposta curricular não podemos negligenciar
que “[...] é preciso levar em consideração que existem diferentes classes de
17
Disponível para consulta em: http://portal.mec.gov.br/index.php?Itemid=717
59
conhecimento e que cada uma delas é reflexo de determinados propósitos,
perspectivas, experiências e valores humanos” (SANTOMÉ, 1988, p.100).
A organização curricular integrada do PROEJA se torna um desafio ainda
maior, pois a organização por eixos tecnológicos não se revela uma tarefa fácil e
uma das maiores batalhas nesta organização foi a de superar a estruturação
hierarquizada da educação tecnológica e propedêutica pois conforme destaca
Bernstein (1996), o currículo do tipo coleção se expressa por meio de uma relação
fechada, conteúdos claramente delimitados e separados entre si.
Nessa formatação, Bernstein, ainda destaca que este tipo de currículo implica
uma hierarquia, pois existe uma forma poderosa de controle, onde a relação
educativa tende a ser hierarquizada e ritualizada, sendo dessa forma um currículo
rígido, pois “a ordem provém de sua natureza hierárquica e das relações de
autoridade, da ordenação sistemática dos conteúdos separados, de um controle de
exame relativamente objetivo e explícito”. (BERNSTEIN, 1996, p. 79), pois mesmo
defendendo uma proposta curricular integrada o PROEJA da ETE Ferreira Viana
possui ainda uma hierarquização em sua organização curricular através de
disciplinas e pré-requisitos.
Após as diversas reuniões de equipe e considerando as exigências legais
quanto a carga horária para o ensino médio, as disciplinas foram organizadas, por
eixos temáticos, com as equipes de coordenadores de disciplinas, contudo ainda
fragmentados em seus planejamentos de ensino, pois por mais que as reuniões de
planejamento entre as áreas técnicas e propedêutica estivessem se realizando
conjuntamente era forte o discurso sobre a responsabilidade com o perfil técnico que
a escola estaria entregando à sociedade.
A Matriz Curricular do Curso Técnico de Edificações, um dos cinco cursos
oferecidos pela ETEFEV aos Jovens e Adultos, exemplifica esta organização:
Quadro 4 – Matriz CURSO TÉCNICO EM EDIFICAÇÕES – PROEJA-ETEFEV
Período Disciplinas Eixo temático H/A FG FT Carga horária do
Período
I
Língua Portuguesa I
Tempo e Espaço
4
400 0 400 horas
Artes 2
Língua Estrangeira I 2
Sociologia I 2
Matemática I 6
Física I 6
Química I 2
60
Filosofia 2
Informática 4
Total de semanas: 20 Hora-aula semanal: 30
h/a
Período Disciplinas Eixo temático H/A FG FT
Carga horária do
Período
II
Língua Portuguesa II
Tempo e Espaço
4
160 240 400 horas
Língua Estrangeira II 2
Matemática II 2
Física II 2
Química II 2
Desenho Técnico I 4
Materiais de Construção 6
Tecnologia das
Construções I
6
Organização e Normas 2
Total de semanas: 20 Hora-aula semanal: 30
h/a h/ah/a
Período Disciplinas Eixo temático H/
A FG FT
Carga horária do
Período
III
Língua Portuguesa III
Cidadania e Meio
Ambiente
2
16
0 240 400 horas
Língua Estrangeira III 2
Literatura 2
Matemática III 2
Física III 2
Química III 2
Desenho Técnico II 4
Tecnologia das
Construções II 4
Instalações Prediais I 6
Resistência dos Materiais 4
Total de semanas: 20 Hora-aula semanal: 30
h/a
Período Disciplinas Eixo temático H/A FG FT
Carga horária do
Período
IV
Língua Portuguesa IV
Cidadania e Meio
Ambiente
2
16
0 240 400 horas
Matemática IV 2
Física IV 2
Biologia I 2
Geografia I 2
História I 2
Instalações Prediais II 6
Mecânica dos Solos 4
Desenho Técnico III 4
Psicologia das Relações
Humanas 2
Gestão Ambiental 2
Total de semanas: 20 Hora-aula semanal: 30
Período Disciplinas Eixo temático H/A FG FT Carga Hor./Período
V
Língua Portuguesa IV
Tecnologia e
Trabalho
2
160 240 400 horas
Matemática V 2
Física V 2
Biologia II 2
Geografia II 2
61
História II 2 Desenho Técnico IV 4
Projeto Assistido por
Computador 4
Topografia 6
Estrutura de Concreto, Aço
e Madeira 4
Total de semanas: 20 Hora-aula semanal: 30
Período Disciplinas Eixo temático H/A FG FT Carga horária do
Período
VI
Língua Portuguesa VI
Tecnologia e
Trabalho
2
16
0 240 400 horas
Matemática VI 2
Física VI 2
Biologia III 2
Geografia III 2
História III 2
Projeto Final 6
Orçamento 4
Prática de Obras 6
Projeto Integrador 2
Total de semanas: 20 Hora-aula semanal: 30
Fonte: Dados obtidos através do Plano de Curso – PROEJA/EDIFICAÇÕES/FAETEC
A efetivação de um currículo integrado seria uma das propostas de superar a
fragmentação e desarticulação do ensino, pois conforme defende Bernstein, (1996)
o currículo integrado deve possuir uma relação aberta entre si e a integração dos
conteúdos se relaciona a uma ideia, os diferentes conteúdos são partes de um todo
e cada função dessa parte é explicar este todo não havendo nenhuma redução da
autonomia do conteúdo. Na proposta do currículo integrado, quando acontece a
interação “[...] há uma troca e um equilíbrio na relação pedagógica” (BERNSTEIN,
1996, p. 96).
Concebida dessa forma, a ideia de trabalhar por eixos temáticos seria o ponto
de partida para integração curricular na ETE Ferreira Viana, onde as diversas áreas
do conhecimento se integrariam em objetivos comuns.
Contudo, a tensão entre o currículo coleção e o integrado não é simplesmente
uma questão do que se ensina. Essa tensão procede de diferentes formas de poder
e controle que permeiam a sociedade. Trata-se também de um “[...] conflito entre as
diferentes concepções de ordem moral e social”. (BERNSTEIN, 1996,p.77), conflitos
estes interferem a dinâmica do ensino integrado no PROEJA.
62
A não autorização do CEE da proposta curricular inicial da ETE Ferreira Viana
inviabilizou a inclusão de uma “disciplina” intitulada “projeto integrador”, em todos os
semestres. Permanecendo apenas a proposta da disciplina para o último período de
curso, conforme é vista na etapa VI, da matriz curricular exemplificada,
anteriormente no quadro 4. Nesta disposição, cabe ao projeto integrador a
organização de uma atividade final de curso, o que não atenderia um projeto
integrado em sua totalidade.
Uma das finalidades desta disciplina seria a de rever os eixos temáticos a
cada semestre, provocando encontros sistemáticos entre as demais disciplinas,
alunos e professores, onde seria desenvolvido, pelos alunos e equipe de
professores, um projeto que buscasse integrar os objetivos e práticas naquele
período escolar através de trocas de saberes. Troca esta, que no cotidiano escolar,
precisa ser reaprendida e reconstruída, pois tanto corpo docente quanto a equipe de
gestão escolar precisam exercitar a dinâmica de refletir sobre a prática pedagógica,
e buscar pontos comuns na trajetória do ensino-aprendizagem, dos jovens e adultos,
em especial nesta fase de implantação do PROEJA.
Neste sentido, após a aprovação do plano de curso pelo CEE/RJ, a
organização curricular do PROEJA na ETE Ferreira Viana seguiu os mesmos
parâmetros aprovados pelo CEE para a ETE Visconde de Mauá, com a proposta de
adaptar esta organização à realidade da unidade escolar e objetivos traçados.
3.3.1 Organização Curricular Aprovada pelo CEE/RJ
Segundo o Plano de Curso aprovado pelo CEE/RJ, a organização curricular
do Curso de Nível Médio Integrado na Modalidade EJA observa as Diretrizes
Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, as Referências Curriculares Nacionais
da Educação Profissional de Nível Técnico (2000), os Parâmetros Curriculares
Nacionais do Ensino Médio, bem como nas orientações definidas no projeto político-
pedagógico da ETEFEV.
Os cursos estão estruturados em regime semestral, e a cada semestre letivo,
a intenção é que seja trabalhado um eixo integrador a ser explorado através de
projetos. A organização curricular por eixos temáticos tem como objetivo maior a
63
concretização dos assuntos, de forma ampla e abrangente no intuito de priorizar a
observação e a problematização da realidade de mundo por entender que o
conhecimento é uma construção complexa que envolve os aspectos cognitivos,
afetivos e morais em busca da autonomia do sujeito que conhece.
Os Projetos, subprojetos e eixos temáticos descritos no Plano de Curso,
foram escolhidos considerando o objetivo geral de cada curso técnico. Após
reuniões de planejamento entre as equipes da Educação Profissional e Ensino
Médio os eixos temáticos foram escolhidos considerando os intesses do grupo e do
cotidiano escolar evidenciado na época. Nota-se nas descrições dos temas uma
preocupação temática com o meio ambiente e a tecnologia. Abaixo observa-se a
organização temática de um dos cursos técnicos oferecidos ao público do PROEJA,
o de Eletrônica:
Quadro 5 - Organização Temática do PROEJA – Eletrônica
Período Eixo Temático Objetivo Geral Projeto
I O Cotidiano Identificar o conhecimento científico
das sociedades atuais relacionando-os
ao cotidiano.
A Ciência e as Sociedades –
As Fontes de Energia
II Ética, Cidadania
e Inclusão
Debater a aplicação do conhecimento
científico e a postura ética na
construção de uma cidadania justa e
inclusiva
A Ciência e as Sociedades –
A Energia Elétrica na
Sociedade
III O Conhecimento
Científico a
Serviço do Meio
Ambiente
Utilizar conhecimentos científicos
adquiridos, a favor da integração do
homem nas relações com a natureza.
Ciência e Tecnologia – A
Eletrônica e o Meio Ambiente
IV Meio Ambiente e
Desenvolvimento
Tecnológico
Levantar os recursos tecnológicos
disponíveis visando a elaboração de
uma proposta voltada para o
desenvolvimento social com
sustentabilidade.
Ciência e Tecnologia – Fonte
de Energia e o Meio
Ambiente
V Indústria e
Desenvolvimento
Regional
Utilizar competências, habilidades e
atitudes voltadas para as tecnologias
associadas aos processos industriais.
Ciência, Tecnologia e
Trabalho – Desenvolvimento
Industrial da Eletrônica no
Brasil
VI Indústria e
Desenvolvimento
Regional
Acompanhar e participar do
Desenvolvimento Regional, a partir da
permanente atualização e investigação
tecnológica.
Ciência, Tecnologia e
Trabalho – A Eletrônica no
Mundo Contemporâneo
Fonte: Dados obtidos através do Plano de Curso de Eletrônica – PROEJA/FAETEC
Segundo os dados apresentados no plano de curso aprovado pelo CEE e
descritos no quadro mostrado anteriormente, os eixos temáticos responderiam a
64
competências básicas que deveriam ser demonstradas pelos alunos do PROEJA, ou
seja, a cada período letivo os alunos deveriam apresentar competências básicas que
teriam como pretensão constituir referências sinalizadoras para a formação
compatível com as demandas dos processos produtivos em cada área de curso
técnico oferecida aos jovens e adultos do PROEJA.
O currículo, segundo o plano de curso aprovado pelo CEE, está baseado em
competências, onde se propõe a formação a partir de quatro aprendizagens básicas:
saber, saber-fazer, saber-ser e saber-conviver. Além de aprender conceitos, o aluno
deve aprender como mobilizar e aplicar o que aprendeu, ou seja, desenvolver
habilidades, fazeres, atitudes para uma educação cooperativa, solidária e ativa.
Ainda, segundo o Plano de Curso, o que se propõe é o estímulo a capacidade
do aluno de pesquisar, buscar informações, analisá-las e selecioná-las; de aprender,
de criar e de formular, como também, as adequações à operação de processos
automatizados.
A organização do curso está estruturada na matriz curricular integrada por
eixos temáticos, constituída por uma base de conhecimentos científicos e
tecnológicos de:
Educação básica que integra componentes das três áreas de conhecimento
do Ensino Médio (Linguagens e Códigos e suas Tecnologias, Ciências Humanas
e suas Tecnologias, Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias),
observando as especificidades de um currículo integrado com a educação
profissional na modalidade EJA;
Educação profissional que integra as disciplinas específicas do curso de
técnico articuladas aos conhecimentos acadêmicos para uma maior
compreensão das relações existentes no mundo do trabalho.
O quadro a seguir, do Curso Técnico de Eletrônica, exemplifica um pouco esta
disposição disciplinar, por eixos temáticos, onde ao longo dos seis semestres e
com cargas horárias definidas, estas abordagens são distribuídas:
65
Quadro 6 - Componentes curriculares por períodos letivos – Curso Técnico em Eletrônica
Período Disciplinas Eixo temático H/A FG FT Subprojeto
I
Língua Portuguesa I
O Cotidiano
4
347 53
A Ciência e as
Sociedades –
As Fontes de Energia
Artes I 2
História I 2
Sociologia I 2
Matemática I 4
Física I 4
Química I 2
Biologia I 2
Informática Básica 4
Desenho Básico 4
Total de semanas: 20 Hora-aula semanal: 30
h/a
Carga horária do Período: 400
horas
Período Disciplinas Eixo temático
H/
A FG FT Subprojeto
II
Língua Portuguesa II
Ética, Cidadania
e Inclusão
4
29
3 107
A Ciência e as
Sociedades –
A Energia Elétrica na
Sociedade
Literatura I 2
Espanhol I 2
História II 2
Filosofia I 2
Matemática II 4
Física II 2
Química II 2
Biologia II 2
Eletricidade 6
Lab. Eletricidade 2
Total de semanas: 20 Hora-aula semanal: 30
h/a
Carga horária do Período: 400
horas
Período Disciplinas Eixo temático
H/
A FG FT
Subprojeto
III
Língua Portuguesa III
O conhecimento
científico a
serviço do Meio
Ambiente
2
24
0 160
Ciência e Tecnologia
–
A Eletrônica e o Meio
Ambiente
Inglês I 2
Geografia I 2
História III 2
Matemática III 4
Física III 2
Química III 2
Biologia III 2
Eletrônica I 4
Lab. Eletrônica I 2
Lógica 2
Organização e Normas 4
Total de semanas: 20 Hora-aula semanal: 30
h/a
Carga horária do Período: 400
horas
Período Disciplinas Eixo temático H/A FG FT Subprojeto
IV
Língua Portuguesa IV
Meio Ambiente e
Desenvolvimento
Tecnológico
2
13
3 267
Ciência e
Tecnologia – Fonte
de Energia e o Meio
Ambiente
Inglês II 2
Geografia II 2
Matemática IV 2
Física IV 2
Eletrônica II 6
Laboratório Eletrônica II 4
66
Fonte: Dados dos componentes curriculares por períodos letivos – Plano de Curso PROEJA ELETRÔNICA/FAETEC
A disposição da Matriz Curricular seguinte apresenta a ordenação das disciplinas
de forma semestral, agora não por eixos temáticos, mas sim por áreas de
conhecimento, com as suas respectivas cargas horárias, dividida pela Base Nacional
Comum e a Base Tecnológica:
Quadro 7 – Matriz Curricular do Curso Técnico em Eletrônica – PROEJA/ETEFEV
BA
SE
DE
CO
NH
EC
IME
NT
OS
CIE
NT
ÍFIC
OS
E
TE
CN
OL
ÓG
ICO
S
ED
UC
AÇ
ÃO
BÁ
SIC
A
COMPONENTES CH PERÍODO CH TOTAL
1º 2º 3º 4º 5º 6º H/A H/R
LINGUAGENS,
CÓDIGOS E SUAS
TECNOLOGIAS
Língua
Portuguesa 4 4 2 2 2 2 320 213
Literatura 2 40 27
Artes 2 40 27
Inglês 2 2 80 53
Digital I 4
Laboratório Digital I 2
Segurança do Trabalho 4
Total de semanas: 20 Hora-aula sem.: 30 h/a
Carga horária do Per.: 400
horas
Período Disciplinas Eixo temático H/A FG FT Subprojeto
V
Produção de Texto I
Indústria e
Desenvolvimento
Regional
2
107 293
Ciência, Tecnologia
e Trabalho –
Desenvolvimento
Industrial da
Eletrônica no Brasil
Geografia III 2
Matemática V 2
Física V 2
Eletrônica III 6
Laboratório Eletrônica III 2 Digital II 6
Laboratório Digital II 2
Meio Ambiente 2
Psicologia das Relações
Humanas
2
Empreendedorismo 2
Total de semanas: 20 Hora-aula sem.: 30 h/a
Carga horária do Per.: 400
horas
Período Disciplinas Eixo temático H/A FG FT Subprojeto
VI
Produção de Texto II
Indústria e
Desenvolvimento
Regional
2
80 320
Ciência, Tecnologia
e Trabalho – A
Eletrônica no
Mundo
Contemporâneo
Matemática V I 2
Física V I 2
Projeto Integrador 2
Eletrônica IV 4
Laboratório Eletrônica
IV
2
Eletricidade II – CA 4
Microeletrônica 4
Sistema de
Comunicação
4
Instrumentação 4
Total de semanas: 20 Hora-aula sem.: 30 h/a
Carga horária do Período: 400
horas
67
Espanhol 2 40 27
Informática 4 80 53
CIÊNCIAS DA
NATUREZA,
MATEMÁTICA E SUAS
TECNOLOGIAS
Matemática 4 4 4 2 2 2 360 240
Física 4 2 2 2 2 2 280 186
Química 2 2 2 120 80
Biologia 2 2 2 120 80
CIÊNCIAS HUMANAS E
SUAS TECNOLOGIAS
História 2 2 2 120 80
Geografia 2 2 2 120 80
Sociologia 2 40 27
Filosofia 2 40 27
26 22 18 10 08 06 1800 1200
Desenho 4 80 53
Eletricidade 6 120 80
Laboratório de Eletricidade 2 40 27
Lógica 2 40 27
Eletrônica 4 6 6 4 400 267
Laboratório de Eletrônica 2 4 2 2 200 134
Organização e Normas 4 80 53
Segurança, meio ambiente e saúde –
SMS 4 80 53
Eletrônica Digital 4 6 200 133
Laboratório Digital 2 2 80 53
Psicologia das Relações Humanas 2 40 27
Gestão Ambiental 2 40 27
Empreendedorismos 2 40 27
Eletricidade CA 4 80 53
Microeletrônica 4 80 53
Sistema de Comunicação 4 80 53
Instrumentação 4 80 53
Projeto Integrador 2 40 27
AULAS/PERÍODO 4 8 12 20 22 24 1800 1200
TOTAL DE AULAS DO PERÍODO 30 30 30 30 30 30 3600 2400
Fonte: Plano de curso aprovado pelo CEE - FAETEC
O que se observa na matriz curricular atual é que os períodos do curso são
sequenciais e não há terminalidades parciais, ou seja, após a conclusão do último
período, o aluno receberá o diploma de técnico, com certificação do ensino médio,
desde que tenha realizado o estágio supervisionado, o que em situações diversas
pode dificultar a conclusão do curso para os alunos que trabalham em áreas que
não sejam relacionadas ao curso técnico e não tenham como deixar o emprego
para se dedicar ao estágio supervisionado.
Embora ainda estabelecida através de uma hierarquização, a matriz curricular
do curso está estruturada através da tentativa de se exercitar integração entre os
68
conhecimentos científicos e as bases tecnológicas, e os Componentes Curriculares
estão organizados nas três áreas de conhecimento do Ensino Médio (Linguagens,
Códigos e suas Tecnologias; Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias;
Ciências Humanas e suas Tecnologias) fundamentadas nas Diretrizes Curriculares
Nacionais e na área de educação profissional, na caso exemplificado, o do curso
técnico em Eletrônica.
Uma das dificuldades, ainda atrelada a hierarquização da matriz curricular,
diz respeito a carga horária necessária para discussão e integração das áreas de
conhecimento através dos eixos temáticos em cada etapa. Observa-se que com
uma matriz curricular organizada sem dispor de carga horária para projetos,
semestrais, não viabilizará encontros integradores entre os alunos, professores e
equipe de gestão escolar. Haveria necessidade, como argumenta Bernstein, (1996)
de trocas, pois o currículo integrado existirá quando acontece a interação “[...] há
uma troca e um equilíbrio na relação pedagógica” desafio este ainda a ser superado
no cotidiano da ETE Ferreira Viana pelos diversos aspectos já apresentados ao
longo desta pesquisa.
3.3.2 Os Efeitos da Organização Curricular na Trajetória do PROEJA
Com a conclusão de curso da primeira turma, em dezembro de 2014, estudos
sobre reformulação do plano de curso e organização curricular foram iniciados.
Primeiramente por iniciativa da própria equipe técnico-pedagógica diante dos baixos
índices de matrícula e desistência no primeiro semestre do curso, e posteriormente
por solicitação da própria diretoria de ensino da FAETEC - DDE, com base nos
dados numéricos apresentados pela conclusão da primeira turma.
O quadro, a seguir, descreve a trajetória de matrículas iniciais e a progressão
da frequência e evasão, ao longo dos seis semestres, da primeira turma do
PROEJA na ETE Ferreira Viana:
Quadro 8 – Progressão da 1ª turma PROEJA/ETEFEV
Curso Ano/semestre
2012/01 2012/02 2013/03 2013/04 2014/05 2014/6
69
Edificações 24 9 5 4 4 3
Eletrônica 6 3 2 2 2 0
Eletrotécnica 22 11 8 7 5 4
Mecânica 20 6 2 2 2 2
Telecomunicações 20 7 5 5 1 1
Inscritos por Etapa 92 36 22 20 14 10
CONCLUINTES 10
Fonte: Banco de dados da secretaria escolar ETEFEV.
Uma das questões destacadas nas reuniões periódicas de planejamento com
a equipe de professores e coordenação do PROEJA, com a apresentação deste
quadro, foi o fato do número dos entrantes na primeira etapa do curso e o número
de aprovados na segunda etapa em cada curso. Houve uma evasão de cerca de
60% dos alunos entrantes no primeiro período para a segunda etapa do curso. Havia
a crítica por parte dos professores das disciplinas propedêuticas (Ensino Médio) que
as disciplinas técnicas (Educação Profissional) assustavam os alunos e estes
estariam abandonando o curso pela complexidade destas disciplinas. Os
professores das disciplinas técnicas, por sua vez, queixavam-se do nível de
dificuldade de aprendizagem que os alunos apresentavam nas disciplinas técnicas
devido a falta de base especialmente da matemática e física.
Com a apresentação deste quadro, observa-se no primeiro momento que os
alunos estavam abandonando o curso no primeiro semestre, ou seja, pelas
dificuldades apresentadas nas disciplinas do ensino propedêutico, no ensino
fundamental ou por outras não mencionadas. Outro fato observado, diz respeito aos
alunos que "abandonam" o curso antes mesmo do fim do primeiro mês de aulas,
gerando uma evasão de alunos que efetivamente nem chegaram a frequentar as
aulas. Ao se questionar alunos, professores e funcionários a respeito das possíveis
causas desta evasão, diversas possibilidades foram citadas, tais como
desinformação do que era o curso18, falta de base do ensino fundamental, número
de disciplinas, demora em receber o passe livre escolar19, horário de trabalho,
desemprego, ou seja, as complexidades e momentos de vida, pois
18
O Edital FAETEC oferece informações gerais sem especificação dos cursos. Disponível em: https://secure.domcintra.org.br/Faetec_2015.1/
19
PASSE LIVRE - Lei 4.510/2005, que institui o vale-educação e o vale-social no sistema de transporte intermunicipal, conhecido no Estado do Rio de janeiro como RIOCARD.
70
Uma vida está em toda parte, em todos os momentos que este ou aquele sujeito vivo atravessa e que esses objetos vividos medem: vida imanente que transporta os acontecimentos ou singularidades que não fazem mais do que se atualizar nos sujeitos e nos objetos. Essa vida indefinida não tem, ela própria, momentos, por mais próximos que estejam uns dos outros, mas apenas entre-tempos, entre-momentos. (DELEUZE, 2002, p. 14)
Em Educação, e particularmente a de Jovens e adultos, não há como efetivar
uma organização educacional desprovida dos olhares para estas realidades e
momentos de vida, pois é ao mesmo tempo, se distanciar da própria existência do
sujeito. O jovem-adulto traz demandas, de todas as ordens, que devem nortear a
discussão do projeto pedagógico da escola e consequentemente sua organização,
estruturação e vivências, na expectativa de estar o mais próximo possível, destas
realidades de vida.
A partir do entendimento que os discursos produzem valores, provendo e
impondo um princípio regulador que toma completamente o indivíduo, que o totaliza
e lhe outorga coerência e sentido, o processo de reorganização do projeto curricular
da ETE Ferreira Viana continuou a ter perspectivas ainda repletas de embates, pois
segundo Foucault as relações de poder suscitam resistência: “as resistências são o
outro lado nas relações de poder” (FOUCAULT, 2003, p. 91) .
A partir disto, surge então o entendimento de se rever os caminhos da
estrutura curricular imposta pelo Plano de Ensino aprovado pelo CEE para o
PROEJA e buscar desta forma uma reorganização diante dos resultados observados
e discutidos a partir da análise feita pela conclusão da primeira turma de concluintes.
Neste processo de organização curricular, portanto, surge a necessidade de se rever
os caminhos, ampliar os discursos e buscar através da troca de saberes novas
possibilidades para os caminhos do PROEJA na ETE Ferreira Viana, como se
observará a seguir.
3.4 As propostas de reformulação curricular e suas implicações no cotidiano
do PROEJA/FAETEC
Os discursos, como os silêncios nem são submetidos de uma vez por todas
ao poder, nem opostos a ele. É preciso admitir um jogo complexo e instável em que
71
o discurso pode ser ao mesmo tempo, instrumento e efeito de poder, e também
obstáculo, escora, ponto de resistência e ponto de partida de uma estratégia oposta.
O discurso veicula e produz poder; reforça-o, mas também o mina, expõe, debilita e
permite barrá-lo (FOUCAULT, 2003, p. 96), ações estas sempre presentes cotidiano
escolar e em tudo que a organiza e lhe dá sentido.
Neste aspecto, após a conclusão da primeira turma do PROEJA na ETE
Ferreira Viana, em 2014, diversas críticas e análises começaram a ser feitas por
parte da equipe docente, equipe pedagógica e equipe de gestão, acerca da estrutura
e dinâmica de trabalho que vinha tendo o PROEJA. Tais questionamentos e
discursos levaram a unidade escolar, propor à Diretoria de Ensino da FAETEC,
DDE, uma reformulação de todo o plano de curso e estrutura curricular do PROEJA,
a fim de buscar uma organização que contemplasse um maior e melhor equilíbrio
entre o ensino propedêutico e tecnológico, ou seja, entre os conteúdos básicos do
Ensino Médio regular e os conteúdos da Educação Profissionalizante.
Em maio de 2014, intensificaram então, contatos e encontros, entre as
Unidades de Ensino que oferecem PROEJA e a diretoria de ensino da rede
FAETEC, a fim de refletirem sobre as reformulações necessárias aos Cursos
oferecidos aos Jovens e Adultos no PROEJA.
Diferentemente das primeiras tentativas de reflexão conjunta à outra unidade
da rede que oferece o PROEJA, a ETE Visconde de Mauá, havia desta vez maior
articulação de ideias quanto ao que representa a educação profissional oferecida ao
público da EJA, suas limitações e possibilidades.
Uma das falas apresentadas pelos professores e coordenadores relata que:
“infelizmente... nossa visão de educação tem sido muito desfocada. Não se tem um objetivo de longo prazo, onde a educação, independente do partido, siga uma meta. Não se pensa com pragmatismo sobre a educação; os planos são sempre imediatistas e de curta duração. Há sempre um novo plano educacional que virá resolver os problemas que o anterior não conseguiu” (Professor J. da área de educação profissional).
O reconhecimento da necessidade de mudança, e mudança para
continuidade, era um ponto comum a todos que participaram deste processo onde
se reconhecia que as descontinuidades dos programas educacionais oferecidos a
Educação de Jovens e Adultos em nosso Estado, em muito compromete e distancia
a ação docente.
72
Somou-se a estas reflexões, além de a organização de um grupo de
discussões via internet, a indicação de leituras que enriquecessem e balizasse as
propostas de reformulação20.
Além das discussões entre as duas unidades, encontros internos entre os
professores e coordenações ocorreram a fim de se analisar a estrutura curricular e
práticas aplicadas nas unidades. Entre muitas das questões discutidas um ponto
central foi o de se tentar compreender como se organizar um currículo integrado na
educação profissional com base no entendimento que conteúdos básicos seriam
necessários para se aplicar os conteúdos específicos da educação tecnológica.
A partir então do entendimento expresso pelo documento base do PROEJA
que para uma formação humana integral é necessário que,
o sujeito reconheça o limite da situação de opressão vivida, do temor de ser mais, para querer ousar ser mais, para que encontre os caminhos de seu progresso, de sua libertação. A percepção da realidade a partir de atos de avaliação acolhedores, processuais, formadores pode contribuir para que os objetivos da ação educativa produzam resultados diferentes. (BRASIL, 2007)
E que, ainda no tocante a sua organização educacional, o que se faz
necessário é que,
não se reproduzam, pela avaliação, as exclusões vigentes no sistema, que reforçam fracassos já vivenciados e corroboram a crença internalizada de que não são capazes de aprender, substituindo esse modelo pela ratificação da auto-estima que qualquer processo bem-sucedido pode produzir, reafirmando a disposição da política de cumprir o dever da oferta da educação com qualidade, devida a tantos brasileiros pelo Estado. (BRASIL, 2007)
As duas unidades, após suas discussões, verificaram que as lacunas
observadas na aplicação do PROEJA, em suas práticas, possuíam demandas
semelhantes que giravam em torno das questões referentes ao acesso de entrada,
progressão parcial, estágio e distribuição de conteúdos/disciplinas.
Quanto a forma de acesso, ambas unidades, questionavam que ao invés
continuar sendo sorteio pela Loteria Federal, como é realizado atualmente, deveria
ser realizado um processo seletivo simplificado e classificatório, onde fosse
20
A título de exemplificação um dos textos apresentados foi TRABALHO DOCENTE NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL, TECNOLÓGICA E NO PROEJA. Educ. Soc., Campinas, v. 32, n. 116, p. 725-743, jul.-set. 2011. Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br>
73
englobado questões elementares de Língua Portuguesa, Matemática e Redação do
Ensino Fundamental. Para as unidades envolvidas nesta reestruturação (ETEFV e
ETEVM), um acesso via processo de avaliação, traria uma maior valorização e
pertencimento por parte do aluno.
Quanto à possibilidade de avanço para a etapa seguinte, cumprindo a carga
horária de uma ou mais disciplinas sem êxito da etapa anterior, ou seja a
progressão parcial (também conhecida como dependência), foi discutido que o atual
Regimento Escolar da FAETEC permite que na modalidade EMI diurno, esta seja
concedida ao aluno. Neste entendimento, a retenção nas disciplinas, sem a
possibilidade de uma progressão para a etapa seguinte, proporciona aos alunos,
que já estão em defasagem de todas as ordens, desmotivação e descontinuidade no
curso, pois conforme observado através de diálogos e questionamentos semi-
estruturados, que muitos dos alunos que evadem justificam que a reprovação em
poucos componentes curriculares, sem a possibilidade de avanço para a etapa
posterior, os desestimula a continuar estudando.
Outro aspecto discutido foi em relação ao Estágio Supervisionado. O
PROEJA é o único grupo na atualidade da Educação Profissional, na FAETEC em
que o estágio é obrigatório para conclusão e certificação final de curso. Sendo
assim, os alunos somente poderão ter a comprovação de conclusão de Ensino
Médio Integrado se tiverem concluído o estágio supervisionado, pois segundo
apresenta a Lei do Estágio atual,
O estágio poderá ser obrigatório ou não obrigatório, conforme determinação das diretrizes curriculares da etapa, modalidade e área de ensino e do projeto pedagógico com o curso em que o aluno encontre-se matriculado. §1º Estágio obrigatório é aquele definido como tal no projeto do curso, cuja carga horária é requisito para aprovação e obtenção de diploma. (BRASIL, 2008)
Desde 2013 os Cursos Integrados e Subsequentes na rede FAETEC não
possuem mais a obrigatoriedade do estágio supervisionado para a conclusão de
Curso. Contudo, no PROEJA, por ainda constar de seu Plano de Curso, ainda é
obrigatório o estágio supervisionado. Neste sentido, o novo plano curricular
do PROEJA, deverá também constar o estágio como não obrigatório, considerando,
que devido ao fato da maioria dos alunos do ensino noturno trabalharem, muitas
74
das vezes fora da área em que estudam, não teriam como sair do emprego para
fazer o estágio inviabilizando assim a conclusão do curso.
Por último, a discussão mais complexa e conflitante, entre as unidades da
FAETEC, girou em torno da distribuição das disciplinas por entenderem que o aluno
vem apresentando dificuldades pela falta de base do ensino fundamental,
necessitando assim, de maior embasamento com as disciplinas da base comum,
com objetivo de obter melhor entendimento das disciplinas da educação tecnológica.
Nesta direção foram discutidas três estruturas de disposição curricular. A primeira
proposta girou em torno de conceder três semestres, exclusivamente para o Ensino
Médio, e depois proporcionalmente a aplicação das disciplinas tecnológicas,
conforme apresentado no quadro a seguir:
Quadro 9 – Distribuição das Disciplinas (Proposta 1)
Fonte: Ata de reuniões de planejamento PROEJA ETEFEV/ETVM
A distribuição curricular por disciplinas em dois blocos de ensino, ou seja,
base nacional comum e base tecnológica, além de fugir ao escopo da integração
curricular entre ensino médio e educação profissional, implicaria no risco do aluno
requerer a conclusão do ensino médio antes de conhecer a base tecnológica, não
atingindo assim, uma das metas do PROEJA no tocante a integração curricular e
formação profissional.
Na segunda proposta, discutida pelas unidades, a estrutura apresentada foi a
seguinte:
75
Quadro 10 - Distribuição das Disciplinas (Proposta 2)
Fonte: Ata de reuniões de planejamento PROEJA ETEFEV/ETVM
Nesta disposição de organização curricular, apresentada na segunda
proposta, o Ensino Médio estaria ligado ao Ensino Profissionalizante, mas com
certificações distintas, ou seja, o Ensino Médio daria acesso ao ensino subsequente
profissionalizante. Nesta proposta, ainda se observa a tentativa de dissociar ensino
médio da educação profissional estando a questão da integração de áreas mais uma
vez fora da discussão.
Por último o grupo de trabalho apresentou a terceira proposta, que por fim
descreveu a escolha das duas unidades da rede que atuam com o PROEJA, na
tentativa de oportunizar uma mistura das duas propostas anteriormente discutidas e
o que se realiza atualmente nas unidades escolares. Tal proposta apresentou a
seguinte estrutura:
76
Quadro 11 - Distribuição das Disciplinas (Proposta 3)
Fonte: Ata de reuniões de planejamento PROEJA ETEFEV/ETVM
Nesta proposta, nas três primeiras etapas de curso, a educação profissional
entraria gradativamente nos conteúdos da base comum, através de disciplinas
consideradas gerais aos cinco cursos oferecidos na unidade escolar. Posteriormente
o ensino médio diminuiria sua carga horária, dando maior carga horária às
disciplinas da educação profissional. As disciplinas com menor carga horária, tanto
da educação profissional, quanto às do ensino médio, ao longo do curso, seriam
responsáveis por integrar os objetivos do ensino médio à educação profissional e ou
ao ensino médio.
Nesta perspectiva, entende-se, segundo Lopes (2001), que
a interdisciplinaridade só é possível em um ambiente de colaboração entre os professores, o que exige conhecimento, confiança e entrosamento da equipe, e, ainda, tempo disponível para que isso aconteça. Daí a importância do projeto pedagógico da escola, que deve prever tempo, espaço e horários de atividades dos professores para que um programa de interdisciplinaridade possa ocorrer. (LOPES, 2001, P.37)
Nas três propostas de reformulação curricular, apresentadas pelo grupo de
professores, coordenações e gestão para o PROEJA ETEFEV, o exercício de se
refletir coletivamente foi cumprido, contudo, por mais que a estrutura escolhida se
proponha a atender aos objetivos das unidades, frente as questões apresentadas
pela falta base do ensino fundamental dos alunos do PROEJA, ainda pouco se
contempla uma organização de seus tempos e espaços, de forma a favorecer a
77
maior troca e integração entre conteúdos e objetivos educacionais da educação
profissional e ensino médio.
3.5 Realidades dos Sujeitos PROEJA na ETEFEV
Os sujeitos do PROEJA na ETE Ferreira Viana surgem de várias demandas
da sociedade. Demandas estas que em muitos momentos indica que a escola ainda
enfrenta dificuldades em enfrentá-las, pois sua estrutura e organização curricular
pré-estabelecidas e rígidas, nem sempre oportunizam que estas realidades sejam
efetivamente atendidas em suas expectativas.
Ao longo de toda esta discussão sobre a organização curricular do PROEJA,
procurou-se, entender os rumos estabelecidos para o fazer acontecer do PROEJA,
na ETE Ferreira Viana. Contudo, o que de fato dá significado a este fazer, senão
aqueles que o compõem, lhe dão direção e movimento. Ou seja, seus próprios
sujeitos, com seus rostos, expressões, vozes e expectativas. Neste sentido cabe-
nos ainda buscar compreender quem são, onde estão e para onde vão estes
sujeitos, que dão cor, tom e ritmo a todo este processo. A quem efetivamente serve
toda esta organização? Estas vozes têm sido ouvidas? E se ouvidas, até onde
ecoam? Conforme discutido no capítulo 2, a noção de sujeito, evidentemente, passa
pela noção do ser biológico, individual, inserido num determinado grupo sócio-
econômico, com determinadas características. Mas o que queremos entender é no
que se constitui de fato a formação desse sujeito no interior da escola, ou melhor,
como a subjetividade está sendo construída neste espaço educativo.
No documento Base, organizado pelo MEC, encontramos a descrição que a
EJA trabalha, em síntese, com,
sujeitos marginais ao sistema, com atributos sempre acentuados em conseqüência de alguns fatores adicionais como raça/etnia, cor, gênero, entre outros. Negros, quilombolas, mulheres, indígenas, camponeses, ribeirinhos, pescadores, jovens, idosos, subempregados, desempregados, trabalhadores informais são emblemáticos representantes das múltiplas apartações que a sociedade brasileira, excludente, promove para grande parte da população desfavorecida econômica, social e culturalmente. (BRASIL, 2008)
78
Tal descrição do documento, dos sujeitos da EJA, nos apresenta uma
afirmativa agravante da situação brasileira, em relação a forte presença de jovens na
EJA, ocasionada em grande parte, pelos problemas de não permanência e
insucesso no ensino fundamental “regular”. Além disso, também fica evidente que a
sociedade brasileira ainda não conseguiu reduzir as desigualdades
socioeconômicas, e por mais que indicadores afirmem que o Ensino Fundamental no
Brasil avançou, em matrículas e permanência das crianças nas escolas, as famílias
ainda são obrigadas a buscar no trabalho das crianças, uma alternativa para a
composição de renda mínima. Tal fato social continua roubando o tempo da infância,
o tempo da escola e as oportunidades de escolarização no tempo regular de
aprendizagem, ocasionando assim, na idade jovem e adulta, o distanciamento e
distorção das possibilidades de escolarização em seu tempo regular.
Na busca então de se entender os rostos e vozes dos sujeitos participantes
do PROEJA na ETE Ferreira Viana, nos remetemos às palavras de Foucault (1995),
quando descreve que há dois sentidos para a palavra ‘sujeito’: sujeito submetido a
outro pelo controle e a dependência, e sujeito ligado à sua própria identidade, pela
consciência ou pelo conhecimento de si. Nos dois casos, a palavra sugere uma
forma de poder que subjuga e submete. (FOUCAULT, 1995, p. 237). Quando se
procura então, descrever quem são estes sujeitos do PROEJA na ETE Ferreira
Viana, fatos novos efetivamente não emergem, pois nos deparamos com as
realidades de toda sociedade. Ou seja, realidades estas, que são as nossas próprias
situações de vida, a composição das subjetividades ao longo de toda nossa história,
fato este, que não pode ser esquecido nem ignorado ao se pensar em educação e
se organizar o fazer de todo este processo.
3.5.1 Seus rostos e vozes
Na organização do PROEJA na ETE Ferreira Viana encontram-se, portanto, a
cada semestre e cada ano, vários destes sujeitos, não meramente “marginais ao
sistema”, como descrito pelo documento base do MEC, anteriormente citado, mas
sujeitos inseridos neste sistema excludente, marginalizante, e assujeitante.
79
O que nos descreve o documento base do MEC, mencionado anteriormente,
é de fato a lamentável realidade da sociedade brasileira no tocante às oportunidades
educacionais, expectativas e possibilidades de vida que ainda são negadas a todos
estes sujeitos presentes no processo de escolarização do sistema educacional
brasileiro.
Contudo, a respeito das realidades dos sujeitos do PROEJA na ETE Ferreira
Viana, destaca-se no gráfico 1, um demonstrativo das faixas etárias dos alunos
inscritos na instituição, a partir do ano inicial do PROEJA, em 2012 até o primeiro
semestre de 2015.
Gráfico 1 – Alunos Proeja – Faixa Etária
Fonte: Base de Dados Secretaria Escolar
Várias questões poderiam ser abordadas e destacadas, a partir do
levantamento feito no banco de dados da Unidade Escolar, quanto a suas origens,
escolhas por curso, moradia, raça, e outros mais. Contudo, neste momento, nosso
olhar se voltará somente para o perfil de idade dos alunos inscritos nos cursos do
PROEJA, no que se refere a sua entrada na ETEFEV.
Nota-se no gráfico 1 que existe um equilíbrio de faixas etárias nos cursos
técnicos do PROEJA na ETEFEV, com aproximadamente 33% alunos por faixa
etária. Optou-se por esta divisão de faixas etárias, considerando os alunos jovens-
jovens (18 a 25 anos), jovens (26 a 35 anos) e adultos (acima de 35 anos).
Tal equilíbrio não é de fato uma novidade dentro da realidade da Educação de
Jovens Adultos proposta neste programa (PROEJA). Este programa, como bem
80
descreve o Documento Base e o próprio Plano de Curso/FAETEC, se destina a
jovens acima de 18 anos em defasagem de aprendizagem. E foi diante de tal
característica etária que sua organização curricular e planejamento de ensino foram
estruturados.
De 2012 para os dias atuais, percebe-se uma mudança significativa nesta
faixa etária de entrada no PROEJA/ETEFEV, onde é possível perceber um aumento
na entrada de jovens entre 18 e 35 anos, conforme demonstra o gráfico 2. Esta
mudança, além de chamar a atenção sobre a juvenilização dos sujeitos PROEJA na
ETE Ferreira Viana, apresenta novos desafios quanto à organização curricular
destes alunos, frente às novas demandas da sociedade e em relação aos próprios
objetivos do PROEJA para esta Unidade Escolar.
Gráfico 2 – Alunos Proeja – Faixa Etária 18 à 25 anos
Fonte: Base de dados da secretaria escolar/ETEFEV
No gráfico 3, observa-se que a primeira turma do curso, que entrou em 2012
e concluintes em 2014, tinham um significativo percentual de alunos entre 35 e 59
anos, o que a partir de 2014 vem se modificando, dando lugar a jovens com menos
de 35 anos.
Tais demonstrativos poderiam não revelar grande novidade, diante da
realidade da escolarização de jovens e adultos em nosso país, contudo,
especificamente no PROEJA da ETE Ferreira Viana, esperava-se atender a jovens
adultos em grande defasagem, e esta realidade vem se revelando de forma
diferenciada nos últimos semestre de entrada de alunos. O que vem provocando
novas formas de identificar e olhar para estes sujeitos.
81
Gráfico 3 – Alunos Proeja – Faixa Etária acima de 35 anos
Fonte: Base de dados da secretaria escolar/ETEFEV
Ainda na busca de entender estes rostos dos sujeitos PROEJA e na tentativa
de se ouvir suas vozes, foram feitos registros semi-estruturados, no dia a dia de
atendimentos e diálogos com as turmas e alunos, com o intuito de compreender por
que vieram fazer este curso na FAETEC, e que expectativas tinham com a
realização do PROEJA.
Os depoimentos foram divididos em dois grupos de análise. Primeiramente os
alunos acima de 35 anos e posteriormente, os alunos menores de 35 até 18 anos.
Ao se conversar e registrar as vozes do primeiro grupo, ou seja, acima de 35
anos, foram ouvidas as seguintes falas a respeito de seus interesses em estudar
nesta unidade escolar e fazer o curso técnico:
“Ah, professora, eu nem sabia que existia este EJA, mas minha esposa com meu filho descobriram na internet e ela fez a minha inscrição no sorteio porque eu estava muito tempo sem estudar e quando vi, eu tinha sido selecionado e agora vou concluir”. (Aluno A, 54 anos) “A minha empresa está querendo o certificado de técnico... estava enrolando eles e fiz alguns cursinhos, mas não dá mais para esperar”, não sei até quando eles vão esperar. Não tenho o 2º grau e não posso perder este emprego”. (Aluno B, 48 anos) “Sou taxista, mas não aguento mais é muita luta. Vim estudar com meu filho que está no subsequente e ele está me dando força”. (Aluno C, 44 anos) “Eu já trabalho em telefonia há 17 anos e não dá mais pra mim. Não quero envelhecer trabalhando mais nisso”. (Aluno D, 38 anos)
82
Interessante perceber, a partir destas falas, que os alunos adultos acima de
35 anos pouco conheciam sobre o que era PROEJA. Além disso, não tinham
clareza de como conseguir uma vaga para estudar na FAETEC, e o sorteio atraiu
alguns para esta possibilidade de acesso, mesmo sem a clareza do que poderiam
esperar deste curso. Algumas destas falas expressam que faltavam informações
dos conteúdos a serem estudados no curso, e maiores esclarecimentos no Edital
para aluno PROEJA/FAETEC21. Quanto ao sorteio mencionado, o edital de
2015/FAETEC, apresenta as seguintes orientações aos candidatos:
1.2 A realização do sorteio ficará sob a responsabilidade da Fundação Dom Cintra. 1.2.1 Os candidatos deverão utilizar a página eletrônica da Faetec www.faetec.rj.gov.br , ou entrar em contato pelo telefone (21) 4063-8558 da Fundação Dom Cintra, para consultas relativas ao SORTEIO PÚBLICO 1.2.2 Somente haverá sorteio se o quantitativo de inscritos for superior ao número de vagas, conforme relação de inscritos divulgada na página eletrônica da Faetec www.faetec.rj.gov.br.
E ainda acrescenta que, o formato de sorteio seguirá os seguintes critérios:
6.1 O candidato inscrito receberá um número para concorrer ao sorteio das vagas, gerado aleatoriamente e não repetitivo na faixa compreendida entre 00.000 e 75.000. 6.2 O número do 1º prêmio da Loteria Federal, do dia estabelecido no calendário (Anexo I) será o número de partida para a alocação dos candidatos nas vagas. Este número é composto por 5 (cinco) algarismos. 6.2.1 As vagas serão preenchidas pelos candidatos que possuírem o número do sorteio igual ou maior que o número do 1º prêmio, respeitada a ordenação numérica crescente dos mesmos. 6.2.2 Persistindo a disponibilidade de vagas, após o candidato com número menor ou igual a 75.000 (setenta e cinco mil) ter sido sorteado, reinicia-se o processo a partir do número 00.000 (inclusive) até atingir o número anterior ao sorteado no 1º Prêmio da Loteria Federal, respeitada a classificação numérica crescente dos mesmos. 6.3 A formação da ordem de contemplados nas vagas e a classificação geral dos candidatos dar-se-á pela ordem crescente, obedecendo-se a quantidade de vagas em cada unidade de ensino, de acordo com a opção solicitada no requerimento de inscrição online considerando-se a opção de unidade de ensino e endereço da unidade de ensino.
O processo de sorteio, por mais que demonstre uma tentativa de
democratizar as oportunidades de acesso a educação profissional de nível médio,
apresenta uma complexa interpretação, onde toda esta ordenação numérica pouco
21
Edital FAETEC 2015 disponível em https://secure.domcintra.org.br/Faetec_2015.1/
83
esclarece e comunica ao candidato/aluno, sua possibilidade de classificação ou
vaga.
Outro destaque a fazer, sobre o depoimento destes sujeitos ETEFEV, diz
respeito às oportunidades de ascensão profissional obtidas através do curso técnico.
Muitos destes alunos, já empregados, buscam a certificação técnica como
possibilidade de ainda poderem mudar de área profissional e garantir novas
oportunidades salariais, mesmo que a educação técnica não garanta totalidade
neste universo econômico e social tão diverso. Porém, a educação profissional, é
entendida por alguns, um potente caminho para se galgar oportunidades diversas,
conforme indicadores apresentados pelo portal Brasil em 201122. Esta análise, por
mais que seja de importância na conjuntura educacional e econômica atual, não fará
parte do escopo desta pesquisa.
Retornando agora o olhar, para as falas destes sujeitos PROEJA, na
FAETEC, no segundo grupo de análise, ou seja, os alunos mais novos, menores de
35 anos, obteve-se as seguintes respostas, ao se questionar sobre suas
expectativas em fazer o curso:
“Meu filho nasceu e tive que parar. Agora tenho que continuar. Preciso dar uma vida diferente para ele”. (Aluno E, 24 anos) “Meu esposo já fazia o subseqüente e eu estava parada e preciso trabalhar. Agora venho com ele de carro e dou o RIOCARD pra ele trabalhar”. (Aluno F, 28 anos) “Eu vim pra cá porque era sorteio, achei que nunca ia conseguir. Trabalho em escala de plantão, será que concluo?”. (Aluno G, 32 anos) “Ah, professora, eu estava no diurno repeti duas vezes e estava me sentido “velho”. Daí, comecei a trabalhar, não dá mais pra depender deles (pais). A noite estou indo bem, ta mais fácil e agora trabalho”. (Aluno H, 18 anos)
A entrada de jovens mais jovens nas turmas do PROEJA, e as demandas da
profissionalização sugerem a necessidade, prioritária, de mudança na estrutura
curricular do PROEJA na ETE Ferreira Viana. Tanto sua organização, quanto
conteúdos, métodos e objetivos precisam ser revistos e reestruturados, a fim de
proporcionar aos alunos e aos docentes que atuam diretamente com o sujeito
22
Pesquisa da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo e do Instituto Votorantim, realizada em 2010, informa que profissionais que fazem cursos técnicos têm 38% a mais de chance de obter emprego com carteira assinada. O mesmo estudo revela também que, na média, pessoas com formação técnica ganham 12,94% a mais dos que não a possuem.
84
PROEJA, elementos que favoreçam um processo de ensino aprendizagem mais
próximo destas expectativas e realidades.
3.5.2 Suas imagens e ressonâncias
Na introdução desta pesquisa foi relatada a experiência docente, de trinta
anos atrás aproximadamente, com dona Maria José, lavadeira, mãos calejadas, que
desejava aprender a enxergar as letras. Em sua simplicidade, dona Zezé perguntou
um dia a esta professora o porquê de estar dando aulas naquela comunidade.
Sinceramente, não foi fácil responder. Não se queria dar uma das respostas comuns
referentes à paixão pela educação, aos desamparados, desvalidos, etc. Era
necessária uma resposta que atendesse à curiosidade daquela aluna e a realidade
daquele docente. Após algum tempo de silêncio, foi respondido a aquela aluna que o
que se desejava era “fazer diferença na vida de alguém”.
Sem a intenção de romantizar a ação dos que falam com os sujeitos PROEJA
na ETEFEV, especialmente quando nos dias atuais encontramos tantas
adversidades em relação à carreira do magistério, um fator ainda indiscutível e real,
é que se pode fazer diferença na trajetória de vida de alguém, independentemente
da sua idade, gênero, raça, interesses e enfrentamentos. Independentemente ainda
de seus rostos e expectativas. Somos todos participantes da construção de
subjetividades, e a partir do momento que interferimos em dada realidade, também
somos implicados por todo este processo.
A ação docente com os sujeitos PROEJA não tem sido uma construção isenta
de dificuldades e enfrentamentos na ETE Ferreira Viana. Falar com estes sujeitos de
forma a proporcionar uma ação dialógica ainda é um enfrentamento.
Apesar de historicamente a Unidade Escolar já possuir um perfil de alunos
oriundos da Educação de Jovens e Adultos, ingressantes nos Cursos Técnicos
Subsequentes, questionamentos acerca da forma de entrada dos alunos por sorteio,
pouca base do ensino fundamental, pouca disponibilidade para os estudos e outros
mais, estes são ainda aspectos de discussões acirradas na sala de professores e
corredores da Unidade Escolar. Encontros periódicos foram feitos com as equipes
de professores para se discutir as dificuldades de base apresentadas pelos alunos
85
do PROEJA e se buscar estratégias conjuntas para minimizar tais dificuldades.
Contudo, as preocupações docentes com a certificação da área técnica e a tão
famosa “falta de base” eram assuntos fortemente apresentados, onde alguns dos
argumentos giravam diante das seguintes colocações:
“Eles deveriam fazer os cursos de curta duração, como auxiliar, assistente...” (Prof. 1) “Como é que vou certificar um aluno sem base alguma? E o CREA”
23?
(Prof. 2) “Eu não vou dar aula de matemática e física. Meu assunto é outro e, eles não tem base”. (Prof. 3)
Por outro lado, outro grupo de professores, talvez decididos a “fazer diferença
na vida de alguém”, independentemente dos limites e barreiras, narravam suas
experiências ao trabalhar com o PROEJA. E apresentaram os seguintes
depoimentos:
“Eu gosto de trabalhar com o PROEJA. Sei que eles precisam de nós e da escola. Prefiro dar aula para eles, do que para os adolescentes”. (Prof. 4) “Mudei todo o planejamento. Levei uma planta da “minha casa minha vida” para a aula. Conversamos, e mesmo com algumas dificuldades, me emocionei. A qualidade foi excelente”. (Prof. 5)
“As turmas estão ótimas. Eles produzem muito. Eles acham que não
sabem desenhar. Ligo a televisão. Coloco uma música... e quando começam e acreditam as produções ficam ótimas”. (Prof. 6)
Muitos dos docentes da área tecnológica estão marcados por uma formação
para produtividade e por resultados. O que também, lamentavelmente, se aplica
aos docentes licenciados das disciplinas da base nacional comum. O embate
referente a questões de base de aprendizagem dos alunos do PROEJA, ainda é
uma questão que, em muitas situações, limita os olhares e possibilidades de uma
atuação docente que acredite nas potencialidades, e no contribuir para fazer
diferença na vida de alguém. Mudar o planejado para efetivar o possível,
indiscutivelmente é uma necessidade constante na ação docente.
Sabemos que toda a trajetória da educação está marcada por desigualdades,
que geraram um sistema marcado pela inculcação ideológica e excludente em nosso
país, onde a educação, destinada aos trabalhadores era caracterizada pela
23
CREA é a sigla que identifica o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia responsável pela fiscalização de atividades profissionais nas áreas da Engenharia, Agronomia, Geologia, Geografia e Meteorologia, além das atividades dos Tecnólogos e das várias modalidades de Técnicos Industriais de nível médio.
86
insuficiência de recursos, terminalidades em níveis elementares de escolarização,
currículos e modelos educacionais de adestramento para o trabalho e outros mais.
Desta forma, com base no entendimento de que as trajetórias truncadas dos
trabalhadores-alunos são marcadas pela
(...) dificuldade de articular os tempos do viver, sobreviver, trabalhar e os tempos da escola. Correm contra o tempo, têm de escolher entre tempos tão vitais. A escola tem seus tempos rígidos, predefinidos, enquanto os tempos da sobrevivência, do trabalho são imprevisíveis. (ARROYO, 2009, p. 187)
Há de existir por parte de todos que dialogam com estes sujeitos PROEJA a
clareza da necessidade de se repensar este fazer curricular, de forma a
proporcionar um processo educacional real e possível diante dos rostos e falas
destes que compõe o fazer do cotidiano da ETEFEV. Um fazer, não somente com
base nas lacunas, com aquilo que não trazem para a escola, a tão famosa e
necessária base, mas efetivamente que os olhares deste fazer se voltem muito mais
para o que se é possível construir a partir das riquezas e realidades destes sujeitos.
3.6 Os rumos do PROEJA na ETE Ferreira Viana frente às novas políticas
públicas para a Educação de Jovens e Adultos
É indiscutível a realidade que a sociedade em que vivemos se caracteriza
por grandes diferenças sociais, tratando-se, pois de uma sociedade conflituosa e
desigual. Administrar os conflitos é necessário para a sobrevivência da
sociedade e a política pública é um dos meios para fazê-lo. Para Rua (1997), a
política é um conjunto de ações formais e informais que expressam relações de
poder e que se destinam à resolução pacífica dos conflitos quanto aos bens
públicos. Destaca ainda que,
[...] as políticas públicas são públicas e não são privadas ou apenas coletivas. A dimensão pública das políticas é dada não pelo tamanho do agregado social sobre o qual incidem e sim pelo seu caráter imperativo, que é uma característica central da atividade política, e pelo fato de que as decisões e ações estão revestidas de soberania do poder público (RUA, 199, p.1)
87
As descontinuidades da educação de jovens e adultos, ao longo de toda a
história da educação brasileira, ainda continuam uma constante. Ewald, (1997)
destaca que “o problema do presente é que ele se repete indefinidamente”, com
isso, ao se discutir as políticas públicas que abordam a educação brasileira, parece-
nos que o “filme” se repete por décadas, apresentando-nos o mesmo fim, ou seja, a
fragmentação.
Há alguns dias atrás, percorrendo a unidade escolar, um aluno PROEJA
apresentou o seguinte questionamento:
“Professora, eu estive lendo lá no site do MEC, que o PROEJA, tem muita verba destinada para nós. É isso mesmo? Porque, então, tem turma sem professor de Biologia? Um sobrinho meu estuda no PRONATEC e tem bolsa. E nós? (Aluno PROEJA, 24 anos, 1ª etapa/2015).
Deixar estas falas ecoarem, sem clareza de resposta, não é tarefa fácil
àqueles que desejam fazer diferença na vida destes sujeitos.
O “esquecimento” do PROEJA diante do PRONATEC24, pode pôr a perder os
ganhos que esse programa se propôs e trouxe ao público da EJA, tanto em
qualidade quanto em acesso às escolas federais, onde antes não tinham vez nem
lugar, como também nos estados e municípios que se integraram a este programa.
A Lei 12.513/2011 que institui o PRONATEC alterou configurações do FAT
(Fundo de Amparo ao Trabalhador), do seguro desemprego, do FIES (Fundo de
Financiamento do Estudante de Ensino Superior) e dos programas de transferências
de renda. O PRONATEC é a materialização das recomendações da UNESCO de
que os governos da América Latina deveriam utilizar o modelo do Sistema “S” para a
formação profissional.
A concepção que pauta o PRONATEC é a urgência de preparação para o
mercado de trabalho, apoiado nos mesmos pressupostos do PLANFOR25: a
linearidade entre formação e colocação no mercado de trabalho; a estreita
articulação entre público e privado, com ênfase no Sistema S; cursos de formação
24
É instituído o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego - PRONATEC, a ser executado pela União, com a finalidade de ampliar a oferta de educação profissional e tecnológica, por meio de programas, projetos e ações de assistência técnica e financeira.
25
Implementado em todas as regiões do país a partir de 1996, sob a direção do Ministério do Trabalho e Emprego – MTE e com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT. PLANFOR passou a tratar a questão da qualificação profissional como política pública, integrada ao conjunto de ações destinadas a estimular oportunidades de geração de trabalho e renda.
88
aligeirados, voltados estritamente para a preparação restrita para ocupação imediata
de postos de trabalho são pressupostos que revelam mais uma vez a
descontinuidade das políticas apresentadas ao público da EJA, em detrimento dos
interesses econômicos e políticos.
Tais interesses e mudanças das políticas atuais vêm trazendo aos Estados,
especificamente ao Rio de Janeiro, e na FAETEC, mudança significativa da trajetória
do PROEJA. Seus interesses, estrutura curricular e acessibilidade vêm sendo a
cada ano, comprometidos frente aos novos interesses políticos e econômicos,
particularmente neste momento, com as ofertas de vaga para o PRONATEC em
suas unidades de ensino. Tais fatores, entre outros, mais uma vez contribuem para
a descontinuidade dos programas e ações das políticas destinadas aos jovens e
adultos em nossa sociedade brasileira. Assim, particularmente em se tratando da
FAETEC, a continuidade do PROEJA na ETE Ferreira Viana e em toda rede vem
sendo questionada por sua Presidência e Diretoria de Ensino quanto a sua
continuidade e permanência para os próximos anos.
89
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em suma, a questão política não é o erro, a ilusão, a
consciência alienada ou a ideologia; é a própria verdade
Foucault, 1979
Uma das questões básicas que nos trouxe preocupação durante esta
pesquisa diz respeito aos caminhos que deveriam ser tomados e como exercitar um
olhar de fora, estando a todo tempo dentro e implicado com a realidade investigada.
A realidade educacional com a qual este pesquisador vem trabalhando ao
longo de treze anos é a da ETE Ferreira Viana. Instituição esta que por mais de um
século vem sendo cenário de ações governamentais na área da educação
profissional em nosso Estado, segundo descrito em sua própria história. No entanto,
palco também de descaminhos e desalentos frente às políticas públicas
descontínuas e partidárias, implementadas pelos diferentes governos que se
revezaram ao longo da história da educação de jovens e adultos em nosso Estado.
Fatores estes, que lamentavelmente ainda revelam um perfil educacional em nosso
país contraditório em seus objetivos, distantes do “pleno desenvolvimento do
educando, de seu preparo para o exercício da cidadania e de sua qualificação para
o trabalho”, segundo a LDB, finalidade precípua da Educação.
Costa argumenta ao discutir a respeito das políticas públicas em nosso país,
que “falamos e nos inquietamos a partir deles como simples mortais, e como
pesquisadores também” (COSTA, 2007b, p.51), e ainda acrescenta que “nossas
ideias sobre as coisas constroem as coisas” (COSTA, 2007a, p.17). Imbuída, então,
desta inquietação e expectativa de “construir coisas”, procurou-se, a partir deste
olhar investigativo, a identificação de caminhos, possibilidades e estratégias que
oportunizassem a ETE Ferreira Viana “fazer a diferença na vida de alguém”, ou seja,
de seus sujeitos, através da proposta educacional estruturada e oferecida no
PROEJA.
Os caminhos e descaminhos trilhados durante esta investigação evidenciam a
tese de que somente chegamos a algum lugar, se nos aventurarmos a levantar de
onde estamos e prosseguirmos, ou seja, sair de nossa zona de conforto. Muitas
90
vezes sem grandes pretensões ou metas, somente levantar e prosseguir. Em
busca do que, nem sempre é o aparente fundamental, mas somente buscar trilhas e
caminhos.
Diante de tais imaginários, procurou-se então trilhar nos caminhos de
implantação do Programa de Educação Profissional na modalidade EJA na Escola
Técnica Estadual Ferreira Viana, o PROEJA, tendo como objetivo central, analisar
sua organização curricular e suas possíveis implicações no processo da formação
humana, presentes e atuantes nesta unidade de ensino da rede FAETEC. Partiu-se
então, da discussão entre os pares envolvidos na reestruturação curricular, sobre "a
escola que queremos", uma vez que muitos dos docentes e técnicos envolvidos
nestas discussões se remetiam somente à questão da organização das disciplinas a
serem ensinadas, aos conteúdos a serem priorizados, sobre o perfil necessário ao
aluno, procedimentos tão comuns nas velhas rotinas escolares da educação
tecnológica, sem uma reflexão clara e aprofundada a respeito da identidade desta
escola e como o currículo, uma vez integrado e entendido como processo de
construção coletiva, representaria esta identidade institucional.
O que se evidenciou neste caminho foi mais uma experiência a ser somada
às estatísticas de estudos referentes ao currículo integrado, no tocante à educação
profissional, ao apresentar “mais pontos de partida do que de chegada”. Uma vez
que mesmo defendendo uma proposta curricular integrada, o PROEJA da ETE
Ferreira Viana ainda se baliza numa prática de hierarquização em sua organização
curricular, estruturada disciplinarmente, onde as disciplinas que ali a compõem se
encontram desvinculadas em suas bases chamadas “comuns” e “tecnológicas”,
reforçando assim a continuidade de uma estrutura pedagógica de disciplinas
dissociadas. Além disso, os temas integradores, entendidos como os grandes
possibilitadores desta vinculação e articulação, além de serem descritos somente
em suas diretrizes, encontram-se reféns de pré-requisitos instituídos, tais como,
base do ensino fundamental, estágio obrigatório, qualificação docente e tempo
disponível de acompanhamento docente, entre outros discutidos ao longo desta
análise.
Neste cenário então, procurou-se estabelecer nesta pesquisa, uma
fundamentação teórica, tendo como provocadores Foucault, Veiga-Neto, Deleuze e
Gattarri, a fim de compreender os processos de subjetivação que constituem o fazer
educacional na ETE Ferreira Viana, no que diz respeito às suas relações, embates e
91
organização curricular do PROEJA, nesta unidade de ensino. Desta forma, a
compreensão das relações de poder no âmbito do cotidiano escolar foi uma
discussão necessária e indispensável a esta reflexão, onde se concluiu que a
mecânica do poder é concreta, particular, permeia toda a sociedade e suas
instituições, particularmente a escola e, existe no próprio corpo do indivíduo de tal
sorte que não podemos localizá-la num único lugar; nem no Estado, nem numa
pessoa; mas, principalmente, circulando nas relações que constituímos nos fazeres
do cotidiano. Evidenciando-se assim as tensões do cotidiano escolar onde “os
conflitos entre as diferentes concepções de ordem moral e social” permeam os
discursos e práticas resultando no engessamento de seus sonhos e ações.
A Escola Técnica Estadual Ferreira Viana, portanto, foi o grande palco desta
mecânica e engrenagens. Onde através de uma análise de seu histórico, bem
como da própria trajetória da educação profissional no Estado do Rio de Janeiro,
procurou-se compreender seus rumos e significados ao longo do panorama
educacional brasileiro, bem como suas contradições e ações. Ações estas
descontínuas, aligeiradas, individualistas e individualizantes, onde a Instituição
FAETEC, então criada com a proposta de “manter e amparar” o desenvolvimento
tecnológico das Escolas Técnicas Estaduais em nosso Estado, encontra-se ao longo
de sua própria trajetória, servindo como uma potente ferramenta e palco de
articulações partidárias diversas, que integram as descontinuidades das políticas
educacionais em nosso Estado.
Esbarrou-se, assim, com os caminhos e descaminhos do PROEJA. Sua
fundamentação legal, estrutural e cotidiana foram discutidas e analisadas. E neste
cenário, mais uma vez, se deparou com a frequente história da educação
profissional, marcada pelos programas, metodologias e estratégias do aligeiramento,
da inclusão pela exclusão, das descontinuidades, dos interesses econômicos frente
aos educacionais, e ainda, com os desencontros pedagógicos, onde a formação
docente ainda se encontra despreparada para atuar na forma integrada de saberes
e no conhecimento das riquezas e limites dos sujeitos implicados neste processo.
Na experiência da ETE Ferreira Viana procurou-se, segundo seu plano de
curso, estabelecer diretrizes que viabilizassem uma metodologia e estrutura
pedagógica que buscasse o exercício da integração curricular. Algumas
preocupações, no tocante ao número reduzido de alunos por turma, uma
estruturação de disciplinas nas primeiras etapas que proporcionassem um reforço
92
dos conteúdos de base do ensino fundamental, a proposta de projetos integradores,
foram descritas. Contudo, o que se evidenciou foi uma ação docente e pedagógica
ainda distantes da compreensão e efetivação da integração de saberes, onde
frequentemente é desconsiderada a possibilidade de que a integração possa ser
pensada e construída a partir de princípios diversos, situados nas experiências e
interesses dos alunos, caminho este que traria enorme riqueza ao processo de
aprendizagem dos sujeitos envolvidos no PROEJA. No entendimento deste
pesquisador, a ETE Ferreira Viana teria e tem condições técnicas e humanas para
propor uma ação curricular mais próxima da realidade de sua educação de jovens e
adultos, onde a articulação de saberes poderiam ser pensados e trabalhados no
sentido de melhor atingir a este público.
A legislação impõe critérios, os decretos e as diretrizes limitam os espaços e
os diálogos ainda continuam pouco ressonantes. Diálogos estes que sendo
resultado de uma construção coletiva, deveriam ter como resultado a construção e
expressão das relações sociais, tornando-se assim uma potente ferramenta para o
entendimento dos sentidos produzidos no cotidiano da escola.
Com todo este cenário pintado a poucas mãos e de aparência pouco nítida e
colorida, que caminhos ainda restam ser trilhados? Que ações buscar, frente às
possibilidades de mais uma vez o programa, abraçado por esta unidade escolar em
estudo, estar correndo o risco de ser interrompido? Justamente agora, quando após
todo o exercício do diálogo e discursos, e da visualização dos caminhos e retornos
necessários e possíveis a sua organização, tem-se e a informação oficial da
interrupção da oferta de vagas para o PROEJA ETEFEV no próximo semestre
letivo. As instâncias superiores desta Fundação fundamentam esta decisão, de
descontinuidade do PROEJA, devido às estatísticas de evasão e de pouca procura
por cursos técnicos integrados ao ensino médio. Ou seja, sinalizando o seu fim e
consequentemente a própria extinção do ensino médio integrado à educação
profissional na rede como um todo.
Fala-se muito, nestes dias, em se efetivar ações de uma “Pátria Educadora”,
como se um simples “slogan” mudasse a direção de todo este panorama. Contudo,
a história parece voltar ao mesmo ponto, e o olhar para o espaço da escola, de suas
falas, de suas realidades, de seus rostos, vozes e realizações, ainda estão distantes
de serem considerados como base fundamental para construção desta Pátria dita
“Educadora”.
93
Espera-se, portanto ao se tentar finalizar esta discussão, que as histórias de
todos nós continuem a ser contadas, ouvidas e ecoadas, pois entendemos que é
através desta prática de significação e atribuição de sentidos que se constrói a
realidade e se projeta nossa identidade. As vozes de dona Zezé, do aluno A, aluno
B, professor A, professor B, coordenador, equipe, gestão, as vozes deles e de todos
nós e de tantas outras que aqui não couberam, aqui foram registradas e aqui estão
implicadas. O que de fato farão? Não é mais a discussão. Até onde irão e que
sentidos darão? Esta sim é a expectativa. Que ecoem, atinjam outros trilhos e
caminhos, e assim façam a diferença.
94
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99
ANEXO - - Projeto de implantação do proeja na ETE Ferreira Viana/FAETEC
GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA FUNDAÇÃO DE APOIO À ESCOLA TÉCNICA
PROJETO DE IMPLANTAÇÃO DO PROEJA NA ETE FERREIRA VIANA/FAETEC:
UMA PROPOSTA DE INCLUSÃO SOCIAL E INTEGRADORA DA APRENDIZAGEM E NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL CONCOMITANTE AO ENSINO MÉDIO NOTURNO
Organização:
Direção Pedagógica
Escola Técnica Estadual Ferreira Viana
Rua General Canabarro, 291 Tel. 25690224
Rio de Janeiro 2008
100
INTRODUÇÃO
A sociedade atual está em constante processo de mutação de suas estruturas.
Diante desse quadro como Instituições de ensino voltadas para a Educação Tecnológica e a
formação profissional, vem sendo necessário a realização de modificações em sua
estrutura curricular, ao longo dos anos, para adequar-se às novas necessidades de mercado
de trabalho, bem como à Lei de Diretrizes e Bases na Educação Nacional, bem como às
próprias necessidades educacionais do jovem trabalhador que se encontra em defasagem
de escolarização.
É nesse contexto que este projeto vem se ajustando, com uma nova estrutura
curricular, de forma a atender à demanda do mercado de trabalho por especialistas para a
área, oferecendo particularmente aos alunos jovens e adultos, que por situações diversas
estão em defasagem em sua escolarização, muitos até mesmo já atuando de maneira
informal no mercado de trabalho, condições técnicas necessárias para garantir as
exigências do mercado, e tratando a educação profissional sob um enfoque pedagógico
capaz de atender aos desafios que a globalização impõe, num momento em que a
produtividade e a competitividade limitam as oportunidades de trabalho.
1.1 Caracterização do problema
São vários os fatores que levam a evasão escolar. Ensino mal aplicado através de
metodologias inadequadas, problemas sociais e emocionais dos alunos até mesmo o
descaso governamental com políticas públicas distantes da realidade da escola e do
educando.
Em se tratando da Educação de Jovens e Adultos, o Brasil vem experimentando ao
longo de seu desenvolvimento educacional políticas que minimizem os altos índices de
analfabetismo e evasão escolar.
A evasão escolar está dentre os temas que historicamente faz parte dos debates e
reflexões no âmbito da educação pública brasileira e que infelizmente, ainda ocupa até os
dias atuais, espaço de relevância no cenário das políticas públicas e da educação em
particular. Em face disto, as discussões acerca da evasão escolar, em parte, têm tomado
como ponto central de debate o papel tanto da família quanto da escola em relação à vida
escolar da criança.
No que tange à educação, a legislação brasileira determina a responsabilidade da
família e do Estado no dever de orientar a criança em seu percurso sócio-educacional. A Lei
de Diretrizes e Bases da Educação-LDB (1997:2), é bastante clara a esse respeito.
Art. 2º. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos
princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por
finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
A despeito disto, o que se observa é que, a educação não tem sido plena no que se
refere ao alcance de todos os cidadãos, assim como no que se refere à conclusão de todos
os níveis de escolaridade.
Vários estudos têm apontado aspectos sociais considerados como determinantes da
evasão escolar, dentre eles, a desestruturação familiar, as políticas de governo, o
desemprego, a desnutrição, a escola e a própria criança, sem que, com isto, eximam a
responsabilidade da escola no processo de exclusão das crianças do sistema educacional.
101
Como proposta para minimizar os índices de repetência e evasão na Escola Técnica
Estadual Ferreira Viana/FAETEC traz-se à discussão a Educação de Jovens e Adultos.
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é um sistema de ensino utilizado na rede pública no Brasil para a inclusão de jovens e adultos na educação formal que tem o propósito de desenvolver o ensino fundamental e médio com qualidade para aqueles que perderam a oportunidade de se escolarizar na época própria por arrimo ou por inadaptação. Descortina-se então o Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos – PROEJA abrangendo cursos que, como o próprio nome diz, proporcionam formação profissional com escolarização para jovens e adultos. Este projeto então procurará, apresentar como proposta para minimizar os índices de evasão e repetência na Escola Técnica Estadual Ferreira Viana, no seu curso noturno, visando a implantação da modalidade PROEJA.
1.2 Objeto Os alunos do curso noturno da Educação Profissional Concomitante ao Ensino
Médio da Escola Técnica Estadual Ferreira Viana reprovam e evadem ao final das séries iniciais de curso sem apresentar justificativa para suas faltas, com desmotivação e pouca participação em sala de aula; acentuado índice de repetência e dependência nas disciplinas das ciências exatas.
1.3 – Pergunta do projeto
A implantação da modalidade PROEJA na ETE Ferreira Viana é uma resposta para minimizar os altos índices de evasão e repetência no curso concomitante noturno?
1.4 – Hipótese do projeto
A implantação da modalidade PROEJA é um meio de integração do ensino e
efetivação de aprendizagem dos alunos em defasagem idade/série, frente aos altos índices de repetência e evasão no curso noturno da Educação Profissional Concomitante ao Ensino Médio na Escola Técnica Estadual Ferreira Viana. JUSTIFICATIVA DO PROJETO
Nos últimos cinco anos os cursos noturnos de Educação Profissional da Escola Técnica Estadual Ferreira Viana vem sofrendo redução nos índices de aprovação e conclusão frente ao alto índice de alunos reprovados e evadidos.
Tal evasão e reprovação além de excluir o aluno noturno do processo educacional e
futura profissionalização, vêm provocando ociosidade de utilização dos laboratórios e
dependências técnicas da unidade de ensino.
A evasão escolar está dentre os temas que historicamente faz parte dos debates e
reflexões no âmbito da educação pública brasileira e que infelizmente, ainda ocupa, até os
dias atuais, espaço de relevância no cenário das políticas públicas e da educação em
particular. Em face disso, as discussões acerca da evasão escolar, em parte, têm tomado
como ponto central de debate o papel tanto da família quanto da política e demais
instituições da sociedade.
Uma análise preliminar nos apresenta os seguintes dados:
102
1ª séries do curso noturno em 2008
CURSO TURMA INSCRITOS FREQ. EM FREQ. EP
EDIFICAÇÕES 1301 39 20 20
ELETROTÉCNICA 1321 32 12 6
MECÂNICA 1311 26 10-11 10-11
TELECOM 1341 27 12-15 12-15
4ª séries do curso noturno em 2008
CURSO TURMA INSCRITOS FREQ. EM FREQ. EP
EDIFICAÇÕES 4301 4 4 4
ELETROTÉCNICA 4321 10 10 10
MECÂNICA 4311 11 2 2
TELECOM 4341 8 4-5 4-5
Diante de tais dados, esse projeto é urgente de implantação, pois prioriza uma
reorganização pedagógica, metodológica e curricular no âmbito institucional, com vistas a
minimizar os altos índices de reprovação e evasão no sistema de ensino, em especial na
educação profissional noturna na ETE Ferreira Viana/FAETEC, bem como favorecer uma
metodologia de ensino curricular que melhor atenda às necessidades do adulto trabalhador
e/ou excluído do processo de escolarização.
Sendo assim, solicitamos a esta diretoria de ensino a autorização e devidas
providências legais, para a implantação do projeto a partir do ano de 2009, nesta unidade de
ensino.
METODOLOGIA:
O presente projeto consistirá, num primeiro momento, de um levantamento
estatístico pelos dados fornecidos pela secretaria da Unidade Escolar, que procurará
identificar os números relativos à evasão e repetência, nos últimos cinco anos dos cursos
noturnos de Educação Profissional Concomitante ao Ensino Médio na ETE Ferreira Viana.
Num segundo momento, serão identificadas as razões relativas aos índices de
evasão e repetência, através de aplicação de questionários, junto aos alunos e professores,
bem como analisadas a relação desses índices de repetência e evasão com o sistema
atual curricular da instituição.
Em uma terceira etapa, todos os dados serão avaliados qualitativamente e
quantitativamente, com base para sua construção textual e apresentação do PROJETO
PROEJA à DDE/FAETEC, com vistas a sua implantação em caráter piloto na rede, a partir
do 2º semestre de 2009.
Posteriormente a estas etapas e aprovação do projeto, reuniões periódicas serão
organizadas com todos os professores, coordenadores e equipe pedagógica que
desenvolverão o projeto, com vistas a organização curricular e metodologias a serem
utilizadas.
103
RELEVÂNCIA DO PROJETO E POSSÍVEIS APLICAÇÕES
O presente PROJETO tem sua relevância, pois procurará identificar as variáveis da
evasão e repetência na Educação Profissional noturna, com vistas a propor a implantação
uma modalidade, PROEJA como resposta pedagógica à desarticulação atual do
sistema de ensino noturno da Educação Profissional Concomitante ao Ensino Médio da
Escola Técnica Estadual Ferreira Viana/FAETEC.
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