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5/17/2018 OqueoDispensacionalismo-slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/o-que-e-o-dispensacionalismo 1/11 O que é o Dispensacionalismo? Professor: Luiz José de Almeida Gusmão. M. Teo - Fundador do Centro de Estudos e Pesquisas Bíblicas CHAMADA BEREANA - Cornélio Procópio - Paraná. I - UMA DEFINIÇÃO Está é uma boa pergunta para se começar! O que é o dispensacionalismo? O Dr. Charles Ryrie, professor jubilado do Seminário Teológico de Dallas, é um notável porta voz do dispensacionalismo. Muitos conhecem o Dr. Ryrie através dos seus livros e artigos, porém ele é mais conhecido pela famosa Bíblia Anotada. O livro escrito por Ryrie, “  Dispensationalism Today” (O Dispensacionalismo na Atualidade), ainda sem tradução em português, é um ponto de referência para a busca da definição de dispensacionalismo. Farei um resumo do seu conteúdo. O Dr. Ryrie assinala que The Oxford English Dictionary define uma dispensação teológica como: “um estágio na  revelação progressiva, expressamente adaptado às necessidades de uma determinada  nação ou de um período de tempo... também, a era ou período durante o qual um sistema predominou[1]”. O termo “dispensação”, em português, é uma tradução do substantivo grego oikonomia, muitas vezes traduzido pelo vocábulo “administração” em versões mais atuais da Bíblia. O verbo oikonomeo[2] se refere ao gerente administrativo de uma casa de família. Ryrie faz esta observação: “No Novo Testamento, o termo dispensação significa gerenciar ou administrar os negócios de uma casa de família, como, por exemplo, na história contada por Jesus sobre o administrador infiel registrada em Lucas 16.1-13.[3] O Uso do Termo Dispensação nas Escrituras A palavra grega oikonomia é uma aglutinação do termo oikos, que significa “casa”, com o termo nomos, que s ignifica “lei”. Quando reunidos, “a idéia central do vocábulo dispensação é a de gerenciar ou administrar os afazeres de uma casa”.[4] As várias formas da palavra dispensação ocorrem vinte vezes no Novo Testamento. O verbo oikonomeo é utilizado uma vez em Lucas 16.2 onde é traduzido por “ser um administrador”. O substantivo oikonomos é usado dez vezes (Lc 12.42; Lc 16.1,3,8; Rm 16.23; 1Co 4.1,2; Gl 4.2; Tt 1.7; 1 Pe 4.10), e em todos esses casos é traduzido por termos que evidenciam uma relação de economia doméstica, tais como: “mordomo, administrador, despenseiro, curador”, exceto no caso de Romanos 16.23, onde é traduzido por “tesoureiro”. O substantivo oikonomia ocorre nove vezes (Lc 16.2,3,4; 1 Co 9.17; Ef 1.10, Ef 3.2,9; Cl 1.25; 1 Tm 1.4). Nessas ocorrências é traduzido de várias maneiras (administração, responsabilidade de despenseiro, dispensação, serviço). Características do Dispensacionalismo Em um exame do termo grego oikonomos nos Evangelhos, descobre-se que Cristo usa essa palavra em duas parábolas no livro de Lucas (Lc 12.42; Lc 16.1,3,8). Ryrie registra

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O que é o Dispensacionalismo?

Professor: Luiz José de Almeida Gusmão. M. Teo - Fundador do Centro de Estudos e Pesquisas Bíblicas CHAMADA BEREANA -Cornélio Procópio - Paraná. 

I - UMA DEFINIÇÃO 

Está é uma boa pergunta para se começar! O que é o dispensacionalismo? O Dr.Charles Ryrie, professor jubilado do Seminário Teológico de Dallas, é um notável portavoz do dispensacionalismo. Muitos conhecem o Dr. Ryrie através dos seus livros eartigos, porém ele é mais conhecido pela famosa Bíblia Anotada. O livro escrito porRyrie, “ Dispensationalism Today” (O Dispensacionalismo na Atualidade), ainda sem

tradução em português, é um ponto de referência para a busca da definição dedispensacionalismo. Farei um resumo do seu conteúdo. O Dr. Ryrie assinala que The

Oxford English Dictionary define uma dispensação teológica como: “um estágio na

 revelação progressiva, expressamente adaptado às necessidades de uma determinada nação ou de um período de tempo... também, a era ou período durante o qual umsistema predominou[1]”. O termo “dispensação”, em português, é uma tradução dosubstantivo grego oikonomia, muitas vezes traduzido pelo vocábulo “administração” emversões mais atuais da Bíblia. O verbo oikonomeo[2] se refere ao gerente administrativode uma casa de família. Ryrie faz esta observação: “No Novo Testamento, o termodispensação significa gerenciar ou administrar os negócios de uma casa de família,como, por exemplo, na história contada por Jesus sobre o administrador infiel registrada

em Lucas 16.1-13.[3] 

O Uso do Termo Dispensação nas Escrituras 

A palavra grega oikonomia é uma aglutinação do termo oikos, que significa “casa”,com o termo nomos, que significa “lei”. Quando reunidos, “a idéia central do vocábulodispensação é a de gerenciar ou administrar os afazeres de uma casa”.[4] 

As várias formas da palavra dispensação ocorrem vinte vezes no Novo Testamento. Overbo oikonomeo é utilizado uma vez em Lucas 16.2 onde é traduzido por “ser umadministrador”. O substantivo oikonomos é usado dez vezes (Lc 12.42; Lc 16.1,3,8; Rm16.23; 1Co 4.1,2; Gl 4.2; Tt 1.7; 1 Pe 4.10), e em todos esses casos é traduzido portermos que evidenciam uma relação de economia doméstica, tais como: “mordomo,administrador, despenseiro, curador”, exceto no caso de Romanos 16.23, onde étraduzido por “tesoureiro”. O substantivo oikonomia ocorre nove vezes (Lc 16.2,3,4; 1Co 9.17; Ef 1.10, Ef 3.2,9; Cl 1.25; 1 Tm 1.4). Nessas ocorrências é traduzido de váriasmaneiras (administração, responsabilidade de despenseiro, dispensação, serviço).

Características do Dispensacionalismo 

Em um exame do termo grego oikonomos nos Evangelhos, descobre-se que Cristo usa

essa palavra em duas parábolas no livro de Lucas (Lc 12.42; Lc 16.1,3,8). Ryrie registra

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que em Lucas 16 encontramos “algumas características importantes de umaadministração ou de um acordo dispensacional”.[5] As características são as seguintes:

1 – Há, basicamente, duas partes interessadas, aquela que tem a autoridade de delegartarefas ou deveres, e a outra que tem a responsabilidade de cumprir tais encargos. O

homem rico e o administrador desempenham esses papéis na parábola de Lucas 16(v.1).

2 – Essas são responsabilidades específicas. Na parábola, o administrador falhou emsuas tarefas conhecidas ao desperdiçar os bens do seu senhor (v.1).

3 – Tanto a contabilidade, quanto a responsabilidade, fazem parte do acordo. Umadministrador pode ser chamado a prestar contas pelo seu desempenho na administraçãoa qualquer momento, pois do senhor é a prerrogativa de esperar obediência fiel por partedo administrador, quando às responsabilidades a ele confiadas. (v.2)

4 –  Alterações podem ser feitas a qualquer momento que se constatar infidelidadeda administração em exercício. (Presta contas da tua administração, porque já podesmais continuar nela).[6] 

Mais algumas características podem ser coletadas em outras ocorrências do grupo de palavras relacionadas ao termo “dispensação”. Todos os outros usos, com exceção de 1Pedro 4.10, são encontrados nos escritos de Paulo. Ryrie cita as seguintescaracterísticas:

1. Deus é Aquele a quem os homens devem prestar contas pelo desempenho de suasobrigações de mordomia ou administração. Esse relacionamento com Deus émencionado por Paulo em três ocasiões (1 Co. 4.1-2; Tt. 1.7).

2. A fidelidade é requerida daqueles que são encarregados de uma responsabilidadedispensacional (1Co 4.2). Isso é ilustrado no caso de Erasto, que desempenhava aimportante função de tesoureiro (administrador) da cidade (Rm 16.23).

3. Uma responsabilidade de mordomia pode terminar num tempo determinado (Gl4.2). Nessa referência, a curadoria chegou ao seu fim, em virtude da introdução de umpropósito diferente. Esse texto também mostra que uma dispensação tem relação com otempo.

4. As dispensações estão relacionadas com os mistérios de Deus, ou seja, com umarevelação específica da parte de Deus (1Co 4.1; Ef 3.2; Cl 1.25).

5. Dispensação e era são conceitos correlatos, mas tais palavras não são corretamenteintercambiáveis. Por exemplo, Paulo declara que a revelação da atual dispensação ficouoculta “desde os séculos” (Ef 3.9). A mesma coisa é dita em Colossenses 1.26.Entretanto, visto que uma dispensação se desenvolve em um período de tempo, osconceitos têm alguma inter-relação.

6. Pelo menos três dispensações (tal como normalmente se entende pelo ensino

dispensacionalista) são mencionadas por Paulo. Em Efésios 1.10 ele escreve sobre “adispensação da plenitude dos tempos”, que aparenta ser um período futuro. Em Efésios

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3.2 ele fala da “dispensação da graça de Deus”, a qual era a tônica do conteúdo de suapregação naquele tempo. Em Colossenses 1.25-26 fica implícito que outra dispensaçãohavia precedido a atual na qual o mistério de Cristo no crente revelado.[7] 

Deve-se notar que os dispensacionalista desdobraram o termo “dispensação”, de um

modo semelhante ao uso bíblico do termo. Portanto, creio que o sistema teológicoconhecido, no dias atuais, como dispensacionalismo é coerente com o ensino bíblico.

II - DEFINIÇÕES

Alicerçados nas observações bíblicas acima descritas, temos condições de definir o queé o dispensacionalismo. Segundo Ryrie, dispensação é “uma economia que distingue nacomposição operacional do propósito de Deus”. Além da definição de dispensação,Ryrie destaca: “se alguém estiver descrevendo uma dispensação, incluirá outroselementos, tais como os conceitos de revelação distinta, teste, fracasso e juízo”.[8] (Também conhecido como revelação, responsabilidade, fracasso e julgamento. Nota do

autor: Luiz Gusmão). Por fim Ryrie faz a seguinte observação no que concerne a umadispensação:

Os traços distintos são apresentados por Deus; os traços semelhantes são retidos por 

 Deus; e o propósito global de todo o programa é a glória de Deus. Sauer a apresenta

desta forma: ... um novo período sempre começa somente no momento em que uma

mudança é introduzida, da parte de Deus, na composição dos princípios que eram

válidos até aquele tempo; ou seja, quando da parte de Deus três coisas se combinam:

1.  1. Uma continuação de outras regulamentações até então válidas; 2.  2. Uma anulação de outras regulamentações até então válidas; 3.  3. Uma apresentação recente de novos princípios que antes não eram

válidos. [9]  

Em sua obra clássica Dispensationalism Today, Ryrie formula esta ampla definição dedispensacionalismo:

O dispensacionalismo contempla o mundo como uma casa dirigida por Deus. Nestemundo-família, Deus está dispensando ou administrando seus negócios de acordo com asua própria vontade nos vários estágios da revelação em progresso no tempo. Estesvários estágios demarcam as diferentes economias na composição operacional e Seu

propósito total, e estas economias são as dispensações. A compreensão das diferenteseconomias de Deus é essencial para uma interpretação precisa de Sua revelação dentrode cada uma delas.[10] 

Paul Nevin fez a seguinte síntese sobre o dispensacionalismo:

O método distinto de Deus no governo da humanidade ou de um grupo de pessoas

durante um período da história humana, marcado por um evento crucial, um teste, um

 fracasso, e um juízo. Do ponto de vista divino, é uma economia, ou administração. Do

 ponto de vista humano, é uma mordomia, uma regra de vida, ou uma responsabilidade

de administrar os negócios de Deus em Sua Casa. Do ponto de vista histórico, é um

estágio no progresso da revelação. [11]  

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III  – OS FUNDAMENTOS DO DISPENSACIONALISMO 

Quem é dispensacionalista? São necessários parâmetros fundamentais pelos quais sepossa aferir uma teologia. Quais são os fundamentos que caracterizam umdispensacionalista? Ryrie enuncia aquilo que ele chama de três fundamentos ou sine qua

non (do latim: “sem a qual condição não”) do dispensacionalismo: 

Portanto, a essência do dispensacionalismo é a distinção entre Israel e a Igreja. Tal

distinção procede do emprego coerente de uma interpretação normal ou comum por 

 parte do dispensacionalista, e reflete uma compreensão do propósito básico de Deus

em todos os Seus tratamentos com a humanidade, que é o de glorificar a Si mesmo

através da salvação, bem como outros propósitos. [12]  

Os três fundamentos não são uma definição ou descrição do dispensacionalismo, pelocontrário, são testes teológicos básicos que podem ser aplicados a um indivíduo com afinalidade de se checar se ele é ou não um dispensacionalista.

O Primeiro Fundamento: Interpretação Literal 

O primeiro fundamento do dispensacionalismo, segundo Ryrie, não é apenas umainterpretação literal, porém, mais integralmente, uma hermenêutica literal coerente. “Otermo literal talvez seja tão próprio quanto o termo normal ou comum”, explica Ryrie,“mas, em todos os casos, é uma interpretação literal que não espiritualiza ou alegor izacomo o faz a interpretação não-dispensacional”. A interpretação literal é fundamentalpara uma abordagem dispensacional das Escrituras. Earl Radmacher chegou ao extremode dizer que a interpretação literal “é o saldo final do dispensacionalismo”.[13] 

O dicionário define a palavra literal como: “que diz respeito ou pertence às letras”.Também menciona que a interpretação literal implica uma abordagem “baseada empalavras reais que são interpretadas em seu sentido normal... não indo além dosfatos”.[14] “a interpretação literal da Bíblia consiste simplesmente em explicar o sentidooriginal do texto bíblico de acordo com o uso normal e costumeiro da linguagem”.[15] Como isso é feito? Só pode ser realizado através de um método gramatical (de acordocom as normas da gramática), histórico (coerente com o cenário histórico da passagem),e contextual (em harmonia com o seu contexto). O literalismo atenta para o texto,considerando as palavras e frases de uma passagem. A interpretação não-literal importauma idéia que não se encontra especificamente no texto de uma passagem. Até certo

ponto, todos os hermeneutas interpretam a Bíblia literalmente. Entretanto, osdispensacionalistas o fazem de forma consistente (uniforme) de Gênesis a Apocalipse.

A interpretação literal reconhece que uma palavra ou frase pode ser utilizadaexplicitamente (sentido denotativo) ou figurativamente (sentido conotativo). Nolinguajar moderno, como também ocorre na Bíblia, nós falamos explicitamente –  “avovó morreu” (denotativo), ou falamos de modo pitoresco “a vovó bateu a botas”(conotativo). Um aspecto importante a ser ressaltado é que, mesmo utilizando umafigura de linguagem para referirmos à morte, usamos essa figura em referência a umevento que aconteceu literalmente. Ryrie declara:

 Nesse método, todos os símbolos, figuras de linguagem e tipos são interpretadosexplicitamente e não são contrários, de modo algum, à interpretação literal. Afinal de

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contas, a própria existência de algum significado numa figura de linguagem depende

da realidade do significado literal dos termos envolvidos. As figuras muitas vezes

tornam o sentido mais claro, mas é o significado literal, normal, ou explícito que elas

comunicam ao leitor . [16]  

Alguns se enganam ao pensar que só pelo fato de uma figura de linguagem ter sidousada para descrever um evento (por exemplo, a experiência de Jonas no ventre dogrande peixe em Jonas 2), tal evento não foi literal. Mas a questão não é essa. Uma“Regra Áurea da Interpretação” foi desenvolvida para auxiliar o intérprete a discernir sehouve a intenção de uma figura de linguagem:

Quando o sentido explicito de um texto das Escrituras fizer sentido, não procure outro

sentido; portanto, interprete cada palavra em seu significado primário, comum, usual,

literal, a menos que os fatos do contexto imediato, estudados à luz de passagens

correlatas e de verdades fundamentais axiomáticas, indiquem nitidamente o

contrário. [17]  

E. E. Johnson (do seminário Teológico de Dallas) registra que boa parte da confusãosobre o literalismo é dissipada quando se entendem os dois modos pelos quais oconceito é utilizado: “(1) O sentido explícito, claro, de uma palavra ou frase emcontraste com um uso figurativo, e (2) um método que contempla o texto considerandoque o mesmo oferece o alicerce da verdadeira interpretação”.[18] Portanto, osdispensacionalistas, de um modo geral, utilizam o termo “literal” para se referirem aoseu sistema de interpretação. (o uso coerente do método histórico-gramatical), e umavez que se está dentro do sistema, o termo literal faz referência a se uma palavra oufrase específica é usada no sentido figurativo ou literal em seu contexto.

O segundo uso do termo literal, proposto por Johnson, (i.e., literalismo sistemático) é osimples emprego do método histórico-gramatical utilizado coerentemente. O métodohistórico-gramatical utilizado coerentemente. O método histórico-gramatical foirestaurado pelos reformadores e utilizado em oposição ao sentido alegórico(espiritualizado), dito “mais profundo”, do texto, muito frequentemente na Idade Média.O sentido literal era usado apenas como um trampolim para o significado mais profundo(espiritual), considerando mais agradável. Uma interpretação espiritualizada, que ficoufamosa, é aquela que considera os quatro rios mencionados em Gênesis 2 – Pisom,Giom, Tigre e Eufrates – como representação do corpo, alma, espírito e mente.Abandonando tal sistema de interpretação, os Reformadores perceberam a necessidade

de retornarem ao significado literal ou textual da Bíblia.

O sistema de interpretação literal é a abordagem hermenêutica histórico-gramatical outextual. O uso do literalismo, neste sentido, pode ser chamado de “macro-literalismo”.No macro-literalismo, o uso coerente do método histórico-gramatical produz aconclusão interpretativa, por exemplo, de que o termo Israel sempre se refereexclusivamente ao Israel nacional. Se o método histórico-gramatical for coerentementeempregado, a Igreja não será substituída por Israel porque não há indicadores textuaisde que seja esse o caso. Talvez alguém importe uma idéia externa ao texto, afirmandoque a passagem realmente significa algo que, de fato, o texto não diz. Essa abordagemsubstitutiva é uma forma sutil de interpretação espiritual ou alegórica. É o que se

constata por parte daqueles que substituem Israel pela Igreja, não interpretando a Bíblia

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literalmente e espiritualizando o texto, já que este ponto de visto se opõe a umainterpretação macro literal.

No microliteralismo pode haver discussão dos literalismo quando ao uso literal oufigurado de uma determinada palavra ou frase no contexto de uma passagem em

questão. Naturalmente algumas passagens são mais claras do que outras, criando umconsenso entre intérpretes, ao passo que outras passagens dividam os intérpretes literaisquanto a se deveriam ser interpretadas como uma figura de linguagem ou não. Trata-semais de um problema de aplicação do que de método.

O reconstrucionista Ken Gentry, em seu ataque ao literalismo, argumenta que“literalismo coerente é um absurdo”.[19] Ele tenta provar seu ponto de vistaarrazoando que, só pelo fato dos dispensacionalistas interpretarem algumas palavras efrases como figuras de linguagem, “já não são coerentemente literais”.[20] Gentryafirma que “a pretensão dispensacional de literalismo coerente” é frustrada pelo seuemprego incoerente”.[21] Gentry procura desacreditar a hermenêutica

dispensacionalista que interpretam certas passagens respeitando figuras de linguagemem seu conteúdo, utilizando tais citações como prova de incoerência quanto ao métodode interpretação literal. Segundo Gentry, o dispensacionalista tem de abandonar ainterpretação literal quando se dá conta de que Jesus se refere figuradamente a Simesmo como uma porta em João 10.9.[22] (Entretanto) Gentry não está utilizando amesma definição de interpretação literal sustentadas pelos dispensacionalistas. Portanto,suas conclusões sobre interpretação literal são mal orientadas porque normalmentemistura os dois sentidos propostos por Johnson. Quando fala do macro literal, Gentryutiliza um exemplo do microliteralismo, e vice-versa, parecendo, assim, que eledemonstrou uma incoerência na interpretação literal. Na verdade, seus exemplos estãodentro da mesma estrutura pela qual os dispensacionalistas definiram o que entendempor interpretação literal.

Este é o primeiro fundamento do dispensacionalismo. Um método de se abordar asEscrituras que permita, através do progresso da revelação, que as próprias Escriturasinterpretem a si mesmas. O dispensacionalismo não aborda a Bíblia por meio de umesquema interpretativo fantasioso, cheio de simbolismos complexos que reduzem asEscrituras a um livro de códigos místicos, dependendo de um manual de decodificaçãopara desvendá-la. O segundo fundamento decorre do primeiro.

O Segundo Fundamento: A Distinção Entre Israel e a Igreja. 

“Um dispensacionalista mantém a distinção entre Israel e a Igreja”, declara Ryrie. Eletambém menciona que, se uma pessoa “falha em distinguir Israel da Igreja,inevitavelmente não conservará os distintivos dispensacionais; ao passo que aquele quefizer tal distinção os conservará”.[23] O que significa manter Israel distinto da Igreja?Os dispensacionalistas crêem que a Bíblia apresenta um único programa de Deus para ahistória, o qual inclui um plano específico para Israel e outro diferente para a Igreja.Dois povos estão no programa de Deus: Israel e a Igreja. John Walvoord diz que as“dispensações são normas de vida. Não são caminhos de salvação. Há somente umcaminho de salvação, que é pela graça, por meio da fé em Jesus Cristo”.[24]  Lewis

Sperry Chafer , fundador e presidente emérito do Seminário Teológico de Dallas,

descreveu a distinção da seguinte maneira:

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O dispensacionalista crê que Deus, do começo ao fim da história, tem em vista dois

 propósitos distintos: um diz respeito a esta terra, no qual se incluem pessoas e objetivos

terrenos, que é o judaísmo; enquanto o outro diz respeito ao céu, no qual se incluem

objetivos celestiais, que é o cristianismo... Em oposição a isto, o dispensacionalista

 parcial, ainda que observe obscuramente algumas distinções óbvias, baseia a sua

interpretação na suposição de que Deus está fazendo uma coisa, a saber, a separaçãogeral dos bons e dos maus, e, apesar de toda a confusão que esta teoria limitada acaba

criando, sustenta que o povo terreno se funde com o povo celestial; que o programa

terreno deve ser analisado por uma interpretação literal ou desconsiderado por 

completo. [25]  

Se as promessas feitas a Israel no Antigo Testamento se referem literalmente aos judeus,então é obvio que ainda aguardam seu cumprimento literal. Portanto, é evidente que oplano de Deus para Israel, que no presente se encontra disperso (Dt 4.27-28; Dt 28.63-67; Dt 30.2.4), está em espera até que Ele complete Seu propósito atual com a Igreja,que é o de separar dentre os gentios um povo para o Seu nome (At 15.14), e arrebatar a

Sua Noiva para o céu. Após o Arrebatamento, Deus completará o Seu acordo inacabadocom Israel (At 15.16-18) durante o período de sete anos da Tribulação. Assim, sealguém não distingue as passagens nas quais Deus fala a Israel daquelas as quais Eledirige à Igreja, o resultado é uma fusão indevida de dois programas distintos.

No Antigo Testamento, Deus fez certas promessas a Abraão, empenhando Sua Palavraem fazer dele o pai de um povo especial. Os dispensacionalistas entendem essaspromessas, e outras promessas incondicionais da aliança (i.e. concessões pactuais) feitaspor Deus a Israel, como sendo ainda para Israel, mesmo que a Igreja possa compartilharde algumas bênçãos espirituais (Rm 15.27). No final, Deus não somente restauraráIsrael a uma posição de benção (Rm 11), mas também cumprirá literalmente aspromessas de uma terra e de um reino feitas a Israel nas alianças Abraâmica (Gn 12.1-3), da Terra de Israel (Dt 30.1-10) e Davídica (2 Sm 7.12-16). No atual momento, Deustem outro plano concernente a Igreja, que difere de Israel (Ef 2-3). Osdispensacionalistas não crêem que a Igreja é o Novo Israel ou que tenha substituídoIsrael como a herdeira das promessas do Antigo Testamento. Ao contrário de alguns,que dizem que a Igreja suplantou Israel, em nenhum lugar o Novo Testamento chama aIgreja de Israel. Os dispensacionalista Arnold Fruchtenbaum declara:

 A conclusão é que a Igreja nunca é chamada de Israel espiritual ou de novo Israel. O

termo Israel é utilizado numa referência à nação ou ao povo como um todo, ou ainda

ao remanescente crente dentre o povo. Ele nunca é usado numa referência à Igreja emgeral, nem aos crentes gentios em particular. Na realidade, mesmo depois da cruz,

ainda permanece uma tripla distinção. Primeiro, há uma distinção entre Israel e os

gentios, conforme consta em 1 Coríntios 10.32 e Efésios 2.11-12. Por último, há uma

distinção entre os crentes judeus (o Israel de Deus) e os crentes gentios Romanos 9.6 e

Gálatas 6.16 . [26]  

Fruchteembaum aponta seis razões pelas quais o Novo Testamento mantém a distinçãoentre Israel e a Igreja. São elas:

1.   A Igreja nasceu em Pentecostes, enquanto Israel já existia há muitos séculos... 

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2.  Certos eventos no ministério do Messias foram essenciais para o

estabelecimento da Igreja – a Igreja não veio à existência até que certos eventos

ocorressem... 3.  O caráter de ministério da Igreja... 4.   A Igreja, distinta de Israel, é o relacionamento singular entre judeus e gentios,

que se denomina “um novo homem” em Efésios 2.15... 5.   A diferença entre Israel e a Igreja encontra-se em Gálatas 6.16 (i.e., “o Israel 

de Deus”)... 6.   No livro de Atos, tanto Israel quanto a Igreja existem simultaneamente. O termo

 Israel ocorre vinte vezes e o temo ekklesia (i.e., “igreja” dezenove vezes,

todavia os dois grupos são sempre distintos. [27]  

O Terceiro Fundamento: O Propósito da História é a Glória de Deus 

O terceiro fundamento do dispensacionalismo também gira em torno de outraimportante distinção. Showers afirma que esse “fator indispensável é o reconhecimento

de que o propósito final da história é a glória de Deus, através da demonstração de quesomente Ele é o Deus soberano”.[28] Ryrie explica:

 Reconhecemos que o princípio unificador da Bíblia é a glória de Deus e que ela é 

levada a efeito de vários modos o programa da redenção, o progrma para Israel, o

castigo dos ímpios, o plano para os anjos, e a glória de Deus revelada através da

natureza. Consideramos todos estes programas como meios de glorificar a Deus, e

rejeitamos a acusação de que, ao fazermos distinção entre eles (particularmente entre o

 programa de Deus para Israel e o Seu propósito para a Igreja), provocamos uma

bifurcação no propósito de Deus”. [29]  

Este fundamento é um dos menos entendidos e, muitas vezes, é considerado de menorimportância. Creio que seja o um fundamento válido e convincente, quandocorretamente compreendido. Os dispensacionalistas não estão dizendo que os nãodispensacionalistas não crêem na glória de Deus. Fazemos questão de dizer que acompreensão dispensacionalista do plano de Deus significa que Ele é glorificado nahistória em muitas outras áreas ou facetas, diferindo daquele que vêem a salvação dahumanidade (provavelmente o aspecto mais importante do plano de Deus) como únicaárea que exibe a glória de Deus.

IV – UMA FILOSOFIA BÍBLICA DA HISTÓRIA 

Showers menciona que uma perspectiva dispensacional da Bíblia capacita o crente a teruma filosofia bíblica da história.[30] Isso é importante porque, quando entendemos opropósito de Deus para cada era da história, podemos desenvolver uma visão de mundoque nos permita viver de acordo com a vontade de Deus em cada dispensação. Quemtem uma perspectiva divina do passado, do presente e do futuro é capaz de saber o queDeus espera dele em cada área de sua vida. Na era atual da Igreja, o Novo Testamentonos instrui em todas as esferas de nossa vida, tanto na esfera particular quanto napública. Por exemplo, o dispensacionalista não vive nesta era da graça como se aindaestivesse sob o domínio da Lei Mosaica. Pelo contrário, agora ele tem consciência deque está sob o domínio da Lei de Cristo.

V – CONCLUSÃO 

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 Creio que o dispensacionalismo é um sistema de teologia que se desenvolveu a partirda própria Bíblia. O dispensacionalismo é crucial para que se entenda corretamente aBíblia, em especial, a Profecia Bíblica. Ninguém será capaz de manejar “bem a palavrada verdade”, a Bíblia, se não compreender essas grandes verdades. O Dr. Ryrie conclui:  

Se alguém não interpreta a Bíblia desta maneira, isso quer dizer que tal pessoa vaiconseguir mutilar algumas de suas partes? De jeito nenhum. Para falar a verdade, a

 Bíblia está mais viva do que nunca. Não há necessidade de se evitar o sentido explícito

de uma passagem, de reinterpretá-la ou de espiritualizá-la, para que os conflitos com

outras passagens sejam resolvidos. As ordens e padrões de Deus para minha vida, hoje,

tornam-se cda vez mais distintos, e Seu plano, em seu desenvolvimento esplendoroso,

termina num arranjo harmonioso. A história do dispensacionalismo está repleta de

homens e mulheres que amam a Palavra de Deus, promovem o seu estudo, e se sentem

responsáveis por pregar o Evangelho ao mundo inteiro. [31]  

 Nota do tradutor: Meus sinceros agradecimentos ao Sr. Thomas Ice, por seus artigos

 publicados para o Pre-Trib Reserch Center (Centro de Pesquisas Pré-Tribulacionistas) Arlinton, Texas. A presente apostila é na verdade uma dívida dos seus ensinamentos

nos referidos artigos, aos quais tive a oportunidade de traduzi-los na época do meu

curso de mestrado no Antigo Testamento.  [32]  

[1] Charles C. Ryrie, What is Dispensationalism? (folheto publicado pelo SeminárioTeológico de Dallas, 1980, 1986, p. 1.

[2] Walter Bauer, A Greek- English Lexicon of the New Testament and Other EarlyChristian Literature. Uma tradução de Willian F. Ardnt & F. Wilbur Gingrich, Chicago,The University of Chicago Press, 1957, p. 562.

[3] Ryrie, Ibid

[4] Charles C. Ryrie, Dispensationalism Today. Chicago, Moody Press, 1965, p. 25.

[5] Ibid., p. 26.

[6] Charles C. Ryrie, Dispensationalism Today. Chicago, Moody Press, 1965, p. 26.

[7] Charles C. Ryrie, Dispensationalism Today. Chicago, Moody Press, 1965, p. 26-27.

[8]  Charles C. Ryrie, Dispensationalism Today. Chicago, Moody Press, 1965, p. 29.

[9]  Ibid., p. 30.

[10] Ibid., p. 31.

[11] Paul David Nevin, Some Major Problems in Dispensational Interpretation.(Dissertação de doutorado em Teologia, Seminário Teológico de Dallas), 1965, p. 97.

[12] Ryrie, Dispensationalism Today, p. 47.

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5/17/2018 O que o Dispensacionalismo - slidepdf.com

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[13] Earl D. Radmacher, The Currrent Status of Dispensationalism, and its Escatology.Editado por Kenneth S. Kantzer e Stanley N. Gundry em Perspectives on EvagelicalTeology, Grand Rapids, Baker, 1979, p. 171.

[14] Webster’s New Twentieth Century Dictionary (Completo), Segunda Edição, p.

1055.

[15] Paul Lee Tan, The Interpretation of Profecy. Winona Lake, Assurance Publishers,1974, p. 29.

[16] Ryrie, Dispensationalism Today, pp. 86-87.

[17] David L Cooper, The Word’s Greatest Library: Graphically Illustrated. LosAngeles, Bíblical Reserch Society, 1970, p. 11.

[18] Elliot E. Johnson, Exporitory Hermeneutics: An Introduction. Grand Rapids,

Zondervan, 1990, p.9.

[19] Kenneth L. Gentry, Jr., He Shall Have Dominion: A Postmillenial Eschatology.Tyler, Tex., Institute For Christian Economics, 1992, p. 148.

[20] Para exemplos de sua abordagem, veja Ibid., PP. 153-158.

[21] Kenneth L. Gentry, Jr., He Shall Have Dominion: A Postmillenial Eschatology.Tyler, Tex., Institute For Christian Economics, 1992, p. 153.

[22] Ibid., p. 148.[23] Ryrie, Dispensationalism Today, pp. 44, 45.

[24] John F. Walvoord, “Biblical Kingdoms Compared and Contrasted”, publicado emIssues in Dispensationalism. Editado por Wesley R. Willis e John R. Master, Chicago,Moody Press, 1994, p. 88.

[25] Lewis Sperry Chafer, Dispensationalism. Dallas, Seminary Press, 1936, p. 107,conforme citado em Ryrie, Dispensationalism Today, p. 45.

[26] Arnold G. Fruchtenbaum, “Israel and the Church” publicado em Issues InDispenationalim, p. 126.

[27] Arnold G. Fruchtenbaum, “Israel and the Church” publicado em Issues InDispenationalim, pp. 116-118.

[28] Showers, There Really Is a Diference!, p. 53.

[29] Ryrie, Dispensationalism Today, pp. 211-212.

[30] Showers, There Really Is a Diference!, pp. 49-52.

[31] Ryrie, What Is Dispensationalism?, p.7.