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O PROJETO DE REVITALIZAÇÃO DO MERCADO PÚBLICO DE
PELOTAS: ALGUMAS CRÍTICAS DA COMUNIDADE LOCAL.1 Roberta Antunes 2
Dalila Hallal3
O presente trabalho se propõe a analisar as críticas da comunidade local sobre o processo de
revitalização do Mercado Público de Pelotas que é considerado pela população um símbolo
de tradição e história do povo pelotense. A Cidade de Pelotas- RS, está localizada no extremo
sul do Rio Grande do Sul, sua economia no século XIX estava voltada para a produção de
charque, e já naquela época a cidade almejava tornar- se desenvolvida e prospera, para isso,
realizou inúmeras melhorias, dentre as quais a construção do Mercado Público de Pelotas.
Sua inauguração ocorreu em 1853, o local buscava atender as necessidades da população
pelotense, vendendo produtos alimentícios. No entanto, ao longo dos anos, o mercado foi
perdendo sua função, tornando-se um espaço descaracterizado e desorganizado,
comercializando produtos que desfocaram a função do lugar. Os dados foram coletados a
partir de entrevistas com os freqüentadores do Mercado. O Mercado Público de Pelotas foi
contemplado pelo programa Monumenta do Governo Federal, o qual previa sua revitalização.
A obra de revitalização foi finalizada em 2012, no entanto, a comunidade local considera que
o local foi descaracterizado e transformou-se em um mini-shopping ou uma galeria, já que os
produtos comercializados no local não atendem as necessidades da comunidade, sendo
ofertados poucos produtos de origem alimentícia.
Palavras-chave: Patrimônio, Mercado Público, Pelotas.
1 GT02: História e Patrimônio 2 Graduada- Universidade Federal de Pelotas. [email protected]. 3 Docente – Universidade Federal de Pelotas. E-mail: [email protected]
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INTRODUÇÃO
A Cidade de Pelotas está localizada no extremo sul do Rio Grande do Sul a uma distancia de
250 km da capital do estado (Porto Alegre) sua economia esta voltada para a agroindústria e o
Comércio. O Município no século XIX viveu seu apogeu financeiro devido à principal fonte de
renda da cidade, a produção de charque, a cidade chegou a ter em seu auge econômico em torno de
40 charqueadas localizadas ao redor do canal São Gonçalo.
Em 1846, um ano após o fim da Revolução Farroupilha que alastrou o estado por 10 anos,
Pelotas recebe a visita ilustre de Dom Pedro II, fato este que desencadeou um discurso em prol do
desenvolvimento e progresso da cidade.
Inúmeras melhorias foram debatidas e propostas para que tais mudanças ocorressem, dentre
as quais a construção de um espaço onde fossem comercializados os produtos da cidade. Para isso
ocorrer o vice Presidente da Província o senhor Patricio da Camara Correa perante a lei 11 de 8 de
Abril de 1846 liberou a quantia de 10.000 ( Dez contos de Reais ) para a compra de um lote onde
se construiria a Praça do Mercado (SANTOS, 2014, p.20) , Para a construção do Mercado Público
havia 2 opções de terrenos, o primeiro localizado no quarteirão em frente ao largo da caridade (atual
Praça Piratinino de Almeida) a segunda opção próximo a Praça da Regeneração (Atual Praça
Coronel Pedro Osório) (SANTOS , 2014,p.20)
O segundo lote cujos proprietários eram os senhores Heliodoro de Azevedo, Jose de
Azevedo Souza e Jose Ignácio da Cunha foi escolhido. Segundo Francisco Nunes Garcia mais
conhecido como Matusalém em entrevista concedida ao jornal A Opinião Pública em 1945, quando
completou 119 anos , o mesmo afirmou que naquela proximidade já funcionava um bolicho onde os
moradores realizavam suas compras. (SANTOS, 2014, p.20)
As obras do Mercado Público de Pelotas foram finalizadas em 1852, sendo considerado por
muitos viajantes que passaram pela cidade como sendo superior ao Mercado Publico de Porto
Alegre e do Rio Grande e comparado ao Mercado da Candelária do Rio de Janeiro.
Atualmente o Mercado Público de Pelotas é o mais antigo remanescente do País. No
entanto, ao longo dos 170 anos de existência do local, o mesmo foi sofrendo degradações tanto
naturais como provocadas pelo descuido do Ser Humano. O espaço foi modificando-se,
descaracterizando-se e tornado-se um espaço sujo, mal iluminado e inseguro, no qual a população
Pelotense tinha receio de freqüentar em determinados horários.
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Em 2001, o Mercado Público de Pelotas foi contemplado pelo Programa Monumenta do
Governo Federal, a obra de revitalização do local iniciou em 2002 e estendeu-se por 10 anos, sendo
concluída em 2012.
No entanto, a Revitalização do Mercado Público de Pelotas gerou algumas criticas referentes
ao Projeto e que serão expostas no decorrer do Trabalho.
Para a realização deste trabalho, metodologicamente foi feito uma pesquisa bibliográfica
bem como a coleta de dados a partir de entrevistas semi-estruturadas com a comunidade local que
encontrava-se nesse espaço , as entrevistas foram realizadas entre os dias 25 a 30 de maio de 2015
no turno da manhã das 10:00 ao 12:00 a tarde das 13:30 as 18:00 e a noite das 18:00 as 20:30.
O Objetivo do presente artigo é analisar algumas críticas referentes ao projeto de
revitalização do Mercado Público de Pelotas apresentados pela comunidade local.
O MERCADO PÚBLICO DE PELOTAS:
O Mercado Público de Pelotas foi construído a partir de 1846, quando Dom Pedro II em
passagem pelo estado veio à cidade , esta visita do monarca foi determinante para irradiar no povo
pelotense o desejo de tornar a cidade desenvolvida e prospera. O local escolhido para a construção
do Mercado era um terreno próximo a Praça da Regeneração (atual Praça Coronel Pedro Osório).
(SANTOS, 2014, p.20).
O local chamava a atenção pela beleza, despertando os comentários de vários viajantes que
passaram pela cidade e que registraram em seus diários que o Mercado Público de Pelotas era
superior ao Mercado de Porto Alegre e o de Rio Grande e comparado ao Mercado da Candelária do
Rio de Janeiro, atualmente o Mercado Público de Pelotas é o mais antigo remanescente no País
(SANTOS, 2014, p.28).
O Mercado Público de Pelotas, desde sua inauguração exercia sua função com intensa
atividade comercial como relatou o viajante irlandês Michael G Mehall, “O lugar tem um ar de
opulência, comércio ativo e crescente importância, o que é plenamente justificado pelo
conhecimento de que ele é o centro principal da produção ou comércio de exportação nesta parte do
Brasil (SANTOS, 2014, p. 41). O Mercado comercializava produtos variados de várias partes do
Brasil como o queijo de Minas e o melado de Santa Catarina e até do exterior como as bananas
vindas de Montevidéu.
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Em 1847, foi construída a primeira torre do Mercado de alvenaria, com o relógio que veio da
Europa. (Figura1)
Figura 1
Fonte: SANTOS (2014, p.18)
O Mercado Público de Pelotas, nesta época além de exercer sua função como exímio centro
comercial, também proporcionava o lazer e o entretenimento para a população local. Inúmeros
espetáculos e exibições cinematográficas ocorreram no local. (SANTOS, 2014, p.57)
Em 1912, o mercado sofreu a primeira grande reforma, na qual modificou a fisionomia do
prédio, o projeto era do arquiteto Manoel Barroso Assumpção Itaqui (SANTOS, 2014, p.89). Foi
construído o principal símbolo do Mercado atualmente, a torre de alvenaria foi desmanchada, dando
lugar a uma imponente torre metálica, cujo material veio exportado da Alemanha, um novo relógio
foi colocado na estrutura já que o antigo nunca funcionou (Figura 2). A torre metálica de 23 metros
de altura, índice da Torre Eiffel parisiense. Monumento popular no simulacro de Belle Époque que
florescia em Pelotas (BRUNO, 2010, p.28)
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Figura 2
Fonte: SANTOS (2014, p.84)
Em todos esses anos, ocorreram algumas modificações arquitetônicas transcorridas no
prédio, mas a principal mudança foi à perda gradativa de sua função, o local era conhecido pela
comunidade local e pelos visitantes, pela variedade de verduras, capaz de saciar a fome do mais
exigente vegetariano, espalhadas pelas bancas limpas e elegantes de cimento os 12 açougues, com
destaque para as iguarias como carne de carneiro e salsicha de porco e os 21 chalés que vendiam
frutas variadas. No entanto, entre as décadas de 30 e 40, o então Prefeito de Pelotas José Julio
Barros, afirmou em entrevista concedida ao diário popular que o Mercado estava inadequado as
necessidades atuais, elaborando um novo projeto onde foi decidido pela administração do Mercado,
centralizar o trafego de ônibus no local, com a construção de um abrigo, ponto de dispersão para
várias linhas como a do capão o leão, o ponto de ônibus em frente ao mercado, trazia mais
movimento ainda ao lugar. (Figura 3)
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Figura 3
Fonte: SANTOS (2014, p.106)
Em 1969, um incêndio atinge o mercado, na noite do dia 4 de setembro. Este fato foi
relevante na história e tradição do Mercado, marcando a história do povo pelotense. Após o
ocorrido, foi defendida a destruição do Mercado Público por aqueles que defendiam um projeto de
desaparecimento dos tradicionais Mercados Públicos, incluído o de Pelotas, no qual, desvirtuava o
comércio nele exercido, onde predomina o de bijuterias de baixo nível em detrimento do de
consumo. Como conseqüência desta distorção em suas funções, há uma deteriorização física e
social nesse espaço urbano e no seu entorno. Igualmente é junto ao Mercado que se localizam os
terminais de ônibus urbano, que vem agravar ainda mais essa decadência do comércio original.
(SANTOS, 2014, p. 116). Mesmo com tais argumentos, o projeto de destruição do Mercado Público
de Pelotas não foi adiante.
No dia 4 de Maio de 1985, sob incentivo do então prefeito Bernado de Souza o Mercado
Público é tombado como Patrimônio Histórico do Município de Pelotas. No mesmo ano, os camelôs
foram transferidos para o entorno do Mercado Público, devido às obras no calçadão da sete de
setembro entre quinze de novembro e Andrade neves. Em 1990, o Mercado Público de Pelotas mais
se assemelhava a uma favela , descaracterizando o lugar devido à permanência de camelos em todo
seu entorno , gerando criticas dos comerciantes do local, pois as bancas dos camelos cobriam e
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escondiam o comércio do Mercado, a saídas dos camelos do entorno do Mercado Público só
ocorreu em 1998, ano em que foram destruídos os abrigos de ônibus do local.
Em 2002, o Mercado Público de Pelotas foi revitalizado a partir das obras do Programa
Monumenta do Governo Federal, as obras foram finalizadas em 2012, e atualmente o mercado
perdeu sua função sendo considerado um mini shopping.
A REVITALIZAÇÃO DO MERCADO PÚBLICO DE PELOTAS: ALGUMAS CRÍTICAS
DA COMUNIDADE LOCAL.
Em 2001, com o então prefeito Fernando Marroni, Pelotas é contemplada com o Programa
Monumenta do Governo Federal, destinado a recuperação e preservação do Patrimônio de cidades
históricas. Dentre os 9 prédios contemplados na cidade pelo programa encontra-se a restauração e
revitalização do Mercado Público de Pelotas .
O Mercado Público é um espaço construído que atua como abrigo de múltiplos comércios
em sua maioria do setor alimentício de caráter caseiro, artesanal e que estabelece relações de venda
de modo livre e democrático. Os produtos comercializados e as atividades decorrentes do local
geralmente refletem a identidade a tradição e os costumes da região. Lá é o lugar do diferente do
autentico, do único, do fresco. Também é o espaço do lazer da passagem da permanência da
sociabilidade do turismo dos vínculos das trocas e dos aromas.
Em síntese, o mercado público é um espaço que apresenta a cidade, o usuário desse espaço
nem sempre busca apenas o consumo, mas também os eventos gerados espontaneamente nesse
ambiente.
Segundo Gramkow e Cavedon (2001, p.1) O mercado público consiste em um centro de
compras que reúne especiarias finas e artigos populares, razão pela qual é freqüentado por todas as
camadas da população.
Infelizmente o Mercado Público de Pelotas, perdeu sua função primordial, que seria a
compra e venda de produtos alimentícios como relatam alguns entrevistados:
Mercado hoje para mim ele não é Mercado, Mercado ele já foi há 40 anos. O que tu
procuravas tinha então mercado é isso. Mercado é publico e hoje nós não temos povo mais.
Hoje nós temos um pessoal que vem procurar lazer, para se sentar e Mercado não é isso
Mercado é procura é oferta, é compra isso é Mercado para mim (Entrevistado 15,
masculino, 65 anos, comerciante)
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Outro entrevistado complementa o depoimento anterior afirmando: “Pois é eu conheci o
Mercado quando tinha açougue, bancas de verdura né, bancas de peixe, quer dizer que agora
modificou né” (Entrevistado 14, masculino, 80 anos, aposentado).
O Mercado Público tem por objetivo a comercialização de uma ampla gama de produtos,
vinculados a vida diária, como exemplo de um Mercado Público diversificado de produtos temos o
da cidade de Belo Horizonte, que segundo Filgueiras (2006, p.106) “O Mercado Público de Belo
Horizonte é marcado como um lugar ecumênico de conveniência entre diversos tipos sociais e onde
todos a principio se sentiriam a vontade um espaço marcado pela simplicidade pela “bagunça” pela
abundancia de cores, cheiros e gostos e pelo encontro com os amigos”, como percebemos nos
relatos acima, no Mercado Publico Pelotas a uma carência nessa diversidade de produtos, dessa
“bagunça, do qual é relatado existir no Mercado Público de Belo Horizonte.
Segundo outro entrevistado, este acredita que as mudanças e falta de produtos alimentícios
se deve as trocas de gestão da prefeitura de Pelotas.
O Mercado o tempo que eu conheci era um mercado depois começou a entrar Prefeito sair
Prefeito e o Mercado foi assim foi tirando açougues, eu conheci Mercado com 23 açougues
e no final tinha um açougue, o resto não tinha mais porque eles tiraram, e conheci o
Mercado com 20 fruteiras, o Mercado não tem uma fruteira, então é eu conheci o Mercado,
como se tu queira vamos dizer uma panela para fazer um charque de carreteiro tu
encontrava, tu encontrava panela, tu encontrava panela, tu encontrava charque, tu
encontrava carne, tu encontrava arroz, hoje não é nada, foi o Mercado foi (Entrevistado 15,
masculino, 65 anos, comerciante).
Outro problema alegado pelos entrevistados foi à falta da participação da população no
projeto de revitalização do Mercado Público, onde a mesma alegou não ter sido consultada, o
projeto como relata um dos entrevistados foi um processo de cima para baixo, ou seja, um projeto
elaborado pelos órgãos públicos onde a comunidade pelotense não foi consultada para saber quais
estabelecimentos à mesma gostaria que estivesse presente no local como relata o entrevistado:
Não, não teve foi coisa mais pública da secretaria de cultura e da Prefeitura, a comunidade não
participou (entrevistada 05, feminino 20 anos, estudante)
Dando ênfase à fala acima outro entrevistado complementa “Eu acho que não a comunidade
não participou foi um projeto de cima para baixo” (Entrevistado 04, Feminino, 64 anos, aposentada)
Como relata os entrevistados o projeto foi algo imposto na cidade, onde as bancas foram ocupadas
pelo sistema de licitação, na qual, ganhava o direto de estabelecer se no mercado o comerciante que
ofertasse a melhor proposta, além disso, foi pre estabelecido pelos órgãos públicos quais tipos de
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estabelecimentos poderiam concorrer na licitação. Diferentemente de outros projetos de Mercados
Públicos como exemplo Rio de Janeiro e Porto Alegre.
O Mercado Público do Rio de Janeiro (Cadeg) foi construído na década de 60, quando o
antigo Mercado Municipal da praça xv de novembro estava prestes a ser extinto. Os comerciantes
do local formaram uma associação, a fim de construírem um novo Mercado. A construção do
Mercado Público do Rio de Janeiro (Cadeg) contou com a participação dos futuros locatários,
através de uma pesquisa elaborada pelos arquitetos da obra os senhores Vigor Artesi e Moacyr
Gomes da Costa, ambos realizaram uma pesquisa com os futuros locatários do novo Mercado, a fim
de saber como os mesmos gostariam que fosse o novo Mercado. Os arquitetos conversaram com
comerciantes, funcionários, freqüentadores e até com vendedores ambulantes do antigo Mercado
Municipal, como uma espécie de pesquisa de opinião.
Como percebemos nos relatos dos entrevistados no Mercado Público de Pelotas, não houve
nenhum tipo de consulta, foi um projeto de revitalização imposto pelos órgãos públicos, onde a
comunidade não foi consultada.
Também a revitalização do Mercado Público de Porto Alegre, que ocorreu em 1990 sendo
finalizado em 1997, foi realizada de maneira diferente a revitalização do Mercado Público de
Pelotas, pois enquanto que na capital as obras de revitalização não interferiram no funcionamento
das bancas, em Pelotas a revitalização interna do prédio ocasionou o fechamento do local por 3
anos, além disso em Porto Alegre os comerciantes do local opinaram e participaram do projeto , o
que como vimos não aconteceu em Pelotas.
A Revitalização do Mercado Público de Pelotas foi orçado em R$ 2.269.469,77 a
restauração que iniciou em, 2002 com a faixada do prédio transcorreu com o funcionamento do
local até o dia 14 de setembro de 2009 quando o prédio foi totalmente fechado ao uso da população
com o intuito de restaurar e revitalizar seu interior , fato este que estendeu-se até 2012 , quando foi
inaugurado no dia 20 de dezembro não contendo nenhuma banca em funcionamento . O baixo
fluxo de transeuntes pelo local foi outra reclamação apresentada nas entrevistas concedidas, além da
falta da comercialização de alguns produtos e do baixo fluxo de pessoas pelo local, outra queixa
apresentada é o preço dos produtos comercializados no local, considerados pela população um valor
abusivo, o ambiente tornou-se caro e deficiente na variedade de produtos que a comunidade estava
acostumada a encontrar:
Mudou o perfil do Mercado, então aquelas pessoas que vinham aqui para comprar, por
exemplo, não sei se tu te lembras era calçado era tudo , era aquela coisa que tu caminhavas ,
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era bolsa para tudo que é lado, então acho que esse público que vinha em busca disso não
vem agora, a gente queria uma mala para viagem uma bolsa, a gente vinha aqui que sempre
tinha do jeito que tu gostavas e um preço bem acessível, hoje não tem mais é tudo caro.
(entrevistada 04, 67 anos, aposentada)
Essa falta de determinados produtos e o valor abusivo de outros produtos, não é um
problema enfrentado em outros Mercados Públicos. Como exemplo no Mercado Público de Porto
Alegre onde os comerciantes souberam enfrentar o concorrente do mundo moderno, os
supermercados, Segundo Cavedon e Gramkow (2001 p.11) em sua pesquisa no Mercado Público de
Porto Alegre, as pesquisadoras constataram que no Mercado os produtos possuem um preço mais
atraente para seus clientes, “a guisa de exemplo um determinado tipo de nozes é vendido em um
grande supermercado da região a $36,00 o quilo enquanto em uma determinada banca do Mercado
Público o mesmo produto custa $24,00 o quilo”. No Mercado Público de Pelotas os comerciantes
não conseguem concorrem com os preços dos supermercados a exemplo constatei em pesquisa no
local que determinada garrafa de vinho é vendido em um grande supermercado da cidade a $8,00
reais enquanto em uma determinada banca do Mercado Público a mesma garrafa de vinho sai por
$12,00 reais. Constatamos que o Mercado Público de Pelotas não consegue competir em relação aos
preços com seu principal concorrente, sendo um dos motivos pelo baixo fluxo de transeuntes no
local e pela baixa comercialização dos produtos.
O Mercado Público de Pelotas tornou-se com a revitalização um ambiente elitizado como
expõem à entrevistada aproximando-se muito mais de uma galeria , um mini shopping do que um
mercado público “Como eu te disse, ficou um shopping” (Entrevistada 13, feminino, 28 anos,
comerciante). Outra entrevistada da ênfase na fala anterior ao afirmar
Não, porque tu entra no Mercado tu te depara com outro tipo de pessoa, tu não tem aquela
liberdade, de entrar no Mercado, as pessoas simples mesmo de bairro, que não andam no
salto as pessoas já olham com cara feia, não é para a população (Entrevistada 13, feminino,
28 anos, comerciante).
Essa comparação do Mercado Público com um shopping é visto também em outros projetos
de revitalização como o caso do centro histórico de Santos-SP, onde a idéia principal do projeto de
revitalização segundo Luiz Dias Guimarães, então titular da SETUR, era transformar em até 2 anos
o centro histórico da cidade em um Shopping Center a céu aberto.
Ainda segundo Filgueiras (2006) a modernização tem modificado o ambiente tradicional do
mercado público, modificando o ambiente, diversificando as lojas e especialmente a
comercialização de produtos importados a introdução de múltiplos serviços e modernização das
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lojas agora com aspecto clean e despojado que são elementos associados aos espaços comerciais
modernos dos quais o shopping Center é o exemplo mais emblemático.
Por fim, tendo em vista o conjunto dos relatos, pode-se afirmar que o projeto de
Revitalização implementado em Pelotas ainda tem muito a ser feito, a implementação de um leque
maior de produtos a serem ofertados, muitos destes produtos básicos do dia a dia e que não se
encontram mais a venda no local, bem como a realização de atividades que estimulem a
comunidade a voltar a freqüentar o ambiente, bem como um incentivo aos lojistas em realizarem
promoções e descontos nos produtos a fim dos mesmos serem comercializados.
A partir deste trabalho, podemos constatar que tal patrimônio sé será reconhecido quando
houver uma parceria entre os órgãos públicos, os empresários e a comunidade, pois é através desta
forma que o Mercado Público de Pelotas voltara a receber um fluxo grande de pessoas, valorizando
assim o espaço.
CONCLUSÃO
Após a realização das entrevistas foi constatado através dos relatos que as criticas
apresentadas pela comunidade são pertinentes e atrapalham a vida econômica do local.
O mercado público deve ser um local de todos, da convivência, da compra, da troca, um
lugar de cheiros, gostos e sabores, um local autentico que transmita a cultura local e regional.
Infelizmente nos relatos podemos constatar esta falta de autenticidade do local, que é muitas
vezes comparado pela população a um shopping ou a uma galeria, além disso comunidade reclama
da falta da comercialização de alguns produtos, principalmente alimentícios.
O Mercado Público de Pelotas tornou-se um local elitizado, caro, em que o pelotense
quando freqüenta, poucas vezes consome os produtos ali comercializados.
Essa realidade como já exposto acima só mudara quando houver uma diversidade maior de
produtos comercializados no ambiente, quando houver uma parceria entre os órgãos públicos de
Pelotas , os empresários e a comunidade. Quando a população for consultada para saber quais
estabelecimentos carecem no local. Quando os comerciantes realizarem promoções e descontos a
fim de concorrer com os preços dos supermercados.
Essas melhorias no local são possíveis com a realização de parcerias podemos trazer se volta
o povo pelotense para o Mercado público. Só assim conseguiremos fazer com que o Mercado
Público de Pelotas volte a receber um fluxo grande de pessoas, e volte a ser valorizado pela
comunidade local.
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REFERÊNCIAS
BRUNO, Guilherme Rodrigues. Mercado Central de Pelotas: A permanência no lugar do
consumo. Dissertação de Mestrado da UFPEL, 2010.
BITAR, Nina Pinheiro. Patrimônio, Trabalho e Tempo: O “Novo” Mercado Municipal do Rio de
Janeiro. Iluminuras, Porto Alegre. 15, n.36, p.80-114, ago/dez.2014.
FILGEUIRAS, Beatriz Silveira Castro. Do Mercado Público ao Espaço de Vitalidade: O
mercado central de Belo Horizonte. Dissertação de Mestrado da UFRJ, 2006.
GRAMKOW, Fabiana Böhm; CAVEDON; Neusa Rolita. As bancas de especiarias do Mercado
Público de Porto Alegre e suas estratégias. Organizações & Sociedade. v. 8, n. 22, p.1-15,
sept/dez. 2001.
SANTOS, Klécio. Mercado Central de Pelotas 1846- 2014. Pelotas, Fructos do Paiz, 2014.