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O PROJECTO DIGITALIZAO DE FONTES LOCAIS SOBRE A GUERRA
PENINSULAR (1807-1814), DA CMARA MUNICIPAL DE MAFRA
FINANCIAMENTO DA FUNDAO CALOUSTE GULBENKIAN (2011-2012)
Consulte os resultados do projecto neste link: http://arquivo.cm-mafra.pt/details?id=173037
Irina Alexandra Lopes
(coordenadora do projecto, tcnica superior da CMM)
1. O TEMA: GUERRA PENINSULAR (1807-1814). TRAOS GERAIS DO
CONTEXTO HISTRICO
A Guerra Peninsular, decorrida entre 1807 e 1814, (tambm conhecida em
Portugal como as Invases Francesas e em Espanha como a Guerra da Independncia
Espanhola, apesar de, em rigor, integrar ambas) um perodo crucial na Histria de
Portugal e um dos temas mais importantes da Historiografia Militar Portuguesa.
Os seus impactos foram gerais e numerosos, no s em Portugal como na
Europa. Nada nem ningum ficou alheio s marcas e transformaes que provocaram,
desde as estruturas polticas, institucionais e militares, at economia, demografia,
sociedade, cultura e mentalidades.
A ruptura com o Antigo Regime concretizou-se irreversivelmente e o caminho
do Liberalismo foi traado, cuja maturao desembocou ao cabo de um sculo na
implantao da Repblica.
Das trs vezes que o Exrcito Napolenico invadiu Portugal, foi a Terceira
Invaso Francesa que deixou a marca mais profunda na paisagem nacional, em primeiro
lugar devido construo das Linhas de Torres Vedras (1809-1812) para a defesa da
capital e, em segundo, pelo emprego da poltica de terra queimada e consequente
migrao das populaes que habitavam, grosso modo, o territrio desde a regio do
Mondego at ao sistema de fortificaes, para a cidade de Lisboa e concelhos limtrofes,
protegidas pelas Linhas de Defesa.
http://arquivo.cm-mafra.pt/details?id=173037
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Tambm na Terceira Invaso Francesa ou Invaso de Massena que melhor se pode
analisar os comportamentos e atitudes, de natureza dspar, assumidas pelo povo
portugus durante os dois momentos atrs referidos, considerando, por um lado, a
presena do exrcito inimigo e, por outro, as ordens do Exrcito Aliado/Combinado.
Aps mais de 150 anos de paz, sem guerras em territrio nacional, as Invases
Francesas no transformaram apenas a geografia de Portugal, mas os rostos e os
quotidianos dos portugueses que c viviam e trabalhavam. Causaram a runa da
economia, baseada na actividade agrcola, a destruio das redes virias e a depredao
dos bens mveis e imveis das populaes das terras invadidas, decepando milhares de
vidas e famlias, aniquilando fontes de sustento e extinguindo modos de viver. O Pas,
bero de rfos, foi deixado, de Norte a Sul, num estado de calamidade geral, o flagelo
da fome, da doena e dos focos de contgio grassava diariamente. A privao, o
desamparo, a tristeza e o desespero eram constantes e inevitveis.
Reconhecendo-se inquestionavelmente a relevncia da aliana firmada entre as
monarquias britnica e portuguesa, particularmente, o papel decisivo do Exrcito Ingls
na derrota e expulso das Tropas Francesas do territrio nacional, destacando-se, em
particular, a importncia primacial de um dos maiores e mais notveis sistemas
defensivos da Europa (com 85 km e 152 redutos) as Linhas de Torres Vedras no se
pode olvidar as consequncias paisagsticas, socio-humanas e econmicas que advieram
da sua edificao, as quais modelaram parte do territrio portugus, mas tambm a vida
quotidiana das populaes residentes, deixando a sua impresso no apenas na memria
colectiva, como na personalidade individual de cada homem e mulher.
2. APRESENTAO E OBJECTIVOS
O projecto Digitalizao de fontes locais sobre a Guerra Peninsular (1807-
1814) enquadra-se no conjunto de programas comemorativos do Bicentenrio da
Guerra Peninsular (1807-1814 / 2007-2014) e, em particular, da celebrao dos 200
anos de construo das Linhas de Torres Vedras (1810-2010, concretamente 1809-1812
/ 2009-2012). Teve a sua gnese numa proposta apresentada no Plano de Actividades do
Arquivo Municipal de Mafra respeitante ao ano de 2009, a qual consistia num Roteiro
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de fontes dos Arquivos Municipais da Plataforma Intermunicipal para as Linhas de
Torres sobre a Guerra Peninsular.
Beneficiando dos apoios financeiros concedidos anualmente pela Fundao
Calouste Gulbenkian, o projecto foi candidatado pela Cmara Municipal de Mafra, em
Maro de 2009 e 2010, no mbito do concurso Recuperao, tratamento e organizao
de acervos documentais, com financiamento da referida instituio, tendo obtido
aprovao na segunda candidatura (Maro de 2010).
Tutelado pela Cmara Municipal de Mafra (entidade beneficiria e responsvel
pelo projecto), tem como entidades parceiras quatro Cmaras Municipais Arruda dos
Vinhos, Sobral de Monte Agrao, Torres Vedras e Vila Franca de Xira que
constituem, juntamente com Mafra e Loures, desde 2006 at ao presente ano (2012) a
Plataforma Intermunicipal para as Linhas de Torres responsvel pelo projecto turstico-
cultural Rota Histrica das Linhas de Torres (www.rhlt.com.pt financiado pelo
Fundo de Mecanismo Financeiro do Espao Econmico Europeu), ao abrigo do qual foi
recuperada uma parte do sistema de fortificaes militares de campo, construdo,
mormente, entre 1809 e 1810, para a defesa da cidade de Lisboa, face s Invases
Francesas durante a Guerra Peninsular (1807-1814). O referido projecto teve como
componentes: 1. Salvaguarda, recuperao e valorizao das obras militares; 2.
Recuperao/criao de acessos para os visitantes; 3. Sinaltica turstico-cultural
uniformizada; 4. Criao de uma rede de Centro de Interpretao; 5. Publicaes
histricas e tursticas. Os resultados encontram-se disponveis ao pblico nos
respectivos Centros de Interpretao das Linhas de Torres.
Parceiro fundamental deste projecto a Direco Geral do Livro, dos Arquivos e
das Bibliotecas (edifcio-sede do Arquivo Nacional Torre do Tombo), data do seu
incio, Direco Geral de Arquivos, tendo a cooperao institucional sido estabelecida
por meio de Protocolo assinado entre o referido organismo e a Cmara Municipal de
Mafra.
Efectivado entre Abril de 2011 e Dezembro de 2012, o projecto foi organizado,
na sua ntegra, em quatro fases, respectivamente: 1. Levantamento documental; 2.
Registo e descrio em base de dados; 3. Digitalizao e controlo de qualidade; 4.
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Disponibilizao on-line. No captulo 4 Procedimentos, metodologia e direitos
patrimoniais cada fase encontra-se devidamente explanada.
Iniciativa indita a nvel nacional no mbito dos trabalhos de pesquisa
bibliogrfica/documental sobre a Guerra Peninsular em geral, e as Linhas de Torres
Vedras em particular, o objectivo principal do projecto tornar acessvel ao pblico (via
Internet catlogo do Arquivo Municipal de Mafra - http://arquivo.cm-
mafra.pt/details?id=173037) um repositrio de informao nico e imprescindvel sobre
a temtica, demonstrando a relevncia capital das fontes arquivsticas (fontes primrias,
sobretudo manuscritas), de mbito local e regional, na construo, evoluo e
aperfeioamento da Histria Local; concretamente, as existentes nos Arquivos
Municipais dos concelhos onde foram edificadas a 1. e 2. Linhas de Defesa, bem como
no Arquivo Nacional Torre do Tombo.
Constituindo este o propsito axial do projecto pretende-se contribuir para
outros objectivos, nomeadamente: 1. Potenciar a emergncia de novas abordagens sobre
o tema Guerra Peninsular e Linhas de Torres Vedras, aliceradas em fontes primrias
(particularmente arquivsticas); 2. Contribuir para a produo de contedos temticos a
disponibilizar nos Centros de Interpretao das Linhas de Torres e na pgina electrnica
da Rota Histrica das Linhas de Torres, a partir de estudos baseados nas fontes
disponibilizadas; 3. Enriquecer com um projecto original as comemoraes do
Bicentenrio da Guerra Peninsular (1807-1814 / 2007-2014) e, em particular, a
celebrao dos 200 anos de construo das Linhas de Torres Vedras (1810-2010,
concretamente 1809-1812 / 2009-2012); 4. Divulgar o patrimnio, de interesse nacional
e internacional, concernente Guerra Peninsular (especificamente Invases Francesas e
Linhas de Torres Vedras), atravs da adeso do Arquivo Municipal de Mafra Rede
Portuguesa de Arquivos e, por inerncia, Europeana.
Neste sentido, a urgncia na elaborao de estudos que tenham as fontes
arquivsticas como ncleo duro do trabalho de investigao, no se prende
exclusivamente com a necessidade de abordar outros temas que no os estritamente
militares e polticos, alargando o leque aos aspectos sociais, econmicos, demogrficos
e culturais; mas, tambm, pelo facto dessas mesmas fontes transmitirem, desde que
autnticas, a viso oficial (objectiva e precisa, ou seja, intacta) dos acontecimentos,
http://arquivo.cm-mafra.pt/details?id=173037http://arquivo.cm-mafra.pt/details?id=173037
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sem necessidade de expurgar a parcialidade e falta de iseno do memorialista ou ter em
conta a interpretao do historiador feita com base em leituras de outros especialistas
seus pares ou no.
Certamente que um trabalho de pesquisa documental baseado em fontes
prim