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O PROGRAMA NACIONAL BIBLIOTECA DA ESCOLA - Universidade Federal do Rio ... · 8 RESUMO O estudo investiga o processo de implementação do Programa Nacional Biblioteca da Escola,

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    SAYONARA FERNANDES DA SILVA

    O PROGRAMA NACIONAL BIBLIOTECA DA ESCOLA PNBE:

    DA GESTO AO LEITOR NA EDUCAO INFANTIL DE NATAL - RN

    Dissertao apresentada ao Programa de

    Ps-Graduao em Educao do Centro

    de Educao da Universidade Federal do

    Rio Grande do Norte, como requisito

    parcial para obteno do grau de Mestre

    em Educao.

    Orientadora: Profa. Dra.Marly Amarilha

    NATAL-RN

    2015

  • 2

    Catalogao da Publicao na Fonte.

    UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA

    Silva, Sayonara Fernandes da.

    O Programa Nacional Biblioteca da Escola PNBE: da gesto ao leitor na

    educao infantil de Natal - RN/ Sayonara Fernandes da Silva. - Natal, RN,

    2015.

    284 f.

    Orientadora: Profa. Dra. Marly Amarilha.

    Dissertao (Mestrado em Educao) - Universidade Federal do Rio Grande

    do Norte. Centro de Educao. Programa de Ps-graduao em Educao.

    1. Educao infantil Natal, RN Dissertao. 2. Gesto Pblica Avaliao - Dissertao. 3. Formao do leitor Educao infantil

    Dissertao. 4. Polticas pblicas - Fomento leitura Dissertao. 5.

    Programa Nacional Biblioteca da Escola Dissertao. I. Amarilha, Marly. II.

    Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Ttulo.

    RN/BS/CCSA CDU 373.3:027.52

  • 3

    SAYONARA FERNANDES DA SILVA

    O PROGRAMA NACIONAL BIBLIOTECA DA ESCOLA PNBE:

    DA GESTO AO LEITOR NA EDUCAO INFANTIL DE NATAL-RN

    COMISSO JULGADORA:

    Profa. Dra. Marly Amarilha (Orientadora)

    Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

    Prof. Dr. Messias Holanda Dieb (Examinador Externo)

    Universidade Federal do Cear - UFC

    Profa. Dra. Alda Maria Duarte Arajo Castro (Examinadora Interna)

    Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

    Profa. Dra. Alessandra Cardozo de Freitas (Suplente Interno)

    Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN

    Profa. Dra. Renata Junqueira de Souza (Suplente Externo)

    Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho - UNESP

    Natal, 31 de julho de 2015.

  • 4

    A Ednice, minha aura de luz e amor.

  • 5

    AGRADECIMENTOS

    O que d o verdadeiro sentido ao encontro a busca,

    e preciso andar muito para se alcanar o que est perto.

    Jos Saramago

    Aprendi que nada acontece por acaso, preciso ir busca do que se deseja. A

    tessitura deste trabalho foi feita de buscas por caminhos diversos: uns conhecidos,

    outros nem tanto. Havia luz a me guiar.

    Ao encerrar esta pesquisa, meus agradecimentos se confundem com descrio

    de uma trajetria de sucessivos encontros entre mim e os outros: familiares, amigos,

    colegas, parceiros, professores e colaboradores. Por isso, agradeo a todos aqueles que

    estiveram envolvidos na construo deste trabalho que para mim no condio

    parcial para um ttulo de mestre, mas um sonho realizado.

    Agradeo a Deus por ter me mostrado outros caminhos, quando a dor me

    consumia, por me fortalecer nas fraquezas, dando-me sabedoria para os novos rumos.

    Por todos os encontros permitidos em minha vida, agradeo especialmente:

    Aos meus pais, Nilton e Marlene, pelos encontros de amor, carinho e afeto no nosso

    lar;

    s minhas irms, Sandra e Sanzia, pelos encontros de domingo, pelas partilhas

    entusisticas e pelas promessas do sempre;

    Ao meu irmo, Joozinho, mediador do meu primeiro encontro com um livro de

    literatura;

    professora Ana Santana, por ter sido o elo do meu primeiro encontro com a

    pesquisa;

    Bete e Micarla, pelo encontro do estgio e pela troca de benevolncia: eu acredito

    em anjos;

    professora Alessandra Cardozo, pelo encontro com as doces lembranas deixadas

    na adolescncia e pelo reencontro com a vida acadmica;

    professora Marly, por tornar real o meu encontro imaginrio com a literatura; pelo

    grande exemplo de professora e pesquisadora que me inspira diariamente; pelo zelo,

    carinho, respeito e confiana durante todo o percurso da pesquisa;

    Aos colegas do Grupo de Pesquisa Ensino e Linguagem, pelos encontros de estudo,

    partilhas e afeto;

    Aos amigos de sempre, pelos encontros de alma; aos amigos de ontem, pelos

    reencontros sem despedidas e aos amigos de agora, pelos encontros dirios e pela

    partilha da vida;

    http://pensador.uol.com.br/autor/jose_saramago/

  • 6

    Aos amigos de profisso, pelos encontros de estudo, planejamento e parcerias no fazer

    pedaggico; em especial a Chaguinha e Marliane, minhas maiores incentivadoras e

    colaboradoras de referncias e de trabalho no cho da escola;

    Aos meus alunos da Educao Infantil que todas as manhs me proporcionam um

    encontro festivo na sala, no parque, nas rodas de leitura e no corao. Aos do Ensino

    Mdio, que me falam de amor aos livros e biblioteca nos encontros do grupo Papo de

    Leitura. E aos do Magistrio, que se tornam crianas nas aulas de Literatura Infantil.

    Por vocs vale a pena lutar pelo direito literatura;

    A Ednice, por mediar meus incontveis encontros com o refazer lingustico e textual;

    pela pacincia, pelo cuidado fsico, pelo olhar crtico para o texto, por acreditar que

    sempre posso ser melhor naquilo que fao e pela presena constante em minha vida;

    Deuza, pelos longos encontros colaborativos regados a caf, bolo, dilogos e

    descobertas materializadas em palavras nas transcries das entrevistas;

    Ao artista Ivan Cabral, pela escuta atenta e sensvel da minha ideia materializada na

    arte que ilustra a capa deste trabalho;

    coordenao e Secretaria do Centro de Educao e do Programa de Ps

    Graduao em Educao, pelos encontros de prestezas e minimizao de minhas

    dvidas, ao apoio financeiro atravs da concesso da bolsa CAPES, incentivando

    pesquisa e possibilitando meu crescimento pessoal;

    Aos professores do PPGEd pelo encontros tericos que fundamentaram a pesquisa e

    me auxiliaram nas anlises dos dados;

    Aos assessores do Ministrio da Educao e do Fundo Nacional de Desenvolvimento

    da Educao pela resilincia do encontro tumultuado, em meio aos protestos no

    Planalto Central- DF, e ainda assim, pacientemente, colaboraram com a pesquisa e

    com o acervo de livros do PNBE, indispensveis para este trabalho;

    Aos assessores da Secretaria Municipal de Educao e aos gestores dos Centros

    Municipais de Educao Infantil de Natal, pelos encontros demorados nas entrevistas

    e na maioria acolhedores; todos foram essenciais na coleta de dados para esta

    pesquisa;

    s professoras que aceitaram compor a banca de avaliao deste trabalho de pesquisa:

    Messias Holanda Dieb, Alda Maria Castro, Alessandra Cardozo e Renata Junqueira.

    Certamente, nosso encontro se constitui em grande valia para a minha formao de

    aprendiz de pesquisadora, para minha docncia e para a ousada construo de um

    trabalho futuro.

    A todos os que foram atores, escritores e vozes desta trajetria, o meu muito obrigada!

  • 7

    Palavra puxa palavra, uma ideia traz outra, e

    assim se faz um livro, um governo, ou uma

    revoluo; alguns dizem mesmo que assim

    que a natureza comps as suas espcies.

    Machado de Assis

  • 8

    RESUMO

    O estudo investiga o processo de implementao do Programa Nacional Biblioteca da

    Escola, PNBE e a formao do leitor na Educao Infantil de Natal. certo que a

    promoo da leitura literria a oportunidade de insero no mundo ligado

    cidadania, aos direitos humanos e justia social, pois a leitura que d sentido vida

    e, portanto, um direito de todos. O estudo se caracteriza como uma pesquisa

    qualitativa de abordagem avaliativa. O procedimento metodolgico de constituio do

    corpus de pesquisa se deu em trs etapas: a primeira foi a anlise das leis e os

    documentos de polticas pblicas nacionais de promoo da leitura; os questionrios

    aplicados pelo Comit Gestor Natal/RN nos CMEIs e os sites disponveis do MEC

    que prestam conta da distribuio do acervo; na segunda etapa, foi adotado como

    procedimento metodolgico a entrevista semiestruturada, elaborada com questes

    abertas que focam na gesto do programa e no acervo do PNBE; e a terceira etapa foi a

    visita a 21 Centros de Educao Infantil de Natal para a realizao das entrevistas e da

    etapa da observao exploratria dos espaos de leitura. So atores informantes nesta

    pesquisa: os assessores da SME - Natal e do FNDE, gestores dos Centros Municipais

    de Educao Infantil e professores, totalizando 30 informantes. Tomou-se como

    referencial terico-metodolgico os estudos de Amarilha (1993; 1994; 2002; 2006;

    2010; 2012), Bardin (2001), Bogdan; Biklen (1994) Castro (2007; 2008; 2012), Demo

    (2000; 2006; 2008), Fischer (2006), Moreira; Caleffe (2008); Paiva (2008; 2012),

    Secchi (2010; 2012), Soares (2003; 2008) e Zilberman (2001; 2003; 2008). A anlise

    indica que a estratgia de descentralizao adotada no modelo de gesto pblica

    transfere as responsabilidades e assuno do PNBE, eximindo os atores do

    planejamento de aes que garantam a eficincia e eficcia da implementao da

    poltica de leitura em nveis nacional e municipal. O qualificado acervo distribudo

    pelo MEC chega a todos os Centros de Educao Infantil independente da vontade ou

    da ao dos professores, poucos o conhecem, visto que no tm informao sobre o

    PNBE, tampouco recebem formao especfica de maneira a articul-lo prtica de

    leitura com as crianas da Educao Infantil. Os projetos de leitura implementados

    pela iniciativa privada na Educao Infantil de Natal se sobrepe ao PNBE, tornando-o

    invisvel. Os espaos de leitura disponveis para essa etapa de escolarizao se

    resumem a cantinhos de leitura. Em alguns Centros Infantis, os livros permanecem

    guardados nas caixas ou trancados em armrio fora de uso por professores e

    estudantes. Assim, o cuidado com a aquisio, a seleo do acervo, a preocupao com

    a oferta da leitura e do livro para esse nvel de educao se perdem em volumes de

    caixas fechadas, professores alijados do processo e crianas sem o encantamento da

    leitura e do livro. Nesse contexto, este trabalho chama ateno para o quanto ainda se

    precisa investigar com o objetivo de compreender as perspectivas, tenses e desafios

    sobre as polticas pblicas de promoo da leitura no nosso pas. Espera-se que a

    pesquisa possa contribuir para melhorar o modelo de gerenciamento do Programa

    Nacional Biblioteca da Escola - PNBE garantindo a democratizao da leitura e, por

    conseguinte, a formao do leitor na Educao Infantil.

    Palavras Chave: PNBE, Avaliao, Gesto Pblica, Educao Infantil.

  • 9

    ABSTRACT

    This study aims to investigate the process of implementation of Programa Nacional

    Biblioteca da Escola, PNBE, and the reader's training on Childhood Education level in

    Natal. The promotion of literary reading is the opportunity of inclusion in a world that

    is connected to citizenship, to human rights and social justice, because the reading is

    the way which gives meaning to the life and, therefore, it is a right for everybody. The

    study is characterized as a qualitative research with evaluative approach. The

    methodological procedure that constitutes this corpus took place in three stages: the

    first one was about the analysis of laws and documents of national public policies for

    the reading promotion; questionnaires were applied by Managing Committee -

    Natal/RN to CMEIs and the available websites from MEC that provide distribution of

    the acquis; in the second stage, we adopted the semi-structured interview as a

    methodological procedure elaborated with open questions that focus on the program

    management and to the acquis of PNBE; and in the third step we visited the 21 centers

    of childhood education in Natal for interviewing and to do the exploratory observation

    in places of reading. The Informant actors in this research are: the advisors of SME -

    Natal and FNDE, managers and teachers in Municipal Childhood Education Centers

    who totalize 30 informants. This theoretical and methodological framework follows

    the studies of Amarilha (1993; 1994; 2002; 2006; 2010; 2012), Bardin (2001),

    Bogdan; Biklen (1994), Castro (2007; 2008; 2012), Demo (2000; 2006; 2008), Fischer

    (2006), Moreira; Caleffe (2008), Paiva (2008; 2012), Secchi (2010; 2012), Soares

    (2003; 2008) and Zilberman (2001; 2003; 2008). The analysis indicates that

    decentralization strategy which is adopted in public management model will transfer

    responsibilities and assumption of the PNBE, exempting the actors to planning actions

    ensuring the efficiency and efficacy implementation on reading policy to national and

    municipal levels. The qualified acquis that is distributed by MEC reaches every

    Childhood Education center and does not depend on teacher's desire or it action, only a

    few of them know about it and they do not have information about the PNBE, neither

    receive specific training in order to articulate it to the practice of reading with children

    from Childhood Education. The reading project implemented by private education

    system in Natal overlaps the PNBE, making it invisible. The reading places that are

    available for that schooling stage are summarized to the reading corners. In some

    CMEI, books remain stored in boxes or they are locked in the closet, out of use to the

    teachers and students. Thus, care for the acquisition, selecting acquis, and a

    preoccupation to the supply of the reading and books for this education level are lost

    into volumes of closed boxes, teachers are jettisoned to this process and children do

    not have any enchantment to the reading or books. In this context, this paper draws

    attention to how much we should still investigate in order to understanding the

    perspectives, stresses and challenges from public policies for the reading promotion in

    our country. We hope that the research will help to improve the management model of

    the PNBE, ensuring the reading democratization and therefore the reader's training in

    early Childhood Education.

    Keywords: PNBE, Evaluation, Public Management, Early Childhood Education.

  • 10

    LISTA DE ILUSTRAES

    Ilustrao 1 - Movimento sequencial da instituio do PNBE ....................... 49

    Ilustrao 2 - Ciclo de vida das polticas pblicas .......................................... 55

    Ilustrao 3 - Rede de ancoragem Trilhas Natura .......................................... 70

    Ilustrao 4 - Esquema de anlises das categorias .......................................... 137

    Ilustrao 5 - Linha de tempo das polticas que regem o livro e a leitura

    entre 1990 e 2012 ..................................................................... 139

    Ilustrao 6 - Etapas de seleo dos acervos do PNBE ................................... 173

    Ilustrao 7 - Estrutura e funcionamento do Projeto Paralaprac ................... 198

  • 11

    LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 - Distribuio do acervo do PNBE para a Educao Infantil de

    Natal - RN 2008-2012 ....................................................................

    162

    Grfico 2 - Quantidade de acervo distribudo por CMEI ................................. 174

    Grfico 3 - Respostas sobre a forma de aquisio dos livros no CMEI ........... 177

    Grfico 4 - Gosto pela leitura no Brasil ............................................................ 188

    Grfico 5 - Principais formas de acesso ao livro no Brasil .............................. 188

    Grfico 6 - Nmero de livros lidos por brasileiros ........................................... 189

    Grfico 7 - Formao continuada em prtica de leitura literria para os

    professores no CMEI .....................................................................

    202

    Grfico 8 - Rotina de leitura como prtica pedaggica .................................... 204

    Grfico 9 - Formao Continuada em leitura fora do CMEI ............................ 207

    Grfico 10 - Espaos de leitura nos CMEIS ....................................................... 219

    Grfico 11 - Eventos Literrios .......................................................................... 228

  • 12

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 - Diferena entre poltica pblica e deciso poltica ........................... 41

    Quadro 2 - Definio dos atores polticos .......................................................... 43

    Quadro 3 - Tipos e caractersticas das polticas pblicas ................................... 53

    Quadro 4 - Tipos e caractersticas das polticas pblicas sociais ....................... 53

    Quadro 5 - Tipos e caractersticas das Polticas Pblicas Educacionais ............ 54

    Quadro 6 - Principais documentos, Programas e Leis com diretrizes e

    orientaes para implementao das Polticas Pblicas de leitura

    no Brasil ...........................................................................................

    58

    Quadro 7 - Distribuio do acervo por edio com enfoque na Educao

    Infantil ..............................................................................................

    64

    Quadro 8 - Materiais de formao do Professor do Trilhas Natura .................... 71

    Quadro 9 - Materiais do Projeto Paralaprac doados para a escola participante 77

    Quadro 10 - Dados de abrangncia do Projeto Paralaprac em Natal .................. 80

    Quadro 11 - Aes e medidas para democratizao do acesso ao livro e

    leitura no Brasil do Sculo XIX .......................................................

    90

    Quadro 12 - Principais pontos da Lei n 10.753/2003 ........................................ 94

    Quadro 13 - Comportamento do Setor Editorial Brasileiro 2014 .,.................... 95

    Quadro 14 - Livros comprados pelo Governo para Programas de Leitura ........... 97

    Quadro 15 - Investimento em livros de literatura para a Educao Infantil ......... 100

    Quadro 16 - Distribuio dos CMEIS por zona administrativa............................ 110

    Quadro 17 - Caracterizao das escolas selecionadas para a pesquisa quanto

    condio do prdio ...........................................................................

    110

    Quadro 18 - Atores informantes da pesquisa ........................................................ 113

    Quadro 19 - Acervo recebido por edio do PNBE para Educao Infantil ........ 123

    Quadro 20 - Documentos, diretrizes e Leis Nacionais para a implementao das

    polticas pblicas de leitura ..............................................................

    125

    Quadro 21 - Documentos, Programas, Leis e Decretos por categoria .................. 142

    Quadro 22 - Quadro demonstrativo das categorias ............................................... 144

    Quadro 23 - Principais citaes dos documentos sobre biblioteca ....................... 145

    Quadro 24 - Investimento financeiro livro /aluno por nmero de escola ............. 160

    Quadro 25 - Valores investidos em acervo de literatura pela SME ...................... 181

  • 13

    LISTA DAS IMAGENS

    Imagem 1 - Ba do Projeto Paralaprac .............................................................. 154

    Imagem 2 - Livros do PNBE............................................................................... 155

    Imagem 3 - Material de literatura e de formao de professor do Trilhas Natura 155

    Imagem 4 - Livros de Literatura trancados chave.............................................. 175

    Imagem 5 - Acervo do PNBE para a Educao Infantil....................................... 177

    Imagem 6 - Livros distribudos pela SME............................................................ 179

    Imagem 7 - Acervo do PNAE............................................................................... 182

    Imagem 8 - Exposio dos livros do PNAE......................................................... 183

    Imagem 9 - Biblioteca no CMEI.......................................................................... 219

    Imagem 10 - Almoxarifado com nome de biblioteca............................................. 220

    Imagem 11 - Canto da leitura prateleira.............................................................. 228

    Imagem 12 - Canto da leitura varal..................................................................... 228

    Imagem 13 - Canto da leitura cestos.................................................................... 229

    Imagem 14 - Bebeteca............................................................................................ 230

    Imagem 15 - Sala de leitura com mediadora.......................................................... 231

  • 14

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    CEDAC - Centro de Educao e Documentao para Ao Comunitria

    CMEI - Centro Municipal de Educao Infantil

    CONSED - Conselho Nacional dos Secretrios de Educao

    DAE - Departamento de Ateno ao Educando

    DCN - Diretrizes Curriculares Nacionais

    DEF - Departamento de Ensino Fundamental

    DEI - Departamento de Ensino Infantil

    EJA - Educao de Jovens e Adultos

    FNDE - Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao

    IDE - Instituto de Desenvolvimento da Educao

    IDEB - ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica

    LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educao

    MEC - Ministrio da Educao

    ONG - Organizao No Governamental

    PCN - Parmetros Curriculares Nacionais

    PELL - Plano Estadual do Livro e da Leitura

    PISA - Programa internacional de Avaliao do Estudante

    PLD - Programa do Livro Didtico

    PMLL - Plano Municipal do Livro e da Leitura

    PMLLE - Plano Municipal de Leitura Literria na Escola

    PNBE - Programa Nacional da Biblioteca na Escola

    PNLD - Programa Nacional do Livro Didtico

    PNLL - Plano Nacional do Livro e da Leitura

    PROLER - Programa Nacional de Incentivo Leitura

    RCNEI - Referencial Curricular Nacional para Educao Infantil

    SEMTAS - Secretaria Municipal de Trabalho e Assistncia Social

    SME - Secretaria Municipal de Educao

    SNEL - Sindicato Nacional dos Editores de Livros

    UNDIME - Unio Nacional dos Dirigentes Municipais de Educao

  • 15

    SUMRIO

    1

    ONDE ESTO OS LIVROS?................................................................

    17

    1.1

    JUSTIFICATIVA.......................................................................................

    19

    1.2 OBJETO DE ESTUDO............................................................................... 22

    1.3 DELIMITAES DO ESTUDO: QUESTES, PROBLEMAS E

    OBJETIVOS DA PESQUISA....................................................................

    27

    1.4 ESTADO DA ARTE................................................................................... 29

    1.5 ORGANIZAO DOS CAPTULOS....................................................... 36

    2

    O QUE SO POLTICAS PBLICAS?................................................

    38

    2.1

    DEFININDO CONCEITOS......................................................................

    41

    2.1.1 Polticas Pblicas....................................................................................... 41

    2.1.2 Polticas Sociais......................................................................................... 44

    2.1.3 Polticas Pblicas Educacionais............................................................... 47

    2.2 TIPOLOGIA DAS POLTICAS PBLICAS............................................ 51

    2.3 CICLO DAS POLTICAS PBLICAS...................................................... 54

    2.4 POLTICAS PBLICAS DE FOMENTO LEITURA........................... 58

    2.5 O PROGRAMA NACIONAL BIBLIOTECA DA ESCOLA-PNBE........ 60

    2.5.1 PNBE: uma longa histria........................................................................ 60

    2.5.2 Composio do acervo.............................................................................. 63

    2.5.3 Aes norteadoras do PNBE.................................................................... 67

    2.6 PARCERIA ENTRE O PODER PBLICO E A INICIATIVA

    PRIVADA...................................................................................................

    68

    2.6.1 O Projeto TRILHAS Natura.................................................................... 69

    2.6.2 O Projeto PARALAPRAC.................................................................... 74

    3

    EXISTE MERCADO PARA A LEITURA NA INFNCIA? .............

    81

    3.1

    PERCURSO HISTRICO..........................................................................

    82

    3.2 O OBJETO LIVRO COMO MERCADORIA............................................ 87

    3.2.1 Uma ideia burguesa da leitura................................................................. 87

    3.2.2 O objeto livro e o mercado editorial brasileiro...................................... 92

    3.3 O PREO DA LEITURA NO PNBE PARA EDUCAO INFANTIL... 99

    4

    QUE CAMINHOS PERCORREMOS? QUAIS AS VEREDAS

    DESTA JORNADA?........................................................

    102

    4.1

    O CONTEXTO DA PESQUISA................................................................

    103

    4.2 METODOLOGIA DE PESQUISA QUALITATIVA................................ 105

  • 16

    4.3 CARACTERIZAO DO CENRIO....................................................... 109

    4.3.1 Locus de pesquisa...................................................................................... 109

    4.3.2 Os atores da pesquisa................................................................................ 111

    4.4 OS INSTRUMENTOS E TCNICAS PARA A COLETA DE DADOS.. 115

    4.4.1 Roteiro de Entrevista................................................................................ 115

    4.4.2 Questionrio.............................................................................................. 116

    4.4.3 Dirio de campo........................................................................................ 117

    4.4.4 Entrevista................................................................................................... 118

    4.4.5 Observao................................................................................................ 120

    4.5 AS ETAPAS DA PESQUISA.................................................................... 122

    4.5.1 Desvelando caminhos, traando rotas..................................................... 123

    4.5.2 Pedindo informaes, mudando de percurso......................................... 126

    4.5.3 Observando o cenrio da trajetria........................................................ 129

    4.5.4 Descobertas da viagem............................................................................. 132

    5

    POSSVEL PROMOVER O ENCONTRO DO LEITOR COM A

    LITERATURA NAS RODAS DA EDUCAO INFANTIL?...........

    135

    5.1

    LEIS, DECRETOS, DOCUMENTOS E DIRETRIZES: UMA IDEIA

    MUITO BOA..............................................................................................

    137

    5.2 A PRESENA DO PNBE NA REDE DE ENSINO DE NATAL:

    PRECISO MUDAR A NATUREZA DA GESTO...................................

    147

    5.3 O ACERVO DO PNBE: LIVRO PO DO ESPRITO.............................. 169

    5.4 A FORMAO DO MEDIADOR DE LEITURA: PORQUE O LIVRO

    EXISTE PARA SER LIDO.........................................................................

    201

    5.5 BIBLIOTECA ESCOLAR: UM CANTINHO OU UM PUXADINHO

    PARA A ENTRADA DOS LIVROS?........................................................

    219

    6

    E AGORA, PARA ONDE VAMOS?...................................................

    236

    REFERNCIAS........................................................................................

    243

    APNDICES.............................................................................................

    253

    ANEXOS....................................................................................................

    260

  • 17

    CAPTULO 1

    ONDE ESTO OS LIVROS?

    O livro traz a vantagem de a gente poder estar s e ao mesmo tempo

    acompanhado.

    Mario Quintana

    Quintana, nos versos intitulados Dupla delcia, foi muito sbio ao escrever

    que o livro nos permite estar sozinho e acompanhado simultaneamente. De fato,

    assim que ficamos sempre que lemos um livro em um quarto, um parque, uma sala.

    Ningum precisa estar ao nosso lado conversando. E mesmo que apenas nossa

    respirao, ou o barulho do virar das pginas ao ir de uma a outra, seja capaz de

    quebrar o silncio, quando se tem um livro nas mos, a pessoa pode estar,

    indubitavelmente, muito bem acompanhada. Essa uma das magias prprias do livro

    que, desse modo, encanta leitores.

    impossvel negar que por meio das palavras, do contato direto com grupos

    de professores e crianas nas escolas, bibliotecas e salas de aula, vivenciamos muitas

    experincias inefveis como leitores e professores. Entretanto, ao mesmo tempo em

    que h um encantamento, deparamo-nos com o nfimo gosto pela leitura que se

    evidencia na maioria das pesquisas que trata desse assunto no nosso pas, a exemplo

    da Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil.

    Podemos afirmar que a leitura constitui um dos processos bsicos com o qual

    o homem capaz de adquirir novos conhecimentos, trocar informaes e interagir

    socialmente, sendo ela essencial formao das pessoas. No entanto, nossos alunos

    vm apresentando uma prtica de leitura restrita e limitada, apesar de se perceber que

    h um investimento escolar no quesito leitura, ainda que concentrado em atividades

    repetitivas, mecnicas ou com fins de cobrana didtica como comprovam as

    pesquisas de Amarilha (1991), Cosson (2007) e Silva (2009).

    Na experincia profissional acumulada nos ltimos 20 anos como docente da

    rede pblica de ensino, lecionando nas duas pontas extremas da educao bsica, da

    Educao Infantil ao Ensino Mdio, e tambm no Ensino Superior por meio da

    docncia no curso de Pedagogia, percebemos a lacuna na formao leitora dos

    estudantes e no repertrio de literatura acumulado durante todo o seu processo de

    escolarizao e em todos os nveis de ensino. A respeito da lacuna percebida nos

  • 18

    estudantes de graduao em Pedagogia, Kramer (2010), atravs de sua pesquisa

    Cultura, modernidade e linguagem: o que narram, leem e escrevem os professores,

    revela que a escola produz no leitores, devido aos problemas de como se trabalham

    a leitura e a literatura em todos os nveis de ensino. Para a autora, a leitura na escola se

    encapsula em leitura da escola onde notas, fichas, provas e apostilas com resumos

    das histrias ocupam todo o tempo e espao da leitura deleite e fruio.

    A promoo da leitura literria sem dvida a oportunidade de reverter as

    lacunas apontadas anteriormente e deve envolver temas variados nas instituies de

    ensino que abranjam o aprendiz, o educador, a sua formao e o compromisso com a

    prtica de educar, os familiares e a escola, alm de fomentar uma viso crtica do

    mundo, que permita ao sujeito uma vivncia no mundo mais ligado cidadania, aos

    direitos humanos e justia social. A leitura nos ajuda a dar sentido vida. E esse

    um direito de todos, est escrito nas polticas pblicas, educacionais e sociais do nosso

    pas, embora ainda no tenha se transformado em realidade para os nossos aprendizes

    no cotidiano das salas de aula.

    Este trabalho chama ateno para o quanto ainda precisamos investigar com o

    objetivo de compreender as perspectivas, tenses e desafios sobre as polticas pblicas

    de promoo da leitura no nosso pas. Este estudo se situa no campo das Cincias

    Humanas, em que se inserem a Educao, por meio de uma pesquisa sobre o Programa

    Nacional Biblioteca da Escola - PNBE e a formao do leitor; e da Administrao, por

    meio da avaliao dos modelos gerenciais de implementao das polticas pblicas,

    educacionais e sociais de promoo da leitura.

    Espera-se que a pesquisa contribua para melhorar a qualidade na educao

    das crianas pequenas no que diz respeito leitura. Por se tratar, especificamente, da

    formao do leitor de literatura na escola de Educao Infantil, considerando as

    contribuies do acervo do PNBE para esse nvel de ensino, estabelece em seus

    fundamentos tericos avaliao dos modelos de gerenciamento para implementao de

    polticas pblicas para a formao do leitor, a formao do professor mediador de

    leituras e os espaos de leitura destinados s crianas da Educao Infantil, de acordo

    com o que preconiza as leis, decretos e documentos do livro e da leitura no Brasil e em

    Natal - RN.

  • 19

    1.1 JUSTIFICATIVA

    Ancorando-se nos estudos de Rego (1990), Coelho (2000), Zilberman (2003),

    Silva (2009), e confirmados pela pesquisa Retratos da Leitura no Brasil 3 (2012), a

    escola, ao lado da famlia, a grande responsvel pela formao do gosto de ler. Por

    isso, torna-se necessrio investigar as razes pelas quais nos encontramos em uma

    realidade na qual os nveis de leitura dos nossos alunos so insatisfatrios, conforme

    apresenta o relatrio do Exame do Programa de Avaliao Internacional de Estudantes

    (PISA, 2012), em que os estudantes brasileiros atingiram o nvel 3 de aprendizagem,

    em uma escala que vai de 1 a 6 (sendo que 1 o pior resultado e 6, o melhor).

    Nesse contexto, cabe investigar de que modo o Programa Nacional Biblioteca

    da Escola est sendo implementado nas escolas brasileiras como poltica de formao

    de leitores, e em que medida a escola contribui ou no com a formao leitora dos

    estudantes utilizando o acervo do PNBE, j que muito se tem investido em programas

    de governo e em projetos direcionados ao fomento leitura. Entretanto, o Brasil

    ainda no atingiu os nveis de leitura satisfatrios para que possamos afirmar que

    temos um pblico comprometido com a leitura (PANSA, 2012, p. 8).

    Para este trabalho, entende-se leitura para alm de uma simples

    decodificao, o que implica o uso de experincias pessoais, a tnica do olhar que

    cada leitor coloca na sua leitura, o enfoque e outros fatores. Conforme nos diz Oliveira

    (2005), ler no apenas decifrao ou vocalizao, mas a compreenso do escrito. Por

    essa via, no se pode, portanto, adotar o conceito de alfabetizao isoladamente.

    Concomitantemente, preciso considerar o conceito de letramento que, ultrapassando

    a mera aquisio e domnio do cdigo, diz respeito aos usos sociais que as pessoas

    fazem da leitura e da escrita (SOARES, 2003). Ser letrado ser capaz de estabelecer

    sentidos linguagem. Por extenso, quando se trata de leitura literria, pode-se falar

    em letramento literrio (COSSON, 2007), o que significa se apropriar da literatura de

    modo crtico, explorando seu potencial criativo e esttico.

    O letramento literrio pode se iniciar antes de se saber ler e escrever, atravs

    de contatos com histrias, provrbios, ditos populares, adivinhas e outros textos

    ficcionais e poticos da oralidade. Esse processo ter continuidade na escola com o

    aprendizado da leitura e da escrita, atravs dos impressos e/ou digitais - livros, jornais,

    revistas, receitas, rtulos, entre outros aportes textuais. O trabalho dos professores ,

  • 20

    portanto, imprescindvel para ampliar a cada etapa da escolaridade o letramento

    literrio.

    O contato com a literatura desde cedo determinante na formao da criana

    leitora. Segundo Tuttle e Paquette (1993 apud Amarilha, 2012 p. 56), proporcionar as

    nossas crianas o sucesso na relao com a linguagem deve ser uma meta pedaggica

    maior. Nos primeiros anos escolares, a autoestima da criana depende em grande parte

    de sua relao com a leitura. Assim, continua Amarilha, a leitura deve ser o mais

    saudvel possvel, novidadeira, surpreendente, estimulante, ldica e isso tudo a

    literatura oferece (AMARILHA, 2012, p. 56).

    Ainda refletindo acerca do ensino da leitura de literatura para a infncia,

    como objeto de formao da criana leitora, pode-se reiterar que a formao do leitor

    se configura como uma grande questo que, paradoxalmente, caracteriza-se como

    entrave para muitos professores e para o sistema educacional. Nota-se que os

    professores no sabem como trabalhar a leitura, o que podemos comprovar atravs da

    pesquisa O ensino de literatura na escola: as respostas do aprendiz, (AMARILHA,

    1994), desenvolvida com estudantes do Ensino Fundamental, a qual detectou a

    utilizao do texto literrio para fazer exerccios de gramtica, para enriquecer o

    vocabulrio, para estmulo redacional, ou ainda para acalmar as crianas, como

    atividade sem significado, ou como pretexto para fins avaliativos. Outro exemplo a

    pesquisa de Alfalendo (SOARES, 2010), desenvolvida com 25 professores de Belo

    Horizonte, a qual confirma que a maioria de creches e pr-escola ainda no usa livros-

    brinquedo, por exemplo, para a iniciao recreao ou gosto formador de leitura por

    desconhecimento, inacessibilidade, temendo que a criana no consiga manuse-los, e

    ainda por que no mercado editorial h poucos ttulos para esse nvel de escolarizao.

    Em outros contextos, a leitura da literatura em sala de aula, ao invs de

    colaborar no processo de formao do leitor, devido ao potencial que oferece ao

    desenvolvimento cognitivo da criana, corriqueiramente abordada como pretexto

    para ensinar contedos de diversas reas do conhecimento. Essa prtica decorrente

    da cultura escolar em que as atividades de leitura esto vinculadas s atividades

    pragmticas de ensinamentos curriculares ou a valores morais.

    O Guia do PNBE (2014) para a Educao Infantil considera que a relao do

    leitor, dessa faixa de Ensino, com o texto deve ser mediada em uma relao de

    cumplicidade e a mais aproximada possvel. Ao mediador cabe escutar as

    manifestaes das crianas, como palavras e gestos, uma vez que a escuta

  • 21

    compreensiva pode melhorar o modo de conduzir a mediao. Por isso, a importncia

    de se ler com as crianas da Educao Infantil.

    importante ainda ressaltar que os documentos norteadores do PNBE em

    suas vrias edies enfatizam a necessidade de se investir na capacitao de

    professores mediadores de leitura que propiciem prticas e eventos de leitura visando

    formao de novos leitores. A propsito disso, podemos citar o relatrio do Programa

    Nacional Biblioteca da Escola - PNBE: leitura e literatura nas escolas pblicas

    brasileiras, o qual constatou que

    qualquer poltica de formao de leitores, alm de investir no

    acervo, em estrutura fsica e material (mobilirios) precisa,

    fundamentalmente, investir nos profissionais (professores,

    coordenadores, diretores e bibliotecrios) que atuam na formao

    dos estudantes leitores e escritores, para que possam se tornar

    leitores. Esta uma responsabilidade institucional do poder pblico,

    haja vista no ser possvel, na contemporaneidade, dada a

    complexidade que tambm cerca a carreira docente, partir do

    pressuposto de que os profissionais da escola j estariam preparados

    para essa forma de trabalho (BRASIL, 2008, p. 103).

    Esse relatrio resultante de uma srie de seminrios regionais realizados em

    2005 para responder aos questionamentos feitos pelo Tribunal de Contas da Unio, em

    2002, e teve como objetivo contribuir para a reflexo de gestores e professores no que

    diz respeito s prticas de leitura que se desenvolvem na escola, formao do

    professor e situao do espao fsico para a implantao da biblioteca, de forma a

    integr-la dinmica escolar como ambiente central aos processos de aprendizagem e

    disseminao de informaes.

    Segundo Paiva (2012), nesses seminrios percebeu-se que

    os acervos distribudos no estavam sendo usados e que mediadores

    de leitura precisavam ser formados, j que, como o Censo Escolar de

    2000 indicou: apenas 27,6% das escolas que receberam os acervos

    do PNBE em 1998 e/ou 1999, declararam participar do programa.

    Ainda assim, consenso entre pesquisadores e docentes atuantes na

    educao bsica que as medidas tomadas pelos gestores da poltica

    no tm conseguido alcanar os profissionais que sero os

    responsveis por lidar com esses acervos (PAIVA, 2012, p. 18).

    Diante do exposto, consideramos necessrio investigar questes relacionadas

    gesto do PNBE na Rede Municipal de Ensino de Natal. Nesse sentido, a pesquisa

  • 22

    O Programa Nacional Biblioteca da Escola PNBE: da gesto ao leitor na

    Educao Infantil de Natal-RN busca responder ao seguinte problema: de que forma

    vem sendo implementado o Programa Nacional Biblioteca da Escola - PNBE na

    Educao Infantil de Natal-RN?

    1.2 OBJETO DE ESTUDO

    O interesse na investigao est embasado no pressuposto de que a

    linguagem e os enredos literrios proporcionam criana a possibilidade de adquirir

    autoestima, identidade cultural, independncia e capacidade para lidar com o mundo a

    sua volta (TUTTLE; PAQUETT 1993 apud AMARILHA, 2012, p. 55).

    A origem dos nossos estudos remonta a vrios caminhos percorridos (2003-

    2012) em busca de uma rota que levasse o leitor ao encontro do texto ainda que no

    estivesse apto a caminhar sozinho, considerando que os leitores menos experientes tm

    a necessidade de uma mediao para poder interagir com o texto de forma

    significativa. Nessa metfora, anunciamos os trabalhos investigativos feitos com

    crianas da Educao Infantil em trs momentos distintos de qualificao profissional.

    O primeiro estudo de natureza bibliogrfica investigou a contribuio das

    atividades ldicas na escola para o processo de alfabetizao das crianas de seis anos,

    resultando no trabalho monogrfico A importncia do ldico no processo de

    alfabetizao das crianas de seis anos (SILVA, 2003), apresentado Universidade

    Potiguar para aquisio do ttulo de especialista. Vale ressaltar que no ano de 2003 as

    crianas de seis anos ainda estavam na Educao Infantil, pois o Ensino Fundamental

    em nove anos s comearia a ser discutido no Brasil em 2004 e efetivado a partir de

    2006. O segundo trabalho investigou as prticas de leitura adotadas por professoras na

    Educao Infantil em duas escolas de Natal, uma pblica e outra particular, o que

    resultou em uma pesquisa qualitativa apresentada ao Instituto de Formao de

    Professores Presidente Kennedy como requisito para obteno do ttulo de

    especialista, intitulada As prticas pedaggicas e a formao do leitor infantil

    (SILVA, 2010). Uma terceira investigao foi uma pesquisa ao desenvolvida em um

    Centro de Educao Infantil de Natal, cujo ttulo era Leitor em Formao: uma

    experincia na Educao Infantil (SILVA, 2012). Como o prprio nome diz, a

    pesquisa ao uma interveno feita pelo pesquisador em pequena escala sobre um

    problema diagnosticado; um exame muito de perto dos efeitos dessa interveno;

  • 23

    preocupa-se com o diagnstico, a avaliao e a resoluo do problema dentro do

    contexto no qual surgiu. Nessa interveno, o professor pesquisador trabalha em uma

    sala de aula para produzir determinadas mudanas ou melhorias no processo de

    ensino-aprendizagem.

    Os resultados apontados no trabalho intitulado Leitor em formao: uma

    experincia na Educao Infantil (SILVA, 2012) nos mostraram que o professor

    necessita ter plena conscincia de como a literatura infantil pode figurar no contexto

    da rotina escolar para formar a criana leitora, perpassando por polticas pblicas de

    fomento leitura e de formao continuada para o professor leitor e mediador de

    leituras.

    Pelos caminhos dessa trajetria enfrentamos muitos percalos e descobrimos

    mistrios que se constituram em motes para pesquisar e dialogar com o objeto de

    investigao, o PNBE e a Educao Infantil. A exemplo disso, destacamos a

    inexistncia de acervo literrio na escola, as dificuldades enfrentadas pelo professor

    para trabalhar literatura com crianas no alfabetizadas, o desconhecimento sobre o

    programa nacional de fomento leitura, falta de acessibilidade aos livros do PNBE,

    dificuldades com a gesto da escola em liberar os livros guardados nos armrios das

    coordenaes e direes e falta de formao continuada para mediao de leitura para

    crianas da Educao Infantil.

    Acreditamos que ler uma prtica social fundamental formao da

    cidadania e importante via de acesso ao conhecimento e cultura. por meio da

    leitura de literatura que o sujeito amplia suas possibilidades de insero social e

    cidad, ganha condies para o desenvolvimento de habilidades diversas, como

    argumentar, criticar, comparar e raciocinar, alm de possibilitar a ampliao do

    repertrio cultural e o acesso ao patrimnio universal da humanidade. Contudo, o

    gosto pela leitura no inato, ele precisa ser adquirido por meio de uma prtica de

    leitura sistemtica e ldica da criana em vrios contextos de leitura. Para tanto, as

    crianas

    precisam ser fluentes em linguagem. As dificuldades nessa rea

    podem desestimular e comprometer uma vida escolar e social bem

    sucedida. Para proporcionar o sucesso, no se pede muito, mas

    respeito natureza ldica que a infncia demanda. (AMARILHA,

    2012, p. 55)

  • 24

    inegvel que nas duas ltimas dcadas houve, por parte do governo, uma

    grande investida na distribuio de livros nas escolas pblicas de todo pas por meio

    do Programa Nacional Biblioteca da Escola, e, segundo os ltimos dados do

    MEC/2014, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao

    investiu, este ano, R$ 1,3 bilho nos programas do livro. As obras

    didticas so escolhidas pelos professores e distribudas

    gratuitamente a toda rede pblica de ensino. O FNDE ainda compra

    e distribui, todos os anos, livros para compor as bibliotecas das

    escolas pblicas. Link Pblico: CD/FNDE/MEC - Resoluo

    7/2009, Acesso em: 21/11/2014

    No obstante essa dinmica, ainda estamos muito aqum do desejado,

    principalmente no que concerne Educao Infantil.

    O artigo 208 da Constituio Federal do Brasil (1988) instituiu que a

    Educao Bsica deve ser obrigatria dos 4 aos 17 anos e que o atendimento

    Educao Infantil deve ser realizado em creches (para crianas de 0 a 4 anos) e em

    pr-escolas (para crianas de 4 e 5 anos). Desse modo, a Educao Infantil se

    consolida como a primeira etapa da Educao Bsica, tendo como objetivo o

    desenvolvimento integral da criana de at cinco anos de idade nos aspectos fsico,

    psicolgico, intelectual e social, complementando a ao da famlia e da comunidade

    (BRASIL, 2007).

    A esse propsito, vemos que no incio do PNBE, em 1997, as crianas

    pequenas foram excludas da poltica de formao de leitor e, somente em 2008, onze

    anos depois, as escolas de Educao Infantil foram contempladas com o acervo do

    Programa Nacional Biblioteca da Escola, iniciativa que tem, segundo Soares (2012),

    para alm de seus significativos efeitos pragmticos - propiciar s crianas de zero a

    cinco anos acesso ao livro - um tambm significativo valor simblico: sinaliza a

    importncia, e mesmo a necessidade, nem sempre reconhecidas, da presena do livro e

    da leitura no processo educativo da criana antes que tenha incio sua alfabetizao

    formal no Ensino Fundamental. A respeito da importncia da literatura dentro da

    escola, Faria salienta que

    mesmo vivendo numa sociedade letrada, a grande maioria das

    crianas brasileiras no tem a oportunidade de conviver com a

    literatura nos seus primeiros anos de vida. Essa constatao nos leva

    a inferir sobre o papel fundamental da instituio da Educao

    https://www.fnde.gov.br/fndelegis/action/UrlPublicasAction.php?acao=abrirAtoPublico&sgl_tipo=RES&num_ato=00000007&seq_ato=000&vlr_ano=2009&sgl_orgao=CD/FNDE/MEChttps://www.fnde.gov.br/fndelegis/action/UrlPublicasAction.php?acao=abrirAtoPublico&sgl_tipo=RES&num_ato=00000007&seq_ato=000&vlr_ano=2009&sgl_orgao=CD/FNDE/MEC

  • 25

    Infantil como espao privilegiado de aproximao da criana com a

    literatura (FARIA, 2006, p.56).

    Segundo Pereira (2006), o PNBE foi institudo por meio da Portaria

    Ministerial n 584 de 28 de abril de 1997, tendo como objetivo assegurar o acesso de

    alunos e professores cultura, formao e aos conhecimentos socialmente

    produzidos ao longo da histria da humanidade; isto , incentivar a prtica da leitura

    nas escolas pblicas de todo o Brasil por meio da distribuio de livros dos seguintes

    gneros textuais: poemas, contos, crnicas, teatro, texto de tradio popular, romance,

    memria, dirio, biografia, ensaio, obras clssicas, histrias em quadrinhos.

    A seleo dos ttulos diferenciados por cada gnero adquirida por meio de

    edital pblico, no qual so adotados alguns critrios (qualidade literria do texto,

    adequao temtica e projeto grfico), de acordo com Pereira (2006). Alm disso, so

    distribudas colees destinadas formao permanente do professor em todas as reas

    do conhecimento (BRASIL, 2006).

    Segundo Pereira (2006), o Ministrio da Educao, nas edies de 2000 a

    2010, definiu a distribuio dos acervos de obras de referncia enviados para todas as

    bibliotecas pblicas considerando o nmero de alunos matriculados. Utilizou-se para

    tanto o Censo Escolar para determinar o nmero de livros a ser adquirido em cada ano,

    uma vez que os recursos utilizados na viabilizao desse programa so assegurados

    pelo MEC por meio dos oramentos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da

    Educao (FNDE).

    O PNBE integra as aes Por uma Poltica de Formao de Leitores,

    desenvolvidas pelo MEC, Ministrio da Educao, a partir de trs eixos norteadores:

    a) retomar a biblioteca escolar como foco de ao; b) acervos de uso coletivo voltados

    para a ampliao das bibliotecas e espaos de leitura e c) atendimento universal s

    escolas da Educao Bsica (PEREIRA, 2006). A regulamentao dessa poltica de

    formao de leitores se encontra fundamentada em trs volumes, apresentando uma

    viso geral sobre o que cada um deles contm, a saber:

    volume 1 Por uma Poltica de Formao de Leitores contempla

    o que vem sendo desenvolvido no que concerne leitura, ao livro e

    biblioteca no processo de formao de leitores e uma discusso

    acerca dos dados coletados na pesquisa avaliativa do Programa

    Nacional Biblioteca da Escola (BERENBLUM, 2006);

  • 26

    volume 2 Biblioteca na Escola traz algumas reflexes acerca

    dos investimentos aplicados pelo MEC no sentido de assegurar o

    acesso leitura na escola, alm de apresentar algumas proposies

    de atividades voltadas para o uso das obras distribudas pelo PNBE

    (PEREIRA, 2006);

    volume 3 Dicionrios em Sala de Aula evidencia a necessidade

    de os alunos ampliarem os seus repertrios vocabulares na maioria

    das modalidades de ensino da educao bsica, como uma forma de

    inseri-los no universo da informao (RANGEL, 2006).

    indiscutvel a importncia dos livros, assim como a presena de bibliotecas

    em escolas, sendo de Educao Infantil ou no. Portanto, faz-se necessria no s a

    discusso dessa temtica, mas tambm a pesquisa sobre esse Programa de tamanha

    magnitude focado na distribuio de livros literrios. Essa a maior crtica ao PNBE:

    manter-se praticamente na distribuio de livros e no investir na formao de

    profissionais que medeiam a leitura. Como salienta Silva (2009), essa estratgia

    deveria ser acrescida s polticas pblicas de melhoria e implementao de bibliotecas,

    bem como informao nesses espaos.

    Os livros de literatura no espao escolar conferem criana uma

    multifacetada forma de acesso ao saber, evidenciando-se a importncia da ao

    docente. Todavia, para que a formao do pequeno leitor se efetive, preciso a

    presena de um mediador preparado como leitor e formador de leitor, permitindo que a

    criana participe e desfrute da experincia prazerosa da leitura.

    O educador tem a possibilidade de aguar nos alunos a vontade de querer

    aprender a ler e escrever, revelando-lhes a importncia desses recursos para um melhor

    entendimento dos meios social, cultural e poltico. E justamente pelo que a leitura

    literria pode oferecer de possibilidade de sentidos que se deve delimitar o que

    possvel ou no fazer nas prticas pedaggicas, para que no se escolarize tanto a

    literatura a ponto de se invisibilizar as possibilidades de articulaes prprias da

    linguagem oferecidas atravs do texto literrio.

    Sobre a linguagem literria em uma concepo contempornea, Amarilha

    (2012) acrescenta que

    A linguagem literria organiza os fatos em forma diferente da

    linguagem oral do cotidiano. Como essa roupagem tem bossa, ritmo,

    humor, o leitor mirim percebe que est diante de uma maneira

    diferente de ser da lngua. por essa razo que muitas vezes a

    criana solicita a repetio de uma mesma histria, principalmente,

    crianas pr-escolares (AMARILHA, 2012, p. 49).

  • 27

    Desse modo, revela-se o valor da linguagem literria como transformadora e

    criadora de realidades, contudo, sempre presente no cotidiano das instituies de

    Educao Infantil. Evidencia-se, ento, a necessidade de pesquisas que aprofundem

    questes especficas, que articulem educao, ensino de leitura e de literatura, e gesto

    de polticas pblicas pr-formao de leitor. Pesquisas que, indo alm das reflexes

    disciplinares, possam estreitar relaes com outras reas de conhecimento, de forma

    que a viso de educao literria seja ampliada, ressignificada.

    Considerando essas particularidades da linguagem literria, o PNBE, a gesto

    pblica e a formao do leitor na Educao Infantil, urge a necessidade de um estudo

    sobre a implementao do Programa Nacional Biblioteca da Escola e suas

    contribuies para a formao do leitor de 0 a 5 anos na cidade do Natal-RN.

    Sendo assim, este estudo se faz necessrio e fundamental, visto que busca

    conhecer aspectos da Poltica Pblica de fomento leitura que no so contemplados

    em documentos oficiais. Com este estudo, esperamos verificar como acontece a

    implementao, circulao e acessibilidade dos professores e das crianas no que se

    refere ao acervo de literatura para infncia a eles destinado.

    Por essas razes, justifica-se a inter-relao literatura, polticas pblicas e a

    gesto na Educao Infantil no intuito de investigar as contribuies do PNBE para a

    formao da criana leitora, considerando o texto literrio como meio privilegiado

    para promover o sucesso da criana nas habilidades da linguagem.

    1.3 DELIMITAES DO ESTUDO: QUESTES, PROBLEMA E OBJETIVOS DA

    PESQUISA

    Considerando como eixo norteador desta investigao o ensino de literatura

    na Educao Infantil e a formao do leitor por meio do acervo do PNBE

    disponibilizado nas Edies de 2008- 2010- 2012 para os Centros Municipais de

    Educao Infantil de Natal, consideram-se no contexto deste estudo as seguintes

    questes:

    como se d a gesto do Programa Nacional Biblioteca da Escola PNBE no

    tocante a distribuio, armazenamento e receptividade do acervo na Rede

    Municipal de Ensino de Natal para o nvel de escolarizao da Educao

    Infantil?

  • 28

    como esto organizados os espaos de leitura e biblioteca escolar para crianas

    da Educao Infantil da Rede Municipal de Ensino de Natal- RN?

    Frente a esses questionamentos, a fim de colocar um limite conceitual no

    tema e no problema, infere-se como tema de estudo a gesto do PNBE na Educao

    Infantil de Natal- RN. Assim, foi feito um recorte de estudo em torno da gesto

    pblica na Educao Infantil voltada para a prtica de leitura da criana por meio da

    Literatura Infantil disponibilizada nos acervos do PNBE. Em consequncia,

    configurou-se o seguinte problema de pesquisa: como se d a implementao do

    PNBE na Educao Infantil de Natal - RN?

    Para o estudo desse objeto, sero demarcados alguns balizadores sob os quais

    a pesquisa deve ser apreciada.

    Como etapa inicial da pesquisa, faremos um levantamento das Leis, Decretos,

    Documentos e Diretrizes que norteiam, regulam e prestam conta do Programa

    Nacional Biblioteca da Escola PNBE. Uma vez que o programa o nosso objeto de

    pesquisa, considerando que ele se encontra em vigor, necessrio conhecer, discutir e

    avaliar as diretrizes que o pem em funcionamento no pas.

    Em seguida, sero feitas entrevistas com os assessores que integram a equipe

    de gesto dos rgos responsveis pelo PNBE municipal, especificamente do

    Departamento de Educao Infantil (DEI), da Secretaria Municipal de Educao,

    responsvel por gerir e administrar as formaes continuadas dos professores da

    Educao Infantil, a fim de subsidiar os nortes da pesquisa.

    Como terceira etapa da pesquisa, faremos uma visita de campo a 21 Centros

    de Educao Infantil da Cidade do Natal que foram contemplados com os acervos do

    PNBE desde a sua primeira edio para a Educao Infantil em 2008 at a terceira

    edio em 2012, a fim de verificar a presena ou ausncia do acervo de literatura para

    infncia, o seu estado de conservao e armazenamento; conhecer como se d a

    receptividade dos livros de literatura e os de formao do professor, quando chegam

    escola; observar e avaliar os espaos de leitura de cada instituio, e analisar a

    acessibilidade das crianas e professores ao material distribudo pelo MEC, atravs do

    PNBE.

  • 29

    Ciente das aes do PNBE, como quarta etapa da pesquisa, sero

    aprofundados os estudos sobre os modelos de gesto de polticas pblicas, sociais e

    educacionais de leitura, a necessidade da formao do professor mediador de leitura na

    inteno de avaliar as possibilidades interativas e formativas do texto literrio

    integrante dos acervos do PNBE 2008- 2010- 2012 e os efeitos que este pode provocar

    no leitor inserido na escola de educao infantil, bem como os espaos de leitura.

    Diante do exposto, objetiva-se com este estudo avaliar o processo de

    implementao do Programa Nacional Biblioteca da Escola e a formao do leitor na

    Educao Infantil de Natal-RN.

    Tendo como norte esse objetivo maior, desdobraram-se os seguintes objetivos

    especficos:

    investigar os processos de gerenciamento das polticas pblicas de fomento

    leitura implementadas na Rede Municipal de Ensino de Natal destinadas

    Educao Infantil; e

    conhecer os espaos de leitura que abrigam o acervo do PNBE nos Centros

    Municipais de Educao Infantil e de que modo eles contribuem para a

    democratizao da leitura no mbito escolar.

    1.4 O ESTADO DA ARTE

    Considerando que a cultura letrada faz parte do cotidiano, desde o

    nascimento, entendemos que a leitura de literatura um meio de proporcionar

    criana no ambiente escolar uma forma de saber atravs de mltiplas aes

    pedaggicas, dentre elas, a mediao de leitura como uma ao que favorece o

    encontro entre o leitor e o texto.

    Partindo da premissa de que o professor, ator principal desse processo de

    mediao, precisa de um acervo para traar o caminho da democratizao da leitura, e

    entendendo que todas as escolas brasileiras recebem o acervo do PNBE, mas nem

    todas o conhecem, resolvemos investigar as discusses tericas sobre as polticas

    pblica, educacional e social de fomento leitura e formao do leitor em interlocuo

  • 30

    com o acervo de literatura destinado Educao Infantil distribudo pelo Ministrio da

    Educao.

    Desse modo, considerando a necessidade de se compreender o processo

    educativo do ensino e aprendizagem da literatura como meio para formar o leitor

    infantil pelo vis do PNBE, acervo disponvel para todas as escolas do Brasil, ser

    feito, no contexto deste trabalho, um panorama das pesquisas realizadas em torno

    dessa temtica que melhor abordam o seu objeto de estudo.

    Algumas pesquisas j foram realizadas nas mais diversas regies do Brasil

    abordando temas como PNBE, literatura infantil e formao do leitor, mas poucos

    trabalhos relacionando essas trs vertentes simultaneamente, ou que dialogassem com

    outras reas de conhecimento como administrao e gesto de polticas pblicas.

    Diante disso, faz-se necessrio refletir sobre O Programa Nacional de

    Biblioteca da Escola e sua aplicabilidade na escola pblica em relao s prticas de

    leitura na Educao Infantil, visto que, de acordo com os documentos elaborados pelo

    Ministrio de Educao (MEC), (BRASIL, 2006; BERENBLUM, 2006; PEREIRA,

    2006; RANGEL, 2006), o PNBE tem se constitudo como um programa que visa

    contribuir para uma poltica de formao de leitores dentro e fora do ambiente escolar,

    considerando-se a variedade de gneros distribudos por ele e a boa qualidade das

    obras, pelo fato de existir a inteno de proporcionar ao leitor um convvio permanente

    com a prtica da leitura em vrias situaes comunicativas, concebendo-a como

    prtica sociocultural.

    Esses dados foram verificados a partir de uma pesquisa no Banco da CAPES.

    Foram encontradas uma tese contendo aspectos relativos aos benefcios que o mercado

    editorial tem obtido com a implementao desse Programa pelo Governo Federal ao

    longo de suas edies e nove dissertaes voltadas para aspectos tnico-raciais,

    ambientais, pluralidade cultural, qualidade grfica do catlogo e dos livros, gneros

    orais e escritos, poesia, quadrinhos e mediao de leitura. Todos esses trabalhos

    citados foram desenvolvidos no ensino fundamental ou mdio, nenhum dedicado aos

    estudos das crianas da educao infantil, etapa primeira da Educao Bsica.

    O primeiro estudo encontrado acerca do PNBE foi o de Oliveira (2008), uma

    tese de doutorado denominada Indstria editorial e Governo Federal: o caso do

    programa nacional biblioteca da escola (PNBE) e suas seis primeiras edies,

    objetivando analisar como tinham se constitudo os processos de seleo, avaliao do

    acervo e execuo desse programa nas edies de 1998 a 2002.

  • 31

    Para levar a contento a sua pesquisa, Oliveira (2008) optou por uma

    metodologia voltada para a anlise de documentos oficiais e comparaes entre eles, a

    partir da literatura selecionada ao estudo, a fim de compreender como o dinheiro

    pblico foi usado no processo de aquisio de obras, devido ao crescente investimento

    ano a ano nesse sentido, principalmente sobre a indstria editorial e suas possveis

    relaes com o Governo Federal em termos de valorizao desse mercado.

    Nesse mesmo ano, a dissertao de Paiva (2008), denominada A literatura

    infanto-juvenil na formao social do leitor: a voz do especialista e a vez do professor

    nos discursos do PNBE 2005, descreve e analisa os textos orais e escritos produzidos

    pelos professores e especialistas, focando a literatura e o gnero poesia como suporte

    para a formao do leitor. Em Paiva (2008), a tica de formao do leitor est centrada

    na ao do professor, escolhido a partir de critrios especficos e subjetivos, retirando

    o aluno do processo de interao entre o mediador e o texto.

    A pesquisa de Ferreira (2008), em nvel de mestrado, que tem por ttulo A

    personagem do conto infanto juvenil brasileiro contemporneo: uma anlise a

    partir de obras do PNBE/2005, analisa o perfil dos personagens que povoam os contos

    brasileiros contemporneos selecionados e distribudos a partir das obras do PNBE,

    tomando como base a literatura infanto-juvenil do ponto de vista da pluralidade

    cultural, como tambm das questes relacionadas ao autor, ao ilustrador, ao tradutor e

    aos dados tcnicos das obras. Nessa pesquisa, embora esteja inscrita no campo da

    literatura, no h enfoque para a leitura deleite e fruio, apresentando um cunho

    sociolgico com enfoque apurado na anlise das personagens, dialogando com os

    temas transversais contidos nos Parmetros Curriculares Nacionais por meio dos

    contos contemporneos da literatura brasileira infanto-juvenil.

    A dissertao de Rodrigues (2009), intitulada A literatura infanto juvenil

    afro-brasileira e a Lei 10.639: um olhar sobre as obras adotadas pelo PNBE/MEC

    2005, dialoga com a temtica desenvolvida por Ferreira (2008), quando estuda a

    temtica tnico-racial adotada pelo PNBE de 2005, avaliando os elementos grficos e

    a suas relaes com a Lei que obriga a incluso da histria e cultura africanas e afro-

    brasileiras nos currculos escolares de todas as redes de ensino do pas. Nessa

    pesquisa, o enfoque se limita s discusses de valores morais, ticos e de cidadania,

    no explorando aspectos que so especficos dos discursos literrios.

    Na pesquisa realizada por Montuani (2009), que originou a dissertao de

    mestrado denominada O PNBE/2005 na Rede Municipal de Ensino de Belo Horizonte:

  • 32

    uma discusso sobre os possveis impactos da poltica de livros de literatura na

    formao de leitores, a autora destaca trs fatores importantes que contribuem para a

    formao do leitor literrio e que se diferenciaram das edies do programa antes de

    2005. So eles: o retorno da distribuio dos livros para uso coletivo nas bibliotecas

    escolares, a alterao grfico-editorial das obras e a possibilidade de os profissionais

    da escola escolherem os acervos a serem recebidos. Nesse trabalho, pode-se identificar

    avanos significativos nas proposies tericas que reconhecem a importncia da

    leitura no desenvolvimento e na aprendizagem da criana pelo vis da leitura de textos

    literrios.

    O trabalho desenvolvido pela autora se configura como a primeira

    aproximao ao objeto que caracteriza as aes do PNBE e objetiva incentivar o

    debate acerca do papel da escola no desenvolvimento da competncia leitora dos

    alunos, atravs do fomento das bibliotecas escolares.

    A esse respeito, Guimares (2010), ao focar a Biblioteca escolar e polticas

    pblicas de incentivo leitura: de museu de livros a espao de saber e leitura,

    reconhece que a biblioteca escolar um espao privilegiado para o desenvolvimento

    de atividades relacionadas leitura, contribuindo para despertar a criatividade e o

    senso critico do aluno, sendo, portanto, fundamental para o processo de aprendizagem.

    Corroborando com o pensamento de Guimares, falar de biblioteca falar de

    pesquisa, busca de informao, ampliao de conhecimento e, consequentemente, falar

    de leitura. E justamente nesse processo de leitura, descoberta e transformao da

    informao em conhecimento, que a biblioteca escolar surge como um espao rico em

    recursos e possibilidades. A pesquisa investiga se as polticas pblicas de incentivo

    leitura tm contribudo para a formao do leitor e a dinamizao dos espaos de

    bibliotecas nas escolas.

    Caretti (2011), em seu trabalho de dissertao Concepes de relao ser

    humano-natureza nos livros de literatura infantil para o ensino fundamental do

    Programa Nacional Biblioteca da escola 2008, procura traar uma relao entre os

    livros de literatura infantil e a educao ambiental, analisando as obras pertencentes ao

    acervo do PNBE 2008 para o Ensino Fundamental, que tratam dessa temtica, tendo

    como objetivo compreender quais as concepes de ambiente subjacentes s histrias,

    estudando aspectos didtico-metodolgicos em situao de ensino formal e informal.

    A pesquisa se alicera no preceito de que a valorizao da vida, a preocupao com as

  • 33

    geraes futuras, o cuidado com o meio, o desenvolvimento de novas formas de

    pensar a realidade so preocupaes da educao ambiental que devem estar presentes

    tambm na escola dialogando com os livros de literatura para formao de uma

    conscincia ambiental. A proposta da pesquisa no aborda os aspectos tericos

    metodolgicos que norteiam a prtica da leitura, sendo traados objetivos

    admoestadores como cuidar da natureza e formar cidados capazes de zelar pelo meio

    ambiente.

    Kich (2011), em sua pesquisa Mediao de leitura literria: o Programa

    Nacional de Biblioteca da Escola (PNBE)/2008, analisa o trajeto dessas obras dentro

    do municpio de Caxias do Sul, como esto formados seus professores que atuam

    como mediadores de leitura e a qualidade do acervo. O estudo foi feito com base em

    apenas quatro obras do acervo de 2008, tendo como objetivo principal analisar a

    competncia leitora dos estudantes.

    Lima (2011) aborda em sua pesquisa de mestrado O Programa Nacional

    Biblioteca da Escola e as vozes dos professores de Lngua Portuguesa do Ensino

    Mdio questes concernentes ao Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) no

    que diz respeito aos aspectos referentes ao seu histrico, a sua implementao nas

    escolas pblicas brasileiras, aos seus eixos norteadores e a sua insero pelo

    Ministrio da Educao como poltica direcionada para a formao de leitores. Alm

    disso, destaca a importncia da constituio das vozes dos professores de Lngua

    Portuguesa do Ensino Mdio da Escola Estadual Berilo Wanderley, da rede pblica de

    ensino do Rio Grande do Norte, localizada em Natal/RN, a partir das quais foi possvel

    compreender as concepes terico-metodolgicas que norteiam as suas prticas

    educativas com a linguagem de HQ e os desafios enfrentados pelos professores no

    processo de formao de leitores proficientes em um mundo constitudo por mltiplas

    linguagens, que exige mltiplos letramentos.

    Todos esses dados, identificados em uma tese de doutorado de Oliveira

    (2008) e nas outras dissertaes de mestrado de Paiva (2008), Ferreira (2008),

    Rodrigues (2009), Montuani (2009), Guimares (2010), Caretti (2011), Kich (2011) e

    Lima (2011), revelam que estudos foram desenvolvidos nas reas da educao sobre a

    poltica pblica de leitura do PNBE, mas nenhum desses estudos se revela preocupado

    em compreender e avaliar como o programa implementado pelo Governo Federal e

    como se d a gesto do PNBE nos municpios e nas instituies de Educao Infantil.

  • 34

    no contato com o mundo da leitura e da escrita que a criana desenvolve a

    linguagem oral, amplia o seu vocabulrio, suas possibilidades de uso da lngua, a

    aquisio de estruturas sintticas mais elaboradas. Por isso, de fundamental

    importncia para a criana o contato com a leitura de histrias contadas pelas

    professoras. Essa troca possibilita na criana a compreenso de que a linguagem oral

    se materializa na linguagem escrita.

    Quanto abrangncia temtica, buscou-se incluir no apenas os estudos que

    tivessem como foco especfico a literatura para infncia na Educao Infantil com o

    intuito de fomentar o ensino e aprendizagem da literatura a partir das contribuies

    oferecidas pelo Programa Nacional Biblioteca da Escola para a formao do leitor

    infantil, mas identificar tambm os pesquisadores que se dedicavam ao estudo e

    pesquisa das questes relacionadas ao PNBE, gesto e avaliao de polticas

    pblicas, e acessibilidade da criana aos textos literrios na escola de Educao

    Infantil.

    Na busca pelas pesquisas, encontramos um livro intitulado LITERATURA

    FORA DA CAIXA: O PNBE na escola - Distribuio, circulao e leitura, organizado

    pela professora doutora Aparecida Paiva. O livro composto por quatro pesquisas de

    ps-graduandos que, sob a orientao da organizadora, discute o PNBE em todas as

    instituies de educao da rede municipal de Belo Horizonte. As pesquisas discutem

    a formao de leitores nas bibliotecas escolares, a distribuio do acervo do PNBE

    pelo MEC, o acervo do programa para jovens e a premiao dos autores, cujas obras

    compem o acervo do PNBE.

    O referido livro corrobora com este estudo, uma vez que areja reflexes sobre

    o que, na voz de Soares (2012), deveria ser a mais promissora poltica pblica na rea

    de educao do pas: a poltica de distribuio de livros. Livros que chegam em caixas,

    mas lamentavelmente, com frequncia, permanecem nelas.

    Cientes de que o estado da arte um processo contnuo de investigao que se

    inicia e finda igualmente com a tessitura de uma pesquisa, ao trmino deste trabalho

    ainda encontramos um estudo que dialoga com a nossa pesquisa realizada pelo

    Departamento de Didtica da Faculdade de Cincias e Letras da Universidade Estadual

    Paulista (Unesp), campus de Marlia, e pelo Departamento de Educao da Faculdade

    de Cincias e Tecnologia da Unesp de Presidente Prudente. A pesquisa em andamento

    tem como objetivo organizar uma proposta de atividades leitoras a partir do acervo do

    Programa Nacional Biblioteca da Escola, PNBE destinado Educao Infantil,

  • 35

    considerando as atividades de leitura literria como condio necessria para a

    ampliao e criao de hipteses fantsticas, ao enriquecimento da capacidade

    imaginativa, compreensiva e criativa na infncia, dentre outras, permitindo que as

    crianas sejam protagonistas ativas do momento da rotina diria com a literatura

    infantil no mbito educacional.

    A referida pesquisa foi realizada em creches de dois municpios do estado de

    So Paulo e tem como ponto de intercesso com o nosso o objeto de estudo: PNBE.

    Entretanto, ela se distancia, visto que focaliza a recepo das crianas de zero a trs

    anos e o desenvolvimento cognitivo diante do texto, enquanto que a nossa tem foco na

    gesto do PNBE e sua aplicabilidade para as crianas da Educao Infantil

    Nos caminhos percorridos durante esta busca, observamos que vrias

    pesquisas se aproximam da nossa quando investigam e discutem o Programa Nacional

    Biblioteca da Escola. No entanto, nenhuma delas contempla o PNBE e a gesto

    pblica da Educao Infantil. Tal constatao reitera a necessidade desta pesquisa no

    campo da educao, uma vez que no basta somente criar programas e distribuir os

    livros para as escolas de Educao Infantil do pas, preciso acompanhar o que

    acontece com suas aes e proporcionar acessibilidade das crianas leitura literria

    na escola buscando compreender como a leitura de literatura contribui para a formao

    do leitor na Educao Infantil, considerando que, atravs do trabalho sistemtico e

    ldico com o texto literrio, possvel favorecer a formao da criana leitora e a

    formao de leitor desde a mais tenra idade dentro das unidades de ensino.

    Os aportes tericos que fundamentam este estudo so aqueles que dialogam

    com a interface polticas pblicas, leitura e literatura para a infncia. So os principais

    aportes tericos de Politicas Pblicas Bobbio (2000), Rua (2009), Santos (2012),

    Secchi (2010), Castro (2007; 2012) e Frana (2007); no que concerne leitura,

    respaldamo-nos em Jouve (2002), Manguel (1997), Martins (2003), Santos (2003),

    Soares (2002); para discutir literatura, ancoramo-nos em Amarilha (2012; 2006),

    Coelho (2000), Turchi (2006) e Zilbermam (2001; 2003; 2006; 2008); para orientao

    do fazer investigativo, quanto metodologia, ancoramo-nos em Bauer e Gaskel

    (2012), Bogdan e Bilklen (1994), Demo (2006), Moreira e Caleffe (2008) e Oliveira

    (2012).

  • 36

    1.5 ORGANIZAO DOS CAPTULOS

    Esta dissertao est estruturada em seis captulos. No Captulo 1, Onde esto

    os livros? revela a origem de nossos estudos, a justificativa, o objeto e objetivos, as

    caractersticas gerais do Programa Nacional Biblioteca da Escola - PNBE, seguido do

    estado da arte, no qual apresentamos em que contexto se insere este estudo atualmente.

    No Captulo 2, O Que so Polticas Pblicas?, apresentamos os conceitos de

    Polticas Pblicas, Social e Educacional, e descrevemos as etapas necessrias para a

    implantao de uma poltica, bem como o ciclo que a compe, seguido da sesso que

    apresenta a poltica pblica de fomento leitura, O Programa Nacional Biblioteca da

    Escola, alm do Projeto PARALAPRAC e o TRILHAS NATURA, dois programas

    que se constituem em poltica social, implementados na Rede Municipal de Ensino de

    Natal, visto que ser necessrio ao leitor conhec-los para compreender algumas

    nuances das anlises desta pesquisa.

    O Captulo 3, Existe mercado para leitura na infncia?, discute a trajetria

    do livro de literatura desde o seu surgimento at a incorporao ao Programa Nacional

    Biblioteca da Escola PNBE; o livro como mercadoria e o preo da leitura no

    mercado editorial brasileiro.

    O Captulo 4, Que caminhos percorremos? Quais as veredas desta jornada?

    descreve os procedimentos metodolgicos que delinearam os caminhos percorridos

    para a tessitura desta pesquisa. Nele apresentamos a classificao da pesquisa, os

    instrumentos de coleta e seleo do corpus analisado, os sujeitos de pesquisa, as

    estratgias de tratamento e anlise dos dados.

    O Captulo 5, possvel promover o encontro do leitor com a literatura nas

    rodas da Educao Infantil?, analisa os resultados da pesquisa a partir das discusses

    sobre o Programa Nacional Biblioteca da Escola PNBE, no que se refere a sua

    implementao na Educao Infantil e sua gesto na Rede de Ensino de Natal-RN.

    Finalmente, no Captulo 6, E agora, para onde vamos? dispomos algumas

    reflexes finais referentes pesquisa, recomendaes e proposies de

    direcionamentos para a implementao do programa na Rede Municipal de Ensino e

    estudos futuros.

    As Referncias listam os referenciais tericos e metodolgicos que foram

    utilizados para a construo da pesquisa.

  • 37

    Nos Apndices e Anexos organizamos os documentos elaborados e

    consultados que serviram para a construo deste trabalho, como os termos que

    autorizam a entrada nas escolas, campo de pesquisa, o roteiro da entrevista, os editais e

    leis que regem as polticas de fomento leitura.

  • 38

    CAPTULO 2

    O QUE SO POLTICAS PBLICAS?

    Um galo sozinho no tece uma manh:

    ele precisar sempre de outros galos.

    De um que apanhe esse grito que ele

    e o lance a outro; de um outro galo

    que apanhe o grito de um galo antes

    e o lance a outro; e de outros galos

    que com muitos outros galos se cruzem

    os fios de sol de seus gritos de galo,

    para que a manh, desde uma teia tnue,

    se v tecendo, entre todos os galos.

    Joo Cabral

    de Melo Neto

    Os versos metafricos de Joo Cabral de Melo Neto no poema Tecendo a

    manh fazem-nos refletir sobre a necessidade de unir vozes em favor da coletividade

    e da fora constituda. A metfora est para alm de um amanhecer, quando se pensa

    na interdependncia e incompletude do homem. O poeta nos permite vislumbrar um

    futuro de possibilidades a partir da integrao entre cantos, vontades, ideias, quando

    nos diz que um galo sozinho no tece uma manh: ele precisar sempre de outros

    galos.

    Entre a realidade e a fico existe uma linha tnue: a realidade diverge do

    ideal e ns insistimos em divergir da realidade ao lanar nosso grito de luta pela

    leitura, para que, como o canto do galo que tece a manh, as nossas crianas possam

    desenvolver um aprendizado do sentido para nossa existncia no mundo a partir de

    simples ensinamentos soprados aos seus ouvidos pelo contar das histrias no alvorecer

    de todas as manhs de leitura e literatura.

    Ao nos projetar nos galos de Melo Neto refletimos sobre o carter

    colaborativo presente nas relaes reais e estabelecemos uma rede sensvel lanada a

    tantos outros homens a quem dada a possibilidade de estabelecer uma teia de

    vnculos e de responsabilidades sobre as polticas pblicas e sociais de leitura deste

    pas.

    A poltica uma rea de conhecimento extremamente complexa. Devido

    natureza dos temas e a estrutura das relaes imbricadas na poltica, essa uma rea

    que d origem a muitas controvrsias. Por conseguinte, este estudo no pretende

  • 39

    construir uma verso definitiva sobre o assunto, tampouco nossa inteno produzir

    uma smula de conhecimentos sobre esse saber. Ao contrrio, necessrio deixar

    registrado que todos os conceitos so polissmicos e que pela fora da palavra h de se

    ter uma multiplicidade de interpretaes e, principalmente por isso, reflexes.

    Neste captulo discorreremos acerca das principais concepes e abordagens

    relativas s polticas pblicas e sociais desde os seus conceitos, implementao, tipo,

    gesto e a avaliao, estabelecendo tanto quanto possvel algumas intercesses ou

    distines entre eles. Alm dessa temtica, apresentamos uma sntese das principais

    polticas e programas de fomento leitura especficos para a Educao Infantil, cerne

    deste trabalho.

    A palavra poltica recebeu ao longo dos tempos diferentes significados.

    Comeando pela Grcia Antiga, onde o termo era utilizado em forma de adjetivo,

    quando se referia quilo que era da cidade, at os dias de hoje em que, substantivado,

    passou a ser utilizado como saber lidar com as coisas da cidade, da sociedade.

    Na Antiguidade, o filsofo Plato se dedicou preferencialmente por fazer

    desenhos de construes sociais imaginrias, utpicas, projees sobre qual o melhor

    futuro da humanidade. Aristteles, seu discpulo mais famoso, procurou tratar das

    coisas reais, dos sistemas polticos existentes na sua poca; a acepo do termo

    poltica significava a cincia mais suprema, qual as outras cincias esto

    subordinadas e da qual todas as demais se servem em uma cidade.

    Contrapondo-se a Plato, Aristteles pensava a poltica a partir das

    instituies reais de poder. Para ele, a tarefa da poltica investigar qual a melhor

    forma de governo e instituies capazes de garantir a felicidade coletiva. Foi um dos

    primeiros a tratar a poltica como uma prtica intrnseca ao homem cidado.

    Em tempos modernos, a palavra poltica ganha novos significados com

    autores como Noberto Bobbio (2000), Secchi (2010) e Rua (2009), pois se utiliza o

    termo para se referir dimenso coletiva, geralmente se voltando para a anlise de

    elementos como a relao entre indivduo e a administrao pblica, entre as estruturas

    da coletividade e a dos indivduos. Para Bobbio (2000), a viso de poltica se restringe

    esfera do poder que o homem exerce sobre o outro e da fora do poder do Estado,

    instituio responsvel pela ordem social. Ele nos alerta para a dicotomia da filosofia

    poltica ps-clssica em detrimento da filosofia da poltica clssica, pois

  • 40

    enquanto a filosofia poltica clssica est alicerada sobre o estudo

    da estrutura da plis e das vrias formas histricas ou ideias, a

    filosofia poltica ps-clssica caracteriza-se pela contnua tentativa

    de uma delimitao daquilo que poltico (o reino de Csar) em

    relao quilo que no poltico (seja ele o reino de Deus ou o reino

    das riquezas), por uma contnua reflexo sobre a esfera da poltica

    da esfera da no poltica, o Estado do no Estado. (BOBBIO, 2000,

    p. 172).

    Assim, pode-se inferir que a poltica na atualidade deve ser compreendida

    como atividade ou conjunto de atividades que tm de algum modo como termo de

    referncia o Estado.

    Nesse sentido, poltica a cincia de bem governar um povo constitudo em

    Estado, que se democrtico tem sua governabilidade exercida pelo poder pblico, via

    representantes conduzidos ao poder, direta ou indiretamente, pelo povo. Retomando

    afirmao de que o termo poltica muito abrangente, e corroborando com o conceito

    de Rua, preciso

    estabelecer que poltica consiste no conjunto de procedimentos

    formais e informais que expressam relaes de poder e que se

    destinam resoluo pacfica dos conflitos quanto a bens pblicos.

    (RUA, 2009, p.17).

    A poltica mostra o corpo de doutrinas indispensveis ao bom governo de um

    povo, dentro das quais devem ser regulamentadas as normas jurdicas necessrias ao

    bom funcionamento das instituies administrativas do Estado com o objetivo de

    estabelecer os princpios que se mostrem eficientes construo de um governo capaz

    de conduzir o Estado ao cumprimento de suas essenciais finalidades, isto , em melhor

    proveito dos governados.

    A palavra poltica na lngua portuguesa, assim como em outras lnguas

    latinas, pode assumir duas conotaes principais a partir de um nico significante, que

    a lngua inglesa consegue diferenciar usando os termos politics e policy (RUA, 2009;

    SECCHI, 2010). O termo politics tem na concepo de Bobbio (2004 apud Secchi

    2010, p.1) o sentido de atividade humana ligada a obteno e manuteno dos

    recursos necessrios para o exerccio do poder sobre o homem. Quando o termo

    poltica assume o sentido expresso pelo termo policy, segundo Secchi (2010), mais

    concreto e tem relao com resultados racionais. a cincia da organizao, dos

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    direcionamentos para a ao e deciso poltica, vinculando-se a ela o termo poltica

    pblica (public policy).

    Para um melhor entendimento, torna-se necessrio esclarecermos tambm as

    diferenas entre poltica pblica e deciso poltica, pois, segundo afirma Rua (2009),

    embora uma poltica pblica implique deciso poltica, nem toda deciso poltica

    chega a constituir uma poltica pblica(RUA, 2009, p.20). Vejamos o quadro

    elaborado pela autora.

    Quadro 1 - Diferena entre poltica pblica e deciso poltica POLTICA PBLICA DECISO POLTICA

    Geralmente envolve mais que uma deciso e

    requer diversas aes estrategicamente

    selecionadas para implementar as decises

    tomadas.

    Corresponde a uma escolha dentre um

    conjunto de possveis alternativas, conforme a

    hierarquia das preferncias dos atores

    envolvidos, expressando - em maior ou

    menor grau -