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Curitiba 2011 Anais do VII Congresso Internacional da Abralin O Programa Nacional Biblioteca da Escola e o desenvolvimento da competência leitora do aluno na linguagem quadrinística Francisca das Chagas Nobre de Lima 1 Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) [email protected] Resumo Este artigo propõe-se a discutir a importância de existir o convívio contínuo com a leitura da linguagem quadrinística para que o aluno possa ampliar a sua competência leitora, uma vez que essa linguagem foi incluída nos acervos do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) no Ensino Médio, com a finalidade de assegurar o acesso de alunos e professores à cultura, à formação e aos conhecimentos socialmente produzidos ao longo da história da humanidade, como também para incentivar a prática da leitura nas escolas públicas brasileiras pelo Ministério da Educação. Nesse sentido, é preciso pensar uma política de formação de leitores proficientes para além do ambiente escolar, fundamentada numa concepção de leitura, como processo de interação. Palvaras-chave: PNBE; linguagem quadrinística; competência leitora; política; formação. 1545

O Programa Nacional Biblioteca da Escola e o desenvolvimento da ... · Resumo . Este artigo propõe-se a discutir a importância de existir o convívio contínuo com a leitura da

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    O Programa Nacional Biblioteca

    da Escola e o desenvolvimento da

    competncia leitora do aluno na

    linguagem quadrinstica

    Francisca das Chagas Nobre de Lima1

    Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

    [email protected]

    Resumo

    Este artigo prope-se a discutir a importncia de existir o convvio contnuo com a leitura da linguagem quadrinstica para que o aluno possa ampliar a sua competncia leitora, uma vez que essa linguagem foi includa nos acervos do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) no Ensino Mdio, com a finalidade de assegurar o acesso de alunos e professores cultura, formao e

    aos conhecimentos socialmente produzidos ao longo da histria da humanidade, como tambm para incentivar a prtica da leitura nas escolas pblicas brasileiras pelo Ministrio da Educao. Nesse sentido, preciso pensar uma poltica de formao de leitores proficientes para alm do ambiente escolar, fundamentada numa concepo de leitura, como processo de interao.

    Palvaras-chave: PNBE; linguagem quadrinstica; competncia leitora; poltica;

    formao.

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    1 Introduo

    A pesquisa sobre o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) e o

    desenvolvimento da competncia leitora do aluno na linguagem quadrinstica

    prope-se a investigar as aes norteadoras desse programa e a sua aplicabilidade

    na escola pblica em relao s prticas de leitura dessa linguagem quadrinstica

    no Ensino Mdio e discutir a relevncia de existir um convvio contnuo com a

    prtica dessa leitura, para que o aluno possa ampliar a sua competncia leitora,

    uma vez que tal linguagem faz-se cada vez mais presente nos livros didticos, nas

    provas, exames e concursos pblicos e nas prticas sociais dos estudantes,

    exigindo nesse sentido, letramento para ler os signos lingusticos verbais e visuais,

    alm dela poder se constituir como fonte de prazer.

    Ao delimitar o seu foco na investigao da lngua em uso, essa pesquisa

    insere-se na rea da Lingustica Aplicada ao ensino de lngua materna, que concebe

    a linguagem como prtica social em circulao na situao social mais ampla, visto

    que a linguagem est presente no cotidiano do falante e, por isso, h um nmero

    ilimitado de atividades no qual ela relevante, tais como: na escola, no trabalho,

    entre outros, j que, na contemporaneidade, o desafio introduzir o aluno no

    contexto do debate tico, plural, fomentando processos de ensino e aprendizagem

    que levem construo do sujeito crtico, reflexivo, autnomo, entre outros.

    A partir dessa compreenso, que optamos por desenvolver uma [...]

    pesquisa qualitativa de orientao scio-histrica (FREITAS, 2007, p. 27), a qual

    encontra-se embasada em um conjunto de constituintes, como os descritos a

    seguir.

    A fonte de dados (a constituio do corpus) so os documentos em geral

    publicados pelo Ministrio da Educao e por alguns estudiosos sobre o PNBE

    (portaria de criao, entre outros, para se compreender como ele foi institudo em

    relao as suas aes norteadoras, o que tem sido viabilizado em termos de poltica

    pblica de formao de leitores proficientes nas escolas pblicas brasileiras, como

    tambm a necessidade de existir a formao dos profissionais da escola para

    trabalhar com os acervos distribudos por esse programa, principalmente aqueles

    voltados para a linguagem quadrinstica. Alm disso, optamos por trabalhar com

    um questionrio contendo oito questes abertas com cinco profissionais, para

    investigar quais so as concepes terico-metodolgicas que norteiam as prticas

    de leitura da linguagem quadrinstica dos professores de Lngua Portuguesa, de

    uma escola pblica da rede estadual de ensino, no de Ensino Mdio, nos trs turnos

    (matutino, vespertino e noturno).

    Ao formular as questes propostas para esta pesquisa, procuramos

    compreender como os fenmenos estudados em sua complexidade tm se

    configurado em seu acontecimento histrico, no sentido de ir ao encontro da

    situao pesquisada, com a finalidade de entender melhor como a escola

    pesquisada e os sujeitos contidos nesse processo vm desenvolvendo prticas de

    leituras com a linguagem quadrinstica, no sentido de formar leitores proficientes

    dos signos lingusticos verbais e visuais, que devem ser lidos como enunciados,

    pelo fato dessa linguagem estar inserida em vrios materiais didticos utilizados no

    cotidiano por professores e estudantes e em vrias provas de exames e concursos

    pblicos existentes no Brasil, exigindo, assim, mltiplos letramentos.

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    Os processos de coleta de dados (anlise de documentos sobre o PNBE e o

    questionrio) possibilitam ao pesquisador entender melhor as variveis

    identificadas neles e a partir da realizar descries e explicaes sobre tais dados,

    por meio de possveis relaes entre os eventos investigados numa interao do

    individual com o social.

    A nfase na atividade do pesquisador deve situar-se no processo de

    transformao e mudana no qual acontece os fenmenos estudado em relao ao

    objeto pesquisado, na perspectiva de reconstruir a histria de sua origem e de seu

    desenvolvimento.

    O pesquisador concebido como um instrumento fundamental, uma vez que

    sua compreenso se constri a partir do lugar scio-histrico no qual se situa, por

    meio das relaes intersubjetivas que estabelece com os sujeitos com quem

    pesquisa.

    O critrio buscado nesta pesquisa no preciso do conhecimento, porm

    compreender a profundidade no universo pesquisado e a participao do

    pesquisador e do pesquisado, uma vez que todos tm a oportunidade refletir sobre

    os fatos, bem como aprender e ressignific-los, a partir de uma relao entre

    sujeitos constituda pela linguagem como prtica social, visto que o seu campo de

    atuao uma esfera social constituda pela circulao de discursos e textos.

    O objeto de estudo das Cincias Humanas [...] o homem ser expressivo e

    falante por meio de uma relao entre sujeitos mediada pela linguagem (FREITAS,

    2007, apud BAKHTIN, 1997). Isso acontece porque temos a [...] idia de que

    pesquisador e sujeito da pesquisa esto em condio de intersubjetividade, onde,

    necessariamente, no h eu que no se constitua na relao com o tu [...]

    (AMORIM, 2004, p. 89), j que o outro est imbricado nesse contexto.

    Todos esses constituintes so indicadores fundamentais para que os

    profissionais da escola procurem estabelecer o dilogo entre teoria e prtica num

    constructo em que um referenda o outro simultaneamente e, por conseguinte,

    realizem atividades de leitura que contemplem as obras quadrinsticas distribudas

    pelo PNBE, visto que predomina, muitas vezes, uma viso padronizada de leitor nas

    suas aes educativas, o que dificulta a realizao das prticas de leituras em

    ambiente escolar com essa linguagem, como tambm ainda h uma viso

    distorcida pelo Ministrio da Educao e Cultura (MEC) sobre o trabalho com ela, ao

    conceb-la mais como um estmulo leitura, limitado a esfera do livro, quando na

    verdade ela est presente em vrias atividades scio-comunicativas.

    Esses aspectos remetem ao fato de que devemos compreender a leitura como

    um ato de construo de sentido, visto que o sujeito ao usar a linguagem no se

    limita somente traduzir e exteriorizar um pensamento ou transmitir informaes a

    outrem, e sim, atuar sobre o seu interlocutor (ouvinte/leitor), logo, concebida como

    um lugar de interao humana, de interao comunicativa, pela produo de efeitos

    de sentido entre interlocutores em uma dada situao comunicativa e em um

    contexto scio-histrico e ideolgico.

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    2 O Programa Nacional Biblioteca da Escola: eixos norteadores e a

    democratizao da leitura esperada

    O Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) foi institudo por meio da

    Portaria Ministerial n 584, de 28 de abril de 1997, a qual especifica:

    Art. 1 - Instituir o Programa Nacional Biblioteca da Escola, com as seguintes

    caractersticas bsicas:

    a) aquisio de obras de literatura brasileira, textos sobre a formao histrica,

    econmica e cultural do Brasil, e de dicionrios, atlas, enciclopdias e outros materiais

    de apoio e obras de referncia;

    b) produo e difuso de materiais destinados a apoiar projetos de capacitao e

    atualizao do professor que atua no ensino fundamental;

    c) apoio e difuso de programas destinados a incentivar o hbito de leitura;

    d) produo e difuso de materiais audiovisuais e de carter educacional e cientfico.

    Art. 2 - O acervo bsico da Biblioteca da Escola ser formado em trs anos, a partir

    de 1997.

    Art. 3 - Os recursos necessrios execuo do Programa sero assegurados pelo

    Ministrio nos oramentos do Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educao.

    Art. 4 - Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicao.

    (http://www.abrelivros.org.br/).

    A criao dessa portaria teve a finalidade de regulamentar o funcionamento

    desse programa no que concerne a sua aplicabilidade nas escolas pblicas

    brasileiras, pois ele [...] substitui programas anteriores de incentivo leitura e de

    distribuio de acervos s bibliotecas escolares implementadas pelo Ministrio da

    Educao e Cultura desde 1983 (PEREIRA, 2006, p. 11) e vem sendo desenvolvido

    ao longo dos anos, na perspectiva de assegurar o convvio da comunidade escolar

    com a leitura e a escrita.

    O PNEB integra s aes Por Poltica de Formao de Leitores desenvolvida

    pelo Ministrio da Educao e Cultura (MEC), a partir de trs eixos norteadores:

    retomar a biblioteca escolar como foco de ao; acervos de uso coletivo voltados

    para a ampliao das bibliotecas e espaos de leitura e atendimento universal das

    escolas da educao bsica (PEREIRA, 2006). A regulamentao dessa poltica de

    formao de leitores encontra-se fundamentada em trs volumes, nos quais so

    apresentados uma viso geral sobre o que contm cada um deles, como os

    descritos a seguir.

    Volume 1 Por uma Poltica de Formao de Leitores contempla o que

    vem desenvolvendo no que concerne leitura, ao livro e biblioteca no processo

    de formao de leitores e uma discusso acerca dos dados coletados na pesquisa

    avaliativa do Programa Nacional Biblioteca da Escola, para compreender como tem

    sido realizado o trabalho com a leitura nas escolas pblicas brasileiras e a partir

    dela repensar aspectos para que a universalizao do acesso se efetive de fato

    nelas (BERENBLUM, 2006).

    Volume 2 Biblioteca na Escola traz algumas reflexes acerca dos

    investimentos que o MEC tem efetuado no sentido de assegurar o acesso leitura

    na escola, alm de apresentar algumas proposies de atividades voltadas para o

    uso do das obras distribudas pelo PNBE (PEREIRA, 2006).

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    Volume 3 Dicionrios em Sala de Aula defende a importncia de os

    alunos ampliar os seus repertrios vocabulares na maioria das modalidades de

    ensino da educao bsica, como uma forma de inseri-los no universo de

    informaes e, por conseguinte, trabalhar os dicionrios sob as perspectivas de

    livros e no como mera fonte de consulta de verbetes, o que requer o

    desenvolvimento de atividades fundamentadas em objetivos definidos pela

    comunidade escolar (RANGEL, 2006).

    Portanto, a proposio do MEC procurar assegurar comunidade escolar,

    melhores condies de trabalho, como tambm contribuir para a efetivao de uma

    poltica de formao de leitores proficientes. Nesse sentido, o PNBE tem se

    constitudo como um programa que visa incentivar a prtica da leitura nas escolas

    pblicas de todo o Brasil, por meio da distribuio de livros dos seguintes gneros

    discursivos: poemas, contos, crnicas, teatro, texto de tradio popular, romance,

    memria, dirio, biografia, ensaio, obras clssicas, histria em quadrinhos

    (PEREIRA, 2006).

    A seleo desses gneros acontece atravs de edital pblico, no qual so

    enumerados um conjunto de constituintes (do objeto, dos prazos, das obras, da

    composio dos acervos, das condies de participao, dos procedimentos, do

    processo de avaliao e seleo das obras, da acessibilidade, do processo de

    habilitao, dos processos de aquisio, produo e entrega, das disposies

    gerais). Alm disso, so adotados alguns critrios (qualidade literria do texto;

    adequao temtica e projeto grfico), considerando-se quatro categorias:

    categoria1 anos iniciais do Ensino Fundamental regular; categoria 2 anos finais

    do Ensino Fundamental regular; categoria 3 Ensino Mdio regular; categoria 4

    anos iniciais e finais do Ensino Fundamental da Educao de Jovens e Adultos e

    categoria 5 Educao Infantil, (PEREIRA, 2006).

    O Ministrio da Educao nas edies de 2000 a 2010 definiu a distribuio

    dos acervos de obras de referncia enviados para todas as bibliotecas pblicas,

    considerando o nmero de alunos matriculados, contemplando, primeiramente, os

    anos iniciais e finais do Ensino Fundamental, Educao de Jovens e Adultos e em

    2006 estendendo-a ao Ensino Mdio, utilizando o Censo Escolar para determinar o

    nmero de livros a ser adquirido em cada ano, uma vez que os recursos utilizados

    na viabilizao desse programa so assegurados pelo MEC, nos oramentos do

    Fundo de Desenvolvimento da Educao (PEREIRA, 2006).

    O Fundo de Desenvolvimento da Educao uma autarquia vinculada ao

    Ministrio da Educao e foi criado em pela Lei no. 5.537 em 21 de novembro de

    1968, com a finalidade de captar recursos financeiros para o desenvolvimento de

    vrios programas, para assegurar a melhoria da qualidade da educao bsica

    brasileira em todas as modalidades de ensino. Para isso, esse rgo orienta o

    desenvolvimento de projetos que contemplem esses objetivos, por meio de

    fiscalizaes contnuas em relao aplicabilidade dos recursos destinados para

    eles. Assim,

    no mais possvel desenhar polticas educativas sem enfrentar a problemtica da extrema desigualdade social existente no Brasil, sem avaliar a real oferta dos sistemas e das instituies pblicas e sem se pensar nos professores como verdadeiros

    protagonistas da ao educacional [...]. (BRASIL, 2008a, p. 22).

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    Ao investir em polticas pblicas de formao de leitores, fundamental

    inserir no seu contexto a necessidade de formao dos profissionais da escola

    (professores, gestores, coordenadores, bibliotecrios, entre outros) para fazer com

    que o convvio com a leitura se constitua enquanto prtica contnua dentro e fora

    do ambiente escolar, pois, na contemporaneidade, ele cada vez mais exigida em

    vrias situaes comunicativas.

    Percebemos que a instituio do PNBE representa um avano significativo em

    termo de poltica pblica de formao de leitores, j que os acervos selecionados

    contemplam gneros discursivos variados, o que permite a constituio de espaos

    de leituras diversificados em cada modalidade de ensino da educao bsica, desde

    a implementao do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao Bsica

    (FUNDEB) em 2009. Porm, todos os investimentos desse programa direcionam-se

    de forma especfica para a distribuio de obras, sem que isso se entenda a outros

    aspectos contidos nesse processo, como por exemplo, a preparao dos

    profissionais da escola para trabalhar com eles, a criao de espaos fsicos e de

    objetos mobilirios para abrigar as bibliotecas, como tambm a constituio de

    canais efetivos para ouvir as proposies das escolas pblicas brasileiras nesse

    sentido.

    Verificamos, ainda, a importncia de investir na formao dos profissionais da

    escola (professores, gestores, coordenadores, bibliotecrios, entre outros,

    constatada por meio de uma pesquisa denominada Avaliao diagnstica do

    Programa Nacional Biblioteca da Escola desenvolvida pela Secretaria de Educao

    Bsica do Ministrio da Educao em 2005, nas cinco regies brasileiras com 196

    escolas, para investigar como as escolas pblicas brasileiras vinham utilizando os

    acervos distribudos pelo PNBE (BRASIL, 2008a).

    Os dados coletados revelaram que, muitas vezes, as obras eram usadas para

    introduzir ou fixar aspectos gramaticais abordados, direcionando o foco da leitura

    para um foco especfico: a compreenso das informaes explcitas contidas nos

    textos, transformando-a em uma prtica unilateral, o que traz desafios, pois a sua

    finalidade no se restringe a essa abordagem, mas deve ser concebida como algo

    mais abrangente, que envolve vrios constituintes. O desenvolvimento dessa

    pesquisa foi relevante, porque atravs dela chegaram-se as seguintes

    constataes: 1) dificuldade do docente para trabalhar com os acervos; 2) falta de

    formao para trabalhar as obras em prticas pedaggicas e 3) falta de tempo para

    os professores realizarem a prpria leitura dos materiais (RAMOS, 2009, p. 39), ou

    seja, a ausncia de uma poltica de formao dos educadores e de outros

    profissionais da escola (gestores, bibliotecrios, entre outros) para colocar em

    prtica as atividades de leituras, pois eles reconhecem que os gneros

    disponibilizados so bons.

    Tais elementos demonstram que possvel existir a democratizao do acesso

    leitura com os acervos disponibilizados pelo PNBE, apesar de ainda no ter se

    efetivado a preocupao em ouvir os profissionais da escola sobre o processo de

    distribuio, pois, muitas vezes, eles ficam encaixotados nas bibliotecas ou

    simplesmente expostos nas estantes delas sem nenhuma funcionalidade. Tudo isso,

    no entanto, sinaliza o fato de que sejam adotadas novas perspectivas para o

    trabalho com a leitura, porque

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    a leitura nem sempre apenas prazer. Na verdade, na maioria das vezes, lemos por necessidade. Porque, por exemplo, precisamos utilizar um equipamento ou fazer um novo prato com base em uma receita; queremos saber das ltimas notcias; precisamos estar atualizados em nossa rea de conhecimento; precisamos obter certa

    informao em um determinado momento; precisamos estudar para uma prova ou concurso ou precisamos conferir um texto que escrevemos, entre inmeros outros casos. Nesses casos, o prazer decore da consecuo do objetivo que motivou a leitura. (RAMOS, 2009a, p. 39).

    Essas concepes evidenciam que a atividade de leitura como produo de

    sentido desenvolvida por meio de recursos variados utilizados para a construo

    de sentidos, tais como: o autor do texto, o seu meio de veiculao, o gnero

    textual, o ttulo, entre outros, uma vez que nesse processo so acionados vrios

    conhecimentos do leitor na produo do sentido: ativao de vivncias, contexto

    social no qual ele est inserido, relaes com o outro, valores da comunidade, alm

    de outros.

    Entendemos que a democratizao do acesso leitura esperada pelo PNBE

    em relao distribuio de livros ainda no se efetivou de fato, porque as obras

    destinadas s escolas pblicas so pouco utilizados nas prticas educativas no

    processo de formao de alunos leitores e, por conseguinte, escritores. Por isso,

    torna-se urgente o (re)dimensionamento dos aspectos que j avanaram nesse

    sentido, para a partir deles ampliar os que apresentaram mais desafios, para que a

    comunidade escolar insira-se em um mundo constitudo por mltiplas linguagens,

    as quais suscitam a presena de sujeitos ativos, capazes de ler e o compreender as

    informaes contidas em diferentes gneros discursivos.

    3 O Programa Nacional Biblioteca da Escola e o desenvolvimento da

    competncia leitora do aluno na linguagem quadrinstica

    O PNBE tem se constitudo como um programa voltado para a formao de

    leitor, devido a um conjunto de fatores, dentre eles as exigncias postas pela

    sociedade moderna, caracterizada pela velocidade da informao e relevncia de

    existir um convvio do sujeito com as mltiplas linguagens inseridas no mundo, que

    precisam ser lidas como textos, nas diversas situaes comunicativas

    permanentemente dentro em fora do ambiente escolar, visto que elas esto

    presentes em vrios espaos.

    Observamos que tais exigncias desencadearam a adoo de aes urgentes

    por parte do poder pblico e da escola no sentido de formar leitores proficientes,

    um objetivo que vem se efetivando ainda de forma gradativa nas prticas

    escolares, embasado numa concepo de linguagem como prtica social (BAKHTIN,

    1995, 2003, 2005), que norteiam as abordagens propostas nos Parmetros

    Curriculares Nacionais para o Ensino Mdio (BRASIL, 2002a), nas Orientaes

    Curriculares para o Ensino Mdio (BRASIL, 2008b) na rea de Linguagens, Cdigos

    e suas Tecnologias e no PCN+ Linguagens, Cdigos e suas Tecnologias (BRASIL,

    2002b).

    Esses documentos contm algumas orientaes para que os professores de

    Lngua portuguesa sistematizem o trabalho com a leitura e a escrita na escola, por

    meio de atividades que contribuam para a formao do aluno, com o objetivo de

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    que este possa utilizar a linguagem em vrias situaes comunicativas, visto que

    ela permeia toda a vida social e preenche nela um papel central na formao scio-

    poltica e nos sistemas ideolgicos. A linguagem de natureza scio-ideolgica e

    como tudo que ideolgico possui um significado e remete a algo situado fora de

    si mesmo (BAKHTIN, 2003, p. 31). Para esse autor, no se deve esquecer que a

    ideologia um reflexo das estruturas sociais. Entre linguagem e sociedade existem

    relaes dinmicas e complexas que se materializam nos discursos, ou melhor, nos

    gneros do discurso.

    Os gneros so aprendidos no curso da existncia humana como participantes

    de determinado grupo social ou membro de alguma comunidade, pois toda vez que

    algum se comunica o faz por meio de algum gnero do discurso, j cada esfera da

    atividade humana elabora seus tipos relativamente estveis de enunciados. Cada

    gnero discursivo tem uma concepo padro de destinatrio, o qual sempre adota

    uma atitude responsiva, possvel graas totalidade acabada do gnero. Tal

    totalidade constituda por trs fatores: o tratamento exaustivo do objeto do

    sentido; o intuito de querer-dizer do locutor; as formas tpicas de estruturao do

    gnero do acabamento (BAKHTIN, 2003, p. 299), pois a linguagem est presente

    em todos os momentos nas prticas sociais, por meio de enunciados.

    Ao concebermos a prtica da leitura da linguagem quadrinstica como

    enunciado, implica replica por parte do sujeito, uma vez que nesse processamento

    da leitura so acionadas vrias estratgias pelo leitor para o estabelecimento de

    sentidos, tais como: os tipos de bales, as cores e os formatos das letras, as

    roupas utilizadas pelos personagens, as onomatopias, os tempos verbais, as

    diferentes maneira de representar a fala, a sobreposio de vozes, as formas de

    apresentao dos quadrinhos (retangulares, quadradas ou circulares), entre outros.

    O enunciado concebido como elo de interao entre dois sujeitos, j que a

    palavra dirige-se a um interlocutor o qual no abstrato, todavia social e

    ideolgico, portanto, com a linguagem refletindo o que ele (BAKHTIN, 1995).

    Ento, a orientao da palavra em relao ao interlocutor essencial, porque ela

    apresenta dupla face: procede do eu e dirige-se para o outro, por meio da interao

    entre locutor e ouvinte, atravs da materializao da palavra como signo

    socialmente construdo.

    Os contextos sociais esto cercados de palavras e, impulsionados pela

    agilidade de informao e de comunicao, bem como cheio de imagens que

    conduzem os sujeitos a re-elaborar constantemente as formas de leitura. Diante de

    tal cenrio, verifica-se que as imagens ajudam na aprendizagem, sejam como

    recursos para prender a ateno do aluno, sejam como informao complementar

    ao texto verbal, pois uma linguagem no se sobrepe a outra, porm se

    complementam, interagem.

    A partir da crescente preocupao com o visual e outras formas de linguagem

    presentes na comunicao, a noo de letramento tem sofrido modificaes. Se at

    bem pouco significava saber ler e escrever, hoje essa noo procura incluir a

    habilidade de lidar com a multiplicidade e integrao de todos os modos de fazer

    sentido que acompanham as mudanas no mundo. Nesse sentido, cada vez mais

    frequente o uso da linguagem quadrinstica nos diversos materiais didticos

    utilizados em sala de aula, nos quais o aluno vai ter que coordenar um complexo

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    sistema de atividades que integra o texto verbal oral, o texto verbal escrito e o

    texto visual.

    A mudana em relao a essa concepo s aconteceu a partir do momento

    no qual a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional, promulgada em

    20/12/1996, contemplou a relevncia de que fossem inseridas mltiplas linguagens

    no Ensino Fundamental e Mdio, por meio da implementao do PNBE. , portanto,

    no ano de 2009, que pela primeira vez, esse tipo de leitura introduzido na

    educao brasileira em nvel de Ensino Mdio (VERGUEIRO e RAMOS, 2009a),

    embora s tenham vindo quatro obras nesse sentido.

    Outro fator importante a necessidade de repensar-se os pressupostos

    estabelecidos pelo PNBE no perodo de 2006 a 2009, para a seleo das HQs, a

    partir da adoo de critrios genricos quanto a sua escolha j evidenciados nos

    editais de 2009 e 2010, contendo novas perspectivas, as quais apresentam pontos

    positivos (respeito configurao do gnero) e negativos (a concepo de que as

    HQs so um gnero literrio), j que tal escolha realizada por pesquisadores da

    rea de teoria literria e ensino de literatura (VERGUEIRO E RAMOS, 2009a).

    Os pressupostos estabelecidos nesses editais do PNBE apresentam alguns

    problemas em relao aos critrios de seleo, pois considerar as HQs como

    literatura traz implicaes para a prpria noo desse gnero, ou seja,

    estabelecido um rtulo academicista privilegiado (o literrio) e um

    desconhecimento acerca da rea dos quadrinhos, um gnero constitudo por uma

    manifestao artstica autnoma como os demais gneros publicados no mercado,

    constituda por mecanismos prprios, por meio da interconexo da vrias formas de

    linguagens dos signos lingusticos nela existentes, pois As histrias em quadrinhos

    vm h mais de um sculo encantando leitores de todo o mundo (VERGUEIRO e

    RAMOS, 2009b, p. 11), porque elas tm uma magia especial.

    A falta de clareza contida nos editais do PNBE antes de 2006 depende da

    concepo de leitor adotada pelo professor para o trabalho com a leitura dos

    gneros dos quadrinhos, gerando com isso limites em relao ao uso de [...]

    outras prticas de leitura em ambiente escolar (VERGUEIRO e RAMOS, 2009a,

    p. 39), inclusive as HQs, transformando-as em algo desmotivador. Nesse sentido, o

    convvio do aluno com a prtica da leitura quadrinstica fundamental para que

    eles possam perceber que os usos deles esto relacionados com a esfera na qual

    eles so produzidos, atendo-se diversidade e pluralidade de tais gneros, o que

    implica pensar a linguagem como presena, por meio da interao verbal, atravs

    das construes dialgicas (RAMA et al, 2009).

    Por conseguinte, preciso existir uma alfabetizao (VERGUEIRO, 2009),

    para que o aluno consiga compreender as mltiplas mensagens neles presentes e

    tambm para que o professor obtenha melhores resultados em sua utilizao, ou

    seja, fundamental ter letramento para ler os seus constituintes como linguagem

    enquanto enunciado, pelo fato deles conterem aspectos sociointeracionias. Nesse

    sentido,

    as histrias em quadrinhos tambm passaram a ser utilizadas em sala de aula e

    ganharam espaos em muitos livros didticos. At exames vestibulares (a Unicamp constantemente usa quadrinhos em suas questes) e o Enem (Exame Nacional do Ensino Mdio) se apropriaram do recurso. (RAMOS, 2009a, p. 65-66).

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    A linguagem quadrinstica tem se constitudo de forma significativa dentro e

    fora da esfera escolar e, por isso, ela no pode mais ser negligenciada (MACHADO,

    2003), como tambm estava presente no concurso vestibular executado pela

    Comisso Permanente do Vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do

    Norte (COMPERVE) e em outros concursos pblicos para a Prefeitura Municipal do

    Natal (2008) e Prefeitura Municipal de Parnamirim (2009), os quais tambm

    contemplavam o domnio da competncia leitora da linguagem quadrinstica pelo

    aluno e professor, j que eles deveriam responder s questes propostas (grifo

    meu).

    Dessa forma, identificamos que h uma presena constante da leitura da

    linguagem quadrinstica nas atuais provas e concursos em diferentes nveis,

    exigindo que professores e alunos tenham letramento para l-los enquanto

    linguagem hibrida, como tambm nas pginas dos livros didticos constitudas por

    informaes ilustrativas, verdadeiras criaes artsticas, que os conduzem a fazer

    uma leitura sedutora, mas tambm se apresentam assim para competir no mercado

    pedaggico comercial.

    A comunidade escolar, portanto, precisa compreender a [...] a importncia

    do uso das HQs na sala de aula, para o desenvolvimento de um leitor mais

    proficiente) (ANDRADE e ALEXANDRE, 2008, p. 95), j que ele precisa ativar uma

    srie de conhecimentos e competncias para compreender os elementos verbais e

    visuais presentes nela (diferenas e semelhanas) nem sempre entendidas por ele,

    pois os sentidos so construdos por uma sucesso de etapas inferidas durante a

    leitura, o que implica um trabalho interrelacionado entre os signos verbais e visuais

    (RAMA et al, 2009).

    Assim, para que o convvio com a linguagem quadrinstica v se efetivando na

    prtica da leitura no contexto da sala de aula, fundamental que ela seja

    desenvolvida continuamente nas aulas de Lngua Portuguesa e em outras reas do

    conhecimento, para que avance no sentido de formar leitores proficientes, uma

    exigncia crescente no mundo contemporneo. Para isso, a proposio que

    acontea um trabalho integrado entre essas reas, respeitando-se as

    caracterizaes dessa linguagem, por meio da estruturao de uma sequncia

    didtica (um conjunto de etapas desenvolvido com o gnero), porque ela contribui

    para que o aluno aprenda as especificidades inerentes a cada gnero discursivo),

    segundo (SCHNEUWLY e DOLZ, 2004).

    As etapas contempladas nessa sequncia didtica (SCHNEUWLY e DOLZ,

    2004) so: a) apresentao inicial a construo da situao de comunicao e

    atividade de linguagem a ser desenvolvida com o gnero selecionado; b) produo

    inicial tentativa de elaborao do texto oral ou escrito individual ou

    coletivamente, ou seja, o encontro inicial com o gnero; c) os mdulos

    possibilitam aos educandos e educadores os instrumentos essenciais para superar

    possveis problemas durante trabalho desenvolvido, ou seja, as etapas a ser

    percorridas ao longo do desenvolvimento das atividades com o gnero, o que

    constitui a organizao de um cronograma seqencial a ser executado do princpio

    ao fim e d) produo final momento no qual o aluno colocar em prtica os

    conhecimentos adquiridos durante as atividades desenvolvidas com o gnero.

    Atravs dessa produo, o professor poder analisar e compreender quais foram as

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    possveis dificuldades enfrentadas na sequncia trabalhada e, por conseguinte,

    redimensionar algumas etapas a serem desenvolvida novamente.

    Devemos compreender que o texto constitudo por vrias vozes, atravs das

    quais possvel garantir o discurso do outro, o seu posicionamento ideolgico. Para

    isso, o leitor deve compreender como os discursos sociais so reveladores de

    valores ideolgicos no que diz respeito linguagem quadrinstica, por meio de

    vrios elementos: legenda (a qual, na maioria das vezes, tem a funo de mesclar

    a voz do narrador com a dos personagens); a cor (as diferentes representaes que

    ela atribuir leitura atravs da mudana nos tons e formatos das letras); a nota de

    rodap (existente nas revistas dos super-heris) (RAMOS, 2009b).

    Tudo isso revela a relevncia de existir o (re)dimensiomento do trabalho com

    a prtica da leitura da linguagem quadrinstica no Ensino Mdio, transformando-a

    em algo permanente, por meio de um processo de descobertas variadas: fonte de

    prazer, informao, conhecimento, que vai se estruturando a partir de uma relao

    de pertencimento do leitor com o texto e a obra lida. Portanto, deve-se

    compreender a leitura como um ato de construo de sentido, uma vez que o

    sujeito ao usar a linguagem no se limita somente traduzir e exteriorizar um

    pensamento ou transmitir informaes a outrem, e sim, atuar sobre o seu

    interlocutor (ouvinte/leitor).

    4 A formao do professor de Lngua Portuguesa para a prtica de leitura

    da linguagem quadrinstica

    Sabemos que a formao do professor na esfera acadmica ainda est

    voltada, muitas vezes, para a orientao terica, isto , para uma viso mais ampla

    sobre os pressupostos que fundamental a abordagem das disciplinas obrigatrias e

    complementares do currculo de cada curso, especialmente o de Letras para a

    habilitao em Lngua Portuguesa e Literaturas. Mas, isso vem sendo modificado ao

    longo dos anos, com o objetivo de que haja a prxis entre teoria e prtica, uma vez

    que uma referenda a outra. Essa mudana surgiu a partir da necessidade de

    conceber-se o ensino da lngua materna em uso, utilizado por falantes reais nas

    suas prticas sociais, nas diversas situaes comunicativas, nas quais eles esto

    inseridos.

    Identificamos que na formao inicial e permanente do educador de Lngua

    Portuguesa devem ser concebidas novas perspectivas, considerando-se a sua

    identidade, os desafios enfrentados por ele nas suas prticas educativas, entre

    outros aspectos (GUEDES, 2006). Todas essas mudanas so fundamentais, porque

    h a necessidade de o professor refletir sobre a prtica da aula de portuguesa,

    especialmente em relao s prticas de leitura e escrita, medida que assumiu-se

    a dimenso interacional da linguagem, a partir da qual a comunicao passa a ser

    mediada (ANTUNES, 2003).

    Ao conceber que a situao comunicativa mediada pela linguagem e, por isso,

    o professor de Lngua Portuguesa precisa fundamentar a sua prtica educativa

    numa [...] concepo de linguagem como interao entre sujeitos em sociedade

    (sociointeracionista) implica uma crena na capacidade dos sujeitos sociais de criar

    ou construir contextos (construcionistas), de forma sempre renovada, inovadora

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    [...](KLEIMAN, 2006, p. 25-26), pois ela quem o orientar nas aes a serem

    desenvolvidas no processo de ensino-aprendizagem da lngua materna.

    Ao fundamentar a sua prtica em uma concepo de linguagem, o docente

    comea a entender que a funo da escola ensinar a lngua padro o seu

    principal objetivo ensin-lo, e, por isso, preciso criar mecanismos para que ela

    realmente seja aprendida no que concerne realizao das prticas de leitura e

    escrita no contexto escolar e fora dele tambm, pois o estudante precisa ler e

    conhecer uma variedade de gneros discursivos existentes no seu processo de

    formao educativo, especificamente a prtica de leitura da linguagem

    quadrinstica.

    O desenvolvimento de atividades voltadas para a prtica de leitura da

    linguagem quadrinstica deve estar embasado em trs princpios fundamentais:

    1) o caminho do leitor respeitar o repertrio j constitudo pelo aluno nas suas

    vivencias; 2) o circuito do livro haver momentos nos quais o convcio com a

    leitura de diferentes gneros vai se efetivando na vida do estudante, principalmente

    por meio de troca de obras entre eles, pois a partir da comeam a ser construdos

    espaos de leituras em sala de aula, como tambm necessrio incentiv-los a

    frequentar a biblioteca escolar, entre outros e 3) no h leitura qualitativa no leitor

    de um livro fundamental que o professor propicie frequentemente, a maior

    variedade de leituras dentro e forma do ambiente escolar, considerando-se a

    singularidade do leitor (GERALDI, 2006).

    Todos esses constituintes abordados remetem ao fato de que fundamental

    existir a formao, principalmente do professor de Lngua Portuguesa para

    desenvolver prticas pedaggicas com outros materiais que no sejam o livro

    didtico, pois as prticas de leitura no podem ficar limitadas somente a esse

    recurso didtico, porque ele apenas um meio orientador para o educador

    organizar o seu planejamento dirio e, assim, existe a necessidade de que sejam

    selecionados gneros discursivos variados, para que o aluno tenha um convvio

    contnuo com a leitura em diferentes situaes comunicativas nas quais ele est

    inserido.

    5 Consideraes finais

    A opo pelo desenvolvimento desta pesquisa teve o objetivo de investigar o

    Programa Nacional Biblioteca da Escola e os acervos distribudos por ele,

    principalmente a linguagem quadrinstica voltada para o Ensino Mdio, em relao

    ao seu uso nas prticas educativas, como tambm a importncia de existir a

    formao dos profissionais das escolas pblicas, para que acontea de fato a

    realizao de uma poltica de formao de leitores proficientes no ambiente escolar

    e fora dele.

    A partir da verificamos a urgncia de a prtica de leitura da linguagem

    quadrinstica v se efetivando no contexto escolar, atravs da apropriao de

    estratgias de leitura diversificadas, visto que essa linguagem agora est presente

    nos livros didticos e em diversos tipos de avaliao e concursos pblicos em

    diferentes nveis, exigindo que sejam postas em prticas novas concepes de

    leitura dessa linguagem na escola.

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    As escolhas desenvolvidas pelo leitor nas prticas de leituras so mobilizadas

    passam necessariamente, pela (res)significao delas na escola, pois elas devem

    favorecer situaes em sala de aula nas quais o aluno sinta-se vontade para

    expressar suas opinies, seus pontos de vista e seus sentimentos; compartilhar

    com os colegas a busca de solues para problemas surgidos com um determinado

    contedo, com o professor, com o programa ou com os colegas; respeitar e fazer

    respeitar diferenas de opinio; ter iniciativa e cooperar com os colegas;

    compreender que h explicaes diversas para um mesmo fenmeno observado;

    relacionar os temas estudados com a sua vivncia; ser incentivado a buscar novas

    informaes, entre outros.

    Essas exigncias, contudo, deparam-se com alguns desafios para serem

    postas em prtica, como por exemplo, a falta de tempo para esses profissionais da

    escola, especificamente os de Lngua Portuguesa conhecerem as obras,o fato de

    ainda predominar uma viso padronizada de leitor em alguns documentos

    produzidos pelo MEC, o qual dificulta o trabalho com as prticas de leituras dessa

    linguagem em ambientes escolares; a necessidade de existir a criao de espao

    fsico para abrigar bibliotecas; a constituio de canais efetivos com essas

    instituies de ensino, para ouvir as estratgias apresentadas, visando elaborao

    de um referencial que oriente melhor como isso pode ir se efetivando na prtica

    desses profissionais.

    Consequentemente, a comunidade escolar deve se perguntar sobre as suas

    responsabilidades de frente a esse mundo mudado, de como responder aos novos

    desafios, de como propiciar sala de aula uma pedagogia das novas relaes entre

    educandos e educadores e outra percepo das intercomplementaridades dos

    saberes, independentemente da fase da vida na qual o leitor realize tal leitura ela

    relevante, porque esse convvio se configura como um processo de compreenso

    sobre a composio dos gneros em relao aos seus aspectos lingusticos verbais

    e visuais, considerando-se que a linguagem quadrinstica tem se constitudo de

    forma contnua em diversas prticas discursivas dentro e fora do ambiente escolar

    nas suas prticas sociais.

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